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Editoração, Diagramação e
Confecção de Capa Yara Dias
Revisão Marilda Fátima Dias
Impresso no Brasil
198 p.
EDITORA UNEMAT
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U "" L p., A I
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 5
PARTE I
DISCURSO, LEITURA E ESCRITA
Um dos aspectos centrais deste tema diz respeito ao exercício do poder conferido
pela escrita. O professor, por estar em certa medida imerso num universo propício à
escrita, onde ela teria assegurada sua razão de ser, pode ser visto como alguém que
não sofre as consequências do seu grau de domínio da escrita. No entanto, o fato de o
professor ter acesso a diferentes tipos de escrita, principal e obrigatoriamente àqueles que
dão os contornos de sua profissão, não significa que ele esteja em condições de igualdade
quanto ao exercício do poder que eles propiciam.
Observar a trajetória do conhecimento, desde sua produção e seu registro escrito
até sua chegada ao professor e, pela sua ação, ao aluno, pode ser esclarecedor para a
compreensão das restrições que se impõem aos professores pelo uso da escrita.
I Professor de Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa na Faculdade de Educação da USP. Professor dos
programas de Pós-Graduação em Educação-FE/USP e Filologia e Língua Portuguesa-FFLCH/USP
2 A palavra proposta está sendo usada aqui.para recobrir as publicações oficiais denominadas subsídios, orien-
tações, diretrizes, parâmetros entre outros.
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Organizadores: Rejane C~nturion, Mônica Cruz e Isaías Munis Batista
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agora não mais apenas àquelas que de fato produzem conhecimento, mas a um número
muito maior, uma vez que o espaço geográfico que o repasse deve recobrir é bastante
extenso. Isso faz com que, na fase de divulgação das propostas, atuem também as
Universidades que apenas se dispõem a repassar o conhecimento, ou as tendências.
Há também o repasse voluntário, presente em Instituições de Ensino Superior de todos
os tipos, que se dedicam a aplicar as novas propostas e, frequentemente, atestar sua
eficiência.
Por sua vez, aqueles que recebem este conhecimento o repassam a outros
repassadores, até que ele chegue ao professor que está em sala de aula. Como resultado
temos algo que se assemelha ao que se faz na brincadeira conhecida de todos: o telefone
sem fio.
No interior da escola é comum haver resistência à implantação das novas
propostas, seja devido à cultura que lhe é própria, seja porque os professores já conhecem
este processo, dado que a ele foram submetidos várias vezes, em diferentes mandatos, e
já não confiam mais em sua eficácia.
Há que se reconhecer, no entanto, que a resistência feita no interior da escola
nem sempre resulta em proveito para o professor ou para o aluno, pois não é raro que essa
resistência sej a encarada por pesquisadores universitários ou por órgãos burocráticos como
falta de disposição para a mudança, como conservadorismo, e não como a manifestação
de falhas no processo, como em sua formação, por exemplo. No entanto, mesmo se
tratando de deficiência na formação inicial destes professores, é preciso considerar que
o estabelecimento destas possibilidades precárias de formação em cursos superiores se
deu porque conquistaram aceitação mais ampla e não apenas a simpatia de seus alunos.
No que conceme ao ensino de Língua Portuguesa, após os anos 80,
podemos identificar vários destes episódios de resistência considerados como falta
de conhecimento. Em função do embate estabelecido nesta década, visando retirar a
gramática do centro das aulas de Língua Portuguesa para colocar a leitura e a produção
de textos, encontramos afirmações desabonadoras ao trabalho do professor sempre que
ele foi "fíagrado" ensinando gramática.
Episódios semelhantes podem ser observados nas séries iniciais. Se o professor
trabalha com a noção de alfabetização e não de letramento, ou se ele insere em sua prática
exercícios de decodificação, de silabação, e não apenas aqueles considerados propícios
à "construção do conhecimento'? , o que se costuma afirmar é que "ele ainda não está
preparado ou não está seguro para mudanças" , e dificilmente "ele conhece, mas não
'é essa sua opção", ou "ele segue outra tendência, mas é competente". Poucas são as
afirmações que atribuem um saber ao professor. A ele atribui-se mais frequentemente
uma falta.
3 Com expressão quero apenas mencionar, sem entrar em detalhes, a vertente que ficou conhecida por cons-
trutivismo.
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suas ações por meio da escrita, portanto, condenados a submeter-se à palavra escrita de
terceiros, não trabalhariam também para submeter outros sujeitos à escrita de terceiros?
O mundo letrado, portanto, não teria encontrado uma fórmula extremamente eficaz para
manter o controle, retirando de um grupo bastante significativo, o acesso à escrita?
Referências Bibliográficas
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