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Cyntia Simioni França; Nara Rubia de Carvalho Cunha; Fabio Luiz da Silva

DOI:http://dx.doi.org/10.31892/rbpab2525-426X.2020.v5.n14.p859-873

EDUCAÇÃO POLÍTICA DAS SENSIBILIDADES E


ARQUITETURA ESCOLAR

Cyntia Simioni França


http://orcid.org/0000-0002-1812-3696
Universidade Estadual do Paraná

Nara Rubia de Carvalho Cunha


http://orcid.org/0000-0003-1807-3825
Universidade Federal de Uberlândia

Fabio Luiz da Silva


http://orcid.org/0000-0002-2106-9408
Universidade Norte do Paraná

resumo Este artigo aborda a relação entre educação política das sensibilida-
des na modernidade e a arquitetura escolar do início do século XX no
Brasil. Toma-se como mote para esse exercício o prédio onde atual-
mente funciona o Colégio Marcelino Champagnat, em Londrina (PR).
Dialogamos com documentos referentes ao edifício que abriga tal
colégio, inserindo-os no cenário cultural dessa construção. Partiu-se
do pressuposto de que os edifícios da escola moderna foram cons-
truídos de forma a dar visibilidade à modernidade e fixar no espaço
urbano as novas formas de civilização. A arquitetura escolar faz parte
do esforço para mobilizar a sociedade em favor da educação, pois
para a elite dominante era necessário difundir novas atitudes e va-
lores, entre os quais o de identidade nacional. Por isso a importância
de compreendermos os edifícios escolares como elementos de uma
estratégia para a constituição diária das sensibilidades.
Palavras-chave Arquitetura escolar. Educação política das sensibili-
dades. História da Educação.

abstract POLITICAL EDUCATION OF SENSITIVITY AND SCHOOL


ARCHITECTURE
This article discusses the relationship between political education of
the sensitivities in modernity and the school architecture of the early
twentieth century in Brazil. The building where the Marcellin Cham-
pagnat College currently operates in Londrina (PR) is taken as the

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Educação política das sensibilidades e arquitetura escolar

theme for this exercise. We dialogue with documents referring to the


building that houses the high school, inserting them in the cultural
scene of this construction. It was assumed that the modern school
buildings were constructed in such a way as to give visibility to mo-
dernity and to establish in urban space the new forms of civilization.
School architecture is part of the effort to mobilize society in favor of
education, since for the ruling elite it was necessary to spread new
attitudes and values, including that of national identity. This goal
would be achieved only in school. The school is, therefore, producer
of subjects. That’s the importance of understanding school buildings
as elements of a strategy for the daily constitution of sensitivities.
Keywords: School architecture. Political education of sensitivities.
History of Education.

resumen EDUCACIÓN POLÍTICAS DE SENSIBILIDADES Y


ARQUITECTURA ESCOLAR
Este artículo aborda la relación entre la educación política de las
sensibilidades en la modernidad y la arquitectura escolar de prin-
cipios del siglo XX en Brasil. El lema de este ejercicio es el edificio
donde funciona actualmente el Colegio Marcelino Champagnat en
Londrina (PR). Hablamos con documentos referentes al edificio que
alberga esta escuela, insertándolos en el entorno cultural de este
edificio. Se asumió que los edificios de la escuela moderna fueron
construidos de tal manera que dieran visibilidad a la modernidad y
fijaran nuevas formas de civilización en el espacio urbano. La arqui-
tectura escolar es parte del esfuerzo para movilizar a la sociedad a
favor de la educación, porque para la élite dominante era necesario
difundir nuevas actitudes y valores, incluyendo el de la identidad
nacional. Por lo tanto, la importancia de entender los edificios esco-
lares como elementos de una estrategia para la constitución diaria
de las sensibilidades.
Palabras clave: Arquitectura de la escuela. Educación política de las
sensibilidades. Historia de la Educación.

Introdução
Desde o início da modernidade, a escola vem em um edifício escolar construído de acordo
ampliando seu espaço na sociedade, ao ponto com determinado tipo arquitetônico e deter-
de ficarmos indignados com o fato de milhões minadas intencionalidades. Garcia (2016) afir-
de pessoas não terem acesso à educação es- ma que Arquitetura e Educação se constituem
colar. A escola, por sua vez, é materializada em elementos essenciais de nossa existência.

