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Iris Albuquerque

Poderia ter sido você


Copyright © by Iris Albuquerque

Direitos Autorais reservados de acordo com a Lei 9.610/98

Foto capa – Dayvid Benner


(www.flickr.com/minhasfotos_rasgadas)

Revisão – Elton da Fontoura


efinformatica.elton@gmail.com

Diagramação – Iris Albuquerque


iris.albuquerque@gmail.com
Dedicado aos meus sobrinhos Orionn, Erídano e Júnior
que muito me surpreenderam com suas descobertas no
mundo real, e me enlouqueceram várias vezes com
barulhos constantes de jogos, filmes e conversas até tarde
da noite, fazendo-me imaginar as

mais cruéis histórias de ficção.

Calem a boca!!
Agradeço aos meus sobrinhos que despertaram em
mim o desejo de escrever sobre esse tema. Aos meus
pais, irmãos e cunhadas, pelo constante apoio.

Ao meu amigo Elton da Fontoura, que me ajudou


com a revisão desse livro e que sempre me motiva a
continuar escrevendo. À minha amiga Daniele Cristine,
minha fã número 1, que lê tudo que eu escrevo,
alimentando essa minha mania de escritora.

Minha prima Paloma Albuquerque, sempre disposta


a me ajudar com tudo. Obrigada, prima!

Ao pequeno grande homem, André Henrique, 12


anos, desenhista com um futuro brilhante, que me
presentou com sua obra, fixada na primeira página desse
livro.

E por último, não menos importante, pelo contrário,


meu marido Gomes Francisco, por entender e respeitar
meu tempo dedicado a criação de meus livros. Amo você!
Comprar “o pão nosso de cada dia” , foi a ignição
para que a Escritora Iris Albuquerque construísse e
conduzisse ao longo de dez capítulos, uma história com
um único poder de mistério.
“De onde vem a Coragem?” conta um sentimento
nada convencional de um Escritor do porvir, que ao lado
de alguns personagens, vive a realidade ausente, diante
da aparência.
A doença do poder e da ganância, continua se
especializando, e uma nova maneira de expandir as
drogas pelo planeta, é descoberta por vilões obscuros.
Será que esse segredo, esta inusitada forma de
espalhar entorpecentes, será deflagrada por investigações
amadoras, ou o crime desta vez, compensará?
Viva esse enigma do primeiro ao último capítulo!
Com linguagem acessível, Iris consegue transpor a
barreira do mistério, desafiando o leitor a interpretar esta
trama nada previsível.
A ficção muitas vezes, é a fantasia prematura da
realidade.
Descubra você, onde está a sua coragem, para
absorver o insólito terreno do crime!

Escritor Elton da Fontoura


efinformatica.elton@gmail.com
Todo adolescente já passou por momentos de
conflitos, dúvidas e medo. Em meio a tanta turbulência,
sua mente muitas vezes encontra-se em redemoinhos.
Lembro-me disso, também fui jovem um dia.

Resolvi contar aqui uma ficção envolvente e


marcante para os adolescentes, pois o mistério, a
conquista e claro, as paixões, fazem parte dessa etapa
maravilhosa da vida.

Cada fase que passamos, vivemos um tipo de


evolução. A mais admirável para mim, é a que antecede a
maturidade, ou melhor, a fase da adolescência, pois nessa
idade, podemos criar vidas e personagens sem nos
sentirmos fora de moda. Podemos ler dezenas de livros de
ficção e escrever outras dezenas, e não sermos rotulados.
Nessa fase, podemos sim, viver um pouco mais de
fantasia.

Aqui segue uma história de fácil leitura e


envolvente; quatro jovens, um mistério, e claro, uma
paixão!
Capítulo 1.....................................17
Capítulo 2.....................................19
Capítulo 3.....................................37
Capítulo 4.....................................45
Capítulo 5.....................................55
Capítulo 6.....................................67
Capítulo 7.....................................73
Capítulo 8.....................................85
Capítulo 9.....................................91
Capítulo 10....................................101
Como todo escritor, bastava ter papel e caneta, ou
nada mais que um notebook em seu colo, para seus
dedos começarem a digitar. Começava sempre sem ideia,
no entanto, a cada letra digitada, iam surgindo palavras, e
logo, frases. Dezenas de arquivos!

Arquivos na lixeira. E pior, lixeira esvaziada!

− Por que você apagou aquele texto? Estava ótimo!


– questionou ao franzir a testa.

− Sua opinião não conta. Você é meu amigo!

− Claro que conta. Vamos lá, pegue-o de volta na


lixeira! – tentando segurar o mouse

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− Já esvaziei a lixeira! – segurando firme a mão do
amigo.

− Eu conheço um cara que pode recuperar isso


para você, me dá esse notebook.

− Não! Eu não vou deixar que ninguém leia meus


textos e o livro que deletei. – colocando-se à frente da sua
máquina.

− Como pode? Você deletou um livro também? Não


existe e nunca existirá um escritor que não goste que as
pessoas leiam seus textos? – sacodindo a cabeça
negativamente.

− Eu não sou escritor, ok?

− Você é o melhor escritor que já conheci!

− Claro! Você nunca conheceu nenhum escritor…

− Bom... isso é verdade! Mas você é um ótimo


escritor! Apenas precisa ter mais coragem.

− De onde vem a coragem?

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


Era final de tarde de quinta-feira, a rua estava
deserta, primavera de chuva, que mais parecia inverno. Á
caminho da padaria, Carlos ouviu de longe um barulho,
olhou para os lados e não entendeu o que havia
acontecido. Continuou a andar. Dobrou a esquina e
percebeu uma moça caída no meio da estrada,
aparentemente atropelada.

− Olá! - olhou para os lados, não viu ninguém. –


Olá! – gritou mais alto. – Tem alguém aqui? – abaixou-se
ao seu lado. – Oi, como você está? Pode falar? – a chuva
engrossava. Ele tirou o celular do bolso e ligou para a
emergência.

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Na escuridão da noite, na rua deserta e molhada,
apenas se via o amarelo das luzes dos postes e o
vermelho das luzes da ambulância.

Ainda sem entender como foi parar ali, tentou


procurar pistas do carro que atropelou a jovem moça.
Olhou para ela encantado com sua beleza, e sentiu pena
por imaginar que sentia dor.

− Vamos! Estamos de saída. – falou o socorrista,


fechando a porta de trás do automóvel.

− Vamos? – Carlos perguntou surpreso.

− Sim! Você tem que prestar depoimento.

− Eu? Como assim? Estava indo comprar pão


quando a vi no chão e resolvi ligar para a emergência. – o
jovem passou a mãos em seus cabelos caracolados e
agora molhados, e ajustou a camisa em seu corpo.

− Exatamente isso que deve dizer ao policial de


plantão. Vamos, entre!

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


− Ok! – seguiram para o hospital. O estomago de
Carlos deu sinal de vida. Procurou no bolso da bermuda
um bombom. Assim poderia aguentar a fome até voltar
pra casa.

As ruas até o hospital pareciam ter vida de uma


hora para outra. Pessoas nas ruas, carros, até bicicletas
circulavam, mesmo na chuva.

− Então, como foi que aconteceu? Você a


conhecia? – questionou o policial de plantão.

− Não sei! Eu estava saindo de casa, e quando


cheguei perto da praça, ouvi um barulho que não
consegui identificar. Quando dobrei a esquina, a vi deitada
no chão. Procurei por mais alguém e resolvi ligar para a
emergência.

− Você tocou nela?

− Sim! Toquei no pescoço… apenas para saber se


estava viva. O que houve com ela?

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− Os médicos ainda a estão examinando. O que
mais tem a me dizer?

− Desculpa, mas não sei nada mais do que falei.

− Como foi o barulho que você ouviu?

− Parecia algo caindo. – Carlos tentava lembrar


detalhes daquele momento. − Ela se jogou de alguma
janela? Oh meu Deus, como não parei para pensar nisso?

− Talvez! Ou pode ter sido jogada.

− Meu Deus! Então eu estava sendo observado! –


caminhou de um lado par o outro com as mãos na cabeça,
aproveitando para prender por trás da orelha seus cabelos
pretos, os cachos estavam caindo em seus olhos.

− Talvez! E se você estiver arrependido?

− Você não pode me acusar, eu nem a conhecia! –


falou olhando nos olhos do policial.

− Vamos saber quando ela acordar! – falou


naturalmente.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


Nas caixas de som espalhadas pelos corredores,
ouve-se um alerta:

“Dr. Marques, compareça ao setor de cirurgia.”

− Você precisa preencher esse formulário e depois


pode ir pra casa se quiser. Mas não saia da cidade sem
avisar. Precisamos ter você por perto.

− Como assim? Eu prestei socorro, não posso ser


acusado pelo que houve! – perguntou se sentindo
confuso.

− Preencha e pode ir embora!

− Vou comer algo e volto, quero saber como ela


está! – completou o formulário e saiu.

Na frente do hospital não viu ninguém, como se a


rua tivesse voltado a ficar deserta. As luzes amarelas e
brancas decoravam a avenida. As árvores e arbustos
estavam dançando com o vento, e alguns pingos de chuva
molhavam seu capuz como orvalho num amanhecer.

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− Um cachorro quente, por favor. – Carlos pediu
seu lanche. A cada mordida dada em seu pão, olhava
para os lados.

− Está esperando alguém? – uma mão tocou em


seu ombro.

− Não! – respondeu em voz alta, virando-se


rapidamente. – Quer me matar de susto? Não tem o que
fazer? – perguntou encostando a mão no peito.

