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Tubarão
2021
LUCAS DE BITTENCOURT DO NASCIMENTO
Tubarão
2021
Aos meus familiares e amigos.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a Deus por me conceder saúde neste momento tão difícil
pelo qual passamos, e por não permitir que eu desanimasse durante a realização deste
trabalho.
Agradeço ao meu pai, Roberto do Nascimento, e à minha mãe, Katia Regina de
Bittencourt do Nascimento, por me ensinarem os grandes valores de um homem, baseados na
dignidade, lealdade, fé e honestidade, e por sempre me fazerem acreditar que posso ir mais
além. Eterna gratidão.
À minha namorada, Helen Esmeraldino Nunes, que de uma forma ou de outra sempre
reservou um pouco do seu tempo para me ajudar nesta longa caminhada, e mesmo nos
momentos mais difíceis, me fez acreditar que o objetivo a ser alcançado estava logo em frente
e que bastava apenas um pouco de esforço para atingi-lo. Minha companheira e meu amor.
A todo corpo docente e aos servidores do Curso de Direito da UNISUL, em especial, à
minha brilhante orientadora Terezinha Damian Antônio, que além da dedicação pessoal e
seriedade profissional, sempre acreditou na fundamentação deste trabalho acadêmico. Meus
mais profundos agradecimentos.
Por fim, agradeço à todas as outras pessoas que de alguma forma tenham contribuído
para a minha formação.
“Cada sonho que você deixa para trás, é um pedaço do seu
futuro que deixa de existir.” (Steve Jobs)
RESUMO
OBJECTIVE: This monographic work aims to analyze the foundations adopted by the Court
of Justice of the State of Santa Catarina in granting or denying the judicial provision of
consent for a child and adolescent to travel abroad in the company of only one of the parents.
METHOD: Therefore, an exploratory research with a qualitative approach was carried out. As
for data collection, bibliographical research was used, based on the study of doctrines, books,
articles and dissertations, and documentary research, through the reading of legislation and
analysis of rulings handed down by the Santa Catarina Court. RESULTS: All children and
adolescents are subjects of rights, guided by the doctrine of full protection and guaranteed by
the Federal Constitution, and it is the duty of the family, the State and society to always
implement them. Within the family, the institute of family power was created, which
represents the responsibilities of parents in relation to their underage children, based on the
principle of equality between parents and the principle of responsible parenthood.
CONCLUSION: The regulation of national and international travel, provided for in the
Statute of Children and Adolescents (Articles 83 to 85) and in Resolution No. 131/2011, of
the National Council of Justice, aims to guarantee the fundamental rights of the children and
adolescents and make the practice more difficult human trafficking and illegal adoptions. In
analyzing the judgments, it was concluded that the Court of Justice of the State of Santa
Catarina cautiously approaches cases involving the provision of the consent of one of the
parents for the children's trip abroad, always observing the principle of the best interest of the
child and of the adolescent and the integral protection of the fundamental rights of the infant.
The concern of the Santa Catarina Court in rejecting unjustified denials of authorization,
perpetrated by parents, with the aim of avoiding an unfair position imposed on those who
intend, in good faith, to travel, was verified.
Keywords: Trip abroad. Judicial supply. Consent.
LISTA DE QUADROS
1 INTRODUÇÃO
Todo ser humano tem o direito de locomoção garantido pela Constituição Federal,
previsto expressamente em seu artigo 5°, inciso XV. Quando se fala em crianças e
adolescentes, este direito está consolidado no Estatuto da Criança e do Adolescente, que prevê
o direito de ir, vir e estar em logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as
restrições legais. (BRASIL, 1988; BRASIL, 1990).
De todo modo, a garantia de locomoção não deve ser compreendida em sua plenitude,
ou seja, deve-se buscar sua harmonia com os demais direitos, como a vida, a saúde e a
dignidade, que, conforme estabelece o artigo 227 da Constituição Federal, cabe ao Estado, à
família e à sociedade garanti-los à criança e ao adolescente, colocando-os a salvo de toda
forma de negligência, exploração e crueldade. (BRASIL, 1988).
Nessa toada, fora desenvolvida pelos legisladores a necessidade de autorização
judicial para viagem de criança e de adolescente ao exterior, sendo regulamentada pelos
artigos 84 e 85 do Estatuto da criança e do Adolescente, prevendo de forma expressa a
necessidade de anuência de ambos os genitores, além de determinadas formalidades legais,
para que seus filhos possam deixar o país. (BRASIL, 1990). Nesse sentido, Rossato, Lépore e
Cunha (2019, p. 225) lecionam de forma clara que:
[…] como maneira de prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da
criança e do adolescente, o legislador poderá impor certas condições para que esse
deslocamento se efetive. Por esse motivo, os arts. 83 a 85 tratam dos casos em que
haja necessidade de autorização expedida pelo Juiz da Vara da Infância e da
Juventude.
Uma das prerrogativas é que somente será dispensável essa autorização nos casos em
que a criança e/ou o adolescente estiverem acompanhados de ambos os pais ou responsável,
sendo esse último o guardião legal ou tutor. Em outros casos, podem os filhos viajarem na
companhia de apenas um dos pais, desde que haja a expressa autorização do outro genitor
através de documento com firma reconhecida, conforme prevê o artigo 84, incisos I e II, do
Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990).
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Por sua vez, o artigo 85 do mesmo diploma legal determina que sem essa prévia e
expressa autorização judicial, nenhuma criança ou adolescente que tenha nascido em território
nacional poderá deixar o país em companhia de um estrangeiro residente ou domiciliado no
exterior (BRASIL, 1990). Estes requisitos são de suma importância para combater possível
tráfico de crianças e evitar o seu afastamento da convivência com um dos pais ou
responsáveis. Referente a isto, o Conselho Nacional de Justiça ampliou as hipóteses da
dispensa dessa autorização judicial, editando a Resolução nº 74/2009, que foi depois
substituída pela Resolução nº 131/2011 (NUCCI, 2014, p. 242).
Resumidamente, têm-se que será dispensada a autorização nos casos em que
a criança ou o adolescente brasileiros residentes no Brasil forem viajar ao exterior
acompanhadas de ambos os pais; acompanhadas de apenas um dos pais, com autorização
escrita do outro (com firma reconhecida); acompanhada de terceiros maiores e capazes,
juntamente com designação e autorização expressa de ambos os pais (com firma
reconhecida); e desacompanhas, com autorização expressa de ambos os pais, também
devendo ser reconhecida a firma (BARROS, 2015).
No entanto, existem questões que se tornam sensíveis ao núcleo familiar, como nos
casos em que não há o consentimento entre os genitores para que um deles viaje para o
exterior com o filho, ou quando não se tem conhecimento do paradeiro de um dos genitores.