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Isso porque a escola é um dos lugares onde Frago (1995), Michel de Certeau (1982), Michel
os cidadãos urbanos mais tempo ficam e onde Foucault (1995) e Paul Ricoeur (2007), a mate-
grande parte das relações sociais ocorrem. rialidade dos edifícios expressa uma variada
Para essa autora, é na escola que ocorrem os gama de elementos e símbolos culturais e es-
primeiros reflexos da vida social. Por isso, os téticos que remetem a valores, regras e dis-
edifícios escolares não podem ser pensados ciplina em processo de instituição social. No
apenas como objetos físicos, mas, principal- entanto, esses espaços são significados e res-
mente, como possuidores dos valores parti- significados pelas práticas dos sujeitos que os
lhados pela sociedade que os construiu. No habitam e rememoram experiências cotidia-
entanto, é importante que se atente para o nas neles vividas.
fato de que os valores não são construções Nesse sentido, o estudo da arquitetura es-
naturais, mas socioculturais e em contínua colar permitiria questionar sobre os valores,
reelaboração fomentada por “batalhas de as visões de mundo e sensibilidades que por
percepções” (GAY, 1988) nas quais se eviden- ela são potencialmente endossadas, forjados
ciam relações de poder e formas de resistên- ou sugeridos no espaço escolar em uma de-
cia (THOMPSON, 1998). terminada época, ao mesmo tempo em que se
Tomados em sua materialidade, os espaços poderia investigar sobre como esses mesmos
escolares devem ser concebidos como produ- valores, visões e sensibilidades são reelabo-
tos historicamente engendrados, nos quais se rados ou, até mesmo, refutados pelos sujeitos
dá a “intersecção de discursos arquitetônicos, em movimentos dinâmicos de relação com o
pedagógicos e históricos” (GRIMALDI e ALMEI- outro – quer sejam relações entre os sujeitos
DA, 2020, p. 4). O estudo da arquitetura escolar, e o prédio, tomado em seu aspecto físico, ou
portanto, se torna mais rico e complexo quan- relações intersubjetivas que nele se desenvol-
do adota uma visão alargada que vai além vem – e em diferentes momentos.
da caracterização de estilo ou detalhamento Tal perspectiva de abordagem se aproxima
de elementos arquitetônicos, bem como da da educação das sensibilidades, um movimen-
concepção de um espaço que impõe normas to dinâmico que, como afirma Hadler (2007), na
e prescrições à revelia das experiências co- relação com palavras do historiador Peter Gay
tidianas de sujeitos que os formam e (trans)
(1988), é um processo constante de formação
formam:
de uma visão de mundo
Superando essa discussão, a história da arqui-
[...] sempre inacabado, sempre em constituição;
tetura escolar do século XXI vem ao encontro
é um processo, de fato, de formação, de edu-
de uma perspectiva multidisciplinar. Arquite-
cação, uma educação que não se circunscreve
tos, historiadores e pedagogos passam a es-
apenas aos domínios da racionalidade intelec-
tudar esta materialidade da escola e enfocam
tual técnica, da consciência objetiva, mas que
diversas particularidades, tais como, a questão
atinge e perpassa os campos mal definidos da
dos projetos dos edifícios, o ambiente como um
sensibilidade, tanto no que ela tem de mais vi-
elemento curricular, mas não exclusivamente, o
sível quanto de mais escondido e secreto. (HA-
espaço como responsável por questões de pu-
DLER, 2007, p. 21)
nição e vigilância, o mobiliário das escolas, o
prédio na trama da cidade entre outros. (GRI- Para Oliveira (2018), a educação dos senti-
MALDI e ALMEIDA, 2020, p. 13-14)
dos e das sensibilidades ganhou impulso “com
Como afirmam Grimaldi e Almeida (2020), a renovação historiográfica experimentada
em diálogo com autores como Antonio Viñao sobretudo a partir dos anos 1960 em todo o

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Educação política das sensibilidades e arquitetura escolar

mundo” (p. 119). No entanto, a incorporação jetivos, em movimento que rompe com a uni-
das noções de sentidos e sensibilidades nos lateralidade, ou seja, que não anula a atuação
estudos históricos remonta ao início do século dos sujeitos, visto que eles participam ativa-
XX, na Europa, em produções de autores repre- mente dessa construção, imprimindo variadas
sentativos de diferentes filiações teórico-me- formas de resistência, que vão desde a nega-
todológicas e correntes historiográficas, desde tiva à ressignificação (THOMPSON, 1998). Além
os Annales à História Sociocultural Inglesa, disso, elas são elaboradas em um processo
passando pela Micro-história e incorporando educativo que dialoga com a esfera produtiva,
até mesmo importantes nomes da filosofia da com as condições materiais de produção e de
linguagem, como Walter Benjamin (1995; 2006) existência. Assim, nesse viés,
e Mikhail Bakhtin (2002). Já no campo da His-
A educação das sensibilidades não se refere a
tória da Educação, a educação das sensibilida- uma educação para o sensível ou para o esté-
des se destacou fortemente na última década, tico, nem mesmo a uma investigação que tome
trazendo importantes contribuições, pois “[...] as sensibilidades tão somente como objeto de
pode significar o refinamento do olhar para a pesquisa no campo da História. [...] a constitui-
lenta constituição de formas de agir e sentir – ção das sensibilidades é lida numa perspectiva
histórica, cultural e educacional, tanto porque
e, também, pensar – gestadas no cruzamento
se admite que elas sejam construções ancora-
das determinações estruturais e da volição in- das no tempo e no espaço, quanto porque se
dividual.” (OLIVEIRA, 2018, p. 125). percebe que seu engendramento é histórico,
Para Galzerani (2013), a noção de educação social e subjetivo, ou seja, elas não são nem
das sensibilidades, formulada na perspectiva e naturais nem estritamente impositivas, mas re-
através de diálogos com Gay (1988), Benjamin formulações contínuas, ligadas ao encontro dos
sujeitos com o mundo, numa afetação mútua
(1995) e Thompson (1981; 2002), configura-se
que vai moldando as experiências individuais
como “produto e, ao mesmo tempo, produtora
[...]. (CUNHA, 2016, p. 33)
de práticas sociais, historicamente datadas –
dentre as quais a escola configura-se, apenas As experiências singulares são constituídas
como uma delas” (GALZERANI, 2013, p. 143). Em na relação com o social e trazem constante-
sua obra, o olhar para os processos de educa- mente novos elementos, estabelecendo “um
ção das sensibilidades abarca diferentes am- tráfego ininterrupto entre o que o mundo im-
biências, especialmente no espaço urbano, e põe e o que a mente exige, recebe e reformula”
procura evidenciar as relações entre os aspec- (GAY, 1988, p. 19).
tos culturais, sociais, econômicos e políticos Partindo desses pressupostos, este arti-
em movimento de afetação mútua. E, nesse go investiga as relações entre a educação das
sentido, investiga como se dá na modernida- sensibilidades na modernidade capitalista e
de capitalista a educação de sensibilidades a arquitetura escolar do início do século XX,
do homem moderno economicamente ativo e no Brasil. Como objeto desse estudo de caso,
politicamente dócil, sem perder de vista sua realizamos um exercício interpretativo do edi-
condição de autoria nesse processo, inclusive fício de uma escola construída na segunda
em práticas de resistência. metade da década de 1940. Trata-se do Colé-
Cunha (2016), em diálogo com Galzerani gio Estadual Marcelino Champagnat, na cidade
(2013), afirma que as sensibilidades e as for- de Londrina, interior do Paraná, cuja sede foi
mas de ser tocado por/tocar o mundo pelos tombada como patrimônio histórico do esta-
sentidos articulam aspectos objetivos e sub- do em 2012. Considerado uma escola de quali-

