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de Bach.
Para se ler no barzinho ou na pastelaria.
Poemas.
Por
LEOPOLDO PONTES
Suíte nº1 em sol
maior para
violoncelo, de Bach.
Para se ler no barzinho ou na pastelaria.
Poemas.
Por
LEOPOLDO PONTES
Capa pelo autor: pintura em tela.
"Ar Livre
Cecília Meireles
© Copyright (2022) por Leopoldo Luiz Rodrigues Pontes - Todos os direitos
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Colocava o focinho
Na minha mão rapidinho
E tirava várias vezes
Enquanto eu acordava
2022.
Eles me ensinaram.
Minha avó ensinou
Que eu sempre que
Não tivesse nada
Naturalizasse tudo.
Só não consegui
Aprender a ganhar dinheiro
Mas sonhar e ser feliz
Isso é o que sei construir.
2022.
Tempo-espaço-memória-movimento.
Tempo estigma relógio
Espaço estigma bússola altímetro
Memória estigma escrita desenho papel
Movimento estigma pólvora.
2022.
METRÓPOLE II.
Os carros avançam lentamente
quando criança -
displicente.
A noite é úmida,
terra da garoa -
toca-fitas tocando
Yes
do concreto paulistano;
os operários e os punks
às suas fábricas
e comércios
nas segundas.
bolero.
Paqueras, namoros,
todavia caminho,
- outras ignoram -;
às vezes, no entanto,
ou de másculo falsete,
não sabe
se é mulher, homem,
travesti ou biscate
- ou outra variação -.
guaraná e empadinhas.
ou um copo de cerveja.
Uma olhada nas vitrines
de um gravador
um tratamento de câncer! - .
E eu espirro!
prefere os dedos.
sentindo cheiros
então desagradáveis,
incertos na origem -
de poluição e melancolia,
tenha de voltar.
úmida e fria,
a noite no passado
leopoldo pontes
de 1981 .
Apolo, Deus Da Luz.
Abelius, Abello, Apolo,
Grande Protetor,
Deus da luz, do sol, da profecia,
Da música e das artes.
Ilumina este ser que te pede
Alento,
Disciplina e
Inspiração.
Dá às musas a ordem
Para que eu possa bem escrever
O que eu quero,
O que preciso,
O que tensiona minha cabeça e
Meu coração.
2022.
Suíte Nº1 Em Sol Maior Para Violoncelo, De Bach.
ESTOU TÃO RÁPIDA E CONTINUO ASSIM
ESTOU TÃO ENERGÉTICA E CONTINUO ASSIM
ESTOU TÃO ESCURA E CONTINUO ASSIM
Ñ CONSIGO PARAR Ñ CONSIGO PARAR
É TUDO TÃO DIFÍCIL P/A MIM
Ñ TNHO CONTROLE S/ O Q EU MESMA FAÇO
O VIOLONCELO É MEU GATILHO Ñ CONSIGO PARAR
A MÚSICA M EMOTIVA MAS M DEIXA COMPLEXA
Ñ AGUENTO + TOCAR ESTA MSMA MÚSICA TODA VZ
Q TNTO TIV Q TREINAR ATÉ MEUS DDOS ENCHEREM D CALOS
CALOS D MUSICISTA Ñ AGUENTO + CARREGAR EST ARCO
ARCO TOUPEIRA Q M FAZ ARREBNTAR OS OUVIDOS
Ñ AGUENTO + DIZEREM Q STA MÚSICA É LINDA
ELA É CMUM TDO MUNDO CNHCE E CHAMA D MÚSCA CLÁSSICA
SÃO OS CLSSICOS PPULARS Q TDO MNDO OUV E S ACHA CULTO
NÃO AGUENTO + TCAR ESSA MÚSICA
Ñ AGUENTO + Q A CHAMEM D LINDA
STOU FARTA DELA ESTOU FARTA D MEU VIOLONCELO
QRO USAR O VIOLONCELO P/A TOCAR MÚSICA POPULAR
BABY CONSUELO RITA LEE BLACK SABATH JIMI HENDRIX
LINDA BAPTISTA JANIS JOPLIN LED ZEPPELLIN O PESO
CRUCIS LE GORIÓN THE BIRDS JOHN COLTRANE
MÚSICA CHICO BUARQ D HOLLANDA CAETANO
VELLOSO MARIA BETHÂNIA LANNI GORDIN GAL COSTA
MARIANA MARINA PEPEU GOMES MÚSICA MÚSICA MÚSICA MÚSICA
ALÉM D MERA MSICA CLSSICA PPULARESCA
Q TDO MNDO ACHA FINA FITNESS MAS
É TÃO TOCADA Q JÁ DEIXOU D SER ERUDITA. QUERO Q BACH MOZART
BEETHOVEN BRAHMS VIVALDI SE AFUNDEM EM
SUAS IGNOMÍNIAS. CHEGA DE MÚSICA EUROPEIA
TRADICIONAL. VIVA A MÚSICA MUNDIAL CONTEMPORÂNEA
SÓ ACEITO VOLTAR A TOCAR VIOLONCELO SE PUDER TOCAR
BATUQ VIOLÃO CAVACO FLAUT DOC PANDEIRO RINGO
BATERIA GUITARRA CONTRABAIXO INSTRUMENTOS
Q Ñ TM NOME MSICAS Q Ñ TM NOME
2022.