− Demorou tanto que resolvi dar uma volta no


quarteirão para tentar achar você. O que faz aqui? Estou
com fome! Um cachorro quente pra mim também, por
favor. – falou ao vendedor.

− Aconteceu algo quando sai de casa. Uma moça


apareceu acidentada na rua e trouxe-a para o hospital.

− E por que não me ligou?

− Desculpa. Não lembrei! Estou confuso até agora.

− Você também se acidentou?

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


− Não!

− E por que seu pé está sangrando? – mordeu seu


pão depois de perguntar.

− Oh meu Deus! Não percebi isso. – olhou


atentamente para o pé. – Não é meu pé, é meu joelho!
Como isso aconteceu? – se perguntou antes de dar uma
mordida em sua pequena refeição.

− Não sei! Talvez você tenha se ajoelhado no chão


para pegar a moça. – dando mais uma abocanhada no
lanche.

− É verdade! Ajoelhei-me sim, mas não senti nada.


Vou entrar e fazer um curativo. – saboreando mais um
pedaço do pão com salsicha.

− Vamos! Vou com você.

“Enfermeira Rose, compareça à enfermaria”.

− Você não sente a área afetada pelo vidro? –


perguntou a enfermeira curiosa.

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− Não! Nem sabia que tinha cortado com um vidro.
– baixou a cabeça para ver melhor.

− Olha aqui! Um pedaço de vidro estava dentro do


seu joelho. É pequeno, mas você deveria sentir. –
apertando o local com o dedo. – Sente isso?

− Não! O que está acontecendo?

− Não sei, vou chamar o Dr. Marques. Só um


momento. – saindo da enfermaria.

− Cara, será que você está dopado? – disse seu


amigo sorrindo.

− Muito estranho. – tocando na ferida. – Não sinto


nada!

− Boa noite! Foi você quem socorreu a moça


jogada na rua? – perguntou Dr. Marques, homem alto,
forte, usando seu jaleco branco preferido.

− Sim! Eu mesmo!

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


− Precisamos recolher um pouco de seu sangue
para exames.

− O senhor não está achando que foi eu quem a


jogou, está?

− Não! Mas ela também está com algumas partes


do corpo dormentes, exatamente onde tinha vidro. – diz o
médico, enquanto a enfermeira retirava um pouco do seu
sangue. – Acho que você vai precisar passar a noite aqui
também. Vamos analisar seu sangue. Precisamos de você
por perto caso o resultado seja o que estou pensando que
é.

− O que está acontecendo doutor? – levantou-se


rapidamente.

− Vamos saber logo mais. Fique aí! – saindo na


companhia de Rose.

− Carlos! O que você fez? – perguntou Paulo,


levantando apenas uma sobrancelha.

− Eu não fiz nada, Paulo! – sacodindo a cabeça.

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− Vou comer outro cachorro quente e já volto. –
Paulo saiu da sala arrastando suas botas de couro.

− Espera um pouco que iremos juntos. – Pediu


Carlos, mas Paulo saiu da enfermaria sem esperar por seu
amigo.

“Dr. Marques comparecer ao laboratório” . Ouvia-se


pelo alto falante.

− Venha! Ela acordou, quer falar com você! – disse


a enfermeira Rose, enquanto centralizava seus óculos no
rosto.

− Como ela está? – perguntou muito curioso.

− Está bem! Bom, acho que está. – franzindo a


testa.

− Como acha que está? – caminhando ao lado da


jovem.

− Não sei, nunca vi algo desse tipo, e olhe que sou


enfermeira há mais de dez anos.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


− Como assim?

− Entre, é aqui! – apontando para a porta do seu


lado direito do corredor.

− Oi! Obrigada por ter salvado minha vida. O


médico falou que se eu não tivesse chegado logo ao
hospital poderia ter morrido. – agradeceu com uma suave
e encantadora voz, aos ouvidos de Carlos.

− Não precisa agradecer. O que houve? Como você


foi parar ali na rua, na chuva? – ainda em pé, de frente
para a paciente.

− Não sei… − pensou um pouco.

− Como não sabe? – levantando as duas


sobrancelhas.

− Eu estava numa festa e de repente estou aqui.


Conte-me o que você viu.

− Nada além de você no chão, desmaiada. – falou


completamente confuso. – Em que festa você estava?

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− Uma festa da faculdade.

− E ninguém sentiu sua falta?

− Não sei, estou sem minha bolsa e meu celular.

− Onde você mora? Já pediu para avisar a alguém


de sua família?

− Moro em Luzern! Já pedi para a enfermeira ligar


para meus pais.

− Menos mal! O que você vai fazer? Não tem


nenhum suspeito? – falou enquanto sentava ao lado dela
na cama.

− Não, não tenho a mínima ideia do que aconteceu


essa noite. – disse ainda muito confusa.

− E a festa, onde foi? – Carlos interrogava a jovem


cada vez mais admirado com sua beleza.

− Em Luzern. Onde estamos?

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


− Em Basel… − respondeu, acreditando que ela
estava realmente desorientada.

− Onde? – levantando a cabeça rapidamente. –


Como vim parar aqui? – perguntou a si mesma.

− Sr. Carlos, por favor, siga-me até o posto policial.


A enfermeira Rose está trazendo a cadeira de rodas para
a senhorita Natália. Estaremos aguardando por elas –
explicou o policial de plantão.

O corredor parecia maior e muito sinistro aos olhos


de Carlos. O policial ao seu lado estava tranquilo, olhando
para ele da cabeça aos pés. O jovem, baixinho, tinha o
corpo fora de forma, mas isso não o incomodava. Ele
acreditava que a beleza estava nos olhos de quem via.

− O senhor Carlos afirma que, estava indo a


padaria no momento em que viu a senhorita Natália no
chão. – falou o policial Müller, militar corretamente
vestido, estatura média e um pouco calvo − ao ler o
depoimento.

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− Positivo! – responde o policial Rand, moreno, alto
e forte.

− E como seu joelho estava com o mesmo produto


químico que foi encontrado no corpo de Natália? –
perguntou ao suspeito.

− Eu me ajoelhei para saber se ela estava viva.


Devo ter me cortado naquele momento.

− E onde o senhor estava antes de ir à padaria?

− Em casa, com meu amigo Paulo. Ele ficou vendo


TV e eu saí para comprar pão.

− Precisamos interrogar seu amigo. Diga-me


número do telefone dele.

− Ele foi ali fazer um lanche e disse que voltaria


aqui. Vou ligar para seu celular.

− Aqui senhor, pode entrar. – disse a enfermeira


empurrando a cadeira de rodas, para Paulo que procurava
por Carlos.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


− Olha ele aqui! Acabou de chegar. – guardando o
parelho no bolso.

− Como o senhor sabia que seu amigo Carlos


estava no hospital? – perguntou o policial Rand.

− Eu não sabia! Ele demorou muito para voltar da


padaria, então resolvi dar uma volta para ver se o
encontrava.

− E onde o encontrou?

− Na lanchonete da esquina.

− Ele costuma fazer isso?

− Isso o que?

− Sair e demorar?

− Não! Foi a primeira vez. – Paulo respondeu o


interrogatório muito pensativo. Natalia nada falava, estava
muito interessada em todas as respostas que estavam
sendo direcionadas para Paulo.

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− Preciso saber de uma vez o que está
acontecendo. – falou muito chateado. – Estou sendo
suspeito de um crime que não cometi, estou com o joelho
dormente, estou no hospital a essa hora da noite, quando
deveria estar assistindo meu futebol e ainda estou com
fome.

− Calma! Precisamos saber o que você sabe para


descobrirmos o que houve com essa moça.

− Senhorita Natália, seus pais chegaram! –


comunicou Rose, tentando esconder um cacho de seus
cabelos que pulava para fora da toca. – Eles estão na
recepção!

− Podem ir, mas não saia da cidade, senhor Carlos!


Senhorita Natália, terá que prestar novos depoimentos
amanhã pela manhã.

− Sim senhor! Amanhã estarei na delegacia.


Obrigada! Obrigada Carlos! Tenha uma boa noite. –
levantando da cadeira de rodas. – Acho que posso andar,
estou me sentindo um pouco melhor.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


− Não precisa agradecer, vou com você até a saída.
Vamos Paulo!

Os corredores parecem claros e tranquilos agora.


Carlos sentia-se mais familiarizado com o ambiente. Na
recepção estava apenas um casal sentado.

− Rose! Onde estão meus pais? – perguntou


Natália.

− Ali! – apontando surpresa para as únicas pessoas


na recepção.

− Eles não são meus pais! – falou enquanto puxava


Carlos pelo braço voltando pelo corredor.

Paulo sem entender também voltou, e entraram na


primeira porta que estava aberta.

− Como assim eles não são seus pais? Eles


chegaram aqui, perguntando por você. Me deram seu
nome completo, seu endereço e falaram como você era
fisicamente. – afirmou a enfermeira achando tudo aquilo
muito estranho.

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− Eu nunca vi esse casal antes. Eu não vou sair
com eles − fechando a porta.

− Não entendo… – Rose falou.

− Vamos todos sair por trás. – disse Paulo. –


Vamos para o apartamento e resolvemos o que fazer. Não
podemos passar a noite aqui. De lá você liga para seus
pais.

− Boa ideia! Não diga nada a eles, Rose. Amanhã


entraremos em contato com você.

− A saída é por aqui. Venham! – Rose participava


da fuga.

− Até breve, Rose! – disse Natalia.

− Obrigada, Rose! – falou Carlos enquanto deu um


forte abraço – e saíram correndo pelos fundos do hospital.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


Sentados no sofá, um olhando para o outro…
Carlos levantou e trancou a porta, fechou a janela, puxou
a cortina. Repetiu o mesmo nos quartos e na cozinha.

