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Exercícios de argumentação

(Professora Jucilene Nogueira)


Exclusão social, o que é isso?

Por que considerar “excluídos” aqueles que nunca estiveram de fato “incluídos”?

De algum tempo para cá, a parte da sociedade que mora em favelas e bairros pobres é qualificada como
“excluída”. Ou seja, os m,oradores da Rocinha e do Vidigal, por exemplo, não vivem ali porque não dispõem de
recursos para morar em Ipanema ou Leblon, e sim porque foram excluídos da comunidade dos ricos. E eu, com minha
mania de fazer perguntas desagradáveis, indago: mas alguma vez aquele pessoal da Rocinha morou nos bairros de
classe média alta e dos milionários? Afora um ou outro que possa ter se arruinado socialmente ou que tenha optado
por residir ali, todos os demais foram levados a isso por sua condição econômica ou porque ali nasceram. Então por
que considerá-los “excluídos”, se nunca estiveram “incluídos”?
No meu pouco entendimento, excluído é quem pertenceu a uma entidade ou a comunidade e dela foi expulso
ou impedido de nela continuar. Quem nunca pertenceu às classes remediadas ou abastadas não pode ter sido excluído
delas. Mais apropriado seria dizer que nunca foi incluído. Ainda assim, se não me equivoco, incorreríamos em erro.
Senão, vejamos: a Rocinha, o Vidigal, o Borel e a favela da Maré fazem parte da cidade do Rio de Janeiro, não fazem?
Seria correto afirmar, então, quer seja do ponto de vista urbanístico, quer do demográfico e social, que o Rio são
apenas os bairros em que reside a parte mais abastada da população? Se fizermos isso, então, sim, estaremos
excluindo parte considerável do território da gente que constitui a cidade do Rio e que, portanto, pertence a ela.
Consideremos agora a questão de outro ponto de vista. Nos morros e favelas da cidade residem cerca de 1
milhão de pessoas, que têm vida social ativa, pois trabalham, estudam, participam de organizações comunitárias e
recreativas. A maioria delas trabalha fora de sua comunidade, no comércio, na indústria, no serviço público, ou
desenvolve atividade informal. Logo, participa da vida econômica, cultural e esportiva da cidade. Em que sentido,
então, essa gente estaria excluída? Não resta dúvida de que as famílias faveladas, na sua ampla maioria, vivem em
condições precárias, tanto no que se refere ao conforto domiciliar quanto à alimentação, às condições de higiene e
saneamento, educação, saúde e segurança. Mas não estão excluídas da preocupação dos políticos que, na época das
eleições, vão até lá em busca de votos. Há, nessa comunidade, cabos eleitorais, pessoas que atuam em associações de
bairro e fazem a ligação com os centros políticos de poder. É certo que a grande maioria dessa gente não participa da
vida política, mas isso ocorre também com as demais pessoas, morem onde morarem. (...)
Em vez de admitir que esse sistema, por visar acima de tudo o lucro e ser, por definição, concentrador de
riqueza, é que dificulta, ainda que não impeça, a ascensão dos mais pobres, procura-se fazer crer que a desigualdade é
fruto de decisões pessoais. Ignora-se que, no sistema capitalista, quem não tem emprego também está incluído nele,
como exército de reserva de mão-de-obra, com a função de pressionar o trabalhador e limitar-lhe as reivindicações. A
eliminação da miséria beneficia o sistema pois amplia o mercado consumidor. O empresário pode ser, como você ou
eu, bom ou mau, generoso ou sovina, mas, como disse Marx, “o capital governa o capitalista”. O problema está no
sistema, não nas pessoas.
(Ferreira Gullar)

1) Sobre o primeiro parágrafo do texto, assinale a opção incorreta.


a) Nos dois primeiros períodos ocorre uma contextualização da questão que será analisada.
b) A partir do terceiro período temos uma análise do autor marcada pelo uso de termos associados à primeira pessoa
do singular.
c) As aspas utilizadas têm a função de explicitar citações que reforçam a veracidade da argumentação.
d) O parágrafo termina com a explicitação de uma pergunta retórica que define a questão central a ser respondida pela
análise argumentativa do texto.

2) No segundo parágrafo, Gullar utiliza uma argumentação, por meio de raciocínio, na qual ele explora o valor
semântico do vocábulo “excluído”. Explique essa argumentação.

Produção de Texto

Não podemos “fechar os olhos” para a realidade que nos cerca. Os meios de comunicação veiculam notícias,
cotidianamente, que nos fazem pensar em qual será o futuro que teremos. Desse modo, considerando o texto de sua
prova e seu conhecimento de mundo, produza um texto dissertativo, pautado em argumentos sólidos sobre o seguinte
tema: “O problema está no sistema, não nas pessoas.”
Não limite seu texto a abordagem de Ferreira Gullar, seja original, criativo e coerente. Seu texto deverá
apresentar de 25 a 30 linhas e apresentar um título. Bom trabalho.

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