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60 anos do Poeta Bento Nascimento

O MEU AMOR GOSTA DE FLORES


meu amor gosta de flores,
segura uma flor do campo na mão
como fosse uma princesa
e gosta do mar.

O meu amor gosta tanto do mar


e, às vezes, com a flor ainda nas mãos,
seus olhos mergulham no horizonte
- é quando estremeço -
temo que não volte,
fique presa entre os corais

NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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60 anos do Poeta Bento Nascimento

ÀS VEZES ME FINJO DE VOCÊ

Às vezes me finjo de você


e beijo minhas mãos.

Às vezes mordo os lábios


num desejo que você
sem querer pense em mim.

ANTES DE INVENTAREM A LOUCURA

NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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Antes de inventarem a loucura,


ela já era louca,
mas esperou você chegar
para sentir amor pela primeira vez.

Quando as flores eram gérmenes


da imaginação de algum gnomo encarcerado,
ela o esperava pra sentir isso por você.

Antes de um mundo tão certo,


esse do mesmo molde de seu paletó,
havia outros onde se inventavam castelos
e ela fez o de torres mais altas,
enfeitou com açucenas e estrelas
esperou tão intensa por você,
mas você era de vidro.

TODOS OS DIAS DE MINHA VIDA

Todos os dias de minha vida


a minha estrela brilha
NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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a minha estrada mostra onde


encontrar você
eu sigo
na chuva, no sol
eu vou por esse caminho de flores
de espinhos
eu vou por onde deve andar você
eu vou à sua procura
e quem sabe nunca te encontre
mas por mais que você seja inatingível,
tenho, ao menos,
a alegria de estar à sua procura

QUANTAS CONCHAS AINDA CABEM NA


TUA MÃO

Quantas conchas ainda cabem na tua mão


para vocè parar de ajuntá-las
e prestar mais atenção
NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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que eu te sigo na praia?

Datam longe meus rastros na areia


a mesma idade da tua distração
e se teu caso são conchas vazias
(eu sem você)
por que não colecionas
a concha que é meu coração

COLOQUEI VOCÊ POR ÚLTIMO NA MINHA


VIDA

Coloquei vocé por último na minha vida


e nessa ordem que eu coloquei
as coisas,
NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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tantas fora do lugar


dentro de mim,
que quando vem a solidão
Os primeiros nunca sei
onde procurar…

Então procuro lá no fim


da fila
por você.

NA CALADA DA NOITE

Na calada da noite a população Na calada da noite ninguém nota


aumenta, quantas meninas fogem,
aumenta a solidão, quantas formigas morrem,
a saudade aumenta, quantos objetivos - não
aumenta o preço do pão, identificados -
aumenta tudo. chegam à terra
A calada da noite para saudar a primavera.
não é tão calada assim: E assim a noite passa,
há buzinas em todas as partes, calada traz desgraça.
poluindo as galerias de artes Depois de horas de agonias,
Há quem grita: nasceu o filho do Zé e acaba de
- O motoqueiro bateu! raiar o dia
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2007.

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- Onde?
- Perto do supermercado!
- Feriu-se?
- Não, morreu!
Há um assalto na esquina:
os ladrões correm,
os policiais atiram
e só acertam no mecânico
que saia da oficina,
que se atira pelo chão,
morto, esvaindo-se em sangue
E alguém hoje perguntará:
- Papai está demorando, não?
Na calada da noite
tem gente jantando TV.
"Seja louvada a TV!"
Tem um homem virando
lobisomem.
Há solução em um quarto,
a mulher do Zé vai dar a luz.

VIDA É PRA VIVER

Vida é pra viver.


