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Polícia de
Proximidade
Cinco capitais do País adotam
o sistema que já começa a
apresentar bons resultados
P
arceria é um termo estratégico que nem sempre recebe a
devida atenção quando o assunto é segurança pública. A dico-
tomia costuma pautar as diversas esferas de relacionamento
na área e pode ser notada fartamente nos processos de integração das
atividades policiais, na forma como alguns gestores governamentais se
encastelam para a tomada de decisão, na, por vezes, tensa análise entre
academia e agentes operacionais, ou na falta de troca de informações
entre os poderes constituídos, apenas para citar alguns exemplos. Sumário
É na intensificação e no fortalecimento das relações parceiras que resi-
de, contudo, uma grande força motriz capaz de reordenar o sistema de
segurança pública do País. Prova disso é a aproximação entre as cor-
Ponto de vista / 4
porações e a sociedade, que cunhou o termo “Polícia de proximidade” Entrevista / 8
e que começa a apresentar bons resultados. Esse é o assunto central
Artigo / 13
desta edição de Soluções&Desafios na Segurança Pública.
Também com foco na parceria, o Fórum Brasileiro de Segurança Capa / 14
Pública e o Instituto Minas Pela Paz unem forças, a partir desta edição,
Tecnologia / 22
para produzir em conjunto esta publicação e, assim, auxiliar a constru-
ção de caminhos melhores para a segurança pública brasileira. Artigo / 26
Ação do Fórum / 27
Jésus Trindade Barreto
Presidente do Conselho de Administração do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Ação do IMPP / 30
Boas práticas / 32
Luís Flávio Sapori
Secretário-executivo do Instituto Minas Pela Paz
Bola na rede!
Ao se preparar para a
Copa, polícias priorizam
centros de controle
Por Raphael Ferrari
As polícias das
12 cidades-sede
modernizam seus
equipamentos de
vigilância e serviços
de atendimento
O secretário Ney Campello, da Secretaria Extraor- ciamento de riscos. “A Escola Superior da PM já está in-
dinária para Assuntos da Copa do Mundo da Fifa Brasil troduzindo novas disciplinas na grade curricular, como,
2014 no Estado da Bahia (Secopa-BA), acredita que por exemplo, metodologia da integração. Curso que
entre os investimentos que estão sendo realizados na foca os processos de interação entre as diversas esferas
área de segurança, a criação de centros de inteligência é o da segurança pública e sua ação em meio à sociedade”,
que fará maior diferença na qualidade do serviço presta- aponta Carballo.
do à população. “Essas novas estruturas não se perderão No Paraná, segundo Geraldo da Silva Pereira,
com o término do Mundial. Ao contrário, são recursos assessor de Segurança Pública da Secretaria Extraordi-
que serão empregados para diagnosticar e prevenir ações nária da Copa 2014 do Estado (Secopa-PR), que conta
ilegais ou potencialmente perigosas para a segurança com pouco mais de R$ 90 milhões (R$ 42 milhões para
local”, avalia. Polícia Civil e R$ 48 milhões para a Militar) para investir
Ainda no campo de ampliação das estruturas físicas, em capacitação de pessoal, aquisição e modernização de
as principais delegacias do País devem passar por refor- equipamentos e estruturas ao longo do triênio 2011-
mas e se modernizar até 2013, a exemplo do que está 2013, a principal ação neste campo se dá em parceria
sendo feito, neste momento, nas quatro delegacias espe- com o Corpo de Bombeiros. “Eles estão ministrando um
ciais que a Polícia Civil de São Paulo possui para atender curso chamado ‘Pré-hospitalar tático’ aos policiais que
aos estrangeiros em Congonhas, Cumbica, Viracopos e atuarão em contato com o público. O objetivo é capacitá-
Porto de Santos – pontos de acesso estratégicos para os
turistas que virão assistir os jogos.
Já no campo de qualificação/capacitação dos agentes
de segurança, o ponto comum entre os Estados é o en-
sino dos idiomas inglês e espanhol. No Rio de Janeiro, a
Escola Superior da Polícia Militar firmou parceria com a
Faculdade de Tecnologia do Estado para que os policiais
estejam aptos a atender os turistas. Na Bahia, o gover-
no está capacitando 1.600 profissionais que, até 2014,
devem falar fluentemente os dois idiomas.
