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O TEMPO
E AS
ESTAÇÕ ES
LEOPOLDO PONTES
TEMPOS DE JORNALISMO
Entre muitas outras coisas, tive uma vida de jornalista. E como jornalista era, entre outras
funçõ es, um escrever sem fim. Morava em Campos do Jordã o e sempre visitava as reuniõ es
da Academia Jordanense de Letras, a AJL.
Apesar disso, naqueles dias, nã o publiquei livro algum, o que nã o garantiu, por minha
infelicidade, ter sido convidado para a Academia. Mesmo escrevendo todos os dias.
O ESTADO
A grande tendência deste início do terceiro milênio é que grandes empresá rios e
banqueiros vêm tomando conta do poder político.
Já nã o bastasse tomarem conta da Economia, vêm também alçando lugares no Estado e
poderã o em futuro pró ximo ser justamente o pró prio Estado.
Nã o vejo o benefício dessa mudança, apenas me parece que está ocorrendo no mundo
inteiro, ocidental e oriental, pouco a pouco. Porém, será a morte das ideologias como as
conhecemos, sendo substituídas pelo valor do cartã o de plá stico e do que o substitua.
COMUNISTAS
A Europa foi, no segundo meado do século XIX, fortemente sacudida pelos ideais
anarquistas, que propugnavam a imediata extinçã o do poder estatal. Sem Poder, cada
pessoa se comandaria e todos se respeitariam como indivíduos, sendo os bens isonô mica
ou igualitariamente distribuídos a todos e destituir-se-ia a ideia de massa.
Os comunistas surgiram com a ideia de uma ú nica massa de pessoas controlada por um
poder centralizador, mas que evoluiria para o anarquismo, ou anarquia, que seria a
extinçã o desse poder.
Nã o haveria mais pobres nem ricos, porque nã o haveria mais dinheiro nem bens ou
territó rios pessoais.
Na verdade, os países ditos comunistas nunca tiveram extinçã o de classes sociais. Apesar
de um poder centralizador, havia uma classe favorecida, a massa explorada e a violência,
diferente da paz esperada pelos anarquistas.
No Brasil, o antigo Partidã o (o PCB de Luís Carlos Prestes, que nã o existe mais, foi extinto)
foi repositó rio de vá rios intelectuais, escritores, artistas etc, até quando eles perceberam o
que estava acontecendo realmente na Uniã o Soviética. Foi o caso de Jorge Amado, cujos
livros até entã o tinham uma índole comunista, que ao saber da realidade desvinculou-se do
partido e mudou sua forma de escrever. Foi o tempo de uma debandada geral. Nã o que o
capitalismo prá tico fosse melhor, na forma como se desenvolveu no Terceiro Mundo, mas
talvez fosse menos pior.
FIM DA HISTÓ RIA
Quando do fim da Guerra Fria, Fukuyama preconizou que seria a partir de entã o o fim da
Histó ria. Nã o haveria mais nada de importante a acontecer.
Entretanto, os Estados Unidos, que eram o país mais poluidor da Terra, foram superados
pela China, que se tornou grande distribuidora de produtos fabricados para o mundo.
Compramos hoje dos chineses o que há de tecnologia, vestimentas e outras coisas.
A Histó ria continuou. No Brasil, começou a aparecer o rol de corruptos, que sempre
existiram mas eram incó lumes à Justiça. Passaram a ser julgados e presos poderosos
políticos e grandes empresá rios, por corrupçã o, numa atividade que superou a operaçã o
“mã os limpas” italiana.
Nã o houve o fim da Histó ria: muitos acontecimentos houveram, na economia, na política,
na tecnologia e até humanisticamente falando, dado os movimentos sociais que se
sucederam desde entã o.
Há , porém, um detalhe que gostaria de destacar. Susan Sontag, em seu livro de ensaios A
Vontade Radical, infere que a Histó ria suplantou a Natureza pela primeira vez durante a
Revoluçã o Francesa. Isso nos faz pensar da importâ ncia desse fato histó rico para a
civilizaçã o ocidental – já que o oriente tem outra forma de se historicizar – e se nã o foi um
dos fins de histó ria já percorridos através dos milênios.
Quando começa a Histó ria: com a escrita? Com a tradiçã o oral? Com o raciocínio do
primeiro ser humano?
ROBERTO LOVE
Maria das Graças, 17 anos de idade, moradora do Travessã o, nunca perdia a novelinha da
tarde da tevê, onde tinha o galã Roberto Love. Era notó ria sua paixã o pelo ator, pelo
personagem, ela nã o sabia a diferença.
Todas as tardes, de segunda a sexta-feira, à s 15 horas, Maria das Graças parava tudo que
estava fazendo para assistir Roberto Love. Já tinha arrumado a cozinha, feito a liçã o de casa,
mas nã o ia à casa das amigas sem antes assistir a novelinha. Era um momento em que o
WhatsApp ficava de lado, o face-book nã o funcionava, ela nã o atendia o celular. Era a hora
de se dedicar a Roberto Love.
Maria das Graças sempre mandava mensagens para o ator/personagem e sempre recebia
respostas padrã o. Ela nã o se importava, achava que as respostas eram especialmente para
ela.
Um dia, a novela acabou. Entrou outra no lugar. Mas Maria das Graças estava apaixonada
por Roberto Love. E escreveu um longo e-mail para ele, contando da desgraça que seria sua
vida a partir de entã o.
Nã o recebeu resposta.
Escreveu outro longo e-mail e outro e outro e outro.
Até que um dia recebeu uma resposta da emissora, dizendo que a novela fora gravada há
quatro anos e que Roberto Love nã o trabalhava mais para aquele canal de tevê.
Maria das Graças entrou em parafuso! Ela precisava conhecer o personagem/ator que ela
tanto amava... Pesquisou nos sites de fofoca e congêneres dos ú ltimos anos e acabou
descobrindo onde estava não trabalhando Roberto Love.
Como poderia escrever para ele? Como entraria em contato com ele? Voltou a escrever para
a antiga emissora que passava a novelinha e eles escreveram que nã o tinham informaçã o
sobre qual o seu paradeiro.
Maria das Graças deixou de assistir novela à tarde para se dedicar mais à s redes sociais e
descobriu que Roberto Love tinha um endereço de face-book. Escreveu para ele e ele
respondeu. Escreveu in box e ele respondeu. Começaram a ter longas conversas in box até
que um dia ele a convidou para sair.
Maria das Graças ficou doida!
Combinaram o horá rio. Ele a pegaria em sua casa... Chegou num Fiat ano 2007 limpinho.
Entrou na casa dela, conheceu os pais, que já sabiam da histó ria, e aí apareceu Maria das
Graças, numa calça jeans, camiseta de rock, tênis cor-de-rosa e uma leve maquiagem. Ela
estava junto com uma amiga, Elizete, vestida também de calça jeans, camiseta de rock,
sandá lia de plá stico e uma leve maquiagem. Ela tinha 18 anos.
Roberto Love estava mais velho, meio calvo, diferente da novela. Eram 5 horas da tarde. Ele
as levou para uma lanchonete, onde conversaram:
- Você nã o está fazendo mais novela?
- Nã o, estou participando de uma peça de teatro e daqui a um mês vou começar um filme.
- Cinema?
- Nã o, na verdade é um telefilme, que dura um pouco menos de uma hora. Eu faço o papel
de um vendedor de cds.
- Mas ninguém compra mais cds hoje em dia.
- É aí que está a graça da histó ria.
Patati patatá e Maria das Graças descobriu que Roberto Love só existiu na novela, que ela
se apaixonara por um inexistente.
Voltaram para casa e Elizete perguntou:
- E aí, nã o vamos sair de novo com ele?
- Nunca mais, minha amiga. Preciso conhecer rapazes normais, de carne e osso, ...
- Precisamos, né?
Maria das Graças e Elizete passaram a se comunicar mais com rapazes de verdade pelas
redes sociais e no curso técnico de computaçã o que faziam.
Acabaram encontrando rapazes interessantes, diferentes de Roberto Love, mas reais. Desta
vez eram reais.
O LEITOR DE TARÔ
Enrique tinha vinte e três anos, quando ganhou seu baralho de tarô de uma amiga. Eram
vinte e duas cartas de baralho com desenhos estranhos, numeradas e nomeadas.
Isso foi o início de tudo, pois a amiga lhe ensinou os rudimentos daquele jogo, que nã o era
um jogo, mas um orá culo.
As aulas, gratuitas, terminaram rapidamente, mas Enrique continuou seus estudos
comprando livros sobre esoterismo, em especial sobre cabala cristã , de Eliphas Levi, e
livros estrangeiros, sobre tarô e cabala.
Eram os anos 1980, e naquele tempo nã o existia a internet. Muito menos e-books. Ele tinha
que se contentar com volumes de papel, alguns fininhos e leves, outros pesados e grossos.
Aos poucos sua biblioteca esotérica foi crescendo nas estantes, já cheias de enciclopédias e
outros assuntos.
Também aconteceu que ele foi adquirindo mais jogos de tarô , com diferentes formas,
desenhos, nomes, numeraçõ es, até começar a desenhar suas pró prias cartas.
Nesse momento, começou a relacionar cada carta com um capítulo do Apocalipse que,
coincidentemente ou nã o, é dividido em vinte e duas partes, e com o alfabeto hebraico.
Depois relacionou também os hieró glifos, o alfabeto grego clá ssico, o fenício, entre outros.
Enrique utilizava para seus estudos uma Bíblia de Jerusalém, além de textos
deuterocanô nicos, uma ediçã o da Torá comentada por um rabino, textos judaicos, algumas
traduçõ es do Bhagavat Gita, o Tao-Te-King, o I-Ching, o Corã o, as runas e algumas tradiçõ es
anímicas.
Todos os seus estudos eram voltados para o tarô , que ele passou a escrever tarot. Como
numa circunferência, tarotorat...