Nessas circunstâncias, se fará necessário o suprimento judicial do consentimento de um dos
pais, observando-se as questões subjetivas do caso concreto e baseando-se nos princípios da
proteção integral e do melhor interesse da criança e do adolescente. Este é o tema central
desta pesquisa.
Nesta seara, é relevante destacar o posicionamento do Tribunal de Justiça do Estado de
Santa Catarina na Apelação n° 0300001-52.2017.8.24.0104, de Ascurra. Tratava-se de um pai
que se recusava a conceder a autorização para que a criança pudesse viajar e permanecer no
exterior com sua genitora, onde já residia há aproximadamente sete anos, sob a justificativa da
limitação à convivência de pai e filho imposta pela distância. O Juízo decidiu pela
improcedência da demanda, e entendeu ser o melhor interesse da criança, no caso específico,
resguardar o direito de visita do genitor no período das férias escolares e a permanência da
criança junto à genitora, visto que restou comprovada sua adaptação ao novo núcleo familiar
constituído pela mãe e o padrasto. (SANTA CATARINA, 2018a).
O mesmo Tribunal decidiu o contrário na Apelação n° 2013.051836-3, de Balneário
Camboriú. O requerido recusava-se a conceder a autorização para que o filho viajasse ao
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exterior com sua genitora sob os argumentos de que houve a perda do objeto da demanda,
visto que o pedido indicava a pretensão de embarque em 17 de outubro e fora citado somente
no dia 18 do referido mês. Na sequência, pediu a nulidade da sentença por demonstrar-se
extra petita. No mérito, justificou a falta de autorização no fato de pretender a mãe da criança
levá-la ao exterior em meio ao ano letivo, em prejuízo das aulas e do rendimento escolar do
infante. Argumentou, também, que seu direito de visita vem sendo exercido de forma
precária, devendo ser priorizado o contato paterno com o filho. Ao final, o recurso foi
provido, indicando a perda superveniente do objeto da ação (SANTA CATARINA, 2013).
Este tema fora escolhido pelo autor quando realizava a matéria de Direito de Família,
do Curso de Direito da Unisul, em uma das atividades executadas em sala de aula, a qual
abordava a autorização judicial de consentimento para a viagem de crianças e de adolescentes
ao exterior. Na ocasião, deparou-se com a questão do suprimento judicial de consentimento, e,
assim, instigado a compreender melhor o assunto, nasceu o interesse no presente Trabalho de
Conclusão de Curso.
Não por menos, este estudo é imensamente relevante para o meio acadêmico, uma vez
que não foram encontrados outros trabalhos nas bases de dados CAPES e SciELO que
abordam o conteúdo escolhido, o que poderá contribuir para suscitar novas discussões,
tornando-se uma fonte de pesquisa e conhecimento na área. Além disso, esta pesquisa se
destaca por apresentar aos profissionais da área e operadores do Direito argumentos que
possam servir como base de pedido ou de decisão nas questões que envolvam o suprimento de
consentimento de um dos genitores nos casos de viagem de menor ao exterior.
Ante o exposto, essa monografia tem por objetivo geral: Analisar os fundamentos
adotados pelo Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina na concessão ou
negativa do suprimento judicial de consentimento para viagem de criança e adolescente
ao exterior na companhia de apenas um dos genitores.
Para tanto, quanto ao seu delineamento, esta monografia classifica-se em seu nível
como exploratória, uma vez que busca identificar quais fundamentos são adotados pelo
Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina que sustentam a concessão, ou não, do
suprimento judicial de consentimento para viagem de criança e adolescente ao exterior na
companhia de apenas um dos genitores. Segundo Heerdt e Leonel (2007, p.63), a pesquisa
exploratória tem como objetivo “proporcionar maior familiaridade com o objeto de estudo”.
Quanto à sua estrutura, esta monografia foi dividida em 5 (cinco) capítulos. Este
primeiro trouxe a introdução, onde foram expostos o tema, a questão problema, o objetivo
geral, a justificativa, o delineamento da pesquisa e sua estrutura.
Por fim, o quinto capítulo apresenta as conclusões alcançadas com a realização deste
Trabalho de Conclusão de Curso.
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A proteção da criança e do adolescente não é algo que sempre existiu no Brasil, por
mais que isto seja inimaginável nos tempos atuais. A primeira Constituição do país, em 1824,
não fazia referência à crianças e adolescentes, não havia sua imagem como sujeitos de
direitos, tampouco havia direitos, momento em que os “menores” eram considerados adultos
em miniatura, ou seja, não havia distinção, e crianças podiam ser taxadas de criminosas, a
depender do seu nível de discernimento (SPOSATO, 2011).
Foi esse Estatuto que apresentou toda uma mudança de paradigma, sendo a primeira
legislação com a doutrina da proteção integral na América Latina a se inspirar na Declaração
Universal dos Direitos da Criança, do ano de 1979, bem como na Convenção Internacional
sobre os Direitos da Criança, aprovados pela Organização das Nações Unidas em 1989. O
Brasil ratificou a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança no dia 24 de setembro
de 1990. (ROSA, 2020).
Após isso, o país evoluiu grandemente na defesa dos menores de idade, tendo sido
promulgadas no ano de 2000 a Lei 10.097, que proíbe qualquer trabalho a menores de 16
(dezesseis) anos, salvo na condição de aprendiz, a partir dos 14 (quatorze) anos, e a Lei 9.970,
que instituiu o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e
Adolescentes. Em 2003, fora criado o importantíssimo canal de denúncias, o Disque 100 ou
Disque Direitos Humanos, que até os tempos atuais serve de imensa porta para garantia da
segurança da população infanto-juvenil (ROSA, 2020).
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Dentre diversos outros textos legais publicados ao longo desses anos, destaca-se
também a Lei 13.010, de 2014, que estabelece o direito da criança e do adolescente de serem
educados e cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante, e a
Lei 13.431, de 2017, que estabelece o sistema de garantias de direitos da criança e do
adolescente vítima ou testemunha de violência (BRASIL, 2014; BRASIL, 2017).
Esse pensamento tão distorcido daquilo que se prega hoje foi inserido na sociedade
daquela época através do cenário da desigualdade social no início do século XX, em que
havia muitas crianças e adolescentes abandonadas nas ruas, ignoradas, e que recorriam aos
delitos para garantir o próprio sustento e o sustento da família. Assim, a legislação não se
preocupou com a proteção e a garantia dos direitos dos menores, e sim com a intervenção
jurídica para “regularizar” os conflitos instalados. Os jovens, assim, eram tratados como
objetos das medidas judiciais. (HOLANDA, 2012).
Frisa-se que a população infantojuvenil era vista somente como um objeto que
precisava ser moldado pelas medidas judiciais, inexistindo um texto legal que lhe garantisse
proteção, muito menos havia um rol de direitos. A partir do rol de situações em que se
considerava o “menor em situação irregular”, o Estado conseguia fundamentar sua
intervenção através do Juiz de Menores, interferindo na vida de crianças e adolescentes que
apresentassem “desvio de conduta” ou “perigo moral”, símbolos de ameaça para o poder
público daquela época. (LEITE, 2003).