Mas, neste setor, o trabalho que mais se destaca é
o do Estado de São Paulo. Diariamente, a PM atende
150 mil chamadas no Estado, 35 mil somente na capital
paulista. “Os atendimentos do 190 e do 911 (a polícia do
Estado também recebe chamadas pelo código interna-
cional) são feitos sempre no primeiro toque e por um Experiência internacional de
atendente capacitado a falar tanto em inglês quanto em realização do evento, como
espanhol”, informa o coronel da PM e presidente do na África do Sul, serve de
referência para o País
Conselho Nacional de Comandantes, Álvaro Camilo.
“Nos grandes eventos, como a F1, já atendemos também
em outros idiomas, como francês e chinês”, assegura.
Além da qualificação para o trabalho, os agentes
de segurança também estão recebendo treinamentos
técnicos focados, principalmente, na prevenção e geren-
No Rio, a Escola Superior da Polícia Militar firmou parceria com a Faculdade de Tecnologia do Estado
Para Szajman, é
essencial universalizar
a qualidade da
segurança pública,
com as boas práticas
sendo replicadas
O
empresário Abram Szajman comanda a
principal entidade sindical paulista do
comércio e de prestação de serviços, a
Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
do Estado de São Paulo (Fecomercio). Além disso, é o
presidente dos Conselhos Regionais do Serviço Social
do Comércio (Sesc) e do Serviço Nacional de Aprendi-
zagem Comercial (Senac). Nesta entrevista concedida
à Soluções&Desafios , ele analisa a preocupação dos
empresários em torno da segurança pública, como a
percepção de violência afeta o ambiente de negócios
e de que maneira as entidades que preside têm atuado
para enfrentar esse tema.
e péssimo para os negócios. Tanto para o comerciante segurança e de outras pessoas; atrapalha o País, que
de rua, que vê seu lucro ser levado por um marginal deixa de arrecadar e, pior, tem nesse mecanismo uma
ou que teme até perder a vida, quanto para o grande fonte de receita para o crime.
empresário, que analisa oportunidades de negócio no
Brasil. O que precisamos é universalizar a qualidade Soluções&Desafios / Recentemente, iniciou-se uma
da segurança pública, porque se o Estado registra bons onda de assaltos a shoppings centers em São Paulo.
desempenhos em uma região, pode perfeitamente Szajman/ Mas foi uma onda, não? Como tivemos
avançar em outras onde neste momento há deficiência. outras, de sequestros, assaltos a bancos. A criminalidade
A questão da segurança pública aflige muito o comércio se reinventa a partir do momento em que o governo se
e compromete a atividade econômica brasileira. aparelha e enfrenta os problemas, combatendo o crime
Soluções&Desafios / De que forma, especificamente? Fecomercio trata o tema com profundidade, diz o emp
Szajman/ De várias, como eu disse, mas vou indicar
“
outras. A Fecomercio participa de uma organização Somos os primeiros
empresarial chamada Brasil Investimentos e Negócios
(BRAiN), cujo objetivo central está em transformar o
a apontar a
País em um polo regional de negócios, da mesma forma pirataria, o
que há polos em Londres, Hong Kong, Dubai, enfim.
Em vez de a empresa abrir um escritório em Santiago
contrabando e o
ou Miami para cuidar das suas atividades regionais, descaminho, porque
queremos atraí-la para o Brasil, preferencialmente em
São Paulo, mas pode ser no Rio. Como vamos convencer
isso é ruim para
empresas a realizar investimentos e se instalar aqui se elas todo mundo
não se sentem seguras, se seus executivos temem sofrer
alguma violência no Brasil? Isso é um aspecto macroe-
conômico, mas temos problemas também do dia a dia,
da violência que não se limita apenas às metrópoles, mas
que também agora aterroriza o interior.
