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IDE E FAZEI DISCÍPULOS

Uma Introdução às Missões Cristãs


Roger Greenway

SUMÁRIO
Prefácio..................................................................................................................
vii
Agradecimentos………………...............................................................................
ix

Parte 1: O Mundo Para O Qual Cristo Nos Envia


1. Os Desafios Mundiais…………......................................................................
3
2. Missionários: Cooperadores de Deus………….............................................
11
3. Os Motivos para Missões…………................................................................
19

Parte 2: O Fundamento Bíblico de Missões


4. As Bases do Antigo Testamento Para Missões…………..............................
29
5. Missões nos Quatro Evangelhos………….....................................................
37
6. Missões em Atos e nas Epístolas.…………...................................................
45
7. O Espírito Santo e Missões.…………............................................................
53
8. Os Métodos Missionários do Apóstolo Paulo…………..................................
61
9. O Evangelho e as outras Religiões………….................................................
69
10. A Unicidade e a Suficiência de Jesus Cristo...…………….......................
79
11. Oração e Missões.......…………....................................................................
87

Parte 3: Algumas Questões Sobre Missões

1
12. Os Ministérios de Oração, Cura e Exorcismo………..................................
97
13. Desenvolvimento de Liderança para o Crescimento da Igreja…………..…
105
14. O Desafio das Cidades…………................................................................
113
15. Missões Através de Palavra e Ações………………....................................
123
16. Pastores, Evangelismo e Missões…………................................................
131
17. O Suporte Financeiro de Missões…….......................................................
139
18. A Ética do Evangelismo e de Missões………….........................................
147
19. Missões e a Unidade entre os Cristãos………...........................................
155
20. Preparando para Tornar-se um Missionário………….................................
165

Apêndice: Como Evangelizar e Multiplicar Igrejas................................................


173
Bibliografia.............................................................................................................
189
Prefácio

Ide e Fazei Discípulos! é para leitores que desejam um livro sobre


missões, escrito sem rodeios. Este livro lhes ajudará a entender missões e lhes
desafiará a aplicar o mandamento missionário de Cristo em suas vidas como
também na vida de suas igrejas.
Este livro é baseado em seis importantes verdades.
(1) Jesus Cristo ordenou que seus discípulos levassem o evangelho ao
mundo todo. Ele pretendia que o engajamento missionário fosse uma
responsabilidade contínua de toda a igreja, até a sua volta.
(2) O Espírito Santo desperta missionários de todas as nações, raças e
sociedades. Missionários são indivíduos que proclamam o evangelho
em lugares envolvidos pelas trevas espirituais. Atualmente, existem
mais missionários enviados a partir de países do hemisfério sul que do

2
norte. O século XXI será o grande século para missões e sua maior
força estará nos países da região sul do mundo.
(3) A Bíblia é a nossa autoridade em missões. Ela revela a mensagem do
evangelho, os motivos corretos para missões e os objetivos e métodos
que agradam a Deus. Há uma necessidade urgente de que líderes
sejam treinados para o trabalho missionário e de que este treinamento
seja fundamentado e dirigido pelos valores bíblicos.
(4) O estudo de missões é importante para pastores, professores, líderes
de igrejas locais e estudantes que estão se preparando para o
ministério. Os cristãos devem ser informados sobre missões e
pessoalmente desafiados à “Grande Comissão” que Cristo deu à
igreja.
(5) Os cristãos devem compartilhar uns com os outros o que a Bíblia
ensina, e o que eles têm aprendido através de sua própria experiência
sobre o importante tema de missões.
(6) A paixão por Deus e um desejo ardente de que somente ele seja
adorado em todo lugar são os combustíveis que mantêm acessa a
chama de missões. O Espírito de Deus continuará a inspirar homens e
mulheres a missões até que a profecia de Habacuque 2:14 seja
cumprida: “Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do
Senhor, como as águas cobrem o mar”. E missões continuarão até
que este dia chegue.
Nenhum livro possui todas as respostas sobre como evangelizar o mundo
da maneira mais efetiva. Cada país e cada cultura são diferentes. As
circunstâncias mudam conforme o tempo e o lugar. O século XXI será diferente
de todos os períodos precedentes da história. Novas maneiras de comunicar o
Evangelho continuam a ser descobertas.
Jesus disse: “Ide e fazei discípulos”. A palavra traduzida como “ide” no
grego original está numa forma que expressa uma grande urgência. O que
Jesus estava dizendo, então, era: “Vamos logo! Não percam tempo!
Multipliquem-se até que pessoas de todas as nações, raças, tribos e línguas me
conheçam e me sigam!”.
Eu ofereço este livro aos servos de Cristo de todas as partes do mundo
que desejam sinceramente honrar a Cristo, construir sua igreja, e estender seu
Reino através da obediência à Grande Comissão. Lembrem-se das palavras de
Cristo e ajam do modo como ele lhes direcionar.

Agradecimentos
3
Sou grato, acima de tudo, ao trino Deus, o Autor de missões. E também,
gostaria de agradecer

 A Harold Kallemeyn, por abrir meus olhos para a necessidade de um


livro sobre missões para estudantes dos países do hemisfério sul;
 Ao Calvin Theological Seminary, por conceder-me o tempo para
escrever este livro, e ao Faculty Heritage Fund pela ajuda financeira;
 A Márcia e Mark Van Drunen, por sua ajuda técnica e editorial;
 A David Luikaart, por sua ajuda na distribuição mundial;
 A todos os escritores, estudantes e colaboradores que me deram idéias,
e compartilharam suas experiências no trabalho missionário;
 Aos professores e tradutores dos diversos países, que farão deste livro
um instrumento para inspirar os discípulos de Cristo a ouvirem,
entenderem e obedecerem à sua Grande Comissão.

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PARTE 1

O MUNDO PARA O QUAL CRISTO NOS ENVIA

5
Capítulo 1

Desafios Mundiais

Os tempos atuais são empolgantes, no que diz respeito a seguir a Cristo e


obedecer ao seu mandamento: “Ide e fazei discípulos” (Mateus 28:19). Os
desafios missionários através do mundo nunca foram tão grandes como na
atualidade. Nós precisamos conhecê-los e considerar o que significam para o
Reino de Cristo e seu crescimento. Portanto, neste primeiro capítulo, eu
apresentarei dez importantes desafios que têm grande significado para as
missões cristãs.

CRESCIMENTO POPULACIONAL

É possível que a população do mundo não passasse de trezentos milhões


de habitantes quando Jesus ordenou a Grande Comissão. Agora, a população
mundial está em torno de seis bilhões – e crescendo a cada dia. A maioria deste
crescimento se dá na Ásia, América Latina, África e nos países onde o
Cristianismo não é a religião dominante. Mais da metade do mundo adora a
algum outro deus que não o Deus revelado na Bíblia e em Jesus Cristo.

O que isto significa para as missões cristãs? Obviamente, significa que a


seara é ainda maior que antes. Mais pessoas devem ser alcançadas pelo
evangelho. São necessários mais trabalhadores que atendam ao chamado do
Senhor, se preparem e comecem a colheita. As igrejas, em todos os lugares,
devem se envolver em missões através da oração, do suporte e do envio de
missionários.

Este não é o tempo de se reduzirem os esforços missionários, mas de


aumentá-los, reunindo as igrejas de todos os lugares ao trabalho de fazer
discípulos de Cristo.

MOVIMENTO POPULACIONAL

Nunca as pessoas se mudaram tanto de um lugar para outro como na


atualidade. Isso tem gerado novos desafios e novas oportunidades de alcançar
outros pelo evangelho.

O primeiro tipo de movimento populacional é a migração para as cidades.


Nos últimos vinte anos, temos vivido a maior migração da história humana. Mais

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de um bilhão de pessoas deixaram seus lares em fazendas e em pequenas
vilas e se mudaram para as cidades. Isto significa que massas de pessoas
passaram a viver muito próximas umas das outras e podem ser mais facilmente
alcançadas pelo evangelismo. Alguns estudos têm mostrado que muitas
pessoas se tornam mais abertas a ouvir o evangelho quando se encontram num
novo ambiente.

Segundo, nunca houve tantas pessoas migrando de um país para outro


como nos dias de hoje. Pessoas do hemisfério sul estão se mudando para o
norte e as do oriente para o ocidente. As pessoas do Oriente Médio estão em
todo lugar. Na maioria dos casos, os imigrantes se fixam em áreas urbanas, o
que torna as cidades em comunidades internacionais com pessoas de
diferentes raças, culturas, religiões e línguas.

Terceiro, o número de refugiados através do mundo é o maior que temos


na hítória. Refugiados são vítimas de guerra, batalhas políticas, desastres
naturais, ou seca. Eles são forçados a deixar seus lugares de origem e a
procurar novos lares. Na condição de refugiados é que muitos indivíduos vêm a
apresentar interesse na fé cristã pela primeira vez.

Os estudantes internacionais representam o quarto tipo de movimento


populacional. Todos os anos, dezenas de milhares de estudantes deixam suas
casas e vão para algum lugar distante a fim de ganhar mais educação. Para
alguns deles, pode ser a primeira vez que entram em contato com a igreja e o
evangelho. Portanto, os estudantes internacionais são um grande desafio
missionário e nós, como igreja, precisamos fazer algo para levá-los a Cristo.

PORTAS QUE, INESPERADAMENTE, SE ABREM

Uma coisa que temos aprendido em missões é que as portas que estão
fortemente trancadas por muitos anos podem, de repente, se abrir. Deus nos dá
uma nova oportunidade de espalhar sua Palavra quando isso acontece e nós
devemos estar prontos a responder. Ao sinal de qualquer porta aberta, ouvimos
novamente a voz de Jesus, dizendo: “Ide e fazei discípulos”.

Há dez ou vinte anos atrás, em alguns países era impossível a distribuição


de Bíblias ou a pregação do evangelho. Hoje, tais atividades são livremente
praticadas. Isto nos traz confiança ao pensarmos nos lugares que ainda

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permanecem fechados. Não há porta tão difícil que Deus não possa abrir. Mas,
ele trabalha segundo sua agenda e sua própria maneira.

BARREIRAS CULTURAIS

Alguns dos grandes desafios que enfrentamos em missões estão


relacionados com as barreiras culturais: diferenças entre línguas, costumes,
religiões, valores e atitudes. Estas barreiras separam as pessoas e criam
dificuldades para que a mensagem de Cristo se mova de um grupo para outro.

Por esta razão, o treinamento missionário inclui o estudo das culturas e de


como comunicar o evangelho de uma cultura para outra. É um erro pensar que
as barreiras culturais irão desaparecer. Algumas, ao contrário, parecem estar se
intensificando.

A igreja cresce em todo lugar da terra através de missões e pessoas de


diferentes culturas unem-se num grande Corpo. Isto é o que Jesus nos ordenou
a fazer, quando disse: “Ide e fazei discípulos de todas as nações”.

“Todas as nações” corresponde a panta ta ethne no grego antigo do Novo


Testamento e significa todas as pessoas, tribos, e raças. Portanto, não é
surpreendente que o Corpo de Cristo seja a maior comunidade multi-cultural da
terra e que continua a crescer.

A FORÇA DAS RELIGIÕES NÃO-CRISTÃS

Na atualidade, um grande número de pessoas segue as grandes religiões


não-cristãs – Islamismo, Hinduísmo e Budismo. Nos lugares onde a maioria da
população abraça uma destas religiões, a propagação do evangelho sofre
oposição. Os missionários cristãos têm dificuldades em conseguir vistos para
entrar nestes países. Os cristãos locais podem ser perseguidos de diversas
formas. Os obreiros religiosos são alvo de ataques e alguns chegam a ser
mortos.

Além dos lugares onde são tradicionalmente fortes, as religiões não-


cristãs têm crescido também nos países ocidentais. Parte deste crescimento é
devido à migração dos mulçumanos, hindus e budistas para o ocidente. Sua alta
taxa de natalidade também contribui para o seu crescimento numérico.

Atualmente, há mais mulçumanos que cristãos evangélicos na França. Em


países onde, tradicionalmente, quase não havia mulçumanos, existem agora

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grandes mesquitas. Cursos sobre Budismo e Hinduísmo são populares nas
universidades da América do Norte. O Espiritismo e as superstições, que as
pessoas achavam que haviam desaparecido, estão atraindo novos seguidores.

Isso significa que os “campos missionários” estão em todo lugar, no


ocidente e no oriente, no norte e no sul. Os cristãos de todos os lugares devem
estar sempre prontos a defender e explicar o evangelho. As igrejas espalhadas
pelo mundo devem se tornar comunidades missionárias. Os líderes devem estar
aptos a explicar a mensagem de Cristo aos mais variados tipos de pessoas.

O CRESCIMENTO DA ATIVIDADE MISSIONÁRIA

A PARTIR DA ÁSIA, ÁFRICA E AMÉRICA LATINA

O número de missionários oriundos da Ásia, África e América Latina tem


crescido grandemente nos últimos anos. As missões cristãs não têm mais suas
principais bases nos países do hemisfério norte. O número total de missionários
vindos de países do hemisfério sul já excede ao de missionários originados da
Europa e América do Norte.

Muitos missionários daqueles países estão indo a lugares onde é muito


difícil sobreviver e onde a resistência ao evangelho é forte. Eles têm encontrado
meios de penetrar nesses países onde os missionários dos países do norte não
conseguem ir. Estão mostrando que o Cristianismo não é nem uma “religião
para os brancos”, nem aquela que apenas as pessoas mais afortunadas
querem. Quando alguém das Filipinas ou da Coréia ou do Brasil se levanta e
prega a mensagem de Cristo, torna-se uma testemunha poderosa sobre o fato
de que Jesus é verdadeiramente o “Salvador do mundo” (João 4:42).

As igrejas espalhadas pelo mundo afora estão se despertando para a


responsabilidade de participarem nas missões mundiais. Agora, realmente
pode-se afirmar que a igreja toda está levando o evangelho todo ao mundo
todo. Isto era o que Jesus queria quando ordenou aos homens que se tornaram
os primeiros líderes da igreja: “Ide e fazei discípulos”.

OS PAÍSES DO HEMISFÉRIO NORTE AGORA

COMO CAMPOS MISSIONÁRIOS

Há muitas instituições cristãs e organizações missionárias localizadas no


hemisfério norte. Entretanto, é triste constatar que na maioria da Europa,

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Canadá e Estados Unidos o Cristianismo perdeu muito da força moral e
religiosa que tinha no passado.

Nos últimos dois séculos, a maior parte dos missionários veio dos países
do norte. No entanto, estes países têm agora se tornado campo missionário.
Necessitam ser evangelizados novamente. Enquanto isso, os centros de força
missionária estão se mudando para outras partes do mundo.

A NOVA APARÊNCIA DA IGREJA E OS NOVOS CENTROS DE MISSÕES

A aparência da igreja tem se modificado porque a maioria dos cristãos de


hoje vivem na Ásia, África e América Latina. A previsão é de que até o ano 2025
apenas 25 por cento dos cristãos estejam vivendo nos países do hemisfério
norte. Os centros de educação cristã e de missões estão se mudando
rapidamente do norte para o sul e leste. Os líderes cristãos do século XXI serão
oriundos principalmente desses novos centros.

A Ásia já abriga a maioria das pessoas do mundo e também possui o


maior número de não-cristãos. O que isto significa para missões? Os cristãos
asiáticos devem se unir aos seus irmãos e irmãs de outras partes do mundo
para completar a tarefa missionária.

Ainda, algo mais precisa ser dito. Algumas partes do mundo estão se
tornando mais hostis ao Cristianismo. Os obreiros cristãos devem estar
preparados para as dificuldades. Os mulçumanos já são oponentes fortes e
organizados. Os hindus estão se tornando mais agressivos ao trabalho cristão.
Portanto, os discípulos de Cristo e, especialmente, os missionários e líderes de
igrejas devem se preparar para os desafios crescentes e, até mesmo, para as
perseguições.

O AUMENTO DA POBREZA

É triste o fato de que o número de pessoas pobres está aumentando. O


desafio de missões é mostrar compaixão de modo que o indivíduo venha a se
livrar da pobreza ao mesmo tempo em que ouve falar sobre Jesus Cristo.

Dois fatos nos impressionam ao examinarmos este desafio.

1. De modo geral, os pobres e os espiritualmente perdidos são as mesmas


pessoas.

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Ao observarmos o mapa do mundo, notamos que aqueles países que
estão mais distantes de Cristo e do evangelho são também os mais pobres.
Semelhantemente, são países onde há grande opressão e injustiça. Portanto,
observamos uma conexão entre cativeiro espiritual e sofrimento físico e
injustiça.

2. Os pobres formam o maior grupo de pessoas, dentre todas as do mundo,


que estão à parte da fé cristã.

Alguns deles vivem em vilas, outros em grandes cidades. Onde quer que
estejam, os pobres e os perdidos nos chamam para que levemos o evangelho e
a misericórdia cristã até eles. Não devemos ignorar seu clamor.

AS CRIANÇAS E OS JOVENS COMPÕEM METADE

DA POPULAÇÃO DO MUNDO

Nunca existiram tantas crianças e jovens em toda história da humanidade,


como nos nossos dias. Isto representa um grande desafio para as missões
cristãs. Os jovens são aqueles que mais tomam a decisão de seguir a Cristo.
Levar-lhes a Palavra de Deus requer uma literatura especial, professores
treinados para trabalhar com a juventude e programas desenvolvidos para eles
e para as crianças. São necessários mais obreiros cristãos que direcionem a
maioria dos seus esforços em alcançar a juventude para Cristo.

Estes são os maiores desafios das missões cristãs ao redor do mundo. É


claro que multidões de pessoas, algumas delas próximas e outras mais
distantes, necessitam ouvir sobre Jesus, aprender sua Palavra e sentir o toque
do seu amor.

Uma visão missionária está tomando forma em sua mente? A minha, a


qual compartilho com você, é que ninguém na terra deve morrer sem que ouça
o evangelho e sinta a misericórdia de Deus de um modo pessoal.

QUESTÕES PARA REVISÃO

1. Faça uma lista dos desafios apresentados neste capítulo.

2. Escolha três desafios que lhe pareçam ser especialmente importantes,


explique.

3. Por que a igreja é a maior comunidade multi-cultural do mundo?

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QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. O que Jesus disse que torna as necessidades das pessoas de todos os


lugares do mundo importantes para os cristãos?

2. Quais desafios adicionais você pode sugerir, além destes dez?

3. Dê sugestões sobre algumas coisas que escolas e igrejas podem fazer


em resposta a estes desafios.

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Capítulo 2

Missionários: Cooperadores de Deus

Missão significa envio e procede do plano e propósito de Deus. O


missiólogo Francis M. Dubose diz, em seu livro God Who Sends (O Deus que
Envia), que a figura bíblica do verdadeiro Deus é comparada à de um grande e
contínuo “Enviador”. Deus, em sua providência, envia à terra chuva e sol,
tempestades e juízo. Ele envia sua Palavra, seu Filho, seu Espírito e seus
servos em todos os tempos e lugares, com a sua salvação.

A linguagem do envio descreve toda a extensão do interesse


de Deus e de sua atividade no mundo. Ele enviou Samuel
para libertar seu povo (1 Samuel 12:11) e ungir Saul e Davi
como reis (16:1). Ele enviou o profeta Natã para repreender o
rei Davi pelo seu pecado (2 Samuel 12:1). Ele enviou os
profetas: Isaías (Isaías 6:8); Jeremias (Jeremias 1:7); Elias (2
Reis 2); Ageu (Ageu 1:12); Zacarias (Zacarias 2:8). Ele,
repetidamente, enviou seus profetas em missões para seu
povo (Jeremias 7:25; 25:4; 26:5; 29:19; 35:15). Ele enviou
João Batista como precursor de Jesus (João 1:6-8). Ele enviou
seus anjos (mensageiros) para testificarem às igrejas
(Apocalipse 22:16). Ele enviou seu Santo Espírito ao mundo
(João 14:26; 1 Pedro 1:12) (God Who Sends, 60).

JESUS, O “ENVIADO” E O “ENVIADOR”

Jesus conciliou sua própria missão recebida do Pai com a missão que ele
deu aos seus discípulos, quando disse: “Assim como o Pai me enviou, eu
também vos envio” (João 20:21). É importante observarmos a ordem dos
“envios” nesta passagem. Primeiro, o Filho de Deus foi enviado pelo Pai, o que
torna Jesus o primeiro e divino missionário. Ele, por sua vez, enviou seus
discípulos, tornando-os missionários do evangelho. Nós aprendemos em outras
partes do evangelho de João que o Espírito Santo foi enviado por Deus para
suscitar testemunhas de Cristo e convencer o mundo do pecado, da justiça e do
juízo (João 14:25 e 26; 15:26 e 27; 16:7 e 8).

Isto é muito importante para o nosso entendimento de missões. Cristo


chama seus discípulos, TODOS eles, para serem co-missionários e

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cooperadores com ele. Deus nos chama para participarmos com ele no trabalho
de evangelizar o mundo. Ao ouvir isso, cada seguidor de Cristo deveria
responder do fundo do coração, como a virgem Maria o fez quando ouviu a
anunciação do anjo: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim
conforme a tua palavra” (Lucas 1:38).

Esta é a glória do chamado missionário. Somos discípulos de Cristo e co-


missionários com ele. Assim como ele foi enviado a suscitar testemunhas da
verdade, nós somos igualmente enviados e comissionados. No poder do
Espírito Santo, nos tornamos co-participantes no plano e propósito de Deus de
reconciliar consigo mesmo o mundo. Servir em missões não significa apenas
trabalhar para Deus, mas também com Deus. E isso deve ser feito de modo
semelhante ao trabalho obediente e sacrificial de Jesus Cristo.

