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Relatório apresentado à Assembléa Geral Legislativa [...] pelo Ministro [...] de Estado dos
Negócios da Justiça, conselheiro Antonio Ferreira Vianna.
Rio deIgual
Janeiro, Imprensa
ntten~ilo Nacional,
prestei 1887. deste rninistcrio1 oíhn de ser elle n ex~
no or{:atn:Jnto
pressno exocto dos serviço:; crendos e d11s despezos out.orisodns, de modo n tkurdes
hal>mtndoa n conhecer de todns·'tls necessidades, o que~ preciso prover de meios,
e a fazer ns reducçúes que forem p:.1ssh1eis sem soc1•iflcio dos nltos in1eresses que se
prendem lt p)licin e ú udrninistroçõo do justiço em paii livre e civfüsodo.
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TITULO I
TRANQUILLIDADE PU'BLlCA, SEGURANÇA INDIVIDUAL E DE
PROPltlEDADE

Si éjust·) reconhecer que nenhum nbalo tem soffrido n confianç.n em nossas


insutuü;.ões fundamentnes, e grato declar~r que nadn occorreu durante o ultimo
anno que perturb:isse n tranquiHidade gerul do paiz, rnJo c.onvem dissimtllo.r que
ajndo sG.o frequentes ns desordens locoest e que u segurança individual e de pro~
priedade requer especi-01 attenção dos poderes publicos.
Os graves disturblos occ.orridos nesln côrte nos primeiros <lias de março, ultimo
a.diante relaLndos entre os mais notaveis que se deram no municlpio neulrot
me iropuze-rt\m o dever de providenciar, nn qualidade de ministro da justiça
do novo gabinete, para cessarem os clamores levnntndos contra excessos da policia,
e restituir ao exercido regular de suos funcções a força policial~ encerrada
nos quarteis com o fim de evitar conflictos entre eUa e praças do armado, opoiodas
por multos pessôns do po-vo. •
As medida$ tomudas, de acôrdo com os minJsterios do. gllerra e da mnrinha,
prompl.amente restabelecet•am o s~~ pa.blico, e poude a força poHclnl, com
~s instrucçõ~ recebidas, voltar no cumprimento dos seus deveres.
Examinando pessoalmente todos os serviços da repnrtiçúo central da po1icin,
do corpo poHclal e ·da ~so. de detenção> reconheci com os actuues chefes dos
mesmos serviços a necessídade de serem desp~didos muitos ogentes secretos e
expulsas praças incorreglveis; mandei proceder a inspecção do corpo no fórma ·.
do regulnmento) que ainda n&o fôra executado nessa pnrte; e chamei a attenção
das autoridades competentes poro o grande numero de detidos sem culpa formada
e sem notn de culpo) recomrnendando a maior d_fügencio parn serem postos em
liberdade os illegJlmente presos, e ocUvodos todos 6s processos criminnes.
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A cnstodla dos lndicindos na repartição do policio, n conducção dos presos e o


regimen da coso de detençllo e:tlgl.rllm providencias. que forem tomada.s . para mnis
flel obser\'ancin ·das·_goronlias c»nslituciono.es e dos preceitos de humanidade, que o
poder publico deve guordar parn com os proprios Côt>demnados. Mondei íechor as
prisões cellu l11res, recentemente construidas nesse ultimo estabe\eeimento, l)rohibiodo
o uso dellns, depoís de verificado por competentes proflssionoes que o folto de ar,
de luz e de, todos ns condições bygienicas os torna incompatíveis com a vida
humano.
Dependem da reforme. dos regulamentos, que está. sendo elaborada, e de auto-
rtsação legislotivn, outras medidas que opportuoamente vos seliio submeUidas.
AJ:)eUlr dos recommendações de moderação e outras providenclos lomadas por
meus nnlece!;Sores, em algumas provincias se reproduziram sedições rontro ma~
gistrados.
O exame dos filctos, que vao adiante expostos, me convenceu de que a paixão
partidaris, ou se revele nosaclos dosjui:ces, ou nos interesses contrariados de in-
fluencias do logar, senilo de ambos os lados, é a causa principal de desh11rmooia
que conduz o taes excessos.
Em iilguns CllSOS, a outoridude policial tem sido arguida, ou de haver tomado
parte nas manííest.ações cont.ra os magistrados, ou de se conservar impossível
allegando ora a gravidade de conflicto com o povo, ora o deticiencia da força á sua
diSj:W)Siçao.
Ordínoriamente os sediciosos procuram nttenusr a sua culpa com a improfi•
cuidlide ôas queixas ao governo e ao poder judlciario. Nota-se, porem, que a maior
pari.e aas repre.,;entoções cootro os abusos de autoridcde carecem de especificação
de factos, ou de documentos, que possom servir de bose oo proce$so de remoção f,:ir-

