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DIALÉTICA SEM ENCHER LINGUIÇA

Introdução à POLIALÉTICA

LEOPOLDO PONTES

Capa de Thl Pontes


À Fafí...
Sumário
À Fafí............................................................................................................................................2
PRÓLOGO.....................................................................................................................................5
Primeira Parte..............................................................................................................................6
LÓGICA FORMAL..........................................................................................................................6
LÓGICA.........................................................................................................................................8
Segunda Parte..............................................................................................................................9
LÓGICA INFORMAL: A DIALÉTICA................................................................................................9
O Que É a Busca Pela Verdade?.................................................................................................11
DIALÉTICA DA NATUREZA...........................................................................................................12
DIALÉTICA DA HISTÓRIA.............................................................................................................13
LÓGICA E INTUIÇÃO...................................................................................................................14
A DIALÉTICA NA COMUNICAÇÃO SOCIAL...................................................................................16
A DIALÉTICA NO FUTEBOL..........................................................................................................17
DICOTOMIA................................................................................................................................18
O PERCURSO DO HERÓI E A DIALÉTICA......................................................................................20
A IMPREVISIBILIDADE.................................................................................................................21
A QUESTÃO JUDICIAL E A DIALÉTICA..........................................................................................22
O SISTEMA BINÁRIO...................................................................................................................23
REALIDADE E OBJETIVIDADE......................................................................................................25
T MAIÚSCULO.............................................................................................................................27
TEMPO E MASSA........................................................................................................................28
A NOVA ESQUERDA E A DIALÉTICA.............................................................................................29
Terceira parte.............................................................................................................................31
A OUTRA FACE DA DIALÉTICA: A POLIALÉTICA.........................................................................31
A IMPREVISIBILIDADE NA POLIALÉTICA......................................................................................33
PROFICIÊNCIAS...........................................................................................................................34
DOIS PROCESSOS DIALÉTICOS FORMAM UM POLIALÉTICO?......................................................37
UM PARADOXO: DIVERSOS PROCESSOS DIALÉTICOS PODEM CAIR NUMA SÓ SÍNTESE?...........38
A POLIALÉTICA NO FUTEBOL.....................................................................................................39
ELEIÇÕES....................................................................................................................................40
CONVERGÊNCIA OU DIVERGÊNCIA?...........................................................................................41
POLIALÉTICA NA NATUREZA.......................................................................................................42
POLIALÉTICA NA HISTÓRIA.........................................................................................................43
SÍNDROME DE INFORMAÇÃO.....................................................................................................44
OUTRO TIPO DE POLIALÉTICA.....................................................................................................45
MAS, AFINAL, O QUE É A POLIALÉTICA?.....................................................................................46
A Polialética é boa ou má?.........................................................................................................47
Sugestões de Teses....................................................................................................................48
ÚLTIMAS PALAVRAS...................................................................................................................49
Apêndice:...................................................................................................................................50
A Nova Direita no Brasil..............................................................................................................50
Líderes........................................................................................................................................51
Sofistas e a Dialética...................................................................................................................52
A Imprevisibilidade.....................................................................................................................53
REFERÊNCIAS E SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS............................................................................54
SOBRE O AUTOR.................................................................................................................55
Outros Livros Publicados pelo Autor..........................................................................................56
PRÓLOGO

Há um ditado popular que diz: tudo tem dois lados. De uma certa forma
é assim mesmo, se estivermos pensando numa moeda. Todavia, ela tem
o lado que lhe dá a tridimensionalidade. Exemplifiquemos então com
uma folha de sulfite fina, em que nosso tato só consegue perceber duas
faces. A terceira pode ferir o dedo.
Vamos agora pensar em como uma ideia percorre um caminho até seu
contrário, sabendo que vem vindo a seu encontro, o que provocará um
debate entre elas, chegando à síntese final: a Verdade!
Num momento, próximo ou não, essa será a nova ideia a ser
confrontada. Isso levará o nome de Dialética.
Nietzshe falou sobre o Eterno Retorno, uma circunferência, mas nós
consideramos que, em vez disso, temos uma espiral, onde cada vez que
chegamos no ponto inicial estamos com a experiência do tema, um
ponto acima.
Este opúsculo veio a lume depois de ser pensado por muitos anos.
Apreendi uma série de conversas sobre o assunto, que ficaram distantes
na memória e deveriam ser acrescentadas na bibliografia. Falo aqui de
conversas, livros que ficaram guardados em meu inconsciente, pequenas
notas em jornais e revistas etc. Se pensarmos em termos polialéticos,
outros em seguida poderão expressar algo que se contrastará com este
que o leitor tem às mãos.
Benedito Nunes, ao citar Kierkegaard, fala: o homem é desejo,
inquietude e sofrimento. Tudo isso faz parte da condição humana, fraca
e mortal...
Primeira Parte

LÓGICA FORMAL

Para se entender a Dialética precisamos primeiramente nos ater à Lógica


Formal. Podemos pensar nas coisas como Assim como um macaco é
um símio e o ser humano é um hominídeo, então um macaco não é
um homem. Silogismo.
Ou então: Assim como um macaco é um ser vivo e o homem é um ser
vivo, então ambos são seres vivos.
Ou: O macaco é um protótipo do ser humano; o ser humano é uma
evolução do macaco; logo, o ser humano é um parente biológico do
macaco.
Ou ainda: TODO SER QUE PENSA EXISTE; EU PENSO; LOGO, EXISTO (René
Descartes). Onde está o erro? O cientista formulou a primeira parte,
que fazia uma afirmação do que ele acreditava de antemão. Será que
ela é verdadeira? Isso compromete todo o silogismo.
Essa é a lógica formal, chamada cartesiana, porque vem de Cartesius,
latinização do nome de seu inventor: A é igual a X, B é igual a X, então
A = B. É, na verdade, a sucessão de tentativas e erros. O que hoje se
considera certo amanhã poderá ser o errado. Por exemplo, o ovo
aumentava o colesterol; era uma verdade científica: hoje é inócuo, e
existem o mau colesterol e o bom colesterol. O formato da Terra,
nem sempre foi considerado como atualmente; haviam muitas
crenças sobre isso, até que no segundo meado do século XX ela foi
finalmente fotografada inteira.
De qualquer forma, o método científico é provar na prática o resultado
obtido na teoria. Pode-se então obter o resultado desejado, o que se
chama de uma prova científica. E a ciência caminha assim, tese após
tese, a segunda superando a primeira. Quando se fala em Física
Teórica, são apenas hipóteses, que precisamos provar pela Física
Prática para serem consideradas uma prova científica. Isso não
impede que uma crença científica possa ser contestada no futuro;
enquanto isso o cientista autor da teoria tem fé na sua verdade. O
que caracteriza a Ciência é que ela nunca é: está sendo.
Outra: a pedra é pesada, eu sou pesado; logo, eu sou uma pedra. Eis que
nesse tal silogismo há o erro já na propositura. É o exemplo de um
raciocínio errado. A segunda propositura já é falha.
Temos assim que prestar atenção no que estamos falando. E pensando.
LÓGICA

Quando falamos em lógica, pensamos em algo frio, racional, que, pode


ser convertido em matemática, em fórmulas com cifras, letras,
símbolos, incompreensíveis ao ser humano comum.
Então queremos a realidade como ela é, nua e crua, em seu esqueleto,
músculos, sistemas funcionais etc.
Na verdade, essa é uma forma de compreendê-la, mas não a única. O
que é real? O que é a realidade? É a mesma para todos nós? Falarei
sobre isso mais adiante.
O racionalismo é a única maneira de abordar o real? O mascaramento da
verdade é uma ideologia. Essa máscara, a que chamamos ideologia,
serve ao sistema controlador, seja lá qual for.
A Lógica pode ser baseada em intuição, como adiante abordaremos. Ou
numa fusão de vários métodos.
Segunda Parte

