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DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA
RIBEIRÃO PRETO- SP
2020
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA
RIBEIRÃO PRETO- SP
2020
Nome: CARNEIRO, Luciana Cavalcante
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA:
Dr(a).:
Instituição:
Julgamento:
Msc.:
Instituição:
Julgamento:
Msc.:
Instituição:
Julgamento:
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus avós que me permitiram construir o caminho que hoje percorro, e
também a toda os meus familiares que no momento compartilham a vida comigo.
Agradeço pelo alinhamento que hoje busco em prol da espiritualidade, permitindo que
processos mais sutis emirjam a essência à superfície e a consciência expandida de se viver.
Com isso, carrego imensa gratidão aos meus irmãos de caminhada, que tanto me auxiliam.
Agradeço pelo amor permanente de minha mãe, que torna leve os passos do meu
andar, enquanto me afaga no presente e na lembrança.
Figura 1 - Organograma demonstrando a metodologia (4), seus subtópicos (4.1, 4.2, 4.3) e os
principais assuntos abordados em cada um deles………..............………...............36
Figura 2 - Diagrama demonstrando as 3 categorias a priori e as 4 a posteriori. 1- cultura, 2-
episteme, 3-política, 4- epistemo-cultural, 5- epistemo-político, 6- politico-cultural,
7-epistemo-político-cultural.....................................................................................86
Tabela 4 - Apresentação das unidades de contexto selecionadas por artigo, das unidades de
registro selecionadas em cada UC a partir de sua classificação na categoria a priori
e da categoria final das unidades de contexto a partir da classificação a priori de
suas URs...................................................................................................................89
LISTA DE SIGLAS
DS Desenvolvimento sustentável
EA Educação Ambiental
EAC Educação Ambiental Crítica
IES Instituição de Ensino Superior
M/C Modernidade/ Colonialidade
UR Unidade de Registro
UC Unidade de Contexto
SUMÁRIO
1. APRESENTAÇÃO ..........................................................................................................11
2. INTRODUÇÃO .............................................................................................................13
2.1 A CRISE AMBIENTAL E OS PARADIGMAS HEGEMÔNICOS DA
COLONIALIDADE .......................................................................................................13
2.2 A DECOLONIALIDADE COMO MOVIMENTO DE TRANSFORMAÇÃO..............26
2.3 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL (EA) .............................................................................29
3. OBJETIVOS E PERGUNTAS DE PESQUISA..........................................................35
4 METODOLOGIA..........................................................................................................36
4.1 O ESTADO DA ARTE.....................;..............................................................................37
4.2 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO.........................................................................41
4.3 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................................53
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................56
5.1 MAPEAMENTO DOS ARTIGOS .................................................................................56
5.2 O PROCESSO DE CATEGORIZAÇÃO .......................................................................85
5.3 DECOLONIALIDADE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM DIÁLOGO
POSSÍVEL?...................................................................................................................111
5.3.1 As armadilhas da colonialidade na EA e no DS ...........................................................111
5.3.2 Um diálogo cultural ......................................................................................................116
5.3.3 Um diálogo epistêmico .................................................................................................122
5.3.4 Um diálogo político ......................................................................................................127
5.3.5 Um diálogo epistemo-cultural .......................................................................................134
5.3.6 Um diálogo epistemo-político .......................................................................................139
5.3.7 Um diálogo político-cultural .........................................................................................143
5.3.8 Um diálogo epistemo-político-cultural .........................................................................148
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................................154
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................156
11
1 APRESENTAÇÃO
Por meio de vivências pude construir um olhar no que tange a atitudes e sentimentos
na e para a com a natureza. Perpassa, por esse olhar, reflexões que visam quebrar possíveis
lentes que processam a realidade com base numa perspectiva dualista, maniqueísta,
evolucionista e desenvolvimentista. Observando desde um ponto até uma paisagem complexa,
a quebra desses valores possibilita que se abra uma nova realidade baseada na integralidade
das partes.
Dessa maneira, ao adquirir uma percepção fina sobre os sentimentos, pensamentos e
valores que compartilhamos individual e socialmente (em múltiplos contextos que habito) foi
possível construir uma consciência maior sobre os processos que nos cercam, os quais podem
ser autodestrutivos, ilusórios, enganadores, ignorantes, de escassez, dentre outros. Mas
também, há aqueles baseados na coletividade e no amor.
Diante disso, houve um rompimento daquelas barreiras sustentadas pelos dualismos
que usualmente estipulamos para separar o “eu’’ de ‘’você’’ do “outro’’, o “dentro’’, o “fora”,
“o lugar”. Alinhado a isso, pude adquirir a percepção possível de que nossos processos
internos sejam com nós mesmos, seja em relação à outra pessoa, não são isolados e distintos
ao que fazemos para a natureza. Isto é, tendo como base a máxima de que todos os seres
(vivos ou elementos) estão conectados (de modo abstrato, espiritual ou até químico-orgânica),
os produtos de nossas ações e sentipensamento estão interligados com aquilo que fazemos a
natureza: Só fazemos à ela porque fazemos para nós mesmos e com o outro.
A partir do momento que penetrei nos caminhos da perspectiva decolonial aliada à
Educação Ambiental, me deparei com um campo possível de transformação por meio de
infinitas desconstruções individuais, quanto coletivas. Portanto, uma aliança entre duas áreas
com potencialidades enormes como: a tomada de consciência sobre os processos mentais
(emoções, pensamentos e entre outros sobre a própria existência, o outro e a natureza; a
percepção de rupturas para esses diferentes níveis; oportunidade de identificar crítica e
historicamente pensamentos que influem para essas rupturas; possibilidade de se reconstruir
maneiras outras de (re)existência consigo, com o outro e a natureza, entre outras
reverberações.
Como atuo e atuei na educação por meio de projetos de extensão na rede pública de
ensino, me atentei para as possíveis contribuições de uma perspectiva decolonial na minha
12
prática pedagógica como uma ferramenta que valoriza à epistemes subalternizadas 1. Nos
espaços que atuei como educadora (ou outra figura ligada à mediação de construção de
conhecimentos) eram ocupados por sujeitos que tiveram suas histórias renegadas pela
colonialidade, colhendo no presente as cicatrizes dela em violências cotidianas. Pude me
reconhecer naqueles rostos (por ter tido vivências semelhantes) e almejei construir algo que
visasse transpassar esses sujeitos de modo que pudesse ressignificar seus olhares sobre sua
própria existência na realidade, o seu lugar, e a comunidade, tendo como cerne epistemologias
diversas à colonialidade. A ideia, portanto era desenvolver vivências de Educação Ambiental
na perspectiva da decolonialidade. Concomitantemente, ansiei por ser esse o tema de minha
monografia.
No entanto me deparei com conflitos e reflexões sobre o tema anterior: O que é uma
vivência que relacione Educação Ambiental e decolonialidade? Como posso chamar algo de
decolonial? Tenho autoridade para tal? O que deve conter em uma vivência de Educação
Ambiental para que ela possa ser considerada Decolonial? Na ânsia por respostas houve
sincronias que me oportunizaram a conhecer minha atual, a qual pode mediar e guiar algumas
trilhas por mim traçadas tornando esse processo do conhecimento algo consciente, de modo a
facilitar a construção das respostas para as minhas perguntas, no momento.
A maneira mais concisa de adquirir consistência sobre o tema por mim trabalhado
seria realizar um levantamento bibliográfico de produções científicas que envolvessem
Educação Ambiental e decolonialidade. Portanto, ansiei por uma metodologia que pudesse
diagnosticar as tendências, caminhos e contribuições presentes nas produções científicas de
modo que possivelmente preenchesse uma lacuna quanto à minhas próprias questões no
campo da EA e da decolonialidade. Dessa forma, a escolha da metodologia desta pesquisa irá
me proporcionar um panorama abrangente quanto aos trabalhos científicos que estão sendo
desenvolvidos e por fim, possivelmente, fornecerá subsídios para trabalhos futuros que visam
a materialização de atividades práticas de EA e decolonialidade.
1
A subalternização e a subalternidade apresentam diversas definições principalmente ao longo dos estudos Pós-
coloniais. Neste estudo é considerada a definição mais recorrente nos estudos Decoloniais, os quais denunciam
sobre os desenhos globais impostos a partir do colonialismo e que hoje se faz presente através a colonialidade na
Modernidade. A imposição desses desenhos tornou todos os outros modelos históricos, políticos, sociais e
culturais simultaneamente negados, produzindo conhecimentos, culturas e populações em situação de opressão e
exclusão e passiveis de qualquer tipo de violação e exploração. Ao subalterno não há o direito de negar a sua
própria negação. A subalternização é permeada pela ideia da diferença, onde os sistemas distintos aos padrões
europeus são simultaneamente deslocados aos “não-lugares”, ao “não-ser” e ao” não-existir”. A subalternização
se refere a um padrão de dominação multidimensional e complexa presente na Modernidade. (ESCOBAR,
2005).
13
2 INTRODUÇÃO
O que tem sido apresentado é a generalização de uma crise ambiental, a qual não se
expressa por aspectos isolados, como um desastre ecológico ou um desequilíbrio econômico
globalizado. Mas algo mais profundo e sutil que realça a perda dos sentidos existenciais
humanos frente a uma racionalidade que coisifica a vida e que superexplora a natureza. A
crise ambiental é uma crise civilizatória, na medida em que os pressupostos ideológicos e
paradigmáticos que permitem a edificação do progresso da civilização são os mesmos que
proporcionam a degradação ecológica, a perda ecossistêmica e a inviabilidade da vida (LEFF,
2
Simplificadamente utiliza-se paradigma tendo como definição a utilizada por Capra (1996, p. 16) o qual
ampliou o conceito de paradigma científico de Kuhn para aplicação do mesmo na dimensão social como "uma
constelação de concepções,, de valores, de percepções e de práticas compartilhados por uma comunidade, que dá
forma a uma visão particular da realidade, a qual constitui a base da maneira como a comunidade se organiza”.
3
Como trazido por Johnson (1997, p. 123), hegemonia se refere “tanto aos mecanismos e bases sociais da
dominação quanto ao fato da própria dominação. Como conceito, focaliza atenção em como dominação e
subordinação são definidas como parte da estrutura normal da sociedade e incluídas no arcabouço institucional
dos principais aspectos da vida social, desde a família à educação e à religião organizada”.
14
2003; 2006). Nesse sentido, a crise ambiental é constituída por um conjunto de paradigmas, os
quais são reproduzidos socialmente e estão se apresentando como “uma angústia da separação
da cultura de suas raízes orgânicas, procurando reconstituir a ordem social a partir de suas
bases naturais de sustentação.” (LEFF, 2006, p. 77). Diante disso, irrompe questionar os
fatores histórico-sociais envolvidos nas construções das concepções sobre natureza, de modo
a investigar as dimensões que influenciam na legitimação de negação da natureza pela cultura
e o deslocamento da “relação entre o Real e o Simbólico”. (LEFF, 2006, p. 133).
A profunda dicotomização da relação cultura-natureza foi estabelecida de maneira
suprema no pensamento ocidental, no entanto, sua hegemonização ocorre em meio a
confrontos e embates, o que revela maneiras outras de se relacionar com a natureza. Logo, é
necessário abranger as concepções de natureza como algo complexo e não linear, com
inúmeras descontinuidades e interligações entre as mais diversas culturas e não como algo
previamente edificado e estaticamente concebido (CAMPOGNARA; RAMOS; KIRCHHOF,
2007).
Gonçalves (2006 apud CAMPOGNARA; RAMOS; KIRCHHOF, 2007) pontua
quatro momentos marcantes e cruciais para o atual paradigma de natureza para as sociedades
ocidentais: o primeiro refere-se à origem da filosofia no pensamento grego onde se postula o
conceito de physis, traduzido para o latim a partir de Sêneca e que concebe uma compreensão
através de uma postura observacional frente aos processos e dinâmicas inerentes da natureza.
O segundo momento remete-se a uma investigação filosófica para a origem da matéria e
substância, também documentada na Grécia antiga, e que está ligado às teorias atomistas
modernas. O terceiro, a ascensão da Idade média e a disseminação das ideias judaico-cristãs
desvelam uma natureza cuja origem é divina e justificada para servir aos homens. No quarto,
visualiza-se a emergência de uma racionalidade mecanicista e científica a partir do
renascimento, momento de maior relevância para as concepções vigentes.
Dessa maneira, a partir dessa breve exposição é possível perceber que as concepções
de natureza que a dissocia da cultura e do ser humano são proeminentes a partir da Idade
Média. Se o conceito de physis no período da Grécia antiga denota uma natureza eternizada
que se materializa por si mesma e que é instituída por uma essência básica, agora, ela é vista
como produto de uma criação divina, sendo esta figura central de detenção da soberania e
primária a todas as coisas. A herança judaico-cristã fortalece o pensamento dual em ascensão
ao contrapor criador de criatura, espírito de matéria. Por conseguinte, ao situar o homem
como “imagem e semelhança de Deus” o associou a uma figura transcendente, superior e
privilegiada, e que a ele foi designado total usufruto e utilização irrestrita da natureza
15
4
Há duas definições para Modernidade trazidos por Dussel ( 2005), porém por agora aborda-se um deles: o
primeiro conceito de Modernidade é atribuído à um período baseado em processos históricos lineares que
ocorreram em contextos situados na Europa como a Reforma protestante, o Iluminismo e a Revolução Francesa.
Refere-se a marcas históricas pontuais, as quais favoreceram o rápido despontamento de pensamentos e que
abriram espaço para uma nova racionalidade, mais crítica e emancipada que a vigente anteriormente. Esse
conceito, por se basear em acontecimentos localizados, provincianos e intraeuropeus é denominado como
eurocêntrico
16
5
Tratado de Tordesilhas foi assinado entre Portugal e Espanha em 1494. (SANTOS, 2009).
18
transoceânico, a modernidade sob6 uma narrativa histórica mundial contada através de uma
perspectiva única: a da Europa, a qual “é ou sempre foi simultaneamente o centro geográfico
e a culminação do movimento temporal”. (LANDER, 2005, p. 10).
Deve-se ressaltar que todo esse cenário histórico foi efetuado primeiramente pelo
pensamento vigente compartilhado na mente coletiva das nações imperialistas. O paradigma
científico imbuído pela racionalidade, objetividade, neutralidade e o cartesianismo, perpetrado
às ideias de progresso unilinear legitimaram a difusão de um paradoxo moderno ao fortalecer
uma crença mítica baseada na intrínseca superioridade da civilização europeia. O homem
eurocêntrico7, “senhor do mundo” tinha o olhar atento voltado para a rápida assimilação
racional dos objetos constituintes de sua realidade. Para isso, cabia a ele a função justificável
de manipular, dividir e fragmentar tais objetos (vivos ou não, humanos ou não) para a possível
classificação e hierarquização dessas partes. Com a queda do pensamento mítico cristão
(difundido na Idade Média) o centro do cosmo passa a ser ocupado justamente por esse
homem que agora, como senhor pensante, se posiciona não como centro, mas como a
extremidade máxima de um processo evolucionário. Pois, a primazia de sua razão o
presenteou com a civilidade, constituindo o pico do progresso moderno (DUSSEL, 2005).
