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T
otem» é uma palavra que tem origem numa tribo indígena da América do
« Norte, os Peles Vermelhas, e designa simplesmente o “Brasão” ou as “Ar-
mas” que a família o traz. O “Brasão” era pintado ou gravado na maioria dos
objetos usados pelo proprietário. As famílias dos Peles Vermelhas mandavam esculpir os
seus Totens, quando podiam. Geralmente, eram altos pilares ou postes de cedro admira-
velmente trabalhados. O “Brasão” ficava no elmo e em geral era um animal selvagem, ave
ou peixe. Os Índios tinham-no como guardião espiritual e acreditavam que lhes dava
força e proteção.
Perfeito conhecedor desta situação, Baden-Powell trouxe para o Escutismo toda esta
forma e mística, integrando-as e aplicando-as no Sistema de Patrulhas e Conselhos e fez
delas um dos pilares da «Estrutura do Espírito de Patrulha». O resultado foi uma vivên-
cia mais afetiva dos pequenos grupos de crianças e jovens de tal maneira que o programa
educativo, através do jogo, proposto por B.P., se tornou umas das grandes realidades do
Escutismo.
A través da leitura atenta e cuidada da Bíblia podemos verificar que o «Nome» das
pessoas ou das coisas é, desde tempos imemoriais, considerado como «presságio,
prognóstico, indício, sinal, vontade, desejo» e até «compromisso tomado diante os deu-
ses». Mais, na concepção de povos antigos e primitivos, o nome não é apenas o que ca-
racteriza alguém e o distingue dos demais, é uma parte essencial da própria pessoa, da
sua genuína identidade.
«O que não tem nome não existe» (Ec. 6, 10: a tudo o que existe no mundo já há
muito tempo foi dado um nome).
«Um homem sem nome é um homem insignificante».
«O nome deve corresponder à essência ou pelo menos a uma qualidade da
pessoa» (1Sam. 25, 25: que o meu senhor não faça caso desse perverso Nabal, porque é
um néscio e um insensato como o seu nome indica).
«O nome é como uma sósia da pessoa, onde está o nome está a pessoa, daí que
o nome possa ser equivalente de pessoa» (Jer. 14, 9: Mas, Vós Senhor, permaneceis
entre nós, não vos abandoneis, estais no meio de nós, o Vosso Nome foi invocado sobre
nós).
«Quando o nome de alguém é pronunciado sobre um objecto, então esse tor-
na-se intimamente ligado à pessoa nomeada ou torna-se sua propriedade»
(2Sam, 12, 28: Se Joab pronunciasse seu nome sobre a cidade conquistada de Raba, essa
lhe pertenceria).
«Quando alguém pronuncia sobre outrem o nome de um ser poderoso, ga-
rante-lhe a sua proteção. Assim quando o Sacerdote abençoa, ele “põe” o nome
de Javé sobre o povo e Javé abençoa realmente» (Nu. 6, 27: porão assim o meu
nome sobre os filhos de Israel e eu os abençoarei).
Esta crença na força do nome e na sua íntima ligação com a pessoa tem um papel im-
portante na superstição dos povos ao longo de todos os tempos e não menos nas reli-
giões politeístas. Nestas é, aliás, absolutamente necessário conhecer o nome da divinda-
de que se pretende invocar, pois pronunciar o nome da divindade em voz alta é parte
essencial do culto, dado que só desta maneira se pode atrair a atenção da dita divindade
e receber a sua ajuda.
Estas ideias deram origem a muitas expressões tanto no Antigo como no Novo Testa-
mentos, tais como: jurar (Is. 20, 42: vai em paz. Quanto ao juramento que fizemos em nome
de Javé, que Javé seja testemunha entre mim e ti, entre a minha descendência e a tua”); aben-
çoar (2Sam. 6, 18: abençoou o povo em nome de Javé dos exércitos); amaldiçoar (2Sam. 2,
24: olhou para eles e os amaldiçoou em nome de Javé); fazer milagres, rezar, “batizar” em
nome de Deus ou de Jesus Cristo, pronunciando ou invocando o nome de Deus ou de
Jesus Cristo, isto é, consagrar ou incorporar alguém cujo nome é pronunciado.
