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A corte dos parentes - Crusoé.

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EDIÇÃO SEMANA 125 - REPORTAGEM

Divulgação/STJ

O plenário do STJ: atuação de parentes já afastou


ministros da corte, mas problema persiste

A corte dos parentes


A operação que mirou o !lho do presidente
do STJ chama atenção para a atuação de
familiares de ministros em processos em
curso no tribunal
18.09.20

LUIZ VASSALLO

SALVAR

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Não é de hoje que a relação de


compadrio in"uencia decisões judiciais
nos tribunais brasileiros. Há na história
inúmeros desfechos processuais que
estimulam poderosos e endinheirados
a trocarem bancas renomadas que
fazem defesas consideradas técnicas
por advogados menos experimentados
mas bem relacionados com a
magistratura. “Você não contrata uma
defesa, você compra um
relacionamento”, con!denciou
recentemente a Crusoé um empresário
que recorreu a um defensor sem estofo
jurídico mas com bom trânsito político
para resolver uma disputa bilionária.
No Superior Tribunal de Justiça, essa
mistura indesejada para os valores
republicanos já virou caso de polícia,
mas persiste. Desde 2010, a ex-ministra
da corte Eliana Calmon denuncia o
fenômeno do “!lhotismo”, em que
advogados que são !lhos ou parentes
de ministros “vendem a imagem” dos
magistrados para explorar prestígio no
tribunal e faturar milhões de reais.

Um levantamento feito por Crusoé


encontrou pelo menos 7,4 mil
processos no STJ no qual !guram como
advogados parentes de ministros e ex-
ministros da corte. São 17 !lhos,
mulheres e sobrinhos atuando na
segunda mais alta corte do país. Na
letra fria da lei, a prática só é um
problema passível de punição caso
ministros decidam em processos em
que seus familiares atuam. “No meu
gabinete, vinham: ‘Tia Eliana?’. Eu
perguntava se tinham procuração nos
autos, e não tinham. Então, não
recebia”, disse tempos atrás a ex-
ministra Calmon, tentando explicar a
dinâmica do fenômeno. “São uns
meninos, e estão todos milionários”,
a!rma a ex-ministra. Na semana
passada, o histórico tabu brasiliense
em relação a esse tipo de prática sofreu
um abalo quando a Polícia Federal
bateu à porta do advogado Eduardo
Martins, !lho do atual presidente do
STJ, Humberto Martins. A diligência era
parte da Operação E$quema S, que
detectou desvios de mais de 150
milhões de reais do Sistema S por meio
de contratos superfaturados da
Fecomércio do Rio com escritórios de
advocacia. Eduardo foi alvo de busca e
apreensão e é um dos 26 denunciados
pela Lava Jato por operar um suposto
esquema de trá!co de in"uência e
exploração de prestígio para favorecer
o ex-presidente da federação Orlando
Diniz em decisões do STJ. Contratado
em 2014, quando ainda não tinha
completado sequer 30 anos de idade, o
!lho do ministro amealhou dezenas de
milhões de reais em honorários em
uma causa em que pouco atuou. A
seguir, alguns dos casos principais de
familiares de ministros e ex-ministros
que atuam no STJ.

***

Eduardo, filho de Humberto


O jovem Eduardo Martins é dono de
um portentoso escritório de advocacia
no Lago Sul, a região mais luxuosa de
Brasília, que abriga mansões de
políticos e empresários. Na ação de
quarta-feira, os investigadores
encontraram no endereço da banca
100 mil reais em espécie. O !lho do
presidente do STJ é acusado de
estelionato, corrupção e lavagem de
dinheiro. Segundo a denúncia da Lava
Jato no Rio, aceita pela Justiça, ele
integra um esquema arquitetado
dentro da Fecomércio do Rio pelo
advogado Cristiano Zanin, advogado do
ex-presidente Lula, que foi contratado
por Orlando Diniz, ex-presidente da
federação e hoje delator-chave das
investigações. O objetivo de Diniz era se
manter a todo custo no comando da
entidade, do qual poderia ser alijado
em meio a contendas judiciais. Para
tanto, Zanin teria sugerido a
subcontratação de uma série de
escritórios de advocacia, entre eles o de
Eduardo. O delator a!rma que, para
garantir mais chances nos processos,
os valores pagos eram 80% acima do
mercado.

