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Anestesiologia

Princípios e Técnicas
3ª EDIÇÃO

James Manica
e Colaboradores
R848 Anestesiologia [recurso eletrônico]: princípios e técnicas /
[organizado por] James Manica. – Dados eletrônicos. – 3.
ed. – Porto Alegre : Artmed, 2008.

Editado também como livro impresso em 2004.


ISBN 978-85-363-1774-8
1. Anestesiologia. I. James Manica
CDU 616-089.5
616.8-009.623

Catalogação na publicação: Renata de Souza Borges CRB-10/Prov-021/08


5
Informática e anestesiologia
Antonio Roberto Carraretto

A Informática é a ciência que visa ao tratamento da informação em alguns pontos, como a ausência de fadiga, a disponibilidade
por meio do uso de equipamentos e procedimentos da área de de uma base de dados, que pode ser acrescida sem interferência
processamento de dados (Ferreira, 1986). significativa no desempenho, e independer de componentes emo-
A Informática Médica é a ciência que usa ferramentas cionais, ainda não existe um computador com a capacidade de
analíticas para desenvolver procedimentos (algoritmos) para o substituir totalmente o anestesiologista. Todavia, existem siste-
gerenciamento do controle de processos, tomadas de decisões e mas que podem prestar um grande auxílio e o seu aperfeiçoamen-
análises científicas do conhecimento médico (Shortliffe, 1984). to constante vem ganhando a adesão de muitos.
Ela compreende os processos teóricos e práticos do processamento Nos últimos 40 anos, o anestesiologista tem participado do
da informação e comunicação baseados no conhecimento e na crescente avanço tecnológico aplicado à medicina. Dentre esse
experiência derivados dos processos na medicina e assistência à avanço está a contribuição dos computadores e da informática.
saúde (Bemmel, 1984). Na década de 60 começaram a ser publicados os primeiros traba-
O anestesiologista trabalha usando quatro dos cinco sentidos lhos sobre o uso dos computadores em anestesia (Forrest; Bellville,
(visão, tato, audição e olfato), dos quais obtém dados que analisa 1967).
e acumula para tomar decisões. Ou seja, em cada caso, faz uma
interação dos seus conhecimentos médicos com a situação do
paciente e as ocorrências e intercorrências possíveis. É um trabalho
com um grande volume de informações que, por vezes, exige to-
mada de decisão imediata e precisa. Anestesio- Informação Dados interpretados
logista
A interação entre as diversas atividades mostradas no Quadro
5.1 gera procedimentos que aumentam os conhecimentos na base
de dados, aprimorando os processos para o mesmo paciente e Base de conhecimentos
Interação
futuros pacientes.
Esse ciclo de informações, conhecimento e interpretação dos
dados resultantes do atendimento a um paciente está representa-
Dados
do na Figura 5.1. Paciente Interpretação

Durante um procedimento, nos períodos pré, peri e pós-anes-


tésico, um ciclo diagnóstico-terapêutico é desenvolvido, conforme
Dados Corpo do
representação da Figura 5.2. Interpretação Indução Insight conheci-
Cooper e colaboradores (1978) demonstraram que dentre os mento

erros humanos associados aos incidentes críticos na sala de ci-


rurgia, 4,5% relacionam-se à monitorização. Esses erros demons- Dados
Interpretação
tram uma falha humana no manejo dos dados. Um computador
pode receber os dados, dos equipamentos ou do anestesiologista,
incorporá-los em uma base de dados, compará-los com informa-  Figura 5.1 A informação é gerada pela interpretação de dados que
ções existentes, elaborar decisões baseadas em programações pré- retornam ao anestesiologista. Essas informações juntam-se ao conhe-
vias e armazenar esse conteúdo para uma futura consulta ou to- cimento (base de dados) e podem ser reutilizadas para novas análi-
mada de decisões (Figura 5.3). Apesar de apresentar vantagens ses de outros dados. (Modificada de Bemmel; Musen, 1997.)
74 Informática e anestesiologia

Quadro 5.1 Os três estágios das atividades humanas: observação, raciocínio e ação