− O telefone fica bem ali, pode ligar para seus pais.


– disse Paulo, rapaz moreno, alto, com o corpo bem
definido.

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− Obrigada – pegando o aparelho. Ela olhou para o
fone em suas mãos, olhou para eles, para o ambiente, e
disse com ar estranho:

– Não consigo lembrar o número. – mostrando-se


confusa.

− Como assim? Onde está sua bolsa? – questionou


Paulo.

− Não sei…

− Como você estava com seu documento de


identificação?

− Sempre o coloco na meia. – explicava, enquanto


tentava lembrar o número do telefone de sua própria
casa.

− Você deve estar cansada, tente dormir um


pouco, depois você lembra. – disse Carlos dando-lhe um
copo com água e aproveitando o momento para ficar mais
perto dela.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


− Minha nossa! Preciso de um banho, de roupas
limpas, preciso dormir. – Natália pensou alto, deitando no
tapete.

− Venha, pegue essa toalha… – Carlos tirou uma


toalha branca e macia do guarda-roupa. – Fique à
vontade. Estaremos aqui na sala. Pegue essa roupa aqui.
É da minha irmã! – entregando-lhe um confortável vestido
de malha de algodão.

− Obrigada. Você é um amor. – tocando no rosto


de seu admirador nada secreto.

Meia noite e todos dormiam no mesmo quarto, com


porta e janela trancadas. Natália na cama, Carlos no sofá
e Paulo num colchão inflável.

Carlos acordou, mas continuou deitado, observando


Natália que ainda dormia.

− Carlos – sussurrou Paulo.

− Oi, já não dorme mais? – sussurrou.

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− Que horas são?

− Oito horas!

− Vamos para a sala! – saindo em silêncio.

O telefone tocou assim que entraram na sala.

− Alô! – pegando rapidamente o fone, não queria


acordar a visitante.

− Preciso falar com Carlos! – sussurrou uma voz


feminina do outro lado.

− É ele, quem é?

− Sou eu, Rose! Preciso falar com você e Natália. É


muito urgente, mas não posso falar por telefone.

− O que houve? Adianta algo.

− É sobre o caso de ontem à noite.

− Pode vir aqui em meu apartamento?

− Onde fica?

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


− Andreaplatz, 908.

− Chego aí antes do meio dia – desligando o


telefone.

− Quem era? – perguntou Paulo.

− Rose, a enfermeira. Disse que tinha algo muito


importante para nos contar.

− E você deu nosso endereço? Você nem a


conhece!

− Verdade! – aparentando arrependimento. −


Fiquei tão curioso que não pensei em mais nada.

O telefone tocou novamente.

− Alô! – Paulo atendeu desta vez.

− Estou de olho em vocês! Cuidado com que vão


fazer. – desligando o telefone. Assustado, Paulo solta o
aparelho no chão e corre para fechar a janela da sala.

− O que foi? – perguntou Carlos.

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− Alguém ao telefone mandou termos cuidado.

− Quem?

− Não sei, era um homem.

− Bom dia! – Natalia cumprimenta de pé, na porta


do quarto. Ele juntava os fios de seus cabelos, estavam
assanhados. – Onde encontro um pente? – perguntou
sorrindo.

− No banheiro, em cima da pia – disse Paulo,


admirando sua beleza. – Eu não havia percebido como ela
era bonita. – sussurrou.

− Verdade… Estamos na cozinha esperando você


para tomarmos café. – avisou em voz alta, mudando o
assunto do momento.

Ao sair do banheiro, com seus longos cabelos


loiros, agora penteados, percebeu a porta do outro
quarto, aberta. Observou a cama, os móveis, e ficou
admirando a estante de madeira que ficava por trás de

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


uma bela escrivaninha. Observou com atenção cada
detalhe do cômodo.

− Hum! Cheira bem esse café! – disse Natália,


entrando na cozinha.

− É minha especialidade. Sente-se, por favor. Só


não temos pão, mas tem bolacha e bolo.

− Obrigada – sentando-se a mesa.

− Com o que vocês trabalham? Pelo que percebi,


aqui tem um escritor!

− Escritor? Não… é só um passatempo. – falou


enquanto colocava um pouco de café para ela.

− É o melhor escritor que já conheci. Tem nove


livros prontos. Ainda não publicados. – disse Paulo cheio
de orgulho do amigo.

− Por que não? O que falta?

− Coragem! – sussurrou Paulo para Natália.

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De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque
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− Entre Rose, fique a vontade.

− Oi. Como estão? – Rose cumprimentou a todos.

− Estou bem, Obrigada! – respondeu Natalia.

Naquele momento, Carlos ficou pensando como


uma ida a padaria havia mudado sua vida por completo.
Conheceu uma linda jovem, viveu momentos de medo e
dúvidas e agora um grande mistério fazia parte de sua
história.

− Diga-me, Rose, o que precisa nos contar? –


questionou Carlos.

− Depois que vocês saíram o casal ficou um pouco


mais e se foram, então eu os segui e fiquei escondida
entre as plantas e ouvi parte da conversa. Eles falavam
em matar Natália e que pela primeira vez falharam.

− Me matar? – pulou assustada para perto de


Carlos.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


− Sim – olhando para Natália. – Eles disseram que
você viu alguma coisa na festa, e que mesmo colocando
algo na sua bebida, não conseguiram te apagar. Então
resolveram te jogar do carro e esperar você morrer, mas
não imaginavam que alguém iria te encontrar na rua, na
chuva àquela hora.

− Como assim? Eu não vi nada, não ouvi nada


naquela festa, apenas bebia e dançava.

− Não sei… você precisa ter cuidado.

− Obrigada, Rose. – esboçando um verdadeiro


sorriso de agradecimento.

− Obrigado, Rose. – agradeceu Carlos.

− Preciso ir para casa. Amanhã tenho folga.


Qualquer coisa, me liguem. – entregando um pedaço de
papel com o número de seu telefone antes de sair.

− Oh meu Deus! – Carlos sussurrava enquanto


fechava a porta. – O que você ouviu naquela festa? Você
precisa lembrar!

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− Não sei. Talvez eles tenham pensado que eu
tivesse escutado alguma coisa. Confesso que não estava
prestando atenção a nada, apenas queria dançar. Aliás,
nem os vi por lá.

− Já lembrou o número do telefone de seus pais? –


perguntou Paulo desconfiado.

− Acho que sim, vou ligar – pegando o telefone. –


Pai? Calma, estou bem. Preciso que alguém venha me
pegar, estou em Basel, calma, explico tudo quando chegar
em casa. Fica na... – olhando para o seu herói.

− Andreaplatz, 908.

− Andreaplatz, 908. – repetiu Natália. − Estarei


esperando. Beijos!

− Com que seus pais trabalham? – perguntou


Paulo.

− Eles têm uma editora, minha mãe é escritora.


Escreveu alguns livros e o último foi “Vai entender...”

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


− Nossa! Sério? Eu tenho esse livro! –
expressando-se animado.

− Eu vi na sua estante. Por que você não publicou


seus livros?

− Acho que não são tão bons assim.

− Mentira! São ótimos, já li todos. – Paulo


valorizava o trabalho do amigo muito entusiasmado.

− A opinião dele não vale, ele é meu amigo…

− Posso pedir para minha mãe ler. O que acha?

− Seria maravilhoso! – Paulo concordou,


levantando do sofá.

− Não sei, acho que ela iria perder tempo com isso.

− Claro que não! Ela gosta de ler, ainda mais, te


devo essa.

− Não… acho melhor, não.

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− Pensa! Não precisa me dizer agora. Ainda terei
muito que conversar com eles sobre meu sumiço.

Natália foi pra casa e o apartamento de Carlos ficou


vazio. Parecia até que ela fazia parte de sua vida há anos.
Sua saída pela porta parecia ter levado seu coração junto.

O telefone tocou

− Alô?

− Pense bem no que vai dizer. Estarei de olho em


vocês. – a voz masculina falou do outro lado.

− Quem é? Dizer o que? Do que está falando? Meu


telefone tem bina. Vou chamar a polícia. – a ligação foi
interrompida. – Meu Deus! O que está acontecendo? –
questionou-se enquanto colocava o telefone no lugar.

− O que foi? Outra ligação misteriosa?

− Sim. O que será que está acontecendo? Estou


cansado, e agora com medo. Natália sabe de algo que não

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


quer nos contar? – Carlos sentou no sofá tentando
encontrar respostas.

− Precisamos descobrir qualquer coisa para buscar


ajuda. – Paulo sentou ao lado do amigo. − Vamos ligar
para Natália, me dá o número do telefone dela.

− Você não pegou?

− Não. E você? – olhando surpreso para seu


escritor favorito.

− Também não… – sentindo-se completamente


frustrado.

Os dias se passaram e com eles sua paz. Carlos


não tinha mais coragem para ir à padaria, e isso significou
duas semanas sem pão. Suas noites pareciam dias de tão
longas. Sentia vontade de olhar pela janela, mas o medo o
impedia. Sentia vontade de escrever, mas algo o
segurava.

− Vai passar mais um dia dentro de casa? –


perguntou Paulo.

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− Não sinto vontade de sair. E se Natália ligar?

− Ela não vai ligar! Sai dessa. Já passou! Aliás, já


se passaram quase três semanas e nem sinal dela nem de
Rose, acho que as duas são cúmplices. – falou sorrindo.

− Estranho mesmo. Não percebi que Rose também


havia sumido. Você precisa ir ao hospital encontrá-la.

− Eu? Por que não você?

− Não quero sair de casa. Estou inseguro. –


olhando para baixo. – Estou com medo! – assumiu seu
sentimento.