Como fora visto no tópico anterior, o Brasil caminhou aos poucos para então alcançar
o status de protetor dos direitos das crianças e adolescentes, uma vez que nem sempre foi
assim. Felizmente, a Constituição de 1988 apresenta um belo rol de direitos em seu artigo 5º
(BRASIL, 1988). O Estatuto da Criança e do Adolescente, por sua vez, assumindo seu papel,
também frisa esse rol de direitos, agora assegurados à população infantojuvenil, transcritos
em seus artigos 3º e 4º:
O direito à vida é basilar de todos os demais direitos, uma vez que, não recebendo o
devido respeito, põe em risco todos os demais. Tavares (2010, p. 569) ensina que o direito à
vida “é o mais básico de todos os direitos, no sentido de que surge como verdadeiro pré-
requisito da existência dos demais direitos consagrados constitucionalmente”. Tamanha
importância requer cuidados, e, com isto, o artigo 7º do ECA determina que o Estado efetive
políticas públicas voltadas ao atendimento e proteção dessa população (BRASIL, 1990).
Ademais, é por esse motivo que o Estatuto contém um título próprio que regulamenta
especificamente as medidas de proteção à criança e ao adolescente, e outro que trata das
medidas de prevenção.
O direito à liberdade traduz-se no fato de que crianças e adolescentes são livres para
se manifestar e se expressar do jeito que melhor entenderem, e compreende um conjunto de
permissões, estabelecidas nos incisos do artigo 16 do ECA:
“Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua
família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência
familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral”
(BRASIL, 1990).
Nesse sentido, a família natural, ou original, é a primeira comunidade da criança e do
adolescente, e sempre que possível, deverá ser mantida. Conforme o texto legal, a prioridade é
que permaneçam na família original, mas, quando se fizer necessário, poderão ser criadas e
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salienta-se que o direito à alimentação não se resume apenas no fato de uma criança ou
adolescente terem o que comer, mas também no valor nutricional do alimento, sua quantidade
e sua qualidade, e se há a certeza de uma próxima refeição. Ora, não é suficiente que uma
pessoa se alimente apenas uma vez no dia, ainda mais se a própria comida não for adequada.
Assim, esse direito consiste em muito mais do que uma refeição. (MENEZES, 2005).
desrespeito como uma brincadeira, que desencadeará danos irreversíveis ao seu futuro, como
afirmam Rossato, Lépore e Cunha (2019, p. 102):
Todo ser humano tem direito ao respeito como forma de ser resguardada a sua
intimidade, sua identidade e valores. Contudo, em relação às crianças e adolescentes,
esse direito surge potencializado, pois os danos que podem surgir em razão de sua
inobservância são irreversíveis, acompanhando aquelas pessoas por toda a sua vida.
É pelo mesmo motivo que o Estatuto da Criança e do Adolescente também entregou
tamanha importância ao direito à dignidade, estipulando que é dever de todos, inclusive do
Estado, colocar a criança e o adolescente a salvo de “qualquer tratamento desumano, violento,
aterrorizante, vexatório e constrangedor”. (BRASIL, 1990).
Significa que, além de todos os direitos assegurados aos adultos, afora todas as
garantias colocadas à disposição dos maiores de 18 anos, as crianças e os
adolescentes disporão de um plus, simbolizado pela completa e indisponível tutela
estatal para lhes afirmar a vida digna e próspera, ao menos durante a fase de seu
amadurecimento.
Nessa esteira, pode-se identificar que a proteção integral se encontra intimamente
ligada ao tema central da monografia, uma vez que esses limites deverão ser analisados pelo
poder judiciário, podendo esse mitigar ou não os direitos dos genitores para assegurar assim a
proteção integral dos direitos da criança e do adolescente.
Todos temos direito à vida, à integridade física, à saúde, à segurança etc., mas os
infantes e jovens precisam ser tratados em primeiríssimo lugar (seria em primeiro
lugar, fosse apenas prioridade; porém, a absoluta prioridade é uma ênfase), em todos
os aspectos. Precisam ser o foco principal do Poder Executivo na destinação de
verbas para o amparo à família e ao menor em situação vulnerável; precisam das leis
votadas com prioridade total, em seu benefício; precisam de processos céleres e
juízes comprometidos.
Assim, crianças e adolescentes devem ser sempre a prioridade do Estado, da sociedade
e da família, buscando-se garantir os direitos da população infantojuvenil, uma vez que se
encontram em desenvolvimento e representam o futuro do país.
[..] indispensável que todos os atores da área infantojuvenil tenham claro para si que
o destinatário final de sua atuação é a criança e o adolescente. Para eles é que se tem
que trabalhar. É o direito deles que goza de proteção constitucional em primazia,
ainda que colidente com o direito da própria família. (MACIEL; CARNEIRO, 2018,
p. 79).
Realizadas algumas explanações a respeito do melhor interesse da criança e do
adolescente, passa-se para o estudo do princípio da convivência familiar.
É nesse sentido que se faz presente a importância dos municípios na realização das
políticas públicas de abrangência social, tendo em vista que são eles os mais próximos dos
cidadãos necessitados (ULIANA, 2017). Em consonância, o ECA visa proteger crianças e
adolescentes, resguardando seus direitos, dispondo em seu artigo 86 que “a política de
atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto
articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, do Distrito Federal e
dos municípios”, preconizando o princípio da municipalização (BRASIL, 1990).
I - municipalização do atendimento;
II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da criança e
do adolescente, órgãos deliberativos e controladores das ações em todos os níveis,
assegurada a participação popular paritária por meio de organizações
representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais;
III - criação e manutenção de programas específicos, observada a descentralização
político-administrativa;
IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais vinculados aos
respectivos conselhos dos direitos da criança e do adolescente;
V - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria,
Segurança Pública e Assistência Social, preferencialmente em um mesmo local, para
efeito de agilização do atendimento inicial a adolescente a quem se atribua autoria
de ato infracional;
VI - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria,
Conselho Tutelar e encarregados da execução das políticas sociais básicas e de
assistência social, para efeito de agilização do atendimento de crianças e de
adolescentes inseridos em programas de acolhimento familiar ou institucional, com
vista na sua rápida reintegração à família de origem ou, se tal solução se mostrar
comprovadamente inviável, sua colocação em família substituta, em quaisquer das
modalidades previstas no art. 28 desta Lei;
VII - mobilização da opinião pública para a indispensável participação dos diversos
segmentos da sociedade.