Abram Szajman nasceu em 20 de julho de 1939 no office-boy na loja do tio. O trabalho na loja, de início
Bom Retiro, bairro paulistano próximo da Estação uma imposição, abriu-lhe perspectivas novas, pois
da Luz, e desde 1984 preside a Fecomercio. Filho ganhar a vida com vendas dependia apenas de seu
de imigrantes poloneses, seus pais chegaram ao próprio talento e esforço. Desenvolveu, assim, as ca-
Brasil no início da década de 1930. Aos dez anos racterísticas básicas que todo o comerciante deve ter:
de idade, após concluir o curso primário no Grupo disposição para o diálogo, paciência com os clientes,
Escolar Prudente de Moraes, colégio público situ- conhecimento do produto que oferece, do preço da
ado no Jardim da Luz, começou a trabalhar como concorrência e a percepção de que o fundamental é
resário satisfazer o comprador, do outro lado do balcão.
Na atividade empresarial, Szajman explorou vários
campos, com passagens pelo ramo imobiliário e pelo
setor de turismo. Em 1977, criou a VR, que hoje
atua, entre outros setores, no mercado imobiliário.
Boa parte do tempo do empresário é dedicada à
gestão do Sesc e do Senac. Participa também de con-
selhos como o do Hospital Israelita Albert Einstein
e do Incor. Sua sensibilidade para as questões sociais
o levou a tornar-se benemérito da Casa Hope, ONG
do setor de oncologia.
“
A combinação entre resolver os crimes de assalto a banco, esperamos que a
com profundidade. Nos últimos dois anos, realizamos os empresários estão fazendo sua parte na agenda de
vários debates abordando as políticas públicas de segu- segurança pública.
rança, de forma mais enfática no Conselho de Estudos
Políticos, presidido pelo ex-governador Cláudio Lembo. Soluções&Desafios / O senhor relaciona a cultura
No ano passado, inclusive, debatemos as propostas apre- e o lazer como um fator de combate à violência?
sentadas pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública aos Szajman/ Evidentemente. Está mais do que provado
então presidenciáveis. Temos agido também no sentido que a combinação entre educação, cultura e lazer, dentro
de atacar os crimes eletrônicos, uma das fontes de receita de uma perspectiva de integração social, causam enorme
do crime organizado. impacto na vida das pessoas e diminui a violência. É por
isso que o Senac tem um papel fundamental, de forma-
Soluções&Desafios / As ações vão além de debater ção profissional. E polícia na rua, claro, com a percepção
o tema? de um Estado forte.
Szajman/ Sem dúvida. A Fecomercio lidera um pro-
cesso de revitalização do bairro da Bela Vista, uma área Soluções&Desafios / O senhor sente falta de uma
tradicional da cidade, que abriga inclusive o famoso presença mais marcante do Estado?
bairro do Bixiga, e que está se degradando. Conduzi- Szajman/ Tem momentos que a gente pensa que, se o
mos uma articulação com a Prefeitura de São Paulo e Estado não atrapalhar, já está ajudando. Mas segurança,
com universidades como o Mackenzie e Belas Artes como em qualquer lugar do mundo, também se faz com
pensando na reconfiguração do bairro, tornando-o mais uma presença ostensiva de polícia e com a sensação de
atraente e com maior integração social, tornando os que cometer um crime acabará em punição.
espaços de melhor convívio, estimulando a cultura e a
paisagem arquitetônica. Isso não é uma ideia, mas uma O Sesc e o Senac, lembra
o empresário, são
ação efetiva. Se levado adiante – e tenho certeza que será
investimentos privados,
–, esse projeto vai revitalizar a área, reduzindo os pontos nem sempre reconhecidos
de violência, facilitando ao Estado combater o tráfico pelo público
de drogas. Também o comércio tem uma atuação muito
forte via Sesc.