1.2.3.4.
1. Imagino um planeta que gravitasse em torno de três sóis, um de cada vez. Não haveria
noite nem a ideia de dualidade, mas talvez de trialidade. Não haveria a base dois, o tao
seria a unidade do claro. Poderia ter chuvas e nevoeiro além dos dias limpos.
2. 0 universo pode ser uma entidade orgânica que respira, vibra, pulsa, e nunca existiu
um Big Bang. Nem haverá um Big crunch. Ele apenas pulsa, cresce, vive, e como nasceu
morrerá. Ele é de que sexo? Tem algum?
3. O vazio, o vácuo, é o que preenche a quase totalidade do universo, assim como dos
seres: humanos, animais, vegetais, protistas, minerais, ar, gases em geral, sólidos,
líquidos, tudo.
Esse vazio contém energia, que um dia foi matéria, e é matéria em potencial.
O nada não é vazio, portanto. Ele contém energia, que pode ser utilizada para vários
fins, uma energia que não sei se é limpa e inesgotável como os ventos, ou extrativista
como os fósseis (petróleo, por exemplo], ou como os minerais [silício, por exemplo].
Podemos obter energia através da biotecnologia, utilizando plantas cultivadas, restos
de animais, por exemplo, que se perdem na natureza. Só não podemos usar cadáveres,
pois estes se decompõem na terra, na água, ou no ar, sendo consumidos por outras
espécies que completam nossa biosfera.
4. O coração pertence à Terra.
A consciência pertence aos Céus.
Um dia, os Céus se casarão com a Terra.
2022.
Tempo
ido.
vae soli:
[Ecclesiastes – IV;10]
Estou velho.
Solidão.
Tédio.
Estou velho.
SÓ
PÓ
ÆTERNUM
santos brasil
1981
Nota:
quando escrevi estes poemas sobre a velhice tinha vinte e três anos, e achava que não
chegaria aos trinta. Ficcionei-me num personagem, o que eu seria se envelhecesse.
Na vida real, envelheci, e não estou tendo esses tipos de sentimentos. É diferente. Minha vida
ocorreu distintamente. Muita coisa aconteceu. Casei. Tive filhos. Netos. Cães. Ainda tenho
amigos de longa data. Também não terminei de envelhecer. Falta muito.
Things change.
2022.
O Dia De Hoje É O Primeiro De Nossa Vida.
No compêndio “Lições sobre a psicanálise”, falei como lidar com saudades de pessoas
que já morreram, ou como lidar com as saudades de pessoas que sabemos que não teremos
como ver mais, por quaisquer outras razões.
Porém, ficou faltando como lidar com as coisas que gostaríamos de ter feito e que não
fizemos. O arrependimento do tipo “se eu pudesse voltar no tempo, teria agido diferente. Por
que não o fiz?”
Existem duas possibilidades básicas: a da ação e a da omissão: por que agi dessa
maneira e não de outra? E por que deixei de agir?
Na primeira possibilidade, há várias possibilidades. Por que não agi assim, ou assado, e
a gente examina as formas que poderia ter feito.
Na segunda possibilidade, só existe o arrependimento de ter se omitido. É o pior que
existe.
Em princípio, não há como lidar com nenhuma dessas formas, porque o passado ficou
para trás, e o que existe são as consequências de nossas escolhas.
O grande mal é ficar se escondendo atrás do se. Se eu tivesse feito diferente, as coisas
seriam melhores. Será que seriam? Quem pode saber?
Tudo não passa de ilusão. Podemos nos arrepender de ter agido de maneira errada, ou
de não ter simplesmente agido. Mas, daqui pra frente, nós temos a experiência para nos guiar.