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dade pela comunidade, esse estabelecimento A escola republicana como


recebe alunos da região central e de bairros
monumento do progresso e dos
distantes. O colégio Marcelino Champagnat se
destaca entre as escolas de Londrina, seja por
valores dominantes: educação
estar localizado no centro da cidade, pela tra- política das sensibilidades
jetória histórica ou pela suntuosidade de sua Diversos estudos no campo da História da Edu-
arquitetura. cação têm apontado a cooperação entre escola
Para os que partilham da crença de que e os primórdios da República no Brasil na con-
as escolas centrais são melhores do que as solidação de valores ligados aos grupos domi-
da periferia, estudar no colégio Champagnat nantes. A educação e a instrução primária eram
pode ser elemento de distinção social. Simul- vistas como uma das mais “poderosas armas no
taneamente, esse colégio também carrega combate às supostas consequências maléficas
uma aura monumental, que foi criada em tor- deixadas pelo Império e pelo trabalho escravo:
no dos prédios escolares no início do século a apatia frente à vida pública (e à respublica de
XX (FARIA FILHO; VIDAL, 2000), o que nos per- uma maneira geral), a aversão ao trabalho ma-
mite tomá-lo como objeto de uma construção nual, dentre outros” (FARIA FILHO, 2000, p. 27).
sociocultural e política da imagem da escola A organização de grupos escolares eviden-
como lugar de progresso, civilidade, ensino, ciava uma preocupação com o controle das
segurança e distinção social, fomentada no pessoas que o frequentavam; controle de seus
Brasil desde fins do século XIX (VEIGA, 2007; corpos, gostos, gestos, suas relações com a pá-
BUENO, 2008). tria e com o outro. Desde o projeto arquitetô-
No processo de engendramento histórico nico, passando pelas práticas educativas até o
dos grupos escolares do início do século XX, nome escolhido para os grupos escolares, uma
além da aura monumental, é possível flagrar imagem de cidade/sociedade moderna, civili-
ainda, que em pequenos movimentos, um lo- zada, organizada, higienizada e hierarquizada
cal permeado de tensões, conflitos, ambiva- era cuidadosamente constituída, pela via ra-
lências, resistências (THOMPSON, 1998), que cional e sensível. Veiga (2007) salienta que a
potencializam a compreensão das culturas escola, enquanto elemento de modernização
escolares e da escolarização como processo republicana, corroborou a organização da so-
marcado por uma tensão que “assinala a to- ciedade aos moldes e valores das elites domi-
talidade da cultura” (BERTUCCI; FARIA FILHO; nantes, sendo a educação estética de funda-
OLIVEIRA, 2010). mental importância nesse processo:
Assim, as imagens construídas em torno
Dentre as várias estratégias construídas para
desse colégio, na sua fundação ou na con-
isso esteve a difusão da educação estética das
temporaneidade, apresentam um amálgama populações presente nos conteúdos escolares,
de temporalidades (CAUQUELIN, 1982) reve- na organização do espaço urbano e escolar e
ladoras de práticas e sensibilidades urbanas na rotinização de acontecimentos promove-
engendradas coletivamente e em processo de dores de emoção estética, as festas escolares
e as festas dos escolares na cidade, presentes
constituição contínua, da qual os moradores
nas primeiras décadas republicanas. O objetivo
participam ativamente, a que aqui identifica-
era dar visibilidade à modernidade, concretizar
mos, portanto, como educação política das no espaço urbano novas atitudes e valores – a
sensibilidades, dada a sua dimensão de em- elegância, os bons costumes, o patriotismo, a
bate e conflito (GAY, 1988; GALZERANI, 2016). civilidade. (VEIGA, 2007, p. 400)

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Educação política das sensibilidades e arquitetura escolar