VIII - especialização e formação continuada dos profissionais que trabalham nas
diferentes áreas da atenção à primeira infância, incluindo os conhecimentos sobre
direitos da criança e sobre desenvolvimento infantil;
IX - formação profissional com abrangência dos diversos direitos da criança e do
adolescente que favoreça a intersetorialidade no atendimento da criança e do
adolescente e seu desenvolvimento integral;
X - realização e divulgação de pesquisas sobre desenvolvimento infantil e sobre
prevenção da violência (BRASIL, 1990).
Destaca-se que o estatuto, ao prever essa descentralização das atividades por meio da
municipalização do atendimento, buscou frisar a importância da abrangência dos municípios
na política de atendimento, considerando sua proximidade com os desafios e problemas
enfrentados pelas crianças e adolescentes que vivem no seu território. Carvalho (1999, p. 155)
explica a importância desse princípio da seguinte forma:
O papel do município, para que a família possa desempenhar bem a sua função,
ocupa uma posição de destaque, na condução das ações necessárias, através de seus
dirigentes, entidades, órgãos e habitantes. Reconhecidamente é no município, a
instância mais visível e próxima da população, onde as relações políticas se dão com
maior intensidade.
Para que seja assegurada a prioridade da população infanto-juvenil nos programas
sociais e para que a destinação de recursos seja voltada para a infância e juventude, é
necessário que o princípio da municipalização seja efetivamente praticado, através da criação
de conselhos municipais, e que os Estados e a União atuam conjuntamente com os
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Com a chegada do cristianismo a partir do século IV, que se tornou a religião oficial
do Estado Romano, e com o imperador Constantino, foi proibida a venda, a morte e a entrega
do filho ao credor (PEREIRA, 2020). Insta mencionar que o Direito Romano não fazia
previsão do instituto da maioridade, pelo qual, no direito moderno, o filho, ao atingir uma
idade determinada, desvinculava-se do pátrio poder. (RAMOS, 2016).
Já na época do Brasil colônia, sob a organização das Leis de Portugal, o pai ainda
tinha um domínio quase absoluto sobre os filhos, a esposa e os escravos, como nos ensina
Pereira (2020, p. 647):
[...] No art. 1.518, do esboço do Código Civil de Teixeira de Freitas, editado entre
1860 e 1865, o pater família e podia corrigir e castigar moderadamente seus filhos,
podendo requerer autorização ao Juiz dos Órfãos para a detenção dos filhos até
quatro meses na casa correcional, sem o direito a recurso.
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Poder familiar não é a expressão mais apropriada. A palavra poder não expressa a
verdadeira intenção de atender ao princípio do melhor interesse da criança e do
adolescente, mas sim o sentido de posse. Familiar remeteria também à ideia de que
os avós e irmãos estariam revestidos dessa função. A expressão mais adequada para
a família atual, que é fundada na igualdade de gêneros e é democrática, seria
autoridade parental, a qual exterioriza a ideia de compromisso de ambos os pais com
as necessidades dos filhos, de cuidar, proteger, educar, dar assistência e colocar
limites.
Enfim, são inegáveis os avanços do instituto do poder familiar, afastando-se de suas
características abusivas inicialmente e passando a ser visto não somente como um poder, mas
também como um dever, em que os pais precisam estar presentes na vida de seus filhos, ainda
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que estejam separados ou que haja conflito familiar entre eles, visando a sua educação e
criação pautada no respeito e, sobretudo, no afeto. O poder familiar, portanto, é o poder-dever
de tutela conferido aos pais em relação aos seus filhos, cabendo a eles uma série de
atribuições, envolvendo-se direitos, obrigações e responsabilidades que asseguram os direitos
de crianças e adolescentes (RAMOS, 2016).
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. [...]
§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade
responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado
propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada
qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. (BRASIL,
1988).
Tal princípio atribui à família, independente do seu modelo, a necessidade de um
planejamento responsável e consciente para a formação familiar, seja na decisão de se ter
filhos ou não, inclusive se existe condições mínimas para a criação desses. Nucci (2018, p.
17) leciona que: “Nem sempre ter um filho é um ato de responsabilidade. Nem sempre os pais
que o geraram efetivamente o querem como tal. Rejeições existem em todas as esferas,
mormente quando estão presentes os sentimentos humanos, em grande parte indecifráveis”.
Essa responsabilidade, então, atribuída aos pais na criação de seus filhos, pode ser
tanto material quanto afetiva. A assistência material é aquela que se enquadra no âmbito
econômico, e a assistência moral caracteriza-se pelo afeto, pelo apoio fraterno e intelectual,
sendo que a paternidade responsável regada por esta assistência viabilizará o desenvolvimento
da criança, garantindo sempre a proteção de seus direitos (PEREIRA, 2020).
Importa salientar que não se fala da responsabilidade paterna apenas nas relações do
bojo familiar, mas também em relação ao Estado, visto que, como consequência da
irresponsabilidade paterna, causa-se o aumento de crianças em situação de abandono, vagando
pelas ruas, desamparadas, cabendo ao poder público protegê-las, como explica Pereira (2020,
p. 195):
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o
pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:
I – dirigir-lhes a criação e a educação;
II – exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584;
III – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;
IV – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior;
V – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua residência
permanente para outro Município;
VI – nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais
não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar;
VII – representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos
da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-
lhes o consentimento;
VIII – reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;
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IX – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade
e condição. (BRASIL, 2002).
Para Dias (2021, p. 761), não consta nesse extenso rol o que para ela seria o mais
importante, o “dever dos pais com relação aos filhos: o de lhes dar amor, afeto e carinho”.
Todavia, o artigo 1.634 trata-se de um rol exemplificativo, aquele que estabelece apenas
alguns itens de uma extensa lista, visto que existem diversos outros deveres e direitos que
derivam dessa relação, como a concessão de emancipação e a autorização para que o filho
exerça o comércio. (REIS, 2005). Venosa (2003, p. 360) entende que, dentre todos os
aspectos do poder familiar, o seu conteúdo é:
É dessa forma, inclusive, que os pais poderão exercer todos os demais deveres que não
foram elencados na legislação, desde que legais e de acordo com os preceitos constitucionais.
Outrossim, são os pais que conhecem os seus filhos mais do que ninguém, entendendo
daquilo que eles mais necessitam para seu crescimento moral, intelectual, físico e social,
regulando sua educação, criação, estudos, lazer, guarda, afeto. Assim, o exercício do poder
familiar deverá ser praticado por meio do disposto no artigo 1.634 do Código Civil, além
daqueles que se fizerem necessários, lembrando sempre de seguir as normativas da
Constituição Federal (DIAS, 2021).
vestuário, a assistência à saúde, o cuidado, o afeto, o ensino e o lazer, todos pautados pela
ética e pela moral. Aqui se faz presente a grande missão dos pais em prover todos os
conhecimentos que um ser humano necessita adquirir, a fim de que seu futuro como cidadão
de bem seja garantido, estimulando o pensamento e o raciocínio dos filhos, ensinando-lhes o
que é certo e o que é errado. A educação, no mesmo sentido, deverá ser prestada pelos pais
ética e moralmente, através de bons exemplos, conselhos e lições, e pela matrícula em uma
instituição de ensino, devendo ser sempre estimulada a presença do filho na escola, os estudos
e a leitura, atentando-se sempre ao desvio da evasão escolar (DONIZETTI; QUINTELLLA,
2012).
necessidade de concessão de consentimento para viajem ao exterior, sendo este o tema central
desta pesquisa e que será abordado mais profundamente no próximo capítulo (BRASIL,
2002).
Nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe
sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar e representá-los judicial e
extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa
idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento: A necessidade dos pais,
perante seus filhos, de nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro
dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar, bem como o
dever de representá-los judicial e extrajudicialmente até os dezesseis anos, nos atos da vida
civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o
consentimento, revela a proteção que o legislador buscou garantir ao menor de idade,
objetivando não deixa-lo desamparado em qualquer situação que se fizer presente. Nota-se
que, independente do que vier a acontecer, o filho sempre deverá ser acompanhado por
alguém responsável, consentido pelos pais, que em sua falta proverá todas as condições
necessárias para seu pleno desenvolvimento intelectual, físico e moral (BRASIL, 2002).
Exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e
condição: Por fim, aos pais compete a atribuição de exigir dos filhos a obediência, o respeito
e os serviços próprios de sua idade e condição. É importante destacar que este dispositivo
legal se trata de um dever mútuo entre pais e filhos, onde o respeito deverá ser praticado e
preservado por ambas as partes. Os serviços próprios da idade e condição dos filhos deverão
ser cautelosamente postos em prática pelos pais, visto que jamais poderá ocorrer o desrespeito
ao princípio do melhor interesse da criança e do adolescente. Ademais, em nenhuma
circunstância será admitido o abuso dos filhos, não podendo deles ser exigida a prática de
atividades que gerem benefícios aos pais em seu detrimento (DONIZETTI; QUINTELLA,
2012).
40
Nessa esteira, é como forma de garantir a segurança de menores de idade que o poder
familiar poderá ser suspenso, extinto ou perdido daquele que o detém, tendo o legislador
elencado as situações em que isto ocorrerá. Antes de verificar-se os dispositivos legais, é
relevante destacar-se as diferenças entre suspensão, extinção e perda. Dias (2021, p. 317)
explica que:
Perda é uma sanção imposta por sentença judicial, enquanto a extinção ocorre pela
morte, emancipação ou extinção do sujeito passivo. Assim, há impropriedade
terminológica na lei que utiliza indistintamente as duas expressões. A perda do
poder familiar é sanção de maior alcance e corresponde à infringência de um dever
mais relevante, sendo medida imperativa, e não facultativa.
Pode-se resumir que a extinção do poder familiar ocorrerá pela interrupção definitiva
do poder familiar dos pais perante os filhos, e que a perda, sendo a forma mais grave de
destituição, ocorrerá através de ato judicial. Já a suspensão acontecerá quando também
determinada por decisão judicial, mas resume-se apenas na restrição do poder, que poderá ser
restituído até que cesse o que lhe motivou (ANDRADE, 2017).
A suspensão do poder familiar, por sua vez, é regulamentada pelo artigo 1.637 do
Código Civil e se dá através de ato jurisdicional, após a constatação do abuso de autoridade
dos pais, falta nos deveres à eles inerentes ou ruína de bens dos filhos, podendo ainda ocorrer
quando o pai ou a mãe forem condenados por sentença irrecorrível, cuja pena exceda a dois
anos de prisão (BRASIL, 2002):
Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles
inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente,
ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança
do menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar, quando convenha.
Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do poder familiar ao pai ou à
mãe condenados por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a
dois anos de prisão.
Salienta-se que a suspensão poderá ser revista e modificada pelo magistrado, mas
desde que a situação que fundamentou a decisão de suspensão seja sanada. Ainda, conforme
Dias (2021, p. 317), a decisão “pode ser decretada com referência a um único filho, e não a
toda a prole. Também pode abranger apenas algumas prerrogativas do poder familiar”.
Sendo considerada a sanção mais grave, a perda do poder familiar é prevista no artigo
1.638 do Código Civil, que assim determina:
Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que:
I - castigar imoderadamente o filho;
II - deixar o filho em abandono;
III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;
IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente.
V - entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de adoção.
Parágrafo único. Perderá também por ato judicial o poder familiar aquele que:
I – praticar contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar:
42
“A perda do poder familiar é a mais grave medida imposta em virtude da falta aos
deveres dos pais para com o filho, ou falha em relação à condição paterna ou
materna, estribando-se em motivos bem mais sérios que a suspensão. Será ela
imposta quando qualquer dos pais agir desviando-se ostensivamente da finalidade da
instituição, pelo que se lhe vai retirar a autoridade, destituindo-o de toda e qualquer
prerrogativa com relação ao filho”.
Ante todo o exposto, verifica-se a segurança e a proteção que o legislador buscou
garantir aos menores de idade, pois, por mais importante que seja o instituto do poder
familiar, se não for praticado conforme a Lei e os preceitos morais e éticos, nem mesmo
tamanha soberania é capaz de diminuir ou “esconder” as lesões que poderão atingir o melhor
interesse das crianças e adolescentes. Referido instituo reveste-se de caráter público, podendo
o Estado afastar de um dos genitores, de forma temporária ou definitiva, seu poder familiar.
Ainda, diversas são as notícias que revelam casos em que pais e mães fogem para
outro país com o próprio filho sem o consentimento do outro genitor, sendo tal ato intitulado
por alguns doutrinadores como sequestro interparental. Esse instituto, conhecido no âmbito
jurídico brasileiro como sequestro internacional de menores, é caracterizado como a retirada
44
ilícita de uma criança ou adolescente do seu país de residência habitual por um dos genitores.
Tal crime é extremamente danoso ao desenvolvimento da criança, tanto se praticado pelos
pais ou por terceiros. São várias as situações em que pais viajam ao exterior com seus filhos
sem o consentimento do outro responsável, como, por exemplo, após um divórcio com a
decretação da guarda unilateral, restando um conflito de interesses. Também há casos em que
os próprios genitores traficam os filhos, para os mais diversos crimes, seja para manter a
guarda unilateral, seja por motivo de vingança, ou para fins exploratórios e financeiros
(MÉRIDA, 2011).
mínimo de preocupação. Por fim, também não seria concretizado o princípio da convivência
familiar, pois se colocando a criança e o adolescente longe da família e seus amigos, essas
relações seriam rompidas.
Por tudo isso, para que a criança ou o adolescente viagem ao exterior na companhia de
apenas um dos pais, é necessária a autorização expressa do outro. Essa determinação legal
assegura os direitos fundamentais dos jovens e dos infantes, evitando mencionados prejuízos.