C
omo todos os que acompa- especialização e três mil formados/ interesses inconfessáveis de setores
nham a história da Secreta- ano, política que será considerada que demandaram contra, essa políti-
ria Nacional de Segurança a grande alavanca histórica para a ca é, hoje, responsável pela cobertura
Pública (Senasp) sabem, permanecer derrubada dos muros entre polícia e quase total do território nacional.
alguns anos à frente da pasta é uma saber acadêmico. Uma revolução nos padrões infraes-
verdadeira façanha. As razões, fáceis A segunda questão, digna de truturais conhecidos e também na
de entender, são todas ligadas à per- nota, foi a institucionalização da qualificação da pilotagem, marca-
manente disputa por uma Secretaria polícia comunitária como uma damente através de parceria com a
que é, na prática, maior e mais im- prioridade real do governo e uma Força Aérea Brasileira.
pactante do que o próprio Ministério condição sine qua non para parce- Notável, por fim, a ação da Força
que a abriga, mas funcionando com ria com os estados. Mais de 70 mil Nacional, especialmente em conjun-
enormes precariedades de infraestru- capacitados e o que no passado era to com a Polícia Federal, responsável,
tura. Ainda assim, com boa dose de considerado “romântico” começou entre outras façanhas, pela redução
idealismo, regada à visão sistêmica, a alterar realidades e mudar a cara da do desmatamento no Brasil.
é possível realizar muito. Vejo assim segurança no Brasil. Alguns importantes flashes
a gestão que comandei: realizadora Terceiro: começamos a cuidar puderam ser avivados. Tenho certeza
e inovadora, sempre maduramente das fronteiras como prioridade tam- de que a nova gestão vai honrar e
partindo das conquistas das que a bém para os entes federados e cria- ampliar o que foi feito. Por esse leito,
antecederam. mos o Policiamento Especializado o da segurança, também passa o
Nossa primeira e bastante notória em Fronteiras (Pefron), que só não desenvolvimento nacional.
conquista foram os programas de evoluiu mais rapidamente devido aos
educação para forças de segurança. mesmos velhos conflitos intestinos.
Partindo da visão trazida por Luiz O modelo, contudo, está pronto e
Soares, via Sistema Único de Segu- teceu esmeradamente a adesão de 11
rança Pública (Susp), fortificando-se estados. Paradigma novo.
com Correa e Biscaia, em nossa fase Quarto: estruturamos a Política
os programas de educação viveram Nacional de Aviação em Segurança
um grande boom. Pública, para a qual criamos nor-
O ensino à distância abrigou 200 mativas e um Conselho Nacional e
mil matrículas por quadrimestre, financiamos os estados para a com-
no ano final da gestão. Mais de um pra de frota que hoje nos permite
milhão de matrículas efetivadas por chegar rapidamente a qualquer parte Ricardo Balestreri é ex-secretário
um público sempre muito exigente. do País (a polícia e os bombeiros nacional de Segurança Pública e
Entre eles, 170 mil bolsistas. No não tinham como acessar mais de membro dos Comitês Federais de
campo da parceria com a comuni- 50% do território). É a frota que têm
Educação em Direitos Humanos
dade acadêmica, elevamos nossa atuado, por exemplo, nas grandes
e Combate à Tortura
plataforma para mais de 60 cursos de catástrofes naturais. Em que pesem
Conquista de território
e de confiança
A aproximação entre polícia
e comunidade transforma
a vida social de várias
capitais, a ponto de criar
uma nova realidade na área
de segurança pública
Por Vladimir Goitia/ fotos: Blog Lente Policial,
Blog do Coyote e Instituto Sou da Paz
E
m quase três décadas de tentativas com acertos
e erros, os esforços para aproximar a polícia da
sociedade no País redobraram e começam a
consolidar-se como projetos de convivência cidadã dentro
do princípio de que a melhor forma de assegurar a defesa
do interesse da comunidade é garantindo a segurança dela.
Em alguns Estados como Rio de Janeiro, São Paulo
e Minas Gerais, as ações passaram de apenas experiên-
cias isoladas e de pouca durabilidade – no início, alguns
casos, inclusive, tiveram registro de forte ingerência
política e práticas clientelistas –, para a conquista de
territórios em áreas conflagradas, com programas de
sustentação da paz por meios pacíficos. Resultado:
quedas consistentes dos índices de homicídio.
