Você está na página 1de 82

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA


CURSO DE GRADUAÇÃO EM MATEMÁTICA

ANA BEATRIZ DE ALMEIDA LIMA

A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI: APLICAÇÕES E CURIOSIDADES PARA ALUNOS


DO ENSINO MÉDIO

FORTALEZA – CEARÁ
2019
ANA BEATRIZ DE ALMEIDA LIMA

A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI: APLICAÇÕES E CURIOSIDADES PARA ALUNOS DO


ENSINO MÉDIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Graduação em Matemática do Centro
de Ciências e Tecnologia da Universidade
Estadual do Ceará, como requisito parcial à
obtenção do grau de licenciada em Matemática.

Orientador: Prof. Me. Emanoel Ferreira


de Souza

FORTALEZA – CEARÁ
2019
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Estadual do Ceará

Sistema de Bibliotecas

Lima, Ana Beatriz de Almeida.


A sequência de Fibonacci: aplicações e
curiosidades para alunos do Ensino Médio [recurso
eletrônico] / Ana Beatriz de Almeida Lima. - 2019.
1 CD-ROM: il.; 4 ¾ pol.

CD-ROM contendo o arquivo no formato PDF do


trabalho acadêmico com 81 folhas, acondicionado em
caixa de DVD Slim (19 x 14 cm x 7 mm).

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) -


Universidade Estadual do Ceará, Centro de Ciências e
Tecnologia, Graduação em Matemática, Fortaleza, 2019.
Orientação: Prof. Me. Emanoel Ferreira de Souza.

1. Sequência de Fibonacci. 2. Aplicações. 3.


Ensino Médio. I. Título.
À minha avó, Edite (In Memoriam), que apesar
de não estar mais conosco sempre levarei seu
imenso amor e cuidado guardados comigo.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus que além de me permitir chegar até aqui, também me protege
diariamente e me faz mais forte.
Aos meus avós, que apesar de alguns não estarem mais comigo sempre me incentivaram e
apoiaram.
À minha mãe, Elisangela, por todo amor e apoio incondicional. A agradeço também por ser a
mulher mais incrível que já conheci e um exemplo gigantesco em minha vida.
À minha irmã, Ester, por todas as brincadeiras e por todo cuidado prestado.
Ao meu orientador Prof. Me. Emanoel Ferreira de Souza, por sua paciência, conhecimento
compartilhado, disponibilidade em me auxiliar na elaboração deste trabalho e também por muitas
vezes ter acreditado mais em mim do que eu mesma.
Ao Prof. Dr. Emerson Mariano da Silva, por todo aprendizado durante meu período como
bolsista no MPClimatologia e por aceitar participar da banca examinadora deste trabalho.
Agradeço também ao Prof. Me. André Luiz Araújo da Costa pela disponibilidade.
Ainda gostaria de agradecer a Profa. Ma. Antonia Naiara de Sousa Batista, por todas as
observações e contribuições para a elaboração deste trabalho.
No mais, gostaria de agradecer a todos os professores, desde o ensino básico até a universidade,
por me proporcionarem acesso ao conhecimento e terem me formado como ser humano, sem dú-
vida nenhuma tudo que sou hoje devo a vocês, então deixo aqui os meus eternos agradecimentos
por todos os conselhos e apoio prestado.
Aos meus amigos, em especial a Isabelly Castelo que durante a elaboração deste trabalho me
auxilou bastante lendo meus esboços e me ajudando a melhorar cada vez mais.
A esta universidade, por ter me proporcionado experiências incríveis como bolsista PIBID e
PBEPU. Pela oportunidade de aprender e conhecer pessoas incríveis. Agradeço aos meus colegas
de curso, Anderson, Rodrigo e Jeniffer, por todos os momentos vividos e por todo apoio prestado.
Agradeço especialmente ao meu amigo, Cleilson Alves, que foi responsável por boa parte das
imagens presentes neste trabalho.
“Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa
qualquer entender. Entender é sempre limitado.
Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto
que sou muito mais completa quando não en-
tendo. Não entender, do modo como falo, é um
dom. Não entender, mas não como um simples
de espírito. O bom é ser inteligente e não enten-
der. É uma benção estranha, como ter loucura
sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma
doçura de burrice. Só que de vez em quando
vem a inquietação: quero entender um pouco.
Não demais: mas pelo menos entender que não
entendo.”
(Clarice Lispector)
RESUMO

Um dos maiores desafios do ensino de matemática nos dias atuais é aliar teoria à prática,
apresentando aos estudantes a aplicabilidade dos conceitos estudados em sala de aula, tornando
o aprendizado mais significativo para o estudante. Tendo isso em vista, o que buscamos com este
trabalho é apresentar aos alunos do Ensino Médio um estudo de uma sequência numérica rica
em propriedades, curiosidades e aplicações, conhecida como sequência de Fibonacci, visando
auxiliar o aluno no reconhecimento de padrões e na percepção da interdisciplinaridade presente
no estudo da matemática. Tivemos como base uma pesquisa bibliográfica, em que fazemos
um estudo sobre os tipos de sequências, dos aspectos históricos do surgimento da sequência
de Fibonacci, além de examinar suas propriedades, curiosidades e aplicações. No entanto,
nossa pesquisa também possui caráter de pesquisa em campo, pois, aplicamos os resultados
da referida pesquisa bibliográfica aos estudantes do Ensino Médio por meio de minicurso. A
aplicação visava verificar se os discentes seriam capazes de compreender os assuntos tratados
neste trabalho, desta forma, obtivemos resultados positivos com a aplicação do minicurso.

Palavras-chave: Sequência de Fibonacci. Aplicações. Ensino Médio.


ABSTRACT

One of the biggest challenges of math education today is to combine theory with practice,
introducing students to the applicability of the concepts studied in the classroom, making
learning more meaningful for the student. With this in mind, what we seek with this work is to
present to high school students a study of a numerical sequence rich in properties, curiosities and
applications, known as the Fibonacci sequence, aiming to assist the student in pattern recognition
and perception of interdisciplinarity present in the study of mathematics. We were based on
a bibliographic research, where we study the types of sequences, the historical aspects of the
emergence of the Fibonacci sequence, and examine their properties, curiosities and applications.
However, our research also has the character of field research, because we apply the results of
this bibliographic research to high school students through a short course. The application aimed
to verify if the students would be able to understand the subjects treated in this work, thus, we
obtained positive results with the application of the short course.

Keywords: Fibonacci Sequence. Applications. High School.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Leonardo Fibonacci . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23


Figura 2 – Obras de Leonardo Fibonacci . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Figura 3 – Reprodução de Coelhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Figura 4 – Conjunto Infinito de Dominós . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Figura 5 – Representação Geométrica do Segmento Áureo . . . . . . . . . . . . . . 41
Figura 6 – Representação Gráfica da Razão entre os termos consecutivos da Sequên-
cia de Fibonacci . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Figura 7 – Triângulo de Pascal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Figura 8 – Triângulo de Pascal com Valores dos Números Binomiais . . . . . . . . 48
Figura 9 – Diagonais do Triângulo de Pascal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Figura 10 – Representação das Ondas de Elliott em uma operação na bolsa de valores 51
Figura 11 – Repetição das ondas de Elliott . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
Figura 12 – Relação entre os números de Fibonacci e o método das ondas de Elliott . 52
Figura 13 – Disposição de galhos em plantas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Figura 14 – Aidan criando seu projeto de ciências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Figura 15 – Árvore solar criada por Aidan Dwyer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Figura 16 – Momentos da Sequência Didática Proposta para o Ensino da Sequência
de Fibonacci . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Figura 17 – Resolução do estudante A do Problema dos Coelhos . . . . . . . . . . . 61
Figura 18 – Resolução do estudante B do Problema sobre a Sequência das Quanti-
dades de Coelhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Figura 19 – Resolução do estudante C do 1◦ Problema sobre as Propriedades da
Sequência de Fibonacci . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Figura 20 – Resolução do estudante D do 2◦ Problema sobre as Propriedades da
Sequência de Fibonacci . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Figura 21 – Resolução do estudante E do 3◦ Problema sobre as Propriedades da
Sequência de Fibonacci . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Figura 22 – Resolução do estudante F do 4◦ Problema sobre as Propriedades da
Sequência de Fibonacci . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
Figura 23 – Resolução do estudante G do 1◦ Problema sobre as Curiosidades e Apli-
cações da Sequência de Fibonacci . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Figura 24 – Resolução do estudante H do 2◦ Problema sobre as Curiosidades e Apli-
cações da Sequência de Fibonacci . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Figura 25 – Representação Gráfica do Interesse dos Estudantes em Participar do
Minicurso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
Figura 26 – Representação Gráfica do Conhecimento dos Estudantes sobre a Sequên-
cia de Fibonacci . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
Figura 27 – Representação Gráfica da Contribuição do Minicurso para a Formação
dos Participantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Figura 28 – Representação Gráfica da Dificuldade dos Estudantes na Realização das
Atividades Propostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Figura 29 – Representação Gráfica da Compreensão dos Conteúdos Através das Ati-
vidades Propostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Termos Subsequentes da Sequência de Fibonacci . . . . . . . . . . . . 26


Quadro 2 – Representação dos primeiros 7 números naturais como soma de núme-
ros de Fibonacci não consecutivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Quadro 3 – Razão entre os termos consecutivos da Sequência de Fibonacci . . . . . 43
LISTA DE SÍMBOLOS

≈ Aproximadamente

∀ Para todo

∃! Existe único

∈ Pertence

⇒ Implica

⇔ Se, e somente se

∑ Somatório
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2 A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.1 TIPOS DE SEQUÊNCIAS NUMÉRICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.1.1 Sequências finitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.1.2 Sequências infinitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.1.3 Sequências recorrentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.2 FIBONACCI E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A MATEMÁTICA . . . . 22
2.2.1 Obras de Fibonacci . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.2.2 O problema da reprodução de coelhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.3 PROPRIEDADES DA SEQUÊNCIA DE FIBONACCI . . . . . . . . . . . 26
2.3.1 Propriedades básicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.3.2 Propriedades de divisibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3 CURIOSIDADES E APLICAÇÕES REFERENTES A SEQUÊNCIA DE
FIBONACCI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.1 CURIOSIDADES DA SEQUÊNCIA DE FIBONACCI . . . . . . . . . . . . 39
3.1.1 Números naturais como soma de números de Fibonacci . . . . . . . . . 40
3.1.2 Relação com o número áureo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.1.3 Fórmula de Binet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.1.4 Triângulo de Pascal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.2 APLICAÇÕES DA SEQUÊNCIA DE FIBONACCI . . . . . . . . . . . . . 49
3.2.1 Conversão de unidades de medidas de comprimento - Milhas para Quilô-
metros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
3.2.2 Mercado Financeiro - Ondas de Elliott . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
3.2.3 Otimização de captação de energia solar . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4 UMA APLICAÇÃO DE UMA PROPOSTA DE ABORDAGEM DA SEQUÊN-
CIA DE FIBONACCI PARA ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO . . 56
4.1 METODOLOGIA E CAMINHO METODOLÓGICO . . . . . . . . . . . . 56
4.1.1 Caracterização do local e amostra da pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.2 ELABORAÇÃO DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA O ENSINO DA
SEQUÊNCIA DE FIBONACCI NO ENSINO MÉDIO . . . . . . . . . . . . 57
4.3 DISCUTINDO AS ATIVIDADES PROPOSTAS . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.3.1 Atividade 1: Conceitos Básicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.3.2 Atividade 2: Propriedades da Sequência de Fibonacci . . . . . . . . . . 61
4.3.3 Atividade 3: Curiosidades e aplicações da Sequência de Fibonacci . . . . 64
4.4 ANÁLISE DOS QUESTIONÁRIOS INICIAIS E FINAIS . . . . . . . . . . 66
4.4.1 Questionário Inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.4.2 Questionário Final . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
APÊNDICES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
APÊNDICE A – Questionário Inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
APÊNDICE B – Atividade 1: Conceitos Básicos . . . . . . . . . . . . . . 76
APÊNDICE C – Atividade 2: Propriedades da Sequência de Fibonacci . . 77
APÊNDICE D – Atividade 3: Curiosidades e aplicações da Sequência de
Fibonacci . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
APÊNDICE E – Questionário Final . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
15

1 INTRODUÇÃO

O estudo de sequências numéricas é de suma importância, pois, auxilia os estudantes


a perceberem padrões e recorrências presentes no estudo da matemática. De acordo com Sena
(2013, p. 13), “é possível observar sequências numéricas em diversas situações do nosso
cotidiano, como no simples ato de contar e também em áreas específicas”.
Entre as sequências numéricas, existem ainda, sequências que apresentam determi-
nadas características como, propriedades que as definem e aplicações. Podemos citar as mais
conhecidas e estudadas a nível médio que são as Progressões Aritméticas (P.A.) e as Progressões
Geométricas (P.G.). A partir daí, a matemática envolvida no estudo de tais sequências auxilia o
estudante a desenvolver determinadas habilidades.
Segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), durante o Ensino Médio os
estudantes devem

[...] desenvolver habilidades relativas aos processos de investigação, de constru-


ção de modelos e de resolução de problemas. Para tanto, eles devem mobilizar
seu modo próprio de raciocinar, representar, comunicar, argumentar e, com
base em discussões e validações conjuntas, aprender conceitos e desenvolver
representações e procedimentos cada vez mais sofisticados (BRASIL, 2018, p.
529).

Isto é, o estudante deve ser capaz de raciocinar logicamente e através de sua compre-
ensão desenvolver métodos para resolução de problemas e situações diversas, além da realização
de validações simples de resultados.
Em uma breve análise do currículo escolar do Ensino Médio, pode-se constatar
que o estudo de sequências numéricas está presente, porém, a grade é restrita ao estudo das
progressões (aritméticas e geométricas). Percebe-se então a ausência do estudo de sequências do
tipo recorrentes, em que uma das mais famosas é a sequência de Fibonacci.
A sequência de Fibonacci na maioria das vezes é apenas citada por curiosidade pelos
professores, ou seja, a grande maioria dos estudantes do ensino médio não tem conhecimento
sobre tal sequência, suas propriedades e aplicações.
Ainda segundo Sena (2013, p. 13), “dentre os tipos de sequências numéricas
existentes, a sequência de Fibonacci merece um destaque especial por conta de sua aplicabilidade,
propriedades e de suas curiosidades”. Tendo isso em vista, o presente trabalho trata-se de um
estudo mais rigoroso da sequência de Fibonacci.
O trabalho pretende esmiuçar os conceitos, propriedades e curiosidades relativos à
sequência de Fibonacci, buscando encontrar suas aplicações e propor uma maneira de utilizar
16

tais conhecimentos a nível médio, auxiliando o estudante a desenvolver as habilidades presentes


na BNCC.
Também busca-se atrelar a sequência de Fibonacci aos fatos históricos que deram
origem a esta sequência, atentando então para a importância da história da matemática como base
para todo desenvolvimento teórico subsequente, pois para Rosa Neto (2010, p. 7), “é preciso
conhecer a gênese, o desenvolvimento e a significação do conhecimento”. Ou seja, é necessário
saber das origens do que será estudado para que se possa dar significado ao conhecimento.
Nota-se que um dos grandes desafios da educação matemática atualmente é aliar a
teoria estudada em sala de aula à prática diária ou aos acontecimentos cotidianos, isto é, muitas
vezes o que os estudantes veem dentro de sala de aula, não conseguem associar ao que é palpável.
Daí a importância do uso da história da matemática como ferramenta didática para apropriação
do conhecimento.
De acordo com Fortuna (2015, p. 65), “dentro do processo pedagógico, teoria e
prática precisam dialogar permanentemente, fugindo da ideia tradicional de que o saber está
somente na teoria, construído distante ou separado da ação/prática”. A partir daí, percebe-se a
importância de apresentar aos estudantes além da teoria, mostrar aplicabilidade dos conceitos
vistos em sala de aula.
Assim a sequência de Fibonacci, por possuir diversas aplicações em várias áreas do
conhecimento, é um bom exemplo de como mostrar aplicabilidade dos conteúdos estudados em
sala, tornando o conhecimento mais significativo.
No Ensino Médio, de acordo com a 5a competência presente na BNCC, os estudantes
devem ser capazes de

Investigar e estabelecer conjecturas a respeito de diferentes conceitos e propri-


edades matemáticas, empregando estratégias e recursos, como observação de
padrões, experimentações e diferentes tecnologias, identificando a necessidade,
ou não, de uma demonstração cada vez mais formal na validação das referidas
conjecturas (BRASIL, 2018, p. 531).