Chiclete a gente masca.
Máquina de lavar roupa
lava roupa.
Vassoura serve para varrer.
Lixo pra pôr no lixeiro, jogar fora.
Água limpa, em todos os casos, molha.
Flor enfeita o mundo etc.
Sol é ótimo!
Bom-bril tem mil e uma utilidades.
Banana se come.
Ovo se tenta colocá-lo em pé.
NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
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Mel mela.
Rua a gente anda nela,
noutras ruas a gente se perde ou é assaltado.
Maçā dá água na boca.
Boca é sensual.
Beijo mexe.
Omo faz bolha..
Papel-higiênico limpa a bunda
Lua é lua.
Tudo tem sua utilidade:
lágrimas, palavrão, leis, dias,
nomes, sonhos, ócio, inseto, galpão,
mãos, veneno, morte, descuido, uretra,
sangue, ostra, urubu, cão.

Pense bem, você deve servir para


alguma coisa também!

VOCÊS QUE CRIARAM A BOMBA


Vocês que criaram a bomba
não nasceram em ventres
não tiveram mães
Vocês que criaram a morte
não tiveram infância
não tomaram banhos em rios
não soltaram papagaios
Vocês que inventaram a destruição
não cometem erros
porque os erros são faltas humanas
errando é que se aprende
mas vocês que já nasceram sábios
não têm nem tempo para errar
suas armas são eficazes
suas guerras são perfeitas!
NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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Vocês que criaram a bomba
nunca geraram filhos
nunca tiveram amigos
nunca dançaram
nunca apanharam chuva
nunca precisam de Deus.
Vocês que inventaram a bomba
nunca tiveram vida
porque são filhos da própria morte!

PEÇO PERDÃO A TODOS

Peço perdão a todos


pelas cartas que não respondi
pelas visitas que não fiz
pelos compromissos descumpridos

Às vezes parava
para colocar tantos assuntos
em dia
passar a limpo um amontoado
de verdades rabiscadas
mas de nada valia a minha intenção
pois de imediato
a poltrona me convidava para
o deleite da preguiça
ou o vento vinha com propostas
tentadoras e eu aceitava
e safa pelas ruas:
NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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a orla marítima é tão linda!

Mil perdões pelos postais


que jamais mandei
pelos livros que não devolvi
pelos endereços perdidos nas gavetas do tempo

CLIMA

Hoje, pelo clima, é o dia propício


para caçar borboletas no teu sótão,
catar cogumelos no seu porão,
pescar lambaris na sua sala,
Quem sabe você se sature
das mordomias dos seus amigos folgados,
Todos pendurados no varal de acrílico
e descarregue sua raiva dando uma surra
num bando de luzes que brincam atrás do morro.
Outrora tinha uma cara cruel
e matava os cachorros nas tardes.
Mentia para sua mãe,
comia uvas com leite na dispensa
e amava ser assim,
mas nesse clima
você e seu olhar de carbono
afastam os espíritos bons e maus.
Você pára, medita demais
NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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Você esconde os miosótis
para não mais vê-los
e com qualquer vírus de vermute
cai em eterna ressaca.

QUEM ME DERA PRENDER A TARDE PELAS ASAS


Quem me dera prender a tarde pelas asas
e conservá-la profundamente em éter
ou no álcool dentro de um copo.

Guardá-la sempre e proteger o azul


fundo das antenas cristalizadas.

Olhar de repente
e lá na estante
uma tarde inteira guardada.

NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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ANÉIS E FESTAS
Não me importa
se minhas mãos estão vazias
e o meu sorriso não oferece
a claridade da minha plenitude
nem me importa a solidão.
Dentro de mim
está uma imensa plataforma de sonhos e sombras,
além de outros conceitos
que preciso verificar
porque ainda não floresceram.
Sei que criei laços
e, em outros lugares,
em casebres, em palácios,
alguém que não me conhece
ouve a canção
que eu ensinei aos pássaros.
NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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Contento-me em estar comigo,


com meu silêncio de peixe
minhas asas de ventos,
meus anéis e festas particulares,
sapos de estimação e luas presas em aquários.
Trago na pele

EU QUERIA SER TRISTE COMO O MAR

Eu queria ser triste como o mar


e não ser triste assim
porque a minha tristeza
nasce de uma dor vulgar

E a tristeza do mar é diferente:


ele só é triste
porque se compadece de mim

NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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NÃO MAIS LAVAR AS MÃOS


Não mais lavar as mãos
e deixar crescer lagartos
debaixo das unhas.