No entanto, deve-se ressaltar que tal edu- uma pátria ordeira e progressista” (FARIA FI-
cação estética não envolve apenas uma edu- LHO; VIDAL, 2000, p. 25). Dessa ordem não es-
cação para o belo, mas o cultivo de hábitos capavam a hierarquização de gênero, nem o
e valores pela via sensível. Nesse sentido, a controle dos corpos e dos gestos (GONDRA,
escola não apenas ensina por meio de seus 2007; BUENO, 2008).
conteúdos disciplinares, mas também de suas Contudo, o movimento de constituição das
práticas diversas, seus espaços, tempos e sím- sensibilidades não é unilateral, pois dele tam-
bolos. bém participam outros sujeitos (nesse caso os
No Brasil, reformar o povo sem desestabili- estudantes) negando-o e/ou endossando-o.
zar a ordem social, sem modificar o status quo Grimaldi (2016), por exemplo, estudou a sen-
era um desafio urgente para as elites republi- sibilidade da memória estudantil em relação
canas, que passaram a investir na educação à arquitetura escolar e concluiu, entre outras
pública, gratuita e leiga, tomando a educa- coisas, que os alunos eram afetados pelo es-
ção como “um símbolo integrado à república paço que vivenciavam. Os edifícios escolares
pela crença na sua capacidade de regenerar, atuam como reguladores da vida e da sensibi-
moralizar, disciplinar e unificar as diferenças” lidade estudantil, mas não de forma uniforme.
(VEIGA, 2007, p. 405). Entre os vários meios de O que significa afirmar que os alunos não es-
educação estética para o povo, as festas ou es- tão passivos diante da arquitetura escolar.
petáculos cívicos promovidos pela escola me- Na obra A Experiência Burguesa: da Rainha
recem destaque, mas não só elas. A arquitetu- Vitória a Freud, o historiador Peter Gay (1988)
ra dos prédios escolares também. Confere-se analisa o tenso movimento da educação das
nessas atividades o privilégio dado ao olhar, à sensibilidades burguesas, investigando uma
recepção ótica, não atada à esfera da contem- ampla diversidade de fontes documentais
plação, mas sobretudo do hábito. (cartas, registros médios, jornais, obras de arte
Benjamin (1994), no tocante à arquitetura, etc.), nas quais ele identifica prescrições que
argumenta que a recepção estética dos edifí- determinavam as formas de ser, amar, odiar,
cios se dá pelo uso, ou seja, pela recepção tá- desposar, enfim, de se comportar como mem-
til, sendo que se efetua menos pela atenção do bro da burguesia. Nessas mesmas fontes, Gay
que pelo hábito. No que diz respeito à arquite- (1988) encontra as resistências, os desvios de
tura, o hábito determina em grande medida a sentido entre o prescrito e o assimilado, o que
própria recepção ótica (BENJAMIN, 1994). acarreta novas prescrições, novos desvios. Ele
Nesse sentido, pode-se inferir que os pré- destaca, então, o caráter dinâmico da cultura
dios dos grupos escolares figuravam como ele- burguesa e a constituição dessas sensibilida-
mentos de constituição cotidiana de sensibili- des nas relações sociais, nunca de forma uni-
dades. Sensibilidades que deveriam se moldar lateral. Dessa forma, ao analisar a arquitetura
aos anseios, valores e projetos políticos das dos grupos escolares, ainda que existissem
elites dominantes. A isso não fugia, sequer, prescrições de comportamento e uma gama de
o estilo arquitetônico, pois tais construções esforços fosse adotada para que elas se efeti-
eram erguidas com a função de propagandear vassem, era nas relações sociais e cotidianas
os ideais do Estado, passando uma mensagem que essas prescrições se redefiniam.
estética, cultural e ideológica. O objetivo era Ao nos determos na figura do colégio Cham-
projetar “[...] um futuro, em que na República, pagnat, reconhecemos a sua participação num
o povo, reconciliado com a nação, plasmaria processo de educação política das sensibili-

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dades na cidade de Londrina, na consolidação As terras do norte do Paraná eram exalta-


da República, quando se solidificam os ideais das como a “Terra da Promissão”, o Eldorado,
de higienização, civilização, embelezamen- a nova Canaã, o paraíso prometido da fertili-
to, entre outros, que desde fins do século XIX dade, da produção agrícola abundante, das
“atenderam a demandas por iniciativas públi- oportunidades iguais de enriquecimento para
cas que facilitassem as atividades produtivas” “todos aqueles que quisessem trabalhar e
(GUIMARÃES, 2008, p. 246). prosperar”, imagem que predominou até 1970
Nesse sentido, empreendemos a leitura de (ADUM, 2008, p. 4).
documentos referentes ao edifício que abriga Fortuna (2013), em seu texto “Memória e
tal colégio, inserindo-os no cenário cultural Esquecimento Sobre a Cidade”, explica que na
dessa construção. Movimentando nosso olhar década de 1970 a representação de Londrina
numa relação entre presente e passado, a fim como metrópole ganha força, pois a CTNP dis-
de contribuir com outros estudos que versam seminou as imagens de progresso, lucro e har-
sobre a constituição de sensibilidades urbanas monia entre campo e cidade. Antes de 1980, as
na modernidade, quer seja diretamente vin- narrativas sobre a cidade endossavam as re-
culada ao espaço escolar ou não. Procuramos presentações da ordem dominante, tais como
nos manter atentos para capturarmos aspec- a de harmonia e de progresso e, em paralelo,
tos invisíveis da paisagem urbana (GALZERANI, privavam a história de Londrina da memória
2016), muitas vezes varridos da superfície apa- de outros grupos sociais, como os indígenas.
rente dos discursos que projetam uma imagem
Somente na década de 1980, o livro do jorna-
que dela se constrói, ainda que continuem a
lista José Jofilly, Londres, Londrina, questio-
tecer sua malha de relações.
na estas representações oficiais e o papel da
CTNP “como empreendimento imobiliário de
O edifício do Colégio sucesso e denunciou um processo de coloni-
Champagnat: uma construção zação marcado pela dizimação dos indígenas
(da) para a cidade de Londrina e pela destruição predatória da mata. No en-
tanto, este discurso contra-hegemônico não se
A cidade de Londrina, que está localizada no
constitui como memória hegemônica” (FORTU-
interior do estado do Paraná, surgiu na pri-
NA, 2013, p. 6).
meira metade do século XX com anseios pelos
ideais da modernidade e a promessa do pro- Concomitante à manutenção de práticas
gresso. Esses desejos eram disseminados por culturais de apagamento das dimensões plu-
meio dos discursos da Companhia de Terras do rais das relações entre seus habitantes, mui-
Norte do Paraná (CTNP), que era uma empresa tas vezes marcadas pela exploração, era níti-
privada de origem inglesa e que loteou exten- da, nos discursos sobre a cidade de Londrina,
sa região do estado. Tais discursos foram ma- a atmosfera de confiança no progresso. Tal
terializados em notícias de jornais, panfletos progresso não abordava apenas aspectos téc-
e folhetins com inúmeras propagandas comer- nicos, notadamente na esfera produtiva. Estri-
ciais acerca da venda de terras férteis. Eficien- tamente vinculada a ela, estavam os aspectos
te propaganda desenvolvida no país e no exte- de cunho civilizatório, ligados ao corpo e às
rior, desde a década de 1930, visavam seduzir relações sociais, que se fizeram presentes por
as pessoas sobre as vantagens de comprar ter- meio de diferentes dispositivos e ambientes,
renos diretamente da CTNP. entre eles a escola.