− Medo de que?

− Da ligação. Do que o médico Marques falou, do


que Rose falou. Existe algo que precisamos descobrir.

− Será? Tenho saído, tenho ido ao trabalho, saio


para beber, dançar e não vejo nada demais.

− Mas eu salvei a vida de uma pessoa prometida


para morrer.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


− Verdade! – concordando seriamente.

− Por favor, vá ao hospital e procure por Rose.

− Irei! – disse Paulo sentindo-se o salvador do


amigo.

Quando Paulo saiu do apartamento, Carlos trancou


a porta e foi para o quarto. Ficou na cama embaixo da
coberta. O telefone tocou. Ele pegou a extensão que
ficava ao lado da cama.

− Alô? Carlos?

− Sim!

− Sou eu, Natália!

− Onde você esteve todo esse tempo? – falou


levantando a coberta rapidamente.

− Meus pais me mandaram para casa dos meus


tios na Alemanha. Preciso ficar aqui por mais algum
tempo. Mas preciso pedir para você ter cuidado. – a
ligação foi interrompida.

53
− Alô! Alô! Alô! – Cuidado? Como assim? O que
está acontecendo? Natália? – com o coração acelerado,
não sabia se a emoção foi em ouvir novamente a voz de
sua princesa ou por sentir medo.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


55
No hospital Paulo entrou e foi à recepção. Falou
com uma senhora de cabelos curtos e logo seguiu para a
copa. Lá encontrou Claudia, pessoa indicada pela
atendente. A copa era aberta para a recepção e para a
saída dos fundos, e lembrou que já esteve ali. Haviam
algumas mesas e em cada uma delas, quatro cadeiras de
madeira. Ao lado de cada porta e janelas, um jarro com
plantas.

− Sente-se aí que volto já. – falou Claudia. − Paulo


sentou e ficou observando tudo ao seu redor.

− Então? O que deseja? – perguntou a moça alta,


gorda e sorridente ao voltar.

− Preciso falar com a enfermeira Rose.

− Fale baixo – sussurrou Claudia.

− Por quê? – sussurrou.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


− Ela foi demitida. Está morando nesse endereço
aqui. – entregando-lhe um pedaço de papel. – Ela falou
que você viria procurá-la. Tome cuidado – levantou e saiu
com a bandeja cheia de remédios.

− Obrigado – sussurrou Paulo.

Ao sair da copa, percebeu que alguém o observava.


Olhou atentamente para a janela suspeita e não viu mais
ninguém. No corredor, cruzou com o Dr. Marques. Mas ele
não o reconheceu. Despediu-se discretamente da
recepcionista e saiu pela rua ensolarada daquela manhã
de quinta-feira.

Em casa, Carlos sentou na escrivaninha com o olhar


fixo para a estante. Mas não a viu. Sua mente viajava
para a cena do crime. E como mágica, lembrou-se do
chão e alguns pedaços de vidros, lembrou-se do cheiro
estranho de ácido no local. Lembrou que ao lado de
Natália havia um envelope. Mas… Onde foi parar o
envelope? Ele era grande e amarelo, era muito fácil de ser

57
notado. Será que algum socorrista o pegou? Carlos se
questionava em pensamentos.

− Carlos – Paulo falou em pé da porta do quarto.

− Que susto! E aí, falou com Rose?

− Ela não trabalha mais lá, uma moça chamada


Claudia, me deu esse endereço. – entregando-lhe o
pedaço de papel. – Falou que teríamos que ter muito
cuidado e se foi.

− Como é? Isso aqui é na Alemanha! Ela está


sabendo de alguma coisa e foi se esconder lá. Meu Deus,
onde foi que me meti? – falou colocando as mãos na
cabeça.

− Onde foi que nos metemos? – concluiu Paulo,


sentando no sofá do quarto.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


Na madrugada do dia seguinte, Carlos estava
pronto e decidido a procurar por Rose. Ele não podia
esperar por algum milagre.

− Paulo, acorda, já arrumei as mochilas.


Precisamos sair antes que amanheça.

− Que horas são? – perguntou sem abrir os olhos.

− São quatro horas!

− Quatro horas? Está maluco? Não vou levantar a


essa hora.

− Temos que sair agora para não sermos vistos.


Precisamos chegar cedo à Alemanha. Não quero dar
pistas.

− Ok, você venceu! Eu vou dormindo! - caminhou


enrolado no lençol.

Na saída do estacionamento, Carlos parecia estar


num filme policial, olhando para todos os lados e torcendo
para não ser visto. Já na rua, dirigiu com todo cuidado.

59
Assim que chegou à fronteira, teve que estacionar o carro,
e correr para o banheiro público, pois não aguentava mais
a barriga. Na volta ao carro, percebeu um homem
suspeito saindo de perto do seu automóvel. Fez de conta
que não o viu, entrando no carro. Porém logo notou um
papel no para-brisa. Levantou-se rapidamente, apanhou o
manuscrito e o enfiou no bolso sem ao menos saber o que
era. Quando se distanciaram do local, criou coragem para
ler o que estava escrito. “Siga em paz, Deus o
acompanhe” – era uma daquelas mensagens positivas.
Um alívio e uma paz tomou conta dele.

O sol veio dar boas-vindas e calmamente o fugitivo


procurava no GPS o endereço de Rose. Seguiram por mais
duas quadras antes de chegarem. Estacionou o carro em
frente casa, desceu olhando para os lados e apertou o
interfone. Ninguém respondeu, e ele tocou novamente.

− Alô!

− Rose?

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


− Carlos? – Apanhando o controle. – Dentro da
garagem tem uma porta. Espero você lá.

O carro entrou e a porta se fechou. O local estava


úmido e frio. Também um pouco escuro. Havia estantes e
caixas. Até que o local estava organizado. Do lado
esquerdo de quem entra, havia uma porta, onde logo se
via Rose, que estava em pé vestida com um roupão cor de
rosa. Carlos saiu do carro carregando duas mochilas e
Paulo se espreguiçava ainda enrolado no lençol. Desceram
uma escada e entraram numa casa subterrânea. Havia
todas as mobílias. O domicilio tinha dois quartos, no
primeiro ficam os visitantes, e no segundo, Rose e outra
pessoa que não dava para ver quem era.

− Descansem um pouco. Às nove horas


levantaremos para tomar café e conversar. Vocês devem
estar cansados, e eu preciso dormir um pouco mais. –
voltando para a cama.

61
Carlos entrou no quarto e Paulo já estava deitado
na no leito abaixo do beliche. Subiu a escada de madeira,
deitou olhando para o teto, e adormeceu.

O cheiro de café o acordou. Realmente sentia


fome. Desceu a escada e notou que Paulo já não estava
mais na cama. Foi à cozinha e encontrou à mesa, Paulo,
Rose e Natália.

− O que faz aqui? Quando chegou? – questionou


surpreso, sentindo um frio percorrer sua barriga,
enquanto olhava fixamente para Natália.

− Cheguei ontem! Não sabia que vocês viriam hoje.


– falou enquanto colocava um pouco de café na xícara.

− Nós também não sabíamos, decidi ontem à noite.


Quando vocês se encontraram?

− Ontem à noite no supermercado. Então decidi


ficar uns dias com Rose.

− Rose o que está acontecendo? Conte-nos por


favor. – ela levantou, pegou sua xícara, olhou pela janela

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


da cozinha que dava para o fundo da casa. Depois de
alguns segundos virou-se para mesa.

− Desconfio que o Dr. Marques é um psicopata.

− Como assim? O que ele tem a ver com tudo isso?


– Paulo indagou.

− imagino que ele tem uma equipe que pega as


garotas e leva para ele. Então ele as cortam com vidro
molhado com algum tipo de produto químico que não sei
qual é, e as matam. Mas com Natália foi diferente, ela não
morreu e o casal que a jogou na rua, precisa matá-la, ou
irão morrer. Como você a salvou, também está jurado de
morte. E eu que ouvi muita coisa, tive que sair do
hospital, antes mesmo que eles percebessem.

− Meu Deus! E agora? Como fui me meter nisso


tudo? – disse Paulo assustado.

− Você vai ser nossa salvação. Eles não te


conhecem. Eu, Natália e Carlos, vamos ficar aqui

63
escondidos e você vai seguir nossas orientações e nos
ajudar. – Rose falou olhando para ele.

− Eu? Eu não sei fazer nada direito. Não tenho


coragem para isso.

− Precisa encontrar coragem. Só você pode nos


ajudar. – Carlos olhou para seu amigo com um olhar
implorador.

Paulo olhou para Carlos fixamente e não falou


nada. Continuou olhando para seu amigo a ponto de o
deixar preocupado. Depois olhou para Natália e logo para
Rose. Ficou pensativo por alguns segundos, talvez
minutos. E todos em silêncio junto com ele. Algum tempo
depois, Rose levantou, foi até a pia e ficou por lá
preparando algo para comerem. Natália suspirou profundo
e demonstrou preocupação. Carlos continuou olhando
para Paulo.

− Só topo entrar nessa, se Natália me contar tudo


o que sabe, aliás, se todos me contarem tudo que sabem.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


Começa por você Carlos. Me fale mais sobre o tal
envelope amarelo.

− Tudo que sei, é que no dia que vi Natália no


chão, tinha um envelope perto dela. Mas depois disso, não
o vi mais.

− Envelope? Perto de mim? No chão? Não lembro…

− O que você sabe Natália? Conte-nos! – Carlos


insistiu.

