A palavra <<política>>, como é conhecida, deriva do grego politikos
(adjetivo de polis = fortaleza, cidadela, cidade, comunidade cidadã grega). Mais precisamente, na forma integrada dos substantivos episteme e techne, significa <<ciência da pólis>> ou <<arte da polis>> (a polis sendo não uma genérica designação que está para <<estado>>, como se entende frequentemente de modo errôneo, mas a forma específica de organização da vida associada na qual se encontram as relações de governo do homem sobre o homem que os grecos souberam criar). Na forma substantivada politiké indica aquilo que diz respeito à polis, os <<afazeres da pólis>> que, traduzidos em linguagem moderna – mas mantendo firme o caráter <<fechado>>, logo, particular e segmentário, da sua definição – possamos entender como afazeres públicos os afazeres que dizem respeito à vida associada na polis. O adjetivo <<político>>, então, poderia assumir o significado de <<conforme o interesse da vida associada da polis, o interesse público definido a partir da particularidade do espaço urbano grego>>, indiretamente, também, âmbito das decisões coletivamente vinculativas, mas em referência à forma da urbanidade grega (no sentido em que polis indica uma forma do coletivo não estendível a grandezas diferentes, por exemplo os impérios persas ou egípcios). A relação estreita entre forma <<política>> do coletivo e dimensão é comprovada por Aristóteles, o qual contribuiu como nenhum outro para a fundação do conceito, e precisamente na relação entre <<autossuficiência>> (precondição para o alcance do bem comum) e a sintetização (sinotticità): <<a fim de viver uma vida autossuficiente, a população deve ser de população tal de ser abraçada em um único olhar>> (Política, 1326 b4).
O conceito de política reajustado pela cultura moderna a um contexto
diverso daquele urbano, é um conceito filosófico. Como tal é concebível em origem só no quadro de uma filosofia política. A sua fundação, concluída por Aristóteles, foi recuperada pela cultura moderna em parte (mas muito marginalmente) graças aos autores romanos (que praticamente não fazem uso dele), sobretudo graças a recepção da filosofia aristotélica a partir do século XIII (sobretudo pela tradução da Política de Aristóteles por volta do século XII). A palavra desaparece por mais de um milênio da linguagem teórica europeia, para reaparecer na linguagem escolástica com uma linguagem que reflete fielmente o sentido que Aristóteles atribui à expressão (não genericamente os <<negócios em comum ao interior da cidade grega>>, mas a tarefa para se realizar, entre o espaço da vida associada, a vida boa e virtuosa do cidadão). Para aquele que primeiro cunha a expressão <<moderna>> ciência política (Tomás de Aquino), na forma latina de ciência política, pertence um significado de <<política>> que se opõe às formas degeneradas de governo (tirania, despotismo). No léxico da Escolástica o regime político (regimen politicum) se opõe ao regime despótico (regimen dispoticum), como o regime reto e justo (regimen rectum et iustum) se opõe ao regime injusto e degenerado (regimen iniustum et degeneratum). Como tal, o termo e o conceito sobrevivem às controvérsias teóricas da época servindo para designar uma forma do coletivo no qual as decisões vinculantes correspondem a critérios de justiça definidos a partir da ordem do discurso inspirado na divindade. O conceito moderno de <<política>>, portanto, emerge com muita fadiga e deve a sua formalização à conceitualização da forma <<estado>> como modo específico de forma do coletivo. Do ponto de vista semântico se trata de uma anexação e de uma extensão metafórica: se transmite para a dimensão estatal (que há características específicas) aquilo que primeiro era chamado para qualificar a dimensão da polis. A forma <<estado>> define um modelo de organização da vida associada de ordem muito diferente, seja em termos territoriais, seja em termos de população (mas sobretudo em temos de relação entre aqueles que fazem parte dele). A anexação tardia da palavra política para designar de modo genérico uma dimensão da vida associada, aquela ligada às formas organizadoras das decisões coletivamente vinculantes, depende também disto. Não por acaso o primeiro emprego do termo com efeito duradouro em língua comum, remonta ao francês (politique) no contexto das guerras confessionais (século XVI). Com isto, desdenhosamente, se entende designar aqueles que no conflito entre a religião católica e a religião reformada tomam uma posição de terciária, tomando partido pela paz do <<estado>>. Neste novo significado, a partir do qual o termo – se bem que com tempos bem diferentes nas diversas línguas nacionais – começa a assumir o sentido que lhe é atribuído hoje, aquele de uma dimensão autônoma da vida associada caracterizada pela vida coletiva genérica e não qualificada. O tradicional significado aristotélico, porém, não desaparece. Antes, é sujeito à continuas retomadas, mesmo em oposição aberta aquele moderno (ver Arendt), sendo chamado a indicar uma forma muito qualificada de participação à vida em comum. A dificuldade, para não dizer impossibilidade, ainda hoje, de definir a política em termos compartilhados de conteúdo, depende também desta convivência a mesmo termo de dois conceitos muito distante entre eles (uma esfera genérica da vida associada, definida por funções específicas, e uma forma de agir em vista do bem comum, sempre qualificada normativamente).
BONAIUTTI, Gianluca; COLLINA, Vittore. Storia delle Dottrine politiche. 2 ed. Mondadori Education S.p.a.: Milano, 2015, p.19-20. Tradução para uso didático feito por Fabiana Benetti.