Nã o poucas vezes Enrique leu as esotéricas cartas para diversas pessoas, que vinham de
todos os lugares para consultar-se com ele, que nã o cobrava mais que uma moedinha, para
ser doada aos duendes das á rvores.
Ele tinha seu pró prio trabalho, numa empresa, e seu tempo livre era deixado para esse tipo
de diversã o. Constituiu família, porém mesmo assim continuou com o tarot e tudo que o
circundava. Enrique nã o se interessava pelos arcanos menores, que somariam 78 cartas,
apenas pelos vinte e dois maiores, pois estes sim poderiam lhe revelar os grandes mistérios
do universo.
Treze anos se passaram quando percebeu que nã o precisava mais do baralho para fazer os
orá culos. Podia ler o tarotorat no mundo à sua volta, nas pessoas que encontrava, em tudo,
enfim!
Foi quando enlouqueceu.
Só comigo
Há coisas que parecem acontecer só comigo, de tã o inacreditá veis que sã o. Ainda ontem, à
noite, fui à padaria e estacionei o carro. Entrei, fiz as compras e saí. Isso quer dizer que saí
de ré. Estava nessa posiçã o quando senti uma batida: meu auto batera noutro que estava
pra sair.
Pensei: vou parar logo aqui à frente e deixo um bilhetinho, com meu nome e telefone.
Tentando estacionar, ouço batidas fortes na minha janela. Abri a porta, pronto para ouvir
uma reprimenda.
Pois qual nã o foi minha surpresa quando o dono do carro em que bati foi muito gentil. Ele
disse mais ou menos o seguinte: fique calmo, nã o fique nervoso, fique sossegado.
Quis eu olhar como estava o carro dele e ele nã o deixou, disse que nã o acontecera nada. E
mostrou a traseira de meu carro, dizendo: tá vendo? , nã o aconteceu nada, tá tudo certo , eu
só queria dizer pro senhor para nã o ficar nervoso.
Ele parecia estar um tanto embriagado. Mesmo assim agradeci e nã o sabia o que fazer. Fui-
me embora com meu coraçã o tranquilo, por tudo que aconteceu. Foi como se acabasse de
falar com um anjo dos céus. Aí pensei: só comigo acontecem essas coisas...
No dia seguinte vi um amassado na traseira.
Caraguatatuba, outono.
DATILOGRAFIA E DIGITAÇÃ O
Quando criança, escrevia à mã o, fosse com lá pis preto ou com caneta tinteiro. Depois,
passei para a esferográ fica.
No escritó rio de meu pai havia uma má quina datilográ fica (Quem nã o sabe o que é isso,
busque na internet.). Rapidamente me adaptei a pensar na má quina, sem precisar escrever
primeiro à mã o.
Na adolescência, tirei diploma de datilografia. Passei a ter um contato tã o íntimo com a
má quina que ganhei uma Lettera de meu pai. Só escrevia à mã o nos cadernos da faculdade.
Tinha uma prá tica tã o grande de datilografar, o que exigia força nos dedos, que era capaz
de fazê-lo ouvindo rá dio e conversando com alguém, desde que nã o precisasse raciocinar o
que estava escrevendo.
Em 1999, compramos em casa nosso primeiro computador (PC). Estragamos o primeiro
teclado de tã o forte que batíamos.
Com o passar do tempo, digitar se tornou tã o normal, aproveitando o processador de texto,
que parece agora que nunca datilografamos. Ainda escrevo à mã o, porém apenas recados,
có pias de pequenos textos em meus cadernos, coisas assim, com esferográ fica preta de
ponta fina. Deixei de escrever à lá pis mas quero voltar à caneta tinteiro, com tinta lavá vel,
para determinadas ocasiõ es.
O QUE É ARTE
Muito se discute sobre essa questã o. Algo belo pode ser arte, mas nã o precisa ser bonito
para ser uma obra de arte. Pode até ser maravilhoso e nã o ser uma obra de arte.
Os museus específicos contêm objetos das mais variadas formas, coisas que já foram para
serem adoradas (como ídolos, santos e cruzes), admiradas (como desenhos, pinturas,
esculturas), utilizadas (como uma faca) etc.
Construçõ es sã o classificadas como artísticas, sejam elas da antiguidade ou
contemporâ neas.
Autores, críticos, resenhistas, enfim pessoas que escrevam ou fale sobre determinada coisa
ou atuaçã o determinam o que é arte.
O happening era um acontecimento ú nico, com duraçã o extremamente finita. Era arte. A
performance, sucedâ nea do happening, era arte. Quando pessoas combinam pela internet
estarem num determinado local a uma determinada hora e, naquele local e hora, vá rias
estã o, e depois se dispersam, isso é arte? Nã o sei. As pessoas que participam o fazem com
intençã o artística?
A intençã o artística faz de algo arte. Nã o é a intençã o comunicacional? Ou revolucioná ria?
Ou simplesmente do belo? Ou do inusitado?
Quando alguém diz que um cartaz de cinema é arte, ou um filme, ou uma tela pintada ou
cortada ou com uma colagem sobreposta, entã o é arte?
A arte está na intençã o do autor. Mas quando o artesã o fez um par de sapatos, nã o
imaginou que séculos depois ele estaria exposto num museu como obra artística.
Antiguidades sã o confundidas com obras de arte. E o sã o?
Nã o sei mais o que é arte.
TREWA
Nã o me recordo bem a data, talvez tenha sido em 1974, talvez 1976.
O certo é que se tratava de um festival de mú sica competitivo, como muitos naquela época,
no Central Parque Lapa, em Sã o Paulo.
Os organizadores acharam por bem contratar uma banda convidada para tocar no final de
cada dia. Chamaram a Trewa.
Era uma surpresa, ninguém conhecia o grupo, todos achavam o nome estranho, mas nome
de grupo era nome de grupo e ninguém tem nada a ver com isso.
Chegou a noite. Chegou o momento. O som era pesado, altamente heavy-metal como nunca
se ouvira antes. Era muita coisa para as cabeças de entã o. Ninguém gostou, todos acharam
que nã o era bom o bastante e trocaram para os outros dias por uma banda mais
convencional.
Na verdade, o pú blico nã o estava preparado para uma sonoridade que iria explodir nos
anos 1980... e nunca mais ouvi falar da Trewa.
Por Conta De
À s vezes, uma palavra ou expressã o domina o estado de Sã o Paulo ou até do Brasil, sem
ninguém saber como começou.
É o caso de por conta de. Ninguém mais fala por causa de, em razão de, pelo motivo de, entre
outras formas. Tudo é por conta de. Essa expressã o tomou lugar nas conversas, nos
noticiá rios, nos congressos, nos cursos, em tudo quanto é lugar. Feito um vírus.
Já houve o tempo de performance, em vez de desempenho, que tomou uma conotaçã o
sexual. Já houve o tempo de adéqua, que nem existe na gramá tica, no lugar de adapta.
As pessoas estã o também falando a forma inglesa – em português – o meu melhor, no lugar
de o melhor que posso, por exemplo, ou o melhor de mim, construçõ es mais adequadas à
língua portuguesa.
Como uma doença maligna, essas formas de dizer se espalham e, sem ninguém saber como,
desaparecem do mapa, feito uma gíria que nã o encontra espaço temporal na gramá tica, ao
contrá rio de outras como legal, ou as expressõ es incorporadas recentemente, como pensar
a, pensar o, pensar um, e pensar uma, que vieram para ficar, pois nã o têm sinô nimos ou
formas alternativas de dizer.
Humanus Est
Cada um de nó s tem uma personalidade diferente. Somos peças ú nicas, nã o existe molde.
Por mais parecidas que sejam duas pessoas, suas personalidades serã o distintas.
Pois algumas têm sua personalidade forte, dominante, enquanto outras sã o passivas. Na
verdade, há um espectro que vai da mais ativa à mais fraca. E cada qual tem seu lugar na
sociedade.
Ocorre na psiquiatria que cada vez mais aspectos desse espectro sã o determinados como
doenças mentais, cada pormenor é identificado como um espécime sombrio.
Ora, tais sombras têm nomes como esquizofrenia paranoide, transtorno afetivo bipolar,
depressã o leve, depressã o profunda, euforia, entre outros diversos e diversos.
No final, as personalidades sã o o que nos tornam o que somos: humanos...
ENGAJAMENTO
Toda arte é engajada. Nã o existe arte pela arte, por mais que o artista ou seus observadores
e críticos insistam.
A apreciaçã o de uma obra de arte, por mais insó lito que possa parecer, nunca é
descompromissada, assim como sua execuçã o.
Falar – ou escrever, claro – sobre uma obra de arte é resumi-la a um ponto de vista –
sempre objetivo, por mais subjetivo que possa parecer.
Toulouse Lautrec, Arthur Rimbaud, Goya, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, entre
muitos outros, eram conscientemente engajados. Artistas atuais podem nã o saber, mas
todos sã o – ainda que inconscientemente – engajados.
Nenhum artista peca pela omissã o, mesmo que isso aparente aos críticos, quando na
verdade ele nã o é compreendido nem por si mesmo.
Como já disse em outra ocasiã o, a arte é sempre revolucioná ria, seja por querer ou nã o.
O Tempo é uma Curva
O Tempo sempre aparece nos calendá rios como uma infinita linha reta, estendendo-se para
o passado e para o futuro. Ele é imenso para nossa percepçã o humana.
Todavia, é uma grandíssima curva. Ela quase se fecha numa circunferência, o que nã o
ocorre por ser cada vez maior e acontecer mais eventos. Da mesma forma, é cada vez mais
rá pido, o que nos faz apreciá -lo como eventos que se sucedem em maior proporçã o à
medida que o Tempo avança.
Nã o notamos esses fatos porque nossa contagem temporal, nossos calendá rios, sã o lineares
e aditivos, quando deveriam crescer geometricamente.
Divisõ es da Arte
Considero a arte de nosso planeta divisível em três compartimentos vazá veis.
O primeiro é quando a obra imita a natureza, segundo um padrã o, um modelo. Sã o as
chamadas belas-artes.