A partir do momento que a civilização moderna eurocêntrica se apropria como única
detentora do progresso e da superioridade passa a colonizar também com o intuito missionário
de levar o desenvolvimento aos mais primitivos e bárbaros, numa tentativa de dar-lhes a
chance de alcançarem ao menos minimamente a civilidade. No entanto a expressão de reação
contrária à esse plano desenvolvimentista por parte dos “primitivos” gerou inúmeras
violências contra diversos povos étnicos indígenas, violência essa que foi traduzida como ato
necessário e consagrado para a conclusão do projeto. Recai-se a culpa ao “bárbaro” por opor-
se ao processo, logo, se emancipa a modernidade de qualquer culpa de produzir suas vítimas.
Como bem expressa Dussel (2005):
6
Aqui se faz alusão à segunda definição de Modernidade: essa definição é alinhada às teorias latino-americanas
dos estudos decoloniais (grupo M/C) e consiste em denominar como Modernidade ( ao mesmo tempo que a
crítica) o sistema (constituído pelos seus Estados, exércitos, economia, política e etc) determinado como centro
da história mundial. A partir do desenvolvimento imperial de Portugal e Espanha no século XV e com a invasão
de outros territórios, todo o planeta se tornou cenário de uma só história mundial com perspectiva única.
Portanto, “Esta Europa Moderna, desde 1492, possuindo a centralidade da História Mundial, constitui, pela
primeira vez na história, a todas as outras culturas como sua periferia” (DUSSEL, 2005, p. 27).
7
Eurocentrismo é aqui definido como a imposição de uma perspectiva cognitiva única centrada no poder
Europeu, sendo experiência naturalizada e não suscetível de ser questionado. (QUIJANO, 2007).
19
A racialização gerou identidades sociais que antes não existiam na história como:
índios, negros, mestiços entre outras. Além de termos que designam não mais uma origem
geográfica como o ‘’europeu’’, “português’’, e “latino”, mas uma posição política e
epistêmica legitimada como superior (de dominação) ou inferior (a ser dominado)”. Portanto,
a hierarquização foi acompanhada pela determinação do espaço de ocupação possível para
cada uma dessas identidades, isto é, o pertencimento a determinada raça e grupo social o
tornam sujeito a cumprir papéis sociais específicos: “Raça converteu-se no primeiro critério
fundamental para a distribuição da população mundial nos níveis, lugares e papéis na
estrutura de poder da nova sociedade”. (QUIJANO, 2005, p.108).
Portanto, ao gerar a classificação social por meio da raça, a colonialidade do poder
determinou aos grupos inseridos nesses critérios raciais uma função específica na divisão do
trabalho, como se este fosse constitutivo essencialmente da raça que o desempenha. Alguma
das formas de trabalho são a servidão, a escravidão, a reciprocidade e o trabalho assalariado
sendo este desempenhado apenas por grupos distintos da nação europeia. Além do mais, vale
destacar que todo esse processo foi possibilitado e liderado por nações europeias, viabilizadas
à isso pelo extrativismo sistemático de recursos como o ouro, a prata e a grande produção de
mercadorias oriundos da América. Esses produtos promoveram a monetarização econômica
das elites europeias, possibilitando-as ao acúmulo de capital oriundo das transações mercantis,
e garantindo-lhes o monopólio e regulação das transições salariais. Por conseguinte, ao deter o
controle dos padrões mundiais de divisão do trabalho, a Europa dominou os processos de
produção e distribuição dos recursos a nível globalizado, se posicionando no centro mundial
do capitalismo emergente. Diante desse cenário, urge explicitar que a estruturação do capital
21
8
Utilizando as palavras de Oliveira & Candau (2013, p. 284, tradução nossa.): “ Os autores do grupo
Modernidade/colonialidade usam frequentemente expressões como: “pensamento-outro”, “conhecimento-outro”,
etc. Dentro deste contexto, a palavra ‘’outro’’ se refere não apenas à toda perspectiva alternativa que possa
residir em uma lógica de fundo que não seja questionada, pode referir-se à uma mudança de óptica, de lógica, de
paradigma.
22
outro, isto é, ele já não mais existe por si mesmo e sim apenas por meio da reafirmação do
olhar de seu colonizador. Logo, como na perspectiva de Fanon (1983 apud WALSH, 2013)
essa forma de colonialidade tem caráter ontológico, já que desumaniza o sujeito, reduzindo-o
à uma situação de não humanidade: “a forma na qual o sujeito colonizado interioriza seu
processo de colonização criando assim condições de não-existência”. (WALSH, 2013, p. 57).
Perdeu qualquer fonte de valor intrínseco: não era mais a physis, um fluxo de vida
que anima os seres (mundo greco-romano), mas não era ens creatum, criação divina
que reflete os atributos de Deus (mundo cristão-feudal). Sendo objetivada no mundo
burguês-mercantil, a natureza é convertida em uma instância externa, capaz de ser
instrumentalizada, manipulada de acordo com imperativos técnicos e, por fim,
degradada para a categoria de recurso. (ROTUNDO, 2007, p. 174).
Um olhar atento dos fatores que permitiram instalação do mercado mundial pelo
circuito atlântico e promoveu o monopólio da Europa sobre esse comércio é possível perceber
que inclui não apenas a colonialidade do poder, saber e ser, mas ocorreu primeiramente por
um motivo crucial: a natureza latinoamericana. O intenso extrativismo da biodiversidade
(implantação de monocultivos nos solos brasileiros, extração de madeira e minérios)
concentrou recursos nas nações europeias, subsidiado pela monetarização da economia a
partir da venda desses recursos nas nações onde o trabalho assalariado era legitimado
(ALIMONDA, 2011). Assim, o capitalismo não foi um fenômeno que se gerou
exclusivamente pela Europa. E sim, só foi possível por meio das transações transcontinentais
a partir do colonialismo (CORONIL, 2000).
desmatamento e degradação ambiental em massa, visando o cultivo dessa espécie exótica para
exportação e sua inserção no mercado mundial. Dessa maneira, a paisagem ecossistêmica e o
território socioambiental vigente foram abruptamente incorporados ao sistema hegemônico de
produção. A partir do cenário descrito O’Connor (2001, apud, ALIMONDA, 2011) declara:
As consequências geradas dessa historicidade tem sido o estopim coletivo para uma
tomada de consciência quanto à magnitude da crise que se instala atualmente. É diante dessa
24
inquietação que se alastra uma percepção de total exaustão para os processos corrosivos que o
capitalismo tem proporcionado à sociedade e ao planeta como um todo. Diversos segmentos
tem se atentado para a insustentabilidade inerente à esse projeto que na verdade tem
ameaçado a própria continuidade da vida (SILVA, 2013). Como resume SILVA (2013):
são totalmente interligados aos frutos de uma colonialidade onipresente e encoberta pelo
projeto civilizatório moderno (CAPRA, 1996). Diante disso, como salienta LEFF (2003a):
A solução da crise ambiental- crise global e planetária- não poderá dar-se somente
pela via de uma gestão racional da natureza e do risco de mudança global.[...] Sua
solução não poderia basear-se no refinamento do projeto científico e epistemológico
que fundou o desastre ecológico, alienação do homem e o desconhecimento do
mundo. Daí emerge um projeto de desconstrução da lógica unitária, da busca da
verdade absoluta, do pensamento unidimensional, da ciência objetiva; do
crescimento do conhecimento, do controle crescente do mundo, do domínio da
natureza e da gestão racional do ambiente. (LEFF, 2003a, p. 18 e 21-22).
26
Dito isso, como bem afirma WALSH (2013) a decolonialidade denota não apenas os
processos de descolonização territorial/ administrativa/ militar, mas também ao processo
contra epistêmico da colonialidade visando uma superação dos padrões impostos quanto a
soberania do poder sobre os processos de racialização e desumanização, os mecanismos que
permitem a produção dos conhecimentos e, sobretudo as formas de se relacionar com a
natureza. Denota um horizonte de transformação epistemo-político e de transcendência aos
paradigmas da colonialidade, tornando concreto um projeto de sociedade plural,
anticapitalista, antipatriarcal, antirracista e antiutilitarista.
9
O pensamento de fronteira é aqui definido pela perspectiva da subalternidade colonial e se trata do pensamento
que revela seu estado de negação perante os mecanismos da modernidade e na mesma medida não se subjuga ao
pensamento moderno que o nega. (MIGNOLO, 2003 apud BALLESTRIN, 2013)
28
Como já foi descrito, a crise ambiental se apresenta como uma crise civilizatória,
pois apresenta o estopim das múltiplas áreas que estão à beira de um colapso social e da vida,
isto é, escancara um cenário que assimila a realidade a partir de uma perspectiva da
complexidade, na medida em que torna explícitos os multifatores interconectados na
destruição da natureza. Diante disso, como LUZZI (2003) salienta, as sociedades que
deflagram seus limites atingidos adquirem uma postura mais reflexiva quanto aos padrões
educacionais que estão corroborando na perpetuação da crise que se encontram. A educação a
ser assumida por uma população ou estado irá influenciar diretamente nas múltiplas relações
que essas pessoas irão açambarcar com o coletivo, consigo mesmas e inclusive com a
natureza.
Algumas definições possíveis foram formuladas para a EA, uma delas foi dada na
Conferência Intergovernamental de Tbilisi em 1977 :“ Entende-se por Educação Ambiental os
processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade”. (DIAS, 2003 apud LEITE, 2008). A lei nº. 9795/99 que institui a EA na
constituição brasileira traz a mesma definição formulado na Conferência de Tbilisi. Para
Tristão (2002 apud LEITE, 2008, p. 6) “a educação ambiental é entendida, de forma geral,
como uma prática transformadora, comprometida com a formação de cidadãos críticos e
corresponsáveis por um desenvolvimento que respeite as mais diferentes formas de vida”.
Uma definição trazida por Mousinho (2003 apud LEITE, 2008) expressa a EA como um
processo que almeja o despertar individual e coletivo para a questão ambiental sendo um meio
capaz de assegurar acesso à informação através de uma linguagem adequada, estimulando
consciência crítica e fomentando a participação socioambiental. Deve-se ainda trabalhar em
um contexto complexo, isto é, a partir dos eixos sociais, culturais e políticos.
LAYRARGUES (2004), LAYRARGUES E LIMA (2011) bem ressaltam as diversas
tendências macropolíticas que a EA tem demonstrado no Brasil nos últimos anos. Ainda,
muitas são as nomenclaturas e adjetivações que contornam práticas e pensamentos distintos,
construindo um escopo diverso de “identidades” da Educação Ambiental. Dessa forma, é
evidente os potenciais caminhos que podem ser trilhados na multidimensionalidade das práxis
pedagógicas, denotando uma pluralidade de impactos e implicações respectivas. Portanto, a
EA torna-se maleável ao ponto de ser suscetível de expressar “ingenuidade, oportunidade,
confusão teórica e política”. (REIGOTA, 2009, p. 29). Nessa lógica Henriques et al (2007)
bem pontua que se proliferou slogans e campanhas sobre a questão socioambiental de maneira
superficial, movimentando o mercado a partir da comercialização dos movimentos pró
ambientalistas. Além disso, muitas práticas podem adquirir discursos vazios, incoerentes e se
mostrarem desvinculados à uma real prática cotidiana e transformadora da realidade.
Assim, a partir do panorama descrito, deflagra-se uma crise ambiental instaurada por
paradigmas sócio-históricos herdados de fatores imbricados na colonialidade, os quais se
entremeiam, de forma persistente, nas diversas dimensões da realidade vigente e contribuem
para a perpetuação desse estado. A fim de contribuir com a reforma dos padrões societários
no quadro revelado torna-se necessário enfocar as problemáticas e também as alternativas
educativas que permitam a isso. “Como muitos autores sustentam, sempre que refletimos
sobre a educação sonhamos com algo, pretendemos mudar algo. Sem utopia não pode haver
34
discurso sobre o educativo” (LUZZI, 2003, p. 203). Assume-se que diante desse cenário a
Educação Ambiental apresenta-se como um campo pedagógico complexo onde se deflagram
novos saberes e estratégias que possibilitam o estabelecimento de uma inter-relação com os
desafios apresentados pela crise ambiental. Levando em conta o projeto decolonial, assume-
se que este almeja um projeto que transcenda aos fatores intrincados e sustentadores da
colonialidade, sendo um caminho emergente no enfrentamento da crise ambiental. Logo, é
possível constatar a sobreposição das funções sociais apresentadas pela educação ambiental e
pela decolonialidade, sendo necessária uma investigação mais aprofundada quanto aos
trabalhos desenvolvidos a partir do eixo de intersecção entre esses eixos.
35
4. METODOLOGIA
Figura 1: Organograma demonstrando a metodologia (4), seus subtópicos (4.1, 4.2, 4.3) e os
principais assuntos abordados em cada um deles.
Para atingir seus objetivos, este estudo se lançou a realizar uma pesquisa qualitativa
de caráter bibliográfico, inventariante, descritivo e exploratório por meio da metodologia
Estado da Arte (ROMANOWSKI; ENS, 2006). Para Moreira (2011) a pesquisa qualitativa
possui uma abordagem que não exclui a subjetividade10 humana e sua capacidade de
abstração mental para cocriação de sua realidade. Portanto, admite a relevância do aspecto
social para construção do panorama que se deseja investigar, sendo esta materializada por
meio de uma atitude interpretativa. O foco da pesquisa qualitativa não está nos resultados a se
chegar, e sim no processo percorrido ao longo de sua execução em que múltiplos olhares,
inseridos em um contexto, irão delinear de forma mais detalhada os lugares que se querem
chegar. Dessa forma, não busca uma verdade absoluta baseado na repetição empírica, assume
que a verdade é alcançada por meio da concordância dentro de um universo contextual
interpretativo (SMITH, 198 apud MOREIRA, 2011). É necessário enfatizar que a pesquisa
qualitativa abre possibilidades para se conhecer de maneira mais profunda aquilo que está
ligado diretamente com o pesquisador, como afirmado: “os instrumentos (da pesquisa) [...],
são extensões dos pesquisadores na sua tentativa de construir ou dar forma à realidade”.
(MOREIRA, 2011, p. 77).
O Estado da Arte almeja realizar um diagnóstico das produções científicas realizadas
de uma área específica do conhecimento em um determinado período. Através disso, busca
elucidar um panorama das tendências temáticas, metodológicas, investigativas, técnicas,
epistemológicas e entre outros aspectos, de uma área por meio de um levantamento
bibliográfico sistemático e analítico:
Um estado da arte é um mapa que nos permite continuar caminhando; um estado da
arte é também uma possibilidade de perceber discursos que em um primeiro exame
se apresentam como descontínuos ou contraditórios. Em um estado da arte está
presente a possibilidade de contribuir com a teoria e prática de uma área do
conhecimento. (MESSINA, 1998, p.01 apud ROMANOWSKI; ENS, 2006, p. 40).
Como ressalta ROMANOWSKI & ENS (2006) essa metodologia tem sido cada vez
mais utilizada para a construção de um panorama efetivo quanto a determinadas vertentes da
pesquisa em educação. Consequentemente, o estado da arte contribui para a consolidação de
10
Subjetividade entendida como emergência de processos, não determinada socialmente, mas em conexão com
processos culturais, sociais, econômicos, ecológicos, midiáticos, enfim que participam de sua constituição e
funcionamento. A forma como o sujeito se compreende de determinado modo, ou melhor, como percebe a si
mesmo na sua relação com o outro. (TRISTÃO, 2016).
