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O Gosto das Coisas (III)

O TEMPO
E AS
ESTAÇÕ ES

LEOPOLDO PONTES

Todos os direitos reservados


© 2019

Capa sobre foto de Fafí Pontes


Doutrina & Convênios 121;12:
E Deus também pôs a mão e o seu selo para mudar os tempos e as estações (...).
À Fafí...
Sumá rio
TEMPOS DE JORNALISMO
SER PARTE DA MASSA
O ESTADO
COMUNISTAS
FIM DA HISTÓ RIA
ROBERTO LOVE
O LEITOR DE TARÔ
Só comigo
DATILOGRAFIA E DIGITAÇÃ O
O QUE É ARTE
TREWA
O SILÊ NCIO NO POEMA
Por Conta De
Humanus Est
ENGAJAMENTO
O Tempo é uma Curva
Divisõ es da Arte
Fatalidade
Tecnologia
Mundo do Glam
Literatura no Rock
Diagnó stico e Personalidade
Futuro
Ú ltima Flor do Lá cio
Método de Escrita
Medianos
Sociedade Alternativa
TEMPO
Telescó pios e Microscó pios
Opostos
Quantidade de erva
Leituras digitais
E a filosofia?
Inesperado
Como ler os Clá ssicos
Extensõ es do Homem
Feminismo é para Todos
Nosso Primeiro Computador
Nú meros e Letras
Registros musicais
Percussã o
Brian Jones
Chimarrã o de micro-ondas
O propó sito da existência
Poema
Palavras da Década
Lei do Carma segundo eu mesmo
O Big Bang
O cheiro do livro
O Genesis é sempre em todo lugar!
Enciclopédias e meu professor
O fim do livro: previsõ es
Quando existe o som
A existência de Só crates
O bom selvagem?
O Mito da Caverna de Platã o revisitado
O Estudo das Religiõ es
Tudo Nã o Muda
Quase Democracia
O Médico e o Monstro
Dorian Gray
O Mal de Nossas Traduçõ es
A Vida é Diluir-se
Bits
Rita Lee
Livros de Arte
Ops!
Internet das Coisas
Sofistas e a Dialética
Dois Minutos e Quarenta Segundos
Cá ssia Eller
Bixo da Seda
Nietzsche Nazista?
Arte-de-Rua
Julgamento de Obras de Arte
Rock Argentino
Líderes
Ao Mesmo Tempo
Bó n Apétit
À Margem das Traduçõ es
Ainda Sobre Traduçõ es
Primeira Diretriz
O Início do Tempo
Outra Forma de Vida
A Ideia Absoluta
Anotaçõ es sobre Mú sica I
Anotaçõ es sobre Mú sica II
Os Tons e as Escalas: os Degraus da Sabedoria
Anotaçõ es sobre Mú sica III
As Escalas
Anotaçõ es sobre Mú sica IV
SUSTENIDOS E BEMÓ IS
Arandu Arakuaa
Produtor Fala sobre o Novo Álbum do Arandu Arakuaa
TEM QUE MUDAR!
A Nova Direita no Brasil
Histó rias e Estó rias
Anti-universo
Chimas e Café
Os Mú sculos e a Mente
Tolerâ ncia Religiosa
Reaproveitar a Erva
Evoluçã o das Religiõ es no Mundo
O Tempo Que Nos É Dado
Best-Sellers
Conservadorismo
Democracia Relativa
SOBRE O AUTOR

TEMPOS DE JORNALISMO
Entre muitas outras coisas, tive uma vida de jornalista. E como jornalista era, entre outras
funçõ es, um escrever sem fim. Morava em Campos do Jordã o e sempre visitava as reuniõ es
da Academia Jordanense de Letras, a AJL.
Apesar disso, naqueles dias, nã o publiquei livro algum, o que nã o garantiu, por minha
infelicidade, ter sido convidado para a Academia. Mesmo escrevendo todos os dias.

SER PARTE DA MASSA


O conceito de massa confere um problema ao de indivíduo. É que o primeiro desmobiliza o
do segundo.
Considero primordial minha individualidade e nã o gosto de fazer parte de nenhuma massa
impensante.
Isso mesmo, a massa nã o pensa, só segue o pensamento reinante, nã o tem gosto pró prio,
um saber. Só vai atrá s do que a mídia ensina, entre aspas. É a turba!
Ser parte da massa é diferente de participar de um grupo, de uma tribo, pois aí, apesar dos
participantes terem uma ideologia parecida, mantém suas individualidades.
O melhor é nã o ser parte de nada, mas indivíduo pensador. Preservar-se. É frustrante ser
parte da massa globalizada.

O ESTADO
A grande tendência deste início do terceiro milênio é que grandes empresá rios e
banqueiros vêm tomando conta do poder político.
Já nã o bastasse tomarem conta da Economia, vêm também alçando lugares no Estado e
poderã o em futuro pró ximo ser justamente o pró prio Estado.
Nã o vejo o benefício dessa mudança, apenas me parece que está ocorrendo no mundo
inteiro, ocidental e oriental, pouco a pouco. Porém, será a morte das ideologias como as
conhecemos, sendo substituídas pelo valor do cartã o de plá stico e do que o substitua.

COMUNISTAS
A Europa foi, no segundo meado do século XIX, fortemente sacudida pelos ideais
anarquistas, que propugnavam a imediata extinçã o do poder estatal. Sem Poder, cada
pessoa se comandaria e todos se respeitariam como indivíduos, sendo os bens isonô mica
ou igualitariamente distribuídos a todos e destituir-se-ia a ideia de massa.
Os comunistas surgiram com a ideia de uma ú nica massa de pessoas controlada por um
poder centralizador, mas que evoluiria para o anarquismo, ou anarquia, que seria a
extinçã o desse poder.
Nã o haveria mais pobres nem ricos, porque nã o haveria mais dinheiro nem bens ou
territó rios pessoais.
Na verdade, os países ditos comunistas nunca tiveram extinçã o de classes sociais. Apesar
de um poder centralizador, havia uma classe favorecida, a massa explorada e a violência,
diferente da paz esperada pelos anarquistas.
No Brasil, o antigo Partidã o (o PCB de Luís Carlos Prestes, que nã o existe mais, foi extinto)
foi repositó rio de vá rios intelectuais, escritores, artistas etc, até quando eles perceberam o
que estava acontecendo realmente na Uniã o Soviética. Foi o caso de Jorge Amado, cujos
livros até entã o tinham uma índole comunista, que ao saber da realidade desvinculou-se do
partido e mudou sua forma de escrever. Foi o tempo de uma debandada geral. Nã o que o
capitalismo prá tico fosse melhor, na forma como se desenvolveu no Terceiro Mundo, mas
talvez fosse menos pior.
FIM DA HISTÓ RIA
Quando do fim da Guerra Fria, Fukuyama preconizou que seria a partir de entã o o fim da
Histó ria. Nã o haveria mais nada de importante a acontecer.
Entretanto, os Estados Unidos, que eram o país mais poluidor da Terra, foram superados
pela China, que se tornou grande distribuidora de produtos fabricados para o mundo.
Compramos hoje dos chineses o que há de tecnologia, vestimentas e outras coisas.
A Histó ria continuou. No Brasil, começou a aparecer o rol de corruptos, que sempre
existiram mas eram incó lumes à Justiça. Passaram a ser julgados e presos poderosos
políticos e grandes empresá rios, por corrupçã o, numa atividade que superou a operaçã o
“mã os limpas” italiana.
Nã o houve o fim da Histó ria: muitos acontecimentos houveram, na economia, na política,
na tecnologia e até humanisticamente falando, dado os movimentos sociais que se
sucederam desde entã o.
Há , porém, um detalhe que gostaria de destacar. Susan Sontag, em seu livro de ensaios A
Vontade Radical, infere que a Histó ria suplantou a Natureza pela primeira vez durante a
Revoluçã o Francesa. Isso nos faz pensar da importâ ncia desse fato histó rico para a
civilizaçã o ocidental – já que o oriente tem outra forma de se historicizar – e se nã o foi um
dos fins de histó ria já percorridos através dos milênios.
Quando começa a Histó ria: com a escrita? Com a tradiçã o oral? Com o raciocínio do
primeiro ser humano?
ROBERTO LOVE
Maria das Graças, 17 anos de idade, moradora do Travessã o, nunca perdia a novelinha da
tarde da tevê, onde tinha o galã Roberto Love. Era notó ria sua paixã o pelo ator, pelo
personagem, ela nã o sabia a diferença.
Todas as tardes, de segunda a sexta-feira, à s 15 horas, Maria das Graças parava tudo que
estava fazendo para assistir Roberto Love. Já tinha arrumado a cozinha, feito a liçã o de casa,
mas nã o ia à casa das amigas sem antes assistir a novelinha. Era um momento em que o
WhatsApp ficava de lado, o face-book nã o funcionava, ela nã o atendia o celular. Era a hora
de se dedicar a Roberto Love.
Maria das Graças sempre mandava mensagens para o ator/personagem e sempre recebia
respostas padrã o. Ela nã o se importava, achava que as respostas eram especialmente para
ela.
Um dia, a novela acabou. Entrou outra no lugar. Mas Maria das Graças estava apaixonada
por Roberto Love. E escreveu um longo e-mail para ele, contando da desgraça que seria sua
vida a partir de entã o.
Nã o recebeu resposta.
Escreveu outro longo e-mail e outro e outro e outro.
Até que um dia recebeu uma resposta da emissora, dizendo que a novela fora gravada há
quatro anos e que Roberto Love nã o trabalhava mais para aquele canal de tevê.
Maria das Graças entrou em parafuso! Ela precisava conhecer o personagem/ator que ela
tanto amava... Pesquisou nos sites de fofoca e congêneres dos ú ltimos anos e acabou
descobrindo onde estava não trabalhando Roberto Love.
Como poderia escrever para ele? Como entraria em contato com ele? Voltou a escrever para
a antiga emissora que passava a novelinha e eles escreveram que nã o tinham informaçã o
sobre qual o seu paradeiro.
Maria das Graças deixou de assistir novela à tarde para se dedicar mais à s redes sociais e
descobriu que Roberto Love tinha um endereço de face-book. Escreveu para ele e ele
respondeu. Escreveu in box e ele respondeu. Começaram a ter longas conversas in box até
que um dia ele a convidou para sair.
Maria das Graças ficou doida!
Combinaram o horá rio. Ele a pegaria em sua casa... Chegou num Fiat ano 2007 limpinho.
Entrou na casa dela, conheceu os pais, que já sabiam da histó ria, e aí apareceu Maria das
Graças, numa calça jeans, camiseta de rock, tênis cor-de-rosa e uma leve maquiagem. Ela
estava junto com uma amiga, Elizete, vestida também de calça jeans, camiseta de rock,
sandá lia de plá stico e uma leve maquiagem. Ela tinha 18 anos.
Roberto Love estava mais velho, meio calvo, diferente da novela. Eram 5 horas da tarde. Ele
as levou para uma lanchonete, onde conversaram:
- Você nã o está fazendo mais novela?
- Nã o, estou participando de uma peça de teatro e daqui a um mês vou começar um filme.
- Cinema?
- Nã o, na verdade é um telefilme, que dura um pouco menos de uma hora. Eu faço o papel
de um vendedor de cds.
- Mas ninguém compra mais cds hoje em dia.
- É aí que está a graça da histó ria.
Patati patatá e Maria das Graças descobriu que Roberto Love só existiu na novela, que ela
se apaixonara por um inexistente.
Voltaram para casa e Elizete perguntou:
- E aí, nã o vamos sair de novo com ele?
- Nunca mais, minha amiga. Preciso conhecer rapazes normais, de carne e osso, ...
- Precisamos, né?
Maria das Graças e Elizete passaram a se comunicar mais com rapazes de verdade pelas
redes sociais e no curso técnico de computaçã o que faziam.
Acabaram encontrando rapazes interessantes, diferentes de Roberto Love, mas reais. Desta
vez eram reais.

O LEITOR DE TARÔ
Enrique tinha vinte e três anos, quando ganhou seu baralho de tarô de uma amiga. Eram
vinte e duas cartas de baralho com desenhos estranhos, numeradas e nomeadas.
Isso foi o início de tudo, pois a amiga lhe ensinou os rudimentos daquele jogo, que nã o era
um jogo, mas um orá culo.
As aulas, gratuitas, terminaram rapidamente, mas Enrique continuou seus estudos
comprando livros sobre esoterismo, em especial sobre cabala cristã , de Eliphas Levi, e
livros estrangeiros, sobre tarô e cabala.
Eram os anos 1980, e naquele tempo nã o existia a internet. Muito menos e-books. Ele tinha
que se contentar com volumes de papel, alguns fininhos e leves, outros pesados e grossos.
Aos poucos sua biblioteca esotérica foi crescendo nas estantes, já cheias de enciclopédias e
outros assuntos.
Também aconteceu que ele foi adquirindo mais jogos de tarô , com diferentes formas,
desenhos, nomes, numeraçõ es, até começar a desenhar suas pró prias cartas.
Nesse momento, começou a relacionar cada carta com um capítulo do Apocalipse que,
coincidentemente ou nã o, é dividido em vinte e duas partes, e com o alfabeto hebraico.
Depois relacionou também os hieró glifos, o alfabeto grego clá ssico, o fenício, entre outros.
Enrique utilizava para seus estudos uma Bíblia de Jerusalém, além de textos
deuterocanô nicos, uma ediçã o da Torá comentada por um rabino, textos judaicos, algumas
traduçõ es do Bhagavat Gita, o Tao-Te-King, o I-Ching, o Corã o, as runas e algumas tradiçõ es
anímicas.
Todos os seus estudos eram voltados para o tarô , que ele passou a escrever tarot. Como
numa circunferência, tarotorat...
Nã o poucas vezes Enrique leu as esotéricas cartas para diversas pessoas, que vinham de
todos os lugares para consultar-se com ele, que nã o cobrava mais que uma moedinha, para
ser doada aos duendes das á rvores.
Ele tinha seu pró prio trabalho, numa empresa, e seu tempo livre era deixado para esse tipo
de diversã o. Constituiu família, porém mesmo assim continuou com o tarot e tudo que o
circundava. Enrique nã o se interessava pelos arcanos menores, que somariam 78 cartas,
apenas pelos vinte e dois maiores, pois estes sim poderiam lhe revelar os grandes mistérios
do universo.
Treze anos se passaram quando percebeu que nã o precisava mais do baralho para fazer os
orá culos. Podia ler o tarotorat no mundo à sua volta, nas pessoas que encontrava, em tudo,
enfim!
Foi quando enlouqueceu.

Só comigo

Há coisas que parecem acontecer só comigo, de tã o inacreditá veis que sã o. Ainda ontem, à
noite, fui à padaria e estacionei o carro. Entrei, fiz as compras e saí. Isso quer dizer que saí
de ré. Estava nessa posiçã o quando senti uma batida: meu auto batera noutro que estava
pra sair.
Pensei: vou parar logo aqui à frente e deixo um bilhetinho, com meu nome e telefone.
Tentando estacionar, ouço batidas fortes na minha janela. Abri a porta, pronto para ouvir
uma reprimenda.
Pois qual nã o foi minha surpresa quando o dono do carro em que bati foi muito gentil. Ele
disse mais ou menos o seguinte: fique calmo, nã o fique nervoso, fique sossegado.
Quis eu olhar como estava o carro dele e ele nã o deixou, disse que nã o acontecera nada. E
mostrou a traseira de meu carro, dizendo: tá vendo? , nã o aconteceu nada, tá tudo certo , eu
só queria dizer pro senhor para nã o ficar nervoso.
Ele parecia estar um tanto embriagado. Mesmo assim agradeci e nã o sabia o que fazer. Fui-
me embora com meu coraçã o tranquilo, por tudo que aconteceu. Foi como se acabasse de
falar com um anjo dos céus. Aí pensei: só comigo acontecem essas coisas...
No dia seguinte vi um amassado na traseira.

Caraguatatuba, outono.

DATILOGRAFIA E DIGITAÇÃ O
Quando criança, escrevia à mã o, fosse com lá pis preto ou com caneta tinteiro. Depois,
passei para a esferográ fica.
No escritó rio de meu pai havia uma má quina datilográ fica (Quem nã o sabe o que é isso,
busque na internet.). Rapidamente me adaptei a pensar na má quina, sem precisar escrever
primeiro à mã o.
Na adolescência, tirei diploma de datilografia. Passei a ter um contato tã o íntimo com a
má quina que ganhei uma Lettera de meu pai. Só escrevia à mã o nos cadernos da faculdade.
Tinha uma prá tica tã o grande de datilografar, o que exigia força nos dedos, que era capaz
de fazê-lo ouvindo rá dio e conversando com alguém, desde que nã o precisasse raciocinar o
que estava escrevendo.
Em 1999, compramos em casa nosso primeiro computador (PC). Estragamos o primeiro
teclado de tã o forte que batíamos.
Com o passar do tempo, digitar se tornou tã o normal, aproveitando o processador de texto,
que parece agora que nunca datilografamos. Ainda escrevo à mã o, porém apenas recados,
có pias de pequenos textos em meus cadernos, coisas assim, com esferográ fica preta de
ponta fina. Deixei de escrever à lá pis mas quero voltar à caneta tinteiro, com tinta lavá vel,
para determinadas ocasiõ es.

