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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

LUCAS DE BITTENCOURT DO NASCIMENTO

ANÁLISE DAS DECISÕES DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE


SANTA CATARINA SOBRE O SUPRIMENTO JUDICIAL DE CONSENTIMENTO
PARA VIAGEM DE CRIANÇA E DE ADOLESCENTE AO EXTERIOR NA
COMPANHIA DE APENAS UM DOS GENITORES

Tubarão
2021
LUCAS DE BITTENCOURT DO NASCIMENTO

ANÁLISE DAS DECISÕES DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE


SANTA CATARINA SOBRE O SUPRIMENTO JUDICIAL DE CONSENTIMENTO
PARA VIAGEM DE CRIANÇA E DE ADOLESCENTE AO EXTERIOR NA
COMPANHIA DE APENAS UM DOS GENITORES

Monografia apresentada ao Curso de Direito


da Universidade do Sul de Santa Catarina
como requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel em Direito.

Linha de pesquisa: Justiça e Sociedade.

Orientadora: Prof. Terezinha Damian Antonio, Msc.

Tubarão
2021
Aos meus familiares e amigos.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus por me conceder saúde neste momento tão difícil
pelo qual passamos, e por não permitir que eu desanimasse durante a realização deste
trabalho.
Agradeço ao meu pai, Roberto do Nascimento, e à minha mãe, Katia Regina de
Bittencourt do Nascimento, por me ensinarem os grandes valores de um homem, baseados na
dignidade, lealdade, fé e honestidade, e por sempre me fazerem acreditar que posso ir mais
além. Eterna gratidão.
À minha namorada, Helen Esmeraldino Nunes, que de uma forma ou de outra sempre
reservou um pouco do seu tempo para me ajudar nesta longa caminhada, e mesmo nos
momentos mais difíceis, me fez acreditar que o objetivo a ser alcançado estava logo em frente
e que bastava apenas um pouco de esforço para atingi-lo. Minha companheira e meu amor.
A todo corpo docente e aos servidores do Curso de Direito da UNISUL, em especial, à
minha brilhante orientadora Terezinha Damian Antônio, que além da dedicação pessoal e
seriedade profissional, sempre acreditou na fundamentação deste trabalho acadêmico. Meus
mais profundos agradecimentos.
Por fim, agradeço à todas as outras pessoas que de alguma forma tenham contribuído
para a minha formação.
“Cada sonho que você deixa para trás, é um pedaço do seu
futuro que deixa de existir.” (Steve Jobs)
RESUMO

OBJETIVO: O presente trabalho monográfico tem por objetivo analisar os fundamentos


adotados pelo Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina na concessão ou negativa do
suprimento judicial de consentimento para viagem de criança e adolescente ao exterior na
companhia de apenas um dos genitores. MÉTODO: Para tanto, realizou-se uma pesquisa de
natureza exploratória, com abordagem qualitativa. Quanto à coleta de dados, foram utilizadas
a pesquisa bibliográfica, pautada no estudo de doutrinas, livros, artigos e dissertações, e
documental, através da leitura de legislações e análise de acórdãos proferidos pelo Tribunal
Catarinense. RESULTADOS: Todas as crianças e adolescentes são sujeitos de direitos,
norteados pela doutrina da proteção integral e garantidos pela Constituição Federal, sendo um
dever da família, do Estado e da sociedade efetivá-los sempre. No seio da família, originou-se
o instituto do poder familiar, que representa as responsabilidades dos pais em relação aos seus
filhos menores de idade, baseados no princípio da igualdade entre os pais e no princípio da
paternidade responsável. CONCLUSÃO: A regulamentação das viagens nacionais e
internacionais, prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (artigos 83 a 85) e na
Resolução nº 131/2011, do Conselho Nacional de Justiça, visa garantir os direitos
fundamentais da população infantojuvenil e dificultar a prática do tráfico humano e das
adoções ilegais. Em análise aos acórdãos, concluiu-se que o Tribunal de Justiça do Estado de
Santa Catarina aborda com cautela os processos que envolvam o suprimento do
consentimento de um dos genitores para a viagem dos filhos ao exterior, observando sempre o
princípio do melhor interesse da criança e do adolescente e a proteção integral dos direitos
fundamentais do infante. Constatou-se a preocupação da Corte catarinense em indeferir as
negativas de autorização injustificadas, perpetrada por genitores, com o fito de afastar
posicionamento injusto imposto àquele que pretende, de boa-fé, viajar.
Palavras-chave: Viagem ao exterior. Suprimento judicial. Consentimento.
ABSTRACT

OBJECTIVE: This monographic work aims to analyze the foundations adopted by the Court
of Justice of the State of Santa Catarina in granting or denying the judicial provision of
consent for a child and adolescent to travel abroad in the company of only one of the parents.
METHOD: Therefore, an exploratory research with a qualitative approach was carried out. As
for data collection, bibliographical research was used, based on the study of doctrines, books,
articles and dissertations, and documentary research, through the reading of legislation and
analysis of rulings handed down by the Santa Catarina Court. RESULTS: All children and
adolescents are subjects of rights, guided by the doctrine of full protection and guaranteed by
the Federal Constitution, and it is the duty of the family, the State and society to always
implement them. Within the family, the institute of family power was created, which
represents the responsibilities of parents in relation to their underage children, based on the
principle of equality between parents and the principle of responsible parenthood.
CONCLUSION: The regulation of national and international travel, provided for in the
Statute of Children and Adolescents (Articles 83 to 85) and in Resolution No. 131/2011, of
the National Council of Justice, aims to guarantee the fundamental rights of the children and
adolescents and make the practice more difficult human trafficking and illegal adoptions. In
analyzing the judgments, it was concluded that the Court of Justice of the State of Santa
Catarina cautiously approaches cases involving the provision of the consent of one of the
parents for the children's trip abroad, always observing the principle of the best interest of the
child and of the adolescent and the integral protection of the fundamental rights of the infant.
The concern of the Santa Catarina Court in rejecting unjustified denials of authorization,
perpetrated by parents, with the aim of avoiding an unfair position imposed on those who
intend, in good faith, to travel, was verified.
Keywords: Trip abroad. Judicial supply. Consent.
LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Acórdãos do TJSC entre jan/2014 a dez/2019........................................................54


SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 10
2 OS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NO
ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO ..................................................... 16
2.1 NORMAS E DOUTRINAS DE PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO
ADOLESCENTE ..................................................................................................... 16
2.2 DIREITOS FUNDAMENTAIS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ......... 20
2.3 PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DIREITO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE ..................................................................................................... 25
3 O INSTITUTO DO PODER FAMILIAR NO ORDENAMENTO JURÍDICO
BRASILEIRO ......................................................................................................... 32
3.1 PODER FAMILIAR: ORIGEM, EVOLUÇÃO E CONCEITO ........................ 32
3.2 PRINCÍPIOS NORTEADORES DO EXERCÍCIO DO PODER FAMILIAR ... 34
3.3 ATRIBUIÇÕES PERTINENTES AO EXERCÍCIO DO PODER FAMILIAR . 36
3.4 SUSPENSÃO, EXTINÇÃO E PERDA DO PODER FAMILIAR..................... 40
4 DECISÕES DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA
CATARINA SOBRE O SUPRIMENTO JUDICIAL DE CONSENTIMENTO
PARA VIAGEM DE CRIANÇA E DE ADOLESCENTE AO EXTERIOR NA
COMPANHIA DE APENAS UM DOS GENITORES .......................................... 43
4.1 A NECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO PARA A VIAGEM DE CRIANÇAS
E ADOLESCENTES AO EXTERIOR: CONFLITO DE INTERESSES, DIREITOS E
PRINCÍPIOS ............................................................................................................ 43
4.2 REGRAS, ORIENTAÇÕES E PROCEDIMENTOS PARA A AUTORIZAÇÃO
OU O SUPRIMENTO JUDICIAL DE CONSENTIMENTO .................................... 45
4.3 OS FUNDAMENTOS ADOTADOS PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DE SANTA CATARINA PARA A CONCESSÃO OU NEGATIVA DO
SUPRIMENTO JUDICIAL DE CONSENTIMENTO .............................................. 48
4.3.1 Acórdão nº 4021739-54.2019.8.24.0000, de Criciúma ................................ 48
4.3.2 Acórdão nº 4011302-04.2018.8.24.0900, de Barra Velha ............................ 50
4.3.3 Acórdão nº 2014.038265-1, de Criciúma..................................................... 52
4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO ................................................. 56
5 CONCLUSÃO ................................................................................................... 57
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 60
10

1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa monográfica aborda o suprimento judicial de consentimento para


viagem de criança e de adolescente ao exterior na companhia de apenas um dos genitores,
identificando e analisando os fundamentos adotados pelo Tribunal de Justiça do Estado de
Santa Catarina na concessão ou negativa do suprimento judicial do consentimento de um dos
pais daquele que tem a intenção de realizar viagem para fora do Brasil.

Todo ser humano tem o direito de locomoção garantido pela Constituição Federal,
previsto expressamente em seu artigo 5°, inciso XV. Quando se fala em crianças e
adolescentes, este direito está consolidado no Estatuto da Criança e do Adolescente, que prevê
o direito de ir, vir e estar em logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as
restrições legais. (BRASIL, 1988; BRASIL, 1990).
De todo modo, a garantia de locomoção não deve ser compreendida em sua plenitude,
ou seja, deve-se buscar sua harmonia com os demais direitos, como a vida, a saúde e a
dignidade, que, conforme estabelece o artigo 227 da Constituição Federal, cabe ao Estado, à
família e à sociedade garanti-los à criança e ao adolescente, colocando-os a salvo de toda
forma de negligência, exploração e crueldade. (BRASIL, 1988).
Nessa toada, fora desenvolvida pelos legisladores a necessidade de autorização
judicial para viagem de criança e de adolescente ao exterior, sendo regulamentada pelos
artigos 84 e 85 do Estatuto da criança e do Adolescente, prevendo de forma expressa a
necessidade de anuência de ambos os genitores, além de determinadas formalidades legais,
para que seus filhos possam deixar o país. (BRASIL, 1990). Nesse sentido, Rossato, Lépore e
Cunha (2019, p. 225) lecionam de forma clara que:
[…] como maneira de prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da
criança e do adolescente, o legislador poderá impor certas condições para que esse
deslocamento se efetive. Por esse motivo, os arts. 83 a 85 tratam dos casos em que
haja necessidade de autorização expedida pelo Juiz da Vara da Infância e da
Juventude.

Uma das prerrogativas é que somente será dispensável essa autorização nos casos em
que a criança e/ou o adolescente estiverem acompanhados de ambos os pais ou responsável,
sendo esse último o guardião legal ou tutor. Em outros casos, podem os filhos viajarem na
companhia de apenas um dos pais, desde que haja a expressa autorização do outro genitor
através de documento com firma reconhecida, conforme prevê o artigo 84, incisos I e II, do
Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990).
11

Por sua vez, o artigo 85 do mesmo diploma legal determina que sem essa prévia e
expressa autorização judicial, nenhuma criança ou adolescente que tenha nascido em território
nacional poderá deixar o país em companhia de um estrangeiro residente ou domiciliado no
exterior (BRASIL, 1990). Estes requisitos são de suma importância para combater possível
tráfico de crianças e evitar o seu afastamento da convivência com um dos pais ou
responsáveis. Referente a isto, o Conselho Nacional de Justiça ampliou as hipóteses da
dispensa dessa autorização judicial, editando a Resolução nº 74/2009, que foi depois
substituída pela Resolução nº 131/2011 (NUCCI, 2014, p. 242).
Resumidamente, têm-se que será dispensada a autorização nos casos em que
a criança ou o adolescente brasileiros residentes no Brasil forem viajar ao exterior
acompanhadas de ambos os pais; acompanhadas de apenas um dos pais, com autorização
escrita do outro (com firma reconhecida); acompanhada de terceiros maiores e capazes,
juntamente com designação e autorização expressa de ambos os pais (com firma
reconhecida); e desacompanhas, com autorização expressa de ambos os pais, também
devendo ser reconhecida a firma (BARROS, 2015).
No entanto, existem questões que se tornam sensíveis ao núcleo familiar, como nos
casos em que não há o consentimento entre os genitores para que um deles viaje para o
exterior com o filho, ou quando não se tem conhecimento do paradeiro de um dos genitores.
Nessas circunstâncias, se fará necessário o suprimento judicial do consentimento de um dos
pais, observando-se as questões subjetivas do caso concreto e baseando-se nos princípios da
proteção integral e do melhor interesse da criança e do adolescente. Este é o tema central
desta pesquisa.
Nesta seara, é relevante destacar o posicionamento do Tribunal de Justiça do Estado de
Santa Catarina na Apelação n° 0300001-52.2017.8.24.0104, de Ascurra. Tratava-se de um pai
que se recusava a conceder a autorização para que a criança pudesse viajar e permanecer no
exterior com sua genitora, onde já residia há aproximadamente sete anos, sob a justificativa da
limitação à convivência de pai e filho imposta pela distância. O Juízo decidiu pela
improcedência da demanda, e entendeu ser o melhor interesse da criança, no caso específico,
resguardar o direito de visita do genitor no período das férias escolares e a permanência da
criança junto à genitora, visto que restou comprovada sua adaptação ao novo núcleo familiar
constituído pela mãe e o padrasto. (SANTA CATARINA, 2018a).
O mesmo Tribunal decidiu o contrário na Apelação n° 2013.051836-3, de Balneário
Camboriú. O requerido recusava-se a conceder a autorização para que o filho viajasse ao
12

exterior com sua genitora sob os argumentos de que houve a perda do objeto da demanda,
visto que o pedido indicava a pretensão de embarque em 17 de outubro e fora citado somente
no dia 18 do referido mês. Na sequência, pediu a nulidade da sentença por demonstrar-se
extra petita. No mérito, justificou a falta de autorização no fato de pretender a mãe da criança
levá-la ao exterior em meio ao ano letivo, em prejuízo das aulas e do rendimento escolar do
infante. Argumentou, também, que seu direito de visita vem sendo exercido de forma
precária, devendo ser priorizado o contato paterno com o filho. Ao final, o recurso foi
provido, indicando a perda superveniente do objeto da ação (SANTA CATARINA, 2013).

Desse modo, busca-se a resposta para a seguinte pergunta de pesquisa: Quais


fundamentos são adotados pelo Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina para a
concessão ou negativa do suprimento judicial de consentimento para viagem de criança
e de adolescente ao exterior na companhia de apenas um dos genitores?

Este tema fora escolhido pelo autor quando realizava a matéria de Direito de Família,
do Curso de Direito da Unisul, em uma das atividades executadas em sala de aula, a qual
abordava a autorização judicial de consentimento para a viagem de crianças e de adolescentes
ao exterior. Na ocasião, deparou-se com a questão do suprimento judicial de consentimento, e,
assim, instigado a compreender melhor o assunto, nasceu o interesse no presente Trabalho de
Conclusão de Curso.
Não por menos, este estudo é imensamente relevante para o meio acadêmico, uma vez
que não foram encontrados outros trabalhos nas bases de dados CAPES e SciELO que
abordam o conteúdo escolhido, o que poderá contribuir para suscitar novas discussões,
tornando-se uma fonte de pesquisa e conhecimento na área. Além disso, esta pesquisa se
destaca por apresentar aos profissionais da área e operadores do Direito argumentos que
possam servir como base de pedido ou de decisão nas questões que envolvam o suprimento de
consentimento de um dos genitores nos casos de viagem de menor ao exterior.
Ante o exposto, essa monografia tem por objetivo geral: Analisar os fundamentos
adotados pelo Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina na concessão ou
negativa do suprimento judicial de consentimento para viagem de criança e adolescente
ao exterior na companhia de apenas um dos genitores.

