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Segurança na Copa / Ricardo Balestreri / Blogosfera

Policial / Carlos J. C. Fidalgo / Projeto Juventude e


Prevenção da Violência / Prêmios de desempenho

Polícia de
Proximidade
Cinco capitais do País adotam
o sistema que já começa a
apresentar bons resultados

ano 2 / edição 2 / mar - abr - mai 2011


1 Soluções e Desafios / Mar - Abr - Mai 2011
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Soluções e Desafios / edição 2 2


Cursos autorizados pelo MEC. Prêmio Melhores Universidades 2010 Guia do Estudante. Top of Mind 2010 Jornal de Brasília.
Editorial

P
arceria é um termo estratégico que nem sempre recebe a
devida atenção quando o assunto é segurança pública. A dico-
tomia costuma pautar as diversas esferas de relacionamento
na área e pode ser notada fartamente nos processos de integração das
atividades policiais, na forma como alguns gestores governamentais se
encastelam para a tomada de decisão, na, por vezes, tensa análise entre
academia e agentes operacionais, ou na falta de troca de informações
entre os poderes constituídos, apenas para citar alguns exemplos. Sumário
É na intensificação e no fortalecimento das relações parceiras que resi-
de, contudo, uma grande força motriz capaz de reordenar o sistema de
segurança pública do País. Prova disso é a aproximação entre as cor-
Ponto de vista / 4
porações e a sociedade, que cunhou o termo “Polícia de proximidade” Entrevista / 8
e que começa a apresentar bons resultados. Esse é o assunto central
Artigo / 13
desta edição de Soluções&Desafios na Segurança Pública.
Também com foco na parceria, o Fórum Brasileiro de Segurança Capa / 14
Pública e o Instituto Minas Pela Paz unem forças, a partir desta edição,
Tecnologia / 22
para produzir em conjunto esta publicação e, assim, auxiliar a constru-
ção de caminhos melhores para a segurança pública brasileira. Artigo / 26
Ação do Fórum / 27
Jésus Trindade Barreto
Presidente do Conselho de Administração do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Ação do IMPP / 30
Boas práticas / 32
Luís Flávio Sapori
Secretário-executivo do Instituto Minas Pela Paz

Soluções & Desafios


na Segurança Pública
Avenida do Contorno, nº 4520 , 7º andar – Funcionários
Publicação trimestral do Fórum Brasileiro de Segurança Rua Teodoro Sampaio, 1020 conj. 1409 - Pinheiros CEP 30110-916 - Belo Horizonte/MG
Pública, em parceria com o Instituto Minas pela Paz Cep: 05406-050 – São Paulo/SP
ISSN 1981-1659 Conselho Deliberativo
Conselho de Administração Olavo Machado Júnior (Presidente do Conselho)
Jornalista Responsável Revisão de textos: Enzo Bertolini,
Jésus Trindade Barreto Júnior – Presidente / Cledorvino Belini (Vice-presidente do Conselho)
Jander Ramon (MTb 29.269) Raphael Ferrari e Thiago Rufino
Elizabeth Leeds – Presidente de Honra / Carlos
Roberto Sant’Ana da Rosa / Denis Mizne / Diretoria
Edição de arte: Urbania Gráfica: Neoband
Humberto Vianna / Jacqueline Muniz / José Marco Antonio Piquini (Coordenador -Geral)
Capa: Folhapress
Luiz Ratton / José Marcelo Zacchi / José Vicente Liliane Lana F. Liberato (Diretora) / Marco Antonio
Tiragem: 5.000 exemplares
Tavares dos Santos / Kátia Alves / Luciene Branquinho Júnior (Diretor) / Marcelo Dias
Colaboradores nesta edição
Magalhães de Albuquerque / Luis Flávio Sapori / (Diretor) / José Carlos Souza (Diretor)
Carlos J. C. Fidalgo, Enzo Contato e publicidade:
Renato Vieira de Souza / Sérgio Roberto de Abreu
Bertolini, Ricardo Balestreri, imprensa@forumseguranca.org.br
/ Silvia Ramos / Wilson Batista Secretaria Executiva
Raphael Ferrari, Thiago (11) 3081.0925
Renato Sérgio de Lima – Secretário Geral Luis Flávio Sapori (Secretário-Executivo)
Rufino, Vladimir Goitia

3 Soluções e Desafios / Mar - Abr - Mai 2011


Ponto de Vista
Segurança pública é uma das poucas frentes que avançam bem para a

Bola na rede!
Ao se preparar para a
Copa, polícias priorizam
centros de controle
Por Raphael Ferrari

Soluções e Desafios / edição 2 4


A
realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil
Copa do Mundo está aí, na boca do gol. Faltan-
do pouco mais de dois anos para a realização
da Copa das Confederações, ensaio geral para
o Mundial, o “País do Futebol” ainda tem diversos pro-
blemas estruturais para resolver: os aeroportos carecem
de ampliação e modernização, o transporte está – literal-
mente – parado, e grande parte dos estádios ainda não
saiu da maquete. Enquanto muitos dos responsáveis por
esses setores jogam na defesa, argumentando que há
tempo, parece que pelo menos uma frente de ataque está
invadindo o campo adversário.
As polícias Civil e Militar das 12 cidades-sede estão
modernizando seus equipamentos de vigilância e servi-
ços de atendimento para ser capazes resolver qualquer
situação que possa surgir durante os jogos do torneio. A
criação ou a atualização de centros de inteligência para
integrar os trabalhos das forças de segurança é uma das
grandes apostas para melhorar o funcionamento do
setor. A ideia é entrosar o time e, a exemplo do que acon-
teceu nas operações de retomada dos morros do Rio de
Janeiro, no começo do ano, explorar o que cada jogador
pode oferecer de melhor.

As polícias das
12 cidades-sede
modernizam seus
equipamentos de
vigilância e serviços
de atendimento

A capital fluminense deve ter um novo Centro de Co-


mando e Controle operando até meados de 2012. “Este
local servirá como base para as operações de inteligência
no Estado antes, durante e depois da Copa”, afirma o
tenente-coronel da PM, Antonio Carlos Carballo Blanco.

5 Soluções e Desafios / Mar - Abr - Mai 2011


Ponto de Vista / Segurança na Copa

O secretário Ney Campello, da Secretaria Extraor- ciamento de riscos. “A Escola Superior da PM já está in-
dinária para Assuntos da Copa do Mundo da Fifa Brasil troduzindo novas disciplinas na grade curricular, como,
2014 no Estado da Bahia (Secopa-BA), acredita que por exemplo, metodologia da integração. Curso que
entre os investimentos que estão sendo realizados na foca os processos de interação entre as diversas esferas
área de segurança, a criação de centros de inteligência é o da segurança pública e sua ação em meio à sociedade”,
que fará maior diferença na qualidade do serviço presta- aponta Carballo.
do à população. “Essas novas estruturas não se perderão No Paraná, segundo Geraldo da Silva Pereira,
com o término do Mundial. Ao contrário, são recursos assessor de Segurança Pública da Secretaria Extraordi-
que serão empregados para diagnosticar e prevenir ações nária da Copa 2014 do Estado (Secopa-PR), que conta
ilegais ou potencialmente perigosas para a segurança com pouco mais de R$ 90 milhões (R$ 42 milhões para
local”, avalia. Polícia Civil e R$ 48 milhões para a Militar) para investir
Ainda no campo de ampliação das estruturas físicas, em capacitação de pessoal, aquisição e modernização de
as principais delegacias do País devem passar por refor- equipamentos e estruturas ao longo do triênio 2011-
mas e se modernizar até 2013, a exemplo do que está 2013, a principal ação neste campo se dá em parceria
sendo feito, neste momento, nas quatro delegacias espe- com o Corpo de Bombeiros. “Eles estão ministrando um
ciais que a Polícia Civil de São Paulo possui para atender curso chamado ‘Pré-hospitalar tático’ aos policiais que
aos estrangeiros em Congonhas, Cumbica, Viracopos e atuarão em contato com o público. O objetivo é capacitá-
Porto de Santos – pontos de acesso estratégicos para os
turistas que virão assistir os jogos.
Já no campo de qualificação/capacitação dos agentes
de segurança, o ponto comum entre os Estados é o en-
sino dos idiomas inglês e espanhol. No Rio de Janeiro, a
Escola Superior da Polícia Militar firmou parceria com a
Faculdade de Tecnologia do Estado para que os policiais
estejam aptos a atender os turistas. Na Bahia, o gover-
no está capacitando 1.600 profissionais que, até 2014,
devem falar fluentemente os dois idiomas.
Mas, neste setor, o trabalho que mais se destaca é
o do Estado de São Paulo. Diariamente, a PM atende
150 mil chamadas no Estado, 35 mil somente na capital
paulista. “Os atendimentos do 190 e do 911 (a polícia do
Estado também recebe chamadas pelo código interna-
cional) são feitos sempre no primeiro toque e por um Experiência internacional de
atendente capacitado a falar tanto em inglês quanto em realização do evento, como
espanhol”, informa o coronel da PM e presidente do na África do Sul, serve de
referência para o País
Conselho Nacional de Comandantes, Álvaro Camilo.
“Nos grandes eventos, como a F1, já atendemos também
em outros idiomas, como francês e chinês”, assegura.
Além da qualificação para o trabalho, os agentes
de segurança também estão recebendo treinamentos
técnicos focados, principalmente, na prevenção e geren-
No Rio, a Escola Superior da Polícia Militar firmou parceria com a Faculdade de Tecnologia do Estado