LÓGICA INFORMAL: A DIALÉTICA

Vamos primeiramente falar sobre a base da Dialética. Platão, Aristóteles,


Kant, Hegel, Marx, Engels, cada qual com seu parecer, mas todos
culminando em: a dialética é a arte da discussão. E o objetivo é uma
resposta. É a busca da verdade. A Dialética é uma forma de lógica. É um
sistema de pensar.
Nós vivemos num mundo de contradições. Essencialmente, um processo
dialético tem uma tese e uma antítese, i.e., compõe-se de uma ideia
inicial completa, pronta, e uma contraditória, um oposto. (Deduzimos
que é daí que parte a ideia de um universo paralelo, mesmo não sendo
coincidente com o nosso.)
Essas duas ideias, a original e a sua oposta, se contrapõem numa
discussão.
Da discussão nasce uma conclusão, fruto do debate entre ambas, que
pode ser, inclusive, a própria ideia inicial ou mesmo a contradita.
A conclusão será a nova tese, da qual nascerá uma nova antítese e uma
nova discussão.
Às vezes, no lugar da tese, temos um quase-argumento, como se fosse
uma ideia incompleta, passível de um contra-argumento muito mais
forte do que ele. Naturalmente, não poderá haver aí um processo
dialético. Ambas as partes devem ter seu argumento completo.
O desenho que representa isso pode ser um segmento de reta com
a tese de um lado e a antítese do outro. Daí nasce a discussão para
o brotar de uma nova tese, chamada síntese, acima e equidistante,
formando um triângulo. Como isso é uma referência, na verdade a
síntese pode ser a própria tese ou a antítese, após o debate. O que
importa é a discussão, os elementos da qual se compõe a síntese.
Isso pode ser descrito como a primeira volta de uma espiral. Não uma
circunferência. Ocorre que as discussões sempre, quando concluídas,
desafiam à uma contraditória, de onde nascerá a nova ideia, a nova
circunferência, formando uma espiral. Que se reinicia logo acima onde a
discussão começou. Para quem vê de cima, pode achar que toda
discussão nada vale, pois parece ter chegado ao mesmo lugar onde
começou. Na verdade, está a tese original somada à experiência daquela
discussão: portanto, houve uma mudança. É o que acontece com a moda
e os costumes, por exemplo. O Tempora, o mores.
Isso é uma espiral ascendente, que constrói o processo científico: a
impressão primeira é que estamos repetindo o que já foi uma ideia,
todavia não é. Existe já uma experiência anterior. Mesmo assim, é uma
nova ideia que pode ter, aparentemente, uma discussão igual à anterior.
Ou não. Isso chamamos de intuição nocional, quase um dèja-vu.
O importante não é o resultado, mas a discussão. Uma busca eterna e
inalcançável da Verdade final...
O Que É a Busca Pela Verdade?

Quando falo nisso, não estou dizendo que a dialética obtém sempre a
verdade, mas que o resultado de uma discussão deve ser o melhor
possível.
Por isso mesmo, é um resultado verdadeiro, porque adveio de uma
discussão entre dois polos contrários. Mas não é nenhuma verdade
absoluta. A dialética não tem esse poder, apenas vive na busca, sempre
acreditando estar cada vez mais próxima do final. Mas esse final nunca
chega, é uma constante evolução.
Hegel não pensava assim. Ele achava que haveria um fim. Isso
influenciou Karl Marx, que via na luta de classes uma dialética que teria
como síntese final o comunismo. Eles acreditavam na verdade final
obtida na prática. O que vimos, porém, na União Soviética, foi o
capitalismo como síntese, com ricos bem ricos e pobres. E uma crescente
classe média inusitada, pronta para o consumismo.
DIALÉTICA DA NATUREZA

Aqui nos deparamos com a já por nós conhecida tese de que na Natureza
nada é imutável, tudo se desenvolve em alguma direção. A própria
questão simbiótica faz com que as mudanças externas, provocadas pelo
ser humano inteligente, ou por mudanças vulcânicas, meteóricas,
naturais, enfim, possam alterar o equilíbrio.
A mudança é uma contraposição sobre o equilíbrio simbiótico; e a
Natureza desenvolve uma nova simbiose. Sem precisar do auxílio
humano. É como se houvesse uma inteligência do universo,
constantemente buscando o equilíbrio, mas nunca o obtendo em sua
completude. É o equilíbrio no desequilíbrio. O universo estático da idade
média, com movimentos previsíveis, inexiste.
Vamos analisar: a tese é a natureza, a antítese é o movimento
desequilibrador da simbiose, a discussão é o tentar se equilibrar na nova
situação e a síntese é o novo estado simbiótico.
Por isso dizemos que, não só a natureza, mas o universo é dinâmico,
constante apenas em mudar. É instável e imprevisível. Isso é o que eu
chamo de a Dialética da Natureza.
DIALÉTICA DA HISTÓRIA

A História segue por ciclos ascendentes e descendentes. Cada vez é um


povo que domina o mundo ou parte dele; esse povo tem um Poder que
domina outros povos, cada vez mais, até um ponto em que ele não o
mais faz; então, dá lugar a outro, involuntariamente.
Na verdade, esses ciclos não são definíveis, isto é, são irregulares.
Podem ser mais altos aqui, mais baixos ali, mais constantes em sua
opressão, ou menos, mais constantes em sua subserviência...
Vemos o caso, por exemplo, de Roma Quadrata (que na verdade tinha o
formato de um círculo), e seus arredores, protegidos por aquela. Cujos
centuriões e tropas invadiam outras terras e ampliavam seu domínio,
levando consigo o latim e seus costumes, porém também absorvendo
um pouco de cada um.
Roma era a tese e as terras e povos conquistados a antítese. Os deuses
gregos eram a tese, os romanos uma síntese.
A dialética portanto está presente na História, sempre esteve, numa
espiral ascendente.
O presente é o futuro do passado. Mas não podemos garantir que o
futuro de nosso presente seja compatível ao que já vimos acontecer.
Existem os tempos retrô, em que as pessoas tentam viver uma nostalgia,
isto é, as lembranças boas de uma época, esquecendo-se das tragédias
que naqueles dias aconteciam. A dialética não permite previsões
certeiras. Pode acertar parcial e até totalmente, mas em geral erra. Total
ou parcialmente.
LÓGICA E INTUIÇÃO
Faço aqui uma pausa para esse encontro acontecer. Quero falar da
necessidade de se feminizar a população de nosso planeta. Claro que
não é apenas o caso da mulher trabalhar e o homem ficar em casa
cuidando das crianças e animais. Contudo, o feminismo, trazendo essa
possibilidade, já existe. Temos só de ter cuidado em não torná-lo num
machismo às avessas. Tem de servir a ambos os sexos.

Porém, o mais importante para construirmos uma sociedade feminista é


quando a mulher usa com seriedade e responsabilidade a sua intuição,
seus sentimentos, sua sensibilidade, sua sensitividade, seus instintos,
sua imaginação, sua criatividade. A par disso, o homem tem que
também dar e ouvir sua anima (seu lado feminino). Ambos devem
atentar para o seu lado menos usado. O racional (o animvs) deve se
entender com o intuitivo, o aspecto emocional, a sensibilidade, a
sensitividade. Isso é o verdadeiro feminismo, onde cada uma das partes
são a tese e a antítese, levando o casal à harmonia.

A Presidente Dilma Rousseff poderia ter sido mais feminista, usar mais
sua anima, porque um bom governo utiliza-a. Para escolher seus
ministros as duas vertentes devem ser consultadas. Não quero falar em
homens e mulheres invertendo seus papéis, mas que todos possam
pensar dialeticamente. A dizer, podemos imaginar a razão e a intuição se
discutindo. Temos que ter, no Executivo, homens e mulheres
trabalhando lado a lado, assim como no Legislativo e no Judiciário. Não é
o caso das mulheres usando terninhos com ombreiras e gravatas,
imitando o homem, a não ser que seja por gosto pessoal. Não é o caso
do homem ter de usar saia e renda, embora também seja de gosto
pessoal.

O Judiciário, aliás, pouco a pouco, utiliza a intuição, mas ainda a lógica


formal é o meio machista de se resolver uma Ação Judicial. Por outro
lado, o Magistrado poderá ter em sua mente possivelmente mais que
duas soluções para a sentença: sobre isso falaremos mais adiante.

Mais uma coisa. Você, feminista de carteirinha, tem que parar de usar
palavrões. Por quê?
Ora, os termos chulos são machistas, a maioria sobre os órgãos
femininos do sistema reprodutor. Os termos que exalam os órgãos ou
movimentos sexuais do homem são, no geral, opressores. Para ser
feminista de verdade não pode deixar que os vícios masculinos ou
femininos apareçam: o feminismo é a libertação das mulheres e dos
homens, sem estereótipos.

Portanto, a evolução para o feminismo faz parte de um processo


dialético:

Leila Diniz foi importante, na sua época, para a libertação das mulheres.
Ela ia à praia de biquini mesmo estando grávida; falava muitos
palavrões e isso desagradava ao Sistema repressor. Mas eram outros
Tempos... Hoje temos que repensar suas atitudes, pois não têm mais
sentido. Ela morreu num trágico acidente, levando consigo um
Movimento de Libertação da Mulher; hoje, isso tem que existir para
ambos os sexos. A mulher não precisa mais expor sua barriga nas ruas,
nem pode ser obrigada a usar salto alto. Usa se quiser.

Há muitas expressões chulas que são totalmente repugnantes para um


dos sexos. Pode pesquisar. Isso vale não só no idioma luso.
Onde entra a dialética? Entre a anima e o animus deve haver a discussão
e a descoberta de uma solução. Óbvio.