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Educação política das sensibilidades e arquitetura escolar

Quando o edifício que hoje abriga o Colé- O prédio da atual sede do colégio foi ergui-
gio Marcelino Champagnat (Figura 1) foi cons- do para ser ocupado pelo Grupo Escolar Os-
truído, na década de 1940, Londrina possuía waldo Aranha, o que jamais ocorreu. Então, em
mais de 60 mil habitantes e estava prestes a primeiro de abril de 1947, instalaram-se duas
ver a população urbana superar a rural, o que escolas no mesmo edifício: a Escola de Profes-
aconteceu em 1948 (SILVA; MUZARDO, 2017). sores de Londrina (atual Instituto de Educação
Para atender à demanda provocada pelo cres- de Londrina) e o Ginásio Estadual de Londrina
cimento populacional, havia a necessidade de (hoje, Colégio Estadual Professor Vicente Rijo).
se construir um ginásio na cidade. Após a transferência do Colégio Vicente Rijo, o
Colégio Marcelino Champagnat se instalou no
A construção de edifícios específicos para os
grupos escolares foi uma preocupação das ad- prédio atual, desde 1969.
ministrações dos Estados que tinha no urbano Tal edifício foi construído em estilo neoco-
o espaço privilegiado para a sua edificação, lonial, embora a tendência da arquitetura es-
em especial, nas capitais e cidades prósperas colar do período, marcado pelo Estado Novo
economicamente. Em regra geral, a localização
de Getúlio Vargas, fosse a Art Déco. O estilo
dos edifícios escolares deveria funcionar como
ponto de destaque na cena urbana, de modo Art Déco surgiu na Europa, no período entre
que se tornasse visível, enquanto signo de um Guerras e esteve bastante presente em cons-
ideal republicano, uma gramática discursiva ar- truções escolares da década de 1930, no Brasil,
quitetônica que enaltecia o novo regime. (BEN- enquanto o estilo neocolonial foi mais adota-
COSTTA, 2001, p. 105)
do no início do século XX.
Figura 1 - Edifício do atual Colégio Estadual Marce- Segundo Bruand (1981), os adeptos desse
lino Champagnat, final da década de 1940 estilo adotaram elementos da arquitetura bar-
roca, numa mistura de influências portuguesas
e brasileiras da época colonial: frontões cur-
vos, janelas com requadros, entradas impo-
nentes, treliças, balcões, pináculos, janelas em
arco batido, entre outros, e foi a primeira ten-
tativa de se obter uma arquitetura nacional.
Um dos principais exemplares da arquitetura
neocolonial é o edifício da Escola Normal do
Rio de Janeiro, inaugurado em 1930. Apesar de
ter sido criticado nas décadas seguintes pelos
modernistas e pelos custos elevados (FARIA
FILHO; VIDAL, 2000), essa opção arquitetônica
Fonte: acervo do Museu Histórico Padre Carlos Weiss, au-
esteve muito presente nas escolas públicas
tor desconhecido.
construídas no Paraná até a década de 1950
Com a cidade em franco crescimento eco- (SILVA; MUZARDO, 2017).
nômico, o Colégio Estadual Marcelino Cham- A escolha pelo neocolonial não represen-
pagnat foi criado. Era necessário oferecer para tava um desejo de retorno ao passado, o que
a população escola pública e gratuita. Porém, soaria até mesmo incoerente com o processo
seu funcionamento inicial se deu em edifica- de modernização vivido pela cidade de Londri-
ções de escolas privadas: o Colégio Marista e o na. Para Silva, a adoção do estilo neocolonial
Colégio La Salle (SANTOS, 2012). nas escolas públicas do Paraná, no período