Para se alcançar esse propósito, foram elencados os seguintes objetivos específicos:


descrever sobre os direitos fundamentais da criança e do adolescente; caracterizar os
princípios da proteção integral e do melhor interesse da criança e do adolescente; apresentar
13

noções gerais sobre o instituto do poder familiar; destacar as atribuições pertinentes ao


exercício do poder familiar; descrever sobre os princípios da paternidade responsável (art. 227
§7º, CF) e da igualdade de ambos os genitores no exercício do poder familiar (art. 1.634, CC);
caracterizar a atribuição do poder familiar no que tange aos pais concederem ou negarem
autorização para seus filhos viajarem ao exterior, segundo o art. 1.634, IV, CC; explanar as
regras, orientações e procedimentos para a viagem de criança e de adolescente ao exterior;
discutir sobre as razões da necessidade de autorização para a viagem de crianças e
adolescentes ao exterior, conforme dispõe o artigo 84, do Estatuto da Criança e do
Adolescente.

Para tanto, quanto ao seu delineamento, esta monografia classifica-se em seu nível
como exploratória, uma vez que busca identificar quais fundamentos são adotados pelo
Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina que sustentam a concessão, ou não, do
suprimento judicial de consentimento para viagem de criança e adolescente ao exterior na
companhia de apenas um dos genitores. Segundo Heerdt e Leonel (2007, p.63), a pesquisa
exploratória tem como objetivo “proporcionar maior familiaridade com o objeto de estudo”.

A abordagem, por sua vez, classifica-se como qualitativa, em razão da análise de


algumas decisões proferidas pelo Tribunal Catarinense que busca identificar quais
fundamentos foram utilizados para que ocorresse a concessão ou negativa do suprimento de
consentimento, além de que também buscou-se analisar os entendimentos doutrinários e a
interpretação do que dispõe a legislação sobre o assunto. Conforme também explicam Heerdt
e Leonel (2007, p. 62): “Para que a pesquisa receba o qualitativo de “científica”, é necessário
que seja desenvolvida de maneira organizada e sistemática, seguindo um planejamento
previamente estabelecido pelo pesquisador”.

Em relação à coleta de dados, foram utilizadas a pesquisa bibliográfica e a


documental. A pesquisa bibliográfica se fundamenta nas consultas realizadas em fontes
secundárias relacionadas ao tema proposto neste trabalho, encontradas em doutrinas e artigos
científicos. Heerdt e Leonel explicam que:
Pesquisa bibliográfica é aquela que se desenvolve tentando explicar um problema a
partir das teorias publicadas em diversos tipos de fontes: livros, artigos, manuais,
enciclopédias, anais, meios eletrônicos etc. A realização da pesquisa bibliográfica é
fundamental para que se conheça e se analise as principais contribuições teóricas
sobre um determinado tema ou assunto (HEERDT; LEONEL, 2007, p. 67).

Além disso, a pesquisa é documental porque “[…] se desenvolve tentando explicar um


problema a partir de documentos de fontes primárias: documentos públicos e privados,
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iconografia, prontuários, fotografias, estátuas, dentre outros” (LEONEL; MOTTA, 2007).


Neste caso, serão utilizados, especificamente, a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e
do Adolescente, o Código Civil, a Resolução nº 131/2011 do Conselho Nacional de Justiça,
além de dez acórdãos proferidos pelo Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina no
período compreendido entre janeiro de 2014 a dezembro de 2020. Esses foram coletados
diretamente no site do Tribunal (www.tjsc.jus.br/web/jurisprudencia), utilizando-se as
palavras-chave “suprimento” e “consentimento”. A amostra foi composta por 35 (trinta e
cinco) acórdãos, sendo que a escolha de 10 (dez) deu-se por aqueles que mais abordavam a
questão do suprimento judicial de consentimento. Destes dez, 3 (três) foram detalhadamente
estudados, sendo suficientes para identificar o modo em que o TJSC aborda o tema central
desta pesquisa monográfica. Para realizar-se a análise desses documentos, considerou-se o
tipo de peça processual, o juízo competente, os fundamentos que sustentaram a concessão ou
a negativa do suprimento de consentimento, além da base legal e os efeitos fático-jurídicos
decorrentes da sentença.
Os outros sete acórdãos restantes foram analisados através do preenchimento de uma
tabela (Quadro 1), identificando-se o número do processo, a câmara que julgou o feito, o tipo
de ação e o recurso interposto, e se foi concedido ou negado o suprimento judicial de
consentimento.

Quanto à sua estrutura, esta monografia foi dividida em 5 (cinco) capítulos. Este
primeiro trouxe a introdução, onde foram expostos o tema, a questão problema, o objetivo
geral, a justificativa, o delineamento da pesquisa e sua estrutura.

O segundo capítulo aborda os direitos das crianças e dos adolescentes no Ordenamento


Jurídico Brasileiro, apresentando-se algumas noções gerais acerca das normas e doutrinas de
proteção à esses sujeitos, como um breve histórico da evolução dos seus direitos, até que se
alcançasse o Estatuto da Criança e do Adolescente, além dos direitos fundamentais e
princípios que estão intimamente ligados ao tema desta pesquisa.

O terceiro capítulo apresenta o instituto do poder familiar, abordando-se sua origem,


evolução e conceito, as atribuições pertinentes ao seu exercício, a sua suspensão e extinção,
além de apresentar as características e peculiaridades do princípio da igualdade de ambos os
genitores no exercício do poder familiar e o princípio constitucional da paternidade
responsável, muito interligados ao tema desta monografia.
15

No quarto capítulo, responde-se a questão problema desta pesquisa, analisando-se os


fundamentos adotados pelo Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina que sustentam a
concessão ou a negativa do suprimento judicial de consentimento para viagem de criança e de
adolescente ao exterior na companhia de apenas um dos genitores.

Por fim, o quinto capítulo apresenta as conclusões alcançadas com a realização deste
Trabalho de Conclusão de Curso.
16

2 OS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NO ORDENAMENTO


JURÍDICO BRASILEIRO

Iniciando os estudos, serão abordados neste capítulo os direitos da criança e do


adolescente no Ordenamento Jurídico Brasileiro, apresentando-se algumas noções gerais
acerca das normas e doutrinas de proteção à esses sujeitos, como um breve histórico da
evolução dos seus direitos, até que se alcançasse o Estatuto da Criança e do Adolescente, além
dos direitos fundamentais e princípios que estão intimamente ligados ao tema desta pesquisa.

2.1 NORMAS E DOUTRINAS DE PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE

A proteção da criança e do adolescente não é algo que sempre existiu no Brasil, por
mais que isto seja inimaginável nos tempos atuais. A primeira Constituição do país, em 1824,
não fazia referência à crianças e adolescentes, não havia sua imagem como sujeitos de
direitos, tampouco havia direitos, momento em que os “menores” eram considerados adultos
em miniatura, ou seja, não havia distinção, e crianças podiam ser taxadas de criminosas, a
depender do seu nível de discernimento (SPOSATO, 2011).

Na Constituição Federal de 1891, fora estabelecida a igualdade de todos perante a lei,


mas também não se fazia referência à infância e a juventude, sendo doloroso citar a existência
do trabalho infantil naquela época. No ano de 1926, entrou em vigor o primeiro Código de
Menores e, em seguida, o Código Mello Mattos, que criava as categorias “menores
abandonados” e “menores delinquentes”, não se fazendo distinção entre eles (ZAPATER,
2019). Ademais, surgiu neste momento a chamada “Doutrina Irregular”, onde o “menor
infrator” era a criança vítima do abandono, da escassez, dos maus-tratos, mas sempre vista,
erroneamente, como infratora, sendo, assim, afastada do convívio social. Como se percebe,
não havia proteção àquela parcela da sociedade.

Na Constituição de 1934 e 1937, a família passou a ser incluída no contexto, mas


crianças e adolescentes ainda eram vistos como objetos de tutela e regulação moral,
intelectual e de saúde, não sendo reconhecidos como sujeitos de direitos. Em 1946, o novo
texto constitucional persistia nesta vertente assistencialista, assim como em 1967 (ZAPATER,
2019).
17

Finalmente, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, crianças e


adolescentes foram reconhecidos como sujeitos de direitos, representando um marco na
história do país, vindo a proteger e promover os Direitos Humanos e fundamentais no Brasil
(BÜHRING, 2014). Nesse sentido, o artigo 227 do novo texto constitucional determina
expressamente que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos e que esses devem ser
protegidos pelo Estado, pela sociedade e pela família, com prioridade absoluta, colocando-os
também a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão (BRASIL, 1988).

Ademais, representando um grandioso avanço, entre diversas outras inovações,


destaca-se que fora proibido o trabalho infantil, e a constatação de ato infracional e a
imposição de medidas privativas de liberdade passaram a receber garantias de observância do
devido processo legal e da ampla defesa, além de tornar expressamente inimputáveis os
menores de 18 (dezoito) anos. (BRASIL, 1988).

Em 1990, foi publicado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), consolidando


as diretrizes adotadas um pouco antes pela Carta Magna, consolidando a proteção e os direitos
dos menores de idade no país. Como apontado por Veronese (1999, p. 74), “O Estatuto da
Criança e do Adolescente tem a relevante função ao regulamentar o texto constitucional, e
fazer com que este último não se constitua em letra morta”.

Foi esse Estatuto que apresentou toda uma mudança de paradigma, sendo a primeira
legislação com a doutrina da proteção integral na América Latina a se inspirar na Declaração
Universal dos Direitos da Criança, do ano de 1979, bem como na Convenção Internacional
sobre os Direitos da Criança, aprovados pela Organização das Nações Unidas em 1989. O
Brasil ratificou a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança no dia 24 de setembro
de 1990. (ROSA, 2020).

Após isso, o país evoluiu grandemente na defesa dos menores de idade, tendo sido
promulgadas no ano de 2000 a Lei 10.097, que proíbe qualquer trabalho a menores de 16
(dezesseis) anos, salvo na condição de aprendiz, a partir dos 14 (quatorze) anos, e a Lei 9.970,
que instituiu o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e
Adolescentes. Em 2003, fora criado o importantíssimo canal de denúncias, o Disque 100 ou
Disque Direitos Humanos, que até os tempos atuais serve de imensa porta para garantia da
segurança da população infanto-juvenil (ROSA, 2020).
18

Dentre diversos outros textos legais publicados ao longo desses anos, destaca-se
também a Lei 13.010, de 2014, que estabelece o direito da criança e do adolescente de serem
educados e cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante, e a
Lei 13.431, de 2017, que estabelece o sistema de garantias de direitos da criança e do
adolescente vítima ou testemunha de violência (BRASIL, 2014; BRASIL, 2017).

Ante o exposto, apresentam-se agora as principais características das doutrinas


presentes no ordenamento jurídico brasileiro relativas à criança e ao adolescente, como se
passa a expor.

A Doutrina da Situação Irregular representava o entendimento de que crianças e


adolescentes eram meros objetos: considerava-se como menor infrator as vítimas do abandono
e do descaso. Instituída pela Lei 6.697/1979, conhecida também como o Código de Menores,
determinava que somente a criança ou o adolescente que se encaixasse na “situação irregular”
receberia a tutela do Estado, com o único objetivo de reenquadrá-los na sociedade, e não de
protegê-los. O artigo 2º desse código apresentava um rol de situações em que o menor seria
considerado “em situação irregular”, como segue:

Art. 2º Para os efeitos deste Código, considera-se em situação irregular o


menor:
I - Privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução
obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de:
a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável;
b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para provê-las;
Il - vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou
responsável;
III - em perigo moral, devido a:
a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes;
b) exploração em atividade contrária aos bons costumes;
IV - privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos
pais ou responsável;
V - Com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou
comunitária;
VI - autor de infração penal.
Parágrafo único. Entende-se por responsável aquele que, não sendo pai ou
mãe, exerce, a qualquer título, vigilância, direção ou educação de menor, ou
voluntariamente o traz em seu poder ou companhia, independentemente de
ato judicial. (BRASIL, 1979).
19

Esse pensamento tão distorcido daquilo que se prega hoje foi inserido na sociedade
daquela época através do cenário da desigualdade social no início do século XX, em que
havia muitas crianças e adolescentes abandonadas nas ruas, ignoradas, e que recorriam aos
delitos para garantir o próprio sustento e o sustento da família. Assim, a legislação não se
preocupou com a proteção e a garantia dos direitos dos menores, e sim com a intervenção
jurídica para “regularizar” os conflitos instalados. Os jovens, assim, eram tratados como
objetos das medidas judiciais. (HOLANDA, 2012).

Frisa-se que a população infantojuvenil era vista somente como um objeto que
precisava ser moldado pelas medidas judiciais, inexistindo um texto legal que lhe garantisse
proteção, muito menos havia um rol de direitos. A partir do rol de situações em que se
considerava o “menor em situação irregular”, o Estado conseguia fundamentar sua
intervenção através do Juiz de Menores, interferindo na vida de crianças e adolescentes que
apresentassem “desvio de conduta” ou “perigo moral”, símbolos de ameaça para o poder
público daquela época. (LEITE, 2003).

Tendo sido findada a ditadura militar, e com o início da redemocratização no país,


ocorreu a promulgação da Constituição Federal de 1988 e, logo depois, a criação do Estatuto
da Criança e do Adolescente, em 1990. Com isso, a doutrina da situação irregular foi extinta,
dando lugar à doutrina da proteção integral. Nesta nova fase, a criança e o adolescente
passaram a ser vistos não mais como objetos de intervenção, e sim, como sujeitos de todos os
direitos, cabendo a eles a proteção, a guarda, a valorização, e a garantia de desenvolvimento
pleno. (CAMPELLO, 2014).

A doutrina da proteção integral foi expressamente adotada pelo Estatuto da Criança e


do Adolescente no momento de sua formulação, em que a garantia dos direitos da criança e do
adolescente foi referência para os legisladores. A população infantojuvenil passou a ser
reconhecida como sujeita de direitos tanto na Carta Magna quanto no próprio Estatuto,
rompendo por completo o sistema da situação irregular. Essa proteção passou a ser tratada
pelo texto constitucional como prioridade, como segue:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão. (BRASIL, 1988).
A nova doutrina, como conceitua Costa (2002, p. 19):
20

"afirma o valor intrínseco da criança como ser humano; a necessidade de especial


respeito à sua condição de pessoa em desenvolvimento; o valor prospectivo da
infância e da juventude, como portadora da continuidade do seu povo e da espécie e
o reconhecimento da sua vulnerabilidade, o que torna as crianças e adolescentes
merecedores de proteção integral por parte da família, da sociedade e do Estado, o
qual deverá atuar através de políticas específicas para promoção e defesa de seus
direitos".
Assim, a proteção integral prega a concepção de que crianças e adolescentes são
sujeitos de direitos, e que a esses devem ser garantidos os direitos fundamentais, com absoluta
prioridade pelo Estado, a família e a sociedade, não sendo mais vistos e tratados como meros
objetos de intervenção estatal. (CURY, PAULA E MARÇURA, 2002).