Soluções e Desafios / edição 2 6


-los a realizar alguns procedimentos de emergência, além A Autoridade Olímpica /
dos primeiros socorros”, conta Pereira.
Na Bahia, a PM está investindo em cursos de esvazia- O Brasil irá sediar na mesma década, com apenas
mento tático, para dispersão de forma tranquila e segura dois anos de intervalo, os maiores eventos esportivos
dos torcedores quando for percebida qualquer “situação do mundo: A Copa e as Olimpíadas. Embora o torneio
de animosidade”. “É uma medida simples e eficiente, que de futebol seja prioridade no momento, dada a ordem
poderá ser utilizada também durante o Carnaval, caso cronológica dos fatos, os governos também já trabalham
exista a necessidade”, comenta Campelo que, entretanto, na realização do segundo.
acredita que tais manobras dificilmente serão usadas É fundamental entender que entre as duas competi-
durante o evento. ções há algumas diferenças chaves. Enquanto o Mundial
A realização da Copa trouxe, no mínimo, duas van- de futebol é um evento descentralizado e organizado de
tagens para o Brasil: primeiro, propiciou uma série de acordo com as regras da Fifa, os Jogos Olímpicos acon-
investimentos que já eram necessários e que, ao fim do tecerão somente no Rio e requerem uma organização
torneio, ficarão de legado para a população – não só no maior do Estado, que recebe somente as diretrizes bási-
setor de segurança, mas na infraestrutura como um todo; cas do Comitê Olímpico Internacional (COI). Significa
depois, como aponta Pereira, “é um evento para entregar- dizer que o Rio de Janeiro irá se beneficiar das estruturas
mos nosso cartão a inúmeros países de todo o mundo”. constituídas para a Copa, mas terá que trabalhar seria-
mente para concretizar as Olimpíadas.
Para organizar as obras necessárias, a União, o
Estado e do Município do Rio de Janeiro firmaram um
consórcio que criou a Autoridade Pública Olímpica
(APO), uma espécie de comitê gestor das obras, que
também é responsável pelo legado dos jogos para a
cidade. O comando da entidade foi entregue ao ex-
-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, que
garantiu preencher os 181 cargos comissionados da
APO com profissionais de qualificação técnica e gesto-
res de primeira linha.
Meirelles acredita que os oito anos a frente do BC e
sua ligação com investidores nacionais e internacionais
são pontos que o qualificam para o cargo. Ele também
lembrou que foi o responsável por mostrar ao COI que
o País tem capacidade econômica e política para realizar
as Olimpíadas. Quanto ao prazo para a realização das
obras, Meirelles é otimista. “Acredito que há tempo, sim”,
afirma. Ao aceitar o cargo, ele demonstrou que já está
focado no novo desafio ao comentar que já fez contato
com a arquiteta-chefe das Olimpíadas de Londres e com
o chefe do projeto da Olimpíada de Inverno de Salt Lake
City (EUA), que começou muito atrasado. “Definitiva-
mente, não é o caso do Brasil”, assegura.
para que os policiais estejam aptos a atender os turistas

7 Soluções e Desafios / Mar - Abr - Mai 2011


Entrevista

O empresário Abram Szajman analisa os efeitos da violência sobre o am

“Estamos fazendo nossa parte na


agenda de segurança pública”

Abram Szajman, presidente


da Fecomercio e dos Conselhos
Regionais do Sesc e do Senac
por Jander Ramon / fotos: divulgação

Soluções e Desafios / edição 2 8


biente de negócios no Brasil e como os empresários enfrentam o tema

Para Szajman, é
essencial universalizar
a qualidade da
segurança pública,
com as boas práticas
sendo replicadas

O
empresário Abram Szajman comanda a
principal entidade sindical paulista do
comércio e de prestação de serviços, a
Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
do Estado de São Paulo (Fecomercio). Além disso, é o
presidente dos Conselhos Regionais do Serviço Social
do Comércio (Sesc) e do Serviço Nacional de Aprendi-
zagem Comercial (Senac). Nesta entrevista concedida
à Soluções&Desafios , ele analisa a preocupação dos
empresários em torno da segurança pública, como a
percepção de violência afeta o ambiente de negócios
e de que maneira as entidades que preside têm atuado
para enfrentar esse tema.

Soluções&Desafios / Qual é sua percepção sobre a


segurança pública no Brasil?
Abram Szajman / Há muita heterogeneidade quando
analisamos o País como um todo e, em especial, São
Paulo. No geral, temos uma grande sensação de inse-
gurança. Mas também não tenho nenhuma dúvida em
dizer que, em alguns bairros de São Paulo, por exemplo,
Moema, temos registros de violência muito baixos,
enquanto em outras regiões a sensação é de que há qua-
se uma guerra urbana. Isso é ruim para todo mundo,

9 Soluções e Desafios / Mar - Abr - Mai 2011


Entrevista / Abram Szajaman

e péssimo para os negócios. Tanto para o comerciante segurança e de outras pessoas; atrapalha o País, que
de rua, que vê seu lucro ser levado por um marginal deixa de arrecadar e, pior, tem nesse mecanismo uma
ou que teme até perder a vida, quanto para o grande fonte de receita para o crime.
empresário, que analisa oportunidades de negócio no
Brasil. O que precisamos é universalizar a qualidade Soluções&Desafios / Recentemente, iniciou-se uma
da segurança pública, porque se o Estado registra bons onda de assaltos a shoppings centers em São Paulo.
desempenhos em uma região, pode perfeitamente Szajman/ Mas foi uma onda, não? Como tivemos
avançar em outras onde neste momento há deficiência. outras, de sequestros, assaltos a bancos. A criminalidade
A questão da segurança pública aflige muito o comércio se reinventa a partir do momento em que o governo se
e compromete a atividade econômica brasileira. aparelha e enfrenta os problemas, combatendo o crime

Soluções&Desafios / De que forma, especificamente? Fecomercio trata o tema com profundidade, diz o emp
Szajman/ De várias, como eu disse, mas vou indicar


outras. A Fecomercio participa de uma organização Somos os primeiros
empresarial chamada Brasil Investimentos e Negócios
(BRAiN), cujo objetivo central está em transformar o
a apontar a
País em um polo regional de negócios, da mesma forma pirataria, o
que há polos em Londres, Hong Kong, Dubai, enfim.
Em vez de a empresa abrir um escritório em Santiago
contrabando e o
ou Miami para cuidar das suas atividades regionais, descaminho, porque
queremos atraí-la para o Brasil, preferencialmente em
São Paulo, mas pode ser no Rio. Como vamos convencer
isso é ruim para
empresas a realizar investimentos e se instalar aqui se elas todo mundo
não se sentem seguras, se seus executivos temem sofrer
alguma violência no Brasil? Isso é um aspecto macroe-
conômico, mas temos problemas também do dia a dia,
da violência que não se limita apenas às metrópoles, mas
que também agora aterroriza o interior.

Soluções&Desafios / O comércio algumas vezes é


criticado por vender produtos pirateados, que também
abastecem o caixa do crime organizado.
Szajman/ Mas isso não é comércio. Isso é crime e não
vamos nos confundir. A Fecomercio sempre defendeu
a legalidade, os princípios da livre concorrência e da
competição justa e em condições de igualdade. Somos
os primeiros a apontar a pirataria, o contrabando e o
descaminho, porque isso é ruim para todo mundo: en-
fraquece o comércio, pois promove concorrência desle-
al; prejudica o consumidor, porque ele está comprando
algo de qualidade duvidosa e que coloca em risco sua

Soluções e Desafios / edição 2 10


A responsabilidade social de um vitorioso /

Abram Szajman nasceu em 20 de julho de 1939 no office-boy na loja do tio. O trabalho na loja, de início
Bom Retiro, bairro paulistano próximo da Estação uma imposição, abriu-lhe perspectivas novas, pois
da Luz, e desde 1984 preside a Fecomercio. Filho ganhar a vida com vendas dependia apenas de seu
de imigrantes poloneses, seus pais chegaram ao próprio talento e esforço. Desenvolveu, assim, as ca-
Brasil no início da década de 1930. Aos dez anos racterísticas básicas que todo o comerciante deve ter:
de idade, após concluir o curso primário no Grupo disposição para o diálogo, paciência com os clientes,
Escolar Prudente de Moraes, colégio público situ- conhecimento do produto que oferece, do preço da
ado no Jardim da Luz, começou a trabalhar como concorrência e a percepção de que o fundamental é
resário satisfazer o comprador, do outro lado do balcão.
Na atividade empresarial, Szajman explorou vários
campos, com passagens pelo ramo imobiliário e pelo
setor de turismo. Em 1977, criou a VR, que hoje
atua, entre outros setores, no mercado imobiliário.
Boa parte do tempo do empresário é dedicada à
gestão do Sesc e do Senac. Participa também de con-
selhos como o do Hospital Israelita Albert Einstein
e do Incor. Sua sensibilidade para as questões sociais
o levou a tornar-se benemérito da Casa Hope, ONG
do setor de oncologia.

organizado. Não há lugar mais seguro para se fazer


compras do que um shopping center. O problema é que
os bandidos enxergaram ali uma oportunidade e, agora, a
polícia e os próprios empresários reforçaram os sistemas
de segurança. Da mesma forma que o Estado soube


A combinação entre resolver os crimes de assalto a banco, esperamos que a

educação, cultura inteligência policial elimine esse tipo de crime.

e lazer causam Soluções&Desafios / Tocando nesse ponto, como os

enorme impacto na empresários têm se engajado no tema segurança pública?