çada, ou ao de responsabilídade criminal.
Não têm sido devidamente punidos os octos de sediçilo, posto que o goçerno
haja com solicitude mandado substituir as autoridades potictaes, suspeitadas de
conniveocin ou negligencia, e proceder :io inquerit.o para descobrimento de todas as
circLtmstancias do delicto e de quem sejam seus autores e coropU~ EO'l re.,<>ra se
attribue o facto á maioria da população, sem determinar quaes os cabeças.
Cumpre, tanto quanto fõr possível, prevenir, e em todo o caso severamente
reprimir semelhantes violencios
De uin !ade, portice-me oe.::essario firmara coatianço na lei da responsabilidade
dos runccionarios publicos ; de outro garantir a magistratura no livre exercicio de
suas srduas attribuições. Uma boa e forteorganiznção do millisterio publíco ê, a meu
ver, a principal condiç'1o do efficada das medidas que se tomarem nes~ sentido.
Entretonlo oprossei-mo em dirigir oos -presídenles dos províncias a clrc1t-
lar, que ab.:1ixo subrnetto 6 vossa opr0claçilo.
Occorre ponderor que a disposiÇúo, aliús pre,·idente, do orL 2°, § 3• da .
lei do 1° de setembro de 1860, que determinou o procedimento offlciol nos .
crimes de injuria, ~lumnio, ferimento, omeac-a con~ra empregados publicos,
nüo porlerá ter todii n desajnvel proficuidade, cmquonto nilo se eHminar d'condiç!l.o 1-.
de serem taes offensos praticados quando a autoridade esllver êm acto de
exercicio de su3s funeçves.
Tombem prenderam-me a attençüo os repetidos conflictos entre pessõas do
[)OVO e n força policial, os rcsistencías e o frequente emprego de meios vio•

lentos .nos netos de prisiio, busc:i, dispersão de ajuntamentos illicitos. Si .os de-
feitos da educaçao popular e da organizaçiio policial ex.plicam em parte esses factos,
~ todcwia certo que a fiel observancia das leis que, em j usta medida e ponde-

raçiío, nrmam a autoridade e garantem a liberdade, preveniria muitas dessas


lutas igualmente nocivas ao poder publico e ao cidadiío, originadas não raro
da preteri~.J,) de fom1alidad es essencbes para manter a força moral do exe-
cutor da ordem, e osse~uror-lhe a submissao pela fé na ,iustiça.
Convencido de que o ex.emplo, por parte da autorid3de, do mais c.scrupu•
loso respeito a to<los os direilos, é primario elemento da ordem, e o m-iis
Htil ensinamento ao poYo, tome! providencias para melhorar o serviço policial
na côrte, e recommendcl, por circulares ús presidencias, o exacto cumprimento
das disposições legaes, que regulam o modo de proceder contra as reuniües
prohibidas, dé effectuar as prisões, entrar em casa do cidadiio paro. quaesquer
diligencias, e apprehender os objeclos de que esteja em posse suspeita.
O respeito ás formulas da lei, em nome da quol deve fallar . e obrar o
agente do poder publico, será, no