Dessa forma, observa-se então a importância do estudo das sequências numéricas,


para dar embasamento ao estudante, fazendo-o perceber os padrões e recorrências que fazem
parte do estudo da matemática. E através da sequência de Fibonacci, pode-se levar os estudantes
a desenvolverem tal competência, levando-os a reconhecerem padrões, formularem conjecturas e
torná-los capazes de realizar demonstrações simples.
Escolheu-se tratar da sequência de Fibonacci por conta de suas diversas propriedades,
além é claro, de suas aplicações nos mais diversos campos do conhecimento. De acordo com
17

Posamentier e Lehmann (2007, p. 13, tradução nossa1 ), a sequência de Fibonacci é riquíssima


em possibilidades, pois quase “(...) não há fim para os lugares onde os números de Fibonacci
aparecem” e suas muitas aplicações.
Ou seja, pode-se correlacionar o tema com várias áreas estudadas, fazendo com que
o estudante note a interdisciplinaridade presente no estudo da matemática, incitando ainda sua
curiosidade e apresentando as aplicações dos conteúdos estudados no cotidiano.
Outro ponto importante que motiva a pesquisa é o fato de Leonardo Fibonacci ter
sido um dos grandes matemáticos de sua época, no qual, ao longo do seu período vitalício, deu
diversas contribuições para a matemática.
A maioria dos trabalhos lidos até aqui seguem basicamente o mesmo padrão, em
que os autores procuram definir os objetos de estudo e ao final indicam possíveis atividades para
tratar os assuntos abordados. O diferencial nesta pesquisa é que além dos estudos bibliográficos
iremos elaborar uma proposta de abordagem do assunto a nível médio e aplicar a proposta através
de um minicurso voltado para estudantes do 2◦ ano do ensino médio.
Sena (2013) apresenta uma pesquisa semelhante com o presente trabalho, em que
seu trabalho inicialmente faz uma breve abordagem sobre sequências numéricas. Após essa
introdução, mostra algumas propriedades da sequência de Fibonacci, além de apresentar as
demonstrações para validação das propriedades expostas. Daí, é apresentado então algumas
aplicações e aparições na natureza dessa sequência numérica, além de algumas relações entre a
sequência de Fibonacci e outras áreas.
Ainda no trabalho de Sena (2013), no último capítulo de sua dissertação é desen-
volvido algumas ideias para levar a sequência de Fibonacci para sala de aula tanto para nível
fundamental quando para nível médio. E logo após, é apresentado algumas questões presentes
em olimpíadas de Matemática que envolvem o assunto, mostrando suas respectivas soluções.
Oliveira (2013) é outra pesquisa que se assemelha com a nossa, no qual em seu traba-
lho apresenta um breve contexto histórico, mostrando o problema que deu origem a sequência de
Fibonacci e sua definição recursiva. Também é tratado da relação entre a sequência de Fibonacci
e outros conteúdos da matemática. E ao final de seu trabalho é sugerido uma série de cinco
atividades para tratar do assunto no ensino básico.
No trabalho de Almeida (2014), é apresentado inicialmente um breve resumo sobre a
história de Leonardo Fibonacci, em que é mostrado a obra mais famosa do autor, o Liber Abaci.
Em seguida, é realizada a definição recursiva da sequência de Fibonacci e apresentado algumas
1 (...) no end to where these numbers appear.
18

propriedades dos números de Fibonacci.


Ainda em Almeida (2014), também é apresentado a relação da sequência de Fi-
bonacci com outros conteúdos da matemática, como por exemplo, matrizes, trigonometria,
geometria, entre outras. Além de ser realizado algumas generalizações referentes aos números
de Fibonacci e suas propriedades.
Finalmente, Santos (2017), traz em sua dissertação algumas orientações didático-
metodológicas relativas à abordagem da sequência de Fibonacci e suas generalizações, mais
precisamente o estudo da fórmula de Binet, para isso, é utilizado as concepções metodológicas
da Engenharia Didática em conjunto com a Teoria das Situações Didáticas.
Em seu trabalho Santos (2017), apresenta as definições dos modelos de Engenharia
Didática e Teoria das Situações Didáticas. Logo após, mostra alguns modelos de generalizações
e extensões da sequência de Fibonacci, primeiramente utilizando a fórmula de Binet, e em
seguida utilizando outros conteúdos. Além disso, também é apresentado um modelo de ensino,
com a descrição das situações didáticas.
Ao final de seu trabalho Santos (2017), exibe os resultados da experiência do ensino
do modelo generalizado de Fibonacci proposto em seu trabalho, realizado em uma turma do 5◦
semestre do curso de licenciatura em Matemática, descrevendo os momentos da aplicação.
Ao pesquisar sobre o tema, percebemos que existe uma grande quantidade de
trabalhos relacionados, muitos deles voltados para a história da matemática e alguns outros
mais voltados para a aplicação do tema em sala de aula. Durante as leituras realizadas, porém,
não encontramos trabalhos que além de sugerir atividades abordassem tais conceitos com os
estudantes do Ensino Médio. Buscaremos então, além de propor tais atividades, aplicar os
estudos bibliográficos realizados com os discentes do ensino médio.
Considerando-se que a sequência de Fibonacci não é um conteúdo abordado no
decorrer do Ensino Médio, é possível mostrar aos estudantes a aplicabilidade dessa sequência?
Dessa forma, apresenta-se como objetivo geral da pesquisa, verificar a aplicabilidade da sequência
de Fibonacci no 2◦ ano do Ensino Médio através de uma sequência didática. E como objetivos
específicos traçados, temos: 1) Apresentar conceitos e propriedades da sequência de Fibonacci; 2)
Apontar algumas curiosidades e aplicações relacionadas a sequência de Fibonacci; 3) Descrever
os resultados obtidos com a aplicação de um minicurso em uma turma do 2◦ ano do Ensino
Médio.
A metodologia proposta para alcançar os objetivos deste trabalho consiste em uma
pesquisa bibliográfica, que visa analisar e selecionar os conteúdos referentes a sequência de
19

Fibonacci que podem ser aplicáveis a nível médio. No entanto, tem-se também uma pesquisa
de campo de cunho qualitativo, no qual realizou-se a aplicação de uma proposta de sequência
didática voltada para a abordagem da sequência de Fibonacci em turmas de 2◦ ano do Ensino
Médio.
O presente trabalho é composto por um total de cinco capítulos, a introdução, três
capítulos e as considerações finais. Dessa forma, dividimos os capítulos de forma a alcançar os
objetivos propostos.
No segundo capítulo apresentamos as noções iniciais sobre a sequência de Fibonacci,
fazemos uma breve introdução sobre alguns tipos de sequências numéricas estudadas a nível
médio, logo após desenvolvemos um breve resumo histórico sobre Leonardo Fibonacci e suas
contribuições para a matemática da Idade Média, além de mostrarmos o problema que deu
origem a sequência de Fibonacci. Partimos então para a definição recursiva da sequência de
Fibonacci e ao final do capítulo enunciamos e demonstramos um total de treze propriedades
sobre essa sequência, subdividimos tais propriedades em básicas e relacionadas a divisibilidade.
Em nosso terceiro capítulo, mostramos um total de quatro curiosidades da sequência
de Fibonacci, onde buscamos relacionar tais curiosidades com outros conteúdos da matemática
como, por exemplo, geometria e analise combinatória. Em seguida, apresentamos um total de
três aplicações dessa sequência, em que uma delas consiste em um experimento realizado por
um estudante do Ensino Fundamental.
E finalmente, no quarto capítulo, apresentamos nossa metodologia de forma mais
abrangente e o caminho metodológico percorrido. Elaboramos uma sequência didática para
abordagem dos conteúdos tratados nos capítulos anteriores a nível médio. Além disso, exibimos
também os resultados obtidos com a aplicação de tal proposta em uma turma de 2◦ ano do Ensino
Médio de uma escola pública de Fortaleza.
20

2 A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI

A sequência de Fibonacci é conhecida por suas intrigantes propriedades e aparições


que a tornam única. Inúmeros matemáticos e curiosos a estudaram ao longo dos anos e descobri-
ram diversas propriedades e relações incríveis, ao contrário do que sua origem, de certa forma
simplória, sugere.
O capítulo está dividido em três seções. Na primeira seção procuramos definir os
tipos de sequências numéricas e as notações utilizadas. Na segunda seção nos detivemos em
apresentar um breve resumo sobre o matemático Leonardo Fibonacci e suas contribuições, além
de mostrar o problema que originou a famosa sequência que leva seu nome. Já na terceira seção
buscamos além de apresentar algumas propriedades da mesma, explicar a validade dos resultados
citados.

2.1 TIPOS DE SEQUÊNCIAS NUMÉRICAS

Intuitivamente, uma sequência numérica é nada mais, nada menos, do que uma
sucessão de números. Porém, matematicamente, tais sequências possuem certas propriedades
que as definem. Uma sequência numérica pode ser finita ou infinita. Veremos adiante as
definições para ambos os casos.
Inicialmente define-se o que é chamado na matemática de aplicação ou função, pois
utilizaremos esse conceito adiante para definirmos o que são sequências na matemática. Segundo
Iezzi e Murakami (1993, p. 81), uma aplicação ou função pode ser definida da seguinte maneira:
“Dados dois conjuntos A e B, não vazios, uma relação f de A em B recebe o nome de aplicação
de A em B ou função definida em A com imagens em B se, e somente se, para todo x ∈ A
existe um só y ∈ B tal que (x, y) ∈ f ”. Em símbolos temos que, f é uma função de A em B
⇔ (∀x ∈ A, ∃!y ∈ B/(x, y) ∈ f ).
Da definição, pode-se dizer que existem condições necessárias para que uma relação
qualquer entre os conjuntos A e B seja uma aplicação ou função. A condição é que todo
elemento x ∈ A deve participar da relação, e além disso, um elemento qualquer x ∈ A só pode
estar relacionado com um único y ∈ B.
Ou seja, relações em que um elemento de A não está relacionado com nenhum
elemento de B ou um mesmo elemento de A está relacionado com mais de um elemento de B,
não são consideradas funções.
Agora, define-se de maneira mais rigorosa o que é uma sequência numérica, de
21

acordo com Lima (2017, p. 100),

[...] Uma sequência de números reais é uma função x : N → R, definida no


conjunto N = {1, 2, 3, · · · } dos números naturais e tomando valores no conjunto
R dos números reais. O valor x(n), para todo n ∈ N, será representado por xn e
chamado o termo de ordem n, ou n-ésimo termo da sequência.

Diante da definição do autor utiliza-se para indicar uma sequência numérica a


seguinte notação (x1 , x2 , · · · , xn , · · · ) ou (xn )n∈N . E denota-se o conjunto dos elementos da
sequência como {x1 , x2 , · · · , xn , · · · }.
Veremos agora, alguns tipos de sequências numéricas estudadas na matemática
durante o ensino médio. Não faremos nenhum estudo aprofundado sobre o assunto, apenas uma
breve introdução visando contribuir para o melhor entendimento da sequência de Fibonacci.

2.1.1 Sequências finitas

Uma sequência numérica é uma função em que cada número natural está associado
a um número real e ela será finita, se o conjunto constituído pelos elementos da sequência for
finito, ou seja, tiver fim.
Um exemplo pode ser dado pelo conjunto A = {2, 4, 6, ..., 100}, percebemos que tal
sequência é finita, pois, tal sequência possui uma quantidade finita de termos. Estamos na verdade
descrevendo o conjunto dos números pares de 1 a 100, ou ainda, A = {x ∈ N/x = 2k, 1 ≤ k ≤ 50}.
Podemos pensar que a definição dada não abrange este exemplo. Porém, perceba que
tal conjunto contém 50 elementos, ou seja, A = {x1 , x2 , x3 , ..., x50 }. Então podemos dizer que
todos os elementos xi , onde i > 50, são termos iguais aos anteriores, e, portanto, não escrevemos
estes elementos repetidamente.

2.1.2 Sequências infinitas

Da mesma forma uma sequência numérica infinita, é uma aplicação em que cada
número natural está associado a um número real, porém, ao contrário de uma sequência finita,
é uma sequência em que seus elementos são distintos, ou seja, o conjunto constituído dos
elementos da sequência é infinito.
Um exemplo pode ser dado pelo conjunto P = {2, 4, 6, ..., 100, ...}, que é uma sequên-
cia infinita, pois, tal sequência continua infinitamente. Estamos na verdade, descrevendo o
conjunto de todos os números pares.
22

Analisando o exemplo de acordo com a definição adotada, podemos perceber que tal
conjunto, contém infinitos elementos, ou seja, P = {x1 , x2 , x3 , ..., x50 , ...}. Então podemos dizer
que xi = i-ésimo número par, ∀i ∈ N, e, portanto, não conseguimos descrever explicitamente
todos os elementos desta sequência, então simbolizamos isso por reticências.

2.1.3 Sequências recorrentes

De acordo com Lima (2006, p. 67) existem muitas sequências numéricas que “são
definidas recursivamente (isto é, por recorrência), ou seja, por intermédio de uma carga que
permite calcular qualquer termo em função do(s) antecessor(es) imediato(s)”.
Então podemos dizer que se chama sequência recorrente toda sequência numérica
em que podemos calcular um termo qualquer de tal sequência em função de seus termos
anteriores. São sequências, que podem ser finitas ou infinitas, em que seus termos são definidos
recursivamente, isto é, por recorrência.
Um exemplo pode ser o conjunto dado por b1 = 1 e bn = 3 · bn−1 ,∀n ∈ N e n ≥ 2.
Perceba que a sequência dada é uma sequência recorrente pois seus termos posteriores, são dados
em função dos termos anteriores através de uma fórmula de recorrência.
Vejamos alguns termos dessa sequência:

b1 = 1; b2 = 3 · b2−1 ⇒ b2 = 3 · b1 ⇒ b2 = 3; b3 = 3 · b3−1 ⇒ b3 = 3 · b2 ⇒ b3 = 9;

b4 = 3 · b4−1 ⇒ b4 = 3 · b3 ⇒ b4 = 27; b5 = 3 · b5−1 ⇒ b5 = 3 · b4 ⇒ b5 = 81.

Ou seja, a sequência é {1, 3, 9, 27, 81, ...}, que é uma sequência recorrente e infinita.
Após essa breve introdução sobre os tipos de sequências numéricas, iremos agora
partir para o estudo de uma sequência específica, a famosa sequência de Fibonacci e algumas
contribuições de seu autor para o desenvolvimento da matemática do seu período.

2.2 FIBONACCI E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A MATEMÁTICA

Leonardo Fibonacci, representado na Figura 1, filho de Guilielmo Bonacci e Ales-


sandra Bonacci, nasceu em Pisa, uma cidade italiana que durante a Idade Média detinha rotas
comerciais para o Mediterrâneo. Por influência de seu pai, Leonardo Fibonacci desenvolveu
desde cedo habilidades de calcular para que pudesse futuramente se tornar um comerciante.
Porém, suas habilidades foram além das funções exercidas pelos comerciantes da
época. Fibonacci viajava bastante, tendo assim convivência com diversas culturas, e consequen-
23

temente, com as inovações de vários povos. Foi dessa forma que teve contato com os algarismos
indo-arábicos, conhecidos atualmente.

Figura 1 – Leonardo Fibonacci

Fonte – Posamentier e Lehmann (2007).

Segundo Posamentier e Lehmann (2007), uma das grandes colaborações de Fibo-


nacci, foi promover a disseminação do sistema de numeração decimal ou algarismos indo-
arábicos, que são utilizados até o século XXI, pois a partir daí houve um significativo avanço no
que diz respeito à realização dos cálculos matemáticos, até então realizados por meio do ábaco.
Ainda de acordo com Eves (2008, p. 294), “É evidente que Fibonacci foi um
matemático invulgarmente capaz, sem rivais nos nove séculos da Idade Média”, isto é, Fibonacci
foi o matemático da Idade Média com maior influência no desenvolvimento da matemática como
ciência,

[...] Ele não apenas nos forneceu as ferramentas para fazer matemática eficiente
(por exemplo, os numerais até então conhecidos em grande parte no mundo
oriental), mas também introduziu no mundo europeu um processo de pensa-
mento que abriu o caminho para muitos futuros empreendimentos matemáticos
(POSAMENTIER E LEHMANN, 2007, p. 56, tradução nossa2 ).

Percebemos que de acordo com o autor, Fibonacci tornou a matemática mais prática
e aplicável para facilitar situações do cotidiano, porém, apesar de suas várias contribuições, ele
só ficou realmente conhecido através da sequência que leva seu nome.
2 [...] He not only provided us with the tools to do efficient mathematics (e.g., the numerals heretofore known
largely to the Eastern world), but he also introduced to the European world a thought process that opened the
way for many future mathematical endeavors.
24

2.2.1 Obras de Fibonacci

O matemático Leonardo Fibonacci foi autor de pelo menos quatro livros que o
tornaram um dos grandes matemáticos de sua época, o qual ao longo do seu período vitalício,
deu diversas contribuições para a matemática.

Figura 2 – Obras de Leonardo Fibonacci

Fonte – Adaptado de Barros (2014).

A primeira de suas obras, intitulada Liber Abaci (Figura 2), é uma das mais famosas,
conhecida por ser o primeiro escrito que possui o sistema de numeração decimal ou indo-
arábico. Seguida de outros grandes trabalhos denominados, Practica Geometriae, Flos e Liber
Quadratorum (Figura 2). Fibonacci possui ainda alguns outros trabalhos menos conhecidos,
segundo Barros (2004, p. 34),

[...] Apesar de costumeiramente falar-se apenas sobre essas quatro obras, Pisano
escrevera suas ideias em outros trabalhos, como em Epistola ad Magistrum
Theodorus, Di Minor Guisa e um comentário no livro X, de Os Elementos de
Euclides.