ELEMENTOS CHAVES NA CO-MISSÃO COM DEUS

Em 1891, Arthur T. Pierson fez uma série de palestras sobre missões no


seminário reformado de New Brunswick, em Nova Jersey. O século XIX,
geralmente chamado de “O Grande Século de Missões”, estava por terminar. O
interesse sobre este assunto era grande na Inglaterra, Europa e América do
Norte. Noite após noite, o auditório se enchia de estudantes e cristãos de uma
vasta comunidade. Pierson falou o seguinte sobre missões:

No Novo Testamento... trabalhar pelas almas é relatado como


uma cooperação com o trino Deus em três diferentes
aspectos, como co-participantes no trabalho, no sofrimento e
no testemunho. Mas, o que é mais impressionante e
marcante... é que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são
individual, sucessiva e separadamente apresentados, como se
compartilhassem pessoalmente com o crente a dignidade
deste exaltado serviço (The Divine Enterprise of Missions,
104)

Os missionários são aqueles homens e mulheres que recebem a honra de


se tornarem co-missionários com o trino Deus na proclamação do evangelho
aos perdidos. Sua tarefa possui três elementos: Co-participação no trabalho, no
sofrimento e no testemunho com Deus e os demais fiéis. Observem estes
versos da Palavra de Deus:

Co-participantes no trabalho

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“Porque de Deus somos cooperadores;... edifício de Deus sois vós” (1
Coríntios 3:9).

“E nós, na qualidade de cooperadores com ele (Deus), também vos


exortamos a que não recebais em vão a Graça de Deus” (2 Coríntios 6:1).

Co-participantes no sofrimento

“Agora me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta
das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja;
da qual me tornei ministro de acordo com a dispensação da parte de Deus,
que me foi confiada a vosso favor, para dar pleno cumprimento à palavra de
Deus” (Colossenses 1:24 e 25).

Co-participantes no testemunho

“Quando vier, porém, o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o


Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim; e vós
também testemunhareis, porque estais comigo desde o princípio” (João
15:26 e 27).

O trabalho de missões é um empreendimento divino e envolve o plano de


Deus para cada um de seus filhos. Todos os crentes têm seu papel a
desempenhar em missões. Deus apontou um tempo e um lugar para cada um.
Nosso maior dever na vida é descobrir a vontade de Deus para nós em seu
plano e obedecê-la.

Fomos chamados para edificar templos vivos para Deus Pai, o qual é o
único que deve ser adorado. Nós convidamos os pecadores a se reconciliarem
com Deus através do Filho que sofreu pelos nossos pecados. Nós testificamos,
juntamente com o Espírito, da verdade sobre Deus e a redenção através de
Jesus Cristo, como revelado nas Escrituras.

Que lindo quadro! Os esforços imperfeitos dos crentes são incorporados


dentro do perfeito trabalho de Deus em encontrar os perdidos e construir sua
igreja. Deus desenvolveu seu plano de salvação do mundo de tal modo que ele
não pode ser completo sem a participação dos crentes, através do engajamento
missionário.

CO-PARTICIPAÇÃO NO TRABALHO DE DEUS

O Evangelho precisa de uma voz; Deus assim planejou. As boas novas


sobre Jesus não podem se auto-proclamar. Devem ter um anunciador humano.

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João Batista disse: “Eu sou a voz” (João 1:23). Não apenas um som ou um
barulho, mas uma clara e inteligente voz humana é necessária para apontar
Jesus às pessoas. Isto tem sido verdade em todas as gerações. Deus usa
mensageiros. Como Paulo disse: “De sorte que somos embaixadores em nome
de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio” ( 2 Coríntios 5:20).

A palavra “embaixadores” transmite um grande número de verdades.


Embaixadores são delegados oficiais enviados de um governo ao outro. Em
virtude da sua nomeação, têm autoridade de representar aquele que os
comissionou. Não falam por si mesmos, mas pelo governo a que representam.
O poder e a autoridade do seu governo são sua garantia.

O mesmo é verdade para os embaixadores de Cristo, os quais falam a


verdade de Deus e cumprem suas instruções. Deus fala neles e através deles,
quando pregam fielmente a sua Palavra. O poder e a autoridade de Deus lhes
são por garantia. As pessoas que o recebem e crêem em sua mensagem
recebem a Cristo e ao Pai, juntamente com todas as suas promessas. Mas,
aqueles que se recusam a crer em sua mensagem, rejeitam a Cristo e sua
Palavra. Como Jesus disse: “Quem recebe aquele a quem eu enviar, a mim me
recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou” (João 13:20).

CO-PARTICIPAÇÃO NO SOFRIMENTO DE CRISTO

Que sofrimentos os mensageiros do evangelho devem esperar? Jesus


disse aos seus discípulos que esperassem sofrimento e oposição. Alguns deles
perderiam sua própria vida pelo seu nome e pelo evangelho (Mateus 10:38 e
39). Segui-lo não seria fácil.

A proclamação do evangelho freqüentemente vem acompanhada de


perseguição, porque esta é a maneira das pessoas resistirem a ele. O propósito
da perseguição é danificar a igreja e impedir que o evangelho se propague.
Com isso, geralmente os líderes são arrancados da igreja.

O apóstolo Paulo escreveu que ele se regozijava nos seus sofrimentos,


aos quais chamava de “aflições de Cristo, a favor do seu corpo, que é a igreja”
(Colossenses 1:24). Ele também falou acerca dos benefícios espirituais do
sofrimento (Romanos 5:3 a 5). Ele considerava uma vida livre de sofrimento
como uma rara exceção (2 Timóteo 3:12).

Alguns cristãos vivem em países “excepcionais” e gozam de liberdade


religiosa. Conhecem muito pouco sobre perseguição e sofrimento por Cristo.

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Outros cristãos conhecem mais sobre isso porque vivem em lugares onde
pagam um alto preço pela sua fé e por seu testemunho.

A perseguição aos cristãos está aumentando em muitas partes do mundo.


Pastores, evangelistas e outros líderes são, geralmente, o primeiro alvo dos
ataques. Alguns chegam a ser punidos, até mesmo mortos, simplesmente por
adorarem a Deus. Podem ser falsamente acusados de crimes que nunca
cometeram. Algumas ofensas insignificantes podem ser tratadas como crimes
capitais. Os jovens cristãos podem ser rejeitados em universidades e ter as
portas dos melhores empregos fechadas para eles. Nos casos mais extremos,
as crianças cristãs são tiradas de seus pais e as meninas são forçadas a se
casarem com homens de outras religiões.

Os missionários e evangelistas levam o evangelho a lugares nos quais


Satanás e a idolatria têm controlado os corações de muitas pessoas, por muitos
séculos. Portanto, eles devem esperar perseguição. Cristo os chamou para
testemunharem, mesmo em face do sofrimento e da morte. No entanto, isso não
significa que eles devem provocar a perseguição através de ofensas
desnecessárias a outros ou por incitarem à desordem social. Mas se a
perseguição vier, eles devem aceitá-la com fé, pois, pela graça de Deus, ela
pode se tornar uma bênção.

CO-PARTICIPAÇÃO NO TESTEMUNHO DO ESPÍRITO

Em João 14 a 16, Jesus prometeu que o Espírito Santo viria e seria sua
testemunha. Ele daria poder aos discípulos para conhecerem e entenderem a
verdade, a fim de que pudessem declará-la ao mundo. A principal tarefa do
Espírito é suscitar testemunhas de Cristo através das vidas e dos lábios dos
crentes.

Os primeiros discípulos expressaram a co-participação no testemunho do


Espírito quando resistiram à perseguição diante dos líderes dos judeus. Eles
testificaram: “Nós somos testemunhas destes fatos, e bem assim o Espírito
Santo, que Deus outorgou aos que lhe obedecem” (Atos 5:32).

Esta co-participação do testemunho humano e do Espírito Santo é de


suma importância. Os crentes proclamam, através de palavras e ações, os fatos
e o significado do evangelho. O Espírito dá poder a esse testemunho e realiza
aquilo que eles não podem fazer. O Espírito testifica internamente enquanto que
as pessoas o fazem externamente. O testemunho delas é importante, mas não

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pode ir além dos olhos e ouvidos físicos. Somente o testemunho do Espírito
pode falar com a voz que alcança a alma e muda o coração.

O mesmo padrão é seguido através da história das missões cristãs, desde


os tempos dos primeiros apóstolos. O Espírito usa, dá poder e trabalha através
do testemunho dos servos de Cristo para comunicar o evangelho aos perdidos.
Até onde sabemos, este é o único modo com que o Espírito de Deus trabalha,
empregando o testemunho humano na divina atividade de aplicar a salvação de
Cristo aos corações dos homens e das mulheres.

QUESTÕES PARA REVISÃO

1. O que Francis DuBose quis dizer com as palavras “o Deus que envia”?

2. Quais são os três elementos chaves na co-missão com Deus? Cite os


textos que ensinam estes elementos.

3. Por que o sofrimento e a perseguição são inevitáveis na propagação do


evangelho?

4. Explique por que a co-participação do Espírito Santo no testemunho


humano é tão importante e necessária.

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. Conte ao grupo a história da sua conversão e de como Deus usou o


testemunho humano para levá-lo(a) até ele.

2. Quais atitudes podem provocar perseguição desnecessária numa


comunidade mulçumana ou hindu?

3. O que os cristãos que vivem em comunidades hostis têm obrigação de


fazer, apesar das conseqüências?

18
Capítulo 3

Os Motivos para Missões

Por que fazer missões? Por que cristãos contam aos outros sobre sua fé e
tentam persuadi-los a seguirem a Jesus? Por que as igrejas enviam
missionários e os suportam com suas doações? O que motiva as muitas
atividades que geram as “missões cristãs”, e o que elas almejam alcançar?

Geralmente, os não-cristãos descrevem missões em termos de


imperialismo cultural e religioso. Acham que os missionários são pessoas
orgulhosas que acreditam que sua religião e cultura são melhores. Muitos
duvidam que missões seja bom para seu país e seu povo.

Algumas vezes, até os cristãos questionam a necessidade de missões.


Alguns, por falta de instrução da Palavra de Deus; outros, por ouvirem coisas
que geram dúvidas acerca dos motivos e objetivos dos missionários. Em alguns
países já tem havido hostilidade para com as missões cristãs há longo tempo.
No entanto, na atualidade existe uma crescente oposição até mesmo em
lugares onde as pessoas foram tolerantes com a atividade missionária. Isto nos
leva a perguntar: os cristãos devem reduzir seus esforços missionários a fim de
evitar problemas? Ou pedir a um cristão que não compartilhe de sua fé seria o
mesmo que pedir a um peixe para não nadar?

MOTIVOS ERRADOS PARA MISSÕES

Em primeiro lugar, devemos admitir que sempre houve pessoas que


ingressaram no trabalho do Senhor por razões equivocadas. Até os
missionários que têm os motivos corretos podem cometer erros, e isso, algumas
vezes, acaba dificultando o seu próprio trabalho. Entretanto, missões não
perdem o seu valor quando isso acontece.

Devemos recordar os dias dos apóstolos. João Marcos abandonou a


Paulo e Barnabé na sua primeira viagem missionária (Atos 13:13). Os
desacordos sobre dar-lhe uma segunda chance ou não causaram tamanha
divisão entre Paulo e Barnabé que estes se separaram (Atos 15:37-40). Houve
também a história de Demas, o qual abandonou a Paulo num momento crítico,
“tendo amado o presente século” (2 Timóteo 4:10). Estas experiências
desapontaram os apóstolos, mas não mudaram sua convicção acerca da
importância de missões.

19
Alguns motivos errados em se tornar um missionário podem ser:

 O desejo de ser admirado e louvado por outros

 A busca por “auto-realização”, sem levar em consideração o esvaziar-se


de si mesmo (Filipenses 2:5 -7)

 A busca por aventura e excitação

 A ambição em expandir a glória e influência de uma igreja ou


denominação em particular, ou mesmo de um país

 A fuga das situações desagradáveis do lar

 A esperança de sucesso profissional após um curto período de serviço


missionário

 A culpa e o anseio pela paz com Deus através do serviço missionário

Podem existir motivos errados escondidos nas mentes dos mais sinceros
missionários. Devemos estar atentos para isso e nos arrepender quando os
descobrirmos. Devemos pedir a Deus que os substitua pelos motivos corretos,
de modo que nosso serviço seja puro e aceitável a ele.

MOTIVOS CORRETOS PARA MISSÕES

Os motivos corretos para missões são ensinados na Palavra de Deus e


aplicados nos corações dos crentes através do Espírito Santo. Tais motivos não
mudam com o passar dos tempos e se aplicam aos missionários e seus
suportadores de todos os países do mundo, como vemos a seguir:

1. O desejo de que Deus seja adorado e sua glória conhecida entre todos os
povos da terra.

A glória de Deus diz respeito a tudo o que foi revelado sobre ele: seu
nome, sua santidade, seu poder, seu amor através de Jesus Cristo, sua
misericórdia, sua graça e sua justiça. O fim principal de toda a existência
humana, como nos afirma a primeira questão do Breve Catecismo de
Westminster, é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.

Entretanto, mais de três bilhões de pessoas no mundo não adoram ao


verdadeiro Deus, bem como não gozam da comunhão com ele. Ao invés,
adoram outros deuses, ou a deus algum. O propósito de suas vidas não é o
louvor de Deus, mas a sua própria satisfação.
20
Este pensamento é que inspira os missionários e seus suportadores a
agirem. Não podem descansar enquanto a idolatria não for substituída pela
verdadeira adoração. Eles sentem uma divina compulsão em pregar o
evangelho (1 Coríntios 9:16) e querem que a Palavra de Deus seja proclamada
e seu nome honrado por pessoas de todo o lugar, custe o que custar.

2. O desejo de obedecer a Deus por amor e gratidão, através do cumprimento


da Comissão de Cristo: “Ide e fazei discípulos de todas as nações” (Mateus
28:19)

Este motivo, naturalmente, se segue ao primeiro. “Se me amais”, disse


Jesus, “guardareis os meus mandamentos” (João 14:15). O amor genuíno por
Deus produz obediência à sua Palavra e nada é mais claro do que o
mandamento de Cristo para ir e fazer discípulos de todas as nações e povos.

A obediência cristã toma forma e o povo de Deus é ungido com o


Espírito Santo a servi-lo numa variedade de ministérios (1 Coríntios 12:4 e 5). O
Reino de Deus na terra consiste de uma multidão de crentes em Cristo que, em
gratidão a Deus, buscam glorificá-lo através da obediência aos seus
mandamentos, no poder do Espírito Santo.

Missionários são pessoas dentre esta multidão de servos de Cristo que


crêem que Deus os chamou a uma forma particular de obediência. Crêem que
Deus os chamou a proclamar o evangelho a pessoas perdidas. Geralmente,
eles falam sobre seu “chamado pessoal” porque este tem um papel motivador e
poderoso no seu ministério. Este senso de chamado pessoal a missões é
especialmente importante em tempos de dificuldade.

Entretanto, a ordem missionária não é apenas um dever individual.


Cristo designa à sua igreja a tarefa de levar o evangelho ao mundo (Efésios
3:10). Isto implica que um chamado pessoal a missões necessita ser
reconhecido e suportado pela congregação dos crentes. Também é um padrão
bíblico que, através do envio e suporte de missionários, a igreja toda participe
do mandamento missionário de Cristo (Atos 13:2 e 3; 14:26).

3. O desejo ardente de usar todos os meios legítimos para salvar os perdidos e


ganhar não-crentes para a fé em Cristo

Paulo descreve sua motivação missionária da seguinte maneira:

21
Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim
de ganhar o maior número possível. Procedi, para com os
judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para com os
que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim
vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora
não esteja eu debaixo da lei. Aos sem lei, como se eu
mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas
debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do
regime da lei. Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de
ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim
de, por todos os modos, salvar alguns (1 Coríntios 9:19 -
22).

Estas são as palavras de um missionário que estava profundamente


motivado pela paixão em ver os perdidos reconciliados com Deus e em torná-
los herdeiros da vida eterna pela fé em Cristo. Paulo entendia que não poderia
salvar as pessoas através de sua própria força. Ele sabia que a fé salvadora é
um dom soberano de Deus (Efésios 2:8). Mas, Paulo também sabia que
missionários são necessários para levar a cabo o propósito de Deus. Sob a
inspiração do Espírito Santo, escreveu:

Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo


mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da
reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo
reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens
as suas transgressões, e nos confiou a palavra da
reconciliação, de sorte que somos embaixadores de Cristo,
como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de
Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus (2
Coríntios 5:18 a 20).

A paixão missionária pela glória de Deus é acompanhada pela paixão


pelas pessoas que, por ignorância e descrença, estão morrendo em seus
pecados. Não era esta a paixão de Jesus em Lucas 15, quando contou as
parábolas da ovelha e da dracma perdidas e do filho pródigo? Esta paixão move
missionários ao engajamento nas obras que são designadas a trazer glória a
Deus através da salvação dos pecadores.

22
4. A preocupação de que igrejas cresçam e se multipliquem e de que o Reino
de Cristo seja estendido através de palavras e ações que proclamem a
compaixão e a justiça de Cristo a um mundo de sofrimento e injustiça.

Cristo veio pregando o Reino de Deus e estabeleceu a igreja como sua


luz e exemplo. Como luz, ela atrai pessoas a Cristo que salva, conforta e cura.
A igreja mostra ao mundo como a vida no Reino deve ser. Pela igreja, o mundo
tem uma idéia da comunhão dos redimidos e reconciliados, que praticam o
amor, a fidelidade, a verdade e a justiça, mesmo que imperfeitamente. A igreja
também trabalha para promover estas mesmas virtudes na sociedade.

Porque estão conscientes da ênfase bíblica nas igrejas, os missionários


plantam e cuidam de congregações de crentes onde quer que estejam. Eles
proclamam o evangelho com palavras e demonstram-no com atos de
misericórdia. Através de palavras e ações, apontam a Jesus Cristo como o
salvador, líder, libertador, amigo e cabeça da igreja (Colossenses 1:18).

UM SENTIMENTO DE URGÊNCIA

Os missionários parecem ser pessoas incansáveis. Estão sempre indo e


vindo, estudando os mapas ou planejando explorar algum novo lugar. Eles
parecem sempre estar falando sobre evangelismo, pessoas não alcançadas e
novas estratégias de espalhar o evangelho. Contam histórias sobre pessoas,
cujas vidas foram transformadas, e sobre a miséria em que alguns ainda vivem.

Os missionários também parecem ser incansáveis com relação à igreja.


Eles se recusam a permitir que ela se torne preguiçosa. Estão sempre
desafiando os cristãos à oração, ao testemunho, aos atos de doação mais
intensos e ao engajamento na obra missionária. Há uma sensação de urgência
nos missionários, como se um precioso tempo estivesse sendo desperdiçado.

Eu acho que este sentimento de urgência provém da consciência que têm


das necessidades das pessoas perdidas e sofridas, da grandeza do evangelho
e da insistência do Espírito Santo, que não descansará até que o propósito
missionário de Deus para o mundo seja alcançado.

O ALVO FINAL DE MISSÕES

Nós lemos no livro de Apocalipse sobre a visão que João teve da grande
multidão que algum dia se reunirá diante do trono de Jesus Cristo. Ela é
composta de pessoas compradas pelo sangue de Cristo, procedentes “de toda
23
tribo, povo, língua e nação” (Apocalipse 5:9). Estas pessoas nunca cessam de
adorar e louvar ao Senhor.

Ao ler esta passagem, qualquer um que esteja envolvido em missões


exclamará: “Esta é a minha visão! Este é o meu alvo! Quando o trabalho estiver
realizado, Deus será adorado por uma grande multidão de pessoas redimidas
que foram ajuntadas dentre toda a raça humana. Os inimigos de Cristo e a
miséria que eles causaram terá seu fim e a vida será restaurada do jeito que era
para ser. Agora, dedicarei minha vida, meus recursos e minha energia para este
fim”.

“Por que fazer missões?” Com tal visão diante de nós, como não fazer
missões?

QUESTÕES PARA REVISÃO

1. Apresente algumas razões erradas para missões.

2. Por que alguns elementos dos motivos errados podem ser encontrados
mesmo em sinceros missionários?

3. Quais são os motivos corretos para missões?

4. Por que os missionários parecem ser incansáveis?

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. Dê sugestões de modos pelos quais a igreja pode servir como “vitrine” do


Reino

2. Explique o que você acha que o autor quis dizer com “igreja preguiçosa”.

3. Da próxima vez que você ouvir pessoas falarem negativamente acerca


de missões, como responderá?

24
PARTE 2
O FUNDAMENTO BÍBLICO DE MISSÕES

25
Capítulo 4
As bases do Antigo Testamento para missões

“Se você quer evangelizar hindus e budistas, deve começar com o


Antigo Testamento, logo em Gênesis 1 a 3”, aconselhou o meu colega e mentor,
missionário Richard De Ridder. Nós estávamos juntos na ilha de Sri Lanka,
conhecida naqueles dias como Ceylon. Eu era recém formado e ele um
experiente pastor e missionário. Aceitei seu conselho que me ajudou bastante
na época, o qual também nos ajudará hoje a entender os fundamentos bíblicos
das missões cristãs.