38
Diante de uma realidade de alto volume de produções científicas, muitas vezes esse
montante de informações e conhecimentos ficam dispersos ou restritos nos respectivos meios
que foram produzidos. Consequentemente, isso pode dificultar ao pesquisador ter uma noção
ampla e ao mesmo tempo profunda dos caminhos que estão sendo tomados na área de
conhecimento requisitada. Logo, a fim de garantir domínio sobre esse, o pesquisador pode se
lançar a realizar um levantamento bibliográfico diagnóstico que lhe trará certa segurança
quanto às delimitações entre os temas retratados, quanto as diversas metodologias que vêm
sendo empregadas, à abordagem das investigações do tema e suas problemáticas, categorias
subjacentes, entre outras. Além do mais, ele pode adquirir uma visão ampla de como as
pesquisas e a própria área do conhecimento afeta e é afetado pela área mais abrangente onde
estão inseridos (ROMANOWSKI; ENS, 2006).
Visto isso, o Estado da arte é uma oportunidade de integrar esses conhecimentos em
um mesmo documento de modo a organizá-los e sistematizá-los, evidenciando aquilo que
mais tem sido relevante para a área como um todo e sua produção científica. Por conseguinte,
contribui para uma integração e socialização das informações compiladas, possibilitando um
delineamento da evolução geral do campo de pesquisa retratado (ROMANOWSKI; ENS,
2006): “[...] tentando responder que aspectos e dimensões vêm sendo destacados e
privilegiados em diferentes épocas e lugares, de que formas e em que condições têm sido
produzidas” (FERREIRA, 2002, p. 258).
Ao realizar um balanço das principais decisões tomadas na área específica da
produção acadêmica, adquire a capacidade de colocar em evidência aquilo que tem restringido
ou limitado o caminhar do campo específico da pesquisa e o que tem dificultado sua
disseminação e aplicação nas vertentes e categorias focos da análise, seja na práxis, na
inserção em políticas públicas, no delineamento de projetos e etc. O estado da arte é capaz de
construir suporte de potenciais trabalhos publicados que possivelmente carregam as soluções
para as limitações encontradas no campo teórico, podendo explorá-las e através de uma
posição panorâmica, propor novos questionamentos ou atitudes a partir das soluções
visualizadas. Além disso, a metodologia fornece subsídios para inferir aquilo que está ausente,
39
isto é, também traz para o centro de sua interpretação aquelas trilhas que não estão sendo
traçadas, de modo a evidenciar as lacunas presentes na evolução do campo teórico. Isso se
torna muito importante para o pesquisador da área que visa justamente atuar nesse espaço
vazio a fim de preenchê-lo e contribuir com produções inovadoras que promovam novas
trilhas na área como um todo (ROMANOWSKI; ENS, 2006).
Uma das motivações para a escolha da metodologia Estado da Arte, segundo Ferreira
(2002), e com a qual este trabalho se identifica, é a nítida sensação do “não conhecimento” do
que se tem produzido na área específica a que se queira mergulhar, área esta que muitas vezes
atravessa diversos outros campos do conhecimento. Dessa forma, almeja-se superar esse
sentimento e proporcionar um salto em relação ao que se sabe, sendo isso concretizado por
meio de um levantamento bibliográfico inventariante, descritivo e interpretativo. Nesse
cenário, FERREIRA (2002) salienta:
11
Corpus é o termo dado ao conjunto de documentos que serão submetidos a procedimentos analíticos
(BARDIN, 1977).
41
Define acesso aberto como a disponibilidade gratuita dos textos completos dos
artigos na internet permitindo leitura, cópia e distribuição sem custo financeiro, legal
ou técnico, tendo como “única limitação quanto à reprodução e distribuição, e o
único papel do copyright neste domínio sendo o controle por parte dos autores sobre
a integridade de seu trabalho e o direito de ser propriamente reconhecido e citado”.
Outro fator crucial para a identificação das bases de dados é verificar o alinhamento
entre os temas dos trabalhos que elas divulgam e o assunto aqui focalizado.
42
humanidades. Inclui mais de 20.000 revistas acadêmicas de alto nível e outras produções de
conferências. Foi originada pelo Instituto Scientific Information (ISI) (Instituto de Informação
Científica).
4) Scielo (Scientific Electronic Library Online- ) (http://www.scielo.br ) — Trata-se
de uma biblioteca eletrônica acessada de modo online que possui trabalhos de mais de 350
revistas científicas das mais diversas áreas do conhecimento, sendo que 173 são brasileiras.
Os países que abrange são Argentina, Chile, Cuba, Venezuela, Peru, Colômbia, Costa Rica,
México, Uruguai, Espanha e Portugal.
5) Pesquisa em Educação Ambiental (ISSN 2177-580X)
(https://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/pesquisa): Revista que divulga
periódicos semestralmente e que abrange três instituições universitárias paulistas:
Universidade Federal de São Carlos - UFSCar (Programas de Pós-Graduação em Ecologia e
Recursos Naturais e Pós-Graduação em Educação), a Universidade Estadual Paulista – Rio
Claro - UNESP (Grupode Pesquisa “A temática ambiental e o processo educativo” do
Programa de Pós-graduação em Educação do Instituto de Biociências) e a Universidade de
São Paulo - USP (Laboratório Interdisciplinar de Formação do Educador -LAIFE -da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto).
6) Revista Brasileira de Educação Ambiental (ISSN 1981-1764)
(https://periodicos.unifesp.br/index.php/revbea): De caráter flexível, essa revista atende a
publicações acadêmicas ou não de modo a divulgar experiências, vivências, reflexões e
demais práticas de diversos protagonistas e agentes que se mobilizam pela EA. A revista é
produto da Rede Brasileira de Educação Ambiental (REBEA).
7) Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental (REMEA) (ISSN 1517-
1256) (https://periodicos.furg.br/remea/): A revista divulga as produções vinculadas ao
Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental da Universidade Federal do Rio
Grande (FURG). Abarca publicações em português e em Espanhol atendendo a diversos
autores tanto do Brasil, como de outros lugares da América Latina.
8) Educação Ambiental em ação (http://www.revistaea.org/index.php): Visa divulgar
a temática da EA à população, publicando diversas ações e reflexões interdisciplinares.
9) Ambiente e Educação- Revista de Educação Ambiental (ISSN 2238-5533)
(https://periodicos.furg.br/ambeduc): A Revista almeja ampliar os olhares e debates sobre os
fatores que afetam e se relacionam com a formação de educadores ambientais pesquisadores.
Assim, dissemina alternativas e novas possibilidades que possam contribuir com a construção
44
contexto de enunciação. Essa restrição foi escolhida, pois, com base nos estipulados dos
estudos decoloniais latino-americanos se torna essencial reafirmar e reconhecer a
complexidade sociocultural e histórica do território onde se enuncia esse trabalho. Enfatiza-se
o Brasil tendo em vista a invasão luso-ibérica ocorrida, a qual proporcionou inegavelmente a
consolidação do circuito comercial pelo oceano atlântico e centralizou a Europa no
capitalismo mundial. É imprescindível reconhecer a amplitude dos impactos do colonialismo
e das reverberações da colonialidade atualmente, que de modo sistemático ainda ditam
políticas, programas e posturas coletivas que continuam a racializar a população e explorar a
biodiversidade seja ela natural ou epistêmica. Assim, anseia-se por ratificar a ancestralidade
ancorada no Brasil que se expressa em 896 mil indígenas autodeclarados pertencentes à mais
de 305 etnias e falantes de 274 línguas diferentes (IBGE, 2010) e ainda, demonstra um
percentual de 56,1% da população negra (IBGE, 2019), colocando o país com maior
representatividade de pele preta no mundo com exceção apenas do continente africano
(AZEVEDO, 2010).
Quanto ao recorte temporal optou-se por limitar a investigação ao período de 2013 a
2019. O principal motivo que norteou essa decisão foi a data de publicação do primeiro livro
de CATHERINE WALSH: Pedagogias decoloniais: práticas insurgentes de resistir,
(re)existir e (re)viver em 2013 que enfaticamente trouxe em seus capítulos narrativas e
reflexões, incluindo impreterivelmente o olhar de outros autores, os direitos da Terra e da
natureza bem como a proposta de relações harmônicas com esses elementos em um viés
decolonial, transdisciplinar e pedagógica, que atravessa de maneira essencial e estruturante
outros movimentos de luta e expressões contra hegemônicas.
Os critérios de exclusão se referem a documentos que não são primários, isto é, não
são artigos científicos. Também foram descartados artigos brasileiros cujo contexto de
enunciação referiu-se à outra nacionalidade e trabalhos desenvolvidos por não brasileiros
ligados à instituições de outra nacionalidade e cujo contexto de enunciação não foi o Brasil.
Também foram desconsiderados trabalhos que mencionaram os descritores utilizados porém
não tinham a temática como eixo central de discussão, muitas vezes apenas mencionando-os,
não apresentando a intersecção entre decolonialidade e EA decisiva e norteadora da
investigação. Também se excluíram produções que utilizaram introdutoriamente o contexto
colonial e da colonialidade, porém não mencionaram a vertente decolonial, uma vez que esta
é vital como vertente teórico da presente pesquisa.
Dando seguimento, os descritores são colocados no sistema de busca dos sites da base
de dados e revistas. Segundo AGNER (2009 apud PASSOS; CAREGNATO, 2018, p. 295):
47
As ferramentas de busca que aparecem nos websites muitas vezes são demarcadas
por um retângulo na parte superior direita da tela do usuário apresentando um ícone de lupa,
sinal reconhecido internacionalmente (PASSOS & CAREGNATO, 2018).
PASSOS E CAREGNATO (2018) esboçam que existem diversos mecanismos que
podem auxiliar no processo da busca e que são existente nas próprias plataformas eletrônicas
pois são codificadas por linguagem de programação para atender também usuários
inexperientes e que utilizam termos incapazes de expressarem o que se quer pesquisar. Esses
mecanismos consistem em: construtores semânticos, os quais verificam a ortografia e
identificam documentos que apresentem palavras similares. Essa é uma boa ferramenta
quando se utiliza palavras erradas; mecanismo de busca fonética que resgata arquivos cuja
percepção de som da palavra seja compatível; mecanismo que localiza documentos cujos
termos apresentam mesmo radical (por exemplo: jardim, jardinagem, jardineiro); mecanismo
que processa a palavra natural utilizada e examina a sintaxe buscando similares e que procura
por vocábulos sinônimos.
Portanto, os sistemas de busca apresentam flexibilidade na busca requisitada pela
plataforma especifica, oferecendo ampliação dos resultados ao resgatar arquivos e trabalhos
que não se limitam estritamente aos descritores utilizados (PASSOS; CAREGNATO, 2018).
As plataformas eletrônicas apresentam o sistema de pesquisa em sua formatação
simples, destinado à digitação utilizando apenas palavras naturais, isto é, caracteres (letras)
sem nenhum tipo de símbolo, pontuação ou código. Entretanto, como ressalta Nielsen (1995
apud PASSOS; CAREGNATO, 2018), os sistemas de buscas dos sites devem demonstrar
flexibilidade atendendo às pessoas que queiram refinar seu escopo através do módulo de
busca avançada, opção a qual foi privilegiada neste trabalho. O sistema avançado de busca
pode proporcionar o afunilamento do escopo da pesquisa de modo que os resultados
apresentados sejam aqueles que mais importam aos interesses do usuário. Isso decorre pois o
sistema avançado oferece opções que quando selecionadas filtram a pesquisa propiciando
resultados que se enquadram exclusivamente nos itens requisitados. Como por exemplo,
pode-se restringir a pesquisa selecionando datas e/ou intervalo de períodos específicos, tipos
de documento que se quer abranger (artigos, revisões, índices, periódicos, enciclopédias,
48
livros e entre outros), língua, a posição de localização dos descritores no documento como
apenas no título, palavras chaves e entre outros, nome do autor, nível de relevância/ impacto,
entre outras opções.
Outro filtro utilizado foi a seleção da posição em que os descritores deveriam estar
localizados no artigo. Assim, elegeu-se pelo item “título, resumo e palavras-chaves”. Com
isso, o sistema de software da busca entende que deve recuperar aqueles documentos cujos
descritores utilizados pelo usuário (colonialidade, descolonização, decolonialidade e educação
ambiental) estiverem estritamente posicionados ou no título, ou em alguma parte do resumo,
ou nas palavras-chaves, ou na combinação de alguns desses campos ou simultaneamente estar
em todos eles. Essa opção foi selecionada visando artigos cujo eixo central de discussão fosse
a temática explicitada no objetivo e atendesse aos critérios de inclusão que serão
posteriormente descritos.
Assim, a estratégia para o levantamento bibliográfico sistemático se constitui de
alguns passos definidos previamente, e também delineiam a ordem dos descritores na
ferramenta de busca, utilizando para isso um conjunto de códigos em letras ou símbolos que
são reconhecidos pelo software da pesquisa denominados de operadores booleanos ou
conectivos. Estes são termos ou símbolos utilizados junto aos descritores e que filtram a
pesquisa pela ampliação ou restrição dos resultados.
Para tanto, existem diversos operadores booleanos, porém serão descritos aqueles
utilizados para essa investigação: AND (E-&) que é utilizado quando se deseja resultados que
interseccionam dois ou mais termos propiciando a recuperação de documentos que terão em
sua constituição exclusivamente todos os termos simultaneamente; OR (OU - ) é outro
conectivo que utiliza dois ou mais termos no string e garante resultados que se relacionem à
um ou a outro termo ou ainda a ambos; há os operadores de proximidade como ADJ utilizado
entre descritores que devem ser dispostos um seguido do outro indispensavelmente
(PANZZINI et al., 2012; CHAGAS, ARRUDA, BLATTMANN, 2014).
A organização dos termos na caixa de pesquisa do site, incluindo aí tanto os
descritores quanto os operadores definem o string utilizado no sistema de busca (PANZZINI
et al., 2012; PAULA; ARAÚJO; DA SILVA; 2016).
Outros recursos para a estratégia de busca podem ser utilizados, um deles é a técnica
de truncagem de palavras. Essa estratégia é demarcada por um asterisco (*) colocado após o
radical do termo buscado. Como o radical não varia entre os vocábulos derivativos e plurais, o
sistema de busca abrange o resgate dos documentos que contenham o radical e todos os
49
derivados possíveis. Como por exemplo: pedr*, que contêm derivados como pedra,
pedregulho, pedreiro, entre outros. (PANZZINI et al., 2012).
Os descritores escolhidos foram: “colonialidade”, “decolonialidade”,
“descolonização”, e “educação ambiental”. Com o propósito de ampliar o escopo dos
resultados o segundo e terceiro termo foram truncados: decolonial* e descoloniz*. Utilizou-se
esse recurso já que, por meio de algumas verificações anteriores foi possível observar que
inserir a palavra completa no string restringia os resultados de modo a excluir dados para o
corpus que contém variantes e derivados do radical. Perceptivelmente, mais trabalhos foram
obtidos após o entrucamento das palavras. Essa estratégia não foi utilizada para
“colonialidade”, pois utilizar colonial* demonstrou provocar um número excedente dos
resultados de busca, os quais a maioria estão relacionados apenas ao período histórico
colonial. Assim, o descritor completo apresentou maior objetividade quanto a menção aos
estudos decoloniais do grupo M/C.
Outro aspecto pertinente para o levantamento sistemático da bibliografia é utilizar os
descritores tanto em português como em inglês. Assim, como as bases de dados eletrônicas
(Web of Science, Scopus, Scielo, CAPES) estendem-se internacionalmente, a busca foi
realizada utilizando respectivamente os descritores em sua tradução:, “decoloniality”,
“coloniality”, “decolonization” e “environmental education”, com os termos truncados
resultando em: “decolonial*” e “decoloniz*”. Na caixa de pesquisa avançada das
plataformas eletrônicas cada um dos três primeiros descritores foi colocado conjuntamente à
Educação Ambiental, logo, utilizou-se o operador booleano AND, refinando os resultados
para artigos que estritamente trouxessem os dois descritores concomitantemente. Para
“educação ambiental’’ foi utilizado o conectivo de proximidade ADJ entre educação e
ambiental.
