Você está na página 1de 64

DIALÉTICA SEM ENCHER LINGUIÇA

Leopoldo Pontes
DIALÉTICA SEM ENCHER LINGUIÇA
Introdução à POLIALÉTICA

LEOPOLDO PONTES

Capa de Thl Pontes

3
À Fafí...

5
Sumário
À Fafí... .........................................................................................................5
PRÓLOGO...................................................................................................13
Primeira Parte ............................................................................................17
LÓGICA FORMAL ....................................................................................17
LÓGICA ...................................................................................................20
Segunda Parte............................................................................................22
LÓGICA INFORMAL: A DIALÉTICA...........................................................22
O Que É a Busca Pela Verdade? .............................................................25
DIALÉTICA DA NATUREZA ......................................................................27
DIALÉTICA DA HISTÓRIA.........................................................................29
LÓGICA E INTUIÇÃO ...............................................................................32
Faço aqui uma pausa para esse encontro acontecer. Quero falar da
necessidade de se feminizar a população de nosso planeta. Claro que
não é apenas o caso da mulher trabalhar e o homem ficar em casa
cuidando das crianças e animais. Contudo, o feminismo, trazendo essa
possibilidade, já existe. Temos só de ter cuidado em não torná-lo num
machismo às avessas. Tem de servir a ambos os sexos.........................32
Porém, o mais importante para construirmos uma sociedade feminista
é quando a mulher usa com seriedade e responsabilidade a sua
intuição, seus sentimentos, sua sensibilidade, sua sensitividade, seus
instintos, sua imaginação, sua criatividade. A par disso, o homem tem
que também dar e ouvir sua anima (seu lado feminino). Ambos devem
atentar para o seu lado menos usado. O racional (o animvs) deve se
entender com o intuitivo, o aspecto emocional, a sensibilidade, a
sensitividade. Isso é o verdadeiro feminismo, onde cada uma das partes
são a tese e a antítese, levando o casal à harmonia..............................32
A Presidente Dilma Rousseff poderia ter sido mais feminista, usar mais
sua anima, porque um bom governo utiliza-a. Para escolher seus
ministros as duas vertentes devem ser consultadas. Não quero falar em
homens e mulheres invertendo seus papéis, mas que todos possam
pensar dialeticamente. A dizer, podemos imaginar a razão e a intuição
7
T MAIÚSCULO ........................................................................................58
se discutindo. Temos que ter, no Executivo, homens e mulheres
trabalhando lado a lado, assim como no Legislativo e no Judiciário. Não TEMPO E MASSA....................................................................................61
é o caso das mulheres usando terninhos com ombreiras e gravatas, A NOVA ESQUERDA E A DIALÉTICA ........................................................64
imitando o homem, a não ser que seja por gosto pessoal. Não é o caso
Terceira parte ............................................................................................66
do homem ter de usar saia e renda, embora também seja de gosto
pessoal. ..................................................................................................33 A OUTRA FACE DA DIALÉTICA: A POLIALÉTICA ......................................66
O Judiciário, aliás, pouco a pouco, utiliza a intuição, mas ainda a lógica A IMPREVISIBILIDADE NA POLIALÉTICA .................................................69
formal é o meio machista de se resolver uma Ação Judicial. Por outro PROFICIÊNCIAS.......................................................................................71
lado, o Magistrado poderá ter em sua mente possivelmente mais que
DOIS PROCESSOS DIALÉTICOS FORMAM UM POLIALÉTICO?.................77
duas soluções para a sentença: sobre isso falaremos mais adiante......33
UM PARADOXO: DIVERSOS PROCESSOS DIALÉTICOS PODEM CAIR
Portanto, a evolução para o feminismo faz parte de um processo
NUMA SÓ SÍNTESE? ...............................................................................79
dialético: ................................................................................................34
A POLIALÉTICA NO FUTEBOL..................................................................82
Leila Diniz foi importante, na sua época, para a libertação das mulheres.
Ela ia à praia de biquini mesmo estando grávida; falava muitos ELEIÇÕES ................................................................................................84
palavrões e isso desagradava ao Sistema repressor. Mas eram outros CONVERGÊNCIA OU DIVERGÊNCIA? ......................................................86
Tempos... Hoje temos que repensar suas atitudes, pois não têm mais
POLIALÉTICA NA NATUREZA ..................................................................88
sentido. Ela morreu num trágico acidente, levando consigo um
Movimento de Libertação da Mulher; hoje, isso tem que existir para POLIALÉTICA NA HISTÓRIA.....................................................................90
ambos os sexos. A mulher não precisa mais expor sua barriga nas ruas, SÍNDROME DE INFORMAÇÃO ................................................................92
nem pode ser obrigada a usar salto alto. Usa se quiser. .......................34
OUTRO TIPO DE POLIALÉTICA ................................................................95
Há muitas expressões chulas que são totalmente repugnantes para um
MAS, AFINAL, O QUE É A POLIALÉTICA? ................................................97
dos sexos. Pode pesquisar. Isso vale não só no idioma luso..................35
A Polialética é boa ou má?.....................................................................99
Onde entra a dialética? Entre a anima e o animus deve haver a
discussão e a descoberta de uma solução. Óbvio..................................35 Sugestões de Teses ..................................................................................101
A DIALÉTICA NA COMUNICAÇÃO SOCIAL...............................................36 ÚLTIMAS PALAVRAS.................................................................................103
A DIALÉTICA NO FUTEBOL......................................................................39 Apêndice: .................................................................................................106
DICOTOMIA............................................................................................41 A Nova Direita no Brasil .......................................................................106
O PERCURSO DO HERÓI E A DIALÉTICA..................................................44 Líderes..................................................................................................109
A IMPREVISIBILIDADE ............................................................................47 Sofistas e a Dialética ............................................................................112
A QUESTÃO JUDICIAL E A DIALÉTICA .....................................................49 A Imprevisibilidade ..............................................................................114
O SISTEMA BINÁRIO...............................................................................52 REFERÊNCIAS E SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS .........................................116
REALIDADE E OBJETIVIDADE ..................................................................55 SOBRE O AUTOR ......................................................................................118
9
Livros de Leopoldo Pontes editados pela Amazon: .................................120

11
PRÓLOGO

Há um ditado popular que diz: tudo tem dois lados. De


uma certa forma é assim mesmo, se estivermos
pensando numa moeda. Todavia, ela tem o lado que lhe
dá a tridimensionalidade. Exemplifiquemos então com
uma folha de sulfite fina, em que nosso tato só consegue
perceber duas faces. A terceira pode ferir o dedo.
Vamos agora pensar em como uma ideia percorre um
caminho até seu contrário, sabendo que vem vindo a seu
encontro, o que provocará um debate entre elas,
chegando à síntese final: a Verdade!
Num momento, próximo ou não, essa será a nova ideia a
ser confrontada. Isso levará o nome de Dialética.
Nietzshe falou sobre o Eterno Retorno, uma
circunferência, mas nós consideramos que, em vez disso,
temos uma espiral, onde cada vez que chegamos no
ponto inicial estamos com a experiência do tema, um
ponto acima.
Este opúsculo veio a lume depois de ser pensado por
muitos anos. Apreendi uma série de conversas sobre o
assunto, que ficaram distantes na memória e deveriam
ser acrescentadas na bibliografia. Falo aqui de conversas,
livros que ficaram guardados em meu inconsciente,
pequenas notas em jornais e revistas etc. Se pensarmos
em termos polialéticos, outros em seguida poderão

13
expressar algo que se contrastará com este que o leitor
tem às mãos.
Benedito Nunes, ao citar Kierkegaard, fala: o homem é
desejo, inquietude e sofrimento. Tudo isso faz parte da
condição humana, fraca e mortal...

15
Primeira Parte
LÓGICA FORMAL

Para se entender a Dialética precisamos primeiramente


nos ater à Lógica Formal. Podemos pensar nas coisas
como Assim como um macaco é um símio e o ser
humano é um hominídeo, então um macaco não é um
homem. Silogismo.
Ou então: Assim como um macaco é um ser vivo e o
homem é um ser vivo, então ambos são seres vivos.
Ou: O macaco é um protótipo do ser humano; o ser
humano é uma evolução do macaco; logo, o ser
humano é um parente biológico do macaco.
Ou ainda: TODO SER QUE PENSA EXISTE; EU PENSO;
LOGO, EXISTO (René Descartes). Onde está o erro? O
cientista formulou a primeira parte, que fazia uma
afirmação do que ele acreditava de antemão. Será
que ela é verdadeira? Isso compromete todo o
silogismo.
Essa é a lógica formal, chamada cartesiana, porque vem
de Cartesius, latinização do nome de seu inventor: A é
igual a X, B é igual a X, então A = B. É, na verdade, a
sucessão de tentativas e erros. O que hoje se
considera certo amanhã poderá ser o errado. Por
exemplo, o ovo aumentava o colesterol; era uma
verdade científica: hoje é inócuo, e existem o mau
colesterol e o bom colesterol. O formato da Terra,
nem sempre foi considerado como atualmente;

17
haviam muitas crenças sobre isso, até que no
segundo meado do século XX ela foi finalmente
fotografada inteira.
De qualquer forma, o método científico é provar na
prática o resultado obtido na teoria. Pode-se então
obter o resultado desejado, o que se chama de uma
prova científica. E a ciência caminha assim, tese após
tese, a segunda superando a primeira. Quando se fala
em Física Teórica, são apenas hipóteses, que
precisamos provar pela Física Prática para serem
consideradas uma prova científica. Isso não impede
que uma crença científica possa ser contestada no
futuro; enquanto isso o cientista autor da teoria tem
fé na sua verdade. O que caracteriza a Ciência é que
ela nunca é: está sendo.
Outra: a pedra é pesada, eu sou pesado; logo, eu sou
uma pedra. Eis que nesse tal silogismo há o erro já na
propositura. É o exemplo de um raciocínio errado. A
segunda propositura já é falha.
Temos assim que prestar atenção no que estamos
falando. E pensando.