A DIALÉTICA NA COMUNICAÇÃO SOCIAL

David K. Berlo, ao demonstrar o que é o Processo da Comunicação,


desenha um segmento de reta, onde na primeira ponta está o Emissor, e
a segunda é o Receptor. Durante a emissão, portanto no caminho entre
o primeiro e o segundo, há o ruído, que pode ser a convicção de uma das
partes, que contraria a outra, ou qualquer entrevero. Entretanto, toda e
qualquer informação diferente da do Emissor, interferindo no processo,
faz parte do ruído, o que impede que ele consiga que chegue a
mensagem original invicta ao Receptor. Quando o receptor responde, há
novamente uma tese permeada de ruídos. Todo esse processo é uma
busca pela Verdade. Portanto, a síntese estará comprometida pelos
ruídos.
Todavia, tenho visto notícias sobre a informação poder ser enviada
acima da velocidade da luz. Se isso realmente for possível, derruba toda
a teoria dos ruídos, pois chegaria intacta do Emissor para o Receptor. No
entanto o que haveria seria a incompreensão do segundo em relação ao
que o primeiro enviou. O entendimento nunca é completo, por mais que
todas as palavras sejam totalmente audíveis, que todas as imagens
sejam totalmente visíveis. Sempre há o critério pessoal do receptor.
Com isso, a dialética continua valendo.
A DIALÉTICA NO FUTEBOL

O esporte futebol segue o princípio dialético: durante um certo tempo,


duas equipes jogam, uma contra a outra, cada qual com seu capitão e
seu goleiro. No meio do jogo, há um intervalo seguido por uma segunda
parte.
Por aí já se vê, cada equipe como uma tese, o jogo como a discussão e o
placar final como uma síntese. Cada equipe tem a sua defesa, assim
como cada uma tem seu treinador, que faz as regras e o treinamento.
Têm um árbitro que vai concorrer para se obter a síntese: se um dos
times vencer ou se será um empate, aí a teremos.
DICOTOMIA

Nem toda dicotomia é um processo dialético. Nem todo processo


dialético é uma discussão de contrários. Podemos ter duas ideias
diferentes sendo discutidas ou duas inversas que não se embatem.
Senão, vejamos.
Fulano tem uma opinião firme a respeito de algo. Beltrano tem uma
opinião diversa. Mas eles não discutem esse assunto.
Vamos ver: Fulano torce convictamente pro time do São Paulo; Beltrano,
Santos.
Para obter um resultado disso, preferem manter a amizade e não
conversarem a respeito. Não há a esperada síntese. Não há dialética.
Todavia, podem discutir acerca da superioridade do refrigerante sobre a
água mineral gasosa: Fulano faz a tese e Beltrano a antítese (a
superioridade da água mineral gasosa). Qual poderá ser a síntese? Ora,
por exemplo, o refri é mais gostoso que a água, embora seja esta a mais
saudável.
Uma coisa que ocorre é que, toda vez que se tem dois pontos diversos,
alguém diz que há uma relação dialética entre eles; não é assim. Pode
acontecer, mas não necessariamente. Pode existir ambivalência. Pode
existir a coincidência, mesmo parecendo diferentes. Todavia, se há um
próton, existe um nêutron, além de um elétron circulando-os por um
imenso espaço vazio. Ou não.
Se tivermos uma pergunta com uma resposta já planejada, não temos
dialética. É aqui que entramos com uma nova ideia na dialética: a
antítese não pode ser necessariamente o inverso da tese. E por quê? Se
trabalhamos com ideias pré-concebidas, retornaremos à lógica formal.
Ela é apenas diferente da tese. Não tem que ser o sim contra o não.
A dialética trabalha com o desconhecido, para obter a verdade. A
aparente dualidade é somente processual, pois a solução é única: como
diziam os gregos, EN TO PAN (Tudo é Um).
Além do mais, falta o mais importante, que é o debate entre as partes,
sem a qual não haverá a síntese, para concluir a etapa do processo
dialético.
Não se pode discutir honesto versus desonesto, mas a honestidade em
suas virtudes, ou a desonestidade versus outra desonestidade. Ninguém
é menos ou mais honesto que outro. Se um vendedor aumenta na conta
dois reais, ele será capaz igualmente de receber uma propina de dois
bilhões de reais. E essa será sua filosofia de vida, votando em políticos
que furtam do Erário Público para que ele possa continuar furtando seus
dois reais.
(Faço aqui um novo parêntese: não quero dizer que ladrões existem no
Poder porque o povo quer assim, contudo este é sempre enganado por
aquele. Queremos a Verdade. Claro que, entretanto, continua valendo o
que acabei de escrever no parágrafo anterior.)
O que parece que ocorre é que o povo está tão acostumado às pequenas
corrupçõezinhas mesquinhazinhas cotidianas que tem medo de que um
governo honesto o impeça de se portar dessa forma.
O PERCURSO DO HERÓI E A DIALÉTICA

O percurso do herói compõe-se de uma hybris e uma nemesis, que são a


ascensão e a queda: a elevação, a estabilização e um tombo. É a
condição humana, de uma certa forma. Entretanto, o herói transpõe os
limites humanos. É como crises compostas por imensas tristezas e
imensas euforias. O ato heroico é seguido pelo descanso. Ou a euforia
pela depressão.
Desenhamos o percurso com montanhas e vales, concomitantemente. E
uma linha horizontal no meio representando o momento da
normalidade.
A constância do processo é uma dialética. Porém, as crises de um herói
ou de outro diferem, uma pode ser mais profunda que outra, ou mais
demorada. O próprio Sujeito pode ter um longo período eufórico
seguido por um período médio (sobre a linha horizontal) e voltar a mais
um longo período de euforia. Essa é uma característica da Dialética:
nunca se sabe quanto tempo durará uma discussão, até se chegar a uma
síntese. E, claro, a síntese será a nova tese.
SEMPRE deve se chegar a alguma solução, ainda que os dois polos do
debate não entrem num acordo.
Por exemplo: O vestido parece azul pra mim, mas também parece verde
para você; está num tom indefinível, não é a mesma cor para mim e
para você.
Ou ainda: Quero receber de você setenta reais, mas você só quer me
pagar dez; vamos precisar de um juiz para resolver isso.
A IMPREVISIBILIDADE

Nada é previsível. Isso é básico para a dialética. Por isso a antítese,


embora possa ser o oposto da tese, não o é necessariamente. Assim, não
sabemos em que pontos a discussão baterá. E qual será a síntese.
Tal fato se dá porque o sujeito – tese – não conhece o objeto – antítese
–, o que acontecerá durante o processo dialético. O objeto se contrapõe
ao sujeito e este conhecerá aquele justamente durante a contradição e a
busca pela verdade.
É o que dissemos quando falamos da dialética na história.
A QUESTÃO JUDICIAL E A DIALÉTICA

Esse é simples: o Advogado de Fulano tem uma tese, que chamamos de


Inicial, digamos, e Beltrano será representado por outro Advogado, que
contestará com uma antítese.
O Juiz analisará os autos do processo e perguntará às partes se há
acordo. Pode aqui haver um processo dialético. Até então teremos a tese
e a antítese, discutindo na audiência.
O Magistrado dará a sentença, isto é, a síntese, que será o resultado da
discussão ou, se não houver o acordo, poderá ser a nova tese para uma
nova instância. E um novo processo dialético.
O SISTEMA BINÁRIO

Todo computador é binário.


Quando, em meados do século vinte, eram enormes, usavam cartões
que eles perfuravam, a base era binária: zero ou um, isto é, desligado ou
ligado, não perfurado ou perfurado.
Os códigos alfanuméricos eram, por exemplo:
0, zero, a;
1, um, b;
10, dois, c;
11, três, d;
100, quatro, e;
101, cinco, f;
110, seis, g;
111, sete, h;
1000, oito, i;
e assim por diante...
Dá pra acreditar que até hoje são assim?
O fato de falarmos em megabytes, gigabytes, é que, a um simples
menear de toques, fazemos centenas, milhares, milhões, quatrilhões de
bits se mexerem. Tudo baseado no sistema binário.
O que vemos então? Um texto, uma canção, uma sinfonia, um filme dos
anos 1930, um cinema com som surround, e muito mais, tudo com uso
de microcomputadores a multicomputadores. De base dois.
Dessa mesma forma veremos no futuro programas sem telas, com
imagens espacialmente conectadas com os sons, tudo à nossa volta. De
repente, um personagem atira com um revólver supersônico e o projétil
nos atravessa, matando o personagem que estará atrás de nós.
Começaremos a ”vivenciar vidas virtuais” como se fossem as nossas
próprias. Sentar-nos-emos em nossa poltrona, em nossa sala, e
conversaremos ao vivo, em cores e em quatro dimensões, com outra
pessoa, que estará na sua outra poltrona, ou numa poltrona virtual, sem
precisar de teclados ou senhas, ela em outro lugar, mas virtualmente
estarão juntas.
Isso porque não suportaremos a mediocridade do cotidiano. Estaremos
transformando vidas medíocres em virtuosas. Mas só no plano virtual.
Mais um pouco seremos uma espécie de Matrix, o filme.
Faremos parte de classes de aula virtuais, em que todos os colegas de
classe e professor estarão conectados em quatro dimensões, além das
ondas sonoras. A classe estará em nossa sala, podendo todos se ver
mutuamente e se ouvir. Ou não conheceremos nossos colegas, tendo
apenas contato com o professor. E os viciados nessa futura internet
terão que se tratar com terapeutas para voltar a ter prazer com o
contato natural, cara-a-cara.
Poderemos até, futuramente, ter um Movimento contra a super-inter-
conexão.
O que tem isso a ver com a Dialética? É porque da tese à antítese, ou
seja, do banal ao extraordinário chegaremos a um ponto incognoscível,
que será a tão esperada síntese.
REALIDADE E OBJETIVIDADE