Szajman/ Há uma despesa enorme com segurança
vida das pessoas e privada, algo que encarece os custos no Brasil. E prover

diminui a violência segurança, evidentemente, é uma função do Estado. Na


Fecomercio, por servirmos como uma espécie de farol
de orientação aos empresários, temos tratado esse tema

11 Soluções e Desafios / Mar - Abr - Mai 2011


Entrevista / Abram Szajaman

com profundidade. Nos últimos dois anos, realizamos os empresários estão fazendo sua parte na agenda de
vários debates abordando as políticas públicas de segu- segurança pública.
rança, de forma mais enfática no Conselho de Estudos
Políticos, presidido pelo ex-governador Cláudio Lembo. Soluções&Desafios / O senhor relaciona a cultura
No ano passado, inclusive, debatemos as propostas apre- e o lazer como um fator de combate à violência?
sentadas pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública aos Szajman/ Evidentemente. Está mais do que provado
então presidenciáveis. Temos agido também no sentido que a combinação entre educação, cultura e lazer, dentro
de atacar os crimes eletrônicos, uma das fontes de receita de uma perspectiva de integração social, causam enorme
do crime organizado. impacto na vida das pessoas e diminui a violência. É por
isso que o Senac tem um papel fundamental, de forma-
Soluções&Desafios / As ações vão além de debater ção profissional. E polícia na rua, claro, com a percepção
o tema? de um Estado forte.
Szajman/ Sem dúvida. A Fecomercio lidera um pro-
cesso de revitalização do bairro da Bela Vista, uma área Soluções&Desafios / O senhor sente falta de uma
tradicional da cidade, que abriga inclusive o famoso presença mais marcante do Estado?
bairro do Bixiga, e que está se degradando. Conduzi- Szajman/ Tem momentos que a gente pensa que, se o
mos uma articulação com a Prefeitura de São Paulo e Estado não atrapalhar, já está ajudando. Mas segurança,
com universidades como o Mackenzie e Belas Artes como em qualquer lugar do mundo, também se faz com
pensando na reconfiguração do bairro, tornando-o mais uma presença ostensiva de polícia e com a sensação de
atraente e com maior integração social, tornando os que cometer um crime acabará em punição.
espaços de melhor convívio, estimulando a cultura e a
paisagem arquitetônica. Isso não é uma ideia, mas uma O Sesc e o Senac, lembra
o empresário, são
ação efetiva. Se levado adiante – e tenho certeza que será
investimentos privados,
–, esse projeto vai revitalizar a área, reduzindo os pontos nem sempre reconhecidos
de violência, facilitando ao Estado combater o tráfico pelo público
de drogas. Também o comércio tem uma atuação muito
forte via Sesc.

Soluções&Desafios / O braço social do comércio.


Szajman/ Isso é até curioso. Ninguém tem dúvida so-
bre a excelência dos serviços oferecidos pelo Sesc, nas
áreas de cultura e lazer. O Sesc realmente transforma
a realidade social e cultural dos bairros, promovendo
inserção das pessoas, muitas atividades de cultura,
de esporte e de integração. Mas poucos se lembram
que esse é um investimento privado, extraído de uma
parte dos impostos que são pagos pelas empresas.
Falta tanta clareza nessa atuação que a todo instante
nosso sistema sofre ataques do governo, sobretudo
do Ministério da Educação, que não entende o papel
do Sesc. A luz dos nossos resultados, acredito que

Soluções e Desafios / edição 2 12


Artigo

Muitos anos em três


A Senasp passou, nos últimos anos, por uma gestão realizadora e inovadora

C
omo todos os que acompa- especialização e três mil formados/ interesses inconfessáveis de setores
nham a história da Secreta- ano, política que será considerada que demandaram contra, essa políti-
ria Nacional de Segurança a grande alavanca histórica para a ca é, hoje, responsável pela cobertura
Pública (Senasp) sabem, permanecer derrubada dos muros entre polícia e quase total do território nacional.
alguns anos à frente da pasta é uma saber acadêmico. Uma revolução nos padrões infraes-
verdadeira façanha. As razões, fáceis A segunda questão, digna de truturais conhecidos e também na
de entender, são todas ligadas à per- nota, foi a institucionalização da qualificação da pilotagem, marca-
manente disputa por uma Secretaria polícia comunitária como uma damente através de parceria com a
que é, na prática, maior e mais im- prioridade real do governo e uma Força Aérea Brasileira.
pactante do que o próprio Ministério condição sine qua non para parce- Notável, por fim, a ação da Força
que a abriga, mas funcionando com ria com os estados. Mais de 70 mil Nacional, especialmente em conjun-
enormes precariedades de infraestru- capacitados e o que no passado era to com a Polícia Federal, responsável,
tura. Ainda assim, com boa dose de considerado “romântico” começou entre outras façanhas, pela redução
idealismo, regada à visão sistêmica, a alterar realidades e mudar a cara da do desmatamento no Brasil.
é possível realizar muito. Vejo assim segurança no Brasil. Alguns importantes flashes
a gestão que comandei: realizadora Terceiro: começamos a cuidar puderam ser avivados. Tenho certeza
e inovadora, sempre maduramente das fronteiras como prioridade tam- de que a nova gestão vai honrar e
partindo das conquistas das que a bém para os entes federados e cria- ampliar o que foi feito. Por esse leito,
antecederam. mos o Policiamento Especializado o da segurança, também passa o
Nossa primeira e bastante notória em Fronteiras (Pefron), que só não desenvolvimento nacional.
conquista foram os programas de evoluiu mais rapidamente devido aos
educação para forças de segurança. mesmos velhos conflitos intestinos.
Partindo da visão trazida por Luiz O modelo, contudo, está pronto e
Soares, via Sistema Único de Segu- teceu esmeradamente a adesão de 11
rança Pública (Susp), fortificando-se estados. Paradigma novo.
com Correa e Biscaia, em nossa fase Quarto: estruturamos a Política
os programas de educação viveram Nacional de Aviação em Segurança
um grande boom. Pública, para a qual criamos nor-
O ensino à distância abrigou 200 mativas e um Conselho Nacional e
mil matrículas por quadrimestre, financiamos os estados para a com-
no ano final da gestão. Mais de um pra de frota que hoje nos permite
milhão de matrículas efetivadas por chegar rapidamente a qualquer parte Ricardo Balestreri é ex-secretário
um público sempre muito exigente. do País (a polícia e os bombeiros nacional de Segurança Pública e
Entre eles, 170 mil bolsistas. No não tinham como acessar mais de membro dos Comitês Federais de
campo da parceria com a comuni- 50% do território). É a frota que têm
Educação em Direitos Humanos
dade acadêmica, elevamos nossa atuado, por exemplo, nas grandes
e Combate à Tortura
plataforma para mais de 60 cursos de catástrofes naturais. Em que pesem

13 Soluções e Desafios / Mar - Abr - Mai 2011


Capa / Polícia de proximidade

Conquista de território
e de confiança
A aproximação entre polícia
e comunidade transforma
a vida social de várias
capitais, a ponto de criar
uma nova realidade na área
de segurança pública
Por Vladimir Goitia/ fotos: Blog Lente Policial,
Blog do Coyote e Instituto Sou da Paz

E
m quase três décadas de tentativas com acertos
e erros, os esforços para aproximar a polícia da
sociedade no País redobraram e começam a
consolidar-se como projetos de convivência cidadã dentro
do princípio de que a melhor forma de assegurar a defesa
do interesse da comunidade é garantindo a segurança dela. 
Em alguns Estados como Rio de Janeiro, São Paulo
e Minas Gerais, as ações passaram de apenas experiên-
cias isoladas e de pouca durabilidade – no início, alguns
casos, inclusive, tiveram registro de forte ingerência
política e práticas clientelistas –, para a conquista de
territórios em áreas conflagradas, com programas de
sustentação da paz por meios pacíficos. Resultado:
quedas consistentes dos índices de homicídio.
Embora os dados existentes sejam generalistas, e não
pontuais e específicos sobre os resultados obtidos com a
presença ostensiva de polícias comunitárias em regiões de

Soluções e Desafios / edição 2 14


Territórios recuperados em áreas conflagradas

O apoio popular à
ocupação do Com-
plexo do Alemão, no
fim de 2010, revela o
sucesso das iniciati-
vas de aproximação

15 Soluções e Desafios / Mar - Abr - Mai 2011


Capa / Polícia de proximidade

alguns desses Estados, eles mostram efeitos importantes, policial ao Complexo do Alemão, no fim do ano pas-
embora ainda, infelizmente, aquém do considerado acei- sado, não é exagero acreditar que, pelo menos no Rio,
tável pela Organização Mundial da Saúde (OMS), razão esse sistema conta também com apoio popular.
pela qual há que se ter certa cautela na comemoração. “A perspectiva comunitária resgatou a colabora-
No Rio de Janeiro, por exemplo, o número de ho- ção da sociedade com a polícia. Sem essa articulação
micídios no ano passado foi o menor registrado desde teria sido difícil conseguir essa aproximação”, resume
1991, quando a taxa passou a ser monitorada. Foram Jacqueline de Oliveira Muniz, integrante do Grupo
menos de 30 mortos por 100 mil habitantes, de acordo de Estudos Estratégicos (GE) da COPPE-UFRJ e
com a Secretaria de Segurança do Estado. Nos últimos professora-doutora da Universidade Cândido Mendes
quatro anos, a taxa por 100 mil habitantes caiu de 40,6 (RJ) e da Universidade de Brasília.
para 29,8. Esse resultado foi alcançado mesmo após a O sociólogo Luís Flavio Sapori, secretário executivo
recontagem populacional realizada pelo Censo 2010 do do Instituto Minas pela Paz e professor da PUC Minas,
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). acrescenta ainda que, na última década, o corpora-
São Paulo também atingiu o menor índice de tivismo tipicamente militarista da Polícia Militar,
homicídios da história recente. Em 2010, os assassina- responsável pela doutrina de polícia comunitária nos
tos recuaram para o patamar de 10,47 para cada 100 Estados, diminuiu no processo de aproximação com a
mil habitantes, de acordo com a Secretaria de Segu- sociedade. “Tendo a acreditar que houve um aumento
rança paulista. A queda foi de 4,5% em relação ao ano da confiança da população na legitimidade daquela
anterior, quando estava no patamar de 10,96 por 100 polícia”, conclui.
mil habitantes. A taxa é menor do que a metade da taxa
brasileira média de homicídios, de 25,2 para cada 100
mil habitantes por ano, conforme o “Mapa da Violência
2010: Anatomia dos homicídios no Brasil”, da OMS.
Os resultados também estão em linha com os apurados,
ano após ano, pelo “Anuário do Fórum Brasileiro de
Segurança Pública”. É bom lembrar, entretanto, que
países como Estados Unidos e França – considerados
exemplos – registram 6 e 0,7 crimes letais, respectiva-
mente, para cada 100 mil pessoas.
É claro que a redução de homicídios nestes Estados
não pode ser diretamente relacionada aos programas de
aproximação da polícia à população, caso das Unidades
de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro, Po-
lícia Comunitária em São Paulo, Fica Vivo! em Minas
Gerais e Pacto pela Vida em Pernambuco. Até porque,
de acordo com especialistas, não foram aplicadas ferra-
mentas e tampouco critérios de mensuração precisos
desses resultados. Mas o fato é que, ainda na opinião
desses especialistas, esses projetos avançaram, são
muito bons e sociedade e polícia saíram ganhando. Se
considerado o grau de apoio da população à ocupação