Quando ela levantou e olhou para Rose que estava


saindo da cozinha, ele percebeu que tinha algo muito
secreto por trás de tudo isso. Carlos não sabia até onde
podia espremer para saber tudo sobre elas, muito menos
se elas queriam confiar nele. Ele precisava saber, mas não
imaginava como, ou se realmente queria saber, pois o
medo era maior que a curiosidade. O escritor ainda não
conhecido estava prestes a morrer por salvar uma vida?
Que mundo é esse? Levantou e foi até a pia beber água.
Viu em cima da mesa, bem embaixo da sanduicheira, um
envelope amarelo. Ficou sem saber se deveria pegar ou

65
não. Voltou à porta e todos já estavam sentados no sofá.
Então retornou a cozinha e gritou, perguntando se alguém
queria água. Pegou o envelope e escondeu dentro da
camisa. Caminhou para sala tentando manter a
curiosidade equilibrada.

− Como podemos nos ajudar se vocês não confiam


em nós? – disse Carlos tentando ganhar credito.

− Verdade… – falou Paulo. – Temos que nos unir,


estamos todos no mesmo barco.

− Quer saber? Vocês deveriam ir morar bem longe,


no Japão, Brasil... – aconselhou Natália. – Assim ficarão
vivos.

Neste momento Carlos olhou para Natália que


estava completamente triste, e em seguida olhou para
Rose que baixou a cabeça.

− Não tem mais jeito. Estamos marcados para


morrer. – disse Rose com a voz baixa.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


Carlos levantou e olhou para todos com raiva. −
Vocês vão vegetar e esperar um dia morrer? Como vai ser
de agora em diante? Vamos todos esperar a morte? Por
que não abrir o jogo e buscar ajuda? – saiu da sala e
entrou no banheiro. Ele havia lembrado o embrulho
amarelo escondido na roupa. A saída foi um pretexto para
ver o que estava guardado dentro do envelope.

Ao entrar no banheiro, trancou a porta e retirou o


conteúdo do esconderijo. Haviam três papeis! Um deles
tinha a entrada de Natália no hospital e resultado do
exame dela. O outro papel estava no nome de Smith Noa,
e o terceiro, era o de Carlos. Tinha seus dados e seu
exame de sangue. Então esse não era o mesmo envelope
do dia do acidente. Eles ainda não tinham entrado no
hospital. ‘Quem é Smith Noa?’ – se perguntou muito
curioso.

67
A noite chegou e com ela o frio. Todos dormiam e Carlos,
olhando o teto, pensava em alguém que não conhecia.
Smith Noa! Quem era Smith Noa? O despertador tocou e
percebeu que já havia amanhecido, e que nem tinha
dormido. Sentiu o cheiro de café e foi para a cozinha.
Entrou e sentou ao lado de Rose.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


− Por que não me conta tudo? – perguntou
baixinho, enquanto deu um gole no café.

− Você precisa encontrar Smith Noa, ele vai te


contar tudo. Ele está procurando ajuda. Tome, pegue esse
endereço e vá até ele. Juntos vocês podem nos salvar.

− Quem é Smith Noa? O que ele tem a ver com


tudo isso? – jogou o envelope em cima da mesa. Neste
momento entrou Natália e Paulo.

− Smith Noa? – perguntou ela.

− Sim. Aqui tem três documentos de entrada no


hospital naquele mesmo dia. O seu, o meu e o de Smith
Noa.

− E o que ele tem a ver com tudo isso? – Paulo


perguntou.

− Ele sabe do envelope que o socorrista pegou. Ele


também foi vítima de Dr. Marques. Eu o ajudei a fugir do
hospital.

69
− E por que você não nos conta tudo? – Natália
perguntou chorando.

Enquanto as lágrimas de Natália partiam o coração


de Carlos, ele não conseguia pensar em mais nada. Queria
mesmo era poder abraçá-la e esquecer tudo. Mas não
tinha tempo para sentimentos amorosos. Quando colocou
a xícara de café dentro da pia, percebeu outro envelope
amarelo embaixo do pano bordado que cobria a geladeira.
Discretamente pegou e colocou dentro da camisa e seguiu
para o banheiro. Abriu e viu mais dois papeis, só que
desta vez não eram documentos do hospital. Era uma
correspondência da mãe de Rose. Ela estava perguntando
pelos motivos de seu sumiço.

− Me responda ao menos uma pergunta. Quem


ligou para aquelas pessoas que se passaram por seus pais
no dia do acidente? – Carlos mais uma vez insistia por
respostas.

− Dr. Marques me deu o número. Falou que Natália


havia passado para ele. – Rose confessou ainda insegura.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


− Mas eu te dei o número – afirmou Natália.

− Eu lembro! Mas ele disse que você havia pedido


para ligar para aquele, pois o que você havia me dado,
era do apartamento e eles estavam na casa da praia.

− Minha nossa! Então esse Dr. Marques deve ter


muito a ver com o que está acontecendo conosco. Mas o
quê? – Carlos se questionava andando de um lado para o
outro.

− Não tenho certeza, mas acho que ele é um louco


– completou Rose. – Eu já tinha visto outras pessoas
chegarem lá com acidentes parecidos, mas eram
transferidas para o hospital de Zurique.

− E você conhece alguém que trabalha lá? –


perguntou Paulo, sentindo-se um detetive.

− Sim conheço! Não havia pensado nisso... – Rose


levantou e pegou sua agenda telefônica. – Aqui, segura,
procura o nome de Monteiro, ele é o segurança do
hospital. Quem sabe ele pode nos ajudar.

71
Carlos anotou o nome e telefone do Sr. Monteiro e
sentiu um pouco de alívio. − Quem sabe assim podemos
resolver isso de uma vez por todas. Você tem ideia do por
que os outros acidentados foram transferidos? –
perguntou curioso.

− Nunca parei para pensar nisso, mas lembro de


que o Dr. Marques dizia que lá tinha mais recursos para o
caso.

− Tente se lembrar! Quantas pessoas com este


caso, a que horas isso acontecia, e que tipo de pessoas
eram! Qualquer pista para nos ajudar. – pressionou o
detetive particular.

− Talvez você possa ligar para Claudia e pedir para


ela fazer esse levantamento no próprio hospital. – sugeriu
Natalia querendo ajudar.

− Não sei se ela vai se arriscar, mas vou ligar para


ela. – Rose finalmente foi vencida.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


73
Enquanto todos assistiam a um filme, Carlos
parecia não se concentrar em nada. Ficou um tempo
olhando pela janela da cozinha, depois procurou por mais
envelopes amarelos pela casa. Observou como eles se
comportavam diante do filme, bebeu água, deitou no chão

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


com as pernas no sofá. Depois ficou um longo tempo
olhando a agenda telefônica de Rose. Percebeu que na
última página, na verdade na capa de trás, na parte de
dentro, havia uma anotação feita a lápis. “Encontre-me na
copa hoje as 03h”. – Ficou lendo e relendo aquilo,
tentando imaginar quando podia ter sido. Quem poderia
ter escrito. Aquela letra parecia ser de homem… “Mas isso
é muito relativo”. – pensou.

− Rose, sei que é muito evasivo de minha parte,


mas preciso saber se esse encontro tem a ver com nosso
caso. – mostrando a agenda. Ela pegou, olhou por alguns
segundos, olhou para seu novo amigo, olhou novamente
para a anotação.

− Nunca tinha visto isso antes – afirmou confusa. –


Será que alguém tinha algo para me contar?

− Você não reconhece essa letra? – perguntou


curioso.

− Não. Mas pode ser de Claudia…

75
− Toma aqui o bilhete que ela me deu com o seu
endereço. Confere se bate – Paulo entregou o pedaço de
papel.

− Exato! É a letra de Claudia. Então ela deve saber


de alguma coisa. – Rose expressou felicidade.

− Vamos ligar para ela – Paulo levantou, pegou o


telefone e entregou a Rose. – Liga para ela e vamos tirar
essa dúvida. Quem sabe, ela não nos conta tudo?

A enfermeira pegou o telefone e ficou a olhar para


Carlos por alguns segundos, mordeu os lábios e começou
a digitar os números.

– Claudia? Pode falar? É Rose. Ok. Claro que sim.


Espero por você. Beijos. – devolvendo o aparelho. – Ela
disse que é muito arriscado falar por telefone. Que vem
aqui amanhã cedo.

− Meu Deus! Mais um dia de angustia – Paulo


constatou tristemente.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


Natália ficou triste, sentada com os pés no sofá. Ela
se abraçou em suas pernas e ficou olhando para o chão.
O personagem principal dessa história ficou por alguns
segundos, talvez minutos, a olhar e a admirar sua beleza
e se preocupou com a expressão em seu rosto. Carlos
Pensou em abraçá-la e dizer que tudo iria terminar bem e
que todos ainda iriam viver muita coisa boa pela frente.
Mas olhar para ela o fazia sentir uma paz inexplicável,
porém ao mesmo tempo, ela era a culpada de todo seu
tormento atual. Olhou para uma almofada que estava por
baixo de sua perna e percebeu a ponta de um envelope
amarelo. No mesmo instante chamou Paulo para irem a
cozinha. Fez sinal com a cabeça para ele, pois o mesmo o
estava olhando durante todo o tempo em que Carlos
olhava para Natália.

− O que foi? Momento romântico é? – disse Paulo


com suas ironias.

− Você viu um envelope amarelo escondido no


sofá?

77
− Não Por quê?

− Não sei, mas algo me diz que Natália esconde


alguma coisa de nós.

− Deixa de paranoia. Vamos falar com Claudia


amanhã, e logo partiremos para falar com Flávio. Vamos
aproveitar agora e ligar para Monteiro?

− Vamos! É melhor ter provas concretas do que


ficar imaginando coisas.