O TOTEM PESSOAL
A escolha de um Totem Pessoal deve suceder após um período de reflexão que permi-
ta ao Escuta considerar introspetivamente quem é e quem quer ser. Este deve ser pro-
porcionado e orientado pelo Chefe, que irá zelar para que haja oportunidade de âmbito
místico e educativo para o efeito, com a morosidade adequada. Dado que o Totem é a
fusão de um substantivo (animal) com um adjetivo (virtude), é sobre esses conceitos
onde deve incidir o foco da descoberta.
Durante o período de reflexão o Escuta deve manter segredo dos seus pensamentos
para com os irmãos escuteiros, mas manter um fio de conversa com o Chefe, que deve
estar presente para moderar as escolhas. A escolha de um Totem pode se tornar num
fardo se deixado à livre ponderação dos adolescentes.
É de suma importância que a escolha possa ajudar o Escuta na sua vivência em Patru-
lha, no cumprimento da Lei, dos Princípios e da Promessa. Depois de decidido, passa a
ser um nome usado pelo próprio e pelos irmãos escutas como uma segunda identidade
escutista.
Posteriormente é criado um desenho ou amuleto do Totem Pessoal de maneira a que
ele se torne para o Escuta uma verdadeira assinatura em todas as situações escutistas. Eis
alguns exemplos onde se pode utilizar o Totem como assinatura:
• Atas
• Autógrafos
• Cartas
• Jogos de Pista
• Mensagens
• Artigos para revistas ou jornais
A escolha do Totem Pessoal deve ser ainda uma afirmação colectiva de alegria, pois ao
ser escolhido mais um Totem Pessoal é a Secção que fica mais rica.
O Totem Pessoal é uma individualidade inerente a uma pessoa e o ato da sua escolha
implica uma reflexão introspetiva. Embora não hajam dois processos de descoberta
iguais, pode acontecer que surjam dois Totens homónimos. Enquanto se preserva o di-
reito à escolha e se reserva ao Escuta a dignidade de se manifestar, encontra-se uma re-
dundância totémica. Como dissolver este empasse?
O Chefe deverá ser o primeiro a aperceber-se desta repetição, pois ele estará presente
durante o processo de eleição através de um fio de conversa que mantém com os escutas
em reflexão. Não se deve incutir um espírito de desempate, mesmo que dissimulado.
Deseja-se que a escolha do Totem seja pessoal, portanto qualquer influência irá traduzir-
-se numa impureza de pensamento. A ação do Chefe deve ser a de confirmação que o
Escuta não tem reservas quanto ao animal e à virtude que escolheu, que não há indeci-
sões em relação a outros substantivos e adjetivos pensados. Caso haja, pode fomentar a
ponderação colocando questões existenciais (e.g. como? porquê? quando?), mas nunca
incutindo a dúvida. Um meio de o fazer é adotando uma linguagem verbal e corporal de
aceitação do Totem escolhido, pois fertiliza o diálogo por parte do Escuta.
Na circunstância da resolução de ambos os intervenientes se mantenha inalterada e
sendo contranatura o ato de suscitar um desempate, deve-se aceitar o poder da escolha
outorgado aos Escutas. A distinção dos Totens vem com a junção de uma terceira pala-
vra, um elemento diferenciador, que pode ser um segundo substantivo, um segundo
adjetivo ou um advérbio. Querendo distinguir o totem «Lobo Perspicaz», poder-se-ia
diferenciá-lo das seguintes maneiras: Lobo Perspicaz das Montanhas/da Meia-Noite/
do Outono, Lobo Branco/Noturno/Ibérico Perspicaz, Gigante/Crescente/Emer-
gente Lobo Perspicaz, etc. De notar que o elemento diferenciador não pode ser numeral
nem classificativo de forma a não sugerir antecedências ou antiguidade (e.g. primeiro,
segundo, júnior, sénior), nem pode duplicar o substantivo nem o adjetivo (e.g. Lobo
Perspicaz Veloz, Lobo-Quimera Perspicaz, Homem Lobo Perspicaz). Pode, no entanto,
haver jogos de dicotomia entre Totens, como grande-pequeno, alto-baixo, louro-more-
no, pois são reflexo de fisionomias. As formas nominais e classificativas são de excluir
porque têm poder de subjugação.
A descoberta da terceira palavra do Totem Pessoal necessita igualmente de uma refle-
xão, embora não necessariamente tão exigente, e pode ser realizada em colóquio com os
elementos de Totem homólogo, consoante decisão do Chefe, que atua sempre com dis-
cernimento educativo.