O QUE É ARTE
Muito se discute sobre essa questã o. Algo belo pode ser arte, mas nã o precisa ser bonito
para ser uma obra de arte. Pode até ser maravilhoso e nã o ser uma obra de arte.
Os museus específicos contêm objetos das mais variadas formas, coisas que já foram para
serem adoradas (como ídolos, santos e cruzes), admiradas (como desenhos, pinturas,
esculturas), utilizadas (como uma faca) etc.
Construçõ es sã o classificadas como artísticas, sejam elas da antiguidade ou
contemporâ neas.
Autores, críticos, resenhistas, enfim pessoas que escrevam ou fale sobre determinada coisa
ou atuaçã o determinam o que é arte.
O happening era um acontecimento ú nico, com duraçã o extremamente finita. Era arte. A
performance, sucedâ nea do happening, era arte. Quando pessoas combinam pela internet
estarem num determinado local a uma determinada hora e, naquele local e hora, vá rias
estã o, e depois se dispersam, isso é arte? Nã o sei. As pessoas que participam o fazem com
intençã o artística?
A intençã o artística faz de algo arte. Nã o é a intençã o comunicacional? Ou revolucioná ria?
Ou simplesmente do belo? Ou do inusitado?
Quando alguém diz que um cartaz de cinema é arte, ou um filme, ou uma tela pintada ou
cortada ou com uma colagem sobreposta, entã o é arte?
A arte está na intençã o do autor. Mas quando o artesã o fez um par de sapatos, nã o
imaginou que séculos depois ele estaria exposto num museu como obra artística.
Antiguidades sã o confundidas com obras de arte. E o sã o?
Nã o sei mais o que é arte.

TREWA
Nã o me recordo bem a data, talvez tenha sido em 1974, talvez 1976.
O certo é que se tratava de um festival de mú sica competitivo, como muitos naquela época,
no Central Parque Lapa, em Sã o Paulo.
Os organizadores acharam por bem contratar uma banda convidada para tocar no final de
cada dia. Chamaram a Trewa.
Era uma surpresa, ninguém conhecia o grupo, todos achavam o nome estranho, mas nome
de grupo era nome de grupo e ninguém tem nada a ver com isso.
Chegou a noite. Chegou o momento. O som era pesado, altamente heavy-metal como nunca
se ouvira antes. Era muita coisa para as cabeças de entã o. Ninguém gostou, todos acharam
que nã o era bom o bastante e trocaram para os outros dias por uma banda mais
convencional.
Na verdade, o pú blico nã o estava preparado para uma sonoridade que iria explodir nos
anos 1980... e nunca mais ouvi falar da Trewa.

O SILÊ NCIO NO POEMA


No início dos anos 1980 meu caminho poético foi se condensando, condensando, até que
cheguei à s pequenas frases – nã o hai-ku – e daí rapidamente a poucas palavras e ao
silêncio. Nã o conseguia mais escrever nada, parecia que as palavras nã o expressavam mais
o que queria.
Por isso tornei-me artista plá stico. Expus minhas obras em vá rios lugares.
Nesse tempo eu fazia a Faculdade de Comunicaçã o de Santos (FACOS) e nos dois primeiros
anos só escrevia trabalhos acadêmicos. No terceiro ano, quando optei por Jornalismo, isso
me salvou: obrigou-me a escrever textos nã o mais acadêmicos, mas jornalísticos, que eram
por sua essência condensadores, mas você era obrigado a fazê-los.
O jornalismo me salvou e voltei a escrever poemas e prosa, além de trabalhos acadêmicos.
Continuei mais um tempo com as artes plá sticas, até que já pouco precisava delas, que,
junto com a mú sica, foram minhas libertadoras.
Agora tenho como forma principal de expressã o a escrita.

Por Conta De
À s vezes, uma palavra ou expressã o domina o estado de Sã o Paulo ou até do Brasil, sem
ninguém saber como começou.
É o caso de por conta de. Ninguém mais fala por causa de, em razão de, pelo motivo de, entre
outras formas. Tudo é por conta de. Essa expressã o tomou lugar nas conversas, nos
noticiá rios, nos congressos, nos cursos, em tudo quanto é lugar. Feito um vírus.
Já houve o tempo de performance, em vez de desempenho, que tomou uma conotaçã o
sexual. Já houve o tempo de adéqua, que nem existe na gramá tica, no lugar de adapta.
As pessoas estã o também falando a forma inglesa – em português – o meu melhor, no lugar
de o melhor que posso, por exemplo, ou o melhor de mim, construçõ es mais adequadas à
língua portuguesa.
Como uma doença maligna, essas formas de dizer se espalham e, sem ninguém saber como,
desaparecem do mapa, feito uma gíria que nã o encontra espaço temporal na gramá tica, ao
contrá rio de outras como legal, ou as expressõ es incorporadas recentemente, como pensar
a, pensar o, pensar um, e pensar uma, que vieram para ficar, pois nã o têm sinô nimos ou
formas alternativas de dizer.

Humanus Est
Cada um de nó s tem uma personalidade diferente. Somos peças ú nicas, nã o existe molde.
Por mais parecidas que sejam duas pessoas, suas personalidades serã o distintas.
Pois algumas têm sua personalidade forte, dominante, enquanto outras sã o passivas. Na
verdade, há um espectro que vai da mais ativa à mais fraca. E cada qual tem seu lugar na
sociedade.
Ocorre na psiquiatria que cada vez mais aspectos desse espectro sã o determinados como
doenças mentais, cada pormenor é identificado como um espécime sombrio.
Ora, tais sombras têm nomes como esquizofrenia paranoide, transtorno afetivo bipolar,
depressã o leve, depressã o profunda, euforia, entre outros diversos e diversos.
No final, as personalidades sã o o que nos tornam o que somos: humanos...

ENGAJAMENTO
Toda arte é engajada. Nã o existe arte pela arte, por mais que o artista ou seus observadores
e críticos insistam.
A apreciaçã o de uma obra de arte, por mais insó lito que possa parecer, nunca é
descompromissada, assim como sua execuçã o.
Falar – ou escrever, claro – sobre uma obra de arte é resumi-la a um ponto de vista –
sempre objetivo, por mais subjetivo que possa parecer.
Toulouse Lautrec, Arthur Rimbaud, Goya, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, entre
muitos outros, eram conscientemente engajados. Artistas atuais podem nã o saber, mas
todos sã o – ainda que inconscientemente – engajados.
Nenhum artista peca pela omissã o, mesmo que isso aparente aos críticos, quando na
verdade ele nã o é compreendido nem por si mesmo.
Como já disse em outra ocasiã o, a arte é sempre revolucioná ria, seja por querer ou nã o.
O Tempo é uma Curva
O Tempo sempre aparece nos calendá rios como uma infinita linha reta, estendendo-se para
o passado e para o futuro. Ele é imenso para nossa percepçã o humana.
Todavia, é uma grandíssima curva. Ela quase se fecha numa circunferência, o que nã o
ocorre por ser cada vez maior e acontecer mais eventos. Da mesma forma, é cada vez mais
rá pido, o que nos faz apreciá -lo como eventos que se sucedem em maior proporçã o à
medida que o Tempo avança.
Nã o notamos esses fatos porque nossa contagem temporal, nossos calendá rios, sã o lineares
e aditivos, quando deveriam crescer geometricamente.

Divisõ es da Arte
Considero a arte de nosso planeta divisível em três compartimentos vazá veis.
O primeiro é quando a obra imita a natureza, segundo um padrã o, um modelo. Sã o as
chamadas belas-artes.
O segundo é quando esse padrã o ou modelo é alterado na obra, transformando a natureza,
como no impressionismo e na abstraçã o.
O terceiro é quando a obra é um nã o-objeto. É quando entramos no campo da anti-arte, da
performance e de outros exemplos cabíveis.

Fatalidade
Um dia escrevi que nã o acreditava no destino. Ainda nã o acredito, mas no livre arbítrio.
No entanto, há vezes em que as coisas acontecem inesperadamente, por fatalidade. Sã o
eventos inexplicá veis e por isso dizemos que sã o uma fatalidade, mas nã o obra do destino.
Nã o é porque nã o conseguimos explicar que nã o sã o frutos de algum alvedrio.
Assim como existe dessa forma a fatalidade, também a coincidência, mesmo sendo algumas
vezes nã o-coincidência. Algumas vezes, pois, ela existe.
Da mesma forma, o sobrenatural, a magia e o milagre existem até que sejam explicados e
compreendidos empiricamente. Mas existem.
Tecnologia
O daguerreó tipo é o antecessor da fotografia. Nã o tinha negativo e portanto nã o permitia
có pias. A exposiçã o do vidro onde seria impressa a imagem demorava horas. Para se extrair
a imagem de uma pessoa era preciso imobilizá -la com dispositivos escondidos por trá s.
Famosos sã o os daguerreó tipos de ruas movimentadíssimas, em que a aparência é de ruas
desoladas, pois nenhum movimento podia ser captado. Um conhecido trabalho de Arthur
Rimbaud mostra uma rua deserta onde um homem dorme na calçada. Naturalmente, por
estar praticamente imó vel durante horas sua imagem apareceu.
Da mesma época desse invento é o da fotografia, com exposiçã o menor, có pias em cartã o e
negativos possibilitando infinitas có pias.
Entretanto, por motivos comerciais, as indú strias lançaram primeiro o invento de
Daguerre, que durou algumas décadas, para só depois lançarem a fotografia.
Hoje em dia a mesma coisa ocorre com nossa tecnologia: ficam lançando artigos
ultrapassados para vendê-los antes dos atualizados, já inventados, a fim de ganhar mais
dinheiro. É por isso que todos os dias surgem novos dispositivos tecnoló gicos, sem
precisar; no lugar de dois, vá rios intermediá rios. Para quê? Arrebanhar mais dinheiro...
Lembro-me de ter assistido na Netflix, numa série chamada Ted (Technology,
Entertainment, Design) [conferência que acontece anualmente na Califó rnia, EEUU, na qual
inovadores apresentam seus desenvolvimentos e ideias para diversos assuntos], a
apresentaçã o de um cientista indiano – nã o me lembro agora seu nome – com diversos
inventos de ú ltima geraçã o, voltados à tecnologia digital. Ele disse que estava disposto a
disponibilizar seus inventos ao pú blico em geral. Foi muito aplaudido. Procurei, na época, o
nome dele na internet: achei, mas tinha um limite de data, e nunca mais, até hoje, ouvi falar
de tais inventos... Muito estranho...

Mundo do Glam
Marc Bolan foi o primeiro homem que apareceu muito maquiado no mundo norte-
americano do rock. Era final dos anos 1960 e a psicodelia gritava alto!
Seu som era instigante e ele tinha a banda Tyranossaurus Rex, mais tarde rebatizada como
T. Rex. Porém seu pú blico sempre foi específico, underground.
Um dia o mú sico David Bowie decidiu aparecer bastante maquiado, mas com uma
sonoridade muito mais pop. Já era início dos anos 1970 e ele aproveitou a onda do Glamour
Rock para se apresentar como um personagem que ele mesmo inventou, Ziggy Stardust e
eclipsou Marc Bolan.

Literatura no Rock
Depois que Bob Dylan ganhou o premio Nobel de Literatura descobriu-se finalmente o quã o
ela está desde sempre imiscuída no rock, Quem foi buscar o premio foi a musicista Patti
Smith, autora de dois livros já editados no Brasil e poetisa desde priscas eras. O que nã o
dizer das letras de John Lennon, Jon Anderson, Cazuza e Renato Russo?
Algo que sempre uniu artistas plá sticos (incluindo principalmente fotó grafos) voltados ao
rock e roqueiros em geral sempre foi a literatura. Todo fotó grafo e artista plá stico voltado
ao rock que conheci eram muito loucos!
Temos Luiz Carlos Maciel (conhecido como nosso guru da contracultura, mesmo que ele
quisesse negar isso, falecido em dezembro de 2017), Jorge Mautner, Plínio Marcos,
Hermann Hesse, Aldous Huxley, George Orwell, entre muitos outros literatos que fizeram
nossa cabeça enquanto descansá vamos dos discos de vinil e fitas cassete.

Diagnó stico e Personalidade

Quando o psicanalista dá ao paciente um diagnó stico, automaticamente está sendo rotulada


uma personalidade para ele.
O diagnó stico diz como a pessoa se porta, o porquê dela ser assim, seu passado, presente e
possíveis futuros, de acordo com seu comportamento e medicaçõ es.
Quanto a estas, existem sempre os efeitos colaterais, que podem alterar os futuros
possíveis.
Se o paciente nã o estiver na mã o de um bom psicanalista, sua personalidade será
desinventada, sua criatividade desacreditada, nã o podendo expandir-se pessoalmente.
É como no Direito: nã o se pode dizer que dois casos sã o iguais. Dois casos sã o sempre
diferentes, por símiles que pareçam. Assim como o resfriado de junho nã o é igual ao de
dezembro.

Futuro
Penso muito no futuro. Mas nã o no meu futuro. No futuro do mundo, no futuro da Terra.
Quero presenciar a soluçã o ambiental. Os androides na rua e em casa. A TV 4D. A fotografia
3D palpá vel. A internet das coisas valendo de verdade, sem tantos impostos. Viagens
interestelares.
Acredito na diversidade. Acredito no ser humano. Acredito no futuro com otimismo.
Acredito numa evoluçã o mental, espiritual e física, dentro de uma mesma geraçã o.
Quero acreditar.
Quero estar lá .

Ú ltima Flor do Lá cio


Dizer que a língua portuguesa é a última flor do Lácio é hoje apenas uma citaçã o de Olavo
Bilac, que morreu em 1918.
Embora isso nã o seja mais verdade, continuamos a falar por pura tradiçã o, como se
nenhum outro idioma tivesse sido criado depois do nosso, saído do latim.
Ora, segundo Max Gehringer, em seu livro Quem Mexeu no Meu Trema?, o romanche foi
elevado em 1938 a uma das quatro línguas oficiais da Suíça. Sua ortografia, ora, só foi
unificada, imagine só , em 1982.
Portanto esqueçamos a citaçã o de Bilac como informaçã o, recordando-a apenas como
enlevo poético.

Método de Escrita
Desde menino, sempre utilizei a má quina de escrever de meu pai, criando meus textos
diretamente nela.
Entretanto, como dificilmente tinha essa oportunidade, escrevia num caderno, colocando
título e tudo. Nunca copiei do caderno para a má quina, nã o por qualquer outra razã o senã o
por falta de ideia.
Mesmo assim, a escola fazia com que escrevesse tudo em cadernos ou folhas de papel
almaço.
Minha letra era horrível, sofrível – ainda é, menos quando a desenho, se tiver tempo para
isso. Meus professores sempre reclamaram desse fator e nunca consegui consertar.
Atualmente, à s vezes ainda escrevo à mã o, para nã o perder a prá tica, mas aperto demais a
caneta ponta fina e minha letra continua sendo... ahff!
Quando entrei na faculdade de jornalismo (Comunicaçã o Social) ganhei de meu pai uma
má quina de escrever portá til Lettera. Foi entã o que comecei a literalmente pensar na
má quina, sem rascunhar à mã o, e levar em meu bolso da camisa sempre um bloquinho de
folhas – feito por mim mesmo – para anotar impressõ es ou que quer que viesse à cabeça
antes de desenvolver na má quina de escrever.
Os tempos passaram e facilmente me adaptei ao Word do computador. Abandonei a
má quina de escrever e passei a pensar diretamente na frente da tela do PC. Minhas
anotaçõ es faço-as num caderno, se estiver em casa, ou em meu Kindle, se estiver fora.
Depois desenvolvo no PC. É meu método atual. Pode ainda mudar, se algo mais na minha
vida se modificar. Estou sempre aberto a novos métodos, embora o princípio nã o se altere.

Medianos

Nã o sã o os maiores nem os menores; nã o sã o os mais gordos nem os mais magros; nem os


mais inteligentes nem os mais burros.
Sã o medianos.
Dominam os países e o mundo
Radicais nã o se sobressaem.
Só os medianos vencem: eles nã o deixam brecha para os outros.
Nunca!

Sociedade Alternativa
A Contracultura construiu no mundo ocidental um anti-estabelecimento à sociedade como
conhecíamos, a exemplo de outros movimentos anteriores sociais, industriais, políticos etc.
Como sempre acontece, houve uma transformaçã o dialética em direçã o à sociedade como a
observamos atualmente.
A Sociedade Alternativa floresceu, mas nã o se estabeleceu: mudou aquilo que conhecíamos.
O que vemos hoje é algo dinamicamente equilibrado cujos valores, bons e maus, estã o se
construindo.

TEMPO
O Tempo é uma passagem. Uma partícula de instante. Ele só existe agora, no presente. Luiz
Carlos Maciel, em seu ú ltimo livro, O Sol da Liberdade, chega a dizer que o presente inexiste.
O passado é constituído pela memó ria; o futuro pela imaginaçã o.

Telescó pios e Microscó pios


Quando usamos ó culos, perdemos algo da realidade sensível. Notamos a diferença quando
os tiramos da frente de nossos olhos. Passamos entã o a perceber texturas determinadas,
principalmente se somos míopes.
Ó culos, naturalmente, baseiam-se em lentes, assim como telescó pios e microscó pios. Estes,
como aqueles, aumentam nosso poder de visã o. Mas será que a realidade nã o fica
comprometida? (Esta é apenas uma posiçã o crítica em relaçã o à s ideias dogmá ticas...)