− Pois é. E sua imaginação realmente é muito fértil


– Paulo sussurrou sorrindo.

O telefone de Monteiro estava desligado. Talvez


estivesse dormindo, ainda era de manhã, geralmente
quem trabalha a noite, dorme pela manhã. – Mas será que
ele sempre trabalha a noite? Preciso saber. – falou Carlos.

Resolveram tomar um banho de sol no quintal. Até


que parecia seguro. O calor do sol os deixavam mais
relaxados e mais tranquilos. No quintal havia uma casa de
cachorro, mas não tinha nenhum animal por perto. Tinha

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


também uma bicicleta e uma moto. Havia algumas árvores
e um canteiro com flores. As flores pareciam bem
cuidadas.

− Quem mora aqui, Rose? – Perguntou Paulo.

− Minha tia!

− Onde ela está?

− Viajou?

− Há quanto tempo?

− Alguns meses.

− Você está aqui há quanto tempo?

− Há duas semanas, por que tantas perguntas?

− Por que o canteiro das flores parece bem


cuidado, como se estivesse sendo regado e podado há
mais tempo. – Carlos concluiu seu raciocínio.

Neste momento, Rose levantou da grama, pegou


sua toalha e entrou pela porta da cozinha. Carlos ficou

79
confuso, não sabia o quanto isso podia ter mexido com
ela. Olhou para Natália que já estava olhando para ele,
depois olhou para Paulo que também o estava olhando. –
O que fiz? Não queria desconfiar dela, mas tudo parece
tão estranho por aqui – falou alto, justamente para ela
escutar.

− Verdade. Tudo parece estranho – gritou ela da


porta da cozinha. – Meu namorado estava aqui, e pedi
para ele resolver algumas coisas para mim. Por isso tudo
está organizado. Quando cheguei, ele já estava cuidando
de tudo. Mas ele viajou e volta semana que vem.
Explicado? – gritou Rose.

− Desculpa, não queria desconfiar de você, apenas


acho que não deveriam existir segredos entre nós, pois
estamos todos no mesmo barco. – explicou-se, se
retirando do local.

− Ele tem razão. Não podemos passar a vida toda


com esse mistério. Vou entrar e tomar um banho. Alguém
se candidata para fazer o almoço? – perguntou Natália

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


− Eu faço – Paulo se elegeu. – Sou ótimo
cozinheiro! Vamos fingir que estamos de férias e curtir o
dia de hoje, já que não podemos fazer nada.

Realmente, ele cozinhava muito bem! Comeram


uma deliciosa macarronada com bolinhos de carne. A
salada estava bem posta e o suco muito consistente.
Depois da refeição, Paulo lavou as louças e Natália ajudou
Rose a guardar tudo. Logo foram para o quarto descansar
um pouco. Marcaram o despertador para tocar em uma
hora e foram tirar o sono da tarde.

Na manhã seguinte, Carlos acordou antes de todos


e foi para a cozinha preparar o café. O interfone tocou.
Era Claudia. Abriu o portão da garagem. Ainda bem que
cabiam dois carros.

− Bom dia Claudia. Todos ainda dormem. Aceita


um café? – Carlos recepcionou a nova visitante.

− Obrigada. Você é o...? – apertando sua mão.

81
− Desculpe-me, sou Carlos. Muito prazer. Sente-se
um pouco, vou acordar Rose.

− Bom dia. Já estamos acordados. Prontos para um


delicioso café. – cumprimentou Rose

Natália sentou em silêncio e Paulo entrou na


cozinha ainda enrolado no lençol. Carlos desejava muito ir
direto ao assunto, mas não poderia ser tão mal educado
assim. – Aceita uma torrada, Claudia? – perguntou para
não perguntar pelo caso.

− Obrigada. Estou com fome. Assim que


terminarmos o desjejum, quero contar tudo que sei, pois
tenho que viajar ainda hoje. Vou passar as férias na casa
de meus pais.

Comeram rápido, muito rápido. Carlos Levantou e


foi arrumar as camas, depois colocou as almofadas que
estavam no chão, em cima do sofá e ficou sentando
esperando o momento tão desejado. Aos poucos saíram
da cozinha e foram se acomodando na sala.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


− Então, Claudia! Por que escrevestes na minha
agenda telefônica. Só vi ontem, porque Carlos percebeu.
Quando foi isso?

− Escrevi naquele dia que você a esqueceu em


cima da minha mesa. Foi no dia seguinte ao atendimento
de Natália.

− E o que você sabe desse caso? – perguntou sem


muita paciência.

− Sei pouca coisa. Mas sei que o Dr. Marques


esconde algo. Pensei em ficar mais tempo para descobrir.
Porém ele me deu férias para esse mês e realmente estou
precisando. Dr. Marques tem uma visita misteriosa quase
todas as noites depois da meia noite.

− Depois da meia noite? – Carlos olhou para Paulo.


– Você tem que ir lá depois da meia noite!

− O que vou fazer no hospital depois de meia


noite? Vai ficar muito na vista!

83
Levantou e andou de um lado para o outro. Olhou
para todos. Não conseguiu nenhuma ideia.

− Que tal ele ir à procura de Claudia? Diz que


estava vindo do trabalho e passou para lhe dar uma
carona. – sugeriu Natália.

− Boa! – gritou Carlos sem cautela.

− Ótima ideia! Lá, vão dizer que eu estou de férias


e você diz que não sabia. Então diz que precisa ir ao
banheiro, ou pergunta se tem alguma máquina de café e
dá uma sondada. − Amanhã estarei indo para Zurique e
só volto no final do mês – afirma Claudia.

− Então, eu vou para Zurique com você. Preciso


falar com Monteiro, e Paulo volta para Basel e vai ao
hospital.

− Combinado! Agora vamos relaxar e tentar


aproveitar o dia. Que tal uma volta pela cidade. Podemos
fazer compras? – sugeriu Natália.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


− Acho muito arriscado! Não seria seguro que nos
vissem juntos. – acrescentou o detetive Paulo.

− Verdade! Eu e Rose vamos ao supermercado e


vocês ficam por aqui.

− Eu vou embora, já que tenho que ir. Irei agora


para resolver algumas coisas. Preciso passar no meu
trabalho. – Paulo se explicou.

Quando Rose e Natália saíram, Carlos pediu para


elas comprarem chocolate, e pediu para terem cuidado.
Em seguida, Paulo se foi, levando sua mochila e seu
lençol. Ficaram Carlos e Claudia. Carlos aproveitou para
interrogá-la. Bom, na verdade foi mais uma entrevista. Ela
sorria e respondia todas as perguntas. Depois ele foi à
cozinha preparou um suco. Logo seguiram para o quintal,
decidindo tomar banho de sol. Algumas horas depois, seu
chocolate chegou. E Carlos o saboreou na porta da
garagem, quando estava de saída no carro de Claudia.

85
De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque
Monteiro estava de folga, e Carlos teve que dormir
aquela noite na casa dos pais de Claudia. Lá foi bem
recebido e muito bem acomodado. Em cima da mesa da
sala de jantar, havia dezenas de envelopes amarelos. Ele
sentiu um frio na barriga. Sua curiosidade cresceu tanto a
ponto de se arriscar e se aproximou da mesa aos poucos,
ao mesmo tempo em que observava os quadros na
parede.

− Gostou? − uma voz suave e feminina fez a


pergunta.

− Sim – virando-se rapidamente. Estava quase


perto da mesa. – Quem é você?

87
− Sou a irmã mais nova de Claudia – o olhou dos
pés à cabeça. – Você é o namorado dela? Você é muito
bonito!

− Obrigado. Somos apenas amigos. – respondeu


sorrindo.

− Nunca vi minha irmã com namorado – Quem


pintou esses quadros foi minha mãe. Ela é uma excelente
artista, não acha?

− Sim! Obras de um profissional.

− Camila! Deixa Carlos em paz. Vai logo arrumar a


cama e tomar banho que vou te deixar na escola. – entrou
Claudia na sala de jantar.

− Até mais – disse Camila saindo.

− Até mais, Camila. Foi um prazer te conhecer.

− Essa minha irmã é impulsiva. De que estavam


falando. – falou enquanto recolhia todos os envelopes,

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


colocando-os na estante e forrando uma toalha branca na
mesa.

− Sobre os quadros. Ela tem muito orgulho da


artista.

− Verdade! Sente-se, vamos tomar café e dar uma


volta. À noite te deixo no hospital. Vou resolver um
assunto pessoal e volto para te pegar. Amanhã cedo te
deixo na casa de Rose. Tenho que comprar uma moldura
para minha mãe lá perto.

− Obrigado, Claudia! – Carlos agradeceu e apertou


a mão de sua nova amiga.

O café estava delicioso. Eles foram deixar Camila na


escola, depois deram uma volta de carro pela cidade e a
noite, finalmente, Carlos encontrou Monteiro na recepção
do hospital.

− Boa noite. Chamo-me Carlos. Você é o Monteiro?

89
− Boa noite. Espere-me na lanchonete do outro
lado da rua. Estarei lá em alguns minutos. – falou sem ao
menos olhar para ele.

Carlos entrou na lanchonete e percebeu que não


havia muita gente. Deveria ser por conta da hora. A
decoração do estabelecimento era bem moderna e na
parede que ficava por trás do balcão, tinha um quadro
igual ao que estava na sala de jantar da casa dos pais de
Claudia. Sentou, e pegou o cardápio.

– Olha! Aqui tem crepe! – pensou animado


levantando a mão. A garçonete veio até ele.