J. H. Bavinck, um holandês erudito em missões que gastou muitos anos


como missionário na Indonésia, observa:

À primeiro vista, o Antigo Testamento parece oferecer poucas


bases para a idéia de missões... Mas, se nós investigarmos o
Antigo Testamento completamente, tornar-se-á claro que o
futuro das nações é um ponto de grande interesse... De fato,
não poderia ser de outro modo, pois, desde a primeira página
até a última, a Bíblia tem o mundo todo em vista, e seu plano
divino de salvação é revelado como pertencente ao mundo
todo (An Introduction to the Science of Missions, 11)

Bavinck afirma que sem Gênesis 1:1 não haveria Mateus 28:19 a 20. O
Deus que enviou seu Filho, Jesus, para se tornar o Salvador do mundo é o
mesmo que criou os céus e a terra e todos os povos do mundo. Deus não só
cria o mundo, mas governa sobre ele e assume a responsabilidade por todas as
sua criaturas. Ele quer a adoração exclusiva de todas as nações . O chamado
de Deus a Abraão e seus descendentes, o povo de Israel, para serem
separados das outras nações foi parte de seu plano de trazer a bênção da
salvação para todas as pessoas (Gênesis 12:3).

Bavinck vê nos profetas do Antigo Testamento indicações de que um dia


haverá uma grande conversão dos gentios a Cristo. Eles serão movidos a virem
a Deus e isto provocará ciúmes nos judeus. Porém, nos últimos dias os judeus
seguirão os gentios e, mais uma vez, o Senhor será honrado em Israel
(Ezequiel 36:22 e 23). Deus, o Criador e Redentor dos gentios e judeus, é quem
está por detrás disso.

26
MISSÕES E OS CONFLITOS ENTRE DIFERENTES COSMOVISÕES

O Antigo Testamento nos mostra que a distinção básica entre a religião


bíblica e todas as demais religiões reside na diferença entre suas cosmovisões.
Por cosmovisão entende-se o conjunto de crenças que um povo sustenta
acerca das mais importantes questões da vida.

Em missões, os cristãos proclamam sua cosmovisão – como descrita na


Bíblia – às pessoas que não têm convicções cristãs. Insistindo para que sigam a
Jesus, os cristãos desafiam os não-crentes a optarem por esta cosmovisão.
Abaixo segue um número de questões relacionadas a isso:

 Deus existe? Se sim, qual a natureza de Deus?

 Como o mundo começou e qual o seu propósito?

 Como o ser humano surgiu? É apenas um animal inteligente ou


algo mais?

 O que causa o mal e o sofrimento?

 Existe um mundo invisível de espíritos, alguns deles bons, outros


maus?

 Há vida após a morte?

 Como as pessoas podem ser salvas?

OS FUNDAMENTOS DE MISSÕES NO ANTIGO TESTAMENTO,

SEGUNDO BLAUW E HEDLUND

Johannes Blauw e Roger E. Hedlund são dois eruditos que têm escrito
sobre os fundamentos do Antigo Testamento para missões. Blauw afirma que
desde o início Deus mantinha seus olhos em todas as nações e povos. Vemos
em Isaías 40 a 55 e no livro de Jonas que a preocupação universal de Deus é
clara no Antigo Testamento. Blauw diz que “há justificativa real para se falar do
chamado missionário de Israel. Este é chamado, sob a figura de servo, para
trazer justiça e luz às nações. Certamente, o mandamento missionário não pode
ser melhor formulado” (The Missionary Nature of the Church, 32)

Roger E. Hedlund discute a importância de Gênesis para missões em


seu livro The Mission of the Church in the World. Por ter vivido e escrito na
Índia, Hedlund tem um profundo entendimento de como é a cosmovisão das
pessoas na Ásia. Ele viu claramente que a cosmovisão bíblica é muito diferente

27
de todas as das outras religiões e nisto reside a importância das missões
cristãs.

A COSMOVISÃO BÍBLICA VERSUS AS DEMAIS

1. O Deus da Bíblia e os “deuses” das Nações

Gênesis 1:1 apresenta a verdade mais básica da convicção cristã: “No


princípio criou Deus os céus e a terra”. Este verso nos ensina o seguinte:

 Teísmo: Gênesis começa afirmando que Deus existe até mesmo


antes da fundação do mundo. Somente ele é eterno e as coisas
materiais são temporais. A crença de que não há Deus é negada
completamente.

 Monoteísmo Bíblico: As pessoas adoram a diferentes deuses e


deusas em nosso mundo, mas a Bíblia nos revela a pessoa e a
natureza do Deus único e verdadeiro, o Criador de todas as coisas.

 Exclusivismo: O Deus verdadeiro demanda adoração e obediência


exclusivas. Nenhum outro deus e nenhuma outra adoração são
permitidos (Êxodo 20:3 e 4). Moisés disse que os deuses das nações
não são deuses, mas demônios, e não devem ser adorados de modo
algum (Deuteronômio 32:16 a 18).

2. A Natureza de Deus como Criador do Universo

Gênesis ensina que o politeísmo, a idéia de que há muitos deuses, é falso.


Há espíritos invisíveis chamados de anjos e demônios, os quais Deus criou,
mas apenas o próprio Deus deve ser adorado e servido. Isto mostra a grande
diferença da cosmovisão bíblica e a de bilhões de pessoas que adoram diversos
tipos de deuses. É óbvio, portanto, que em missões nós lidamos com conflitos
entre cosmovisões contraditórias. O mais básico aspecto da cosmovisão bíblica
tem a ver com a natureza de Deus.

Gênesis nega o panteísmo, a idéia de que Deus está em todas as coisas e


de que não há real distinção entre Deus e o mundo material. Gênesis ensina
que, ao criar o universo, Deus trouxe à luz alguma coisa que não era Deus.
Apenas Deus é eterno e a criação é passageira. Uma visão moderna do

28
panteísmo pode ser encontrada entre os ambientalistas radicais, que identificam
o mundo criado com Deus.

Zoroastrianismo é uma crença religiosa antiga baseada na idéia de que


um deus, cujo nome é Ahura Mazda, criou duas forças, uma boa e outra má.
Estas forças lutam constantemente entre si, numa guerra sem fim. Esta
cosmovisão está implícita em muitos videogames com que os jovens brincam.

Gênesis também ensina que ambos o mal e o bem existem, mas que o
mal não é eterno e que esta batalha terá fim. A boa nova da cosmovisão bíblica
é que, em Cristo, Deus trouxe para si mesmo a luta contra Satanás e o pecado.
Cristo e todos os que com ele estão já são vitoriosos.

3. A Natureza dos seres humanos

De acordo com a história de Gênesis, os seres humanos são distintos de


todo o restante da criação de Deus. Eles são criados à imagem de Deus. Isto
significa que a todos eles foi concedida a habilidade de conhecer a Deus, viver
com ele num relacionamento de amor e obediência, e cumprir seus
mandamentos (Gênesis 1:27).

Portanto, os humanos possuem um valor especial e a vida humana, dentro


e fora do ventre, deve ser protegida. Todos possuem uma mesma raça, apesar
da cor, tribo, casta, nacionalidade ou gênero. Homens e mulheres, igualmente,
são criados à imagem de Deus e têm o mesmo valor diante dele.

Portanto, a história da criação, em Gênesis, remove todas as bases para o


racismo, as guerras entre tribos e sexos, desigualdades entre classes sociais, e
o nacionalismo - tudo isso produzido pelo pecado. A boa nova da cosmovisão
bíblica é que, se somos todos da mesma raça, podemos ser salvos através do
evangelho e por um único Salvador, Jesus Cristo, que tomou sobre si nossa
natureza humana a fim de nos redimir dos nossos pecados.

4. A Realidade do Pecado e o Caminho da Salvação

Gênesis 3 conta a história da queda dos primeiros seres humanos, Adão e


Eva. Aqui está a resposta para a pergunta acerca da origem do pecado,
sofrimento e mal no mundo. Nós também nos deparamos com a questão que
reside no centro de toda cultura humana: a quem servimos? A quem
obedecemos? Adão e Eva escolheram obedecer a Satanás, o anjo caído, e, por
sua desobediência a Deus, o pecado e o juízo vieram sobre o mundo inteiro. A
29
partir daquele momento, toda a natureza humana e suas culturas foram
corrompidas pelo pecado. Todos afastam-se de Deus para servir a outras
coisas ou a outros deuses.

A boa nova é que Gênesis 3 contém o primeiro chamado missionário nas


Escrituras e a primeira revelação do propósito redentor de Deus. O texto de
Gênesis 3:8 e 9 diz que, após a queda, Deus veio à procura dos primeiros pais
chamando: “Onde estás?” Este mesmo chamado Deus tem feito através dos
séculos pelos profetas e missionários, e, principalmente, pelo seu Filho, Jesus
Cristo. Nós vemos em Gênesis, pela primeira vez, que Deus é um Deus
missionário.

Gênesis 3:15 é corretamente chamado de “a primeira de todas as boas


novas”.

Porei inimizade entre ti [serpente] e a mulher, entre a tua


descendência e o seu descendente. Este lhe ferirá a cabeça, e
tu lhe ferirás o calcanhar.

Esta promessa é dirigida a toda a humanidade. Um ódio terrível


persistirá, como diz o verso, entre os dois frutos, o da serpente e o da mulher.
Algum dia, porém, o descendente da mulher virá e esmagará a cabeça da
serpente (chame a isso o primeiro anúncio do nascimento de Jesus). Na
cosmovisão bíblica, o pecado, o sofrimento e o juízo serão derrotados através
de Cristo, o Salvador do mundo.

ISRAEL DO ANTIGO TESTAMENTO, UM POVO ESCOLHIDO

PARA UM PROPÓSITO MISSIONÁRIO

Gênesis 1 A 11 lida com a origem e o desenvolvimento da raça humana


como um todo. Este período é denominado de “universalismo”. Em Gênesis
12:1-3, quando Deus escolhe a Abraão e seus descendentes para serem
objetos da sua graça e bênção para todos os povos da terra, inicia-se o período
do “particularismo”, em que Deus trabalha através de uma nação, Israel.

Israel foi chamada para ser uma “nação missionária”. Os israelitas


deveriam ser servos de Deus, suas testemunhas, seus sacerdotes e
mediadores diante das nações (Isaías 42:5 a 7; 43:10 a 13). Israel deveria ser
um exemplo vivo ou uma “vitrine” do Reino de justiça de Deus. As nações
deveriam aprender através da fé e vida de seu povo e dizer: “Aqui está um povo
que conhece e serve a um Deus maravilhoso. Suas leis são justas e beneficiam

30
a todos. Até mesmo os animais e o solo são preservados. Melhor de tudo, este
povo tem esperança, pois, pelo sacrifício que ele oferece, seu Deus perdoa
seus pecados, e ele aguarda o Messias que virá algum dia”.

As falhas de Israel são bem conhecidas. Os israelitas perderam muito do


seu testemunho por adotarem elementos de religiões pagãs. Eles se tornaram
mais preocupados com sua identidade racial e nacional do que com o dever de
serem testemunhas para Deus. Eles tinham pouca preocupação de que os
gentios perdidos fossem salvos (veja o livro de Jonas).

Deus, porém, fez com que Israel se tornasse uma bênção para as nações,
apesar das suas falhas. Os judeus receberam e preservaram o Antigo
Testamento e o traduziram em grego, a língua mais usada nos dias dos
apóstolos. Escribas judeus inspirados mantiveram viva a idéia de que um dia
todas as nações e povos ouviriam a Palavra de Deus e a ela responderiam.
Cristo veio de Israel e ele é o Salvador do mundo (João 4:42).

No entanto, o chamado missionário não foi totalmente perdido entre os


judeus. Antes mesmo da vinda de Cristo, já tinha início uma missão judaica na
direção dos gentios (Mateus 23:15; João 7:35). Por isso, a “Grande Comissão”
de Jesus não foi exatamente uma surpresa. Ela tinha suas bases na história e
nas Escrituras de Israel, remontando aos tempos de Abraão. Assim, é
impossível entender devidamente missões no Novo Testamento sem considerar
suas raízes no Antigo Testamento.

QUESTÕES PARA REVISÃO

1. Qual foi o conselho de De Ridder?

2. Como você define “Cosmovisão”?

3. Identifique e explique quatro convicções (cosmovisões) básicas


ensinadas no Antigo Testamento

4. De que maneira Israel cumpriu seu papel missionário?

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. Identifique, pelo menos, três salmos que falem sobre todas as nações
adorando a Deus

2. Apresente três passagens dos profetas do Antigo Testamento que


poderiam ser usadas numa mensagem sobre missões
31
3. De Ridder estava certo? Explique.

32
Capítulo 5

Missões nos Quatro Evangelhos

O missiólogo europeu, Johannes Verkuyl diz o seguinte acerca do Novo


Testamento:

Do começo ao fim, o Novo Testamento é um livro missionário.


Ele deve sua própria existência ao trabalho missionário das
igrejas cristãs primitivas, tanto a judia como a helenística. Os
Evangelhos são “recordações vivas” da pregação missionária,
e as Epístolas, mais do que uma forma de apologética
missionária, são instrumentos atuais e autênticos do trabalho
missionário. (Contemporary Missiology, 101-2)

JESUS, O SALVADOR DO MUNDO

Tudo que o Antigo Testamento ensina conduz à pessoa e ao ministério


de Jesus de Nazaré. Ele cumpre as profecias, esperanças e expectativas dos
santos dos tempos antigos e abre a porta dos céus para as pessoas ao redor do
mundo. Os samaritanos, considerados meio-gentios, são os que primeiro
expressaram esta verdade ao afirmarem: “Este é verdadeiramente o Salvador
do mundo” (João 4:42).

No início de seu ministério, Jesus seguiu para Nazaré, sua cidade natal.
Chegando lá, sendo sábado, ele entrou na sinagoga para adorar. Os líderes da
sinagoga o convidaram para ler as Escrituras e falar ao povo. Jesus leu as
palavras de Isaías 61:1 e 2:

O Espírito do Senhor está sobre mim,

porque ele me ungiu

para evangelizar os pobres;

Ele me enviou

para proclamar libertação aos cativos

e restauração da vista aos cegos,

para pôr em liberdade os oprimidos,

e apregoar o ano aceitável do Senhor (Lucas 4:18 e 19)

33
Tendo os olhos de todos voltados para si, Jesus adicionou: “Hoje se
cumpriu a Escritura que acabais de ouvir” (Lucas 4:21).

Este momento, na sinagoga de Nazaré, torna-se um marco no trabalho


redentor de Deus. A missão de Jesus, o enviado pelo Pai, havia começado. O
“ano aceitável do Senhor”, ao qual Jesus se referia, era o período de tempo em
que o evangelho seria pregado a todos.

Assim, vamos verificar como os quatro Evangelhos descrevem Jesus, o


missionário divino e aquele que comissiona seus discípulos a pregar o
evangelho a todos os povos da terra.

JESUS, O MISSIONÁRIO

Missionário é a pessoa a qual é “enviada”. João 20:21 é um texto-chave


para entendermos o caráter missionário de Jesus. Ele disse: “Assim como o Pai
me enviou, eu também vos envio”. Jesus sabia que seu Pai Celeste o havia
enviado ao mundo em missão, a qual consistia em “buscar e salvar o perdido”
(Lucas 19:10). O mesmo Jesus envia seus seguidores a irem até aos confins da
terra fazendo discípulos até o fim dos tempos (Mateus 28:19 e 20).

De acordo com os evangelhos, o papel de Jesus durante seu ministério


terreno era o de ser o Enviado e formar seu povo missionário. As ações de
Jesus, durante todo o seu ministério, tiveram um caráter missionário. Ele
mostrou sua paixão pelos perdidos e anunciou sua salvação enquanto
conversava com pessoas como Nicodemos (João 3) e a mulher samaritana
(João 4), e contava estórias como as da ovelha e dracma perdidas e do filho
pródigo (Lucas 15). Os Evangelhos retratam Jesus como o Messias missionário.

OS QUATRO EVANGELHOS COMO “LITERATURA MISSIONÁRIA”

Todos os quatro Evangelhos foram escritos quando a igreja estava


ativamente engajada em missões. Foram escritos para serem lidos por pessoas
que necessitavam conhecer acerca de Jesus, acreditar nele e também levar
outros até ele. Cada evangelho conta a história de Jesus a diferentes tipos de
leitores.

 Mateus foi escrito para os judeus, para ensiná-los sobre Jesus e fazer
deles o suporte para a missão da igreja junto aos gentios.

34
 Marcos era um “tratado” missionário para os gentios que precisavam de
um breve relato sobre a vida e os ensinamentos de Jesus

 Lucas, um gentio convertido à fé em Jesus, escreveu para os gentios


como ele, os quais precisavam saber que Jesus os queria em seu Reino
tanto quanto os judeus.

 João abertamente declarou seu propósito missionário: “Para que creiais


que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida
em seu nome” (João 20:31). Ele endereçou seu evangelho ao mundo.
Seu livro apresenta uma série de conversas evangelísticas entre Jesus e
as pessoas, conversas estas que levaram muitos ao redor do mundo à
fé em Cristo.

OS ENSINOS SOBRE MISSÕES NAS ESTÓRIAS QUE JESUS CONTOU

Quando pregava, Jesus contava muitas estórias que continham


importantes ensinamentos sobre missões. Por exemplo, na estória da seara
(Mateus 9:37 e 38), Jesus desafiou seus seguidores a abrirem seus olhos para
o tamanho da seara à espera por trabalhadores. Ele lhes disse para pedirem ao
Senhor que enviasse trabalhadores para a sua grande seara.

Lucas 15 contém as estórias dos três elementos perdidos – a ovelha, a


moeda e o filho. Jesus contou estas estórias em resposta aos líderes religiosos
que o criticavam por falar sobre os “excluídos” da sociedade. Esta é a lição
ensinada nas três estórias: Deus quer que os perdidos sejam encontrados e os
céus se alegram quando os pecadores se arrependem e voltam para casa. A
mensagem missionária é clara para todo aquele que quer enxergar.

Jesus nos ensinou o que esperar em missões na estória dos quatro tipos
de terrenos (Mateus 13:1 a 23). A palavra do evangelho é levada a pessoas
resistentes, a pessoas que mostram interesse temporário, a pessoas que não
produzem frutos e, graças a Deus, a pessoas que são receptivas e frutíferas.
Esta estória tem dado nova visão e coragem aos evangelistas e missionários,
quando têm que se confrontar com estes quatro tipos de “terreno” entre as
pessoas.

Joel F. Williams oferece as seguintes idéias sobre a estória do semeador,


de como ela nos ensina acerca da soberania de Deus no trabalho missionário:

Uma característica ímpar da parábola de Jesus é que o


semeador é aparentemente um fazendeiro esbanjador. Sem
35
muita preocupação, ele joga as sementes ao longo da estrada,
nas pedras, entre os espinhos, bem como em terreno bom. A
prática comum naquele tempo, de semear para depois arar a
terra, pode explicar parcialmente as atitudes do semeador.
Também, a perda de algumas sementes é um fator comum
para a agricultura. Mas ainda, a seara abundante é claramente
o resultado da bênção de Deus e não da técnica do semeador.
O tamanho da seara é desproporcional à habilidade do
semeador. Jesus conta uma parábola semelhante sobre um
semeador que lança suas sementes e vai dormir, para depois
descobrir que elas brotam e crescem por si mesmas, sem a
sua ajuda (Marcos 4:24 a 30). O princípio implícito que nos
ajuda a entender ambas as parábolas é o de que a seara é um
trabalho de Deus.

Esta é a missão de Deus. Ele envia, capacita e produz os


resultados. O propósito final da missão é glorificar a Deus, de
tal modo que uma multidão de todas as nações, tribos, povos
e línguas possam declarar o louvor e a honra, a glória e o
poder de Deus por toda a eternidade. Os fiéis participam da
missão de Deus não porque ele precise da sua contribuição,
mas porque eles estão convictos acerca da importância de
Deus e de sua vontade, e porque Deus na sua graça se
humilhou para incluir os agentes humanos no cumprimento do
seu trabalho. Como é descrito no Novo Testamento, Deus está
no centro da missão (William J. Larkin, Jr., e Joel F. Williams,
Mission in the New Testament, 239 – 40)

A CRUZ, A RESSURREIÇÃO E A GRANDE COMISSÃO DE


CRISTO

Na cruz, Jesus sofreu o julgamento de Deus em nosso lugar. Ele sofreu,


de uma vez por todas, por Israel e pelos gentios. Sua ressurreição, igualmente,
significou vitória sobre Satanás, a morte e o juízo sobre toda uma comunidade
mundial de fiéis. A cruz e a ressurreição de Jesus formam a base para a missão
cristã. Portanto, não é surpreendente que encontremos relatos sobre sua cruz e
ressurreição juntos com o mandamento de levar o evangelho a todos os povos.

36
Cada um dos quatro Evangelhos termina com a “Grande Comissão”, após
contar a história da morte de Cristo e sua ressurreição. Jesus diz que sua
vontade é que seus discípulos levem o evangelho a todas as pessoas, em todo
lugar. As quatro passagens são:

 Mateus 28:18 a 20

 Marcos 16:15 a 18

 Lucas 24:44 a 48

 João 20:21 a 23

As raízes desses mandamentos missionários são encontradas no Antigo


Testamento, em passagens como Gênesis 12:3; 15:5; e Isaías 49:6. Cristo
indica que, agora, seu ministério pessoal na terra está acabando e que o “tempo
do fim” está por começar com estas instruções finais antes da sua ascensão.
Agora, as profecias do Antigo Testamento acerca do ajuntamento das nações
serão cumpridas.

O centro de todos os textos da comissão é tornem as pessoas de todos os


lugares meus discípulos. Seguir a Jesus significa (1) crer somente nele como
seu salvador; (2) obedecê-lo como seu Senhor e Rei da sua vida; e (3) cumprir
seu mandamento de fazer discípulos de todos os povos. O chamado e destino
de Israel agora são cumpridos em Jesus, cujos braços estão abertos a todas as
nações, povos e raças. Ele é a porta para o Reino e ninguém que vem até ele
será lançado fora.