À época em que foi contratado pela


Fecomércio, em 2014, Martins tinha
como sócio Daniel Beltrão Rossiter
Corrêa, procurador do Distrito Federal
e atual chefe da companhia de
saneamento local. Ele foi consultor
jurídico do governo Ibaneis Rocha, do
MDB, e chegou a disputar pelo quinto
constitucional uma vaga no Tribunal de
Justiça do DF. Rossiter também é alvo
da denúncia. Ele desfez a sociedade
com Eduardo há quatro anos. No
processo da Fecomércio, Eduardo
assina pouquíssimos requerimentos ao
STJ. Mesmo assim, recebeu rios de
dinheiro. Documentos da quebra de
sigilo bancário obtidos por Crusoé
revelam que seu escritório faturou 53,7
milhões de reais somente entre 2014 e
2016. A Receita Federal descon!a de
que não haja prova de prestação de
serviços advocatícios.

O boom patrimonial do jovem


advogado salta aos olhos. Em 2014, ele
declarou 4,4 milhões de reais ao !sco.
Em 2016, chegou a informar 22,4
milhões de reais em bens. Parte da cifra
foi usada na compra de imóveis. Um
deles, no valor de 2,7 milhões, com
entrada de 1,4 milhão de reais. Não
bastassem as vultosas aquisições, a
Receita não encontrou movimentações
nas contas de Eduardo que
sinalizassem a quitação desses imóveis.
Na aquisição de um apartamento de
560 metros quadrados em Maceió por
3,2 milhões de reais, também não
foram encontrados os pagamentos à
empresa que vendeu o imóvel.

Embora apareça o!cialmente como a


maior pagadora da banca de Eduardo,
a Fecomércio não é a única pessoa
jurídica enrolada na Lava Jato com
relações !nanceiras com o escritório
dele. Léo Pinheiro, ex-presidente da
OAS, chegou a delatar o repasse de 1
milhão de reais para que o advogado o
ajudasse a ganhar um processo. Esse
capítulo da delação, no entanto, foi
engavetado pela então procuradora-
geral da República, Raquel Dodge.

César, o pai, e Caio, o filho


Pai e !lho, o ex-presidente do STJ Cesar
Asfor Rocha e o advogado Caio Rocha
também foram denunciados na mesma
operação de"agrada na semana
passada por receberem 2,67 milhões de
reais no esquema de subcontratações
de escritórios. Eles teriam sido
indicados pelo ex-governador do Rio
Sergio Cabral e pela ex-primeira-dama
Adriana Ancelmo para ajudar Orlando
Diniz a in"uenciar ministros da corte.
Caio é o !lho de ministro mais presente
em recursos ao STJ, com mais de 3 mil
processos. Cesar e Caio mantêm
escritórios em uma mansão no Lago
Sul, em Brasília, e em um prédio
comercial no Itaim Bibi, em São Paulo.
Em relação à política, a família nunca se
manteve nas sombras. Desde a época
em que foi ministro do STJ, Asfor Rocha
assumia sua relação com os ex-
presidentes José Sarney e Fernando
Collor, que o nomeou em 1992.
Também é amigo de empresários,
como Alexandre Grendene, de quem
chegou a pegar emprestado um jatinho
para passeios em cassinos de Punta Del
Leste, no Uruguai. Aposentado desde
2012, hoje Asfor Rocha atua na defesa
do grupo do empresário. Entre seus
clientes mais importantes, Caio tem o
Bradesco, a Oi, a Arena Castelão, e a
Rodopetro, alvo da Lava Jato. Também
advoga para a Marquise, construtora
que bancou a hospedagem dos
convidados de seu casamento em um
hotel de Fortaleza. A empreiteira foi
citada em uma operação da PF contra
sonegação que chegou a prender em
2010 o cunhado de Asfor Rocha, o
advogado Armando Campos Junior.