Estágios da atividade humana Áreas da atividade humana

Estágio Geral Pesquisa científica Área da saúde Processamento

1 Observação Medida Coleta de dados Entrada dos dados


2 Raciocínio Teoria Diagnóstico Processamento dos dados
3 Ação Experimentação Terapia Saída dos resultados

Mesmo com toda a evolução tecnológica presenciada, alguns Os computadores são equipamentos adequados para a mani-
ainda não conseguiram todos os seus intentos extraídos dos com- pulação de dados. Em uma análise da maneira genérica de
putadores. Enquanto continuam sonhando com um computador trabalho de um anestesiologista, pode-se identificar o seu trabalho
em cada sala de cirurgia, outros mostram-se resistentes ao seu com diferentes tipos de dados:
uso, mesmo em um simples sistema de monitorização.
 Demográficos: geralmente escritos no relatório de anestesia
São evidentes o crescimento da informática e a necessidade
ou na ficha de avaliação pré-anestésica. São dados prove-
de seu entendimento por parte do anestesiologista moderno. Al-
nientes da identificação, tais como nome, sexo, idade, esta-
gumas das aplicações do uso dos computadores em anestesiologia
do físico, altura, peso, categoria socioeconômica, entre
estão relacionadas no Quadro 5.2.
outros.
 Fisiológicos: adquiridos direta ou indiretamente a partir
de medições tais como pressão (arterial, venosa, intra-tra-
queal, intracraniana), saturação de oxigênio, concentrações
Observação de gases inspirados e expirados (anestésicos inalatórios,
oxigênio, óxido nitroso, gás carbônico, nitrogênio), avalia-
Dados Informação ção do bloqueio neuromuscular.
 Eventos: ocorrências (intubação, sondagem, punção, extu-
bação) ou intercorrências (náusea, vômito, hipotensão, hi-
pertensão, taquicardia, bradicardia, cianose, dessaturação,
Paciente Decisão reinalação de CO2, alergia, etc.) do ato anestésico.
 Dados de equipamentos: pressões e fluxos de gases, regu-
lagens de ventiladores e vaporizadores, temperatura e umi-
dade do absorvedor de gás carbônico, limites de alarmes
Terapia Diagnóstico
de monitores ou sistemas de segurança, doses de fármacos
em bombas de infusão, volumes e doses infundidas.
Planejamento
A visualização, o conhecimento e a integração de todos esses
dados é uma tarefa complexa que pode ser facilitada pelo uso
 Figura 5.2 Desenvolvimento de um ciclo de informações (diagnósti- dos computadores. O desenvolvimento das diferentes aplicações
co-terapêutico). Ciclos desse tipo são acionados diversas vezes durante necessárias para um sistema informatizado de saúde apresenta
um ato anestésico; por exemplo, a cada evento de monitoração.
graus de complexidade crescentes (Figura 5.4).

Processamento Quadro 5.2 Aplicações dos computadores em anestesiologia


de dados
 Administração econômico-financeira do consultório ou clínica
Organização  Avaliação pré-anestésica
Entrada de dados Saída de dados  Relatório de anestesia
 Documentação e arquivamento
Entradas manuais Armazenamento Monitor
 Acesso a informações como livros, revistas, periódicos
 Acesso a computadores e redes para a troca de informações com
Medidas Recuperação Impressos bibliotecas, bases de dados, sociedades, universidades e órgãos go-
vernamentais
 Programas de educação continuada
Computação  Elaboração de material audiovisual para aulas, conferências e apre-
sentações
Transformação  Redação de material para publicação
 Pesquisas com apuração, inclusão, tratamento de dados e cálculos
estatísticos
 Simulação de anestesias, casos clínicos, eventos adversos
 Figura 5.3 Diagrama esquemático da entrada, processamento e  Auto-avaliação, avaliação de treinamento e provas
saída de dados em um sistema de informação.
Anestesiologia 75

A monitorização moderna, baseada em princípios eletrônicos, é


Profissional de saúde desenvolvida com sistemas de alarmes, que possuem os valores-

dependente do envolvimento humano


limite (máximo e mínimo) incorporados em sua base de dados e

Níveis de complexidade, aumento


6. Pesquisa e desenvolvimento
emitem sinais auditivos e/ou visuais, os quais também podem
5. Terapia e controle ser registrados. Devido à existência de diversos dados, gerando
vários alarmes e possibilidades, há uma necessidade de integração,
4. Diagnóstico e decisão priorização e retorno da informação para o anestesiologista (Blei-
cher; Epple, 1986).
3. Processamento e automação
Um sistema com protocolos padronizados permite que, por
2. Armazenamento e recuperação exemplo, ao reconhecer um paciente como pediátrico, as doses
dos fármacos, regulagens de ventiladores e ajuste dos limites de
1. Comunicação e telemática alarmes sejam adequados para o caso, minimizando dessa forma
a tarefa de preparo e ajustes, que deveriam ser feitos pelo aneste-
Computador
siologista, poupando tempo e reduzindo os erros.