QUESTÕES PARA REVISÃO

1. Explique o significado da mensagem de Jesus na sinagoga, em Nazaré.

2. O que significa: Jesus, o “Messias Missionário”?

3. Para que tipo de leitores cada um dos quatro Evangelhos foi escrito?

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. Como você descreveria o “Reino de Deus”?

2. Compare os quatro textos da “Grande Comissão” e identifique elementos


especiais em cada um deles.

37
3. Como explicamos a soberania de Deus em missões e nossa
responsabilidade de levar o evangelho a todas as pessoas, à luz do que
Joel F. Williams disse sobre a parábola do semeador?

4. Discuta algumas outras parábolas que Jesus contou e como elas nos
ensinam sobre missões.

38
Capítulo 6

Missões em Atos e nas Epístolas

Neste capítulo, examinaremos o contexto social em que os primeiros


missionários e evangelistas trabalharam, a oposição que enfrentaram e alguns
de seus métodos. Examinaremos mais especificamente os métodos usados
pelo apóstolo Paulo num outro capítulo.

Devemos ter em mente que por detrás das atividades humanas requeridas
em missões sempre está a mão divina. A atividade missionária é,
primeiramente, um trabalho do Deus trino. William J. Larkin Jr. nos lembra que: .

É comum reconhecer que a apresentação da missão de Lucas


em Atos tem menos a ver com “Atos dos apóstolos” do que
com “Atos do Espírito Santo”, tem menos a ver com a missão
da igreja do que com a missão de Deus. Estudos detalhados
revelam quão verdadeiras são estas características. A
narrativa de Lucas apresenta cada pessoa da divindade como
“enviador”, comissionando e promovendo a missão. Cada
pessoa da Trindade é também um “enviado”, um agente
missionário bem como um participante trabalhando através
dos agentes humanos. Finalmente, Lucas não hesita em
enfatizar que os resultados da missão são divinos. (Mission in
the Old Testament, 174-75)

Larkin está certo quando afirma que o trino Deus é o autor, a fonte de
poder e o articulador de toda atividade missionária. O desenvolvimento desta
atividade representa um esforço muito acima da capacidade humana. Portanto,
ao final, seus resultados são devidos à soberana graça de Deus e toda a glória
deve ser dirigida a ele. Mantenhamos isso em mente enquanto focalizamos
nossa atenção no trabalho dos agentes humanos e nas condições que eles têm
enfrentado.

O CONTEXTO SOCIAL DE MISSÕES

Nenhum período da história do mundo foi mais adequado para o


crescimento da igreja do que o primeiro século da era cristã. O Império Romano
controlava a maior parte do mundo. Isto trouxe a paz, unidade, segurança nas
39
viagens e um governo estável para milhões de pessoas. A disseminação do uso
da língua grega tornou fácil a comunicação.

No entanto, apesar da força do Império Romano, sinais de decadência


emergiam na sociedade. Muitas pessoas se sentiam inseguras e incertas
acerca do futuro. Antigas idéias e crenças na religião e filosofia estavam
perdendo seu atrativo. As pessoas estavam em busca de novas idéias, de uma
religião melhor do que a conhecida no passado e de uma base mais forte para a
moralidade social. Os cultos religiosos e as religiões “misteriosas” se
multiplicavam neste contexto.

Os judeus foram dispersos por todo o mundo romano e as sinagogas


podiam ser encontradas em muitas cidades. A Bíblia hebraica era acessível na
língua grega. O monoteísmo, a crença judaica num só Deus, atraía as pessoas,
que viam as leis morais das Escrituras oferecerem melhor base para a
sociedade do que as religiões dos gregos e romanos. Os missionários judeus
também promoviam, ativamente, suas crenças e valores morais.

A OPOSIÇÃO ÀS MISSÕES CRISTÃS

1. A oposição dos judeus

O livro de Atos nos conta que os líderes religiosos judeus se opuseram ao


Cristianismo desde o princípio. A questão crucial para eles era: quem era
Jesus? Era ele o Messias prometido nas Escrituras? Era ele mais do que um
grande profeta? Como a sua morte na cruz se encaixa nas expectativas acerca
do Messias?

Os judeus, em geral, desprezavam a mensagem de um Messias


crucificado, a quem os cristãos identificavam com o Deus da Bíblia. Os judeus
viam que, à medida que a fé cristã se espalhava entre os gentios, os
convertidos não guardavam a lei de Moisés, especialmente a circuncisão. Além
disso, a propagação da fé cristã irritou a outros gentios e, em alguns casos,
judeus foram acusados por isso. Os líderes judeus enxergavam as missões
cristãs como uma ameaça à sua segurança e por isso eles se opunham a elas.

Os cristãos do primeiro século ainda tinham esperança de ganhar o povo


de Israel para fé cristã. Mas no fim daquele século, a divisão entre Judaísmo e
Cristianismo havia se tornado tão profunda que as missões para com os judeus
se tornaram quase impossíveis. Não alcançar muitos dos judeus se caracterizou
como um dos primeiros fracassos das missões cristãs.

40
2. A oposição dos gentios

Os gentios se opuseram à propagação do evangelho por alguns motivos.

a. Os gentios enxergavam o Cristianismo como causador de divisões e


como sendo perigoso para a sociedade. Eles toleravam todos os
tipos de religiões e cultos, mas perseguiam os cristãos. Acreditavam
nas difamações que eram espalhadas sobre os cristãos. Os gentios
reputavam os cristãos como traidores porque se recusavam a adorar
o imperador romano. Os cristãos também refutavam certos esportes
imorais que eram do agrado dos gentios.

b. Os gentios consideravam o Cristianismo muito novo para ser


verdade, bem como intelectual e culturalmente inferior. A mensagem
da cruz e da salvação pela fé em Jesus era ridícula para os gentios.
Além disso, muitos dos cristãos primitivos eram pobres e incultos e
alguns eram escravos. Assim, os gentios os tratavam com
superioridade e se opunham à propagação de sua religião.

c. Os cristãos insistiam na existência de um único Deus digno de ser


adorado e de um único Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Os
romanos rejeitavam uma religião tão intolerante e os seus
ensinamentos morais rigorosos. Eles ficavam especialmente irritados
com o fato dos cristãos se recusarem a reconhecer o imperador
como “deus”.

AS ABORDAGENS MISSIONÁRIAS

1. Um evangelho e muitas “traduções”

Os primeiros cristãos tinham que “traduzir” as palavras e idéias do


evangelho em linguagens e atitudes que todos os tipos de pessoas
pudessem entender. Esta “tradução” era uma tarefa perigosa porque, no
processo, o próprio evangelho poderia ser mudado ou perdido. Ainda, isso
devia ser feito de modo que o evangelho se movesse a partir da
comunidade judaica, com as suas tradições, para outros povos e culturas do
mundo.

Os evangelistas e missionários levaram o evangelho a livres e


escravos, homens e mulheres, intelectuais e incultos, astrólogos e
supersticiosos, e seguidores de outras religiões. Cada um desses grupos
41
representava um desfio particular. Todos precisavam ouvir o evangelho de
modo que pudessem compreendê-lo. Esta era uma grande tarefa, cheia de
riscos, e que requeria um grande conhecimento, criatividade e sabedoria
espiritual.

Os apóstolos usaram uma variedade de abordagens, mas nunca


mudaram as verdades básicas do evangelho. Os sermões registrados em
Atos e os ensinamentos contidos nas Epístolas ilustram este fato. Eles
proclamaram a fé em um único Deus, o qual enviou seu único Filho, Jesus,
para morrer pelos pecadores. Eles contaram sobre a ressurreição e a
esperança da volta de Cristo. Atacaram a imoralidade que era considerada
intimamente ligada à idolatria. Porém, eles não esperavam melhora na
conduta humana sem o arrependimento e a conversão à fé em Jesus Cristo.

2. A Insistência na conversão a Cristo

Os primeiros missionários insistiam em que todos aqueles que


desejassem se tornar discípulos de Cristo fossem convertidos. Isto
significava crer somente em Cristo como Salvador e Senhor, abandonando
todos os outros deuses e práticas religiosas e mudando a maneira de viver
para se conformar aos ensinamentos de Cristo.

Este tipo de conversão religiosa era estranha ao mundo do primeiro


século. As pessoas não achavam necessário abrir mão de idéias religiosas
para poder adotar outras. Elas não viam conexão entre crenças religiosas e
práticas morais e não gostavam da insistência dos cristãos de que elas
deviam confiar nas crenças corretas sobre Cristo a fim de serem salvas.

Os primeiros missionários insistiam que a conversão era necessária,


mesmo não sendo esta uma idéia popular. Eles não faziam concessões. As
missões objetivavam a conversão. Os missionários não concordavam com
qualquer forma de diálogo que resultasse na conciliação entre religiões. A
mensagem que pregavam era inteiramente sobre Jesus Cristo.

Os missionários confiavam que, quando era recebida, a mensagem se


tornava uma força transformadora no coração das pessoas e da sociedade.
Uma vez que se convertiam, um novo fundamento de vida era estabelecido
nas pessoas. Seus interesses sociais e culturais começavam a mudar sob a
influência do Espírito Santo e o amor de Deus, em Cristo, as conduzia a
buscar a justiça nos relacionamentos em que estavam envolvidos. A
atividade missionária, ainda hoje, busca os mesmos resultados.
42
O livro de Atos e as Epístolas nos ensinam que devemos preservar a
ordem das coisas. Em primeiro lugar, deve haver a conversão da idolatria à
fé no único e verdadeiro Deus, revelado em Jesus Cristo. Depois, vem o
batismo, as disciplinas do discipulado cristão e a comunhão ativa na família
dos fiéis. Ao mudarmos esta ordem eliminamos a fonte de poder
transformador de vidas. Como Michael Green disse, anos atrás:

A partir do momento em que você arranca a raiz fundamental


da conversão a Cristo da mensagem cristã, ela se torna uma
planta sem vida e quebrada, embora apresente a beleza das
flores do envolvimento e preocupação social. (Evangelism in
the Early Church, 148)

3. Alguns profissionais de tempo integral e muitos missionários leigos

As epístolas e o livro de Atos nos relatam o trabalho de “profissionais” de


tempo integral, tais como Paulo, Silas, Barnabé, Timóteo, Tito, e outros. Além
destes, havia também muitos outros viajantes missionários enviados pelas
igrejas e suportados pelas ofertas e pelos serviços de crentes fiéis. Estes
missionários leigos formavam o maior grupo dos primeiros embaixadores do
evangelho.

As mulheres, tanto quanto os homens, estavam também envolvidas.


Examine quantas mulheres são citadas entre os colaboradores de Paulo em
Romanos 16. Estas mulheres ministravam às igrejas que se reuniam em suas
casas; elas profetizavam, falavam em línguas, corrigiam e instruíam
evangelistas mal-informados, como Apolo, e serviam como diaconisas.

O livro de Atos e as Epístolas nos dão a idéia de um grande número de


pessoas que formal e informalmente se engajaram na divulgação do evangelho.
Pessoas de todas as partes da sociedade compunham o exército de
testemunhas. Cada uma delas testificava de Cristo através de suas vidas
transformadas, de seu testemunho verbal, de seu serviço sacrificial e da
comunhão fraterna da igreja. Todas as coisas pelas quais Paulo orava em suas
epístolas em favor das comunidades relacionavam-se com o testemunho da
igreja. Coloque todos estes esforços juntos e você verá o corpo de Cristo
servindo como um farol da fé, da esperança e do amor, numa sociedade
romana decadente.

43
4. Muitos métodos diferentes

O Novo Testamento nada diz sobre muitas coisas que nos são comuns
hoje em dia, como por exemplo, os edifícios das igrejas. Nos primeiros duzentos
anos, nenhum edifício especial foi usado pela igreja. Havia muitas pregações,
mas nenhuma menção de “sermões formais” ou púlpitos. Os crentes pregavam
nas sinagogas, ao ar livre, nas suas casas e em edifícios alugados. Qualquer
lugar era bom, se as pessoas podiam ser reunidas para ouvir o evangelho.

A vida moral era a principal ênfase dos apóstolos, juntamente com a


doutrina. Eles não faziam divisão entre a fé e a conduta corretas. Ambas
estavam sob a autoridade de Cristo e de sua Palavra.

A oração era o principal instrumento nas missões primitivas. Tudo


começou no dia de Pentecostes, quando uma reunião de oração se tornou o
momento do batismo com o Espírito Santo e uma conferência missionária. A
oração se tornou o método básico de quebrar as fortalezas de Satanás e de
estabelecer a igreja de Cristo.

Junto com a oração, a leitura das Escrituras era o segundo instrumento


básico dos apóstolos. Eles usavam a Septuaginta, a tradução grega do Velho
Testamento, como sua fonte de verdade e autoridade na pregação. Os
primeiros missionários evangelizavam o mundo, movidos pelo amor às pessoas
e pelo zelo de glorificar a Deus, fazendo que elas viessem a adorá-lo. A
qualidade de sua vida, do seu discurso e até sua morte testemunhavam o seu
Senhor Exaltado.

QUESTÕES PARA REVISÃO

1. Descreva o contexto social dos primeiros missionários.

2. Explique por que os judeus e os gentios se opuseram a missões.

3. Identifique e explique quatro métodos usados pelos missionários.

4. Qual o papel dos homens e mulheres leigos em missões?

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. Descreva o contexto social para missões em seu país e em outro país


onde o trabalho missionário é necessário.

2. Quais são as três objeções mais comuns ao evangelho, hoje?

44
3. O que podemos aprender sobre as missões nos tempos do Novo
Testamento?

45
Capítulo 7

O Espírito Santo e Missões

Onde os seguidores de Jesus conseguem encontrar a força e os


recursos para levar o evangelho a tantas pessoas, nos mais diversos lugares e
em face a tamanha oposição? Jesus respondeu a isso antes de subir aos céus:

Mas, recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo, e


sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda
a Judéia e Samaria e até aos confins da terra (Atos1:8)

Harry R. Boer, que serviu como missionário na Nigéria por muitos anos,
disse o seguinte sobre este verso:

As palavras: “e sereis minhas testemunhas” não apenas se


referem ao que a igreja iria FAZER, mas ao que ela iria SER.
A Grande Comissão, como o mandamento divino à igreja de
ser testemunha, não é apenas uma lei semelhante àquela que
foi estabelecida no começo da história humana (“crescei e
multiplicai”), mas um complemento espiritual da nova criação.
É uma declaração da tarefa da humanidade renovada, assim
como a primeira declaração expressou a tarefa da antiga
humanidade. A urgência do testemunho é inata à igreja.
Surgiu juntamente com ela, que simplesmente não pode
deixar de testemunhar. Ela é assim porque é habitação do
Espírito Santo. O evento de Pentecostes tornou a Igreja uma
testemunha, porque ali o Espírito se identifica com a igreja e
faz da Grande Comissão a lei da sua vida. (Pentecost and
Missions, 122-23)

Aqui nós temos duas idéias importantes. A Bíblia revela a pessoa e o


trabalho do Espírito como sendo altamente missionário em caráter e propósito.
Ele é um Espírito Missionário que deseja trazer de volta para casa os filhos
perdidos de Deus. A igreja, em Pentecostes, imediatamente se torna
missionária em sua essência ao ser batizada pelo Espírito Santo. Desde então,
o Espírito e missões não podem ser separados.

O TRABALHO DO ESPÍRITO MISSIONÁRIO NOS DISCÍPULOS

46
Em primeiro lugar, o Espírito Santo desperta um interesse em missões
nos corações dos discípulos. O zelo missionário, em seu nível mais profundo, é
um santo ciúme pela honra e glória de Jesus Cristo. Pode ser chamado de
“patriotismo pelo Reino de Cristo”. O pensamento de que milhões de pessoas
ainda adoram a falsos deuses e desprezam a Jesus Cristo é profundamente
perturbador para os cristãos cheios do Espírito. Nós desejamos que todas as
pessoas adorem ao único e verdadeiro Deus e a atividade missionária é o meio
através do qual isso se tornará realidade.

Em segundo lugar, o Espírito Santo planta nas mentes dos discípulos


uma compaixão pelas pessoas que estão perecendo. Encontramos cristãos que
olham para o mundo com o coração ardente toda vez que o Espírito trabalha
livremente. A preocupação de Deus pelos pecadores perdidos se torna, mais e
mais, um fardo para os fiéis cheios do Espírito. Estes fiéis estão sempre em
busca de novos e melhores meios de comunicar o evangelho às pessoas de
todo o lugar. Isto explica porque renasce o interesse pelo evangelismo e
missões, quando há um reavivamento da igreja.

Em terceiro lugar, o Espírito Santo constrói a fé na promessa de Deus de


que a pregação do evangelho não será em vão. Sem esta fé, evangelizar o
mundo é um sonho impossível. A promessa de que a Palavra de Deus nunca
voltará a ele vazia (Isaías 55:11) se apodera daqueles que possuem a fé dada
pelo Espírito e que buscam modos de agir de acordo com essa promessa.

Em quarto lugar, O Espírito Santo cria nos discípulos um desejo de


obedecer ao mandamento missionário de Cristo. A obediência gerada pelo
Espírito pode levá-los aos confins da terra e a suportar as mais difíceis
circunstâncias.

Homens e mulheres arriscam-se à morte pela honra e liberdade de seus


países em tempos de guerra. Por que tão poucos cristãos arriscam sua saúde e
suas vidas pela honra do Reino de Cristo? Oremos para que o Espírito plante
em nós e em muitos outros o desejo de fazer a vontade de Deus em missões,
custe o que custar.

Em quinto lugar, o Espírito Santo quebra nossos preconceitos sociais e


raciais e nos torna pessoas amorosas aos que são diferentes, os quais são
acolhidos no Reino de Cristo. O livro de Atos nos conta sobre os preconceitos
raciais e sociais existentes entre os primeiros fiéis. Todo o testemunho
missionário da igreja, até Atos 10, era limitado às pessoas da comunidade
judaica. Por exemplo, a cidade de Samaria, onde Felipe evangelizou, não era

47
um território gentio. E o eunuco etíope, que Felipe encontrou pelo caminho, era
considerado pelos judeus como “temente a Deus”.

Em Atos 10, entretanto, nós vemos que o Espírito Santo ensinou a Pedro
e à igreja que eles deveriam superar seus preconceitos, colocar fim às
separações e acolher os gentios na comunidade de fiéis. O “Pentecostes
gentio”, descrito em Atos 10:44-46, mudou o caráter da igreja. Daquele
momento em diante, as portas da igreja estariam escancaradas a todos.

A Igreja necessita de outro “Pentecostes” do tipo que aconteceu na casa


de Cornélio, quando barreiras sociais e raciais foram removidas pelo batismo do
Espírito Santo. O racismo, tribalismo, nacionalismo e as diferenças entre
classes sociais não apenas mantêm os cristãos afastados, para nossa
desgraça, como também impedem a propagação do evangelho. Os apelos e
argumentos emocionais não podem tirar os preconceitos profundamente
enraizados nos corações, por anos e anos. Apenas o Espírito Santo pode fazê-
lo. Oremos por esse tipo de “Pentecostes” que põe fim em nossas separações.

O TRABALHO ESPECIAL DO ESPÍRITO EM MISSÕES

As pessoas que deixam suas casas, irmãs, irmãos, pais, filhos e seu
país por causa de Cristo e do evangelho recebem especiais promessas e
recompensas (Mateus 19:29). Uma das maiores é a união espiritual entre
missionários e cristãos de outras terras e suportadores de missões de todo
lugar. O Espírito Santo é aquele que os une na “comunhão da Grande
Comissão”.

Esta comunhão consiste de homens e mulheres, igrejas e organizações


que trabalham, se sacrificam e oram pela propagação do evangelho. O elo entre
cristãos que têm seu coração voltado para missões é uma das experiências
mais preciosas na terra. Onde quer que os missionários se encontrem uns com
os outros, imediatamente sentem que formam uma “família”. Quando aqueles
que “vão” se encontram com os que “enviam e suportam”, o espírito missionário
os une em torno de interesses e propósitos comuns.

O Espírito Santo abre as portas para o evangelho. Paulo escreve em 1


Coríntios 16:8-9 sobre a “porta aberta” para oportunidade missionária que ele
encontrou num lugar inesperado, a grande e pervertida cidade de Éfeso. A
história de missões é repleta de exemplos de portas sendo abertas, pelas quais
ninguém esperava. O grande “arrombador de portas”, o Espírito Santo, é
soberano e majestoso. Nem a dureza de um coração individual, nem a
48
relutância teimosa de uma cidade inteira ou nação podem resistir, quando ele
escolhe se mover.

O Espírito Santo prepara os corações dos descrentes para desejarem o


que Cristo oferece, questionarem sobre a fé cristã e para serem convencidos
sobre o pecado e sua necessidade de salvação. Jesus disse que é tarefa do
Espírito “convencer o mundo da culpa do pecado, da justiça e do juízo” (João
16:8).

O trabalho do Espírito Santo – convencendo os pecadores de que eles


necessitam de um salvador, plantando uma nova vida nos corações mortos pelo
pecado e dando a fé em Cristo – é um requisito absoluto para o sucesso de
missões. As vozes dos evangelistas e missionários não podem penetrar além
dos tímpanos. Apenas Deus pode chegar ao interior e falar ao coração. Este é
um trabalho exclusivo do Espírito Santo.

O Espírito preserva e cuida do fruto missionário. Paulo expressa isto,


claramente, quando escreve à igreja que havia plantado na cidade de Filipos.