Embora os dados existentes sejam generalistas, e não
pontuais e específicos sobre os resultados obtidos com a
presença ostensiva de polícias comunitárias em regiões de
O apoio popular à
ocupação do Com-
plexo do Alemão, no
fim de 2010, revela o
sucesso das iniciati-
vas de aproximação
alguns desses Estados, eles mostram efeitos importantes, policial ao Complexo do Alemão, no fim do ano pas-
embora ainda, infelizmente, aquém do considerado acei- sado, não é exagero acreditar que, pelo menos no Rio,
tável pela Organização Mundial da Saúde (OMS), razão esse sistema conta também com apoio popular.
pela qual há que se ter certa cautela na comemoração. “A perspectiva comunitária resgatou a colabora-
No Rio de Janeiro, por exemplo, o número de ho- ção da sociedade com a polícia. Sem essa articulação
micídios no ano passado foi o menor registrado desde teria sido difícil conseguir essa aproximação”, resume
1991, quando a taxa passou a ser monitorada. Foram Jacqueline de Oliveira Muniz, integrante do Grupo
menos de 30 mortos por 100 mil habitantes, de acordo de Estudos Estratégicos (GE) da COPPE-UFRJ e
com a Secretaria de Segurança do Estado. Nos últimos professora-doutora da Universidade Cândido Mendes
quatro anos, a taxa por 100 mil habitantes caiu de 40,6 (RJ) e da Universidade de Brasília.
para 29,8. Esse resultado foi alcançado mesmo após a O sociólogo Luís Flavio Sapori, secretário executivo
recontagem populacional realizada pelo Censo 2010 do do Instituto Minas pela Paz e professor da PUC Minas,
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). acrescenta ainda que, na última década, o corpora-
São Paulo também atingiu o menor índice de tivismo tipicamente militarista da Polícia Militar,
homicídios da história recente. Em 2010, os assassina- responsável pela doutrina de polícia comunitária nos
tos recuaram para o patamar de 10,47 para cada 100 Estados, diminuiu no processo de aproximação com a
mil habitantes, de acordo com a Secretaria de Segu- sociedade. “Tendo a acreditar que houve um aumento
rança paulista. A queda foi de 4,5% em relação ao ano da confiança da população na legitimidade daquela
anterior, quando estava no patamar de 10,96 por 100 polícia”, conclui.
mil habitantes. A taxa é menor do que a metade da taxa
brasileira média de homicídios, de 25,2 para cada 100
mil habitantes por ano, conforme o “Mapa da Violência
2010: Anatomia dos homicídios no Brasil”, da OMS.
Os resultados também estão em linha com os apurados,
ano após ano, pelo “Anuário do Fórum Brasileiro de
Segurança Pública”. É bom lembrar, entretanto, que
países como Estados Unidos e França – considerados
exemplos – registram 6 e 0,7 crimes letais, respectiva-
mente, para cada 100 mil pessoas.
É claro que a redução de homicídios nestes Estados
não pode ser diretamente relacionada aos programas de
aproximação da polícia à população, caso das Unidades
de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro, Po-
lícia Comunitária em São Paulo, Fica Vivo! em Minas
Gerais e Pacto pela Vida em Pernambuco. Até porque,
de acordo com especialistas, não foram aplicadas ferra-
mentas e tampouco critérios de mensuração precisos
desses resultados. Mas o fato é que, ainda na opinião
desses especialistas, esses projetos avançaram, são
muito bons e sociedade e polícia saíram ganhando. Se
considerado o grau de apoio da população à ocupação
Estratégicos da COPPE-UFRJ.