 Figura 5.4 Diferentes níveis de complexidade de um modelo estru-


tural de aplicações para um sistema de informatização em saúde. Computadores: o hardware e o software
Para executar o seu papel, a informática usa como elementos o
hardware (os computadores e seus periféricos) e o software (os sis-
temas operacionais e programas) (Figura 5.6).
Além dos dados numéricos e alfanuméricos, a monitorização Os antecessores dos modernos computadores eram máquinas
gera sinais fisiológicos de diferentes tipos, periodicidades e que lidavam com números e aritmética realizando cálculos. Com
formas, necessitando de avaliação precisa e por vezes complexa o advento da eletrônica digital, surgiu o computador digital, usual-
(Figura 5.5). mente denominado computador, que tem a possibilidade de ma-
Durante seu trabalho, o anestesiologista realiza a tarefa de nipular, além de números e aritmética, também outros dados.
contínua monitorização de sinais vitais e avalia a interação entre Quaisquer dados, numéricos, alfanuméricos ou símbolos, podem
as suas ações e as respostas do paciente a essas ações, juntamente ser inseridos, captados, armazenados, tratados e retirados dos
com as decorrentes do ato cirúrgico e suas variáveis. Esse trabalho computadores. Pode-se definir os computadores como processa-
é uma tarefa complexa que utiliza a base de dados do “conheci- dores da informação.
mento do anestesiologista” e o seu treinamento. Quando um ou Para a representação das grandezas, opera-se com o sistema
mais dados saem do “limite fisiológico estabelecido”, o aneste- decimal, ou de base 10, que utiliza 10 algarismos (0 a 9). O
siologista fica alerta e desenvolve uma ação de cautela ou correção. princípio básico de funcionamento de um computador utiliza o

Sinal

Determinados Estatísticos

Periódico Quasi- Transiente Estacionária Não-


periódico estacionária

a forma da a forma da a forma da as propriedades as propriedades


onda é onda é repetida onda ocorre estatísticas estatísticas se
repetida quase que apenas não se alteram alteram com o
periodicamente periodicamente uma vez com o tempo tempo

Onda em sino ECG Resposta Ondas a ECG


celular

 Figura 5.5 Nas aplicações médicas, além dos dados numéricos e alfanuméricos relativos a um paciente, também podem coexistir dados de
sinais fisiológicos com padrões diferentes.
76 Informática e anestesiologia

 Entrada (input): é a unidade responsável pelo acesso da


Usuário Sistema de
computação informação ao sistema. Esta pode ser proveniente de dados

Interface com o usuário


recebidos de um teclado, uma caneta óptica, uma câmera
Usuário experiente Equipa- Progra-
de vídeo, uma leitora de código de barras, sinais fisiológicos
mentos mas (ECG, EEG, pressão arterial, oxímetro de pulso), fitas, discos
Usuário ocasional magnéticos ou ópticos, cartões de memória, ou outros.
 Memória: é o local onde a entrada, as instruções ou os
Dados resultados (intermediários ou finais) são armazenados. As
Usuário rotineiro
memórias podem ser de armazenamento volátil (temporá-
ria, enquanto permitida e ligada) ou não-volátil (de arma-
zenamento permanente, que poderá ser recarregada ou re-
Cópias de ciclada em uma ocasião específica).
Conexão Procedimentos
segurança  Unidade aritmética e lógica: é o local onde todos os cálculos
e operações são realizados.
 Figura 5.6 Os sistemas de informações são constituídos de compu-  Unidade de controle: é o setor que, sob o controle de uma
tadores e periféricos, e os usuários (de diferentes níveis) interagem série de instruções (programa), governa o processamento
com o hardware (as máquinas) por meio do software (os programas). das informações e as demais funções do computador.
Procedimentos de segurança para o uso e a manutenção da integri-  Unidade de saída: devolve ao usuário os resultados desse
dade dos dados são necessários. processamento ou informa que tipo de informações ou co-
mandos são necessários para a continuidade de operação
do equipamento. Normalmente é feito por um monitor de
sistema binário, em que as grandezas são representadas por uma vídeo e/ou impressora. Também pode-se armazenar essa
combinação de apenas dois dígitos (0 e 1) e a informação é tratada saída de dados em outros meios, como os magnéticos, óp-
por um conjunto de “ligado” (1) e “desligado” (0). A operação ticos ou magneto-ópticos ou transmiti-la para outros com-
utiliza o processo algébrico de lógica booleana, em que a informa- putadores e periféricos.
ção é tratada por “not”, “and” e “or”. Para que os cálculos, feitos
por princípios tão simples e precisos, sejam efetuados da maneira A inter-relação entre esses elementos está esquematizada na
intencionada, é necessária a operação por meio de caminhos e Figura 5.7.
alternativas condicionadas às situações que se apresentam (fluxo- A palavra software surgiu para contrastar com a parte “máqui-
gramas). Esta é a tarefa de um programa ou sistema de programas. na” (hard) do computador. Nesse termo estão incluídos os progra-
O hardware é composto de elementos elétricos, eletromecânicos mas, as linguagens e os procedimentos de um sistema de compu-
e ópticos que podem ser agrupados em cinco categorias: tação. Na prática, o software é parte mutável, maleável (soft) com-