Dessa maneira, o string para as bases de dados eletrônicas foi basicamente
consolidado das seguintes formas: coloniality AND environmental ADJ education;
decolonial* AND environmental ADJ education; decoloniz*AND environmental ADJ
education. Destaca-se que alguns bancos de dados forneceram instruções específicas de como
melhorar o desempenho da pesquisa. Como por exemplo, no site da web of science o escopo
da busca elegido: título, resumo e palavras-chaves, eram representados pelas letras: “TS”,
posicionado primeiramente no string. Além disso, também requisitou uso de parênteses
formando o seguinte string: TS=(decolonial* AND environmental ADJ education).
É válido enfatizar que essa estratégia foi utilizada principalmente para as bases de
dados eletrônicas. Os sistemas de busca nas revistas científicas apresentaram diferenças entre
50
si. Algumas disponibilizam mais recursos avançados do que outras, ou seja, há revistas que
detém maiores ou menores possibilidades de refinamento ou ampliação da pesquisa em sua
plataforma conforme as opções que ofereciam. Na tabela (1) abaixo se explicita as opções
contidas na ferramenta de pesquisa em cada periódico de modo a facilitar a descrição da
estratégia de busca utilizada.
termos utilizando - ou
NOT; ex.: online -políticas
ou online NOT políticas;
Use * como caracter
coringa; ex.: soci*
moralidade recuperará
documentos contendo
"sociedade" ou
"sociológico"
Nos periódicos que tinham como principal vertente do escopo a Educação Ambiental
foi utilizado apenas os descritores “colonialidade”, “decolonialidade”, “descolonização” para
se evitar redundância ao utilizar “educação ambiental”. Na revista que apresentou apenas o
sistema de busca simples, Educação Ambiental em Ação (9), e com base na afirmação aqui
mencionada de que os softwares desses sistemas são construídos voltados à pessoas
inexperientes, optou-se por utilizar apenas linguagem natural, isto é, sem operadores
booleanos e truncagem de palavras. Os descritores colocados foram: decolonialidade,
descolonização, colonialidade e ainda adicionou-se decolonial, com a finalidade de ampliar a
investigação. A mesma estratégia foi disposta para a Revista pesquisa em Educação
Ambiental (6) adicionando apenas a filtragem dos resultados estabelecendo o período
proposto, 2013 à 2019.
Já nas revistas que apresentaram o sistema de busca avançado com diversas opções
de filtro incluindo as dicas para a pesquisa no sistema foi proposto outra estratégia. Nas
próprias dicas foi informada quanto ao subentendimento do operador AND, logo sua
utilização para o string foi dispensada. Escolheu-se para o escopo da busca a opção “texto
completo’’, ou seja, o software iria analisar seu banco de dados procurando pelos descritores
ao longo de todo o corpo textual de cada documento. É válido informar que esse tópico difere
da utilizada para as bases de dados eletrônicas a qual foi estreitado as pesquisas para
localização dos termos no título, resumo e palavras-chaves. As estratégias neste âmbito
diferiram pois os sistemas dos periódicos não forneceram essa mesma opção encontrada nas
bases de dado. Dando seguimento, o recurso estratégico adotado foi o entruncamento dos
descritores além da seleção de período de tempo. Para as revistas que tinham outros eixos
além da EA no escopo foi adicionado “educação ambiental” como descritor.
52
Nas técnicas dispostas por Bardin (1977), ela esboça que as categorias podem ser
produzidas tendo como base dois processos de construção cuja direção e sentido são oposta:
uma delas remete à sistemas de categorias que foram formulados previamente, isto é,
definição anterior das caixas que irão abranger os elementos por elas enquadradas; o outro
processo parte-se de uma estratégia em que, por meio de um agrupamento analógico dos
elementos textuais, as categorias vão sendo traduzidas por si só a partir da construção gradual
e generalista de uma definição que representa o denominador comum dos elementos ali
classificados. Portanto, após o levantamento e organização dos documentos constituintes do
corpus do estado da arte prosseguiu-se à leitura atenta a cada um deles, onde foi possível ter
contato com os assuntos e temáticas abordados. Por meio de uma percepção ampla quanto às
54
tendências adotadas pelos conteúdos foi possível visualizar três campos de abordagens que
transpassaram as temáticas desenvolvidas nos artigos. A partir disso, foi estruturado três
categorias a priori.
Após a materialização das três categorias prosseguiu-se para uma análise dos
conteúdos textuais tendo em vista o processo de codificação dos elementos que o constituem.
Esta etapa objetiva um processo técnico e metódico que possibilite tornar mais evidente a
descrição das características dos conteúdos para sua posterior classificação nas categorias.
Quanto à codificação, Bardin (1977) bem define:
que irão ter função de indicador quanto à categoria que será classificado. A fase de
enumeração neste trabalho foi aplicada à contagem das unidades de registro em que se optou
pela técnica intitulada de presença onde cada elemento, ou o conjunto deles, que estão
presentes no conteúdo irão servir de um indicador significativo. Neste caso, a presença da
unidade de registro pertencente à uma categoria preliminar especifica em um parágrafo do
conteúdo, isto é, na UC, serviu de indicador para a categorização da UC. Logo, a presença de
unidades de registro pertencentes à categorias a priori distintas serviu de indicador para a
categorização final da UC em uma categoria outra, a qual foi delineada à posteriori. Portanto,
as combinações possíveis das três categorias preliminares constituíram nas categorias à
posteriori, proporcionalmente a presença de URs de classes distintas na mesma UC.
Assim, após a codificação dos dados, isto é, recorte e enumeração, as unidades de
contexto ainda foram submetidas à um grupamento gradual em categorias posteriores com
generalidade cada vez mais abrangente. Dessa maneira, o processo de categorização objetiva
proporcionar “por condensação, uma representação simplificada dos dados brutos” por meio
da visibilização de índices escamoteados (BARDIN, 1977, p. 119).
56
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
à leitura integral de cada artigo científico onde foi elaborada uma síntese descritiva12 que
expressa e compila as principais temáticas abordadas.
12
A síntese descritiva se refere à construção de um resumo desenvolvido a partir da compilação das discussões e
dos principais assuntos abordados pelo artigo original, esse processo é feito com o mínimo de interferência
possível, isto é, sem que haja desdobramentos, julgamentos ou qualquer expressão de opinião explícita do leitor
sobre o texto em especifico, ansiando pela fidedignidade com as palavras e expressões recorrentes no texto
original.
58
Código
Título do Autor e da base Palavras-
Resumo do artigo Síntese descritiva
artigo Ano de Chave
dados
Espacialização Nicolas Brasil; Neste estudo de caso de um O trabalho é resultado de um estudo de caso
da educação Stahelin descolonizaçã programa de educação qualitativo do programa Elos Cidadania realizado
ambiental: (2017) o; Educação ambiental (EA) executado em pela Superintendência de Educação Ambiental da
consciência ambiental; escolas públicas do Rio de Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEA) do
territorial Gramsci; Janeiro, utilizo uma análise Rio de Janeiro, Brasil. O programa foi
crítica e ecologia espacial construtivista para implementado em 100 escolas públicas do Estado
construção política. interrogar noções de espaço, e focou em um diagnóstico socioambiental
radical de lugar e território em práticas participativo tendo como missão promover a
lugar na críticas de EA. Examino as cidadania ambiental a partir de uma gestão
escola pública conexões entre relações comunitária, incentivando a governança ambiental
socioambientais, atividade local por meio de desenvolvimento profissional
política contra-hegemônica e político, intervenções e mobilizações. Partiu de
1 educação, investigando as reflexões quanto às potencialidades inerentes da
características ideológicas da construção de uma Educação Ambiental baseada
EA, que busca subverter a na consciência territorial crítica, que denuncia as
reprodução das relações sociais apropriações desiguais de poder do capitalismo,
capitalistas. Este estudo de caso desvelando conflitos socioambientais e
mostra que a consciência reconhecendo memórias e identidades
territorial crítica pode ser usada subalternizadas a partir do lugar histórico e
como uma estratégia política de ambiental que ocupa. Considera uma perspectiva
representação e ontológica com o espaço e o lugar onde reverbera
reconhecimento para as classes e constantemente se cria produtos simbólicos e
subjugadas que se envolvem na subjetivos que afetam e são afetados pelas relações
construção radical de lugares sociais do coletivo em seu local e externamente à
nos territórios explorados. ele, os fatores globalizantes. Identificou a história
59
Código
Título do Autor e da base Palavras-
Resumo do artigo Síntese descritiva
artigo Ano de Chave
dados
Código
Título do Autor e da base Palavras-
Resumo do artigo Síntese descritiva
artigo Ano de Chave
dados
Um exercício Fábio Educação O texto intenta apresentar a O artigo se lança a repensar uma Educação
decolonial na Pessoa Ambiental; importância das Ambiental tendo em vista o “envolvimento
Educação Vieira Epistemologi territorialidades constituídas ambiental’’ dos extrativistas de uma RESEX a
Ambiental: a (2018) a; Produção em comunidades originárias, partir de sua territorialidade. Propõe a
territorialidade do para a Educação Ambiental, ao incorporação dos saberes produzido por
em uma conhecimento propiciar um olhar comunidades originárias e que são alicerçados
reserva . epistemicamente diverso do pelo vivido, numa quebra paradigmática e
extrativista produzido pelo mundo epistêmica de uma EA que, por reproduzir a
moderno-colonial. Focaremos colonialidade, contribui para a subalternização
3; 7 na conformação do mundo desses conhecimentos. Essa herança colonial na
destacado e como ocorrem as EA perpetua uma relação disruptiva entre ser
ressonâncias, deste, na humano e natureza em prol da manutenção do
Educação Ambiental, para sistema econômico que explora territórios e não
posteriormente, buscarmos possibilita novas formas de habitá-lo e produzi-los
possibilidades decoloniais para em seu sentido não material. Problematiza-se uma
tal educação. Temos como EA feita de forma homogeneizante, com foco
suporte a noção de apenas na mudança de valores e hábitos. Utiliza a
envolvimento ambiental que fenomenologia como metodologia a partir de
será apresentada a partir de entrevistas transcritas e analisadas. Sublinha que
61
Código
Título do Autor e da base Palavras-
Resumo do artigo Síntese descritiva
artigo Ano de Chave
dados
Código
Título do Autor e da base Palavras-
Resumo do artigo Síntese descritiva
artigo Ano de Chave
dados
Educação Martha Pós- A pretensão deste trabalho é Aborda como que os estudos pós-coloniais
Ambiental e a Tristão colonialismo. problematizar o impacto que a incluindo os estudos decoloniais do grupo M/C
descolonizaçã (2016) Colonialidade dominação epistemológica e podem contribuir para a descolonização da práxis
o do /modernidade cultural, que não finda com o e do pensamento na EA. Considera tais
pensamento . Culturas período colonialista, causa à contribuições importantes, pois desvela um
Educação Ambiental. No contexto demarcado pela colonialidade que
primeiro momento, será continua a subjugar povos, explorar territórios e
realizada uma breve genealogia mercantilizar a natureza. Aponta as reverberações
dos termos pós-colonialização, da dominação epistemológica colonial na EA, a
3; 7
colonialidade e descolonização, qual adquiriu em sua interface hegemônica práxis
com embasamento conceitual e que coadunam para a colonização dos grupos, ou
teórico sobre a seja, universalista, a qual é enfaticamente
colonialidade/modernidade e contraposta por uma definição de EA
suas consequentes relações emancipatória e contextualizadora. Cita, como
dicotômicas, com ênfase na políticas padronizadoras os planos de educação
relação interdependente para o desenvolvimento sustentável. A
cultura/natureza. Em um modernidade desintegra o espaço e o
segundo momento, analisa as pertencimento da comunidade que o habita,
contribuições, as implicações diluindo os lugares a uma situação de não-lugares,
63
Código
Título do Autor e da base Palavras-
Resumo do artigo Síntese descritiva
artigo Ano de Chave
dados
Código
Título do Autor e da base Palavras-
Resumo do artigo Síntese descritiva
artigo Ano de Chave
dados
Cartografia do Helen Desejo Esse trabalho faz uma Tem como contexto de discussão áreas altamente
desejo Moura ambiental; cartografia dos fluxos dos demarcadas pela colonialidade, a universidade
ambiental na Pessoa1 Colonialidade desejos ambientais no campus Federal do Espírito Santo (UFES) a qual
universidade: Martha ; sul da Universidade Federal do representa lógica e discurso monocultural e a
possibilidades Tristão Universidade. Espírito Santo (UFES), onde é região a qual se localiza, altamente ruralista.
de (2019) intensa a atividade rural. Ao Apresenta o embate entre a herança colonialista
atravessament cartografar os fluxos dos projetado na atividade ruralista do agronegócio e a
os da desejos, acompanhando as resistência de pequenos produtores rurais locais.
