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UERJ – RJ
2009
LETÍCIA BARBOSA QUESADO
UERJ – RJ
2009
ii
CATALOGAÇÃO NA FONTE
CDU 577.4
iii
Banca Examinadora:
___________________________________________________________
Profª. MSc. Elizabeth dos Santos Rios (Orientadora)
Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes/UERJ
____________________________________________________________
Profª. Dr. Ana Maria Donato
Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes/UERJ
____________________________________________________________
Profª. MSc. Luciene Sampaio de Andrade
Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes/UERJ
UERJ – RJ
2009
iv
AGRADECIMENTOS
À Profª. MSc Elizabeth dos Santos Rios pela orientação, a confiança em mim aplicada
desde o início da pós-graduação e pela oportunidade de estudar um assunto tão interessante.
À UERJ pelo um ano e meio de ótimas experiências, pela obtenção dos meus
conhecimentos e pelo meu futuro profissional.
Aos professores do Programa da Pós-graduação „Lato-sensu‟ em Ensino de Ciências
da UERJ, pela paciência e atenção nas aulas ministradas.
Aos meus amigos por me ouvirem, me aconselharem, partilharem comigo parte de
suas vidas com muita alegria, conversa, brincadeira, festas e até mesmo estudos. A cada um,
há uma parte de minha memória e coração. Agradeço profundamente ao Alê, ao Digo, ao
Hugo (Gavião), à Salsa e à Lê. Os doze da turma de 2008: Ana Maria (pessoa contagiante e
pela amizade), Alexandra (às piadas e comentário engraçadíssimos e surpreendentes),
Alexandre (fotógrafo da turma), Daniela (fofa com cara de durona), Erika (pela alegria),
Fabíola (pessoa inteligente e eloquente, um exemplo de vida), Francisco (menino “fofo”,
prestativo e amigo), Marcella (pessoa inteligente e de coração enorme), Natalia (pelas
conversas interessantes no caminho de volta para casa e pela eterna amizade) e Simone (mãe
de todos, exemplo de pessoa).
À minha família, meu porto seguro, pelo carinho, incentivo e apoio em todos os
sentidos... Aos meus pais, que me ajudaram muito, principalmente, nos momentos de
desespero e sempre acreditaram em mim, sempre. Ao meu irmão, simplesmente por ser quem
ele é! Aos meus familiares cearenses, mineiros e cariocas, sanguíneos e postiços pela alegria
que me proporcionam, por confiarem em mim cegamente e pelo amor incondicional que
sentimos um pelo outro. À minha tia-postiça, Adriane Farah, que tem me acompanhado
crescer profissional e pessoalmente, de forma bastante presente. Esta que sempre transmite
imensa alegria.
E, de maneira especial, agradeço ao Alessandro, que com muito carinho, amor,
paciência e compreensão sempre me apoiou e me colocou para cima. E, por me fazer MUITO
FELIZ!
Obrigada a todos!
vi
RESUMO
QUESADO, Letícia Barbosa. Interações Ecológicas nos Livros Didáticos do Ensino Médio.
2009. 97 f. Monografia (Especialização) - Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes,
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.
O ensino das Ciências tem como finalidade a promoção do processo de cidadania e inclusão
social, pois torna o alunado capaz de questionar, compreender, interagir, tomar decisões, e
melhorar sua qualidade de vida. Também torna possível o reconhecimento do aluno como
organismo integrante da natureza. Portanto, sujeito aos mesmos fenômenos e interações que
os demais, porém sendo capaz de modificar ativamente a biodiversidade e as relações
estabelecidas entre os organismos. Assim sendo, apreender o conteúdo de interações
ecológicas, presente nos livros didáticos de Ensino Médio, é importante para o processo de
formação de um cidadão pleno. No entanto, os livros didáticos possuem informações
fragmentadas e que podem levar a elaboração de concepções simplistas e equivocadas dos
assuntos estudados, causando confusão na construção e compreensão do conhecimento pelo
aluno. Seguindo esta perspectiva, a hipótese foi de que as interações ecológicas são
abordadas, porém não aprofundada e compreensível o suficiente. Os objetivos foram: (i)
analisar se a interações ecológicas são abordadas nos livros didáticos do 3° ano do ensino
médio, (ii) investigar a clareza dos textos e (iii) avaliar se os livros seguem as orientações do
Parâmetro Curricular Nacional (PCN). O objeto deste estudo foram os elementos textuais e
ilustrativos de 6 livros didáticos do 3º ano do Ensino Médio recomendadas pelo Programa
Nacional do Livro para o Ensino Médio (PNLEM) de 2007. Neles foram realizadas análises,
por meio de um formulário, quanto a erros de conceitos; omissão de conteúdo; clareza;
atividades complementares; referências; fontes alternativas de pesquisa; presença do conteúdo
no nível nacional e padrão de desenvolvimento das idéias. Os resultados demonstraram que as
interações ecológicas foram abordadas em todos os livros didáticos estudados de forma um
pouco confusa. Isto reflete a mesma confusão na classificação do tema nos diferentes livros de
referência. No entanto, seguiram a maioria das orientações do PCN e do Parâmetro Curricular
Nacional para o Ensino Médio (PCNEM), permitindo ampliar o entendimento sobre o mundo
vivo. Embora dificulte a compreensão de que o aluno faz parte da natureza, uma vez que
apresentaram o ser humano sempre como a parte prejudicada na interação Parasitismo e
Competição. Também favoreceram o desenvolvimento de modos de pensar e agir, através das
atividades de grupo, prática e debates, que permitem aos alunos se localizarem no mundo e
dele participar de modo consciente e consequente. Este trabalho foi capaz de detectar a
necessidade de mais estudos na área de interações ecológicas e uma unificação da
classificação da mesma, para que não suscite confusões nem por parte de outros
pesquisadores, nem por parte de leigos.
ABSTRACT
The aims of Science teaching are to promote the process of citizenship and social inclusion,
because it makes the students able to question, understand, interact, make decisions and
improve their life quality. Also makes possible the recognition of the student as organism that
makes part of nature. Therefore, subordinate to the same phenomena and interactions as the
other organisms, but being able to actively alter the biodiversity and the relationship between
other organisms. For this reason, understanding the content of ecological interactions, present
in textbooks of high school, it is important to the process of formation of a full citizen.
However, the textbooks have fragmented information and can lead to development of
simplistic and mistaken conceptions of the subjects studied, causing confusion in the
construction and comprehension of knowledge by the student. Following this approach, the
hypothesis was that ecological interactions are addressed, but not depth and understandable
enough. Aims of this study were (i) examine if the ecological interactions are addressed in
textbooks of the 3rd year of high school, (ii) investigate if the text is understandable and (iii)
whether the books follow the guidelines of the National Curricular Parameters (NCP). Textual
and illustrative elements of 6 textbooks of the 3rd year of high school recommended by the
National Book Program for High School (NBPHS) 2007 were the focuses of this study.
Through a form were analyzed mistakes concepts, omission of content, text understanding;
complementary activities, references, sources of research; presence of the content at the
national level and pattern of development of ideas. Results showed that the ecological
interactions were addressed in all textbooks studied, but not understandable enough. This
reflects the same confusion in the classification of the subject that appears in all reference
books. However, they followed the most of the guidelines of the NCP and the National
Curricular Parameters for High School (NCPHS), allowing to increase the understanding of
the living world. Although, difficult to understand that the student is part of nature, since the
human was always presented as the aggrieved party in the Parasitism and Competition
interaction. Also favored the development the way of thinking and acting, through group
activities, practice and discussion, allowing students to located themselves in the world and
participate of the word consciously and consequently. This work was able to detect the need
for further studies in the ecological interactions and a unification of the classification of it, for
not to cause misunderstanding by other researchers or by lay people.
LISTA DE TABELAS
Páginas
Tabela 1 – Interações apresentadas nos livros utilizados como referência para a
revisão conceitual............................................................................................ 11
LISTA DE FIGURAS
Páginas
Páginas
Figura 17 – Exercícios propostos para a fixação do conteúdo apresentado e dos
conceitos relacionados à interação ecológica (LOPES e ROSSO, 2006, (A) p.
564 e (B) p. 561).................................................................................................. 49
Figura 18 – Exercício proposto no qual é questionada a participação humana na
interação ecológica, Competição intra-específica (LOPES e ROSSO, 2006, p.
564)....................................................................................................................... 50
Figura 19 – Exercício proposto que se utiliza de um exemplo brasileiro na interação
Parasitismo (LOPES e ROSSO, 2006, p. 564)..................................................... 50
Figura 20 – Capa do livro Biologia - (LINHARES e GEWASDSZNAJDER, 2007).... 51
Figura 21 – Tabela de classificação das relações ecológicas (LINHARES e
GEWASDSZNAJDER, 2007, p. 477)................................................................. 52
Figura 22 – Exercícios propostos para a fixação dos conteúdos apresentados no texto
e dos conceitos relacionados à interação ecológica (LINHARES e
GEWASDSZNAJDER, 2007, p. 484)................................................................. 54
Figura 23 – Exercícios das seções “Compreendendo o texto” (A), “Questões para
análise” (B) e “Exame Nacional do Ensino Médio – Enem” (C) propostos para
a fixação dos conteúdos apresentados no capítulo e dos conceitos relacionados
à interação ecológica (LINHARES e GEWASDSZNAJDER, 2007, (A) p. 484,
(B) e (C) p. 487)................................................................................................... 54
Figura 24 – Exercícios das seções “Exame Nacional do Ensino Médio – Enem” (A) e
“Compreendendo o texto” (B) propostos para a fixação dos conteúdos
apresentados no capítulo e dos conceitos relacionados à interação ecológica
(LINHARES e GEWASDSZNAJDER, 2007, (A) p. 487e (B) p. 484)............... 56
Figura 25 – Exercício proposto que se utiliza de um exemplo brasileiro na interação
Parasitismo (LINHARES e GEWASDSZNAJDER, 2007, p. 484).................... 57
Figura 26 – Montagem de um experimento (A) proposto para uma atividade de
discussão em grupo (B) (LINHARES e GEWASDSZNAJDER, 2007, p. 488).. 58
Figura 27 – Capa do livro Biologia - (SILVA JUNIOR e SASSON, 2005).................. 59
Figura 28 – Tabela de classificação das relações ecológicas (SILVA JUNIOR e
SASSON, 2005, p. 379)....................................................................................... 60
Figura 29 – Exercícios propostos para a fixação do conteúdo cadeia trófica: (A)
cadeia trófica e (B) reconhecimento de uma interação em uma teia trófica
(SILVA JUNIOR e SASSON, 2005, (A) p. 400 e (B) p. 401)............................ 61
Figura 30 – Exercício proposto para a fixação do conteúdo dinâmica populacional na
seção “Questões e propostas para discussão” (SILVA JUNIOR e SASSON,
2005, p. 393)......................................................................................................... 61
xi
Páginas
Figura 31 – Exercícios propostos para a fixação do conteúdo nicho ecológico nas
seções (A) e (B) “Questões e propostas para discussão” e (C) “Teste” (SILVA
JUNIOR e SASSON, 2005, (A) p. 395, (B) p. 396 e (C) p. 399)........................ 62
Figura 32 – Exemplo de uma caixa de diálogo com nota sobre um assunto importante
na página (SILVA JUNIOR e SASSON, 2005, p. 380)....................................... 63
Figura 33 – Exercícios propostos para questionar a classificação da herbivoria na
seção “Questões e propostas para discussão” (SILVA JUNIOR e SASSON,
2005, p. 394)......................................................................................................... 64
Figura 34 – Exercício proposto que faz menção ao ser humano nas interações
ecológicas (item III) na seção “Questões e propostas para discussão” (SILVA
JUNIOR e SASSON, 2005, p. 394)..................................................................... 64
Figura 35 – Exemplo de exercício com organismos brasileiros (A) ou apenas citando
uma região brasileira onde pode ocorrer a dada interação (B) (SILVA
JUNIOR e SASSON, 2005, (A) p. 402 e (B) p. 400)........................................... 65
Figura 36 – Capa do livro Biologia - (PAULINO, 2005)............................................... 66
Figura 37 – Tabela de classificação das relações ecológicas (PAULINO, 2005, p.