Diferente da doutrina anterior que se limitava a tratar de medidas repressivas contra


atos considerados infracionais cometidos por crianças e adolescentes, a doutrina da proteção
integral compreende um conjunto amplo de mecanismos jurídicos e valores morais voltados à
tutela da população infantojuvenil, influenciando o legislador a inserir em seus textos os
direitos fundamentais, as formas de auxiliar uma família, a tipificação de crimes praticados
contra menores de idade, as infrações administrativas, a guarda e tutela, entre outros que
tenham o condão de efetivar a proteção e efetivação de direitos. (BARROS, 2015).

Feitas estas considerações a respeito das normas e doutrinas de proteção à criança e ao


adolescente, passa-se ao estudo dos direitos fundamentais da população infanto-juvenil que se
interligam ao tema desta pesquisa.

2.2 DIREITOS FUNDAMENTAIS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Como fora visto no tópico anterior, o Brasil caminhou aos poucos para então alcançar
o status de protetor dos direitos das crianças e adolescentes, uma vez que nem sempre foi
assim. Felizmente, a Constituição de 1988 apresenta um belo rol de direitos em seu artigo 5º
(BRASIL, 1988). O Estatuto da Criança e do Adolescente, por sua vez, assumindo seu papel,
também frisa esse rol de direitos, agora assegurados à população infantojuvenil, transcritos
em seus artigos 3º e 4º:

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes


à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei,
assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual
e social, em condições de liberdade e de dignidade.
21

Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e


adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça,
etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e
aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de moradia ou
outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que
vivem.
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder
público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
c) preferência na formulação e n
a execução das políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a
proteção à infância e à juventude. (BRASIL, 1990).
Ante o exposto, destacam-se os seguintes direitos da criança e do adolescente: o
direito à vida, à educação, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, à saúde, à
alimentação, à cultura, ao esporte e ao lazer, à profissionalização e à proteção no trabalho, à
dignidade e ao respeito.

O direito à vida é basilar de todos os demais direitos, uma vez que, não recebendo o
devido respeito, põe em risco todos os demais. Tavares (2010, p. 569) ensina que o direito à
vida “é o mais básico de todos os direitos, no sentido de que surge como verdadeiro pré-
requisito da existência dos demais direitos consagrados constitucionalmente”. Tamanha
importância requer cuidados, e, com isto, o artigo 7º do ECA determina que o Estado efetive
políticas públicas voltadas ao atendimento e proteção dessa população (BRASIL, 1990).
Ademais, é por esse motivo que o Estatuto contém um título próprio que regulamenta
especificamente as medidas de proteção à criança e ao adolescente, e outro que trata das
medidas de prevenção.

O direito à educação, responsável por garantir o desenvolvimento intelectual e moral


das crianças e dos adolescentes, tem função essencial na formação de bons cidadãos, devendo
ser garantido pelo poder público mediante a acessibilidade de todos a um ensino de qualidade.
(BARROS, 2015). Mello (1986, p. 533) explica que:

A educação objetiva propiciar a formação necessária ao desenvolvimento das


aptidões, das potencialidades e da personalidade do educando. O processo
educacional tem por meta: (a) qualificar o educando para o trabalho; (b) prepará-lo
para o exercício consciente da cidadania. O acesso à educação é uma das formas de
realização concreta do ideal democrático.
22

Atentos à essa importância, a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do


Adolescente buscaram disciplinar o direito à educação como um direito de todos e um dever
do Estado e da família, visando o desenvolvimento, amadurecimento e qualificação das
pessoas. Referido estatuto dispõe que todas as crianças e adolescente têm direito à educação,
determinando que é dever do Estado assegurá-lo e esclarecendo o envolvimento direto do
poder público com as necessidades básicas da criança e do adolescente. (BRASIL, 1988;
BRASIL, 1990).

O direito à liberdade traduz-se no fato de que crianças e adolescentes são livres para
se manifestar e se expressar do jeito que melhor entenderem, e compreende um conjunto de
permissões, estabelecidas nos incisos do artigo 16 do ECA:

Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:


I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as
restrições legais;
II - opinião e expressão;
III - crença e culto religioso;
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;
VI - participar da vida política, na forma da lei;
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação. (BRASIL, 1990).
Verifica-se que há restrições legais em relação ao direito de ir, vir e estar em
logradouros públicos e espaços comunitários, pois a população infantojuvenil está em pleno
desenvolvimento, sendo ainda incapazes para certas atitudes. Assim, o direito à liberdade está
condicionado, em algumas situações, à autorização dos pais ou responsáveis. Isso não como
forma de ferir esse direito, mas sim, de adequá-lo às condições da criança e do adolescente.
(BRASIL, 1990).

O direito à convivência familiar e comunitária garante a participação da criança e do


adolescente na vida familiar e comunitária, sem qualquer discriminação, e está previsto no
artigo 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

“Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua
família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência
familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral”
(BRASIL, 1990).
Nesse sentido, a família natural, ou original, é a primeira comunidade da criança e do
adolescente, e sempre que possível, deverá ser mantida. Conforme o texto legal, a prioridade é
que permaneçam na família original, mas, quando se fizer necessário, poderão ser criadas e
23

educadas em uma família substituta. Essa preocupação do legislador se justifica pela


necessidade de proporcionar à eles alternativas em caso de situações de risco. Dessa forma, se
o melhor interesse da criança e do adolescente não for a preservação da família natural,
deverá a família substituta provê-lo, seja através da guarda, da tutela ou da adoção.
(MENDES, 2006). Ainda, tanto a convivência familiar quanto a convivência comunitária são
de extrema importância na vida da criança e do adolescente, pois são espaços onde ocorrerá o
seu desenvolvimento, repleto de afetos e vínculos sociais que prepararão o caminho de um
futuro cidadão.

O direito à saúde, também um dos mais importantes direitos fundamentais da criança


e do adolescente e essencial para a efetivação de todos os demais direitos, está consagrado no
artigo 7º e seguintes do Estatuto da Criança e do Adolescente. Interessante enfatizar que o
Estatuto buscou não somente estampar esse direito, como também estabelecer a
obrigatoriedade do Poder Público em promover políticas sociais públicas e programas de
assistência integral à saúde de todos. (BRASIL, 1990). Destaca-se que o legislador não tratou
o direito à saúde somente como a ausência de doenças, e sim o fato de que crianças e
adolescentes sejam livres de problemas físicos, mentais e sociais. É imprescindível o apoio do
Estado na promoção da saúde, sendo este um dever determinado pela Constituição Federal,
garantindo, em todas as esferas, a proteção integral da população infantojuvenil. Por fim,
destaca-se que a saúde foi abordada no Estatuto em diversos paradigmas, como o direito à
alimentação, ao planejamento familiar, à assistência a gestante, à parturiente e à nutriz, ao
aleitamento materno, e, de modo geral, o direto de todos de se ter acesso ao Sistema Único de
Saúde, de forma universal e igualitária. (MENDES, 2006).

O direito à alimentação é essencial para a concretização do direito à vida e à saúde, e


está previsto no artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público


assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
(BRASIL, 1990).
O dispositivo do Estatuto está de acordo com o que fora determinado na Constituição
Federal em seu artigo 227, ambos declarando que o direito à alimentação deverá ser
assegurado pela família, pelo Estado e pela sociedade às crianças e adolescentes. Também
deverá ser garantido o aleitamento materno, bem como a garantia de alimentação pré e pós-
natal da genitora, resguardando a proteção integral desde o princípio. Nesse paradigma,
24

salienta-se que o direito à alimentação não se resume apenas no fato de uma criança ou
adolescente terem o que comer, mas também no valor nutricional do alimento, sua quantidade
e sua qualidade, e se há a certeza de uma próxima refeição. Ora, não é suficiente que uma
pessoa se alimente apenas uma vez no dia, ainda mais se a própria comida não for adequada.
Assim, esse direito consiste em muito mais do que uma refeição. (MENEZES, 2005).

O direito à cultura, ao esporte e ao lazer é regulamentado pelo artigo 4º e capítulo IV


do Estatuto da Criança e do Adolescente, especialmente pelo artigo 71, além de ser
compreendido dentro do direito à liberdade, também no Estatuto, onde é assegurado à
população infantojuvenil brincar, praticar esportes e divertir-se. (BRASIL, 1990). Aos
municípios, em conjunto com os estados e a União, foi atribuído o dever de destinar recursos
para a promoção de programas de cultura, esporte e lazer, considerando que todos são
fundamentais no desenvolvimento sadio das crianças e adolescentes.

Os direitos à profissionalização e à proteção no trabalho são de segunda geração, ou


seja, aqueles ligados aos direitos sociais, econômicos e culturais, previstos no artigo 7, inciso
XXXIII, da Constituição Federal e nos artigos 60 ao 69 do Estatuto da Criança e do
Adolescente. Os referidos direitos visam, em conjunto, garantir a proteção integral da criança
e do adolescente, uma vez que buscam assegurar que estes sujeitos não sejam colocados em
ambientes de trabalho noturno, perigoso, insalubre e penoso, bem como a sua realização em
locais prejudicais à sua formação e ao seu desenvolvimento físico, moral, psíquico e social.
(MARTINS, 2010). Além disso, somente podem trabalhar aqueles que tenham, no mínimo, 14
anos completos, respeitadas as vedações já mencionadas e em condição de aprendiz.

O direito à dignidade e ao respeito, além de também estarem previstos na


Constituição Federal, foram abordados nos artigos 17 e 18 do Estatuto da Criança e do
Adolescente:

Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física,


psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem,
da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos
pessoais.
Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-
os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou
constrangedor.
O respeito revela-se na inviolabilidade física, psíquica e moral da criança e do
adolescente, estando abrangidos, nestas esferas, a imagem, os valores, as crenças e ideias, e a
própria identidade. (BARROS, 2015). Como encontram-se em desenvolvimento, a população
infantojuvenil, na maioria das vezes, não percebe a violação à esse direito, recebendo o
25

desrespeito como uma brincadeira, que desencadeará danos irreversíveis ao seu futuro, como
afirmam Rossato, Lépore e Cunha (2019, p. 102):

Todo ser humano tem direito ao respeito como forma de ser resguardada a sua
intimidade, sua identidade e valores. Contudo, em relação às crianças e adolescentes,
esse direito surge potencializado, pois os danos que podem surgir em razão de sua
inobservância são irreversíveis, acompanhando aquelas pessoas por toda a sua vida.
É pelo mesmo motivo que o Estatuto da Criança e do Adolescente também entregou
tamanha importância ao direito à dignidade, estipulando que é dever de todos, inclusive do
Estado, colocar a criança e o adolescente a salvo de “qualquer tratamento desumano, violento,
aterrorizante, vexatório e constrangedor”. (BRASIL, 1990).

Realizadas as anotações básicas referentes aos direitos fundamentais da criança e do


adolescente, passa-se agora para o estudo dos princípios norteadores do tema.

2.3 PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Princípios, segundo Barroso (2001, p. 149):

“[...] são o conjunto de normas que espelham a ideologia da Constituição, seus


postulados básicos e seus fins. Dito de forma sumária, os princípios constitucionais
são as normas eleitas pelo constituinte como fundamentos ou qualificações
essenciais da ordem jurídica que institui.
Dentre os princípios norteadores dos direitos da criança e do adolescente, destacam-se
o princípio da proteção integral, princípio da prioridade absoluta, princípio do melhor
interesse da criança e do adolescente, princípio da convivência familiar e princípio da
municipalização.

O princípio da proteção integral da criança e do adolescente é fundamentado pelo


artigo 227 da Constituição Federal, já citado anteriormente. Na leitura do dispositivo, é
possível perceber a preocupação que o legislador constituinte teve com relação a esses
indivíduos, estabelecendo que os direitos e garantias fossem ampliados para além do núcleo
familiar, agora tratados como questões de políticas públicas. Vale destacar que o princípio
constitucional se difundiu pelo ordenamento jurídico brasileiro, como se pode observar, a
título exemplificativo, os artigos 1°, 3°, 4° e 5° do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.


Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes
à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei,
assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
26

facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual


e social, em condições de liberdade e de dignidade.
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na
forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
(BRASIL, 1990).
Desse modo, o princípio da proteção integral da criança e do adolescente constitui os
esforços conjuntos da família, do Estado e da sociedade, visando oferecer a esses indivíduos a
proteção que necessitam para seu desenvolvimento. Rossato, Lépore e Cunha (2019, p. 47)
ensinam que:

Em verdade, o art. 227 representa o metaprincípio da prioridade absoluta dos


direitos da criança e do adolescente, tendo como destinatários da norma a família, a
sociedade e o Estado. Pretende, pois, que a família se responsabilize pela
manutenção da integridade física e psíquica, a sociedade pela convivência coletiva
harmônica, e o Estado pelo constante incentivo à criação de políticas públicas.
Nas palavras de Nucci (2018, p. 27), o princípio da proteção integral da criança e do
adolescente:

Significa que, além de todos os direitos assegurados aos adultos, afora todas as
garantias colocadas à disposição dos maiores de 18 anos, as crianças e os
adolescentes disporão de um plus, simbolizado pela completa e indisponível tutela
estatal para lhes afirmar a vida digna e próspera, ao menos durante a fase de seu
amadurecimento.
Nessa esteira, pode-se identificar que a proteção integral se encontra intimamente
ligada ao tema central da monografia, uma vez que esses limites deverão ser analisados pelo
poder judiciário, podendo esse mitigar ou não os direitos dos genitores para assegurar assim a
proteção integral dos direitos da criança e do adolescente.

Princípio da prioridade absoluta: Não podemos compreender o princípio da


prioridade absoluta sem antes passarmos pelo princípio da igualdade, este previsto no artigo
5°, caput, da Constituição Federal, que busca o tratamento isonômico para todos os cidadãos,
independentemente de sua cor, raça, gênero, credo ou condições financeiras, tratando todos de
forma justa. Esse conceito aparentemente simples e até natural, pode ser separado em dois
aspectos: igualdade formal e igualdade material. O primeiro aspecto busca apenas e tão
somente aquilo previsto na lei, não observando as características fáticas do caso concreto. Já o
segundo, deve perseguir as finalidades do primeiro, mas observando as condições envolvidas
no caso concreto. Segundo Nery Junior (1999, p. 42):
27

O princípio da igualdade pressupõe que as pessoas colocadas em situações diferentes


sejam tratadas de forma desigual: “Dar tratamento isonômico às partes significa
tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na exata medida de suas
desigualdades”.
Dessa forma, todos devem ser tratados de forma isonômica, porém nos casos
envolvendo crianças ou adolescentes, observa-se que as questões naturais desses indivíduos já
os deixam em desigualdade, visto seu incompleto desenvolvimento, e, nestes casos, faz-se
necessário o tratamento desigual para nivelar as desigualdades. É em consonância com o
princípio da igualdade e da proteção integral, bem como com o artigo 227 da Constituição
Federal, que o princípio da prioridade absoluta encontra seu respaldo. O princípio da
prioridade absoluta significa dizer que as crianças e os adolescentes sempre serão tratados
com total prioridade. Nessa esteira, ensina Nucci (2018, p. 29) que:

Todos temos direito à vida, à integridade física, à saúde, à segurança etc., mas os
infantes e jovens precisam ser tratados em primeiríssimo lugar (seria em primeiro
lugar, fosse apenas prioridade; porém, a absoluta prioridade é uma ênfase), em todos
os aspectos. Precisam ser o foco principal do Poder Executivo na destinação de
verbas para o amparo à família e ao menor em situação vulnerável; precisam das leis
votadas com prioridade total, em seu benefício; precisam de processos céleres e
juízes comprometidos.
Assim, crianças e adolescentes devem ser sempre a prioridade do Estado, da sociedade
e da família, buscando-se garantir os direitos da população infantojuvenil, uma vez que se
encontram em desenvolvimento e representam o futuro do país.