Opostos

As trevas sã o a ausência da luz, nã o o seu oposto, assim como o mal é a ausência do bem,
nã o seu oposto.
O oposto da luz é a pró pria luz, assim como o oposto do mal é o pró prio mal.
O bem é composto pelas forças yin e yang, assim como o mal; a luz contém em si as forças
complementares, assim como as trevas.
Uma alimentaçã o equilibrada nem sempre é boa, depende dos elementos que a compõ e: se
sã o complementares bons, ela é boa e vice-versa.
Quando se diz que os opostos se atraem, é porque sã o complementares, nã o díspares.
A grande falá cia é confundir a ausência de algo com sua oposiçã o.

Quantidade de erva

Para se tomar chimarrã o, tem-se que colocar determinada quantidade de erva na cuia.
Essa quantidade é discutível; em outros tempos, aconselhava colocar três quintos de cuia
cheia de erva, medida antes de socar. Noutros, dois terços.
Atualmente, coloco duas colheres bem cheias na cuia que venho utilizando: tem dado muito
certo e perfeito.
Na verdade, quanto mais erva se coloca mais saboroso fica; quanto menos, menos
possibilidade de entupir. Aprendi isso pelo costume, nã o sei se é regra, mas comigo
acontece dessa maneira.
A escolha ideal está entre a praticidade e o sabor: um meio-termo, como no Tao. Eu achei
minha medida pessoal, estritamente para essa cuia. Quando uso outra, devo achar outro
equilíbrio.
Pessoa diferente, padrõ es diversos.

Leituras digitais
Já fazem quase dois anos que comprei meu Kindle 7ª geraçã o. Já li e reli diversos textos
nele. O que mudou?
Muita coisa.
Nosso computador pessoal está ligado em nossa tevê. Além do mais, ele guarda vá rios
livros e textos em geral, alguns que eu mesmo construí, os quais baixo para meu Kindle.
Agora, dificilmente jogo textos fora. Normalmente os envio do computador para o e-Reader
via e-mail. Entã o, terminando de ler o livro, mando-o para a nuvem, onde podem ser
guardados milhõ es de títulos, talvez mais. E quando o quero reler, desde que tenha Wi-Fi, é
só baixá -lo da nuvem, dispondo-o assim para meu deleite.
Como já disse noutra feita, nã o deixei de ler e adquirir livros físicos, mantendo
normalmente nossa biblioteca nã o-virtual.
E a filosofia?

Stephen Hawking e Leonard Mlodinow, autores do livro O Grande Projeto (The Grand
Design), logo no primeiro capítulo, pouco apó s o início, escrevem que a filosofia está morta.
E continuam dizendo que ela não tem acompanhado a evolução da ciência, particularmente
da física.
Ora, sã o duas matérias diversas, uma nã o tem nada a ver com outra. Como podem dizer que
a filosofia está morta? Nã o a conhecem, isso é verdade, por isso se acham no direito de
julgá -la. A filosofia, como a física, continua discutindo a realidade e sua natureza, o
comportamento do universo, o mundo em que nos encontramos, entre outras dú vidas
colocadas pelos autores em sua obra conjunta. Eles perguntam ainda: O universo precisou
de um criador?
Considero-os orgulhosos demais em sua posiçã o, anacrô nicos quanto a isso, pois tal
questã o já foi inumerá veis vezes posta em questã o, desde séculos, e nunca foi resolvida.
Eles ainda dizem que Os cientistas se tornaram os portadores da tocha da descoberta, em sua
busca pelo conhecimento.
Com todo o respeito pelos autores, mas... nã o é muita pretensã o?

Inesperado

O Inesperado acontece
Nada impede
Quero coca zero
E ganho guaraná
Nas alternâ ncias do cotidiano
Tudo é imaginaçã o
Imprevisivelmente contido.

- março de 2018 –
Como ler os Clá ssicos

Nã o leia os comentaristas, nem as resenhas, nem os críticos.


Comece pela obra em si, pura, o mais pró ximo possível do original. Sinta-a. Deglute-a.
Absorva-a toda da melhor forma possível, o quanto puder. Nã o tente entendê-la, mas
entenda-a do seu jeito. Tenha seus pró prios pareceres e opiniõ es.
Só entã o vá aos resenhistas, críticos e comentaristas. É entã o que você compreenderá os
autores através de você mesmo e dos outros. Seu pró prio pensar será fundamental.
Um bom exemplo é quando tentamos ler o filó sofo Heidegger. Ou Hegel. Há brasileiros que
os traduzem sem, porém, traduzir as palavras-chave. É certo que uma citaçã o em língua
estrangeira para o filó sofo deve ser transposta na língua em que ele mencionou. Mas se ele
é alemã o e escreve em seu idioma pá trio, ao traduzi-lo devemos fazê-lo de forma a que o
leitor nã o necessite de um dicioná rio linguístico para o ler.
O mesmo já vi ao tentar ler Roland Barthes, francês. Embora essa língua seja mais acessível
para nó s, brasileiros, nã o há porque manter palavras, termos, ou citaçõ es em francês sem a
devida traduçã o, pois no original nada é tã o hermético em sua intençã o.
Em minha prá tica, tenho notado que as traduçõ es desses filó sofos, quando em espanhol,
por exemplo, prezam mais a língua do tradutor que as tupiniquins, cujos textos acabam se
tornando herméticos e pedantes, tal qual seus comentaristas, críticos e resenhistas em
geral.

Extensõ es do Homem

Li Marshall McLuhan pela primeira vez aos 23 anos e, com toda minha arrogâ ncia, achei
que o tinha entendido.
Aos 59 reli Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem e notei o quã o nada
entendera em minha juventude.
O que quero ressaltar é que em 1935, portanto algumas décadas antes de McLuhan,
Monteiro Lobato trouxe a lume História das Invenções, livro infanto-juvenil, contando como
as tecnologias eram extensõ es dos ó rgã os humanos.
Senã o, vejamos o índice:
I. O bicho inventor;
II. Da pele ao arranha-céu;
III. Da pele ao arranha-céu (continuaçã o);
IV. A mã o;
V. Mais mã o;
VI. Ainda a mã o;
VII.Ú ltimas mã ozadas;
VIII. O pé humano;
IX. O pé que roda: a roda;
X. O pé que voa: o aviã o;
XI. A boca;
XII.O nariz;
XIII. O ouvido;
XIV. O olho.
Por exemplo, quando ele fala da boca, cita o rá dio, que sem fio transmite sinal vocal aos
ouvidos de outrem. Quando fala do ouvido, cita o estetoscó pio.
Nã o sei se o autor norte-americano leu o brasileiro antes de ter ideia para seu livro, mas é
algo que deve ser levado em conta. Lobato foi um homem de sua época, embora com olhos
no futuro. Sempre com olhos no futuro e os pés no presente, bem firmes.
O livro de Lobato, de 1935, foi sobre o História das Invenções - O Homem, o Fazedor de
Milagres, de Hendrick Willem Van Loon, de 1934. Neste livro, o autor holandês, no capítulo
II, logo no início, fala que algumas das invençõ es idealizadas são meras multiplicações
(extensões, intensificações ou aumentos) de certos atributos físicos, tais como “falar, “andar”
“atirar”, “ouvir”, ou “ver”(...). Pode ser esse autor, que na época vivia nos Estados Unidos,
onde lançou sua obra, que inspirou McLuhan. Senã o, vejamos o índice:
I – O homem, o bicho inventor
II – Da pele ao arranha-céu
III – A mã o domesticada
IV – Do pé à má quina de voar
V – As vá rias bocas de mil sabedorias
VI – O nariz
VII – O ouvido
VIII – O olho
Quem sabe de onde McLuhan tirou sua ideia? Em seu livro, o índice indica, entre outras
coisas:
6. OS MEIOS COMO TRADUTORES
SEGUNDA PARTE
8. A PALAVRA FALADA
9. A PALAVRA ESCRITA
10. ESTRADAS E ROTAS DE PAPEL
15. RELÓ GIOS
16. TIPOGRAFIA
17. ESTÓ RIAS EM QUADRINHOS
18. A PALAVRA IMPRESSA
19. RODA, BICICLETA E AVIÃ O
20. A FOTOGRAFIA
21. A IMPRENSA
22. O AUTOMÓ VEL
24. JOGOS
25. TELÉ GRAFO
26. A MÁ QUINA DE ESCREVER
27. O TELEFONE
28. O FONÓ GRAFO
29. O CINEMA
30. RÁ DIO
31. A TELEVISÃ O
32. ARMAMENTOS
33. AUTOMAÇÃ O
É uma questã o de ler os livros e analisá -los. Você pode ter uma opiniã o diferente da minha.

Feminismo é para Todos

Há quase dois séculos, as mulheres vêm conquistando direitos.


Há quase dois séculos, os homens vêm conquistando direitos.
O filosó fico Problema do Homem é, hoje, discutido como o Problema do Ser Humano, dada
a pretensa igualdade entre mulheres e homens.
Ora, homens e mulheres nã o sã o iguais, mas merecem ser tratados com os mesmos direitos
e deveres, relativamente. Relativamente a quê?
Existe a fragilidade de algumas pessoas em relaçã o a outras. Isso ocorre porque estas fazem
mais exercícios físicos, ou sã o geneticamente mais competentes em força física (?)... Cada
vez há uma nova ciência a discutir isso.
Destarte, alguns sã o mais sagazes em determinadas á reas, seja a inteligência mental,
emocional ou espiritual. Isso também decorre de formaçã o pessoal?
Como explicar um rapaz, filho de pai ateu e mã e judia ortodoxa, adotado por uma família de
pai ateu e mã e cató lica nã o praticante, ser espiritualmente superativo? É genética materna?
É busca pessoal baseada em cultura fora de sua família? É inteligência espiritual nascida
com ele? – Falei rapaz como poderia ter dito uma mulher. Tudo sã o exemplos e
consideraçõ es.
A igualdade de direitos e deveres, na verdade, deve ser tratada de forma isonô mica, ou seja,
de acordo com as possibilidades de cada indivíduo. Ora, se alguém é emocionalmente mais
está vel que outro, nã o se pode dar aos dois o mesmo tipo de trabalho.
Os direitos sã o iguais, mas diversos. A cada qual o seu possível.
Quando falamos, pois, de feminismo, nã o podemos pensar em mulheres tomando o lugar
dos homens, mas participando lado a lado. Cada um com suas características.
O feminismo é o uso igualmente dos dois hemisférios do cérebro. Hoje predomina no poder
o uso do hemisfério esquerdo, o cá lculo, o raciocínio, a ló gica. Faz-se pouco da intuiçã o, do
pensamento aló gico, das qualidades do hemisfério direito do cérebro. Este, sozinho, nã o
pode sobreviver, como o outro. O sr. Spock, da série Jornada nas Estrelas, é um personagem
impossível. (É bom ressaltar que cientistas existem que repudiam a divisã o da mente – nã o
do cérebro – em dois hemisférios...)
Nã o há necessidade da mulher contrair os vícios masculinos, ou deste contrair algum vício
feminino. Quero dizer, culturalmente – culturalmente, é o que digo bem e ressalto – as
mulheres desenvolveram o vício da fofoca – embora haja homens fofoqueiros. Assim como,
culturalmente, os homens desenvolveram o vício da violência contra os mais fracos –
embora existam mulheres violentas contra os mais fracos. Chamo isso de exemplos de
vícios masculinos e femininos.
O feminismo vencerá quando a mulher conseguir obter o seu lugar sem se corromper, sem
imitar os atuais poderosos, sejam eles mulheres ou homens. Vencerá quando os poderosos
nã o forem corruptos e puderem ser de qualquer sexo. Isso sim será a vitó ria do verdadeiro
feminismo.

Nosso Primeiro Computador

Foi em 1999. Eu já havia mexido com computadores antes, mas nã o desse tipo – o CP, ou
PC.
Houve uma vez, numa feira de informá tica em Campos do Jordã o, em 1984, em que fiquei
animado em criar mú sica no computador. Comprei uma fita cassete, que servia de
memó ria, e compus a mú sica, naturalmente com o auxílio técnico do rapaz que expunha o
aparelho. Incipiente, monó dica, mas estava lá , e serviu para meu trabalho de conclusã o de
curso (TCC), em Santos.
Antes disso, em 1978, digitei algumas poucas palavras que foram impressas em cartõ es
perfurados, na estaçã o de saneamento de á gua e esgoto de Piracicaba.
Portanto, em 1999 um rapaz – técnico em computaçã o – montou para nó s o que seria nosso
primeiro computador pessoal. Demos a ele o nome de Lethfaca. Só deu azar!
Dava pau toda hora, a gente nunca sabia como resolver, e qualquer coisa o levá vamos para
o técnico. Era perto de casa e ele sempre ficava nervoso com o fato de nã o sabermos como
arrumar.
O computador primeiro ligava no DOS e daí tínhamos que entrar no Windows. Uma
complexidade terrível!
Ainda nesse ano instalamos a internet. Naqueles dias, a conexã o demorava e enquanto a
internet estivesse ligada você nã o podia receber nem fazer ligaçõ es telefô nicas: a linha
ficava ocupada.
Passar de uma pá gina para outra demorava tanto que comprei pesinhos para me exercitar
enquanto isso acontecia.
Só de me lembrar de tantas quantas foram as mudanças até hoje, sinto-me navegando num
mar plá cido e reluzente... Claro, espero melhoras, porém nã o sou futuró logo para sabê-las.
O que sei é que, depois de mais alguns outros PCs que adquirimos, que tiveram nomes,
decidi que nenhum mais o teria! Foi o que bastou para terminar com o azar. Agora ele é um
computador impessoal (IC).

Nú meros e Letras

Quando olho para nú meros, nã o faço cá lculos imediatamente, mesmo que estejam
dispostos para tanto. Principalmente quando sã o entremeados por sinais de cá lculos.
Isso me acontece também quando leio certos textos, nã o sei especificar quais.
Acabo meditando sobre os nú meros, as letras, as palavras e, à s vezes, sobre as frases. Sua
simbologia, a musicalidade, a estética.
Por isso minha leitura se torna tã o lenta. Inclusive quando leio mexendo os lá bios, para
ouvir a poesia.
Noutras oportunidades, viajo rapidamente pelos textos, silenciosamente, sem me ater a
divagaçõ es, quando parece nã o oferecer poesia ou meditaçã o alguma.
Registros musicais

Vamos começar falando de como conheço o cantar de Francisco Alves (Chico Viola). Minha
avó o adorava e colecionava discos dele. Temos hoje, de recordaçã o, menos de quinze
bolachõ es de 78 rpm, ao todo menos de trinta cançõ es. Naturalmente sã o registros, para os
moldes de hoje, precá rios. Mas já foram, um dia, o que havia de mais moderno em termos
de gravaçõ es musicais.
Os Beatles gravaram seu disco Seargent Peppers, de aproximadamente quarenta minutos
de duraçã o, em um estú dio de quatro canais, em fita de rolo, que era o que havia de melhor
em 1967.
Das composiçõ es de Mozart, tudo o que temos hoje sã o suas partituras e relatos de época
sobre sua maneira de tocar. Nã o sabemos realmente como ele tocava pois nã o temos
registro sonoro dele. O que, na verdade, seria isso mesmo: apenas um registro sonoro. Mas
seria mais do que temos agora.
Com o YouTube podemos assistir diversos mú sicos antigos tocando em apresentaçõ es
diversas e conhecê-los assim um pouco melhor. Alguns podem ser uma bela surpresa,
outros uma decepçã o, mas é sempre uma forma de conhecimento.
Isso nos faz pensar no que os mú sicos antigos fariam se tivessem a tecnologia de hoje
disponível! Por que os atuais nã o conseguem dispor dessa mesma tecnologia com a
criatividade dos antigos? O que ocorre com os mú sicos de hoje, que têm tanto a seu dispor
e de nada aproveitam? Secou a fonte?

Percussã o
Instrumentos de percussã o na orquestra erudita nã o acompanham o ritmo. Isso seria uma
funçã o por demais ó bvia.
No entanto, na mú sica popular, isso acontece com uma constâ ncia demasiada. É comum
ouvirmos cançõ es com aquele tchic-tchic acompanhando o ritmo de forma tã o ó bvia que
cansa!
Já nã o falo dos instrumentos de percussã o determinados, naturalmente criativos, mas dos
indeterminados, que podem ser utilizados de diversas formas, nã o precisando ser
repetitivos pela cançã o inteira. Isso os torna enfadonhos, entediantes.
Os instrumentos de percussã o têm que adentrar na harmonia da cançã o, deixando a
marcaçã o do ritmo no ar, para que o ouvinte a alcance naturalmente.

Brian Jones

Esse mú sico era um gênio!


Fundador dos Rolling Stones, era a mola criativa da banda. Tocava inú meros instrumentos
– era o ú nico deles que fazia isso – e levou o grupo dos blues ao rock.
Com ele, nã o era apenas rock’n’roll: ele inventava...
Senã o, veja os discos de sua época, onde instrumentos musicais estranhos ao rock
convencional de entã o apareciam: flauta doce, sitar... todos tocados por ele.
A sonoridade dos Stones mudava sempre, embora tocassem rock e um pouco de blues. Mas
nã o era, como já disse, only rock’n’roll...
Mick Jagger tinha ciú mes dele nas apresentaçõ es, porque embora Jagger fosse o vocalista,
Jones era quem mais aparecia, já pela sua pró pria aparência de roqueiro modelo, já pela sua
presença de palco.
Depois de sua morte, Jagger assumiu a liderança do grupo e passou a ser aquilo que sempre
pretendeu: o centro das atençõ es.
O ú ltimo disco da banda em que Brian Jones apareceu foi Beggar’s Banquet.