230)....................................................................................................................... 67
Figura 38 – Exercícios das seções “Organizando o conhecimento” (A) e “Roteiro
para auto-avaliação” (B) e (C) propostos para a fixação dos conteúdos
apresentados no capítulo e dos conceitos relacionados à interação ecológica
(PAULINO, 2005, (A) p. 213, (B) p. 216 e (C) p. 218)....................................... 70
Figura 39 – Exercício da seção “Roteiro para auto-avaliação” com citação do ser
humano na interação Parasitismo (PAULINO, 2005, p. 236).............................. 71
xii
SUMÁRIO
Páginas
INTRODUÇÃO............................................................................................................ 1
3. METODOLOGIA...................................................................................................... 31
3.1. Abordagem........................................................................................................ 31
3.2. Fonte.................................................................................................................. 31
3.3. Amostragem...................................................................................................... 31
3.4. A coleta dos dados............................................................................................. 32
3.4.1. O instrumento.......................................................................................... 32
3.4.2. O procedimento de coleta dos dados....................................................... 32
3.4.3. Tratamento dos dados.............................................................................. 33
3.5. Revisão conceitual............................................................................................. 33
xiii
Páginas
4. RESULTADOS.......................................................................................................... 34
4.1. Análise geral...................................................................................................... 34
4.2. Análises por livro didático................................................................................ 37
5. DISCUSSÃO.............................................................................................................. 73
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 78
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................ 79
Bibliografia Analisada.............................................................................................. 85
ANEXOS........................................................................................................................ 86
Anexo A – Roteiro de análise documental............................................................... 87
Anexo B – Roteiro de análise documental: LAURENCE J..................................... 89
Anexo C – Roteiro de análise documental: AMABIS, JM e MARTHO, GR.......... 91
Anexo D – Roteiro de análise documental: LOPES, S e ROSSO, S....................... 93
Anexo E – Roteiro de análise documental: LINHARES, S e
GEWASDSZNAJDER, F......................................................................................... 95
Anexo F – Roteiro de análise documental - SILVA JUNIOR, C e SASSON, S..... 97
Anexo G – Roteiro de análise documental - PAULINO, WR.................................. 99
1
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, inúmeras informações têm sido veiculadas pelos meios de
comunicação referentes a acontecimentos, cujo completo entendimento depende do
conhecimento científico. Com uma frequência incomum, dado o avanço da ciência em alguns
de seus campos, a linguagem científica tem integrado vocabulário do nosso dia-a-dia com
termos como: genoma, clonagem, efeito estufa, transgênico, entre outros. Ou seja, assuntos
biológicos têm sido discutidos em jornais e revistas de grande circulação ou em programas de
entretenimento veiculados pela tevê ou pelo rádio como notícia política, econômica e até
como parte de uma discussão ética (BRASIL, 2005).
O ensino de Ciências tem como finalidade, neste sentido, a promoção do processo de
cidadania e inclusão social, uma vez que tornam os alunos capazes de discutir, questionar,
compreender o mundo que as cerca, interagir de maneira crítica e autônoma à sociedade a que
pertencem, respeitar o ponto de vista alheio, resolver problemas, tomar decisões e melhorar
sua qualidade de vida. Essas são características que promovem uma sociedade solidária,
pacífica, participativa e democrática (UNESCO, 2005).
Porém, o ensino de Ciências não tem apenas o intuito de fazer o cidadão pleno e
participativo, mas também de ajudar a entender algumas das indagações feitas pelo homem.
Essas seriam a compreensão da origem, da reprodução, da evolução da vida e da vida humana
em toda sua diversidade de organização e interação (BRASIL, 2005). Também torna possível
o reconhecimento do aluno como organismo e parte integrante da Natureza e, portanto, sujeito
aos mesmos processos, fenômenos e interações que os demais seres vivos, e capaz de
modificar ativamente a biodiversidade e as relações estabelecidas entre os organismos
(BRASIL, 2006).
Portanto, apreender o conteúdo de interações ecológicas é importante neste processo
de formação de um cidadão pleno. Entendem-se interações ecológicas como sendo “relações
entre espécies que vivem numa comunidade; especificamente é o efeito que um indivíduo de
uma espécie pode exercer sobre um indivíduo de outra espécie” (ACIESP, 1997, p. 148).
Esse conteúdo é encontrado nos livros didáticos, de forma mais detalhada no Ensino
Médio. Os livros didáticos são considerados o principal instrumento de transmissão e
construção do conhecimento científico escolar (MARIA, 2008). Sua importância passa por ser
um mediador da aprendizagem dos estudantes, guia de atividades didáticas e textos
complementares, fonte de atualização dos professores, entre outros, sendo, então, um alicerce
2
CAPÍTULO I
1. LIVRO DIDÁTICO
O autor Silva (1996) afirma que para “uma boa parcela dos professores brasileiros, o
livro didático se apresenta como uma insubstituível muleta. Na sua falta ou ausência, não se
caminha cognitivamente na medida em que não há substância para ensinar” (p. 11). Na
mesma perspectiva, Bizzo (2002) aponta que o livro didático tem sido considerado por muitos
um grande obstáculo a impedir mudanças significativas nas salas de aula brasileiras. Assim,
4
apesar das novas tecnologias de comunicação em alternativa e/ou como complemento ao livro
didático, dentro da tradição escolar brasileira, aprender tem significado:
atender às liturgias dos livros, dentre as quais se destaca aquela do livro "didático": comprar
na livraria no início de cada ano letivo, usar ao ritmo do professor, fazer as lições, chegar à
metade ou aos três quartos dos conteúdos ah inscritos e dizer amém, pois é assim mesmo (e
somente assim) que se aprende (SILVA, 1996, p. 11).
É por isso, então, que “tudo precisa estar em função da situação coletiva da sala de
aula” (LAJOLO, 1996, p. 5), para que aprendam conteúdos, valores e atitudes específicos
com o livro didático utilizado. Contudo, a qualidade das informações e atitudes veiculadas
precisam ser levadas em consideração durante a escolha e a adoção do mesmo. Bem como,
posteriormente, no estabelecimento das formas de sua leitura e uso pelo professor no diálogo
com o alunado (LAJOLO, 1996).
Assim sendo, o livro didático não pode conter informações incorretas. Isto porque,
estas levariam seus usuários a atuarem com significados inadequados para a sua vida. Apesar
disso tudo, possuem informações fragmentadas e que podem levar à elaboração de
concepções simplistas e equivocadas dos assuntos estudados (MARIA, 2008), ou, por vezes,
passarem, de forma mais ou menos velada, informações erradas e valores e comportamentos
perniciosos (LAJOLO, 1996).
Com isso, e principalmente, por causa das avaliações dos livros realizadas através do
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), estes têm despertado interesse de muitos
pesquisadores nas últimas décadas, tornando-se um instrumento de intervenção discursiva no
ensino e sua análise auxilia o entendimento de como é demonstrada a transformação do
conhecimento científico em conhecimento escolar (MOTOKANE e TRIVELATO, 2004).
O referido programa vem levantando discussões acerca da qualidade dos livros
didáticos no Brasil, fazendo com que as editoras se adéquem às suas recomendações. Além
disso, tem dado maior ênfase em livros destinados ao Ensino Fundamental e, recentemente, ao
Ensino Médio (FNDE, 2009).
As pesquisas desenvolvidas em Ensino de Ciências e Biologia têm produzido
trabalhos que utilizam o livro didático como cenário para vários olhares e perspectivas. Estes
trabalhos contribuem de maneira significativa para a formação do professor e o uso crítico
desse recurso (DELIZOICOV et al., 2002). Alguns discutem assuntos recentes, como a forma
em que o livro aborda aspectos sociais e culturais implícitos no ensino (questões de gênero,
representações do próprio livro didático, entre outros) (QUESADO, 2005), e outros discutem
como são abordados diversos conteúdos do currículo escolar.
5
Exemplos dessa diversidade de pesquisas podem ser encontrados nos resumos dos dois
recentes encontros: Encontro de Perspectivas do Ensino de Biologia (X EPEB, julho de 2006)
e Encontro Nacional de Ensino de Biologia (II ENEB, agosto de 2007). Nos anais são
apresentados trabalhos que buscam o entendimento de um tema específico em um ou mais
livros, como é o caso de Barzano (2006)1, Fonseca (2006), Sodré (2006), Silva (2006),
Clemonez e Lima (2007), Diniz et al. (2007)2, Ferreira e Soares (2007), Freitas et al. (2007),
Freire e Souza (2007)3, Gomes (2007)4, Santos e Cunha (2007) e Stortti e Pinhão (2007).
Outros autores estão mais preocupados com os elementos de linguagem, mesmo
quando utilizam diversos focos como Silva et al. (2007), que traçaram um perfil do uso de
terminologia científica nos livros didáticos de Biologia e suas implicações no currículo de
Ciências; Pereira et al. (2007), que fazem uma análise de concepções veiculadas pelos livros
didáticos; Giraldi (2007) que enfocam as analogias utilizadas no ensino de Ciências; e
Schlichting (2006), que fala sobre a construção de um livro didático. Ou, que ainda abordem
assuntos mais abrangentes como o papel do livro didático para o Ensino de Ciências
(GÜLLICH, 2007), a Educação Científica e Tecnológica (OLIVEIRA, 2007) e a ciência de
referência (FRANZOLIN, 2006).
A história do livro didático tem seu início na década de 30, quando, com a Revolução
de 30, o sistema nacional de educação torna-se de responsabilidade do Governo Federal.
Passados sete anos, o Ministério de Educação e Cultura (MEC) criou o Instituto Nacional do
Livro (INL), com o encargo de divulgar e distribuir obras de interesse educacional e cultural
(SILVA e TRIVELATO, 2000).