Monitor Memória Impressora


central
Computador

CD-ROM
Teclado
Cartão magnético
CPU
Caneta unidade central
Mouse
óptica de processamento Cartão de memória
Armazenamento Armazenamento
magnético

Disquete Disco rígido Fita magnética

Acesso Acesso
óptico

CD-ROM randômico seqüencial

 Figura 5.7 Diagrama esquemático dos componentes de um computador com os seus componentes de entrada, processamento e saída de
dados.
Anestesiologia 77

posta por um conjunto de instruções que facilita, orienta e equipamentos. É comum encontrar a associação de vários desses
organiza a introdução dos dados, o seu processamento e a elabora- programas em pacotes integrados (processador de texto, planilha
ção dos resultados. eletrônica, banco de dados, correio eletrônico, agenda, comunica-
Os programas e sistemas são conjuntos de instruções que per- ções e outros), que atualmente podem receber o nome de “Suites”
mitem a comunicação entre o usuário e a máquina de modo que ou “Offices”. A integração desses programas dentro de um mesmo
os dados sejam introduzidos, o processamento seja realizado e os “pacote” facilita a sua operação, pois são visualmente parecidos
resultados sejam obtidos. e utilizam os mesmos procedimentos, bem como os mesmos
O processador trabalha com softwares diferentes para chegar dados, informações e resultados pelo sistema.
ao resultado final programado (Figura 5.8). Caso haja necessidade de aplicação em funções específicas
O hardware quase não dispõe de instruções para o seu funcio- como, por exemplo, o controle de um sistema médico ou de um
namento e a primeira medida é adicionar-lhe um software, o Siste- serviço de anestesiologia, podem ser desenvolvidos programas
ma Operacional (OS = Operating System), que inter-relaciona o com interface de comunicação própria para os usuários, mesmo
usuário, a máquina e os seus periféricos com os demais programas que estes utilizem como base para o armazenamento e o proces-
que serão utilizados, funcionando como um gerenciador do am- samento os aplicativos comerciais.
biente. Pelo fato de ser um programa acrescentado ao hardware, A inter-relação entre os diversos tipos de softwares e o hardware
apresenta a vantagem de sofrer modificações e acréscimos (up- é mostrada na Figura 5.9.
grade) propiciando expansibilidade e melhoria das máquinas. Por
vezes, durante a vida útil de uma máquina (hardware), são feitas Redes de computadores
várias atualizações do sistema operacional (upgrades). Os computa-
dores pessoais, do tipo personal computer (PC), começaram com o Os computadores pessoais são unidades isoladas, cada uma com
sistema operacional Disk Operating System (DOS), seguido de uma a sua própria informação. O crescimento do número de computa-
interface gráfica, o Windows® em suas diferentes versões (3.0, dores gerou a necessidade da interligação entre eles, para que a
3.1, 95, 98, Workgroups, NT, 2000, XP). Outros sistemas opera- troca de informações aumentasse as suas aplicações. Atualmente,
cionais como o Linux® e o MacOs® também fazem funcionar o a tendência ao uso de computadores interligados é uma realidade
hardware de computadores pessoais. e necessidade.
Os programas podem ser genéricos, realizando tarefas do dia- Dentre os métodos mais utilizados, pode-se citar a formação
a-dia dos usuários, como os processadores ou editores de texto, de redes internas, que possibilitam a conexão entre dois ou mais
as planilhas eletrônicas, os gerenciadores de bancos de dados, os computadores, facilitando o uso dos dispositivos e acessórios pre-
programas para manipulação de gráficos ou imagens, os progra- sentes nessa rede, mesmo que fisicamente em outros locais.
mas para comunicações de dados entre computadores ou outros Assim, torna-se possível a existência de vários computadores aten-
dendo a vários usuários, compartilhando as informações existen-
tes em todos os elementos da rede, sem a necessidade de expansão
do número de periféricos como impressoras, scanners, CD-ROM,
DVD-ROM ou outros (Figura 5.10).
Quando dentro de uma mesma edificação, a rede costuma
Sistema
operacional
receber o nome de Local Area Network (LAN). Uma rede mais exten-
sa pode receber o nome de Wide Area Network (WAN) e passa a ser
uma rede de redes, ou seja, mais de uma rede conectada entre si.