Chimarrã o de micro-ondas

Ontem fui esquentar a á gua para meu chimas quando percebi que o gá s havia acabado.
Naturalmente pensei em trocar o botijã o, mas ao fazê-lo e testar com a esponjinha
embebida em detergente, as bolhas eram presentes, por mais que destravasse e travasse
novamente.
Como era domingo, nã o dava para ligar para o fornecedor. Entã o, decidi esquentar a á gua
no micro-ondas. Simples. A princípio. Precisei fazê-lo pouco a pouco, até chegar a dois
minutos e quarenta segundos, quando me pareceu, sempre testando, que a á gua chegara a
setenta graus Celsius, aproximadamente, que é a temperatura ideal para o chimarrã o.
Voltei a fazer o mesmo hoje pela manhã : nã o foi uma boa experiência, mas valeu a pena
tentar. A sensaçã o que tive é que a á gua ficou mais “pesada”...
O melhor que já consegui foi esquentá -la no fogo da churrasqueira. Parece que a fumaça
melhora, nã o só a carne, mas qualquer outra coisa, como já fizemos com feijoada.
Claro que o ideal é usar á gua de fonte! Á gua mineral eu acho frescura, quando a á gua de
torneira for bem tratada. Uma boa á gua faz a diferença, assim como a maneira que é
aquecida, a erva utilizada, a maneira de colocá -la, o formato e a idade da cuia, entre outros
fatores. Mas esquentar a á gua para o chimarrã o no micro-ondas, cá entre nó s, só em ú ltima
necessidade. Mesmo.
Ah, sim, na segunda-feira chamei o cara do gá s para dar uma olhada no botijã o e era defeito
numa borrachinha, parecida com a de torneira, que ele imediatamente trocou. Ficou bom.

O propó sito da existência

Uma pergunta crucial para o ser humano é o porquê de sua existência. Por que existo?
A religiã o ou a filosofia podem dar uma resposta, mas é pouco. É sempre racional demais
para o que precisamos. Podemos momentaneamente achar uma resposta, que nã o pode ser
descrita em palavras, mas ainda assim nã o nos damos por satisfeitos.
Na série Jornada nas Estrelas – A Nova Geraçã o (4ª temporada, episó dio 3, “Brothers”), há
uma cena em que o androide Data pergunta a seu criador, Dr. Soon, o porquê de ter sido
criado.
Nã o importa aqui a resposta, assista ao episó dio, mas a pergunta de Data. É a pró pria
indagaçã o que o ser humano faz a Deus. Na série, o androide pergunta a quem o criou o
propó sito de sua existência. É algo tã o sensível, tã o pró prio da dú vida primordial, que
pensamos em Data como o pró prio ser humano perguntando a Deus.
Por mais que obtenhamos uma resposta, nunca é satisfató ria. Se a ciência pudesse dizer
algo a respeito, seria totalmente impró prio e impalpá vel, porque estaria sujeito a futura
alteraçã o (como é pró prio à certeza científica).
Se um ser humano nos respondesse, poderíamos acreditar ou nã o, ter fé ou duvidar. Se
Deus nos respondesse nã o teríamos a capacidade de compreender.
Ou talvez a resposta seja tã o simples e palpá vel que nã o a saibamos, ainda que esteja a
nosso pró prio redor.
Poema

Seus cabelos sã o longos fios de prata


e eu a beijo
Seus cabelos sã o longos fios de prata
e os meus da mesma cor
porém curtos e mais ralos
copo-de-leite e açú car
Seus cabelos e os meus

Caraguatatuba, 12 de junho de 2018.

Palavras da Década
Nesta década de 2010 – estamos em 2018 – algumas palavras sã o muitíssimo usadas no
Brasil. De certa forma, isso ocorre também em outras partes do mundo, com suas
traduçõ es.
Aqui, alguns dos vocá bulos mais utilizados têm sido, incluindo suas variaçõ es:
. interagir;
. conectar;
. atualizar e
. acessar.
Apesar de serem pró prios aos computadores, seu uso ocorre em todas as outras á reas.
Em minha vida, sempre vi isso acontecer. Algumas palavras de algum jargã o --nã o gírias,
que é outro caso – começam a ser usadas por todo mundo, como se fossem parte do
vocabulá rio do dia-a-dia, e têm um tempo de vida. Eu mesmo utilizo com frequência
algumas, nã o exatamente as da moda. Estas, tenho o costume já antigo de evitar.
Já vi ocorrer isso com palavras advindas da comunicaçã o social, do mundo dos executivos, e
até especificamente da publicidade e propaganda – como adequar – entre outras.
Roberto Muggiati, na ediçã o de 1973 de seu livro Rock, o Grito e o Mito, comenta que os
jovens norte-americanos, desde o segundo meado dos anos 1960 até entã o, tinham suas
gírias voltadas para a tecnologia sobre o rock, e cita algumas: groovy, que seguramente se
originou no microgroove do LP, turn on, good vibes, high etc.
Lei do Carma segundo eu mesmo
Ao se produzir determinada energia, o que é feito de acordo com o ato praticado,
automaticamente produz-se também sua contrá ria equivalente, feito imagem e reflexo.
No cotidiano, é difícil perceber o que é reflexo de qual determinada açã o, ou conjunto de
açõ es. Ora, a forma com que essas energias e seus reflexos se apresentam nã o sã o, no geral,
coincidentes.
Nem sempre, por exemplo, o equivalente a um homicídio é outro homicídio contra quem o
praticou. Podem ser atos contínuos de violência em sua vida contra si mesmo, ou um
acidente grave, ou ganhar muito dinheiro e ser roubado minutos depois.
A dependência do reflexo cá rmico varia também de acordo com a escala de valores do
pró prio indivíduo.
Isto nã o é doutrina, apenas uma reflexã o.

O Big Bang

O Big Bang realmente aconteceu?


Podemos duvidar, já que é apenas uma teoria científica. E como toda teoria, mesmo que
pudesse ser de alguma forma comprovada para todos nó s, seria a qualquer momento
refutada por algum cientista ou alguma nova ciência.
O Big Bang nã o é um dogma, embora algumas pessoas o tratem assim.
Ora, cientistas já se perguntam sobre isso e têm novas teorias a respeito, até este dia 26 de
julho de 2018.

O cheiro do livro

As pessoas falam muito sobre isso quando defendem o livro físico sobre o digital. Ah, o
cheiro do livro é característico, tem que ser preservado!
Na verdade, nada substitui o aroma de um livro novinho; só o de um livro antigo... É muito
gostoso entrar num sebo e sair com uma sacola de exemplares exalando aquele ar de
usado.
Difícil mesmo é o cheiro de livro mofado, esse ninguém aguenta! É nessa hora que entra o
e-book: fragrâ ncia de eletrô nico é melhor que de mofo, tenho certeza de que ninguém
discordará de mim, a nã o ser algum arremedado.

O Genesis é sempre em todo lugar!

Deepak Chopra, em seu livro Como Conhecer Deus, disse que o Genesis é agora.
Com isso, está expressa a ideia de que ocorre a todo instante a criaçã o do mundo, quiçá do
universo, ou até extrapolando, de todos os universos!
É a velha tese de que tudo muda a todo instante, tudo se recria sempre...
Ora, por outro lado, ao contrá rio do que ele afirma nesse livro, penso que Deus deixa
pegadas bem visíveis na realidade. É fá cil de se observar isso.

Enciclopédias e meu professor

No meu tempo de escola, o professor de ciências reclamou certa vez das enciclopédias, em
especial da Barsa.
Disse que viciavam os alunos em suas pesquisas, que nã o buscavam mais os livros em geral,
nas bibliotecas, para encontrar as respostas para as suas dú vidas, mas que ficavam com o já
mastigado e fá cil das enciclopédias. Elas trariam todos os principais assuntos escolares de
maneira facilitada.
Nã o sei o que pensa ele hoje sobre a internet.
Pessoalmente, ainda guardo e à s vezes consulto minha enciclopédia Barsa, mas também
busco os livros, sejam eles físicos ou digitais. Somo a tudo isso a internet. Espero que isso
valha para meus filhos e netos.

O fim do livro: previsõ es

No início do século XIX preconizou-se o fim do livro. A razã o seria o advento da imprensa
escrita. Segundo Alberto Dines, em O Papel Do Jornal – Uma Releitura, a imprensa escrita
era considerada pelos contemporâ neos de entã o muito mais rá pida para o leitor se
informar que o livro. E assim o superaria.
Muitas vezes na histó ria aconteceu isso. Dines, em seu livro, fala ainda que a tipografia
poderia ter sido um ponto final para os manuscritos, mas isso demorou a acontecer.
Vemos o mesmo em diversos veículos de comunicaçã o. Disseram que o cinema acabaria
com os livros, assim como o fonó grafo, que a má quina de escrever faria as pessoas
deixarem de escrever à mã o, que a televisã o acabaria com o rá dio e com o cinema etc.
Agora a conversa é que os livros eletrô nicos (e-books) eliminarã o os livros tradicionais de
papel.
Será que nã o se cansarã o de fazer sempre a mesma previsã o?

Quando existe o som

O som é produzido por vibraçõ es no ar sentidas pelos nossos ouvidos. E pelo nosso tato.
Quando um bumbo amplificado toca, ouvimos com nossos ouvidos e sentimos sua vibraçã o
em nossa barriga.
Quando uma orquestra toca, podemos, além de ouvir com nossos ouvidos, sentir com
nossos corpos a vibraçã o dos sons, principalmente se o chã o for de madeira acarpetada e
estivermos sentados em poltronas.
Há uma famosa tese filosó fica que pergunta se o som existe quando uma á rvore cai na
floresta e nã o há ninguém por perto para perceber as vibraçõ es. Há quem diga que o som
nã o existe nesse caso porque para ele existir tem de se completar a ligaçã o, isto é, haver a
criaçã o do som e sua recepçã o.

A existência de Só crates

Só crates, o antigo filó sofo grego, nã o deixou nada escrito. Ele, segundo disseram – e
escreveram – temia que a escrita fizesse com que abandoná ssemos a memó ria.
Nunca pensou que adquiriríamos um novo tipo de memó ria, como se fosse um índice
catalogador de uma imensa biblioteca, ou de arquivos de um computador, em vez de
apenas alguns livros.
Francisco Bosco, em seu livro Alta Ajuda, no capítulo Modos de Saber, informa que “na
Antiguidade um leitor que tivesse lido cem livros era considerado um sá bio; cem livros é,
hoje, o que um intelectual estudioso pode ler num ano –“.
Se Só crates escrevesse – e se seus livros durassem até hoje – saberíamos que tal filó sofo
realmente existira e como realmente ele pensara e se exprimira.
No presente, tudo o que sabemos é o que escreveram Platã o e Xenofonte sobre o que ele
teria dito. Seu busto, preservado até hoje, pode ter sido apenas uma escultura posada por
um modelo outro que nã o o pró prio Só crates.

O bom selvagem?

Jean-Jacques Rousseau, em O Contrato Social, escreveu que o homem nasce bom e que a
sociedade o corrompe.
Nã o é ele, como disse Luiz Felipe Pondé, no Guia Politicamente Incorreto da Filosofia, o
precursor do politicamente correto de nossos dias.
Ora, Rousseau nã o dizia que o ser humano selvagem, distante da civilizaçã o, era bom, mas
sim o que acabou de nascer. Pois o selvagem guerreia, briga, luta para conseguir alimento,
como o civilizado. Igual é o ser que acaba de nascer, seja no meio selvagem ou no meio da
civilizaçã o.
O Mito da Caverna de Platã o revisitado
Vá rios homens viviam dentro de uma caverna acorrentados, vendo apenas imagens na
parede à frente formadas pelas sombras do que se passava do lado de fora.
Eles nã o conheciam a realidade, apenas as sombras, desde que nasceram.
Um dia, porque toda histó ria tem um dia... Pois, um dia cinco deles se soltaram das
correntes e foram para fora. A luz do dia lhes ofuscou a vista, pois nã o estavam
acostumados com tanta luminosidade. Com o passar do tempo se acostumaram e puderam
ver que a realidade era muito mais do que as sombras.
O primeiro nã o suportou o que viu e voltou a se acorrentar na segurança da caverna, sem
comentar nada com ninguém.
O segundo retornou e contou a todos o que viu; foi dado como insano e foi acorrentado
contra sua pró pria vontade.
O terceiro se deslumbrou com o que viu e nã o quis voltar, mas era tanta informaçã o que
enlouqueceu.
O quarto percebeu o quã o maravilhosa era a vida com a liberdade da luz e nunca regressou.
O quinto sabia que nunca mais poderia voltar, pois o passo que dera ao sair da caverna era
definitivo: sua vida nunca mais seria a mesma...
Onde está a moral da histó ria?

Caraguatatuba, inverno de 2018.

O Estudo das Religiõ es

Existem diversas pessoas que tentam compreender as diversas religiõ es do mundo.


Essas pessoas fazem estudos sociais, antropoló gicos, científicos, jornalísticos, histó ricos etc,
mas nunca conseguem chegar ao cerne da questã o. Por mais que se aprofundem, nunca
saem da superfície. E por quê?
Ora, para se compreender uma ú nica religiã o, e eu digo uma, é necessá rio vivê-la
cotidianamente, com todos os seus ritos, textos, imagens; é necessá rio ter pessoas que
coabitem a mesma crença; é necessá rio estudar e discutir a religiã o com assiduidade; é
necessá rio acreditar nessa religiã o para entendê-la: acima de tudo é preciso ter fé nessa
mesma religiã o.
A fé é mais que acreditar: é crer sem nunca ter percebido com seus sentidos.
Isso para se compreender e tentar explicar uma religiã o. Para se tentar fazer um estudo
comparativo seria mister vivenciar cada uma delas da forma como expliquei acima. Nã o
com como quem percebe de fora. Assim, um ateu nã o pode querer dizer algo sobre o
assunto, nã o tem o direito de opinar, já que nã o vivencia religiã o alguma: é o mesmo que
um estrangeiro qualquer vir para o Brasil e querer resolver a nossa política...
Assim, sem citar nomes, mas com todo o respeito pelos estudiosos de religiã o comparada,
se queremos realmente saber a verdade de cada uma, tem que fazer o que escrevi acima.
Pois para explicar uma crença pelos seus aspectos exteriores é como descrever um animal
vivo através de sua dissecaçã o.
É preciso uma vida inteira para dizer que começou a entender determinada religiã o.

Tudo Nã o Muda

Quando declinamos a má xima Tudo Muda, queremos dizer que todas as coisas e todos os
seres mudam. A todo instante.
Nada ou ninguém é o mesmo no momento presente do que foi no passado ou do que será
no futuro.
Ora, se assim é, se tudo muda, isso quer dizer que existe uma infinitude que nã o se altera
nunca. Faz parte do processo do tudo mudar... Se Tudo Muda, algo e alguém nã o muda. Isso
é ló gica, pura ló gica.
É o que tenho a dizer por enquanto.
Caraguatatuba, 29 de agosto de 2018.

Quase Democracia

Estamos passando, neste período entre o primeiro e segundo turno das eleiçõ es
presidenciais de 2018, por uma situaçã o inacreditá vel!
Nunca tivemos uma disputa em que os eleitores estivessem tã o acirradamente contra uns
aos outros. Nã o há discussõ es, há somente brigas, um lado diametralmente oposto a outro
lançando vitupérios. Nã o há democracia, apenas ignorâ ncia imperando entre as partes
concorrentes.
Quando, anos atrá s, Lula concorreu com Collor no segundo turno, os eleitores que votariam
contra o Lula tinham, na verdade, medo do que ele faria se entrasse. E os eleitores que
votariam contra o Collor temiam uma perpetuaçã o dos ricos no poder. Ora, Collor venceu e
fez coisas que seus eleitores temiam que Lula fizesse se ganhasse. Claro que os ricos, no
final, continuaram ricos, e os pobres, pobres... E Collor nã o terminou o mandato, embora,
anos depois, tenha sido eleito senador pelos alagoanos.
Agora, com Haddad versus Bolsonaro, nã o temos um vislumbre das possibilidades de cada
candidato, apenas especulaçõ es. Nã o sabemos quem está por trá s de cada um, especulamos.
Nunca o Brasil ficou tã o dividido! Os eleitores estã o brigando com seus amigos e familiares
por causa de política eleitoral, um absurdo! O que deveria ser uma eleiçã o democrá tica está
virando quase uma guerra civil.
Vamos aguardar o que acontecerá , para entã o apoiarmos o futuro presidente do país, seja
lá quem for. E assim o faremos enquanto ele respeitar os direitos fundamentais do ser
humano e a Constituiçã o brasileira.
Caraguatatuba, 15 de outubro de 2018.