19
LÓGICA

Quando falamos em lógica, pensamos em algo frio,


racional, que, pode ser convertido em matemática,
em fórmulas com cifras, letras, símbolos,
incompreensíveis ao ser humano comum.
Então queremos a realidade como ela é, nua e crua, em
seu esqueleto, músculos, sistemas funcionais etc.
Na verdade, essa é uma forma de compreendê-la, mas
não a única. O que é real? O que é a realidade? É a
mesma para todos nós? Falarei sobre isso mais
adiante.
O racionalismo é a única maneira de abordar o real? O
mascaramento da verdade é uma ideologia. Essa
máscara, a que chamamos ideologia, serve ao sistema
controlador, seja lá qual for.
A Lógica pode ser baseada em intuição, como adiante
abordaremos. Ou numa fusão de vários métodos.

21
dialético. Ambas as partes devem ter seu argumento
Segunda Parte
completo.
LÓGICA INFORMAL: A DIALÉTICA
O desenho que representa isso pode ser um
segmento de reta com a tese de um lado e a
Vamos primeiramente falar sobre a base da Dialética.
antítese do outro. Daí nasce a discussão para o
Platão, Aristóteles, Kant, Hegel, Marx, Engels, cada qual
brotar de uma nova tese, chamada síntese, acima e
com seu parecer, mas todos culminando em: a dialética é
equidistante, formando um triângulo. Como isso é
a arte da discussão. E o objetivo é uma resposta. É a
uma referência, na verdade a síntese pode ser a
busca da verdade. A Dialética é uma forma de lógica. É
própria tese ou a antítese, após o debate. O que
um sistema de pensar.
importa é a discussão, os elementos da qual se
Nós vivemos num mundo de contradições. compõe a síntese.
Essencialmente, um processo dialético tem uma tese e
Isso pode ser descrito como a primeira volta de uma
uma antítese, i.e., compõe-se de uma ideia inicial
espiral. Não uma circunferência. Ocorre que as
completa, pronta, e uma contraditória, um oposto.
discussões sempre, quando concluídas, desafiam à uma
(Deduzimos que é daí que parte a ideia de um universo
contraditória, de onde nascerá a nova ideia, a nova
paralelo, mesmo não sendo coincidente com o nosso.)
circunferência, formando uma espiral. Que se reinicia
Essas duas ideias, a original e a sua oposta, se logo acima onde a discussão começou. Para quem vê de
contrapõem numa discussão. cima, pode achar que toda discussão nada vale, pois
parece ter chegado ao mesmo lugar onde começou. Na
Da discussão nasce uma conclusão, fruto do debate
verdade, está a tese original somada à experiência
entre ambas, que pode ser, inclusive, a própria ideia
daquela discussão: portanto, houve uma mudança. É o
inicial ou mesmo a contradita.
que acontece com a moda e os costumes, por exemplo.
A conclusão será a nova tese, da qual nascerá uma nova O Tempora, o mores.
antítese e uma nova discussão.
Isso é uma espiral ascendente, que constrói o processo
Às vezes, no lugar da tese, temos um quase-argumento, científico: a impressão primeira é que estamos repetindo
como se fosse uma ideia incompleta, passível de um o que já foi uma ideia, todavia não é. Existe já uma
contra-argumento muito mais forte do que ele. experiência anterior. Mesmo assim, é uma nova ideia
Naturalmente, não poderá haver aí um processo que pode ter, aparentemente, uma discussão igual à
23
O Que É a Busca Pela Verdade?
anterior. Ou não. Isso chamamos de intuição nocional,
quase um dèja-vu.
Quando falo nisso, não estou dizendo que a dialética
O importante não é o resultado, mas a discussão. Uma
obtém sempre a verdade, mas que o resultado de uma
busca eterna e inalcançável da Verdade final...
discussão deve ser o melhor possível.
Por isso mesmo, é um resultado verdadeiro, porque
adveio de uma discussão entre dois polos contrários.
Mas não é nenhuma verdade absoluta. A dialética não
tem esse poder, apenas vive na busca, sempre
acreditando estar cada vez mais próxima do final. Mas
esse final nunca chega, é uma constante evolução.
Hegel não pensava assim. Ele achava que haveria um
fim. Isso influenciou Karl Marx, que via na luta de classes
uma dialética que teria como síntese final o comunismo.
Eles acreditavam na verdade final obtida na prática. O
que vimos, porém, na União Soviética, foi o capitalismo
como síntese, com ricos bem ricos e pobres. E uma
crescente classe média inusitada, pronta para o
consumismo.

25
DIALÉTICA DA NATUREZA

Aqui nos deparamos com a já por nós conhecida tese de


que na Natureza nada é imutável, tudo se desenvolve
em alguma direção. A própria questão simbiótica faz
com que as mudanças externas, provocadas pelo ser
humano inteligente, ou por mudanças vulcânicas,
meteóricas, naturais, enfim, possam alterar o equilíbrio.
A mudança é uma contraposição sobre o equilíbrio
simbiótico; e a Natureza desenvolve uma nova simbiose.
Sem precisar do auxílio humano. É como se houvesse
uma inteligência do universo, constantemente buscando
o equilíbrio, mas nunca o obtendo em sua completude. É
o equilíbrio no desequilíbrio. O universo estático da
idade média, com movimentos previsíveis, inexiste.
Vamos analisar: a tese é a natureza, a antítese é o
movimento desequilibrador da simbiose, a discussão é o
tentar se equilibrar na nova situação e a síntese é o novo
estado simbiótico.
Por isso dizemos que, não só a natureza, mas o universo
é dinâmico, constante apenas em mudar. É instável e
imprevisível. Isso é o que eu chamo de a Dialética da
Natureza.

27
DIALÉTICA DA HISTÓRIA

A História segue por ciclos ascendentes e descendentes.


Cada vez é um povo que domina o mundo ou parte dele;
esse povo tem um Poder que domina outros povos, cada
vez mais, até um ponto em que ele não o mais faz;
então, dá lugar a outro, involuntariamente.
Na verdade, esses ciclos não são definíveis, isto é, são
irregulares. Podem ser mais altos aqui, mais baixos ali,
mais constantes em sua opressão, ou menos, mais
constantes em sua subserviência...
Vemos o caso, por exemplo, de Roma Quadrata (que na
verdade tinha o formato de um círculo), e seus
arredores, protegidos por aquela. Cujos centuriões e
tropas invadiam outras terras e ampliavam seu domínio,
levando consigo o latim e seus costumes, porém
também absorvendo um pouco de cada um.
Roma era a tese e as terras e povos conquistados a
antítese. Os deuses gregos eram a tese, os romanos uma
síntese.
A dialética portanto está presente na História, sempre
esteve, numa espiral ascendente.
O presente é o futuro do passado. Mas não podemos
garantir que o futuro de nosso presente seja compatível
ao que já vimos acontecer. Existem os tempos retrô, em
que as pessoas tentam viver uma nostalgia, isto é, as
lembranças boas de uma época, esquecendo-se das
29
tragédias que naqueles dias aconteciam. A dialética não
permite previsões certeiras. Pode acertar parcial e até
totalmente, mas em geral erra. Total ou parcialmente.

31
LÓGICA E INTUIÇÃO
uma das partes são a tese e a antítese, levando o casal à
harmonia.
Faço aqui uma pausa para esse encontro acontecer.
Quero falar da necessidade de se feminizar a população A Presidente Dilma Rousseff poderia ter sido mais
de nosso planeta. Claro que não é apenas o caso da feminista, usar mais sua anima, porque um bom governo
mulher trabalhar e o homem ficar em casa cuidando das utiliza-a. Para escolher seus ministros as duas vertentes
crianças e animais. Contudo, o feminismo, trazendo essa devem ser consultadas. Não quero falar em homens e
possibilidade, já existe. Temos só de ter cuidado em não mulheres invertendo seus papéis, mas que todos possam
torná-lo num machismo às avessas. Tem de servir a pensar dialeticamente. A dizer, podemos imaginar a
ambos os sexos. razão e a intuição se discutindo. Temos que ter, no
Executivo, homens e mulheres trabalhando lado a lado,
Porém, o mais importante para construirmos uma
assim como no Legislativo e no Judiciário. Não é o caso
sociedade feminista é quando a mulher usa com
das mulheres usando terninhos com ombreiras e
seriedade e responsabilidade a sua intuição, seus
gravatas, imitando o homem, a não ser que seja por
sentimentos, sua sensibilidade, sua sensitividade, seus
gosto pessoal. Não é o caso do homem ter de usar saia e
instintos, sua imaginação, sua criatividade. A par disso, o
renda, embora também seja de gosto pessoal.
homem tem que também dar e ouvir sua anima (seu
lado feminino). Ambos devem atentar para o seu lado O Judiciário, aliás, pouco a pouco, utiliza a intuição, mas
menos usado. O racional (o animvs) deve se entender ainda a lógica formal é o meio machista de se resolver
com o intuitivo, o aspecto emocional, a sensibilidade, a uma Ação Judicial. Por outro lado, o Magistrado poderá
sensitividade. Isso é o verdadeiro feminismo, onde cada ter em sua mente possivelmente mais que duas soluções
para a sentença: sobre isso falaremos mais adiante.