Fazendo sempre, com alegria, súplicas por todos vós, em


todas as minhas orações, pela vossa cooperação no
evangelho, desde o primeiro dia até agora. Estou plenamente
certo de que aquele que começou boa obra em vós há de
completá-la até ao dia de Cristo Jesus (Filipenses 1:4 a 6)

A seara de Deus não será perdida, porque o Espírito Santo estará


sempre conosco (João 14:16). Os esforços missionários não serão em vão, nem
o serviço e os sacrifícios dos servos de Deus serão esquecidos. Haverá, por
certo, obstáculos e decepções. O profeta Isaías também experimentou a força
da oposição, mas mesmo assim falou com confiança e otimismo sobre a
proclamação da Palavra de Deus:

Em lugar do espinheiro crescerá o cipreste, e em lugar da


sarça crescerá a murta; e será isto glória para o Senhor e
memorial eterno, que jamais será extinto (Isaías 55:13)

OS DONS DO ESPÍRITO PARA OS MINISTÉRIOS QUE DEUS DESEJA

Roland Allen foi um missionário na China, no inicio do século XX. Ele


nos ofereceu dois conselhos importantes:

49
(1) Confie na capacitação e orientação do Espírito Santo para a igreja, sem
prender-se à contínua dependência de líderes e de recursos financeiros
externos.

(2) Confie nos crentes locais, inclusive nos novos cristãos, para aprender da
Palavra de Deus, fazer o que é certo e administrar as atividades da igreja,
sem a interferência de outros para dizerem a eles o que devem fazer.1

Roland Allen aprendeu estes princípios missionários com o apóstolo


Paulo, o qual tornou as igrejas que plantou em comunidades dependentes não
dele, mas do Espírito Santo de Deus. Nada é mais importante para um plano de
ação missionária na atualidade do que seguir a prática de Paulo, ensinando os
convertidos e as congregações a dependerem dos dons espirituais, da
sabedoria e dos recursos do Espírito Santo (1 Coríntios 12 a 14).

A dependência de líderes que não pertencem à cultura da própria


comunidade esta danificando igrejas em muitos lugares. Missionários que
desejam controlar suas igrejas, algumas vezes causam esta dependência.
Outras vezes a causa de tal dependência encontra-se nos próprios crentes
locais que não aprenderam a se ofertar generosamente ao trabalho do Senhor.
Eles preferem deixar que outros levantem os recursos necessários.
Dependência é, freqüentemente, fruto da falta de confiança na habilidade do
Espírito Santo em prover os recursos espirituais e materiais para todo
ministério, segundo a vontade de Deus e debaixo de sua bênção.

O QUE DIZER SOBRE OS LUGARES DIFÍCEIS?

Realmente, existem lugares difíceis nos quais o “solo” do coração das


pessoas é muito resistente ao evangelho e o trabalho missionário dificilmente
progride. Em tais lugares, a maioria das pessoas nem sequer dão ouvidos ao
evangelho. Outros mostram certo interesse por um tempo, mas depois o
abandonam. Quando Jesus contou a estória do semeador (Mateus 13:1 a 23),
se referia exatamente a isso. Ele identifica Satanás como o maligno que cria
barreiras ao evangelho e impede as pessoas de ouvir e responder
positivamente à Palavra de Deus.

Há muitos exemplos de lugares difíceis na atualidade. A resistência ao


evangelho é forte entre os mulçumanos e judeus. A oposição está crescendo
entre os budistas e hindus. O que os missionários podem fazer quando a

50
maioria do “solo” nos campos onde trabalham é resistente ou cheio de
espinhos?

Assim como o semeador da parábola, os missionários devem ser


pacientes, continuar semeando e lembrar-se do Espírito Santo. É tarefa especial
do Espírito Santo transformar solos duros em terrenos produtivos. Ele, no
devido tempo, lidará com as sementes e providenciará para que germinem. Ele
fará com que lindas plantas e árvores cresçam nesses lugares, para o louvor do
nome de Deus (Isaías 55:13).

Pérgamo era uma cidade do primeiro século que tinha sido tão má que
Jesus a descreveu como o lugar “onde está o trono de Satanás” (Apocalipse
2:12-13). Mesmo assim, missionários plantaram ali uma igreja, cujos membros
permaneceram fiéis a Cristo apesar da perseguição sangrenta que sofreram
(verso 13). O seu testemunho foi de sofrimento e martírio. E a força de que eles
necessitavam veio da fonte de todo o poder, o Espírito Santo.

Lugares difíceis como Pérgamo estão se tornando comuns no mundo.


Os missionários precisam aprender a confiar no Espírito Santo, desde o
princípio e ao longo de seus ministérios. Ele foi quem sustentou o Senhor Jesus
durante o caminho ao Calvário e ele nos sustentará em toda e qualquer
situação.

QUESTÕES PARA REVISÃO

1. O que significa chamar o Espírito Santo de Espírito missionário?

2. Identifique cinco maneiras que o Espírito usa para inspirar os


discípulos ao engajamento missionário.

3. O que o Espírito faz pelos missionários e seu trabalho?

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. Onde estão os “lugares realmente difíceis” de hoje?

2. Quão “racista” ou “separatista” é a sua igreja?

3. Você acha que o conselho de Roland Allen é ainda importante?

1
Os livros mais conhecidos de Allen são: Missionary Methods: St. Paul’s or Ours? e The
Spontaneous Expansion of the Church
51
Capítulo 8 - Os Métodos Missionários do Apóstolo Paulo

O primeiro método que o apóstolo Paulo usou para comunicar o


evangelho de Jesus Cristo foi a pregação da Palavra. Ele acreditava ser este o
primeiro veículo pelo qual o Espírito Santo inspira a fé nos corações daqueles
que ouvem. O texto de Romanos 10:17 resume o que o apóstolo acreditava
sobre isto: “e assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de
Cristo”.
Nestas bases, Paulo levou a mensagem do evangelho de Cristo a todas
as pessoas que pôde alcançar. Ele decifrou esta mensagem nos versos
introdutórios de sua carta aos Romanos.
Primeiramente, o Evangelho é de Deus (Romanos 1:1b), o que significa
que ele vem de Deus e não dos homens. A sua proclamação é um resultado do
propósito soberano e eterno de Deus.
Em segundo lugar, o Evangelho foi prometido há muitos anos pelos
profetas do Antigo Testamento (Romanos 1: 2 a 3a). São as boas novas da
Graça que o Deus de justiça concede aos que crêem em Jesus Cristo. O
evangelho, claramente apresentado no Novo Testamento, está enraizado nas
promessas do Antigo Testamento.
Em terceiro lugar, o evangelho se refere inteiramente a Jesus Cristo, o
qual é descendente do Rei Davi, no que diz respeito à sua natureza humana,
mas também revelado como Filho de Deus com autoridade através da sua
ressurreição dos mortos (Romanos 1:3-4).
Em quarto lugar, a proclamação do evangelho é para todas as pessoas,
em todo lugar (Romanos 1:5). Paulo era ávido em pregar o evangelho à grande
cidade de Roma, que possuía diferentes raças, culturas e religiões, porque ele
conhecia que este evangelho era “poder de Deus para a salvação de todo o que
crê” (Romanos 1:16).
Paulo resume seu primeiro método e o que está por detrás dele na sua
primeira carta à igreja em Corinto. Ele escreveu: “nós pregamos a Cristo
crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que
foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus
e sabedoria de Deus” (1 Coríntios 1:23-24).
Todas as atividades missionárias de Paulo se encaixam no seu objetivo
maior de levar adiante o Reino de Deus. Ele começou ganhando discípulos pelo
evangelismo e reunindo-os em igrejas. Continuou esta estratégia fortalecendo
as igrejas jovens para que, através delas, comunidades maiores fossem
transformadas pelo poder do evangelho. O método foi bem sucedido. Como a
52
história mostra, o evangelho se espalhou a todo lugar e, eventualmente, afetou
todo o Império Romano.

MÉTODOS CHAVES USADOS POR PAULO

1. Paulo confrontou as pessoas com a salvação e o senhorio de Cristo


e apelou para que lhe submetessem seus corações e suas vidas.
Isto se baseou na própria experiência de conversão de Paulo (Atos 9:1-9).
Quando ele foi confrontado pela realidade de que Jesus está vivo e reina nos
céus, sua maneira de pensar teve que mudar completamente. Ele teve que se
entregar por inteiro a Jesus Cristo.
Paulo tinha consciência da dureza de um coração descrente e de sua
resistência ao caminho divino da salvação (Romanos 3:10-18). Ele também
sabia que abandonar a sua tradicional religião não era uma idéia popular em
seus dias. Era inaceitável a insistência sobre um único Deus e um só Salvador.
Ainda, Paulo se recusou a encarar a conversão a Cristo como uma coisa
simples. Ele vislumbrava ganhar discípulos de Cristo e não convertidos
nominais que ainda confiam nas antigas crenças religiosas.
Então, Paulo insistiu para que aquele que quisesse ir a Cristo se
arrependesse de seus pecados e de toda forma de idolatria, mudasse toda a
sua maneira de pensar sobre religião, como ele mesmo o fez quando Cristo se
tornou o seu Senhor (Filipenses 3:7-9). O discípulo deveria se submeter
completamente ao senhorio de Cristo sobre sua vida cotidiana. Não havia outro
caminho para o Reino de Deus.

2. Paulo focalizou as famílias e as pessoas que vivem em torno delas


para a evangelização e o alcance da sociedade.
Paulo focalizou, principalmente, as famílias e os relacionamentos
familiares. Ele presumia que, uma vez que o evangelho se enraizasse numa
casa e entre os seus familiares, eventualmente causaria impacto na
comunidade toda.
As “famílias” e os “domésticos” do tempo de Paulo eram semelhantes às
“famílias e os seus” do mundo de hoje. Quando o Novo Testamento fala sobre
isso (1 Coríntios 1:16; Gálatas 6:10), se refere a mais do que um grupo de pais
e filhos. Inclui a todos que vivem juntos e se relacionam, como os amigos,
servos e até os vizinhos e convidados da casa.
Os primeiros convertidos que Paulo obteve eram do ambiente familiar
próximo de onde estava pregando. Eles foram batizados todos de uma vez e
53
juntos compartilharam a Santa Comunhão. Os primeiros golpes contra a
discriminação racial e social, contra a escravidão e a violência para com as
mulheres foram dados na mesa da Comunhão, onde judeu e gentio, mestre e
escravo, homem e mulher podiam se assentar e confessar a sua dependência
num mesmo Salvador.
A estratégia de Paulo consistia em pregar o evangelho, ganhar
convertidos e ensiná-los as primeiras e mais básicas lições no contexto familiar.
Estes conceitos têm a ver com a natureza da igreja, como família de Deus, e
com a vida transformadora do Reino. Graças a Deus, isto continua a acontecer
em muitos países, através do mundo.

3. Paulo enfatizou a importância de plantar e cuidar das igrejas como


comunidades de fé, adoração, comunhão e serviço.
Paulo não só fazia discípulos, como também, sempre que possível, os
reunia e organizava em igrejas com líderes espirituais locais (1 Timóteo 3; Tito
1:5-9). Ele agia assim por acreditar que Cristo estabeleceu a igreja para um
importante propósito. Cada igreja deveria ser como um farol e uma “vitrine” do
Reino de Deus.
Paulo estabeleceu igrejas nas quatro províncias romanas: Galácia,
Macedônia, Acaia e Ásia, num período de dez anos. Ele tinha esperanças de ir
a Espanha, o lado ocidental mais distante do império (Romanos 15:24 e 28), e é
possível que tenha conseguido isso. Em todo lugar que foi Paulo pregou, reuniu
os convertidos e os organizou em igrejas locais autônomas. Sua abordagem
baseava-se na visão do Reino, de comunidades de pessoas que adoravam a
um só Deus e o serviam com seu viver. Tais comunidades eram agentes de
mudanças espirituais e sociais nas vilas, cidades e nações.

4. Paulo concentrou-se no desenvolvimento de líderes locais nas


igrejas, colocando-os no comando assim que possível.
Paulo e seus companheiros estabeleceram igrejas em muitos lugares no
decorrer de suas viagens missionárias. Eles se concentraram em desenvolver
líderes cristãos locais para estas igrejas. Portanto, quando partiam, os apóstolos
não deixavam as igrejas sem alguém para pregar, ensinar, batizar e administrar
a Comunhão. As igrejas também não tinham que esperar semanas ou meses
pela visita de um apóstolo antes de poder funcionar plenamente.
Paulo sabia que o Espírito Santo dava dons espirituais aos crentes para o
bem e ministério da igreja (1 Coríntios 12 a 14). Portanto, ele preparava as
pessoas locais para ensinar, pregar, ministrar aos pobres, lidar com problemas
54
e governar os negócios da igreja de acordo com seus dons, distribuídos entre
os crentes pelo Espírito Santo. Eles não eram dependentes de cristãos de
outros lugares no que diz respeito aos ministérios vitais, ou à liderança, ou
mesmo às finanças. Este método de equipar líderes locais e confiar no Espírito
Santo para instruir, fortificar e guiar a igreja continua a ser uma chave-mestra
para uma missão bem sucedida.

5. Paulo usou as “pontes” naturais de parentesco, amizades e outros


contatos na propagação do evangelho.
No primeiro século, Paulo viajou de cidade em cidade, estabelecendo
contatos com parentes e amigos dos judeus cristãos de Antioquia e de todo
lugar. As relações pessoais foram as suas pontes. Paulo as usou para levar o
evangelho aos judeus que viviam em muitas cidades e para alcançar também
os gentios. Este discernimento sobre como cumprir a comissão que Deus lhe
havia dado foi um dos segredos do sucesso de Paulo, como missionário.
Na atualidade, este método tem um grande potencial no trabalho
missionário. As cidades e vilas estão repletas de pontes humanas naturais. O
evangelho pode atravessar estas pontes, indo de pessoa a pessoa, família a
família. As linhagens familiares e as amizades correm das cidades para os
vilarejos, e vice-versa. Assim como foram no primeiro século, as redes de
contato são um importante instrumento para a propagação do evangelho nos
dias de hoje.

6. Em todo lugar em que esteve, Paulo começou “igrejas nas casas”.


Estas igrejas se tornaram células vivas do Corpo de Cristo. Paulo
usou um grande número de “companheiros de trabalho”
(conhecidos atualmente como leigos) para espalhar o evangelho e
ministrar nas igrejas nos lares.
Quando Paulo disse: “sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto
a sábios como a ignorantes” (Romanos 1:14), estava afirmando um princípio
aplicado não apenas a si mesmo, mas a cada crente. Conversão significa
alistamento no exército de Jesus Cristo. Paulo considerava o testemunho
pessoal e o serviço ao próximo como parte natural da cidadania do Reino de
Jesus Cristo.
Igualmente, Paulo alistou um vasto círculo de cooperadores, homens e
mulheres “leigos”, para a plantação de igrejas onde os crentes pudessem se
reunir para adoração, comunhão, instrução e serviço aos carentes.

55
Os missionários de hoje podem aprender muito sobre como os primeiros
apóstolos passavam seu zelo por missões aos outros, examinando Romanos
16. Paulo menciona um grande número dos seus “companheiros de trabalho”
por nome, ambos mulheres e homens. Encontramos aqui uma chave para a
propagação inicial do evangelho nesta lista: a conversão era seguida de serviço,
e missões envolvia a todos.
J. H. Bavinck, um missiológo holandês e ex-missionário na Indonésia, se
impressionou com as repetidas referências sobre o papel dos pregadores leigos
no livro de Atos e nas epístolas de Paulo. Sobre isto escreveu:

Nós temos a impressão de que muitos homens e mulheres


que não possuíam outro ofício, senão o de crentes, tiveram
um papel intenso na atividade missionária da igreja primitiva.
Na medida em que estes pregadores leigos ficavam por conta
própria, corriam risco de se tornarem envolvidos com toda
sorte de confusão, como de fato aconteceu. Entretanto, Paulo
teve uma grande força quando, ao invés de suprimir esta
propagação espontânea do evangelho, a organizou e a utilizou
(An Introduction to the Science of Missions, 40)

Estes primeiros pregadores leigos não tinham outro ofício, senão o de


serem “crentes“. De que mais necessitavam para dizer aos seus vizinhos sobre
cristo? A história mostra que homens e mulheres leigos, livres dos muitos
afazeres dentro da igreja, podem espalhar o evangelho de um modo que
poucos ministros ordenados conseguem.

7. Paulo ensinou os crentes a promoverem a justiça, verdade e


misericórdia na sociedade, e a cuidarem da criação do Senhor.
A abordagem missionária de Paulo movia-se da atividade de ganhar
novos convertidos para o estabelecimento de igrejas, para a comunidade ao
redor da igreja e até para o cuidado da terra, do ar e da água que Deus nos
deu. Há uma dimensão maior na abordagem de Paulo que só pode ser
explicada pelo fato dele entender profundamente a natureza da autoridade de
Cristo sobre a terra e os céus, aqui e agora. (Mateus 28:18).
Paulo raramente mencionava o nome de Jesus Cristo sem chamá-lo de
Senhor. Para ele, o senhorio de Cristo deve afetar completamente a maneira
como os cristãos vivem. Jesus é Senhor desde agora até o fim dos séculos, e a
verdade, o amor e a justiça caracterizam seu governo. Por isso, o seu povo
56
deve praticar e promover a justiça, a misericórdia e o amor em todas as áreas
de sua vida, como administradores da terra.
No passado, alguns missionários falharam devido ao seu entendimento
restrito acerca do papel da igreja local na sociedade. Eles estabeleceram as
igrejas, mas estas geralmente eram indiferentes à corrupção e injustiça na
sociedade. Elas falharam em ser luz, sal e fermento num mundo pecador
(Mateus 5:13-16). Em conseqüência disso, muitas pessoas hoje estão
desapontadas com o evangelho e o condenam por pouco fazer pela
transformação da sociedade.
O mundo necessita de igrejas cujos membros sejam agentes de
transformação em cada área da vida. Multidões de pessoas necessitam ouvir
que Cristo é o Salvador e Senhor. As igrejas devem ensinar a Palavra de Deus
e a perspectiva do Reino para a vida. Os cristãos deveriam aprender nas igrejas
sobre o Reino da verdade e justiça e sobre a sua própria responsabilidade em
testemunhar da verdade e justiça na sua comunidade, nos mercados e nos
centros de poder. Tais igrejas são a única esperança para o mundo.

QUESTÕES PARA REVISÃO


1. Qual foi o principal meio através do qual Paulo propagou o
evangelho?
2. Identifique e explique quatro elementos essenciais do evangelho.
3. Aliste e explique os sete métodos missionários essenciais que Paulo
usou.

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO


1. Que métodos adicionais Paulo usou na pregação do evangelho?
2. Na sua opinião, estes métodos são eficazes para os dias de hoje?
3. Dê sugestões de outros métodos que podem ser úteis nos dias de
hoje.

Capítulo 9 – O Evangelho e as Outras Religiões

O que dizer acerca das outras religiões com seus professores, livros
sagrados, e deuses a que adoram? Com que autoridade os cristãos proclamam
o evangelho aos seguidores de outra crença e buscam ganhá-los para a fé em
Cristo?

57
Os seguidores de outras religiões dizem que os cristãos não têm o direito
de defender que a fé cristã é a única religião verdadeira. Eles apontam as falhas
morais dos países do hemisfério norte como uma evidência da fraqueza do
Cristianismo. Dizem que deveríamos parar todo tipo de evangelismo em favor
da paz e harmonia no mundo. Afirmam que deveríamos “dialogar” ao invés de
fazer o trabalho missionário. Dialogar quer dizer conversar sobre semelhanças e
diferenças. Para eles, se assim o fizéssemos estaríamos promovendo o
entendimento, a tolerância e a aceitação mútua entre os seguidores de todas as
religiões.
Qual deve ser, então, a posição dos cristãos frente às outras religiões?
São elas totalmente falsas? Podem conter alguma verdade? Seus seguidores
adoram ao mesmo Deus dos Cristãos? Seus livros sagrados contam a verdade
acerca da salvação? J. H. Bavinck escreveu:
A totalidade do caráter da mensagem missionária é
determinada pela sua atitude em relação às religiões não-
cristãs, as quais tem que combater. (The Impact of Cristianity
on the Non-Christian World, 109)

AS OUTRAS RELIGIÕES À LUZ DA BÍBLIA

Os missionários podem adquirir a certeza de que têm a atitude correta


com relação às outras religiões ao estudarem o que a Bíblia diz sobre elas. O
Antigo Testamento, assim como o Novo, são nossa autoridade em todas as
questões importantes. Jesus e os escritores do Novo Testamento aceitaram o
Antigo como Palavra de Deus. Sua atitude para com as religiões não-cristãs
estava baseada no que Deus revelou no Antigo Testamento.

1. O Ensino do Antigo Testamento

A distinção básica nos tempos do Antigo Testamento estava entre “as


nações” e “o povo da aliança”. Aliança significa o relacionamento especial que
Deus mantinha com Abraão e seus descendentes (Gênesis 12:1-3; 17:1-9). As
pessoas da aliança eram descendentes de Abraão, conhecidos como o povo de
Israel. Eles eram chamados de “povo santo” por serem separados por Deus
como sua possessão especial (Êxodo 19:5-6).
Além do povo de Israel, havia também “as nações” ou “os povos”,
considerados como “pagãos” e “gentios”. Eles tinham outras religiões e não
viviam sob a aliança dada por Deus a Israel.
58
Deus prometeu preservar a Abraão e seus descendentes, protegendo-os e
tornando-lhes prósperos enquanto observassem a aliança estabelecida entre
eles (Gênesis 17:1-9). A aliança era o centro da vida de Israel. A religião da
aliança era:
 Monoteísta: o povo da aliança somente adorava e servia ao único Deus.
 De acordo com o Livro: o povo da aliança acreditava nas escrituras de
Moisés, nos Salmos e nos profetas como autoridade, de onde aprendiam
quem Deus era e como ele deveria ser adorado e obedecido.
 Baseada na Graça de Deus: o povo da aliança confiava em Deus e em
suas promessas.
 Exclusiva: as religiões das outras nações eram falsas e seus deuses não
passavam de ídolos.
 A luz das nações: através do testemunho do povo da aliança, as nações
seriam abençoadas e aprenderiam quem é o verdadeiro Deus e como
ele deve ser adorado e servido (Gênesis 18:18-19).

