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ORGANIZAÇÃO DO C.N.E.

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erminado no contexto escutista que se iniciou na Ilha de Brownsea, o Corpo Nacio-
nal de Escutas (CNE) chegou até nós embalado pela força educacional que transporta
e pelo potencial pedagógico que proporciona. As suas comprovadas capacidades de
autossustentabilidade e plasticidade organizacional demonstram que esta é uma organização
devolvida pelo Movimento Escutista, um fruto colhido de uma árvore plantada em terra fértil,
e embora não seja o único, este é, por certo, diferente. A sua consistência religiosa confere
conhecimentos e competências que não se encontram em outras organizações (pelo menos
não com tanta clareza). O pilar espiritual que está sempre presente apoia-se no caminho da Fé
numa estrutura de complementaridade, o que confere propósitos escutistas sui generis a este
trilho derivado do caminho que começou a ser desbravado por Baden-Powell.
Embora fundado em maio de 1932, o CNE só foi reconhecido como instituição pública a
3 de agosto de 1983 por publicação oficial em Diário da República, e sendo um movimento
proveniente da Igreja Católica, tem sobre si as responsabilidades que advém deste facto, como
a animação eucarística e os jogos escutistas vividos à luz do Evangelho. Em quase um século
de existência, o escutismo português já plantou cerca de 1100 agrupamentos onde se inserem
aproximadamente 72 000 jovens e adultos.
Em termos de organização territorial, Portugal continental e as ilhas no Atlântico somam
20 regiões que coincidem com as dioceses da Igreja — facto que demonstra a parentalidade do
CNE, que vem da Igreja Católica e não da OMME como condicionalmente se pensa. Quando
se verifica que em determinada região existem muitos agrupamentos locais ou características
geográficas especiais, ela é subdividida em núcleos. Os agrupamentos, por sua vez, estão pre-
vistos a atuarem nas áreas das suas paróquias. O CNE tem paternidade também fora do país,
oferecendo um teto a escuteiros que vivem além das fronteiras nacionais, designadamente em
Genebra, Zurique e Macau.

Nível Nacional Nível Regional

Agrupamento

Nível de Núcleo

Organização por Diocese Distribuição por Paróquia

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Percurso Maria do Céu Guerra Rúben Marques, Falcão Peregrino

As circunscrições eclesiásticas católicas de Portugal das quais o CNE retira a sua organização territorial. Embora haja
fortes semelhanças com as divisórias distritais, estes são limítrofes desenhados pela Igreja. As metrópoles eclesiásticas estão
assinaladas com cores diferentes: a amarelo claro o Patriarcado de Lisboa, a laranja a Arquidiocese de Braga e a azul a
Arquidiocese de Évora.

Em relação à organização associativa, os agrupamentos locais são conduzidos por uma equi-
pa executiva, a Direção de Agrupamento, por um órgão deliberativo, o Conselho de Agrupa-
mento e, quando possível, por uma Comissão de Pais. No topo desta hierarquia administrativa
está o Chefe de Agrupamento, que é escolhido por meio de eleições para mandatos de quatro
anos. As regiões escutistas — e, quando existem, os núcleos — representam a conglomeração
de todos os agrupamentos locais de uma determinada área, cada uma com as suas equipas de
coordenação, as Juntas Regionais, bem como uma equipa de acompanhamento e fiscalização,
o Conselho Fiscal e Jurisdicional Regional, que têm como órgão deliberativo o Conselho Re-
gional. Quando a estrutura organizacional ascende ao nível nacional, encontram-se equipas
coordenadoras morfologicamente idênticas e que herdam os mesmos ofícios das estruturas
inferiores, mas com as acrescidas responsabilidades de direção, supervisionamento e outros
encargos de cunho hierárquico.
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Percurso Maria do Céu Guerra Rúben Marques, Falcão Peregrino