O segundo é quando esse padrã o ou modelo é alterado na obra, transformando a natureza,
como no impressionismo e na abstraçã o.
O terceiro é quando a obra é um nã o-objeto. É quando entramos no campo da anti-arte, da
performance e de outros exemplos cabíveis.
Fatalidade
Um dia escrevi que nã o acreditava no destino. Ainda nã o acredito, mas no livre arbítrio.
No entanto, há vezes em que as coisas acontecem inesperadamente, por fatalidade. Sã o
eventos inexplicá veis e por isso dizemos que sã o uma fatalidade, mas nã o obra do destino.
Nã o é porque nã o conseguimos explicar que nã o sã o frutos de algum alvedrio.
Assim como existe dessa forma a fatalidade, também a coincidência, mesmo sendo algumas
vezes nã o-coincidência. Algumas vezes, pois, ela existe.
Da mesma forma, o sobrenatural, a magia e o milagre existem até que sejam explicados e
compreendidos empiricamente. Mas existem.
Tecnologia
O daguerreó tipo é o antecessor da fotografia. Nã o tinha negativo e portanto nã o permitia
có pias. A exposiçã o do vidro onde seria impressa a imagem demorava horas. Para se extrair
a imagem de uma pessoa era preciso imobilizá -la com dispositivos escondidos por trá s.
Famosos sã o os daguerreó tipos de ruas movimentadíssimas, em que a aparência é de ruas
desoladas, pois nenhum movimento podia ser captado. Um conhecido trabalho de Arthur
Rimbaud mostra uma rua deserta onde um homem dorme na calçada. Naturalmente, por
estar praticamente imó vel durante horas sua imagem apareceu.
Da mesma época desse invento é o da fotografia, com exposiçã o menor, có pias em cartã o e
negativos possibilitando infinitas có pias.
Entretanto, por motivos comerciais, as indú strias lançaram primeiro o invento de
Daguerre, que durou algumas décadas, para só depois lançarem a fotografia.
Hoje em dia a mesma coisa ocorre com nossa tecnologia: ficam lançando artigos
ultrapassados para vendê-los antes dos atualizados, já inventados, a fim de ganhar mais
dinheiro. É por isso que todos os dias surgem novos dispositivos tecnoló gicos, sem
precisar; no lugar de dois, vá rios intermediá rios. Para quê? Arrebanhar mais dinheiro...
Lembro-me de ter assistido na Netflix, numa série chamada Ted (Technology,
Entertainment, Design) [conferência que acontece anualmente na Califó rnia, EEUU, na qual
inovadores apresentam seus desenvolvimentos e ideias para diversos assuntos], a
apresentaçã o de um cientista indiano – nã o me lembro agora seu nome – com diversos
inventos de ú ltima geraçã o, voltados à tecnologia digital. Ele disse que estava disposto a
disponibilizar seus inventos ao pú blico em geral. Foi muito aplaudido. Procurei, na época, o
nome dele na internet: achei, mas tinha um limite de data, e nunca mais, até hoje, ouvi falar
de tais inventos... Muito estranho...
Mundo do Glam
Marc Bolan foi o primeiro homem que apareceu muito maquiado no mundo norte-
americano do rock. Era final dos anos 1960 e a psicodelia gritava alto!
Seu som era instigante e ele tinha a banda Tyranossaurus Rex, mais tarde rebatizada como
T. Rex. Porém seu pú blico sempre foi específico, underground.
Um dia o mú sico David Bowie decidiu aparecer bastante maquiado, mas com uma
sonoridade muito mais pop. Já era início dos anos 1970 e ele aproveitou a onda do Glamour
Rock para se apresentar como um personagem que ele mesmo inventou, Ziggy Stardust e
eclipsou Marc Bolan.
Literatura no Rock
Depois que Bob Dylan ganhou o premio Nobel de Literatura descobriu-se finalmente o quã o
ela está desde sempre imiscuída no rock, Quem foi buscar o premio foi a musicista Patti
Smith, autora de dois livros já editados no Brasil e poetisa desde priscas eras. O que nã o
dizer das letras de John Lennon, Jon Anderson, Cazuza e Renato Russo?
Algo que sempre uniu artistas plá sticos (incluindo principalmente fotó grafos) voltados ao
rock e roqueiros em geral sempre foi a literatura. Todo fotó grafo e artista plá stico voltado
ao rock que conheci eram muito loucos!
Temos Luiz Carlos Maciel (conhecido como nosso guru da contracultura, mesmo que ele
quisesse negar isso, falecido em dezembro de 2017), Jorge Mautner, Plínio Marcos,
Hermann Hesse, Aldous Huxley, George Orwell, entre muitos outros literatos que fizeram
nossa cabeça enquanto descansá vamos dos discos de vinil e fitas cassete.
Futuro
Penso muito no futuro. Mas nã o no meu futuro. No futuro do mundo, no futuro da Terra.
Quero presenciar a soluçã o ambiental. Os androides na rua e em casa. A TV 4D. A fotografia
3D palpá vel. A internet das coisas valendo de verdade, sem tantos impostos. Viagens
interestelares.
Acredito na diversidade. Acredito no ser humano. Acredito no futuro com otimismo.
Acredito numa evoluçã o mental, espiritual e física, dentro de uma mesma geraçã o.
Quero acreditar.
Quero estar lá .
Método de Escrita
Desde menino, sempre utilizei a má quina de escrever de meu pai, criando meus textos
diretamente nela.
Entretanto, como dificilmente tinha essa oportunidade, escrevia num caderno, colocando
título e tudo. Nunca copiei do caderno para a má quina, nã o por qualquer outra razã o senã o
por falta de ideia.
Mesmo assim, a escola fazia com que escrevesse tudo em cadernos ou folhas de papel
almaço.
Minha letra era horrível, sofrível – ainda é, menos quando a desenho, se tiver tempo para
isso. Meus professores sempre reclamaram desse fator e nunca consegui consertar.
Atualmente, à s vezes ainda escrevo à mã o, para nã o perder a prá tica, mas aperto demais a
caneta ponta fina e minha letra continua sendo... ahff!
Quando entrei na faculdade de jornalismo (Comunicaçã o Social) ganhei de meu pai uma
má quina de escrever portá til Lettera. Foi entã o que comecei a literalmente pensar na
má quina, sem rascunhar à mã o, e levar em meu bolso da camisa sempre um bloquinho de
folhas – feito por mim mesmo – para anotar impressõ es ou que quer que viesse à cabeça
antes de desenvolver na má quina de escrever.
Os tempos passaram e facilmente me adaptei ao Word do computador. Abandonei a
má quina de escrever e passei a pensar diretamente na frente da tela do PC. Minhas
anotaçõ es faço-as num caderno, se estiver em casa, ou em meu Kindle, se estiver fora.
Depois desenvolvo no PC. É meu método atual. Pode ainda mudar, se algo mais na minha
vida se modificar. Estou sempre aberto a novos métodos, embora o princípio nã o se altere.
Medianos
Sociedade Alternativa
A Contracultura construiu no mundo ocidental um anti-estabelecimento à sociedade como
conhecíamos, a exemplo de outros movimentos anteriores sociais, industriais, políticos etc.
Como sempre acontece, houve uma transformaçã o dialética em direçã o à sociedade como a
observamos atualmente.
A Sociedade Alternativa floresceu, mas nã o se estabeleceu: mudou aquilo que conhecíamos.
O que vemos hoje é algo dinamicamente equilibrado cujos valores, bons e maus, estã o se
construindo.
TEMPO
O Tempo é uma passagem. Uma partícula de instante. Ele só existe agora, no presente. Luiz
Carlos Maciel, em seu ú ltimo livro, O Sol da Liberdade, chega a dizer que o presente inexiste.
O passado é constituído pela memó ria; o futuro pela imaginaçã o.
Opostos
As trevas sã o a ausência da luz, nã o o seu oposto, assim como o mal é a ausência do bem,
nã o seu oposto.
O oposto da luz é a pró pria luz, assim como o oposto do mal é o pró prio mal.
O bem é composto pelas forças yin e yang, assim como o mal; a luz contém em si as forças
complementares, assim como as trevas.
Uma alimentaçã o equilibrada nem sempre é boa, depende dos elementos que a compõ e: se
sã o complementares bons, ela é boa e vice-versa.
Quando se diz que os opostos se atraem, é porque sã o complementares, nã o díspares.
A grande falá cia é confundir a ausência de algo com sua oposiçã o.
Quantidade de erva
Para se tomar chimarrã o, tem-se que colocar determinada quantidade de erva na cuia.
Essa quantidade é discutível; em outros tempos, aconselhava colocar três quintos de cuia
cheia de erva, medida antes de socar. Noutros, dois terços.
Atualmente, coloco duas colheres bem cheias na cuia que venho utilizando: tem dado muito
certo e perfeito.
Na verdade, quanto mais erva se coloca mais saboroso fica; quanto menos, menos
possibilidade de entupir. Aprendi isso pelo costume, nã o sei se é regra, mas comigo
acontece dessa maneira.
A escolha ideal está entre a praticidade e o sabor: um meio-termo, como no Tao. Eu achei
minha medida pessoal, estritamente para essa cuia. Quando uso outra, devo achar outro
equilíbrio.
Pessoa diferente, padrõ es diversos.
Leituras digitais
Já fazem quase dois anos que comprei meu Kindle 7ª geraçã o. Já li e reli diversos textos
nele. O que mudou?
Muita coisa.
Nosso computador pessoal está ligado em nossa tevê. Além do mais, ele guarda vá rios
livros e textos em geral, alguns que eu mesmo construí, os quais baixo para meu Kindle.
Agora, dificilmente jogo textos fora. Normalmente os envio do computador para o e-Reader
via e-mail. Entã o, terminando de ler o livro, mando-o para a nuvem, onde podem ser
guardados milhõ es de títulos, talvez mais. E quando o quero reler, desde que tenha Wi-Fi, é
só baixá -lo da nuvem, dispondo-o assim para meu deleite.