O povo de Israel constantemente falhou em guardar a aliança e adorou


aos deuses das outras nações. Muitas vezes, Deus teve que dizer: “Lançai fora
os deuses estranhos que há no vosso meio” (Gênesis 35:2). Portanto, o Velho
Testamento tinha uma mensagem clara: a adoração ao Deus da aliança excluía
todas as outras religiões com seus deuses e práticas.
Muitas passagens do Antigo Testamento testificam o que temos dito. Veja
Êxodo 20:1-6, 22-23 e Deuteronômio 32:16-18, os escritos de Moisés. Escute
os Salmos 115:4-8 e 135:15-18. Leia Isaías 41:21-24; 44:6-20 e Jeremias 10:1-
16, os profetas.

2. O Ensino do Novo Testamento

Os autores do Novo Testamento conheciam bem o Antigo. Sua atitude


com relação às religiões não-cristãs era baseada no seu entendimento do
Antigo Testamento. É tarefa primordial dos cristãos de hoje buscar nas
Escrituras um claro entendimento acerca do evangelho e das religiões não-
cristãs.
O apóstolo Paulo alertou os cristãos de Corinto a não participarem da
adoração dos ídolos. Ele disse que as coisas que os pagãos sacrificam “é a
demônios que a sacrificam, e não a Deus, e eu não quero que vos torneis
associados aos demônios” (1 Coríntios 10:20).

59
O apóstolo Paulo descreveu a condição espiritual dos efésios antes da
sua conversão a Cristo (Efésios 2:1-3). Disse que eles estavam mortos nas
suas transgressões e nos seus pecados, que eles seguiam o curso do mundo e
o príncipe do reino do ar (Satanás), e que eram objeto da ira de Deus.
Não há lugar na Bíblia onde o tema do evangelho e as outras religiões
seja melhor tratado do que no primeiro capítulo de Romanos. Paulo começa
descrevendo-o como uma mensagem de Deus, revelada nas Sagradas
Escrituras, centrada em Jesus Cristo, o Filho de Deus, e proclamada a todos os
povos, conclamando-os a obedecerem a Deus através da fé em Jesus Cristo.
Este evangelho é:

O poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê,


primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de
Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito:
o justo viverá por fé (Romanos 1:16-17).

Os mensageiros do evangelho devem pregá-lo em todo lugar, a todos os


povos, nações, raças, tribos e classes sociais. Todo o que crê se torna filho
amado de Deus e é declarado “santo” em Cristo.
No verso 18, o tema muda para a descrição da condição espiritual de
quem não crê em Jesus Cristo, mas adora a outros deuses. Romanos 1:18-32
declara o seguinte:
 A ira de Deus é contra eles (verso 18)
 Deus lhes revela claramente a sua existência e que é poderoso e
eterno (versos 19-20)
 Eles enxergam isso, mas ignoram, deixando-lhes sem desculpas (verso
20)
 Eles suprimem a revelação que Deus dá de si mesmo, e, ao invés de
adorarem ao Criador (a quem deve ser dada toda a adoração),
escolhem adorar as coisas feitas pelos homens (versos 21-23)
 Eles sofrem as conseqüências de sua decisão em seguir os desejos
pecaminosos de seus corações (versos 24-25)
 Deus pune aqueles que adoram a outros deuses, e a rebelião da raça
humana contra o verdadeiro Deus e seu governo sobre a vida provoca
sofrimento ao mundo (versos 26-32)

O apóstolo Paulo aponta aqui o que há de errado nas outras religiões. De


um modo ou de outro, elas negam ou negligenciam a verdadeira natureza de
60
Deus, por ele mesmo revelada. Algumas religiões identificam Deus com o
mundo e com as forças interiores da natureza humana. Em outras, Deus se
mantém distante, muito além do acesso dos homens. Em ambos os casos, as
pessoas não se submetem a ele ou o adoram como ele deseja.
Nós vemos pessoas de todo lugar desejando conhecer a Deus e, ao
mesmo tempo, fugindo dele. Esta é a essência de todas as outras religiões.
Elas substituem o Deus verdadeiro por outros deuses. O apóstolo Paulo diz que
eles sabem que Deus existe, mas não o adoram ou lhe dão graças por todas as
suas bênçãos. Eles trocam a glória do Deus eterno por imagens e as adoram.

A VERDADE E A BELEZA NAS OUTRAS RELIGIÕES

Muitos dizem que a verdade, até mesmo a verdade da salvação, pode ser
encontrada nas outras religiões. As pessoas apontam as coisas bonitas escritas
pelos místicos hindus e mulçumanos, e se perguntam: “Não há verdades
bonitas nas outras religiões”? “Será que pessoas que são profundamente
sinceras não podem ser salvas por outras religiões, assim como pelo evangelho
cristão”?
Ninguém pode negar que muitos seguidores de outras religiões são
profundamente sinceros. Algumas de suas poesias e canções até se parecem
com as orações e os hinos cristãos. Nós as ouvimos e nos perguntamos: “Quem
é o deus a quem oram e oferecem sua adoração? É este o tipo de adoração
que o Pai quer (João 4:23)”?
Os ensinamentos bíblicos são a única base confiável para responder a
estas questões. Não devemos especular sobre coisas de tamanha importância.
Devemos ouvir o que Deus mesmo revelou na Bíblia sobre seu trabalho entre
aqueles que não crêem ou conhecem o evangelho.
Primeiro, a Bíblia ensina que todo ser humano possui um conhecimento
misterioso de Deus. Este conhecimento nunca se tornará verdadeiro e salvador
porque é suprimido pela falsidade e maldade. Há, entretanto, um elemento de
verdadeiro conhecimento religioso na ignorância dos descrentes e entre suas
falsas idéias (Romanos 1:18-20).
Segundo, todos os seres humanos têm fome de Deus e buscam saciá-la
de um modo ou de outro. Deus criou todos à sua imagem e isto implica em que
ele nos colocou a necessidade e capacidade de conhecê-lo e de ter comunhão
com ele (Gênesis 1:26-27). João Calvino falou sobre “a semente da religião”
que Deus colocou em todo coração humano. Por si só, essa semente nunca se
tornará em fé no único e verdadeiro Deus.
61
A queda ocorreu e corrompeu todas as coisas (Gênesis 3). O
relacionamento que Adão e Eva desfrutavam com Deus foi quebrado. A partir
de então, a raça humana se afastou cada vez mais de Deus. As pessoas
inventaram suas próprias religiões, ao invés de adorarem ao Deus que lhes
criou. Esta é a razão por que existem multidões de religiões no mundo.
Terceiro, a Bíblia ensina que Deus não deixa de testemunhar a todos os
povos da terra (Atos 14:17). Deus tem falado a todas as nações de diversas
maneiras. Por causa disso, há elementos da verdade em todo lugar.

COMO DEUS TEM FALADO?

Primeiro, desde o começo da história, a Palavra de Deus é ouvida nas


antigas tradições passadas de geração a geração. A raça humana não
esqueceu, por completo, a verdades contidas nas antigas tradições sobre Deus,
o Criador, e sobre o paraíso e como ele se perdeu. As antigas tradições são
encontradas ao redor do mundo.
Segundo, Deus também fala através da natureza. Tudo o que vemos ao
redor de nós declara a glória de Deus e revela seu poder criativo (Salmo 19:1).
As evidências da existência, glória e poder de Deus cercam todo ser humano.
Terceiro, Deus revela sua justiça moral através de experiências da vida.
Cada ser humano tem uma consciência que lhe dá o senso de certo e errado
(Romanos 2:15). Também lhe dá o senso de que deve prestar contas a um ser
supremo que recompensa e pune os atos das pessoas.
Nós podemos ver através da história que Deus recompensa o bem e pune
o mal. A doutrina hindu do karma reflete isso. Karma significa a lei eterna das
recompensas e punições. Até mesmo aqueles que adoram a outros deuses
percebem a justiça e o poder de Deus.
Deus tem falado também através da pregação dos profetas, apóstolos e
missionários. Os cristãos têm ido a todo lugar pregando a Palavra de Deus,
desde o dia de Pentecostes.
Deus tem se revelado, mais claramente, através da Palavra escrita, a
Bíblia. Ela tem viajado o mundo, por muitos séculos. Os judeus traduziram o
Antigo Testamento para o grego, e os seus ensinamentos sobre a criação, a
queda, as leis morais de Deus se tornaram amplamente conhecidos antes do
nascimento de Jesus. Os primeiros apóstolos usaram o Antigo Testamento em
grego no seu trabalho missionário.
Os cristãos têm traduzido a Bíblia em muitas línguas e distribuído seus
exemplares ao redor do mundo. Os elementos do evangelho da Graça têm ido
62
além da igreja. Eles têm afetado as religiões e culturas que não levam o nome
de cristãs.
Estes elementos da verdade não têm permanecido puros e claros o
suficiente para oferecer salvação aos seguidores de outras religiões. Embora
pedaços da verdade tenham se tornado parte de outras religiões, eles têm sido
corrompidos a tal ponto que não mais expressam o evangelho cristão de modo
que as pessoas possam ser salvas através delas.
Portanto, missões continuam sendo necessárias. Os seguidores de outras
religiões não podem ser deixados com apenas pequenas partes da verdade. Os
cristãos devem ir e contar-lhes o evangelho todo de Jesus Cristo e convidá-los a
deixar seus deuses para adorar ao único e verdadeiro Deus.

CONTANDO A HISTÓRIA DE JESUS

Os cristãos que estudam os livros dos poetas e místicos de outras


religiões freqüentemente se impressionam pela beleza da sua linguagem.
Igualmente, os cristãos que dialogam com os seguidores de diferentes crenças
ficam impressionados com a sua sinceridade e dedicação à sua fé.
Estas pessoas estariam mais próximas de Deus e do evangelho do que os
cristãos imaginam? Num nível pessoal, podemos distinguir verdadeiros
adoradores de Deus daqueles que adoram algo completamente diferente?
Há uma maneira de encontrar a resposta a estas questões. Contar a
esses seguidores de outra fé a história de Jesus. Contar-lhes que o Deus que
criou o mundo e nos fez todos à sua imagem ainda ama ao mundo. Ele enviou
seu Filho para pagar pelos nossos pecados e nos reconciliar consigo mesmo.
Dizer-lhes a história da cruz e da ressurreição. Exortá-los ao arrependimento
dos seus pecados e à fé em Jesus como seu Salvador e Senhor. Dizer-lhes que
todo aquele que se arrepende e confia em Jesus se torna filho de Deus,
herdeiro da vida eterna. Convidá-los a se tornarem discípulos de Jesus Cristo e
a obedecê-lo em todas as áreas de suas vidas.
Se alguém responde dizendo: “Eu sempre achei que Deus deveria ser
assim... Tenho esperado há muitos anos para ouvir esta história que você
acabou de me contar. Conte-me mais!” pode-se estar certo, neste caso, de que
a pessoa já tinha um pré-conhecimento da fé verdadeira em Deus, mesmo
antes de você lhe contar a história de Jesus.
Pessoas assim são muito raras de se encontrar. Provavelmente, você não
irá encontrar uma sequer em toda a sua vida, mesmo que seja popular a idéia
de que raios de luz da verdade podem ser encontrados em todas as religiões.
63
Há um paradoxo entre estes fatos. O poder das trevas é forte e as artimanhas
de engano de Satanás são grandes.
O que você irá encontrar ao falar para a maioria das pessoas sobre Jesus
será o mesmo que o apóstolo Paulo encontrou entre aqueles que rejeitaram o
evangelho nos seus dias: “O deus deste século cegou o entendimento dos
incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de
Cristo, o qual é a imagem de Deus” (2 Coríntios 4:4).
Somente Deus pode fazer a luz brilhar em seus corações e lhes dar o
verdadeiro conhecimento da sua glória, a qual brilha no rosto de Jesus Cristo.
Deus faz esta obra através da pregação do evangelho (2 Coríntios 4:5-6).

QUESTÕES PARA REVISÃO

1. Cite cinco características da religião da aliança, como ensinado no Antigo


Testamento.
2. Por que é importante conhecer o que o Antigo Testamento diz sobre as
outras religiões?
3. O que 1 Coríntios 10:20 diz acerca dos sacrifícios a outros deuses?
4. Como você explica os elementos da verdade que são encontrados
através do mundo?
5. Explique o que você sabe sobre o ensinamento de Romanos 1 com
relação ao evangelho e às outras religiões

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. Que valor você vê no diálogo entre os seguidores de outras religiões e


quais os erros que você deveria evitar?
2. Algumas pessoas são chamadas de pluralistas porque consideram todas
as religiões como sendo verdadeiras.; outras são tidas como “inclusivistas”
por acreditarem que de alguma forma Jesus salva os seguidores sinceros
de todas as religiões; e outras são consideradas exclusivistas por insistirem
que o único caminho para a salvação é conhecer e crer em Jesus. Qual é a
sua posição, e por que?
3. Sugestão: Dividir a classe em pequenos grupos e pedir que uma pessoa
apresente o evangelho para o seu grupo, como se o estivesse explicando a
seguidores de outras religiões.

Capítulo 10 – A Unicidade e a Suficiência de Jesus Cristo


64
Robert E. Speer foi um líder missionário nas primeiras décadas do
século XX. Em 1932 e 1933, Speer deu uma série de palestras sobre missões
para dois dos mais importantes seminários na América do Norte. Um deles foi o
Seminário Teológico de Princeton, que era presbiteriano. O outro foi o
Seminário Teológico Batista do Sul, que era o maior seminário batista da época.
Speer costumava dizer o seguinte, em suas palavras introdutórias:

Na atualidade, no contexto da igreja cristã, tanto de nosso


país, bem como nos campos missionários do exterior, temos
nos deparado com questões fundamentais sobre o significado
e o valor de Cristo e da natureza do Cristianismo. Cristo é, de
fato, exclusivo, absoluto, final e universal? É ele o único
Salvador e Redentor do mundo? É ele Deus e o único Filho de
Deus? Ou, não foi ele apenas mais um de nós, um
companheiro na busca pela verdade e vida, talvez até um
exemplo acima de nós, ou quem sabe um exemplo sem
autoridade alguma, apenas um transeunte Galileu cercado de
muitas limitações as quais teve que transcender, ou, no
máximo, um grande gênio religioso, digno de ser seguido ou
de liderar outros como Buda, Zoroastro, Maomé, Lao-tse e,
como alguns dizem hoje, Gandhi?
Com relação à sua natureza, é o Cristianismo a religião final e
absoluta, ou é apenas mais uma entre outras religiões irmãs?
Teria o Cristianismo qualquer missão de conquistar o mundo
todo, ou deveria buscar um ajustamento e sincretismo com
outras religiões, reconhecendo sua unidade essencial entre
seus conceitos e ideais fundamentais, chegando assim a um
acordo com todas as filosofias não-cristãs? Estas não são
questões meramente acadêmicas e teóricas. São temas
centrais que a fé cristã tem enfrentado atualmente tanto no
Oriente como no Ocidente (The Finality of Jesus Christ, 12).

Quão contemporâneas são estas palavras de Robert Speer!


Embora ele as tenha dito há muitos anos atrás, se referem a questões
cruciais que a igreja e as missões cristãs têm enfrentado, hoje: O que
queremos dizer com a unicidade e a suficiência de Jesus Cristo, e
temos o direito de fazer tais assunções e proclamá-las ao mundo?
65
DESDE OS TEMPOS DA BÍBLIA ATÉ O SÉCULO XX

A Bíblia ensina verdades tremendas sobre a pessoa e o


trabalho de Jesus Cristo. Ela diz que Jesus é o caminho, a verdade e a
vida. Ele é o único mediador entre Deus e a humanidade. Ele é a
ressurreição e a vida. Ele é o único que pode nos ensinar a conhecer a
Deus, o Pai.
Através dos séculos, a igreja tem afirmado o lugar central de
Jesus Cristo. A igreja primitiva se ateve em apresentar e explicar a
divindade de Cristo. Os protestantes reformadores afirmaram que
Cristo é o único e suficiente Salvador. No Catecismo de Heidelberg,
que é uma das confissões básicas produzidas pelas igrejas
reformadas, por exemplo, declara-se que a “salvação não pode ser
encontrada em mais ninguém; é fútil procurar a Salvação em outro
lugar” (Questão e resposta 29).
Os líderes protestantes enfatizaram a doutrina da salvação
somente pela graça, através da fé em Cristo e da autoridade da Bíblia.
A unicidade de Jesus como o único Salvador do mundo não era nem
discutida naqueles dias.
As dúvidas a este respeito começaram a ser levantadas no
século XX. Algumas pessoas sugeriram que Deus deve ter se revelado
através de outras religiões, assim como o fez através de Cristo e da
Bíblia. Alguns estudiosos colocaram Cristo no mesmo nível dos
salvadores e mestres de outras crenças.
Muitos cristãos passaram a preocupar-se com o fato de que
esta tendência viesse a comprometer a integridade do evangelho. O
Conselho Reformado Ecumênico (CRE), uma organização composta
de igrejas reformadas e presbiterianas de todo o mundo, decidiu fazer
um estudo especial do assunto e publicar um artigo intitulado A
Unicidade da Pessoa e do Trabalho de Cristo. Esta declaração pode
servir como testemunho e guia para todos os cristãos. Eu colaborei
para o projeto do artigo e tirei partes dele para a discussão que se
segue:

1. Cristo é único como único Salvador e Reconciliador


A história da Bíblia pode ser resumida nos temas da criação, queda,
redenção, e restauração. Deus criou o mundo perfeito, mas este se tornou hostil
66
e separado dele através do pecado. Ao invés de fugir, Deus escolheu redimir o
mundo e restaurá-lo para si através do seu Filho, Jesus Cristo. O ato singular da
divina intervenção visando a reconciliação do mundo perdido foi exatamente a
vinda de Jesus Cristo ao mundo.
Outras religiões têm procurado estabelecer bases para a reconciliação.
O evangelho cristão, entretanto, testifica sobre a única e verdadeira base de
reconciliação: a encarnação, expiação e ressurreição de Jesus Cristo. Todas as
pessoas da terra possuem uma sensação de estarem perdidas. Todas buscam
a salvação, de alguma forma. O Cristianismo insiste que o único caminho
verdadeiro é Cristo.

2. Cristo é único como o Pacificador entre as raças, tribos e povos


A reconciliação entre Deus e os pecadores redimidos, através de Cristo,
oferece uma nova oportunidade para que ocorra reconciliação também entre os
seres humanos. A Bíblia fala, em Efésios 2:13-16, sobre o Corpo de Cristo, a
igreja, como uma nova humanidade unificada que toma o lugar da antiga divisão
entre judeus e gentios. O caminho da reconciliação é aberto para todas as
raças, tribos e nacionalidades, através da Cruz de Cristo. A igreja deveria
demonstrar esta reconciliação.
Isto é muito importante em missões. Nós construímos a maior instituição
inter-racial e multi-cultural do mundo, através da atividade missionária. A igreja
é um testemunho maravilhoso em muitos lugares da graça reconciliadora de
Deus, em Cristo. Mas, ela não tem superado os preconceitos raciais, tribais e
nacionais e as hostilidades de muitos outros lugares.
A igreja deve ser um exemplo de como a humanidade pode viver unida na
paz de Cristo, apesar de toda a sua diversidade. O sangue de Jesus e a
cidadania no seu Reino são forças poderosas em favor da unidade. Essas
forças deveriam nos impulsionar a superar todas as diferenças raciais, culturais
e nacionais entre os fiéis.
“Cristo, o unificador” precisa se tornar parte vital da nossa mensagem
missionária. Ele derramou seu sangue pelas pessoas de todo o mundo, sangue
humano, compartilhado com todos, através da encarnação de Cristo.
A partir do momento em que nascemos de novo em Cristo, nossa
identidade básica não mais se refere à nossa família biológica, raça, tribo ou
nacionalidade, mas ao nosso lugar na família de Deus. Os fiéis são, agora,
irmãos e irmãs em Cristo. Precisamos proclamar e demonstrar isto. Faz parte
da nossa missão.

67
3. Cristo é único como o Mestre e a Manifestação da Verdade e Justiça
Há um estreito elo entre a verdade e a justiça, com relação à pessoa de
Cristo. Verdade significa conhecer algo como de fato é. Justiça se refere ao
comportamento moral correto. O problema, para os seres humanos, é que
somos injustos por natureza. Somos pecadores.
É aí que Jesus surge para prover a solução desse conflito. Somos feitos
justos através da expiação de Cristo, que suportou o castigo pelo nosso pecado.
Era plano de Deus para a redenção que a justiça perfeita de Cristo fosse
creditada a todos que nele cressem. Em 2 Coríntios 5:21 lemos: “Aquele que
não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos
feitos justiça de Deus”.
O artigo do CRE afirma o seguinte:

Fazendo a conexão entre justiça e verdade na pessoa


exclusiva de Cristo, subentendemos que apenas neste
relacionamento que Deus iniciou é que podemos conhecer a
verdade. Não há percepção da verdade fora do
relacionamento com Cristo, o único indicado para ser nosso
mediador e redentor (17).