Podemos ver que Fibonacci, colaborou com trabalhos além das quatro obras co-
25

nhecidas de sua autoria. Portanto, é inegável as contribuições de Leonardo Fibonacci para o


desenvolvimento da matemática durante a idade média.

2.2.2 O problema da reprodução de coelhos

De acordo com Posamentier e Lehmann (2007) a famosa sequência de Fibonacci foi


originada de um problema proposto por Leonardo Fibonacci, no capítulo 12 de seu livro ‘Liber
Abaci’ (Livro do Ábaco).
Tal problema trata sobre a reprodução de coelhos, no qual é apresentado o cres-
cimento de um conjunto de coelhos, sendo representada pela seguinte sequência de números,
{1, 1, 2, 3, 5, 8, ..., x, y, x + y, · · · }.
De acordo com Eves (2008, p. 315), o problema diz: “Quantos pares de coelhos
serão produzidos num ano, a partir de um único casal, se cada casal procria a cada mês um novo
casal que se torna produtivo depois de dois meses?”. Podemos observar o comportamento desse
problema na Figura 3.

Figura 3 – Reprodução de Coelhos

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

Segundo Posamentier e Lehmann (2007), a sequência de Fibonacci (Fn ) é definida


como: F1 = 1; F2 = 1; Fn+2 = Fn + Fn+1 , ∀n ≥ 1.
Ao analisar tal sequência, observaremos que é uma sequência de recorrência infinita,
onde: F1 = 1; F2 = 1.
E os termos subsequentes a estes são obtidos através da soma entre os dois termos
26

anteriores, respectivamente, ou seja, no Quadro 1, a seguir podemos observar o comportamento


dos termos subsequentes dessa sequência.

Quadro 1 – Termos Subsequentes da Sequência de Fibonacci

F3 = F2 + F1 = 1 + 1 = 2

F4 = F3 + F2 = 2 + 1 = 3

F5 = F4 + F3 = 3 + 2 = 5

..
.

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

Repetindo-se essa operação n vezes, encontraremos n elementos pertencentes a


sequência dada. Tais números são conhecidos, atualmente, como números de Fibonacci.

2.3 PROPRIEDADES DA SEQUÊNCIA DE FIBONACCI

Nesta seção trataremos sobre as propriedades dessa sequência. É importante dizer


que na maioria das demonstrações que serão realizadas, utilizaremos o princípio de indução
finita.
Apresentaremos três formas do princípio de indução finita que utilizamos no decorrer
das demonstrações. Caso quiséssemos examinar a validade de uma determinada propriedade
(P) pertencente ao conjunto dos números naturais, a primeira forma do princípio de indução
finita segundo Lima (2017, p. 34), consiste basicamente em verificar, “se 1 gozar da propriedade
P e se, do fato de um número natural n gozar de P puder-se concluir que n + 1 goza da
propriedade P, então todos os números naturais gozam dessa propriedade”.
Em outras palavras, podemos dizer que se um determinado subconjunto dos naturais
satisfaz uma propriedade P1 a qual depende de n, provar que P1 (n) é verdadeira para qualquer
n ∈ N, pelo princípio de indução finita, é nada mais, nada menos, do que examinar a validade
dos seguintes itens:
i) A base de indução é válida, isto é, o caso P1 (1) é válido;
27

ii) Tomando a hipótese de indução como válida, isto é, admitindo P1 (n) válida,
então P1 (n + 1) também é válida.
Se tal propriedade P1 (n) atende os itens i e ii, então de acordo com o princípio de
indução finita, a propriedade P1 (n) é válida para todo n ∈ N.
Há formas distintas, porém equivalentes, de enunciar o Princípio de Indução Finita
citado anteriormente. As mais conhecidas são:
Segunda Forma - Se uma propriedade P2 é válida para 1 e se ao ser válida para
qualquer k < n for válida também para n, então será válida para qualquer número natural.
Terceira Forma - Se uma propriedade P3 é válida para algum k e se ao ser válida
para algum n também for válida para n + 1, então P3 é válida para todo n ∈ N tal que n > k,
onde n, k ∈ N.
Ou ainda de forma lúdica, imagine um conjunto infinito de dominós com as peças
enfileiradas, como na Figura 4.

Figura 4 – Conjunto Infinito de Dominós

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

Caso quiséssemos derrubar todas as peças desse dominó infinito, teríamos, teorica-
mente, duas formas: a primeira opção seria derrubar cada uma das peças individualmente; a
segunda seria derrubar apenas a primeira peça caso tivéssemos certeza de que ela derrubaria a
próxima e assim sucessivamente.
Perceba que a primeira opção seria insuficiente pois poderíamos jamais chegar ao
fim das peças, já que o dominó é infinito. Agora, se observarmos o comportamento da nossa
segunda opção, iremos perceber que ela é análoga ao princípio de indução finita, pois tal princípio
funciona como um “efeito dominó”. Se o que queremos provar é válido para 1 e para um certo n,
então se mostrarmos que é válida para n + 1, sempre conseguiremos derrubar a próxima peça do
28

dominó.
A seguir mostraremos um total de 13 propriedades dos números de Fibonacci,
divididas em duas subseções com propriedades básicas e propriedades de divisibilidade, buscando
justificar e esclarecer a validade dos resultados apresentados.

2.3.1 Propriedades básicas

Propriedade 1: A soma dos n primeiros termos da sequência de Fibonacci é igual a Fn+2 − 1


(POSAMENTIER E LEHMANN, 2007, p. 54, tradução nossa3 ).
Demonstração: Utilizando indução sobre n, queremos mostrar que
n
∑ Fi = F1 + F2 + · · · + Fn = Fn+2 − 1.
i=1

i) Base de Indução: Primeiramente, precisamos verificar o caso quando n = 1, ou seja,

F1 = 1 ⇔ F1 = 2 − 1 ⇔ F1 = F3 − 1 ⇔ F1 = F1+2 − 1 ⇔ Fn = Fn+2 − 1.

Portanto, verificamos que tal relação é válida para n = 1.


ii) Suponhamos então que seja válido o caso n, ou seja, F1 + F2 + F3 + · · · + Fn = Fn+2 −1.
Precisamos mostrar que a hipótese de indução implica a tese, isto é, verificar que a relação é
válida para n + 1, onde n ∈ N. Então teremos, F1 + F2 + F3 + · · · + Fn + Fn+1 . Para isso, temos
pela hipótese de indução que, (F1 + F2 + F3 + · · · + Fn ) + Fn+1 = Fn+2 − 1 + Fn+1 .
Agora, pela definição dos números de Fibonacci, sabemos que Fn+2 + Fn+1 = Fn+3 . E finalmente,
obteremos, Fn+2 − 1 + Fn+1 = Fn+3 − 1 = F(n+1)+2 − 1. Como queríamos mostrar. 
Mostramos anteriormente, uma generalização para a soma dos n primeiros termos
da sequência de Fibonacci. Agora, nas propriedades 2 e 3, apresentaremos as generalizações
para os termos de ordem par e ímpar, respectivamente.
Propriedade 2: A soma dos n-ésimos primeiros termos de ordem par da sequência de Fibonacci
é igual a F2n+1 − 1 (POSAMENTIER E LEHMANN, 2007, p. 54, tradução nossa4 ).
Demonstração: Utilizando indução sobre n, queremos mostrar que
n
∑ F2i = F2 + F4 + · · · + F2n = F2n+1 − 1.
i=1
3 The sum of the first n Fibonacci numbers is equal to the Fibonacci number two further along the sequence minus
1.
4 The sum of the consecutive even-positioned Fibonacci numbers is 1 less than the Fibonacci number that follows
the last even number in the sum.
29

i) Base de Indução: Primeiramente, precisamos verificar o caso quando n = 1, ou seja,

F2·1 = 1 ⇔ F2·1 = 2 − 1 ⇔ F2·1 = F3 − 1 ⇔ F2·1 = F2·1+1 − 1 ⇔ F2·n = F2·n+1 − 1.

Portanto, verificamos que tal relação é válida para n = 1.


ii) Suponhamos então que tal relação seja válida para um certo natural n, teremos então a seguinte
relação, F2 + F4 + F6 + · · · + F2n = F2n+1 −1. Mostraremos que tal relação é válida para n + 1,
onde n ∈ N. Ou seja, F2 + F4 + F6 + · · · + F2n + F2(n+1) = F2(n+1)+1 −1.
Observe novamente, que pela hipótese de indução, podemos reescrever a expressão da seguinte
forma, (F2 + F4 + F6 + · · · + F2n ) + F2(n+1) = F2n+1 −1 + F2n+2 .
E pela definição dos números de Fibonacci, temos, F2n+1 + F2n+2 = F2n+3 , e substituindo na
expressão obteremos, F2n+1 − 1 + F2n+2 = F2n+3 − 1 = F2(n+1)+1 − 1. Como queríamos mostrar.

Propriedade 3: A soma dos n-ésimos primeiros termos de ordem ímpar da sequência de
Fibonacci é igual a F2n (POSAMENTIER E LEHMANN, 2007, p. 54, tradução nossa5 ).
Demonstração: Utilizando indução sobre n, devemos mostrar que
n
∑ F2i−1 = F1 + F3 + · · · + F2n−1 = F2n.
i=1

i) Base de Indução: Primeiramente, precisamos verificar o caso quando n = 1, ou seja,

F1 = 1 ⇔ F1 = F2 ⇔ F2·1−1 = F2·1 ⇔ F2·n−1 = F2·n

Para o caso base a relação é válida.


ii) Suponhamos então que tal relação seja válida para um certo natural n, teremos,

F1 + F3 + F5 + · · · + F2n−1 = F2n .

Verificaremos se tal relação é válida para n + 1, onde n ∈ N. Ou seja,

F1 + F3 + F5 + · · · + F2n−1 + F2(n+1)−1 = F2(n+1) .

Novamente, pela hipótese de indução, podemos reescrever a expressão da seguinte maneira,

(F1 + F3 + F5 + · · · + F2n−1 ) + F2(n+1)−1 = F2n + F2n+1 .

E pela definição dos números de Fibonacci, temos, F2n + F2n+1 = F2n+2 = F2(n+1) . Como
queríamos mostrar. 
5 The sum of the consecutive odd-positioned Fibonacci numbers is equal to the Fibonacci number that follows the
last odd number in the sum.
30

Propriedade 4: A soma dos quadrados dos n-ésimos primeiros termos da sequência de Fibonacci
é igual a Fn · Fn+1 (POSAMENTIER E LEHMANN, 2007, p. 54, tradução nossa6 ).
Demonstração: Utilizando indução sobre n, queremos mostrar que
n
∑ Fi2 = F12 + F22 + · · · + Fn2 = Fn · Fn+1.
i=1

i) Base de Indução: Verificar o caso n = 1, ou seja,

12 = 1 ⇔ F12 = 1 · 1 ⇔ F12 = F1 · F2 ⇔ F12 = F1 · F1+1 ⇔ Fn2 = Fn · Fn+1 .

Então a propriedade é válida para o caso base.


ii) Suponhamos então que a relação seja válida para algum natural n, teremos,

F12 + F22 + · · · + Fn2 = Fn · Fn+1 .

Verificaremos agora se tal relação é válida para n + 1, onde n ∈ N, isto é,

F12 + F22 + · · · + Fn2 + Fn+1


2
= Fn+1 · F(n+1)+1 .

Pela hipótese de indução, podemos reescrever a expressão como,

(F12 + F22 + · · · + Fn2 ) + Fn+1


2 2
= Fn · Fn+1 + Fn+1 .

2 =F
Agora, colocando Fn+1 , em evidência teremos, Fn · Fn+1 + Fn+1 n+1 · (Fn + Fn+1 ). E pela

definição dos números de Fibonacci, temos que a expressão contida nos parênteses pode ser
escrita como, Fn+1 · (Fn + Fn+1 ) = Fn+1 · Fn+2 = Fn+1 · F(n+1)+1 . Como queríamos mostrar. 
Lema 1: Fm+n = Fm−1 · Fn + Fm · Fn+1 .
Demonstração: Fixando m e utilizando indução sobre n, temos
i) Base de Indução: Verificar o caso n = 1, ou seja,

Fm+1 = Fm−1 · F1 + Fm · F1+1 ⇒ Fm+1 = Fm−1 · 1 + Fm · 1 ⇒ Fm+1 = Fm−1 + Fm .

Tal expressão é válida pela definição dos números de Fibonacci.


ii) Suponhamos que seja válido para todo k, onde 1 ≤ k ≤ n e n ∈ N, teremos então a seguinte
relação, Fm+k = Fm−1 · Fk + Fm · Fk+1 . Agora devemos mostrar que a expressão também é válida
para o caso n + 1, onde n ∈ N, ou seja, Fm+(n+1) = Fm−1 · Fn+1 + Fm · F(n+1)+1 .
6 The sum of the squares of the Fibonacci numbers is equal to the product of the last number and the next number
in the Fibonacci sequence.
31

Temos pela hipótese de indução que: Fm+n−1 = Fm−1 · Fn−1 + Fm · Fn−1+1 e Fm+n = Fm−1 · Fn +
Fm · Fn+1 , são verdadeiras. Daí, somando as duas expressões obteremos,

Fm+n−1 + Fm+n = Fm−1 · Fn−1 + Fm · Fn + Fm−1 · Fn + Fm · Fn+1

Pela definição de recorrência dos números de Fibonacci, e colocando os termos comuns em


evidência, temos,

Fm+(n+1) = Fm−1 · (Fn−1 + Fn ) + Fm · (Fn + Fn+1 ) ⇒ Fm+(n+1) = Fm−1 · Fn+1 + Fm · Fn+2

⇒ Fm+(n+1) = Fm−1 · Fn+1 + Fm · F(n+1)+1

Como queríamos mostrar. 


Agora, nas propriedades 5 e 6, utilizaremos o resultado apresentado no lema 1,
para mostrar uma regra generalizada para a diferença entre quadrados de termos alternados da
sequência e a soma de quadrados de termos consecutivos, respectivamente.
Propriedade 5: A diferença dos quadrados dos termos alternados, ou seja, um número de
Fibonacci com índice n e o número de Fibonacci duas vezes anterior a ele é igual a F2n−2
(POSAMENTIER E LEHMANN, 2007, p. 54, tradução nossa7 ).
Demonstração: Escreveremos a propriedade 5, da seguinte maneira Fn2 − Fn−2
2 =F
2n−2 .

Fatorando a diferença de quadrados, temos, Fn2 − Fn−2


2 = (F − F
n n−2 ) · (Fn + Fn−2 ). Note que

pela definição dos número de Fibonacci podemos escrever, Fn = Fn−1 + Fn−2 , daí temos que
Fn−1 = Fn − Fn−2 . Portanto, Fn2 − Fn−2
2 =F
n−1 · (Fn + Fn−2 ) = Fn−1 · Fn + Fn−1 · Fn−2 .

Utilizando o Lema 1, onde m = n − 1 e n = n − 1, podemos reescrever a expressão como,

Fn−2 · Fn−1 + Fn−1 · Fn = F(n−1)−1 · Fn−1 + Fn−1 · F(n−1)+1 = Fn−1+n−1 = F2n−2 .

Logo Fn2 − Fn−2


2 =F
2n−2 . Como queríamos mostrar. 

Propriedade 6: A soma dos quadrados dos termos consecutivos da sequência de Fibonacci é


igual a F2n+1 (POSAMENTIER E LEHMANN, 2007, p. 55, tradução nossa8 ).
Demonstração: Escreveremos a propriedade 6, da seguinte forma Fn2 + Fn+1
2 = F
2n+1 . E

novamente utilizando o Lema 1, tomemos m = n + 1 e n = n, então teremos,

Fn+1+n = F(n+1)−1 · Fn + F(n+1) · Fn+1


7 The difference of the squares of two altemate Fibonacci numbers is equal to the Fibonacci number in the
sequence whose position number is the sum of their position numbers.
8 The sum of the squares of two consecutive Fibonacci numbers is equal to the Fibonacci number in the sequence
whose position number is the sum of their position numbers.
32

E, portanto, F2n+1 = Fn · Fn + Fn+1 · Fn+1 ⇒ Fn2 + Fn+1


2 =F
2n+1 . Como queríamos mostrar. 

A próxima propriedade traz uma relação entre 4 números consecutivos da sequência


de Fibonacci.
Propriedade 7: Para qualquer grupo de quatro números consecutivos de Fibonacci, a dife-
rença dos quadrados dos dois números centrais é igual ao produto dos dois números extremos
(POSAMENTIER E LEHMANN, 2007, p. 55, tradução nossa9 ).
Demonstração: Consideremos a seguinte sequência de quatro números consecutivos de Fi-
bonacci, Fn−1 , Fn , Fn+1 , Fn+2 . Simbolicamente, podemos escrever a afirmação acima como,
2 − F2 = F
Fn+1 n n−1 · Fn+2 . A demonstração dessa propriedade é dada de forma direta pela proprie-
2 − F 2 = (F
dade da diferença de quadrados: Fn+1 n n+1 + Fn ) · (Fn+1 − Fn ).