Princípio do melhor interesse da criança e do adolescente: O princípio do melhor


interesse da criança e do adolescente orienta aquele que tem o dever de decidir a opção que
melhor atenda o interesse da criança e do adolescente. Dessa forma, antes de proferir uma
sentença, um juiz deverá escolher não aquilo que melhor satisfaça o desejo dos pais, mas sim
aquilo que represente o suprimento das necessidades da criança. Assim sendo, deve-se atentar
ao fato de que a criança e o adolescente são os destinatários da escolha realizada, pertencendo
à eles a prioridade na decisão, observando-se sempre aquilo que vá resguardar e promover os
seus direitos e interesses. Amim (2007, p. 28) refere que:

Infelizmente, nem sempre a prática corresponde ao objetivo legal. Não raro,


profissionais, principalmente da área da infância e da juventude, esquecem-se que o
destinatário final da doutrina protetiva é a criança e o adolescente e não o pai, a mãe,
os avós, tios, etc. Muitas vezes, apesar da remotíssima chance de reintegração
familiar, porque, por exemplo, a criança está em abandono há anos, as equipes
técnicas insistem em buscar vínculo jurídico despido de afeto. Procura-se uma avó
que já declarou não reunir condições de ficar com o neto, ou uma tia materna, que
também não procura a criança ou se limita a visitá-la de três em três meses,
mendigando-se caridade, amor e afeto. Enquanto perdura essa via crucis, a criança
vai se tornando filha do abrigo, privada do direito fundamental à convivência
familiar, ainda que não seja a sua família consanguínea.
28

Contudo, nem sempre o melhor interesse é atingido. Muitos profissionais acabam se


esquecendo que a criança e o adolescente são os destinatários finais da decisão que irão
proferir, e acabam por privilegiar a intenção dos genitores, dos avós, ou demais responsáveis
pelo menor (ULIANA, 2017). É importante, ainda, analisar cada caso na sua pura
individualidade, respeitando a singularidade de cada criança e adolescente, pois não se pode
esquecer que, apesar do rito jurídico ser o mesmo para todas as situações, cada núcleo familiar
apresenta seu modo específico de conviver. Para Camila Gonçalves (2011, p. 01),

[..] os problemas envolvem, destarte, de um lado a dificuldade de apreender o


sentido do melhor interesse da criança e do adolescente; e, de outro, a necessidade
de evitar que a abertura e abstração do princípio resvalem no arbítrio judicial e na
injustiça, ou na preponderância daquilo que subjetivamente signifique o melhor
interesse para o julgador .
É observando casos assim, que surgem diariamente à mesa de todos os magistrados,
que se confirma o indispensável respeito a esse princípio, jamais devendo ser ignorado. É,
portanto,

[..] indispensável que todos os atores da área infantojuvenil tenham claro para si que
o destinatário final de sua atuação é a criança e o adolescente. Para eles é que se tem
que trabalhar. É o direito deles que goza de proteção constitucional em primazia,
ainda que colidente com o direito da própria família. (MACIEL; CARNEIRO, 2018,
p. 79).
Realizadas algumas explanações a respeito do melhor interesse da criança e do
adolescente, passa-se para o estudo do princípio da convivência familiar.

Princípio da convivência familiar: O princípio da convivência familiar encontra


respaldo nos artigos 4º, 16 e 19 do ECA, bem como no artigo 226 da Constituição Federal
vigente. É direito de toda criança e adolescente o convívio familiar e comunitário, compostos
por um ambiente sadio que garanta o seu pleno desenvolvimento. Destaca-se que esse
princípio visa o crescimento da criança no seu seio familiar, envolvida pelos laços fraternos,
recebendo todo o amparo e carinho de seus familiares. Isso se justifica em razão da
importância presente no afeto, onde pessoas estão interligadas por um sentimento de cuidado
e proteção.

Entretanto, nem sempre esse ambiente é preenchido por segurança e acolhimento.


Realidade no Brasil e nos demais países, há famílias em que a criança e o adolescente crescem
cercados por negligência e desafetos, não recebendo o mínimo de importância, sendo feridos
os seus direitos e prejudicado o seu desenvolvimento. Nesses casos, são retirados do convívio
familiar. Quando acolhidos em instituições, é importante que se reavalie a situação desses por,
pelo menos, a cada seis meses, devendo o juiz decidir sobre a possibilidade, ou não, de
29

reintegração familiar ou colocação em família substituta (SALES, 2013). É cristalina a


importância do respeito ao princípio ora estudado, pois os vínculos familiares assumem
influência decisiva no desenvolvimento das relações familiares (BECKER, 2000).

Princípio da municipalização: Para que se torne viável a doutrina da proteção integral,


é necessário que o Poder Público promova a política assistencial (ULIANA, 2017). A
Constituição Federal prevê, no artigo 203, as diretrizes assistencialistas:

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,


independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção
de sua integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. (BRASIL,
1988).
O artigo 204 da Carta Magna, por sua vez, estabelece que as ações governamentais
voltadas à assistência social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social,
além de outras fontes, devendo ser organizada descentralizadamente, cabendo à União a
responsabilidade de dispor sobre as normas gerais e coordenação dos programas assistenciais,
e aos estados e municípios a execução desses programas, bem como a entidades beneficentes
e de assistência social (BRASIL, 1988).O Poder Público, assim, deverá estar sempre próximo
da população que necessita dessa assistência, de modo a fornecer melhores condições de
tratamento e ajuda, realizando as adaptações necessárias de acordo com a realidade local.

É nesse sentido que se faz presente a importância dos municípios na realização das
políticas públicas de abrangência social, tendo em vista que são eles os mais próximos dos
cidadãos necessitados (ULIANA, 2017). Em consonância, o ECA visa proteger crianças e
adolescentes, resguardando seus direitos, dispondo em seu artigo 86 que “a política de
atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto
articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, do Distrito Federal e
dos municípios”, preconizando o princípio da municipalização (BRASIL, 1990).

Ainda, no artigo 88, o ECA descreve que a municipalização do atendimento é uma


diretriz da política de atendimento:

Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:


30

I - municipalização do atendimento;
II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da criança e
do adolescente, órgãos deliberativos e controladores das ações em todos os níveis,
assegurada a participação popular paritária por meio de organizações
representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais;
III - criação e manutenção de programas específicos, observada a descentralização
político-administrativa;
IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais vinculados aos
respectivos conselhos dos direitos da criança e do adolescente;
V - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria,
Segurança Pública e Assistência Social, preferencialmente em um mesmo local, para
efeito de agilização do atendimento inicial a adolescente a quem se atribua autoria
de ato infracional;
VI - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria,
Conselho Tutelar e encarregados da execução das políticas sociais básicas e de
assistência social, para efeito de agilização do atendimento de crianças e de
adolescentes inseridos em programas de acolhimento familiar ou institucional, com
vista na sua rápida reintegração à família de origem ou, se tal solução se mostrar
comprovadamente inviável, sua colocação em família substituta, em quaisquer das
modalidades previstas no art. 28 desta Lei;
VII - mobilização da opinião pública para a indispensável participação dos diversos
segmentos da sociedade.
VIII - especialização e formação continuada dos profissionais que trabalham nas
diferentes áreas da atenção à primeira infância, incluindo os conhecimentos sobre
direitos da criança e sobre desenvolvimento infantil;
IX - formação profissional com abrangência dos diversos direitos da criança e do
adolescente que favoreça a intersetorialidade no atendimento da criança e do
adolescente e seu desenvolvimento integral;
X - realização e divulgação de pesquisas sobre desenvolvimento infantil e sobre
prevenção da violência (BRASIL, 1990).
Destaca-se que o estatuto, ao prever essa descentralização das atividades por meio da
municipalização do atendimento, buscou frisar a importância da abrangência dos municípios
na política de atendimento, considerando sua proximidade com os desafios e problemas
enfrentados pelas crianças e adolescentes que vivem no seu território. Carvalho (1999, p. 155)
explica a importância desse princípio da seguinte forma:

O papel do município, para que a família possa desempenhar bem a sua função,
ocupa uma posição de destaque, na condução das ações necessárias, através de seus
dirigentes, entidades, órgãos e habitantes. Reconhecidamente é no município, a
instância mais visível e próxima da população, onde as relações políticas se dão com
maior intensidade.
Para que seja assegurada a prioridade da população infanto-juvenil nos programas
sociais e para que a destinação de recursos seja voltada para a infância e juventude, é
necessário que o princípio da municipalização seja efetivamente praticado, através da criação
de conselhos municipais, e que os Estados e a União atuam conjuntamente com os
31

municípios, a fim de que os direitos fundamentais infantojuvenis sejam protegidos (ULIANA,


2017).

Feitas essas considerações, passa-se ao capítulo 3.


32

3 O INSTITUTO DO PODER FAMILIAR NO ORDENAMENTO JURÍDICO


BRASILEIRO

Este capítulo trata do instituto do poder familiar no ordenamento jurídico brasileiro,


como se passa a expor.

3.1 PODER FAMILIAR: ORIGEM, EVOLUÇÃO E CONCEITO

No decorrer histórico, a estrutura familiar passou por diversas transformações


importantes, mudanças essas, que contribuíram para as alterações do instituto do poder
familiar. Na Roma antiga, a estrutura familiar se dava em volta da figura do patriarcado, onde
o pai exercia sobre todos os integrantes da família o até então denominado pater poder, ou
seja, o pátrio poder, que nada mais era que o poder familiar. Deste modo, tanto a esposa
quanto os filhos ficavam submetidos às decisões da figura paterna. Era ele, então, quem
decidiria sobre as questões familiares. Ainda nesse momento, o instituto do poder familiar
atribuía ao patriarcado direitos absolutos sobre a mulher e os filhos, podendo o pai abandonar
os filhos em favor da vítima que houvesse sofrido prejuízo por um ilícito praticado pelo
descendente, como se fosse uma espécie de abandono reparatório. Poderia também, caso
achasse necessário, alienar o próprio filho, ou abandonar o filho recém-nascido à própria sorte
e até mesmo decidir sobre o direito à vida desses (RAMOS, 2016).

Com a chegada do cristianismo a partir do século IV, que se tornou a religião oficial
do Estado Romano, e com o imperador Constantino, foi proibida a venda, a morte e a entrega
do filho ao credor (PEREIRA, 2020). Insta mencionar que o Direito Romano não fazia
previsão do instituto da maioridade, pelo qual, no direito moderno, o filho, ao atingir uma
idade determinada, desvinculava-se do pátrio poder. (RAMOS, 2016).

Já na época do Brasil colônia, sob a organização das Leis de Portugal, o pai ainda
tinha um domínio quase absoluto sobre os filhos, a esposa e os escravos, como nos ensina
Pereira (2020, p. 647):

[...] No art. 1.518, do esboço do Código Civil de Teixeira de Freitas, editado entre
1860 e 1865, o pater família e podia corrigir e castigar moderadamente seus filhos,
podendo requerer autorização ao Juiz dos Órfãos para a detenção dos filhos até
quatro meses na casa correcional, sem o direito a recurso.
33

O Código Civil de 1916 também assegurava o pátrio poder somente ao marido, e


somente a sua falta ou impedimento é que a mulher poderia assumir o exercício do pátrio
poder. No caso da mulher viúva que viesse a se casar novamente, essa perdia o pátrio poder
com relação aos filhos e isso acontecia independentemente da idade destes, podendo essa
mulher restituir o exercício do pátrio poder se ficasse viúva novamente. A partir do Estatuto
da Mulher Casada (Lei n° 4.121/1962), o pátrio poder passou a ser exercido pelo homem com
a colaboração da mulher, sendo que nos casos de divergência entre os genitores, prevalecia a
vontade do pai, mas podendo a mãe socorrer-se à justiça (DIAS, 2021).

Com a Constituição Federal de 1988, estabeleceu-se o tratamento isonômico à mulher


com relação ao homem, com previsão no artigo 5°, inciso I, e, reforçando essa ideia, referido
diploma estabeleceu expressamente em seu artigo 226, parágrafo 5°, que os direitos e os
deveres referentes à sociedade conjugal passariam a ser exercidos igualmente pelo homem e
pela mulher (BRASIL, 1988).

O Estatuto da Criança e do Adolescente, acompanhando a evolução das relações


familiares, fez também alterações no instituto. Nesse sentido, Dias (2021, p. 307) aduz que:

[...]Deixou de ter um sentido de dominação para se tornar sinônimo de proteção,


com mais características de deveres e obrigações dos pais para com os filhos do que
de direitos em relação a eles. O princípio da proteção integral emprestou nova
configuração ao poder familiar, tanto que o inadimplemento dos deveres a ele
inerentes configura infração susceptível à pena de multa (ECA 249).
Por sua vez, o Código Civil de 2002 modificou a terminologia de pátrio poder para
poder familiar, enfatizando o seu exercício por ambos os genitores. Entretanto, a expressão
que é melhor aceita por parte da doutrina seria o termo “autoridade parental”, pois refletiria
com maior precisão as mudanças que aconteceram ao longo do tempo, onde o interesse dos
pais agora precisaria estar condicionado aos interesses dos filhos. Conforme Pereira (2020, p.
647):

Poder familiar não é a expressão mais apropriada. A palavra poder não expressa a
verdadeira intenção de atender ao princípio do melhor interesse da criança e do
adolescente, mas sim o sentido de posse. Familiar remeteria também à ideia de que
os avós e irmãos estariam revestidos dessa função. A expressão mais adequada para
a família atual, que é fundada na igualdade de gêneros e é democrática, seria
autoridade parental, a qual exterioriza a ideia de compromisso de ambos os pais com
as necessidades dos filhos, de cuidar, proteger, educar, dar assistência e colocar
limites.
Enfim, são inegáveis os avanços do instituto do poder familiar, afastando-se de suas
características abusivas inicialmente e passando a ser visto não somente como um poder, mas
também como um dever, em que os pais precisam estar presentes na vida de seus filhos, ainda
34

que estejam separados ou que haja conflito familiar entre eles, visando a sua educação e
criação pautada no respeito e, sobretudo, no afeto. O poder familiar, portanto, é o poder-dever
de tutela conferido aos pais em relação aos seus filhos, cabendo a eles uma série de
atribuições, envolvendo-se direitos, obrigações e responsabilidades que asseguram os direitos
de crianças e adolescentes (RAMOS, 2016).

3.2 PRINCÍPIOS NORTEADORES DO EXERCÍCIO DO PODER FAMILIAR

Os princípios constitucionais norteiam o exercício do poder familiar. Destacam-se o


princípio da igualdade entre os pais e o princípio da paternidade responsável.

O princípio da igualdade entre os pais foi inserido no ordenamento jurídico através da


Constituição Federal de 1988. Essa igualdade entre os genitores deve ser aquela material,
levando em consideração todas as diferenças de gêneros, como as questões no mercado de
trabalho, diferenças físicas ou emocionais (RAMOS, 2016). A Carta Magna estabeleceu a
direção diárquica da família à luz da igualdade, contrapondo-se à direção unitária consagrada
pelo Código Civil de 1916 (FACHIN,1999).