O Médico e o Monstro

Andei relendo O Médico e o Monstro: Ou o estranho caso de Dr.Jekill e Mr.Hyde, de Robert


Louis Stevenson, numa primorosa tradução de A. Victor Machado. Adquiri em versão digital
pela Amazon.
O livro foi originalmente publicado em 1886, há mais de cem anos portanto, e nã o é mais
uma obra de terror, mas continua sendo um romance de terror gó tico, se for para reduzi-lo
a um gênero literá rio.
O que nos interessa cá é justamente a contraposiçã o entre os dois personagens da histó ria:
Dr. Jekill é um ser humano completo, com todas as tendências dentro de si, nã o só a
bondade; Mr. Hyde é unicamente seu lado mau. Um nã o é o contrá rio de outro, apenas sã o
diferentes. O que o doutor pretende com sua poçã o é libertar o mal para que este possa agir
livremente, sem a dor da culpa, e depois, com outra poçã o, regenerar-se no original, e este
reparar os danos daquele.
Isso nos leva a refletir sobre quem é pior, Dr. Jekill, consciente do que faz, ou Mr. Hyde,
vítima do ser completo, embora seja o mal encarnado.
Stevenson é bem atual quando pensamos nisso e vemos nossos políticos e suas armaçõ es
nos bastidores.
Essa histó ria já foi comparada por uma youtuber, há cerca de umas semanas, com O
Visconde Partido ao Meio, de Ítalo Calvino. Neste conto, o visconde vai à guerra e volta
dividido exatamente ao meio, verticalmente, cada lado para um lugar diferente do país.
Porém, aqui, um é perfeitamente bom e o outro perfeitamente mau. Nã o se pode comparar
com o romance anterior.
- Cada um de nós tem em si o céu e o inferno, Basílio – exclamou Dorian, com um desabrido
gesto de desespero.
Oscar Wilde; O Retrato de Dorian Gray, excerto do capítulo XIII.
Caraguatatuba, 23 de outubro de 2018.

Dorian Gray

Muita gente nã o leu o livro O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, e acha que sabe sobre
o que é. Nã o sabem.
As pessoas acham que o retrato mostra o envelhecimento do personagem principal
enquanto ele permanece jovem na realidade.
Ora, há mais do que isso: o retrato mostra também o desenvolvimento da personalidade de
Gray, ou, como diz o autor, seus pecados...
Na verdade, isso é o mais importante na histó ria, pois o envilecimento no retrato é mais
notá vel que o pró prio envelhecimento.
Outro erro que ocorre por quem nã o o leu é dizer que o retrato tem esse poder em razã o de
um pacto com o demô nio que Dorian Gray teria feito; isso nã o é deste livro, pois o que
ocorre é pelo simples desejo profundo do personagem. A participaçã o diabó lica pode até
ser subentendida por algum leitor, mas isso seria um hiper-texto.
Caraguatatuba, 27 de outubro de 2018.

O Mal de Nossas Traduçõ es

O grande problema de nossos tradutores é com a língua portuguesa.


Cada vez com mais frequência, noto nas traduçõ es atuais erros de português, que parecem
passar despercebidos pelos revisores. Nã o sei, será que ninguém mais liga para nosso
idioma? Nã o estou falando nos erros de digitaçã o.
Vejo isso bastante nos livros digitais e menos nos físicos, mas vejo em todos.
Outro problema de tradutores brasileiros, que nã o acontece com os de outros da língua
lusa, ou mesmo do espanhol ou italiano, é traduzir, por exemplo, autores alemã es
mantendo alguns termos no original, sem nota explicativa. Ora, se soubéssemos o que
significa tais, sem buscar no dicioná rio, leríamos a obra em alemã o!
Nã o preciso dizer que termos ou citaçõ es em idioma alienígena, em relaçã o à língua do
autor, nã o traduzido pelo escritor, nã o precisam ser traduzidos para o português, a nã o ser
que ele o faça para o seu. Isso é evidentíssimo!
Caraguatatuba, 23 de outubro de 2018.

A Vida é Diluir-se

Quando um estudante do Tao-te-king se torna tauista, ele está diluindo os princípios do


Tao, transformando um pensamento numa crença. O mesmo se dá com o Zen e o Zen-
Budismo, as Escrituras cristã s e o Cristianismo, Adam Smith e o capitalismo, Karl Marx e o
comunismo.
Ora, toda vez que um princípio, uma ideia, evolui para uma reflexã o, um texto, um livro,
uma filosofia, uma religiã o, uma ideologia, ou seja lá o que for, eles se diluem.
Se nos mantivermos nos princípios, nas ideias primordiais, na Unidade, nã o evoluiremos:
ficaremos estagnados.
O desequilíbrio cria o movimento. O movimento é da Natureza, o movimento é do Ser
Humano, o movimento é Vida! O movimento é a diluiçã o do Ser. Sem diluiçã o nã o há vida. A
vida, pois, é diluir-se.
Caraguatatuba, 2 de novembro de 2018.

Bits

Quando lançaram no mercado o CD, disseram seus propagadores que se tratava de uma
mídia invencível, que nã o se degradava, que era indestrutível por pisadas de botas sobre o
material gravado, além de um som muito mais puro que o do vinil e, naturalmente, da fita
magnética.
Tudo se revelou, com o passar do tempo, um tremendo engodo. Eu mesmo tenho em casa
vá rios CDs que pulam em determinadas faixas, as quais se tornaram impossíveis de se
tocar. Em compensaçã o, tenho discos em vinil riscados que, apesar de pularem em vá rias
faixas, nã o deixam de tocar.
É certo que a vinda do som digital trouxe alguns avanços, ouço muita mú sica dessa forma,
mas ainda tenho meus vinis.
O mesmo se dá com os livros. Quando Johannes Gutenberg ocidentalizou a prensa, os
manuscritos, que eram feitos um a um, raríssimos e por isso caríssimos, foram pouco a
pouco sendo substituídos por escritos impressos. Estes se multiplicaram em quantidade e
diminuíram razoavelmente o preço do exemplar.
Ao mesmo tempo, muito mais autores passaram a ser lidos. E muito mais exemplares de
cada livro existiam para serem adquiridos e conservados nas bibliotecas pú blicas e
particulares.
Criaram-se as editoras, que escolhiam quem deveria ser publicado e quem nã o. Com tal
fato, muitos autores publicaram suas obras por conta pró pria. Inclusive, nos anos 1970 e
início dos 1980, houve o movimento da literatura marginal, em que, além de se publicar
externamente à s editoras, nã o raro as publicaçõ es iam além do tradicional formato-livro.
Com a criaçã o dos e-Books (livros eletrô nicos) e dos á udio-livros, deixa-se de ser o papel
(ou a seda, o pergaminho...) o ú nico meio de se propagar ideias. A multiplicaçã o de títulos
aumenta consideravelmente. Isso porque, além de se ter os livros que já existiam
fisicamente e agora podem ser digitados, ou gravados, há inú meros títulos que nascem
digitais.
O que vem tudo isso a dizer? Que estamos pensando em conservar com mais facilidade os
livros de nossa civilizaçã o em bits. Mas assim como o papel, a seda, o pergaminho, os
microfilmes, os CDs, os discos, as fitas magnéticas, os bytes também se desgastam: Bits se
degradam com o passar do tempo. Documentos podem se perder no ciberespaço por conta da
obsolescência da mídia em que estão registrados. (Robert Darnton – A Questão dos Livros,
Parte I, cap.2).
Ednei Procópio, no glossário de seu livro Construindo uma Biblioteca Digital, quando fala
sobre backup, escreve: já se foi dito que o papel dura até dez vezes mais que os HDs (...) e até
mesmo CDs. (...) com o passar de dois mil anos, livros escritos em papel ainda se mantinham
intactos... E arquivos eletrônicos criados dois anos atrás eram simplesmente inacessíveis.
Craguá , 16 de outubro de 2018.
Rita Lee

Quando comecei a ir aos shows de Rita Lee & Tutti-Frutti, está vamos pelo meio dos anos
1970 e seu pú blico era de uma juventude roqueira brasileira, que andava com roupa fulêra
e nã o militava na política, como o pú blico da MPB, que nos desprezava.
Naquele tempo, na cidade de Sã o Paulo, era mais ou menos sempre a mesma turminha que
ia aos shows de rock. Rita Lee tinha seu pú blico específico, entretanto, pois era quem mais
vendia discos e sempre tinha alguma cançã o na parada de sucessos – o que em bom
português se convencionou chamar de hit parade.
Como acontecia com todas as bandas, Rita Lee também era muito melhor ao vivo do que
nos discos. Nã o só na qualidade intrínseca musical, mas na sonoridade. O que se ouve hoje
nos discos que ficaram é apenas uma sombra do que rolava naqueles dias.
Houve, porém, uma particular mudança de pú blico em 1978, quando ela desmanchou o
Tutti-Frutti e lançou o Cã es e Gatos. Em sua autobiografia Rita deplora esse período. Para
mim também foi uma decepçã o, mas por outra razã o que a da musicista: nã o encontrei os
antigos roqueiros na plateia, e sim famílias comportadas, sentadas em suas poltronas.
A partir de entã o, quem começou em casa a comprar seus discos foi meu pai...
Claro, um dia, mais para a frente, eu também formaria uma família só para chamar de
minha. Porém, sua mú sica mudou muito e nunca mais tive ganas de frequentar shows da
Rita Lee.
Caraguatatuba, 16 de novembro de 2018.

Adendo

Rita Lee abriu as portas para as novas cantoras brasileiras que cantam rock,
principalmente as que lideram bandas. Se nã o fosse por ela nã o haveria Ana Cañ as, por
exemplo, ou Pitty.
27/11/2018.
Livros de Arte

Como preservar livros de arte? É o mesmo que perguntar como se preservar obras de arte,
monumentos histó ricos, artefatos etc.
Há dois tipos de livros de arte: o primeiro é aquele que registra obras fotografando-as,
descrevendo-as de alguma forma; o segundo, que é o que tratarei aqui, é o que é, em si, uma
obra de arte.
Nã o dá para digitalizá -lo, pois a có pia nunca trará a exata aparência do original.
Imaginemos entã o uma có pia do livro de arte, enquanto objeto artístico, em três
dimensõ es, para gá udio de admiradores de geraçõ es futuras. O material nã o seria o mesmo
do original, mas um plá stico ou algo que o valha. Talvez possa se parecer com o original, ter
as mesmas cores, até o mesmo cheiro. Mesmo assim é uma có pia.
Atualmente, mapas antigos e livros de arte do primeiro tipo sã o escaneados em arquivo
PDF, o que os torna impossíveis de serem vistos por um e-Reader (leitor de livros
eletrô nicos), mas de alguma forma possíveis por um computador de mesa, por exemplo. O
segundo tipo, por enquanto, é impraticá vel de ser devidamente copiado.
Caraguatatuba, 16 de novembro de 2018.

Ops!

Falamos tanto sobre leitura que vamos nos esquecendo que vivemos num país repleto de
analfabetos funcionais. Em pleno 2018!

Internet das Coisas

É tã o normal falar-se de internet das coisas como se vivêssemos num país que tivesse pelo
menos eletricidade em cem por cento de seus municípios. Em pleno 2018!
Sofistas e a Dialética

É vá lido um processo dialético em que participe um ou dois sofistas?


Nã o. A dialética tem como escopo a busca pela verdade. O sofista só quer mostrar que tem
razã o, é um despejar de palavras oco.
A dialética nunca existiu para alguém mostrar que está mais certo que o outro, mas para
que haja uma discussã o em que resulte uma resposta satisfató ria para ambos. Como já
expliquei em outro livro, essa resposta será a tese para uma nova discussã o futura, em que
ela será questionada para, talvez, uma nova síntese.
O processo nã o para, mas deve ser feito por pessoas realmente interessadas em buscar a
verdade, nã o que queiram a todo custo mostrar que têm razã o.
18nov2018.

Dois Minutos e Quarenta Segundos

Outra vez aconteceu.


O gá s acabou e eu queria esquentar a á gua para fazer meu chimarrã o.
Desta vez nã o é domingo, mas...
Estamos sem dinheiro para comprar um botijã o cheio. Se gastarmos o que temos, ficaremos
só com alguns trocados para o resto do mês.
A soluçã o é aquela: aquecer a á gua no forno de micro-ondas.
Sei, por experiência, que nã o fica lá essas coisas, que o líquido fica pesado e tal, mas é a
ú nica soluçã o.
Desta vez usarei á gua mineral, para minorar o problema – trocadilho infame!
Tive que buscar lá no início deste volume o tempo necessá rio para aquecer a á gua: dois
minutos e quarenta segundos, com um palito de dente dentro, pro líquido nã o explodir na
minha cara!
21Nov2018.

Adendo
A á gua mineral que temos em casa é com gá s. Nã o serve para o chimarrã o.
Estou usando á gua da Sabesp mesmo, que aqui em casa é muito boa, e vou levando...
23/11/2018.

Cá ssia Eller

Ninguém abriu espaço para Cá ssia entrar. Ela derrubou barreiras musicais e adentrou com
seu vozeirã o cantando de tudo, do samba ao baiã o, da MPB ao rock!
Nã o discuto sua questã o sexual, que é externa ao plano musical, nem a causa de sua morte,
que acho que até hoje nã o foi bem explicada, mas seu modo de cantar.
Nunca houve, antes, durante, ou depois de sua vida, outra cantora com tanto potencial
ainda por explorar. Tinha muito ainda a dar, muito a experimentar. Sua voz era inigualá vel.
O pouco que ela deixou gravado mostra isso.
Cá ssia Eller nã o deixou discípulos nem seguidores.
Novembro de 2018.
Bixo da Seda

A primeira vez que vi o Bixo da Seda foi quando ele veio para um supershow de rock que
aconteceu num giná sio esportivo na capital paulista. Eram vá rias bandas e eles fecharam a
madrugada, terminando à s cinco horas da manhã .
Eram de Porto Alegre, e achei o som deles excepcional, muito pesado e bem tocado. Decidi
que compraria seu disco.
Tempos depois, fui a uma loja e o comprei: Estação Elétrica. Ao chegar em casa e botá -lo na
vitrola, o que senti? Uma enorme decepçã o! Nã o tinha nada a ver com o que eu tinha ouvido
no show, faltava peso, empolgaçã o, faltava som!
Normalmente, como já falei antes, isso sempre acontecia com os discos de rock no Brasil. As
gravadoras, os produtores, deixavam-nos com cara de mú sica brega, as vozes lá em cima, as
guitarras lá embaixo junto com a bateria e os teclados, o baixo no meio. Como minha
vitrolinha era uma sonatinha estereofô nica, nada ajudava.
Passaram-se as décadas. Vieram os CDs, os DVDs, o YouTube, o som digital.
Há poucos dias meu amigo Marcelo terminou de consertar minha vitrola CCE, que nã o é o
que melhor se pode ter, mas é bem melhor que minha antiga sonatinha. Coloquei para
ouvir o disco do Bixo da Seda. E nã o é que ele é muito bom? Tenho que me lembrar que ao
vivo era bem melhor, mas nã o posso deixar de reconhecer de que a gravaçã o me deixou
feliz. Nã o pela recordaçã o, mas pela mú sica mesmo, em si.
Achei-os no YouTube, tocando ao vivo, em gravaçã o recente. Nã o é a mesma coisa que ouvir
num vinil, enchendo as caixas de som... Mas para quem nunca os ouviu, é uma boa ideia pra
se conhecer como estã o atualmente. É , porque parece que, ou a banda voltou a se reunir
para tocar o velho repertó rio, ou...
27/11/2018.

Nietzsche Nazista?

Muitos leitores de filosofia, ou que apenas ouviram falar nesse filó sofo sem nunca o ler, que
o discutem como se houvessem lido com atençã o a pelo menos um de seus livros, dizem
que ele era nazista.
Depois que ele morreu, em 1900, sua irmã ficou detentora de todos os seus arquivos. Ao
subir Hitler no poder, imediatamente ela disse que o Super-Homem do filó sofo era um ideal
baseado na raça ariana, desprezando todas as outras raças. Esse era o ideal nazista, mas
nã o o de Nietzsche, conforme confirma Nicholas Fearn, em seu livro Aprendendo a Filosofar
em 25 Lições. Ora, a ideia do Homem Superior, de Assim falou Zaratustra, era a de um
homem acima da mesquinharia intelectual humana, ou além da mediocridade, como
podemos ler em Ecce Homo.
Hitler gostava muito da mú sica de Wagner, que foi muito admirado também por Nietzche.
Mas este, com o passar do tempo, desgostou do compositor, diz Fearn, já por seus ideais
pró -nazismo. Também desprezava seu pró prio povo, o alemã o. Nietzsche gostava de outras
naçõ es muito mais que a sua.

A Propósito

Henry Miller, no seu texto A Hora dos Assassinos, na parte onde fala de sua relação com o
poeta Arthur Rimbaud, declara: O novo homem só se descobrirá quando terminar o conflito
entre a coletividade e o indivíduo. (Trad. Milton Persson.)
30/11/2018.

Arte-de-Rua

O que é arte-de-rua? É aquela praticada no espaço pú blico, digamos, aberto. Nã o se


considera assim aquela feita nos espaços pú blicos fechados, como museus, casas bancá rias,
teatros, livrarias etc, ou, claro, em espaços particulares.
Dessa forma, a apreciaçã o dessa arte deve ser feita, ú nica e exclusivamente, nos espaços
pú blicos abertos, como calçadas, praças, muros etc. A arte de rua nã o cobra entrada, mas as
pessoas podem deixar uma contribuiçã o pessoal aleató ria, nã o-obrigató ria, dependendo do
caso.
É vá lido levar a arte mural dos muros externos das ruas para os museus? Lá fora, elas sã o
feitas para serem apreciadas de relance, em movimento; nos museus nã o perderia essa
característica? E quanto à s apresentaçõ es musicais? Se forem levadas a locais fechados,
com hora para começar e terminar, programas pré-determinados, já nã o serã o mais arte-
de-rua, claro.
O que se pode é levar qualquer tipo de arte do espaço externo pú blico ao interno, mas aí
nã o se poderá mais ter a mesma denominaçã o.
Ora, no fundo isso tudo nã o tem importâ ncia alguma, pois é só mais uma questã o inú til de
nomear o que nã o precisa ser rotulado.
Primeiro de dezembro de 2018.
Julgamento de Obras de Arte

Que sentido há num concurso de obras de arte? Que sentido há em dizer que determinada
obra é melhor que outras? A ú nica perspectiva é a do gosto pessoal. E isso vale para todo e
qualquer tipo de arte, desde a culiná ria até a escultó rica, passando pela pintura, gravura e
desenho, literatura e poesia, mú sica, ou qualquer forma que se possa denominar como arte.
Historicamente podemos observar como determinados artistas famosos em sua época
foram esquecidos apó s sua morte. Ou aqueles que só foram reconhecidos muitos anos
depois, como Van Gogh. Ou os que tiveram reputaçã o merecida ainda em vida e também
apó s sua morte, como Volpi.
O que qualifica um artista como bom ou mau? O valor em dinheiro de suas obras? Seu
aspecto revolucioná rio em alguma á rea? Sua renovaçã o artística? Seu apego à alguma
tradiçã o? Ser legítimo e fiel retratista?
Como se nota no olhar contemporâ neo, nã o há julgamento que possa explicar o valor de
uma obra. A pró pria vida de um artista pode ser vista como arte. E isso nã o tem preço.
2/12/2012.