educação redes de conversações Realiza uma cartografia do desejo ambiental por
ambiental na cotidianas no campus, observa- meio da coleta de entrevistas a partir de questões
formação se um espraiamento desses formuladas pelas autoras que foram respondidas
acadêmica fluxos em linhas de por membros do coletivo agroecológico
desterritorialização da máquina Kapi’xawa. O coletivo promove diversas ações
3; 7
desejante-ambiental ao criar voltadas à valorização e conhecimento da cultura
novas formas de re-existências local e posturas fortalecedoras de uma questão
em meio aos ditames socioambiental. Descreve a partir das atividades e
desenvolvimentistas da princípios do coletivo agroecológico, instituído
agricultura convencional. por estudantes da graduação de maneira voluntária
Destacamos, em nossa análise, e que expressam uma Educação Ambiental
o Grupo de Agroecologia transgressora, visto que não se faz presente no
Kapi’xawa, que estabelece ensino curricular formal da universidade, mas que
conexões com as culturas se institui enquanto elemento das ações oriundas
locais, criando possibilidades do desejo ambiental do coletivo. Expressa um
para o atravessamento da desejo ambiental que abala e almeja romper com
educação ambiental em uma estruturas hierarquizadas de exploração e
perspectiva descolonizadora opressão. Um desejo descolonizado nascente da
65
Código
Título do Autor e da base Palavras-
Resumo do artigo Síntese descritiva
artigo Ano de Chave
dados
Entre os Michele Educação Este artigo resume um projeto O artigo é produto de um mapeamento social pelo
remanescentes Sato, ambiental; de mapeamento social Grupo de Educação Ambiental, Artes e
do Regina colonialismo realizado pelo Grupo de Comunicação da UFMT tendo como contexto o
colonialismo e Silva & moderno; Pesquisa em Educação Estado do Mato Grosso onde a herança
a insurgência Michelle pós- Ambiental, Comunicação e colonialista moderna legitima a exploração da
da Jaber colonialismo; Artes da Universidade Federal biodiversidade local e o aniquilamento
autonarrativa (2014) 3 mapeamento de Mato Grosso. Os principais sociocultural de identidades. Propõe uma EA
na construção social; Brasil objetivos do projeto foram baseada na identidade, dialogicidade,
de mapas mapear os grupos sociais territorialidade e narrativas próprias
sociais vulneráveis de Mato Grosso e desenvolvendo um mapeamento participativo,
participativos: identificar os conflitos sociais e tangenciando temas relevantes como a
rumo a uma ambientais que os colocam em conservação ambiental. Para isso, realizou dois
metodologia situações de risco. Os conflitos seminários, em 2008 e 2010, em que ambos
66
Código
Título do Autor e da base Palavras-
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artigo Ano de Chave
dados
de educação e dilemas enfrentados por esses contaram com 52 grupos, 47 etnias indígenas, e 99
da terra grupos geralmente são identidades mapeadas nos territórios do estado
causados por disputas de terra e tanto suas localizações como as áreas demarcadas
água. Por sua vez, as disputas por conflitos. Nos seminários foram realizadas
podem ser atribuídas à atividades em grupos em que suas narrativas eram
continuidade das formas registradas pelo mediador. Foram aplicadas
colonialistas de relações entrevistas semiestruturadas que visavam a
políticas, econômicas e identificação de concepções como identidade e
ecológicas implícitas no território. Houve algumas entrevistas pessoais
modelo de desenvolvimento gravadas por vídeos. Fotos e recordações do
predominante na região. evento também compuseram os dados. Foi
Apoiado pela reinvenção e realizado pesquisas de campo com observações
aplicação de uma nova participativas, entrevistas semiestruturadas e não
metodologia de educação estruturadas, oficinas e reuniões in loco com
ambiental, a saber, o mapa algumas organizações sociais. A pesquisa de
social, o trabalho ilustra o campo foi realizada no quilombo mata cavalo
significado das identidades de onde é promovida uma EA coparticipativa. Foi
grupo, auto-narrativas e construído um mapa socioambiental do quilombo
quadros interpretativos, e por meio de intervenções "educomunicativas" com
discute como o mapeamento recursos de multimídia e arte. A conscientização
social pode ser usado na dos conflitos propicia reconstruções e
educação da terra para fortalecimento das identidades uma vez que situa
viabilizar a construção de histórica e criticamente os fatores colonialistas
formas participativas de imbricados na marginalização das culturas,
políticas públicas. saberes e seus territórios. Os eventos propiciados
para o mapeamento permitiu a distintos grupos
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Educação Bárbara patrimônio, Este trabalho visa refletir sobre Traça uma Educação Ambiental crítica cuja práxis
Ambiental Pelacani, socioambient o caráter transversal de se torna aliada ao desvelamento das desigualdades
crítica e Tiago al, racismo abordagens da educação socioculturais e a emancipação humana, visando à
estudos de Silva ambiental, ambiental e patrimonial transformação material e subjetiva de identidades
patrimônio Alves práticas partindo de sua intersecção que têm seus saberes e modos de vida
crítico: Muniz, educativas, voltada para pedagogias subalternizados pela colonialidade. Frisa um ato
intersecções e Celso decolonialida decoloniais. Buscamos explorar educativo que se relaciona com a educação
virada para Sánchez de. o aporte da teoria crítica na patrimonial e é compromissada com a produção de
pedagogias (2019) Educação Ambiental e a narrativas, propiciando a conservação cultural
decoloniais necessidade de giro para simbólica e material. A partir disso, consegue
pedagogias decoloniais identificar as ferramentas colonialistas que
construídas coletivamente para perpetuam a marginalização dos grupos, enquanto
6 “sentipensar”. Nesse sentido, fortalece processos de diálogos de saberes que
ao açambarcar a leitura inter- enriquecem a contínua produção cultural. Assinala
multi-transdisciplinar entre os que a relação disruptiva entre sociedade-natureza é
diálogos de saberes impregnada dos mesmos mecanismos de poder
entendemos que as práticas que contribuem para o racismo ambiental, isto é, a
educativas que contribuem para expropriação de direitos a um ambiente saudável e
a formação dos educandos a negação de interligação epistêmica cultural com
devem promover suporte à uma natureza equilibrada por grupos classificados
autonomia, sustentabilidade, racial-etnicamente. Por meio disso, a Educação
justiça socioambiental e Ambiental crítica dialoga com a justiça ambiental
políticas patrimoniais voltadas ao denunciar a distribuição desigual dos efeitos
para a valorização de saberes e dos impactos ambientais sobre determinadas
práticas que possam ser identidades e também com a ecologia política, ao
sustentáveis e viáveis ao grupo analisar criticamente as assimetrias de poder
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Decolonizar o Martha Abordagem A Educação Ambiental vem Identifica heranças herdadas da colonialidade na
pensamento: Tristão; pós-colonial. produzindo uma narrativa sobre epistemologia da Educação Ambiental que se
apontamentos Rosinei Modernidade. o que é importante considerar traduz em seus pensamentos e práticas, apontando
e Ronconi 7 Descolonizaç em suas análises e as as dicotomias entre cultura-natureza, os
entrelaçament Vieiras ão. Modos de especificidades do lugar em essencialismos culturais e as dogmatizações,
os epistêmicos (2017) existência. suas relações com a cultura paradigmas oriundos do pensamento moderno
com a local. Este artigo traz científico. Também aponta que a libertação do
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Interculturalid César Interculturali O propósito deste artigo é Explora pressupostos teóricos construídos por
ade, exclusão Augusto dade. Paulo destacar alguns pressupostos e Paulo Freire bem como sua releitura a partir da
e libertação Soares da Freire. implicações políticas da filosofia de Enrique Dussel como contribuições na
em Paulo Costa; Pesquisa em pedagogia libertadora de Paulo epistemologia e política na pesquisa em Educação
Freire na Carlos Educação Freire na leitura filosófica de Ambiental. Considera que o ato educativo bem
leitura de Frederico Ambiental. Enrique Dussel, visando trazer como a educação ambiental é um ato político,
Enrique Loureiro contribuições crítico almejando por meio da ética da libertação e a
Dussel: (2015) metodológicas para as pedagogia crítica de freire a quebra paradigmática
Aproximações pesquisas em Educação de uma Educação Ambiental instrumental e
“Crítico- 5 Ambiental. Assim, nossa normativa. Pontua que toda prática pedagógica
Metodológicas argumentação está deve ser cerceada pela transformação social, a
” para a sistematizada em três tópicos. partir da denúncia das assimetrias sociais impostas
pesquisa em No primeiro, reafirmamos a pelo capitalismo através de um processo educativo
Educação relação intrínseca entre Paulo pautado pela emancipação crítica dos sujeitos. A
Ambiental Freire e Enrique Dussel exclusão dos indivíduos foi e se perdura a partir
enquanto pensadores que dos mecanismos construídos na modernidade, que
buscam tematizar, de forma legitima a exploração da natureza, acumulação de
radical, a América Latina. No capital natural tendo em vista a ascensão mercantil
segundo tópico, versamos e capitalista. Esboça uma educação ambiental
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Pesquisa e Mauro Crise Vivemos graves problemas Denuncia os paradigmas modernos que se
processos Guimarã civilizatória. socioambientais, na atualidade, encontram na base da causalidade de crise
formativos de es Educação que alcançaram a escala global, ambiental e sistêmica, constituídos pela disjunção
educadores (2018) Ambiental. colocando em risco a vida entre sociedade-natureza e hierarquização da
ambientais na Formação de planetária. Esses problemas são realidade, onde foi justificado à um grupo seleto
5
radicalidade Educadores indicadores de uma crise dominação e subjugação da natureza e os seres
de uma crise civilizatória pelo colapso do posicionados juntos à ela. Constrói sua narrativa
civilizatória modo de organização social, delatando o suicídio coletivo do modelo
civilização capitalista industrial civilizatório, cujos conhecimentos hegemônicos
moderna, na sua relação de foram herdados de uma racionalidade iluminista-
dominação e exploração da científica e instrumental que tornou a
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Educação Marcelo Educação Este artigo enfoca a pesquisa e O artigo esboça os diversos âmbitos de atuação e
ambiental no Aranda ambiental , a Práxis da educação ambiental as reflexões geradas pelo Grupo de Estudos de
sul: Stortti; América realizadas no âmbito do Grupo Educação Ambiental Desde El Sur (Grupos de
abordagens e Celso Latina , de Estudos de Educação Estudos de Educação Ambiental no Sul -
perspectivas Sanchez 1; 3 Estudos Ambiental Desde o Sur GEASUR) consolidado no programa de Pós
críticas do (2019) descoloniais (GEASur) (Grupo de Estudos Graduação da Universidade Federal do Rio de
panorama críticos de Educação Ambiental do Sul) Janeiro (UNIRIO). Desde El Sur assinala o
latino- da Universidade Federal do compromisso epistêmico com a complexidade
americano Estado do Rio de Janeiro ( sociocultural da América Latina que se expressa
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Desenvolvimento Sustentável.
O estado da arte permite verificar que ocorrem 11 artigos científicos que discutem a
relação entre Decolonialidade e a Educação Ambiental no Brasil no período de 2013 a 2019, o
que responde a uma das perguntas desta pesquisa e atinge um dos objetivos propostos.
O mapeamento elaborado possibilita a visualização da distribuição dos artigos nas
fontes que os ofereceram. Essa relação é explicitada abaixo (TABELA 3) por meio da
contagem do total de artigos que foram encontrados por fonte de divulgação, seja base de
dados ou periódico.
Tabela 3: Fonte de divulgação (base de dados eletrônicas ou periódico) e a quantidade de artigos que atenderam
aos critérios de seleção e que foram encontrados em cada uma, respectivamente.
Código numérico e Fonte de divulgação dos artigos Quantidade de artigos
encontrados
1- Periódicos da CAPES 2
3- Web of Science 5
5- Revista Pesquisa em Educação Ambiental 2
6- Revista Brasileira de Educação Ambiental 1
7- Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental 4
14-Revista Sergipana de Educação Ambiental 1
Fonte: autoria própria.
Nota: foram contabilizados artigos que apareceram mais de uma vez em fontes diferentes.
Tanto o mapeamento como a tabela acima demonstra que em muitas fontes onde as
buscas foram realizadas ocorreu repetição de bibliografias, ou seja, os artigos 1, 8, 9 e 10
apareceram mais de uma vez em fontes diferentes. Considerando uma perspectiva quanto à
disseminação dos conhecimentos, este fator contribui para facilitação da localização desses
artigos.
O mapeamento possibilita verificar que das 15 fontes onde foi realizado o
levantamento bibliográfico foram encontrados documentos em apenas 6 delas, e juntamente à
tabela 3 nota-se que os artigos se distribuíram desigualmente, havendo maiores concentrações
na Web of Science e na Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. Além disso,
o mapeamento também permite identificar a repetição de autores envolvidos nos artigos, em
que 3 deles tiveram participação da Martha Tristão (2016; 2017; 2019) e 3 de Celso Sanchez
(2019), por conseguinte, é possível considerar maior concentração desse campo teórico sendo
explorado por poucos autores.
Diante desse panorama, é necessário ressaltar as heranças coloniais enraizadas no
sistema sociopolítico brasileiro que por meio do múltiplo eixo da colonialidade concretiza e
perpetua o atual cenário de crise ambiental instalado neste território, legitimando o
82
culturais. No artigo 5 (SATO, SILVA E JABER, 2014) o estudo contou com dois seminários
promovidos pelo Grupo de Educação Ambiental, Artes e Comunicação da Universidade
Federal do Mato Grosso propiciando esboçar uma EA em dialogo com a decolonialidade cujas
contribuições derivadas foram fomentadas por intervenções geradas por grupo acadêmico,
permitindo supor as trocas interepistêmicas. GUIMARÃES (2018) aponta contribuições de
possibilidade de a EA e a decolonialidade ser elaborada em processos formativos de
educadores. E em STORTTI E SANCHEZ (2019) as proposições delineadas tangenciam as
ações realizadas pelo Grupo de Estudos de Educação Ambiental Desde El Sur (GEASUR) da
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) cujas reflexões esboçam
intervenções e engajamentos em diversos contextos, abrindo campo de possibilidades para
uma EA que em sua interface com a decolonialidade é promovida a partir das relações entre
instâncias, identidades e protagonistas distintos.
Portanto, o panorama construído pelo estado da arte permite notar o intervalo de
extensão quanto aos contextos que foram retratados pelos artigos, denotando que a intersecção
entre a Decolonialidade e a Educação Ambiental traz como contribuições reflexões e práticas
que se constroem em diversos cenários, propiciando às práticas educativas flexibilidade e
contextualização em suas abordagens. Tendo isso em vista, pode se considerar o compromisso
pedagógico instaurado em espaços não formais, o que implica no incentivo à efetivação do
artigo 13º da Lei 9.795/99 da Educação Ambiental que implementa as práticas educativas nos
espaços não formais de ensino. Nestes âmbitos são definidas práticas educativas “voltadas à
sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais”.
Outro contexto que se destacou nas produções científicas levantadas se refere à
educação formal, onde o diálogo entre a Decolonialidade e a Educação Ambiental foi
elucidado como concreto em contextos de escolas públicas (STAHELIN, 2017), em
Instituição de Ensino Superior (IES) (PESSOA; TRISTÃO, 2019) e também em curso para
formação pedagógica de educadores (GUIMARÃES, 2018). O campo educativo é considerado
como imprescindível na medida em que é estruturante das sociedades, carregando a função
essencial de reelaborar constantemente os processos culturais ao influenciar nas dinâmicas dos
significados, modificar as relações de poder, e ressignificar as práticas sociais (LUZZI, 2003).
Consequentemente, os artigos que esboçam o sistema educacional é um dado considerado
relevante na medida em que deflagra as possibilidades de inserção e implementação das
contribuições da relação temática no âmbito curricular. Logo, podem contribuir com a
desconstrução do caráter colonialista carreado por essas instituições, principalmente as escolas
84
e as universidades, para que possivelmente ajam na sensibilização quanto aos paradigmas que
infligem às populações e a natureza. Como exposto nas narrativas desses artigos, o dialogo
entre a EA e a decolonialidade favorece uma aproximação, no campo pedagógico, com
abordagens diversas, em que os estudantes tenham contato com as reflexões, metodologias,
estratégias didáticas e aprendizados oriundo dessas contribuições. Além disso, pode contribuir
com uma maior receptividade em relação à diversidade de estudantes que ocupam as IES e as
escolas públicas. Neste contexto deve ser sublinhado o aumento nas taxa de escolarização e de
atendimento da população à rede básica de ensino atualmente e o ensino superior (INEP,
2019), o que denota o aumento da pluralidade cultural que compõe o espaço escolar e as IES
cujos processos educacionais podem ser contemplados por uma racionalidade que não os
coloca como subalternizados. O diálogo com o contexto de formação pedagógica de
professores e educadores possibilita a construção de um campo estratégico na medida em que
incentiva a disseminação das contribuições oriundas da relação temática aqui focalizada
(RIOJAS, 2003). Neste âmbito, a relação entre as áreas aqui proposta viabiliza e incentiva a
implementação de políticas que providenciam a formação pedagógica como explicitada tanto
na Lei 9.795/99 e no Decreto 4.281/02, a qual implementa a mesma lei, com abordagens
enriquecidas pelas contribuições oriundas dos estudos decoloniais (HERINQUES et al, 2007).