Agora pela definição dos números de Fibonacci, perceba que Fn+1 = Fn + Fn−1 , e daí Fn−1 =
Fn+1 − Fn . Então, podemos reescrever a expressão da seguinte maneira,

2
Fn+1 − Fn2 = (Fn+1 + Fn ) · (Fn+1 − Fn ) = Fn+2 · Fn−1 .

2 − F2 = F
E, portanto, Fn+1 n n−1 · Fn+2 . Como queríamos mostrar. 

A próxima propriedade é conhecida como Identidade de Cassini, onde encontramos


uma forma generalizada para o produto de dois números alternados de Fibonacci.
Propriedade 8: O produto de dois números alternados de Fibonacci é o quadrado do número de
Fibonacci entre eles ±1 (POSAMENTIER E LEHMANN, 2007, p. 55, tradução nossa10 ).
Demonstração: Podemos escrever essa propriedade da seguinte forma

Fn−1 · Fn+1 = Fn2 + (−1)n .

Perceba que se n é par, então (−1)n é positivo e se n for ímpar, (−1)n é negativo. Utilizando a
generalização do princípio de indução finita, sobre k ∈ N, temos,
i) Base de Indução: Caso n = 2, ou seja,

F2−1 · F2+1 = F22 + (−1)2 ⇒ F1 · F3 = 12 + (−1)2 ⇒ 1 · 2 = 12 + 1 = 2.

A expressão é válida para o caso base.


ii) Suponhamos que seja válido para todo k, onde 1 ≤ k ≤ n e n ∈ N, teremos então a seguinte
relação, Fk−1 · Fk+1 = Fk2 + (−1)k . Precisamos mostrar que a expressão também é válida para
2
n + 1, onde n ∈ N, isto é, queremos mostrar que F(n+1)−1 · F(n+1)+1 = F(n+1) + (−1)n+1 .
9 For any group of four consecutive Fibonacci numbers, the difference of the squares of the middle two numbers
is equal to the product of the outer two numbers.
10 The product of two alternating Fibonacci numbers is 1 more or less than the square of the Fibonacci number
between them ±1.
33

Para isso, somando Fn · Fn+1 , em ambos os lados da igualdade da nossa hipótese de indução
quando k = n, temos, Fn−1 · Fn+1 + Fn · Fn+1 = Fn2 + (−1)n + Fn · Fn+1 . Colocando os termos co-
muns em evidência obtemos, Fn+1 · (Fn−1 + Fn ) = Fn · (Fn + Fn+1 ) + (−1)n . Agora, reescrevendo
as expressões contidas nos parênteses pela definição de recorrência dos números de Fibonacci,
ficamos com,

2 2
Fn+1 · Fn+1 = Fn · Fn+2 + (−1)n ⇒ Fn+1 = Fn · Fn+2 + (−1)n ⇒ −Fn · Fn+2 = −Fn+1 + (−1)n

E daí, multiplicando a igualdade acima por (−1), teremos,

2
 2
+ (−1)n ⇒ [−Fn · Fn+2 ] · (−1) = −Fn+1 + (−1)n · (−1).

−Fn · Fn+2 = −Fn+1

2 2
⇒ Fn · Fn+2 = Fn+1 + (−1)n+1 ⇒ F(n+1)−1 · F(n+1)+1 = Fn+1 + (−1)n+1 .

Como queríamos mostrar. 


A próxima propriedade nos dá fórmulas generalizadas para números consecutivos de
Fibonacci.
Propriedade 9: A soma do produto de números consecutivos de Fibonacci, tomados dois a dois,
é o quadrado de um número de Fibonacci, quando n é ímpar ou o quadrado de um número de
Fibonacci menos 1, quando n é par (POSAMENTIER E LEHMANN, 2007, p. 55, tradução
nossa11 ).
Demonstração: Podemos escrever a propriedade citada anteriomente da seguinte maneira:
n+1
2
∑ Fi · Fi−1 = Fn+1 , se n é ímpar.
i=2

n+1
2
∑ Fi · Fi−1 = Fn+1 − 1, se n é par.
i=2

Dessa forma, se n é ímpar, utilizando indução sobre n, queremos mostrar que

n+1
2
∑ Fi · Fi−1 = Fn+1 , se n é ímpar.
i=2

i) Base de Indução: Verificar o caso n = 3, ou seja,

9 = 9 ⇔ 1 · 1 + 2 · 1 + 3 · 2 = 32 ⇔ F2 · F1 + F3 · F2 + F4 · F3 = F42
11 The product of consecutive Fibonacci numbers is either the square of a Fibonacci number or 1 greater that the
square of a Fibonacci number.
34

2
⇔ F2 · F2−1 + F3 · F3−1 + F4 · F4−1 = F3+1

Então a propriedade é válida para o caso base.


ii) Suponhamos que a relação seja válida para todo n, onde n ∈ N e n é ímpar, teremos,

2
F1 · F2 + · · · + Fn−1 · Fn + Fn · Fn+1 = Fn+1 .

Precisamos mostrar que tal relação é válida para n + 2, isto é,

2
(F1 · F2 + · · · + Fn−1 · Fn + Fn · Fn+1 ) + Fn+1 · Fn+2 + Fn+2 · Fn+3 = F(n+2)+1 .

2 +F
Substituindo a expressão entre parênteses por nossa hipótese de indução, obteremos, Fn+1 n+1 ·

Fn+2 + Fn+2 · Fn+3 . Agora, colocando Fn+1 , em evidência teremos, Fn+1 · (Fn+1 + Fn+2 ) + Fn+2 ·
Fn+3 . E por definição, temos que a expressão contida nos parênteses é, Fn+1 · Fn+3 + Fn+2 · Fn+3 .
Agora, colocando Fn+3 , em evidência temos,

2 2
Fn+3 · (Fn+1 + Fn+2 ) = Fn+3 · Fn+3 = Fn+3 = F(n+2)+1 .

Como queríamos mostrar. 


Da mesma maneira, se n é par, utilizando indução sobre n, queremos mostrar que

n+1
2
∑ Fi · Fi−1 = Fn+1 − 1, se n é par.
i=2

i) Base de Indução: Verificar o caso n = 2, ou seja,

2 + 1 = 3 ⇔ 2 · 1 + 1 · 1 = 22 − 1 ⇔ F3 · F2 + F2 · F1 = F32 − 1

2
⇔ F3 · F3−1 + F3 · F2−1 = F2+1 −1

Então a propriedade é válida para o caso base.


ii) Suponhamos que a relação seja válida para todo n, onde n ∈ N e n é par, teremos,

2
F1 · F2 + · · · + Fn−1 · Fn + Fn · Fn+1 = Fn+1 − 1.

Verificaremos agora se tal relação é válida para n + 2, isto é,

2
(F1 · F2 + · · · + Fn−1 · Fn + Fn · Fn+1 ) + Fn+1 · Fn+2 + Fn+2 · Fn+3 = F(n+2)+1 − 1.

2 −
Substituindo a expressão entre parênteses por nossa hipótese de indução, obteremos, Fn+1
1 + Fn+1 · Fn+2 + Fn+2 · Fn+3 . Agora, colocando Fn+1 , em evidência teremos, Fn+1 · (Fn+1 +
35

Fn+2 ) − 1 + Fn+2 · Fn+3 . E por definição, temos que a expressão contida nos parênteses é,
Fn+1 · Fn+3 − 1 + Fn+2 · Fn+3 .
Agora, colocando Fn+3 , em evidência temos,

2 2
Fn+3 · (Fn+1 + Fn+2 ) − 1 = Fn+3 · Fn+3 − 1 = Fn+3 − 1 = F(n+2)+1 − 1.

Como queríamos mostrar.

2.3.2 Propriedades de divisibilidade

As propriedades que serão apresentadas a seguir envolverão conceitos de divisibili-


dade, para isso utilizaremos algumas definições e teoremas nos quais os resultados não serão
demonstrados. Para os leitores interessados recomendamos a leitura do capítulo 1 do livro
Introdução à Teoria dos Números de José Plínio de Oliveira Santos, 2017.
De acordo com Santos (2014, p. 3), “se a e b são inteiros, dizemos que a divide b,
denotando por a | b, se existir um inteiro c tal que b = a · c”. Em outras palavras, podemos dizer
que a divide b se a divisão é exata, isto é, não deixa restos.
O máximo divisor comum de dois números inteiros a e b (onde a e b não podem ser
ambos iguais a zero), segundo Santos (2014, p. 5), é definido como “o maior inteiro que divide a
e b e é denotado por (a, b)”.
Dois inteiros a e b serão relativamente primos para Santos (2014, p. 6), “quando
(a, b) = 1”. Em outras palavras, pode-se dizer que dois inteiros serão relativamente primos
quando seu único divisor comum for igual a 1. Outro resultado que será admitido conforme
Santos (2014, p. 6) é que “para a, b e x inteiros temos (a, b) = (a, b + ax)”.
Agora, utilizando as definições dadas anteriormente, mostraremos que 11 divide a
soma de quaisquer dez números consecutivos de Fibonacci.
Propriedade 10: A soma de quaisquer dez números consecutivos de Fibonacci é divisível por
11 (POSAMENTIER E LEHMANN, 2007, p. 53, tradução nossa12 ).
Demonstração: A demonstração a seguir, foi baseada em Almeida (2014), embora aqui seja
tratada com mais detalhes. Queremos mostrar que,

11 | (Fn + Fn+1 + Fn+2 + · · · + Fn+8 + Fn+9 ).


12 The sum of any ten consecutive Fibonacci numbers is divisible by 11.
36

Para mostrar a validade desse resultado, iremos escrever a soma dos dez números consecutivos
de Fibonacci como soma de parcelas iguais utilizando a definição de recorrência dessa sequência.
9
∑ Fn+r = Fn + Fn+1 + Fn+2 + Fn+3 + Fn+4 + Fn+5 + Fn+6 + Fn+7 + Fn+8 + Fn+9
r=0

Perceba que pela definição de recorrência dos números de Fibonacci podemos escrever os
seguintes termos, da forma:

Fn + Fn+1 = Fn+2 ; Fn+2 ; Fn+3 ; Fn+4 = Fn+3 + Fn+2 ;

Fn+5 = Fn+4 + Fn+3 = Fn+3 + Fn+2 + Fn+3 = 2 · Fn+3 + Fn+2 ;

Fn+6 = Fn+5 + Fn+4 ; Fn+7 = Fn+6 + Fn+5 ;

Fn+8 = Fn+7 + Fn+6 = Fn+6 + Fn+5 + Fn+6 = 2 · Fn+6 + Fn+5 ;

Fn+9 = Fn+8 + Fn+7 = 2 · Fn+6 + Fn+5 + Fn+6 + Fn+5 = 3 · Fn+6 + 2 · Fn+5 .

Daí, o somatório dos 10 números consecutivos de Fibonacci, será igual a,


9
∑ Fn+r = Fn+2 + Fn+2 + Fn+3 + Fn+3 + Fn+2 + 2 · Fn+3 + Fn+2 + Fn+6 + Fn+6+
r=0

+Fn+5 + 2 · Fn+6 + Fn+5 + 3 · Fn+6 + 2 · Fn+5 .

Agora, somando os termos comuns, ficaremos com,


9
∑ Fn+r = 4 · Fn+2 + 4 · Fn+3 + 4 · Fn+5 + 7 · Fn+6.
r=0

Colocando o 4 em evidência e utilizando a definição dos números de Fibonacci, e obteremos


9
∑ Fn+r = 4 · (Fn+2 + Fn+3) + 4 · Fn+5 + 7 · Fn+6 = 4 · Fn+4 + 4 · Fn+5 + 7 · Fn+6.
r=0

9
⇒ ∑ Fn+r = 4 · (Fn+4 + Fn+5) + 7 · Fn+6 = 4 · Fn+6 + 7 · Fn+6 = 11 · Fn+6.
r=0

Como, 11 · Fn+6 , é a soma dos dez números consecutivos de Fibonacci e ainda é um múltiplo
de 11, podemos afirmar que 11 | (Fn + Fn+1 + Fn+2 + · · · + Fn+8 + Fn+9 ) = 11 · Fn+6 . Como
queríamos mostrar. 
37

A próxima propriedade nos diz que números consecutivos da sequência de Fibonacci


são relativamente primos, isto é, seu único divisor comum é o 1.
Propriedade 11: Os números consecutivos de Fibonacci são relativamente primos, ou seja, seu
maior divisor comum é 1 (POSAMENTIER E LEHMANN, 2007, p. 53, tradução nossa13 ).
Demonstração: Simbolicamente, podemos escrever isso como (Fn , Fn+1 ) = 1, ∀n ∈ N.
Utilizando indução sobre n, devemos mostrar que (Fn , Fn+1 ) = 1.
i) Base de Indução: Caso n = 1, teremos, (F1 , F2 ) = (1, 1) = 1. Então a propriedade é válida
para o caso base.
ii) Suponhamos que a relação seja válida para algum n, onde n ∈ N, teremos, (Fn , Fn+1 ) = 1.
Verificando agora se tal relação é válida para n + 1, queremos mostrar que (Fn+1 , Fn+2 ) = 1.
Perceba que, por definição, podemos escrever Fn+2 , da seguinte forma

(Fn+1 , Fn+2 ) = (Fn+1 , Fn+1 + Fn ).

Definimos anteriormente o seguinte resultado “para a, b e x inteiros temos (a, b) = (a, b + ax)”,
então utlizando esta definição, com a = Fn+1 e b = Fn temos,

(Fn+1 , Fn+2 ) = (Fn+1 , Fn+1 + Fn ) = (Fn+1 , Fn ).

Daí, pela hipótese de indução, temos que (Fn+1 , Fn+2 ) = (Fn+1 , Fn ) = 1. Como queríamos
mostrar. 
Veremos a seguir que, se p é divisível por q, então Fp é divisível por Fq , ou seja,
p | q ⇒ Fp | Fq , onde p e q são inteiros positivos.
Propriedade 12: Um número de Fibonacci Fmn é divisível por um número de Fibonacci Fm
(POSAMENTIER E LEHMANN, 2007, p. 55, tradução nossa14 ).
Demonstração: Podemos escrever isso como Fm | Fmn , e lê-se Fm divide Fmn , onde m, n são
inteiros positivos.
Utilizando indução sobre n, queremos mostrar que Fm | Fmn .
i) Base de Indução: Caso n = 1, teremos, Fm | Fm·1 ⇒ Fm | Fm . Para o caso base a relação é
válida.
ii) Suponhamos que a relação seja válida para algum n, onde n ∈ N, teremos, Fm | Fmn .
Verificando se tal relação é válida para n + 1, isto é, precisamos provar que Fm | Fm(n+1) .
Perceba que, Fm(n+1) = Fmn+m . Então, pelo Lema 1, podemos dizer que,

Fmn+m = Fmn−1 · Fm + Fmn · Fm+1 .


13 Consecutive Fibonacci numbers are relatively prime: That is, their greatest common divisor is 1.
14 A Fibonacci number Fmn is divisible by a Fibonacci number Fm .
38

Daí, note que a primeira parcela é divisível por Fm , pois Fm | Fm (base de indução), e a segunda
parcela também é divisível por Fm , pois Fm | Fmn (hipótese de indução). Portanto, Fm | Fm(n+1) .
Como queríamos mostrar. 
A última propriedade a ser apresentada nos diz que se n não é primo então Fn não é
primo, onde a única exceção é quando n = 4, pois 4 não é um número primo, mas, F4 = 3 que é
um número primo.
Propriedade 13: Números de Fibonacci em uma posição numérica composta (com a exceção do
quarto número de Fibonacci) são também números compostos (POSAMENTIER E LEHMANN,
2007, p. 53, tradução nossa15 ).
Demonstração: A demonstração dessa propriedade decorre diretamente da propriedade anterior.
Note que se n é composto, ou seja, possui algum divisor diferente de 1 e ele mesmo, então
podemos escrevê-lo da seguinte forma n = a · b, onde a e b são maiores que 1 e menores que n
(1 < a, b < n). Daí, perceba que da propriedade anterior temos que Fa | Fn e além disso Fb | Fn .
Precisamos nos certificar que Fa seja diferente de 1, e Fa só será igual a 1, se a = 1 ou a = 2,
porém, sabemos que a 6= 1 já que n é composto. Logo, nossa única exceção é quando a = 2 e
b = 2, pois aí teríamos n = 2 · 2 = 4 e F4 = 3, que não é um número composto.
Portanto, perceba que se Fa > 1, então Fn é composto, como queríamos mostrar. 
Vimos neste capítulo, apenas algumas das propriedades dessa sequência numérica.
É importante dizer que os números de Fibonacci, possuem propriedades além das citadas anteri-
ormente, é de fato, uma sequência riquíssima de propriedades e possibilidades de abordagens. É
interessante notar,

[...] como a origem dos números de Fibonacci, inocentemente incorporados em


um problema sobre a regeneração de coelhos, parece ter propriedades muito
além do que se poderia esperar. As relações surpreendentes desta sequência,
dentro do reino dos números, são verdadeiramente espantosas! É esse fenômeno
associado às aplicações quase infinitas além da sequência que intrigou os
matemáticos por gerações (POSAMENTIER E LEHMANN, 2007, p. 57,
tradução nossa16 ).