Programas Interpretadores, Software aplicativo


escritos Processador compiladores e
pelo usuário utilitários Ferramentas

Sistema operacional

Hardware
Aplicativos
padronizados

 Figura 5.8 Durante a operação de um sistema de computação, dife- Biblioteca de programas


rentes tipos de softwares são utilizados para o processamento das
informações. O sistema operacional controla o computador com os
seus dispositivos de entrada e saída. Os programas escritos (desen-
volvidos pelo usuário) realizam as tarefas específicas necessárias. Os  Figura 5.9 Vários tipos de softwares participam do funcionamento
compiladores, os interpretadores e os utilitários realizam tarefas de de um computador, com diferentes níveis de relacionamento e depen-
transformação, interpretação e programas requeridos pelo usuário. dência. A integração e a compatibilidade são indispensáveis para a
Os programas e aplicações padronizadas são adquiridos para realizar estabilidade do sistema, principalmente com relação a paradas de
tarefas comuns aos diversos usuários e instituições. funcionamento e travamentos.
78 Informática e anestesiologia

 Figura 5.10 A integração de dados clínicos, laboratoriais, imagens em um prontuário eletrônico e a interconexão do aparelho de anestesia e
monitores disponibilizam os dados do paciente relativos aos períodos pré, peri e pós-operatório (Bemmel; Musen, 1997).

A ligação de computadores a uma rede, e de redes entre si, pendência do hospital, com o seu notebook ou um palmtop (com-
pode ser feita por formas que variam desde a comunicação por putador de mão), com a manutenção de acesso às informações
meio de cabos e sistemas de telefonia até a utilização de equipa- como se estivesse fisicamente conectado por fios. Os limites per-
mentos sem fio e satélites. mitidos vão desde dependências dentro de uma sala ou edifício
O processo de transferência de um arquivo do computador até quilômetros de distância, entre edifícios diferentes.
remoto para o computador do usuário denomina-se download (bai- Existem diferentes padrões de redes sem fio, sendo necessária
xar um arquivo) e o inverso, upload (enviar um arquivo). a compatibilidade entre os equipamentos e os diferentes padrões
Por necessidade de operação e segurança, o acesso de compu- em desenvolvimento. A adição de pequenas placas ou cartões em
tadores às redes deve ser determinado por um administrador que notebooks e palmtops permite a conexão desses computadores móveis
programa quem vai ter acesso a qual conteúdo. com os computadores da rede para o acesso a dados e à internet.
Para facilitar o processo de transmissão da informação, princi- A indústria da informática tem se empenhado no desenvolvi-
palmente diminuindo o tempo necessário à transferência, os ar- mento da interconexão entre os equipamentos modernos de com-
quivos podem ser comprimidos, transmitidos, recebidos e putação e telecomunicação. Os futuros monitores serão interliga-
novamente expandidos no computador do usuário, utilizando pro- dos ao computador central e aos periféricos por conexões sem
gramas específicos. Os compressores/expansores mais utilizados fio, permitindo ao anestesiologista o acompanhamento, mesmo
têm a terminação “arj” ou “zip”. Esses arquivos necessitam de que à distância, dos dados e sinais monitorados (telemetria) dos
programas (utilitários) para a descompactação e armazenamento pacientes (Figura 5.11).
em seu novo destino. Também existem os programas com termi- O administrador da rede é o profissional responsável pela de-
nação “exe”, denominados executáveis, que, por ocasião da aber- terminação dos acessos, com os diferentes níveis de segurança,
tura, sofrem o processo de expansão e desmembramento, gerando dos computadores ligados à rede.
os arquivos e programas necessários para a operação. A disseminação de vírus e a modificação ou exclusão de arqui-
Um bom projeto de redes de computadores envolve a possibili- vos podem trazer danos a toda a estrutura e funcionamento de
dade de interconexão entre diferentes tipos de computadores e um sistema. Quando um sistema baseado em informática pára
entre sistemas operacionais diferentes, por exemplo, computado- de funcionar, diversas atividades deixam de ser executadas, geran-
res com sistema operacional Windows® com computadores Mac do prejuízos.
(Apple Computer, Inc®), palmtops e handhels e outros (grandes
computadores dos sistemas hospitalares e universitários – main- O uso de computadores em anestesiologia
frames).
O uso de “redes sem fio” (wireless) permite a conexão entre Tradicionalmente, os hospitais e as universidades, principalmente
computadores, telefones e outros dispositivos por meio de ondas no exterior, foram os primeiros ambientes, freqüentados por médi-
de rádio (2,4 GHz de freqüência) e equipamentos com sensores cos, em que se utilizaram computadores. Eram equipamentos de
de infravermelho, possibilitando a mobilidade dos usuários e seus grande porte, capazes de gerenciar um grande volume de informa-
computadores dentro de limites estabelecidos, com a troca de ções, mas com a desvantagem de apresentarem uma comunicação
informações sem a conexão física (por fios). É possível o desloca- com o médico que exigia conhecimento profissional de informá-
mento do anestesiologista do centro cirúrgico para qualquer de- tica para a sua operação e programação.
Anestesiologia 79