Foi nesta mesma época que o livro didático é definido, pela primeira vez, no Decreto-
lei 1.006 de 1938:
Art. 2º, § 2º - Livros de leitura de classe são os livros usados para leitura dos alunos em aula;
tais livros são chamados de livros de texto, livro-texto, compêndio escolar, livros escolar,
livros de classe, manual, livro didático (SILVA e TRIVELATO, 2000, p. 219).
1 Análise de livros em busca do conteúdo sobre saneamento básico e sua contribuição para a educação ambiental.
2 Análise sobre o tema animais peçonhentos e concepções prévias de alunado no ensino fundamental
3 Buscaram entender a abordagem do conteúdo de anfíbios em livros didáticos do ensino fundamental e médio.
4 O foco de trabalho são as transformações dos conhecimentos ecológicos em livros didáticos de ciências.
6
Este Decreto que criou a Comissão Nacional de Livros Didáticos (CNLD) com o
objetivo de controlar político-pedagogicamente a produção e a distribuição gratuita de livros
didáticos, que passaram a ser destinados a todas as séries da atual Educação Básica, que até
então, incluía só até o atual Ensino Fundamental (SILVA e TRIVELATO, 2000). A partir de
1940, restringia-se ao professor a responsabilidade pela escolha do livro didático a ser
utilizado pelos alunos (FNDE, 2009).
Após vários decretos, leis e Comissões Nacionais, foi só a partir da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação (LDB) de 1971, que o Conselho Federal de Educação começou a fixar o
núcleo comum de disciplinas para cada nível e série, que veio a servir como base para a
elaboração de guias curriculares pela Secretaria de Educação. Com isso, as editoras
começaram a serguir tais guias para a estruturação de seus livros didáticos, uniformizando-os
na forma de currículo e da prática-pedagógica (SILVA e TRIVELATO, 2000).
Ainda nos anos 1970, os recursos utilizados na distribuição dos livros provinham e
ainda provêm do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e das
contribuições das Unidades da Federação. No entanto, devido à insuficiência de recursos para
atender todos os alunos do Ensino Fundamental da rede pública, a grande maioria das escolas
municipais foi excluída do programa nessa época (FNDE, 2009).
Foi em 1985 que começou o processo do atual Programa Nacional do Livro Didático
(PNLD). Sua implantação promoveu grandes mudanças, como a indicação do livro didático
pelos professores e a mudança do controle administrativo do programa para a Fundação de
Assistência ao Estudante (FAE), com consequente término da participação financeira dos
estados. Outra mudança foi a abolição do livro descartável e o aperfeiçoamento das
especificações técnicas para a produção dos livros com maior durabilidade. Isto possibilitou a
implantação de bancos de livros didáticos, além da extensão da oferta de livros aos alunos de
1ª e 2ª séries das escolas públicas e comunitárias (FNDE, 2009).
Porém, após sete anos do início da distribuição dos livros de acordo com o PNLD/85,
esta foi comprometida pelas limitações orçamentárias, gerando um recuo na abrangência da
distribuição, que atendeu apenas até a 4ª série do Ensino Fundamental. Por conseguinte, em
1993, a Resolução FNDE nº 6 estabeleceu um financiamento contínuo para o programa, o
que, de forma gradativa, permitiu sua ampliação da distribuição dos livros para todo o Ensino
Fundamental da Rede Pública do país (FNDE, 2009).
Somente em 1996 que se deu início ao processo de avaliação pedagógica com os livros
inscritos para o PNLD/97, que sofreu inúmeros aperfeiçoamentos para o que hoje é
conhecido. No ano seguinte, com o término da FAE, a integral responsabilidade pela
7
execução do PNLD tornou-se do FNDE. O programa é, então, ampliado, fazendo com que o
Ministério da Educação passe a adquirir e distribuir continuamente livros didáticos de
alfabetização, língua portuguesa, matemática, ciências, estudos sociais, história e geografia
para todos os alunos de 1ª a 8ª série do Ensino Fundamental público (FNDE, 2009).
É nesse momento que a nova LDB/96 confere um marco na Educação Básica, pois é
nessa lei que o Ensino Médio é definido como tal, superando no plano legal a histórica
dualidade dessa etapa de Educação (BRASIL, 2000). Na verdade, o que ocorre é apenas a
reafirmação de que o Ensino Médio é uma extensão progressiva da obrigatoriedade e
gratuidade do ensino. Isso porque, já havia sido pronunciado na Constituição de 1988, no
inciso II do Art. 208, com posterior mudança na redação original sem alterar o significado,
através da Emenda Constitucional nº 14/96: “progressiva universalização do ensino médio
gratuito” (BRASIL, 1999, p. 117).
A alteração, que antes dizia “a progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade
ao ensino médio” (BRASIL, 2000, p. 9), realizada pela Emenda Constitucional, fazia com que
o Ensino Médio não fosse mais obrigatório, contudo a sua oferta é dever do Estado, para
todos que o desejarem, conferindo a esse nível de ensino o estatuto de direito de todo cidadão
(BRASIL, 2000). Com isso, mais um segmento da educação deveria ser atendido pelo Estado
no PNLD. Porém este só foi implantado no ano de 2004 com o Programa Nacional do Livro
Didático para o Ensino Médio (PNLEM) (BRASIL, 2009).
Atualmente, o Governo Federal executa três programas voltados para o livro didático:
o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), Programa Nacional do Livro Didático para a
Alfabetização de Jovens e Adultos (PNLA) e o Programa Nacional do Livro Didático para o
Ensino Médio (PNLEM) (BRASIL, 2009).
O PNLEM prevê a distribuição de livros didáticos para os alunos do Ensino Médio da
rede pública de todo o País. Este se iniciou de forma experimental na região Norte e Nordeste
até 2005, distribuindo livros das disciplinas de Língua Portuguesa e de Matemática. Em 2006,
as três séries de todas as escolas do País já haviam sido beneficiadas, menos os estados de
Minas Gerais e do Paraná que desenvolvem programas próprios (BRASIL, 2009).
Os livros de Biologia só foram distribuídos, pela primeira vez, em 2007 a todos os
alunos e professores do Ensino Médio das escolas públicas de todo o Brasil, exceto as escolas
estaduais de Minas Gerais. Os livros de História e Química foram também distribuídos, pela
primeira vez, em 2008, ano no qual foi feita a escolha dos livros didáticos de Geografia e
Física e a segunda escolha dos livros de Matemática, Língua Portuguesa e Biologia, avaliados
e selecionados no PNLEM/2007 (BRASIL, 2009).
8
CAPÍTULO II
2. INTERAÇÕES ECOLÓGICAS
The web of our life is of a mingled yarn, good and ill together.
(Tradução livre: A teia de nossas vidas é um emaranhado de interações, boas e ruins juntas)
William Shakespeare
A atividade de todo indivíduo muda o ambiente em que ele vive. Ele pode alterar as
condições, como pode adicionar ou subtrair recursos do ambiente, que poderiam ficar
disponíveis a outro organismo, como quando uma árvore projeta sombra sobre outras plantas
abaixo dela. Assim, os organismos interagem quando os indivíduos influem na vida de outros
(BEGON et al., 2007). Tais processos são denominados interações ecológicas. O termo pode
ser definido como “relações entre espécies que vivem numa comunidade; especificamente é o
efeito que um indivíduo de uma espécie pode exercer sobre um indivíduo de outra espécie”
(ACIESP, 1997, p. 148).
Os tipos de interações podem ser desde uma população alimentar-se de membros de
outra, competir por alimento, excretar dejetos nocivos, ajudar ou interferir de alguma forma
com a outra população, sendo ou unidirecional ou recíproca. Ainda, para um dado par de
espécies, o tipo de interação pode mudar sob diferentes condições ou durante estádios
sucessivos de suas histórias de vida. Assim, podendo exibir Parasitismo em uma época,
Comensalismo em outra e serem completamente neutras em outro momento diferente
(ODUM, 1988). Na natureza, mais de um tipo de interação geralmente ocorre ao mesmo
tempo. Em muitos casos, o resultado de um tipo de interação é modificado ou até mesmo
invertido, quando outro tipo de interação também está ocorrendo (RAVEN e JOHNSON,
2002).
Quando se trata de processos evolutivos, os que operam em longo prazo demoram
milhões de anos e podem produzir diferentes números de associações, enquanto os de curto
prazo, como as interações ecológicas podem excluir ou facilitar espécies. Neste caso, o tempo
10
pode variar de poucas horas para muitos anos (MORIN, 1999). Ao transpor esse conceito para
a dinâmica de um ecossistema, as interações negativas tendem a predominar em comunidades
pioneiras ou em condições perturbadas, onde a Seleção-r5 neutraliza uma alta mortalidade.
Na evolução e no desenvolvimento de ecossistemas, as interações negativas tendem a
ser minimizadas em favor da simbiose positiva, que melhora a sobrevivência das espécies
interativas. Isso parece ser importante quando algum aspecto do ambiente é limitante (como a
água ou o solo infértil). No entanto, seria lógico supor que as relações negativas e positivas
entre populações tendem a se equilibrarem, no estádio de maturidade, os dois tipos sendo
igualmente importantes na evolução das espécies e na estabilização do ecossistema (ODUM,
1988; ODUM e BARRETT, 2007).
De acordo com os livros utilizados na revisão conceitual (Tabela 1), podem-se
classificar as interações em várias categorias definidas como: Neutralismo, Comensalismo,
Mutualismo, Amensalismo, Predação, Competição interespecífica e Parasitismo (Figura 1).
Protocooperação e Herbivoria como tipos de Mutualismo e Predação, respectivamente.
Neutralismo quase nunca é citado, apenas por Bewer (1994), Odum (1998) e Odum e
Barrett (2007). Bewer (1994) apresenta Amensalismo e Alelopatia como interações
relacionadas à Competição, enquanto Herbivoria e Saprobismo como interações a parte. E,
por fim, Ricklefs e Miller (2000) e Ricklefs (2003) apresentam Parasitismo e Herbivoria
dentro de Predação, alegando serem formas de consumo.
Saprobismo foi mencionado apenas por Bewer (1994), que o classifica como sendo uma
interação existente entre tecidos mortos ou moribundos e organismos saprotróficos, como os
carniceiros e predadores. Apesar de poderem apresentar especialização em um tipo de
compostos químico que utilizam, de forma geral, a relação entre as espécies envolvidas é
generalista6. No entanto, como um dos membros da interação está morto ou moribundo, este
não pode ter papel ativo, esta interação pode também ser considerada como parte de
Comensalismo.
5 Seleção-r. “Tipo de seleção que ocorre em ambientes variáveis ou imprevisíveis, nos quais ocorre mortalidade
catastrófica. Consequentemente, favorece características como fecundidade precoce e elevada dos indivíduos de uma
população, às custas de sua capacidade competitiva”, representada por organismos que colonizam com rapidez
habitats relativamente “vazios” (espécie r). Já a Seleção K, “ocorre em ambientes constantes ou previsíveis, que
maximizam a eficiência de aproveitamento de recursos, a capacidade competitiva e a longevidade dos indivíduos de
uma população, às custas do retardo de seu crescimento e reprodução”, representada por organismos que conseguem
se manter estáveis nesses habitats após a chegada de muitos colonizadores (espécie K) (ACIESP, 1997, p. 216). As
seleções reúnem características que as tornam estratégias de história de vida de organismos (Begon et al., 2007).