O estado da arte ainda possibilita traçar um panorama da diversidade sociocultural
das identidades que ocupam o território brasileiro, onde as narrativas foram desenvolvidas a
partir e com agricultores locais, extrativistas, comunidades indígenas, quilombolas,
comunidades periféricas, estudantes da rede pública de ensino e de graduação, ribeirinhos,
pescadores, e outras identidades. A articulação da prática educativa com atores e
protagonistas diversos potencializa o enraizamento da Educação Ambiental (HENRIQUES et
al, 2007) . E, a partir desse panorama, é possível considerar que os artigos demonstraram um
recorte significativo da realidade brasileira, promovendo articulações com sistemas e práticas
sociais diversos, o que enriquece as práticas educativas e fomenta outras estratégias didáticas,
metodológicas e reflexivas. Ainda, os artigos possibilitam a compreensão de que a
decolonialidade se torna influente e importante em sua relação com a Educação Ambiental na
medida em que fomenta abordagens que providenciam visibilidades às identidades culturais,
que historicamente são submetidos às opressões e injustiças sociais.
Os fatores supracitados oriundos do estado da arte permitem estabelecer conexões
com as diversas políticas e projetos implementados para a materialização da EA,
demonstrando que a agenda da pesquisa no campo de relação focalizado e suas principais
85
tendências têm contribuindo com avanços na área em suas múltiplas dimensões: teóricas,
metodológicas e formativas.
85
Cultura foi aqui considerado como o conjunto de significados que são construídos de
maneira dinâmica, descontínua e fluida a partir dos sentidos atribuídos por meio das
interpretações compartilhadas por um grupo. Os sujeitos apresentam inerente capacidade de
constantemente construírem, ressignificarem e se apropriarem de significados, os quais
apresentam característica semiótica e que são moldados nos sistemas sociais. A linguagem é o
sistema compartilhado de representações e significados coletivos que atua diretamente na
produção cultural. A cultura possui caráter coletivo onde há o compartilhamento acumulado
dos símbolos, valores, normas, atitudes, crenças, hábitos e práticas. Dessa maneira, envolve
elementos imateriais na dimensão que envolve apropriações simbólicas e de significados; e os
elementos materiais que se referem ao conjunto de práticas coletivas relativas à transformação
e modulação da matéria e aos diversos usos que são dados a ela. A cultura também em caráter
produtiva, na medida em que constitui as subjetividades e as identidades dos sujeitos, os quais
irão afetar a cultura, havendo influências recíprocas. Assim, levando em conta que os seres
humanos são interpretativos, instituidores de sentidos em que as apropriações simbólicas
ocorrem de forma não controlada por um coletivo, as unidades de registro pertencentes a esta
categorias foram enquadradas na medida em que são passíveis de serem interpretadas como
fruto de apropriações e de produção cultural. (HALL, 1997; JOHNSON, 1997; GEETZ, 2008;
MACEDO, 2008).
II. Episteme
Na categoria definida como episteme, foi estabelecido um diálogo com a definição
trazida por FOUCAULT (2002, p. 217-218) que a entende como um conjunto de narrativas e
discursos que emergem em um dado período e que possui caráter “indefinidamente móvel de
escanções, defasagens, coincidências, que se estabelecem e se desfazem”. Constitui diversas
relações discursivas possíveis, que se dinamizam lateralmente e são ressignificadas,
formalizando epistemologias e ciências variadas de onde é enunciada. A episteme se refere às
diferentes possibilidades de condições discursivas que são necessárias à constituição de um
saber e os requisitos levados em conta na sua formalização como cientificidade. A episteme
não representa de maneira direta os conteúdos de um saber já construído, nem os parâmetros
e critérios que o desenvolvem, isto é, não se refere à epistemologia, e sim congrega as
configurações possíveis constituídas pelas narrativas, as quais podem ser inclusive
contraditórios mas que estabelecem o próprio saber em questão. Nessa perspectiva, a episteme
é um conjunto complexo de relações de práticas discursivas que podem ser transformadas,
modificadas e individualizadas e que irão compor a forma de conhecimento e o próprio saber
daí proveniente. Ainda, a episteme é o: “conjunto de relações entre ciências, figuras
88
Tabela 4- Apresentação das unidades de contexto selecionadas por artigo, das unidades de registro selecionadas em cada UC a partir de sua classificação na categoria a priori
e da categoria final das unidades de contexto a partir da classificação a priori de suas URs.
“Continua”
Nº do UC selecionada do resumo ou da síntese descritiva UR Categoria à Categoria
artigo priori da UR final da UC
Conflitos Política
Identidades Cultura
Subalternizadas Político
(Síntese) Assim, a partir de territorialidades, Elos se engaja em uma Territorialidades Cultura Político-
educação ambiental crítica que reflete a relacionalidade que os grupos cultural
têm cocriado seu espaço, identificando disputas pela reprodução
cultural a qual são determinadas por conflitos materiais de produção Disputas Político
90
Conflitos Político
Cultural Cultura
Poder Política
Autônoma Política
Políticas Política
Públicos Política
91
Resistência Política
Cidadania Político
(Síntese) Propõe a incorporação dos saberes produzidos por Saberes Episteme Epistemo-
comunidades originárias e que são alicerçados pelo vivido, numa quebra Política
paradigmática e epistêmica de uma EA que, por reproduzir a
colonialidade, contribui para a subalternização desses conhecimentos.
Epistêmica Episteme
Subalternização Política
Conhecimentos Episteme
92
(Síntese) Essa herança colonial na EA perpetua uma relação disruptiva entre Territórios Cultura Cultura
ser humano e natureza em prol da manutenção do sistema econômico que
explora territórios e não possibilita novas formas de habitá-los e produzi-
los em seu sentido não material
(Síntese) Problematiza-se uma EA feita de forma homogeneizante, com Valores Cultura Cultura
foco apenas na mudança de valores e hábitos.
Hábitos Cultura
(Síntese)Defende uma educação ambiental alicerçada pelas múltiplas Territorialidades Cultura Epistemo-
territorialidades, possibilitando a valorização e o diálogo de saberes cultural
contra-hegemônicos que são continuamente ressignificados pelo vivido e o
cotidiano. Saberes Episteme
3 (síntese) Para isso, sinaliza contribuições decolonais para a construção de Episteme Episteme Epistemo-
uma EA que incorpore em sua episteme e prática experiências culturais cultural
contra-hegemônicas, como a abertura a saberes indígenas e tradicionais por
meio de uma ecologia de saberes, sem perpetuar ideias essencialistas sobre Culturais Cultura
as mesmas.
Saberes Episteme
Saberes Episteme
93
(síntese) Alicerçadas pela relacionalidade cotidiana com o lugar e as Lugar Cultura Político-
potencialidades identitárias pela reconstrução de subjetividades, a EA cultural
favorece as produções narrativas coletivas, promovendo processos de
questionamento político, ecológico e ontológico de habitar o mundo.
Identitárias Cultura
Político Político
(Síntese) A partir disso, essa EA facilita processos emancipatórios ao Emancipatórios Político Epistemo-
estreitar relações entre o poder e o conhecimento, cultura e natureza, Político-
comunidade e território. cultural
Poder Político
Conhecimento Episteme
Cultura Cultura
Território Cultura
94
(Síntese) A partir disso, a cartografia revela um desejo ambiental que se Movimentos Política Epistemo-
expressa por meio de uma educação ambiental múltipla, cuja vontade sociais político
recorre à outras relações culturasnaturezas, aliada aos movimentos
sociais e a valorização de epistemes tradicionais.
Epistemes Episteme
(Resumo) Apoiado pela reinvenção e aplicação de uma nova metodologia Identidades Cultura Político-
de educação ambiental, a saber, o mapa social, o trabalho ilustra o cultural
significado das identidades de grupo, auto-narrativas e quadros
interpretativos, e discute como o mapeamento social pode ser usado na
educação da terra para viabilizar a construção de formas participativas de Políticas Política
políticas públicas.
Públicas Política
(Síntese) Os eventos propiciados para o mapeamento, permitiu a distintos Identitários Cultura Político-
grupos identitários analisar as vulnerabilidades que enfrentam, as quais cultural
envolve a disputa por bens da natureza como terra e água.
Disputa Político
Injustiças Político
96
(Síntese) Discutiu como esse mapa social se penetra com uma educação Território Cultura Político-
para a terra facilitando uma compreensão de que território, cultura e cultural
identidade são simbióticos, o que promove o engajamento participativo
nas políticas públicas e consecutivas decisões. Cultura Cultura
Identidade Cultura
Políticas Político
Públicas Política
Políticas Política
Saberes Episteme
97
(Síntese)Traça uma educação ambiental crítica cuja práxis se torna aliada Desigualdades Política Epistemo-
ao desvelamento das desigualdades socioculturais, visando a político-
transformação material e subjetiva de identidades que têm seus saberes e cultural
modos de vida subalternizados pela colonialidade.
Identidades Cultura
Saberes Episteme
Subalternizados Política
(Síntese) Frisa um ato educativo que se relaciona com a educação Cultural Cultura Cultura
patrimonial e é compromissada com a produção de narrativas, propiciando
a conservação cultural simbólica e material
Simbólica Cultura
(Síntese) A partir disso, consegue identificar as ferramentas colonialistas Saberes Episteme Epistemo-
que perpetuam a marginalização dos grupos, enquanto fortalece processos cultural
de diálogos de saberes que enriquecem a contínua produção cultural.
Cultural Cultura
98
(Síntese) Por meio disso, a Educação Ambiental crítica dialoga com a Justiça Política Político-
justiça ambiental ao denunciar a distribuição desigual dos efeitos dos cultural
impactos ambientais sobre determinadas identidades e também com a
Ecologia Política, ao analisar criticamente as assimetrias de poder Desigual Política
envolvidas na relação sociedade natureza.
Identidades Cultura
Poder Política
(Síntese) Propõe uma educação ambiental crítica com abordagem Saberes Episteme Episteme
atravessadora, complexa, holística e inter-multi-transdisciplinar ao
ressaltar os saberes étnicos e ambientais, ansiando à valorização
consciente e integrada dos saberes.
Saberes Episteme
7 (Resumo) A Educação Ambiental vem produzindo uma narrativa sobre o Lugar Cultura Cultura
que é importante considerar em suas análises e as especificidades do
lugar em suas relações com a cultura local.
Cultura Cultura
Culturais Cultura
(Síntese) Além do mais, permite visualizar as reverberações desses fatores Epistêmicas Episteme Epistemo-
perpetuados na educação ambiental e aposta na incorporação de outras cultural
narrativas epistêmicas, abordando vivências culturais que permitem a
construção de uma pluridiversidade que se manifesta singularmente
Culturais Cultura
(Síntese) Problematiza uma educação ambiental que ao se posicionar Culturas Cultura Cultura
receptiva à culturas acaba por revigorar os discursos colonialistas
baseados no essencialismos e práticas educativas que perpetuam a
neutralidade científica
100
(Síntese) Defende uma educação ambiental comprometida à um diálogo Culturas Cultura Epistemo-
com outras culturas, através da permuta de suas narrativas, seus cultural
processos educativos comunitários e permitindo uma ecologia de saberes
que se choca contra a hierarquização das epistemes, facilitando a
construção de uma natureza mutuamente ligada à cultura. Saberes Episteme
Epistemes Episteme
Cultura Cultura
8 Político Político
(Síntese) Ressaltam-se as relações de poder e a potencialidade de ruptura Poder
em debate na EA, deflagrando um cenário de tensionamentos político-
pedagógicos.
Político
Tensionamentos
Político
Político
101
Político Epistemo-
(Síntese) Ao contrário disso, defende uma prática que leve em conta os Conflitos político
conflitos ambientais a partir das distintas relações entre sociedade-
natureza dos movimentos sociais, almejando uma ecologia de saberes
para as transformações sociais Político
Movimentos
sociais
Episteme
Saberes
Política
Transformações
Político Político
(Síntese) Defende que, a EA aborda a pedagogia do conflito ambiental Conflito
desfrutando-se da potencialidade educativa dos antagonismos gerados
pelas contradições de poder.
Político
Poder
9 (Síntese) Considera que o ato educativo bem como a educação ambiental Político Político Político
é um ato político, almejando por meio da ética da libertação e a
pedagogia crítica de freire a quebra paradigmática de uma educação
ambiental instrumental e normativa Libertação Político
102
(Síntese) Pontua que toda prática pedagógica deve ser cerceada pela Assimetrias Política Política
transformação social, a partir da denúncia das assimetrias sociais
impostas pelo capitalismo através de um processo educativo pautado pela
emancipação crítica dos sujeitos Transformação Política
Emancipação Política
(Síntese) Esboça uma educação ambiental crítica que facilita a constante Oprimidos Político Político
problematização da realidade, por ato humanizante, onde os indivíduos
posicionados como oprimidos conscientizem-se de sua historicidade
social, reconhecendo as diferenças de cada uma, assim como os efeitos
particulares que as opressões exercem sobre cada uma delas
Opressões Político
(Síntese) Dessa maneira, a questão ambiental torna-se intrínseca a prática Política Política Político-
política, evidenciando uma educação ambiental crítica que protagoniza a cultural
interrelação entre culturas historicamente subalternizadas enquanto
antagonistas das políticas colonialistas do desenvolvimento sustentável Culturas Cultura
Subalternizadas Política
Políticas Política
103
(Síntese) A filosofia de Dussel junto ao discurso de Freire contribuem Silencia Episteme Episteme
para a ruptura de uma educação ambiental reprodutora da colonialidade, a
qual silencia saberes e os mecanismos que contribuem para tal.
Saberes
Culturais Cultura
Saberes Episteme
10 (Síntese) A proposta dessa formação para a EA foi baseada na Saberes Episteme Epistemo-
interculturalidade, e teve como cerne a ruptura profunda da vida cotidiana cultural
provida pela modernidade e a imersão em uma realidade cujos saberes e
culturas cercam a linha contra-hegemônica de se existir e viver. Culturas Cultura
104
11 (Resumo) Ao demonstrar que a educação ambiental e a práxis pedagógica Movimentos Política Política
constituem movimentos sociais, o grupo postula que, sociais
no Sul, a educação ambiental vai além dos processos de educação
popular.
(Síntese) Desde El Sur assinala o compromisso epistêmico com a Epistêmico Episteme Epistemo-
complexidade sociocultural da América Latina que se expressa uma cultural
educação ambiental enunciada de base local e territorial.
Territorial Cultura
(Síntese) A educação ambiental dialoga com a geografia e a ecologia Desigualdades Político Político
política, ao questionar historicamente as desigualdades da distribuição
material que configura nos conflitos pontuados pelos movimentos
sociais, onde ocorre potencial educativo, em que os envolvidos Transformam-se Político
transformam-se a si mesmos e miram à emancipação social coletiva.
Conflitos Político
Movimentos Político
sociais
Emancipação Político
105
“Conclusão”
Nº do UC selecionada do resumo ou da síntese descritiva UR Categoria à Categoria
artigo priori da UR final da UC
(Síntese) Por meio da escuta sensível, o GEASur traça os atravessamentos Lutas Político Político
das questões socioambientais que constroem uma educação ambiental
insurgente das lutas e que quebram com os estipulados institucionais
globalizantes do Desenvolvimento Sustentável. Lutas Político
1. Cultura
2. Episteme
de registro que foram selecionadas dos resumos e sínteses descritivas dos artigos, e que foram
incluídas nesta categoria.
Quadro 2: Unidades de registro pertencentes à categoria Episteme
Unidades de Registro
saberes, epistêmica, epistêmico, conhecimento,
conhecimentos, episteme, epistemologia.
