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Em sua palestra The Forgotten Art of Blockbuster Cinema, Mike Hill compara a

estrutura dos filmes de Michael Bay (Transformers, 2007) e de James Cameron (Terminador 2:
Judgment Day, 1991), analisando-os com base nas teorias do Monomito de Joseph Campbell e
da, ainda que ultrapassada (Yale, 2008), Teoria do Cérebro Trino de Paul MacLean, teoria esta
que divide o cérebro em três partes e define as suas funções. A acuidade científica da teoria é
irrelevante para o valor do produto da análise que, enfim, ilustra como o sistema de estímulo-
resposta desprovido de significado simbólico, em sendo aplicado no cinema, produzirá filmes
que poderão ser grandes blockbusters de verão, mas que não criarão raízes no imaginário de
seu público como foi o caso de filmes como Star Wars (Lucas, 1977) e Alien (Scott, 1978).

Seguindo a Teoria do Monomito de Campbell, simplificada nos 12 Passos da Jornada


do Herói de Christopher Vogler, Hill demonstra a superioridade das produções de James
Cameron preterindo às de Michael Bay, uma vez que as primeiras seguem os 12 passos, o que
faz com que identifiquemos naquelas narrativas, mesmo a nível inconsciente, os simbolismos
que podem ser aplicados ao ser e estar do indivíduo na Terra. A análise de Hill suscita
indiretamente outras questões, como as relacionadas à sociedade e a cultura, levando-nos a
ponderar sobre o consumo de produtos que satisfazem uma necessidade, muitas vezes não-
real, a curtíssimo prazo, mas que impedem ao público chegar à catarse, conclusão necessária
para aprender sobre si através do outro. Poderíamos pensar que o individualismo e o egoísmo
exacerbado existentes nas sociedades atuais, sejam, em parte, resultado das espetaculares (ou
nem tanto) narrativas imediatistas, ao longo dos séculos XX e XXI, desprovidas de significado,
adaptações e/ou inspirações de mitos fundadores existentes na literatura ou nas narrativas
orais, cujo produto mantém as emoções dissociadas de verdadeiro contexto simbólico.

É refrescante e deveras encorajador perceber que uma narrativa com raízes mais
aprofundadas na essência do ser humano é, na verdade, uma melhor receita para o sucesso
longevo desta. Assim, além de se satisfazer a consciência de alguns novos artistas, da recusa
do behaviorismo superficial, possivelmente advirá um retorno financeiro mais prolongado,
quem sabe quasi-ad eternum como no caso de Star Wars, o que fará sorrir alguns produtores.

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