33
Há muitas expressões chulas que são totalmente
Mais uma coisa. Você, feminista de carteirinha, tem que
parar de usar palavrões. Por quê? repugnantes para um dos sexos. Pode pesquisar. Isso
Ora, os termos chulos são machistas, a maioria sobre os vale não só no idioma luso.
órgãos femininos do sistema reprodutor. Os termos que
exalam os órgãos ou movimentos sexuais do homem Onde entra a dialética? Entre a anima e o animus deve
são, no geral, opressores. Para ser feminista de verdade haver a discussão e a descoberta de uma solução. Óbvio.
não pode deixar que os vícios masculinos ou femininos
apareçam: o feminismo é a libertação das mulheres e
dos homens, sem estereótipos.

Portanto, a evolução para o feminismo faz parte de um


processo dialético:

Leila Diniz foi importante, na sua época, para a


libertação das mulheres. Ela ia à praia de biquini mesmo
estando grávida; falava muitos palavrões e isso
desagradava ao Sistema repressor. Mas eram outros
Tempos... Hoje temos que repensar suas atitudes, pois
não têm mais sentido. Ela morreu num trágico acidente,
levando consigo um Movimento de Libertação da
Mulher; hoje, isso tem que existir para ambos os sexos.
A mulher não precisa mais expor sua barriga nas ruas,
nem pode ser obrigada a usar salto alto. Usa se quiser.

35
A DIALÉTICA NA COMUNICAÇÃO SOCIAL

David K. Berlo, ao demonstrar o que é o Processo da


Comunicação, desenha um segmento de reta, onde na
primeira ponta está o Emissor, e a segunda é o Receptor.
Durante a emissão, portanto no caminho entre o
primeiro e o segundo, há o ruído, que pode ser a
convicção de uma das partes, que contraria a outra, ou
qualquer entrevero. Entretanto, toda e qualquer
informação diferente da do Emissor, interferindo no
processo, faz parte do ruído, o que impede que ele
consiga que chegue a mensagem original invicta ao
Receptor. Quando o receptor responde, há novamente
uma tese permeada de ruídos. Todo esse processo é uma
busca pela Verdade. Portanto, a síntese estará
comprometida pelos ruídos.
Todavia, tenho visto notícias sobre a informação poder
ser enviada acima da velocidade da luz. Se isso
realmente for possível, derruba toda a teoria dos ruídos,
pois chegaria intacta do Emissor para o Receptor. No
entanto o que haveria seria a incompreensão do
segundo em relação ao que o primeiro enviou. O
entendimento nunca é completo, por mais que todas as
palavras sejam totalmente audíveis, que todas as
imagens sejam totalmente visíveis. Sempre há o critério
pessoal do receptor.
Com isso, a dialética continua valendo.

37
A DIALÉTICA NO FUTEBOL

O esporte futebol segue o princípio dialético: durante


um certo tempo, duas equipes jogam, uma contra a
outra, cada qual com seu capitão e seu goleiro. No meio
do jogo, há um intervalo seguido por uma segunda
parte.
Por aí já se vê, cada equipe como uma tese, o jogo como
a discussão e o placar final como uma síntese. Cada
equipe tem a sua defesa, assim como cada uma tem seu
treinador, que faz as regras e o treinamento. Têm um
árbitro que vai concorrer para se obter a síntese: se um
dos times vencer ou se será um empate, aí a teremos.

39
DICOTOMIA

Nem toda dicotomia é um processo dialético. Nem todo


processo dialético é uma discussão de contrários.
Podemos ter duas ideias diferentes sendo discutidas ou
duas inversas que não se embatem. Senão, vejamos.
Fulano tem uma opinião firme a respeito de algo.
Beltrano tem uma opinião diversa. Mas eles não
discutem esse assunto.
Vamos ver: Fulano torce convictamente pro time do São
Paulo; Beltrano, Santos.
Para obter um resultado disso, preferem manter a
amizade e não conversarem a respeito. Não há a
esperada síntese. Não há dialética.
Todavia, podem discutir acerca da superioridade do
refrigerante sobre a água mineral gasosa: Fulano faz a
tese e Beltrano a antítese (a superioridade da água
mineral gasosa). Qual poderá ser a síntese? Ora, por
exemplo, o refri é mais gostoso que a água, embora seja
esta a mais saudável.
Uma coisa que ocorre é que, toda vez que se tem dois
pontos diversos, alguém diz que há uma relação dialética
entre eles; não é assim. Pode acontecer, mas não
necessariamente. Pode existir ambivalência. Pode existir
a coincidência, mesmo parecendo diferentes. Todavia, se

41
contudo este é sempre enganado por aquele. Queremos
há um próton, existe um nêutron, além de um elétron
a Verdade. Claro que, entretanto, continua valendo o
circulando-os por um imenso espaço vazio. Ou não.
que acabei de escrever no parágrafo anterior.)
Se tivermos uma pergunta com uma resposta já
O que parece que ocorre é que o povo está tão
planejada, não temos dialética. É aqui que entramos com
acostumado às pequenas corrupçõezinhas
uma nova ideia na dialética: a antítese não pode ser
mesquinhazinhas cotidianas que tem medo de que um
necessariamente o inverso da tese. E por quê? Se
governo honesto o impeça de se portar dessa forma.
trabalhamos com ideias pré-concebidas, retornaremos à
lógica formal. Ela é apenas diferente da tese. Não tem
que ser o sim contra o não.
A dialética trabalha com o desconhecido, para obter a
verdade. A aparente dualidade é somente processual,
pois a solução é única: como diziam os gregos, EN TO
PAN (Tudo é Um).
Além do mais, falta o mais importante, que é o debate
entre as partes, sem a qual não haverá a síntese, para
concluir a etapa do processo dialético.
Não se pode discutir honesto versus desonesto, mas a
honestidade em suas virtudes, ou a desonestidade
versus outra desonestidade. Ninguém é menos ou mais
honesto que outro. Se um vendedor aumenta na conta
dois reais, ele será capaz igualmente de receber uma
propina de dois bilhões de reais. E essa será sua filosofia
de vida, votando em políticos que furtam do Erário
Público para que ele possa continuar furtando seus dois
reais.
(Faço aqui um novo parêntese: não quero dizer que
ladrões existem no Poder porque o povo quer assim,
43
O PERCURSO DO HERÓI E A DIALÉTICA
Ou ainda: Quero receber de você setenta reais, mas você
só quer me pagar dez; vamos precisar de um juiz para
resolver isso.
O percurso do herói compõe-se de uma hybris e uma
nemesis, que são a ascensão e a queda: a elevação, a
estabilização e um tombo. É a condição humana, de uma
certa forma. Entretanto, o herói transpõe os limites
humanos. É como crises compostas por imensas tristezas
e imensas euforias. O ato heroico é seguido pelo
descanso. Ou a euforia pela depressão.
Desenhamos o percurso com montanhas e vales,
concomitantemente. E uma linha horizontal no meio
representando o momento da normalidade.
A constância do processo é uma dialética. Porém, as
crises de um herói ou de outro diferem, uma pode ser
mais profunda que outra, ou mais demorada. O próprio
Sujeito pode ter um longo período eufórico seguido por
um período médio (sobre a linha horizontal) e voltar a
mais um longo período de euforia. Essa é uma
característica da Dialética: nunca se sabe quanto tempo
durará uma discussão, até se chegar a uma síntese. E,
claro, a síntese será a nova tese.
SEMPRE deve se chegar a alguma solução, ainda que os
dois polos do debate não entrem num acordo.
Por exemplo: O vestido parece azul pra mim, mas
também parece verde para você; está num tom
indefinível, não é a mesma cor para mim e para você.

45
A IMPREVISIBILIDADE

Nada é previsível. Isso é básico para a dialética. Por isso


a antítese, embora possa ser o oposto da tese, não o é
necessariamente. Assim, não sabemos em que pontos a
discussão baterá. E qual será a síntese.
Tal fato se dá porque o sujeito – tese – não conhece o
objeto – antítese –, o que acontecerá durante o processo
dialético. O objeto se contrapõe ao sujeito e este
conhecerá aquele justamente durante a contradição e a
busca pela verdade.
É o que dissemos quando falamos da dialética na
história.