Soluções e Desafios / edição 2 16


/ Rio de Janeiro

Estratégicos da COPPE-UFRJ.
Unidades de Polícia Pacificadora Não existem dados precisos
sobre a queda dos homicídios nas

C inturão de segurança. É
assim que funcionam hoje as
13 Unidades de Polícia Pacifica-
nado uma espécie de “referência
coletiva”, citada por especialistas
e de ciência da maioria dos leigos
regiões onde as UPPs exercem
presença ostensiva. Até porque,
explica Jacqueline, as ferramentas
dora (UPP) instaladas em favelas que acompanhavam, em tempo para essa mensuração ainda são
da região metropolitana do Rio de real na televisão, a ocupação por limitadas. “O que podemos afir-
Janeiro, inviabilizando a mobilida- forças policiais, em novembro de mar, sem apologia alguma e sem
de da logística do crime e manten- 2010, do Complexo do Alemão, palpites a esmo, é que o programa
do acompanhamento sobre mais um território antes dominado por é muito bom. Graças a ele foi
de 230 mil pessoas. A instituição narcotraficantes. Nos próximos possível conquistar territórios em
desses sistemas de proteção às quatro anos, a meta do governo do áreas conflagradas. Isso quer dizer
comunidades ganhou forte apelo Estado é instalar outras 55 UPPs, que houve uma quebra da logística
público e enorme reconhecimento totalizando 68 unidades. do crime”, analisa.
nacional, a ponto de ter se tor- Até antes da implementação da A partir deste semestre, a
primeira UPP, na favela de Santa Secretaria de Segurança Pública
Marta, a dinâmica econômica adotará o conceito de letalidade
nessas regiões estava praticamen- violenta no lugar dos homicídios
te sedimentada no dinheiro do dolosos. O conceito, que passa a
narcotráfico. Mas o cenário mudou compor a lista de prioridades, é
e o foco agora é outro. Grandes, constituído pelos crimes de homi-
pequenas e médias empresas apon- cídio doloso, latrocínio, auto de
tam suas miras para invadir esses resistência e lesão corporal seguida
territórios. A aposta é que um de morte.
milhão de moradores das favelas Para a Secretaria, a decisão
cariocas entrem na economia de agregar esses crimes em um
formal nos próximos anos. único indicador e passar a cobrar
As UPPs, que consomem 6% metas de redução, é coerente com
do efetivo da Polícia Militar do a filosofia de pacificação que tem
Rio – o que faz com que a razão seu braço mais visível no programa
polícia/habitante nessas regiões das UPPs. A média desses núme-
seja considerada “muito boa” –, ros determinará a meta geral para
Ocupação do Com- agem com “repressão qualifica- o Estado. No início deste ano, já
plexo do Alemão foi
da”, que se articula às práticas da sofreram uma pequena alteração.
momento marcante
para fortalecimento dissuasão e da prevenção. “Isso A meta de letalidade violenta é
das UPPs e compro- dá superioridade às UPPs”, afirma reduzi-la em 6,67%. A anterior, de
vou apoio popular Jacqueline de Oliveira Muniz, homicídio doloso, era diminuir em
integrante do Grupo de Estudos 6,37%.

17 Soluções e Desafios / Mar - Abr - Mai 2011


Capa / Polícia de proximidade

São Paulo /

crimes, começou a se aproximar da


sociedade por meio da instalação de
uma Base Comunitária de Seguran-
ça. Em 2000, chegaram a ser regis-
trados 408 homicídios. Em 2009,
caíram para 88, numa região onde
residem cerca de 55 mil pessoas.
Melina Risso, diretora do Insti-
tuto Sou da Paz, acredita que a di-
vulgação trimestral das estatísticas
criminais, exigida por lei estadual,
é insuficiente e, além disso, esses
dados precisariam ser desagrega-
dos, de modo que permitam saber
onde estão os maiores conflitos e
Polícia Comunitária problemas. “Assim, poderiam ser
elaboradas ações específicas para
cada região”, sugere.

E mbora o embrião de policia-


mento comunitário em São
Paulo tenha surgido em 1975, com
sobre a polícia mudou, e muito.
Ela passou de um conceito apenas
repressivo para preventivo. E este
Na primeira fase, o projeto será
disseminado para o público interno
(PM). Serão pelo menos oito meses
a criação de Conselhos Comuni- é, de fato, o foco do policiamento co- de treinamento. Na sequência, a
tários de Segurança, a experiência munitário no Estado”, completa. população tomará conhecimento
paulista de aproximar a Polícia São Paulo também não conta desse programa. “Uma abordagem
Militar da sociedade vai completar com dados específicos sobre os negativa pode colocar por água
apenas 15 anos, em 2011. Para efeitos do policiamento comunitá- abaixo a aproximação da polícia
viabilizar esse modelo, foram neces- rio nas quase 270 bases no Estado. com a sociedade”, alerta a diretora
sárias visitas ao Canadá, Espanha, Os exemplos são pontuais. Há 11 do instituto.
Estados Unidos, Japão e Inglaterra, anos, o Jardim Ranieri, vizinho do Ela acrescenta que a confiança
que têm projetos de policiamento Jardim Ângela e do Capão Redon- entre população e polícia cres-
comunitário, prevalecendo, no caso do, ambos na zona sul da capital ceu, mas nem tanto. “O que me
de São Paulo, o modelo japonês. paulista, é exemplo de que tal preocupa é que a aproximação da
“Acredito que, nos últimos anos, mudança pode acontecer. Região sociedade vem se dando somente
chegamos a um ponto muito bom”, que já foi considerada como uma no âmbito das polícias militares,
avalia o major Gilberto Tardochi da das mais perigosas do mundo. e não no da polícia civil. Acredito
Silva, chefe da Divisão de Polícia Na época, a PM se viu obrigada que esse processo deveria ocorrer
Comunitária e de Direitos Humanos a mudar sua forma de atuação. Além em todos os níveis e tipos do poli-
de São Paulo. “A visão da sociedade da responsabilidade de reprimir os ciamento”, pondera Melina.

Soluções e Desafios / edição 2 18


/ Minas Gerais

funciona o programa. “A cada ano


Fica Vivo! vamos expandir o número de áreas
cobertas. Este ano, serão mais

E m 2002, o Brasil foi apontado


pela Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e
(Gepar), departamento exclusivo,
que hoje está presente em todas as
comunidades atendidas pela políti-
três”, conta Fabiana.
Apesar de o governo mineiro
considerar que houve avanços nos
a Cultura (Unesco) como o segundo ca de prevenção à criminalidade. últimos anos, como a queda da
país com mais mortes violentas de Em oito anos, foram obtidos criminalidade, ainda há problemas
jovens entre 15 e 24 anos. Um terço bons resultados, na opinião de graves. Ribeirão das Neves, na Gran-
dos homicídos, segundo o organis- Fabiana Lima Leite, coordenadora de Belo Horizonte, enfrenta um
mo, provocados por armas de fogo. especial de Prevenção à Crimina- aumento (50,8%) dos homicídios
Pesquisas realizadas no mesmo lidade da Secretaria de Estado de no último trimestre de 2010, ante o
ano pelo Centro de Estudos de Defesa Social. Na região do Morro mesmo período de 2009, de acordo
Criminalidade e Segurança Pública das Pedras, na época uma das áreas com a Fundação João Pinheiro. As
da Universidade Federal de Minas mais violentas de Belo Horizonte, autoridades explicam que estão sen-
Gerais (CRISP/UFMG) mostravam a taxa de homicídios caiu 70% já do elaborados estudos para verificar
um acentuado crescimento do núme- no primeiro ano do programa, de as causas desse crescimento.
ro de homicídios na capital mineira. acordo com Fabiana. Para o sociólogo Luis Flávio
O levantamento revelava que Desde então, mais de 500 “ofi- Sapori, do Instituto Minas pela Paz,
o fenômeno se concentrava em cineiros” (instrutores em esporte os índices mineiros de criminalidade
determinadas regiões de Belo e cultura) foram capacitados para precisam diminuir pelo menos entre
Horizonte, e, de forma mais trabalhar com mais de 15 jovens 40% e 50% nos próximos anos para
marcante, em certas vilas e favelas. atendidos pelo Fica Vivo nas 28 que o Estado atinja um patamar con-
Ficou constatado também que os áreas de 13 municípios em que siderado tolerável pela OMS.
envolvidos nos homicídios eram
na maioria jovens, negros, homens
e com idade entre 15 e 29 anos.
Diante desses números, o
governo mineiro decidiu no
mesmo ano colocar em prática
o “Programa de Controle de
Homicídios Fica Vivo!”, com o
objetivo de atingir jovens de 12 a
24 anos em situação de risco social
e residentes nas áreas com maior
índice de criminalidade. Foi criado
então o Grupamento Especial de
Policiamento para Áreas de Risco

19 Soluções e Desafios / Mar - Abr - Mai 2011


Capa / Polícia de proximidade

Pernambuco /

nas 8,2% e 17,5%, respectivamen-


te, no mesmo período.
Os críticos afirmam, entretanto,
que o governo pernambucano se
esquece que a taxa de Nova York é
de apenas 6,2 homicídios dolosos
para cada grupo de 100 mil morado-
res, enquanto Bogotá, sede de nove
entre dez cartéis de droga da Amé-
rica Latina, é de 18 por 100 mil. O
índice de 42, 56 de Recife ainda está
quatro vezes acima do recomendado
pela Organização Mundial da Saúde
(OMS), o que a caracteriza como
“zona epidêmica de homicídios”.
Pacto pela Vida Apesar de toda a polêmica, o
programa “Pacto Pela Vida” registra
importantes resultados em algumas