Tomé pergunta a Jesus: “Senhor, não sabemos para onde vais; como
saber o caminho?” e Jesus lhe responde: “Eu sou o caminho,e a verdade, e a
vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:5-6). As três palavras-chave
(caminho, verdade e vida) têm uma pequena palavra em grego, a língua em que
o Novo Testamento foi escrito, que lhes antecede. Esta palavra tão pequena
indica que somente Jesus Cristo pode ser chamado por estas três palavras-
chave.
A mensagem é clara: Jesus Cristo tem uma relação exclusiva com Deus, o
Pai. Ninguém vem ao Pai, a não ser por meio de Jesus. Ele é o caminho da
vida, não da morte. Ele é verdadeiro em tudo que diz e faz. Satanás oferece
mentiras e morte. Jesus oferece verdade e vida. Confiar nele conduz à vida e a
Deus.
Bilhões de pessoas se empenham em descobrir de onde vieram, para
onde estão indo, e por que estão aqui neste mundo. O Evangelho de Jesus
Cristo oferece respostas verdadeiras a estas perguntas. É uma glória para
missões tornar o evangelho conhecido.

4. Cristo é único como a única vitória sobre Satanás e o pecado


68
Jesus é único não apenas no sentido de que todo ser humano é alguém
singular. Ele é único porque é o Filho de Deus. Foi enviado pelo Pai ao mundo
com uma missão: resgatar o mundo de Satanás. Cada milagre que Jesus fez
tinha a mesma mensagem: aquele que iria esmagar a cabeça da Serpente já
estava no mundo.
Os milagres de realizar curas, alimentar os famintos e ressuscitar os
mortos são todos sinais da vitória de Cristo sobre o poder de Satanás. Onde
quer que este reine há doenças, fome e morte, mas onde o Reino de Jesus
Cristo é estabelecido, as pessoas são libertas da servidão ao pecado e do
controle esmagador de Satanás.
Jesus resumiu seu ministério nestas palavras antes do seu sacrifício final
na cruz: “Hoje e amanhã, expulso demônios e curo enfermos, e no terceiro dia,
terminarei” (Lucas 13:32). Ninguém mais, em toda história, tão voluntária e
completamente se sobrepôs ao poder de Satanás na vida humana. Cristo
alcançou seu objetivo final quando quebrou o controle de Satanás para sempre,
ao ressurgir vitoriosamente da morte. Agora, há uma ponte até Deus, que pode
ser atravessada pela fé em Cristo. Nenhuma outra religião oferece uma ponte
assim e nós levamos as pessoas até ela, através de missões.

5. Cristo é único como o único que oferece ressurreição e vida eterna


Todo ser humano quer ser livre da dor e do sofrimento, dos sentimentos
de culpa, vergonha e fraqueza que nos afligem. Todos esperam que, depois da
morte, as coisas vão ser melhores. As religiões tentam satisfazer estes desejos
de diversas maneiras. Apenas o evangelho cristão oferece a respostas a isso. E
todas as respostas têm a ver com Jesus Cristo, e realmente satisfazem nossos
mais íntimos desejos.
Novamente, nós vemos a importância de termos uma cosmovisão
verdadeira e bíblica. Na cosmovisão secular não há espaço para Deus, ou para
a vida porvir. Ela não oferece um propósito de vida que não seja a satisfação
pessoal. O Secularismo ensina as pessoas a viverem para si mesmas e para o
momento. Os secularistas assumem que este é o único mundo e que a morte é
o fim de tudo.
O evangelho, por sua vez, provê cosmovisão completamente diferente.
Deus é o centro da vida. O objetivo maior da existência humana é conhecer a
Deus, gozar comunhão com ele e adorá-lo para sempre. Jesus Cristo dá
esperança de vida além do túmulo, e um lugar nos céus com ele.
Uma vez que a pessoa aceita a cosmovisão cristã, suas crenças e
perspectivas na vida mudam radicalmente. A vida passa a ter valor e propósito.
69
A pessoa pode suportar até sofrimento, pois há uma vida melhor à sua espera.
Cristo assegura aos fiéis: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim,
ainda que morra, viverá” (João 11:25).
No começo deste capítulo nós levantamos a questão: “É Jesus, realmente,
a única esperança para o mundo?” De fato, é. Missões devem ir a todo lugar
onde este Jesus não seja conhecido.

QUESTÕES PARA REVISÃO

1. Resuma os cinco aspectos que mostram a unicidade de Jesus.


2. Explique como a reconciliação entre os povos se encaixa no Evangelho.
3. Em que as filosofias de vida secular e bíblica se diferem?

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. Por que a unicidade de Cristo é um assunto tão importante?


2. O que aconteceria a missões se esta verdade fosse comprometida?
3. Como você deveria falar a um hindu ou budista sobre a esperança em
Jesus?

Capítulo 11 – Oração e Missões

Samuel M. Zwemer foi conhecido como o “Apóstolo para o Islamismo” dos


seus dias. Ele disse que oração e missões são tão unidas que é impossível
pensar em uma sem a outra.
Andrew Murray foi um líder missionário na África do Sul, há um século
atrás. Ele escreveu um livro intitulado key to the Missionary Problem. Murray
identificou o problema como uma falta de paixão para com Cristo e os perdidos,
e ausência de oração para obter poder do Espírito Santo. Ele disse que o amor
apaixonado por Cristo produz uma paixão santa nos fiéis, tal qual a que Cristo
tinha para que as pessoas fossem salvas.
O que produz tal paixão? A resposta que Murray nos deu foi “Oração”!
Oração igual à de Pentecostes – intensa, unida e contínua. Quando a oração
pelo poder de Deus, para realizar o trabalho de Deus, se tornar a petição de
todo cristão, todos os problemas em missões serão resolvidos.
Franck Laubach foi um missionário nas Filipinas por 25 anos. Ele ensinou
pessoas analfabetas a lerem, especialmente a lerem a Bíblia. Seu lema era
“Cada um ensina mais um”. Diz-se que Laubach ensinou mais analfabetos a
70
lerem do que qualquer outro homem que já viveu. O que o motivou a estender
seu trabalho até a Ásia, África e América do Sul? Laubach foi um homem de
intensa oração.
Ele fez disso um hábito, gastar horas, todas as noites, toda vez que se
punha em oração particular pelos pobres, perdidos e analfabetos. Ia ao campo,
ou a um jardim, ou se trancava num banheiro, a fim de ficar a sós com Deus,
em oração. Ele explicou isso da seguinte maneira:

Nós seremos úteis espiritualmente, apenas se tivermos


um lugar secreto, para o qual podemos correr, com freqüência,
para orar. Ali nós seremos recarregados, como se faz a uma
bateria descarregada; e ali receberemos novas instruções do
nosso Senhor (You Are My Friends, 84)

Há um avivamento da oração entre os cristãos ao redor do mundo, hoje.


Este avivamento começou na América Latina e Coréia do Sul e, hoje, as “Casas
de Oração” são centros de crescimento e testemunho cristão comuns na Índia.
Com raras exceções, a oração reavivada leva a um aumento do evangelismo e
de missões. Como Samuel Zwemer disse, Oração e missões são inseparáveis.

ORAÇÃO E MISSÕES NA BÍBLIA

Muitos dos salmos do Antigo Testamento são orações a Deus. Uma


petição familiar é que as nações, além de Israel, venham a conhecer o único e
verdadeiro Deus, e a adorar somente a ele. O Salmo 67:1-3 é um exemplo
disso.

Seja Deus gracioso para conosco e nos abençoe,


E faça resplandecer sobre nós o rosto;
Para que se conheça na terra o teu caminho e,
Em todas as nações, a tua salvação.
Louvem-te os povos, ó Deus;
Louvem-te os povos todos.

Nós não deveríamos nos surpreender quando encontramos orações pelas


nações no livro dos Salmos. O Salmo 2:8 diz que o Pai declarou ao Filho:
“Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por
tua possessão”.
71
Considere as petições da oração do Senhor (Mateus 6:9-10):

Santificado seja o teu nome,


Venha o teu reino,
Seja feita a tua vontade
Assim na terra como no céu.

Nenhuma oração é mais missionária do que esta. As petições citadas


acima requerem missões e evangelismo. A pessoa que, sinceramente, ora a
oração do Senhor anseia por ver a Deus sendo louvado e adorado em todo
lugar na terra. Jesus tornou a oração nossa arma mais poderosa contra o reino
de Satanás. Através de sua oração, Jesus nos assegura que o evangelho vai
triunfar, no final.
Jesus disse aos seus discípulos: “A seara, na verdade, é grande, mas os
trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao senhor da seara que mande
trabalhadores para a sua seara” (Mateus 9:37-38). Jesus deixou claro que o
chamado e envio dos missionários é, primeiramente, o trabalho de Deus, pois,
ele é o “senhor da seara”. Nossa primeira tarefa é orar para que ele chame e
envie pessoas da sua própria escolha. Temos a certeza de que, se orarmos, ele
enviará as pessoas.
O apóstolo Paulo escreveu mais sobre as orações que ele oferecia,
continuamente, pelos fiéis, trabalhadores e missionários do que sobre outra
coisa qualquer. Obviamente, Paulo considerava a oração como prioridade. Orar
era uma atividade missionária, para Paulo.
O assunto da batalha espiritual é tratado em Efésios 6:10-20. Paulo
descreve, detalhadamente, a “armadura de Deus” que os cristãos necessitam
colocar, se querem manter-se firmes contra as artimanhas do diabo. O clímax
da instrução de Paulo, depois de todas as partes da armadura terem sido
identificadas, é o seguinte: “Com toda oração e súplica, orando em todo tempo
no Espírito e para isto vigiando com toda a perseverança e súplica por todos os
santos” (verso 18). Paulo adiciona:

(Orai) também por mim; para que me seja dada, no abrir da


minha boca, a palavra, para, com intrepidez, fazer conhecido o
mistério do evangelho, pelo qual sou embaixador em cadeias,
para que, em Cristo, eu seja ousado para falar, como me
cumpre fazê-lo (versos 19-20)

72
A oração é a nossa arma mais poderosa contra os ataques de Satanás.
Ela é uma “arma secreta” para os fiéis, a qual o inimigo não pode derrotar.
Paulo admitiu que via alguns problemas a serem tratados, em Romanos 15:30-
33. Ele pediu que os fiéis de Roma lutassem juntamente com ele nas orações a
seu favor (verso 30). Ele os queria como companheiros na batalha espiritual, à
medida que viajava numa missão muito difícil.
Mais tarde, Paulo estava numa cela da prisão de Roma, e pediu que os
colossenses orassem para que Deus abrisse uma porta, não para sua
libertação, mas, uma porta para o evangelho e sua proclamação de forma clara.
Ele disse:

Suplicai, ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos
abra porta à palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo,
pelo qual também estou algemado; para que eu o manifeste,
como devo fazer (Colossenses 4:3-4).

Em 2 Tessalonicenses 3:1-2 há um resumo dos pedidos que Paulo,


repetidamente, fazia, com respeito às orações pelas missões.

Finalmente, irmãos, orai por nós, para que a palavra do


Senhor se propague e seja glorificada, como também está
acontecendo entre vós; e para que sejamos livres dos homens
perversos e maus; porque a fé não é de todos.

Por que orar por missões? Paulo nos deu os motivos. Os missionários
precisam das nossas orações porque são pessoas com necessidades humanas
normais, fraquezas e problemas. São também pessoas as quais Deus usa, pois,
a estratégia missionária de Deus é de sempre alcançar o perdido através da
Palavra, dada pelos seus servos, que ele mesmo enviou (Romanos 10:14-15).
Os missionários são os alvos principais do ataque e da oposição de Satanás,
porque Deus os usa. Satanás é seu inimigo, bem como de Deus, e usa de
muitos métodos para impedir que o evangelho se propague. Satanás trata os
missionários como “invasores” do seu território, do qual ele não abre mão, nem
um centímetro sequer, sem uma batalha.
Deus capacita os missionários a conquistarem o território de Satanás,
através da oração. Ele lhes dá o poder de falar do evangelho com coragem e
clareza, e eles vêem as pessoas se arrependerem e voltarem a Cristo. Deus

73
abre portas e remove barreiras, em resposta às orações, e é glorificado à
medida que o seu Reino avança.
Não é de se admirar que Paulo pedisse às igrejas que orassem por ele.
Embora forte na fé, dotado como missionário e bem-sucedido no seu trabalho,
Paulo, mais do que qualquer outro, possuía um profundo senso de necessidade
da oração. Para ele, a oração era uma ação missionária.

ORAR E VER AS COISAS ACONTECEREM

O impacto missionário de John Miller será lembrado por muito tempo, na


América do Norte, no leste da África e em outros lugares. Miller possuía muitos
dons, e produziu muitos frutos como pastor, professor, evangelista, plantador de
igrejas e líder missionário. Acima de tudo, Miller era forte na oração. Ele orava
em qualquer lugar e tempo, com e por qualquer um.
Miller insistia para que seus alunos se tornassem mais sérios com relação
à oração, quando ensinou no seminário teológico de Westminster, em Filadélfia.
Ele lhes dizia: “Deus os conhece bem. Ele ama vocês e quer ajudá-los. Ele
pode lhes dar mais poder, pode lhes dar mais do fruto do Espírito, e pode
purificá-los e usá-los, muito além do que possam imaginar”. Numa de suas
palestras, Miller disse aos seus alunos:

Estou lhes pedindo que repensem as suas orações... e que


vejam na oração o compromisso de Deus para com vocês,
como um Pai que escuta seu filho. Baseado nisso, sejam mais
ousados quando orarem. Sejam mais específicos e diretos.
Vou lhes dar um pequeno exemplo. Numa das minhas aulas
eu pedi que meus alunos escrevessem, num pedaço de papel,
cinco nomes de pessoas que desejassem ver convertidas a
Cristo. Eu lhes pedi que se comprometessem a orar
diariamente por elas, e para que o convincente poder do
Espírito Santo viesse sobre suas vidas e as convertesse a
Cristo.
Um desses alunos não entendeu bem. O primeiro nome que
ele pôs na lista foi o de um apresentador muito famoso. “Eu
não me referia a esse tipo de pessoa”, eu disse. “Eu quero que
vocês escrevam nomes de pessoas que vocês conhecem e
para quem possam testemunhar”

74
Mas, o que aconteceu? Duas semanas mais tarde, aquele
apresentador famoso havia se convertido! Isto me ensinou
uma lição. Deus escuta as nossas orações, e tem seus
próprios meios de respondê-las. Então, orem especificamente,
por pessoas específicas, mesmo aquelas com as quais vocês
não podem falar pessoalmente. E vejam as coisas
acontecerem (Prayer and Evangelism - 49)

Miller disse que muitos cristãos não testemunham porque têm medo de
fazer papel de tolos perante as pessoas que rejeitam o evangelho. Igualmente,
eles também não oram por pessoas específicas porque pensam que serão
expostas ao ridículo caso nada aconteça. Precisamos de uma nova unção de
ousadia espiritual para sermos específicos, tanto na oração como no
evangelismo. Só então aprenderemos o que o Deus poderoso e amoroso é
capaz de fazer.

ORANDO PELOS CRISTÃOS PERSEGUIDOS

A perseguição aos cristãos está aumentando em muitas partes do mundo.


Eles são objetos de discriminação em alguns lugares, e em outros são presos,
torturados e mortos, suas igrejas e casas são queimadas, e suas carreiras
arruinadas. As crianças cristãs são tomadas de seus pais. Os líderes da igreja,
missionários e evangelistas são, geralmente, alvo especial de perseguição.
Devemos reconhecer que aqueles que confessam a fé em Cristo pagam
um alto preço nos lugares onde os cristãos são minoria, e onde a oposição ao
Cristianismo é forte. Devemos orar por eles, constantemente. Devemos nos
perguntar se desejamos servir a Deus a ponto de sofrer por ele.
Nas igrejas e nas salas de aula, falamos da “Janela 10/40”, ou seja, das
áreas do globo que se localizam entre as latitudes de 10 e 40 graus, ao norte do
equador e do oeste da África ao Japão. Estas são as regiões menos
evangelizadas e com, relativamente, poucas igrejas. Possuem uma
porcentagem elevada de pessoas pobres, e são centros das religiões como o
Hinduismo, Budismo e Islamismo. Representam o núcleo do reino de Satanás.
Nós podemos prever os sacrifícios daqueles que são testemunhas de
Cristo, nestas terras. Eu concluo este capítulo, portanto, usando as palavras de
Samuel M. Zwemer, que gastou a sua vida batendo nas portas fechadas do
Oriente Médio mulçumano, e que aprendeu, em primeira mão, a importância da
oração em missões.
75
Nosso primeiro dever, sempre e em todo lugar, é orar. Se o
fizermos, todos os demais deveres se tornarão mais fáceis.
Nenhuma grande tarefa é praticável se não conhecemos o
poder da oração. É muito mais fácil entregarmo-nos
substancialmente à causa missionária, ou irmos
pessoalmente, do que orar verdadeiramente pelo Reino. À luz
da eternidade, é impressionante quanto tempo gastamos na
organização ou fazendo grandes apelos, quando o real
trabalho de missões deve ser cumprido de joelhos. A situação
atual dentro e fora do nosso país é, acima de tudo, uma
convocação à oração. Nunca houve tantas portas abertas,
nem tantas portas que estão se fechando! Nunca, tamanha
resposta ao evangelho e nunca, tão determinada e amarga
oposição. Em muitas terras as condições são tais que
ninguém se atreve a entrar nelas sem dobrar os joelhos em
oração (Thinking Missions with Christ, 56-57)

QUESTÕES PARA REVISÃO

1. Do que devemos nos lembrar a respeito de Zwemer, Murray e


Laubach?
2. Explique por que a oração do Senhor é missionária.
3. Por quais coisas específicas Paulo pediu à Igreja que orasse?

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. Por que é difícil orar regularmente por missões?


2. De que maneira somos perseguidos e como nos mantemos
firmes?
3. Aceite o desafio de John Miller e veja o que acontece.

PARTE 3
ALGUMAS QUESTÕES SOBRE MISSÕES

Capítulo 12 – Os Ministérios de Oração, Cura e Exorcismo

76
Jesus comissionou os discípulos a irem pelas cidades e vilas de Israel
curando os enfermos, expulsando demônios e pregando o evangelho do Reino
dos céus (Mateus 10). Esta era uma declaração de guerra contra o reino de
Satanás.
Jesus colocou num mesmo bloco os ministérios de cura, exorcismo e
pregação do evangelho. Os discípulos entenderam isto e, desde o começo, as
orações pela cura dos enfermos se tornaram parte do trabalho da comunidade
cristã. Nas igrejas cujos líderes não possuíam dons milagrosos havia um
ministro de oração pela cura (Tiago 5:14).
Cura e exorcismo não eram tão evidentes no ministério dos apóstolos,
como eram no de Jesus. Sinais e maravilhas ocorreram, mas não eram pontos
centrais da missão dos apóstolos. Paulo descreveu sua missão apostólica em
Romanos 15:18-20, dizendo que os sinais e milagres acompanhavam seu
ministério, e que eles eram um testemunho poderoso da verdade, a respeito da
qual pregava. Sua ênfase, entretanto, não estava nos sinais e milagres, mas na
pregação do evangelho.

O QUE DIZER SOBRE OS MILAGRES, HOJE?

Os milagres têm seu lugar no trabalho missionário, hoje? Como os


missionários devem lidar com pessoas que aparentam estar endemoniadas?
Quando oramos pelos enfermos e atribulados, o fazemos de modo que
demonstramos crer que Deus é poderoso para responder à súplica por cura?
Um dos pontos mais fracos nas missões do hemisfério norte pode ter sido
a falha em lidar adequadamente com as questões relativas à enfermidade, cura
e possessão demoníaca. Esta falha abriu as portas para posições extremistas
em ambos os lados do assunto. Alguns missionários explicam a cura como
sendo responsabilidade quase que total da medicina e psicologia, enquanto
outros vivem somente em busca de um milagre após o outro. Talvez, os
missionários dos países do hemisfério sul possam ter e demonstrar uma
abordagem mais bíblica.

TRÊS OBSERVAÇÕES SOBRE


ESPÍRITOS INVISÍVEIS E SUA INFLUÊNCIA

Começaremos a discussão observando três coisas:

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1. Crer em espíritos invisíveis e em sua influência nas vidas humanas
é uma idéia religiosa poderosa ao redor do mundo.

A ciência e a educação não acabaram com a crença em espíritos e com


as idéias sobre um mundo invisível. Pessoas educadas, ricas e em elevadas
posições no governo, pessoas famosas nos esportes, cinemas e na televisão
acreditam em espíritos e, regularmente, consultam médiuns de diversos tipos.
Muitos deles consultam o horóscopo. Podem até rir do que a Bíblia ensina sobre
Deus e dos eventos sobrenaturais nela descritos, mas, aceitam seriamente
todos os tipos de teorias não-bíblicas sobre os espíritos invisíveis e como eles
afetam a vida humana. Cartomantes e astrólogos vão indo bem nos negócios
porque há muita gente que acredita nessas coisas.

2. O mundo invisível, provavelmente, tem sido levado mais a sério


entre os missionários do que entre a maioria dos líderes cristãos.

É comum ouvirmos missionários relatarem que, durante o percurso da


apresentação do evangelho, descobriram casos que pareciam ser de atividade
satânica. Eles comumente testemunham também curas milagrosas, em
resposta às orações. Muitas vezes, os missionários contam que tiveram a
sensação de estar sendo protegidos por anjos. Algumas vezes, testemunham a
expulsão de demônios, feita pela simples oração de um crente fiel.
As pessoas em ambos os hemisférios, norte e sul, estão conscientes de
que a ciência moderna não pode explicar tudo. A medicina atual não oferece o
grau de cura de que os seres humanos necessitam e buscam. Não é de se
surpreender que livros, filmes e programas de televisão contenham temas
envolvendo o sobrenatural. Qualquer pessoa, hoje em dia, fala sobre os anjos.
É óbvio, entretanto, que a filosofia de vida secular não satisfaz as necessidades
e questões humanas. As pessoas têm a sensação, bem no fundo dos seus
corações, de que o mundo invisível existe e querem estar em contato com ele.