Unidades de Polícia Pacificadora Não existem dados precisos
sobre a queda dos homicídios nas
C inturão de segurança. É
assim que funcionam hoje as
13 Unidades de Polícia Pacifica-
nado uma espécie de “referência
coletiva”, citada por especialistas
e de ciência da maioria dos leigos
regiões onde as UPPs exercem
presença ostensiva. Até porque,
explica Jacqueline, as ferramentas
dora (UPP) instaladas em favelas que acompanhavam, em tempo para essa mensuração ainda são
da região metropolitana do Rio de real na televisão, a ocupação por limitadas. “O que podemos afir-
Janeiro, inviabilizando a mobilida- forças policiais, em novembro de mar, sem apologia alguma e sem
de da logística do crime e manten- 2010, do Complexo do Alemão, palpites a esmo, é que o programa
do acompanhamento sobre mais um território antes dominado por é muito bom. Graças a ele foi
de 230 mil pessoas. A instituição narcotraficantes. Nos próximos possível conquistar territórios em
desses sistemas de proteção às quatro anos, a meta do governo do áreas conflagradas. Isso quer dizer
comunidades ganhou forte apelo Estado é instalar outras 55 UPPs, que houve uma quebra da logística
público e enorme reconhecimento totalizando 68 unidades. do crime”, analisa.
nacional, a ponto de ter se tor- Até antes da implementação da A partir deste semestre, a
primeira UPP, na favela de Santa Secretaria de Segurança Pública
Marta, a dinâmica econômica adotará o conceito de letalidade
nessas regiões estava praticamen- violenta no lugar dos homicídios
te sedimentada no dinheiro do dolosos. O conceito, que passa a
narcotráfico. Mas o cenário mudou compor a lista de prioridades, é
e o foco agora é outro. Grandes, constituído pelos crimes de homi-
pequenas e médias empresas apon- cídio doloso, latrocínio, auto de
tam suas miras para invadir esses resistência e lesão corporal seguida
territórios. A aposta é que um de morte.
milhão de moradores das favelas Para a Secretaria, a decisão
cariocas entrem na economia de agregar esses crimes em um
formal nos próximos anos. único indicador e passar a cobrar
As UPPs, que consomem 6% metas de redução, é coerente com
do efetivo da Polícia Militar do a filosofia de pacificação que tem
Rio – o que faz com que a razão seu braço mais visível no programa
polícia/habitante nessas regiões das UPPs. A média desses núme-
seja considerada “muito boa” –, ros determinará a meta geral para
Ocupação do Com- agem com “repressão qualifica- o Estado. No início deste ano, já
plexo do Alemão foi
da”, que se articula às práticas da sofreram uma pequena alteração.
momento marcante
para fortalecimento dissuasão e da prevenção. “Isso A meta de letalidade violenta é
das UPPs e compro- dá superioridade às UPPs”, afirma reduzi-la em 6,67%. A anterior, de
vou apoio popular Jacqueline de Oliveira Muniz, homicídio doloso, era diminuir em
integrante do Grupo de Estudos 6,37%.
São Paulo /
Pernambuco /
Blogosfera policial
domina a internet
Internet é usada cada vez mais como canal de manifestação dos policiais
P
odemos considerar o uso do SIG que quebram alguns paradig-
dos Sistemas de Informa- mas. Duas destas iniciativas, ambas
ções Geográficas (SIGs) já idealizadas e conduzidas pela Polícia
sedimentado nas aplicações para Militar do Estado de São Paulo, me
Segurança Pública. Empregados chamam a atenção.
inicialmente em relatórios gerados A primeira tem por objetivo fazer
manualmente, os SIGs evoluíram uso massificado dos sistemas de loca-
num segundo momento para siste- lização por GPS (Global Positioning
mas informatizados que permitiam a System, em inglês) para identificar o
visualização das ocorrências no terri- posicionamento das forças policiais
tório de forma pontual ou através de em tempo real no território, mesmo
Carlos J.C.Fidalgo é consultor
temáticos baseados em complexos aquelas que se encontram no patru-
algoritmos de agrupamento.
