O documento justifica a negação da equipe de uma creche à adoção de livros didáticos propostos pelo PNLD para a Educação Infantil. A equipe argumenta que os livros didáticos não respeitam as diretrizes de que a criança deve estar no centro do planejamento curricular e que a aprendizagem na Educação Infantil deve se dar por meio de experiências cotidianas, e não de forma rígida e preparatória para o ensino fundamental. Os livros didáticos também são vistos como retrocesso em relação
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Título original
Nota de repúdio ao PNLD 2022 (POSICIONAMENTO DAS PROFESSORAS DA CRECHE MARIA ANUNCIADA DE ARRUDA)
O documento justifica a negação da equipe de uma creche à adoção de livros didáticos propostos pelo PNLD para a Educação Infantil. A equipe argumenta que os livros didáticos não respeitam as diretrizes de que a criança deve estar no centro do planejamento curricular e que a aprendizagem na Educação Infantil deve se dar por meio de experiências cotidianas, e não de forma rígida e preparatória para o ensino fundamental. Os livros didáticos também são vistos como retrocesso em relação
O documento justifica a negação da equipe de uma creche à adoção de livros didáticos propostos pelo PNLD para a Educação Infantil. A equipe argumenta que os livros didáticos não respeitam as diretrizes de que a criança deve estar no centro do planejamento curricular e que a aprendizagem na Educação Infantil deve se dar por meio de experiências cotidianas, e não de forma rígida e preparatória para o ensino fundamental. Os livros didáticos também são vistos como retrocesso em relação
Ao dia dezenove de agosto, do ano de dois mil e vinte um, a equipe de
professoras e supervisora da Creche Maria Anunciada de Arruda, localizada no Município do Paulista, Pernambuco, comunica sua negação as obras didático-pedagógicas e repudia a seleção dos livros didáticos propostos pelo Programa Nacional do Livro Didático para Educação Infantil (PNLD/2022), visto que ferem os direitos de concepção e aprendizagem da criança, como também os princípios da Educação Infantil. Ao observarmos os documentos que normatizam a Educação Infantil, documentos esses que não são sugestões, mas normas já estabelecidas para essa etapa da educação básica, à exemplo das Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil (DCNEI, 2009), verificamos em seu artigo 4° que: Art. 4º As propostas pedagógicas da Educação Infantil deverão considerar que a criança, centro do planejamento curricular, é sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.
Assim, quando se compreende, a partir das diretrizes, essa organização de
proposta pedagógica - que coloca a criança no centro do planejamento - quais ou como os livros didáticos podem contemplar essas crianças, sujeitos de direitos, diversas, complexas, que aprendem a partir de suas vivências, nas interações e brincadeiras, em diferentes contextos e realidades cotidianas? Nessa direção, o livro didático na Educação Infantil, propõe organizar rigidamente os conteúdos, numa determinada sequência e tempo, não levando em consideração os interesses, desejos, curiosidades e especificidades de cada grupo envolvido. O uso do livro didático na Educação Infantil constitui-se em um retrocesso, que vai, justamente, contra uma luta conquistada pela não escolarização da Educação Infantil. Esses livros se expressam como cartilhas preparatórias para o ciclo de alfabetização. Assim, o livro didático não efetiva a finalidade da Educação Infantil proposta na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 2017, p. 24), pois Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Dessa forma, pensando no direito das crianças de se desenvolverem integralmente e na qualidade da Educação Infantil precisamos respeitar e garantir as singularidades dessas, observando, assim, que ao priorizar propostas em “regime de submissão” ao Ensino Fundamental, estamos limitando os bebês e as crianças pequenas a atividades empobrecidas de experiência e descontextualizadas. Como reforçado na Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2018) “os campos de experiências constituem um arranjo curricular que acolhe as situações e as experiências concretas da vida cotidiana das crianças e seus saberes, entrelaçando-os aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural”. Quais livros didáticos podem assegurar essas práticas educativas intencionalmente voltadas para as experiências concretas da vida cotidiana das crianças? Neste sentido, não podemos valorizar os exercícios de repetição, que não trabalham com a potência da criança de agir, interpretar o mundo e a si mesma, se relacionar e produzir significado. Logo, adquirir livros didáticos para crianças é negar o direito de aprendizagem e desenvolvimento como conviver, brincar, explorar, comunicar-se e conhecer-se. Portanto, adotar essa perspectiva preparatória na pré-escola, centrada na alfabetização, é retrocesso e negligência a toda produção científica da área e dos próprios documentos oficiais, como os já citados, DCNEI (2009) e a BNCC (2018). Não podemos ser condescendentes com a adesão dessas obras para Educação Infantil, visto que já temos um currículo e legislação consolidados. Além de corrermos o risco que o livro didático se torne banal nas práticas pedagógicas e proposta de currículo em nossa rede de ensino. Gostaríamos de sensibilizar todos que fazem parte da Secretaria de Educação e população do Paulista, no sentido de lançar olhar atento para a Primeira Infância e para tudo que já se conquistou e o quanto nós avançamos na Educação Infantil. Precisamos entender que o livro didático não é material didático nessa modalidade. E a escolha dele trará consequências danosas às nossas crianças, pois desconsidera todos os processos cognitivos e uma formação humana ampla.