6 Generalista. “Organismo, população ou espécie que utiliza efetivamente uma ampla faixa do conjunto de recursos ou
fatores ambientais potencialmente disponíveis”. Em contraponto, os especialistas são “aqueles que possuem pequena
tolerância, ou amplitude de nicho estreita, frequentemente alimentando-se de um determinado recurso escasso”
(ACIESP, 1997, p. 131 e 97, respectivamente).
11
Figura 1 – Exemplos de interações ecológicas diretas entre espécies em comunidades. (A) Neutralismo;
(B) Comensalismo; (C) Mutualismo; (D) Parasistismo; (E) Predação; (F) Amensalismo; e (G)
Competição Interespecífica. 1 = Espécie 1; 2 = Espécie 2. Os sinais indicam o tipo de resultado sobre as
espécies participantes: - interação prejudicial; + interação benéfica (modificado do MORIN, 1999).
Tabela 1 – Interações apresentadas nos livros utilizados como referência para a revisão conceitual.
Totais representam número de obras que apresentaram a característica (coluna da direita) e a
ocorrência das mesmas por obra (linha inferior).
RICKLEFS e MILLER
RAVEN e JOHNSON
ODUM e BARRETT
BEGON ET AL.
RICKLEFS
MORRIN
BEWER
TOTAL
ODUM
INTERAÇÕES
Neutralismo X X X 3
Comensalismo X X X X X X 6
Mutualismo X X X X X X X X 8
Protocooperação X X 2
Amensalismo X X X X X X 6
Predação X X X X X X X X 8
Herbivoria X X X X X X X 7
Competição interespecífica X X X X X X X X 8
Parasitismo X X X X X X X X 8
Alelopatia X 1
Saprobismo X 1
TOTAL 10 7 7 9 9 6 5 5
12
2.1. Neutralismo
2.2. Simbiose
2.2.1. Comensalismo
esperando por abelhas, na qual pegam carona para o ninho delas e, em seguida, comem suas
larvas (BEWER, 1994).
Ao abordarmos as relações em que o organismo se apóia em um indivíduo de outra
espécie, classifica-se o Comensalismo mais especificamente para os vegetais como
Epifitismo, e para os animais como Epizoísmo (ODUM, 1988; ODUM e BARRETT, 2007).
Por exemplo, as orquídeas, as bromélias, as lianas e as heras que por não possuírem estrutura
de sustentação se apóiam em outras espécies lenhosas para obter mais luz. Da mesma forma,
vários animais marinhos, como cracas, que crescem sobre outros organismos, como baleias
que se movem ativamente. Assim, conseguem ser transportados de um lugar para outro,
obtendo, então, uma constante renovação nas fontes de alimento, uma maior proteção contra a
predação e uma maior dispersão de seus gâmetas do que se estivessem fixados em um único
lugar (RAVEN e JOHNSON, 2002).
Já quanto ao abrigo, anteriormente era classificada como Inquilinismo, relação na qual
“uma espécie vive dentro da galeria, ninho ou outro domicílio da outra, sem prejudicar o
hospedeiro” (ACIESP, 1997, p. 148). Porém, por ser uma interação positiva para uma espécie
e neutra para a outra envolvida na relação, é então também considerada Comensalismo. São
também exemplos de comensal, uma variedade de peixes, moluscos, vermes poliquetas e
caranguejos que não são “convidados”, porém necessitam do abrigo de seus hospedeiros,
como galerias de vermes, moluscos e esponjas, para obtenção de alimentos excedentes ou
rejeitados ou mesmo materiais residuais destes. Outros abrigos podem ser utilizados quando o
hospedeiro já o abandonou, como a utilização de antigos ninhos de aves por ratos como locais
para seus próprios (ODUM, 1988; ODUM e BARRETT, 2007).
Muitos tipos de Comensalismo não envolvem relacionamento altamente específico,
mas alguns, aparentemente, são encontrados associados a apenas uma espécie de hospedeiro
(ODUM, 1988; ODUM e BARRETT, 2007). Por exemplo, quem matou o gnu pode não fazer
diferença para o abutre que se alimentará deste, contanto que esteja morto ou moribundo. Em
outros casos, como os invertebrados que vivem em ninhos de insetos sociais, a relação é mais
específica. Em uma estreita relação comensal, a água no copo de folhas da bromélia serve de
“piscina” em que as larvas do mosquito Wyomeia smithii maturam (BEWER, 1994).
O Comensalismo é uma interação bastante comum e numerosa nos hábitats aquáticos,
principalmente nos marinhos. Por exemplo, “convidados” em galerias, tais como de
poliquetas que ficam repletas de crustáceos, e organismos incrustados em outros (BEWER,
1994). Como o peixe sargento em uma praia da Flórida, ele tinha mais de 100 animais de 25
espécies diferentes em sua superfície (PERRY, 1936 apud BEWER, 1994).
15
2.2.2. Mutualismo
Assim, quando o fazem se alimentam e, quando não, ajudam a dispersão do vegetal plantando
a noz. Quanto à de proteção, refere-se às interações não-obrigatórias, nas quais um dos
envolvidos é protegido pelo outro. Por exemplo, a interação entre pulgões e formigas
(BEWER, 1994) também chamada de Sinfilia, na qual as formigas oferecem abrigo, proteção
contra predadores, alimento rico em açúcares (seiva elaborada) e até mesmo cuidado com a
prole dos pulgões, e em troca aproveitam a secreção açucarada que sai do ânus do pulgão ao
se alimentar de plantas através de suas raízes (WHEELER, 2009).
Muitos casos, aparentemente, óbvios de Parasitismo ou Predação no nível do
indivíduo mostram aspectos mutualísticos quando examinados no nível populacional. Por
exemplo, na dinâmica predador-presa, apesar ter uma espécie prejudicada e outra favorecida,
o controle populacional feito pelo predador pode promover, em taxas moderadas, um maior
crescimento da população das presas, maior produtividade primária e mais rápida é a
ciclagem de nutrientes (BEWER, 1994).
Por fim, ainda existem interações Mutualísticas indiretas, as quais envolvem efeitos
positivos entre duas espécies que são transmitidos através uma ou mais espécies
intermediárias (Figura 2). O tipo de efeito indireto positivo pode ocorrer quando cada
predador é altamente dependente de diferentes espécies de presa e quando as presas
competem tão fortemente que é provável que uma exclua a outra na ausência de exploração
do seu predador. No entanto, quando o predador facilita indiretamente o outro e nenhuma
interação recíproca parece ocorrer, pode ser chamado de Comensalismo indireto ao invés de
Mutualismo.
Figura 2 – Exemplo de uma interação ecológica mutualística indireta entre espécies em comunidades.
Efeitos diretos são indicados por setas cheias e indiretos por setas pontilhadas. C1 = Consumidor 1; C2
= Consumidor 2; R1 = Recurso 1; R2 = Recurso 2. Os sinais indicam o tipo de resultado sobre as
espécies participantes: - interação prejudicial; + interação benéfica (modificado do MORIN, 1999).
19
Segundo Dethier e Duggind (1984 apud MORIN, 1999), condições que favorecem
Mutualismo ou Comensalismo indiretos versus Competição por consumo são previsíveis com
base no grau de especialização dos recursos dos consumidores. Se os consumidores forem
generalistas e se alimentarem de ambos os tipos de recursos, os consumidores irão
simplesmente competir (Figura 3A). Se, caso forem suficientemente especializados, exigindo
diferentes conjuntos de recursos, poderá haver um efeito indireto positivo. Se o efeito é
recíproco (Mutualismo) (Figura 2) ou assimétrico (Comensalismo) (Figura 3B) depende da
medida em que as espécies competem por um recurso de modo hierárquico ou assimétrico.
Competições assimétricas pelos recursos deverão conduzir a uma maior interação mutualistas
entre os consumidores altamente especializados (MORIN, 1999).
Figura 3 – Exemplo de uma interação ecológica indireta entre espécies em comunidades. Efeitos
diretos são indicados por setas cheias e indiretos por setas pontilhadas. (A) Competição entre
generalistas e (B) Comensalismo Indireto. C1 = Consumidor 1; C2 = Consumidor 2; R1 = Recurso 1;
R2 = Recurso 2; R3 = Recurso 3; R4 = Recurso 4; C = Consumidor; R = Recurso. Os sinais indicam o
tipo de resultado sobre as espécies participantes: - interação prejudicial; + interação benéfica.
2.2.3. Parasitismo
exemplo são as várias interações descritas como herbivoria que podem ser consideradas uma
forma de Parasitismo em plantas, inclusive as minerações de folhas e as fabricações de galhas,
nestes casos, um Endoparasitismo. Ou mesmo, o caso de sucção de seiva por pulgões e
cigarrinhas, este é análogo ao sugar o sangue - geralmente considerado Parasitismo - de
pulgas, carrapatos e mosquitos (BEWER, 1994). No entanto, este último pode não ser
considerado parasita, pois a interação com o hospedeiro é muito breve (RAVEN e
JOHNSON, 2002).
Os parasitas, da mesma forma que os herbívoros, consomem partes de suas presas
(hospedeiros) e são tipicamente nocivos. Embora o Parasitismo possa aumentar a
probabilidade de morte de um hospedeiro por outras causas, ou reduzir sua fecundidade, o
parasita por si próprio não remove um indivíduo de uma população-recurso (RICKLEFS,
2003). Entretanto, diferentemente dos herbívoros, seus ataques são concentrados em um ou
poucos indivíduos durante sua vida. Existe, portanto, uma íntima associação entre parasitos e
seus hospedeiros, o que não se observa nos verdadeiros predadores e nos herbívoros (BEGON
et al., 2007).
Normalmente, os parasitas são muito menores do que a presa (RAVEN e JOHNSON,
2002; RICKLEFS, 2003) e específicos de seu hospedeiro, sendo cada uma das espécies
restritas a uma espécie hospedeira, ou a poucas estreitamente relacionadas em cada fase do
seu ciclo de vida. Além disso, a maioria das interações parasita-hospedeiro tem evoluído para
o favorecimento da seleção de parasitas que não matam o hospedeiro. Isto depende, em parte,
da adaptação dos primeiros ao seu ambiente. Doenças ou outras tensões podem mudar o
ambiente interno do hospedeiro e perturbar o equilíbrio parasita-hospedeiro, muitas vezes
levando à morte do hospedeiro (RICKLEFS e MILLER, 2000).