A pedagogia escutista, que é o grande foco do Movimento e o epicentro das suas ativi-
dades, também usufrui de uma organização própria. As crianças e jovens são agregados em
quatro secções associadas às suas faixas etárias, cada uma com a sua terminologia própria e
com nomenclaturas internas diferentes mas associáveis. Dentro de cada uma destas secções os
elementos organizam-se em grupos onde todos têm a sua própria função, que é escolhida por
cada um e é específica de acordo com as suas capacidades e responsabilidades. A conjugar com
esta organização está a Mística e Simbologia, uma das pétalas do Método Escutista, que con-
fere um equilíbrio de equidade transversal às secções, uma consistência em concordância com
a evolução das idades e um meio de propagação de princípios e ideais de formação. Na página
seguinte encontra-se uma breve apresentação do Sistema de Patrulhas, outra componente pe-
dagógica do Método, que ajuda a construir a estrutura educacional e que mostra a forma como
os elementos e as unidades se constroem.
Como os jogos são por excelência o fio de condutor de qualquer aprendizagem, é de todo
pertinente que o Dirigente de uma unidade possua uma dinâmica com a qual possa ensinar aos
seus novos elementos a forma como o CNE está organizado. Segue um exemplo:

A Pesca de Patrulhas
Começa-se por distribuir os elementos em quatro círculos afastados uns dos
outros. Os elementos são, cada um deles, um grupo das secções (Bando,
Patrulha, Equipa e Tribo) e todos juntos formam uma unidade (Alcateia,
Expedição, Comunidade e Clã). De seguida desenha-se um círculo maior
concêntrico com o primeiro, que irá representar o local de reunião de cada
uma das secções (Covil, Base, Abrigo e Comunidade).
O objetivo é cada jogador trazer para o seu lugar de reunião novos
elementos para fazer crescer a sua unidade e para isso terá oportunidade
de fazer perguntas ou colocar desafios. O jogador terá de dizer que pretende
pescar um Bando, Patrulha, Equipa ou Tribo, então a Alcateia, Expedição,
Comunidade ou Clã decidirá entre si, ainda sem saber o que lhes será
pedido, qual será o elemento a responder à disputa.
Caso esse elemento erre a resposta ou perca o desafio, abandona a sua
unidade para se juntar àquela que o pescou, ficando no círculo grande
para poder ser pescado de volta pelos seus colegas a qualquer altura. No
entanto, caso o jogador que tenha lançado a pesca não dê a resposta certa à
própria pergunta ou perca no desafio por si escolhido, será ele a abandonar
a sua unidade para se juntar àquela que desafiou, mas irá ficar no círculo
pequeno, onde os seus colegas não o poderão pescar diretamente, apenas
por decisão da sua nova unidade.
Ao fim de pescas bem conseguidas, as unidades têm poder para conquistar
um local de reunião, o que lhes trará todos os seus elementos de uma só vez.
Terão de dizer que querem conquistar o Covil, Base, Abrigo ou Comunidade,
então os nomeados terão de se deslocar do círculo mais pequeno para o
maior a fim de responderem à pergunta ou desafio que lhes será colocado.
O local de reunião que perder será conquistado.
Ganha a secção que conseguir pescar ou conquistar a todos.

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I Secção
Percurso Maria do Céu Guerra Rúben Marques, Falcão Peregrino
Elementos: Lobitos
Grupos: Bandos de 5 a 7 elementos
Distinção entre grupos: através de uma cor (branco, cinzento, preto, castanho e ruivo)
Unidade: Alcateia formada por 2 a 5 Bandos
Local de reunião: Covil
Patrono: São Francisco de Assis
Mística: O Louvor ao Criador
Cor: Amarelo
Idade: dos 6 aos 10

II Secção
Elementos: Exploradores
Grupos: Patrulhas de 4 a 8 elementos
Distinção entre grupos: através de um Totem (nome de um animal)
Unidade: Expedição formada por 2 a 5 Patrulhas
Local de reunião: Base
Patrono: São Tiago
Mística: A Descoberta da Terra Prometida
Cor: Verde
Idade: dos 10 aos 14

III Secção
Elementos: Pioneiros
Grupos: Equipas de 4 a 8 elementos
Distinção entre grupos: através de um Patrono (Santo da Igreja, Benemérito da Humanidade ou Herói
Nacional)
Unidade: Comunidade formada por 2 a 5 Equipas
Local de reunião: Abrigo
Patrono: São Pedro
Mística: A Igreja em construção
Cor: Azul
Idade: dos 14 aos 18