Nunca somos velhos demais para iniciar novas coisas. Não temos sapiência suficiente
para sabermos quantos anos temos pela frente. Mesmo que haja previsão médica, ela nunca é
totalmente precisa.
Aproveitemos, pois, o dia de hoje como se fosse o primeiro, não o úlltimo.
30/4/2022.
Apreciar Arte É Como Comer Uma Laranja.
O que é mais importante? A obra de um artista, a obra vista em si, independente da
vida de quem a fez, de sua personalidade, de seus vícios, doenças, sonhos, dos livros que leu,
dos filmes que gostava, dos artistas que admirava, dos locais onde frequentava, do local onde
nasceu, das influências familiares e genéticas... ou devemos juntar tudo num bolo só?
Quando leio um tomo de poesias, sempre pulo os prefácios, introduções, notas
explicatórias, biografias, e vou direto aos poemas. Só depois que tive a minha impressão
pessoal sobre o poeta, através daquilo que ele escreveu, é que busco o resto.
Não faço isso só com poesias. Faço com tudo. Quero sempre primeiro ter a minha
impressão pessoal. Por que isso?
Apreciei muita coisa ruim, só porque a crítica que li, ouvi, soube a respeito, falava bem
daquela obra, ou daquele artista. Ao mesmo tempo, perdi muitos anos de minha vida deixando
de curtir muita coisa boa, só por causa de críticas negativas a respeito.
A arte fala por si. Devemos mergulhar de cabeça em qualquer obra que depararmos,
antes de ter uma opinião formada de outra pessoa. Mesmo depois de molhados, tudo o que
podemos dizer é que gostamos, mais ou menos, de acordo com nosso estado de espírito no
momento em que mergulhamos. Mas dizer que é muito bom ou muito ruim... Deixemos para
os críticos, cuja função é justamente essa.
Há pouco tempo tive a oportunidade de fazer uma oficina online de crítica
cinematográfica com Soraya Lucato. Aprendi muito com ela, principalmente o quão ingrato é
ser um crítico.
Ela ensinou que a crítica cinematográfica pode ser acadêmica, mas é primordialmente
jornalística.
Outra coisa que ela falou, que me marcou bastante, é que o sonho é saudável; “a
expectativa é o sonho cercado”. Mas quando falamos em sonho, existem os que sonhamos
dormindo e os que sonhamos acordados. Ambos são bons. E salutares. Porque ambos fazem-
nos andar para a frente!
(Soraya Lucato pediu que fizéssemos uma lista das pessoas, situações, coisas, que nos
fazem felizes. Coisas que contribuíram ou contribuem para nossa história ser única, especial e
insubstituível, que nos ajudaram a chegar onde nós chegamos, que contribuiram de maneira
positiva em nossa história até aqui. Essa é a nossa história pessoal.
Todos têm uma história para contar. Isso, bom, foi só um parênteses.)
Vou usar uma comparação que ela fez entre dois esportes, o tênis e o frescobol: o
primeiro, é competitivo, apenas, entre duas pessoas ou duas duplas; o segundo, não tem
competitividade, é apenas a alegria de se estar juntos, numa atividade que não tem
perdedores ou vencedores, apenas participantes.
Na verdadeira arte, os participantes não competem, cada um fica na sua. Na arte do
capitalismo, tudo é dinheiro, arte é dinheiro, e as obras mais caras ficam dentro de cofres,
onde ninguém pode apreciá-las. O primeiro caso, é como o frescobol; o segundo, é o tênis.
Por muitos anos fui atrás de críticas antes de comprar meus discos: comprei muita
porcaria e deixei de comprar muita coisa boa, algumas felizmente compradas posteriormente
após uma pequena ouvida. Ou na casa de amigos, ou achando em sebos de discos, ou mesmo
buscando ouvir nas lojas depois de ter lido a crítica negativa. O mesmo com livros.
Discos, livros, revistas, histórias em quadrinhos, o melhor era quando eu descobria por
mim mesmo, vasculhando os lugares onde eles eram vendidos.
A crítica de arte deve existir, mas só devemos dar ouvidos a ela depois de termos
absorvido a obra por nós mesmos.
Hemingway, como Lobato, eram machistas, sim, mas isso era produto da época em
que viviam. O antissemitismo do primeiro e o racismo do segundo também faziam parte do
tempo em que viviam.
Não é porque minha mãe biológica era judia, que não vou curtir “Paris é uma Festa”.
Porém, que me perdoem seus fãs, mas acho “O Velho e o Mar” um pé.
