ITAUNESCAS – COLEÇÃO COMPLETA – 17-3-2017

Publicado em 14/2/1997
Itaunescas 1
Turruca, tu és Cefas
Anis José Leão

Geraldo Pedro de Sousa, ó meu, é o Geraldo Turruca, o magricela que

vende leitura do dia para a cidade sob a forma de jornais, revistas, livros
populares e quinquilharias dessa mesma espécie.
Na adolescência, teve a mesma sorte de ser novidadeiro, era entregador
da correspondência do falecido Banco Comércio. Peleja que peleja, adquiriu
a banca de revistas do Nino Alves e foi à custa de muito suor que Manchete
e outros periódicas impostores aceitaram mandar-lhe um reparto, a fundo
perdido. Turruquinha, porém, vendeu toda a porqueira e com o tempo erigiu
uma banca que pode ser considerada entre as primeiras do Estado. Muita
coisa ele recebe antes de Belo Horizonte.
Atencioso, nascido para a mercancia, é capaz de vender livro para o
autor. Ele é o baseado e a cocaína de seleto grupo de consumidores de
leitura dotado dessa bulimia livresca tão rara em país atrasado. Dia de
domingo, de manhã, se o neguinho não ficar esperto ou não tiver
encomendado seu jornal, é bem capaz de ficar sem seu público espiritual e
ter de barranquear jornal alheio.
Turruca é o braço da informação que abraça Itaúna, é o trazedor do
mundo escrito para o saber mundano da cidade; ele distribui a mancheias
aquela torrente de alegria e pesar de que a vida se compõe.
Turruca, Geraldo Pedro tornou-se assunto da polêmica que marca a
pauta das futricas paroquiais. A lei municipal lhe concedeu o direito de
crescer um pouco mais, num cômodo mais avantajado, e as opiniões
começam a jorrar no disse-que-disse dos roteiristas menores da urbe. Uns
acham que enfearam a praça, que a concessão foi um privilégio sem
tamanho, que o prédio tirou visão de quem, defronte da lanchonete, deseje
fotografar potrinho esdrúxulo deambulando no centro do logradouro igrejal.
Outros acham que valeu, tudo bem, legal pra caramba, quem contesta está
com inveja e que dali Turruquinha não sai nem a poder de tiro.
Tudo passa, todas as coisas fluem, disse Heráclito, que era obscuro só
na invejosa opinião dos aristotélicos.
Tegüenta, Turruca, tu és Cefas, tu és Pedro, tu és pedra, contra ti não
prevalecerão as capetices dos que, problemáticos, querem fazer a catarse
pra riba de ti. Saravá.