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28/02/23, 10:45 A Oração como Mágica - James Houston

A Oração como Mágica


por

James Houston

O uso da mágica na oração é outro sinal de nossa alienação de


Deus. A mágica aparece mais claramente nas orações das religiões
em que os deuses não são conhecidos, e nas quais encantamentos
são necessários, a fim de convencer o deus a liberar seu poder. A
mágica também pode aparecer, mais sutilmente, nas orações das
pessoas que ficaram horrorizadas em pensar que estão envolvidas
na mágica. É alarmantemente fácil para a oração, tornar-se uma
espécie de artifício mágico, usado para obtermos aquilo que
desejamos.

Há muitos exemplos da contaminação da verdadeira oração pela


mágica. Em lugares de peregrinação, como Lourdes, e em muitas
capelas, as pessoas que fazem pedidos de oração deixam bilhetes
pendurados nas paredes, juntamente com fotografias de seus entes
queridos e acendem velas freqüentemente com o propósito de
invocar a Deus para que atenda às suas necessidades.

Outros que desprezam essa forma de fé incorporam às suas orações


suas próprias versões de magia. Numa reunião de oração
carismática, com forte carga emocional, existe a expectativa de que
se o grupo orar fervorosamente, em línguas, a oração será mais
“real” e, portanto, respondida. Para se ter uma “boa reunião de
oração”, basta adotar o ritmo apropriado, acelerar os batimentos
cardíacos, e levantar a voz histericamente. As pessoas que visitam
santuários, acendem velas ou oram em êxtase são obviamente
sinceras; mas a pergunta se faz necessária: essas são as maneiras
de conhecer a Deus mais intimamente?

No Ocidente, saúde e riquezas são obsessões modernas. Outra


tendência, portanto, é supor que Deus tenciona que tenhamos esses
bens. Julgamos ter todo o direito de pedir por eles, e, assim, a
oração é introduzida para fazer a mágica atuar em nosso favor. Em
muitos grupos religiosos, pessoas com deficiências permanentes têm
sido recriminadas por não terem “fé suficiente” para serem curadas
de seus males. Uma jovem paralítica foi duramente criticada por sua
mãe devota por não ter se levantado de sua cadeira de rodas para
entrar na igreja, como dama de honra de sua irmã. Enquanto isso,
na bolsa de valores, alguns corretores acham que a oração os
ajudará a ganhar uma bolada. Afinal, a Bíblia diz que seu Pai celeste
“possui o gado de mil colinas” –– expressão que indica que Deus é
fabulosamente rico.

A mágica também entra, quando as pessoas usam a oração como


meio de fugirem às suas responsabilidades. Uma pessoa pede uma
ajuda concreta, mas o outro lhe responde: “Bem, terei de orar a
respeito disso”. Essa resposta que soa impressionante pode, na
realidade, estar encobrindo uma série de usos indevidos e perigosos
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28/02/23, 10:45 A Oração como Mágica - James Houston

da oração. Estarei simplesmente evitando algo que eu não quero


fazer? Estarei tentando buscar ajuda divina quando Deus me deu a
responsabilidade de agir imediatamente? Ou estou pedindo que
Deus intervenha magicamente, para que eu possa evitar minhas
responsabilidades na situação? Esses truques mostram quão
facilmente podemos apelar para a mágica nas nossas orações,
escondendo-nos da realidade e entregando-nos à irresponsabilidade
pessoal.

Em uma peça de Berthold Brecht, o dramaturgo alemão, os


habitantes de uma cidade sitiada ficam paralisados de medo ao
saberem que o inimigo se aproxima. Todos começam a orar com
temor. Em contraste com isso, a jovem surda-muda da comunidade,
Katarina, sobe no teto de um celeiro levando um tambor de aço. Ela
bate no tambor, o inimigo pensa que se trata do som de um pelotão
aliado que se aproxima, e bate em retirada. A trama pode ser um
pouco improvável, mas a mensagem é realista. Não devemos esperar
que um Deus pessoal, que ouve as nossas orações, responda às
nossas solicitações com exibições de mágica quando nós temos
nosso próprio papel a desempenhar.

Fonte: Orar com Deus, James Houston, Editora Abba Press, páginas


32 e 33.

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