A mais notória decisão de Cesar Asfor


Rocha — uma liminar concedida no
plantão judiciário em janeiro de 2010 —
abriu caminho para anular a Operação
Castelo de Areia, que investigou
pagamento de propinas da Camargo
Corrêa a políticos em troca de contratos
públicos. A tese defendida pela
empreiteira era de que a Justiça Federal
havia autorizado grampo telefônico
com base apenas em delação
premiada. Em 2011, o STJ anulou de vez
toda a operação, considerada o
embrião da Lava Jato. Segundo o ex-
ministro Antonio Palocci, a decisão não
saiu de graça. O delator petista a!rmou
que a empreiteira pagou 5 milhões de
dólares de propina a Asfor Rocha para
brecar a operação. O dinheiro teria sido
depositado na Suíça em uma conta
vinculada a Caio, o !lho dele. No ano
passado, pai e !lho foram alvos de
busca e apreensão e quebra de sigilo
pela Lava Jato de São Paulo, a partir da
delação de Palocci. Segundo os
procuradores, Caio é o operador
!nanceiro do pai e comprou cerca de
30 imóveis em seis anos. Ambos negam
as acusações e travam uma disputa
judicial para levar o processo para a
Justiça Federal em Brasília.

Foi por meio da in"uência política do


pai que Caio Rocha conseguiu uma
indicação ao Superior Tribunal de
Justiça Desportiva, que chegou a
presidir em 2014. O STJD também é
dominado há décadas pela família do
ex-ministro do STJ Waldemar Zveiter,
cujo neto, Flávio, também é denunciado
na E$quema S. A quebra de sigilo feita
pela operação abre uma nova frente de
investigação sobre o escritório de César
e Caio. Uma banca que fez repasses a
Asfor Rocha após receber 10 milhões
da Fecomércio também foi agraciada
com 2,2 milhões de reais da Rio Ônibus,
sindicato que reúne Jacob Barata Filho,
o “rei do ônibus”, e foi presidido por
Lélis Teixeira, que também delatou a
compra de decisões no Judiciário. Caio
Rocha é casado com Tatiana Feitosa,
!lha de um sócio de Jacob Barata Filho
e sobrinha de Guiomar Feitosa Mendes,
mulher do ministro Gilmar Mendes.
Também sócia de uma grande banca,
tempos atrás Guiomar chegou a se
queixar do apetite de César Asfor
Rocha no mercado, em busca de
clientes para seu escritório.

Paulo, sobrinho de Luís


Felipe
Sobrinho do ministro Luís Felipe
Salomão, o advogado Paulo Cesar
Salomão Filho não foi denunciado nem
alvo de buscas, mas teve seu sigilo
bancário quebrado na mesma
operação que mirou os Martins e os
Rocha. Isso porque ele também
aparece na delação de Orlando Diniz,
com uma subcontratação a pedido – de
novo – de Adriana Ancelmo, ex-mulher
de Sergio Cabral. Segundo os extratos,
ele faturou 9,8 milhões de reais entre
2014 e 2017, dos quais quase metade
— 4,3 milhões — saíram da Fecomércio.
Uma devassa da Receita Federal
também não encontrou provas de que
os serviços tenham sido prestados. Os
investigadores ainda suspeitam que o
advogado administrava uma espécie de
“conta de passagem”, já que a maior
parte do dinheiro que passou por ele
foi, em seguida, repassada a outros
bene!ciários. O sobrinho do ministro
Salomão !gura em 219 processos no
STJ, a maioria na defesa de hospitais e
planos de saúde. Ele mantém um
escritório no centro do Rio e outro em
São Paulo. Assim como Caio Rocha,
Paulo Salomão também integra o STJD,
e presidiu a corte esportiva entre 2018
e 2020, tendo como vice Otávio
Noronha, !lho de João Otávio de
Noronha, ex-presidente do STJ.