Parasitismo pode ser dividido em Endoparasitismo (parasitas internos) e
Ectoparasitismo (parasitas externos). A primeira é a interação entre parasitas que se
encontram no interior de seu hospedeiro e o mesmo, como bactérias, vírus e vermes, enquanto
a segunda, entre parasitas que se encontram na superfície ou ao redor de seu hospedeiro e o
mesmo, como os piolhos, que vivem sobre vertebrados, principalmente aves e mamíferos
(RAVEN e JOHNSON, 2002). Ambos são organismos heterotróficos que se alimentam de
substâncias orgânicas derivadas de um tecido vivo de seu hospedeiro. Estas substâncias
podem já estar presentes na forma aproveitável, como fluidos e tecidos, ou são fabricadas
após a ação de exoenzimas liberadas pelo parasita (ACIESP, 1997).
Porém, nem todos os parasitas consomem partes do corpo de seu hospedeiro. No
Parasitismo “familiar” (brood), certas aves põem os seus ovos em ninhos de outras espécies.
21
através de um ambiente hostil para passar de um hospedeiro para outro. Tal dificuldade foi
resolvida por ciclos de vida complicados, apresentando um ou mais estágios que podem
enfrentar o ambiente externo (RICKLEFS e MILLER, 2000; RICKLEFS, 2003). Por
exemplo, o ciclo de vida do parasita protozoário Plasmodium, que causa a malária, mostra
quão complexo os ciclos podem ser, pois envolvem dois hospedeiros, um sendo o mosquito e
o outro um humano ou algum outro mamífero, ave ou réptil (RICKLEFS, 2003).
Uma forma especial de Parasitismo que termina com a morte precoce do hospedeiro é
conhecida como Parasitóidismo (ACIESP, 1997). Os parasitóides são larvas de inseto,
principalmente das ordens Hymenoptera (vespas) e Diptera (moscas). Em um típico ciclo de
vida parasitóide, após a cópula entre os adultos de vida livre, a fêmea busca um hospedeiro,
que, normalmente, é um pré-adulto de um inseto e, raramente uma aranha ou um isópodo
(pequenos crustáceos). Este será utilizado como fonte alimentar pelos seus descendentes. Ela
depósitos ovos do lado de fora do hospedeiro, no caso de um Ectoparasitóide (parasitóide
externo), ou dentro dele com o auxílio de um longo ovipositor, no caso de um
Endoparasitóide (parasitóide interno). O ovo, uma vez depositado sobre ou no interior do
hospedeiro, evolui para uma larva, que causa, aparentemente, um dano pouco aparente, mas,
eventualmente no caso de Endoparasitóides, consome e mata o hospedeiro (BEWER, 1994;
ACIESP, 1997; RICKLEFS e MILLER, 2000; RAVEN e JOHNSON, 2002; BEGON et al.,
2007). Apenas Collin (2004) utilizou uma classificação mais abrangente, sendo nesta os
parasitóides organismos que apresentam comportamento parasitário em apenas uma etapa de
seu desenvolvimento.
Alguns parasitóides são especializados em parasitar outros parasitóides, num
comportamento conhecido por Hiper-parasitismo (LIMA, 2007). Muitas vezes, apenas um
se desenvolve em cada hospedeiro, porém, em muitos casos, vários indivíduos compartilham
um mesmo (BEGON et al., 2007). Porém, quando se trata do número de indivíduos de
parasitos, este pode se encontra tão elevado que nem eles e nem o hospedeiro sobrevivem a
interação. Este fenômeno recebe o nome de Superparasitismo (HOFFMANN e
FRODSHAM, 1993 apud LIMA, 2007).
Portanto, parasitóides combinam elementos tanto de Parasitismo, por residirem dentro
de um hospedeiro vivo e comem seus tecidos, quanto de Predação, quando, inevitavelmente,
matam seus hospedeiros (BEWER, 1994; RICKLEFS, 2003; BEGON et al., 2007).
Para os seres humanos, a utilização de agentes biológicos, como parasita, predador ou
patógeno, para o combate de pragas nos sistemas agropecuários tem se tornado de extrema
importância. Nas últimas duas décadas, o emprego de parasitóides em bio-ensaios
23
laboratoriais e no campo vem sendo utilizados como novas alternativas de controle de pragas
e vetores (LIMA, 2007).
De maneira geral, o efeito imediato do Parasitismo sobre a população de hospedeiros
nem sempre é prejudicial. Isso porque, parasitas podem ter efeitos diferentes em espécies
hospedeiras simpátricas que competem entre si e, assim, influenciar o resultado de interações
interespecíficas (RAVEN e JOHNSON, 2002).
Em um experimento clássico, um cientista da Universidade de Chicago investigou
interações entre dois besouros de farinhas, Tribolium castaneum e T. confusum, e um parasita,
Adelina. Na ausência do parasita, T. castaneum é dominante e T. confusum normalmente é
extinto, e quando presente, o resultado é invertido e T. castaneum extingui-se. Este é mais
sensível ao parasita que seu concorrente T. confusum, que foi favorecido pela redução da taxa
de crescimento causada pelo Parasitismo. O mesmo tem sido observado com muitas espécies
nos sistemas naturais (RAVEN e JOHNSON, 2002).
2.3. Predação
Figura 4 – Exemplo de uma interação ecológica indireta entre espécies em comunidades, cascata
trófica. Efeitos diretos são indicados por setas cheias e indiretos por setas pontilhadas. C =
Consumidor; H = Herbívoro; P = Produtor. Os sinais indicam o tipo de resultado sobre as espécies
participantes: - interação prejudicial; + interação benéfica (modificado do MORIN, 1999).
25
Ricklefs (2003) considera que todas “as formas de vida são tanto consumidoras
quanto vítima de consumidores”, portanto “as relações predador-presa, herbívoro-planta e
parasita-hospedeiro são todas exemplos de interações consumidor-recurso, que organizam
as comunidades biológicas numa série de cadeias de consumidores” (p. 305, grifos do autor).
Assim, justificando a inclusão de parasitas e parasitóides como uma forma de Predação. Ele
ainda considera os detritívoros como um tipo de consumidor, sendo os que consomem
material orgânico morto (serapilheira foliar, fezes e carcaças) e não têm efeito direto nas
populações que produzem esses recursos. Portanto, não afetam a abundância de seus
suprimentos alimentares, e suas atividades, consequentemente, não influenciam a evolução
das fontes de vida de seus alimentos. Os detritívoros são importantes na reciclagem de
nutrientes em um ecossistema (RICKLEFS, 2003).
Pode-se também classificar os predadores em um continuun, desde a monofagia (um
único tipo de presa) até a polifagia (muitos tipos de presas). Na primeira, a preferência
alimentar é fixa, independente de sua disponibilidade, enquanto na última, há uma variedade
de possibilidade de recursos, de modo que o predador não sofre com a flutuação da
disponibilidade dos mesmos. Assim, certos itens alimentares muitas vezes são consumidos
desproporcionalmente quando se tornam comuns (BEGON et al., 2007).
Outra forma seria de acordo com a maneira como lidam com suas presas, entre aqueles
que sentam e esperam e aqueles que buscam ativamente presas. Os predadores senta-e-
espera podem trabalhar escondidos, neste caso, eles caçam emboscando presas ativas e
maiores, como sucuris que espreitam ao lado de um riacho por animais desavisados e aranhas
que esperam que suas presas caiam em sua teia. Os predadores ativos são os que procuram
suas presas sedentárias ou mesmo ativas e, normalmente, menores e mais numerosas, como as
aves de rapina, os leões (BEWER, 1994).
De maneira geral, o efeito imediato da Predação sobre a população de presas nem
sempre é prejudicial. Isso porque, primeiro, os indivíduos predados podem não ser uma
amostra aleatória, pois podem ter o potencial mais baixo para a contribuição do futuro da
população.
Em segundo lugar, as mudanças compensatórias no crescimento, na sobrevivência ou
na reprodução das presas sobreviventes, mediante a redução da Competição intra-específica.
Do ponto de vista do predador, pode-se esperar que um aumento da quantidade de alimento
consumido leve a aumentos das taxas de crescimento, desenvolvimento e natalidade, e
decréscimo das taxas de mortalidade (COLINVAUX 1993; BEGON et al., 2007).
26
Mülleriano está em uma interação mutualista com o modelo, no qual ambos são beneficiados
(COLINVAUX, 1993; RAVEN e JOHNSON, 2002; RICKLEFS, 2003).
Quanto às estratégias anti-predação químicas e mecânicas, a interação herbívoro-
planta é um bom exemplo de como se apresentam na natureza. As defesas das plantas incluem
fatores que influenciam a qualidade e digestabilidade nutricional se suas partes, assim como a
presença de compostos químicos especializados que tem efeitos tóxicos nos herbívoros. Já as
mecânicas, as plantas apresentam espinhos, pêlos, carapaças de sementes e resinas adesivas
(RAVEN e JOHNSON, 2002; RICKLEFS, 2003).
Quando as presas não podem se esconder, elas frequentemente adotam
comportamentos protetores, que raramente envolvem combate físico, pois poucas são as
presas que podem enfrentar seus protetores (RICKLEFS, 2003). Em vez disso, alguns
organismos apresentam comportamentos para assustar ou enganar o predador, como fingir
ferocidade ou de morto, andar em bando e se dispersar na hora do ataque do predador
atordoando-o, soltar parte de seu corpo, avisos aos do bando, entre outros. A melhor reação é
a que seja a mais imprevisível para o predador, ou seja, aleatória. Qualquer regularidade
permite um comportamento mais eficiente pelo predador (MARGALEF, 1989).
2.4. Amensalismo
dependendo de como se configura a teia de interações (Figura 5B). Por exemplo, quando a
taxa reprodutiva do predador aumenta com o aumento da densidade da presa A,
consequentemente, haverá mais predadores para consumir a presa B. Ou quando
consideramos interações indiretas de populações no mesmo nível trófico, três espécies
presentes – A, B e C –, duas competem (A e B) e duas são mutualísticas (B e C), o efeito
negativo da espécie A irá afetar indiretamente a espécie C, pois ao diminuir a espécie B de
quem C se beneficia (Figura 5C) (RICKLEFS e MILLER, 2000).
3. METODOLOGIA
3.1. Abordagem
3.2. Fonte
3.3. Amostragem
(*) (Tabela 2) foram corrigidas e reeditadas após a submissão e a analise pela equipe
organizada pelo MEC.
As coleções de livros didáticos de Ensino Médio atualmente passam por uma
avaliação cuidadosa para integrar o PNLEM. Essa avaliação usa critérios tais como: a
acurácia e veracidade das informações dos livros; a abordagem utilizada; qualidade técnica
das ilustrações; contribuições e riscos para a construção da cidadania; grau de
contextualização dos conteúdos (BRASIL, 2008). A partir destes critérios, os livros que são
recomendados por esta avaliação tendem a apresentar menos erros conceituais e a incluir
aspectos do tema em questão, o que facilitou a análise dos mesmos. A escolha destes livros
foi reforçada pelo fato deles serem fornecidos às escolas pelo Programa Governamental, e
consequentemente, os alunos terem maior facilidade para adquiri-los.
Tabela 2 – Distribuição percentual das obras escolhidas pelos professores de Biologia escolhidas no
PNLEM/2007.