– Por favor, um crepe de frango e um suco de


limão. – a garçonete se foi e na volta deixou seu crepe,
seu suco e um envelope amarelo. Ele sentiu um frio
percorrer sua barriga. Pegou o envelope e olhou o que
havia dentro. Encontrou um bilhete. “Espere-me às 7
horas da manhã de amanhã, em frente ao posto de
gasolina que fica na saída da cidade”. Ele lembrou que
seria a hora que Claudia o iria levar de volta para casa de

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


Rose, então relaxou e curtiu seu momento com o crepe e
seu suco de limão. Quando terminou, pagou o lanche e foi
para a rua esperar sua carona.

− Como ele estava? – Claudia perguntou assim que


Carlos entrou no carro.

− Pediu-me para encontrar com ele no posto de


gasolina que fica na saída da cidade, amanhã às 7h.

− Ótimo. Passaremos por lá pela manhã. Vamos


dormir que estou muito cansada.

O dia chegou rápido, e Carlos dormiu


tranquilamente. Tomaram café e saíram comendo torrada
dentro do carro. Deixaram Camila na escola e seguiram
para fora da cidade. Carlos entrou na loja de conveniência
que tinha dentro do posto de gasolina e encontrou
Monteiro. Ele fez sinal para Carlos se aproximar e
conversaram como dois clientes tirando dúvidas sobre
produtos.

− O que você sabe? – Monteiro perguntou.

91
− Quase nada! Mas estou com medo e preciso
proteger a mim e aos meus amigos. O que você tem a me
dizer? – colocando a caixa de bombons de volta na
prateleira.

− Estamos quase descobrindo tudo, não posso falar


nada para não atrapalhar o caso. Mas você precisa
realmente sumir por um tempo, e Natália também.
Cuidem-se e fiquem longe. Assim que estiver com
respostas entro em contato. Fique tranquilo que já estou
no caso. Diga a Natália para evitar sair e diga a Rose que
sinto saudades.

“Sente saudades? ” – Carlos pensou surpreso.

Saíram do posto – Carlos com uma sacola cheia de


doces e o carro de Claudia cheio de combustível.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


Paulo entrou na casa de Rose eufórico. Ele
carregava uma fotografia armazenada em seu celular.
Carlos deixou a xícara de café em cima da mesa e saiu
correndo até a sala. Natália olhava a foto com atenção e
Rose com uma expressão falsa de surpresa e aflição.

− O que estão vendo? – perguntou curioso e


afobado.

− A foto do cara que estava com o Dr. Marques


antes de ontem, depois da meia noite no hospital.

− Esse? – olhou para Rose. – Mas ele é...

93
− É… ele é o Monteiro – falou Rose fingindo estar
confusa.

− O que ele tem a ver com tudo isso Rose? Você


precisa nos contar. Ontem no nosso encontro, ele mandou
dizer a você que estava com saudades.

− Ele é meu namorado… – sentando e baixando a


cabeça. – Por que ele estava com Dr. Marques? Será que
ele tem algo com tudo isso?

− Ele me pareceu de confiança. – disse Carlos.

− Ele parecia ser muito amigo do Dr. Marques. –


disse Paulo.

− Não estou entendendo mais nada – falou Natália


achando aquilo tudo muito estranho.

O silêncio tomou conta do ambiente.

− Por que você mentiu sobre seu namorado? Sobre


as flores? O que mais você tem para nos revelar? – Carlos
gritou com Rose.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


− Não queria dizer que namorava o segurança. Que
estava no caso desse mistério. Ele pediu para não contar,
pois estava investigando o caso. Pediu-me para sair do
hospital e não me contou quase nada. Disse para que eu
não falasse muito, para não atrapalhar. Disse para eu ter
cuidado e confiasse nele, que em poucos dias ele estaria
de volta. Por isso evitei falar muita coisa. Mas deixei você
procurar por informações.

− Então, ele acha que Dr. Marques pratica os


crimes? – perguntou Paulo.

− Sim. Ele acredita que Dr. Marques está por trás


de todas as vítimas que foram transferidas para Zurique,
por isso pegou um trabalho temporário lá.

− Então, só nos resta esperar. Vamos tentar relaxar


e esperar. Que tal assistir a um filme? – sugeriu Paulo.

− Não sei. Acho que não consigo me concentrar.


Vou preparar um chá, alguém quer? – disse Rose.

95
Mais uma noite chegou e com ela uma
retrospectiva de todo acontecimento. Padaria, barulho,
Natália, hospital, medo, envelopes, duvidas, novas
amizades, mistérios e agora um amor. Carlos não sabia
mais como olhar para Natália que parecia disfarçar muito
bem algum tipo de sentimento por ele. Vez por outra ela o
olhava apaixonadamente, mas a aflição diária, o medo e
as novidades quebravam sempre o clima.

Na manhã seguinte, Paulo disse que precisava ir, e


os deixou. Passaram uma semana de ansiedade e sem
respostas. Paulo decidiu ligar e dizer que tinha provas e
que precisa mostrar. Confirmou que iria no mesmo dia da
ligação. Mas misteriosamente ele não chegou. Seu
telefone não funcionava mais e o medo cresceu
desesperadamente tomando conta de todos na casa.
Passaram a viver dentro daquele subterrâneo como
refugiados no período da guerra. Já não tinham ânimo
para mais nada, até as conversas não existiam mais. A
semana se resumiu em café, almoço e jantar, cama, sofá
e cama. De repente o interfone tocou. Escutaram a porta

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


da garagem abrir, e logo fechar. Rose entrou na sala e em
seguida, Monteiro. Alguns minutos depois, Dr. Marques.
Todos ficaram completamente confusos e curiosos.
Acomodaram-se nos dois sofás da sala e esperaram que
alguém começasse a falar.

− Alguém tem notícias de Paulo? – Carlos


perguntou a Monteiro

− Sim. Ele está bem. Está internado no hospital em


Zurique. – não o deixou terminar de falar, levantou-se do
sofá como um raio.

− O que aconteceu come ele?

− Ele está bem. Fique tranquilo. Ele nos ajudou a


descobrir tudo, e os culpados já estão presos. Dr. Marques
está investigando esse caso há dois anos, e eu comecei
ano passado, mas só com a ajuda de Paulo é que
conseguimos desvendar o mistério.

− O que houve? Conte-nos logo, não aguento mais


de aflição. – falou Natália.

97
− Vocês já podem voltar para suas casas, podem
voltar a suas vidas normalmente. Disse Dr. Marques.

− Antes quero saber o que aconteceu? – Rose falou


alto.

− Calma meu amor, tudo está bem. Descobrimos


um grupo de traficantes que usavam as vítimas para
transportarem as drogas, e nem elas mesmos ficavam
sabendo. Saiam do hospital, voltavam para casa e não
sabiam que eram usadas. Dr. Marques descobriu, mas não
podia denunciar sem saber quem estava por trás de tudo.
Foram dois anos de investigação.

− E como as vítimas transportavam essas drogas,


sem saber?

− Centenas de pessoas foram submetidas a


intervenções cirúrgicas. Eram introduzidas lâminas de
vidro revestidas por uma embalagem orgânica, na região
abdominal. Saíam de um suposto ambulatório,
anestesiadas e transportadas ao destino. Algumas, no
entanto, por razões das mais diversas, não estando cem

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


por cento dopadas, e conseguiam escapar. Ao recobrar a
consciência, não lembravam nada. Foi o teu caso Natália

O médico senta-se e cobre o rosto com mãos, antes


de continuar.

− Não é muito surreal esta história, doutor? –


Perguntou Carlos.

− A tecnologia invade muitos segmentos de nossa


vida Carlos. A quase totalidade das vítimas, as pessoas
“malote”, como eram chamadas, suportavam bem a
extração dessas embalagens, e algumas horas depois
eram liberadas. Não sabiam o que estavam fazendo ali,
mas estavam vivas e saudáveis.

− De que forma estas lâminas eram usadas?

− Após ser retirada do corpo e submetida a um


processo químico, a embalagem se dissipava e a lâmina
tornava-se líquida, sendo armazenada em ampolas.
Aplicações intravenosas.

99
Há uma comoção de inconformismo rondando
aquela sala.

− E o que Paulo tem a ver com isso?

− Ele foi pego pelos traficantes e foi usado, quando


estava vindo para cá. Foi uma coincidência terem usado
ele. Estava lá no momento certo. E quando ele foi parar
no hospital eu o reconheci, do dia que estava tirando
minha foto. Então fui interrogá-lo. E ele contou tudo. Foi
quando juntei as peças. Daí fizemos questão de dizer que
o paciente estava vivo, pois seus supostos pais estavam
na recepção. Quando eles entraram para visitá-lo no
quarto, tentaram matá-lo e pudemos pegá-los em
flagrante.

Carlos expirou fundo e abraçou Natália com toda


vontade que tinha de abraçar a muito tempo. Sorriu para
Rose que já estava abraçada com Monteiro e olhou para
Dr. Marques com gratidão. Foram até a rua despedir-se.
Natália entrou no carro de seus pais, Rose entrou em casa
com Monteiro e Carlos pegou uma carona no carro do Dr.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


Marques que o deixou no caminho de casa. Carlos Andou
pela rua vazia e silenciosa e seguiu seu destino,
imaginando que jamais veria seu amor novamente. Ele
retornava para seu apartamento sentindo seu coração
triste e solitário. Aqueles dias de agitação haviam feito
companhia para aquele rapaz solitário.

101
De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque
− Ei! Você foi comprar pão no Canadá, foi? Que
demora foi essa? O que houve? Por que você está me
olhando assim? – perguntou Paulo sacudindo a cabeça.

− Carlos, Hello! Por que me olhas assim? – disse


Rose.

− Amor, por que você está tão estranho? – Natália


perguntava enquanto acariciava seu rosto.