Esse tema basicamente é de que muitos autores, em suas dialéticas,


creem numa Realidade Objetiva única, fria e lógica, da qual discordo
plenamente.
Falar em sujeito e objeto, que o caminho do primeiro ao segundo é o
Conhecimento, é simplificar o trajeto. Na verdade, não existe uma
realidade que conheçamos plenamente. Cada pessoa admite uma
realidade sua, só sua, baseada em sua percepção das coisas e em sua
experiência.
Dois sujeitos percebem a mesma realidade diferentemente, pois têm seus
sentidos distintos, suas próprias análises do que É e do que não É.
Ninguém vê o mundo à sua volta do mesmo jeito que seu próximo: cada
qual tem seu próprio discernimento. Por isso, a Síntese não é a mesma
para cada qual das partes. O que sou não é o que penso que sou, nem o
que pareço ser. Meu pensar é ilusório.
Cada Sujeito conhece o Objeto de uma maneira, nunca sendo por isso o
mesmo Objeto para cada qual.
O itinerário do subjetivismo ao objetivismo não deixa de ser o
Conhecimento. Não existe o subjetivismo, mas uma inexata compreensão
do Objeto. Para entendê-lo é necessário o raciocínio, a intuição, o saber
de que nem sempre a resposta é verbalizável.
Vamos ao caso da apreciação de uma obra de arte. Vejamos bem que não
é entender, pois isso seria uma crítica. Será mais uma espécie de jogo em
que a obra nos puxa para que a sintamos e nós a conheceremos; o
inconsciente do artista se ligará ao nosso e aí perceberemos a obra.
Gostar ou não, falar sobre ela, explicar seu contexto, acha-la bonita ou
feia, nada disso importa, mas o impacto entre os inconscientes é o que a
torna importante. A obra pode ser um poema, uma canção, uma
escultura, um quadro, um múltiplo, uma gravura, uma sinfonia, ...
Desde os Tempos mais primordiais, artistas, cientistas, pensadores,
curandeiros de várias espécies, entre outros, propugnaram que drogas
naturais ou sintéticas, trariam ao seu usuário a Realidade como ela é. Isso
levou muitos à viagem sem volta e à loucura. Mesmo que se reabilitassem,
nunca mais retornariam ao mesmo ponto de onde iniciaram.
Então, o que é real? Nossa parca percepção do que existe à nossa volta é
pessoalíssimo! Nunca sabemos como somos. Como os outros nos veem é
diverso do modo como nos vemos. O que somos para nosso cão? A
descrição do objeto é estritamente pessoal.
Podemos dizer, no entanto, que o Sujeito não é sempre o indivíduo, mas
pode até ser uma coletividade. Ou o inconsciente coletivo.
Assim como o Objeto é fruto de uma rede de concepções, uma síntese,
esta, por sua vez, é a busca de um ideal, nunca existente. A Realidade
Objetiva é uma ilusão, não permanece, não É, mas podemos buscá-la,
através de métodos.
É o que Caio Prado Júnior chamou da experiência sensível à
conceptualização, in Dialética do Conhecimento, Tomo II, pág. 620.
Passamos então, até agora, da LÓGICA FORMAL à LÓGICA INFORMAL, que
caminha da DIALÉTICA à POLIALÉTICA. Já dá para perceber de que a
racionalidade não é atributo único da Lógica, mas também o instinto e a
intuição, o conhecimento prévio e o saber.
Entre a Tese e a Antítese percorremos um itinerário repleto de
interceptações, próprias das reflexões do indivíduo e/ou das discussões
entre os que debatem: é o Conhecimento, mas não é ainda a Verdade.
Precisará haver um retorno da antítese à tese, após a ida desta àquela,
com as diversas interceptações, e um rerretorno, e mais uma vez e muitas
idas e vindas entre a tese e a antítese para que o sujeito obtenha a final
Síntese, o Conhecimento, a Verdade, a Flor de Lótus!
Essa será refutada posteriormente.
T MAIÚSCULO

Por que tantas vezes voluntariamente escrevo a palavra Tempo com T


maiúsculo? Por uma razão muito pessoal. Não espero que outros o
façam também, a não ser que os convença com este palavrório...
O Tempo é inexorável! Ele sempre passa, é a grandeza física mais
importante. Ele é mensurável, embora inconstante. Passa mais rápido
pra uns, mais devagar pra outros, mais lento quanto somos crianças,
mais veloz quando temos um prazo que nos pareça exíguo,... O Tempo é
como um deus anímico, com um chicote numa das mãos e um afagador
na outra: ele escolhe o vigor de cada um, ele é o princípio do ansioso, do
psicótico, do uso do narcótico.
O Tempo é um dos deuses mais lindos, como disse Caetano Velloso
numa canção. Tempo, Tempo, Tempo, Tempo,... homenageado em
alguns terreiros de Candomblé por uma bandeirinha branca. Mas Este é
o clima, chuvoso, nebuloso, poeirento, seco, úmido, frio, quente,
estiado,... não é o que chamo de Tempo.
Volto a dizer o que escrevia. O Tempo de antigamente é muito mais
pausado, vagaroso, sem pressa, que o de hoje. O Tempo é a soma dos
infinitos, para citar Georg Cantor. 1
Santo Agostinho escreveu: O que é, por conseguinte, o tempo? Se
ninguém me perguntar, eu sei; se quiser explica-lo a quem me fizer a
pergunta, já não sei. (Confissões, Livro XI, cap.14.)
O Tempo é másculo. E a energia feminil. Completam-se. Por isso
Einstein, sabida ou sutilmente, construiu sua famosa fórmula com a
massa e a velocidade da luz ao quadrado resultando na Energia. E aqui o
Tempo se une ao Espaço, como dimensão quarta.

1
Aqui existe a ideia de que o infinito é um círculo virado para baixo e virado em seu centro: isso faz
com que ele pareça, sendo visto de certo ângulo, um oito deitado, donde seu símbolo. A viagem no
Tempo seria possível fazendo um segmento de reta entre um ponto e outro desse círculo. A viagem
para um universo paralelo seria entre um ponto desse círculo para o de outro círculo, que poderia até
ocupar o mesmo espaço: ∞ + ∞.
TEMPO E MASSA

O Tempo tem massa porque é mensurável. Claro que não é medido em


quilos, porém é verdadeiramente delicado, muito leve para nossos
padrões. Por ter massa é uma dimensão, como o comprimento, a largura
e a altura.
Por isso podemos falar que um milésimo de segundo é mais leve que
uma hora, por exemplo.
Diria, pois, que um período de Tempo maior deveria ser mais pesado
que um menor, todavia não é necessariamente assim. Se o Tempo já foi
mais lento no passado, é porque era mais pesado e hoje é mais leve.
Há uma contradição: apesar do Tempo ser hoje mais leve, nós sentimos
muito mais o seu peso, por estar mais rápido. Assim, podemos dizer que
os dias de hoje pesam mais sobre nós, devido à nossa maior
responsabilidade com o futuro.
Que responsabilidade é essa? Ora, somos hoje mais responsáveis pela
sobrevivência da espécie que no alvorecer da humanidade; somos mais
responsáveis pela sustentabilidade do planeta, pela forma como usamos
a tecnologia, como a descartamos. Por isso os Tempos hoje nos pesam
mais que para nossos ancestrais. O filósofo Luiz Felipe Pondé afirmou na
tevê que os antigos filósofos gregos já aconselhavam as pessoas a
moderarem suas vidas, evitando o que hoje chamamos de estresse.
Sábios, não conheciam o que o futuro nos reservaria, mas observamos
que desde a era industrial o mundo começou a mudar
exponencialmente.
Tudo que inventamos para facilitar nossas vidas (máquinas, informática,
computação, androides) acaba nos tornando mais frágeis e controláveis.
Temos o peso do Estado cada vez maior sobre nós, nossas identificações
cada vez mais complexas. E as drogas e outras formas de fuga cada vez
mais poderosas em seus efeitos.
Isso é a dialética, sendo vivenciada como uma mola crescente.
A NOVA ESQUERDA E A DIALÉTICA