Assim, quando não há o consentimento de ambos os genitores para que se realize a viagem
internacional dos filhos, está-se diante de um conflito de interesses, direitos e princípios,
cabendo ao poder judiciário determinar se cabe ou não o suprimento do consentimento,
avaliando o melhor interesse da criança e do adolescente.
De acordo com o Código Civil de 2002, uma das atribuições pertinentes ao poder
familiar é a concessão ou negativa de consentimento dos pais para que os filhos menores de
idade possam viajar para fora do país, devendo os genitores decidirem, em conjunto, por
aquilo que atenda o melhor interesse da criança e do adolescente (BRASIL, 2002).
Por sua vez, o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 83, regula a
autorização para viajar, abrangendo tanto as viagens internacionais, quanto as realizadas
dentro do território nacional. Desse modo, nenhuma criança ou adolescente menor de
dezesseis anos poderá viajar para fora da comarca onde reside sem os pais ou responsáveis,
exceto se apresentar autorização judicial. Tal dispositivo buscou dificultar a prática do tráfico
interno e a fuga de adolescentes da residência dos seus pais ou responsáveis. O termo
responsável se refere ao tutor ou guardião legal, ambos nomeados por autoridade judiciária
competente, ou o dirigente da instituição de acolhimento, onde se encontrar a criança ou o
adolescente (DIGIÁCOMO, 2020).
Essa autorização, no entanto, não será exigida quando se tratar de comarca contígua à
da residência do menor de dezesseis anos, se na mesma unidade da Federação, ou na mesma
região metropolitana. Também não será exigida a autorização quando o infante estiver
acompanhado de um ascendente ou colateral maior, até terceiro grau, devendo tal condição
46
Quando a viagem for de nível internacional, referido Estatuto determina em seu artigo
84 que a autorização judicial se mantenha e que somente seja dispensada se a criança ou o
adolescente estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável, ou se na companhia de
apenas um dos pais, mas com expressa autorização do outro, através de documento com firma
reconhecida. A autorização do genitor deverá ser concretizada em documento com firma
reconhecida, e a autorização judicial deverá ser requerida perante o Juízo da Infância e da
Juventude, do local do domicílio dos pais ou responsável. A autoridade judiciária deverá
analisar atentamente a motivação da viagem, o itinerário e o destino final, o tempo de
permanência no exterior, a relação da criança ou do adolescente com o requerente da
autorização e com a pessoa que eventualmente irá acompanhá-la, o potencial risco em seus
estudos, e todos os demais quesitos que atendam o melhor interesse do menor de idade.
Ademais, mencionado livro legal, em seu artigo 85, estabelece que nenhuma criança ou
adolescente nascido em território nacional poderá sair do país em companhia de um
estrangeiro residente ou domiciliado no exterior sem prévia e expressa autorização judicial
(BRASIL, 1990; DIGIÁCOMO, 2020).
Este tópico analisará 10 (dez) acórdãos proferidos pelo Tribunal de Justiça do Estado
de Santa Catarina proferidos no período compreendido entre janeiro/2014 à dezembro/2020
que envolvem o suprimento judicial de consentimento para a viagem de criança e adolescente
ao exterior na companhia de apenas um genitor, estudando-se os fundamentos utilizados para
a concessão ou negativa do suprimento. As decisões foram coletadas diretamente no site do
Tribunal Catarinense, www.tjsc.jus.br/web/jurisprudencia, utilizando-se as palavras-chave
“suprimento” e “consentimento”. Destes dez, 3 (três) foram detalhadamente estudados, e os
outros sete foram analisados através do preenchimento de uma tabela (Quadro 1), como se
passa a expor.
Este primeiro acórdão que será analisado foi proferido no dia 1º de outubro do ano de
2019 e teve como relator o desembargador Ricardo Fontes, da Quinta Câmara de Direito Civil
do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, com sentença oriunda da comarca de
Criciúma. A ementa possui o seguinte conteúdo:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE GUARDA, ALIMENTOS C/C
SUPRIMENTO DE CONSENTIMENTO PATERNOS PARA VIAGEM AO
EXTERIOR. DECISÃO QUE INDEFERIU A MEDIDA LIMINAR PERMISSIVA
DE RESIDÊNCIA TEMPORÁRIA DA MENINA NO EXTERIOR.
INSURGÊNCIA DA GENITORA. MODIFICAÇÃO TRANSITÓRIA DE
DOMICÍLIO. POSSIBILIDADE VERIFICADA. NEGATIVA DO GENITOR
INJUSTIFICADA. CRIANÇA QUE, DESDE FIM DA RELAÇÃO DOS
ASCENDENTES, ESTÁ SOB OS CUIDADOS DA MÃE. GENITORA QUE
CONTRAIU UNIÃO ESTÁVEL E RECEBEU PROPOSTA DE TRABALHO,
JUNTAMENTE COM O ATUAL COMPANHEIRO NO EXTERIOR.
MELHORES POSSIBILIDADES DE CRIAÇÃO À FILHA. PRIMAZIA AO
MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA. DISTÂNCIA QUE, POR SI SÓ, NÃO
JUSTIFICA A NEGATIVA DO GENITOR. REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS.
VIABILIDADE DE MANUTENÇÃO DO VÍNCULO PATERNO.
PRECEDENTES. "[...] A negativa de se conceder autorização ao genitor guardião
para viajar com a prole, se não oriunda de motivo fundado e razoável, constitui-se
temerosa obstaculização ao exercício do direito à liberdade de locomoção, e mesmo
de escolha de local para estabelecimento de moradia. Afinal, se o genitor detém a
guarda, naturalmente a prole fixará residência consigo (AC n. 2014.057996-2,
Relator Des. Sebastião César Evangelhista, j. 30-10-2014)" (AC n. 0303595-
64.2015.8.24.0033, Quarta Câmara de Direito Civil, 16-2-2017). RECURSOS
PROVIDO. (TJSC, Agravo de Instrumento n. 4021739-54.2019.8.24.0000, de
Criciúma, rel. Ricardo Fontes, Quinta Câmara de Direito Civil, j. 01-10-2019).
(SANTA CATARINA, 2019).
49
considerando que a Agravante garantiu, dentre outras coisas, o contato por meio digital e a
vinda da infante ao Brasil durante as férias escolares, não havendo qualquer elemento que
justifique as alegações do genitor. Considerou-se, ainda, a importância da inserção da criança
em outra cultura, e a existência de tecnologias que possibilitam a comunicação diária entre pai
e filha, garantindo o convívio da menina com o ambiente paterno.