3.4.1. Instrumento
O instrumento utilizado para coleta de dados foi um roteiro de análise documental para
livros didáticos, consistido por dezessete questões fechadas e semi-abertas (Anexo A). Este
permitiu a padronização nas avaliações. Como forma de exemplificação, trechos ilustrativos
foram extraídos dos livros de acordo com a pertinência de cada questão.
33
4. RESULTADOS
Tabela 3 – Características apresentadas nas obras estudadas. Totais representam número de obras que
apresentaram a característica (coluna da direita) e a ocorrência das mesmas por obra (linha inferior).
ASPECTOS CONCEITUAIS
Aborda o tema X X X X X X 6
Capítulo do tema X X X X X X 6
Menciona Neutralismo 0
Menciona Comensalismo X X X X X X 6
Menciona Mutualismo X X X X X X 6
Menciona Protocooperação X X X X X X 6
Menciona Amensalismo X X X X 4
Menciona Predação X X X X X X 6
Menciona Herbivoria X X X X X 5
Menciona Competição X X X X X X 6
Menciona Parasitismo X X X X X X 6
Outras interações X X X X X X 6
Conceitos integradores X X X X X X 6
Textos complementares X X X X X X 6
diferenciação, Silva Junior e Sasson (2005) utilizam a classificação “mais cômoda” (p. 380),
Mutualismo igual Simbiose, justificando que na Ecologia os vocabulários são indefinidos,
portanto essa definição também seria correta. Assim como Silva Junior e Sasson (2005),
Linhares e Gewasdsznajder (2007) colocam que, hoje em dia, o termo pode ser utilizado
como qualquer interação ecológica permanente, incluindo além das mais íntimas, como
Mutualismo, Comensalismo e Parasitismo.
Quanto os tipos de Mutualismo, sempre foram diferenciados em Mutualismo e
Protocooperação. Com exceção do Paulino (2005), que foi apresentado como Mutualismo
facultativo. No Silva Junior e Sasson (2005) apareceu como Cooperação, porém como pode
ser chamado assim também foi considerado como Protocooperação.
O ser humano foi citado em todos os livros estudados, com exceção do Amabis e
Martho (2005). Quando citado, o ser humano esteve sempre relacionado com a interação
Parasitismo e, em menos vezes, com Competição. O livro do Paulino (2005) destacou-se dos
demais neste caso, pois demonstrou a participação do homem em quase todas as interações:
Predação, Parasitismo, Comensalismo, Mutualismo, Competição e Amensalismo.
Em nenhum livro foi feita qualquer diferenciação no Parasitismo entre parasita e
parasitóide, enquanto na Competição só foi feita a separação entre interespecífica e intra-
específica. No entanto, pode-se interpretar que os autores Silva Junior e Sasson (2005)
mencionam a Competição interferente, normalmente exemplificada pelo terrritorialismo, este
citado por eles.
Já interação Herbivoria foi mencionada em todos os livros, com exceção do Laurence
(2006). Apenas o Amabis e Martho (2005) colocaram Herbivoria como uma interação à parte
e Lopes e Rosso (2006) como Predação. Todos os outros autores apresentaram a dubialidade
desta interação, ora apresentando-se como Predação, ora como Parasitismo.
Os exemplos dos diferentes tipos de interação citados pelos autores eram, em sua
maioria, clássicos. No entanto, apenas Amabis e Martho (2005) não apresentaram qualquer
exemplo com organismos brasileiros nas interações ecológicas, nem mesmo nos exercícios,
apenas nas relações intra-específicas. Lopes e Rosso (2006) só apresentam nos exercícios. O
organismo mais citado foi a formiga saúva na relação intra-específica Sociedade, seguido das
plantas parasitas cipó-chumbo e erva-de-passarinho.
Apesar de nenhum livro incentivar a utilização de novas tecnologias aplicadas ao
ensino, todos os autores lançaram mão de textos complementares e ilustrações para
exemplificar e fixar as interações, esta principalmente, através de esquemas e figuras,
descritas no texto. Quanto às atividades em grupo ou práticas, apenas Amabis e Martho
37
(2005) não apresentou, enquanto Laurence (2006) utilizou-se de uma caixa de diálogo com
uma atividade complementar em grupo de observação, para que os alunos procurem exemplos
de duas relações intra-específicas, Competição e Canibalismo.
Desta forma, os autores apresentam outro conceito da Biologia para uma compreensão
integrada das interações ecológicas, sendo esse o de nicho ecológico. Outros conceitos
apresentados foram dinâmica populacional e evolução. O primeiro aparece na introdução do
39
Figura 8 – Exercício proposto para a fixação do conteúdo cadeia trófica e do conceito relacionado à
interação ecológica (LAURENCE, 2006, p. 89).
Figura 9 – Atividade complementar em grupo que utiliza conceito relacionado à interação ecológica
(LAURENCE, 2006, p. 82).
42
Livro 2: Biologia. Autor: AMABIS, José Mariano e MARTHO, Gilberto Rodrigues. (Fig. 10)
Editora: Moderna. Vol. 3, 2ª edição, 2005.
Figura 11 – Tabela de ganhos e perdas individuais nas relações ecológicas interespecíficas (AMABIS
e MARTHO, 2005, p. 348).
ou seja, a evolução de uma espécie depende em parte da evolução da outra, sendo uma a
resposta da outra (ODUM e BARRETT, 2007).
Outro conceito de evolução aparece no texto proposto pelos autores na seção „Leitura‟
do capítulo. O texto, intitulado “Estudo flagra „nepotismo‟ entre formigas – Biólogas
descobrem que operárias de uma espécie de formiga européia favorecem ovos e larvas com os
quais têm parentesco”, aborda a batalha em passar adiante os próprios genes, que foi
denominado por Richard Dawikins (2001) como “gene egoísta”. Muito bem explicado pelo
trecho:
Acontece que parentes próximos, como filhos e irmãos, carregam a metade dos genes de seus
pais ou irmãos, enquanto a fração de genes compartilhados vai decrescendo conforme o grau
de parentesco diminui. Proteger esses parentes próximos seria uma forma de garantir que os
genes do próprio indivíduo tivessem uma chance a mais de sobreviver (AMABIS e
MARTHO, 2005, p. 354).
Embora esse conceito não tenha relação com as interações ecológicas, corresponde às
relações ecológicas intra-específicas também abordadas no mesmo capítulo. Outro fato
interessante é que Amabis e Martho (2005) colocaram uma observação no rodapé da página
para uma correção de definições que são apresentadas no texto. Este denomina a sociedade de
formigas como colônia (Fig. 12). Assim, não permite que haja confusão ou mau entendimento
pelos alunos dos conceitos apresentados no capítulo.
Figura 12 – Observação feita pelos autores para a correção de definição da relação ecológica intra-
específica das formigas (AMABIS e MARTHO, 2005, p. 354).
seus predadores no Planalto de Kaibab (EUA), após a proibição da caça dos veados e o
incentivo da de seus predadores retrata bem o conceito (Fig. 13).
Figura 13 – Exemplo dado pelos autores para caracterizar a Predação e que representa o conceito de
dinâmica populacional da presa e de seu predador (AMABIS e MARTHO, 2005, p. 350).
Figura 14 – Exercícios propostos para a fixação do conteúdo apresentado e dos conceitos relacionados
à interação ecológica (AMABIS e MARTHO, 2005, p. 356).
46
Figura 15 – Exercício de vestibular que utiliza exemplos com organismos brasileiros (AMABIS e
MARTHO, 2005, p. 358).
47
O livro é volume único, por tanto aborda todos os assuntos estudados no Ensino
Médio: Origem da Vida, Biologia Celular, Reprodução, Embriologia e Histologia, Seres
Vivos, Genética, Evolução e Ecologia. Nele há um capítulo denominado “Relações entre seres
vivos de uma comunidade e ecologia da população”, que aborda temas de interações
ecológicas e relações populacionais.
Os autores começam o capítulo diferenciando as relações intra-específicas das
interespecíficas e as relações harmônicas das desarmônicas. Sobre as últimas, os autores
colocam que essa classificação só pode ser feita para indivíduos, uma vez que, “considerando
o total das relações de uma comunidade, verifica-se que elas se revelam harmônicas, pois são
importantes para o equilíbrio das populações que interagem” (LOPES e ROSSO, 2006, p.
556).
Dentre as intra-específicas, são explicadas as Sociedades, Colônias, Canibalismo e
Competição intra-específica. Já dentre as interespecíficas, os autores ratificam a classificação
das interações entre harmônicas e desarmônicas, sendo as primeiras: Mutualismo,
Protocooperação, Comensalismo, Inquilinismo; e as segundas: Amensalismo, Predatismo,
Parasitismo e Competição interespecífica.
48
A OMS visava combater os pernilongos que transmitiam a malária [...] Depois de muitas
investigações constataram esses problemas relacionados com a aplicação do DDT [...]
também afetava outros insetos, como abelhas, besouros e baratas. Os que não chegavam a
morrer ficavam contaminados pelo DDT e com menor possibilidade de fugir de seus
predadores: os lagartos. [...] Ao ingerirem os lagartos contaminados, os gatos acabavam
morrendo. Com a morte dos gatos, a população de ratos começou a aumentar, pois seus
predadores haviam diminuído. [...] Ao mesmo tempo, com a redução do número de lagartos,
começou a haver a proliferação de outro inseto que era comido pelo lagarto: uma espécie de
barata que se alimenta principalmente de palha de coqueiro. As casas dos nativos, construídas
com essa palha, começaram a cair [...] (LOPES e ROSSO, 2006, p. 563).
(A)
(B)
Figura 17 – Exercícios propostos para a fixação do conteúdo apresentado e dos conceitos relacionados
à interação ecológica (LOPES e ROSSO, 2006, (A) p. 564 e (B) p. 561).
normalmente, exerce influência recíproca no metabolismo, seja ela uma interação positiva ou
negativa” (LOPES e ROSSO, 2006, p. 556). Deste modo, permitindo concluir que são
relações simbiônticas: Parasitismo, Comensalismo, e Mutualismo. Os autores também
atentam para a utilização errônea do termo como sinônimo de Mutualismo, colocando que
“atualmente, a utilização do termo Simbiose tem sido ampliada, aplicando-se a qualquer tipo
de relação interespecífica” (LOPES e ROSSO, 2006, p. 556).
A menção feita ao ser humano nas interações ecológicas apresentadas aparece no
Parasitismo e na Competição intra-específica. No entanto, isso só ocorre nos exercícios
propostos nas seções “Questões Discursivas” (Fig. 17A) e “Questões para estudo” (Fig. 18).
qual propõe uma atividade de discussão em grupo, e outro no decorrer do capítulo, na parte
destinada a ecologia de população, que comenta sobre a flutuação da população humana e as
projeções para o Brasil.
O livro é volume único, por tanto aborda todos os assuntos estudados no Ensino
Médio: Biologia geral, Biologia Celular, Histologia Animal, Seres Vivos, Anatomia e
Fisiologia Animal, Morfologia e Fisiologia Vegetal, Genética, Evolução e Ecologia. Nele há
um capítulo denominado “Relações entre seres vivos”, que aborda temas de interações
ecológicas e relações populacionais.