47
A QUESTÃO JUDICIAL E A DIALÉTICA

Esse é simples: o Advogado de Fulano tem uma tese, que


chamamos de Inicial, digamos, e Beltrano será
representado por outro Advogado, que contestará com
uma antítese.
O Juiz analisará os autos do processo e perguntará às
partes se há acordo. Pode aqui haver um processo
dialético. Até então teremos a tese e a antítese,
discutindo na audiência.
O Magistrado dará a sentença, isto é, a síntese, que será
o resultado da discussão ou, se não houver o acordo,
poderá ser a nova tese para uma nova instância. E um
novo processo dialético.

49
51
O SISTEMA BINÁRIO
milhares, milhões, quatrilhões de bits se mexerem. Tudo
baseado no sistema binário.

Todo computador é binário. O que vemos então? Um texto, uma canção, uma
sinfonia, um filme dos anos 1930, um cinema com som
Quando, em meados do século vinte, eram enormes, surround, e muito mais, tudo com uso de
usavam cartões que eles perfuravam, a base era binária: microcomputadores a multicomputadores. De base dois.
zero ou um, isto é, desligado ou ligado, não perfurado ou
perfurado. Dessa mesma forma veremos no futuro programas sem
telas, com imagens espacialmente conectadas com os
Os códigos alfanuméricos eram, por exemplo: sons, tudo à nossa volta. De repente, um personagem
0, zero, a; atira com um revólver supersônico e o projétil nos
atravessa, matando o personagem que estará atrás de
1, um, b; nós.
10, dois, c; Começaremos a ”vivenciar vidas virtuais” como se
11, três, d; fossem as nossas próprias. Sentar-nos-emos em nossa
poltrona, em nossa sala, e conversaremos ao vivo, em
100, quatro, e;
cores e em quatro dimensões, com outra pessoa, que
101, cinco, f; estará na sua outra poltrona, ou numa poltrona virtual,
sem precisar de teclados ou senhas, ela em outro lugar,
110, seis, g;
mas virtualmente estarão juntas.
111, sete, h;
Isso porque não suportaremos a mediocridade do
1000, oito, i; cotidiano. Estaremos transformando vidas medíocres em
e assim por diante... virtuosas. Mas só no plano virtual. Mais um pouco
seremos uma espécie de Matrix, o filme.
Dá pra acreditar que até hoje são assim?
Faremos parte de classes de aula virtuais, em que todos
O fato de falarmos em megabytes, gigabytes, é que, a os colegas de classe e professor estarão conectados em
um simples menear de toques, fazemos centenas, quatro dimensões, além das ondas sonoras. A classe
estará em nossa sala, podendo todos se ver mutuamente
53
REALIDADE E OBJETIVIDADE
e se ouvir. Ou não conheceremos nossos colegas, tendo
apenas contato com o professor. E os viciados nessa
futura internet terão que se tratar com terapeutas para Esse tema basicamente é de que muitos autores, em suas
voltar a ter prazer com o contato natural, cara-a-cara. dialéticas, creem numa Realidade Objetiva única, fria e
lógica, da qual discordo plenamente.
Poderemos até, futuramente, ter um Movimento contra
a super-inter-conexão. Falar em sujeito e objeto, que o caminho do primeiro ao
segundo é o Conhecimento, é simplificar o trajeto. Na
O que tem isso a ver com a Dialética? É porque da tese à verdade, não existe uma realidade que conheçamos
antítese, ou seja, do banal ao extraordinário chegaremos plenamente. Cada pessoa admite uma realidade sua, só
a um ponto incognoscível, que será a tão esperada sua, baseada em sua percepção das coisas e em sua
síntese. experiência.
Dois sujeitos percebem a mesma realidade
diferentemente, pois têm seus sentidos distintos, suas
próprias análises do que É e do que não É. Ninguém vê o
mundo à sua volta do mesmo jeito que seu próximo: cada
qual tem seu próprio discernimento. Por isso, a Síntese
não é a mesma para cada qual das partes. O que sou não
é o que penso que sou, nem o que pareço ser. Meu
pensar é ilusório.
Cada Sujeito conhece o Objeto de uma maneira, nunca
sendo por isso o mesmo Objeto para cada qual.
O itinerário do subjetivismo ao objetivismo não deixa de
ser o Conhecimento. Não existe o subjetivismo, mas uma
inexata compreensão do Objeto. Para entendê-lo é
necessário o raciocínio, a intuição, o saber de que nem
sempre a resposta é verbalizável.

55
Assim como o Objeto é fruto de uma rede de concepções,
Vamos ao caso da apreciação de uma obra de arte.
uma síntese, esta, por sua vez, é a busca de um ideal,
Vejamos bem que não é entender, pois isso seria uma
nunca existente. A Realidade Objetiva é uma ilusão, não
crítica. Será mais uma espécie de jogo em que a obra nos
permanece, não É, mas podemos buscá-la, através de
puxa para que a sintamos e nós a conheceremos; o
métodos.
inconsciente do artista se ligará ao nosso e aí
perceberemos a obra. Gostar ou não, falar sobre ela, É o que Caio Prado Júnior chamou da experiência sensível
explicar seu contexto, acha-la bonita ou feia, nada disso à conceptualização, in Dialética do Conhecimento, Tomo
importa, mas o impacto entre os inconscientes é o que a II, pág. 620.
torna importante. A obra pode ser um poema, uma
Passamos então, até agora, da LÓGICA FORMAL à LÓGICA
canção, uma escultura, um quadro, um múltiplo, uma
INFORMAL, que caminha da DIALÉTICA à POLIALÉTICA. Já
gravura, uma sinfonia, ...
dá para perceber de que a racionalidade não é atributo
Desde os Tempos mais primordiais, artistas, cientistas, único da Lógica, mas também o instinto e a intuição, o
pensadores, curandeiros de várias espécies, entre outros, conhecimento prévio e o saber.
propugnaram que drogas naturais ou sintéticas, trariam
Entre a Tese e a Antítese percorremos um itinerário
ao seu usuário a Realidade como ela é. Isso levou muitos à
repleto de interceptações, próprias das reflexões do
viagem sem volta e à loucura. Mesmo que se
indivíduo e/ou das discussões entre os que debatem: é o
reabilitassem, nunca mais retornariam ao mesmo ponto
Conhecimento, mas não é ainda a Verdade.
de onde iniciaram.
Precisará haver um retorno da antítese à tese, após a ida
Então, o que é real? Nossa parca percepção do que existe
desta àquela, com as diversas interceptações, e um
à nossa volta é pessoalíssimo! Nunca sabemos como
rerretorno, e mais uma vez e muitas idas e vindas entre a
somos. Como os outros nos veem é diverso do modo
tese e a antítese para que o sujeito obtenha a final
como nos vemos. O que somos para nosso cão? A
Síntese, o Conhecimento, a Verdade, a Flor de Lótus!
descrição do objeto é estritamente pessoal.
Essa será refutada posteriormente.
Podemos dizer, no entanto, que o Sujeito não é sempre o
indivíduo, mas pode até ser uma coletividade. Ou o
inconsciente coletivo.

57
T MAIÚSCULO
Volto a dizer o que escrevia. O Tempo de antigamente é
muito mais pausado, vagaroso, sem pressa, que o de
hoje. O Tempo é a soma dos infinitos, para citar Georg
Por que tantas vezes voluntariamente escrevo a palavra Cantor. 1
Tempo com T maiúsculo? Por uma razão muito pessoal.
Não espero que outros o façam também, a não ser que Santo Agostinho escreveu: O que é, por conseguinte, o
os convença com este palavrório... tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; se quiser
explica-lo a quem me fizer a pergunta, já não sei.
O Tempo é inexorável! Ele sempre passa, é a grandeza (Confissões, Livro XI, cap.14.)
física mais importante. Ele é mensurável, embora
inconstante. Passa mais rápido pra uns, mais devagar pra O Tempo é másculo. E a energia feminil. Completam-se.
outros, mais lento quanto somos crianças, mais veloz Por isso Einstein, sabida ou sutilmente, construiu sua
quando temos um prazo que nos pareça exíguo,... O famosa fórmula com a massa e a velocidade da luz ao
Tempo é como um deus anímico, com um chicote numa quadrado resultando na Energia. E aqui o Tempo se une
das mãos e um afagador na outra: ele escolhe o vigor de ao Espaço, como dimensão quarta.
cada um, ele é o princípio do ansioso, do psicótico, do
uso do narcótico.
O Tempo é um dos deuses mais lindos, como disse
Caetano Velloso numa canção. Tempo, Tempo, Tempo,
Tempo,... homenageado em alguns terreiros de
Candomblé por uma bandeirinha branca. Mas Este é o
clima, chuvoso, nebuloso, poeirento, seco, úmido, frio,
quente, estiado,... não é o que chamo de Tempo.

1Aqui existe a ideia de que o infinito é um círculo virado para baixo e virado em
seu centro: isso faz com que ele pareça, sendo visto de certo ângulo, um oito
deitado, donde seu símbolo. A viagem no Tempo seria possível fazendo um
segmento de reta entre um ponto e outro desse círculo. A viagem para um
universo paralelo seria entre um ponto desse círculo para o de outro círculo,
que poderia até ocupar o mesmo espaço: ∞ + ∞.