O Pacto pela Vida também é


um dos mais recentes progra-
mas de policiamento comunitário
complicada e ilustra, em números,
os resultados obtidos pela ação do
poder público. Em 2006, Recife
regiões de conflagração, caso de San-
to Amaro, que deixou de ser um dos
bairros mais violentos de Recife.
implementados no País e o primei- apresentava uma taxa de crimes le- Responsável pelo batalhão da
ro na história de Pernambuco. Em tais de 72,40 mortes por 100 mil ha- PM em Santo Amaro, o capitão
abril deste ano completará quatro bitantes e, quase quatro anos depois Daniel Pereira afirma que a po-
anos. De 2006 a 2010, o Estado da implantação do “Pacto Pela Vida”, pulação local apoia o trabalho da
conseguiu reduzir a taxa de Crime a capital Pernambucana apresentou polícia. “Registrávamos homicí-
Violento Letal Intencional (CVLI) um índice de 42,56 mortes por 100 dios todos os dias nesta localidade.
de 56 pessoas por 100 mil habitan- mil habitantes, uma queda superior Agora, a realidade é outra, feliz-
tes ao ano para 39,76. O resultado a 43%. mente”, argumenta.
é muito animador, mas não seduz Ainda mostrando números que O governo pernambucano
os críticos da política de segurança contrapõem as críticas, a Secreta- lembra, ainda, que as 138 ações
pública do Estado, dado que Per- ria de Defesa Social compara essa estabelecidas no “Pacto Pela Vida”
nambuco ainda ostenta, infelizmen- retração com as ocorridas em cida- são assistidas por um grupo de
te, um dos mais elevados índices de des que também possuem polícia gestores e policiais, e que todo o
homicídios do País, mais de 50% comunitária, caso de Nova York e processo e decisões finais envol-
acima da média nacional. Bogotá. Nesses dois municípios, vem o governador Eduardo Cam-
O governo reitera ter encon- ainda de acordo com a Secretaria, pos, que pessoalmente acompanha
trado uma situação absolutamente a redução de letalidade foi de ape- os resultados do programa.

Soluções e Desafios / edição 2 20


/ Ceará

um aumento da segurança na po-


Ronda do Quarteirão pulação. “Era visível a presença da
Ronda, principalmente por causa

C arro-chefe do governo Cid


Gomes (PSB) na área de se-
gurança pública, o projeto “Ronda
O fato é que, após mais de três
anos depois do lançamento do pro-
grama, a taxa de homicídios dolosos
de suas viaturas”, diz. Mas, trans-
corridos alguns meses, verificou-
-se que os efetivos não estavam
do Quarteirão” é um dos progra- no Estado não caiu. Pelo contrário, preparados para trabalhar com
mas de policiamento comunitário aumentou. Dados do governo mos- homicídios, deixando transparecer
mais criticado por especialistas, tram que o índice de pessoas mortas problemas de treinamento e de ca-
não só por sua concepção, como por 100 mil habitantes cresceu de pacitação. “Houve algumas ações
pela forma de operar junto à so- 19,45, em 2006, para 25,77 em desastrosas que afetaram a imagem
ciedade. “O programa é bom, mas 2009, tendo recuado ligeiramente do programa”, sentencia Barreira.
tem um erro de origem. Nasceu no ano passado, para 23,43. Mas a O programa também pecou pelo
ambíguo”, avalia Cesar Barreira, maior expansão ocorreu entre 1999 fato de ter sido concentrado na ca-
professor titular de sociologia e e 2007, segundo o IBGE: disparou pital. Com isso, o crime migrou para
coordenador do Laboratório da 49,4%, passando de 15,53 pessoas locais da região metropolitana de
Violência da Universidade Federal assassinadas por 100 mil habitantes Fortaleza e para o interior do Ceará.
do Ceará (UFC). para 23,20, em 2007. O professor avalia que, agora,
De acordo com ele, não se Procurada, a Secretaria de é o momento de a Ronda sair
sabia se o programa seria de proxi- Segurança Pública não atendeu à dessa ambiguidade e dos vícios
midade com a sociedade, se teria reportagem. nos quais caiu, como a relação de
foco de policiamento ostensivo, ou No início, conta o professor troca de favores, para oferecer um
ambos. “Acho que ficou uma lacu- da UFC, o projeto trouxe alguns policiamento mais ostensivo em
na nesse aspecto, o que fragilizou o aspectos positivos, entre os quais determinadas áreas.
Ronda”, afirma o especialista.
No aspecto operacional, o
programa se mostrou puramente
itinerante. Isto é, por não ter bases
específicas junto à comunidade,
a circularidade do Ronda e suas
viaturas – veículos Toyota Hilux que
custaram R$ 30 milhões na primeira
etapa – não criou laços de proxi-
midade e de solidariedade com as
pessoas. “Os veículos não só geraram
um distanciamento com a comuni-
dade, assim como ciumeira dentro
da própria polícia”, explica Barreira.

21 Soluções e Desafios / Mar - Abr - Mai 2011


Tecnologia

Blogosfera policial
domina a internet

Exploração do espaço virtual


cria ambiente democrático e
de troca de informações entre
policiais e sociedade
Blogs de policiais
por Enzo Bertolini se tornam canais
importantes de infor-
mação, influenciando
instituições e forma-
dores de opinião

Internet é usada cada vez mais como canal de manifestação dos policiais

Soluções e Desafios / edição 2 22


F
enômemo recente no mundo virtual, a blogosfera a Organização das Nações Unidas para a Educação, a
policial no Brasil ganha contornos maiores na Ciência e a Cultura (Unesco). Denominado “Blogosfe-
medida em que seus interlocutores conquistam ra policial no Brasil: do tiro ao Twitter” e coordenado
mais espaço e voz nas corporações. Formada por policiais pelas pesquisadoras Silvia Ramos e Anabela Paiva, o
federais, civis, militares de várias patentes, bombeiros, trabalho mapeou o universo dos blogs policiais no Brasil
rodoviários e jornalistas especializados, estas páginas e descobriu 73 blogueiros, autores de 70 blogs. “Come-
apresentam um conteúdo diversificado, visões divergentes çamos a identificar esse fenômeno e que eles eram fontes
e ambições variadas e começam a exercer influência sobre de informação, não mais passivas, mas ativas através dos
instituições e formadores de opinião. blogs”, explica Silvia Ramos. “Não pensamos na blogos-
Esse movimento em busca de um espaço para o fera policial de maneira isolada, mas como um panorama
diálogo da segurança pública por aqueles que nela se novo dentro dos novos cenários da mídia e da violência.”
dedicam dia e noite foi tema de um amplo trabalho do Participantes de 17 Estados responderam à pes-
Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), quisa, o que demonstra o alcance desse fenômeno. O
da Universidade Cândido Mendes, em parceria com Sudeste é a região dominante, sendo o Rio de Janeiro
o Estado que abriga o maior número de blogs (22),
seguido de São Paulo (11) e Minas Gerais (10). Os
profissionais que mantêm os canais sobre segurança
e criminalidade são, na maioria, oriundos da Polícia
Militar (58%), seguidos da Guarda Municipal (15,1%)
e da Polícia Civil (13,7%).
Em relação aos postos que ocupam, a maioria dos
blogueiros (58%) provém dos estratos mais baixos
das instituições policiais. Oficiais e delegados juntos
representam 42%. Isso não representa, no entanto, que
a escolaridade dos autores de blogs seja baixa: 62% dos
entrevistados têm curso superior completo ou pós-
-graduação completa ou em andamento. Apenas 12,7%
concluíram somente o ensino médio.
Em um universo onde a predominância na utiliza-
ção dessas ferramentas é juvenil, surpreendentemente
os participantes da pesquisa com mais de 30 anos são

23 Soluções e Desafios / Mar - Abr - Mai 2011


Tecnologia / Blogosfera policial

maioria (72,5%), com a outra parte da amostra sendo


ocupado por usuários de até 29 anos. Na divisão por
sexo, a supremacia continua sendo masculina: apenas
três mulheres estão entre os 73 entrevistados.
Para 55% dos entrevistados, a motivação principal
para criar um blog é o desejo de expressar seus próprios
pontos de vista sobre segurança e justiça. Outro grupo
pretende falar para a própria categoria, divulgando
assuntos de interesse da corporação. Por fim, há ainda
os que usam as páginas para fazer denúncias sobre seus
comandos ou outras instituições, e os que pretendem
mostrar à sociedade a realidade das corporações.
O tenente da Polícia Militar da Bahia Danillo
Ferreira do Nascimento começou o blog “Abordagem
Policial” em 2007, segundo ele, para suprir a neces-
sidade de transferir para fora as discussões que ele e
seus colegas mantinham na academia. “Especialistas e
estudiosos discutiam na mídia, mas o policial era pouco
ouvido, apenas com a visão formal e institucional da
polícia por meio de um press release (texto oficial dis-
tribuído à imprensa)”, explica.
O receio de como a corporação iria reagir fez com
que o tenente começasse com cuidado e cautela para di- Estudo conduzido
ferenciar a opinião pessoal da versão institucional. “Com pelo CESeC, da
o tempo, aprendemos a fazer isso com mais tranquilida- Universidade Cândido
de.” O blog “Diário do Stive” começou com informações Mendes, mapeou
e curiosidades de viaturas, brasões e relativas às habili-
universo de 70 blogs e
73 blogueiros
dades policiais e remetendo a blogs de outros policiais.
“Começei a colocar minha opinião depois que senti con-
fiança do comando”, revela o soldado da Polícia Militar Nesse universo virtual, as barreiras de diálogos im-
de Goiás, Robson Niedson, autor do espaço virtual. postas por patentes e rivalidade de corporações caem
“O código militar, lei que rege as corporações, res- por terra, e, neste fórum democrático, um praça e um
tringe nossa liberdade de expressão e opinião”, explica major podem ter o mesmo espaço para discussão. Além
Nascimento. “Nunca fui punido, mas temos que contar de apresentar a realidade do trabalho policial e oferecer
com a boa vontade dos nossos superiores hierárquicos.” informações úteis aos que desejam entrar para as forças
Porém, isso não é regra no Brasil. Coronéis foram pre- de segurança, a blogosfera oferece regularmente aná-
sos disciplinarmente no Rio de Janeiro por expressar lises críticas das ações dos gestores destas forças. Suas
sua opinião na internet. “A possibilidade de policiais se- observações reverberam entre colegas, comandantes,
rem punidos é latente”, expõe o tenente. “A aplicação de governantes, na imprensa e na sociedade. Depois que
punições aos policiais que tinham blogs foi um tiro no a Unesco apoiou a pesquisa, a visibilidade dos blogs
pé, pois só aumentaram o espaço deles”, reforça Silvia. policias registrou aumento significativo.