Hospital
associado

Aparelho de Universidade
anestesiologia Internet

Hospital
Residência
Internet do anestesiologista

Anestesiologista

 Figura 5.11 A interconexão, por redes (com e sem fio), de diversos equipamentos como o aparelho de anestesia e monitores, telefonia celular
e palmtop com a rede do hospital (ou hospitais), universidades e até a residência do anestesiologista.

Com o advento do computador pessoal, na década de 80, mui- centração do gás carbônico expirado/inspirado, concentração ins-
tos médicos, principalmente os anestesiologistas, mostraram-se pirada/expirada de anestésicos inalatórios, controle de respirado-
interessados no conhecimento e aproveitamento dessa nova fer- res, testes de aparelhos de anestesia, bombas de infusão (com
ramenta. infusão contínua constante ou variável), monitorização do ECG
Inicialmente foram surgindo programas com destinação espe- com avaliação das ondas, monitorização do EEG, monitorização
cífica, como para cálculo de doses de fármacos, avaliação do equilí- da função neuromuscular e seu bloqueio.
brio ácido-básico e hidreletrolítico, cálculo de vaporização de anes- Programas comerciais para a administração financeira e con-
tésicos inalatórios, escritos em linguagens como o Basic pelos tábil da prática da anestesia, individual ou em grupo, estão dis-
próprios anestesiologistas e apresentados como temas livres de poníveis. Fabricantes de equipamentos de monitorização e de
Congressos Brasileiros de Anestesiologia (CBA) (Carraretto e For- aparelhos de anestesia têm apresentado sistemas para integração
tuna – 30o CBA, Fortaleza-CE, 1983, Carraretto – 32o CBA, Salva- de seus equipamentos com o sistema de informação do hospital.
dor-BA, 1985) ou publicados na Revista Brasileira de Anestesio- Programas educativos para o ensino e treinamento em anes-
logia (Saraiva e Katayama, Oliva Filho). Na área de monitorização, tesia inalatória (GasMan®), simulação do funcionamento de um
desenvolveram-se estudos sobre a interconexão de computadores aparelho de anestesia (Virtual Anesthesia Machine®), anestesia
e monitores para extrair dados em tempo real ou armazenados, venosa (PK-Sim®, TIVASim®, RugLoop®), controle de bombas de
com o objetivo de criar documentação em papel ou gravada em infusão, previsão de concentrações de fármacos e simulação estão
meio magnético para a futura utilização ou até mesmo para a sendo usados por diversos centros e serviços.
transmissão à distância (Carraretto – Congresso da AMES, Vitória- O uso de simuladores de anestesia, que propiciam um treina-
ES, 1992). Paralelamente, na área de pesquisa, começou o empre- mento semelhante ao utilizado na aviação e em outras áreas, faz
go para os cálculos estatísticos e redação dos artigos científicos parte do arsenal tecnológico de ponta da atualidade, e vários cen-
(Oliva Filho, 1990). No campo da didática, o uso ampliou-se para tros estão sendo montados em todo o mundo.
a produção dos recursos visuais, principalmente na produção de A Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA) adquiriu o
diapositivos (slides) e transparências. Body Simulation for Anesthesia® (Advanced Simulation Corpo-
Os serviços e clínicas usaram os computadores inicialmente ration, EUA), um programa simulador de anestesia para micro-
para a administração financeira e controle da produção laborial, computador, de autoria dos professores N. Ty Smith e T. Davidson
bem como para a criação e armazenamento dos dados provenien- (University of San Diego – Califórnia – EUA), para distribuição
tes dos relatórios de anestesia. Tais sistemas permitem uma avalia- aos seus Centros de Ensino e Treinamento (CET) e Regionais.
ção dos dados dos pacientes, cirurgias, médicos, intercorrências A gravação de um grande volume de dados em mídias, como
e complicações dos atos anestésicos (Manica, 1995). o CD-ROM e o DVD-ROM, possibilita a inclusão de vários anos e
Na área de pesquisa, foi facilitado o processo de captação e diversos volumes de um ou mais periódicos em um único disco,
armazenamento de dados para análise e estudo, principalmente como aconteceu com a Revista Brasileira de Anestesiologia, já
pelos conversores analógicos digitais, em que os valores das variá- em sua quarta edição (2000). Os anais de Congressos Brasileiros
veis fisiológicas passaram a ser introduzidos nos computadores de Anestesiologia (1999, 2001) foram publicados em CD-ROM.
(Carraretto – Congresso da AMES, Vitória-ES, 1992). Além da compactação do espaço, as principais vantagens estão
Atualmente são diversos os equipamentos utilizados pelo relacionadas à redução do tempo de pesquisa e ao volume de
anestesiologista que empregam computadores, de uso geral ou informações que são encontradas por esse processo. Livros-texto
específico, para tarefas tais como gasometria, medidas de pressões e coleções de vários livros já estão disponibilizados em CD-ROM’s
(arterial, venosa, pulmonar, capilar, intracraniana), temperatura, (Apêndice 5.1). O material interativo, com áudio, vídeo e até testes
saturação de oxigênio periférico e do sangue venoso misto, con- de avaliação, torna a leitura mais agradável, estimulante e facilita
80 Informática e anestesiologia