Rock Argentino

Estive em Buenos Aires em 1977. Estava interessado em conhecer o rock argentino de


entã o. Comprei uma revista Pelo – Cabelo -, entre outras, mais histó ricas, e fui buscar fitas
cassete do gênero.
Os donos das lojas de discos eram peremptó rios: - Não existe rock argentino!
Para eles, era impossível ter esse tipo de mú sica na terra de Gardel. Mas achei, entre outras
coisas, uma fita do Sui Generis e outra do Almendra.
O rock latino daquela época era tã o bom quanto o brasileiro e suas gravaçõ es tã o ruins
quanto as nossas.
Nã o tenho mais as fitas cassete, mas dá pra encontrar muita coisa no youtube. O problema é
que é um som digitalizado, nã o tem a pureza do original. Mas é melhor que nã o ter nada.
6/12/2018.
Líderes

Existe a anarquia, que nã o é bagunça, mas a inexistência de um poder centralizador em um


Estado.
Naturalmente, o objetivo final da anarquia é a inexistência de poderes centralizados no
mundo inteiro, sem divisõ es territoriais e políticas, sem a existência de dinheiro, cada
pessoa sabendo seus direitos e limites para nã o prejudicar o pró ximo, todos se respeitando
nesse sentido.
Utó pico? É o que os anarquistas propunham no final do século XIX e continuam até hoje.
Claro que existem variaçõ es da proposta, o que acontece de um teó rico para outro.
Ocorre, porém, uma falha nesse processo. Os pró prios teó ricos do anarquismo sã o líderes
em suas á reas. Haja visto Bakunin, que tinha literalmente seguidores, quando andava pelas
ruas. Mas esse é um caso extremo. O que acontece é que, quando um anarquista expõ e suas
ideias, ele espera que as pessoas as aprovem e, inevitavelmente, o sigam.
Inconscientemente, ou de uma forma inocente, ele passa a ser uma espécie de poder
centralizador, mesmo que nã o queira.
O mesmo acontece com pessoas que combatem as religiõ es organizadas. Elas mesmas
acabam se tornando centralizadoras de movimentos espirituais ou nã o espirituais.
Sem querer, todos aqueles que combatem um Poder existente, seja ele político, religioso,
artístico, ou que seja, tornam-se líderes de um novo. É uma roda viva.
8/11/2018.

Ao Mesmo Tempo
Tenho o costume de ler vá rios livros ao mesmo tempo. Isso já vem de muitos anos, e por
isso tive que voltar a usar marcadores de pá ginas. No início, utilizava pedaços de papel
quaisquer. Mas, a exemplo da Fafí, comecei a guardar alguns marcadores. Na verdade, ela
os coleciona, além de usá -los, mas eu nã o chego a tanto. Só tenho o bastante para meu uso.
Estou lendo nestes dias:
1. SUSAN SONTAG; Entrevista completa para a revista Rolling Stone (pela segunda
vez);
2. Vários Autores (Entre eles, ALBERTO MARSICANO): Rimbaud por ele mesmo;
3. JAMES GEARY; O mundo em uma frase;
4. SOR JUANA INÉS DE LA CRUZ; Letras sobre o espelho (Poemas) (pela segunda
vez);
5. JASON PRADO e PAULO CONDINI (organizadores); A formação do leitor (pela
segunda vez);
6. ANA SÍLVIA SCOTT; Os portugueses.

À exceçã o do ú ltimo livro, que é digital, e por isso nã o precisa de marcador, e das
escrituras, que nã o conto entre as leituras mas leio todos os dias, os outros têm
marcadores bonitos, que dã o gosto de se ver.
Muitos anos atrá s, como já contei em outro opú sculo, uma bibliotecá ria me disse: - Um
bom leitor nunca esquece onde parou de ler!
Ora, isso valia para o tempo em que eu lia apenas uma obra de cada vez. Hoje em dia, nã o
tem mais jeito, a nã o ser com os e-books, que marcam sozinhos onde você parou de ler. E é
comum, também com os livros digitais, ler mais de um de cada vez.
Tem gente que pergunta – e isso é inevitá vel: - Você não confunde um livro com outro?
Na verdade, nã o. Isso principalmente porque ficçã o é sempre uma por vez. Os que se
alternam sã o os de nã o-ficçã o.
12/12/2018.

Bó n Apétit
Há um costume entre certos garçons de falar bom apetite à s pessoas que eles servem.
Porém, isso me parece desnecessá rio quando o que se serve nã o é uma refeiçã o, mas um
salgadinho, ou um doce, ou algo afim.
Na verdade, poderia ser dito, algo como desfrute, ou bom proveito, sei lá .
Talvez esteja exagerando, mas me parece que algo pode ser criado nesse sentido.
12/12/2018.

À Margem das Traduçõ es


Em 1944, Agenor Soares de Moura, sob o pseudô nimo C.T. (Crítico de Traduções), iniciou
uma coluna dominical no suplemento cultural do Diá rio de Notícias, do Rio de Janeiro. Nã o
completou dois anos, mas causou muito rebuliço entre os tradutores de entã o e,
consequentemente, dos editores. Passado um tempo, estes deixaram de lhe mandar livros
para aná lise, pois muitos dos tradutores a que ele se referia eram figurõ es de renome,
como Monteiro Lobato e É rico Veríssimo.
Nã o adiantava. Agenor metia o pau, provava mostrando os trechos dos originais e as
traduçõ es feitas. A seguir, mostrava sua correçã o, com a explicaçã o devida.
Quando os editores deixaram de lhe enviar livros, ele começou a comprá -los de seu
pró prio bolso. Isso o deixou mais pobre, pois era parco o seu salá rio no jornal.
Nascido em Barbacena, Minas Gerais, autodidata, deixou pá ginas riquíssimas nesse
assunto tã o pouco discutido no Brasil.
Poucos dias atrá s, comprei um livro justamente com o nome À Margem das Traduções,
organizado por Ivo Barroso, com prefá cio datado de 1957, de Paulo Ronái. É o ano da
morte do tradutor. Traz todos os artigos de Agenor, de 1944 a 1946.
Nã o me arrependi de tê-lo adquirido. Li com muito gosto! Recomendo-o aos tradutores
atuais, mas também ao pú blico leigo, como eu, que possa se interessar pelo assunto. Como
autor, traz o nome do Agenor.
14/12/2018.

Adendo

O livro tem um defeito: suas letras sã o minú sculas! Nã o custava colocar tipos maiores,
embora aumentasse, assim, o nú mero de pá ginas. Depois quando a gente fala em preferir
a leitura de livros digitais, sempre há quem reclame...

Adendo de 19/12/2018

Há um ponto em que discordo do sr. Agenor: quando, no texto original, há a repetiçã o


continuada de um vocá bulo, ele é da opiniã o de que, na traduçã o, devemos diversificá -lo.
Pessoalmente, considero que precisamos, no geral, manter a continuidade, a fim de nã o
perder o estilo do autor, que pode estar justamente repetindo a palavra de propó sito. Mas
isso talvez seja um detalhe de somenos. Nã o tenho capacidade para discutir a matéria com
tã o ilustre crítico de traduçõ es e tradutor.
Ainda Sobre Traduçõ es
Penso que, numa traduçã o, deve-se verter também as medidas, como milhas, pés e graus
Farenheit, por exemplo.
Ora, que sentido existe em nã o traduzir também as medidas utilizadas em outro país? No
Brasil usamos quilô metros, metros, quilos, Celsius, entre outros, diferentemente, v.g., dos
Estados Unidos.
A versã o para o português, portanto, deve ser completa. Sem evasivas.
29/12/2018.

Primeira Diretriz
Para quem segue as séries Star Trek – Jornada nas Estrelas – já deve ter ouvido falar na
Primeira Diretriz, que o Capitã o ou Capitã procura seguir à risca.
A primeira e ú nica vez que a citaram, pelo texto completo, até hoje, foi no episó dio 25 da
segunda temporada, Pão e Circo, na série clá ssica, a primeira, com o capitã o Kirk.
Ela diz o que se segue.

Não identificar a si ou a missão.


Não interferir no desenvolvimento social do planeta.
Não se referir ao espaço ou ao fato de haver outros mundos e civilizações avançadas.

O Sr. Spock, o Capitã o James Tiberius Kirk e o Dr. Leonard McCoy estã o num planeta classe
M, que concluíram ter a aparência exata da Terra do século XX.
Spock pergunta ao Capitã o se a primeira diretriz se aplicaria e ele cita as duas primeiras
partes, concluídas pelo Dr. McCoy.
Até entã o, o pú blico só sabe que eles sã o de um futuro distante do entã o presente ano
1967. Nã o se diz a que século pertencem. Só quem tem acesso aos DVDs da série fica
sabendo que é o XXIII.
29/12/2018.

Adendo
Todas as Star Trek sã o boas, menos a Discovery, que destruiu o visual dos Klingons,
estabelecido a partir da segunda série e transformou tudo numa Star Wars – Guerra nas
Estrelas – que nã o tem nada a ver com a original.
As melhores mesmo sã o a série clá ssica e A Nova Geraçã o, em que, no geral, cada episó dio
é uma histó ria diferente. Minha opiniã o. Como fã de carteirinha.
29/12/2018.

O Início do Tempo
O Tempo no universo começou, como já disse em outra ocasiã o, com seu nascimento, no
Big Bang.
O Tempo na Terra, entretanto, começou com a expulsã o de Adã o e Eva do Jardim do É den.
Até entã o, ele nã o existia, apesar da sucessã o de eras. As noites e dias se alternavam,
porém o ser humano só veio a existir no final de vá rias eras. Mas o casal primordial nã o
vivia, só existia.
Com a saída de ambos do É den começou a vida como a conhecemos, e assim o cô mputo do
Tempo, da forma como o concebemos hoje.
Há uma contagem de anos que coloca o início da criaçã o da Terra em 4004 AC. Quatro
anos teriam se passado até a expulsã o de Adã o e Eva. Contudo, teria sido isso que tipo de
contagem?
Caraguatatuba, 1°. de janeiro de 2019.

Outra Forma de Vida


Sempre imaginamos que, para haver vida, biologicamente falando, há de ter carbono.
Nunca pensamos que possa haver vida, biologicamente falando ainda, sem essa premissa.
Pois no episó dio 25, Demônio da Escuridão, da primeira temporada de Jornada nas
Estrelas – A Série Clá ssica –, aparece um ser vivo num determinado planeta que é
constituído de matéria, biologicamente falando, inorgâ nica.
É um ser com vida baseada em silício. Um corpo mineral, portanto.
Tal fato ocorre apenas nesse episó dio, nã o sendo reexplorado em outros.
Convido você a encontrar na série Discovery, pelo menos na primeira temporada, de
2018, que foi o que assisti até agora, a encontrar alguma coisa tã o criativa quanto isto.
Criativa e extremamente ló gica, nã o fantasiosa.
Caraguatatuba, 1°. de janeiro de 2019.

A Ideia Absoluta
Na concepçã o de Hegel para a dialética, ele achava que haveria um momento na histó ria
em que chegaríamos ao que ele chamava de ideia absoluta.
Nesse ponto, haveria o fim da histó ria e de todas as modificaçõ es. Seria o fim da evoluçã o,
o ponto má ximo.
Hegel era luterano convicto, embora sua ideia de Divindade fosse um pouco heterodoxa
para os partidá rios de sua religiã o. Ele considerava Deus como o Todo do Universo, mais
um pouco, que necessitava de nó s para evolver, mesmo sendo um Ser acima de todos os
seres. Ora, Ele estaria evoluindo sempre...
Duas correntes filosó ficas se formaram apó s sua morte. A direita hegeliana, que era teísta,
nã o foi muito em frente, mas pode ser retomada a qualquer instante. A esquerda hegeliana
foi adotada por Marx e deu no comunismo, em baixa atualmente no mundo.
13/01/2019.
Apêndice

Anotaçõ es sobre Mú sica I


Harmonia é proporcionalidade, ordem, simetria. Na antiga mitologia greco-latina, Eros era
filho de Caos. Encarnava a harmonia e o poder criativo. Posteriormente, passou a ser
companheiro eterno de sua mã e, Afrodite. De onde a ideia de que a beleza pode trazer ao
caos a harmonia; em outras palavras, a cultura, o ensino e a educaçã o poderã o trazer a paz
à sociedade conturbada. Eu acredito nisso.
A ideia de harmonia era já evocada por Pitá goras, com a sua explicaçã o a respeito da
harmonia das esferas, retomada na Idade Média: cada um dos sete planetas, os conhecidos
nos dias do filó sofo grego, emitiria um dos tons da escala diatô nica musical: dó , ré, mi, fá ,
sol, lá , si, cada tom para um planeta, mais agudo quanto mais longínquo da terra e mais
rá pido seu movimento (De musica I, 2). Do conjunto, a música dulcíssima que nós não
entendemos por inadequação dos sentidos, assim como não percebemos odores que os cães,
por sua vez, sentem – como dirá mais tarde, com uma comparação um tanto infeliz,
Jerônimo da Morávia (...) (ECO, Umberto. Arte e Beleza na Estética Medieval. Trad. de Mario
Sabino Filho. Rio de Janeiro: Globo, 1989. Pá g.49.)
Continuando o texto, diz Eco: Nestes argumentos, notamos mais uma vez os limites do
teoricismo medieval: de fato, como foi observado, se cada planeta produz um som da escala,
todos os planetas juntos produzirão uma dissonância desagradabilíssima.
Pessoalmente, digo que Boécio, como Pitá goras, dizia da Harmonia das Esferas
considerando uma nota da escala para cada planeta, sim, diatonicamente. Nã o seria o que
na Mú sica Nova se convencionou chamar de cluster, em que notas sucessivas sã o tocadas
ao mesmo tempo, espécie de acorde que, se tocado no piano, abarca uma oitava inteira
com todas as teclas brancas que a compõ em. Ou todas as pretas. Ou todas as pretas e
brancas. Há notaçõ es que especificam tais. Mas seriam as notas tocadas cada qual por sua
vez, cada planeta emitindo sua nota nã o-simultaneamente.
A dissonância, nã o necessariamente o cluster, é desagradá vel para determinados ouvidos
em determinadas circunstâ ncias, mas agradam aos ouvintes da bossa-nova, só para dar
um bom exemplo. Ora, Boécio, e muito mais Pitá goras, pensavam na estética como um
instrumento divino, uma faceta de Deus, e assim nada mais ló gico que se entendesse a
Harmonia das Esferas como sutil, há bil perante o Grande Ser, naturalmente diferentíssima
da mú sica atual.
Antevissem aqueles antigos a existência de tantos planetas quanto os posteriormente
descobertos em nosso tempo, poderiam até pensar numa escala cromá tica, e até com
variâ ncias de terças e quartas de tom... Talvez, cada tom haveria de ser emitido à sua vez,
no tempo e nã o só no espaço. Este ú ltimo, representando uma harmonia meló dica, quiçá
harmô nica, seria formado apenas depois da Harmonia temporal, talvez compassos
biná rios, triná rios, unitá rios, quaterná rios, quiná rios, entre outros, pulsando o Universo
em ritmos, contrapontos, harmonias, instando o ser humano a aprender com Deus.
Pitá goras já falava em nã o-entendimento de nossa parte daquela dulcíssima música por
inadequação dos sentidos. Se o é, que forma temos de dizer que se trataria de uma
dissonância desagradabilíssima?
Campos do Jordã o, anos 1990.