59
TEMPO E MASSA

O Tempo tem massa porque é mensurável. Claro que


não é medido em quilos, porém é verdadeiramente
delicado, muito leve para nossos padrões. Por ter massa
é uma dimensão, como o comprimento, a largura e a
altura.
Por isso podemos falar que um milésimo de segundo é
mais leve que uma hora, por exemplo.
Diria, pois, que um período de Tempo maior deveria ser
mais pesado que um menor, todavia não é
necessariamente assim. Se o Tempo já foi mais lento no
passado, é porque era mais pesado e hoje é mais leve.
Há uma contradição: apesar do Tempo ser hoje mais
leve, nós sentimos muito mais o seu peso, por estar mais
rápido. Assim, podemos dizer que os dias de hoje pesam
mais sobre nós, devido à nossa maior responsabilidade
com o futuro.
Que responsabilidade é essa? Ora, somos hoje mais
responsáveis pela sobrevivência da espécie que no
alvorecer da humanidade; somos mais responsáveis pela
sustentabilidade do planeta, pela forma como usamos a
tecnologia, como a descartamos. Por isso os Tempos
hoje nos pesam mais que para nossos ancestrais. O
filósofo Luiz Felipe Pondé afirmou na tevê que os antigos

61
filósofos gregos já aconselhavam as pessoas a
moderarem suas vidas, evitando o que hoje chamamos
de estresse. Sábios, não conheciam o que o futuro nos
reservaria, mas observamos que desde a era industrial o
mundo começou a mudar exponencialmente.
Tudo que inventamos para facilitar nossas vidas
(máquinas, informática, computação, androides) acaba
nos tornando mais frágeis e controláveis. Temos o peso
do Estado cada vez maior sobre nós, nossas
identificações cada vez mais complexas. E as drogas e
outras formas de fuga cada vez mais poderosas em seus
efeitos.
Isso é a dialética, sendo vivenciada como uma mola
crescente.

63
A NOVA ESQUERDA E A DIALÉTICA
A Nova Esquerda diferencia-se da Velha no Brasil,
assumiu o Poder e adquiriu costumes e vícios da antiga
Direita, como a Arena, no Tempo do bipartidarismo, que
A antiga Esquerda era representada no Brasil por os combatia com tanta competência. Segundo o
homens do porte de Luís Carlos Prestes e a antiga Direita historiador Marco Antonio Villa, em seu livro sobre as
por outros como Getúlio Vargas. A primeira defendia os Constituições no Brasil, quando da criação do
ideais socialistas soviéticos e a segunda os capitalistas bipartidarismo, houve a necessidade de políticos do
norte-americanos. Basicamente era assim, partido do governo compor o então MDB, junto aos
principalmente após a Segunda Guerra, quando a poucos oposicionistas, para existir de fato um partido de
disputa entre os dois Blocos era maniqueísta. Claro que oposição. Claro, os que se opunham eram presos ou se
haviam divergências dentro de cada uma, formando exilavam...
vertentes que se uniam quando precisavam fazer uma
ampla oposição à outra, mas tais vertentes tinham Por isso, a Dialética não pode mais ser vista como
adeptos que brigavam entre si por detalhes, pequenas assunto político de algumas vertentes, mas largamente
diferenças idearias. Grandes intelectuais falavam mal de filosófico, aberto a toda e qualquer corrente política.
outros por simples desavenças nas ideias; isso ocorre até A Dialética de Platão, de Kant, de Hegel, de Marx, devem
hoje e eles mesmos não percebem que poderiam ser ser estudadas como História, mesmo que sejam ainda
grandes amigos. Eu mesmo cometi esse erro algumas atuais, pois nunca foram realmente postas em prática.
vezes. Hoje, novos caminhos precisam dela presente, sem
O que escrevo aqui não engloba os atos políticos, apenas ranços, dentro do contexto contemporâneo. Para tanto,
o pensamento que constrói os ideais. precisamos nos debruçar sobre as possibilidades do
Futuro e traçar as novas propostas.
O que é a Nova Esquerda, nos dias em que a Rússia é
capitalista e a China exporta liberalmente seus produtos
para o Ocidente? Pessoalmente não sei explicar sem
delongas, mas posso dizer que no Brasil é representada
por partidos políticos como o PT e o PCdoB. E até pelo
PMDB, que dividiu seu poder na Presidência do país com
a Presidente Dilma.

65
escolha. É uma forma de disputa inútil, que apenas gasta
Terceira parte mais do Erário Público. Concebe-se, dessa forma, que o
A OUTRA FACE DA DIALÉTICA: A POLIALÉTICA povo brasileiro sabe pensar polialeticamente, não
apenas de forma dialética. E para descompensar,
dessubtilizam-se as particularidades para que se
Vamos explicar melhor o neologismo: a Polialética
transforme numa reles e cartesiana escolha: X ou Y.
é a síntese a partir de uma tese e mais de uma antítese
se contrapondo a ela, ou uma antítese originada de Entretanto, a polialética é vivida hoje
várias teses. naturalmente pelo povo brasileiro em sua raiz
fundamental de pensamento, lá naquele local da mente
Naturalmente, nada a se opor, quando nos
onde a massificação ainda não chegou.
lembramos de que nossa mente pode admitir mais que
duas dimensões, a bem dizer quatro (largura, É o caso de um grupo de publicitários em meio a
comprimento, altura e Tempo). Podemos lembrarmo- uma tempestade cerebral (brainstorm). Depois de
nos de que tais formulações são já possíveis e notáveis inúmeras ideias se dá o resultado, aceito por todos. A
na prática, quando numa mesa-redonda as ideias nem diferença é que, na dialética, haviam dois polos: aqui
sempre se polarizam, mas se podem multiplicar. não, são vários!
O exemplo típico são aqueles programas de O brasileiro é daqueles povos cuja
debates sobre futebol: num indeterminado instante, heterogeneidade racial e cultural faz com que os
duas ou mais pessoas falam ao mesmo tempo, cada qual pensares se desenvolvam além do mero branco contra
com uma tese diferente. Elas não entrarão preto.
necessariamente num acordo, mas dessa discussão o A tentativa que a globalização faz de manipular os
espectador poderá, ele mesmo, chegar à uma Síntese, ou entes, compartilhando-os quantitativamente em classes,
à uma nova tese que irá contrariar todas as tipos e quetais, nunca terá sucesso no Brasil, país que, na
apresentadas pelos debatedores. verdade, a diferença é o normal, a especificidade não
A tendência atual na cúpula dos poderes tem sido dura, se altera rapidamente. Não falo, aqui,
a da polarização, como se vê nas eleições de cargos naturalmente, das classes sociais, onde Uma é imutável,
executivos da nação brasileira: após uma votação em outras dinâmicas.
que diversos candidatos foram postos à disposição do A dissipação dos gêneros conhecidos, a explosão
eleitor, os dois que receberam mais votos são em muitos, daquilo que parece apenas duplo,
novamente postos como alternativa, polarizando-se inicialmente, mostra que a globalização pretendida pelos
novamente o que na fase anterior já fora u’a múltipla
67
da globalização. No entanto, pegamos vícios de
países dominadores do planeta apenas funcionará neles
linguagem por pura ignorância, como, por exemplo:
próprios. O terceiro mundo pode adotar por um tempo
alguns parâmetros dessa nova construção Vou dar o meu melhor: na verdade, deveria ser,
comunicacional, mas com rapidez já vem transformando- por exemplo: vou fazer o melhor que puder. Aquela frase
os sem tradução possível para os do primeiro mundo. acontece como um anglicismo.
Assim fizeram os escravos brasileiros com os santos A IMPREVISIBILIDADE NA POLIALÉTICA
católicos, e transformaram São Jorge em Ogum, Santa
Aparecida em Iemanjá, se não me engano, e por aí afora:
Se temos uma tese e várias antíteses, naturalmente
Olorum, Xangô, Iansã, Erês...
serão estas imprevisíveis quanto ao seu número e teor.
A intradução, ou seja, a impossibilidade de se ter
uma tradução, está no fato de que São Jorge não é Na polialética também não criamos de antemão as
Ogum, embora a representação iconográfica tenha sido a antíteses, esperamos que apareçam não importa como.
mesma. Etc. Assim funciona a polialética, açambarcando Quando expomos uma tese ao público, nunca sabemos
várias teses ao mesmo tempo e gerando um resultado com que vamos defrontar. O público entrará com suas
que, na prática, viola a antiga fórmula tese + antítese = antíteses. E as discussões darão ensejo ao que
síntese. chamaremos de novas teses.
Já dissemos que na polialética podemos ter várias
Claro que quem começou o processo polialético (com
antíteses para uma só tese, assim como uma só antítese
sua tese), pode não concordar com ninguém que o
para várias teses, embora cada uma das antíteses iguais
confronte, mas continuar com sua opinião. Todavia,
seja diferente por ter sido originada de discussões
diferentes. Porém a síntese terá que ser uma só, para levará consigo uma experiência que não tinha
não cairmos no paradoxo de duas novas teses; contudo anteriormente e assim será ele mesmo uma nova
podemos pensar numa síntese simples ou composta. pessoa. É o que se espera. Num mundo ideal.
Simples: um homem e uma mulher podem ser amigos;
composta: um homem pode ser casado com uma mulher
ou apenas serem amigos. A bem ver, uma síntese
composta pode, facilmente, ser dividida em duas novas
teses. Ou em uma tese e uma antítese.
A cultura brasileira é polialética por natureza
histórica, e isso nos vacina contra os vírus contraceptivos
69
PROFICIÊNCIAS

Aqui vamos entrar no fundo essencial deste livro.