Soluções e Desafios / edição 2 24


bombeiros, é um bom exemplo. Se não fosse os blo-
gueiros policiais, esse assunto não estaria na mídia.
“Os policiais estão pressionando pela internet. Tem
comunidade no Orkut com tópicos com mais de
50 mil mensagens. Isso era impossível, há pouco
tempo”, conta o tenente Nascimento. Para o solda-
do Niedson, a evolução das redes sociais aproxima
os comandos das policias. Segundo ele, a visão de
comandantes está mudando em muitos Estados e
isso ocorre graças aos exemplos apresentados. “Aju-
dei o ex-comandante da corporação a criar o blog
dele também”, conta o soldado. O tenente Nasci-
mento hoje presta assessoria em mídias sociais para
o comando da corporação. “A blogosfera policial
ocupa um espaço estável no mundo das mídias e
agora migrou para o Twitter. O êxodo para as redes
sociais será total”, explica Silvia.
O debate aberto de instituições tradicionalmen-
Mídias sociais / te fechadas favorece a qualificação das forças de
segurança e a consolidação de padrões de conduta
As mídias sociais representam uma descentralização mais éticos e transparentes entre comandantes
da produção de informação e um ambiente de discus- e subordinados. E, certamente, apresenta uma
são em todos os ramos do conhecimento. “No campo contribuição concreta para se trilhar o caminho na
da segurança pública, isso é uma revolução ainda maior. direção de uma esfera pública capaz de levar adiante
Essas ferramentas permitiram que o policial pudesse uma reflexão robusta sobre políticas da mais alta
se comunicar e se organizar, alcançando visibilidade e relevância para promoção de uma cultura de paz e,
mobilização”, afirma o tenente Nascimento. por conseguinte, buscando reduzir a violência. “A
A Proposta da Emenda Constitucional 300, que mídia social aproxima a polícia do cidadão”, finaliza
visa impor o piso salarial nacional para policiais e o tenente Nascimento.

25 Soluções e Desafios / Mar - Abr - Mai 2011


Artigo

Mudança de paradigma no uso de Sistemas


de Informações Geográficas

O SIG passa a ser usado de forma efetiva no operacional da polícia

P
odemos considerar o uso do SIG que quebram alguns paradig-
dos Sistemas de Informa- mas. Duas destas iniciativas, ambas
ções Geográficas (SIGs) já idealizadas e conduzidas pela Polícia
sedimentado nas aplicações para Militar do Estado de São Paulo, me
Segurança Pública. Empregados chamam a atenção.
inicialmente em relatórios gerados A primeira tem por objetivo fazer
manualmente, os SIGs evoluíram uso massificado dos sistemas de loca-
num segundo momento para siste- lização por GPS (Global Positioning
mas informatizados que permitiam a System, em inglês) para identificar o
visualização das ocorrências no terri- posicionamento das forças policiais
tório de forma pontual ou através de em tempo real no território, mesmo
Carlos J.C.Fidalgo é consultor
temáticos baseados em complexos aquelas que se encontram no patru-
algoritmos de agrupamento.
de Tecnologia da Informação e
lhamento a pé. Além da eficiência
As ferramentas SIG procuravam operacional, da atenção na segurança
Comunicação para Segurança
apontar as áreas de maior incidência do policial, da melhor supervisão Pública / cjcfidalgo@gmail.com
de delitos e, por meio da caracteriza- operacional, da verificação de pos-
ção desses espaços com a apresenta- síveis falhas operacionais obtidas ao agora o emprego do computador
ção de informações adicionais (rios, monitorar o patrulhamento, outras de bordo de forma pró-ativa,
parques, equipamentos públicos e pri- possibilidades importantes se abrem. alertando o policial sobre a carac-
vados, bares, hospitais etc.), buscavam Poderemos, a partir de agora, por terização criminal do território em
de alguma forma contextualizar ou até exemplo, identificar por intermédio que se encontra e apresentação dos
explicar a incidência maior ou menor do SIG como o policiamento preven- dados dos criminosos que atuam
desses delitos no espaço e no tempo. tivo interfere na redução da criminali- na região, incluindo foto. É o SIG
Até este momento, o SIG oferecia dade e propor, a partir dessas análises, atuando em tempo real e mais pró-
poucos recursos para uso operacional. novos critérios de seleção do tipo de ximo do policial.
Exceção feita aos Sistemas de Aten- policiamento e sua distribuição. O SIG deixou de ser uma ferra-
dimento e Despacho, que utilizam o A segunda iniciativa envolve o menta de uso exclusivo dos gestores
SIG para o melhor emprego dos seus emprego da computação embar- e passa agora a ser usado de forma
recursos em tempo real como, por cada além do que hoje se pratica: efetiva no operacional da polícia,
exemplo, seleção da viatura mais próxi- comunicação, despacho silencioso, maximizando a eficiência do patru-
ma para atendimento de ocorrências traçado de melhores rotas para che- lhamento, possibilitando cada vez
de emergência do 190/192/193. gada ao local, consulta a banco de mais a participação do município na
Observo mais recentemente, no dados (criminal, veículos, conduto- solução dos problemas de segurança
entanto, excelentes iniciativas de uso res etc.), entre outras. Verificamos pública e beneficiando o cidadão.

Soluções e Desafios / edição 2 26


Ação do Fórum
Fórum Brasileiro de Segurança Pública diagnostica violência entre os jovens

Mapeada a exposição dos


jovens à violência Resultados do projeto

no País ‘Juventude e Prevenção


da Violência’ foram
apresentados em
Seminário em Brasília

O projeto “Juventude e Prevenção da Violência”, reali-


É tensa a relação entre zado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP)
juventude e policiais a partir de uma parceria com o Ministério da Justiça, por
meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública e do
Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania
Por Enzo Bertolini / fotos: Arquivo Sou da Paz
(Pronasci), mapeou nacionalmente o impacto da violência
sobre os jovens com idade entre 12 e 29 anos e demons-

“E
u estava jogando bola e fiz uma jogada que trou como a realidade social e as respostas institucionais
um cara não gostou. O pessoal começou a são o ponto de partida para o debate envolvendo o papel
‘zoar’ ele, que ficou irritado. Ele foi até a casa do Estado e da sociedade na prevenção da violência. Atua-
dele, pegou uma arma e apontou contra a minha cabeça, ram como parceiros estratégicos do Fórum, nesse projeto,
mas não atirou. No outro dia fiquei com medo de morrer, a Fundação Seade, o Instituto Latino-Americano das
peguei uma arma e matei ele.” Esse relato foi dado por um Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do
adolescente de Brasília, institucionalizado pelo homicídio. Delinquente (Ilanud) e o Instituto Sou da Paz.
Embora a imagem descrita assuste pela banalidade do Os resultados foram apresentados nos dias 24 e 25
ocorrido em uma partida de futebol, essa é uma realidade de fevereiro, em Brasília, durante o seminário “Juven-
constante nas periferias de muitas cidades brasileiras. tude, Prevenção da Violência e Territórios da Paz”.

27 Soluções e Desafios / Mar - Abr - Mai 2011


Ações do Fórum / Projeto Juventude e Prevenção da Violência

A parceria no projeto envolveu MJ, Fundação Seade,


“Esse foi um dos maiores e mais relevantes projetos
desenvolvidos pelo Fórum sobre um tema central nas
preocupações da sociedade brasileira”, avalia o presi-
dente do Conselho de Administração do FBSP, Jésus
Trindade Barreto Jr. “Enfrentamos uma longa jornada,
de mais de dois anos, percorrendo 48 municípios
brasileiros, para produzirmos um material robusto e
capaz de nortear as políticas públicas de prevenção
da violência entre os jovens”, explicou o secretário-
-geral do FBSP, Renato Sérgio de Lima. “Procuramos
fazer uma integração com os estados, colocando
nossas equipes técnicas na busca de um afinamento
de posições, de percepção de situações conjugadas,
independentemente das cores políticos e partidárias
que neste momento animam as gestões dos entes
federativos”, disse o ministro da Justiça, José Eduardo
Cardoso, durante o seminário. “Nessa perspectiva,
saúdo essa iniciativa, porque precisamos de ideias e
de reflexões, e a questão da juventude e da violência é
chave”, acrescentou o ministro.
O projeto desenvolveu, em parceria com a Fun-
Equipes regionais
dação Seade, o Índice de Vulnerabilidade Juvenil
realizaram entrevistas
à Violência (IVJ – Violência), que classificou 266 com grupos focais e
municípios com mais de 100 mil habitantes, em 2006, encontros com gestores
a partir da combinação de variáveis que contemplam da área de segurança
os níveis de exposição dos jovens à violência urbana,
permanência na escola, forma de inserção no mercado
de trabalho e contexto socioeconômico e demográfico prisional indicam ainda que mais de 60% dos detentos
dos municípios. do País são jovens entre 18 e 29 anos.
A alta taxa de homicídios no Brasil coloca o País O projeto mostrou que não há diferenças regio-
entre os mais violentos do mundo. Segundo dados de nais em relação às narrativas de violência, ou seja, as
estudos técnicos da Confederação Nacional de Muni- mesmas questões surgiram em todas as localidades.
cípios (CNM), foram 48.610 mortes por homicídio Isso comprova a ideia de que os fenômenos estão mais
em 2008, o que representa 25,6 homicídios por 100 relacionados com as características do território do que
mil habitantes. Em relação aos jovens, os números são com as especificidades da região.
ainda mais altos: foram 20.909 pessoas entre 15 e 29 As percepções dos grupos de entrevistados sobre
anos mortas naquele ano. Além do recorte etário, os o que faz um lugar ser violento também foram conver-
dados também revelam que as vítimas preferenciais da gentes: presença de drogas, grande número de conflitos
violência letal são do sexo masculino, residentes nas e de mortes violentas, frequência de assaltos, roubos,
periferias dos grandes centros urbanos, negros e pardos furtos e presença de criminosos. Em todos os grupos,
e com baixo grau de escolaridade. Os dados do sistema o consumo de entorpecentes apareceu e foi direta ou

