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Palhoça
2019
ARIANE MARIA MARTINS
Palhoça
2019
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
____________________________________
ARIANE MARIA MARTINS
Dedico este trabalho à minha avó materna,
Maria da Rosa Bernado, pelo auxílio e
incentivo durante toda minha vida
acadêmica e por ser meu alicerce e
exemplo de perseverança.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, por todo o carinho e apoio prestados durante todas as
etapas da minha vida, sem os quais nada disso seria possível.
À minha avó materna, por ter me ensinado que sou capaz de alcançar meus
objetivos e superar as adversidades, desde que eu nunca deixe de acreditar. Você é
minha inspiração.
À minha Professora orientadora, Patrícia Rodrigues de Menezes Castagna,
pelo admirável profissionalismo e zelo durante a elaboração desta pesquisa.
Ao meu namorado Guilherme, por todo o apoio e compreensão me
concedidos durante esse último ano de faculdade.
Às minhas amigas, Mariana, Michaelly e Raquel, por terem me
acompanhado durante esses 5 anos na universidade. Vocês foram fundamentais para
a conclusão deste trabalho.
“Que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa
própria substância, já que viver é ser livre.” (Simone de Beauvoir)
RESUMO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 9
2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E DIREITOS FUNDAMENTAIS .................. 11
2.1 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ............................................ 12
2.2 PRINCÍPIO DA FRATERNIDADE .............................................................................. 15
2.3 PRINCÍPIO DA IGUALDADE ...................................................................................... 18
2.4 DIREITO FUNDAMENTAL À LIBERDADE ............................................................... 21
3 LEI DO PLANEJAMENTO FAMILIAR N. 9.263/1996 E ESTERILIZAÇÃO
VOLUNTÁRIA ........................................................................................................................ 25
3.1 BREVE HISTÓRICO DA ESTERILIZAÇÃO VOLUNTÁRIA NO BRASIL ............ 25
3.2 DIREITO AO PLANEJAMENTO FAMILIAR E DIREITOS REPRODUTIVOS ..... 26
3.3 CONCEITO DE ESTERILIZAÇÃO ............................................................................. 31
3.4 A ESTERILIZAÇÃO VOLUNTÁRIA NA LEI N. 9.263/96 ........................................ 33
3.4.1 Esterilização Voluntária e Situações Permitidas pela Lei N. 9.263/96 ....... 33
3.4.2 Esterilização Voluntária e Vedações Expressas Na Lei N. 9.263/96 ........... 35
3.4.3 Consentimento Expresso Dos Cônjuges Na Lei N. 9.263/96 Para A
Esterilização Voluntária ..................................................................................................... 36
4 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DIREITO
FUNDAMENTAL À LIBERDADE: A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DA EXIGÊNCIA
DO CONSENTIMENTO DO CÔNJUGE PARA A ESTERILIZAÇÃO
VOLUNTÁRIA........................................................................................................................39
4.1 PROJETO DE LEI DA CÂMARA DOS DEPUTADOS N. 209, DE 06 DE MARÇO
DE 1991, CONVERTIDO NA LEI N. 9.263/96 .................................................................. 39
4.2 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE N. 5097, DE 13 DE MARÇO
DE 2014................................................................................................................................... 41
4.3 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE N 5.911, DE 08 DE MARÇO
DE 2018................................................................................................................................... 44
4.4 PROJETO DE LEI N. 406, DE 10 OUTUBRO DE 2018, NO SENADO
FEDERAL................................................................................................................................45
4.5 PROJETO DE LEI DA CÂMARA DOS DEPUTADOS N. 1.803, DE 27 DE
MARÇO DE 2019................................................................................................................... 47
5 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 50
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 52
9
1 INTRODUÇÃO
[...] traça as prerrogativas para garantir uma convivência digna, com liberdade
e com igualdade para todas as pessoas, sem distinção de raça, credo ou
origem. Tais garantias são genéricas, mas também são essenciais ao ser
humano, e sem elas a pessoa humana não pode atingir sua plenitude e, por
vezes, sequer pode sobreviver.