Otavinho e Ninna, filhos de


João Otávio
Aos 36 anos, Otávio Noronha assumiu o
comando do STJD em julho deste ano.
No STJ, desde que seu pai se tornou
presidente da segunda mais alta corte
do país, ele passou a atuar em mais
casos famosos na área criminal – antes,
tinha maior foco na área cível.
Otavinho, como é conhecido, atua por
exemplo em nome de Coriolano
Coutinho, irmão do ex-governador
Ricardo Coutinho, do PSB, em casos
relacionados à Operação Calvário, que
mira supostos desvios na saúde do
governo da Paraíba. Também defende
um empresário alvo da Operação
Ararath, que apura um escândalo de
corrupção no Mato Grosso, durante o
governo de Silval Barbosa. O !lho de
Noronha mantém no Lago Sul de
Brasília um escritório que é
compartilhado com Antonio Rueda,
vice-presidente do PSL.

Foi na área criminal que o pai de


Otavinho protagonizou as maiores
polêmicas enquanto comandou a corte.
Cada vez mais próximo do presidente
Jair Bolsonaro, e postulante a uma vaga
no Supremo Tribunal Federal, João
Otávio de Noronha foi autor da decisão
que mandou soltar Fabrício Queiroz,
em junho deste ano. No mesmo
despacho, barrou a prisão de Márcia de
Oliveira, mulher do ex-assessor de
Flávio Bolsonaro, que estava foragida.

A !lha de Noronha, Anna Carolina, de


34 anos, também advoga na corte,
muitas vezes em parceria com o irmão.
No último sábado, Ninna, como é
conhecida, se casou em uma cerimônia
que contou com a participação do !lho
04 do presidente, Jair Renan. Em abril,
Bolsonaro chegou a dizer a Noronha,
durante a posse do ministro da Justiça
André Mendonça, que sua relação com
ele foi “amor à primeira vista”. O
próprio ministro Noronha já viu seu
nome resvalar em investigações em
razão de seus !lhos. E-mails enviados
tempos atrás ao Ministério Público
Federal mostravam que advogados da
notória JBS tinham interesse em fazer
uma proposta a Ninna no valor de 1
milhão de reais para conseguir uma
sentença favorável à empresa.
Mensagens também revelaram uma
outra tentativa de acerto dos mesmos
advogados com a !lha do ministro, em
uma causa envolvendo sócios e
herdeiros de uma faculdade privada.
Nessa ação, Anna Carolina Noronha
sequer apareceria como defensora. A
advogada que buscava a parceria com
Ninna, !lha de uma desembargadora
do Tribunal Regional Federal da 1ª
Região, mandou a secretária imprimir o
texto da proposta e entregar à !lha do
ministro em um envelope branco,
lacrado. Nesse caso, Noronha decidiu
contra o interesse da JBS.

Anna Maria, mulher de


Sebastião
De novo, a Fecomércio. A contenda
judicial em que a entidade se meteu
joga luz sobre mais um familiar de
ministro do STJ com atuação na corte. E
não é uma atuação qualquer. Com mais
de dois mil casos no tribunal, Anna
Maria da Trindade dos Reis, mulher do
ministro Sebastião Reis, lidera o ranking
dos parentes em número de processos.
Ela defende os interesses da
Confederação Nacional do Comércio, a
CNC, que trava a disputa no STJ contra
Fecomércio. Anna Maria não é alvo da
investigação. Sua atuação aparece
apenas lateralmente, em um episódio
curioso. Em 2014, Cristiano Zanin
orientou, por e-mail, um dos advogados
subcontratados pela Fecomércio a
responder uma pergunta incômoda de
um jornalista sobre pagamentos que
recebeu a título de honorários. A
estratégia sugerida por Zanin foi jogar o
ônus para a CNC. Ele sugeriu ao
advogado que encaminhasse ao
repórter uma lista dos doze escritórios
contratados pela entidade, entre eles o
de Anna Maria. Mais conservador, o
advogado indaga a Zanin se listar os
escritórios contratados por seus rivais
não iria “gerar uma guerra nos
envolvendo ainda mais”. “Todos os
escritórios estão com telhado de vidro”,
diz ele.