Aliás, um biógrafo recente de Hemingway, que infelizmente não me lembro aqui o
nome, mas que pode ser encontrado na internet, diz que esse escritor foi queer. Antes disso
ser moda, muitas décadas antes. Parece que ele, às vezes, usava, por exemplo, um brinco, e
sua esposa ralhava com ele, dizendo algo como: “O que as pessoas vão falar disso?” Mas já era
famoso, e não estava nem aí.
Monteiro Lobato humilha a personagem Tia Nastácia, mas não posso negar que li
praticamente toda a coleção infantil quando criança – e curti –, e muitos de seus livros para
adultos, ainda na infância, e depois, e os admirei, dentro das possibilidades. E nem por isso
sigo suas ideias, no sentido de humanidade.
Os artistas fazem parte de um zeitgeist. Mesmo que, como se diz hoje em dia, pensem
fora da caixinha, estão dentro de um sistema opressor, que é a sociedade. A sociedade, por
mais liberal que seja, é sempre opressora. Principalmente para um artista.
O festival de Woodstock não teve infraestrutura, não foi só paz e amor, resultou em
pessoas que se drogaram demais ou beberam demais, comeram de menos, fizeram sexo sem
os devidos cuidados e ficaram doentes depois, houve violência, etc, é verdade, mas acabou
fazendo discos e um filme com músicas de altíssima qualidade. Revelou músicos como Jimi
Hendrix para o mundo. Ele já tinha alguns discos gravados, mas foi esse festival que o
catapultou.
Como deixar de negar a qualidade musical de Woodstock de 1969?
Era uma época de pouca qualidade técnica em equipamentos eletrônicos, mas de
muita criatividade artística. Andy Warrol, nesses dias, tinha seu estúdio, sobre o qual nem
preciso falar. Londres era um centro cultural de vanguarda. O Brasil revelou, entre 1962 e
1976, uma safra de compositores como nunca mais posteriormente.
Alguém vai perguntar: mas e a Bossa Nova? Aconteceu antes. É, todavia foi criação de
um único músico, Baden Powell, e depois só fizeram acréscimos e adaptações, no planeta
todo.
Por ser um país de dominação econômica no mundo, os Estados Unidos acabam
recebendo grandes artistas do mundo inteiro. Conheci outro dia a arte de Ana Mendieta: ela
nasceu em Havana, e morreu com 36 anos, em Greenwich Village, em 1985. Arte de
primeiríssima qualidade.
Flora Purim, cantora brasileira radicada nesse mesmo país, cerca-se dos melhores
jazzistas em seus shows. Eu mesmo tenho alguns vinis memoráveis dela, onde há a
participação de músicos brasileiros, como Airto Moreira, latinos em geral e norte-americanos,
como Stanley Clarke.
Apreciar arte é como comer uma laranja. Há várias formas de fazê-lo, não existe uma
regra.
Podemos só tirar a casca de fora, deixando a parte branca, cortando a fruta em duas e
chupando-a. Meu pai achava que essa era a única forma correta de se chupar uma laranja.
Tem criança que tira do pé, fura a fruta com o dedão, e chupa com casca e tudo. Minha mãe
descascava inclusive a parte branca e chupava gomo por gomo. Há quem coma os gomos, só
jogando fora as sementes.
Pessoalmente, costumo cortar a laranja, com casca e tudo, em quatro partes, e comer
cada parte por inteiro, só jogando fora as sementes e as cascas.
O mais importante nisso tudo é se saboreamos, ou apenas deglutimos. Se sentimos ela
em nossas mãos, o escorrer do líquido pela nossa boca, o sabor, o aroma da fruta, se sentimos
o prazer de olhar e escolher a que mais aprovamos, se temos o prazer de ouvi-la.
Saborear uma laranja é igual a apreciar uma obra de arte. É impossível declarar em
palavras seu sabor, aroma, textura, visual, seu som. Podemos tentar, mas nunca
conseguiremos dar uma definição exata de nossa experiência pessoal a outra pessoa.
Enfim, voltamos à questão inicial. Devemos conhecer o zeitgeist de um artista para
depois curtir sua obra, ou o inverso? Minha opinião é a de curtir a obra primeiro, sem saber
mais nada, para não termos influências exteriores. Mas é apenas minha opinião.
14/5/2022.
Começando A Falar De Alhos E Terminando A Falar De
Bugalhos.
Existe uma agrura do escritor: ele quer ser compreendido, mas em seus termos. O
escritor não quer facilitar sua escrita, ele quer que o entendam da forma como ele escreve,
porque sua forma é importante, faz parte de seu conteúdo. Se mudar a forma, o conteúdo fica
comprometido.
