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O Pedro não cabia em si de contente.

E em volta, cabine que ficava um pouco escondida num recanto


as poucas pessoas que estavam na esplanada àquela do passeio. Mas a sua alegria exuberante* chamava
hora, não puderam deixar de sorrir e associar-se a atenção de quem passava e, talvez por isso,
mentalmente à felicidade daquele jovem. Apenas alguém ficou mais atento à sua conversa.
o empregado não gostou, porque o Pedro quando Assim que saiu, foi arrastado para um canto
se levantou fez cair a chávena de café que se mais escondido, entre a cabine e a parede. Um
partiu no chão. E além disso, saiu a correr e rapaz, um pouco mais velho do que ele, encos-tou-
esque-ceu-se de pagar... o discretamente à parede, prendeu-lhe os mo-
Ainda pensou ir a casa para ver a cara da vimentos e com uma rápida e hábil* busca* nas
Teresa, mas depois achou melhor ir diretamente à algibeiras tirou-lhe pura e simplesmente o seu
As-sociação e confirmar tudo. Nada como* ter a querido bilhete premiado. E pelos vistos* não
cer-teza do prémio e saber o que era preciso para queria mais nada. Só o bilhete!
o levantar, como se fazia, quando poderia ter o
O Pedro ficou sentado no chão sem forças e
carro, etc.
E se assim o pensou, melhor o fez! Meteu-se sem querer perceber o que se havia passado* ..
no Metro, na Estação das Laranjeiras, em
direção à Rotunda e foi à sede da Associação.
Levava consigo o bilhete premiado e sorria para
toda a gente; só que como ninguém sabia a
razão da sua alegria todos o consideravam um
jovem tonto* acabado de sair do Júlio de Matos*
. Houve mesmo
quem deliberadamente* se afastasse dele para não
se sentar a seu lado...

3.

Quando recebeu a confirmação de que era um


legítimo proprietário de um veículo de quatro rodas
com motor (ainda que fraquinho, era capaz de o
transportar para outros lugares) o Pedro não
resistiu mais: Pôs-se a telefonar* aos amigos todos
da primeira cabine pública que encontrou. Era uma
Sexta-feira, dia 13, parecia ser um dia de sorte 4.
e afinal estava a transformar-se em dia de azar. Será
Reencontrou um pouco da sua alegria inicial mas
que a Teresa tinha razão?... ainda estava bastante preocupado*. Quando chegou
Alguns transeuntes* que passavam olha-vam à porta da Associação muitas interrogações Ihe
curiosos mas poucos ousavam* perguntar enchiam a cabeça: Será que eles se lembram que eu
alguma coisa; apenas uma senhora de idade* in- já lá estive? E se, quando o ladrão lá
sistiu: chegar,
— Sente-se mal? Precisa de ajuda? falar com outro funcionário que não sabe que o
prémio já foi atribuído? Ainda por cima* eu não
Mas o Pedro, totalmente desanimado, nem fiquei com nenhum papel comprovativo de que o
conseguia articular palavra. Só encolhia os om- prémio é meu! Ai! se eles não acreditarem em
bros* e algumas lágrimas teimavam* em correr-- mim... o que é que eu hei de fazer?
Ihe pela cara. Estava com uma expressão de Quando ia a entrar na porta da Secretaria deu
desânimo tal* que a senhora olhou mais demo- de caras* com o que o tinha assaltado e que vinha
radamente para ele, ajudou-o a levantar-se e a sair precipitadamente*. OPedro não resistiu
dis-se-lhe: ele não podia perder aquela oportunidade única de
Venha tomar um chá ou uma água e depois se encontrar frente a frente com o seu assaltante
conte-me o que se passou. Porque se passou — agarrou-o pelo colarinho com todas as forças
alguma coisa com certeza, não foi? Ninguém fica que pôde reunir naquele momento e arrastou-o
nessa apatia* sem razão. Conte-me. Diga-me o que para dentro da Secretaria. Estava vermelho de
se passa. raiva, mas lá muito no fundo sentia alguma
alegria...
Pouco a pouco o Pedro foi recuperando e Fez-se um silêncio dentro da sala quando o
começou a contar o que se tinha passado: o bilhete, Pedro entrou; mas, depois da surpresa inicial,
a descoberta do número premiado, o carro, a ve-rificação irrompeu* uma estrondosa* salva de palmas* ao
do prémio, os telefonemas aos amigos, o roubo mesmo
E, de repente, lembrou-se: — A verificação do tempo que algunsfuncionários saíram
prémio! E isso! Estou salvo! Eu já deixei os das suas mesas de trabalho e vieram ajudar o
meus dados todos na Associação. Eles já sabem Pedro no seu enorme esforço para tentar segurar* o
que o carro é meu. Portanto* o ladrão não me vai larápio* que entretanto já se conseguira* libertar das
poder tirar nada! Obrigado minha senhora. A mãos do Pedro e tentava fugir...
senhora ajudou-me muito. Eu vou imediatamente O Pedro fora* reconhecido de imediato pelo
próprio empregado que o tinha atendido antes e
à Asso-ciação comunicar o que se passou... que Ihe disse:
Pode estar descansado. Já está tudo sob
controlo. Felizmente você já cá tinha vindo e vinha

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