Assim como os !lhos de ministros que


estão do outro lado da disputa, Anna
Maria Trindade Reis também é dona de
um escritório que funciona em um
casarão no Lago Sul, e conta com uma
equipe de seis advogados. Ela atua em
outras causas gigantes na corte. Uma
delas, envolvendo uma empresa do
setor de petróleo, tem 383 milhões de
dólares em jogo. Na área criminal, Anna
Maria atua para um empresário.
Quando foi nomeado ministro em 2011
pela então presidente Dilma Rousse#,
Sebastião Reis viu ser revelado um caso
problemático envolvendo a sua atuação
como advogado ao lado da mulher. Em
1995, ele defendeu a estatal de energia
Eletronorte em um processo contra o
Consórcio Nacional de Engenheiros
Consultores. Anos depois, em 2004, foi
contratado, ao lado de Anna Maria,
para defender o consórcio. O hoje
ministro atribuiu a aparição de seu
nome na causa a um “equívoco”. Disse
que somente sua mulher atuava no
caso. O casal apareceu em eventos no
mundo da advocacia. No ano passado,
em uma mesma cerimônia, Anna Maria
se tornou integrante efetiva do Instituto
dos Advogados Brasileiros, enquanto o
ministro foi empossado como membro
honorário da entidade, que tem como
associados in"uentes advogados, como
o criminalista Alberto Zacharias Toron e
o próprio Cristiano Zanin. Em um
evento sobre arbitragem promovido
pelo STJ, onde atua o marido, Anna
Maria foi uma das palestrantes, em
agosto de 2019. Outro painel era
liderado justamente por uma das
advogadas que atuam ao lado da
mulher do ministro na ação envolvendo
a Fecomércio.

Santina, mulher de
Benedito
Outra mulher de ministro bem atuante
no STJ é Santina Maria Brandão
Nascimento Gonçalves. Ela é casada
com Benedito Gonçalves, nomeado em
2008 pelo então presidente Lula.
Benedito é amigo de Eurico Teles, ex-
CEO da Oi e alvo da Operação Lava Jato.
Há alguns anos, o ministro contou com
o apoio de Teles, então in"uente em
Brasília, para ser nomeado para o
Supremo Tribunal Federal – ele acabou
perdendo a corrida para Édson Fachin.
A amizade é ilustrativa de como essas
relações acabam avançando para
dentro da corte. Como diretor jurídico
da Oi, Teles contratou Santina
Gonçalves, a mulher do ministro.
Atualmente, Santina atua em 48 causas
na corte – sete delas pela Oi. O ex-CEO
da companhia telefônica também !gura
entre os alvos da Operação E$quema S.
Os investigadores acreditam que os de
desvios por meio de bancas de
advocacia possam ter sido replicados
na Oi, já que a operadora contratou
muitos escritórios em comum com a
Fecomércio. Até o momento, não há
registro de que Santina seja alvo da
investigação.