O escritor escreve porque quando fala, ninguém o entende. A escrita é sua forma de
expressão, não a fala. Muitos são tidos como encrenqueiros, porque não conseguem se
comunicar falando com as outras pessoas.
O leitor tem sua própria compreensão do texto. Ele tem suas próprias vivências, e sua
capacidade de leitura talvez não alcance o que o escritor quer dizer.
Existe uma liberdade na leitura, que escritor algum pode limitar, nem editor, ou
comentador, crítico, resenhista. A leitura sempre se sobrepõe ao que o livro tenta impor.
O que muda com o passar do tempo é a atitude do leitor. Antigamente, ele lia em
blocos de argila. Em pedras, em tijolos. Depois, em papiros. Como o Egito era o único
fornecedor de papiros, surgiu o pergaminho, suporte animal, que podia ser raspado e
reescrito. O leitor passou a ler em rolos de pergaminho.
Precisava das duas mãos para ler. Se quisesse copiar, precisava ler em voz alta para
que uma segunda pessoa escrevesse num outro suporte.
Os pergaminhos podiam ser apenas algumas folhas coladas, formando um pequeno
suporte enrolado pela mão, ou diversas folhas, formando um conjunto de dois rolos, como no
caso da Torat ou do Talmud. O codex medieval, o livro em cadernos manuscritos, o livro
impresso, as edições de capa dura, as baratas de capa mole, os almanaques, o jornal, o
tabloide, a revista, cada qual tem um jeito diferente de ser lido. O texto no computador, no
celular, no tablet, ou no e-reader.
Cada qual dá ao leitor uma atitude distinta perante o texto.
Aliás, na época da grande Biblioteca de Alexandria – que eram duas, uma maior, na
qual foi posto fogo, e uma menor, que resistiu por um tempo – a leitura era feita em voz alta.
Imagine só o barulhão de um monte de gente fazendo as suas leituras pessoais.
A bem dizer, foi construída uma nova versão da Biblioteca de Alexandria, próximo ao
local da que foi destruída em idos tempos, com espaço prioritário para o digital. É bom
lembrar que, se tivéssemos os antigos livros da antiga biblioteca, a que foi posto fogo, os
teríamos copiados todos em alguns arquivos de computador, cabendo tudo, possivelmente,
em um pen-drive. Mas qual seria o gosto? A moderna biblioteca tem ainda manuscritos,
periódicos, e vídeos, além de laboratórios, planetário, museus, e uma sala de congressos e
exposições.
Santo Agostinho conta, não me lembro em que livro, ou algum outro livro conta essa
história, não me lembro qual, de que ele teria se encantado com um homem que lia em
silêncio, sem mover os lábios, que apareceu na escola onde ele ministrava. Ou no monastério.
Não sei. O que sei é que data desse tempo o princípio da leitura silenciosa.
Hoje, as bibliotecas públicas brasileiras primam pelo silêncio. É diferente das italianas,
por exemplo, em que carrinhos barulhentos, carregando livros, passam entre as mesas, onde
estão os leitores, que também se falam, em alta voz. Como se concentram, meu Senhor?
Há quem goste de ler em barzinhos, cafés, bancos de jardim, viagens de ônibus, locais
públicos, em meio ao ruído de bicicletas, motos, carros, pessoas, etc. Outras, como eu,
preferem ler em casa, no silêncio de um espaço separado.
Sei que começamos falando de alhos e terminamos falando de bugalhos. Mas essa é a
vantagem de escrever sem a censura de um editor. Podemos deixar nosso livro da maneira
que quisermos.
14/5/2022.
Os Direitos Humanos Estão Ultrapassados.
Quando falamos em direitos humanos, estamos falando dos direitos dos seres
humanos. Esquecemos dos direitos das plantas, da água, da terra, dos mares, dos pássaros,
dos peixes, dos batráquios, dos répteis, dos insetos, de toda uma infinidade de formas de vida.
Ou seja, essa história dos direitos humanos remonta a um tempo em que não havia a
preocupação com o aquecimento global.
Devemos pensar que todas as formas de vida, reconhecidas como tal, ou não, pelos
seres humanos, têm seus direitos de sobrevivência, para mantermos um ecossistema saudável
e uma biosfera completamente viva.
Não podemos, por exemplo, explodir pedras ou montanhas, a fim de construir
estradas. Não podemos extrair recursos minerais para usá-los como fonte de energia ou de
riqueza.