3. Política
Unidades de Registro
desiguais, desigual, poder, conflitos, subalternizadas, subalternização,
subalternizados, disputas, classe, marginalizados, autônoma,
108
4. Epistemo-cultural
5. Epistemo-político
6. Político-cultural
7. Epistemo-político-cultural
Alguns artigos que compuseram os dados aqui levantados tornaram explícita suas
críticas à abordagens específicas da Educação Ambiental, as quais mais do que estarem
“esvaziadas de sentido” como descrito anteriormente, são compassivas quanto aos fatores que
contribuem para a crise ambiental. Alguns autores se debruçam a vasculhar as tendências
educativas que por não questionarem ou não internalizarem problematizações em suas práxis
quanto às estruturas sociais vigentes, acabam por perpetuar os paradigmas causadores da crise
ambiental, nessa perspectiva, reproduzem as heranças colonialistas e se tornam refém da
colonialidade. Como aponta Vieira (2018):
suscitam outros possíveis. Essas não são distinções ontológicas que provêm de
diferentes regiões do mundo e de pessoas. (TRISTÃO, VIEIRA, 2017, p. 113).
Escobar (1999, p. 76) assinala que a partir da consolidação do discurso que admite a
mundialização da crise, torna comunais os problemas ambientais, de modo a exigir e
favorecer políticas que sejam aplicadas de maneira “globalizada e globalizante”. Logo, tem
início os projetos intitulados como "estratégias do ecodesenvolvimento" que traziam ao centro
político o delineamento de alternativas que implicam em novos estilos para a economia,
favorecendo a internalização do metabolismo ecossistêmico e respeitando suas limitações. As
estratégias do ecodesenvolvimento deram lugar aos discursos em ascensão referentes ao
Desenvolvimento Sustentável (DS), cuja imperialização se deu por via do relatório
Brundtland, documento denominado Nosso futuro comum que em 1987 foi publicado pela
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e que carrega a definição
disseminada do desenvolvimento sustentável como "processo que permite satisfazer as
necessidades da população atual sem comprometer a capacidade de atender às gerações
futuras". (LEFF; CABRAL, 2006).
LEFF e CABRAL (2006) traçam seu argumento a partir de ambiguidades
constatadas do Desenvolvimento Sustentável, cujos termos etimológicos almejam integrar
duas esferas: uma a da sustentabilidade, que se refere aos processos cíclicos de renovação
ecossistêmica, denotando o aspecto ecológico colocado como intrínseco à faceta econômica; a
segunda compete à apuração de algo que seja constante ao longo do tempo- desenvolvimento
sustentável- sendo mais específico, a manutenção do progresso econômico temporalmente
estabelecido. Diante disso, é possível certificar-se do compromisso alicerçado em prol da
persistência do projeto civilizatório. E ainda, como complementado por Escobar (1999), o
desenvolvimento sustentável é estruturado a partir de aliança irrevogável com a ciência como
caminho possível para a resolução das problemáticas ambientais.
Escobar (1999, p. 84) continua a delatar as armadilhas engenhosas do DS ao
identificar que este dissemina a expropriação simbólica de natureza do imaginário social para
se apresentar em uma forma de sentido que alude diretamente ao capital. Como ele afirma:
“se revisassem a maioria dos textos a esse respeito, provavelmente descobriremos que a
palavra "natureza" raramente é mencionada”. A essa entidade dessacralizada agora se impõe
termos como diversidade biológica, recursos naturais, meio ambiente, tornando o termo
natureza quase associado a uma mitologia mística ultrapassada:
115
supremacia de uma cultura e razão monoculturais é um dos pilares que permitem a instalação
de uma crise generalizada, acarretada por sistemas socioculturais homogêneos. Assim, a
colonialidade é expressa constutivamente na cultura, como argumenta Arias (2010):
Diante do cenário esboçado, foi notório o compromisso cultural que alguns autores
assumiram ao desenvolverem uma Educação Ambiental que pensa e age a partir e em prol da
valorização, do reconhecimento e da interação de culturas. A Educação Ambiental, nessa
perspectiva, se alia às identidades, memórias e narrativas de grupos racializados, sejam
comunidades originárias, indígenas e populações em situação de subalternidade. Nessas, os
sistemas de representações, símbolos e signos são constitutivamente negados, porém lançam
mão de estratégias que visam à sobrevivência das identidades, que dinamicamente confluem e
se ressignificam, quando se apropriam ou afastam dos discursos da Modernidade. Assume-se
o caráter plasmódico dessas culturas, as quais se tornam registradas no corpo, na memória e
nos processos de identificação, construção contínua de identidades (MUÑOZ, 2003). Esse
alinhamento é expresso em uma das passagens constituintes deste corpus:
O enfoque aqui compreendido é sobre uma abordagem alinhada com HALL (1997,
2006) E SILVA (2000) que esboça uma identidade vinculada aos processos culturais, isto é,
sendo cocriada conforme a multiplicidade de significados que dinamicamente se moldam e se
reconstroem. Expressa-se, nesse sentido, uma identidade aberta, inconclusa e intercambiável,
apresentando um teor de fluxo processual e descontínuo. Neste sentido, a identidade não se
restringe à questão: “quem nós somos’, mas também em ‘quem nós podemos nos tornar’;
desse modo, a construção da identidade tem a ver com ‘raízes’ (ser), mas também com ‘rotas’
e ‘rumos’ (tornar-se, vir a ser)”. (HALL, 2004, p. 108 apud CRUZ, 2007, p. 97).
118
Assim, diante do exposto, foi expressivo nos trabalhos que comporão o corpus deste
trabalho a incorporação dessas reflexões quanto às culturalidades na Educação Ambiental.
Emerge-se uma práxis que anseia pelo fortalecimento das identidades culturais ao se
debruçarem no desenvolvimento de ações que firmam os vínculos entre grupos e as
apropriações em seus territórios. O que foi proposto se expressou no resgate e revalorização
das narrativas e símbolos compartilhados com os territórios, tornando concretas formas
ambientalizadas de conceber e agir no território e de materialização de alternativas realmente
sustentáveis de funcionalizar o espaço. Ou seja, uma Educação Ambiental que se compromete
com a mobilização dos sistemas culturais, instigando a emergência de formas distintas de se
relacionar com a natureza, contribuindo com o fortalecimento dos processos de identificação
através de um viés decolonial e transgressor (TRISTÃO; VIEIRAS, 2017; VIEIRA, 2018;
SATO; SILVA; JABER, 2018).
PORTO-GONÇALVES (2002, p. 230) salienta ainda para o aspecto relacional que
ocorre entre território-territorialidade territorialização, onde a apropriação material que ocorre
sobre o território ocorre inerentemente à sua própria produção. A materialidade permite a
manutenção e estabelecimento existencial das sociedades, ou seja, sua reprodução cultural. E,
da mesma forma, as apropriações só são desenvolvidas na medida em que seus significados
são compartilhados, isto é, a sociedade se apropria daquilo que é representado pelo seu
121
Dessa forma, a Educação Ambiental que aqui se destaca se volta nas alternativas
culturais que transcendem os paradigmas dicotômicos. Ou seja, fogem da razão hegemônica
instrumental ao conceber um território que carrega, indissociavelmente, uma natureza-cultura.
Ao romper com o binarismo, pressupõe a quebra de uma legitimação de ações exploratórias
sobre as biodiversidades, permitindo a disseminação de vínculos fortalecidos de
pertencimento dos sujeitos com os territórios que ocupam. Propicia a materialização de uma
EA que assumi projetos político-epistêmico-culturais onde a cultura é ambientalizada e que
122
Alguns dos trabalhos aqui levantados construíram suas narrativas a partir dos saberes
e apropriações cognitivas desses povos subalternizados. Logo, foi expressa uma prática
pedagógica que ao assumir o projeto epistêmico da decolonialidade visa reconhecer e
valorizar as diversas articulações possíveis no campo da produção de conhecimentos. Isso é
acarretado a partir da constatação de que a marginalização dos saberes propicia a obliteração
dos respectivos fazeres, logo, além de gerar sofrimentos para os povos submetidos, promove o
empobrecimento “irreversível do horizonte e das possibilidades de conhecimento” (SANTOS,
1999, p. 283). Essas marcas acabam por materializar-se em uma realidade que se apresenta
como homogênea, repercutindo em um sentimento imobilizante diante da ausência de
alternativas possíveis ao modelo vigente de sociedade em crise (SANTOS, MENESES,
NUNES, 2004)
Logo, em uma educação ambiental que insurge a partir de epistemes subjugadas, se
engaja na desagregação da colonialidade do saber por meio do desmantelamento da
construção do selvagem, o qual carrega o símbolo da ignorância e do não saber, e que
expropriado de sua capacidade cognoscente, tornou-se passível de apropriação. “A descoberta
do Outro no contexto colonial envolveu sempre a produção ou reconfiguração de relações de
subalternidade. Três delas revelaram-se particularmente resistentes: a mulher, o selvagem e a
natureza”. (SANTOS, MENESES, NUNES, 2004, p. 8). As diversas dicotomias entre objeto
e sujeito são essenciais para esse projeto: natureza/cultura, tradicional/científico,
selvagem/civilizado. Logo, “Se o selvagem é, por excelência, o lugar da inferioridade; a
natureza é, por excelência, o lugar da exterioridade” (SANTOS, 1999).
Diante da construção dicotômica dos elementos, em seu sentido espacial, a partir do
momento que a ciência se mundializou, posicionou os saberes outros um localismo específico.
Em outra dimensão, o discurso científico tornou-se atemporal, construindo uma percepção de
universalidade e dominação no imaginário que transgride ao tempo. Assim, a ciência
autoproclamou-se como “contemporânea de si mesma e, do mesmo passo,
descontemporanizou todos os outros conhecimentos, nomeadamente os que dominara, na
periferia do sistema mundial”. (SANTOS, 1999, p. 285). As contribuições do conhecimento
“local” ou “tradicional” somente serão consideradas a partir do momento em que são
legitimados pelo veículo da ciência, onde se tornará mundializado de maneira diluída,
desenraizada de sua identidade e de seus protagonistas (SANTOS, MENESES, NUNES,
2004).
A insurgência desses outros saberes que reclamam para existirem a partir de seus
próprios modelos epistêmicos, tem contribuído com a disseminação de paradigmas distintos
124
“como medida transitória, [...] que aprendamos com o Sul, sendo neste caso o Sul
uma metáfora para designar os oprimidos pelas diferentes formas de poder. [...] É
crucial conhecer o Sul para conhecer o Sul nos seus próprios termos, mas também
para conhecer o Norte. É nas margens que se faz o centro, e é no escravo que se faz o
senhor”. (SANTOS, 1999, p. 283).
delineia um paradigma outro que constrói uma concepção contemporânea de todos os saberes,
ou seja, todos os fluxos epistêmicos ocorrendo continuamente no agora, a partir de uma lógica
situacional, em que tais conhecimentos tornam-se efetivos no momento presente. Diante disso,
concebe os conhecimentos a partir de sua incompletude, “pois [...] sendo um conhecimento
presente só permite a inteligibilidade do presente”. Ao situar temporalmente os
conhecimentos, da mesma maneira o faz para as práticas sociais que deles derivam,
contemporizando os grupos identitários que intervém na realidade. A partir disso, instaura-se
uma ideia baseada na coexistência epistêmica da diversidade dos grupos e suas práticas. Nessa
perspectiva “não há primitivos nem subdesenvolvidos, há, sim, opressores e oprimidos”.
(SANTOS, 1999, p. 285).
À vista disso, Santos (2009) apresenta a ecologia de saberes, que como bem explicita
uma das passagens componentes do corpus:
Assim é que não dá para defendermos uma natureza universal e sim um pluriverso,
que significa várias naturezas conectadas a diversas culturas. Essa concepção do
pluriverso impacta as epistemologias da EA e se articula com a ecologia de saberes
que desestabiliza a hierarquização dos conhecimentos que sustenta o pensamento
colonial moderno. (TRISTÃO; VIEIRAS, 2017, p. 108).
ambiental dos artigos que comporão os dados reside justamente na distribuição desigual da
ciência que constitutivamente foi planejada em sua maneira efetiva de tornar determinados
grupos sociais como os sujeitos do conhecimento enquanto outros, o objeto. Não se trata de
almejar uma distribuição equitativa do discurso científico, que no sistema vigente colonial e
por seu caráter primário torna-se impossível. Mas sim, de propor a construção de justiça
cognitiva para aquelas identidades que sofreram aniquilamento epistêmico por não deterem as
narrativas dominantes e, além disso, assumir a insuficiência do discurso científico de poder
intervir e de ser utilizado nas distintas instâncias que se desenrolam concretamente no
cotidiano para os múltiplos modos de vida. Consequentemente, torna-se possível um
questionamento contundente de uma Educação Ambiental sustentada por um modo cognitivo
unitário e que contribui para a subalternização de saberes múltiplos:
Assim é que não dá para defendermos uma natureza universal e sim um pluriverso,
que significa várias naturezas conectadas a diversas culturas. Essa concepção do
pluriverso impacta as epistemologias da EA e se articula com a ecologia de saberes
que desestabiliza a hierarquização dos conhecimentos que sustenta o pensamento
colonial moderno. (TRISTÃO, VIEIRA, 2017, p. 107)
O fato é que os efeitos da crise ambiental já são sentidos na vida cotidiana dos seres
humanos, e uns são mais vítimas dos danos ambientais do que outros, a ponto de
terem sido cunhados novos conceitos definidores desse fenômeno: fala-se de risco e
vulnerabilidade ambiental a que determinados grupos sociais são submetidos,
quando suas condições de vida ou de trabalho são ameaçadas em função da
degradação ambiental. (LAYRARGUES, 2009, p. 5, grifo do autor)
A literatura citada nos levou a refletir sobre educação ambiental capaz de construir
processos capazes de ir além das condições de opressão. Assim, estamos
particularmente interessados nas pedagogias dos movimentos de resistência.
Partimos do pressuposto de que as experiências de resistência produzem pedagogias
e são essenciais para liderar as lutas em questões socioambientais (STORTTI;
SANCHEZ, 2019, p. 5)
imediações dos bairros periféricos ocupados pela população negra. Trata-se de um movimento
que revela o racismo ambiental perpetrado pela colonialidade (ACSELRAD, 2007; PORTO-
GONÇALVES, 2012).
As contribuições dos estudos decoloniais, preenchem as experiências educativas de
historicidade e permite a politização da questão ambiental na medida em que revela os grupos
sociais que são submetidos a padrões excludentes. Por meio da Justiça Ambiental e da
Ecologia Política, a Educação Ambiental assume engajamento social e se propõe a uma práxis
contextualizada ao tornar evidentes fatores que não são apenas problemas do ambiente, mas
padrões sociais assimétricos que afetam a natureza. Além disso, a abordagem educativa se
compromete com a exposição e conscientização das vulnerabilidades e riscos, propiciando o
desvelamento e também posicionamento frente aos conflitos ambientais daí perpetrados
(LAYRARGUES, 2009; KASSIADOU; SANCHEZ, 2019). Nesse sentido, a EA se lança a
compreender as potencialidades pedagógicas dos conflitos e das lutas sociais, o qual WALSH
(2013) bem expressa:
Com isso, diversos atores estão se voltando aos saberes locais ao perceberem que
apresentam alternativas viáveis e consistentes para o panorama de crise ambiental vigente. Da
mesma forma, a Educação Ambiental aqui também se insere. A EA aponta para um horizonte
que dialoga com outras culturalidades e consequentemente com os saberes daí resistentes e
circulantes, os quais edificam modelos de sociedades anti-hegemônicas (VIEIRA, 2018;
GUIMARÃES, 2018).
[...] uma Educação Ambiental que seja alicerçada com as experiências e a vivência
em uma comunidade originária, e que com estas há muito que se aprender.