Dessa forma, entendeu o Tribunal que a negativa do pai em autorizar a viagem da filha
ao exterior para acompanhar urgente mudança de domicílio da mãe deve ser acompanhada de
um justo motivo, ausente no caso em questão. Apesar de reconhecer a preocupação do
genitor, decidiu pelo bem-estar da menor, detentora de direitos garantidos pela Constituição
Federal, respeitando-se o melhor interesse da criança e do adolescente. Para manter os laços
firmados entre a infante o genitor, determinou que o contato da infante com o Requerido
ocorresse 3 (três) vezes na semana pelo período de 1 (uma) hora, sendo nos dias úteis (terça e
quinta-feira) no horário das 19h às 20h (da Espanha) e aos sábados das 13h às 14h (também
da Espanha), a ser realizado mediante telefone ou outro meio.
O Tribunal também estabeleceu que o genitor tem livre acesso de comunicação com a
filha, desde que respeitado o turno escolar, e determinou que no próximo período de férias
escolares a infante viaje para o Brasil, na companhia da genitora ou alguém de sua confiança,
para conviver com o Requerido em um período não inferior que 30 (trinta) dias, cujo custo
será de sua responsabilidade. Determinou, por fim, que a genitora deve informar ao genitor
todos os endereços de contato, como e-mails, redes sociais, endereço de residência e
telefones, mantendo-o sempre atualizado.
Foi com base em todo o exposto, que a Quinta Câmara de Direito Civil decidiu, por
unanimidade, dar provimento ao recurso, suprindo o consentimento do genitor e,
consequentemente, autorizando que a criança viajasse para o exterior com a mãe,
reconhecendo que a “negativa de se conceder autorização ao genitor guardião para viajar com
a prole, se não oriunda de motivo fundado e razoável, constitui-se temerosa obstaculização ao
exercício do direito à liberdade de locomoção, e mesmo de escolha de local para
estabelecimento de moradia” (SANTA CATARINA, 2019).
Este segundo acórdão que será analisado foi proferido no dia 28 de agosto do ano de
2018, tendo como relator o desembargador Fernando Carboni, da Terceira Câmara de Direito
51
Civil do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, com sentença oriunda da comarca
de Barra Velha. A ementa possui o seguinte conteúdo:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. SUPRIMENTO JUDICIAL DE
CONSENTIMENTO PATERNO. AUTORIZAÇÃO PARA EXPEDIÇÃO DE
PASSAPORTE E REALIZAÇÃO DE VIAGEM INTERNACIONAL. TUTELA DE
URGÊNCIA INDEFERIDA. AUSÊNCIA DE PROVAS QUANTO À CIÊNCIA
OU RECUSA INJUSTIFICADA DO PAI. VIAGEM DE LAZER. PASSAGENS
AÉREAS NÃO ADQUIRIDAS. POSSIBILIDADE DE AGUARDAR
CONTRADITÓRIO. PROBABILIDADE DO DIREITO E PERIGO DE DANO
NÃO EVIDENCIADOS. DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. "A
concessão da tutela de urgência, cautelar ou satisfativa, na égide do atual Código de
Processo Civil, apresenta como pressuposto a existência de prova apta a indicar
probabilidade do direito da parte autora, acrescida da possibilidade de perigo de
dano ou risco ao resultado útil do processo, ou seja, os requisitos do fumus boni iuris
e periculum in mora" (TJSC, Agravo de Instrumento n. 4003783-59.2018.8.24.0000,
da Capital, deste relator, Terceira Câmara de Direito Civil, j. em 31-7-2018). (TJSC,
Agravo de Instrumento n. 4011302-04.2018.8.24.0900, de Barra Velha, rel.
Fernando Carioni, Terceira Câmara de Direito Civil, j. 28-08-2018). (SANTA
CATARINA, 2018b).
O agravo de instrumento acima refere-se à Ação de Suprimento de Consentimento
Paterno movida no ano de 2018, por uma criança de cinco anos à época, representada por sua
genitora, que pleiteava tutela provisória de urgência para o suprimento de consentimento do
seu genitor, que não lhe autorizava viajar ao exterior com sua mãe. Frisa-se que este acórdão
não aborda, especificamente, a concessão ou negativa do suprimento de consentimento
paterno, mas sim, a aplicabilidade ou não da tutela provisória, em que se faz importante
analisar os fundamentos utilizados pelo Tribunal Catarinense.
É relatado nos autos que os genitores se divorciaram consensualmente no ano de 2014,
e que a guarda do infante é exercida pela mãe desde então. Mãe, filho e irmão unilateral
pretendiam viajar à passeio para os Estados Unidos da América, no mesmo ano, e justificaram
a tutela de urgência pelo prazo exíguo. O juízo a quo decidiu pelo indeferimento do pedido
ante a ausência de prejuízo ao Agravante, uma vez que a viagem poderia ser realizada em
outro momento.
Em sede de recurso, o Agravante frisou que não poderia aguardar a manifestação do
genitor nos autos, tampouco a audiência de conciliação, ante à data programada para o
passeio, e que a recusa da tutela lhe causaria danos psicológicos, sendo que jamais esqueceria
a impossibilidade de viajar com sua genitora. Também mencionou que o passaporte deveria
ter seu pedido encaminhado já com o suprimento paterno, e, somente após sua emissão, é que
poderá ser confirmada a viagem, a qual dependia de visto. Asseverou, por fim, que em virtude
da instabilidade econômica do país, não era possível confirmar que a viagem poderia ser
realizada futuramente, e que o princípio do melhor interesse deveria ter prevalência.
52
Ao iniciar o voto, a Terceira Câmara de Direito Civil observou, por primeiro, que os
pressupostos exigidos para a concessão da tutela de urgência não foram preenchidos, visto
que não foram apresentadas nos autos as provas da negativa de consentimento do Agravado
quanto à viagem, tampouco que ela seja injustificada, e até mesmo imprecisa a ciência do
Agravado a respeito dessa viagem. Evidenciou-se a ausência do fumus boni iuris. Não passou
despercebido pelo Tribunal, também, o fato de que as passagens para a viagem não haviam
sido adquiridas ainda, não se vislumbrando a urgência suscitada pelo Agravante. Em matéria,
reconheceu a coerência do Agravante ao alegar que o agendamento para a emissão do
passaporte deverá ser realizado somente após suprido o consentimento paterno, mas verificou
que, se a medida fosse realmente urgente, ao menos os passaportes dos outros interessados na
viagem teriam sido providenciados.
Ao final, observou que não havia sido comprovada a existência de vínculos
profissionais da genitora do Agravante no país, mas apenas dos seus familiares, tornando
temerário o deferimento da tutela de urgência pleiteada e mais seguro o aguardo da
instauração do contraditório. A liminar, assim, foi indeferida, dada a situação de incertezas e
riscos, o que ocorreu com base no princípio do melhor interesse da criança e do adolescente.