Como já disse noutra feita, nã o deixei de ler e adquirir livros físicos, mantendo
normalmente nossa biblioteca nã o-virtual.
E a filosofia?
Stephen Hawking e Leonard Mlodinow, autores do livro O Grande Projeto (The Grand
Design), logo no primeiro capítulo, pouco apó s o início, escrevem que a filosofia está morta.
E continuam dizendo que ela não tem acompanhado a evolução da ciência, particularmente
da física.
Ora, sã o duas matérias diversas, uma nã o tem nada a ver com outra. Como podem dizer que
a filosofia está morta? Nã o a conhecem, isso é verdade, por isso se acham no direito de
julgá -la. A filosofia, como a física, continua discutindo a realidade e sua natureza, o
comportamento do universo, o mundo em que nos encontramos, entre outras dú vidas
colocadas pelos autores em sua obra conjunta. Eles perguntam ainda: O universo precisou
de um criador?
Considero-os orgulhosos demais em sua posiçã o, anacrô nicos quanto a isso, pois tal
questã o já foi inumerá veis vezes posta em questã o, desde séculos, e nunca foi resolvida.
Eles ainda dizem que Os cientistas se tornaram os portadores da tocha da descoberta, em sua
busca pelo conhecimento.
Com todo o respeito pelos autores, mas... nã o é muita pretensã o?
Inesperado
O Inesperado acontece
Nada impede
Quero coca zero
E ganho guaraná
Nas alternâ ncias do cotidiano
Tudo é imaginaçã o
Imprevisivelmente contido.
- março de 2018 –
Como ler os Clá ssicos
Extensõ es do Homem
Li Marshall McLuhan pela primeira vez aos 23 anos e, com toda minha arrogâ ncia, achei
que o tinha entendido.
Aos 59 reli Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem e notei o quã o nada
entendera em minha juventude.
O que quero ressaltar é que em 1935, portanto algumas décadas antes de McLuhan,
Monteiro Lobato trouxe a lume História das Invenções, livro infanto-juvenil, contando como
as tecnologias eram extensõ es dos ó rgã os humanos.
Senã o, vejamos o índice:
I. O bicho inventor;
II. Da pele ao arranha-céu;
III. Da pele ao arranha-céu (continuaçã o);
IV. A mã o;
V. Mais mã o;
VI. Ainda a mã o;
VII.Ú ltimas mã ozadas;
VIII. O pé humano;
IX. O pé que roda: a roda;
X. O pé que voa: o aviã o;
XI. A boca;
XII.O nariz;
XIII. O ouvido;
XIV. O olho.
Por exemplo, quando ele fala da boca, cita o rá dio, que sem fio transmite sinal vocal aos
ouvidos de outrem. Quando fala do ouvido, cita o estetoscó pio.
Nã o sei se o autor norte-americano leu o brasileiro antes de ter ideia para seu livro, mas é
algo que deve ser levado em conta. Lobato foi um homem de sua época, embora com olhos
no futuro. Sempre com olhos no futuro e os pés no presente, bem firmes.
O livro de Lobato, de 1935, foi sobre o História das Invenções - O Homem, o Fazedor de
Milagres, de Hendrick Willem Van Loon, de 1934. Neste livro, o autor holandês, no capítulo
II, logo no início, fala que algumas das invençõ es idealizadas são meras multiplicações
(extensões, intensificações ou aumentos) de certos atributos físicos, tais como “falar, “andar”
“atirar”, “ouvir”, ou “ver”(...). Pode ser esse autor, que na época vivia nos Estados Unidos,
onde lançou sua obra, que inspirou McLuhan. Senã o, vejamos o índice:
I – O homem, o bicho inventor
II – Da pele ao arranha-céu
III – A mã o domesticada
IV – Do pé à má quina de voar
V – As vá rias bocas de mil sabedorias
VI – O nariz
VII – O ouvido
VIII – O olho
Quem sabe de onde McLuhan tirou sua ideia? Em seu livro, o índice indica, entre outras
coisas:
6. OS MEIOS COMO TRADUTORES
SEGUNDA PARTE
8. A PALAVRA FALADA
9. A PALAVRA ESCRITA
10. ESTRADAS E ROTAS DE PAPEL
15. RELÓ GIOS
16. TIPOGRAFIA
17. ESTÓ RIAS EM QUADRINHOS
18. A PALAVRA IMPRESSA
19. RODA, BICICLETA E AVIÃ O
20. A FOTOGRAFIA
21. A IMPRENSA
22. O AUTOMÓ VEL
24. JOGOS
25. TELÉ GRAFO
26. A MÁ QUINA DE ESCREVER
27. O TELEFONE
28. O FONÓ GRAFO
29. O CINEMA
30. RÁ DIO
31. A TELEVISÃ O
32. ARMAMENTOS
33. AUTOMAÇÃ O
É uma questã o de ler os livros e analisá -los. Você pode ter uma opiniã o diferente da minha.
Foi em 1999. Eu já havia mexido com computadores antes, mas nã o desse tipo – o CP, ou
PC.
Houve uma vez, numa feira de informá tica em Campos do Jordã o, em 1984, em que fiquei
animado em criar mú sica no computador. Comprei uma fita cassete, que servia de
memó ria, e compus a mú sica, naturalmente com o auxílio técnico do rapaz que expunha o
aparelho. Incipiente, monó dica, mas estava lá , e serviu para meu trabalho de conclusã o de
curso (TCC), em Santos.
Antes disso, em 1978, digitei algumas poucas palavras que foram impressas em cartõ es
perfurados, na estaçã o de saneamento de á gua e esgoto de Piracicaba.
Portanto, em 1999 um rapaz – técnico em computaçã o – montou para nó s o que seria nosso
primeiro computador pessoal. Demos a ele o nome de Lethfaca. Só deu azar!
Dava pau toda hora, a gente nunca sabia como resolver, e qualquer coisa o levá vamos para
o técnico. Era perto de casa e ele sempre ficava nervoso com o fato de nã o sabermos como
arrumar.
O computador primeiro ligava no DOS e daí tínhamos que entrar no Windows. Uma
complexidade terrível!
Ainda nesse ano instalamos a internet. Naqueles dias, a conexã o demorava e enquanto a
internet estivesse ligada você nã o podia receber nem fazer ligaçõ es telefô nicas: a linha
ficava ocupada.
Passar de uma pá gina para outra demorava tanto que comprei pesinhos para me exercitar
enquanto isso acontecia.
Só de me lembrar de tantas quantas foram as mudanças até hoje, sinto-me navegando num
mar plá cido e reluzente... Claro, espero melhoras, porém nã o sou futuró logo para sabê-las.
O que sei é que, depois de mais alguns outros PCs que adquirimos, que tiveram nomes,
decidi que nenhum mais o teria! Foi o que bastou para terminar com o azar. Agora ele é um
computador impessoal (IC).
Nú meros e Letras
Quando olho para nú meros, nã o faço cá lculos imediatamente, mesmo que estejam
dispostos para tanto. Principalmente quando sã o entremeados por sinais de cá lculos.
Isso me acontece também quando leio certos textos, nã o sei especificar quais.
Acabo meditando sobre os nú meros, as letras, as palavras e, à s vezes, sobre as frases. Sua
simbologia, a musicalidade, a estética.
Por isso minha leitura se torna tã o lenta. Inclusive quando leio mexendo os lá bios, para
ouvir a poesia.
Noutras oportunidades, viajo rapidamente pelos textos, silenciosamente, sem me ater a
divagaçõ es, quando parece nã o oferecer poesia ou meditaçã o alguma.
Registros musicais
Vamos começar falando de como conheço o cantar de Francisco Alves (Chico Viola). Minha
avó o adorava e colecionava discos dele. Temos hoje, de recordaçã o, menos de quinze
bolachõ es de 78 rpm, ao todo menos de trinta cançõ es. Naturalmente sã o registros, para os
moldes de hoje, precá rios. Mas já foram, um dia, o que havia de mais moderno em termos
de gravaçõ es musicais.
Os Beatles gravaram seu disco Seargent Peppers, de aproximadamente quarenta minutos
de duraçã o, em um estú dio de quatro canais, em fita de rolo, que era o que havia de melhor
em 1967.
Das composiçõ es de Mozart, tudo o que temos hoje sã o suas partituras e relatos de época
sobre sua maneira de tocar. Nã o sabemos realmente como ele tocava pois nã o temos
registro sonoro dele. O que, na verdade, seria isso mesmo: apenas um registro sonoro. Mas
seria mais do que temos agora.
Com o YouTube podemos assistir diversos mú sicos antigos tocando em apresentaçõ es
diversas e conhecê-los assim um pouco melhor. Alguns podem ser uma bela surpresa,
outros uma decepçã o, mas é sempre uma forma de conhecimento.
Isso nos faz pensar no que os mú sicos antigos fariam se tivessem a tecnologia de hoje
disponível! Por que os atuais nã o conseguem dispor dessa mesma tecnologia com a
criatividade dos antigos? O que ocorre com os mú sicos de hoje, que têm tanto a seu dispor
e de nada aproveitam? Secou a fonte?
Percussã o
Instrumentos de percussã o na orquestra erudita nã o acompanham o ritmo. Isso seria uma
funçã o por demais ó bvia.
No entanto, na mú sica popular, isso acontece com uma constâ ncia demasiada. É comum
ouvirmos cançõ es com aquele tchic-tchic acompanhando o ritmo de forma tã o ó bvia que
cansa!
Já nã o falo dos instrumentos de percussã o determinados, naturalmente criativos, mas dos
indeterminados, que podem ser utilizados de diversas formas, nã o precisando ser
repetitivos pela cançã o inteira. Isso os torna enfadonhos, entediantes.
Os instrumentos de percussã o têm que adentrar na harmonia da cançã o, deixando a
marcaçã o do ritmo no ar, para que o ouvinte a alcance naturalmente.
Brian Jones
Chimarrã o de micro-ondas
Ontem fui esquentar a á gua para meu chimas quando percebi que o gá s havia acabado.