Os autores começam o capítulo diferenciando as relações intra-específicas
(homotípicas) das interespecíficas (heterotípicas). Colocam que, em geral, as relações podem
ser classificadas entre as relações harmônicas (positivas) e as desarmônicas (negativas).
Dentre as intra-específicas, são explicadas e exemplificadas as Sociedades, Colônias,
Canibalismo e Competição intra-específica. Já dentre as interespecíficas, os autores ratificam
a classificação das interações entre harmônicas e desarmônicas, sendo as primeiras:
52
Figura 22 – Exercícios propostos para a fixação dos conteúdos apresentados no texto e dos conceitos
relacionados à interação ecológica (LINHARES e GEWASDSZNAJDER, 2007, p. 484).
(C)
(A)
(B)
Figura 23 – Exercícios das seções “Compreendendo o texto” (A), “Questões para análise” (B) e
“Exame Nacional do Ensino Médio – Enem” (C) propostos para a fixação dos conteúdos apresentados
no capítulo e dos conceitos relacionados à interação ecológica (LINHARES e GEWASDSZNAJDER,
2007, (A) p. 484, (B) e (C) p. 487).
55
Medicina no combate a infecções. Nesse caso, o fenômeno pode ser chamado também de
antibiose” (LINHARES e GEWASDSZNAJDER, 2007, p. 482).
Já a Herbivoria é citada dentro da interação Predatismo, porém são feitas concessões.
Isso porque, apesar de ser definida como uma interação “semelhante ao predatismo, que
ocorre entre um animal herbívoro e as plantas das quais se alimenta” (LINHARES e
GEWASDSZNAJDER, 2007, p. 482), são apresentadas classificação diferenciadas quanto ao
que ele aproveita da planta como alimento. Uma vez que, “um animal que come uma semente
ou uma planta inteira se comporta como um predador, pois destrói um indivíduo (um embrião,
no caso da semente), e um animal que come apenas parte de uma planta (um animal que pasta
um arbusto, por exemplo) se comporta mais como um parasita” (LINHARES e
GEWASDSZNAJDER, 2007, p. 482).
A menção feita ao ser humano nas interações ecológicas apresentadas aparece apenas
no exercício das seções “Exame Nacional do Ensino Médio – Enem” (Fig. 24A) e
“Compreendendo o texto” (Fig. 24B) na interação Parasitismo e no controle populacional de
pragas agrícolas.
(A)
(B)
Figura 24 – Exercícios das seções “Exame Nacional do Ensino Médio – Enem” (A) e
“Compreendendo o texto” (B) propostos para a fixação dos conteúdos apresentados no capítulo e dos
conceitos relacionados à interação ecológica (LINHARES e GEWASDSZNAJDER, 2007, (A) p. 487e
(B) p. 484).
57
(A)
(B)
Figura 26 – Montagem de um experimento (A) proposto para uma atividade de discussão em grupo
(B) (LINHARES e GEWASDSZNAJDER, 2007, p. 488).
59
Figura 28 – Tabela de classificação das relações ecológicas (SILVA JUNIOR e SASSON, 2005, p.
379).
(B)
(A)
Figura 29 – Exercícios propostos para a fixação do conteúdo cadeia trófica: (A) cadeia trófica e (B)
reconhecimento de uma interação em uma teia trófica (SILVA JUNIOR e SASSON, 2005, (A) p. 400
e (B) p. 401).
Figura 30 – Exercício proposto para a fixação do conteúdo dinâmica populacional na seção “Questões
e propostas para discussão” (SILVA JUNIOR e SASSON, 2005, p. 393).
62
(C)
(A)
(B)
Figura 31 – Exercícios propostos para a fixação do conteúdo nicho ecológico nas seções (A) e (B)
“Questões e propostas para discussão” e (C) “Teste” (SILVA JUNIOR e SASSON, 2005, (A) p. 395,
(B) p. 396 e (C) p. 399).
Quanto à definição de Simbiose, os autores afirmam usar uma que “não é a única
correta”, no entanto a “mais cômoda” (SILVA JUNIOR e SASSON, 2005, p. 380). Isso
porque Simbiose, como muitos outros conceitos na Ecologia, não tem um vocabulário
definitivo, talvez por ser uma ciência nova (SILVA JUNIOR e SASSON, 2005) e dinâmica
(ACIESP, 1997).
A palavra simbiose, por exemplo, classicamente significativa “associação entre dois seres
vivos, em que ambos se beneficiam”. Hoje em dia, no entanto, tendem-se a usar essa palavra
para designar qualquer tipo de associação, mesmo as desarmônicas. Um parasitismo ou um
predatismo poderiam ser classificados como simbiose (SILVA JUNIOR e SASSON, 2005, p.
380).
63
Figura 32 – Exemplo de uma caixa de diálogo com nota sobre um assunto importante na página
(SILVA JUNIOR e SASSON, 2005, p. 380).
Figura 34 – Exercício proposto que faz menção ao ser humano nas interações ecológicas (item III) na
seção “Questões e propostas para discussão” (SILVA JUNIOR e SASSON, 2005, p. 394).
(B)
(A)
Figura 35 – Exemplo de exercício com organismos brasileiros (A) ou apenas citando uma região
brasileira onde pode ocorrer a dada interação (B) (SILVA JUNIOR e SASSON, 2005, (A) p. 402 e (B)
p. 400).
66
pode levá-las à morte pela fome, de forma mais significativa do que a própria ação predadora.
Além disso, os predadores exercem uma ação seletiva, já que as presas capturadas são, muitas
vezes, aquelas que apresentam menor capacidade de fuga em virtude de estados de doença,
velhice e outros fatores. Em geral, o elevado número de presas propicia um aumento no
número de predadores, que encontram farto alimento no ambiente. Em conseqüência, num
segundo momento, o número de presas diminui, o que acarreta uma redução na população
predadora. Isso, por sua, vez, permite a posterior recuperação da população de presas, que se
eleva, e assim sucessivamente (PAULINO, 2005, p. 206).
Na interação Parasitismo, o autor usa um exemplo da espécie humana para ilustrar tal
dinâmica: “Para a espécie humana, o predatismo, como fator limitante do crescimento
populacional, tem efeito praticamente nulo. O Parasitismo, porém, constitui um fator limitante
principalmente em regiões onde as condições de vida são precárias” (PAULINO, 2005, p.
208).
O mesmo é feito para a Competição, quando o autor apresenta vários organismos que
venham a competir com o ser humano por alimento, por exemplo, no caso do milho podemos
citar “percevejos-castanho (ataca e suga as raízes); a lagarta-elasmo (constrói galerias no
caule); a lagarta-rosca (secciona o caule); a lagarta-do-cartucho (destrói os grãos); os pulgões
(sugam a seiva das folhas); o gorgulho e a traça-do-milho (atacam os grãos armazenados)”
(PAULINO, 2005, p. 209), assim como roedores (alimentam de grãos armazenados) e fungos
(atacam os grãos armazenados).
Outro conceito é abordado juntamente com o de dinâmica populacional, o de evolução
ou co-evolução. Este aparece quando o autor apresenta a diferenciação entre histórias
evolutivas recentes ou antigas de duas espécies que interagem, a dizer:
De acordo com Eugene P. Odum, nas interações predador x presa “os efeitos de regulação
populacional tendem a ser aumentados quando as populações que interagem tiverem uma
história evolutiva comum, num ecossistema relativamente estável”. De fato, severas reduções
na população de presas, o que pode levar tanto presas como predadores à extinção, são
verificadas normalmente apenas quando a interação é de origem recente ou quando ocorre
uma grande perturbação no ecossistema (PAULINO, 2005, p. 207).
Esse conceito também está presente na lista de adaptações de predadores e presas que
Paulino (2005) apresenta, sendo estas, resultado da interação entre as espécies ao longo do
tempo e pode variar de uma espécie a outra. Alguns exemplos:
Predadores: “capacidade de deslocamentos rápidos no ambiente, como sucede com
guepardos e aves de rapina; faro aguçado, como em lobos e coiotes [...]” (PAULINO, 2005, p.
207).
Presas: “capacidade de passar relativamente despercebidas no ambiente, como o
gafanhoto na grama verde ou a lebre branca ártica na neve; capacidade de deslocamento
rápidos no ambiente, como zebras e antílopes [...]” (PAULINO, 2005, p. 207).
69
Assim, o autor conclui que se pode “conceituar a competição como uma interação
ecológica em que ocorre sobreposição de nichos ecológicos num mesmo hábitat. Quanto
maior a sobreposição dos nichos considerados, mais acirrado se torna o mecanismo
competitivo” (PAULINO, 2005, p. 213). Todos os conceitos apresentados são reforçados nos
exercícios em seções tais como “Organizando o conhecimento” (Fig. 38A) e “Roteiro para
auto-avaliação” (Fig. 38B e C). Inclusive, o conceito de cadeia trófica que só aparece nos
exercícios (Fig. 38D).
70
(A) (B)
(D)
(C)
Figura 38 – Exercícios das seções “Organizando o conhecimento” (A) e “Roteiro para auto-avaliação”
(B), (C) e (D) propostos para a fixação dos conteúdos apresentados no capítulo e dos conceitos
relacionados à interação ecológica (PAULINO, 2005, (A) p. 213, (B) p. 216 e (C) p. 218, (D) p. 236).
Não há menção à Simbiose neste capítulo, no entanto, o autor faz uma divisão do
Mutualismo em obrigatório e não-obrigatório (Protocooperação), no qual no primeiro há uma
interdependência fisiológica que a separação acarretaria num “sério desequilíbrio metabólico,
que pode até levá-lo a morte” (PAULINO, 2005, p. 227), e no segundo, as vantagens obtidas
pela interação podem ser “dispensadas sem causar desequilíbrio metabólico para os
envolvidos” (PAULINO, 2005, p. 227).
Quanto ao Amensalismo, o autor considera o mesmo que Antibiose, ele define a
interação como uma espécie que “bloqueia ou inibe o desenvolvimento ou a reprodução de
outra espécie, denominada amensal, por intermédio da liberação de substâncias tóxicas”
(PAULINO, 2005, p. 230). Já a Herbivoria não é citada explicitamente no texto, mas aparece
em um exercício (Fig. 38A) e em uma caixa de diálogo que diz:
Na visão de alguns ecologistas, um animal que come uma semente pode ser considerado um
predador, já que está destruindo fisicamente um organismo, no caso do embrião que a
semente abriga. E, ao devorar uma folha, um animal pode ser considerado parasita de planta,
uma vez que estará lesando um órgão do individuo, no caso, a própria folha (PAULINO,
2005, p. 209).