A antiga Esquerda era representada no Brasil por homens do porte de


Luís Carlos Prestes e a antiga Direita por outros como Getúlio Vargas. A
primeira defendia os ideais socialistas soviéticos e a segunda os
capitalistas norte-americanos. Basicamente era assim, principalmente
após a Segunda Guerra, quando a disputa entre os dois Blocos era
maniqueísta. Claro que haviam divergências dentro de cada uma,
formando vertentes que se uniam quando precisavam fazer uma ampla
oposição à outra, mas tais vertentes tinham adeptos que brigavam entre
si por detalhes, pequenas diferenças idearias. Grandes intelectuais
falavam mal de outros por simples desavenças nas ideias; isso ocorre até
hoje e eles mesmos não percebem que poderiam ser grandes amigos. Eu
mesmo cometi esse erro algumas vezes.
O que escrevo aqui não engloba os atos políticos, apenas o pensamento
que constrói os ideais.
O que é a Nova Esquerda, nos dias em que a Rússia é capitalista e a
China exporta liberalmente seus produtos para o Ocidente?
Pessoalmente não sei explicar sem delongas, mas posso dizer que no
Brasil é representada por partidos políticos como o PT e o PCdoB. E até
pelo PMDB, que dividiu seu poder na Presidência do país com a
Presidente Dilma.
A Nova Esquerda diferencia-se da Velha no Brasil, assumiu o Poder e
adquiriu costumes e vícios da antiga Direita, como a Arena, no Tempo do
bipartidarismo, que os combatia com tanta competência. Segundo o
historiador Marco Antonio Villa, em seu livro sobre as Constituições no
Brasil, quando da criação do bipartidarismo, houve a necessidade de
políticos do partido do governo compor o então MDB, junto aos poucos
oposicionistas, para existir de fato um partido de oposição. Claro, os que
se opunham eram presos ou se exilavam...
Por isso, a Dialética não pode mais ser vista como assunto político de
algumas vertentes, mas largamente filosófico, aberto a toda e qualquer
corrente política.
A Dialética de Platão, de Kant, de Hegel, de Marx, devem ser estudadas
como História, mesmo que sejam ainda atuais, pois nunca foram
realmente postas em prática. Hoje, novos caminhos precisam dela
presente, sem ranços, dentro do contexto contemporâneo. Para tanto,
precisamos nos debruçar sobre as possibilidades do Futuro e traçar as
novas propostas.
Terceira parte

A OUTRA FACE DA DIALÉTICA: A POLIALÉTICA

Vamos explicar melhor o neologismo: a Polialética é a síntese a


partir de uma tese e mais de uma antítese se contrapondo a ela, ou uma
antítese originada de várias teses.
Naturalmente, nada a se opor, quando nos lembramos de que
nossa mente pode admitir mais que duas dimensões, a bem dizer quatro
(largura, comprimento, altura e Tempo). Podemos lembrarmo-nos de
que tais formulações são já possíveis e notáveis na prática, quando
numa mesa-redonda as ideias nem sempre se polarizam, mas se podem
multiplicar.
O exemplo típico são aqueles programas de debates sobre futebol:
num indeterminado instante, duas ou mais pessoas falam ao mesmo
tempo, cada qual com uma tese diferente. Elas não entrarão
necessariamente num acordo, mas dessa discussão o espectador poderá,
ele mesmo, chegar à uma Síntese, ou à uma nova tese que irá contrariar
todas as apresentadas pelos debatedores.
A tendência atual na cúpula dos poderes tem sido a da
polarização, como se vê nas eleições de cargos executivos da nação
brasileira: após uma votação em que diversos candidatos foram postos à
disposição do eleitor, os dois que receberam mais votos são novamente
postos como alternativa, polarizando-se novamente o que na fase
anterior já fora u’a múltipla escolha. É uma forma de disputa inútil, que
apenas gasta mais do Erário Público. Concebe-se, dessa forma, que o
povo brasileiro sabe pensar polialeticamente, não apenas de forma
dialética. E para descompensar, dessubtilizam-se as particularidades
para que se transforme numa reles e cartesiana escolha: X ou Y.
Entretanto, a polialética é vivida hoje naturalmente pelo povo
brasileiro em sua raiz fundamental de pensamento, lá naquele local da
mente onde a massificação ainda não chegou.
É o caso de um grupo de publicitários em meio a uma tempestade
cerebral (brainstorm). Depois de inúmeras ideias se dá o resultado,
aceito por todos. A diferença é que, na dialética, haviam dois polos: aqui
não, são vários!
O brasileiro é daqueles povos cuja heterogeneidade racial e
cultural faz com que os pensares se desenvolvam além do mero branco
contra preto.
A tentativa que a globalização faz de manipular os entes,
compartilhando-os quantitativamente em classes, tipos e quetais, nunca
terá sucesso no Brasil, país que, na verdade, a diferença é o normal, a
especificidade não dura, se altera rapidamente. Não falo, aqui,
naturalmente, das classes sociais, onde Uma é imutável, outras
dinâmicas.
A dissipação dos gêneros conhecidos, a explosão em muitos,
daquilo que parece apenas duplo, inicialmente, mostra que a
globalização pretendida pelos países dominadores do planeta apenas
funcionará neles próprios. O terceiro mundo pode adotar por um tempo
alguns parâmetros dessa nova construção comunicacional, mas com
rapidez já vem transformando-os sem tradução possível para os do
primeiro mundo. Assim fizeram os escravos brasileiros com os santos
católicos, e transformaram São Jorge em Ogum, Santa Aparecida em
Iemanjá, se não me engano, e por aí afora: Olorum, Xangô, Iansã, Erês...
A intradução, ou seja, a impossibilidade de se ter uma tradução,
está no fato de que São Jorge não é Ogum, embora a representação
iconográfica tenha sido a mesma. Etc. Assim funciona a polialética,
açambarcando várias teses ao mesmo tempo e gerando um resultado
que, na prática, viola a antiga fórmula tese + antítese = síntese.
Já dissemos que na polialética podemos ter várias antíteses para
uma só tese, assim como uma só antítese para várias teses, embora cada
uma das antíteses iguais seja diferente por ter sido originada de
discussões diferentes. Porém a síntese terá que ser uma só, para não
cairmos no paradoxo de duas novas teses; contudo podemos pensar
numa síntese simples ou composta. Simples: um homem e uma mulher
podem ser amigos; composta: um homem pode ser casado com uma
mulher ou apenas serem amigos. A bem ver, uma síntese composta
pode, facilmente, ser dividida em duas novas teses. Ou em uma tese e
uma antítese.
A cultura brasileira é polialética por natureza histórica, e isso nos
vacina contra os vírus contraceptivos da globalização. No entanto,
pegamos vícios de linguagem por pura ignorância, como, por exemplo:
Vou dar o meu melhor: na verdade, deveria ser, por exemplo: vou
fazer o melhor que puder. Aquela frase acontece como um anglicismo.
A IMPREVISIBILIDADE NA POLIALÉTICA

Se temos uma tese e várias antíteses, naturalmente serão estas


imprevisíveis quanto ao seu número e teor.
Na polialética também não criamos de antemão as antíteses, esperamos
que apareçam não importa como. Quando expomos uma tese ao
público, nunca sabemos com que vamos defrontar. O público entrará
com suas antíteses. E as discussões darão ensejo ao que chamaremos de
novas teses.
Claro que quem começou o processo polialético (com sua tese), pode
não concordar com ninguém que o confronte, mas continuar com sua
opinião. Todavia, levará consigo uma experiência que não tinha
anteriormente e assim será ele mesmo uma nova pessoa. É o que se
espera. Num mundo ideal.
PROFICIÊNCIAS

Aqui vamos entrar no fundo essencial deste livro.


De apenas uma tese se extraem várias antíteses e consequentemente
inúmeras respostas.
Digamos, porém, que da mesma discussão em que se alterem as
pessoas, surgirá uma nova síntese. Mudam-se as pessoas mais uma vez e
uma terceira síntese se forma. A Verdade se compõe de três sínteses?
Deverão todos os indivíduos que participaram das discussões juntarem-
se para obter uma só Síntese? O Conhecimento, entretanto, terá dentro
de si todas as reflexões, discussões, brainstorms, ...