de Tecnologia da Informação e
lhamento a pé. Além da eficiência
As ferramentas SIG procuravam operacional, da atenção na segurança
Comunicação para Segurança
apontar as áreas de maior incidência do policial, da melhor supervisão Pública / cjcfidalgo@gmail.com
de delitos e, por meio da caracteriza- operacional, da verificação de pos-
ção desses espaços com a apresenta- síveis falhas operacionais obtidas ao agora o emprego do computador
ção de informações adicionais (rios, monitorar o patrulhamento, outras de bordo de forma pró-ativa,
parques, equipamentos públicos e pri- possibilidades importantes se abrem. alertando o policial sobre a carac-
vados, bares, hospitais etc.), buscavam Poderemos, a partir de agora, por terização criminal do território em
de alguma forma contextualizar ou até exemplo, identificar por intermédio que se encontra e apresentação dos
explicar a incidência maior ou menor do SIG como o policiamento preven- dados dos criminosos que atuam
desses delitos no espaço e no tempo. tivo interfere na redução da criminali- na região, incluindo foto. É o SIG
Até este momento, o SIG oferecia dade e propor, a partir dessas análises, atuando em tempo real e mais pró-
poucos recursos para uso operacional. novos critérios de seleção do tipo de ximo do policial.
Exceção feita aos Sistemas de Aten- policiamento e sua distribuição. O SIG deixou de ser uma ferra-
dimento e Despacho, que utilizam o A segunda iniciativa envolve o menta de uso exclusivo dos gestores
SIG para o melhor emprego dos seus emprego da computação embar- e passa agora a ser usado de forma
recursos em tempo real como, por cada além do que hoje se pratica: efetiva no operacional da polícia,
exemplo, seleção da viatura mais próxi- comunicação, despacho silencioso, maximizando a eficiência do patru-
ma para atendimento de ocorrências traçado de melhores rotas para che- lhamento, possibilitando cada vez
de emergência do 190/192/193. gada ao local, consulta a banco de mais a participação do município na
Observo mais recentemente, no dados (criminal, veículos, conduto- solução dos problemas de segurança
entanto, excelentes iniciativas de uso res etc.), entre outras. Verificamos pública e beneficiando o cidadão.
“E
u estava jogando bola e fiz uma jogada que trou como a realidade social e as respostas institucionais
um cara não gostou. O pessoal começou a são o ponto de partida para o debate envolvendo o papel
‘zoar’ ele, que ficou irritado. Ele foi até a casa do Estado e da sociedade na prevenção da violência. Atua-
dele, pegou uma arma e apontou contra a minha cabeça, ram como parceiros estratégicos do Fórum, nesse projeto,
mas não atirou. No outro dia fiquei com medo de morrer, a Fundação Seade, o Instituto Latino-Americano das
peguei uma arma e matei ele.” Esse relato foi dado por um Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do
adolescente de Brasília, institucionalizado pelo homicídio. Delinquente (Ilanud) e o Instituto Sou da Paz.
Embora a imagem descrita assuste pela banalidade do Os resultados foram apresentados nos dias 24 e 25
ocorrido em uma partida de futebol, essa é uma realidade de fevereiro, em Brasília, durante o seminário “Juven-
constante nas periferias de muitas cidades brasileiras. tude, Prevenção da Violência e Territórios da Paz”.
Foram realizados
16 seminários
em todo o Brasil
e produzidas
cartilhas de
formação de
gestores
Projeto do Instituto Minas Pela Paz é das poucas iniciativas do País focadas em egressos
Resgate da cidadania
Fotos: Christoph Reher/Libra Comunicação
A
maior parte das reincidências criminais ocorre estabelecendo a vontade mútua de viabilizar a imple-
porque não é oferecida aos ex-detentos, ou mentação do projeto. Em junho de 2009, o decreto foi
melhor, aos egressos do sistema prisional, uma assinado pelo então governador Aécio Neves e, con-
oportunidade de trabalho digna. Foi pensando em mudar comitantemente, encaminhado e aprovado o Projeto
essa realidade que o Instituto Minas Pela Paz (IMPP), de Lei na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Em
em parceria com o governo do Estado de Minas Gerais, 28 de setembro de 2009, foi sancionada a Lei NDEG
lançou o “Projeto Regresso” em 2009. A iniciativa foi 18.401, que instituiu o Projeto Regresso.