Dessa forma, nosso intuito é apresentar e justificar os resultados e relações dessa


sequência, visando tornar o conhecimento significativo. Veremos no próximo capítulo, algumas
curiosidades sobre essa sequência e também algumas de suas aplicações.
15 Fibonacci numbers in a composite number position (with the exception of the fourth Fibonacci number) are also
composite numbers.
16 [...] how the origin of the Fibonacci numbers, innocently embedded in a problem about the regeneration of
rabbits, seems to have properties far beyond what might be expected. The surprising relationships of this
sequence, within the realm of the numbers, are truly mind-boggling! It is this phenomenon coupled with the
almost endless applications beyond the sequence that has intrigued mathematicians for generations.
39

3 CURIOSIDADES E APLICAÇÕES REFERENTES A SEQUÊNCIA DE FIBO-


NACCI
Apresentamos no capítulo anterior algumas das propriedades da sequência de Fi-
bonacci, porém, existem muitos outros aspectos a serem abordados e aprofundados sobre tal
sequência. Nosso propósito com o atual capítulo é mostrar curiosidades e aplicações dessa
sequência numérica.
Este capítulo está dividido em duas seções. Na primeira seção abordaremos algumas
curiosidades sobre os números de Fibonacci, como por exemplo, uma forma de encontrar os
termos da sequência sem a necessidade da utilização da fórmula de recorrência. Enquanto que,
na segunda seção falaremos sobre algumas de suas aplicações, como por exemplo, como os
números de Fibonacci são utilizados no mercado financeiro.

3.1 CURIOSIDADES DA SEQUÊNCIA DE FIBONACCI

Serão abordados nesta seção quatro fatos ou relações curiosas relacionadas a essa
sequência numérica. A primeira delas nos diz que podemos escrever qualquer número natural n
como soma de números de Fibonacci não consecutivos. Como bem sabemos a sequência é uma
função cujo domínio é o conjunto dos números naturais, porém, não quer dizer que todo natural
n é um número de Fibonacci, por exemplo, o número natural 4 não é um número de Fibonacci.
O resultado que queremos mostrar é que sempre podemos encontrar uma forma de escrever um
natural n qualquer como soma de um ou mais números de Fibonacci não consecutivos.
O segundo fato curioso nos remete ao número áureo, também conhecido como
número de ouro, razão áurea, entre outros. Pode-se perceber um comportamento muito peculiar
ao dividir os termos consecutivos, dois a dois, dessa sequência. O valor encontrado, à medida
que os termos crescem, se aproxima de uma constante da qual seu valor é exatamente o valor do
número áureo.
Apresenta-se então a terceira curiosidade, que nos fornece uma forma de encontrar
os termos da sequência de Fibonacci sem precisarmos utilizar a fórmula de recorrência, ou
seja, tal fórmula nos possibilita encontrar, por exemplo, o 1000◦ termo dessa sequência sem
necessariamente conhecermos os 999◦ , 998◦ termos. Esta fórmula nos auxilia na diminuição dos
cálculos, no caso em que queremos encontrar um termo especifico, pois, podemos calculá-lo
diretamente sem precisar obter os termos anteriores. E o último fato curioso que abordaremos
nesta seção, será a relação entre a sequência de Fibonacci e o triângulo de Pascal.
40

3.1.1 Números naturais como soma de números de Fibonacci

O fato curioso que queremos apresentar aqui é conhecido como Teorema de Zecken-
dorf, segundo Oconnor, Robertson e Phillips (2012), tal teorema foi descoberto pelo matemático
amador belga Edouard Zeckendorf (1901-1983), o teorema diz que todo número natural pode
ser escrito como soma de um ou mais números de Fibonacci não consecutivos. No Quadro 2,
podemos observar o comportamento desse resultado.

Quadro 2 – Representação dos primeiros 7 números naturais como soma de números de


Fibonacci não consecutivos
Número Natural Número de Fibonacci Valor do Número de Fibonacci
1 F1 1
2 F3 1
3 F4 3
4 F2 + F4 1+3
5 F5 5
6 F2 + F5 1+5
7 F3 + F5 2+5
.. .. ..
. . .

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

O enunciado do Teorema de Zeckendorf, segundo Oconnor, Robertson e Phillips


(2012), diz que todo número natural n, “pode ser representado exclusivamente como a soma
de números de Fibonacci não consecutivos”17 , isto é, n = Fa1 + · · · + Fan , ai − ai−1 ≥ 2, para
qualquer n ∈ N.
Demonstração: Vamos apresentar a demonstração desse resultado utilizando indução
sobre n.
i) Base de Indução: Caso n = 1, temos, 1 = F1 = 1. Então o resultado é válido para
o caso base.
ii) Suponhamos que a relação seja válida para algum n, onde n ∈ N, isto é, n =
Fa1 + · · · + Fan , com a1 , · · · , an não consecutivos.
Precisamos mostrar que a relação é válida para o caso n + 1, isto é,

n + 1 = Fa1 + · · · + Fan + Fan+1 .

Note que pela hipótese de indução a expressão para n + 1 é igual a

n + 1 = Fa1 + · · · + Fan + Fan+1 , onde an+1 = 1.


17 [...] can be represented uniquely as the sum of nonconsecutive Fibonacci numbers.
41

⇒ n + 1 = F1 + Fa1 + · · · + Fan .

Que continua sendo a soma de números de Fibonacci, porém, perceba que o enunci-
ado do teorema diz que os índices são necessariamente não consecutivos, assim se a1 > 2, então os
termos serão não consecutivos e a prova do teorema estará terminada. Mas se a1 = 2, então tere-
mos, F1 + Fa1 = F1 + F2 = F3 , então substituindo na igualdade, temos n + 1 = F3 + Fa2 + · · · + Fan .
Novamente se 3 e a2 , não forem consecutivos, o teorema é válido, caso eles sejam
consecutivos podemos utilizar a definição recorrente dos números de Fibonacci e escrevê-los
como um novo número de Fibonacci, e assim sucessivamente. Isto finaliza a demonstração.
Poderíamos nos questionar se existe outra sequência numérica que possua essa
peculiaridade, isto é, em que podemos escrever os números naturais como soma dos termos
dessa sequência. De acordo com Cerioli (2004, p. 28), a sequência de Fibonacci “é a única
sequência de inteiros para a qual cada número inteiro positivo pode ser escrito de maneira única
como soma de termos distintos e não consecutivos dessa sequência”.

3.1.2 Relação com o número áureo

A sequência de Fibonacci possui ainda uma relação muito curiosa com a proporção
áurea, também conhecida como o número de ouro. A razão áurea é simbolizada pela letra grega
φ , lê-se fi.
A primeira definição para a razão áurea foi dada por Euclides, pai da geometria
dedutiva, por volta de 300 a.C. Segundo Livio (2006, p. 13) a proporção áurea definida por
Euclides é chamada de razão extrema e média, “nas palavras de Euclides: Diz-se que uma linha
reta é cortada na razão extrema e média quando, assim como a linha toda está para o maior
segmento, o maior segmento está para o menor”.
Ou seja, criando então um segmento de reta AB como representado na Figura 5,
podemos analisar o que está dito em palavras por meio da geometria.

Figura 5 – Representação Geométrica do Segmento Áureo

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

O segmento AB é maior que AC (AB > AC) e observamos ainda que o segmento AC
42

é maior que CB (AC > CB). Então, se a razão entre AC para CB for igual à razão entre AB para
AC, ou seja,
AC AB
= =φ (1)
CB AC

Temos pela definição de Euclides, que o segmento AB foi cortado em razão extrema
e média, ou em uma proporção áurea.
Para a proporção áurea, temos ainda uma definição algébrica, onde podemos obter
o valor da constante φ , que é na verdade um número irracional, ou seja, possui infinitas casas
decimais, sem repetição, em sua representação decimal.
Iremos verificar tal definição adiante, de acordo com Livio (2006, p. 98), basta
definirmos o segmento maior AC = x e o segmento menor CB = 1, ao substituirmos esses valores
na expressão (1), teremos

x x+1
φ= = ⇒ x · x = 1 · (x + 1) ⇒ x2 = x + 1 ⇒ x2 − x − 1 = 0
1 x

Resolvendo esta equação quadrática pela fórmula de Bháskara, obtemos


p √ √ √
1 ± (−1)2 − 4 · 1 · (−1) 1± 5 1+ 5 1− 5
x= ⇒x= ∴ x1 = e x2 =
2·1 2 2 2

1+ 5
A solução positiva 2 ≈ 1,6180339887498948482 · · · , nos dá exatamente o valor
da razão áurea ou de φ . A outra raiz é negativa e por isso não pode ser φ , já que φ é a razão de
comprimentos de segmentos e por isso não pode ser negativo.
A relação curiosa entre a sequência de Fibonacci e a proporção áurea é a seguinte,
ao observar a divisão entre os números consecutivos da sequência de Fibonacci, perceberemos
que o valor de tais divisões se aproxima da razão áurea. Podemos examinar esse comportamento
no Quadro 3.
Também podemos verificar esse comportamento por meio de gráfico, presente
na Figura 6, no qual conseguimos visualizar que a sequência das divisões entre os números
consecutivos de Fibonacci converge para o valor do número áureo conforme os termos da
sequência de Fibonacci tendem ao infinito.
Perceba que utilizamos um gráfico de dispersão para favorecer a visualização dos
dados presentes no Quadro 3. Ao analisar o gráfico representado na Figura 6, podemos perceber
 
Fn+1
que para a razão considerada Fn , existem valores máximo e mínimo e, logo após, a medida
que os termos da sequência de Fibonacci ficam cada vez maiores, percebemos que o gráfico
estabiliza, ou seja, o valor da razão entre seus termos se aproxima do valor do número áureo.
43

Quadro 3 – Razão entre os termos consecutivos da Sequência de Fibonacci


Fn+1 Fn+1
n Fn Fn n Fn Fn
1 1 1 11 89 1,617977528
2 1 2 12 144 1,618055556
3 2 1,5 13 233 1,618025751
4 3 1,666666667 14 377 1,618037135
5 5 1,6 15 610 1,618032787
6 8 1,625 16 987 1,618034448
7 13 1,615384615 17 1597 1,618033813
8 21 1,619047619 18 2584 1,618034056
9 34 1,617647059 19 4181 1,618033963
10 55 1,618181818 20 6765

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

Figura 6 – Representação Gráfica da Razão entre os termos consecutivos da Sequência


de Fibonacci

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

Apesar de intuitivamente podermos afirmar que a sequência das razões dos números
consecutivos de Fibonacci converge para o número áureo, matematicamente isso ainda não está
claro, pois, isso requer um pouco mais de rigor. Adiante mostraremos uma demonstração mais
rigorosa para esse resultado.

3.1.3 Fórmula de Binet

Como vimos no capítulo anterior a sequência de Fibonacci é uma sequência infinita


e recorrente. Porém, não existe apenas essa fórmula recorrente para encontrarmos os termos
dessa sequência. Essa maneira de determinar números de Fibonacci foi descoberta em

[...] 1843 Jacques Philippe Marie Binet (1786-1856) desenvolveu uma definição
explícita para os números de Fibonacci. [...] Quando ele divulgou seu trabalho,
44

não houve desafios para Binet, mas no decorrer do tempo, tem havido alegações
de que Abraham de Moivre (1667-1754) estava ciente disso em 1718, Nicolaus
Bernoulli I (1687-1759) sabia disso em 1728 e seu primo Daniel Bernoulli
(1700-1782) também parece ter conhecido a fórmula antes de Binet. O prolífico
matemático Leonhard Euler (1707-1783) também é dito ter conhecido em 1765
(POSAMENTIER E LEHMANN, 2007, p. 296, tradução nossa18 ).

Apesar das discussões sobre a autoria desse resultado, o que apresentaremos agora é
conhecido como Fórmula de Binet, e nos fornece uma generalização para se encontrar os termos
da sequência de Fibonacci sem a necessidade da utilização da sua lei de recorrência, utilizando
apenas a posição do número de Fibonacci que se quer encontrar.
Imagine uma situação em que você gostaria de encontrar o 1000◦ termo dessa
sequência, para isso, pela lei de recorrência dos números de Fibonacci, você precisaria conhecer
os 999◦ e 998◦ termos, porém, isso demandaria bastante tempo e esforço, tendo em vista que
você precisaria calcular cada termo anterior ao milésimo, um a um. O que mostraremos é uma
forma de facilitar esse trabalho, pois com o uso da fórmula de Binet, poderíamos encontrar o
1000◦ termo diretamente, com auxílio de uma calculadora científica, apenas substituindo o valor
de sua posição na expressão.
Segundo Posamentier e Lehmann (2007), a fórmula de Binet é definida como
" √ !n √ !n #
1 1+ 5 1− 5
Fn = √ · − .
5 2 2
 √   √ 
1+ 5 1− 5
Para facilitar a manipulação algébrica, denotaremos 2 como φ e 2
como ψ, então ficaremos com a seguinte expressão reduzida

1 φ n − ψn
Fn = √ · (φ n − ψ n ) ⇒ Fn = √ .
5 5

Tal expressão, de acordo com Posamentier e Lehmann (2007, p. 300), “nos dará
qualquer número de Fibonacci para qualquer número natural n”19 .
Pode parecer estranho que uma expressão aparentemente complicada nos forneça
como resultado números de Fibonacci, que em particular são números naturais, segundo Livio
(2006, p. 128),

À primeira vista, esta é uma fórmula extremamente desconcertante, já que não


é sequer óbvio que após a substituição dos vários valores de n ela produziria
18 [...] in 1843 JacquesPhilippe-Marie Binet (1786-1856) developed an explicit definition for the Fibonacci numbers.
[...] When he publicized his work, there were no challenges to Binet, but in the course of time, there have been
claims that Abraham de Moivre (1667-1754) was aware of it in 1718, Nicolaus Bernoulli I (1687-1759) knew it
in 1728, and his cousin Daniel Bernoulli (1700-1782).
19 [...] will give us any Fibonacci number for any natural number n.
45

números inteiros (como são todos os termos na sequência de Fibonacci). Como


já sabemos que os números de Fibonacci estão intimamente ligados à Razão
Áurea, as coisas começam a parecer um pouco mais tranquilizadoras quando
percebemos que o primeiro termo entre os colchetes é de fato
 simplesmente a
 n
Razão Áurea elevado à n-ésima potência φ n , e o segundo é − φ1 .

Iremos mostrar agora a validade dessa expressão, no caso, a fórmula de Binet. Para
isso, utilizaremos o princípio de indução finita sobre n, devemos mostrar que,

φ n − ψn
Fn = √ , ∀n ∈ N.
5
i) Base de Indução: Verificando o caso quando n = 1, temos
 √ 1  √ 1 √ √
1+ 5 1− 5
1
φ −ψ 1 2 − 2
1+ 5
− 1− 5
F1 = √ ⇒ F1 = √ ⇒ F1 = 2 √ 2
5 5 5
√ √ √ √
1+ 5−1+ 5 2· 5
5
⇒ F1 = √2 ⇒ F1 = √2 ⇒ F1 = √ = 1.
5 5 5

Então o resultado é válido para o caso base.


ii) Suponhamos então que tal relação seja válida para todo k, onde 1 ≤ k ≤ n e n ∈ N,
φ k√
−ψ k
teremos então a seguinte relação, Fk = 5
. Mostraremos então que tal relação é válida para
n + 1, onde n ∈ N. Então, pela fórmula de recorrência da sequência de Fibonacci, teremos,
Fn+1 = Fn + Fn−1 , mas perceba que pela hipótese de indução, podemos substituir Fn e Fn−1 , por

φ n − ψ n φ n−1 − ψ n−1 φ n − ψ n + φ n−1 − ψ n−1


Fn + Fn−1 = √ + √ = √ .
5 5 5
Colocando φ n−1 e ψ n−1 em evidência, teremos

φ n − ψ n + φ n−1 − ψ n−1 φ n−1 · (1 + φ ) − ψ n−1 · (1 + ψ)


√ = √ (2)
5 5
Além disso, perceba que φ e ψ são raízes da equação x2 − x − 1 = 0, então temos,
φ 2 − φ − 1 = 0 ⇒ φ 2 = φ + 1 e ψ 2 − ψ − 1 = 0 ⇒ ψ 2 = ψ + 1. Substituindo essas informações
na expressão contida nos parênteses da equação (2), obteremos

φ n−1 · (1 + φ ) − ψ n−1 · (1 + ψ) φ n−1 · φ 2 − ψ n−1 · ψ 2


√ = √
5 5

Agora pela propriedade de potência de mesma base, podemos simplificar a expressão


e obtemos o seguinte,
φ n+1 − ψ n+1
√ = Fn+1
5
46

Como queríamos mostrar. 