Ressalta-se que a igualdade de direitos também está presente no exercício do poder


familiar, devendo ser praticado em igualdade de condições tanto pela mãe quanto pelo pai,
estando eles separados ou não, uma vez que tal instituto tem como base o vínculo da filiação,
ou seja, é necessário o reconhecimento do filho, pois, do contrário, haverá o poder familiar
monoparental (RAMOS, 2016).

Contudo, há situações em que se verificam conflitos de interesses entre os pais com


relação ao exercício do poder familiar, o que pode ser resolvido pela aplicação da disposição
do artigo 1.631, caput, do Código Civil, pelo qual: “Divergindo os pais quanto ao exercício do
poder familiar, é assegurado a qualquer deles recorrer ao juiz para solução do desacordo”
(BRASIL, 2002). Nestes casos, mesmo que haja dissenso entre os genitores, deverá a decisão
do juiz atender o melhor interesse da criança e do adolescente, visto que estes também são
sujeitos de direitos. Por fim, quem exerce a titularidade do poder familiar são os genitores, de
forma isonômica, respeitando as diferenças de gêneros, enquanto os filhos necessitarem de
proteção e cuidados, visando sempre garantir o melhor interesse da criança e do adolescente
(REZENDE, 2014).
35

O princípio da paternidade responsável é um dos mais importantes no que tange à


proteção dos direitos da criança e do adolescente, uma vez que enfatiza o dever de
responsabilidade, imprescindível na formação e manutenção de uma família. A previsão é
expressa no artigo 226, parágrafo 7°, da Constituição Federal:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. [...]
§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade
responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado
propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada
qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. (BRASIL,
1988).
Tal princípio atribui à família, independente do seu modelo, a necessidade de um
planejamento responsável e consciente para a formação familiar, seja na decisão de se ter
filhos ou não, inclusive se existe condições mínimas para a criação desses. Nucci (2018, p.
17) leciona que: “Nem sempre ter um filho é um ato de responsabilidade. Nem sempre os pais
que o geraram efetivamente o querem como tal. Rejeições existem em todas as esferas,
mormente quando estão presentes os sentimentos humanos, em grande parte indecifráveis”.

Essa responsabilidade, então, atribuída aos pais na criação de seus filhos, pode ser
tanto material quanto afetiva. A assistência material é aquela que se enquadra no âmbito
econômico, e a assistência moral caracteriza-se pelo afeto, pelo apoio fraterno e intelectual,
sendo que a paternidade responsável regada por esta assistência viabilizará o desenvolvimento
da criança, garantindo sempre a proteção de seus direitos (PEREIRA, 2020).

Importa salientar que não se fala da responsabilidade paterna apenas nas relações do
bojo familiar, mas também em relação ao Estado, visto que, como consequência da
irresponsabilidade paterna, causa-se o aumento de crianças em situação de abandono, vagando
pelas ruas, desamparadas, cabendo ao poder público protegê-las, como explica Pereira (2020,
p. 195):

O princípio da paternidade responsável interessa não apenas às relações


interprivadas, mas também ao Estado, na medida em que a irresponsabilidade
paterna, somada às questões econômicas, tem gerado milhares de crianças de rua e
na rua. Portanto, é um princípio que se reveste também de caráter político e social da
maior importância. Se os pais não abandonassem seus filhos, ou, se exercessem uma
paternidade responsável, certamente o índice de criminalidade seria menor, não
haveria tanta gravidez na adolescência etc.
Assim, este princípio reveste-se também de caráter público, sendo um interesse do
Estado que os pais exerçam seu poder/dever na criação de seus filhos, de modo que estes
recebam no seio de sua família as mínimas condições que garantam o seu pleno
desenvolvimento e sua inserção no convívio social. Além do mais, com o cumprimento da
36

paternidade responsável, é possível garantir-se a efetividade do artigo 227, caput, da Carta


Magna (PEREIRA, 2020). Tamanha importância deste princípio pode ser também explicada
pelo fato de que é através da família responsável que se garante todos os direitos
fundamentais da criança e do adolescente. Em consonância a esse entendimento, aduz Pereira
(2020, p. 195) que:

A paternidade é mais que fundamental para cada um de nós. Ela é fundante do


sujeito. A estruturação psíquica dos sujeitos se faz e se determina a partir da relação
que ele tem com seus pais. Eles devem assumir os ônus e bônus da criação dos
filhos, tenham sido planejados ou não. Tais direitos deixaram de ser apenas um
conjunto de competências atribuídas aos pais, convertendo-se em um conjunto de
deveres para atender ao melhor interesse da criança e do adolescente, principalmente
no que tange à convivência familiar.
Por fim, pode-se observar a relevância do exercício do poder familiar junto ao
princípio da paternidade responsável, uma vez que os pais, no exercício desse, devem balizar
suas decisões sempre assegurando as questões afetivas, intelectuais e materiais dos filhos.

3.3 ATRIBUIÇÕES PERTINENTES AO EXERCÍCIO DO PODER FAMILIAR

Entende-se que o poder familiar é o conjunto de direitos e obrigações, quanto à pessoa


e quanto aos bens dos filhos, enquanto permanecer sua incapacidade, exercido em igualdade
de condições pelos genitores, visando sempre o interesse e a proteção desses (DINIZ, 2002).
O poder familiar, assim, deverá ser exercido por ambos os pais com relação aos seus filhos,
isto enquanto esses não atingirem a maioridade civil, tendo suas atribuições elencadas no
artigo 1.634, do Código Civil:

Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o
pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:
I – dirigir-lhes a criação e a educação;
II – exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584;
III – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;
IV – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior;
V – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua residência
permanente para outro Município;
VI – nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais
não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar;
VII – representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos
da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-
lhes o consentimento;
VIII – reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;
37

IX – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade
e condição. (BRASIL, 2002).
Para Dias (2021, p. 761), não consta nesse extenso rol o que para ela seria o mais
importante, o “dever dos pais com relação aos filhos: o de lhes dar amor, afeto e carinho”.
Todavia, o artigo 1.634 trata-se de um rol exemplificativo, aquele que estabelece apenas
alguns itens de uma extensa lista, visto que existem diversos outros deveres e direitos que
derivam dessa relação, como a concessão de emancipação e a autorização para que o filho
exerça o comércio. (REIS, 2005). Venosa (2003, p. 360) entende que, dentre todos os
aspectos do poder familiar, o seu conteúdo é:

a) indisponível, porque decorre da paternidade natural ou legal, e não poderá ser


transferido a terceiros;
b) indivisível, porém não o seu exercício. Porque quando se trata de pais separados,
cinde-se o exercício do poder familiar, dividindo-se as sucumbências; e
c) imprescritível, visto que ainda que, por qualquer circunstância, não possa ser
exercido pelos titulares, trata-se de estado imprescritível, não extinguido pelo
desuso. Somente, a extinção dentro das hipóteses legais, poderá terminá-lo.
Já Comel (2003) divide o conteúdo em pessoal e patrimonial, realçando que a
autoridade paternal tem respaldo também na Constituição Federal, nos artigos 227 e 229, e no
Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 22. Salienta que na Carta Magna, o
legislador enfatizou as obrigações de assistir, criar e educar. Assim, “a missão constitucional
dos pais, pautada nos deveres de assistir, criar e educar os filhos menores, não se limita a
encargos de natureza patrimonial. A essência existencial do poder familiar é a mais
importante, que coloca em relevo a afetividade [..]” (DIAS, 2021, p. 761).

É dessa forma, inclusive, que os pais poderão exercer todos os demais deveres que não
foram elencados na legislação, desde que legais e de acordo com os preceitos constitucionais.
Outrossim, são os pais que conhecem os seus filhos mais do que ninguém, entendendo
daquilo que eles mais necessitam para seu crescimento moral, intelectual, físico e social,
regulando sua educação, criação, estudos, lazer, guarda, afeto. Assim, o exercício do poder
familiar deverá ser praticado por meio do disposto no artigo 1.634 do Código Civil, além
daqueles que se fizerem necessários, lembrando sempre de seguir as normativas da
Constituição Federal (DIAS, 2021).

Dirigir-lhes a criação e a educação: A primeira atribuição elencada pelo legislador foi


a que compete aos pais dirigir aos seus filhos a criação e a educação, dever indispensável para
o completo desenvolvimento da criança e do adolescente. A criação abrange, aqui, todos os
aspectos relacionados ao crescimento digno e sadio de uma criança, desde a alimentação, o
38

vestuário, a assistência à saúde, o cuidado, o afeto, o ensino e o lazer, todos pautados pela
ética e pela moral. Aqui se faz presente a grande missão dos pais em prover todos os
conhecimentos que um ser humano necessita adquirir, a fim de que seu futuro como cidadão
de bem seja garantido, estimulando o pensamento e o raciocínio dos filhos, ensinando-lhes o
que é certo e o que é errado. A educação, no mesmo sentido, deverá ser prestada pelos pais
ética e moralmente, através de bons exemplos, conselhos e lições, e pela matrícula em uma
instituição de ensino, devendo ser sempre estimulada a presença do filho na escola, os estudos
e a leitura, atentando-se sempre ao desvio da evasão escolar (DONIZETTI; QUINTELLLA,
2012).

Exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584: A atribuição


de exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do artigo 1.584 do Código Civil
caracteriza-se pela necessidade dos pais em acompanhar seus filhos em todas as fases de seu
desenvolvimento, garantindo-lhes companhia, guarda e afeto, fatores que refletem muito no
futuro da criança. Buscou-se, através dessa atribuição, afastar as situações de abandono
perpetradas por diversos pais em relação a seus filhos, deixando-os viver à própria sorte e
custo, sem qualquer orientação. Tais casos ocorrem com frequência quando há o divórcio dos
pais, tendo sido crucial o apontamento realizado pelo legislador ao determinar que as
atribuições elencadas no artigo ora comentado deverão ser observadas independentemente da
situação conjugal dos pais (BRASIL, 2002).

Conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem; para viajarem ao exterior;


para mudarem sua residência permanente para outro município: O dever dos pais em
conceder ou negar consentimento para que os filhos se casem está relacionado ao disposto no
artigo 1.517 da lei civil, o qual determina que “o homem e a mulher com dezesseis anos
podem casar, exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais,
enquanto não atingida a maioridade civil” (BRASIL, 2002). Dessa forma, o filho maior de
dezesseis anos e menor de dezoito só pode contrair matrimônio diante do consentimento do
pai e da mãe, devendo esses sopesar as razões para que o concedam ou neguem, analisando as
vantagens e desvantagens que refletirão no crescimento dos filhos, observando sempre o
princípio do melhor interesse (DONIZETTI; QUINTELLLA, 2012). O artigo em comento
também determina ser uma atribuição dos pais perante os seus filhos a concessão ou não de
autorização para que os filhos mudem sua residência permanente para um outro município,
competindo aos pais analisarem o que melhor atenderá o interesse da criança e do
adolescente, observando a garantia de todos os seus direitos fundamentais. Há, também, a
39

necessidade de concessão de consentimento para viajem ao exterior, sendo este o tema central
desta pesquisa e que será abordado mais profundamente no próximo capítulo (BRASIL,
2002).

Nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe
sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar e representá-los judicial e
extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa
idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento: A necessidade dos pais,
perante seus filhos, de nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro
dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar, bem como o
dever de representá-los judicial e extrajudicialmente até os dezesseis anos, nos atos da vida
civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o
consentimento, revela a proteção que o legislador buscou garantir ao menor de idade,
objetivando não deixa-lo desamparado em qualquer situação que se fizer presente. Nota-se
que, independente do que vier a acontecer, o filho sempre deverá ser acompanhado por
alguém responsável, consentido pelos pais, que em sua falta proverá todas as condições
necessárias para seu pleno desenvolvimento intelectual, físico e moral (BRASIL, 2002).

Reclamá-los de quem ilegalmente os detenha: A atribuição de reclamá-los de quem


ilegalmente os detenha resume-se também na proteção e segurança dos filhos menores de
idade, sendo um dever e também um direito dos pais requerer os seus filhos para si daqueles
que sem sua permissão os detém. Tal dispositivo legal é capaz de evitar a concretização do
crime previsto no artigo 249 do Código Penal (subtração de incapazes), bem como o tráfico
nacional ou internacional de crianças (BRASIL, 1940).

Exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e
condição: Por fim, aos pais compete a atribuição de exigir dos filhos a obediência, o respeito
e os serviços próprios de sua idade e condição. É importante destacar que este dispositivo
legal se trata de um dever mútuo entre pais e filhos, onde o respeito deverá ser praticado e
preservado por ambas as partes. Os serviços próprios da idade e condição dos filhos deverão
ser cautelosamente postos em prática pelos pais, visto que jamais poderá ocorrer o desrespeito
ao princípio do melhor interesse da criança e do adolescente. Ademais, em nenhuma
circunstância será admitido o abuso dos filhos, não podendo deles ser exigida a prática de
atividades que gerem benefícios aos pais em seu detrimento (DONIZETTI; QUINTELLA,
2012).
40

3.4 SUSPENSÃO, EXTINÇÃO E PERDA DO PODER FAMILIAR

O poder familiar, assim como todos os demais direitos previstos em nosso


ordenamento jurídico, não é considerado um direito absoluto, podendo ocorrer a sua
suspensão ou extinção. O Estado, assim, tem a prerrogativa de entrar no recesso da família
para defender os direitos da criança e do adolescente que ali vivem. Esse direito de
fiscalização abrange a observação do cumprimento das atribuições pertinentes ao exercício do
poder familiar, podendo suspendê-lo ou extingui-lo quando um ou ambos os genitores
apresentarem comportamentos que possam prejudicar os filhos. É prioridade, assim, a
preservação da integridade física e psíquica das crianças e adolescentes, nem que, para tanto,
tenha o Poder Público afastá-los do convívio dos pais (DIAS, 2021).

Nessa esteira, é como forma de garantir a segurança de menores de idade que o poder
familiar poderá ser suspenso, extinto ou perdido daquele que o detém, tendo o legislador
elencado as situações em que isto ocorrerá. Antes de verificar-se os dispositivos legais, é
relevante destacar-se as diferenças entre suspensão, extinção e perda. Dias (2021, p. 317)
explica que:

Perda é uma sanção imposta por sentença judicial, enquanto a extinção ocorre pela
morte, emancipação ou extinção do sujeito passivo. Assim, há impropriedade
terminológica na lei que utiliza indistintamente as duas expressões. A perda do
poder familiar é sanção de maior alcance e corresponde à infringência de um dever
mais relevante, sendo medida imperativa, e não facultativa.
Pode-se resumir que a extinção do poder familiar ocorrerá pela interrupção definitiva
do poder familiar dos pais perante os filhos, e que a perda, sendo a forma mais grave de
destituição, ocorrerá através de ato judicial. Já a suspensão acontecerá quando também
determinada por decisão judicial, mas resume-se apenas na restrição do poder, que poderá ser
restituído até que cesse o que lhe motivou (ANDRADE, 2017).

O artigo 1.635 do Código Civil determina as situações em que ocorrerá a extinção do


poder familiar:

Art. 1.635. Extingue-se o poder familiar:


I - pela morte dos pais ou do filho;
II - pela emancipação, nos termos do art. 5 o , parágrafo único;
III - pela maioridade;
IV - pela adoção;
41

V - por decisão judicial, na forma do artigo 1.638. (BRASIL, 2002).