[...] uma qualidade intrínseca de todo ser humano, e não um direito conferido
às pessoas pelo ordenamento jurídico. A sua consagração como fundamento
do Estado brasileiro não significa, portanto, a atribuição de dignidade às
pessoas, mas sim a imposição aos poderes públicos dos deveres de respeito,
proteção e promoção dos meios necessários a uma vida digna.
dezembro de 1948, que trata do tema não apenas em seu Preâmbulo, mas também
em artigos subsequentes.”
No que se refere à dignidade da pessoa humana perante a Declaração
Universal, Piovesan (2018a, p. 231) explica:
Esses novos direitos buscam proteger todo o gênero humano e não apenas
um grupo de indivíduos, podendo ser citados, como exemplo, o direito ao
desenvolvimento, o direito à paz, o direito ao meio ambiente, o direito de propriedade
sobre o patrimônio comum da humanidade e o direito de comunicação.
(MARMELSTEIN, 2019, p. 50)
Camões (2019, p. 84) trata de uma relação entre o princípio da fraternidade
e da dignidade da pessoa humana, isso porque “a dignidade humana assume
capacidade estruturadora da fraternidade e é por ela estruturada, [...], haja vista que
se pressupõe o reconhecimento da condição humana a todo raciocínio em
conformidade com a fraternidade.”
Ademais, o artigo 4º da Constituição determina os princípios pelos quais a
República Federativa do Brasil se orienta nas suas relações internacionais, cujos
incisos VI e VII prescrevem a defesa da paz e a solução pacífica dos conflitos
(BRASIL, 1988).
Acerca desses dois incisos supracitados, Almeida (2018, p. 1426)
esclarece que tal imposição legal:
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por meio de ações positivas do Estado, que deverá em algumas ocasiões utilizar-se
da desigualdade para tanto.
Por outro lado, Sarmento (2005, p. 208) ressalva que as liberdades não são
absolutas, uma vez que:
[...] em caso de conflito, elas podem ser ponderadas com outros direitos e
princípios constitucionais. Significa, sim, que não cabe ao Estado avaliar se
as liberdades existenciais estão ou não sendo exercidas no sentido que ele
considerar mais apropriado, já que tal concepção esvaziaria o poder da
pessoa humana de se autogovernar, de fazer escolhas existenciais e de viver
de acordo com elas, desde que não lese direitos de terceiros.
[...] toda pessoa que esteja em pleno gozo de suas faculdades mentais e
tenha condições concretas e autênticas de tomar por si própria as decisões
que lhe dizem respeito tem o direito fundamental de dispor do próprio corpo
da forma como bem entender, desde que não prejudique o direito de
terceiros, não podendo o Estado, ressalvadas algumas situações bem
peculiares, interferir no exercício desse direito.
[...] proteger a pessoa do filho, impondo limites à liberdade dos pais, quais
sejam aqueles decorrentes da responsabilidade com a criação e o sustento
da prole. Como não há responsabilidade sem liberdade, garante-se a
liberdade de decisão de planejar a dimensão da família e dessa liberdade faz-
se decorrer a responsabilidade parental de assisti-la material e moralmente.
- O direito de escolha, de forma livre e informada, sobre ter ou não ter filhos,
sobre o intervalo entre eles, sobre o número de filhos e em que momento de
suas vidas;
- O direito de acesso a receber informações e o acesso a meios, métodos e
técnicas para ter ou não ter filhos;
- O direito de exercer a reprodução, sem sofrer discriminação, temor ou
violência.
[...] uma anestesia local e retira um fragmento de cada um dos dois canais
que levam os espermatozoides dos testículos ao pênis. O procedimento leva
de 15 a 20 minutos e não há necessidade de internação hospitalar, podendo
ser realizada no próprio consultório médico. (BRASIL, 2009)
Uma vez que o inciso supracitado faz menção à capacidade civil plena de
homens e mulher como requisito para que se submetam à esterilização voluntária,
demonstra-se necessário tecer breves esclarecimentos acerca do tema.
Em regra, o artigo 1º do Código Civil de 2002 estabelece que “toda pessoa
é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. Contudo, encontram-se disciplinadas
nos artigos 3º e 4º do mesmo diploma legal as exceções relativas à capacidade civil
dos indivíduos, in verbis:
[...] a vontade de se tornar infértil deve ser manifestada por escrito, após a
pessoa interessada ser devidamente informada a respeito dos riscos da
cirurgia, possíveis efeitos colaterais, dificuldades de sua reversão e opções
de métodos contraceptivos reversíveis.
