O Jardim Perfumado De Xeque Nefzaui é um delicioso manual de
costumes sexuais escrito no início do século XVI, que revela curiosidades e costumes sexuais da África islâmica medieval. Em edição especial, o livro pode ser considerado o equivalente árabe para o Kama Sutra indiano, de Vatsyayana (que inclusive é citado por Xeque no capítulo sobre posições sexuais).
Para muitos, porém, a franqueza e o colorido da linguagem de O Jardim
Perfumado De Xeque Nefzaui, bem como os enredos mirabolantes de suas histórias, o tornam um livro ainda mais saboroso que a obra de Vatsyayana.
Este livro é uma versão para o português de uma edição publicada em
1886, na Inglaterra, pelo célebre erudito britânico Sir Richard Burton, que o traduziu de uma versão francesa, publicada antes de 1850.
É curioso observar que em 1890, ano em que morreu, Burton estava
prestes a publicar a sua própria tradução do original árabe desta obra, que deveria substituir a versão de 1886.
Teria sido uma edição mais completa, contendo, inclusive, um capítulo
inédito sobre homossexualismo, suprimido na tradução francesa. Infelizmente, porém, o pudor vitoriano da senhora Burton levou-a a queimar o manuscrito após a morte do marido, condenando aquela nova tradução ao total esquecimento.
O texto que nos chega, porém, é um testemunho suficientemente
eloqüente da erudição e do escrúpulo daqueles que a verteram para idiomas ocidentais. Da mesma forma, é uma amostra vívida do modo de pensar e de fazer amor do modo árabe do século XVI, um elogio ao amor físico, sem hipocrisias ou meias palavras, embora redigido com a arte e a elegância características das verdadeiras obras-primas.
A franqueza com que o Xeque fala sobre sexo surpreende. As metáforas
utilizadas pelo autor para os órgãos sexuais femininos e masculinos são engraçadas, criativas e até poéticas. Os apelidos que os árabes atribuíam às partes íntimas de homens e mulheres são tão insólitos quanto “o extintor de paixões”, “a primitiva”, “o cavador de poços”, “o libertador”, “a sempre pronta para a batalha”.
Xeque também preocupou-se em descrever meticulosamente inúmeras
posições para o ato sexual, bons exemplos curiosos são “o parafuso de Arquimedes” e a “curva do arco-íris”. Devido à distância entre a nossa sociedade e a sociedade medieval árabe, obviamente muitos dos hábitos e práticas descritos em O Jardim Perfumado De Xeque Nefzaui podem parecer estranhos, ou bizarros, para nós.
Mas são essas diferenças culturais que tornam O Jardim Perfumado De
Xeque Nefzaui fascinante – um manual erótico escrito há quase 500 anos, e que ainda hoje consegue nos mostrar a sensualidade da cultura árabe.