De apenas uma tese se extraem várias antíteses e
consequentemente inúmeras respostas.
Digamos, porém, que da mesma discussão em que se
alterem as pessoas, surgirá uma nova síntese. Mudam-se
as pessoas mais uma vez e uma terceira síntese se
forma. A Verdade se compõe de três sínteses? Deverão
todos os indivíduos que participaram das discussões
juntarem-se para obter uma só Síntese? O
Conhecimento, entretanto, terá dentro de si todas as
reflexões, discussões, brainstorms, ...

Por exemplo: Deus existe! Essa é a tese.(teísmo)


Eis várias contradições possíveis: Deus não
existe!(ateísmo);
Tudo é Deus
(panteísmo);
Deus é uma tríade em Um só: Pai, Filho e Espírito Santo
(dogma católico);
Deus está dentro de
cada um de nós (pessoalismo);
Deus morreu (ateísmo);

71
Temos alguém que acredita na propositura inicial, porém
“Não creio em Deus, mas
há várias outras pessoas que creem de forma diferente,
estou aberto às possibilidades”(Marcelo Gleiser)
nem sempre ao contrário, mas diferente. Essa diferença
(agnosticismo);
pode mudar o pensamento no mundo. Então, a tese
“O que urge fazer: matar o último rei com as tripas do passa a ser representada por um ponto no meio de um
último frade” (máxima anarquista do final do século XIX círculo, e uma circunferência com diversas
ao início do século XX); contraditórias, todas discutindo ao mesmo tempo. E a
Fazer todas as imagens religiosas em pedaços circunferência pode sempre aumentar, quanto mais
(iconoclastia) contraditórios houver, ou quanto mais distantes da tese
Etc. estiverem.

Todas as antíteses diante da tese ao mesmo tempo aqui É como um programa de tevê ou rádio onde haja alguns
e agora. Mesmo que os interlocutores falem um de cada comentaristas. Veja o Jornal da TV Cultura, à noite: há
vez, expondo sua contradita, ou vários queiram discutir uma jornalista âncora e dois comentaristas, que às vezes
ao mesmo tempo, a Polialética estará sendo vivenciada. interferem um na tese do outro, mas nem sempre ocorre
Na verdade, essa discussão religiosa não deve existir, a dialética. Entretanto, podem ter opiniões diferentes e
pois cada qual se baseia numa crença imutável, baseada a discussão ficar na cabeça do telespectador,
na fé ou na anti-fé. E a fé é indiscutível. É impossível principalmente se a âncora opinar em algo, o que às
provar cientificamente a existência espiritual. (Pelo vezes ela mesmo faz na pergunta a um dos
menos por enquanto.) Mas o cientista tem que acreditar comentaristas.
na sua teoria e isso é uma forma de ter fé. Às vezes, uma Ou como numa palestra que, terminada, vem o tempo
fé inabalável em algo prosaico, de forma tal como se aberto às perguntas. Também acontece o mesmo num
fosse um Dogma. É o que vem acontecendo, por debate. Ou numa boa aula. Vamos ver outro exemplo,
exemplo, com a teoria do Big Bang, que muitos têm agora um possível:
como coisa certa e definitiva.
O teísta pode converter seus interlocutores, ou um deles
Chá é bom para a saúde (tese);
convencer o teísta. Embora, o que se espera é que todos
tenham caminhado de suas teses para outras, que chá faz mal para a saúde (primeira antítese);
inexistiam inicialmente.
73
Como já dissemos anteriormente, o Conhecimento, na
alguns chás não devem ser tomados, mas sim outros
Polialética, será também formado por toda a experiência
(outra antítese);
de se chegar até ele.
somente dois tipos de chás podem ser tomados: hortelã
e camomila (outra antítese);
apenas chás orgânicos devem ser tomados (outra
antítese)
etc.
A Verdade será provavelmente uma só, que incluirá
todas as discussões. Nesse andar, não podemos dizer
que há mais de uma premissa, ela pois é uma só, sendo
confrontada por várias contradições. Poderá, entretanto,
ter uma ou mais sínteses: “Gostamos muito de tomar
chá mate, mas tem que ser da marca X”, “Gostamos
muito de tomar chá verde” e “Preferimos tomar cevada
que chá”. Essas podem se transformar em teses que
discutam entre si, para chegar a uma síntese única.
Se pensarmos, em termos de física, num universo
paralelo ao nosso, é um exemplo de dialética; já o
multiverso, de polialética. Resta saber se um deles é uma
tese, ou qual, ou quais. Quero dizer, se há um universo
primordial, central, ou se todos têm a mesma
importância, se nasceram do mesmo Big Bang. Ou se
cada qual de uma diferente explosão, mas no mesmo
Tempo. Isto se o Big Bang realmente aconteceu...

75
DOIS PROCESSOS DIALÉTICOS FORMAM UM POLIALÉTICO?

Não. Para se ter um processo polialético é necessário


que se inicie pelo menos com duas antíteses e uma só
tese. A confusão se gera justamente porque nos
defrontamos com a possibilidade de mais de uma
síntese, o que pode ou não acontecer.
Todavia, se dois processos dialéticos caem na mesma
síntese, é apenas uma coincidência, pois as discussões
foram diversas uma da outra. A questão que as difere é o
conteúdo, a forma como cada qual chegou naquele
ponto.
Quem, o que, onde e quando são identicamente
importantes para a polialética quanto o como e o
porque.

77
UM PARADOXO: DIVERSOS PROCESSOS DIALÉTICOS PODEM
CAIR NUMA SÓ SÍNTESE?

Sim e não. Já falamos sobre isso anteriormente, mas


agora é o momento de nos aprofundarmos. Se
pensarmos dialeticamente a partir de teses infindas e
com suas específicas contraditórias, não chegaremos a
uma única síntese, porém diversas. Todavia, se
intrinsecamente, tivermos a mesma síntese, então
estaremos diante de um paradoxo. Como já dissemos,
uma síntese que pode ser composta.
A viagem no Tempo é impossível; só existe a
possibilidade de se viajar no Tempo se formos do
presente para o futuro, mas o retorno ao passado é uma
impossibilidade (Albert Einstein). Quando Herbert
George Wells escreveu A Máquina do Tempo,
desconhecia-se esse contrassenso. Pelo menos é o que
se admite hoje em dia.
Cada processo tem sua própria solução: diferentes
processos têm suas próprias sínteses. É como no
Judiciário: o Autor entra com uma tese, o Réu contradiz;
o Autor entra com uma réplica, o Réu com uma tréplica.
Contudo, ainda é dialética. A sentença judicial é a
síntese. Que pode ser a nova tese se entrarmos com um
Recurso.

79
A Polialética requer, pelo menos, uma única ideia
confrontada por diversas antíteses, gerando pelo menos
uma síntese.
Há, por hora, a possibilidade de não haver uma única
tese, mas a busca de uma solução através de
controvérsias. Numa comunidade anarquista não existe
a figura de alguém que detenha o Poder, como foi o
caso, no Brasil do Segundo Império, da Colônia Cecília, a
mais conhecida. Não existe tese, apenas opiniões
diversas, nunca chegando a uma Verdade. Fica apenas a
possibilidade.

81
A POLIALÉTICA NO FUTEBOL

Eis que, um jogo entre dois times pode ser dialético,


conforme explanamos anteriormente.
Todavia, há diversos outros fatores que fazem do jogo
uma atividade polialética, onde cada equipe teve início
antes da partida: o árbitro, os bandeirinhas, as torcidas,
o treinamento de cada time, os técnicos, os presidentes
de clube etc: tudo isso para chegar a um resultado, o
placar final. Neste caso, poderíamos dizer que o jogo é
polialético, pois são mais que apenas duas equipes
concorrendo a uma consequência, embora seja isso o
simplificar de um caminho cheio de desvios. É o caso de
uma partida em que um dos dois times esteja vencendo
e, de repente, o outro vira o placar e ganha. E a torcida
vibra!

83
ELEIÇÕES
(Por que as pesquisas nunca apontam o número de
pessoas que não querem nenhum candidato e o número
das que não se importam com o resultado? Estranho...)
O processo eleitoral no Brasil é dividido em duas partes,
a dizer, em dois turnos. No primeiro você tem diversos Por aí, podemos perceber que o segundo turno também
candidatos a deputado estadual, deputado federal, é um processo polialético, pois tem seis opções:
senador, governador e presidente da república. É o 1ª: votar num candidato;
método polialético, porque são vários candidatos
2ª: votar no outro;
(teses), menos ou mais conhecidos, afamados,
respeitados (antíteses), a poucas vagas (sínteses). 3ª: anular o voto (isto é, não dar o seu voto a ninguém!);
No segundo turno existiria a dialética, pois são os dois 4ª: votar em branco;
presidenciáveis mais votados, do qual sairá um só 5ª: não votar e
vencedor. Os eleitores decidem, queremos acreditar.
Todavia, além da obviedade da preferência num 6ª: justificar.
candidato ou contra ele, existe a possibilidade de se
anular o voto: isso não é jogá-lo fora, mas não dar a
consagração a ninguém! É uma forma de se dizer que
nenhum dos dois vale a pena.
Como anular a cédula? Tradicionalmente, votando num
candidato inexistente ou colocando uma mensagem, ou
rabiscando-a. Se for pela urna eletrônica, coloque um
número que não corresponda a ninguém, como uma
sequência de zeros, e aperte sim.
Já o voto em branco é uma inutilidade, não um protesto
como o voto nulo. É uma resignação. É o mesmo que
deixar de votar ou justificar.