Naturalmente pensei em trocar o botijã o, mas ao fazê-lo e testar com a esponjinha
embebida em detergente, as bolhas eram presentes, por mais que destravasse e travasse
novamente.
Como era domingo, nã o dava para ligar para o fornecedor. Entã o, decidi esquentar a á gua
no micro-ondas. Simples. A princípio. Precisei fazê-lo pouco a pouco, até chegar a dois
minutos e quarenta segundos, quando me pareceu, sempre testando, que a á gua chegara a
setenta graus Celsius, aproximadamente, que é a temperatura ideal para o chimarrã o.
Voltei a fazer o mesmo hoje pela manhã : nã o foi uma boa experiência, mas valeu a pena
tentar. A sensaçã o que tive é que a á gua ficou mais “pesada”...
O melhor que já consegui foi esquentá -la no fogo da churrasqueira. Parece que a fumaça
melhora, nã o só a carne, mas qualquer outra coisa, como já fizemos com feijoada.
Claro que o ideal é usar á gua de fonte! Á gua mineral eu acho frescura, quando a á gua de
torneira for bem tratada. Uma boa á gua faz a diferença, assim como a maneira que é
aquecida, a erva utilizada, a maneira de colocá -la, o formato e a idade da cuia, entre outros
fatores. Mas esquentar a á gua para o chimarrã o no micro-ondas, cá entre nó s, só em ú ltima
necessidade. Mesmo.
Ah, sim, na segunda-feira chamei o cara do gá s para dar uma olhada no botijã o e era defeito
numa borrachinha, parecida com a de torneira, que ele imediatamente trocou. Ficou bom.
Uma pergunta crucial para o ser humano é o porquê de sua existência. Por que existo?
A religiã o ou a filosofia podem dar uma resposta, mas é pouco. É sempre racional demais
para o que precisamos. Podemos momentaneamente achar uma resposta, que nã o pode ser
descrita em palavras, mas ainda assim nã o nos damos por satisfeitos.
Na série Jornada nas Estrelas – A Nova Geraçã o (4ª temporada, episó dio 3, “Brothers”), há
uma cena em que o androide Data pergunta a seu criador, Dr. Soon, o porquê de ter sido
criado.
Nã o importa aqui a resposta, assista ao episó dio, mas a pergunta de Data. É a pró pria
indagaçã o que o ser humano faz a Deus. Na série, o androide pergunta a quem o criou o
propó sito de sua existência. É algo tã o sensível, tã o pró prio da dú vida primordial, que
pensamos em Data como o pró prio ser humano perguntando a Deus.
Por mais que obtenhamos uma resposta, nunca é satisfató ria. Se a ciência pudesse dizer
algo a respeito, seria totalmente impró prio e impalpá vel, porque estaria sujeito a futura
alteraçã o (como é pró prio à certeza científica).
Se um ser humano nos respondesse, poderíamos acreditar ou nã o, ter fé ou duvidar. Se
Deus nos respondesse nã o teríamos a capacidade de compreender.
Ou talvez a resposta seja tã o simples e palpá vel que nã o a saibamos, ainda que esteja a
nosso pró prio redor.
Poema
Palavras da Década
Nesta década de 2010 – estamos em 2018 – algumas palavras sã o muitíssimo usadas no
Brasil. De certa forma, isso ocorre também em outras partes do mundo, com suas
traduçõ es.
Aqui, alguns dos vocá bulos mais utilizados têm sido, incluindo suas variaçõ es:
. interagir;
. conectar;
. atualizar e
. acessar.
Apesar de serem pró prios aos computadores, seu uso ocorre em todas as outras á reas.
Em minha vida, sempre vi isso acontecer. Algumas palavras de algum jargã o --nã o gírias,
que é outro caso – começam a ser usadas por todo mundo, como se fossem parte do
vocabulá rio do dia-a-dia, e têm um tempo de vida. Eu mesmo utilizo com frequência
algumas, nã o exatamente as da moda. Estas, tenho o costume já antigo de evitar.
Já vi ocorrer isso com palavras advindas da comunicaçã o social, do mundo dos executivos, e
até especificamente da publicidade e propaganda – como adequar – entre outras.
Roberto Muggiati, na ediçã o de 1973 de seu livro Rock, o Grito e o Mito, comenta que os
jovens norte-americanos, desde o segundo meado dos anos 1960 até entã o, tinham suas
gírias voltadas para a tecnologia sobre o rock, e cita algumas: groovy, que seguramente se
originou no microgroove do LP, turn on, good vibes, high etc.
Lei do Carma segundo eu mesmo
Ao se produzir determinada energia, o que é feito de acordo com o ato praticado,
automaticamente produz-se também sua contrá ria equivalente, feito imagem e reflexo.
No cotidiano, é difícil perceber o que é reflexo de qual determinada açã o, ou conjunto de
açõ es. Ora, a forma com que essas energias e seus reflexos se apresentam nã o sã o, no geral,
coincidentes.
Nem sempre, por exemplo, o equivalente a um homicídio é outro homicídio contra quem o
praticou. Podem ser atos contínuos de violência em sua vida contra si mesmo, ou um
acidente grave, ou ganhar muito dinheiro e ser roubado minutos depois.
A dependência do reflexo cá rmico varia também de acordo com a escala de valores do
pró prio indivíduo.
Isto nã o é doutrina, apenas uma reflexã o.
O Big Bang
O cheiro do livro
As pessoas falam muito sobre isso quando defendem o livro físico sobre o digital. Ah, o
cheiro do livro é característico, tem que ser preservado!
Na verdade, nada substitui o aroma de um livro novinho; só o de um livro antigo... É muito
gostoso entrar num sebo e sair com uma sacola de exemplares exalando aquele ar de
usado.
Difícil mesmo é o cheiro de livro mofado, esse ninguém aguenta! É nessa hora que entra o
e-book: fragrâ ncia de eletrô nico é melhor que de mofo, tenho certeza de que ninguém
discordará de mim, a nã o ser algum arremedado.
Deepak Chopra, em seu livro Como Conhecer Deus, disse que o Genesis é agora.
Com isso, está expressa a ideia de que ocorre a todo instante a criaçã o do mundo, quiçá do
universo, ou até extrapolando, de todos os universos!
É a velha tese de que tudo muda a todo instante, tudo se recria sempre...
Ora, por outro lado, ao contrá rio do que ele afirma nesse livro, penso que Deus deixa
pegadas bem visíveis na realidade. É fá cil de se observar isso.
No meu tempo de escola, o professor de ciências reclamou certa vez das enciclopédias, em
especial da Barsa.
Disse que viciavam os alunos em suas pesquisas, que nã o buscavam mais os livros em geral,
nas bibliotecas, para encontrar as respostas para as suas dú vidas, mas que ficavam com o já
mastigado e fá cil das enciclopédias. Elas trariam todos os principais assuntos escolares de
maneira facilitada.
Nã o sei o que pensa ele hoje sobre a internet.
Pessoalmente, ainda guardo e à s vezes consulto minha enciclopédia Barsa, mas também
busco os livros, sejam eles físicos ou digitais. Somo a tudo isso a internet. Espero que isso
valha para meus filhos e netos.
No início do século XIX preconizou-se o fim do livro. A razã o seria o advento da imprensa
escrita. Segundo Alberto Dines, em O Papel Do Jornal – Uma Releitura, a imprensa escrita
era considerada pelos contemporâ neos de entã o muito mais rá pida para o leitor se
informar que o livro. E assim o superaria.
Muitas vezes na histó ria aconteceu isso. Dines, em seu livro, fala ainda que a tipografia
poderia ter sido um ponto final para os manuscritos, mas isso demorou a acontecer.
Vemos o mesmo em diversos veículos de comunicaçã o. Disseram que o cinema acabaria
com os livros, assim como o fonó grafo, que a má quina de escrever faria as pessoas
deixarem de escrever à mã o, que a televisã o acabaria com o rá dio e com o cinema etc.
Agora a conversa é que os livros eletrô nicos (e-books) eliminarã o os livros tradicionais de
papel.
Será que nã o se cansarã o de fazer sempre a mesma previsã o?
O som é produzido por vibraçõ es no ar sentidas pelos nossos ouvidos. E pelo nosso tato.
Quando um bumbo amplificado toca, ouvimos com nossos ouvidos e sentimos sua vibraçã o
em nossa barriga.
Quando uma orquestra toca, podemos, além de ouvir com nossos ouvidos, sentir com
nossos corpos a vibraçã o dos sons, principalmente se o chã o for de madeira acarpetada e
estivermos sentados em poltronas.
Há uma famosa tese filosó fica que pergunta se o som existe quando uma á rvore cai na
floresta e nã o há ninguém por perto para perceber as vibraçõ es. Há quem diga que o som
nã o existe nesse caso porque para ele existir tem de se completar a ligaçã o, isto é, haver a
criaçã o do som e sua recepçã o.
A existência de Só crates
Só crates, o antigo filó sofo grego, nã o deixou nada escrito. Ele, segundo disseram – e
escreveram – temia que a escrita fizesse com que abandoná ssemos a memó ria.
Nunca pensou que adquiriríamos um novo tipo de memó ria, como se fosse um índice
catalogador de uma imensa biblioteca, ou de arquivos de um computador, em vez de
apenas alguns livros.
Francisco Bosco, em seu livro Alta Ajuda, no capítulo Modos de Saber, informa que “na
Antiguidade um leitor que tivesse lido cem livros era considerado um sá bio; cem livros é,
hoje, o que um intelectual estudioso pode ler num ano –“.
Se Só crates escrevesse – e se seus livros durassem até hoje – saberíamos que tal filó sofo
realmente existira e como realmente ele pensara e se exprimira.
No presente, tudo o que sabemos é o que escreveram Platã o e Xenofonte sobre o que ele
teria dito. Seu busto, preservado até hoje, pode ter sido apenas uma escultura posada por
um modelo outro que nã o o pró prio Só crates.