Aprendizado alicerçado com os saberes dos extrativistas que, ao se oporem aos
processos hegemônicos de desenvolvimento e progresso, nos permitem ter outro
olhar sobre a relação dos homens com seus pares e com a natureza. (VIEIRA,
2018, p. 325)
Desde o próprio produtor, que durante cada ciclo de produção sua experiência é
gradualmente aumentada com base no que aprendeu no ciclo imediatamente
anterior, até o da cultura (grupo étnico), uma vez que o conhecimento está sendo
aperfeiçoado (e adaptado) geração após geração, para a realidade local de cada
presente. Nesta perspectiva, onde o conhecimento se acumula coletivamente, os
indivíduos das diferentes gerações adquirem uma importância substancial.
(TOLEDO; BARRERA-BASSOL, 2015, p. 71, tradução nossa).
Assim, sabedoria ancestral é uma condensação dos saberes incorporados ao longo das
plurais espaço-temporalidades que o constitui, é, portanto, uma síntese de uma sabedoria total
enraizada no tempo geracional, onde se entrecruzam diversos imaginários e múltiplas
subjetividades (CASTRO, 2000; TOLEDO; BARRERA-BASSOL, 2015). Esse corpus
diversificado e holístico constitui a memória biocultural. (TOLEDO; BARRERA-BASSOL,
2015).
Os saberes locais abrigam um rico acervo de conhecimentos sobre os elementos dos
ecossistemas como espécies de animais, plantas, fungos, as dinâmicas ecológicas, fenômenos
correlacionados, conhecimentos taxonômicos diversos e constituídos propriamente,
conhecimentos sobre astrofísica, das rochas e minerais, dos solos e demais processos que
constituem a vida. Há um continuum fluido e maleável entre as culturalidades (identidade,
símbolos, signos, significados, representações, percepções, linguagem, identidade,
territorialidades), os saberes e as práticas produtivas. Daí decorre formas de manejo dos
sistemas naturais que “constroem natureza”, aludindo para as regiões onde a diversidade
cultural coevoluiu com a diversidade biológica. (CASTRO, 2000; ESCOBAR, 2005;
TOLEDO; BARRERA-BASSOL, 2015). “Dessa maneira, é possível reconhecer uma escala
cultural que, teoricamente, engloba o “conhecimento total” de um determinado grupo étnico
ou cultural, regional, delimitado pelo território histórico e pela natureza culturalizada que o
cerca”. (TOLEDO; BARRERA-BASSOL, 2015, p. 75).
Portanto, dialogando com outros sistemas culturais torna-se possível visualizar que os
binarismos bem como os reducionismos que sustentam o pensamento racional científico são
circuncisos e localizados, numa perspectiva que os delimita e os destrona da supremacia
cognitiva. A partir do diálogo de um saber outro, cujos fazeres se materializam por práticas de
manejo fundamentais à conservação da biodiversidade, rompe-se com uma lógica que atribui
toda e quaisquer soluções ao campo técnico-científico. Divergindo desses conhecimentos
utilitaristas e que são subservientes à lógica de mercado, almejam-se modos outros que
realmente tornam possíveis realidades outras, pois são caminhos contra hegemônicas para
crise ambiental. Assim, no nível educativo:
Vários estudos têm reforçado a tese de que experiências com outras práticas
socioecológicas, que escapam a este cânone desenvolvimentista [...], contribuem
na descolonização da educação ambiental, ao incluir pequenos relatos, outras
138
histórias com pensamentos que fogem à narrativa colonial moderna, pois abrem
possibilidades para outras formas de se relacionar com as culturas-naturezas.
(TRISTÃO, 2016, p. 42).
Diante disso, surge outra racionalidade cujo pensamento se complexifica por meio de
um circuito relacional em que distintas identidades culturais dialogam, onde se torna possível
a transposição de um conhecimento unitário para o desvelamento de um saber a partir do
encontro com o outro, em sua singularidade, de forma a não assimilá-lo e reduzi-lo. Um
conhecimento que situa o ser do saber, confluindo os saberes em sua diferença, realocando-os
em seu sentido de habitar o mundo e nele ser abrigado. O que se propõe não é uma
compreensão totalizante do mundo, mas a construção de uma racionalidade outra, que permite
uma apreensão de mundo onde o ser é confrontado com o ser do outro em um diálogo
interepistêmico e intercultural (LEFF, 2003a).
Nessa perspectiva, LEFF (2003a; 2003b; 2006; 2009) esboça uma racionalidade
outra que se deleita no delinear do diálogo de saberes, o qual reconhece os saberes autóctones
e locais onde as confluências dos multiversos interconectam uma constelação de significados
e sentidos, em que esses se concretizam em práticas culturais e produtivas. O diálogo de
saberes torna fecundas as múltiplas sementes dos saberes, propiciando a frutificação da
diversidade epistêmica, a qual é semeada pela pluralidade cultural. O diálogo de saberes não
se trata da condensação das articulações discursivas em um conhecimento unilinear e
universal, não estabelece a monotonia, rompendo com a homogeneização sintética. É
composto por um entremear híbrido, onde os imaginários, narrativas e racionalidades culturais
compactuam no encontro do ser com o mundo e os mundos de saberes. A partir dessa
congregação dialógica, constroem-se dimensões inimagináveis, que desvendam
potencialidades singulares e que impulsionam a complexificação sinérgica das próprias
identidades em suas diferenças. Concretiza um intercâmbio maleável entre as materialidades e
o simbólico, ampliando os binarismos epistêmicos a uma espiralização multidimensional,
assim, promove um fluido onde cultura e natureza se enlaçam continuamente.
As reflexões geradas a partir do diálogo epistemo-cultural entre Educação Ambiental
e decolonialidade convergem para a relevância da incorporação desses aspectos abordados,
tornando-a receptiva ao diálogo e o compartilhamento com outros imaginários, denotando
uma prática educativa com epistemes culturais outras, a partir e com os conhecimentos locais:
Diante dessa abordagem, expressa-se uma educação que possibilita e é pautada pela
alteridade, assim explicitada por MAKIUCHI (2007):
Dessa forma, emerge uma Educação Ambiental que traduz o ambiente e a natureza
como esse outro, sujeito imanente onde se confluem um encontro com os saberes a partir
dele mesmo, possibilitando o enriquecimento dialógico das epistemes que se intercruzam no
reconhecimento da diferença cultural. Encerra-se uma educação que busca relações dialéticas
com a pluralidade, a qual transgride formatações finalizadas, mas que na sua própria
incompletude constrói fluxos alimentados por saberes ambientais. De mesmo modo, transpõe
a modelos fechados ao permitir a crítica de um sistema homogêneo e globalizado, que
restringe saberes outros ao desvalidar suas maneiras de se expressarem no mundo e
deslegitima o ser do saber. Compromete-se, por meio dessa alteridade, no diálogo dos
saberes, com uma Educação Ambiental aliada a responsabilidade social e coletiva, onde se
torna possível conceber a coexistência e a receptividade à diversidades de concepções,
propiciando rompimento hierárquico nos modos de ser, saber e fazer Educação Ambiental
(MAKIUCHI, 2007).
partir das relações de poder consolidadas pelo colonialismo, onde os sistemas cognitivos
adversos à racionalidade europeia foram meticulosamente subordinados. A intersecção da
colonialidade do poder e do saber apresentam complexas estratégias que delimitam a
produção, distribuição, transmissão e aplicação dos conhecimentos. O poder institucionalizou
formas de subordinar estruturas cognitivas às outras, a partir da disseminação de escolas,
universidades e outros dispositivos que são legitimados pelo Estado e, os quais são
sustentados pela racionalidade científica. “O poder define o que será conhecido e o que
deixará de ser conhecido, o discurso e os silêncios da sociedade”. (ESCOBAR, 2005, p. 68).
O contexto de crise ambiental centraliza os questionamentos quanto à validade dos
dispositivos disciplinares que constituem o poder do saber. Na mesma medida, fomenta por
alternativas epistêmicas quanto ao quadro vigente. Esse amplo contexto enseja oportunidades
quanto a “processos de transformações epistêmicas no campo do conhecimento e do saber, das
ideologias teóricas e práticas, dos paradigmas científicos e os programas de pesquisa”. (LEFF,
2006, p. 282). Assim, no campo da Educação Ambiental emerge uma inter-relação que pensa
sua prática a partir do desvelamento dos dispositivos que controlam a “distribuição” do
conhecimento, tornando explícita uma narrativa que visa o fortalecimento e emancipação dos
saberes produzidos localmente como forma de emancipação política e social. Nesse sentido, a
as reflexões e práticas perpetradas pelos atores na Educação ambiental assumem abordagens
que se atentam à desconstrução do poder pelo saber:
Como descrito em “Um diálogo político” (5.3.4) a Educação Ambiental assume seu
compromisso social denunciando as desigualdades na distribuição ecológica para grupos
subalternizados. Diante disso, Escobar (2005, p. 129) traz uma colocação relevante: “mas se a
produção sob uma distribuição desigual nega os processos ecológicos, também nega os
processos culturais que estão na base da valorização e do relacionamento das pessoas com o
mundo natural.” Neste contexto, as práticas educativas facilitam a exposição dos inúmeros
dispositivos coloniais que ameaçam os modos de vida de grupos subalternizados por meio de
estratégias que coíbem modelos locais cujas culturalidades permitem apropriações da
natureza. Essa perspectiva deflagra os aparatos mercadológicos que visam o desmantelamento
das comunidades, as quais são aglutinadas em um mercado mundializado de maneira
proporcional a que suas alternativas econômicas/ecológicas/culturais/territoriais são
propositivamente desfeitas, retiradas ou subvertidas (ESCOBAR, 2005; TRISTÃO, 2016). A
educação ambiental demonstrou ter se lançado nesses âmbitos, onde tem contribuído com a
visibilização das armadilhas hegemônicas que afetam os sistemas culturais/ecológicos das
comunidades, construindo uma prática educativa a partir dos protagonistas e com eles:
O que então se destaca é para os conflitos de distribuição cultural que são definidos a
partir das diferenças de poder que determinadas culturas detém sobre outras, restringindo ou
controlando, em algum nível, as suas formas de produção. “O estudo dos conflitos de
distribuição cultural, portanto, procuram descobrir como as diferenças culturais criam ou
propagam desigualdades no poder social, geralmente impondo um conjunto de normas
culturais assumidas” (ESCOBAR, 2005, p.132).
A racionalidade moderna, com seus requisitos culturais homogeneizantes,
impulsionam confrontos com essas comunidades que lutam e resistem pela defesa de suas
naturezas, seus territórios e suas identidades próprias. No entanto, a maneira como são
145
GONÇALVES (2012) essas identidades ocupam regiões que apresentam alta diversidade
biológica e que simultaneamente são áreas alvo de megaprojetos de empresas mineradoras ou
que buscam outros serviços ecológicos que possibilitam a transformação em commodities.
Portanto, o território brasileiro se torna o palco de diversos conflitos como os tensionamentos
ocorrentes entre movimentos indígenas e camponeses contra as construções de barragens, as
lutas pela terra dos povos quilombolas e os ativistas pela reforma agrária, os seringueiros e
extrativistas que por viverem nas florestas desenvolveram modelos de existências diversos ao
hegemônico e entre outros. De mesmo modo, emergem-se ricas experiências cerceadas por
práticas sustentáveis como: “Reservas Extrativistas, o Parque Nacional de Yasuny; os Direitos
da Natureza constitucionalizados na Bolívia e no Equador; o Estado Plurinacional; o Buen
Vivir, o Suma Qamaña e o Suma Kausay16”. (PORTO, GONÇALVES, 2012, p. 46)
Dessa forma, a política da diferença acarreta na subversão de uma estrutura
modernizante trazendo à tona perspectivas outras, em sistemas e práticas sociais que inter-
relacionam a diversidade cultural e a diversidade ecológica na materialização de modelos que
não dependam de soluções puramente técnico-científicas e econômicas. Da mesma maneira,
permite a desconstrução de pensamentos e práticas educativas que apostam unicamente nessas
concepções e que se baseia numa metodologia que se restringe aos fatores ecológicos das
questões ambientais. O campo da diferença proporciona novas possibilidades, cujos caminhos
se enchem de potencialidades de concretizar utopias e sustentabilidades ressignificadas e
ampliadas, que são enraizadas na perspectiva do local (LEFF, 2003). Como destaca
ESCOBAR (2005, p. 142), sublinha a relevância dos processos locais, mesmo diante de um
sistema globalizado, denominando-os de “glocalidades”.
Assim, o reconhecimento das culturalidades em suas diferenças também permite uma
EA que, ao desvelar padrões que os subalternizam rompe com os dispositivos hegemônicos e
padronizadores. Por conseguinte, a pedagogia aqui construída compactua com as diversidades
de apropriação da natureza tornando-as expostas a sociedade, explicitando formas outras de se
relacionar com as culturas-naturezas, as quais demonstram ser fonte de emancipação dos
poderes detidos pelo projeto moderno. Nessa perspectiva, a Educação Ambiental viabiliza
16
Como salienta Acosta (2016) vivir bien/ buen vivir se origina da língua Kíchwa presente na região equatorial
e é expresso como “sumak kawsay”. A Casa de Cultura do Equador publicou em 2007 o dicionário que traduz
Kichwam em Espanhol e traduziu o termo “sumak” como charmoso, belo, bonito, precioso, primosos, excelente.
Enquanto “Kawsay” como vida. Em português o termo mais correto para a expressão seria Bom viver, no
entanto, bem viver ganhou maior conotação. O autor define o bem viver como uma filosofia presente em
diversas culturas e que é inspirada em valores indígenas, os quais visam sustentar uma vida comunitária em
harmonia com todos os seres vivos ou não. Trata-se de um modo de existir em profunda conexão e
interdependência com a natureza que nos constitui. (ACOSTA, 2016)
148
Não é por acaso que os territórios mais afetados por mineração, petróleo, extração de
gás, fraturamento, monocultura, agronegócio e mega turismo são os territórios, a
maioria dos quais são afrodescendentes, indígenas e camponeses. São territórios
onde habitam as epistemes dos seres e conhecimentos coletivos, as estruturas da
memória coletiva e da existência-vida, onde a natureza entendida como uma relação
integral em que seres humanos, juntamente com outros seres, fazem parte -
desempenham um papel fundamental. Hoje a colonialidade da natureza representa a
conjunção da colonialidade do poder, saber e ser; é a colonialidade da existência da
vida. (WALSH, 2017, p. 25, tradução nossa).
contribuindo com pensamentos racistas quanto a esses sistemas socioculturais. Esse fator é
bem explicitado em uma das passagens de Tristão e Vieira (2017):
Levantamos aqui uma questão paradoxal para a EA que, por um lado, incorpora a
narrativa da diversidade cultural e tenta desconstruir a hierarquização das culturas,
principalmente as culturas excluídas dos mapas simbólicos dominantes; por outro,
supervaloriza a tradição em suas práticas e, às vezes, produz uma narrativa que
defende e homogeneíza algumas culturas tradicionais ou sustentáveis, atribuindo-
lhes um sentido e uma pureza que não existem em nenhum lugar. (TRISTÃO;
VIEIRA, 2019).
17
A dimensão da colonialidade do tempo ainda está em elaboração. O pesquisador Daniel Renaud está
desenvolvendo esta categoria junto ao EICOS/UFRJ sob orientação de Samira Lima da Costa, em
interlocução com o GEASur/UNIRIO. (SALGADO; MENEZES; SANCHEZ, 2019)
153
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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