IV Secção
Elementos: Caminheiros
Grupos: Tribos de 4 a 8 elementos
Distinção entre grupos: através de um Patrono (Santo da Igreja, Benemérito da Humanidade ou Herói
Nacional)
Unidade: Clã formada por 2 a 5 Tribos
Local de reunião: Albergue
Patrono: São Paulo
Mística: A Vida no Homem Novo 4
Cor: Vermelho
Idade: dos 18 aos 22
Percurso Maria do Céu Guerra Rúben Marques, Falcão Peregrino

REGULAMENTAÇÃO DO CNE BREVE COMENTÁRIO

C omo qualquer associação ou instituição de reconhecida utilidade pública, o CNE tem


toda a sua regulamentação documentada após ser aprovada e publicada pelos seus
órgãos competentes. Deste acervo fazem parte regulamentos cujo foco assume interesses
eleitorais e de justiça, de materiais e fardamento, do uniforme e distintivos, mas também
de normas e objetivos mais simples e práticos que todos os escuteiros mais velhos de-
vem ser convidados a ler ou, pelo menos, consultar ou conhecer. O Regulamento Geral
do CNE constitui a primeira apresentação do estatuto do escuta e nele tanto podem ser
encontrados critérios conhecidos empiricamente como diretrizes que necessitam de um
apoio “legislativo” para ganharem alguma estrutura.
Embora haja uma majorante opinião antagónica sobre alguns mesmos artigos dos
regulamentos, como o uso da camisola de campo que deveria fazer parte do fardamento
cerimonial, ou a assinatura da «Flor de Lis» que não deveria ter caráter obrigatório para
os Dirigentes, ou ainda a participação dos associados do movimento em questões polí-
tico-partidárias que deveria ser permitida (esta é a trindade que surge quando o tema
de conversa se situa em pontos onde o regulamento do CNE poderia mudar) um pensa-
mento profundo e detalhado sobre os artigos em questão conduzem a um entendimento
bastante lógico sobre os mesmos.
É necessário compreender que os regulamentos não são construídos em um dia nem
por uma só pessoa. Há um processo racional e assertivo que é desenvolvido por um ór-
gão adequado e capaz para o efeito e que necessita de tempo para que os artigos propos-
tos se solidifiquem perante ponderação e discernimento. Muitas das frequentes opiniões
que se ouvem advêm claramente de leituras rápidas e superficiais.
Tive oportunidade de ver todos os regulamentos que o CNE dispõe para consulta
on-line, mas foi o geral no qual aprofundei conhecimentos, tendo os outros recebido,
pelo menos por enquanto, apenas uma atenção na diagonal. Aquando a minha leitura e
reflexão, houve artigos que se assumiram tão empíricos que os achei quase dispensáveis;
outros, por outro lado, já requereram uma maior atenção da minha parte. De início afi-
guraram-se ilógicos ou até mesmo contraditórios, mas com foco e raciocínio acabei por
perceber que o seu conteúdo não se resumia à direta ideia que estava descrita. Não são
raros os artigos que compartilham interdependência, pelo que a leitura de apenas um
proporciona um desfalque no entendimento global. Ademais, nem sempre é possível ou
viável apresentar todas as cláusulas de forma explícita; por vezes há margem para deixar
que as normas sejam expostas de forma implícita a fim de proporcionar um maior fôlego
no ato do seu cumprimento bem como condensar informação que de outra forma teria
de ser morosamente descrita.
Deste modo, resumo-me a dizer que não encontro nenhum artigo sobre o qual enten-
do que se deviam operar mudanças, mas percebo o porquê de haver um grande degradé
de opiniões sobre alguns temas.
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BIBLIOGRAFIA

• https://prezi.com/94ps7s24-3bf/organizacao-do-cne/
• http://www.908carnaxide.pt/organizacao-do-c-n-e/
• https://escutismo.pt/dirigentes/associacao/apresentacao/apresentacao:101
• https://pt.wikipedia.org/wiki/Corpo_Nacional_de_Escutas_-_Escutismo_Cat%C3%B3li-
co_Portugu%C3%AAs
• https://escutismo.pt/dirigentes/associacao/regulamentos/regulamentos:113

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