O bom selvagem?
Jean-Jacques Rousseau, em O Contrato Social, escreveu que o homem nasce bom e que a
sociedade o corrompe.
Nã o é ele, como disse Luiz Felipe Pondé, no Guia Politicamente Incorreto da Filosofia, o
precursor do politicamente correto de nossos dias.
Ora, Rousseau nã o dizia que o ser humano selvagem, distante da civilizaçã o, era bom, mas
sim o que acabou de nascer. Pois o selvagem guerreia, briga, luta para conseguir alimento,
como o civilizado. Igual é o ser que acaba de nascer, seja no meio selvagem ou no meio da
civilizaçã o.
O Mito da Caverna de Platã o revisitado
Vá rios homens viviam dentro de uma caverna acorrentados, vendo apenas imagens na
parede à frente formadas pelas sombras do que se passava do lado de fora.
Eles nã o conheciam a realidade, apenas as sombras, desde que nasceram.
Um dia, porque toda histó ria tem um dia... Pois, um dia cinco deles se soltaram das
correntes e foram para fora. A luz do dia lhes ofuscou a vista, pois nã o estavam
acostumados com tanta luminosidade. Com o passar do tempo se acostumaram e puderam
ver que a realidade era muito mais do que as sombras.
O primeiro nã o suportou o que viu e voltou a se acorrentar na segurança da caverna, sem
comentar nada com ninguém.
O segundo retornou e contou a todos o que viu; foi dado como insano e foi acorrentado
contra sua pró pria vontade.
O terceiro se deslumbrou com o que viu e nã o quis voltar, mas era tanta informaçã o que
enlouqueceu.
O quarto percebeu o quã o maravilhosa era a vida com a liberdade da luz e nunca regressou.
O quinto sabia que nunca mais poderia voltar, pois o passo que dera ao sair da caverna era
definitivo: sua vida nunca mais seria a mesma...
Onde está a moral da histó ria?
Tudo Nã o Muda
Quando declinamos a má xima Tudo Muda, queremos dizer que todas as coisas e todos os
seres mudam. A todo instante.
Nada ou ninguém é o mesmo no momento presente do que foi no passado ou do que será
no futuro.
Ora, se assim é, se tudo muda, isso quer dizer que existe uma infinitude que nã o se altera
nunca. Faz parte do processo do tudo mudar... Se Tudo Muda, algo e alguém nã o muda. Isso
é ló gica, pura ló gica.
É o que tenho a dizer por enquanto.
Caraguatatuba, 29 de agosto de 2018.
Quase Democracia
Estamos passando, neste período entre o primeiro e segundo turno das eleiçõ es
presidenciais de 2018, por uma situaçã o inacreditá vel!
Nunca tivemos uma disputa em que os eleitores estivessem tã o acirradamente contra uns
aos outros. Nã o há discussõ es, há somente brigas, um lado diametralmente oposto a outro
lançando vitupérios. Nã o há democracia, apenas ignorâ ncia imperando entre as partes
concorrentes.
Quando, anos atrá s, Lula concorreu com Collor no segundo turno, os eleitores que votariam
contra o Lula tinham, na verdade, medo do que ele faria se entrasse. E os eleitores que
votariam contra o Collor temiam uma perpetuaçã o dos ricos no poder. Ora, Collor venceu e
fez coisas que seus eleitores temiam que Lula fizesse se ganhasse. Claro que os ricos, no
final, continuaram ricos, e os pobres, pobres... E Collor nã o terminou o mandato, embora,
anos depois, tenha sido eleito senador pelos alagoanos.
Agora, com Haddad versus Bolsonaro, nã o temos um vislumbre das possibilidades de cada
candidato, apenas especulaçõ es. Nã o sabemos quem está por trá s de cada um, especulamos.
Nunca o Brasil ficou tã o dividido! Os eleitores estã o brigando com seus amigos e familiares
por causa de política eleitoral, um absurdo! O que deveria ser uma eleiçã o democrá tica está
virando quase uma guerra civil.
Vamos aguardar o que acontecerá , para entã o apoiarmos o futuro presidente do país, seja
lá quem for. E assim o faremos enquanto ele respeitar os direitos fundamentais do ser
humano e a Constituiçã o brasileira.
Caraguatatuba, 15 de outubro de 2018.
O Médico e o Monstro
Dorian Gray
Muita gente nã o leu o livro O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, e acha que sabe sobre
o que é. Nã o sabem.
As pessoas acham que o retrato mostra o envelhecimento do personagem principal
enquanto ele permanece jovem na realidade.
Ora, há mais do que isso: o retrato mostra também o desenvolvimento da personalidade de
Gray, ou, como diz o autor, seus pecados...
Na verdade, isso é o mais importante na histó ria, pois o envilecimento no retrato é mais
notá vel que o pró prio envelhecimento.
Outro erro que ocorre por quem nã o o leu é dizer que o retrato tem esse poder em razã o de
um pacto com o demô nio que Dorian Gray teria feito; isso nã o é deste livro, pois o que
ocorre é pelo simples desejo profundo do personagem. A participaçã o diabó lica pode até
ser subentendida por algum leitor, mas isso seria um hiper-texto.
Caraguatatuba, 27 de outubro de 2018.
A Vida é Diluir-se
Bits
Quando lançaram no mercado o CD, disseram seus propagadores que se tratava de uma
mídia invencível, que nã o se degradava, que era indestrutível por pisadas de botas sobre o
material gravado, além de um som muito mais puro que o do vinil e, naturalmente, da fita
magnética.
Tudo se revelou, com o passar do tempo, um tremendo engodo. Eu mesmo tenho em casa
vá rios CDs que pulam em determinadas faixas, as quais se tornaram impossíveis de se
tocar. Em compensaçã o, tenho discos em vinil riscados que, apesar de pularem em vá rias
faixas, nã o deixam de tocar.
É certo que a vinda do som digital trouxe alguns avanços, ouço muita mú sica dessa forma,
mas ainda tenho meus vinis.
O mesmo se dá com os livros. Quando Johannes Gutenberg ocidentalizou a prensa, os
manuscritos, que eram feitos um a um, raríssimos e por isso caríssimos, foram pouco a
pouco sendo substituídos por escritos impressos. Estes se multiplicaram em quantidade e
diminuíram razoavelmente o preço do exemplar.
Ao mesmo tempo, muito mais autores passaram a ser lidos. E muito mais exemplares de
cada livro existiam para serem adquiridos e conservados nas bibliotecas pú blicas e
particulares.
Criaram-se as editoras, que escolhiam quem deveria ser publicado e quem nã o. Com tal
fato, muitos autores publicaram suas obras por conta pró pria. Inclusive, nos anos 1970 e
início dos 1980, houve o movimento da literatura marginal, em que, além de se publicar
externamente à s editoras, nã o raro as publicaçõ es iam além do tradicional formato-livro.
Com a criaçã o dos e-Books (livros eletrô nicos) e dos á udio-livros, deixa-se de ser o papel
(ou a seda, o pergaminho...) o ú nico meio de se propagar ideias. A multiplicaçã o de títulos
aumenta consideravelmente. Isso porque, além de se ter os livros que já existiam
fisicamente e agora podem ser digitados, ou gravados, há inú meros títulos que nascem
digitais.
O que vem tudo isso a dizer? Que estamos pensando em conservar com mais facilidade os
livros de nossa civilizaçã o em bits. Mas assim como o papel, a seda, o pergaminho, os
microfilmes, os CDs, os discos, as fitas magnéticas, os bytes também se desgastam: Bits se
degradam com o passar do tempo. Documentos podem se perder no ciberespaço por conta da
obsolescência da mídia em que estão registrados. (Robert Darnton – A Questão dos Livros,
Parte I, cap.2).
Ednei Procópio, no glossário de seu livro Construindo uma Biblioteca Digital, quando fala
sobre backup, escreve: já se foi dito que o papel dura até dez vezes mais que os HDs (...) e até
mesmo CDs. (...) com o passar de dois mil anos, livros escritos em papel ainda se mantinham
intactos... E arquivos eletrônicos criados dois anos atrás eram simplesmente inacessíveis.
Craguá , 16 de outubro de 2018.
Rita Lee
Quando comecei a ir aos shows de Rita Lee & Tutti-Frutti, está vamos pelo meio dos anos
1970 e seu pú blico era de uma juventude roqueira brasileira, que andava com roupa fulêra
e nã o militava na política, como o pú blico da MPB, que nos desprezava.
Naquele tempo, na cidade de Sã o Paulo, era mais ou menos sempre a mesma turminha que
ia aos shows de rock. Rita Lee tinha seu pú blico específico, entretanto, pois era quem mais
vendia discos e sempre tinha alguma cançã o na parada de sucessos – o que em bom
português se convencionou chamar de hit parade.
Como acontecia com todas as bandas, Rita Lee também era muito melhor ao vivo do que
nos discos. Nã o só na qualidade intrínseca musical, mas na sonoridade. O que se ouve hoje
nos discos que ficaram é apenas uma sombra do que rolava naqueles dias.
Houve, porém, uma particular mudança de pú blico em 1978, quando ela desmanchou o
Tutti-Frutti e lançou o Cã es e Gatos. Em sua autobiografia Rita deplora esse período. Para
mim também foi uma decepçã o, mas por outra razã o que a da musicista: nã o encontrei os
antigos roqueiros na plateia, e sim famílias comportadas, sentadas em suas poltronas.
A partir de entã o, quem começou em casa a comprar seus discos foi meu pai...
Claro, um dia, mais para a frente, eu também formaria uma família só para chamar de
minha. Porém, sua mú sica mudou muito e nunca mais tive ganas de frequentar shows da
Rita Lee.
Caraguatatuba, 16 de novembro de 2018.
Adendo
Rita Lee abriu as portas para as novas cantoras brasileiras que cantam rock,
principalmente as que lideram bandas. Se nã o fosse por ela nã o haveria Ana Cañ as, por
exemplo, ou Pitty.
27/11/2018.