o aprendizado. A reutilização do material revisto (textos e ima- de computadores e outras tecnologias que estão sendo implanta-
gens) é facilitada pelos processos de copiar e colar (cut and paste) das. A internet é dinâmica e as informações sofrem mudanças de
dos programas comercialmente disponíveis. conteúdo rapidamente.
A mudança de endereços na internet também é muito dinâmi-
A internet para o anestesiologista ca. É muito comum que um endereço anteriormente acessado,
quando procurado novamente, não seja encontrado porque foi
A internet é uma rede mundial de computadores que teve seu transferido ou excluído, por vezes sem deixar rastros.
início nos anos 60 a partir de uma estratégia do governo norte-
americano, que, por meio do Ministério da Defesa, criou a Arpanet Como conectar-se a internet?
(Advanced Research Projects Agency), uma rede-teste que ligava A internet não tem um início, ou seja, um único ponto de
quatro universidades americanas e possibilitava a troca de infor- conexão. O próprio nome “rede” sugere a sua semelhança com
mações entre os cientistas. Era o início do desenvolvimento de uma rede de pesca, por exemplo, onde todos os seus pontos estão
uma nova tecnologia de redes, com o objetivo de comunicação e conectados, por diversos caminhos, a um determinado (e
proteção dos dados contra um possível ataque inimigo. Em 1973, qualquer) ponto de referência. Essa estrutura permite que a infor-
foi criado o File Transfer Protocol (FTP), um protocolo para a trans- mação trafegue em diversos caminhos alternativos, mesmo quan-
missão de arquivos através da rede ainda em uso na atualidade. do determinados pontos estão desligados ou inoperantes.
Em 1983, um outro protocolo importante e de uso atual, denomi- Os meios mais comuns de conexão estão representados no
nado Transmission Control Protocol/Internet Protocol (TCP/IP), foi cria- Quadro 5.3. Na conexão direta com a internet, geralmente usada
do. Ocorreu então a separação entre as redes de finalidade de por universidades e grandes hospitais, um ou mais computadores
pesquisa e de uso militar após o teste dessas tecnologias. A gran- ficam ligados à rede através da rede de telecomunicação que ofere-
de rede, que inicialmente serviu para a conexão de supercompu- ce suporte à internet. Os demais computadores do sistema, ligados
tadores de universidades, é atualmente de domínio público mun- a essa rede interna, conectam-se através desse computador, deno-
dial, ou seja, qualquer pessoa pode conectar o seu computador à minado servidor (host).
internet e enviar ou receber mensagens e informações. A conexão a um provedor de internet (Internet Sercice Provider
A internet não é uma simples rede, mas uma “rede de redes – ISP), instituição, freqüentemente de caráter privado, que possui
de computadores” espalhados por todo o mundo. Quando o com- um ou mais computadores ligados na internet 24 horas por dia, é
putador do usuário (o anestesiologista, por exemplo) se conecta o modo mais utilizado. O usuário terá uma conta com um nome
a um computador localizado em uma universidade, um hospital de identificação (login) e uma senha (password). Os computadores
ou uma empresa, ele pode ter acesso aos diversos computadores conectam-se através de uma ligação telefônica local (usuário-
da instituição que estão conectados e tem a permissão para a provedor), através de um modem e uma linha discada, e o compu-