Anotaçõ es sobre Mú sica II


Os Tons e as Escalas: os Degraus da Sabedoria
Quando cantamos um som, ú nico e preciso, o que fazemos é dar um tom. Um tom
qualquer. Se entoamos um ú nico som, com o objetivo de ser ele o fundamento, entã o é
esse o tom fundamental.
Esse é o som primordial, do qual partiremos para o nosso conhecimento pró ximo. Escolha
um tom que te seja confortá vel para cantar, um tom só , como diríamos, uma nota musical
que você nã o precisa saber qual é, apenas uma nota, e a cante com boa vontade. Limpa.
Sem modulaçõ es. Sem nada, só o tom fundamental. E aí, imagine qual o som que vai ser
pró ximo a esse, só que diferente. Cante! Esse é o segundo som, a segunda nota, baseada na
primeira. Como se fosse uma escadinha, vá cantando novas notas. Se você começou
subindo, continue subindo; se começou descendo, continue descendo. Eis que você está
cantando uma escala musical.
Os ortodoxos e mecanicistas musicais dizem que, para se chamar o que você fez de escala,
teremos de descobrir quais sã o os intervalos entre uma nota e outra, até que se obtenha a
mesma nota que a inicial. Sim, a mesma nota, embora em oitava diferente.
A mú sica é relativa, nã o tem tons fixos e fundamentais, a nã o ser os que o ser humano
convencionou que sã o. A chamada afinaçã o também é relativa, pois o que se convencionou
ser afinado na Ará bia Saudita nã o é afinado pelos ouvidos do mú sico erudito suíço. Da
mesma forma, digo que o Brasil tem um ouvido afinado pelos sons de sua pró pria terra, e
adentra pelos rincõ es com seu pró prio modular.
Quando o índio kranhacarore constró i sua flauta, nã o dispõ e os buraquinhos para que
soem dentro de uma escala natural europeia, aquela que conhecemos por dó -ré-mi-fá -sol-
lá -si-(dó ).
Ora, o índio kranhacarore, do sul do Amazonas, nã o pensa a mú sica da mesma forma como
o suíço. Nã o é, para o índio kranhacarore, do sul do Amazonas, natural a escala do suíço.
Bom, acho que já deu para entender onde quero chegar. O tom fundamental que você
entoou e a escala que você intuiu podem nã o ser os mesmos da escala dita natural pela
teoria musical que nos é imposta, mas existe e é musical.
Os Cariocas: eis um exemplo de grupo vocal a ser respeitado. Os intervalos harmô nicos
que eles utilizaram só poderiam mesmo sair do Brasil, onde nã o existe a educaçã o musical
ortodoxa exaustiva, mas os ouvidos captam pulsaçõ es diferenciadas e entoaçõ es extremas.
O berimbau é um instrumento de corda ou de percussã o? Ora, está na á rea cinzenta! O
berimbau emite tons diferenciados, anotá veis em pauta musical em forma de notas
musicais, e pode tanto acompanhar como solar. Um solo de berimbau pode ser percussivo,
meló dico ou ambos. Claro, estou falando ainda do tradicional, encontrado nas rodas de
capoeira e afins. Na capoeira angola, que é a mais antiga, gingada, lenta, chegamos a ter
três berimbaus, quando entã o um fica dando o uma espécie de tom fundamental, o
segundo fazendo uma espécie de baixo/contrabaixo, e o terceiro, digamos, solando... A
Trindade nos Berimbaus da Bahia.
Mú sica é um aprendizado. Nã o se aprende a tocar se nã o se aprender a ouvir.
Campos do Jordã o, anos 1990.

Anotaçõ es sobre Mú sica III


As Escalas
Uma escala é uma escada. Cada um dos degraus da escada é chamado grau. Na teoria
musical europeia, a escala tem sete sons, e o oitavo repete o primeiro, só que mais agudo
(mais fininho): dó -ré-mi-fá -sol-lá -si-(dó ). Entendeu agora porque o segundo dó eu coloco
entre parênteses? É porque é igual ao primeiro, só que mais fininho. Porque a escala na
mú sica europeia é cantada do mais grave para o mais agudo, como se o inferno desse os
tons baixos, a terra os médios e os Céus os agudos...
A distâ ncia entre dó e ré é de um tom.
A distâ ncia entre ré e mi é de um tom.
A distâ ncia entre mi e fá é de meio tom.
A distâ ncia entre fá e sol é de um tom.
A distâ ncia entre sol e lá é de um tom.
A distâ ncia entre lá e si é de um tom.
A distâ ncia entre si e dó 2 é de meio tom.
A distâ ncia entre dó 2 e ré2 é de um tom. Etc.
O tom é a distâ ncia entre duas notas. Quando essa distâ ncia é só a metade, dizemos que é
um meio-tom. Se dissermos que o dó é vermelho, o ré é amarelo e o mi é azul, o fá é azul
clarinho e o sol sustenido negro, entã o teremos:
O meio-tom entre o dó e o ré será laranja, e o chamaremos de dó sustenido (#) ou ré
bemol (ь);
O meio-tom entre o ré e o mi será verde, e o chamaremos de ré sustenido ou mi bemol;
O meio-tom entre o mi e o fá será ... será o pró prio mi ou o pró prio fá . Porque entre o mi e
o fá só existe meio tom. O mi sustenido é o pró prio fá , e o fá bemol é o pró prio mi. Por isso
é que o fá é o azul clarinho, para que o fá sustenido possa ser branco e o sol cinzinha. Daí é
que sustenizando o sol, o elevaremos para o negro. E que cor daremos entã o para o lá e
para o si? Vou sugerir. Que tal fazer o lá marrom, para que o sustenizando se torne roxo, e
ao subir para o si fique lilá s??? Se entre o si e o dó apenas teremos meio-tom, novamente,
entã o do lilá s para o vermelho será só tirar o que houver de azul e de amarelo, para se
obter o vermelho do dó .
Ê pa!!! Duas cores para mexer, apenas dentro de meio tom? Ora, por que nã o? E vou
explicar para onde vamos agora.
Dissemos que entre um tom e outro, podemos ter um tom ou um semitom. Os hindus
conhecem a quarta-de-tom, que é o meio-tom dividido por dois, e os á rabes conhecem a
terça-de-tom, que é o tom inteiro dividido por três. Por isso, eles nos parecem um tanto
desafinados. Aliá s, nã o aos ouvidos brasileiros, mais pró ximos dos asiá ticos e orientais em
geral, e inclusive mais abertos aos sons e à s cores em geral. Por isso é que toda mú sica que
entra no Brasil é bem ouvida, nã o importa de onde seja, porque o povo formador da naçã o
brasílica é oriental e ocidental, de diversas origens, e nã o há família paulistana
quatrocentona que nã o esteja misturada com todas as raças, oficialmente ou nã o. Entã o, é
só ouvir, deixar passar pelo sangue que pulsa em nó s, e saberemos entender.
A escala de sete sons, sendo cinco tons e dois semitons, é a que os europeus chamam de
DIATÔ NICA. Trata-se, já que estamos falando em grego, de uma escala heptatô nica,
porque de sete sons. Se juntarmos aos sete tons e semi-tons os graus intermediá rios, que
chamamos de sustenidos, quando subimos na escala, ou bemó is, quando descemos a
escala, teremos a CROMÁ TICA, de doze sons intervalados em meio-tom.
Os chineses, na sua mú sica tradicional, tinham uma escala de cinco tons, a PENTATÔ NICA
(5 tons), ou PENTAFÔ NICA (5 sons), que pode ser traduzida como dó -ré-fá -sol-lá , por
exemplo. Dispensavam as semitonalidades e afins. É a melhor maneira de se afinar
instrumentos de cordas fixas (harpas, cítaras), quando os entregamos para pequenas
crianças ou para pessoas que começam a descobrir os prazeres da mú sica. Sim, pois quem
toca numa escala pentatô nica nunca erra, nunca desafina, nunca sai do quadradinho
pentagonal. É um mistério descoberto pelos antigos chineses, mas que também é
encontrado na mú sica japonesa e nos africanos que emigraram para os Estados Unidos
(veja, pois, os conhecidos solos de blues, e os refrõ es mais utilizados pelos guitarristas
solistas roqueiros). Vamos também encontrar essa escala pentatô nica em muitas tribos
brasileiras e latinas em geral.
Eis que houve quem propugnasse pelos tons inteiros, e construiu sua escala assim: dó -ré-
mi-fá #-sol#-lá #-(dó ). Construiu a escala hexatô nica, ou hexafô nica! Tente tocá -la, veja
como soa.
O dodecafonismo, que poderíamos sem medo chamar de dodecatonismo, é baseado na
escala dodecafô nica, isto é, de 12 sons, que nada mais sã o que todos os tons admitidos
pela mú sica europeia. Ou seja, a escala cromá tica. Nã o tecerei cá mais descriçõ es sobre o
movimento dodecafô nico apenas por nã o ser da seara deste estudo, pois nã o deve ser
desmerecido.
Agora, vamos misturar a escala de 12 tons com as quartas-de-tom: serã o 24 tons
diferentes!!!
Somemos aos 24 tons as terças-de-tom á rabes. Entre o dó e o ré, duas terças-de-tom;
entre o ré e o mi, duas terças-de-tom; entre o mi e o fá sustenido, duas terças-de-tom; e
assim por diante, teremos um total ainda maior. Faça as contas. Agora toque essa escala, e
ouvirá quase que um portamento, isto é, como que um deslizar de uma a outra nota, pois
nosso ouvido nã o tem a capacidade de perceber certas distinçõ es. Você percebe a terça-
de-tom, a quarta-de-tom, mas se as reú ne... Suba do dó à quarta-de-tom acima, e você
sentirá uma diferença tonal. Agora, suba, dessa quarta-de-tom acima do dó , para a terça-
de-tom acima do dó , e você nã o sentirá nada... Talvez um leve hesitar entre o sim e o nã o,
muito sutil. Um nada, para a percepçã o que o ser humano consegue ter. Suba um tantinho
mais, até chegar no dó sustenido, e vai te parecer que nã o subiu. Mas retorne agora ao dó
natural e verá o quanto já andou.
Experimente um instrumento cuja escala esteja dividida em terças-de-tom, e sinta o que é
o espírito da mú sica á rabe. Faça o mesmo com um instrumento cuja escala esteja dividida
em quartas-de-tom, e sinta o espírito da mú sica indiana. O mesmo utilizando um
instrumento em escala pentatô nica, e sinta o Tao percorrer por todo o teu corpo... Um
teclado poderá te dar o espírito do dodecafonismo. Uma escala de tons inteiros também é
uma ó tima experiência para o ouvido.
Campos do Jordã o, anos 1990.

Anotaçõ es sobre Mú sica IV


SUSTENIDOS E BEMÓ IS
Pensamos, pobres mortais, que o dó sustenido é o mesmo que o ré bemol. Nã o é. Nunca
foi, realmente. Nã o sã o sinô nimos.
Quando o mú sico sobe meio-tom, nã o faz exatamente com a metade do tom,
matematicamente, aritmeticamente mediano. Faz relativamente, deixando faltar um
tantinho de nada para chegar lá .
Quando o mú sico desce meio-tom, nã o faz exatamente com a metade do tom,
matematicamente, aritmeticamente mediano. Faz relativamente, deixando faltar um
tantinho de nada para chegar lá .
Entã o, existe uma imperceptível diferença de quando ele sobe meio-tom a partir do dó ou
desce meio-tom a partir do ré. É por isso que, ao ouvirmos uma cantora lírica, parece que
ela desafina quando solta aquele agudo loooooooongo... Mas nã o desafina, é o tom puro. E
por que falei puro?
Quando inventaram de fazer instrumentos de teclado, onde as notas seriam fixas, como
estabelecer essas minimidades tonais, imperceptíveis aos ouvidos dos pobres aprendizes?
Ora, inventou-se uma tal de temperada, onde as imperceptíveis diferenças inexistiriam.
Como?
O teclado tem teclas brancas e pretas. As brancas sã o as notas naturais, e as pretas sã o as
intermediá rias, ou, como já dissemos, os sustenidos-bemó is.
Como diferenciar os bemó is que vêm descendo dos sustenidos que vã o subindo?
O teclado nã o diferencia, mas criou aquela divisã o aritmética, chamada temperada, e põ e a
tecla preta afinada bem no meinho, entre o sustenido e o bemol, e os chama de
sinô nimos... Para o tocador de violino, essa afinaçã o é um verdadeiro destempero, uma
desmusicalizaçã o do nosso ouvido. E o pobre cantor iniciante nã o consegue entender
porque sua professora quer que ele cante a nota que está no teclado, se nã o é a nota que
sua natureza vocal infere. É tã o pouquinho, tã o difícil de perceber, ninguém percebe, mas
tá lá , existe.
Na mú sica popular, trêmulos e portamentos resolvem a parada, mas a dú vida permanece
quando se quer manter a nota indefinidamente, ou como se diz, sob uma fermata. A
educaçã o musical manda que o intérprete apenas dobre o valor da nota em sua duraçã o
temporal, ao encontrar uma dessas. Essa regra é para alguns, educados na rigidez. A
contemporaneidade desintegrou essas regras e permite uma nova leitura, mais solta,
menos dogmá tica. Porém, a questã o tonal permanece: o cantor vai temperar suas notas?
Ou vai partir para aquela aparência de desafinado, que tã o pouca gente irá entender?
Normalmente, o que seu produtor determinar. Qualquer coisa, acerta na mesa de ediçã o. E
ai das sensibilidades dos ouvintes...

Adendo: Comas

O tom é dividido, na teoria musical europeia, em 9 comas. Isto quer dizer que, por
exemplo, entre o dó e o ré, existem 9 comas. O dó sustenido tem 4 comas acima do dó , e o
ré bemol tem 5 comas acima do dó , para ficar 4 comas abaixo do ré.
Campos do Jordã o, anos 1990.

Apêndice de 25 de agosto de 2018.


Arandu Arakuaa
Essa banda é um sopro de vento fresco no rock nacional que nã o acontecia desde o final dos
anos setenta! Eles tocam heavy metal com letras em tupi-guarani antigo. O segundo cd tem
letras em línguas de tribos indígenas modernas, inclusive.
Sã o quatro integrantes: um guitarrista, que construiu um instrumento de dois braços, que
nã o seria novidade se o de cima nã o fosse o de uma viola de dez cordas. Ele é o compositor
e líder idealizador da banda.
É a primeira vez que admito um baixista usar no rock um instrumento de seis cordas, que
ele faz com uma grande destreza e paixã o, paixã o essa que permeia todo o grupo quando
toca...
O baterista é extremamente criativo com sua batera cheia de adjuntos.
A cantora salta de uma voz normalíssima para a extremamente gutural, nã o encontrada em
mulheres normalmente.
Como é difícil encontrar o disco deles em minha cidade, vou ouvindo pelo YouTube...
Mais um apêndice uma hora depois:

Produtor Fala sobre o Novo Álbum do Arandu Arakuaa


Esse é o título de um vídeo postado no YouTube em que o rapaz fala do terceiro disco da
banda. Segundo ele, os integrantes mudaram. Com isso, por enquanto nã o sei mais o que
dizer do som do Arandu Arakuaa. Nã o sei se ainda sã o um sopro de vento novo no rock
nacional desde o final dos anos setenta...

TEM QUE MUDAR!


Políticos nã o podem se valer da política como profissã o, da qual se faz uma carreira.
Nã o se devem admitir reeleiçõ es, seja no Executivo ou no Legislativo. Depois que foi eleito
uma vez para aquele cargo, nunca mais poderá retornar ao mesmo, dando a oportunidade a
outros cidadã os.
Se um político foi eleito para o Executivo, nã o pode pleitear depois um cargo no Legislativo;
e vice-versa. Afinal, sã o atividades completamente diferentes.
Um cargo nã o pode ser abandonado para que o político se candidate a outro, pois isso é um
desrespeito a quem votou nele.
Senadores têm que ter a mesma duraçã o de mandato que os outros cargos: quatro anos.
Ora, nã o existem mais os motivos que outrora haviam para segurar um político oito anos
no poder.
Por fim, o salá rio vergonhoso e o tempo mínimo de trabalho de todos eles, principalmente
no â mbito federal. Deveriam receber um salá rio mínimo e ajuda de custo para transporte,
moradia e alimentaçã o. Só . Chegando em Brasília à s seis horas da manhã de segunda-feira e
saindo à s dezoito horas de sexta-feira.
Isso apenas para termos um Brasil melhor.
Caraguatatuba, madrugada de 23 de setembro de 2018.

A Nova Direita no Brasil


Os novos adeptos da Direita no Brasil estã o divididos em duas facçõ es: a primeira é a que
se deu bem na época da Ditadura Militar e quer de volta os mesmos padrõ es; a segunda é a
dos jovens que buscam uma saída da corrupçã o no país e esperam algo diferente do que
está aí, que é o que sempre os jovens buscaram na Histó ria.
A primeira turma é de pessoas que têm na memó ria o tempo do Milagre Brasileiro, em que
se parecia que todo mundo tinha mais dinheiro, mas que na verdade o país se afundou
numa dívida internacional. Mas a memó ria é seletiva e as pessoas lembram-se do que
querem lembrar.
A segunda turma é a dos jovens que esperam um país melhor, sem corrupçã o, com os
valores conservadores em alta, mesmo sem saber que valores exatamente sã o esses, além
dos pregados em palavras de ordem e propaganda política.
Existe ainda uma terceira turminha que vai na onda do que estiver por cima, surfando
sempre...
Na realidade, o que se tem é uma situaçã o de extremos, pensada em termos dicotô micos,
como se a política se resumisse a dois opostos. Nã o é assim, há todo um espectro político!
Ora, um país deve ser governado pensando-se em todos, todas as classes sociais, ensino de
qualidade para todos, saú de de qualidade para todos etc.
25/11/2018.

Histó rias e Estó rias


A regra da língua portuguesa é clara: não existe estória. Diz-se histó ria, com h
minú sculo, para ficção. E Histó ria, com h maiú sculo, para nã o-ficçã o, podendo ser
extraída de tradição oral, diá rios ou relatos.
Entretanto, Joã o Guimarã es Rosa nomeou um de seus livros como Primeiras
Estórias. Por ser escritor de nomeada, ainda que autor de uma grafia pró pria,
digamos que estratificou estória para toda e qualquer ficçã o, principalmente a
totalmente inventada, o que é a ideia.
Com isso, a regra da língua portuguesa acaba mudando, e nos adaptamos ao
sistema inglês, que escreve story para histó ria. Nó s, mais uma vez, fazemos um
anglicismo. Seguido por vá rios escritores de nosso idioma.
Caraguatatuba, 15 de janeiro de 2019.