Vivianne, mulher de Marco


Mulher do ministro Marco Bellizze,
Vivianne Fitchner atua em 78 casos no
STJ, onde chegou a defender o ex-
governador Luiz Fernando Pezão. Ela é
irmã e foi sócia de Régis Fichner, ex-
secretário da Casa Civil que integrou os
esquemas de corrupção do ex-
governador Sergio Cabral. Vivianne
defende perante a corte a White
Martins, empresa investigada por
receber benefícios !scais de mais de
500 milhões de reais enquanto Régis
estava na casa Civil de Cabral. À época
em que ocupava o cargo público, Régis
estava afastado do escritório, mas, após
deixar o governo, recebeu 16 milhões
de reais da banca. A Lava Jato suspeita
que os pagamentos ao escritório, do
qual Vivianne fez parte, sejam uma
contrapartida aos benefícios. Em sua
delação, o ex-governador Sergio Cabral
citou o nome do ministro em um
episódio envolvendo a família da
mulher dele. Cabral disse que Régis
Fichner, cunhado do ministro, o
pressionou (e até o ameaçou) para que
ele atuasse na indicação de Marco
Aurélio Belizze para o Superior Tribunal
de Justiça. Na corte, Vivianne ainda
aparece como defensora de causas da
da Vale, do empresário Alexandre
Acciolly e do Grupo Libra, investigado
no inquérito dos portos por pagar
supostas propinas ao ex-presidente
Michel Temer e citado por Cabral como
parceiro de negócios ilícitos de Regis
Fitchner.

Marcos, filho de José


O ex-ministro José Castro Meira,
indicado por Lula em 2003, deixou o STJ
em 2013 e tem atuado, ao lado de seu
!lho, Marcos Meira, em um escritório
de advocacia situado em uma área
valorizada de Recife, com uma equipe
de oito advogados especializados em
direito público e tributário. Marcos
aparece atuando em mais de 2 mil
processos no STJ. Em 2016, a Lava Jato
revelou que o advogado recebeu 11,2
milhões de reais da Odebrecht entre
2008 e 2013. No mesmo período, o pai
dele, àquela altura na ativa na corte,
votou pela prescrição de uma dívida de
meio bilhão de reais da Braskem,
controlada pela Odebrecht. À época,
Marcos Meira alegou que prestava
serviços havia 15 anos para a
empreiteira, cujos executivos nunca
mencionaram o contrato nos acordos
de delação !rmados com a PGR. O
advogado também já foi envolvido na
Lava Jato em razão de sua amizade com
o deputado Dudu da Fonte, do
Progressistas, um dos acusados de
integrar uma organização criminosa na
cúpula do partido. Ele foi delatado por
um ex-assessor do senador Ciro
Nogueira, presidente da legenda, por
supostamente receber 1,25 milhão de
reais de Dudu em um esquema de
distribuição de propinas. A PGR chegou
a denunciar Dudu da Fonte e Ciro
Nogueira. Marcos Meira !cou de fora
da acusação.

***

De tempos em tempos surgem


escândalos envolvendo a atuação de
familiares de ministros no STJ. No
passado, um deles abreviou a
passagem de Paulo Medina pela corte.
Alvo da Operação Furacão, de"agrada
em 2005, o então ministro foi
aposentado compulsoriamente pelo
Conselho Nacional de Justiça, o CNJ.
Com a “punição”, ele manteve seus
vencimentos de 25 mil reais por mês.
Medina foi acusado de vender, por 1
milhão de reais, uma sentença
favorável à Má!a dos Caça Níqueis. O
negócio envolvia um parente. O irmão
dele, Virgílio Medina, foi apontado
como o operador da negociação. Antes
de Paulo Medina, só um ministro havia
sido afastado da corte. Foi em 2003.
Vicente Leal deixou a toga por vender
um habeas corpus a um tra!cante.
Apesar do cerco na Lava Jato do Rio aos
parentes de ministros do STJ, os
ocupantes das cadeiras do tribunal
superior ainda parecem gozar de certa
blindagem no Judiciário. No apagar das
luzes de seu mandato na presidência
do STF, o ministro Dias To#oli arquivou
doze inquéritos abertos a partir da
delação de Sergio Cabral. Entre os
bene!ciários da decisão estão
Humberto Martins, atual presidente do
STJ e pai de Eduardo, e seu colega
Napoleão Nunes Maia. Napoleão, por
sinal, pediu nos últimos dias ao
ministro Gilmar Mendes para
suspender outra apuração, aquela da
Fecomércio, em que seu nome também
é citado.

Com reportagem de Fabio Serapião

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