Desse modo, a extinção ocorrerá pela interrupção definitiva do poder familiar,
podendo acontecer naturalmente pela morte dos pais ou do filho, pela emancipação e pela
maioridade. Ora, não há a possibilidade dos pais, quando falecidos, exercerem autoridade
sobre os filhos, tampouco poderá ocorrer quando o filho vier a falecer. Outrossim, o poder
familiar será exercido pelos pais aos filhos menores, não havendo a possibilidade de seu
exercício quando cessada essa condição, seja através da emancipação ou pela maioridade. A
extinção ocorrerá também por imposição jurídica, através da decisão judicial, e pela adoção,
quando será extinto o poder familiar dos pais que deram o filho à adoção, e iniciará o novo
poder, agora derivado dos pais adotivos (DONIZETTI; QUINTELLA, 2012).

A suspensão do poder familiar, por sua vez, é regulamentada pelo artigo 1.637 do
Código Civil e se dá através de ato jurisdicional, após a constatação do abuso de autoridade
dos pais, falta nos deveres à eles inerentes ou ruína de bens dos filhos, podendo ainda ocorrer
quando o pai ou a mãe forem condenados por sentença irrecorrível, cuja pena exceda a dois
anos de prisão (BRASIL, 2002):

Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles
inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente,
ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança
do menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar, quando convenha.
Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do poder familiar ao pai ou à
mãe condenados por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a
dois anos de prisão.
Salienta-se que a suspensão poderá ser revista e modificada pelo magistrado, mas
desde que a situação que fundamentou a decisão de suspensão seja sanada. Ainda, conforme
Dias (2021, p. 317), a decisão “pode ser decretada com referência a um único filho, e não a
toda a prole. Também pode abranger apenas algumas prerrogativas do poder familiar”.

Sendo considerada a sanção mais grave, a perda do poder familiar é prevista no artigo
1.638 do Código Civil, que assim determina:

Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que:
I - castigar imoderadamente o filho;
II - deixar o filho em abandono;
III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;
IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente.
V - entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de adoção.
Parágrafo único. Perderá também por ato judicial o poder familiar aquele que:
I – praticar contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar:
42

a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de morte,


quando se tratar de crime doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou
menosprezo ou discriminação à condição de mulher;
b) estupro ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de reclusão;
II – praticar contra filho, filha ou outro descendente:
a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de morte,
quando se tratar de crime doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou
menosprezo ou discriminação à condição de mulher;
b) estupro, estupro de vulnerável ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à
pena de reclusão. (BRASIL, 2002).
Medida extrema de proteção dos filhos, a perda do poder familiar não tem, assim
como a suspensão, o caráter de punição dos genitores, mas sim a garantia da efetivação do
melhor interesse da criança e do adolescente. Entretanto, enquanto a suspensão é considerada
uma medida temporária, a perda é definitiva, sendo aplicada no seio familiar através de
sentença, buscando proteger o menor de idade do castigo imoderado, do abandono, da prática
de atos contrários à moral e aos bons costumes, e à incidência reiterada em algumas das
hipóteses de suspensão (DONIZETTI; QUINTELLA, 2012). Como ensina Comel (2003, p.
283):

“A perda do poder familiar é a mais grave medida imposta em virtude da falta aos
deveres dos pais para com o filho, ou falha em relação à condição paterna ou
materna, estribando-se em motivos bem mais sérios que a suspensão. Será ela
imposta quando qualquer dos pais agir desviando-se ostensivamente da finalidade da
instituição, pelo que se lhe vai retirar a autoridade, destituindo-o de toda e qualquer
prerrogativa com relação ao filho”.
Ante todo o exposto, verifica-se a segurança e a proteção que o legislador buscou
garantir aos menores de idade, pois, por mais importante que seja o instituto do poder
familiar, se não for praticado conforme a Lei e os preceitos morais e éticos, nem mesmo
tamanha soberania é capaz de diminuir ou “esconder” as lesões que poderão atingir o melhor
interesse das crianças e adolescentes. Referido instituo reveste-se de caráter público, podendo
o Estado afastar de um dos genitores, de forma temporária ou definitiva, seu poder familiar.

Feitas essas considerações, passa-se ao capítulo 4.


43

4 DECISÕES DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA


SOBRE O SUPRIMENTO JUDICIAL DE CONSENTIMENTO PARA VIAGEM
DE CRIANÇA E DE ADOLESCENTE AO EXTERIOR NA COMPANHIA DE
APENAS UM DOS GENITORES

Este capítulo abordará o tema central desta pesquisa monográfica: o suprimento


judicial de consentimento para viagem de criança e adolescente ao exterior. Inicialmente, será
estudado o conteúdo do tema, explicando-se primeiro a necessidade de autorização para que
as viagens ocorram, expondo-se os conflitos de interesses, direitos e princípios, e, após, serão
discutidas as regras, orientações e procedimentos para a autorização e o suprimento de
consentimento. Ao final, serão analisadas as decisões proferidas pelo Tribunal de Justiça do
Estado de Santa Catarina sobre o suprimento judicial de consentimento para viagem ao
exterior de criança ou de adolescente em companhia de apenas um dos genitores, buscando-se
responder a questão problema desta monografia.

4.1 A NECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO PARA A VIAGEM DE CRIANÇAS E


ADOLESCENTES AO EXTERIOR: CONFLITO DE INTERESSES, DIREITOS E
PRINCÍPIOS

Mesmo diante de um avançado sistema de segurança nas saídas de cidades, fronteiras


de países e aeroportos, o tráfico humano está em constante avanço no mundo. Quando se fala
no tráfico de crianças e adolescentes, então, é difícil compreender como tamanha atrocidade
ainda passa despercebida pelos olhos de muitos. Os objetivos dos traficantes variam, sendo
alguns deles a adoção ilegal, a escravidão, a venda de órgãos e a exploração sexual
(GARCIA, 2020). Conforme dados divulgados pelo Governo Federal no Relatório Disque
Direitos Humanos de 2019, 42 crianças foram vítimas do tráfico em 2018, e 31 em 2019
(BRASIL, 2019).

Ainda, diversas são as notícias que revelam casos em que pais e mães fogem para
outro país com o próprio filho sem o consentimento do outro genitor, sendo tal ato intitulado
por alguns doutrinadores como sequestro interparental. Esse instituto, conhecido no âmbito
jurídico brasileiro como sequestro internacional de menores, é caracterizado como a retirada
44

ilícita de uma criança ou adolescente do seu país de residência habitual por um dos genitores.
Tal crime é extremamente danoso ao desenvolvimento da criança, tanto se praticado pelos
pais ou por terceiros. São várias as situações em que pais viajam ao exterior com seus filhos
sem o consentimento do outro responsável, como, por exemplo, após um divórcio com a
decretação da guarda unilateral, restando um conflito de interesses. Também há casos em que
os próprios genitores traficam os filhos, para os mais diversos crimes, seja para manter a
guarda unilateral, seja por motivo de vingança, ou para fins exploratórios e financeiros
(MÉRIDA, 2011).

Para enfrentamento do tráfico de menores, destaca-se que, em 1980, foi elaborada a


Convenção de Haia sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças, adotada
pelo Brasil no ano 2000. A organização tem por objetivo proteger os interesses de crianças
vítimas do sequestro, buscando garantir da forma mais célere possível o retorno imediato do
menor de idade ao país de onde foi deslocado ou retirado de forma ilegal (MÉRIDA, 2011).
Por sua vez, o Brasil buscou regulamentar as viagens de crianças e adolescentes ao exterior,
por meio de regras estabelecidas no Código Civil de 2002 e no Estatuto da Criança e do
Adolescente. Ainda, criou-se a Resolução nº 131/2011, do Conselho Nacional de Justiça, que
ressalta ponto a ponto como ocorre a autorização para viagem internacional de crianças e
adolescentes brasileiros residentes no Brasil (BRASIL, 1990; 2002; 2011).

Esses normativos garantem os direitos fundamentais infantojuvenis. Para se entender o


dano ao direito à vida, basta analisar-se os casos de tráfico de crianças, muitas vezes
destinadas ao trabalho árduo e ilegal, ou exploradas sexualmente, ocasiões em que vidas são
ceifadas. O direito à educação, por sua vez, restaria prejudicado se os pais viajassem com seus
filhos por tempo indeterminado, retirando-os do ambiente escolar, as vezes sem nunca
retornarem. O direito à liberdade e à convivência familiar podem ser atingidos com as viagens
ilegais e desconsentidas, pondo o menor de idade longe do seu ambiente natural, do convívio
com familiares e amigos.

Em relação aos princípios, todos seriam desrespeitados. No tocante ao princípio do


melhor interesse da criança e do adolescente, prevaleceria primeiro o interesse dos genitores
ou responsáveis pela realização da viagem, ignorando-se aquilo que representa o mais seguro
para os infantes e para os jovens. Do mesmo modo, o princípio da proteção integral restaria
violado, pois não haveria fiscalização de viagens, ocorrendo o tráfico humano livremente,
podendo o responsável circular com crianças e adolescentes, internacionalmente, sem o
45

mínimo de preocupação. Por fim, também não seria concretizado o princípio da convivência
familiar, pois se colocando a criança e o adolescente longe da família e seus amigos, essas
relações seriam rompidas.

Por tudo isso, para que a criança ou o adolescente viagem ao exterior na companhia de
apenas um dos pais, é necessária a autorização expressa do outro. Essa determinação legal
assegura os direitos fundamentais dos jovens e dos infantes, evitando mencionados prejuízos.
Assim, quando não há o consentimento de ambos os genitores para que se realize a viagem
internacional dos filhos, está-se diante de um conflito de interesses, direitos e princípios,
cabendo ao poder judiciário determinar se cabe ou não o suprimento do consentimento,
avaliando o melhor interesse da criança e do adolescente.

4.2 REGRAS, ORIENTAÇÕES E PROCEDIMENTOS PARA A AUTORIZAÇÃO OU O


SUPRIMENTO JUDICIAL DE CONSENTIMENTO

De acordo com o Código Civil de 2002, uma das atribuições pertinentes ao poder
familiar é a concessão ou negativa de consentimento dos pais para que os filhos menores de
idade possam viajar para fora do país, devendo os genitores decidirem, em conjunto, por
aquilo que atenda o melhor interesse da criança e do adolescente (BRASIL, 2002).

Por sua vez, o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 83, regula a
autorização para viajar, abrangendo tanto as viagens internacionais, quanto as realizadas
dentro do território nacional. Desse modo, nenhuma criança ou adolescente menor de
dezesseis anos poderá viajar para fora da comarca onde reside sem os pais ou responsáveis,
exceto se apresentar autorização judicial. Tal dispositivo buscou dificultar a prática do tráfico
interno e a fuga de adolescentes da residência dos seus pais ou responsáveis. O termo
responsável se refere ao tutor ou guardião legal, ambos nomeados por autoridade judiciária
competente, ou o dirigente da instituição de acolhimento, onde se encontrar a criança ou o
adolescente (DIGIÁCOMO, 2020).

Essa autorização, no entanto, não será exigida quando se tratar de comarca contígua à
da residência do menor de dezesseis anos, se na mesma unidade da Federação, ou na mesma
região metropolitana. Também não será exigida a autorização quando o infante estiver
acompanhado de um ascendente ou colateral maior, até terceiro grau, devendo tal condição
46

ser comprovada por documento, ou se acompanhado de pessoa maior, expressamente


autorizada pelo pai, mãe ou responsável. Essa autorização é válida por dois anos, se assim
requerido pelos pais ou responsáveis, conforme disposições do Estatuto da Criança e do
Adolescente (artigo 83, §§ 1º e 2º) (BRASIL, 1990).

Quando a viagem for de nível internacional, referido Estatuto determina em seu artigo
84 que a autorização judicial se mantenha e que somente seja dispensada se a criança ou o
adolescente estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável, ou se na companhia de
apenas um dos pais, mas com expressa autorização do outro, através de documento com firma
reconhecida. A autorização do genitor deverá ser concretizada em documento com firma
reconhecida, e a autorização judicial deverá ser requerida perante o Juízo da Infância e da
Juventude, do local do domicílio dos pais ou responsável. A autoridade judiciária deverá
analisar atentamente a motivação da viagem, o itinerário e o destino final, o tempo de
permanência no exterior, a relação da criança ou do adolescente com o requerente da
autorização e com a pessoa que eventualmente irá acompanhá-la, o potencial risco em seus
estudos, e todos os demais quesitos que atendam o melhor interesse do menor de idade.
Ademais, mencionado livro legal, em seu artigo 85, estabelece que nenhuma criança ou
adolescente nascido em território nacional poderá sair do país em companhia de um
estrangeiro residente ou domiciliado no exterior sem prévia e expressa autorização judicial
(BRASIL, 1990; DIGIÁCOMO, 2020).

Destaca-se que o conflito de interesses aparece quando há divergência dos pais e a


criança ou adolescente quanto à realização da viagem, que pode se manifestar na seguinte
situação: um dos genitores deseja viajar ao exterior com seu filho, apresentando seus motivos,
enquanto o outro não aceita a realização da viagem, demonstrando as razões que lhe impedem
de autorizar a ida da criança ou adolescente. Nestes casos, há o suprimento judicial de
consentimento, em que o juiz irá decidir por aquilo que melhor represente o interesse da
criança e do adolescente e seu desejo na viagem, optando por autorizar ou não a sua
realização. Frisa-se que a autoridade judiciária não deverá atuar como um agente burocrático
e dispensar de qualquer forma os pedidos formulados, mas sim, deve agir com cautela e
responsabilidade dentro de um procedimento instaurado, instruído e julgado de forma
adequada. A decisão judicial deve ser pautada nos princípios que norteiam o Estatuto da
Criança e do Adolescente, de modo a garantir os direitos fundamentais previstos no citado
livro, visando evitar riscos com viagens ilegais ou irregulares (DIGIÁCOMO, 2020).
47

Além destas previsões legais do Estatuto, tem-se a Resolução nº 131/2011, do


Conselho Nacional de Justiça, que regulamenta a concessão de autorização de viagem para o
exterior de crianças e adolescentes brasileiros. Segundo essa Resolução, a autorização judicial
será dispensada quando a criança ou o adolescente estiverem na companhia de ambos os
genitores; em companhia de um dos genitores, desde que haja a autorização do outro com
firma reconhecida; desacompanhado ou em companhia de terceiros maiores e capazes,
designados pelos genitores, desde que autorizado expressamente por ambos os pais, com
firma reconhecida (BRASIL, 2011).

O Conselho inovou ao prever a dispensa de autorização quando o menor estiver


desacompanhado ou em companhia de terceiros maiores, capazes e designados pelos
genitores, com autorização expressa deles. Esse novo dispositivo e outros trazidos pela
mencionada Resolução, como a determinação de que a autorização dos pais poderá ocorrer
por escritura pública e que o reconhecimento de firma poderá se dar por semelhança, gerou
reprovação e polêmica por parte de alguns doutrinadores e juristas, os quais interpretaram a
normativa como facilitadora ao tráfico internacional de crianças (BAGATELLI, 2014).

Outrossim, a resolução também regulamenta a autorização de viagem internacional de


criança e adolescente brasileiros residentes no exterior, determinando que sem prévia e
expressa autorização judicial, nenhuma criança ou adolescente poderá sair do país em
companhia de estrangeiro residente ou domiciliado no exterior, salvo se esse for genitor do
menor de idade ou se a criança ou o adolescente, nascidos no Brasil, não tiverem
nacionalidade brasileira (BRASIL, 2011).