Livros de Arte
Como preservar livros de arte? É o mesmo que perguntar como se preservar obras de arte,
monumentos histó ricos, artefatos etc.
Há dois tipos de livros de arte: o primeiro é aquele que registra obras fotografando-as,
descrevendo-as de alguma forma; o segundo, que é o que tratarei aqui, é o que é, em si, uma
obra de arte.
Nã o dá para digitalizá -lo, pois a có pia nunca trará a exata aparência do original.
Imaginemos entã o uma có pia do livro de arte, enquanto objeto artístico, em três
dimensõ es, para gá udio de admiradores de geraçõ es futuras. O material nã o seria o mesmo
do original, mas um plá stico ou algo que o valha. Talvez possa se parecer com o original, ter
as mesmas cores, até o mesmo cheiro. Mesmo assim é uma có pia.
Atualmente, mapas antigos e livros de arte do primeiro tipo sã o escaneados em arquivo
PDF, o que os torna impossíveis de serem vistos por um e-Reader (leitor de livros
eletrô nicos), mas de alguma forma possíveis por um computador de mesa, por exemplo. O
segundo tipo, por enquanto, é impraticá vel de ser devidamente copiado.
Caraguatatuba, 16 de novembro de 2018.
Ops!
Falamos tanto sobre leitura que vamos nos esquecendo que vivemos num país repleto de
analfabetos funcionais. Em pleno 2018!
É tã o normal falar-se de internet das coisas como se vivêssemos num país que tivesse pelo
menos eletricidade em cem por cento de seus municípios. Em pleno 2018!
Sofistas e a Dialética
Adendo
A á gua mineral que temos em casa é com gá s. Nã o serve para o chimarrã o.
Estou usando á gua da Sabesp mesmo, que aqui em casa é muito boa, e vou levando...
23/11/2018.
Cá ssia Eller
Ninguém abriu espaço para Cá ssia entrar. Ela derrubou barreiras musicais e adentrou com
seu vozeirã o cantando de tudo, do samba ao baiã o, da MPB ao rock!
Nã o discuto sua questã o sexual, que é externa ao plano musical, nem a causa de sua morte,
que acho que até hoje nã o foi bem explicada, mas seu modo de cantar.
Nunca houve, antes, durante, ou depois de sua vida, outra cantora com tanto potencial
ainda por explorar. Tinha muito ainda a dar, muito a experimentar. Sua voz era inigualá vel.
O pouco que ela deixou gravado mostra isso.
Cá ssia Eller nã o deixou discípulos nem seguidores.
Novembro de 2018.
Bixo da Seda
A primeira vez que vi o Bixo da Seda foi quando ele veio para um supershow de rock que
aconteceu num giná sio esportivo na capital paulista. Eram vá rias bandas e eles fecharam a
madrugada, terminando à s cinco horas da manhã .
Eram de Porto Alegre, e achei o som deles excepcional, muito pesado e bem tocado. Decidi
que compraria seu disco.
Tempos depois, fui a uma loja e o comprei: Estação Elétrica. Ao chegar em casa e botá -lo na
vitrola, o que senti? Uma enorme decepçã o! Nã o tinha nada a ver com o que eu tinha ouvido
no show, faltava peso, empolgaçã o, faltava som!
Normalmente, como já falei antes, isso sempre acontecia com os discos de rock no Brasil. As
gravadoras, os produtores, deixavam-nos com cara de mú sica brega, as vozes lá em cima, as
guitarras lá embaixo junto com a bateria e os teclados, o baixo no meio. Como minha
vitrolinha era uma sonatinha estereofô nica, nada ajudava.
Passaram-se as décadas. Vieram os CDs, os DVDs, o YouTube, o som digital.
Há poucos dias meu amigo Marcelo terminou de consertar minha vitrola CCE, que nã o é o
que melhor se pode ter, mas é bem melhor que minha antiga sonatinha. Coloquei para
ouvir o disco do Bixo da Seda. E nã o é que ele é muito bom? Tenho que me lembrar que ao
vivo era bem melhor, mas nã o posso deixar de reconhecer de que a gravaçã o me deixou
feliz. Nã o pela recordaçã o, mas pela mú sica mesmo, em si.
Achei-os no YouTube, tocando ao vivo, em gravaçã o recente. Nã o é a mesma coisa que ouvir
num vinil, enchendo as caixas de som... Mas para quem nunca os ouviu, é uma boa ideia pra
se conhecer como estã o atualmente. É , porque parece que, ou a banda voltou a se reunir
para tocar o velho repertó rio, ou...
27/11/2018.
Nietzsche Nazista?
Muitos leitores de filosofia, ou que apenas ouviram falar nesse filó sofo sem nunca o ler, que
o discutem como se houvessem lido com atençã o a pelo menos um de seus livros, dizem
que ele era nazista.
Depois que ele morreu, em 1900, sua irmã ficou detentora de todos os seus arquivos. Ao
subir Hitler no poder, imediatamente ela disse que o Super-Homem do filó sofo era um ideal
baseado na raça ariana, desprezando todas as outras raças. Esse era o ideal nazista, mas
nã o o de Nietzsche, conforme confirma Nicholas Fearn, em seu livro Aprendendo a Filosofar
em 25 Lições. Ora, a ideia do Homem Superior, de Assim falou Zaratustra, era a de um
homem acima da mesquinharia intelectual humana, ou além da mediocridade, como
podemos ler em Ecce Homo.
Hitler gostava muito da mú sica de Wagner, que foi muito admirado também por Nietzche.
Mas este, com o passar do tempo, desgostou do compositor, diz Fearn, já por seus ideais
pró -nazismo. Também desprezava seu pró prio povo, o alemã o. Nietzsche gostava de outras
naçõ es muito mais que a sua.
A Propósito
Henry Miller, no seu texto A Hora dos Assassinos, na parte onde fala de sua relação com o
poeta Arthur Rimbaud, declara: O novo homem só se descobrirá quando terminar o conflito
entre a coletividade e o indivíduo. (Trad. Milton Persson.)
30/11/2018.
Arte-de-Rua
Que sentido há num concurso de obras de arte? Que sentido há em dizer que determinada
obra é melhor que outras? A ú nica perspectiva é a do gosto pessoal. E isso vale para todo e
qualquer tipo de arte, desde a culiná ria até a escultó rica, passando pela pintura, gravura e
desenho, literatura e poesia, mú sica, ou qualquer forma que se possa denominar como arte.
Historicamente podemos observar como determinados artistas famosos em sua época
foram esquecidos apó s sua morte. Ou aqueles que só foram reconhecidos muitos anos
depois, como Van Gogh. Ou os que tiveram reputaçã o merecida ainda em vida e também
apó s sua morte, como Volpi.
O que qualifica um artista como bom ou mau? O valor em dinheiro de suas obras? Seu
aspecto revolucioná rio em alguma á rea? Sua renovaçã o artística? Seu apego à alguma
tradiçã o? Ser legítimo e fiel retratista?
Como se nota no olhar contemporâ neo, nã o há julgamento que possa explicar o valor de
uma obra. A pró pria vida de um artista pode ser vista como arte. E isso nã o tem preço.
2/12/2012.
Rock Argentino
Ao Mesmo Tempo
Tenho o costume de ler vá rios livros ao mesmo tempo. Isso já vem de muitos anos, e por
isso tive que voltar a usar marcadores de pá ginas. No início, utilizava pedaços de papel
quaisquer. Mas, a exemplo da Fafí, comecei a guardar alguns marcadores. Na verdade, ela
os coleciona, além de usá -los, mas eu nã o chego a tanto. Só tenho o bastante para meu uso.
Estou lendo nestes dias:
1. SUSAN SONTAG; Entrevista completa para a revista Rolling Stone (pela segunda
vez);
2. Vários Autores (Entre eles, ALBERTO MARSICANO): Rimbaud por ele mesmo;
3. JAMES GEARY; O mundo em uma frase;
4. SOR JUANA INÉS DE LA CRUZ; Letras sobre o espelho (Poemas) (pela segunda
vez);
5. JASON PRADO e PAULO CONDINI (organizadores); A formação do leitor (pela
segunda vez);
6. ANA SÍLVIA SCOTT; Os portugueses.
À exceçã o do ú ltimo livro, que é digital, e por isso nã o precisa de marcador, e das
escrituras, que nã o conto entre as leituras mas leio todos os dias, os outros têm
marcadores bonitos, que dã o gosto de se ver.
Muitos anos atrá s, como já contei em outro opú sculo, uma bibliotecá ria me disse: - Um
bom leitor nunca esquece onde parou de ler!
Ora, isso valia para o tempo em que eu lia apenas uma obra de cada vez. Hoje em dia, nã o
tem mais jeito, a nã o ser com os e-books, que marcam sozinhos onde você parou de ler. E é
comum, também com os livros digitais, ler mais de um de cada vez.
Tem gente que pergunta – e isso é inevitá vel: - Você não confunde um livro com outro?
Na verdade, nã o. Isso principalmente porque ficçã o é sempre uma por vez. Os que se
alternam sã o os de nã o-ficçã o.
12/12/2018.
Bó n Apétit
Há um costume entre certos garçons de falar bom apetite à s pessoas que eles servem.
Porém, isso me parece desnecessá rio quando o que se serve nã o é uma refeiçã o, mas um
salgadinho, ou um doce, ou algo afim.
Na verdade, poderia ser dito, algo como desfrute, ou bom proveito, sei lá .
Talvez esteja exagerando, mas me parece que algo pode ser criado nesse sentido.
12/12/2018.
Adendo
O livro tem um defeito: suas letras sã o minú sculas! Nã o custava colocar tipos maiores,
embora aumentasse, assim, o nú mero de pá ginas. Depois quando a gente fala em preferir
a leitura de livros digitais, sempre há quem reclame...
Adendo de 19/12/2018
Primeira Diretriz
Para quem segue as séries Star Trek – Jornada nas Estrelas – já deve ter ouvido falar na
Primeira Diretriz, que o Capitã o ou Capitã procura seguir à risca.