Olhou atentamente para todos e recordou de onde


parou, antes de sair para comprar pão. – Meu Deus! Não

103
comprei o pão. – pensou assustado. Olhou ligeiramente
pela sala e percebeu algumas correspondências em cima
da mesinha do telefone. – Quem colocou esse envelope
amarelo aqui? – questionou ao segurá-lo.

− Todas essas correspondências são para você. Já


verifiquei e retirei as minhas. – disse Paulo sem tirar os
olhos da TV.

Carlos segurou todos os envelopes e olhou cada um


com atenção. Principalmente o envelope amarelo. – O que
será que tem dentro? – perguntou curioso enquanto abria
sem ao menos olhar o remetente. Ao abrir, olhou surpreso
para seus amigos ali presente.

− O que foi? O que tem dentro desse envelope? –


perguntou Rose.

Ele passou alguns segundos olhando para dentro


do envelope sem retirar o que havia dentro. Fechou-o
novamente e foi para seu quarto. Todos o seguiram.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


− O que tem dentro desse envelope? – perguntou
Paulo curioso.

− São nossas fotografias das férias de final de ano


na praia. Daqui a pouco mostro a todos.

− E por que tanto mistério sem graça? – Paulo


falou saindo do quarto.

O escritor sem livros publicado olhou mais uma vez


o contrato para publicação de seu livro e colocou o
envelope embaixo do colchão, voltando para sala, e
saborear uma fatia de pizza com seus amigos.

− Amor?

− Oi! – Natalia respondeu ainda olhando para a TV.

Carlos juntou-se a turma no sofá, acomodando-se


perto de sua namorada, tentando clarear sua mente.
Olhou cada detalhe dela, seu rosto angelical, sua boca
fina e avermelhada, seus cabelos lisos, loiros e ralinhos.
Sua pele lisa e sedutora, seus fartos seios o fez arregalar
os olhos como se nunca tivesse observado tal destaque.

105
Ela olhou para ele confusa, aproximando-se ainda
mais dando-lhe um beijinho na boca, voltando sua
atenção ao filme.

Carlos decidiu ir até a varanda, e ficou


contemplando o silêncio da noite, que não durou muito,
sendo interrompido por um barulho na rua, bem embaixo
de sua sacada. O filme já não estava tão interessante, e
todos correram para observar o acidente. Decidem descer
para ver mais de perto.

A rua estava fria, o chão molhado e algumas


pessoas iam se aglomerando para apreciar o acidente.

Uma moça jogada ao chão era o espetáculo da


noite. Carlos aproximou-se, percebendo que ela havia
caído de alguma janela. Sussurros e rumores começaram
a se espalhar, mas ninguém pensava em socorrê-la.
Carlos ajoelhou-se ao seu lado, verificou o pulso e ligou
imediatamente para a emergência.

− Amor, Vamos! Deixa que o socorrista cuide dela.


– carinhosamente Natália segura na mão de Carlos que

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


parecia surpreso e confuso com o acontecimento. – Você
precisa cuidar desse ferimento em seu joelho.

Carlos olhou assustado para a perna, e


rapidamente olhou para Paulo e Rose, olhou para a rua,
para as pessoas, para a moça na maca, para um dos
socorristas fechando a porta traseira da ambulância. Ficou
desorientado e fechou os olhos tentando voltar a
realidade.

− Você está bem? – Sei que foi muito forte e


rápido. Ela vai ficar bem! Vamos pra casa. – disse Natalia
para Carlos.

Os quatro amigos seguiram em silêncio enquanto


Carlos olhava para trás vez por outra. E na última virada,
sentiu uma onda de náuseas o fazendo vomitar ali
mesmo.

− Minha nossa! Você está bem? O que sente? –


Rose resolveu tocá-lo para sentir sua temperatura. – Está
com febre! Muito quente. Precisa tomar um banho frio!

107
Depois do banho, já acomodado no sofá com uma
coberta, Natália serviu um chá, enquanto Paulo fuçava o
quarto a procura do tal envelope com fotos. Achando o
esconderijo do amigo, quase perdeu o fôlego. Havia
dezenas de envelopes iguais, todos com o mesmo
remetente, todos com o mesmo interesse. “Editora
E.D.T.E”.

Venho por meio desta solicitar seu contato para o


fechamento do contrato para a edição de seu livro. Nossa
editora leu e se interessou pela publicação de sua obra. –
ele leu o primeiro parágrafo quase em delírio de tanta
alegria. Juntou tudo e entrou correndo na sala.

− Carlos! Seu momento chegou! Por que adiar


mais? – perguntou parecendo desesperado.

Ao perceber os envelopes amarelos na mão de seu


amigo, bisbilhoteiro, sentiu-se mal começando a vomitar
novamente.

− O que foi? O que sente? – Paulo aproximou-se do


amigo, esquecendo momentaneamente os envelopes.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


− Eu não quero que veja isso! – falou limpando a
boca. Eu não quero ser criticado, não quero ser
comentado na internet, não quero ser rotulado.

− Então use um pseudônimo! – sugeriu o amigo.

− Seria a mesma coisa! – tomando um pouco mais


de chá.

Rose e Natália olhavam e ouviam a conversa sem


entender nada do que se passava.

− Não quero ser criticado… Não, isso não!

− Amigo! Existem vários públicos, um para seu


estilo. Existem vários escritores, cada um com uma forma
diferente de contar suas histórias, nem todo mundo gosta
de tudo. Há muitas estrelas no céu e todas tem seu
próprio brilho. Você só precisa escrever, cabe aos outros
gostarem ou não, ler o próximo ou não, comentar e
criticar ou não!

109
Mais uma sessão de vômito. Rose e Natália
limpavam e tiravam a temperatura do paciente com um
termômetro.

− Mais um banho frio! Agora! – intimou Rose.

Seguiram para o banheiro. Depois o levaram para a


cama, aquecendo bem seu corpo e esfriando sua testa
com uma toalha molhada.

− Vamos. Deixe-o dormir um pouco. Em alguns


minutos o remédio fará efeito. – saindo do quarto.

Depois de uma noite agitada, Carlos foi acordado


com um raio de luz do sol da manhã que penetrava pela
janela aberta. Seu corpo estava encharcado de suor e sua
boca completamente seca de tanta sede. Levantou-se da
cama ainda meio tonto, apertando os olhos para enxergar
melhor. Foi para cozinha e bebeu um pouco de água. Na
volta para o quarto, nem notou que havia acabado de
escorregar uma correspondência por baixo da porta. Sua
mente estava focada nas imagens loucas do seu sonho.

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


Natália e Rose entram recolhendo o envelope,
colocando as almofadas do chão no sofá. Rose pegou o
termômetro e foi para o quarto, e Natália para cozinha
preparar o café da manhã.

− Está melhor? – Rose avaliava a melhora de seu


paciente.

− Sim, estou obrigado. Achei que iria morrer essa


noite, tive sonhos loucos, acordei ainda confuso.

− Sonhos? Porque você não viu o que aconteceu


aqui na rua. Isso sim foi aterrorizante. Enquanto você
estava doente, vivemos dias de suspense, estamos até
agora tensos de tanta aflição. Durma mais um pouco,
depois contaremos tudo a você.

− Nada disso, conte-me agora!

− Então levante dessa cama. Natália está


preparando o café. Sozinha, não saberei contar os
detalhes.

111
Carlos, vestindo um estiloso roupão, senta-se em
torno da mesa. Recebe um beijo e afagos de Natália, e
após estarem certificados que ele está restabelecido,
iniciam um minucioso relatório.

À medida que a história vai se desenrolando, Carlos


esboça muitas reações de surpresa e inconformidade.
Seus amigos não conseguem compreender, e ficam
apreensivos com estas reações, procurando não
tumultuarem o conflito de vozes. Natália resolve assumir
as revelações restantes, e cuidadosamente revela o ponto
crucial do enredo.

Carlos ergue-se, com as duas mãos na cabeça, e


com passos rápidos, aproxima-se da janela da cozinha.

− Não, não, não! Isso não pode ter acontecido!


Esta história foi deletada!

− Do que você está falando? – Pergunta Paulo.

− Você levou meu notebook para o teu amigo, e ele


recuperou os textos que eu deletei!

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


− Não fiz nada disso, Carlos! Sem o teu
consentimento, não faria!

Carlos vira-se e pergunta:

− Então me explique! A história que vocês acabam


de me contar, é exatamente o que ocorreu em: De onde
vem a coragem?. O livro que eu escrevi!

Após meses sem escrever, inicio mais uma etapa de


minha vida de “escritora”. Talvez, ainda não como
gostaria, pois não tenho a experiência necessária para
carregar esse título tão respeitado.

Escrever é permite a um simples pensamento criar


vida. Dom que leva o leitor a viajar pelo mundo sem sair
do lugar. Apresentar novos personagens, os deixando
livres para serem amados ou odiados.

113
E entre diversas emoções, muitos contadores de
histórias, conseguem fazer brotar lágrimas e sorrisos dos
leitores. E esse é meu objetivo! Falar através das letras
escritas… narrar todas as histórias que fazem parte de
meu mundo de devaneios. Poder contar da forma que
aprendi a me comunicar… escrevendo!

Porém, como escrever, não faz de mim uma


Escritora, e preciso de um título para assinar minhas
obras, e escolhi ser chamada de Contadora de Histórias.

E para quem ama livros impressos como eu, o livro


De onde vem a Coragem?, está à venda no site
www.clubedeautores.com.br

_ Iris Albuquerque
(contadora de histórias)
iris.albuquerque@gmail.com

De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque


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De onde vem a Coragem? _ Iris Albuquerque

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