Por exemplo: Deus existe! Essa é a tese.(teísmo)


Eis várias contradições possíveis: Deus não existe!(ateísmo);
Tudo é Deus (panteísmo);
Deus é uma tríade em Um só: Pai, Filho e Espírito Santo (dogma católico);
Deus está dentro de cada um de nós
(pessoalismo);
Deus morreu (ateísmo);
“Não creio em Deus, mas estou aberto
às possibilidades”(Marcelo Gleiser) (agnosticismo);
“O que urge fazer: matar o último rei com as tripas do último frade”
(máxima anarquista do final do século XIX ao início do século XX);
Fazer todas as imagens religiosas em pedaços (iconoclastia)
Etc.
Todas as antíteses diante da tese ao mesmo tempo aqui e agora. Mesmo
que os interlocutores falem um de cada vez, expondo sua contradita, ou
vários queiram discutir ao mesmo tempo, a Polialética estará sendo
vivenciada. Na verdade, essa discussão religiosa não deve existir, pois
cada qual se baseia numa crença imutável, baseada na fé ou na anti-fé. E
a fé é indiscutível. É impossível provar cientificamente a existência
espiritual. (Pelo menos por enquanto.) Mas o cientista tem que acreditar
na sua teoria e isso é uma forma de ter fé. Às vezes, uma fé inabalável
em algo prosaico, de forma tal como se fosse um Dogma. É o que vem
acontecendo, por exemplo, com a teoria do Big Bang, que muitos têm
como coisa certa e definitiva.
O teísta pode converter seus interlocutores, ou um deles convencer o
teísta. Embora, o que se espera é que todos tenham caminhado de suas
teses para outras, que inexistiam inicialmente.
Temos alguém que acredita na propositura inicial, porém há várias
outras pessoas que creem de forma diferente, nem sempre ao contrário,
mas diferente. Essa diferença pode mudar o pensamento no mundo.
Então, a tese passa a ser representada por um ponto no meio de um
círculo, e uma circunferência com diversas contraditórias, todas
discutindo ao mesmo tempo. E a circunferência pode sempre aumentar,
quanto mais contraditórios houver, ou quanto mais distantes da tese
estiverem.
É como um programa de tevê ou rádio onde haja alguns comentaristas.
Veja o Jornal da TV Cultura, à noite: há uma jornalista âncora e dois
comentaristas, que às vezes interferem um na tese do outro, mas nem
sempre ocorre a dialética. Entretanto, podem ter opiniões diferentes e a
discussão ficar na cabeça do telespectador, principalmente se a âncora
opinar em algo, o que às vezes ela mesmo faz na pergunta a um dos
comentaristas.
Ou como numa palestra que, terminada, vem o tempo aberto às
perguntas. Também acontece o mesmo num debate. Ou numa boa aula.
Vamos ver outro exemplo, agora um possível:

Chá é bom para a saúde (tese);


chá faz mal para a saúde (primeira antítese);
alguns chás não devem ser tomados, mas sim outros (outra antítese);
somente dois tipos de chás podem ser tomados: hortelã e camomila
(outra antítese);
apenas chás orgânicos devem ser tomados (outra antítese)
etc.
A Verdade será provavelmente uma só, que incluirá todas as discussões.
Nesse andar, não podemos dizer que há mais de uma premissa, ela pois
é uma só, sendo confrontada por várias contradições. Poderá,
entretanto, ter uma ou mais sínteses: “Gostamos muito de tomar chá
mate, mas tem que ser da marca X”, “Gostamos muito de tomar chá
verde” e “Preferimos tomar cevada que chá”. Essas podem se
transformar em teses que discutam entre si, para chegar a uma síntese
única.
Se pensarmos, em termos de física, num universo paralelo ao nosso, é
um exemplo de dialética; já o multiverso, de polialética. Resta saber se
um deles é uma tese, ou qual, ou quais. Quero dizer, se há um universo
primordial, central, ou se todos têm a mesma importância, se nasceram
do mesmo Big Bang. Ou se cada qual de uma diferente explosão, mas no
mesmo Tempo. Isto se o Big Bang realmente aconteceu...
Como já dissemos anteriormente, o Conhecimento, na Polialética, será
também formado por toda a experiência de se chegar até ele.
DOIS PROCESSOS DIALÉTICOS FORMAM UM POLIALÉTICO?

Não. Para se ter um processo polialético é necessário que se inicie pelo


menos com duas antíteses e uma só tese. A confusão se gera justamente
porque nos defrontamos com a possibilidade de mais de uma síntese, o
que pode ou não acontecer.
Todavia, se dois processos dialéticos caem na mesma síntese, é apenas
uma coincidência, pois as discussões foram diversas uma da outra. A
questão que as difere é o conteúdo, a forma como cada qual chegou
naquele ponto.
Quem, o que, onde e quando são identicamente importantes para a
polialética quanto o como e o porque.
UM PARADOXO: DIVERSOS PROCESSOS DIALÉTICOS PODEM CAIR
NUMA SÓ SÍNTESE?

Sim e não. Já falamos sobre isso anteriormente, mas agora é o momento


de nos aprofundarmos. Se pensarmos dialeticamente a partir de teses
infindas e com suas específicas contraditórias, não chegaremos a uma
única síntese, porém diversas. Todavia, se intrinsecamente, tivermos a
mesma síntese, então estaremos diante de um paradoxo. Como já
dissemos, uma síntese que pode ser composta.
A viagem no Tempo é impossível; só existe a possibilidade de se viajar
no Tempo se formos do presente para o futuro, mas o retorno ao
passado é uma impossibilidade (Albert Einstein). Quando Herbert
George Wells escreveu A Máquina do Tempo, desconhecia-se esse
contrassenso. Pelo menos é o que se admite hoje em dia.
Cada processo tem sua própria solução: diferentes processos têm suas
próprias sínteses. É como no Judiciário: o Autor entra com uma tese, o
Réu contradiz; o Autor entra com uma réplica, o Réu com uma tréplica.
Contudo, ainda é dialética. A sentença judicial é a síntese. Que pode ser
a nova tese se entrarmos com um Recurso.
A Polialética requer, pelo menos, uma única ideia confrontada por
diversas antíteses, gerando pelo menos uma síntese.
Há, por hora, a possibilidade de não haver uma única tese, mas a busca
de uma solução através de controvérsias. Numa comunidade anarquista
não existe a figura de alguém que detenha o Poder, como foi o caso, no
Brasil do Segundo Império, da Colônia Cecília, a mais conhecida. Não
existe tese, apenas opiniões diversas, nunca chegando a uma Verdade.
Fica apenas a possibilidade.
A POLIALÉTICA NO FUTEBOL

Eis que, um jogo entre dois times pode ser dialético, conforme
explanamos anteriormente.
Todavia, há diversos outros fatores que fazem do jogo uma atividade
polialética, onde cada equipe teve início antes da partida: o árbitro, os
bandeirinhas, as torcidas, o treinamento de cada time, os técnicos, os
presidentes de clube etc: tudo isso para chegar a um resultado, o placar
final. Neste caso, poderíamos dizer que o jogo é polialético, pois são
mais que apenas duas equipes concorrendo a uma consequência,
embora seja isso o simplificar de um caminho cheio de desvios. É o caso
de uma partida em que um dos dois times esteja vencendo e, de
repente, o outro vira o placar e ganha. E a torcida vibra!
ELEIÇÕES

O processo eleitoral no Brasil é dividido em duas partes, a dizer, em dois


turnos. No primeiro você tem diversos candidatos a deputado estadual,
deputado federal, senador, governador e presidente da república. É o
método polialético, porque são vários candidatos (teses), menos ou mais
conhecidos, afamados, respeitados (antíteses), a poucas vagas (sínteses).
No segundo turno existiria a dialética, pois são os dois presidenciáveis
mais votados, do qual sairá um só vencedor. Os eleitores decidem,
queremos acreditar. Todavia, além da obviedade da preferência num
candidato ou contra ele, existe a possibilidade de se anular o voto: isso
não é jogá-lo fora, mas não dar a consagração a ninguém! É uma forma
de se dizer que nenhum dos dois vale a pena.
Como anular a cédula? Tradicionalmente, votando num candidato
inexistente ou colocando uma mensagem, ou rabiscando-a. Se for pela
urna eletrônica, coloque um número que não corresponda a ninguém,
como uma sequência de zeros, e aperte sim.
Já o voto em branco é uma inutilidade, não um protesto como o voto
nulo. É uma resignação. É o mesmo que deixar de votar ou justificar.
(Por que as pesquisas nunca apontam o número de pessoas que não
querem nenhum candidato e o número das que não se importam com o
resultado? Estranho...)
Por aí, podemos perceber que o segundo turno também é um processo
polialético, pois tem seis opções:
1ª: votar num candidato;
2ª: votar no outro;
3ª: anular o voto (isto é, não dar o seu voto a ninguém!);
4ª: votar em branco;
5ª: não votar e
6ª: justificar.
CONVERGÊNCIA OU DIVERGÊNCIA?