A primeira e ú nica vez que a citaram, pelo texto completo, até hoje, foi no episó dio 25 da
segunda temporada, Pão e Circo, na série clá ssica, a primeira, com o capitã o Kirk.
Ela diz o que se segue.
O Sr. Spock, o Capitã o James Tiberius Kirk e o Dr. Leonard McCoy estã o num planeta classe
M, que concluíram ter a aparência exata da Terra do século XX.
Spock pergunta ao Capitã o se a primeira diretriz se aplicaria e ele cita as duas primeiras
partes, concluídas pelo Dr. McCoy.
Até entã o, o pú blico só sabe que eles sã o de um futuro distante do entã o presente ano
1967. Nã o se diz a que século pertencem. Só quem tem acesso aos DVDs da série fica
sabendo que é o XXIII.
29/12/2018.
Adendo
Todas as Star Trek sã o boas, menos a Discovery, que destruiu o visual dos Klingons,
estabelecido a partir da segunda série e transformou tudo numa Star Wars – Guerra nas
Estrelas – que nã o tem nada a ver com a original.
As melhores mesmo sã o a série clá ssica e A Nova Geraçã o, em que, no geral, cada episó dio
é uma histó ria diferente. Minha opiniã o. Como fã de carteirinha.
29/12/2018.
O Início do Tempo
O Tempo no universo começou, como já disse em outra ocasiã o, com seu nascimento, no
Big Bang.
O Tempo na Terra, entretanto, começou com a expulsã o de Adã o e Eva do Jardim do É den.
Até entã o, ele nã o existia, apesar da sucessã o de eras. As noites e dias se alternavam,
porém o ser humano só veio a existir no final de vá rias eras. Mas o casal primordial nã o
vivia, só existia.
Com a saída de ambos do É den começou a vida como a conhecemos, e assim o cô mputo do
Tempo, da forma como o concebemos hoje.
Há uma contagem de anos que coloca o início da criaçã o da Terra em 4004 AC. Quatro
anos teriam se passado até a expulsã o de Adã o e Eva. Contudo, teria sido isso que tipo de
contagem?
Caraguatatuba, 1°. de janeiro de 2019.
A Ideia Absoluta
Na concepçã o de Hegel para a dialética, ele achava que haveria um momento na histó ria
em que chegaríamos ao que ele chamava de ideia absoluta.
Nesse ponto, haveria o fim da histó ria e de todas as modificaçõ es. Seria o fim da evoluçã o,
o ponto má ximo.
Hegel era luterano convicto, embora sua ideia de Divindade fosse um pouco heterodoxa
para os partidá rios de sua religiã o. Ele considerava Deus como o Todo do Universo, mais
um pouco, que necessitava de nó s para evolver, mesmo sendo um Ser acima de todos os
seres. Ora, Ele estaria evoluindo sempre...
Duas correntes filosó ficas se formaram apó s sua morte. A direita hegeliana, que era teísta,
nã o foi muito em frente, mas pode ser retomada a qualquer instante. A esquerda hegeliana
foi adotada por Marx e deu no comunismo, em baixa atualmente no mundo.
13/01/2019.
Apêndice
Adendo: Comas
O tom é dividido, na teoria musical europeia, em 9 comas. Isto quer dizer que, por
exemplo, entre o dó e o ré, existem 9 comas. O dó sustenido tem 4 comas acima do dó , e o
ré bemol tem 5 comas acima do dó , para ficar 4 comas abaixo do ré.
Campos do Jordã o, anos 1990.
Anti-universo
Será que existe um universo totalmente contrá rio ao nosso, que tenha mais
antimatéria que matéria?
Isso faria parte de um equilíbrio necessá rio, e ele teria nascido no Big Bang ao
mesmo tempo que o nosso, mas correria temporalmente de modo inverso. Quero
dizer, nesse anti-universo o passado seria futuro e vice-versa.
Em nosso universo, o tempo avança à medida que o espaço se expande. No outro,
o tempo voltaria enquanto o espaço se encolheria.
A tese é dos físicos Latham Boyle, Kieran Finn e Neil Turok, e a notícia nos
chegou através de um boletim da Hype Science, de 16/01/2019.
A ideia nos faz pensar que, quando estivermos em fase de encolhimento (Grande
Colapso, Big Crunch) o outro universo estaria, por sua vez, expandindo-se.
A questã o do Grande Colapso vem sendo descartada pelos cientistas atualmente,
mas é muito ló gica em casos como este.
Aliá s, se pensarmos que o retorno do futuro para o passado poderia existir,
teríamos que todos os acontecimentos e tudo o que pensamos estaria pré-
determinado, nã o existindo o livre arbítrio.
Porém, tudo nã o passa de teoria. Sã o especulaçõ es com base em cálculos sobre
teses. Nada há de concreto. Assim é a ciência, buscando provas sempre,
experimentando, tentando novas técnicas, novas propostas e pensando.
Pensando sempre. E a gente indo atrá s.
24/01/2019.
Chimas e Café
Para quem toma café, nunca deve tomar chimarrão antes ou logo apó s. Isso
detona uma consequência perigosa, segundo os entendidos no assunto.
O chimas é estimulante e o café excitante. A soma dos dois, portanto, é
periclitante.
Por evitar café, tomo chimarrão todas as manhã s, o que me ajuda a despertar,
embora não me acorde sempre de maneira efetiva. Quando o tomo no final da
tarde, início da noite, ajuda a me refazer do dia.
Aliá s, faz alguns dias que passei a diminuir em dois minutos o tempo para o
aquecimento da água do chimarrã o. Talvez, por ser verão, a água esquente mais
rá pido. Mas acredito que, geralmente, nã o estou chegando aos 70° Celsius. Com
isso, a fragrâ ncia da erva tem se tornado mais aromá tica.
26/01/2019.
Os Mú sculos e a Mente
Quando se fala em tolerar outras religiõ es, nã o quer dizer que se admita que
todas elas sejam iguais ou verdadeiras. Nem que possamos ser todos amiguinhos.
A tolerâ ncia religiosa é conseguir conviver com pessoas que tenham
pensamentos espirituais diferentes, sejam ateus, teístas, pertencentes a alguma
denominação, panteístas, politeístas, animistas, ou seja lá o que for.
Tem a ver com respeitar o que os outros pensam, mesmo que nã o seja a nossa
crença pessoal. Mesmo que eu seja o ú nico a ter determinada ideia, ou nã o seja,
nã o posso esperar que outros compartilhem comigo o que acredito, ou o que
deixo de acreditar. Posso tentar converter, mas nunca à força, obrigando. E se
nã o conseguir a conversã o do pró ximo, admitir a possibilidade de nã o ser
invencível é um grande passo.
É como disse o general Antô nio Hamilton Martins Mourão, nosso atual vice-
presidente da Repú blica, com relação à s opiniõ es de outros políticos: se
concordamos, aplaudimos; se não concordamos, paciência. Foram mais ou menos
essas palavras, porém o sentido foi esse. Saiu no telejornal do SBT. Por estes dias.
26/01/2019.
Reaproveitar a Erva
O site da revista Seleções de 28 de abril de 2018 trouxe uma matéria que consiste
basicamente de onze frases escolhidas, dentre as falas dos personagens dos
livros de J.R.R.Tolkien, para inspirar o seu dia.
Uma em particular chamou-me a atenção, de autoria de Gandalf: Tudo que temos
de decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado.
Afinal, que tempo é esse? Quem nos dá esse tempo? Com essas duas perguntas
respondidas saberemos como decidir, ou pelo menos teremos um ponto de
partida.
Nã o conheço o contexto dessa sentença, mesmo porque nã o sou leitor das obras
literá rias mais famosas desse autor, mas a intenção da matéria, pelo que me
parece, é justamente fazer isso, trazer-nos as palavras dos personagens soltas,
para que possam nos inspirar.
Pois então. Penso, naturalmente, no tempo de vida que nos é disponibilizado.
Nunca sabemos quanto tempo temos à frente, apenas o passado.
Quanto mais velhos ficamos, mais achamos que estamos mais pró ximos do final.
Mas isso é uma ilusão. Quando eu tinha dezenove anos pensava que nã o chegaria
aos trinta. E cá estou. Sem saber nunca quanto tempo de vida ainda terei.
Mas o autor vai adiante. O que fazer com esse tempo presente? Já que o futuro
nã o está em nosso controle... Pois nã o adiantarão as metas, os planos, ou o que
quer que faça para o tempo que virá. A morte é implacá vel: quando chega o
momento, nada a demove. Nem ninguém.
Ora, quem nos dá o tempo que vivemos ou o que resta? Pode-se pedir a Deus ou
ao Universo um adiamento, se der ocasião, mas nada nem ninguém pode garantir
que isso aconteça.
O prazo nunca é fatal, mas quando chega o momento em que nos deparamos
frente a frente com o perecimento, enganá -lo é uma discussã o ingló ria.
Importante, então, é o que fazemos no presente imediato, que é a ú nica coisa que
existe. Muita gente resolve desafiar a morte, pois só assim consegue sentir a vida.
Precisam da adrenalina para sentir o sangue correr. Outros são mais pacíficos,
nã o temem por sua pró pria extinçã o, e vivem, por exemplo, meditando, lendo,
praticando obras nã o voltadas à autodestruiçã o.
Domingo, 3fev2019.
Best-Sellers
Conservadorismo
SOBRE O AUTOR
Leopoldo Pontes nasceu às quatro e meia da manhã do dia quatro de abril de 1958,
na cidade de São Paulo.
No final dos anos 1970 e início dos 80, publicou por conta própria vários livretos de
poesia, na base do mimeógrafo e off-set.
Tem algumas premiações por contos, estadual e nacional.
Sua formação acadêmica inclui Jornalismo e Direito, além de uma pós-graduação
em Língua Portuguesa e Literatura.
Tem outros livros publicados pela Amazon. Inclusive os volumes I e II desta coleção.