85
CONVERGÊNCIA OU DIVERGÊNCIA?

Num processo dialético, o que se espera é que a


divergência entre as ideias termine em uma síntese
convergente. Está no próprio conceito. Mas a polialética
prevê a possibilidade de, na discussão entre as duas
partes, haja a interferência de uma terceira ideia, que
separe ainda mais os pontos contraditórios.
Como obter então um Conhecimento Absoluto? Isso nos
remeteria à metafísica, ou à religião, ao universalismo,
que não fazem parte de nosso assunto neste livro.
Todavia, oferecemos cá a via da Polialética, que levará a
um conhecimento que poderá ser contestado,
reafirmado, desacreditado ou mesmo crente. É o tão
buscado método científico.

87
POLIALÉTICA NA NATUREZA

Inventei a Polialética porque ela já existia. Já era


pensada, sem que as pessoas se dessem conta disso.
Faltava ser descoberta. Na própria Natureza. No
Universo. Há um campo imenso para estudá-la.
A Polialética já se encontra no Conhecimento Humano,
na própria física teórica, na experimental, na filosofia, na
biologia, nas artes, na mente de estudiosos, na
comunicação social, nas doutrinas do direito, na
cibernética, em todos os lugares... A questão é encontrá-
la, discuti-la, estudá-la.
Como disse Arthur Rimbaud, os caminhos são difíceis, os
montes se cobrem de ervas, o ar está quieto, que
distantes se encontram os pássaros e as fontes...

89
POLIALÉTICA NA HISTÓRIA

Para cada momento histórico temos várias


possibilidades de desenvolvimento, de acordo com o
agente em questão e os envolventes relativos, que
poderão alterar a ideia daquele ou não.
De qualquer forma, a futurologia peca por não pensar
polialeticamente, pois se o fizesse não existiria.
Podemos imaginar o futuro, mas ele sempre dependerá
das decisões que forem tomadas pelas pessoas e pela
natureza.
Da mesma forma o passado: a História é sempre contada
pelos povos que venceram as guerras, faltando assim a
grande e esquecida memória dos vencidos. Além do
mais, cada historiador terá sua versão pessoal do que
realmente existiu. Se quisermos ter uma visão histórica,
precisaremos ampliar nossas leituras, advindas de
diversas fontes. Por exemplo, Napoleão é visto até hoje
como um inimigo pelos países que ele dominou, mas é
dado como herói pela maioria dos franceses.

91
SÍNDROME DE INFORMAÇÃO
próprios métodos de falar com várias pessoas ao mesmo
tempo, além de ouvi-las, ou as ler e escrever.

Vivemos hoje um Tempo em que são tantas as Antigamente fazíamos jornaizinhos e livros com
informações que nos atravessam que ficamos sem saber mimeógrafo: hoje usamos a internet e atingimos um
o que é mais importante. Queremos saber de tudo! número muito maior de leitores e ouvintes.

Marshall MacLuhan já escreveu, certa vez, que os índios Quanto mais conectados estivermos, mais antíteses
da Austrália viviam seus afazeres sem perceber a intensa teremos, mais debates acontecerão entre diversas
quantidade de ondas que passavam por eles: rádio, tevê, gentes, e a síndrome de informação acontecerá,
o que existia naquela época. Hoje teriam também as deixando-nos ansiosos, estressados.
ondas da internet, que ficam pelo ar e atravessam o
mundo inteiro. É maior que a globalização que ele
previu.
O problema é que estamos numa civilização em que os
meios de comunicação de massa não globalizam mais,
porém intersectam seus usuários através da interação,
via telefone, redes sociais, web, celulares com diversas
funções etc.
O que muda? As emissoras de tevês e de rádios já têm
algo mais que um espectador telefonar para elas e
conversar com o apresentador ao vivo; existem
configurações outras de interação que fornecem mais
notícias midiáticas e pessoais, juntas, como se fossem
parte das mesmas pessoas.
A informação é a polialética em sua forma mais pura,
pois tem diversos feitios de teses a todo tempo. Somos
bombardeados não só mais pelos meios de comunicação
de massa, mas interagimos com eles, criamos nossos
93
OUTRO TIPO DE POLIALÉTICA

Existe uma polialética oriental.


No processo de meditação Zen, há outra forma de buscar
a verdade: o monge recebe uma pergunta insólita de seu
mestre, aparentemente sem resposta. Ele entra
definitivamente no pensar sobre essa indagação.
Porém, não há um contraditório, mas uma tese sem
antítese: depois de pensar tanto na indagação, aí virão
as antíteses, e o monge irá discuti-las todas consigo
mesmo, até chegar ao Sunyata (mente vazia), donde
inevitavelmente surgirá a resposta, como a Flor de Lotus
no meio do pântano.

95
MAS, AFINAL, O QUE É A POLIALÉTICA?

Se uma criança fizer essa pergunta, responda


simplesmente: é quando uma porção de pessoas
discutem o mesmo assunto, cada uma com uma opinião
diferente. Daí, chegam a um acordo. Isso é a polialética.
Para responder sobre o que é a Dialética, é só adaptar a
resposta.
Claro, não é um conceito, é a estrutura, porém é mais
compreensível esta que aquele. Os intelectuais se
preocupam muito com os conceitos, porém considero
que esses às vezes complicam mais que explicam. Por
isso, prefiro aqui a explicação estrutural.
Outro detalhe: dissemos que a Dialética, assim, como a
Polialética, são formas de se buscar a Verdade. Não são,
portanto, a Verdade, mas a senda. Quando tivermos a
Verdade, não existirá mais a Dialética nem a Polialética.
Ponto final.
...ou não...

97
A Polialética é boa ou má?

Não existe resposta para essa pergunta. A polialética


existe no universo e controla tudo, sem controlar nada.
Ela não é boa nem má, apenas existe. Assim como a
dialética. Não há juízo de valor que se possa fazer sobre
ela.
Como sói acontecer, seu uso determina sua qualidade,
sua moral, sua ética. Quem a utiliza dá o ponto.

99
Sugestões de Teses

A Polialética é apenas mais uma variação da Dialética?


A Lógica é compatível com a Polialética.
Não existe a Polialética!
Existe a Dialética da Natureza, todavia não ocorre o
mesmo com a Polialética.
A Polialética é apenas possível num ambiente
acadêmico.
O Tempo tem massa.
O conceito de Dialética não pode ser estrutural.
O Universo não é perfeito, mas instável e imprevisível.
O Universo é perfeito.
(Este livro.)

101
ÚLTIMAS PALAVRAS

A Dialética não é uma ciência exata. Além do mais, ela


evoluiu, dos antigos gregos até ser uma das sete Artes
Liberais do medievo ocidental. E continuou evoluindo,
chegando em Hegel e deste para os dialéticos do século
XXI.
Existem grandes autores, filósofos, intelectuais e
pensadores. Eles escrevem ou falam, entretanto, de uma
forma inacessível ao leitor comum. O que tentei aqui foi
desmistificar o assunto e apresentar uma ideia nova, a
Polialética.
Defendo meus pontos de vista usando meus direitos de
ser humano, de livre pensar e de liberdade de expressão.
Espero ser lido, apoiado, contestado, discutido, ou seja,
espero que tenha valido a pena o investimento neste
trabalho. Não adianta apenas dizer: escrevi um livro
sobre Dialética. É necessário ser lido, compreendido.
Não escrevo para mim mesmo, mas para leitores, seja
quem forem. No caso, espero que sejam pessoas
interessadas no assunto, que já o conheçam, que o
dominem, ou que o desconheçam por completo: quero
atingir a todos que se importem com o tema. Evidente
que cada qual terá sua maneira de entender ou
contestar, mas gostaria da palavra de pelo menos
alguns.

103
A ideia inicial era a de fazer um mestrado. Porém, não
tive recursos para tanto. Então, iniciei minha pesquisa
sem um tutor, por conta própria, e acabei construindo
um livrinho.

Caraguatatuba, outono de 2015.


Revisto em fevereiro de 2019.