71
Figura 39 – Exercício da seção “Roteiro para auto-avaliação” com citação do ser humano na
interação Parasitismo (PAULINO, 2005, p. 236).
são, em sua maioria, clássicos. É apresentado exemplo com organismos brasileiros de forma
explicita no Parasitismo, exemplificado com o protozoário Trypanosoma cruzi, causador da
doença de Chagas; e no Amensalismo é relatado o caso de uma maré vermelha:
No Brasil, o primeiro caso documentado data de 1944, na cidade de Recife: foi chamado de
“febre de Tamandaré”. O caso mais conhecido, porém, ocorreu em março de 1978 na costa
sul do Brasil, quando se constatou a morte de toneladas de peixes, moluscos, crustáceos e
aves marinhas. Embora o diagnóstico do fenômeno tenha sido tardio, ainda foi possível contar
cerca de 60 mil dinoflagelados por litro de água colhida do mar. As toxinas liberadas pelas
algas têm efeito neurotóxico, podendo levar à morte animais diversos, como peixes,
crustáceos e moluscos (PAULINO, 2005, p. 230).
5. DISCUSSÃO
O tema interações ecológicas foi abordado por todos os autores como previsto pelas
orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM+) de
Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias, que apresenta como um dos seis temas
estruturadores das principais áreas de interesse da Biologia, as interações entre seres vivos
(BRASIL, 2005). E como tal, os capítulos dedicados ao tema levaram isso em consideração
ao abordarem tanto as relações dentro de populações (intra-específicas) quanto entre
populações (interespecíficas). Neste momento é que apareceram as divergências, pois
segundo a revisão conceitual realizada, inúmeras são as formas de se classificar as interações,
principalmente, as interespecíficas (Tabela 2), foco deste estudo.
Por exemplo, Amensalismo que foi citada em 66,67% dos livros didáticos (Tabela 3),
também aparece em 75% dos livros consultados para a revisão (Tabela 2). Já Protocooperação
apareceu em todos os livros didáticos, porém de formas diferentes, ora como tal, ora como
Mutualismo facultativo (Tabela 3), enquanto nos livros consultados para a revisão só apareceu
nos livros do autor Eugene Odum – Odum (1988) e Odum e Barrett (2007) –, que o separou
do Mutualismo (Tabela 2). De acordo com a bibliografia consultada pelos autores dos livros
didáticos, o autor mais utilizado como base para esse assunto é o Odum (1988), juntamente
com Bewer (1994) e Ricklefs (2003). O que condiz com a classificação dada ao Mutualismo.
Porém, a interação designada como Neutralismo que é citada por estes autores, não apareceu
em nenhum livro didático (Tabela 3). Não é citada também a provável utilização de outros
para complementar o assunto.
A abrangência na forma de classificar as interações ecológicas pelos livros de
referência pode ter permitido a apresentação de outras interações pelos livros didáticos, como
Inquilinismo, Herbivoria, Antibiose e Sinfilia. O que pode gerar confusões quando os mesmos
fazem associações com as demais interações, como no caso do Inquilinismo, que ora é
apresentado como semelhante ao Comensalismo, ora considerado parte do Amensalismo
(LINHARES e GEWASDSZNAJDER, 2007 e PAULINO, 2005) ora parte da Competição
(LAURENCE, 2005). O contrário pôde ser visto para Herbivoria, a sua natureza dúbia (ora
Predação, ora Parasitismo) foi apresentada com clareza pela maioria dos livros didáticos. No
caso da Simbiose, os autores assumiram existir uma imprecisão quando a definição, porém
74
além de demonstrarem tal dificuldade, todos determinam uma que melhor lhe convêm e
assumem para o seu livro, como diz Silva Junior e Sasson (2005) ao utilizar a expressão “mais
cômoda” (p. 380).
O mesmo resultado foi observado por Rocha e colaboradores (2007) ao analisar o
conteúdo de evolução e diversidade biológica em 20 livros didáticos de Ensino Médio,
incluindo os seis utilizados no presente trabalho. Os autores detectaram que equívocos
difundidos no meio da biologia evolutiva no ensino superior, como o mal uso de termos
científicos, de definições e de concepções básicas relacionadas, também foram encontrados
nos livros didáticos. Esse mesmo grupo de pesquisadores foi responsável pela seleção dos
livros didáticos que compuseram o Guia de Biologia do Programa Nacional do Livro para o
Ensino Médio (PNLEM/2009).
No PCNEM+ (2005), é proposto que no tema interações ecológicas seja desenvolvida
a concepção de que os seres vivos estabelecem relações, do funcionamento do planeta e da
idéia de que as modificações ocorridas em determinados componentes do sistema interferem
em muitos outros. Desta forma, tendo a percepção de que as interações podem ser alteradas e
desorganizadas definitivamente ou por um longo tempo, até que se equilibrem novamente.
Além disso, deve ser desenvolvida a instrumentalização para participação em debates
relativos às questões ambientais.
No entanto, neste trabalho, o ser humano esteve sempre relacionado com a interação
Parasitismo e, em menos vezes, com Competição. O que pode dar uma idéia de que não só os
seres humanos são separados da natureza, como ela nos faz mal. O único autor que se
destacou dos demais neste caso foi Paulino (2005), pois demonstrou a integração do homem
na maioria das interações: Predação, Parasitismo, Comensalismo, Mutualismo, Competição e
Amensalismo.
Os exemplos citados pelos autores eram, em sua maioria, clássicos. Ou seja, exemplos
já amplamente difundidos nos livros texto do assunto. O que por um lado ajuda a simplificar,
pois são todos exemplos claros, por outro lado, dificulta a fixação do conteúdo. Isso porque,
muitas vezes são exemplos europeus ou norte-americanos, não sendo próximos da realidade
do leitor brasileiro.
A maioria dos autores apresentou, pelo menos, um exemplo com espécies ou regiões
brasileiras nos exercícios oferecidos pelo capítulo, com exceção de Amabis e Martho (2005).
Por conseguinte, a ciência, apresentada nos trabalhos científicos realizados no País, encontra-
se pouco utilizada como instrumento para interpretar a realidade. Portanto, apesar do Guia de
75
Biologia do PNLEM/2009 (BRASIL, 2008) afirmar que, de forma geral, todos os livros
apresentaram contextualização dos conhecimentos científicos, o tema em questão foi
abordado de modo descontextualizado da realidade do leitor. Em contraponto, todos
contextualizaram e integraram o tema com outros conceitos da Biologia, como dinâmica
populacional, nicho ecológico, cadeia trófica e evolução.
Do mesmo modo, Vaniel e Bemvenuti (2006), com livros de Ensino Fundamental,
demonstraram que a maioria não faz relação da teoria com a prática, nem mesmo mostram a
importância dos conteúdos com o cotidiano. No entanto, 70% dos livros abordaram o
conteúdo no contexto nacional, dando maior amplitude de idéias e conhecimento das regiões
do País. Para Sandrin e colaboradores (2005), a maioria dos livros caracterizou-se pela falta
de contextualização, assim como Casagrande (2006). Além disso, também encontraram mais
problemas nos livros de Ensino Fundamental do que nos do Ensino Médio (Sandrin et al.,
2005).
Além do conteúdo, todo livro didático tem o compromisso de ajudar a desenvolver
competências e habilidades, no caso na área de Ciência Natureza, Matemática e suas
Tecnologias, que envolvem Biologia, Química, Física e Matemática. Estas disciplinas devem
compreender as ciências como construções humanas, relacionando o desenvolvimento
científico com a transformação da sociedade; entender e aplicar métodos e procedimentos
próprios das Ciências Naturais; entender a relação entre o desenvolvimento das ciências e o
tecnológico, e associar as diferentes tecnologias aos problemas que se propuseram e propõem
solucionar; entender o impacto das tecnologias na sua vida pessoal, nos processos de
produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social; entre outras (BRASIL,
2000).
Neste intuito, alguns autores foram capazes de, através de seus exemplos e exercícios,
contribuírem para a construção das seguintes habilidades e competências:
Identificar variáveis relevantes e selecionar os procedimentos necessários para
produção, análise e interpretação de resultados de processos ou experimentos científicos e
tecnológicos (BRASIL, 2000), como no caso do Linhares e Gewasdsznajder (2007) ao sugerir
em um exercício o passo a passo de um experimento de terrário;
Apropriar-se dos conhecimentos da área e entender o funcionamento do mundo
natural, planejar, executar e avaliar ações de intervenção na realidade natural (BRASIL,
2000), como no caso do Lopes e Rosso (2006), ao apresentar um texto complementar sobre o
76
e gestão (BRASIL, 2000). Apesar disso tudo, nenhum dos livros incentivou a utilização de
novas tecnologias aplicadas ao ensino.
No entanto, todos os autores utilizaram textos complementares e atividades em grupo,
práticas ou debate. Neste caso, com exceção de Amabis e Martho (2005). Essas atividades
complementares permitem que os alunos desenvolvam competências de julgar e elaborar
ações de intervenção, construir argumentações consistentes para se posicionar relativamente
às questões ambientais, formular diagnósticos e propor soluções para os problemas
apresentados com base nos conhecimentos científicos (BRASIL, 2005).
78
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ROCHA PLB, ROQUE N, VANZELA ALL, SOUZA ÂFL, MARQUES AC, VIANA BF,
KAWASAKI CS, LEME CLD, FARIA D, MEYER D, OMENA E, OLIVEIRA ES, ASSIS
JGA, FREGONEZE J, QUEIROZ LP, CARVALHO LM, NAPOLI M, CARDOSO MZ,
SILVEIRA NA, HORTA PA, SANO PT, ZUCOLOTO RB, TIDON R, SILVA SAH, ROSA
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480 p.
86
ANEXOS
87
14. Há, no capítulo ilustrações para exemplificar as interações? (X) Sim ( ) Não
14.1. Quais? ( ) Gráficos ( ) Tabelas (X) Esquemas (X) Figuras
14.2. Estes são explicados no texto? (X) Sim ( ) Não
14. Há, no capítulo ilustrações para exemplificar as interações? (X) Sim ( ) Não
14.1. Quais? (X) Gráficos (X) Tabelas (X) Esquemas (X) Figuras
14.2. Estes são explicados no texto? (X) Sim ( ) Não
14. Há, no capítulo ilustrações para exemplificar as interações? (X) Sim ( ) Não
14.1. Quais? ( ) Gráficos ( ) Tabelas (X) Esquemas (X) Figuras
14.2. Estes são explicados no texto? (X) Sim ( ) Não
14. Há, no capítulo ilustrações para exemplificar as interações? (X) Sim ( ) Não
14.1. Quais? (X) Gráficos (X) Tabelas (X) Esquemas (X) Figuras
14.2. Estes são explicados no texto? (X) Sim ( ) Não
14. Há, no capítulo ilustrações para exemplificar as interações? (X) Sim ( ) Não
14.1. Quais? (X) Gráficos (X) Tabelas (X) Esquemas (X) Figuras
14.2. Estes são explicados no texto? (X) Sim ( ) Não
12.1 Como? (X) Predação (X) Parasitismo ( ) Outra interação ( ) Outra forma
14. Há, no capítulo ilustrações para exemplificar as interações? (X) Sim ( ) Não
14.1. Quais? ( ) Gráficos (X) Tabelas (X) Esquemas (X) Figuras
14.2. Estes são explicados no texto? (X) Sim ( ) Não