É necessário imediatamente repensarmos nosso sistema econômico. A invenção do
dinheiro foi a grande culpada de nossa decadência humana, ecológica e espiritual. Mesmo
para os não-crentes, a espiritualidade existe, na forma de transformação dos elementos.
6/8/2022.
A Arte Não Está Nos Museus, Nem Nas Galerias, Nem Nas Casas
Dos Ricos, Nem Nos Cofres.
A classificação da arte em estilos, gêneros, épocas históricas, está completamente
ultrapassada.
Na verdade, ela nunca existiu. Só sobrevive como maneira de servir às classes dos
poderosos, seja de aristocratas, seja de grandes empresários e banqueiros, assim como de
governos autoritários e de nações conquistadoras.
A arte não deve ser julgada. Nem classificada.
É um grande erro existirem prêmios para obras literárias, poemas, canções, obras
musicais em geral, pinturas, murais, desenhos, gravuras, fotografias, esculturas, múltiplos,
instalações, arte corpórea, assim como para obras de artesanato, ou qualquer forma de
expressão humana.
Arte é fruto de sentimento, e sentimento não pode ser julgado. Nem valorado: como
colocar preço num sentimento, que é o que fazem quando põem preço numa obra de arte ou
de artesanato?
“Arte é tudo aquilo que é perfeitamente imperfeito.” Segundo Brené Brown, em seu
livro “A Coragem de ser Imperfeito”, capítulo quatro, essa seria uma citação do ilustrador
Nicholas Wilton. É um conceito interessante, pois infere na questão da humanidade da arte.
Se a arte é um produto do sentimento humano, como classificar a humanidade,
colocar um ser mais importante que outro, mais “caro” que outro, de maior valor que outro.
“O gênio do poeta perde o seu calor, se o espírito do leitor não atinge a mesma
vibração. Para que ele a sinta, torna-se necessário que essa vibração se comunique.” Tal
reflexão é de Emily Saint-Aubert, uma jovem, personagem principal do livro “Os Mistérios do
Castelo de Udolpho”, também chamado simplesmente de “Os Mistérios de Udolfo”, e se
encontra no capítulo XXVI – “A Canção da Gasconha”.
A obra foi primeiramente publicada em 1794. É considerada uma das pioneiras da
literatura gótica. Sua autora, Ann Radcliffe, influenciou muitos autores. Ela foi a primeira
mulher a se aventurar nesse estilo. Mas estamos aqui para falar sobre a ponderação de Emily.
Na verdade, o que ela fala em termos de poesia, pode ser estendido para toda e qualquer
forma de arte.
O que a srta. Saint-Aubert chama de vibração, é o que tenho chamado, até antes de ler
esse trecho, de inconsciente. Sempre escrevi que a verdadeira vocação da obra de arte é o que
ela comunica diretamente do inconsciente de quem a produziu para o de quem a consome.
Todavia, a forma de expressão de Ann Radcliffe é muito mais elegante.
Pois bem. Como dar preço ao produto do inconsciente das pessoas, ou, como diz Ann
Radcliffe, à comunicação da vibração do espírito?
A obra de arte não pode ter valor de julgamento. Ela pode ter um preço como produto,
mas aí deixa de ser arte, passa a ser objeto de consumo.
O mecenato sempre comprometeu a verdadeira vocação dos artistas, que passam a
dedicar suas vidas a uma única forma de expressão, a que vende mais, a que mais agrada a
quem detenha o poder, seja ele político, econômico ou religioso.
Os poderosos gastam dinheiro ou posses em objetos chamados de obras de arte ou
artesanato, e os mantém fechados em museus, nem sempre à vista do povo; em galerias, que
exploram os artistas em troca de, digamos, cinquenta por cento da venda das obras; ou
trancadas em suas mansões, apenas reservadas às vistas dos privilegiados. Ou, pecado maior,
trancadas em seus cofres.
A arte está nas mãos dos artistas livres, que não dependem dela para sua
sobrevivência. Está nas ruas, nas praças, nos muros das cidades, nas casas das pessoas
comuns, que a produzem e a consomem, sem necessariamente ter que gastar dinheiro para
isso.
8/8/2022.
E o Clube Atlético Santista foi abaixo...
Há anos não tinha mais os seus concorridos, icônicos, famosos, bem investidos e
festejados bailes de carnaval. E por que não?
Ora, quem precisa de baile de carnaval hoje em dia?
A repressão social é bem menor agora que até, digamos, dez anos atrás. Os costumes
mudaram, as normas de vestimentas mudaram, tudo mudou.