Utilizando o conceito de limite e a fórmula de Binet, mostraremos que de fato a
sequência das razões dos números consecutivos de Fibonacci converge para o número áureo.
Fn+1
Então seja an uma sequência definida por Fn , queremos mostrar que o valor dessa sequência,
converge para φ , isto é, queremos saber qual o valor de an de forma que esse n seja tão grande
quanto queiramos, podemos simbolizar isso por n → ∞, lê-se n tende ao infinito. Em termos
matemáticos, podemos escrever isto da seguinte forma

Fn+1
lim = φ (3)
n→∞ Fn

Agora mostraremos a validade da expressão (3). Veja que podemos escrever Fn+1 e
Fn , pela fórmula de Binet.
φ n+1√−ψ n+1 √
Fn+1 5 φ n+1 − ψ n+1 5 φ n+1 − ψ n+1
= φ n√
−ψ n
= √ · n = .
Fn 5 φ − ψn φ n − ψn
5

Agora, dividindo o denominador e o numerador por φ n , obteremos a seguinte


expressão
 n
φ n+1 −ψ n+1 φ n+1 ψ n+1 n+1
φ − ψ · ψφ
φ n+1 − ψ n+1 φn φn − φn φ − ψφ n
= φ n −ψ n
= φn ψn
= n =  n .
φ n − ψn − 1 − ψφ n 1 − ψφ
φn φn φn

Portanto,  n
Fn+1 φ − ψ · ψφ
=  n .
Fn 1 − ψφ

Daí, aplicando o limite na expressão anterior, teremos


 n
ψ
Fn+1 φ − ψ · φ
lim = lim  n (3)
n→∞ Fn n→∞
1− ψ φ
 √   √ 
1− 5 1+ 5
Perceba que a expressão | ψφ | é menor que 1, pois, ψ = 2 eφ= 2 .
Realizando essa operação, teremos,

1− 5 1 − √5 √

2√ 2 1 − 5
= · √ = √ (4)
1+ 5 2

1 + 5 1 + 5
2

A expressão dentro do módulo é negativa, pois, o numerador é negativo. Porém,


como está em módulo e estamos olhando para seu valor absoluto, podemos afirmar que a
47


1−√5
expressão (4) é menor 1. Para verificarmos essa afirmação precisamos mostrar que 1+ 5
< 1.

1−√5
Seja a = 1+ 5
, então |a| < 1 ⇔ −1 < a < 1. Portanto, vejamos que a < 1 e −1 < a:
√ √
√ √ √ √ 1− 5 1+ 5
− 5 < 5 ⇒ 1− 5 < 1+ 5 ⇒ √ < √ ⇒a<1 (i)
1+ 5 1+ 5
√ √ √ !
√ √ −1 − 5 1 − 5 1+ 5
−1 < 1 ⇒ −1− 5 < 1− 5 ⇒ √ < √ ⇒ (−1)· √ < a ⇒ −1 < a (ii)
1+ 5 1+ 5 1+ 5


Daí, de (i) e (ii), temos que −1 < a < 1, e, portanto, 1−
√5
1+ 5
< 1. E mais ao
elevarmos essa expressão a n, onde n tende ao infinito, esse valor tende a zero, pois conforme o
valor de n cresce indefinidamente o valor dessa expressão fica tão pequeno quanto queiramos,
em símbolos, temos | ψφ |n → 0.
Agora, voltando para a expressão (3), temos que
 n
ψ
Fn+1 φ − ψ · φ φ −ψ ·0 φ
lim = lim  n = lim = lim = φ .
n→∞ Fn n→∞ ψ n→∞ 1 − 0 n→∞ 1
1− φ

Logo, limn→∞ FFn+1


n
= φ . Como queríamos mostrar.

3.1.4 Triângulo de Pascal

Pode-se encontrar ainda os números de Fibonacci no conhecido triângulo de Pascal.


Segundo Hazzan (2004, p. 70) o triângulo de Pascal “é uma tabela onde podemos dispor
ordenadamente os coeficientes binomiais np ”. Coeficiente binomial ou número binomial


n n!
p = p!(n−p)! , ∀n, p ∈ N e n ≥ p. Vejamos na Figura 7 a representação do triângulo de Pascal.
Porém, podemos facilitar a visualização deste triângulo aritmético, utilizando o valor
dos números binomiais. Uma observação sobre o triângulo de Pascal é que suas linhas são
exatamente os coeficientes do desenvolvimento binomial do tipo (a + b)n , conforme a Figura 8.
À primeira vista podemos nos deparar com a seguinte pergunta: qual relação entre os
números de Fibonacci e o triângulo de Pascal? Tendo em conta que não conseguimos visualizar
alguns dos termos da sequência, como por exemplo, os números 8, 13, entre outros. Porém, ao
analisarmos a soma das diagonais desse triângulo aritmético perceberemos um comportamento
bem peculiar.
Perceba que a soma dos números que estão dispostos nas diagonais marcadas na
Figura 9 do triângulo de Pascal, são exatamente os termos da sequência de Fibonacci.
48

Figura 7 – Triângulo de Pascal

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

Figura 8 – Triângulo de Pascal com Valores dos Números Binomiais

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

Figura 9 – Diagonais do Triângulo de Pascal

Fonte – Elaborado pela autora (2019).


49

3.2 APLICAÇÕES DA SEQUÊNCIA DE FIBONACCI

A sequência de Fibonacci é riquíssima em possibilidades de aplicações. Apresen-


taremos nesta seção um total de três aplicações desta sequência numérica, deixando claro que
existem muitas outras.
A primeira aplicação é no cálculo de transformações de medidas de comprimento, no
caso, milhas para quilômetros. Já na segunda aplicação buscamos apresentar como os números
de Fibonacci são utilizados em operações no mercado financeiro. Por fim, a última aplicação e
talvez uma das mais interessantes, mostraremos um experimento realizado através da observação
dos termos da sequência de Fibonacci que leva a otimização na captação de energia solar.

3.2.1 Conversão de unidades de medidas de comprimento - Milhas para Quilômetros

Uma aplicação significativa da sequência de Fibonacci, diz respeito a conversão de


unidades de medidas de comprimento. Segundo Posamentier e Lehmann (2007), a maior parte
do mundo utiliza como medida de distância quilômetros (km), porém, os Estados Unidos ainda
utilizam a unidade de medida milhas (mi). Para resolução de exercícios e até mesmo para saber
a equivalência entre essas medidas é necessária uma conversão.
A constante de conversão de milhas para quilômetros é aproximadamente 1, 6093.
Perceba que tal valor é bem próximo do número áureo, ou seja, caso quiséssemos converter 5
8
milhas em quilômetros, teríamos como resultado aproximadamente 8 quilômetros, pois, 5 = 1, 6
que é próximo da constante de conversão.
Veja que realizando o cálculo com a constante de conversão, obtemos um valor
aproximado ao que encontramos apenas observando o próximo termo da sequência de Fibonacci,
5 · 1, 6093 = 8, 0465 ≈ 8.
Perceba que como vimos anteriormente a divisão dos números consecutivos de
Fibonacci se aproximam do número áureo, e a constante de conversão também é um valor apro-
ximado do número áureo, ao invés de calcular os valores de conversão podemos apenas verificar
o próximo termo da sequência, por exemplo, ao converter 8 milhas em quilômetros, teríamos
13
como resultado aproximadamente 13 quilômetros, pois, 8 = 1, 625. E assim, sucessivamente.
Novamente realizando o cálculo com a constante de conversão, obtemos um valor
aproximado do que foi encontrado sem a utilização da mesma, 8 · 1, 6093 = 12, 8744 ≈ 13.
Mas, e se quiséssemos converter um número que não faz parte da sequência de
Fibonacci? Também vimos anteriormente que todo número natural pode ser visto como soma de
50

um ou mais números de Fibonacci. Então, caso quiséssemos converter, por exemplo, 7 milhas
em quilômetros, poderíamos escrever 7 como soma de 5 e 2, que são números de Fibonacci,
e convertendo as parcelas uma a uma e depois somando, teríamos aproximadamente 8 mais 3
quilômetros, totalizando 11 quilômetros.
Realizando o cálculo com o uso da constante de conversão percebemos um valor
próximo do encontrado sem a utilização da mesma, 7 · 1, 6093 = 11, 2651 ≈ 11.
E assim, poderíamos converter qualquer número inteiro de milhas em quilômetros,
de forma aproximada pela sequência de Fibonacci. Porém, imagine o caso em que quiséssemos
converter 100 milhas em quilômetros, veremos agora o cálculo das duas formas, com a constante
de conversão, teríamos 100 · 1, 6093 = 160, 93. Já pela sequência de Fibonacci, teríamos que
escrever 100 como soma de números de Fibonacci, disporíamos 100 como, 100 = F11 +F6 +F4 =
89 + 8 + 3, e obteríamos 100 milhas = 144 + 13 + 5 = 162 quilômetros. Note que, neste caso,
a diferença entre as duas maneiras de conversão seria de 1,07 km, ou seja, à medida que
convertemos quantidades maiores de milhas a diferença entre os resultados obtidos cresce.

3.2.2 Mercado Financeiro - Ondas de Elliott

O mercado financeiro ou bolsa de valores funciona com operações de compra e


venda, onde investimos dinheiro em ações. Tais operações não necessariamente implicam em
lucros, as vezes podemos ter prejuízos.
Muitas vezes ouvimos nos jornais, “a bolsa fechou em queda” ou “a bolsa está em
alta”, mas qual o real significado dessas expressões? Existe algum método de prever o mercado
e diminuir os riscos de um determinado investimento? Veremos aqui o método conhecido como
‘Ondas de Elliott’, onde são utilizados os números de Fibonacci nas operações do mercado
financeiro, visando a diminuição dos riscos de prejuízos ao operar no mercado.
Segundo Posamentier e Lehmann (2007), após a famosa crise financeira de 1929,
grande parte dos investidores ficaram receosos de investir na bolsa de valores devido as grandes
percas. O método que apresentaremos foi criado por Ralph Nelson Elliott, um engenheiro e
contador, que durante a crise de 1929 resolveu analisar os dados de décadas de desempenho de
ações, visando encontrar algum tipo de padrão de comportamento da bolsa de valores. Podemos
dizer que

[...] Em termos leigos, Elliott sentiu que o mercado, como “outras coisas no
universo”, se move em ciclos previsíveis, uma vez que seus padrões de com-
portamento tenham sido estabelecidos e tornados visíveis aos olhos treinados.
Neste ponto, não é de surpreender que os números de Fibonacci devam ser
51

visíveis dentro desses padrões (POSAMENTIER E LEHMANN, 2007, p. 177,


tradução nossa20 ).

Seu trabalho apesar de árduo rendeu resultados positivos, Elliott, percebeu que
existiam certos altos e baixos nos gráficos analisados, resolveu chamá-los de ondas, e nomeou os
altos como ondas “impulsivas” e os baixos como ondas “corretivas”.
Veremos agora a relação entre os números de Fibonacci e o método das ondas de
Elliott. O método consiste em analisar as flutuações da bolsa de valores, de acordo com a
teoria elaborada por Elliott, qualquer ciclo de tendência do mercado é formado por 8 ondas,
onde o primeiro período identificado na Figura 10 como numerais de 1 a 5 é o período otimista
reconhecido pelo fato de que os momentos de altas superam as baixas, já o segundo período
identificado na Figura 10 por letras A, B e C, é o período de baixa nas ações, ou seja, as baixas
superam as altas.

Figura 10 – Representação das Ondas de Elliott em uma operação na bolsa de valores

Fonte – Adaptado de Kilhian (2011).

De acordo Kilhian (2011), tais ondas são formadas por grupos menores de ondas
que reproduzem o mesmo comportamento, como podemos ver na Figura 11.
Mas você pode se perguntar, qual a relação desse comportamento com os números de
Fibonacci? Além do modelo gráfico identificado por Elliott, onde percebemos que a quantidade
de ondas são números de Fibonacci, ele percebeu ainda que o tamanho dessas ondas poderia
ser medido e utilizado para tentar prever o comportamento do mercado e segundo Kilhian
20 [...] In layman’s terms, Elliott felt the market, like “other things in the universe”, moves in predictable cycles
once its patterns of behavior have been established and made visible to the trained eye. At this point, it should
come as no surprise that the Fibonacci numbers should be visible within those patterns.
52

(2011) “como resultado, ele conseguiu encontrar relações entre o comportamento do mercado e
a sequência de número de Fibonacci”.

Figura 11 – Repetição das ondas de Elliott

Fonte – Adaptado de Kilhian (2011).

Figura 12 – Relação entre os números de Fibonacci e o método das ondas de Elliott

Fonte – Adaptado de Kilhian (2011).

O método de Elliott explica que a razão entre um momento em que os preços estão
em alta (pico) e um momento de queda nos preços (vale), é aproximadamente o valor da razão
áurea, que como vimos anteriormente pode ser obtida com a divisão de números consecutivos
de Fibonacci. Ou seja, em um ciclo a razão entre o maior valor e o menor valor do ciclo é
aproximadamente φ , como podemos ver na figura 12. Assim,

De uma forma geral, a Teoria das Ondas de Elliott diz que a Razão entre um pico
53

(alta de preços) e um vale (queda dos preços) do gráfico tende a ter um valor
aproximadamente igual à razão entre dois números sucessivos da sequência de
Fibonacci: (1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144, ...) (KILHIAN, 2011).

Tais constantes são chamadas no mercado financeiro de retrações de Fibonacci,


indicadores de análise técnica que visam prever o mercado, levando em consideração os valores
máximos e mínimos, para auxiliar na determinação dos melhores momentos para a tomada de
decisão, diminuindo o risco de perda.

3.2.3 Otimização de captação de energia solar

Um simples experimento realizado por um estudante do 7◦ ano do ensino funda-


mental de Nova York, chamado Aidan Dwyer, nos traz uma das aplicações mais práticas dessa
sequência numérica. O estudante de apenas 13 anos, ao observar o padrão de crescimento de
folhas e galhos de árvores, criou uma espécie de árvore solar imitando o comportamento das
árvores convencionais, para sua feira de ciências na escola.
Segundo Toffoli e Sodré (2006), em algumas plantas os arranjos de galhos e folhas
seguem um padrão de tal forma que possibilita a maior incidência de luz solar, para que por
meio da fotossíntese possam sintetizar seu próprio alimento. Além disso, pode-se notar também
que em muitas plantas e árvores a quantidade de galhos presentes em cada ramificação são
exatamente os elementos da sequência de Fibonacci como podemos ver na Figura 13.

Figura 13 – Disposição de galhos em plantas

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

Para fazer as marcações dos galhos em sua árvore solar, Aidan utilizou um tubo
54

plástico para ser o tronco da árvore e uma bússola para o orientar quanto a posição dos galhos de
acordo com o que observava na natureza, conforme a Figura 14. Percebeu então, que os galhos
seguiam um padrão que possibilitava as plantas um melhor aproveitamento da luz solar para
realização de fotossíntese, e aí pensou em seguir o mesmo padrão para os galhos de sua arvore
colocando em seus galhos painéis solares.

Figura 14 – Aidan criando seu projeto de ciências

Fonte – Carvalho (2011).

Aidan criou dois protótipos de árvore solar, ambos com a mesma quantidade de
painéis fotovoltaicos, o primeiro com galhos aleatórios e o segundo com os galhos dispostos de
acordo com a sequência de Fibonacci.
Os resultados para o segundo protótipo, utilizando o padrão da sequência de Fibo-
nacci (Figura 15) foram surpreendentes, pois, produziu entre 20% − 50% mais energia que os
painéis fotovoltaicos padrões, que em sua maioria são utilizados na horizontal.
Ao final deste capítulo pudemos ter uma breve ideia das curiosidades e aplica-
ções dessa sequência numérica. No próximo capítulo, apresentaremos uma possibilidade de
abordagem dessa sequência numérica a nível médio.
55

Figura 15 – Árvore solar criada por Aidan Dwyer

Fonte – Carvalho (2011).


56

4 UMA APLICAÇÃO DE UMA PROPOSTA DE ABORDAGEM DA SEQUÊNCIA


DE FIBONACCI PARA ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO
Neste capítulo apresenta-se uma possibilidade de abordagem da Sequência de Fibo-
nacci para estudantes do 2◦ ano do Ensino Médio, com o intuito de apresentar aos discentes os
conceitos básicos, propriedades, curiosidades e aplicações dessa sequência numérica.
O capítulo está dividido em quatro seções. Na primeira seção, descrevemos nossa
metodologia e os caminhos metodológicos percorridos no decorrer da pesquisa. Na segunda
seção apresentamos nossa proposta didática para abordagem da Sequência de Fibonacci no
Ensino Médio. Já na terceira seção, procuramos expor as atividades que auxiliarão no decorrer da
apresentação do conteúdo aos estudantes. E por fim, na última seção, exibimos nossos resultados
e discussões acerca da aplicação em sala de aula.

4.1 METODOLOGIA E CAMINHO METODOLÓGICO

A pesquisa aqui apresentada tem característica de uma pesquisa bibliográfica que


segundo Gil (2008, p. 50)

[...] é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente


de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido al-
gum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente
a partir de fontes bibliográficas. Parte dos estudos exploratórios podem ser
definidos como pesquisas bibliográficas, assim como certo número de pesquisas
desenvolvidas a partir da técnica de análise de conteúdo.