Não lavar a boca


e sobre a língua procriar
javalis do mato.

Não mais higienizar o espírito


e ficar na frente de casa
tomando sol pelo resto da vida.

NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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PRECISO DE VOCÊ ME OLHANDO


Preciso de você me olhando
me amparando ali
na borda do meu caixão

E fique durante a noite


ouvindo rádio de pilha
comendo pão com salsichas
na borda do meu caixão

E reze, e ore, e desfaleça


e ria, represente a sentença
e se coce entre as pernas
e espante todas as moscas
na borda do meu caixão

Oh! como é fundamental a vida


você ali presente
NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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vendo eu morto e inchado


rindo do mundo aliviado
você e as velas tão iguais
na borda do meu caixão

Eu te vi no baile
Eu te vi no baile
e me apaixonei
É triste não ter um contato
mas vou conseguir pelo menos
uma amizade complexa.
Você é um motivo a mais.
Há bailes que vem para bem

NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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NÃO IMPORTA QUAL A PORTA


Não imponta qual a porta
desde que me leve para a nua
desde que me leve ao ponto de ônibus
desde que me leve a Porto Belo

E por onde eu for não importa o caminho


se é de pedra ou de barro
desde que eu encontre pessoas
gente com óculos escuros
cheiro de mar e mato
insetos, poeira, Sol

Não importa a hora da chegada


importa que eu chegue
importa que me acolham

que eu me sinta bem

NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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A primeira vez que te vi

A primeira vez que te vi


estavas atrás do balcão
e já na primeira vez
eu te via pela metade

Depois não mais te cruzei

Pensei, e já era meio tarde.


E de tudo, por fim,
restou essa estranha meia saudade.

NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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60 anos do Poeta Bento Nascimento

Quando você sorriu


Quando você sorriu
eu descobri que você já foi piranha
e eu me lembrei
dos áureos tempos de tubarão
quando eu comia surfistas
e mastigava os turistas
e engolia os banhistas
seus óculos e seu maiôs

pecado é uma coisa marinha


e os mariscos
não me deixam mentir

NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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QUANDO SAÍRAM PELO MUNDO

Quando saíram pelo mundo


a expressão era de quem esteve lá.
Participaram das santas orgias
e de míseras ceias.
Uniram-se a partidos que defendiam o verde
e outros tons limosos.

Amavam-se ou saíam juntos


para que o amor de outrem jamais chegasse perto.
Nem sempre estavam em sintonia,
mas ambos estavam sempre
na mesma canção.

Bebiam e bordavam.
Um dia perdera o anel - o outro achou.
Uma tarde um chorou - o outro engoliu em seco.
Uma noite ambos se distraíram
e se beijaram na boca.

OS PRIMEIROS ASTRONAUTAS
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2007.

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Os primeiros astronautas
pisaram no solo do seu coração
e ficaram na cratera
grudados num chiclete.

Eram os seus primeiros amores,


todos bem equipados pela tecnologia,
mas a ciência não foi eficaz
e deixou-os perdidos nos aurículos da paixão.

As primeiras fotos da terra


vistas do seu coração.
Fulgura em todos os jornais,
mas os pioneiros enamorados
se extraviaram na jornada
e ficaram sobre o chão vermelho
tomando suco de morango
dentro de você.

O QUE ESTRAGA EM TI, PRINCESA


O que estraga em ti, princesa,
foi ontem quando à noite balançava
NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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e não caía
você me olhou com desprezo
como se eu tivesse culpas
das coisas serem normais
e as abotoaduras estarem sempre
onde você as guardou.

Você não acredita em mim,


nunca acreditou
e me culpa de coisas que eu
sou descontentamente inocente
Eu juro a ela
que se o sol nasce e brinda
de dourado os campos de orvalhos
todos os dias,
não tenho nada a ver com isso.