105
espectro político! Ora, um país deve ser governado
pensando-se em todos, todas as classes sociais, ensino
Apêndice: de qualidade para todos, saúde de qualidade para todos
etc.
A Nova Direita no Brasil
25/11/2018.
Os novos adeptos da Direita no Brasil estão divididos em
duas facções: a primeira é a que se deu bem na época da
Ditadura Militar e quer de volta os mesmos padrões; a
segunda é a dos jovens que buscam uma saída da
corrupção no país e esperam algo diferente do que está
aí, que é o que sempre os jovens buscaram na História.
A primeira turma é de pessoas que têm na memória o
tempo do Milagre Brasileiro, em que se parecia que todo
mundo tinha mais dinheiro, mas que na verdade o país
se afundou numa dívida internacional. Mas a memória é
seletiva e as pessoas lembram-se do que querem
lembrar.
A segunda turma é a dos jovens que esperam um país
melhor, sem corrupção, com os valores conservadores
em alta, mesmo sem saber que valores exatamente são
esses, além dos pregados em palavras de ordem e
propaganda política.
Existe ainda uma terceira turminha que vai na onda do
que estiver por cima, surfando sempre...
Na realidade, o que se tem é uma situação de extremos,
pensada em termos dicotômicos, como se a política se
resumisse a dois opostos. Não é assim, há todo um
107
Líderes

Existe a anarquia, que não é bagunça, mas a


inexistência de um poder centralizador em um Estado.
Naturalmente, o objetivo final da anarquia é a
inexistência de poderes centralizados no mundo inteiro,
sem divisões territoriais e políticas, sem a existência de
dinheiro, cada pessoa sabendo seus direitos e limites
para não prejudicar o próximo, todos se respeitando
nesse sentido.
Utópico? É o que os anarquistas propunham no
final do século XIX e continuam até hoje. Claro que
existem variações da proposta, o que acontece de um
teórico para outro.
Ocorre, porém, uma falha nesse processo. Os
próprios teóricos do anarquismo são líderes em suas
áreas. Haja visto Bakunin, que tinha literalmente
seguidores, quando andava pelas ruas. Mas esse é um
caso extremo. O que acontece é que, quando um
anarquista expõe suas ideias, ele espera que as pessoas
as aprovem e, inevitavelmente, o sigam.
Inconscientemente, ou de uma forma inocente, ele passa
a ser uma espécie de poder centralizador, mesmo que
não queira.
O mesmo acontece com pessoas que combatem
as religiões organizadas. Elas mesmas acabam se
tornando centralizadoras de movimentos espirituais ou
não espirituais.

109
Sem querer, todos aqueles que combatem um
Poder existente, seja ele político, religioso, artístico, ou
que seja, tornam-se líderes de um novo. É uma roda viva.
8/11/2018.

111
Sofistas e a Dialética

É válido um processo dialético em que participe


um ou dois sofistas?
Não. A dialética tem como escopo a busca pela
verdade. O sofista só quer mostrar que tem razão, é um
despejar de palavras oco.
A dialética nunca existiu para alguém mostrar
que está mais certo que o outro, mas para que haja uma
discussão em que resulte uma resposta satisfatória para
ambos. Como já expliquei, essa resposta será a tese para
uma nova discussão futura, em que ela será questionada
para, talvez, uma nova síntese.
O processo não para, mas deve ser feito por
pessoas realmente interessadas em buscar a verdade,
não que queiram a todo custo mostrar que têm razão.
18nov2018.

113
A Imprevisibilidade

Esse é o ponto principal da dialética. A discute


com B. Nunca se sabe o resultado dessa discussão, ao
qual chamaremos de C.
C=X, onde X é uma incógnita.
O fato de X existir é motivo de esperança para o
futuro, pois, conforme a dialética da História, ela não tem
razão para se repetir infinitamente.
Assim, o fundamento da dialética é a imprevisão.
Este é o resumo de meu livro.

19out2019.

115
PRADO JÚNIOR, Caio; Notas Introdutórias à Lógica
REFERÊNCIAS E SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS
Dialética; Brasiliense; São Paulo, Brasil.
(Em ordem alfabética)
_________________; Dialética do Conhecimento; Tomos
I e II; 3ª edição; Brasiliense; São Paulo, Brasil.
AGUIAR, Roberto A. R. de. O que é Justiça, uma
QUINTANILLA, Miguel Angel; Breve Dicionário Filosófico;
abordagem dialética; 5ª. edição, 1999, ed. Alfa-Omega.
Santuário, Aparecida, SP, 1996.
BERLO, David K. O Processo da Comunicação.
RODRIGUES, Rubi Germano; Filosofia: a arte de pensar;
ENCICLOPÉDIA BARSA, 1969. (Essa foi a internet de Madras, São Paulo, Brasil. 2011.
minha infância e adolescência.)
SINGER, Peter; Hegel. Tradução de Luciana Pudenzi. Ed.
HAVEMANN, Robert; Dialética sem Dogma; ZAHAR, Rio Loyola, São Paulo, Brasil, 2003. Coleção Mestres do
de Janeiro, Brasil, 1988. Pensar.
JUNG, Carl Gustav (concepção e org.); O Homem e seus
Símbolos. Tradução de Maria Lúcia Pinho. Ed. Nova
Fronteira, Rio de Janeiro, Brasil, 1997.
KONDER, Leandro; O que é a Dialética; Brasiliense, 26ª.
edição,1994.
_______________ ; A Derrota da Dialética; CAMPUS, Rio de
Janeiro, Brasil, 1988

NUNES, Benedito; A Filosofia contemporânea; EDUSP,


São Paulo, Brasil, 1967. Coleção Buriti.
OLIVEIRA, Beneval de; Arte e Dialética, RJ, Pallas, INL, 1983.
PINASSI, Maria Orlando (org.); Leandro Konder: a Revanche
da Dialética; São Paulo: Editora UNESP/ Editora Boitempo,
2002.

117
SOBRE O AUTOR

Leopoldo Pontes nasceu às quatro e


meia da manhã do dia quatro de abril de 1958, na cidade
de São Paulo.
No final dos anos 1970 e início dos 80,
publicou por conta própria vários livretos de poesia, na
base do mimeógrafo e off-set.
Tem algumas premiações por contos,
estadual e nacional.
Sua formação acadêmica inclui
Jornalismo e Direito, além de uma pós-graduação em
Língua Portuguesa e Literatura.

Em 1980, conheceu a Dialética, o que


se tornou uma de suas reflexões preferidas e o levou a
construir a Polialética.

Tem outros livros publicados pela


Amazon.

Contato com o autor: leopoldopontes21@gmail.com

119
12. VMPM e Outros Contos
13. ROCK NÃO SE APRENDE NA ESCOLA (maio
Livros de Leopoldo Pontes editados pela Amazon: de 2020)
14. NA CONTRAMÃO (maio de 2020)
(Na ordem por publicação) 15. TUDO AO NORMAL – Felicidade não é
1. Gabriel: a História do Roqueiro que virou o Grande obrigatória (julho de 2020)
Herói Nacional
2. Asas para Teotino
3. Minha Experiência com o Kindle
4. Poemas para se Ler em Voz Alta
5. V.M.P.M.: Duas Histórias de Amor
6. 4 COROS DA TERRA E DOS CÉUS E UMA
CANÇÃO INFLAMADA: Teatro
7. Dialética no Direito: O Estado Leigo
8. Análise de Matrix e outros filmes e textos
9. Dialética sem Encher Linguiça
10. ZEN SEM FRESCURA: O Livro da Anti-
Autoajuda: Tudo o que os livros de autoajuda não te
deixam acreditar
11. O Gosto das Coisas - Trilogia:
1. E o Rock Não Morreu...
2. A Gorda vai Cantar
3. O Tempo e as Estações
121
PROFICIÊNCIAS...71
ÍNDICE DOIS PROCESSOS DIALÉTICOS FORMAM UM POLIALÉTICO?,,,77
DIVERSOS PROCESSOS DIALÉTICOS PODEM CAIR NUMA SÓ SÍNTESE?79
A POLIALÉTICA NO FUTEBOL...82
PRÓLOGO...13
ELEIÇÕES...84
Primeira Parte...17
CONVERGÊNCIA OU DIVERGÊNCIA?...86
LÓGICA FORMAL ...17
POLIALÉTICA NA NATUREZA...88
LÓGICA...20
POLIALÉTICA NA HISTÓRIA...90
Segunda Parte...22
SÍNDROME DE INFORMAÇÃO...92
LÓGICA INFORMAL: A DIALÉTICA,,,22
OUTRO TIPO DE POLIALÉTICA...95
O Que É a Busca Pela Verdade?...25
MAS, AFINAL, O QUE É A POLIALÉTICA?...97
DIALÉTICA DA NATUREZA...27
A Polialética é boa ou má?...99
DIALÉTICA DA HISTÓRIA...29
Sugestões de Teses...101
LÓGICA E INTUIÇÃO,,,32
ÚLTIMAS PALAVRAS...103
A DIALÉTICA NA COMUNICAÇÃO SOCIAL....35
Apêndice:,,,106
A DIALÉTICA NO FUTEBOL...39
A Nova Direita no Brasil...106
DICOTOMIA...41
Líderes...109
O PERCURSO DO HERÓI E A DIALÉTICA...44
Sofistas e a Dialética...112
A IMPREVISIBILIDADE...47
A Imprevisibilidade...114
A QUESTÃO JUDICIAL E A DIALÉTICA...49
REFERÊNCIAS E SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS...116
O SISTEMA BINÁRIO...52
SOBRE O AUTOR...118
REALIDADE E OBJETIVIDADE...55
Livros de Leopoldo Pontes editados pela Amazon:...120
T MAIÚSCULO...58
TEMPO E MASSA ...61
A NOVA ESQUERDA E A DIALÉTICA...64
Terceira parte...66
A OUTRA FACE DA DIALÉTICA: A POLIALÉTICA...66
A IMPREVISIBILIDADE NA POLIALÉTICA...69

123
Proof

Você também pode gostar