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pós-Vargas, representa uma tentativa de ado- uso do terreno quanto a vigilância dos alunos.
tar uma arquitetura que, ao mesmo tempo, Mas principalmente demonstrava o poder e a
“absorva a modernidade pedagógica e cons- importância da educação e do Estado, tornan-
trua a identidade nacional; simultaneamente do “ impossível não distinguir com clareza, na
rompendo com o Art Déco dominante no pe- paisagem da cidade, um edifício imponente
ríodo Vargas” (SILVA, 2012, p. 11). onde funcionava um grupo escolar construído
Além de referências à arquitetura barroca nos primeiros tempos do regime republicano”
e estilo colonial brasileiro, o edifício do Co- (BUFA; PINTO, 2002, p. 18). Se o Estado preten-
légio Marcelino Champagnat incorporou ele- dia expressar sua grandeza por meio da arqui-
mentos da arquitetura religiosa. A fachada, tetura escolar, seus objetivos pareciam ter sido
lembra algumas igrejas ou conventos, possui atingidos com a construção de edifícios como
arcadas e balcão. A inspiração religiosa está aquele do colégio Marcelino Champagnat. Se-
presente também no pátio interno, com ga- gundo Nogueira (2004), esse tipo de constru-
lerias superpostas que trazem à memória ção chamava atenção, desde sua construção,
os antigos colégios jesuítas. A torre é outro pela beleza arquitetônica:
elemento típico das construções religiosas,
[...] uma torre retangular encimada por quatro
tendo as referências ao poder e ao domínio pequenas águas e ostentando um relógio. Na
realçadas pela presença do relógio (SANTOS, frente, destacam-se as sacadas com peitoril em
2012; SILVA, 2012). colunas de madeira escura e um chafariz com
De acordo com Faria Filho e Vidal (2000), o bonitos azulejos portugueses nas cores branco
e azul. Internamente, completando havia um
estilo neocolonial colaborava com ideais re-
bonito auditório com um piano de armário e, o
publicanos expressos por meio da educação mezanino. (NOGUEIRA, 2004, p. 128)
escolar entre fins do século XIX e início do XX:
O engenheiro José Pedro da Rocha Neto, ex
Em busca de uma maior homogeneização da
-aluno do colégio, assim descreveu o edifício
mensagem estética, cultural e ideológica que
os prédios escolares veiculavam, em 1926 foi no início da década de 1950:
realizado por Fernando de Azevedo para o jor- [...] possuía dois pavimentos. Visualizando-o
nal O Estado de S. Paulo um inquérito sobre
em planta, tinha a forma de um ‘U’ sendo que
arquitetura colonial. Consultados arquitetos,
na perna esquerda estavam a secretaria, sala
educadores e médicos que emitiram pareceres
dos professores, salão de festas contendo um
sobre a arquitetura brasileira, o inquérito ser-
palco e, ao final, uma cantina [...]. Na parte
viu a Azevedo para propor um padrão de arqui-
frontal, também algumas salas destinadas à
tetura escolar: o neocolonial. Na sua concepção
administração da escola e salas de aula. Na
os edifícios escolares deveriam trazer impressa
outra perna desse ‘U’, salas de aula tanto na
na pedra a marca distintiva da brasilidade, de
parte inferior como superior sendo que nestas
forma a desenvolver nas crianças o apego aos
valores pátrios e aos signos da nacionalidade. últimas havia um parapeito [...]. Além desse
Nesse sentido, recorrendo a uma pretensa tra- corpo principal, havia um anexo aos fundos,
dição arquitetônica colonial, Azevedo indicava onde também existiam mais salas de aula, o
o estilo arquitetônico neocolonial como a ar- laboratório e a sala de ciências naturais. (RO-
quitetura escolar por excelência. (FARIA FILHO; CHA NETO, 2006, p. 45)
VIDAL, 2000, p. 28)
Além disso, sua posição isolada em relação
Um dos elementos mais comuns encontra- às construções vizinhas (ele ocupa uma quadra
dos nas construções escolares da época era inteira) garantia-lhe o isolamento que identifi-
o formato em U, que garantia tanto um bom camos com os retiros religiosos (Figura 2).

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Educação política das sensibilidades e arquitetura escolar

Figura 2 – Edifício do atual Colégio Estadual Marce- balho e o capitalismo industrial”, conseguimos
lino Champagnat, final da década de 1940 estabelecer uma relação com nossas reflexões
anunciadas, a partir do entendimento do es-
paço escolar na modernidade, de modo dialé-
tico, num intenso movimento entre presente e
passado.
Thompson, ao estudar os trabalhadores de
uma fábrica na Inglaterra, no século XVIII, e as
transformações sócio-econômico-político-cul-
turais do período industrial, compreendeu que
tais mudanças foram sendo incorporadas no
cotidiano dos operários. Além disso, o autor
Fonte: acervo do Museu Histórico Padre Carlos Weiss, au-
chama a atenção para o fato de escola se cons-
tor desconhecido.
tituir como um espaço para as crianças serem
Ademais, fazendo referência à cultura por- disciplinadas e uma opção para saírem das
tuguesa, o estilo neocolonial endossava um ruas, sob a égide da ideia do uso econômico
projeto de nação excludente, que propagava do tempo. A escola era, e continua sendo em
a figura do branco europeu em detrimento de muitos aspectos, entendida como um local de
outros grupos étnico-raciais, como os negros treinamento para o trabalho. O relógio presen-
e os indígenas. Essas imagens se não são ab- te nas fábricas como símbolo do controle do
solutamente contrastantes com ideais republi- tempo e do comando também existe em mui-
canos, como o culto à razão e aos princípios tas escolas na modernidade. Marcador tempo-
científicos, são, no mínimo, expressão de uma ral que garantia a ordem e a disciplina neces-
modernização complexa e seletiva. sárias ao progresso da nação que se construía.
Refletindo nessa perspectiva thompsonia-
na sobre o espaço arquitetônico do Colégio
Diferentes formas de se habituar:
Champagnat, identificamos que era um grande
entre prescrições e resistências colégio para uma cidade que começava a pen-
Ao fazermos uma leitura dessas imagens (Fi- sar-se como moderna, embalada pelo capital
gura 1 e Figura 2), que são fontes históricas vindo do “ouro verde”. Marca uma época, sem
importantes, e pensando na relação entre ar- dúvida de transição de um tipo de sociedade
quitetura escolar e práticas culturais na mo- e educação, dominada pela elitização do ensi-
dernidade, encontramos no cenário de cons- no e de uma arquitetura escolar monumental.
trução daquele edifício uma cidade marcada O colégio, constituído no bojo da modernida-
pelos desejos de modernização, convivendo de, traz a figura marcante dessa sociedade, do
com temporalidades múltiplas, em um proces- tempo produtivo e controlado pelo relógio que
so tenso, tão sutil quanto agudo, de educação indica esquadrinhamento de uma determina-
de sensibilidades. da funcionalidade produtiva. Tempo e espaço
Em diálogo com o historiador Edward Pal- concebidos reciprocamente em íntima relação
mer Thompson (1998), compreendemos como com os ideais modernos.
a cultura moderna assimila e incorpora a dis- Percebemos que a cultura escolar não está
ciplina regida pelo tempo do capitalismo. A dissociada do capitalismo industrial, porém,
partir de seu artigo “Tempo, disciplina de tra- Thompson destaca que os costumes novos não