CARISMA? NÃO É SÓ CARISMA

Carisma? Não é só carisma


Você simplesmente acorrenta as pessoas a você.
Todos babam por ti.
Todos querem ficar dentro do teu bolso
NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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para contar quantas vezes bate seu
coração por dia.
Luz? Não apenas luz.
São trevas e luz.
A ternura que oscila em teu semblante.
E se seus olhos me atraem pela
pureza que és
tua boca é a forma do inferno
- uma fruta madura -
que tem a polpa mais louca.

Louca!

Você devia, pela censura da natureza,


ter proibida tua exibição às outras pessoas.

Os últimos ciganos
Se eu explicasse
como que cheguei aqui
acabaria com toda magia
que foi vir

Importa agora
o abraço da chegada
NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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a alegria do encontro
o fato de estarmos juntos

Se eu tiver de explicar
o motivo de ter que partir
vai quebrar o encanto
de estarmos aqui

OLHAI AS BEGÔNIAS
Nas minhas viagens
eu deixo a bagagem
em casa
O lugar das malas
é em cima do guarda-roupa.

Vou de carona

NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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com o vento
na mira do cata-vento.

Vão dizer que eu vivo de brisa


Até vivo! Mas não sou quadrado
e me viro,
também não sou nenhum burro.

Olhaste? Quase primavera

Você que vive me ensinando


as regras da vida,
e enfiando a Bíblia em tudo,
me explica:
onde fica o estômago da maçă
que eu mordi?
Disserte sobre os pêlos dos pêssegos.
Como se comporta um hindu
depois de pisar na Lua?

NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
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Olha, eu sou cheio de luas cheias
e tenho uma maré
para cada mar,
um bejo para cada segredo.
um abraço para cada par de braços
ao meu encontro,
um girassol para cada dia de sol.

Eu tenho uma dor


só para doer,
outra dor só para ir compreendendo,
outra por amar demais.

OS SEUS OLHOS NÃO OS PUDE ALCANÇAR

Os seus olhos não os pude alcançar,


porque a não existência do tempo
exigia a inércia dos meus sentidos
e calar a minha história
caiu como luva.

Mas a enorme flor de maracujá


nascida de um nó na garganta, buliu o momento,
e mais o vento na cortina, contando coisas de fora,
provocaram a minha desobediência

NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
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pelo buraco da fechadura
o meu olhar se deleitou
com você de costas fumando
a fumaça de seu cigarro.
Eu não esqueço,
criava continentes aéreos,
a alegria era apenas uma névoa
e eu amei quem talvez
pudesse ter olhos para mim,
alguém de costas para mim,
para meu abissal desejo
de ser feliz.

ELE SEMPRE ME PARECEU UM CACTUS


Ele sempre me pareceu um cáctus
cheio de espinhas

mas um dia olhando em sua volta


aquele enorme deserto
tive a certeza
era mesmo um cáctus

NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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TRAVA

Trava o teu olhar


na mesmice do mesmo.
Nós somos as personagens
do ano em que passamos bebendo.

Se existiu amor algum dia,


isso nada significa.
Se sentimos algum tipo de sentimento,
isso não mais pesa.
Nós somos as rosas travadas
do ano em que vivemos
sem primavera.

Apesar de estar solitário,


NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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60 anos do Poeta Bento Nascimento
vivendo de sais de frutas,
não estou vazando.
Hoje pode muito bem
ser substituído por um amanhã
e eu te amo.

Este é mais um ano


em que passei te amando.

MEU MUNDO ÀS VEZES É TÃO PEQUENO

Meu mundo às vezes é tão pequeno,


que eu fico esbarrando em mim.
Muitas vezes é tão grande,
que não sei por onde devo estar.

NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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60 anos do Poeta Bento Nascimento

EU TE VI NO BAILE
Eu te vi no baile
e me apaixonei.

É triste não ter um contato


mas vou conseguir pelo menos
uma amizade complexa.
Você é um motivo a mais.
Há bailes que vem pra bem.

NASCIMENTO, Bento. Aos Vivos. Itajaí: Ed.Maria do Cais: Ed. Oficina da Palavra,
2007.

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