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Quando utilizar subsolador e

escarificador
22/05/2020

Apesar de serem dois implementos simples, subsolador e escarificador são de


extrema importância para lavouras onde o produtor quer manter a produtividade
sem abrir mão do cuidado com preservação da terra e da cobertura, por isso é
necessário saber quando utilizar cada um destes implementos e a forma correta de
operar.

O subsolador e o escarificador têm uma mínima mobilização superficial (vertical),


já que eles atuam em sub-superfície, na zona de fratura do solo em um corte
tridimensional, ou seja, agridem menos o solo, não havendo elevação do mesmo,
diferente do arado que corta, eleva e inverte a leiva e a grade que nivela e destorroa
movimentando o solo lateralmente. O escarificador e o subsolador deixam resíduos
em superfície, o que traz todos os benefícios da matéria orgânica no solo que, além
de melhorar a infiltração, mantém parte da estruturação do solo, pois não promove
desagregação excessiva. Devido ao maior aporte de matéria orgânica e a não
desestruturação do solo há uma melhor retenção de água e redução de processos
erosivos no solo.
ESCARIFICADOR
O escarificador utilizado no sistema de cultivo mínimo substitui a função do arado
como preparo primário do solo. Desagrega menos o solo, já que atinge as zonas de
fratura do mesmo e não inverte a leiva e ainda possui o diferencial de descompactar
camadas mais profundas do que o arado.

O escarificador trabalhando na mesma profundidade que um arado de disco tem


necessidade energética 60% inferior ao arado (Martuchi, 1985) Quando comparado
com os demais equipamentos agrícolas de preparo de solo, tem a menor exigência
energética para funcionamento (Salvador et al, 1995).

Numa escarificação bem conduzida há benefícios econômicos (menor tempo com


equipamento na área, economia com combustível, economia com tempo de mão de
obra e menor número de equipamentos a serem adquiridos) e conservacionistas do
solo (menor desestruturação do solo, menor erosão, manutenção da matéria
orgânica em superfície, dentre outros).

LIMITAÇÕES
Apesar das vantagens, não há a substituição total das funções da grade e do arado,
já que os dois últimos têm melhor desestruturação e por consequência um melhor
contato do solo com a semente. Como o escarificador foi desenvolvido para atuar
em sistemas conservacionistas de solo, ele não foi projetado para trabalhar em
condições de pedras e tocos, situações que podem danificar o equipamento caso se
trabalhe nessas condições.

Na evolução de uma área, tem o preparo inicial (desmatamento, destocamento,


desenraizamento, retirada de pedras e enleiramento), o preparo convencional
(preparo primário e secundário) e o cultivo mínimo. Se as atividades que
antecedem o cultivo mínimo foram realizadas corretamente, o solo deve estar
praticamente livre de tocos ou pedras.

Como o escarificador foi projetado para trabalhar no sistema cultivo mínimo e


nesse sistema uma das premissas é manter pelo menos 30% de matéria orgânica na
superfície, há grandes chances de o material vegetal “embuchar” no equipamento
caso este não esteja equipado com um disco de corte.
Anéis metálicos para limitar profundidade no pistão hidráulico.

Anéis metálicos para limitar profundidade no pistão hidráulico.


SUBSOLADOR
Subsolagem é uma prática de mobilização sub-superficial do solo para corrigi-lo,
destruindo as camadas compactadas em sub-superfície. Igual ao escarificador, o
subsolador também não revolve o solo, ele atinge as zonas de fratura do solo em
três dimensões. Apesar da semelhança com o escarificador, o subsolador atinge
camadas mais profundas, com isso, há uma maior necessidade de potência do trator
e se não for bem manuseado pode compactar em sub-superfície. Assim, sua
utilização é indicada apenas quando os outros equipamentos não conseguem atingir
a camada compactada.

Como o subsolador atinge camadas mais profundas, há a necessidade de maior


potência do trator, por isso esse equipamento é o que possui maior necessidade de
potência e maior consumo de combustível dentre todos os equipamentos agrícolas
de preparo de solo.

Subsolador com sistema de desarme automático de hastes.