Diante destas informações a respeito da regulamentação de viagens de crianças e


adolescentes, passa-se agora à análise dos fundamentos utilizados pelo Tribunal de Justiça do
Estado de Santa Catarina na concessão ou negativa do suprimento judicial de consentimento
para viagem de criança e adolescente ao exterior.
48

4.3 OS FUNDAMENTOS ADOTADOS PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO


DE SANTA CATARINA PARA A CONCESSÃO OU NEGATIVA DO SUPRIMENTO
JUDICIAL DE CONSENTIMENTO

Este tópico analisará 10 (dez) acórdãos proferidos pelo Tribunal de Justiça do Estado
de Santa Catarina proferidos no período compreendido entre janeiro/2014 à dezembro/2020
que envolvem o suprimento judicial de consentimento para a viagem de criança e adolescente
ao exterior na companhia de apenas um genitor, estudando-se os fundamentos utilizados para
a concessão ou negativa do suprimento. As decisões foram coletadas diretamente no site do
Tribunal Catarinense, www.tjsc.jus.br/web/jurisprudencia, utilizando-se as palavras-chave
“suprimento” e “consentimento”. Destes dez, 3 (três) foram detalhadamente estudados, e os
outros sete foram analisados através do preenchimento de uma tabela (Quadro 1), como se
passa a expor.

4.3.1 Acórdão nº 4021739-54.2019.8.24.0000, de Criciúma

Este primeiro acórdão que será analisado foi proferido no dia 1º de outubro do ano de
2019 e teve como relator o desembargador Ricardo Fontes, da Quinta Câmara de Direito Civil
do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, com sentença oriunda da comarca de
Criciúma. A ementa possui o seguinte conteúdo:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE GUARDA, ALIMENTOS C/C
SUPRIMENTO DE CONSENTIMENTO PATERNOS PARA VIAGEM AO
EXTERIOR. DECISÃO QUE INDEFERIU A MEDIDA LIMINAR PERMISSIVA
DE RESIDÊNCIA TEMPORÁRIA DA MENINA NO EXTERIOR.
INSURGÊNCIA DA GENITORA. MODIFICAÇÃO TRANSITÓRIA DE
DOMICÍLIO. POSSIBILIDADE VERIFICADA. NEGATIVA DO GENITOR
INJUSTIFICADA. CRIANÇA QUE, DESDE FIM DA RELAÇÃO DOS
ASCENDENTES, ESTÁ SOB OS CUIDADOS DA MÃE. GENITORA QUE
CONTRAIU UNIÃO ESTÁVEL E RECEBEU PROPOSTA DE TRABALHO,
JUNTAMENTE COM O ATUAL COMPANHEIRO NO EXTERIOR.
MELHORES POSSIBILIDADES DE CRIAÇÃO À FILHA. PRIMAZIA AO
MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA. DISTÂNCIA QUE, POR SI SÓ, NÃO
JUSTIFICA A NEGATIVA DO GENITOR. REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS.
VIABILIDADE DE MANUTENÇÃO DO VÍNCULO PATERNO.
PRECEDENTES. "[...] A negativa de se conceder autorização ao genitor guardião
para viajar com a prole, se não oriunda de motivo fundado e razoável, constitui-se
temerosa obstaculização ao exercício do direito à liberdade de locomoção, e mesmo
de escolha de local para estabelecimento de moradia. Afinal, se o genitor detém a
guarda, naturalmente a prole fixará residência consigo (AC n. 2014.057996-2,
Relator Des. Sebastião César Evangelhista, j. 30-10-2014)" (AC n. 0303595-
64.2015.8.24.0033, Quarta Câmara de Direito Civil, 16-2-2017). RECURSOS
PROVIDO. (TJSC, Agravo de Instrumento n. 4021739-54.2019.8.24.0000, de
Criciúma, rel. Ricardo Fontes, Quinta Câmara de Direito Civil, j. 01-10-2019).
(SANTA CATARINA, 2019).
49

O agravo de instrumento em tela versa sobre uma ação de fixação de guarda e


alimentos, cumulada com suprimento de consentimento paterno para viagem e residência no
exterior, movida no ano de 2019 pela genitora de uma criança de 4 anos de idade à época do
julgamento. Na inicial, a Agravante pleiteava a concessão de tutela permissiva para que a
filha viajasse junto dela à Espanha por um período de 6 (seis) meses, uma vez que o genitor
da criança não autorizou a ida da menor. A mãe fundamentou seu pedido no fato de ser a
detentora da guarda provisória da criança e que, no referido país, teria condições de lhe ofertar
melhor qualidade de vida. O pedido foi indeferido pelo Juiz de Direito da Vara da Família da
comarca de Criciúma, tendo sido alegado que não havia fundamento suficiente que
evidenciasse a recusa injustificada do genitor. A Agravante, naquele momento ainda
Requerente, inconformada, interpôs o recurso.
No decorrer do processo, a genitora da criança juntou aos autos alguns arquivos de
áudio que evidenciavam a resistência do genitor em autorizar a ida da infante ao exterior, o
qual citava que o distanciamento era fator determinante de sua negativa. Em contrapartida, a
Agravante argumentou que o Agravado utilizava de sua liberdade profissional em detrimento
do convívio paterno, mas que negava liberdade a ela sob alegação de ausência da filha.
Em análise ao agravo interposto, a Quinta Câmara de Direito Civil atentou-se ao fato
de que a infante se encontrava sob os cuidados da mãe, ora Agravante, desde o rompimento
dos laços afetivos das partes, isso em meados do ano de 2017, mantendo relacionamento
harmônico com o padrasto e meio irmão. Além disso, a viagem e permanência no exterior
pelo período de seis meses se justifica na proposta recebida pela genitora e seu atual
companheiro de trabalharem em uma empresa de transportes do genitor deste, situada na
cidade de Valência, Espanha. A genitora, ainda, ao requerer a autorização do Agravado,
ofertou a ele as seguintes garantias de manutenção dos laços afetivos existentes entre pai e
filha: livre acesso à filha pelos meios de comunicação; direito de visitas a qualquer tempo,
desde que respeitada a guarda unilateral; direito de visitas nas férias escolares pelo período de
30 a 40 dias, respeitado o calendário escolar; permissão para a pessoa responsável e de
confiança de ambos para trazer a filha ao Brasil no período citado, e arcar com as custas do
deslocamento da filha e do responsável.
Mesmo diante da oferta, o Agravado sustentou a negativa de autorização para a
viagem da filha, referindo não possuir recursos econômicos para visitá-la no exterior ou arcar
com os custos para trazê-la; que tem necessidade de acompanhar o seu crescimento; e que há
evidente alienação parental. Tais argumentos foram afastados pelo Tribunal Catarinense,
50

considerando que a Agravante garantiu, dentre outras coisas, o contato por meio digital e a
vinda da infante ao Brasil durante as férias escolares, não havendo qualquer elemento que
justifique as alegações do genitor. Considerou-se, ainda, a importância da inserção da criança
em outra cultura, e a existência de tecnologias que possibilitam a comunicação diária entre pai
e filha, garantindo o convívio da menina com o ambiente paterno.
Dessa forma, entendeu o Tribunal que a negativa do pai em autorizar a viagem da filha
ao exterior para acompanhar urgente mudança de domicílio da mãe deve ser acompanhada de
um justo motivo, ausente no caso em questão. Apesar de reconhecer a preocupação do
genitor, decidiu pelo bem-estar da menor, detentora de direitos garantidos pela Constituição
Federal, respeitando-se o melhor interesse da criança e do adolescente. Para manter os laços
firmados entre a infante o genitor, determinou que o contato da infante com o Requerido
ocorresse 3 (três) vezes na semana pelo período de 1 (uma) hora, sendo nos dias úteis (terça e
quinta-feira) no horário das 19h às 20h (da Espanha) e aos sábados das 13h às 14h (também
da Espanha), a ser realizado mediante telefone ou outro meio.
O Tribunal também estabeleceu que o genitor tem livre acesso de comunicação com a
filha, desde que respeitado o turno escolar, e determinou que no próximo período de férias
escolares a infante viaje para o Brasil, na companhia da genitora ou alguém de sua confiança,
para conviver com o Requerido em um período não inferior que 30 (trinta) dias, cujo custo
será de sua responsabilidade. Determinou, por fim, que a genitora deve informar ao genitor
todos os endereços de contato, como e-mails, redes sociais, endereço de residência e
telefones, mantendo-o sempre atualizado.
Foi com base em todo o exposto, que a Quinta Câmara de Direito Civil decidiu, por
unanimidade, dar provimento ao recurso, suprindo o consentimento do genitor e,
consequentemente, autorizando que a criança viajasse para o exterior com a mãe,
reconhecendo que a “negativa de se conceder autorização ao genitor guardião para viajar com
a prole, se não oriunda de motivo fundado e razoável, constitui-se temerosa obstaculização ao
exercício do direito à liberdade de locomoção, e mesmo de escolha de local para
estabelecimento de moradia” (SANTA CATARINA, 2019).

4.3.2 Acórdão nº 4011302-04.2018.8.24.0900, de Barra Velha

Este segundo acórdão que será analisado foi proferido no dia 28 de agosto do ano de
2018, tendo como relator o desembargador Fernando Carboni, da Terceira Câmara de Direito
51

Civil do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, com sentença oriunda da comarca
de Barra Velha. A ementa possui o seguinte conteúdo:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. SUPRIMENTO JUDICIAL DE
CONSENTIMENTO PATERNO. AUTORIZAÇÃO PARA EXPEDIÇÃO DE
PASSAPORTE E REALIZAÇÃO DE VIAGEM INTERNACIONAL. TUTELA DE
URGÊNCIA INDEFERIDA. AUSÊNCIA DE PROVAS QUANTO À CIÊNCIA
OU RECUSA INJUSTIFICADA DO PAI. VIAGEM DE LAZER. PASSAGENS
AÉREAS NÃO ADQUIRIDAS. POSSIBILIDADE DE AGUARDAR
CONTRADITÓRIO. PROBABILIDADE DO DIREITO E PERIGO DE DANO
NÃO EVIDENCIADOS. DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. "A
concessão da tutela de urgência, cautelar ou satisfativa, na égide do atual Código de
Processo Civil, apresenta como pressuposto a existência de prova apta a indicar
probabilidade do direito da parte autora, acrescida da possibilidade de perigo de
dano ou risco ao resultado útil do processo, ou seja, os requisitos do fumus boni iuris
e periculum in mora" (TJSC, Agravo de Instrumento n. 4003783-59.2018.8.24.0000,
da Capital, deste relator, Terceira Câmara de Direito Civil, j. em 31-7-2018). (TJSC,
Agravo de Instrumento n. 4011302-04.2018.8.24.0900, de Barra Velha, rel.
Fernando Carioni, Terceira Câmara de Direito Civil, j. 28-08-2018). (SANTA
CATARINA, 2018b).
O agravo de instrumento acima refere-se à Ação de Suprimento de Consentimento
Paterno movida no ano de 2018, por uma criança de cinco anos à época, representada por sua
genitora, que pleiteava tutela provisória de urgência para o suprimento de consentimento do
seu genitor, que não lhe autorizava viajar ao exterior com sua mãe. Frisa-se que este acórdão
não aborda, especificamente, a concessão ou negativa do suprimento de consentimento
paterno, mas sim, a aplicabilidade ou não da tutela provisória, em que se faz importante
analisar os fundamentos utilizados pelo Tribunal Catarinense.
É relatado nos autos que os genitores se divorciaram consensualmente no ano de 2014,
e que a guarda do infante é exercida pela mãe desde então. Mãe, filho e irmão unilateral
pretendiam viajar à passeio para os Estados Unidos da América, no mesmo ano, e justificaram
a tutela de urgência pelo prazo exíguo. O juízo a quo decidiu pelo indeferimento do pedido
ante a ausência de prejuízo ao Agravante, uma vez que a viagem poderia ser realizada em
outro momento.
Em sede de recurso, o Agravante frisou que não poderia aguardar a manifestação do
genitor nos autos, tampouco a audiência de conciliação, ante à data programada para o
passeio, e que a recusa da tutela lhe causaria danos psicológicos, sendo que jamais esqueceria
a impossibilidade de viajar com sua genitora. Também mencionou que o passaporte deveria
ter seu pedido encaminhado já com o suprimento paterno, e, somente após sua emissão, é que
poderá ser confirmada a viagem, a qual dependia de visto. Asseverou, por fim, que em virtude
da instabilidade econômica do país, não era possível confirmar que a viagem poderia ser
realizada futuramente, e que o princípio do melhor interesse deveria ter prevalência.
52

Ao iniciar o voto, a Terceira Câmara de Direito Civil observou, por primeiro, que os
pressupostos exigidos para a concessão da tutela de urgência não foram preenchidos, visto
que não foram apresentadas nos autos as provas da negativa de consentimento do Agravado
quanto à viagem, tampouco que ela seja injustificada, e até mesmo imprecisa a ciência do
Agravado a respeito dessa viagem. Evidenciou-se a ausência do fumus boni iuris. Não passou
despercebido pelo Tribunal, também, o fato de que as passagens para a viagem não haviam
sido adquiridas ainda, não se vislumbrando a urgência suscitada pelo Agravante. Em matéria,
reconheceu a coerência do Agravante ao alegar que o agendamento para a emissão do
passaporte deverá ser realizado somente após suprido o consentimento paterno, mas verificou
que, se a medida fosse realmente urgente, ao menos os passaportes dos outros interessados na
viagem teriam sido providenciados.
Ao final, observou que não havia sido comprovada a existência de vínculos
profissionais da genitora do Agravante no país, mas apenas dos seus familiares, tornando
temerário o deferimento da tutela de urgência pleiteada e mais seguro o aguardo da
instauração do contraditório. A liminar, assim, foi indeferida, dada a situação de incertezas e
riscos, o que ocorreu com base no princípio do melhor interesse da criança e do adolescente.
Sendo assim, entendeu o magistrado que "A concessão da tutela de urgência, cautelar ou
satisfativa tem por pressuposto a existência de prova apta a indicar probabilidade do direito da
parte autora, acrescida da possibilidade de perigo de dano ou risco ao resultado útil do
processo, ou seja, os requisitos do fumus boni iuris e periculum in mora" (SANTA
CATARINA, 2018).