Soluções e Desafios / edição 2 28


, Ilanud e Instituto Sou da Paz

Foram realizados
16 seminários
em todo o Brasil
e produzidas
cartilhas de
formação de
gestores

no País, realizada em parceria com o Ilanud. Para efeito


de comparação das estratégias adotadas, as experiên-
cias foram enquadradas em cinco categorias: formação,
esporte, trabalho, cultura e empoderamento. Concluiu-se
que não é possível definir um modelo único que possa ser
adotado por qualquer projeto ou programa de prevenção
da violência entre jovens. As experiências de prevenção or-
ganizam-se a partir de situações específicos e não podem
ser integralmente transplantadas a outros contextos, sem
transformações ou adaptações.
Por fim, fruto do cruzamento de dados entre as
pesquisas sobre o perfil de adolescentes e jovens em
situação de vulnerabilidade e a sistematização de ex-
periências de prevenção da violência em todo o País, o
Fórum e o Instituto Sou da Paz realizaram 16 seminá-
indiretamente associado a atos violentos ou delituosos. rios pelo Brasil e produziram cartilhas de formação de
Em relação as motivações sobre o envolvimento gestores com base nas análises produzidas.
com violência, nos grupos de entrevistas com policiais Também foram feitos encontros para capacitação
e mães predominou a concepção de que o ambiente e de gestores públicos, organizações da sociedade civil
o contato social com criminosos constituem o maior e profissionais do campo da segurança pública das
risco para a juventude. Já entre os jovens, ganhou força regiões atendidas pelo Pronasci, no desenvolvimento e
a ideia de que se trata de uma escolha individual, por implementação de programas nas áreas de juventude e
vezes impulsionada pela pressão dos pares. segurança pública. Além de todas as atividades mencio-
O preconceito entre jovens e policiais dificulta a nadas, foi produzido um guia prático para educadores
relação e revela que, no campo das políticas públicas, que trabalham com adolescentes e jovens em contex-
há a necessidade de se investir em estratégias de aproxi- tos violentos, e um plano de formação, destinado às
mação desses públicos. instituições, para qualificar a atuação destes educado-
Outra ação importante do projeto foi a sistematização res. A íntegra dos resultados está disponível no site do
de experiências de prevenção à violência entre jovens Fórum: www.forumseguranca.org.br.

29 Soluções e Desafios / Mar - Abr - Mai 2011


Ação do IMPP

Projeto do Instituto Minas Pela Paz é das poucas iniciativas do País focadas em egressos

Resgate da cidadania
Fotos: Christoph Reher/Libra Comunicação

Projeto Regresso, iniciativa pioneira


de Minas Gerais para a reinserção de
egressos do sistema prisional via mercado Iniciativa busca formas
de trabalho, mostra seus resultados de reinserir egressos
socialmente e no
mercado de trabalho

A
maior parte das reincidências criminais ocorre estabelecendo a vontade mútua de viabilizar a imple-
porque não é oferecida aos ex-detentos, ou mentação do projeto. Em junho de 2009, o decreto foi
melhor, aos egressos do sistema prisional, uma assinado pelo então governador Aécio Neves e, con-
oportunidade de trabalho digna. Foi pensando em mudar comitantemente, encaminhado e aprovado o Projeto
essa realidade que o Instituto Minas Pela Paz (IMPP), de Lei na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Em
em parceria com o governo do Estado de Minas Gerais, 28 de setembro de 2009, foi sancionada a Lei NDEG
lançou o “Projeto Regresso” em 2009. A iniciativa foi 18.401, que instituiu o Projeto Regresso.
criada a partir de diagnóstico realizado em doze Associa- Por meio dessa lei, as empresas participantes do
ções de Proteção e Assistência aos Condenados (Apacs), projeto estão aptas a receber subvenção econômica
que revelou que 80% deles são analfabetos e 25% nunca de dois salários mínimos, durante 24 meses, para cada
trabalharam. O quadro impulsionou o IMPP e o governo egresso contratado. Para participar, a empresa deverá
do Estado de Minas Gerais a buscar formas de reinseri-los conhecer o edital de credenciamento e cumprir todas
socialmente e no mercado de trabalho, contribuindo para as formalidades descritas. Os candidatos às vagas de
a não reincidência no cometimento de crimes e a conse- trabalho serão encaminhados para as entrevistas nos
quente reentrada no sistema prisional. Núcleos de Prevenção à Criminalidade (NPCs), vin-
Assim, em outubro de 2008, o processo foi forma- culados à Superintendência de Prevenção à Crimina-
lizado com a assinatura do Protocolo de Intenções, lidade da Secretaria de Defesa Social de Minas Gerais

Soluções e Desafios / edição 2 30


(Seds). Os núcleos oferecem aos egressos acompanha- Com a palavra, os egressos /
mento psicológico, jurídico e assistência social.
O secretário-executivo do IMPP e membro do Estefânia Amaral de Oliveira, que cumpriu pena
Conselho de Administração do Fórum Brasileiro de Se- por mais de dois anos, é um exemplo bem-sucedido
gurança Pública, Luís Flávio Sapori, afirma que o Proje- de como as oportunidades, quando dadas, podem
to Regresso é uma das poucas iniciativas existentes hoje gerar bons frutos. Ainda na unidade prisional,
no Brasil que têm como público alvo os egressos do Estefânia fez cursos de informática, telemarketing
sistema prisional. “Em âmbito nacional, podemos dizer e artesanato pelo Serviço Nacional de Aprendiza-
que a população prisional não tem merecido uma aten- gem Industrial (Senai) e Serviço Social da Indústria
ção especial por parte de autoridades políticas e mesmo (Sesi). Ela também conseguiu o grande feito de
de organizações não governamentais”, diz. “O Projeto ser aprovada para o curso de Direito no Instituto
Regresso preenche uma lacuna de políticas públicas Metodista Isabela Hendrix, em Belo Horizonte, e
nesse setor, criando uma articulação mais estreita entre se encontra, hoje, no 4º período. Mas o que mais
o empresariado mineiro e o poder público.” a orgulha é o emprego na empresa de mineração
Atualmente, são 123 egressos contratados pelas em- AngloGold Ashanti.
presas Masb, Usiminas, Usiminas Automotiva, Anglo- “Faço parte do quadro de funcionários de uma
Gold Ashanti, Fiat Automóveis, Partner, Gerdau, Algar, grande organização e exerço várias funções, entre
Habitare, Premo, Santa Bárbara, Atrium Construtora, ISS elas uma de grande responsabilidade, que é a de
e Horizonte Têxtil. Para 2011, a meta é de que mais 300 apresentar a AngloGold aos novos contratados.
tenham a chance de trabalhar em um emprego formal, Espero, sinceramente, que eu seja um exemplo vivo
contribuindo para o resgate da cidadania e uma melhor para que outras empresas façam o mesmo”, testemu-
reinserção junto à sociedade, via “Projeto Regresso”. nha. Estefânia atribui à ausência de oportunidades a
maior parte das reincidências criminais. “Se a pessoa
Projeto contribui para a não sai, tem boa vontade, quer mudar e ter uma vida di-
reincidência no cometimento ferente, é preciso também que ela encontre pessoas e
de crimes e a consequente empresas que queiram ajudar nesse difícil processo.
reentrada no sistema prisional Se o egresso encontra as portas fechadas, a chance
de voltar para o crime aumenta muito”, alerta.
Valmir Carvalho Soares, também egresso do
sistema prisional, no qual ficou por quatro anos,
é hoje operador de máquinas na empresa Partner,
do setor de construção civil. Para ele, o simples
fato de o egresso buscar um trabalho já representa
sua vontade e compromisso de traçar um caminho
diferente. “A gente já pagou o que devia. Agora, é
só trabalhar de forma honesta e sincera, com dig-
nidade e disposição. Graças a Deus, hoje tenho um
emprego do qual eu posso me orgulhar. Espero que
outras pessoas sejam acolhidas como eu fui, o que é
essencial pra elas mudarem o rumo das suas vidas”,
ensina.