Não precisamos mais de bailes de carnaval para vestirmos roupas de outro sexo, que
não seja o nosso. Não ligamos mais para isso, a não ser os homofóbicos de plantão.
Não precisamos mais de bailes de carnaval para tirarmos a gravata e usarmos roupas
coloridas. Quem usa gravata, o faz porque quer, ou porque a profissão (poucas) recomenda.
Roupas coloridas são a norma. Ou camisas pretas com figuras de bandas de rock. Ou
simplesmente roupa totalmente preta. Ou totalmente branca. Ou totalmente da cor – ou das
cores – que o freguês quiser.
Não precisamos mais de bailes de carnaval para cantarmos canções de duplo sentido.
Já vigem durante o ano inteiro, nas paradas de sucesso, canções assim, nas mais variadas
formas, gêneros e estilos. Estão aí para todos os gostos. O ano inteiro.
Não precisamos mais de bailes de carnaval para sairmos meio pelados na rua. As
normas sociais já nos permitem isso. Ninguém tem nada a ver se a gente decide sair de casa de
chinelo, bermuda e camiseta.
Não precisamos mais dos bailes de carnaval. É por isso que o Clube Atlético Santista
não os tinha mais.
Porém, isso não era razão para ter sido abandonado do jeito que foi. Parece que tudo
foi uma armação para deixar que se deteriorasse, a fim de construírem uma torre no local.
Esse parece ser o futuro da cidade de Santos: um município repleto de torres, tapando
o maravilhoso sol, que sempre iluminou essa cidade em que conheci minha esposa em 1981.
Cidade que morei e com a qual convivi, e muito aprendi, durante cinco anos.
12/8/2022
Eu tinha a dizer que escolhi o verso que fala sobre o cruzamento,
pois nós temos dois ouvidos, dois olhos, duas narinas, dois braços, duas mãos, duas pernas,
dois pés, dois lobos cerebrais, etc, porque vivemos num mundo de percepções de quatro
dimensões: comprimento, largura, altura e tempo. A dança é o movimento do corpo num
espaço de quatro dimensões. Os galos movimentam espacialmente seus cantares. eles
entretecem suas teias numa tessitura espacial, quatro dimensões.
Novembro de 2022.
2022.
Pássaros.
Todos os dias
Os pássaros vêm e vão
De nosso jardim
16/11/2022.
Desperta para o sonho.
Desperta para o sonho.
Então encontraremos a realidade.
Desperta para o sonho.
Então encontraremos o laboratório.
Desperta para o sonho.
Então encontraremos o labirinto.
Desperta.
A verdadeira realidade está ao nosso alcance.
2022.
∞.
Existe fisicamente o infinito?
Ele acontece fora de nosso pensamento?
O que existe além dele?
2022.
Singularidade.
A expansão do universo é proporcional?
2022.
Tempo.
O presente está apenas em nós mesmos
Todo o resto é passado.
2022.
Multiverso.
Somos habitantes de uma espacialidade
Dentro de outra espacialidade
Dentro de outra ...
Ao lado de múltiplas outras
No mesmo espaço que múltiplas outras
2022.
Horizonte de eventos.
O que acontece naquele lugar
Que já não é um lugar?
O fim da existência?
O portal para uma nova existência?
Ou até outra existência?
2022.
Vidamorte
VITAE MORTIS
VIDA MORTE
VIDA MORTA
MORTE VIVA
MORTE VITAL
VITAE MORTIS
VIDA
1234
4
A VIDA É SEMPRE MORTE
A MORTE É SEMPRE VIDA
MORTEVIDA
VIDAMORTE
4
O 4 É O NÚMERO DA MORTE
O 4 É O NÚMERO DA VIDA
O 4 É A PASSAGEM
DA MORTE PARA A VIDA
DA VIDA PARA A MORTE
4
1980 a 2022.
Sobre O Autor.
Leopoldo Luiz Rodrigues Pontes é meu nome. Nasci às 4 e meia da manhã, do dia 4 de
abril de 1958, no bairro da Lapa, na cidade de São Paulo.
No final dos anos 1970 e início dos 80, publiquei uma série de livros de poemas, por
conta própria, na base do mimeógrafo e do off-set. Tentei fazer alguns para educação popular,
mas não foram para frente.
Enveredei pelas artes plásticas e pela música. Fiz várias exposições individuais e
participei de coletivas. Fui solista de guitarra e cantei, em várias bandas de rock que não
duraram quase nada.