[...] vedada a retirada do útero e dos ovários para atender ao fim de impedir
a gravidez, uma vez que tais procedimentos são entendidos como violadores
da integridade física da mulher, vez que é procedimentos menos invasivos
para se atingir o mesmo objetivo; isso ainda, sem ressaltar as questões
biológicas que envolvem a retirada do útero ou dos ovários no que tange à
famosa reposição hormonal.
Da mesma forma, Bottega (2007, p. 53) ensina que “[...] a lei valoriza as
decisões do casal, entretanto, como sabemos, esse requisito em verdade condiciona
os atos de disposição sobre o próprio corpo, colocando a necessidade de um terceiro
intervir para a tomada da decisão.”
Verifica-se, portanto, que muito embora a Lei do Planejamento Familiar
tenha apresentado uma série de requisitos para que a esterilização cirúrgica seja
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[...] deve ser perfeitamente informada dos riscos da cirurgia, das dificuldades
da sua reversão e das opções de contracepção reversíveis, legais, existentes
no Brasil, registrando expressa manifestação de vontade, em documento
escrito e devidamente firmado. (BRASIL, 1991)
Segundo a ANADEP, tal assertiva é corroborada pelo art. 7º, inciso III, da
Lei n. 11.340/2006 - Lei Maria da Penha - o qual prevê, in verbis:
Art. 7º. São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre
outras:
[...]
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada,
mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a
comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a
impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio,
à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem,
suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos
sexuais e reprodutivos. (BRASIL, 2006, grifo do autor)
com a indevida ingerência entre seus membros, no sentido de limitar a plena garantia
da liberdade, da igualdade, da dignidade e da busca da felicidade.” (BRASIL, 2014)
Ademais, cumpre ressaltar que, a Procuradoria Geral da República, por
meio de seu então representante, Rodrigo Janot Monteiro de Barros, se manifestou
no mérito pela procedência do pedido, sob o argumento de que não cabe ao Estado
de Direito impor restrições à autodeterminação da pessoa em seu aspecto mais
essencial, qual seja, a liberdade de dispor do próprio corpo, sob pena de afastar-se
de seu centro de identidade. (BRASIL, 2014)
A PGR sustenta que a exigência do consentimento do cônjuge para a
esterilização voluntária de pessoa maior e capaz viola o princípio da dignidade do ser
humano e o direito à liberdade e à autonomia privada. (BRASIL, 2014)
Acerca das consequências da decisão do indivíduo se tornar estéril sem o
consentimento do cônjuge, a PGR afirma que “se é certo que pode frustrar um deles
a decisão do outro de fazer-se esterilizar, será possivelmente muito mais negativa nas
consequências a imposição de gravidez indesejada, tanto para o pai ou mãe quanto,
em muitos casos, sobretudo, para a criança.” (BRASIL, 2014)
No mesmo sentido, aduziu no sentido de que a Constituição Federal impõe
ao Estado o dever de desenvolver instrumentos que priorizem as manifestações de
vontade daqueles que formem núcleo familiar. Dessa forma:
[...] não lhe cabe tolher ou rechaçar escolhas legítimas feitas pelos indivíduos
capazes, como seres autodeterminantes que são, sob propósito de res
guardar a família (até porque o próprio art. 2º, parágrafo único, da lei prevê
as ações ali previstas não podem ser empregadas para controle
demográfico). (BRASIL, 2014)
[...] não se pode vislumbrar que a opção de um indivíduo por adotar seja de
importância e gravidade menores que a opção de não se ter filhos em vista
dos mesmos deveres e responsabilidades que surgem para o adotante. [...]
Dessa forma, evidencia-se que, ao submeter os cidadãos que não desejam
ter filhos ao uso de outros métodos contraceptivos, notadamente as pílulas
anticoncepcionais, a norma questionada acaba por prejudicar o direito
fundamental à saúde, insculpido no art. 6º da Constituição Federal. (BRASIL,
2018)
Isso obriga a paciente a passar por duas internações, uma para o parto e
outra para a esterilização, o que aumenta sua exposição ao ambiente
hospitalar e às infecções hospitalares, força a lactante a abandonar o
acompanhamento do bebê e acarreta maiores custos para os serviços de
saúde. (BRASIL, 2018)
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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