Sendo assim, entendeu o magistrado que "A concessão da tutela de urgência, cautelar ou
satisfativa tem por pressuposto a existência de prova apta a indicar probabilidade do direito da
parte autora, acrescida da possibilidade de perigo de dano ou risco ao resultado útil do
processo, ou seja, os requisitos do fumus boni iuris e periculum in mora" (SANTA
CATARINA, 2018).
Este terceiro acórdão que será analisado foi proferido no dia 05 de novembro do ano
de 2014, tendo como relator o desembargador Sebastião César Evangelista, da Primeira
Câmara de Direito Civil do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, com sentença
oriunda da comarca de Criciúma. A ementa possui o seguinte conteúdo:
APELAÇÃO CÍVEL. VIAGEM DE INFANTE EM PERÍODO DE FÉRIAS AO
EXTERIOR ACOMPANHADA DA GENITORA. TURISMO E VISITA A
PARENTES. RECUSA DE CONCESSÃO DE AUTORIZAÇÃO POR PARTE DO
GENITOR. PEDIDO DE SUPRIMENTO DO CONSENTIMENTO PATERNO
PROVIDO EM PRIMEIRO GRAU. INSURGÊNCIA DO GENITOR. ALEGADO
RECEIO DE QUE A INFANTE SEJA LEVADA A PORTUGAL EM CARÁTER
DEFINITIVO. RECEIO INJUSTIFICADO. ROBUSTA COMPROVAÇÃO DE
QUE A GENITORA MANTÉM RAÍZES NO BRASIL. CONVÍVIO FAMILIAR
RECOMENDÁVEL. GARANTIA DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA.
APELAÇÃO DESPROVIDA. Diante da divergência entre os detentores do poder
53
fundamentos adotados por ele não resistiam às provas juntadas pela genitora. Ademais,
preocupou-se em seguir as diretrizes do conteúdo disposto no artigo 227, da Constituição
Federal e no artigo 4º, do Estatuto da Criança e do Adolescente, momentos em que o
legislador brasileiro determinou o direito de convivência familiar à todas as crianças e
adolescentes. Uma vez que a viagem serviria de visita aos familiares que residem em
Portugal, não havia dúvida quanto a importância do passeio para a criança, garantindo-lhe o
contato com sua família extensa.
No decorrer do processo, o genitor utilizou diversos argumentos com o intuito de
justificar sua negativa, como a hipótese de a genitora não voltar ao Brasil, e estabelecer
laços trabalhistas no exterior. A Corte, entretanto, não deixou despercebido o fato de que a
mãe da infante possuía emprego fixo na cidade de Criciúma, além de estar adquirindo um
imóvel na mesma região, restando claro que não havia motivos para suspeitar que a genitora
estivesse planejamento abandonar o país. Destaca-se o apontamento levantado no voto a
respeito da distância momentânea que a viagem ocasionaria entre pai e filha, considerada
como indesejável, mas também sendo assim caracterizada a privação da criança ao convívio
com seus familiares maternos.
O Tribunal, ainda, destacou a regulamentação das viagens de crianças e adolescentes
ao exterior, citando a necessidade de anuência de ambos os genitores e a possibilidade de
suprimento judicial do consentimento de um deles. Frisou que, para tanto, deve restar
verificado o melhor interesse da criança em empreender a viagem e a ausência de
justificativa razoável para a recusa da concessão de autorização para viajar. Na situação que
estava sendo analisada, ocorria a divergência de interesse dos genitores quanto à viagem da
criança ao exterior na companhia de apenas um deles, e prezando pelo melhor interesse da
infante e pelo respeito ao direito de convivência familiar, o voto foi no sentido de conhecer
do recurso e negar-lhe provimento, deferindo a autorização judicial para viagem ao exterior.
Segundo o magistrado, “a recusa de concessão de autorização para viagem ao filho deve ser
justificada, especialmente quando a viagem atender aos interesses da criança de convívio
familiar” (SANTA CATARINA, 2014).
Além destes três julgados estudados, destacam-se outros sete, no quadro 1 a seguir, em
que se mostra de forma resumida o número do processo, a Câmara Julgadora, o tipo de ação e
recurso, e a decisão do magistrado quanto ao suprimento de consentimento para a viagem da
criança e do adolescente, como segue:
55
Este capítulo buscou abordar o tema central desta monografia, qual seja, o suprimento
judicial de consentimento para viagem de criança e adolescente ao exterior na companhia de
apenas um genitor. Primeiramente, foi estudado o conteúdo do tema, explicando-se os
motivos da necessidade de autorização para que as viagens ocorram, expondo-se os conflitos
de interesses, direitos e princípios, e, após, foram discutidas as regras, orientações e
procedimentos para a autorização e o suprimento de consentimento.
Em seguida, com a análise das decisões, foi possível identificar que o Tribunal de
Justiça do Estado de Santa Catarina aborda com cautela os processos que envolvam o
suprimento do consentimento de um dos genitores para a viagem dos filhos ao exterior,
observando sempre a garantia de efetivação do princípio do melhor interesse da criança e do
adolescente, e a proteção integral de todos os seus direitos fundamentais. Observou-se
também que a Corte Catarinense não decide pela concessão ou negativa do suprimento de
consentimento com base nos interesses dos genitores, mas sim por aquilo que a viagem
representa para a criança e ao adolescente, quanto à efetivação dos seus direitos fundamentas.
5 CONCLUSÃO
Por fim, o quarto capítulo abordou o tema central deste Trabalho de Conclusão de
Curso: o suprimento judicial de consentimento para viagem de criança e adolescente ao
exterior na companhia de apenas um genitor. Inicialmente, explicou-se a necessidade de
autorização para que as viagens de crianças e adolescentes ocorram, destacando-se a prática
do tráfico humano, que requer cautela por parte do magistrado no processamento e
julgamento do pedido de autorização. Dentre os conflitos que, geralmente, originam-se na
relação entre pais e filhos quanto ao consentimento para a viagem ao exterior, destaca-se a
situação do genitor que deseja viajar ao exterior com seu filho, apresentando seus motivos; o
genitor que não autoriza a realização da viagem, demonstrando suas razões; e o interesse da
58
Essa autorização, no entanto, não será exigida quando se tratar de comarca contígua à
da residência do menor de dezesseis anos, se na mesma unidade da Federação, ou na mesma
região metropolitana, como também no caso de estar acompanhado de um ascendente ou
colateral maior, até terceiro grau, ou se acompanhado de pessoa maior, expressamente
autorizada pelo pai, mãe ou responsável. Quando a viagem for de nível internacional, a
autorização judicial também é necessária, podendo ser dispensada se a criança ou o
adolescente estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável, ou se apenas na
companhia de apenas um dos pais, mas com expressa autorização do outro, através de
documento com firma reconhecida. Ainda, não poderá sair do país em companhia de
estrangeiro residente ou domiciliado no exterior, salvo se esse for genitor do menor de idade
ou se a criança ou o adolescente, nascidos no Brasil, não tiverem nacionalidade brasileira.
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