LIMITAÇÕES
O subsolador tem uma maior exigência de potência por haste e, consequentemente,
um maior consumo de combustível. Ele não deve ser utilizado em condições de solo
muito úmido e, se o uso for mal planejado, destrói a estrutura do solo em maiores
profundidades, o que torna mais difícil a correção do que em camadas mais
superficiais, e com isso aumentam-se perdas de água e nutrientes.

Entre as principais vantagens e benefícios do uso de subsolador e escarificador


podem-se destacar: maior infiltração de água, melhor penetração das raízes, melhor
aeração do solo, melhor drenagem e diminuição da erosão.

OPERAÇÕES E REGULAGENS
Basicamente os fatores a serem levados em consideração na hora da operação e das
regulagens são: profundidade de escarificação ou subsolagem, número de hastes,
tipo de ponteira, espaçamento entre hastes e velocidade de deslocamento.

CONTROLE DE PROFUNDIDADE
O controle de profundidade vai variar de acordo com o tipo de equipamento (forma
de acoplamento) e sua roda limitadora de profundidade. Se o subsolador for
montado, ele terá uma roda de metal que só tem essa finalidade, já se o
equipamento for de arrasto, ele terá rodado para transporte que também será
utilizado para limitar a profundidade de operação.

Quando o equipamento é de arrasto para se obter a profundidade necessária é


preciso utilizar os anéis de metal no pistão hidráulico do equipamento, esses anéis
impedem que o pistão chegue até o final do seu curso, limitando a profundidade da
operação. Quanto mais anéis, menor será a profundidade que o equipamento irá
trabalhar; sem os anéis o equipamento irá trabalhar no máximo de sua capacidade.

Subsolagem em solos com diferentes percentuais de umidade.


Subsolagem em solos com diferentes percentuais de umidade.

PROFUNDIDADE DE TRABALHO
A profundidade de trabalho é a profundidade real que se vai trabalhar, é a
profundidade ao qual se deve atingir para exterminar a camada compactada. A
profundidade de trabalho é 5cm a 10cm da camada compactada, logo, se existe uma
camada compactada na profundidade de 60cm, a profundidade de trabalho vai ser
entre 65cm e 70cm, ou seja, a ponta da ponteira deve atingir essa profundidade
para ter certeza que estará quebrando a camada compactada.

Figura 1 - Profundidade de trabalho.


 

ESPAÇAMENTO ENTRE HASTES


O espaçamento entre hastes é de fundamental importância para que não fique
nenhuma parte da área sem ser trabalhada ou compactada, ou que as hastes não
fiquem muito próximas, fazendo com que o trabalho de uma anule o efeito da outra.
Se isso ocorrer, haverá a necessidade de maior número de passadas e,
consequentemente, maior consumo de combustível.

Figura 2 - Diferença entre hastes bem espaçadas e com espaçamento errado

O que influencia no espaçamento entre as hastes é a largura da ponteira. Se a


ponteira for estreita (entre 4cm e 8cm), o espaçamento entre hastes deve ser 1 a 1,5
vez a profundidade de trabalho, já se a ponteira for alada (8cm <), o espaçamento
entre hastes vai ser de 1,5 a 2 vezes a profundidade de trabalho.

Tomando como exemplo uma camada compactada a 30cm e um equipamento com


uma ponteira estreita com largura de 8cm, a profundidade de trabalho deverá ser
de 35cm a 40cm. Se a profundidade adotada for de 35cm, o espaçamento entre
hastes irá variar entre 35cm e 42,5cm. Se a profundidade de trabalho for de 40cm, a
distância entre as hastes deverá variar entre 40cm e 60cm.

Supondo que a ponteira foi trocada por uma de 15cm, alada, agora o espaçamento
entre hastes vai ser de 42,5cm a 70cm, se utilizar 35cm como profundidade de
trabalho. Caso a profundidade adotada for de 40cm, o espaçamento entre as hastes
deverá ser de 60cm a 80cm.

Caso o equipamento tenha hastes na frente e atrás (Figura 3), o espaçamento entre
hastes deve ser igual entre todas, ou seja, se um equipamento tem cinco hastes
(duas na frente e três atrás), o espaçamento da primeira haste que está atrás para a
primeira da frente deve ser igual ao espaçamento da primeira da frente e da
segunda de trás e assim sucessivamente.