E leito o Totem do Escuta, o mesmo deve ser lacrado em comunidade. Assim, a sua
nova identidade será conhecida e celebrada por todos. Embora não exista uma uni-
formização quanto à “Cerimónia de Totemização” ou “Batismo Totémico”, o ritual deve
sempre acontecer e conter alguns elementos básicos para que se cumpram algumas ne-
cessidades ontológicas, tais como marcar a entrada de um novo Totem na Secção, man-
ter originalidade na tradição dos Índios, demarcar a cerimónia das demais atividades e
rituais escutistas.
Toda a Secção reúne-se devidamente trajada. Tanto pode haver uma indumentária
coletiva para a mística como um traje individual que cada um considere para si próprio,
tal como o seu Totem. A Cerimónia pode dar-se num sítio criado por tradição ou num
local construído momentaneamente para a ocasião. É o Guia de Secção quem celebra o
ritual e os Guias de Patrulhas quem o acolita, pelo que estes devem tomar uma posição
de destaque. Os restantes elementos podem estar organizados de forma mista ou separa-
dos os que já têm Totem dos que vão ser batizados por forma a realçar a sua entrada no
grupo.
A Cerimónia pode ser iniciada com uma dinâmica própria da secção ou um momento
de animação concebido pontualmente para o ritual.
Guia de Secção: Caríssimos irmãos Escutas, hoje é um dia especial. Estamos reunidos
no calor do nosso Conselho para dar as boas-vindas a novos mem-
bros à nossa Família Totémica.
Os Escutas que têm totem aclamam a boa nova fazendo o grito do seu animal do Totem Pessoal.
Guia de Patrulha: O Guia da Patrulha chama pelo nome próprio (nome e sobrenome) o ele-
mento que vai fazer o batismo.
Escuta a Batizar: Imita o Grito do animal da sua Patrulha e aproxima-se junto dos Guias.
Caso a Patrulha não tenha um animal mas um benemérito da Humanida-
de, pode repercutir uma frase ou pensamento da autoria do seu benemérito
ou responder com energia «Ubuntu!»
Guia de Secção: Estimado irmão, é com grande honra que te recebemos neste Con-
selho Totémico. O que desejas?
Guia de Secção: Compreendes que ao escolheres o Totem Pessoal para ser parte in-
tegral da tua pessoa estás a apropriar-te do nome do teu animal,
reafirmando com isso a tua própria identidade que te compromete,
perante os teus irmãos Escutas, a seguir as “pegadas” do teu animal?
Guia de Secção: Estás disposto a trabalhar para atingires a plenitude que o Totem
guarda, cumprindo assim com o teu dever para o engrandecimento
da tua Patrulha e da nossa Secção?
Guia de Secção: Diz-nos, então, qual é o Totem que escolheste e pelo qual pretendes
ser conhecido.
O Guia de Secção derrama água sobre o ombro esquerdo do Escuta de modo a molhar a insígnia
de Patrulha. De seguida o Escuta leva um joelho ao chão e com a Bandeirola de Patrulha o seu
Guia toca-lhe primeiro no ombro direito e depois no esquerdo.
O Escuta imita o animal do seu Totem e todos os outros fazem o mesmo, imitam o animal do novo
escuta totemizado.
BIBLIOGRAFIA
• Totem Pessoal e Totem de Patrulha, CAP II 2007/2008 (htt ps://www.escutismo.
pt/dirigentes/recursos/pedagogicos/pag:recursos/2b7628fb-4b59-4a65-922d-
-d53a5507596f)
LEITURAS RECOMENDADAS
• Totemism and Tribes: A Study of the Concept and Practice (https://www.resear-
chgate.net/publication/326655380_Totemism_and_Tribes_A_Study_of_the_
Concept_and_Practice)
• The many origins of totemism. Critical analysis of theories of James G. Frazer,
Émile Durkheim and Sigmund Freud (https://www.researchgate.net/publica-
tion/335715430_The_many_origins_of_totemism_Critical_analysis_of_theories_
of_James_G_Frazer_Emile_Durkheim_and_Sigmund_Freud)
• What is the Spiritual Meaning of an Own Totem? (https://spiritualdesk.com/wha-
t-is-the-spiritual-meaning-of-an-own-totem/)
• A filosofia Ubuntu (https://site.ubuntufin.com.br/o-que-e-a-filosofia-ubuntu/)
• Veldismagn (https://www.symbols.com/symbol/veldismagn)