É uma pesquisa bibliográfica pelo fato termos realizado um extenso levantamento


de estudos relacionadas à sequência de Fibonacci. Porém, esta pesquisa também de caracteriza
como sendo um estudo de campo que segundo Gil (2008, p. 55) pesquisas desse tipo

[...] se caracterizam pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento


se deseja conhecer. Basicamente, procede-se à solicitação de informações a um
grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado para em seguida,
mediante análise quantitativa, obter as conclusões correspondentes dos dados
coletados.

Trata-se de um estudo de campo, pois, nosso intuito é elaborar e aplicar um minicurso


em sala de aula, para que possamos levar o objeto de estudo para os estudantes do ensino médio,
para verificarmos se é possível abordar o tema de forma mais aprofundada. Levantando os dados
através de questionários que serão direcionados aos discentes no decorrer do minicurso.
57

O que pretende-se com o minicurso é aliar a teoria à prática, mostrando aos estudantes
os conceitos e propriedades da sequência de Fibonacci, além de suas curiosidades, fazendo com
que eles percebam a aplicabilidade de tais conceitos e onde estão presentes.

4.1.1 Caracterização do local e amostra da pesquisa

A escola escolhida para aplicação da proposta apresentada no trabalho, se deu de


forma a aliar as atividades relacionadas a disciplina de estágio supervisionado. A escola em
questão está situada na avenida Bezerra de Menezes, a Escola Estadual de Educação Profissional
Presidente Roosevelt é uma escola estadual de educação profissional, isto é, com turno integral
que conta com turmas de 1◦ , 2◦ e 3◦ ano de três cursos técnicos, são eles edificações, estética e
redes de computadores.
Atualmente a escola conta com 349 estudantes distribuídos nos cursos de Estética,
Edificações e Redes de Computadores e 28 professores distribuídos entre as disciplinas da base
comum e as da área profissional. A estrutura física da escola apesar de limitada, consegue dar
suporte para as atividades diárias e determinadas demandas.
A pesquisa foi realizada com os estudantes do 2◦ ano do curso de edificações, ao
todo 12 estudantes participaram do minicurso ofertado. Em que, os discentes da turma foram
convidados a participar do minicurso, isto é, todos os participantes se voluntariaram e estiveram
presente em pelo menos 75% do minicurso ofertado. Os discentes apresentaram um nível de
aprendizado e desenvolvimento matemático favorável, pois, notou-se o interesse e engajamento
dos estudantes durante todo o período em que o minicurso estava sendo ofertado.
O núcleo gestor disponibilizou o local e o material (projetor), além de todo suporte
necessário para a aplicação do minicurso com os estudantes. O minicurso foi realizado do dia 02
a 05 de setembro de 2019, durante o horário do almoço, de 12h10min às 13h, no auditório da
escola.

4.2 ELABORAÇÃO DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA O ENSINO DA SEQUÊNCIA DE


FIBONACCI NO ENSINO MÉDIO

Para coletar os dados da pesquisa, elaboramos uma proposta e aplicamos tal proposta.
Como a sequência de Fibonacci não é um conteúdo presente na grade curricular do Ensino
Médio, precisamos então produzir uma sequência didática para a apresentação desse conteúdo
aos estudantes.
58

Segundo Araújo (2013, p. 323), uma “sequência didática (doravante SD) é um


modo de o professor organizar as atividades de ensino em função de núcleos temáticos e
procedimentais”. Portanto, buscamos organizar a aplicação em três momentos, onde em cada
momento nosso objetivo era apresentar um novo conteúdo sobre a sequência de Fibonacci, na
Figura 16, podemos observar um fluxograma representando como foram divididos tais momentos.

Figura 16 – Momentos da Sequência Didática Proposta para o Ensino da Sequência de


Fibonacci

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

Como forma de introduzir o assunto, é importante o uso da história da matemática


como ferramenta básica para suporte dos conhecimentos subsequentes. Tendo isso em vista, no
primeiro momento, nosso objetivo era apresentar aos estudantes o contexto histórico relacionado
a Sequência de Fibonacci, como por exemplo, quem foi Leonardo Fibonacci, qual a origem da
sequência.
Com isso, apresentou-se inicialmente aos estudantes as bases do conhecimento.
Como problema inicial, pedimos aos estudantes que resolvessem o problema da reprodução de
59

coelhos proposto por Leonardo Fibonacci. Da resolução, conseguimos então iniciar a aula sobre
os conceitos básicos, em que apresentamos os 12 primeiros termos da sequência, e o padrão de
recorrência presente no problema.
No segundo momento, nosso objetivo era mostrar aos estudantes algumas proprie-
dades dessa sequência numérica. Para isso, elaborou-se uma série de questões problemas, em
que para solucionar os problemas os estudantes deveriam utilizar as propriedades apresentadas.
Demonstramos por indução a validade de uma das propriedades, e as outras apenas explicamos
qual a importância e como utilizá-las.
E finalmente, no terceiro momento, tínhamos como objetivo expor algumas curiosi-
dades e relações entre a sequência de Fibonacci e outros assuntos, além é claro de algumas de
suas aplicações.
Dessa forma, dividimos a aplicação do minicurso em 4 dias, onde em cada dia
realizamos algumas breves explicações e apresentações dos conteúdos e em seguida realizávamos
as atividades planejadas para cada conteúdo.
No primeiro dia, antes de iniciarmos a parte teórica, realizamos um questionário,
presente no Apêndice A, com os estudantes-participantes. A partir daí fizemos um breve resumo
histórico, mostrando quem foi Leonardo Fibonacci e algumas de suas contribuições, realizamos
então uma introdução relembrando os conceitos e tipos de sequências numéricas, logo após
apresentamos o problema que deu origem a sequência de Fibonacci, nesse momento procedemos
então com a primeira atividade proposta, presente no Apêndice B. Após a realização da atividade
apresentamos a resolução do problema dos coelhos aos estudantes, como também o padrão
presente na sequência de números encontrada.
Já no segundo dia, de posse dos conceitos iniciais tratados anteriormente partimos
então para a apresentação de algumas propriedades da sequência de Fibonacci, onde demonstra-
mos pelo princípio de indução finita a validade dos resultados expostos, nesse momento tivemos
que fazer um breve parêntese para ensinar como tal princípio funciona. Apresentamos um total
de 5 propriedades para os estudantes-participantes, e após isso pedimos que eles realizassem
novamente a série de atividades propostas para a utilização dessas propriedades, presente no
Apêndice C.
Devido ao tempo escasso, tivemos que dar continuidade na resolução das atividades
propostas no terceiro dia. Dessa forma o terceiro dia foi composto pela finalização das questões
relacionadas as propriedades da sequência. Ao finalizarem, demos início então a exibição de
algumas curiosidades sobre a sequência estudada, onde mostramos um total de 4 curiosidades.
60

No quarto e último dia, finalizamos a apresentação sobre as curiosidades da sequência


e partimos para a exibição das aplicações, logo após solicitamos aos estudantes a resolução das
atividades propostas para esse conteúdo, presente no Apêndice D. E finalizamos com a realização
do questionário final, presente no Apêndice E.

4.3 DISCUTINDO AS ATIVIDADES PROPOSTAS

Para cada momento exposto anteriormente, elaboramos uma série de atividades


para auxiliar os estudantes na compreensão dos assuntos que estavam sendo tratados. Abaixo
descrevemos cada uma das atividades propostas e possíveis discussões para o esclarecimento de
dúvidas.

4.3.1 Atividade 1: Conceitos Básicos

Na primeira atividade tínhamos como hipótese que os estudantes resolvessem o


problema inicial que deu origem à Sequência de Fibonacci e encontrassem o padrão recursivo da
sequência.
Neste primeiro momento, era necessário que os estudantes observassem a relação
entre o número de meses e o número de casais de coelhos, encontrando uma sequência de
números.
Dessa sequência numérica os estudantes poderiam fazer algumas análises e percebe-
riam que a sequência encontrada é recursiva além do padrão para se encontrar os demais termos
da sequência.
Na Figura 17, pode-se visualizar a resolução de um estudante-participante (A),
enquanto a maioria dos discentes utilizou esquemas gráficos ele optou por utilizar uma lista em
que descreveu as quantidades de coelhos mensalmente. Tal estudante também foi o primeiro a
conseguir observar a quantidade total de coelhos ao final dos 12 meses e o padrão recursivo da
sequência encontrada.
Pode-se perceber que o estudante em questão conseguiu abstrair os conteúdos que
foram ministrados e solucionar os problemas propostos na primeira atividade.
Na Figura 18, vemos a resolução do estudante (B) para as demais questões propostas
no primeiro dia, onde ele observou o padrão, em que para se obter o próximo termo da sequência
deve-se somar os dois termos anteriores, e conseguiu lembrar dos conceitos ensinados sobre
sequências recorrentes.
61

Figura 17 – Resolução do estudante A do Problema dos Coelhos

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

Figura 18 – Resolução do estudante B do Problema sobre a Sequência das Quantidades


de Coelhos

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

De posse desses conceitos iniciais, em que os próprios estudantes conseguiram


visualizar, os discentes poderiam dar continuidade ao conhecimento de algumas propriedades da
sequência de Fibonacci.

4.3.2 Atividade 2: Propriedades da Sequência de Fibonacci

Já na segunda atividade, elaboramos seis questões, em que quatro foram passadas


aos estudantes para resolvessem, uma resolvemos com eles e a outra resolvemos não aplicar por
conta do tempo. A primeira questão, se tratava da soma dos 10 primeiros termos da sequência de
62

Fibonacci. Primeiramente mostramos a validade dessa propriedade, utilizando o princípio de


indução finita.
Também informamos aos estudantes que em todas as situações propostas nos exercí-
cios poderiam ser resolvidas de duas maneiras, a primeira delas seria somando cada termo um a
um, e a segunda maneira seria utilizando as propriedades apresentadas.
Apesar de termos mostrado a validade da propriedade sobre a soma dos n primeiros
termos da sequência, também comentamos com os estudantes que eles poderiam resolver o
problema das duas maneiras e comparar os valores encontrados.

Figura 19 – Resolução do estudante C do 1◦ Problema sobre as Propriedades da


Sequência de Fibonacci

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

Na Figura 19, podemos ver que o estudante-participante (C) realizou a resolução da


primeira questão das duas maneiras supracitadas e observou o mesmo valor como resultado. É
importante dizer também que ele foi o único estudante a fazer as duas soluções e comparar os
resultados obtidos.
Durante a realização do segundo problema, referente a soma dos termos de índices
pares, precisamos fazer uma pequena observação sobre a diferença entre índices e valores, pois,
alguns participantes encontraram dificuldades. Ao solucionar o problema muitos estudantes
utilizaram n = 6, quando na verdade estavam somando apenas 3 dias, e foi necessário fazer essa
observação.
Na Figura 20, pode-se observar a solução do estudante-participante (D) da questão
que envolvia a soma dos termos de índices pares. O estudante em questão não apresentou
dificuldade na resolução desse exercício, enquanto que muitos se enganaram com o valor de n, o
63

estudante (D) por sua vez não teve problemas.


No terceiro problema proposto, com a observação realizada no problema anterior
os estudantes passaram a observar que a solução era a soma de 4 dias ímpares, e resolveram o
problema sem mais dificuldades.

Figura 20 – Resolução do estudante D do 2◦ Problema sobre as Propriedades da


Sequência de Fibonacci

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

Figura 21 – Resolução do estudante E do 3◦ Problema sobre as Propriedades da


Sequência de Fibonacci

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

Na Figura 21, observamos a solução do estudante-participante (E) do problema


referente a soma dos termos de índice ímpar, utilizando diretamente a propriedade apresentada.
No último problema proposto aos estudantes, queríamos que os participantes notas-
sem que não precisariam de uma das propriedades para solucionar o problema. A resposta do
64

problema seria notar que a altura máxima do Tronquilho seria 21cm, já que tal valor corresponde
ao termo de ordem 8.

Figura 22 – Resolução do estudante F do 4◦ Problema sobre as Propriedades da


Sequência de Fibonacci

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

O estudante-participante (F), como podemos ver na Figura 22, observou exatamente


o comportamento exposto na questão para solucionar o problema proposto e encontrar a altura
máxima do Tronquilho.
Ao final da resolução das atividades propostas, mostramos ainda a validade de outra
propriedade da sequência de Fibonacci, que seria inserida como questão extra, porém, por conta
do tempo mostramos apenas como curiosidade. Tal atividade trata-se do exercício 5, presente no
Apêndice C, e encontra-se resolvida na propriedade 7 do capítulo 2 deste trabalho.

4.3.3 Atividade 3: Curiosidades e aplicações da Sequência de Fibonacci

Apresentamos aos estudantes algumas curiosidades da Sequência de Fibonacci


como, por exemplo, sua interpretação geométrica, como escrever qualquer número natural como
soma de um ou mais números de Fibonacci e a fórmula de Binet, uma forma de encontrar
qualquer termo da sequência diretamente. Além, de apresentar algumas relações da sequência
de Fibonacci, como exemplo, sua relação com o número áureo, onde mostramos a definição
geométrica e algébrica do segmento áureo e a relação dos números de Fibonacci com o triângulo
de Pascal.
Logo após, nos detivemos em apresentar duas aplicações da Sequência de Fibonacci,
a primeira delas nos diz como converter unidades de medidas de comprimento, mais especifica-
65

mente, milhas para quilômetros. E a segunda, apresentamos apenas o experimento realizado por
Aidan Dwyer, para otimização de captação de energia solar utilizando a sequência de Fibonacci.
As atividades propostas para o terceiro momento, foram sobre a conversão de
unidades de medidas e a utilização da fórmula de Binet com auxílio da calculadora cientifica.
No primeiro problema, pedíamos o perímetro de um quadrilátero em quilômetros, no
qual, solicitamos aos estudantes que realizassem a conversão utilizando a sequência de Fibonacci
e a constante de conversão e comparassem os resultados obtidos.

Figura 23 – Resolução do estudante G do 1◦ Problema sobre as Curiosidades e


Aplicações da Sequência de Fibonacci

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

Através dessa resolução, presente na Figura 23, é possível observar que o estudante-
participante (G) realmente compreendeu os conteúdos que foram tratados e conseguiu cumprir
com o que era esperado diante do problema proposto.
Além de lembrar do conceito de perímetro o estudante-participante (G), realizou
exatamente o que o exercício solicitava, visto que ela converteu milhas para quilômetros utili-
zando a sequência de Fibonacci e após utilizou também a constante de conversão, comparando
os resultados obtidos.
No segundo problema, pedíamos aos estudantes que utilizassem a fórmula de Binet
para encontrar a quantidade de casais da questão inicial do minicurso, que tratava do problema
dos coelhos.
Como podemos ver na Figura 24, o estudante-participante (H) utilizou uma calcula-
66

dora cientifica para determinar o 12◦ termo da sequência de Fibonacci diretamente utilizando a
Fórmula de Binet, obtendo o mesmo resultado da questão inicial do minicurso sobre o problema
dos coelhos.

Figura 24 – Resolução do estudante H do 2◦ Problema sobre as Curiosidades e


Aplicações da Sequência de Fibonacci

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

Escolhemos esse problema para a finalização do minicurso, pois, seria como finalizar
um ciclo, em que os estudantes no decorrer do minicurso obtiveram uma base concreta de
conceitos iniciais para só então conseguirem chegar ao abstrato e utilizar as relações apresentadas.

4.4 ANÁLISE DOS QUESTIONÁRIOS INICIAIS E FINAIS

Realizamos aqui uma análise dos resultados obtidos com a aplicação dos questioná-
rios, inicial e final, visando apresentar a visão dos estudantes-participantes sobre o minicurso
ofertado.

4.4.1 Questionário Inicial

Antes de iniciarmos o minicurso, como mencionado anteriormente, solicitou-se aos


estudantes que respondessem um questionário, no qual perguntávamos aos participantes quais
eram os interesses que os levaram a participar do minicurso.
Pôde-se perceber que a maior parte dos estudantes tinham curiosidades sobre o
assunto e queriam ampliar seus conhecimentos. As respostas obtidas para essa questão estão
representadas por um gráfico de barras, presente na Figura 25.
Logo após, perguntamos aos estudantes se já conheciam a Sequência de Fibonacci, os
resultados obtidos estão presentes na Figura 26. Note que dos 12 participantes todos responderam
que não conheciam a Sequência de Fibonacci. O que de fato, explica o interesse deles em
67

participar do minicurso, visto que nenhum deles conhecia essa sequência.

Figura 25 – Representação Gráfica do Interesse dos Estudantes em Participar do


Minicurso

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

Figura 26 – Representação Gráfica do Conhecimento dos Estudantes sobre a Sequência


de Fibonacci

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

E por último, perguntou-se aos participantes quais contribuições o minicurso poderia


os oferecer. A maior parte dos participantes respondeu que o minicurso poderia oferecer um
conhecimento matemático complementar a sua formação.