Figura 3 - Espaçamento correto entre hastes em situações de duas fileiras com quatro hastes

PROFUNDIDADE CRÍTICA
Profundidade crítica é a profundidade máxima até onde se tem benefício com a
escarificação ou subsolagem, abaixo dessa profundidade a operação apenas causa
malefícios. É diferente da profundidade de trabalho, pois a mesma está
condicionada à profundidade em que se encontra a camada compactada, enquanto
o que condiciona a profundidade crítica é a largura da ponteira. Ou seja, pode
ocorrer a situação de um equipamento chegar abaixo da camada compactada, mas
se a profundidade crítica for menor que a de trabalho o equipamento não vai
realizar a operação. Neste caso, o equipamento atingiu a profundidade de trabalho,
mas não está havendo a descompactação dessas camadas naquela profundidade e
sim contribuição para o aumento da compactação nas mesmas.

Figura 4 - Diferença entre profundidade e profundidade crítica


Abaixo da profundidade crítica não há aumento na área trabalhada, o que ocorre é
um aumento da força de tração naquele ponto, que ajuda a compactar o solo nos
pontos abaixo da profundidade crítica. A partir dela o equipamento só está riscando
o solo. O que determina a profundidade crítica é a largura da ponteira, a mesma é
determinada a partir da multiplicação da largura da ponteira por 5 e 7.

Supondo que esteja trabalhando com uma ponteira de 6cm de largura e queira
atingir uma profundidade de trabalho de 60cm, a profundidade crítica para essa
ponteira é entre 30cm e 42cm, ou seja, nessas condições, mesmo que a haste atinja
a profundidade de trabalho, não estará havendo benefícios na operação, podendo
até estar piorando a condição atual do solo. Neste caso, deve-se realizar a troca por
uma ponteira mais larga. Se a profundidade crítica estiver entre 60cm e 84cm, é
recomendado utilizar uma ponteira de 12cm, por exemplo, para resolver o
problema.

NIVELAMENTO
Por último, depois de todas as regulagens, deve-se realizar o nivelamento do
equipamento junto ao solo. Nos equipamentos montados isso é feito no terceiro
ponto, já os equipamentos de arrasto possuem um sistema próprio. O operador
deve baixar o equipamento ao máximo no solo e operar poucos metros até ele
perceber que as hastes entraram totalmente no solo; feito isso, ele deve descer do
trator e nivelar o equipamento de forma que ele fique reto ao nível do solo.

UMIDADE DO SOLO
Na maioria das operações com equipamentos agrícolas o teor de umidade no solo
deve ser em qualquer ponto da friabilidade, porém, para o escarificador e para o
subsolador o ponto ideal é o limite inferior da friabilidade, ou seja, próximo à
tenacidade, onde a força de coesão é um pouco maior do que a de adesão.

Nesse ponto será necessário menos energia por parte do trator para o preparo da
área, havendo uma maior propagação da tensão de compressão, ou seja, a atividade
será melhor desenvolvida, obtendo melhores resultados com aumento de área
trabalhada em comparação com o trabalho em outras umidades.

Quando se trabalha em condição de excesso de umidade, a água atua como um


lubrificante, evitando com que a ponteira atinja as zonas de fratura do solo,
obtendo uma menor área trabalhada. Os espaçamentos predefinidos das hastes não
irão surtir efeito benéfico, além dos efeitos maléficos de uma possível compactação
da área. Uma analogia simples seria como passar uma faca (haste) em uma
margarina (solo muito úmido), após a faca ser passada, a margarina tende a voltar
para o seu posicionamento anterior.

Figura 5 - À esquerda, condição de muita umidade, e à direita, a diferença da passada do equipamento em um


solo na condição ideal e com excesso de umidade

Já trabalhar em condição de baixa umidade deixará muitos torrões e de grande


tamanho, então, será necessária uma maior potência do trator, consequentemente,
maior energia, além de poder danificar o escarificador ou o subsolador devido à
maior demanda de potência e às inúmeras vezes em que as hastes irão desarmar.

OPERAÇÃO IRREGULAR
Deve-se tomar muito cuidado na operação com o escarificador ou subsolador,
operadores inexperientes tendem a elevar e baixar demais o equipamento,
tornando-a uma atividade ineficiente, já que em alguns pontos a haste vai abaixo da
profundidade a ser trabalhada e, em outros, acima, deixando pontos na área ainda
compactados.

