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A MULA DEMOCRACIA

Por Bill

José Carlos Madureira, mais


conhecido como Zeca de Tuca,
de São Bento da Trindade,
município Pernambucano, era viúvo de Tuca Madureira,
famosa vereadora da região, morta pela ditadura e que teve
um jabuticabeiro que dava manga.
Zeca vivia da roça, por isso, tinha de ir à cidade vender
seus produtos. Há pouco tempo, antes desta história
começar, aquele agricultor havia comprado uma mula que ele
batizou de “Democracia”, porque achou o nome bonito, que
ele ouviu numa discussão de bêbados no bar de Seu Edvaldo
Cordelista.
Mas Democracia era de uma teimosia de dar raiva:
mordia ou dava coices no dono e tinha preguiça para dar,
vender e alugar. Um dia, a danada fugiu e Zeca passou o dia
inteiro procurando-a, debaixo do sol mais quente do ano.
Enquanto isso, uma equipe de TV, lá da cidade grande,
havia acampado ali perto, para uma reportagem. O líder do
grupo era ninguém menos que o famoso jornalista e deputado
Roberto Beto, que havia arriscado a vida tantas vezes contra a
Ditadura Militar, a mesma que havia sido derrubada
recentemente. Tinha até perdido um olho e a esposa,
Lurdinha, no meio disso tudo.
Quando viu Zeca passar, o jornalista empurrou o
microfone na cara dele e perguntou:
— Nossa equipe está aqui, ao vivo, para saber a opinião do
homem do campo sobre este momento glorioso, a volta e o
novo alvorecer da liberdade no Brasil! Cidadão, qual é o seu
nome e o que pensa da Democracia?
Zeca vociferou:
— Democracia? È uma disgraça! Mardita hora qui
comprei essa derrota.
E saiu dali apressado, bufando e cuspindo os piores
palavrões que se possa imaginar, deixando Roberto Beto
chocado demais para dizer qualquer coisa...

Total de palavras: 285

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