troca de informações nessa rede. tador do usuário passa a fazer parte dessa grande rede. Quando o
O governo americano, por meio da National Science Founda- computador do usuário não estiver conectado, as informações
tion (NSF) e outras organizações, fundou a internet. Ela não tem solicitadas ou enviadas para esse usuário serão armazenadas no
um proprietário, nem uma instituição ou empresa mantenedora. computador do provedor (denominado servidor) e transferidas
Atualmente o destino da internet está sob a responsabilidade de para ele após a sua conexão com o provedor.
uma organização voluntária que promove o acesso e o uso da O uso da linha discada necessita de um computador com um
internet, a Internet Society (ISOC). A Internic tem a responsabili- modem – equipamento-padrão na atualidade – , uma linha telefô-
dade de conceder, designar e manter um banco de dados com os nica e programas (softwares) para a conexão e a transferência dos
endereços da internet, para que eles sejam únicos. Cada endereço arquivos e informações. A cada dia os programas tornam essa
da internet é, na realidade, um número composto por até 12 al- tarefa mais fácil e automatizada. Um computador com placa de
garismos, separados no máximo de três em três, por pontos, em som e multimídia permite a utilização dos recursos mais
quatro números. Por questões de praticidade, a esse número está avançados da internet, como a captação e o envio de sons e ima-
ligado um nome (endereço), escolhido pelo proprietário e registra- gens (Figura 5.12).
do nos computadores, que fazem a busca transformando este A velocidade com a qual a informação vai trafegar entre o
endereço mnemônico em um endereço numérico. Por exemplo, o provedor e o computador do usuário dependerá de diversos fato-
endereço www.sba.com.br refere-se ao endereço 200.152.100.142. res, entre eles a qualidade da linha telefônica e a velocidade do
Estes endereços podem sofrer alterações inerentes ao dinamismo modem. Atualmente utilizam-se de preferência modems de 56
da internet e seus provedores de acesso, enquanto o endereço kbps (kilobits por segundo). Modems com velocidades de 128,
mnemônico (www.sba.com.br) apresenta a identidade proposta 256 e 512 kbps, que utilizam serviços de telecomunicações diferen-
pela SBA. ciados, também estão disponíveis e podem ser alugados de empre-
Para a transmissão dos dados dentro dessa rede, é necessário sas que prestam serviços de telecomunicações.
um protocolo (conjunto de requisitos e padronizações) que torne
compatíveis os computadores, mesmo que utilizem sistemas dife-
rentes. O protocolo usado na internet é o que permite a adição e
a retirada de computadores, ou redes de computadores, à grande Quadro 5.3 Meios comuns de conexão à internet
rede (internet), sem a necessidade de paralisação de seu funciona-
mento. Conexão direta com a internet
Para o anestesiologista, a internet é de fundamental importân- Conexão a um serviço on-line;
cia na busca e troca de informações. Vários são os sistemas que
Conexão a um provedor de acesso da internet (ISP – Internet Service
permitem trocar correspondências, ver páginas com informações, Provider)
fotos, sons, vídeos, conferências, notícias, programas e arquivos
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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