31 Soluções e Desafios / Mar - Abr - Mai 2011


Boas práticas

Bom desempenho das corporações policiais é reconhecido em home

Digno de
Prêmio
Por Thiago Rufino

P
rogramas desenvolvidos por governos e organi-
zações não-governamentais valorizam o trabalho Os méritos das
das polícias, de forma a estimular a continuidade
de execução de bons serviços. Em vigor desde 2001, o ações desenvolvidas
“Prêmio Polícia Militar de Qualidade”, organizado pela pelas Polícias de
PM do Estado de São Paulo, reconhece as melhores
administrações dos recursos tecnológicos, humanos e São Paulo e do Rio
operacionais em todo o Estado. Para o tenente-coronel
Wellington Luiz Dorian Venezian, chefe da 6ª Seção do por Fulano de Tal /
Estado Maior da Polícia Militar (6ª EM/PM), “a premia- fotos: Ciclano da Silva
ção dá visibilidade para os policiais, além de aprimorar o
modelo de atuação empregado”.
As ações são examinadas por uma banca forma-
da por 150 integrantes, entre oficiais da PM e civis
previamente selecionados. A partir dessas informações,
há uma série de avaliações in loco para verificar se as
iniciativas descritas estão realmente ocorrendo.
A condecoração paulista se baseia nos critérios de
avaliação utilizados em mais de 100 países e fica a cargo
da Fundação Nacional de Qualidade (FNQ) traduzir
e adaptar os métodos para o Brasil. Para chegar ao níveis de excelência na segurança pública e atender ple-
veredicto, são levados em consideração dez quesitos, namente seus clientes”. “Desde aquela época, a institui-
entre eles, pensamento sistêmico, cultura de inovação e ção se engajou em programas de qualidade e começou
valorização das pessoas. Existem três níveis de quali- a buscar no mercado modelos de desenvolvimento e
dade que são conferidos as unidades de acordo com a avaliação de suas organizações. A partir de uma parceria
pontuação obtida: Grau Ouro (pontuação mais alta), firmada com a FNQ, a PM passou a adotar, em 2004, o
Prata (intermediário) e Bronze (limiar). Modelo de Excelência de Gestão (MEG), traduzido em
Em recente artigo publicado no portal do FNQ fundamentos de boa gestão mundialmente reconheci-
, o subchefe do Estado Maior da PMESP, coronel José dos”, explica o coronel.
Mauricio Weisshaupt Perez afirma que, a partir de Ainda dentro dos programas de reconhecimen-
1996, a corporação tem procurado “assegurar novos to dos trabalhos dos policiais, o Comando Geral da

Soluções e Desafios / edição 2 32


nagens concedidas por governos e sociedade civil
obrigação. Não precisaria ter recebido nada. Só o fato
de ela (E.K.) estar conosco hoje já é uma recompensa”,
disse Elenice após a homenagem.
A Polícia Militar analisou um universo de 1,26
milhão de chamados recebidos pelo 190, no segundo
semestre do ano passado, para escolher as dez ocorrên-
cias de maior destaque. O critério de seleção conside-
rou os casos que terminaram com as vítimas libertadas
com vida, sem ferimentos e que não houve a necessida-
de de enfrentamento armado por parte do policial.

Metas a serem alcançadas /

No Estado do Rio de Janeiro foi implementado pela


Secretaria de Segurança Pública o “Sistema de Metas
e Acompanhamento de Resultados”. Ao final de cada
semestre, os policiais que alcançaram os índices esta-
belecidos recebem uma gratificação como forma de
reconhecimento pelo bom trabalho. No início deste ano,
foi publicado um Decreto Estadual, já em vigor, que fixa
metas para letalidade violenta, estabelece índices dife-
renciados de acordo com as áreas do Estado, e aumenta a
gratificação paga aos policiais que cumprem o proposto.
A principal mudança após o Decreto passou a ser
o conceito de letalidade violenta, que busca reduzir as
mortes provocadas por policiais em operações, homicí-
dios dolosos, latrocínios e lesões corporais seguidas de
morte. O superintendente de planejamento operacional
da Secretaria de Segurança do Estado do Rio de Janeiro,
Polícia Militar da cidade de São Paulo homenageou, em Roberto Alzir, acredita que a inclusão desses registros em
janeiro, 33 policiais que participaram das dez ocorrên- uma única meta vai contribuir para que o Estado alcance a
cias que tiveram maior destaque na corporação durante marca de 22,9 homicídios por 100 mil habitantes até 2014.
o segundo semestre de 2010. Foi o caso do soldado A metodologia atual é válida para as Polícias Militar
da PM Elenice Louzada, que atendeu o chamado da e Civil, que estão sujeitas a ciclos semestrais de avaliação.
menina E.K., de 8 anos, à 1h30 de 28 de novembro do Hoje, segundo a Secretaria de Segurança, o índice de
ano passado. A garota foi sequestrada por uma prima homicídios do Estado fluminense é o menor desde 1991,
adotiva, de 14 anos, e o namorado dela, de 43. Aprovei- com média de 29,8 mortes para cada grupo de 100 mil
tando um momento de desatenção dos sequestradores, habitantes. “O sistema de metas resgatou, nos policiais,
E.K. pegou um telefone celular e entrou em contato conceitos básicos como trabalho integrado, compartilha-
com a central de atendimento da PM. “Só fiz minha mento de informações, reuniões conjuntas entre as forças

33 Soluções e Desafios / Mar - Abr - Mai 2011


Boas práticas / Digno de prêmio

Militar e Civil e outras ações”, explica Alzir. “Buscamos


formar uma polícia que trabalhe integrada”, complementa.
Reconhecimento pela
Ele explica, entretanto, que a bonificação só é sociedade civil /
entregue aos policiais envolvidos caso todas as metas
tenham sido alcançadas. “O não cumprimento obriga Criado em 2003 pelo Instituto Sou da Paz, o “Prêmio
os responsáveis da área a se reunir, estudar o fenômeno Polícia Cidadã” surgiu para identificar e reconhecer as
e propor um detalhado plano de ação integrada para boas práticas policiais que solucionaram problemas de
atingir o objetivo”, garante o superintende. segurança pública em determinadas regiões paulistas. A
condecoração reforça o conceito da valorização da vida
humana nas ocorrências e também que agentes cor-
ruptos são minoria na corporação. Além disso, um dos
Cidadania policial /
principais objetivos da premiação é incentivar que essas
ações sejam reproduzidas em outras localidades.
Outra iniciativa que merece o reconhecimento é o
“Prêmio Polícia Cidadã”, iniciativa do Instituto Sou da
Na edição mais recente foram premiadas nove ações po-
Paz, no Estado de São Paulo. Uma das grandes diferenças
liciais, sendo seis da Polícia Militar, duas da Polícia Civil e
dessa premiação para as demais é que os projetos são
uma da Polícia Técnico-Científica. Ao todo, mais de 750
inscritos pelos próprios agentes da PM e avaliados por
agentes de 139 municípios foram inscritos, dos quais 37
um grupo de especialistas em segurança pública e por
receberam bonificações em dinheiro ou bolsas de estu-
policiais de outros estados.
do integrais na Faculdade IBTA. Houve reconhecimento
Segundo Melina Risso, diretora executiva do Instituto
público, inclusive, para outras seis ações que foram agra-
Sou da Paz, “o prêmio visa o reconhecimento da atividade
ciadas com menções honrosas, além de um destaque
policial que conta com pouca divulgação das boas ações,
especial para ação “Instrução em pleno serviço”, projeto
uma vez que a grande maioria das notícias veiculadas para
mais votado na categoria “Escolha Popular”.
a sociedade são ruins e violentas”. Além disso, a condeco-
ração pretende estreitar a relação entre os agentes e a po-
pulação. “Poucos policiais são corruptos, mas eles acabam entre elas, oito foram vencedoras, além de três menções
aparecendo mais do que a grande maioria que exerce a honrosas. “Até então, não havia nenhuma iniciativa dessa
atividade honestamente”, analisa. natureza no Rio de Janeiro. A premiação foi o reconheci-
Melina explica que o Instituto Sou da Paz desenvolve mento daquilo que a sociedade civil admira na polícia”,
outras parcerias com a PM paulista na busca da exce- afirma Silvia Ramos, coordenadora do Prêmio e do
lência no atendimento das ocorrências. Para a diretora Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec),
executiva, um dos pontos cruciais para a relação da da Universidade Cândido Mendes.
instituição com a sociedade é abordagem policial. “Esse A seleção dos projetos vencedores foi realizada por
é o cartão de visitas, fundamental para a imagem da cor- um júri composto por dez integrantes: três coronéis da
poração”, afirma. “Por isso, é preciso melhorar práticas Polícia Militar, dois delegados da Polícia Civil e cinco
baseadas no procedimento padrão da PM e incentivar a pesquisadores/ativistas da sociedade civil. O objetivo
boa prática já na formação de novos policiais”, completa. de aproximar a força policial à população foi percebido
O “Prêmio Polícia Cidadã” também teve uma edição por todos os envolvidos. “O prêmio foi realmente um
dedicada a reconhecer o trabalho realizado pela força po- processo de mudança de todos nós, da polícia, dos pes-
licial do Estado do Rio de Janeiro no biênio 2008/2009. quisadores e das organizações da sociedade. E serviu
Na ocasião, foram 487 policiais inscritos em 183 ações, e, para aproximar uns dos outros”, conclui Silvia.

Soluções e Desafios / edição 2 34


Participação e território
na segurança pública

13, 14 e 15 de maio de 2011

Universidade Católica de Brasília


Taguatinga - DF

Inscreva-se,
vagas limitadas
www.fbsp2011.sinteseeventos.com.br
Música
Teatro
Dança

Português
Matemática

Artes Visuais
Inclusão Digital

A CSN investe em projetos que visam à transformação social por meio da cultura.
O Projeto Garoto Cidadão atende crianças da rede pública de ensino em situação
de vulnerabilidade social e é desenvolvido pela Fundação CSN em parceria com
as prefeituras de Araucária(PR), Arcos e Congonhas (MG), Itaguaí e Volta
Redonda (RJ) e Mogi das Cruzes (SP).
No contra-turno escolar, crianças e adolescentes praticam atividades culturais
como dança, música, artes visuais e teatro, e têm aulas de português, matemática
e inclusão digital, além de recreação.
Em 2010 o projeto atendeu 1904 crianças e,
em 2011,chegará a 2300 atendimentos.
Conheça mais sobre o Garoto Cidadão
e outros projetos da Fundação CSN
em www.fundacaocsn.org.br
Soluções e Desafios / edição 2 36

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