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Cyntia Simioni França; Nara Rubia de Carvalho Cunha; Fabio Luiz da Silva

sobrepõem aos costumes antigos. Pelo contrá- ferentes concepções disputam espaços simbó-
rio, eles se imbricam em uma relação tensa, licos e transformam-se.
marcada ora pela dominação e/ou ora resis- O relato do ex-aluno do Colégio Champag-
tência. Os sujeitos selecionam as tendências nat é revelador. Nele, é possível perceber o
culturais dominantes em suas experiências e cotidiano escolar partilhado pelos estudantes
incorporam elementos, bem como as negam, e, ao mesmo tempo, como é recriado pelos su-
adequando-os às suas necessidades. jeitos que constituem e são constituídos nes-
Isso implica pensar que nesse espaço esco- se espaço escolar. No depoimento, captamos
lar do Colégio Champagnat, os estudantes são como os alunos se reapropriam do espaço do-
atravessados pelos movimentos de tensão/ minado pelas técnicas de produção sociocul-
distensão e pelas fronteiras da resistência, tural e alteram, assim, o seu funcionamento,
conflitos e contradições. O que nos possibilita “escapando caladamente do lugar que lhe é
compreender que o colégio traz a imagem de imposto” (CERTEAU, 2012, p. 41).
um espaço escolar parecido com os claustros Para Michel de Certeau, o cotidiano é algo
conventuais (CASTRO; IMAGUIRE, 2006), mas que nos cabe em partilha, a cada dia, como
que era relido pelos alunos, que garantiam a doação, pressão ou opressão. Ao mesmo tem-
existência de outras práticas culturais a con- po, “é aquilo que nos prende intimamente, a
trapelo das tendências modelizadoras impreg- partir do interior. [...] É uma história a caminho
nadas nos programas, nas práticas e na arqui- de nós mesmos, quase em retirada, às vezes
tetura escolar. É isso que podemos flagrar no velada” (CERTEAU, 2012, p. 31). Lugares e espa-
relato de José Pedro da Rocha Neto, do ex-alu- ços são concebidos por Certeau na seguinte
no do colégio. perspectiva, um lugar é
Era nesse local [parapeito da parte superior] [...] ordem (seja qual for), segundo a qual se
que se posicionavam as meninas por ocasião distribuem elementos nas relações de coexis-
dos recreios. Daquela posição as mesmas viam tência. Aí se acha, portanto, excluída a possibi-
quem adentrava à cantina bem como os que lidade, para duas coisas, de ocuparem o mesmo
circulavam no páteo interno situado entre as lugar. Aí impera a lei do ‘próprio’: os elementos
duas pernas do ‘U’. [...] Já era uma coisa tradi- considerados se acham uns ao lado dos outros,
cional, na nossa época, os que circulavam no cada um situado num lugar ‘próprio’ e distinto
páteo invariavelmente flertavam com as meni- que define. Um lugar é, portanto, uma confi-
nas que se posicionavam naquele parapeito em guração instantânea de posições. Implica uma
madeira situado no pavimento superior. (RO- indicação de estabilidade. [...] existe espaço
CHA NETO, 2006, p. 45-46) sempre que se tomam em conta os vetores de
direção, quantidades de velocidade e a variá-
É perceptível que as práticas socioculturais
vel tempo. O espaço é um cruzamento de mó-
são plurais no espaço do colégio e que estas veis. É de certo modo animado pelo conjunto
são constituídas no interior das tensões. Por- dos movimentos que aí se desdobram. Espaço
tanto, dominação/resistência não são blocos é o efeito produzido pelas operações que o
engessados e constituídos mecanicamente, orientam, o circunstanciam, o temporalizam e
muito menos pertencentes a polos opostos: o levam a funcionar em unidade polivalente de
programas conflituais, ou de proximidades con-
tanto a dominação como a resistência entre-
tratuais. (CERTEAU, 2012, p. 184-185)
cruzam-se e se imbricam nessa relação con-
flituosa. Nesse sentido, as práticas sociocul- Falar de lugares e espaços na perspectiva
turais se inserem em um terreno de lutas, de abordada por Michel de Certeau (2012) é per-
ambiguidades, de contradições, no qual as di- ceber que os lugares são transformados em

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Educação política das sensibilidades e arquitetura escolar

espaços e vice-versa. É perceptível que os es- inventadas constantemente, movimentando o