Individualmente, toquei vários outros instrumentos, não só de corda, mas também,
muito mal, de sopro e percussão. Sempre de ouvido, embora tenha estudado profundamente
música, o que ainda o faço.
Minha formação acadêmica inclui jornalismo em Santos e direito em Taubaté, além de
meia-pós-graduação em comunicação social e uma pós-graduação em língua portuguesa e
literatura. E vários pequenos cursos adicionais, incluindo extensões, todos presenciais, que é o
que existia naquele tempo. Agora, por último, terminei um curso de psicanálise clínica.
Meu primeiro emprego foi ajudar meu pai no depósito de artigos de época, fazendo
pacotes, atendendo a freguesia, carregando mercadoria, auxiliando no escritório, e fazendo
contas.
Depois vagabundeei um pouco e fui ser cobrador. Passou um tempo e voltei a
vagabundear, para depois atuar com artes plásticas e antiguidades. O dinheiro não dava para
nada.
Aí, recebi uma pequena herança e abri uma lanchonete que era também uma casa de
chá. Logo, minha esposa estava participando, até que, de repente, passou a cuidar sozinha do
local.
Nesse meio tempo, fui chamado como redator e repórter da Rádio Emissora de
Campos do Jordão. Depois, concomitantemente, fui empregado de diversos jornais escritos,
como diretor de redação, fotógrafo, editor, redator, repórter, diagramador, etc, tudo ao
mesmo tempo, já que eram jornais pequenos.
Nessa época, escrevi pra burro, tudo quanto eram notícias, editoriais, resenhas, entre
outras coisas. Mas nunca fui convidado para a Academia Jordanense de Letras.
Também trabalhei, uns meses, como jornalista da prefeitura, o que me garantiu uns
bicos em períodos eleitorais.
Como jornalista, fiz ainda alguns frilas e uma correspondência por três meses tórridos!
Noutra época, meus finais de semana eram tomados por uma galeria de arte de
Campos do Jordão.
Quando fui demitido da Rádio Emissora, comecei a trabalhar como advogado, e logo
fui chamado pela Sabesp, para a qual havia prestado concurso, em Caraguatatuba, onde
trabalhei como atendente a consumidores.
Minha aposentadoria foi pela Sabesp.
Moro atualmente no litoral norte do estado de São Paulo. Meus hobbies são: ouvir
discos de vinil, desenhar, fazer colagens, escrever, tocar violão, ler muito, e ver filmes e séries.
E fazer cursos e oficinas pela internet.
Alguns dias antes do Natal de 2021, tive um acidente doméstico em que quebrei o
ombro e o braço esquerdos. Soma-se a isso meus acidentes anteriores, no cotovelo e no
tornozelo direitos, e uma danação na coluna. Fora isso, estou bem. Fazendo eventuais
fisioterapias, me alimentando, etc.
Só a cabeça não anda lá essas coisas. Por isso escrevo, para preservar minha memória
para o futuro. Sim. Eu acredito no futuro.
Contato: leopoldopontes21@gmail.com
Fim.
índice:
Jimi pela manhã...........................................................................................................................7
Eles me ensinaram.......................................................................................................................8
Tempo-espaço-memória-movimento..........................................................................................9
METRÓPOLE II............................................................................................................................10
Apolo, Deus Da Luz.....................................................................................................................16
Suíte Nº1 Em Sol Maior Para Violoncelo, De Bach.....................................................................17
1.2.3.4........................................................................................................................................18
Tempo ido..................................................................................................................................19
O Dia De Hoje É O Primeiro De Nossa Vida................................................................................23
Apreciar Arte É Como Comer Uma Laranja................................................................................24
Começando A Falar De Alhos E Terminando A Falar De Bugalhos..............................................27
Os Direitos Humanos Estão Ultrapassados.................................................................................29
A Arte Não Está Nos Museus, Nem Nas Galerias, Nem Nas Casas Dos Ricos, Nem Nos Cofres..30
E o Clube Atlético Santista foi abaixo.........................................................................................32
Eu tinha a dizer que escolhi o verso que fala sobre o cruzamento,............................................33
Ser humano................................................................................................................................34
Pássaros.....................................................................................................................................35
Desperta para o sonho...............................................................................................................36
∞................................................................................................................................................37
Singularidade..............................................................................................................................38
Tempo........................................................................................................................................39
Multiverso..................................................................................................................................40
Horizonte de eventos.................................................................................................................41
Vidamorte..................................................................................................................................42
Sobre O Autor............................................................................................................................43
Livros e e-Books de Leopoldo Pontes:........................................................................................45