Num processo dialético, o que se espera é que a divergência entre as


ideias termine em uma síntese convergente. Está no próprio conceito.
Mas a polialética prevê a possibilidade de, na discussão entre as duas
partes, haja a interferência de uma terceira ideia, que separe ainda mais
os pontos contraditórios.
Como obter então um Conhecimento Absoluto? Isso nos remeteria à
metafísica, ou à religião, ao universalismo, que não fazem parte de nosso
assunto neste livro. Todavia, oferecemos cá a via da Polialética, que
levará a um conhecimento que poderá ser contestado, reafirmado,
desacreditado ou mesmo crente. É o tão buscado método científico.
POLIALÉTICA NA NATUREZA

Inventei a Polialética porque ela já existia. Já era pensada, sem que as


pessoas se dessem conta disso. Faltava ser descoberta. Na própria
Natureza. No Universo. Há um campo imenso para estudá-la.
A Polialética já se encontra no Conhecimento Humano, na própria física
teórica, na experimental, na filosofia, na biologia, nas artes, na mente de
estudiosos, na comunicação social, nas doutrinas do direito, na
cibernética, em todos os lugares... A questão é encontrá-la, discuti-la,
estudá-la.
Como disse Arthur Rimbaud, os caminhos são difíceis, os montes se
cobrem de ervas, o ar está quieto, que distantes se encontram os
pássaros e as fontes...
POLIALÉTICA NA HISTÓRIA

Para cada momento histórico temos várias possibilidades de


desenvolvimento, de acordo com o agente em questão e os envolventes
relativos, que poderão alterar a ideia daquele ou não.
De qualquer forma, a futurologia peca por não pensar polialeticamente,
pois se o fizesse não existiria. Podemos imaginar o futuro, mas ele
sempre dependerá das decisões que forem tomadas pelas pessoas e pela
natureza.
Da mesma forma o passado: a História é sempre contada pelos povos
que venceram as guerras, faltando assim a grande e esquecida memória
dos vencidos. Além do mais, cada historiador terá sua versão pessoal do
que realmente existiu. Se quisermos ter uma visão histórica,
precisaremos ampliar nossas leituras, advindas de diversas fontes. Por
exemplo, Napoleão é visto até hoje como um inimigo pelos países que
ele dominou, mas é dado como herói pela maioria dos franceses.
SÍNDROME DE INFORMAÇÃO

Vivemos hoje um Tempo em que são tantas as informações que nos


atravessam que ficamos sem saber o que é mais importante. Queremos
saber de tudo!
Marshall MacLuhan já escreveu, certa vez, que os índios da Austrália
viviam seus afazeres sem perceber a intensa quantidade de ondas que
passavam por eles: rádio, tevê, o que existia naquela época. Hoje teriam
também as ondas da internet, que ficam pelo ar e atravessam o mundo
inteiro. É maior que a globalização que ele previu.
O problema é que estamos numa civilização em que os meios de
comunicação de massa não globalizam mais, porém intersectam seus
usuários através da interação, via telefone, redes sociais, web, celulares
com diversas funções etc.
O que muda? As emissoras de tevês e de rádios já têm algo mais que um
espectador telefonar para elas e conversar com o apresentador ao vivo;
existem configurações outras de interação que fornecem mais notícias
midiáticas e pessoais, juntas, como se fossem parte das mesmas
pessoas.
A informação é a polialética em sua forma mais pura, pois tem diversos
feitios de teses a todo tempo. Somos bombardeados não só mais pelos
meios de comunicação de massa, mas interagimos com eles, criamos
nossos próprios métodos de falar com várias pessoas ao mesmo tempo,
além de ouvi-las, ou as ler e escrever.
Antigamente fazíamos jornaizinhos e livros com mimeógrafo: hoje
usamos a internet e atingimos um número muito maior de leitores e
ouvintes.
Quanto mais conectados estivermos, mais antíteses teremos, mais
debates acontecerão entre diversas gentes, e a síndrome de informação
acontecerá, deixando-nos ansiosos, estressados.
OUTRO TIPO DE POLIALÉTICA

Existe uma polialética oriental.


No processo de meditação Zen, há outra forma de buscar a verdade: o
monge recebe uma pergunta insólita de seu mestre, aparentemente sem
resposta. Ele entra definitivamente no pensar sobre essa indagação.
Porém, não há um contraditório, mas uma tese sem antítese: depois de
pensar tanto na indagação, aí virão as antíteses, e o monge irá discuti-las
todas consigo mesmo, até chegar ao Sunyata (mente vazia), donde
inevitavelmente surgirá a resposta, como a Flor de Lotus no meio do
pântano.
MAS, AFINAL, O QUE É A POLIALÉTICA?

Se uma criança fizer essa pergunta, responda simplesmente: é quando


uma porção de pessoas discutem o mesmo assunto, cada uma com uma
opinião diferente. Daí, chegam a um acordo. Isso é a polialética.
Para responder sobre o que é a Dialética, é só adaptar a resposta.
Claro, não é um conceito, é a estrutura, porém é mais compreensível
esta que aquele. Os intelectuais se preocupam muito com os conceitos,
porém considero que esses às vezes complicam mais que explicam. Por
isso, prefiro aqui a explicação estrutural.
Outro detalhe: dissemos que a Dialética, assim, como a Polialética, são
formas de se buscar a Verdade. Não são, portanto, a Verdade, mas a
senda. Quando tivermos a Verdade, não existirá mais a Dialética nem a
Polialética. Ponto final.
...ou não...
A Polialética é boa ou má?

Não existe resposta para essa pergunta. A polialética existe no universo


e controla tudo, sem controlar nada.
Ela não é boa nem má, apenas existe. Assim como a dialética. Não há
juízo de valor que se possa fazer sobre ela.
Como sói acontecer, seu uso determina sua qualidade, sua moral, sua
ética. Quem a utiliza dá o ponto.
Sugestões de Teses

A Polialética é apenas mais uma variação da Dialética?


A Lógica é compatível com a Polialética.
Não existe a Polialética!
Existe a Dialética da Natureza, todavia não ocorre o mesmo com a
Polialética.
A Polialética é apenas possível num ambiente acadêmico.
O Tempo tem massa.
O conceito de Dialética não pode ser estrutural.
O Universo não é perfeito, mas instável e imprevisível.
O Universo é perfeito.
(Este livro.)
ÚLTIMAS PALAVRAS

A Dialética não é uma ciência exata. Além do mais, ela evoluiu, dos
antigos gregos até ser uma das sete Artes Liberais do medievo ocidental.
E continuou evoluindo, chegando em Hegel e deste para os dialéticos do
século XXI.
Existem grandes autores, filósofos, intelectuais e pensadores. Eles
escrevem ou falam, entretanto, de uma forma inacessível ao leitor
comum. O que tentei aqui foi desmistificar o assunto e apresentar uma
ideia nova, a Polialética.
Defendo meus pontos de vista usando meus direitos de ser humano, de
livre pensar e de liberdade de expressão. Espero ser lido, apoiado,
contestado, discutido, ou seja, espero que tenha valido a pena o
investimento neste trabalho. Não adianta apenas dizer: escrevi um livro
sobre Dialética. É necessário ser lido, compreendido.
Não escrevo para mim mesmo, mas para leitores, seja quem forem. No
caso, espero que sejam pessoas interessadas no assunto, que já o
conheçam, que o dominem, ou que o desconheçam por completo: quero
atingir a todos que se importem com o tema. Evidente que cada qual
terá sua maneira de entender ou contestar, mas gostaria da palavra de
pelo menos alguns.
A ideia inicial era a de fazer um mestrado. Porém, não tive recursos para
tanto. Então, iniciei minha pesquisa sem um tutor, por conta própria, e
acabei construindo um livrinho.

Caraguatatuba, outono de 2015.


Revisto em fevereiro de 2019.
Apêndice:

A Nova Direita no Brasil

Os novos adeptos da Direita no Brasil estão divididos em duas facções: a


primeira é a que se deu bem na época da Ditadura Militar e quer de
volta os mesmos padrões; a segunda é a dos jovens que buscam uma
saída da corrupção no país e esperam algo diferente do que está aí, que
é o que sempre os jovens buscaram na História.
A primeira turma é de pessoas que têm na memória o tempo do Milagre
Brasileiro, em que se parecia que todo mundo tinha mais dinheiro, mas
que na verdade o país se afundou numa dívida internacional. Mas a
memória é seletiva e as pessoas lembram-se do que querem lembrar.
A segunda turma é a dos jovens que esperam um país melhor, sem
corrupção, com os valores conservadores em alta, mesmo sem saber que
valores exatamente são esses, além dos pregados em palavras de ordem
e propaganda política.
Existe ainda uma terceira turminha que vai na onda do que estiver por
cima, surfando sempre...
Na realidade, o que se tem é uma situação de extremos, pensada em
termos dicotômicos, como se a política se resumisse a dois opostos. Não
é assim, há todo um espectro político! Ora, um país deve ser governado
pensando-se em todos, todas as classes sociais, ensino de qualidade para
todos, saúde de qualidade para todos etc.
25/11/2018.
Líderes