tudantes (re)inventam criativamente o espaço processo histórico. Sendo assim, o campo cul-
escolar e se apropriam de “outras” mil e uma tural é plural, ressignificado constantemente
maneiras, mesmo atropelado pelas imposições no cotidiano pelos sujeitos plurais.
da modernidade, em uma cidade que, desde a
época do seu surgimento, já apresentava in-
Considerações finais
dícios de um esfacelamento das experiências
(BENJAMIN, 1994). Instigante pensar que aquilo No Brasil, a partir do início da República, a edu-
que estava posto como instrumento de domi- cação passou por diversas mudanças, desde a
nação era utilizado pelos estudantes do Co- adoção do ensino laico à reavaliação das for-
légio Champagnat simplesmente para flertar mas de ensino-aprendizagem. Essas mudanças
com os meninos. Podemos perceber que as estiveram em estreita sintonia com o proces-
experiências dos estudantes podem ser cons- so de modernização vivido no país, atento aos
truídas e modificadas na relação com outras princípios positivistas e liberais. E os grupos
práticas culturais. escolares, inclusive em seus aspectos físicos,
Compreender as experiências e os sentidos tiveram importante papel nesse processo. Por
que lhe são atribuídos pelos diferentes sujei- um lado, os grupos escolares facilitam o con-
tos no espaço escolar é entender que é pos- trole sobre os sujeitos e sobre o processo de
sível resistir à dominação, mesmo por meio escolarização. Além disso, os prédios eram
da incorporação dos elementos culturais do- construídos de modo a garantir a eficácia des-
minantes, mas reinventando práticas outras, se controle e, também, favorecer a realização
a partir dos interesses daqueles que apresen- do ensino-aprendizagem em um ambiente
tam as resistências. mais condizente com as novas demandas da
Para Faria Filho e Bertucci (2009, p. 13), o educação.
processo de escolarização é marcado pela mes- Os prédios escolares se tornam um marco
ma tensão que marca a totalidade da cultura, na História da Educação, elementos essenciais
ou seja, “[...] a escola exerce, simultaneamente, de um movimento de mudanças que traz no-
uma intensa atividade de apropriação, reorga- vos valores, deveres e condutas que devem
nização, desestruturação e desqualificação em ser assimiladas pela população, de modo a
relação às formas anteriores de produção cul- alavancar o progresso e garantir o sucesso da
tural da pessoa educada”. Nesse sentido, a ar- modernização do país. Os prédios escolares,
quitetura escolar apresenta-se como uma das inclusive através de sua materialidade, corro-
estratégias na constituição de determinadas boram as iniciativas do Estado para implantar
sensibilidades. No entanto, nesse esforço para as sensibilidades modernas que, acreditava-
a educação dos sentidos, a escola não é um se, garantiriam o desenvolvimento do país.
poder absoluto. As releituras e as diferentes Nesse sentido, este artigo pretendeu inves-
representações que cada grupo pode elaborar tigar, por meio de um estudo de caso, as rela-
a partir da experiência no espaço e no tempo ções entre a arquitetura escolar e a educação
escolar demonstram a possibilidade de resis- política das sensibilidades. Partiu-se do pres-
tência. Portanto, o espaço escolar pode ser en- suposto de que os edifícios da escola moderna
tendido com um campo tensionado, de dispu- foram construídos de forma a dar visibilidade
tas de forças, de representações, dominações à modernidade e, ao mesmo tempo, fixar no
e resistências em que diferentes lutas são (re) espaço urbano as novas formas de civilização.

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Cyntia Simioni França; Nara Rubia de Carvalho Cunha; Fabio Luiz da Silva

A arquitetura escolar faz parte do esforço percebermos a polissemia dos discursos sobre
para mobilizar a sociedade em favor da edu- e da escola, colaboramos para reafirmar a ne-
cação escolar, pois para a elite dominante era cessidade de fortalecer a construção de uma
necessário difundir novas atitudes e valores, educação mais plural, democrática e partici-
entre os quais o de identidade nacional. Esse pativa, um desafio posto e interpelado há mui-
objetivo não seria atingido senão na escola. A to no Brasil.
escola é, portanto, produtora de sujeitos. Por
isso a importância de compreendermos os edi-
Referências
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ADUM, Sonia Maria Sperandio Lopes. Historiografia
Champagnat, como elementos de uma estraté-
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A arquitetura escolar permite aos histo- BAKTHIN, M. Estética da Criação Verbal. São Paulo:
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fomentadas por eles, as quais podem dar in- BENJAMIN, Walter. Rua de Mão Única. Tradução de
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conformação, de embates cotidianos. Escolhidas, v. 2)
Ao abordar a relação entre arquitetura es-
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colar e educação (política) das sensibilidades,
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entramos por uma via que entrecruza aspectos Paes Barreto Mourão. Belo Horizonte: Editora da
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BERTUCCI, Liane Maria; FARIA FILHO, Luciano Men-
incorpora diferentes espaços e elementos, que
des; OLIVEIRA, Marcos Aurélio Taborda de. E. P.
envolve os sujeitos por inteiro, em suas di-
Thompson: história e formação. Belo Horizonte:
mensões racionais e sensíveis, os quais ope- Editora UFMG, 2010.
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O estudo da arquitetura escolar, sob esse BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Bra-
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lar como construção coletiva, dinâmica, mobi- BUENO, Maria de Fátima Guimarães. A história da
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Cyntia Simioni França é doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Membro do grupo
Kairós, vinculado ao Centro de Memória UNICAMP (CMU), membro do Grupo de Estudos e Pesquisas (GEPEC) da Facul-
dade de Educação da UNICAMP. Docente do programa de Mestrado em História Púbica da Universidade Estadual do
Paraná (Unespar) e do Mestrado Profissional em Ensino de História (PROFHISTÓRIA) da Unespar. E-mail: cyntiasimioni@
yahoo.com.br

Nara Rubia de Carvalho Cunha é doutora e mestre em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Docente do Instituto de História da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisadora Grupo de Estudos e Pes-
quisas em Educação Continuada (GEPEC), da FE/UNICAMP, e do Grupo de Pesquisao Kairós: educação das sensibilidades,
história e memória, vinculado ao Centro de Memória da mesma instituição, e do grupo Arquivos, Educação e Práticas de
Memória: diálogos transversais, vinculado à Escola de Ciência da Informação da UFMG. E-mail: nrcdois@yahoo.com.br

Fabio Luiz da Silva possui doutorado em História Universidade Estadual Paulista (UNESP) campus Assis, mestrado em
História pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), graduação em História pela UEL, graduação em Administração de
Empresas pela UEL. É professor de História do Colégio de Aplicação Pedagógica da UEL e de História Contemporânea na
Pitágoras-Unopar. Docente do Programa de Pós-graduação em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecno-
logias (mestrado e doutorado), da Pitágoras-UNOPAR. E-mail: fls.londrina@yahoo.com.br

Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, Salvador, v. 05, n. 14, p. 859-873, maio/ago. 2020 873

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