Para verificar se a operação está sendo realizada corretamente é recomendado que


se utilize uma vareta graduada de tamanho considerável e vá seguindo o trator
afundando a vareta até onde o solo ofereça resistência. Se após algumas verificações
for constatado que a vareta está afundando sempre a mesma profundidade é porque
a atividade está sendo realizada corretamente. Caso seja verificado que existem
profundidades diferentes, há a necessidade de passar novamente na área e dessa
vez tomar mais cuidado no ajuste de profundidade.

Sistema de segurança das hastes


O sistema de segurança das hastes dos escarificadores ou subsoladores são o pino
fusível e o sistema de desarme automático.

Quando se passa em terrenos com pedra, toco ou solos muito secos, os quais
necessitariam de maior potência do trator e consequentemente das hastes, o pino
fusível quebra, deixando a haste solta e tirando a pressão anteriormente exercida
sobre a mesma. Ao perceber que a haste está levantada e não está trabalhando, o
operador deve realizar a troca do pino fusível por um novo pino. Vale ressaltar que
nunca, em tempo algum, se devem colocar outras peças que não sejam o pino, pois
outro material pode ser muito resistente e, ao invés de quebrar como o fusível, para
preservar a haste, acaba transferindo o esforço para a haste e quebrando.

O sistema de desarme automático é mais moderno que o pino fusível, enquanto o


pino quebra-se e é necessário trocar, o sistema de desarme automático eleva a
haste, retirando-a do contato com a parte resistente. Ao observar isso o operador
deve elevar o equipamento, seja no sistema de levante hidráulico de três pontos
(montado) ou no controle remoto (arrasto), para a haste voltar para o local correto
e continuar a operação.

MANUTENÇÃO DO SUBSOLADOR E
ESCARIFICADOR
Após o final de cada dia de trabalho devem-se apertar todos os parafusos e as
porcas dos equipamentos que estejam afrouxando, isso evita o desgaste prematuro.
Após o reaperto deve-se lavar o equipamento e armazená-lo em local protegido.
Outro fator a ser analisado com frequência é o desgaste da ponteira. Como ela tem
duas pontas que podem ser utilizadas, é importante monitorar e inverter a ponteira
quando um dos lados estiver gasto. Quando ambas as pontas estiverem gastas,
deve-se trocar a peça para prevenir o desgaste da haste do equipamento,
constituinte mais caro e de difícil troca.

Dois implementos importantes


Escarificador e subsolador são implementos utilizados sob a superfície do solo para
desagregar camadas compactadas. Eles foram desenvolvidos devido à necessidade
de equipamentos que atuassem no preparo periódico do solo com material vegetal
em superfície. No final da década de 70 e início da década de 80, os agricultores
que se valiam do preparo convencional, preparo do solo com arados e grades,
perceberam que estavam perdendo muito solo por erosão, perdia-se em um ciclo o
que antes se perdia em dez anos, os problemas relacionados à erosão eram
gravíssimos. Para tentar diminuir essas perdas nasceram os sistemas
conservacionistas, que hoje vêm a ser o cultivo mínimo e o sistema de plantio
direto, porém, foi observado que os equipamentos presentes na época não eram
adequados para os sistemas, já que os mesmos, após o preparo, não deixavam
material vegetal em superfície e agrediam muito o solo, então foram desenvolvidos
o escarificador e o subsolador para esses novos sistemas.

Atualmente existem duas teorias válidas sobre a diferença entre escarificação e


subsolagem. A primeira, de Martuchi (1987), divide-se em escarificação leve (5cm –
15cm), escarificação pesada (15cm – 30cm) e subsolagem (30cm <). Já a segunda
metodologia, Asae (1982), diz que uma atividade feita até 40cm é uma escarificação
e que uma atividade feita acima de 40cm é uma subsolagem. As duas teorias são
aceitas, sendo os equipamentos classificados na profundidade em que os mesmos
conseguem trabalhar.
Alguns modelos de subsoladores vêm equipados com discos de corte para trabalhar principalmente em áreas
com palhada densa.

Deivielison Ximenes Siqueira Macedo, Viviane Castro dos Santos, Leonardo de


Almeida Monteiro, Enio Costa, Rafaela Paula Melo, Henryque Candido Fernandes
do Nascimento, UFC

Artigo publicado na edição 159 da Cultivar Máquinas. 

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