4.3.3 Acórdão nº 2014.038265-1, de Criciúma

Este terceiro acórdão que será analisado foi proferido no dia 05 de novembro do ano
de 2014, tendo como relator o desembargador Sebastião César Evangelista, da Primeira
Câmara de Direito Civil do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, com sentença
oriunda da comarca de Criciúma. A ementa possui o seguinte conteúdo:
APELAÇÃO CÍVEL. VIAGEM DE INFANTE EM PERÍODO DE FÉRIAS AO
EXTERIOR ACOMPANHADA DA GENITORA. TURISMO E VISITA A
PARENTES. RECUSA DE CONCESSÃO DE AUTORIZAÇÃO POR PARTE DO
GENITOR. PEDIDO DE SUPRIMENTO DO CONSENTIMENTO PATERNO
PROVIDO EM PRIMEIRO GRAU. INSURGÊNCIA DO GENITOR. ALEGADO
RECEIO DE QUE A INFANTE SEJA LEVADA A PORTUGAL EM CARÁTER
DEFINITIVO. RECEIO INJUSTIFICADO. ROBUSTA COMPROVAÇÃO DE
QUE A GENITORA MANTÉM RAÍZES NO BRASIL. CONVÍVIO FAMILIAR
RECOMENDÁVEL. GARANTIA DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA.
APELAÇÃO DESPROVIDA. Diante da divergência entre os detentores do poder
53

familiar, provocado o Judiciário a decidir, levar-se-á em conta o melhor interesse da


criança. A recusa de concessão de autorização para viagem ao filho deve ser
justificada, especialmente quando a viagem atender aos interesses da criança de
convívio familiar. (TJSC, Apelação Cível n. 2014.038265-1, de Criciúma, rel.
Sebastião César Evangelista, Primeira Câmara de Direito Civil, j. 06-11-2014).
(SANTA CATARINA, 2014).
O recurso em tela está relacionado à Ação de Suprimento de Autorização Judicial
movida por uma genitora que tinha por objetivo realizar viagem de férias à Portugal com a
filha menor de idade, para visitar sua família que lá reside, não recebendo, entretanto, a
autorização do genitor da infante. A mãe, assim, pleiteou liminarmente o suprimento do
consentimento do pai da criança, justificando a urgência na iminência de seu período de
concessão de férias. O juízo a quo indeferiu o pedido, visto que a demanda requeria a
instauração do contraditório.
Quando fora citado, o genitor justificou sua recusa em autorizar a viagem da filha para
o exterior com receio de que a mãe viesse a levá-la para Portugal, definitivamente, afastando-
o da infante. A genitora, por sua vez, argumentou que se tratava apenas de uma viagem
turística, com o fito de visitar os familiares, apresentando comprovações de que inexistiam
motivos para não voltar ao Brasil, como emprego fixo e recente aquisição de imóvel
residencial. O Ministério Público manifestou-se pelo acolhimento do pedido, tendo o
magistrado julgado procedente o pedido formulado, suprindo o consentimento paterno,
deferindo a expedição de passaporte e autorizando a viagem da criança ao exterior, com
validade de 6 (seis) meses.
Inconformado, o genitor interpôs recurso de apelação, repetindo os argumentos
anteriores e pedindo, subsidiariamente, para que a genitora informasse as referências de
onde pretendia se hospedar em Portugal, caso fosse mantido o suprimento da autorização.
Ainda, alegando a sobrevinda de fato supostamente extintivo do interesse processual,
requereu a juntada de um novo documento, tendo sido negado pelo Ministério Público por
não possuir tal peça o condão de alterar a sentença, dando a entender, inclusive, que o
genitor estaria opondo injustificada resistência ao andamento processual. A douta
Procuradoria-Geral de Justiça manifestou-se pelo parcial conhecimento do recurso e seu
desprovimento.
Ao receber a demanda, a Primeira Câmara de Direito Civil do Tribunal Catarinense
verificou que estavam presentes todos os pressupostos subjetivos e objetivos de
admissibilidade, e passou a analisar o mérito da causa. Primeiramente, ao observar todos os
documentos e informações carreados aos autos, constatou-se que não havia justificativa
razoável na negativa do genitor em autorizar a viagem da filha ao exterior, sendo que os
54

fundamentos adotados por ele não resistiam às provas juntadas pela genitora. Ademais,
preocupou-se em seguir as diretrizes do conteúdo disposto no artigo 227, da Constituição
Federal e no artigo 4º, do Estatuto da Criança e do Adolescente, momentos em que o
legislador brasileiro determinou o direito de convivência familiar à todas as crianças e
adolescentes. Uma vez que a viagem serviria de visita aos familiares que residem em
Portugal, não havia dúvida quanto a importância do passeio para a criança, garantindo-lhe o
contato com sua família extensa.
No decorrer do processo, o genitor utilizou diversos argumentos com o intuito de
justificar sua negativa, como a hipótese de a genitora não voltar ao Brasil, e estabelecer
laços trabalhistas no exterior. A Corte, entretanto, não deixou despercebido o fato de que a
mãe da infante possuía emprego fixo na cidade de Criciúma, além de estar adquirindo um
imóvel na mesma região, restando claro que não havia motivos para suspeitar que a genitora
estivesse planejamento abandonar o país. Destaca-se o apontamento levantado no voto a
respeito da distância momentânea que a viagem ocasionaria entre pai e filha, considerada
como indesejável, mas também sendo assim caracterizada a privação da criança ao convívio
com seus familiares maternos.
O Tribunal, ainda, destacou a regulamentação das viagens de crianças e adolescentes
ao exterior, citando a necessidade de anuência de ambos os genitores e a possibilidade de
suprimento judicial do consentimento de um deles. Frisou que, para tanto, deve restar
verificado o melhor interesse da criança em empreender a viagem e a ausência de
justificativa razoável para a recusa da concessão de autorização para viajar. Na situação que
estava sendo analisada, ocorria a divergência de interesse dos genitores quanto à viagem da
criança ao exterior na companhia de apenas um deles, e prezando pelo melhor interesse da
infante e pelo respeito ao direito de convivência familiar, o voto foi no sentido de conhecer
do recurso e negar-lhe provimento, deferindo a autorização judicial para viagem ao exterior.
Segundo o magistrado, “a recusa de concessão de autorização para viagem ao filho deve ser
justificada, especialmente quando a viagem atender aos interesses da criança de convívio
familiar” (SANTA CATARINA, 2014).
Além destes três julgados estudados, destacam-se outros sete, no quadro 1 a seguir, em
que se mostra de forma resumida o número do processo, a Câmara Julgadora, o tipo de ação e
recurso, e a decisão do magistrado quanto ao suprimento de consentimento para a viagem da
criança e do adolescente, como segue:
55

Nº do Processo Câmara Julgadora Tipo de Ação e Recurso Concessão ou Negativa


do Suprimento de
Consentimento
4021615- Segunda Câmara de Ação de guarda, alimentos e Concessão
24.2018.8.24.0900 Direito Civil supressão da autorização
paterna.
Agravo de Instrumento
4009739- Segunda Câmara de Ação de suprimento de Concessão
22.2019.8.24.0000 Direito Civil consentimento paterno.
Agravo de Instrumento
0303595- Quarta Câmara de Ação de Suprimento do Concessão
64.2015.8.24.0033 Direito Civil Consentimento Paterno
Apelação Cível
0300590- Terceira Câmara de Ação de Modificação de Concessão
57.2014.8.24.0069 Direito Civil Guarda cumulada com
Suprimento de Consentimento
Paterno
Apelação Cível
2015.074223-8 Câmara Especial Ação de Suprimento de Concessão
Regional de Consentimento Paterno
Chapecó Apelação Cível
2014.078467-3 Segunda Câmara de Ação de Suprimento de Concessão
Direito Civil Consentimento Materno
Apelação Cível
2013.050566-5 Sexta Câmara de Ação de Suprimento de Concessão
Direito Civil Consentimento para viagem
de infante ao exterior
Agravo de Instrumento

Quadro 1: Acórdãos do TJSC de jan/14 a dez/2020.


Fonte: Elaboração do Autor.

Conforme se verifica no quadro, os requerimentos de suprimento de consentimento


são realizados através de ação própria ou acompanhados de ação de guarda e alimentos.
Outrossim, constata-se que em todos os autos listados foram interpostos recursos,
evidenciando a insurgência de um dos genitores e a grande relevância que o tema comporta,
visto que todas as ferramentas judiciais são utilizadas para conceder-se ou negar-se
autorização para viagem de menor de idade. Além do mais, ao estudar-se atentamente cada
processo, percebeu-se que o Tribunal Catarinense respeitou sempre a decisão que
representasse o melhor interesse da criança e do adolescente, mas ouvindo, em todas as
situações, as razões de ambos os genitores, garantindo o contraditório e analisando todos os
fatores que interferem direta e indiretamente na vida do infante.
56

4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO

Este capítulo buscou abordar o tema central desta monografia, qual seja, o suprimento
judicial de consentimento para viagem de criança e adolescente ao exterior na companhia de
apenas um genitor. Primeiramente, foi estudado o conteúdo do tema, explicando-se os
motivos da necessidade de autorização para que as viagens ocorram, expondo-se os conflitos
de interesses, direitos e princípios, e, após, foram discutidas as regras, orientações e
procedimentos para a autorização e o suprimento de consentimento.

Em seguida, com a análise das decisões, foi possível identificar que o Tribunal de
Justiça do Estado de Santa Catarina aborda com cautela os processos que envolvam o
suprimento do consentimento de um dos genitores para a viagem dos filhos ao exterior,
observando sempre a garantia de efetivação do princípio do melhor interesse da criança e do
adolescente, e a proteção integral de todos os seus direitos fundamentais. Observou-se
também que a Corte Catarinense não decide pela concessão ou negativa do suprimento de
consentimento com base nos interesses dos genitores, mas sim por aquilo que a viagem
representa para a criança e ao adolescente, quanto à efetivação dos seus direitos fundamentas.

Nos três casos estudados detalhadamente, configurou-se a preocupação do Tribunal


em analisar a justificativa da negativa do genitor em autorizar a viagem do filho, uma vez que
há casos em que a viagem realmente não deve ser realizada, em prol do bem e proteção do
infante. É por este motivo que tanto ao genitor interessado na viagem, quanto àquele que não
a permite é garantido o contraditório, a fim de que cada um exponha suas alegações e provas.
Destaca-se, outrossim, a conduta do Tribunal em fixar um prazo em que a autorização será
considerada válida, pois permite que o caso seja reavaliado futuramente, acompanhando
eventuais mudanças na rotina ou na pessoa dos pais, responsáveis e infantes.

Compreende-se que o Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina atua como um


guardião de direitos fundamentais e de garantias de concretização do melhor interesse da
criança e do adolescente, não se deixando contaminar pelos interesses difusos despertados
pelos genitores.

Assim, encerra-se essa monografia.


57

5 CONCLUSÃO

O presente trabalho monográfico teve como objetivo analisar os fundamentos adotados


pelo Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina na concessão ou negativa do suprimento
judicial de consentimento para viagem de criança e de adolescente ao exterior na companhia
de apenas um dos genitores.

Em sua primeira parte, foram abordados os direitos fundamentais da criança e do


adolescente, apresentando-se algumas noções gerais acerca das normas e doutrinas de
proteção à população infantojuvenil. Esses direitos foram norteados pela doutrina da situação
irregular e atualmente baseiam-se na proteção integral. Constituem direitos fundamentais da
criança e do adolescente o direito à vida, à educação, à liberdade, à convivência familiar e
comunitária, à saúde, à alimentação, à cultura, ao esporte e ao lazer, à profissionalização e à
proteção no trabalho, e o direito à dignidade e ao respeito. O Estatuto da Criança e do
Adolescente, por sua vez, está fundamentado em princípios constitucionais, dentre os quais
destacam-se: o princípio da proteção integral; princípio da prioridade absoluta; princípio do
melhor interesse da criança e do adolescente; princípio da convivência familiar e princípio da
municipalização.

O terceiro capítulo apresentou o instituto do poder familiar, que representa as


responsabilidades dos pais em relação aos seus filhos menores de idade, baseados no princípio
da igualdade entre os pais e no princípio da paternidade responsável. As atribuições que
compõem o exercício do poder familiar estão descritas no Código Civil/2002 (artigo 1.634,
incisos I a IX), que também prevê as hipóteses de destituição do poder familiar, que podem
ocorrer por suspensão, perda ou extinção.

Por fim, o quarto capítulo abordou o tema central deste Trabalho de Conclusão de
Curso: o suprimento judicial de consentimento para viagem de criança e adolescente ao
exterior na companhia de apenas um genitor. Inicialmente, explicou-se a necessidade de
autorização para que as viagens de crianças e adolescentes ocorram, destacando-se a prática
do tráfico humano, que requer cautela por parte do magistrado no processamento e
julgamento do pedido de autorização. Dentre os conflitos que, geralmente, originam-se na
relação entre pais e filhos quanto ao consentimento para a viagem ao exterior, destaca-se a
situação do genitor que deseja viajar ao exterior com seu filho, apresentando seus motivos; o
genitor que não autoriza a realização da viagem, demonstrando suas razões; e o interesse da
58

criança e do adolescente na viagem, tendo sido exposto, assim, o conflito de interesses,


direitos e princípios. Em seguida, abordou-se as regras, orientações e procedimentos para a
autorização ou o suprimento judicial de consentimento para a realização dessas viagens,
expondo-se as normas contidas nos artigos 83, 84 e 85 do Estatuto da Criança e do
Adolescente, bem como as regulamentações trazidas pela Resolução nº 131/2011, do
Conselho Nacional de Justiça, que trata da concessão de autorização de viagem para o exterior
de crianças e adolescentes brasileiros, pelas quais nenhuma criança ou adolescente menor de
dezesseis anos poderá viajar para fora da comarca onde reside sem os pais ou responsáveis,
exceto se apresentar autorização judicial.

Essa autorização, no entanto, não será exigida quando se tratar de comarca contígua à
da residência do menor de dezesseis anos, se na mesma unidade da Federação, ou na mesma
região metropolitana, como também no caso de estar acompanhado de um ascendente ou
colateral maior, até terceiro grau, ou se acompanhado de pessoa maior, expressamente
autorizada pelo pai, mãe ou responsável. Quando a viagem for de nível internacional, a
autorização judicial também é necessária, podendo ser dispensada se a criança ou o
adolescente estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável, ou se apenas na
companhia de apenas um dos pais, mas com expressa autorização do outro, através de
documento com firma reconhecida. Ainda, não poderá sair do país em companhia de
estrangeiro residente ou domiciliado no exterior, salvo se esse for genitor do menor de idade
ou se a criança ou o adolescente, nascidos no Brasil, não tiverem nacionalidade brasileira.

Outrossim, buscou-se resposta à questão problema desta monografia, identificando-se


e analisando-se os fundamentos adotados pelo Tribunal de Justiça do Estado de Santa
Catarina na concessão ou negativa do suprimento judicial de consentimento para viagem de
criança e adolescente ao exterior na companhia de apenas um dos genitores. Para tanto,
analisou-se 10 (dez) acórdãos proferidos entre janeiro de 2014 e dezembro de 2020 que
possuem como mérito principal o suprimento judicial de consentimento. Verificou-se que a
Corte Catarinense aborda com cautela os processos que envolvem o suprimento do
consentimento de um dos genitores para a viagem dos filhos ao exterior, observando sempre a
garantia de efetivação do princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, e a
proteção integral de todos os seus direitos fundamentais, não atuando com base nos interesses
dos genitores, onde cada um expõe seus argumentos, mas sim, naquilo que representa a
efetivação dos direitos do menor de idade, ser em pleno desenvolvimento.
59

Identificou-se, também, que o Tribunal busca garantir a efetivação do contraditório,


ouvindo sempre o genitor interessado na viagem e aquele que não a permite, a fim de que
cada um exponha suas alegações e provas. Também constatou-se a conduta da Corte de fixar
um prazo em que a autorização concedida será considerada válida, permitindo que o caso seja
reavaliado futuramente, acompanhando eventuais mudanças na rotina ou na pessoa dos pais,
responsáveis e infantes.

Diante de todo o exposto, conclui-se que o Tribunal de Justiça do Estado de Santa


Catarina atua como um guardião de direitos fundamentais e de garantias de concretização do
melhor interesse da criança e do adolescente.
60

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