Existe a anarquia, que não é bagunça, mas a inexistência de um


poder centralizador em um Estado.
Naturalmente, o objetivo final da anarquia é a inexistência de
poderes centralizados no mundo inteiro, sem divisões territoriais e
políticas, sem a existência de dinheiro, cada pessoa sabendo seus
direitos e limites para não prejudicar o próximo, todos se respeitando
nesse sentido.
Utópico? É o que os anarquistas propunham no final do século
XIX e continuam até hoje. Claro que existem variações da proposta, o que
acontece de um teórico para outro.
Ocorre, porém, uma falha nesse processo. Os próprios teóricos
do anarquismo são líderes em suas áreas. Haja visto Bakunin, que tinha
literalmente seguidores, quando andava pelas ruas. Mas esse é um caso
extremo. O que acontece é que, quando um anarquista expõe suas ideias,
ele espera que as pessoas as aprovem e, inevitavelmente, o sigam.
Inconscientemente, ou de uma forma inocente, ele passa a ser uma
espécie de poder centralizador, mesmo que não queira.
O mesmo acontece com pessoas que combatem as religiões
organizadas. Elas mesmas acabam se tornando centralizadoras de
movimentos espirituais ou não espirituais.
Sem querer, todos aqueles que combatem um Poder existente,
seja ele político, religioso, artístico, ou que seja, tornam-se líderes de um
novo. É uma roda viva.
8/11/2018.
Sofistas e a Dialética

É válido um processo dialético em que participe um ou dois


sofistas?
Não. A dialética tem como escopo a busca pela verdade. O
sofista só quer mostrar que tem razão, é um despejar de palavras oco.
A dialética nunca existiu para alguém mostrar que está mais
certo que o outro, mas para que haja uma discussão em que resulte uma
resposta satisfatória para ambos. Como já expliquei, essa resposta será a
tese para uma nova discussão futura, em que ela será questionada para,
talvez, uma nova síntese.
O processo não para, mas deve ser feito por pessoas realmente
interessadas em buscar a verdade, não que queiram a todo custo mostrar
que têm razão.
18nov2018.
A Imprevisibilidade

Esse é o ponto principal da dialética. A discute com B. Nunca se


sabe o resultado dessa discussão, ao qual chamaremos de C.
C=X, onde X é uma incógnita.
O fato de X existir é motivo de esperança para o futuro, pois,
conforme a dialética da História, ela não tem razão para se repetir
infinitamente.
Assim, o fundamento da dialética é a imprevisão. Este é o
resumo de meu livro.

19out2019.
REFERÊNCIAS E SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS
(Em ordem alfabética)

AGUIAR, Roberto A. R. de. O que é Justiça, uma abordagem dialética; 5ª.


edição, 1999, ed. Alfa-Omega.
BERLO, David K. O Processo da Comunicação.
ENCICLOPÉDIA BARSA, 1969. (Essa foi a internet de minha infância e
adolescência.)
HAVEMANN, Robert; Dialética sem Dogma; ZAHAR, Rio de Janeiro,
Brasil, 1988.
JUNG, Carl Gustav (concepção e org.); O Homem e seus Símbolos.
Tradução de Maria Lúcia Pinho. Ed. Nova Fronteira, Rio de Janeiro,
Brasil, 1997.
KONDER, Leandro; O que é a Dialética; Brasiliense, 26ª. edição,1994.
_______________ ; A Derrota da Dialética; CAMPUS, Rio de Janeiro, Brasil,
1988

NUNES, Benedito; A Filosofia contemporânea; EDUSP, São Paulo, Brasil,


1967. Coleção Buriti.
OLIVEIRA, Beneval de; Arte e Dialética, RJ, Pallas, INL, 1983.
PINASSI, Maria Orlando (org.); Leandro Konder: a Revanche da Dialética; São
Paulo: Editora UNESP/ Editora Boitempo, 2002.

PRADO JÚNIOR, Caio; Notas Introdutórias à Lógica Dialética; Brasiliense;


São Paulo, Brasil.
_________________; Dialética do Conhecimento; Tomos I e II; 3ª edição;
Brasiliense; São Paulo, Brasil.
QUINTANILLA, Miguel Angel; Breve Dicionário Filosófico; Santuário,
Aparecida, SP, 1996.
RODRIGUES, Rubi Germano; Filosofia: a arte de pensar; Madras, São
Paulo, Brasil. 2011.
SINGER, Peter; Hegel. Tradução de Luciana Pudenzi. Ed. Loyola, São
Paulo, Brasil, 2003. Coleção Mestres do Pensar.

SOBRE O AUTOR

Leopoldo Pontes nasceu às quatro e meia da manhã


do dia quatro de abril de 1958, na cidade de São Paulo.
No final dos anos 1970 e início dos 80, publicou por
conta própria vários livretos de poesia, na base do mimeógrafo e off-set.
Tem algumas premiações por contos, estadual e
nacional.
Sua formação acadêmica inclui Jornalismo e Direito,
além de uma pós-graduação em Língua Portuguesa e Literatura.

Em 1980, conheceu a Dialética, o que se tornou uma


de suas reflexões preferidas e o levou a construir a Polialética.

Tem outros livros publicados pela Amazon.

Contato com o autor: leopoldopontes21@gmail.com


Outros Livros Publicados pelo Autor
(Todos pela Amazon)

O Gosto das Coisas: E o Rock Não Morreu... (Trilogia Livro 1)


O Gosto das Coisas: A Gorda Vai Cantar (Trilogia Livro 2)
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4 Coros da Terra e dos Céus e uma Canção Inflamada: Teatro
Gabriel: A História do Roqueiro que virou o Grande Herói Nacional
Asas para Teotino
V.M.P.M.: Duas Histórias de Amor
Poemas para serem lidos em voz alta: antologia
Minha experiência com o Kindle
Análise de Matrix e outros filmes e textos
Dialética no Direito: O Estado Leigo
Sumário
À Fafí............................................................................................................................................2
PRÓLOGO.....................................................................................................................................5
Primeira Parte..............................................................................................................................6
LÓGICA FORMAL..........................................................................................................................6
LÓGICA.........................................................................................................................................8
Segunda Parte..............................................................................................................................9
LÓGICA INFORMAL: A DIALÉTICA................................................................................................9
O Que É a Busca Pela Verdade?.................................................................................................11
DIALÉTICA DA NATUREZA...........................................................................................................12
DIALÉTICA DA HISTÓRIA.............................................................................................................13
LÓGICA E INTUIÇÃO...................................................................................................................14
A DIALÉTICA NA COMUNICAÇÃO SOCIAL...................................................................................16
A DIALÉTICA NO FUTEBOL..........................................................................................................17
DICOTOMIA................................................................................................................................18
O PERCURSO DO HERÓI E A DIALÉTICA......................................................................................20
A IMPREVISIBILIDADE.................................................................................................................21
A QUESTÃO JUDICIAL E A DIALÉTICA..........................................................................................22
O SISTEMA BINÁRIO...................................................................................................................23
REALIDADE E OBJETIVIDADE......................................................................................................25
T MAIÚSCULO.............................................................................................................................27
TEMPO E MASSA........................................................................................................................28
A NOVA ESQUERDA E A DIALÉTICA.............................................................................................29
Terceira parte.............................................................................................................................31
A OUTRA FACE DA DIALÉTICA: A POLIALÉTICA.........................................................................31
A IMPREVISIBILIDADE NA POLIALÉTICA......................................................................................33
PROFICIÊNCIAS...........................................................................................................................34
DOIS PROCESSOS DIALÉTICOS FORMAM UM POLIALÉTICO?......................................................37
UM PARADOXO: DIVERSOS PROCESSOS DIALÉTICOS PODEM CAIR NUMA SÓ SÍNTESE?...........38
A POLIALÉTICA NO FUTEBOL.....................................................................................................39
ELEIÇÕES....................................................................................................................................40
CONVERGÊNCIA OU DIVERGÊNCIA?...........................................................................................41
POLIALÉTICA NA NATUREZA.......................................................................................................42
POLIALÉTICA NA HISTÓRIA.........................................................................................................43
SÍNDROME DE INFORMAÇÃO.....................................................................................................44
OUTRO TIPO DE POLIALÉTICA.....................................................................................................45
MAS, AFINAL, O QUE É A POLIALÉTICA?.....................................................................................46
A Polialética é boa ou má?.........................................................................................................47
Sugestões de Teses....................................................................................................................48
ÚLTIMAS PALAVRAS...................................................................................................................49
Apêndice:...................................................................................................................................50
A Nova Direita no Brasil..............................................................................................................50
Líderes........................................................................................................................................51
Sofistas e a Dialética...................................................................................................................52
A Imprevisibilidade.....................................................................................................................53
REFERÊNCIAS E SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS............................................................................54
SOBRE O AUTOR.................................................................................................................55
Outros Livros Publicados pelo Autor..........................................................................................56

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