criada a partir de diagnóstico realizado em doze Associa- Por meio dessa lei, as empresas participantes do
ções de Proteção e Assistência aos Condenados (Apacs), projeto estão aptas a receber subvenção econômica
que revelou que 80% deles são analfabetos e 25% nunca de dois salários mínimos, durante 24 meses, para cada
trabalharam. O quadro impulsionou o IMPP e o governo egresso contratado. Para participar, a empresa deverá
do Estado de Minas Gerais a buscar formas de reinseri-los conhecer o edital de credenciamento e cumprir todas
socialmente e no mercado de trabalho, contribuindo para as formalidades descritas. Os candidatos às vagas de
a não reincidência no cometimento de crimes e a conse- trabalho serão encaminhados para as entrevistas nos
quente reentrada no sistema prisional. Núcleos de Prevenção à Criminalidade (NPCs), vin-
Assim, em outubro de 2008, o processo foi forma- culados à Superintendência de Prevenção à Crimina-
lizado com a assinatura do Protocolo de Intenções, lidade da Secretaria de Defesa Social de Minas Gerais
Digno de
Prêmio
Por Thiago Rufino
P
rogramas desenvolvidos por governos e organi-
zações não-governamentais valorizam o trabalho Os méritos das
das polícias, de forma a estimular a continuidade
de execução de bons serviços. Em vigor desde 2001, o ações desenvolvidas
“Prêmio Polícia Militar de Qualidade”, organizado pela pelas Polícias de
PM do Estado de São Paulo, reconhece as melhores
administrações dos recursos tecnológicos, humanos e São Paulo e do Rio
operacionais em todo o Estado. Para o tenente-coronel
Wellington Luiz Dorian Venezian, chefe da 6ª Seção do por Fulano de Tal /
Estado Maior da Polícia Militar (6ª EM/PM), “a premia- fotos: Ciclano da Silva
ção dá visibilidade para os policiais, além de aprimorar o
modelo de atuação empregado”.
As ações são examinadas por uma banca forma-
da por 150 integrantes, entre oficiais da PM e civis
previamente selecionados. A partir dessas informações,
há uma série de avaliações in loco para verificar se as
iniciativas descritas estão realmente ocorrendo.
A condecoração paulista se baseia nos critérios de
avaliação utilizados em mais de 100 países e fica a cargo
da Fundação Nacional de Qualidade (FNQ) traduzir
e adaptar os métodos para o Brasil. Para chegar ao níveis de excelência na segurança pública e atender ple-
veredicto, são levados em consideração dez quesitos, namente seus clientes”. “Desde aquela época, a institui-
entre eles, pensamento sistêmico, cultura de inovação e ção se engajou em programas de qualidade e começou
valorização das pessoas. Existem três níveis de quali- a buscar no mercado modelos de desenvolvimento e
dade que são conferidos as unidades de acordo com a avaliação de suas organizações. A partir de uma parceria
pontuação obtida: Grau Ouro (pontuação mais alta), firmada com a FNQ, a PM passou a adotar, em 2004, o
Prata (intermediário) e Bronze (limiar). Modelo de Excelência de Gestão (MEG), traduzido em
Em recente artigo publicado no portal do FNQ fundamentos de boa gestão mundialmente reconheci-
, o subchefe do Estado Maior da PMESP, coronel José dos”, explica o coronel.
Mauricio Weisshaupt Perez afirma que, a partir de Ainda dentro dos programas de reconhecimen-
1996, a corporação tem procurado “assegurar novos to dos trabalhos dos policiais, o Comando Geral da
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A CSN investe em projetos que visam à transformação social por meio da cultura.
O Projeto Garoto Cidadão atende crianças da rede pública de ensino em situação
de vulnerabilidade social e é desenvolvido pela Fundação CSN em parceria com
as prefeituras de Araucária(PR), Arcos e Congonhas (MG), Itaguaí e Volta
Redonda (RJ) e Mogi das Cruzes (SP).
No contra-turno escolar, crianças e adolescentes praticam atividades culturais
como dança, música, artes visuais e teatro, e têm aulas de português, matemática
e inclusão digital, além de recreação.
Em 2010 o projeto atendeu 1904 crianças e,
em 2011,chegará a 2300 atendimentos.
Conheça mais sobre o Garoto Cidadão
e outros projetos da Fundação CSN
em www.fundacaocsn.org.br
Soluções e Desafios / edição 2 36