. . meu conceito, o melnor conselho de obediencía •
Emqunnto os circumstancias ntío nos permittirem remover as causas prin-
cipaes da multiplicaçilo dos crimes, e extingL1ir, como nuo póde deixor de ser
empenho do governo, o mal em sun orí:;em, que suo os deíeilos do educa~-ão
e costumes viciosos, deve preoccupar-:1os, n hem da segurança indivi.dual e da
propriedade, o pensamento de tornor mais effic:iz o noção do policia no prevenç&o
dos deiictos, e assegurar os effeitos da repressi.io pela presteza do julgamenlo e
certer..a da pena.
. A falta de dados est.alisticos nilo permitte dar-vos cont.a exacta do movi-
mento criminal, que aliás é . tiío neressario conhecer paro applicar o reroedio
<ldequado ós más paix.ües e a quaesquer moYeis que mois influam paru a violação
da lel. O decreto, que . transferiu . para o. ministerlo do imperio <l estalistíco
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judicial e · policial,· deve ser revogado, si . nlio fôr habllitàda·· o reparUçuo re-
spectiva. 001n · os meios !ndlspensoveis para n execução do serviço.
,E', -P?l'êm, s1bldo que a vadiagem, o embrloguez, n turbulencia hobltual,
os JC?gos prohlbidos ~· Óutras especulações reprovadas flg~rom entre os delicl.Qs
mais' fi:equen~; ~ dl!o cousa ou occaslll.o aos moiores crimes. A sabia inslitul~o
do termo de . . :-bem
. viver deve ser desenvolvida e aperfeiçoado, de modo o tornar efi'e-
ctíva .. a o~r1gação Ie.,"111, que tem todo o cidadilo, de tomar, na foll-0 de renda suffl-
ciénte, occupaçilo honesta e util de que possa subsistir, de não perturbar a tranquilli·
dade publica, nem of!emler com escanâalo a moral e os bons costumes.
Defeito· de peaol'idade e carencia de estabelecimentos opropriodos á execução da
pena, em-que se corrija a ociosidade pelo trabalho, e se cornbat.om os máos instin~
elos peio éo~veoiente_syste_ma disciplinar, otio têm permíttido colher do termô de
bem viver os beneficos resultados que esperava o legislador.
Muito convirià, ao menos nos centros mais populosos, remunernr a autoridade
policial, cujo serviço gratuito e obrigatorio n!io póde ser prestado na medida das
necessidades sem sacriflcio dos d~veres da vida particular; e bem assim dnr
melhor organização e disciplina á rorça policial, de mo:l.o a constituil•a, como
deve ser, urna guardu cívica, que pela escolna do seu pessoal e pelo seu re-
gimen inspire confiança â população.
Quasi todas as provindas se queixam de escassez de recursos par.a
maQter a _necesso.ría _força de policia, e solicitam -numerosos contingentes do
exercito, qu.e aliás .só em casos exiremos deveriam ser disirahidos para esse
serviço; algumas, que apontarei no Jogar competente, se dizem impossibílitadas
até de conservar a dlmiuuLo força que susíenta"8m com o auxilio rornecido
pelos cofres geraes, supprimido no anno passado.
S'eria de vantagem interessar as localidades na manutenção de secções
fixas, especialmente deslin:tdl.ls ao serviço policial do municlpio, mediante o
concurso dlls camaros das cidndes.._e villas, que poderiam combinar a sua acção com
o do estodo e a da provindo· na prevenção e repressíí.o dos iníracções, os quaes,
sejam de leis geraes ou provincloes, ou de posturas municipae.s, devem ser li;ual-
roente cohlbidas pelo poder publico e por todos os bons cídadiios.
A ncr,ão do ministerio publico deve, no meu conceito, ser ampliada, abrangendo
todos os deUcíos, á excepç&o dos qi..e, por roolivos de justo pundooor ou a bem da
paz e décoro das familias, não oonvem ievnr o juizo sem queixa do oft'eodido, ou de
quem legitimamente o represenie.
Abreviar oprocesso da form.açav dn culpa e do. julgamento; creaI' jurisdicçuo
especial pora conhecer dos deliclos de menor gravidade, determinada a sua alçada
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peln nntnrem e quontidÓ.de dn pen:i, mcdinnte re1•isuo do le:;isloçao criminol, e me-


lllorm• o nosso sy:5lemo. panitcncla1•io, soo oulms lanlas providencias que me
pJrecem necess:irias, o de que mois detidolllente me occuporei n'oulros c(lpl-
tulos.

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