Anti-universo

Será que existe um universo totalmente contrá rio ao nosso, que tenha mais
antimatéria que matéria?
Isso faria parte de um equilíbrio necessá rio, e ele teria nascido no Big Bang ao
mesmo tempo que o nosso, mas correria temporalmente de modo inverso. Quero
dizer, nesse anti-universo o passado seria futuro e vice-versa.
Em nosso universo, o tempo avança à medida que o espaço se expande. No outro,
o tempo voltaria enquanto o espaço se encolheria.
A tese é dos físicos Latham Boyle, Kieran Finn e Neil Turok, e a notícia nos
chegou através de um boletim da Hype Science, de 16/01/2019.
A ideia nos faz pensar que, quando estivermos em fase de encolhimento (Grande
Colapso, Big Crunch) o outro universo estaria, por sua vez, expandindo-se.
A questã o do Grande Colapso vem sendo descartada pelos cientistas atualmente,
mas é muito ló gica em casos como este.
Aliá s, se pensarmos que o retorno do futuro para o passado poderia existir,
teríamos que todos os acontecimentos e tudo o que pensamos estaria pré-
determinado, nã o existindo o livre arbítrio.
Porém, tudo nã o passa de teoria. Sã o especulaçõ es com base em cálculos sobre
teses. Nada há de concreto. Assim é a ciência, buscando provas sempre,
experimentando, tentando novas técnicas, novas propostas e pensando.
Pensando sempre. E a gente indo atrá s.
24/01/2019.
Chimas e Café

Para quem toma café, nunca deve tomar chimarrão antes ou logo apó s. Isso
detona uma consequência perigosa, segundo os entendidos no assunto.
O chimas é estimulante e o café excitante. A soma dos dois, portanto, é
periclitante.
Por evitar café, tomo chimarrão todas as manhã s, o que me ajuda a despertar,
embora não me acorde sempre de maneira efetiva. Quando o tomo no final da
tarde, início da noite, ajuda a me refazer do dia.
Aliá s, faz alguns dias que passei a diminuir em dois minutos o tempo para o
aquecimento da água do chimarrã o. Talvez, por ser verão, a água esquente mais
rá pido. Mas acredito que, geralmente, nã o estou chegando aos 70° Celsius. Com
isso, a fragrâ ncia da erva tem se tornado mais aromá tica.
26/01/2019.

Os Mú sculos e a Mente

No capítulo 10 do livro A Geração Superficial, Nicholas Carr diz: Quando alguém


escavando valas troca a pá por uma escavadeira, os músculos dos seus braços se
enfraquecem mesmo que a sua eficiência aumente. Uma troca semelhante pode
acontecer ao automatizarmos o trabalho da mente.
Ora, sou da opiniã o que, quando a mente descobre uma facilidade ela se adapta.
Essa adaptaçã o faz com que ela siga novos caminhos, o cérebro a construir novas
sinapses.
O intelecto é diferente dos mú sculos do braço. Estes, ao fraquejarem, não dã o
espaço para outras partes do corpo se fortalecerem, a nã o ser que a pessoa sinta
a necessidade disso. Aí ela exercitará mais essas outras partes. No caso daquele,
se passamos, por exemplo, depois de aprendermos aritmética, a fazer contas com
calculadora, nosso cérebro sentirá vontade de procurar novos desafios.
No caso da internet, o autor diz que a profusã o de informaçõ es deprecia nosso
conhecimento.
Explico. Ao pesquisar na internet, o foco se amplia e a concentraçã o é mitigada.
As informaçõ es sã o mínimas e mú ltiplas, ao passo que o conhecimento se perde
no espaço informá tico. A pessoa passa horas nas redes sociais sem se concentrar
em um assunto sequer. Recebe mú ltiplas informaçõ es e não guarda quase
nenhuma consigo. É diferente de ler um livro – ainda que digital, num leitor
eletrô nico (e-Reader). O livro exige foco, concentraçã o. Nisso eu concordo.
26/01/2019.

Tolerâ ncia Religiosa

Quando se fala em tolerar outras religiõ es, nã o quer dizer que se admita que
todas elas sejam iguais ou verdadeiras. Nem que possamos ser todos amiguinhos.
A tolerâ ncia religiosa é conseguir conviver com pessoas que tenham
pensamentos espirituais diferentes, sejam ateus, teístas, pertencentes a alguma
denominação, panteístas, politeístas, animistas, ou seja lá o que for.
Tem a ver com respeitar o que os outros pensam, mesmo que nã o seja a nossa
crença pessoal. Mesmo que eu seja o ú nico a ter determinada ideia, ou nã o seja,
nã o posso esperar que outros compartilhem comigo o que acredito, ou o que
deixo de acreditar. Posso tentar converter, mas nunca à força, obrigando. E se
nã o conseguir a conversã o do pró ximo, admitir a possibilidade de nã o ser
invencível é um grande passo.
É como disse o general Antô nio Hamilton Martins Mourão, nosso atual vice-
presidente da Repú blica, com relação à s opiniõ es de outros políticos: se
concordamos, aplaudimos; se não concordamos, paciência. Foram mais ou menos
essas palavras, porém o sentido foi esse. Saiu no telejornal do SBT. Por estes dias.
26/01/2019.
Reaproveitar a Erva

Considero essa discussão muito proveitosa.


Quando comecei a tomar chimarrão na vida, costumava reaproveitar a erva de
uma tomada para outra, à s vezes até de um dia para outro.
Entretanto, essas experiências nã o foram nada agradá veis pois, além da erva
ficar lavada (sem gosto, ou de sabor menos acentuado), chegava, à s vezes, até a
dar um paladar levemente azedo.
Nas minhas pesquisas sobre o assunto, descobri que é possível reaproveitar a
parte que fica seca depois de se tomar o chimas. Nesse caso, retira-se toda a erva
molhada e deixa-se aquele finzinho seco, completando-se com a nova.
Já tentei fazer isso, todavia nã o obtive o melhor resultado.
A ú nica soluçã o, pela minha breve e insensata experiência, é jogar tudo fora,
lavar bem a cuia e a bomba – só com água –, e montar um novo chimarrã o. Sai
mais caro, é verdade, mas o prazer que se ganha é insubstituível.
1°. de fevereiro de 2019.

Evoluçã o das Religiõ es no Mundo

Esse é um tema que acho extremamente estratosférico.


Os estudiosos costumam concordar que a primeira religião pode ter sido
animista – onde cada força da natureza é uma divindade, ou panteísta – onde
tudo, o todo, é Deus. Neste segundo caso, há de se compreender que o panteísmo
nã o é uma crença em que todas as coisas são de Deus, mas que tudo, incluindo
seres humanos, animais em geral, vegetais, minerais e protistas, tudo que tem
vida e o que parece nã o ter, TUDO é Deus.
Depois teria vindo o politeísmo e, por fim, o monoteísmo, como á pice.
Nesse caso, o futuro poderia estar com o ateísmo, ou o agnosticismo.
Hegel acreditava num panteísmo diferente, em que Deus, sendo o todo, o total
das partes, era mais que isso, assim como nó s somos mais que o total de ó rgãos e
células que nos compõ em. Ou seja, o resultado final é maior que a soma das
partes.
Marx acreditava, em sua dialética, que a religiã o terminaria, com a evolução do
comunismo, em ateísmo. É a ideia também de Richard Dawkins, porém
independente da ideologia política. Vimos, entretanto, que os países onde há
menos praticantes religiosos nã o sã o comunistas. Assim como a dialética é
imprevisível, nã o podemos predizer o futuro.
Nunca houveram tantos religiosos, místicos e espiritualistas quanto hoje em dia.
O que existiu foram momentos na histó ria onde as pessoas eram obrigadas a
seguir uma religiã o estatal ú nica e determinada. Ou a nã o seguir nenhuma, sendo
proibida qualquer forma de culto. Ainda hoje é assim. Mas nã o estou contando
esses casos, falo apenas de países onde a liberdade de adoraçã o – ou da falta dela
– é total.
Portanto, a imprevisibilidade da Histó ria nos mostra que é impossível sabermos
como as religiõ es no mundo começaram – e de que jeito serã o no futuro pró ximo
ou longínquo.
2 de fevereiro de 2019.

O Tempo Que Nos É Dado

O site da revista Seleções de 28 de abril de 2018 trouxe uma matéria que consiste
basicamente de onze frases escolhidas, dentre as falas dos personagens dos
livros de J.R.R.Tolkien, para inspirar o seu dia.
Uma em particular chamou-me a atenção, de autoria de Gandalf: Tudo que temos
de decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado.
Afinal, que tempo é esse? Quem nos dá esse tempo? Com essas duas perguntas
respondidas saberemos como decidir, ou pelo menos teremos um ponto de
partida.
Nã o conheço o contexto dessa sentença, mesmo porque nã o sou leitor das obras
literá rias mais famosas desse autor, mas a intenção da matéria, pelo que me
parece, é justamente fazer isso, trazer-nos as palavras dos personagens soltas,
para que possam nos inspirar.
Pois então. Penso, naturalmente, no tempo de vida que nos é disponibilizado.
Nunca sabemos quanto tempo temos à frente, apenas o passado.
Quanto mais velhos ficamos, mais achamos que estamos mais pró ximos do final.
Mas isso é uma ilusão. Quando eu tinha dezenove anos pensava que nã o chegaria
aos trinta. E cá estou. Sem saber nunca quanto tempo de vida ainda terei.
Mas o autor vai adiante. O que fazer com esse tempo presente? Já que o futuro
nã o está em nosso controle... Pois nã o adiantarão as metas, os planos, ou o que
quer que faça para o tempo que virá. A morte é implacá vel: quando chega o
momento, nada a demove. Nem ninguém.
Ora, quem nos dá o tempo que vivemos ou o que resta? Pode-se pedir a Deus ou
ao Universo um adiamento, se der ocasião, mas nada nem ninguém pode garantir
que isso aconteça.
O prazo nunca é fatal, mas quando chega o momento em que nos deparamos
frente a frente com o perecimento, enganá -lo é uma discussã o ingló ria.
Importante, então, é o que fazemos no presente imediato, que é a ú nica coisa que
existe. Muita gente resolve desafiar a morte, pois só assim consegue sentir a vida.
Precisam da adrenalina para sentir o sangue correr. Outros são mais pacíficos,
nã o temem por sua pró pria extinçã o, e vivem, por exemplo, meditando, lendo,
praticando obras nã o voltadas à autodestruiçã o.
Domingo, 3fev2019.

Best-Sellers

Nã o. Nã o sou leitor dos livros mais vendidos. Nã o enquanto eles estiverem na


lista.
Eventualmente, entretanto, me pego lendo um desses. Afinal, nã o é preconceito o
que me move a nã o adquiri-los, mas algo que chamo de ruído, que é todo o
falató rio que envolve sua leitura. Muita gente lendo, comentando, muitos críticos
falando a respeito, tudo isso cria um ambiente que não é nada propício ao
entendimento pessoal da obra. Sã o muitas influências.
Por essa razã o, sempre que possível, espero passar o vendaval de emoçõ es que
acompanha os mais vendidos, pode ser em termos de literatura, ensaios, poemas,
mú sica, seja lá que forma for de expressã o, artística ou nã o. Depois que passa o
vento, já nã o tem mais nem uma brisa, é a hora mais favorá vel para encarar a
obra.
Domingo, 3fev2019.

Conservadorismo

O que é ser conservador? É adotar regras e costumes já consolidados, evitar os


experimentalismos e os novos ares.
É uma posiçã o razoá vel, que moveu a maioria da populaçã o brasileira a votar em
Jair Messias Bolsonaro para a presidência da Repú blica. Naqueles dias, ele
representava uma guinada, da esquerda e da corrupçã o para a direita
conservadora. Espera-se, ainda hoje, que ele faça uma guerra contra a corrupção.
Um livro de Jane Austen é conservador? Se for lido no contexto de hoje, sim. Mas,
na virada do século XVIII para o XIX, era extremamente revolucioná rio, pois
tratava com ironia os costumes sociais de então.
Esse é um exemplo dentre muitos que, de progressistas em seu início, tornam-se
conservadores com o passar do tempo.
O pensamento liberal que se consolida torna-se conservador. Toda revolução que
estaciona passa ao conservadorismo. Cuba se diz revolucioná ria desde 1959.
Uma confusão que se faz é dizer que a direita é conservadora e a esquerda
progressista. Isso nã o é verdade.
Primeiro, porque ambas as posiçõ es podem ser revolucioná rias ou
conservadoras diante de um Sistema político e social.
Segundo, porque há um amplo espectro entre as extremidades, que podem ser,
ambas, mais ou menos democrá ticas ou totalitá rias. E os extremos acabam se
ligando, como numa circunferência, confundindo-se, como uma coisa só .
5fev2019.
Democracia Relativa

Há muitos significados de democracia, conforme o governo de cada época em


cada país. Governos liberais se dizem democrá ticos, e totalitá rios também.
Ninguém mais sabe o que é democracia.
Qualquer um pode procurar no dicioná rio – ou no Google – o que quer dizer essa
palavra. De um modo geral, veremos coisas como: é quando o povo exerce a
soberania.
Daí emergem vá rias discussõ es. Por exemplo, quem é o povo? Apenas quem
vota? Quem nã o está no poder? Toda a populaçã o?
O governo brasileiro, de 1964 a 1985, dizia que éramos uma democracia relativa.
O que isso queria dizer? Ele admitia que nã o éramos uma democracia plena. Hoje,
dizemos que somos. Mas ainda fica a pergunta: o que considerar como
democracia?
Os Estados Unidos se considera um país democrata, mas tem dois partidos
principais, os republicanos e os democratas. E, no entanto, mesmo quando o
partido republicano está no poder, ele se diz uma Democracia.
5fev2019.

SOBRE O AUTOR
Leopoldo Pontes nasceu às quatro e meia da manhã do dia quatro de abril de 1958,
na cidade de São Paulo.
No final dos anos 1970 e início dos 80, publicou por conta própria vários livretos de
poesia, na base do mimeógrafo e off-set.
Tem algumas premiações por contos, estadual e nacional.
Sua formação acadêmica inclui Jornalismo e Direito, além de uma pós-graduação
em Língua Portuguesa e Literatura.

Tem outros livros publicados pela Amazon. Inclusive os volumes I e II desta coleção.

Contato com o autor: leopoldopontes21@gmail.com


Sumá rio
TEMPOS DE JORNALISMO
SER PARTE DA MASSA
O ESTADO
COMUNISTAS
FIM DA HISTÓ RIA
ROBERTO LOVE
O LEITOR DE TARÔ
Só comigo
DATILOGRAFIA E DIGITAÇÃ O
O QUE É ARTE
TREWA
O SILÊ NCIO NO POEMA
Por Conta De
Humanus Est
ENGAJAMENTO
O Tempo é uma Curva
Divisõ es da Arte
Fatalidade
Tecnologia
Mundo do Glam
Literatura no Rock
Diagnó stico e Personalidade
Futuro
Ú ltima Flor do Lá cio
Método de Escrita
Medianos
Sociedade Alternativa
TEMPO
Telescó pios e Microscó pios
Opostos
Quantidade de erva
Leituras digitais
E a filosofia?
Inesperado
Como ler os Clá ssicos
Extensõ es do Homem
Feminismo é para Todos
Nosso Primeiro Computador
Nú meros e Letras
Registros musicais
Percussã o
Brian Jones
Chimarrã o de micro-ondas
O propó sito da existência
Poema
Palavras da Década
Lei do Carma segundo eu mesmo
O Big Bang
O cheiro do livro
O Genesis é sempre em todo lugar!
Enciclopédias e meu professor
O fim do livro: previsõ es
Quando existe o som
A existência de Só crates
O bom selvagem?
O Mito da Caverna de Platã o revisitado
O Estudo das Religiõ es
Tudo Nã o Muda
Quase Democracia
O Médico e o Monstro
Dorian Gray
O Mal de Nossas Traduçõ es
A Vida é Diluir-se
Bits
Rita Lee
Livros de Arte
Ops!
Internet das Coisas
Sofistas e a Dialética
Dois Minutos e Quarenta Segundos
Cá ssia Eller
Bixo da Seda
Nietzsche Nazista?
Arte-de-Rua
Julgamento de Obras de Arte
Rock Argentino
Líderes
Ao Mesmo Tempo
Bó n Apétit
À Margem das Traduçõ es
Ainda Sobre Traduçõ es
Primeira Diretriz
O Início do Tempo
Outra Forma de Vida
A Ideia Absoluta
Anotaçõ es sobre Mú sica I
Anotaçõ es sobre Mú sica II
Os Tons e as Escalas: os Degraus da Sabedoria
Anotaçõ es sobre Mú sica III
As Escalas
Anotaçõ es sobre Mú sica IV
SUSTENIDOS E BEMÓ IS
Arandu Arakuaa
Produtor Fala sobre o Novo Álbum do Arandu Arakuaa
TEM QUE MUDAR!
A Nova Direita no Brasil
Histó rias e Estó rias
Anti-universo
Chimas e Café
Os Mú sculos e a Mente
Tolerâ ncia Religiosa
Reaproveitar a Erva
Evoluçã o das Religiõ es no Mundo
O Tempo Que Nos É Dado
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Democracia Relativa
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