4.4.2 Questionário Final

Ao final do minicurso, solicitamos que os participantes respondessem um novo


questionário, onde primeiramente perguntávamos se o minicurso havia contribuído em algum
68

aspecto para eles (Figura 27), todos os estudantes responderam que sim, e que o minicurso havia
trazido novos conteúdos os quais os mesmos não conheciam anteriormente.
Perguntou-se ainda, se os estudantes encontraram dificuldades na resolução das
atividades propostas (Figura 28), a maior parte dos participantes responderam que não, mas, três
estudantes disseram que sim, e como observação informaram que tal dificuldade advinha de as
questões serem contextualizadas.

Figura 27 – Representação Gráfica da Contribuição do Minicurso para a Formação dos


Participantes

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

Figura 28 – Representação Gráfica da Dificuldade dos Estudantes na Realização das


Atividades Propostas

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

Quando questionados se as atividades propostas auxiliaram na compreensão dos


conteúdos tratados (Figura 29), todos os participantes responderam que sim. Alguns informaram
que conseguiram ver aplicação prática do conteúdo, outros disseram que o fato das questões
69

serem contextualizadas utilizando os animais presentes nos filmes de Harry Potter também
facilitou a compreensão do conteúdo.

Figura 29 – Representação Gráfica da Compreensão dos Conteúdos Através das


Atividades Propostas

Fonte – Elaborado pela autora (2019).

Por fim perguntou-se aos participantes quais os pontos positivos e negativos do


minicurso ofertado. Como ponto positivo a maioria informou que levar um conteúdo que não
é visto durante o ensino médio foi uma boa iniciativa para aprendizagem de novos conteúdos.
E como ponto negativo, os participantes informaram que o tempo foi um fator preponderante,
tendo em vista que tivemos que utilizar o horário do almoço dos mesmos para a aplicação do
minicurso.
70

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sequência de Fibonacci como vimos no decorrer deste trabalho pode ser apresen-
tada aos estudantes do Ensino Médio, contanto que com o devido tratamento das informações,
procurando os conteúdos que são aplicáveis a este nível de ensino e buscando tornar o conheci-
mento significativo para os estudantes.
Buscamos trazer no decorrer deste trabalho, os conceitos relativos à sequência de
Fibonacci, visando aplicação em turmas do 2◦ ano do Ensino Médio. Vimos também que tal
conteúdo não está presente na grade curricular, fazendo assim com que pouquíssimos estudantes
do nível médio detenham conhecimentos quaisquer sobre essa sequência.
Tínhamos como hipótese inicial da pesquisa que os discentes do Ensino Médio
desconheciam esta sequência numérica, o que de fato se provou verídico com as respostas do
questionário inicial respondido pelos participantes do minicurso ofertado.
Por conseguinte, para que seja realizada uma abordagem aprofundada sobre o assunto
se faz necessário um estudo bibliográfico, visando selecionar os conteúdos aplicáveis a esse
nível de ensino. A partir daí, podemos realizar o tratamento das informações com o objetivo de
levar um conteúdo pouco abordado, mas com muitas possibilidades para os estudantes do Ensino
Médio.
Dessa forma, pode-se dizer que neste trabalho apresentamos os conceitos e proprie-
dades da sequência de Fibonacci em que para tornar isto possível, realizamos uma vasta pesquisa
bibliográfica, tendo em vista uma escrita concisa, onde tentamos deixar todos os resultados
claros com justificações e observações explícitas sobre todos os resultados apresentados.
Da mesma maneira, conseguimos mostrar as curiosidades e aplicações relacionadas
a sequência de Fibonacci, tentando mostrar aplicações práticas e experimentos reais, para chamar
a atenção dos estudantes e incitar o interesse dos mesmos aos assuntos tratados.
Finalmente, realizamos a elaboração de uma proposta didática que foi aplicada em
uma turma do 2◦ ano do Ensino Médio. Podemos dizer que a proposta elaborada e aplicada,
obteve resultados positivos no que diz respeito a apropriação dos conteúdos por parte dos
estudantes-participantes e também na realização pessoal por parte da facilitadora e autora deste
trabalho.
Também podemos destacar a satisfação dos estudantes-participantes como resultado
positivo, visto que os mesmos se voluntariaram a participar do minicurso oferecido, além
realizarem pesquisas sobre o assunto e trazerem discussões no decorrer do minicurso ministrado.
71

Portanto, pode-se concluir a partir da pesquisa realizada que de fato a grande maioria
dos estudantes do nível médio não conhecem essa sequência numérica. O que por si só não é
um problema grave, tendo em vista que não é um conteúdo presente na grade curricular, porém,
é um conteúdo que chama a atenção dos estudantes por conta de suas propriedades, além das
diversas aplicações.
Ou seja, ao conhecer a teoria sobre o assunto o estudante consegue visualizar uma
aplicação prática da matemática fora da sala de aula. Aliando assim a teoria à prática, tornando
o conhecimento significativo.
Com nossa pesquisa podemos concluir ainda que uma abordagem aprofundada
sobre a sequência de Fibonacci, suas propriedades, curiosidades e aplicações, em nível médio é
possível. Desde que realizado o devido planejamento, para que assim possa ser proveitoso tanto
para o professor quanto para os estudantes.
Uma das dificuldades encontradas no decorrer da elaboração deste trabalho, se deve
ao fato de não existirem questões contextualizadas referentes as propriedades da sequência de
Fibonacci. Desta forma, para que a aplicação do minicurso fosse realizada, tivemos que elaborar
tais questões, o que nos demandou tempo e criatividade.
Também podemos citar como dificuldade, o tempo escasso já que por se tratar de
uma escola de tempo integral tivemos que nos adequar ao tempo disponível dos estudantes,
sendo necessária a utilização do horário de almoço dos estudantes-participantes.
Nossa pesquisa pode ainda ser estendida ao serem estudadas propriedades além das
apresentadas neste trabalho, ou ainda uma nova abordagem com a utilização de jogos didáticos,
bem como o estudo aprofundado sobre sequências recorrentes, entre outros. Pretendemos ainda
dar continuidade a essa pesquisa em um possível mestrado.
Com relação as contribuições desta pesquisa, podemos destacar a escrita concisa e
clara em que buscamos facilitar o acesso as informações aqui contidas para diversos públicos
alvos. Além, é claro, da proposta de ensino que foi elaborada visando a apresentação da
sequência de Fibonacci, suas propriedades, curiosidades e aplicações para estudantes do nível
médio. Esperamos que através desta pesquisa, os professores do Ensino Médio tenham acesso a
uma proposta pronta para aplicação em sala de aula e questões contextualizadas sobre o assunto.
Dessa forma, também produzimos questões contextualizadas sobre a sequência
de Fibonacci elaboradas para facilitar a compreensão e visualização dos conceitos que foram
ministrados no decorrer do minicurso oferecido aos estudantes do 2◦ ano do Ensino Médio.
72

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Edjane Gomes dos Santos. Propriedades e Generalizações dos Números de


Fibonacci. 2014. 41 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Matemática) - Universidade
Federal da Paraíba, João Pessoa, 2014.

ARAÚJO, Denise Lino de. O que é (e como faz) sequência didática? Entrepalavras, Fortaleza,
v. 3, n. 1, p.322-334, jul. 2013.

BARROS, Camila Taveira. As Contribuições de Fibonacci para a Matemática na Idade


Média: Traçando uma História. 2014. 54 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Matemática) - Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2014.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base Nacional Comum Cur-
ricular. Brasília, DF, 2018. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/>. Acesso
em: 22 abr. 2019.

CARVALHO, André. Grandes Nomes da Ciência: Aidan Dwyer. 2011. Disponível em:
<https://ceticismo.net/2011/08/29/grandes-nomes-da-ciencia-aidan-dwyer/>. Acesso em: 04
ago. 2019.

CERIOLI, Márcia R. Números de Fibonacci e representação de números inteiros positivos.


Revista do Professor de Matemática, São Paulo, v. 53, p.22-28. 2004.

EVES, Howard. Introdução à história da matemática. 3. ed. Campinas: Unicamp, 2008.

FORTUNA, Volnei. A Relação Teoria e Prática na Educação em Freire. Revista Brasileira


de Ensino Superior, [s.l.], v. 1, n. 2, p.64-72, 30 dez. 2015. Complexo de Ensino Superior
Meridional S.A. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.18256/2447-3944/rebes.v1n2p64-72>.
Acesso em: 14 jun. 2019.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6 ed., São Paulo: Atlas, 2008.

HAZZAN, Samuel. Fundamentos de Matemática Elementar. 7. ed. São Paulo: Atual, 2004.
5 v.

IEZZI, Gelson; MURAKAMI, Carlos. Fundamentos de Matemática Elementar. 7. ed. São


Paulo: Atual, 1993. 1 v.

KILHIAN, Kleber. A Bolsa de Valores e a Sequência de Fibonacci. 2011. Disponível em:


<https://www.obaricentrodamente.com/2011/11/bolsa-de-valores-e-sequencia-de.html>. Acesso
em: 05 ago. 2019.
73

LIMA, Elon Lages et al. A Matemática do Ensino Médio. 6. ed. Rio de Janeiro: SBM, 2006. 2
v.

LIMA, Elon Lages. Curso de Análise. 14. ed. Rio de Janeiro: Projeto Euclides, 2017. 1 v.

LIVIO, Mario. Razão áurea: A história de Fi, um número surpreendente. Rio de Janeiro:
Record, 2006.

O’CONNOR, JJ; ROBERTSON, EF; PHILLIPS, GM. Édouard Zeckendorf.


2012. University of St Andrews. Disponível em: <http://www-groups.dcs.st-
and.ac.uk/history/Biographies/Zeckendorf.html>. Acesso em: 27 jul. 2019.

OLIVEIRA, José Jackson de. Sequência de Fibonacci: Possibilidades de aplicações no ensino


básico. 2013. 37 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Matemática) – Instituto de Matemática,
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2013.

POSAMENTIER, Alfred S.; LEHMANN, Ingmar. The Fabulous Fibonacci Numbers. New
York: Prometheus Books, 2007.

ROSA NETO, Ernesto. Didática da matemática. 12. ed. São Paulo: Ática, 2010. (Educação).

SANTOS, Arlem Atanazio dos. Engenharia Didática sobre o Estudo e Ensino da Fórmula
de Binet como Modelo de Generalização e Extensão da Sequência de Fibonacci. 2017. 162
f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática) - Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Ceará - IFCE, Fortaleza, 2017.

SANTOS, José Plínio de Oliveira. Introdução à Teoria dos Números. 3. ed. Rio de Janeiro:
Impa, 2017.

SENA, Carlos Átila Rodrigues de. Sequência de Fibonacci: Propriedades, aplicações e curiosi-
dades. 2013. 56 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Matemática) – Universidade Estadual
do Ceará, Fortaleza, 2013.

TOFFOLI, Sônia Ferreira Lopes; SODRÉ, Ulysses. Sequências de Fibonacci: Aplicações.


2006. Disponível em: <http://www.uel.br/projetos/matessencial/alegria/fibonacci/seqfib2.htm>.
Acesso em: 10 ago. 2019.
74

APÊNDICES
75

APÊNDICE A – Questionário Inicial

Quais os interesses que te levaram a participar deste minicurso sobre a “Sequência de Fibonacci:
Propriedades e Aplicações”?
( ) Curiosidade de conhecer o assunto;
( ) Ampliar os conhecimentos matemáticos;
( ) Visualizar uma aplicação da Matemática;
( ) Outros:

1) Você já conhece a Sequência de Fibonacci? ( ) Sim ( ) Não


2) Como você conheceu a Sequência de Fibonacci?
( ) Internet;
( ) Livro didático;
( ) Vídeos;
( ) Aulas de matemática;
( ) Outros:

3) Em caso afirmativo, escreva quais as informações você já conhece a respeito dessa sequência:

4) Quais as contribuições que esse minicurso pode trazer na sua formação acadêmica?
76

APÊNDICE B – Atividade 1: Conceitos Básicos

1) “Quantos pares de coelhos serão produzidos num ano, a partir de um único casal, se cada casal
procria a cada mês um novo casal que se torna produtivo depois de dois meses?"(EVES, 2008, p.
315).

2) Você consegue visualizar algum padrão presente na sequência de números de coelhos encon-
trada na solução da questão anterior? Qual?

3) De acordo com a revisão sobre os tipos de sequências, a sequência encontrada na solução da


1a questão se encaixa em quais tipos de sequências numéricas?
( ) Sequência finita;
( ) Sequência infinita;
( ) Sequência recorrente.
77

APÊNDICE C – Atividade 2: Propriedades da Sequência de Fibonacci

1) No mundo mágico de Harry Potter, o gnomo é uma praga comum em jardins, conhecido por
sua reprodução rápida, gnomos não possuem distinção de gênero, ou seja, não há gnomo macho
ou gnomo fêmea, e se reproduzem quando se tornam adultos. Um gnomo se torna adulto após
dois dias de vida, e todo gnomo adulto se reproduz diariamente apenas uma vez. Dessa forma,
quantos gnomos teríamos ao final de 10 dias?

2) Partindo da situação exposta na questão anterior, no livro Animais Fantásticos e Onde Habitam
informa que para expulsar gnomos do jardim é preciso girar o animal no alto até deixá-lo tonto e
arremessá-lo por cima do muro, porém, após serem expulsos retornam para o jardim a mesma
quantidade de gnomos. A família Weasley possui um belo jardim, e os pais sempre pedem
aos filhos que expulsem os gnomos em dias pares, isto é, como a semana possui 7 dias, os
gnomos são expulsos apenas nos dias pares. Então, quantos gnomos os filhos da família Weasley,
expulsarão de seu jardim ao final de 2, 4 e 6 dias? Quantos gnomos eles expulsaram no total
desses dias?
78

3) Imagine que a família Weasley escolha dias ímpares para expulsar os gnomos de seu jardim.
Então, quantos gnomos eles expulsariam ao final de 1, 3, 5 e 7 dias? Quantos gnomos eles
expulsaram no total desses dias?

4) No primeiro filme de Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016), existe um animal chamado
Pickett que é um tronquilho. Uma criatura que guarda árvores, dificílimo de localizar por ser
pequeno e aparentemente formado por tronco e gravetos com dois olhinhos castanhos. Supondo
que um tronquilho cresce até seus 8 anos de idade e que seu crescimento físico segue a sequência
de Fibonacci, com período anual, onde sua altura é determinada em centímetros, qual a altura
máxima de um tronquilho?
79

5) No filme Harry Potter e a Câmara Secreta (2002), vemos que o diabrete é um animal conhe-
cido por pregar peças e fazer brincadeiras de mau gosto de todo tipo, e outra característica de
diabretes é que eles geram seus próprios filhotes. Suponha que seu padrão de reprodução é o
mesmo do problema proposto por Leonardo Fibonacci, com período mensal. Então podemos
dizer que existe uma particularidade entre a quantidade de filhotes de diabretes de quatro meses
consecutivos, isto é, tomemos a seguinte sequência de quantidade de filhotes de diabretes de
quatro meses consecutivos: Dn−1 , Dn , Dn+1 , Dn+2 . Tal particularidade diz que a diferença dos
quadrados das quantidades de filhotes centrais é igual ao produto das quantidades de filhotes
extremas, ou seja, D2n+1 − D2n = Dn−1 · Dn+2 .
Mostre que essa propriedade é válida para qualquer grupo de quatro meses consecutivos de
reprodução de diabretes.

6) Em Harry Potter e a Câmara Secreta (2002), fomos apresentados a um elfo doméstico chamado
Dobby, a comunidade élfica é conhecida por sua lealdade e devoção aos seus senhores. Imagine
que o senhor de Dobby o tenha mandado realizar a pintura de paredes de sua casa, e que a
quantidade de metros quadrados pintados por dia siga exatamente o padrão da sequência de
Fibonacci, com período diário. Qual a quantidade de metros quadrados pintados por Dobby ao
final de 5 dias? E qual a soma dos quadrados dos 5 dias pintados pelo Dobby?
80

APÊNDICE D – Atividade 3: Curiosidades e aplicações da Sequência de Fibonacci

1) Determine o perímetro da figura em quilômetros, utilizando a sequência de Fibonacci e depois


a constante de conversão. Compare os resultados obtidos.

2) Utilizando uma calculadora determine pela fórmula de Binet, qual o 12◦ termo da sequência
de Fibonacci.
81

APÊNDICE E – Questionário Final

Ao final dos encontros presenciais do minicurso sobre a “Sequência de Fibonacci: Proprieda-


des e Aplicações”, o mesmo contribuiu para a sua formação/complementação?
( ) Sim ( ) Não
1) Em caso afirmativo, quais contribuições esse minicurso pôde trazer para a sua formação?

2) Você encontrou dificuldades na realização das atividades propostas?


( ) Sim ( ) Não
Quais?

3) As atividades propostas no minicurso conseguiram dar suporte para que você compreendesse
os conteúdos que estavam sendo tratados?
( ) Sim ( ) Não

4) Em que aspectos as atividades propostas pelo minicurso ajudaram-lhe a compreender os


conteúdos tratados?

5) Cite alguns pontos positivos e negativos (sugestões/críticas) do minicurso ofertado.

6) Qual a sua opinião em relação ao minicurso ofertado?

Você também pode gostar