3. Muitas das igrejas que mais crescem no mundo enfatizam a oração,


a prática da cura, e consideram as “batalhas poderosas”, onde o
maligno é expulso para longe, como essenciais às missões cristãs.

Eu me refiro às igrejas pentecostais dos mais diversos tipos, e ao seu


extraordinário crescimento em todo o mundo. Os anos que passei na América
Latina me ensinaram a respeitar muitos pentecostais ao observar seu zelo e
78
paixão pelo evangelismo. Eu não aprovo os extremismos daqueles que vão
além dos ensinamentos contidos nas Escrituras, com relação à cura e ao
exorcismo. Mas, respeito os que, simplesmente, confiam no Deus poderoso da
Bíblia que, algumas vezes, opera milagres em resposta ao pedido de seus
filhos.
Missões, hoje, necessitam de uma nova conscientização acerca de três
coisas: (1) poder divino, que está à disposição dos servos de Deus através do
Espírito Santo; (2) a importância das cosmovisões, isto é, das crenças e idéias
centrais que governam os pensamentos e ações de indivíduos e comunidades;
e (3) a teologia do Reino, isto é, o Senhorio de Jesus Cristo sobre todas as
áreas da vida, que é o tema mais básico das Escrituras.

MILAGRES E A TEOLOGIA DO REINO

Quando discutimos sobre Satanás, demônios, milagres e exorcismos,


devemos manter em mente quatro verdades importantes relacionadas ao Reino.

1. Jesus Cristo é o Rei vitorioso.

Esta verdade é central no Novo Testamento. Jesus derrotou Satanás com


a sua morte na cruz pelos pecadores, e sua ressurreição. Satanás está
derrotado, mesmo que continue a agir. Sua destruição está garantida. Jesus
proclamou e demonstrou, nos evangelhos, sua vitória sobre Satanás e o seu
reinado todas as vezes que expulsou demônios, curou pessoas enfermas ou
ressuscitou os mortos.

2. Jesus transforma, poderosamente, as vidas.

As cartas de Paulo enfatizam que a nova vida dos fiéis, gerada e mantida
pelo Espírito Santo, é uma vida caracterizada pelo poder. O poder de mudar,
superar, servir e testemunhar.

3. Jesus Cristo liberta as pessoas.

Jesus descreve os seus milagres de cura como libertação daqueles que


Satanás mantém sob seu cativeiro, quer seja este espiritual, moral, físico ou
emocional. Os cativos podem ser indivíduos, ou mesmo tribos e comunidades
inteiras. Cristo os liberta.
79
Os cativos de Satanás desonram a Deus e trazem destruição sobre si
mesmos. O evangelho do Reino se refere, totalmente, à libertação dos cativos
através de Jesus, e ao poder que recebem dele a fim de viverem para glória de
Deus.

4. O trabalho de missões é, inevitavelmente, uma batalha poderosa

Jesus disse a Paulo, numa luz vinda dos céus: “Para os quais eu te envio,
para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade
de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e
herança entre os que são santificados pela fé em mim” (Atos 26:17-18).
Satanás tem um grande poder, e ele não desiste de nenhum centímetro
sequer de seu território sem lutar. Paulo sabia que, como um missionário,
poderia ser um instrumento de Deus na derrota de Satanás e na libertação de
pessoas, pregando o arrependimento da idolatria e do pecado, a conversão a
Cristo como Salvador e Senhor, e a mudança radical das vidas pelo poder do
Espírito Santo (Atos 26:20).

COSMOVISÃO E A INFLUÊNCIA “DO REINO INVISÍVEL”

Em missões, lidamos com a luta entre cosmovisões conflitantes, cada qual


buscando o controle das mentes e dos corações das pessoas. Qualquer fenda
na nossa cosmovisão reduzirá a efetividade do nosso trabalho missionário.
“Cosmovisão” significa as respostas que as pessoas dão às questões
mais sérias da vida, como as que dizem respeito a Deus, à vida após a morte,
ao valor da oração, e à realidade dos espíritos. As cosmovisões determinam o
padrão das crenças, dos valores e, eventualmente, do comportamento das
pessoas porque funcionam como “caixas de controles” dentro de grandes
máquinas.
O antropólogo evangélico Paul G. Hiebert estabeleceu as diferenças entre
a cosmovisão da maioria das pessoas do hemisfério norte e a que é mais
comum entre as pessoas do hemisfério sul.
Ele explica que o universo das pessoas do hemisfério do sul possui, em
geral, três níveis. O nível mais alto tem a ver com o céu, onde Deus está. O
mais baixo consiste do mundo visível que pode ser estudado e explicado
cientificamente. O nível intermediário é invisível, mas real, e é amplamente
controlado por espíritos, demônios, ancestrais, fantasmas, mágicos , bruxos,
médiuns, feiticeiros, etc.
80
O problema está no que Hiebert chama de “reino invisível”. A maioria dos
missionários do norte tem dito pouca coisa sobre este nível intermediário. Não
sabem como lidar com ele por não se encaixar no padrão do seu mundo, ou na
abordagem científica da realidade com a qual foram treinados. Esses
missionários não negam que a Bíblia fala sobre anjos e demônios, sinais e
prodígios, mas consideram estes assuntos como coisa do passado. Eles
interpretam as Escrituras de tal modo como se as coisas sobrenaturais não
tivessem mais valor para as missões, hoje.

RESULTADOS DESASTROSOS EM MISSÕES

Um resultado disso tem sido a negligência dos ensinos bíblicos, os quais


dizem que missões é uma batalha espiritual contra Satanás “o deus deste
século” (2 Coríntios 4:4). Isto é tratado como uma teoria a ser discutida, e não
como uma verdade a ser aplicada em situações específicas do evangelismo.
A oração é outro exemplo. Nas igrejas do hemisfério norte, a oração é
considerada como algo que todos os cristãos devem fazer porque a Bíblia assim
ensina. Mas, alguns observadores do hemisfério sul têm mostrado que há algo
errado no modo como os cristãos do norte oram. Muitos parecem ter falta de
expectativa de que Deus pode salvar, curar, transformar vidas e circunstâncias,
e libertar pessoas ainda hoje.
Muitos missionários do norte não estão preparados para lidar com a
realidade associada aos espíritos invisíveis, à possessão demoníaca e ao nível
de atividade dos demônios encontrada toda vez que o evangelho invade o
território de Satanás. Eu fiquei chocado pelas evidências da influência
demoníaca quando comecei meu ministério em Sri Lanka. Meu treinamento no
seminário e numa escola de missões muito conhecida não me preparou para o
que encontrei na Ásia e, em conseqüência disso, durante muito tempo meu
ministério teve pouca efetividade. Na verdade, posso até ter contribuído para o
crescimento do Secularismo entre as pessoas, à medida que evitava os
assuntos que envolviam o mundo invisível dos espíritos.
Sincretismo, a união de idéias e práticas que devem permanecer
separadas, é outra conseqüência do “reino invisível”. É comum encontrar
cristãos que professam doutrinas evangélicas, mas consultam astrólogos,
contatam médiuns em tempos de crises, e, ocasionalmente, fazem uso de
feitiços e rituais ocultos. Tais pessoas não encontram respostas satisfatórias
para suas questões sobre o mundo invisível nos ensinos cristãos.

81
Conseqüentemente, sua fé em Cristo não cresce como deveria e eles caem em
erros de sincretismo religioso.

ALGUMAS APLICAÇÕES PRÁTICAS

Fico feliz em saber que missionários estão se movendo para um melhor


entendimento do que significa proclamar com poder o Rei Jesus num mundo em
que as forças satânicas atuam. O reavivamento atual na oração, ao redor do
mundo, é um sinal disso. Precisamos levar a sério tudo o que a Bíblia ensina
sobre Satanás, demônios e batalha espiritual. Entretanto, não devemos
especular além do que o Espírito Santo já revelou na Bíblia. Entrevistar
demônios é tolice e perigoso. Nada do que dizem é confiável.
No ministério espiritual, devemos evitar que os outros nos vejam como
“magos”, pessoas com poderes especiais para influenciar e manipular o mundo
invisível. Quando e se Deus nos usar para derrotar Satanás e expulsar espíritos
malignos através da oração, devemos deixar que a glória seja dada somente a
ele.

QUESTÕES PARA REVISÃO

1. Qual o papel dos milagres nas missões dos apóstolos?


2. Explique o que é “cosmovisão” e sua importância em missões
3. Quais as quatro coisas sobre o Reino que devemos guardar na mente?
4. Explique o que Paulo Hiebert quis dizer com “Influência do reino
invisível”

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. Quais experiências você já teve com milagres e curas?


2. Como você interpreta o que a Bíblia ensina sobre espíritos?
3. Como sua igreja ou missão tenta por um fim no sincretismo?
4. Se alguém lhe trouxesse uma pessoa possessa por demônio, como
reagiria?

Capítulo 13 – O Desenvolvimento da Liderança para o Crescimento da


Igreja

82
A Igreja Presbiteriana no sul do México tem cerca de 1500 congregações,
mas apenas 350 ministros ordenados. O seminário que serve a estas
congregações produz apenas 25 a 35 formados por ano. Em conseqüência
disso, muitos ministros são responsáveis por cerca de cinco a quinze
congregações ao mesmo tempo. Devido à distância entre as congregações, os
ministros têm que viajar bastante. Não fosse pela carência de ministros, mais
igrejas poderiam ser plantadas.
Um formando do seminário na cidade de Bogotá, Colômbia, uma vez me
disse que não queria ser um ministro ordenado porque não queria ser como um
pastor que viaja de igreja para igreja. Sua denominação tinha poucos ministros,
e os que tinha estavam constantemente visitando as igrejas para batizar e
celebrar a Santa Ceia. “Eles se parecem como os padres católicos”, ele disse.
“Eles vão de igreja em igreja celebrando os sacramentos, mas não param para
conhecer o povo local, nem para ensiná-los através da palavra e do exemplo”.
As igrejas estão crescendo tão rapidamente em algumas partes do mundo
que os pastores não conseguem servi-las efetivamente. Há potencial para um
maior crescimento em outros lugares, mas não há suficientes ministros
treinados para organizar e liderar novas congregações. Todas as
responsabilidades recaem sobre o pastor, em algumas igrejas, e os leigos não
são motivados ou treinados a fazer coisa alguma.
Os apóstolos enfrentaram o desafio de levantar líderes para as igrejas
jovens, nos primeiros dias do Cristianismo. Eles não dependiam de seminários
para prover líderes às suas igrejas. Ao contrário, os primeiros missionários
treinavam os líderes da igreja local. Uma vez treinados, estes líderes não
buscavam pessoas de fora da congregação para prover a instrução semanal, o
cuidado espiritual de um pastor e a direção no evangelismo. Eles mesmos
tomavam conta de suas congregações e as viam crescer. A chave do seu
sucesso se devia ao treinamento de líderes locais para que realizassem o
ministério do evangelho na dependência do Espírito Santo, das Escrituras e da
Graça de Deus.

CRESCIMENTO EQUILIBRADO DA IGREJA

Donald A. McGavran sempre será lembrado como um líder missionário


que insistia em que as igrejas crescessem através do evangelismo. McGravan
gastou a maior parte de sua vida na Índia, e viu que, apesar de estarem
cercadas por milhões de pessoas perdidas, as igrejas pouco faziam para
evangelizá-las e plantar novas igrejas entre elas. Os cristãos estavam muito
83
ocupados realizando muitas coisas boas, mas nenhuma delas tinha como seu
principal objetivo ganhar os hindus para a fé em Jesus e torná-los membros da
igreja de Cristo.
McGravan sabia, pela Bíblia, que Cristo ordenou aos seus discípulos que
fossem ao mundo não apenas para fazer coisas boas, mas fazer discípulos de
todas as nações. Cristo queria que os perdidos fossem encontrados, resgatados
para ele, e reunidos na sua igreja. O que se tornou o que hoje conhecemos
como “Movimento de Crescimento da Igreja” surgiu a partir dos ensinamentos
de McGravan.
Orlando Costas, um erudito em missões latino americano, adicionou
importantes idéias à ênfase de McGravan no crescimento através do
evangelismo. Costas insistiu que, para ser sadio e equilibrado no sentido
bíblico, o crescimento da igreja deve incluir não apenas o crescimento numérico
de pessoas convertidas a Cristo, mas também o crescimento espiritual,
mostrado pela obediência e pelo discipulado responsável.
Os cristãos precisam ter a visão mais ampla do Reino de Jesus Cristo. Os
membros da igreja precisam se identificar com suas comunidades e transformá-
las de acordo com os valores bíblicos. Costas insistiu que o crescimento das
igrejas deveria levar ao crescimento do Senhorio de Cristo em todas as áreas
da vida, em todos os relacionamentos, em todo ambiente natural, e deveria
inspirar os seus membros a um crescimento contínuo. Um tema chave em
missões é como desenvolver um número suficiente de líderes para as igrejas
que estão iniciando. Raramente as igrejas se tornam mais fortes do que as
pessoas que as lideram.

PAULO, UM TREINADOR DE LÍDERES

O apóstolo Paulo é geralmente lembrado como um plantador de igrejas, o


que de fato foi. Entretanto, ele não somente dava início a novas igrejas como
também gastava bastante tempo e esforço treinando os líderes locais.
Paulo era um plantador, papel de um missionário itinerante. Ele introduziu
o evangelho às pessoas que nunca o tinham ouvido, reuniu os crentes e
organizou igrejas. Paulo sabia que deixaria em breve essas novas igrejas para ir
a outros lugares, mas elas sobreviveriam e cresceriam se deixasse líderes que
trabalhassem bastante, amassem as pessoas e conhecessem o ministério.
Examinemos como Paulo desenvolveu tais líderes em Éfeso, cidade onde
plantou uma igreja.

84
A história do ministério de Paulo na cidade de Éfeso começa em Atos
18:18. Paulo chegou lá com Priscila e Áquila, já próximo do fim de sua segunda
viagem missionária. Depois de ter pregado na sinagoga, as pessoas pediram
que ficasse ali por mais tempo. Ele rejeitou o pedido, mas prometeu retornar.
Enquanto isso, deixou Priscila e Áquila, um casal cristão dedicado, para
continuarem a lançar os fundamentos até a sua volta. O evangelista Apolo
chegou em Éfeso durante a ausência de Paulo, e se uniu ao ministério através
da pregação da mensagem de Jesus na sinagoga (Atos 18:24-26).
O capítulo de Atos 19 nos conta sobre o retorno de Paulo a Éfeso e sobre
o ministério que realizou na cidade. Paulo usava argumentos persuasivos com
os judeus na sinagoga e discussões diárias com os gentios numa escola
pública, a escola de Tirano. Milagres ocorreram e espíritos malignos foram
expulsos (versos 1-12). As pessoas se tornaram temerosas, e o nome de Jesus
tornou-se respeitado (verso 17). Os novos crentes confessaram seus pecados
publicamente (verso 18), mágicos queimaram seus livros secretos (verso 19), e
a Palavra de Deus se espalhou amplamente e com muito poder (verso 20). Os
homens que faziam ídolos, entretanto, viram seus negócios entrando em crise
porque muitas pessoas estavam se voltando a Cristo e, então, começaram um
tumulto (versos 23-41). Paulo deixou a cidade quando esse tumulto cessou.
Nós lemos a despedida de Paulo aos líderes da igreja de Éfeso em Atos
20. Paulo queria que eles se lembrassem, claramente, de como ele havia
plantado e organizado a igreja naquela cidade, e os desafiou, pela última vez, a
cumprirem suas responsabilidades fielmente, como os líderes do povo de Deus.
Paulo iniciou suas palavras de despedida revisando seus esforços iniciais
de evangelismo e de discipulado: visitou pessoas de casa em casa,
desenvolveu amizades profundas e amorosas com elas, pregou em público e
em particular, ensinou todas as coisas que eles necessitavam saber acerca de
Cristo e do evangelho, condenou os falsos ensinamentos, sofreu perseguição,
realizou trabalho manual para se sustentar financeiramente, derramou muitas
lágrimas quando ele e sua mensagem foram rejeitados. Sua vida e ministério
foram como um livro aberto para todos verem e lerem. Ele não tinha segredos.
O lema da sua vida era “viver por Cristo” e seu objetivo “testificar o evangelho
da Graça de Deus” (verso 24).
Paulo não somente ganhou convertidos no processo de seu ministério,
como também desenvolveu líderes locais, aos quais chamava de “anciãos” e
“pastores”. Quando partiu, Paulo havia preparado estes homens para
assumirem a responsabilidade de manter a direção espiritual da jovem igreja

85
cristã, sem a necessidade de depender dele ou de ninguém mais. Esta foi a
chave do sucesso de Paulo como missionário e plantador de igrejas.

QUALIDADES DOS LÍDERES ESPIRITUAIS

Paulo encontrou homens em Éfeso que possuíam o potencial para a


liderança, e ele os treinou a ponto de deixar a igreja em suas mãos. Alguns
deles eram judeus que já conheciam a Bíblia hebraica e seus ensinamentos.
Outros eram gentios que tiveram um passado pagão. Eles se tornaram maduros
na fé sob a liderança de Paulo. Também, cresceram na compreensão de como
é a natureza e função da igreja, ganharam experiência ao administrarem os
seus trabalhos e cresceram em confiança de que o Senhor poderia e os usaria
como líderes.
Os líderes espirituais são pessoas de oração exercitando os dons do
Espírito Santo. Suas qualidades especiais são estas:
 Visão: Líderes têm “olhos” espirituais que os possibilitam enxergar o que
Deus pode fazer através da igreja e seu ministério.
 Tenacidade: Líderes são pessoas com quem se pode contar para
continuar o trabalho do Senhor, apesar das dificuldades e oposições.
 Integridade: Líderes são pessoas moralmente confiáveis para lidarem
com dinheiro e com o cuidado das almas das pessoas.
 Excelência: Líderes querem que a igreja funcione bem a fim de agradar
a Deus e servir às necessidades das pessoas.
 Desejo de servir: Líderes não trabalham pela própria honra e poder, mas
para o bem de outros e para a glória de Deus.

AS TAREFAS DOS PLANTADORES DE IGREJAS

Os plantadores de igrejas têm muitas tarefas, dentre as quais as que se


seguem:
 Orar para que Deus desenvolva as qualidades dos verdadeiros líderes
dentre os fiéis
 Reconhecer estas qualidades quando elas surgirem, treinar e
desenvolver aqueles que as possuem
 Ensinar os membros o que devem esperar e requerer daqueles que vão
se tornar seus líderes espirituais. Eles devem avaliar o caráter dos
líderes cristãos não pelos padrões do mundo, mas pela Palavra de Deus

86
Os plantadores de igrejas devem dar atenção especial para aqueles que
demonstram ter os dons espirituais para se tornarem líderes. Devem orar
freqüentemente com eles, trabalhar junto deles e, pacientemente, explicar-lhes
os alvos do ministério e mostrar-lhes como servir. Devem delegar mais e mais
responsabilidades às pessoas que foram treinadas. Se acontecerem frustrações
e as pessoas não corresponderem às expectativas, os plantadores de igrejas
devem repetir o processo até que líderes habilitados estejam prontos.
O alvo é alcançar um grupo de líderes locais que (1) sejam modelos de fé
e virtude em suas vidas, famílias e atividades diárias; (2) administrem os
negócios da igreja de acordo com os ensinamentos da Palavra de Deus e para
o bem dos seus membros; e (3) multipliquem nos outros as qualidades de um
líder.

MUDANDO DE PAPEL

Os missionários necessitam reconhecer que, durante a plantação e o


desenvolvimento de uma igreja, seus papéis devem mudar, à medida que
líderes maduros são formados. No começo, são os missionários que fazem
tudo. Entretanto, sérios problemas se desenvolvem se os plantadores da igreja
continuam a trabalhar do modo como sempre fizeram, quando somente eles
possuíam a sabedoria e habilidade de dirigir os negócios da igreja.
Plantadores de igreja efetivos, de acordo com o Novo Testamento, são
aqueles que produzem igrejas que podem formar líderes espirituais locais num
tempo razoável, enquanto os plantadores se movem para começar igrejas em
novos campos. É lamentável ver missionários que desejam se manter no
controle de suas igrejas para sempre, porque certamente sofrerão hostilidade e
divisão.
Em alguns casos, os missionários podem sentir que Deus quer que
permaneçam como pastores das igrejas que começaram. A regra para o
desenvolvimento de líderes locais continua valendo, mesmo assim. Os pastores
necessitam de líderes que compartilhem a direção espiritual da igreja. Este é o
caminho para evitar que as igrejas deixem que todo o serviço recaia nas mãos
dos pastores, o que impossibilita que a congregação desenvolva habilidades
outras além das que os pastores são capazes de administrar. Líderes bíblicos
desenvolvem outros líderes que também produzem mais líderes, e assim por
diante, a fim de que as igrejas cresçam e se multipliquem.

QUESTÕES PARA REVISÃO


87
1. Depois de refletir sobre a história do trabalho missionário de Paulo em
Éfeso, quais a lições mais importantes que você aprendeu?
2. Quais são as cinco qualidades especiais dos líderes de uma igreja local?
3. O que acontece quando os missionários falham em treinar líderes
locais?
4. Quais atitudes você tomaria para treinar líderes ao seu redor?

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. Identifique e discuta quais são as tarefas de um plantador de igrejas.


2. Discuta sua experiência com igrejas em que os pastores fazem todo o
serviço, e dê sugestões de como resolver este problema.
3. Descreva como você vê a conexão entre plantar igrejas e desenvolver
líderes espirituais locais.
4. Como você resolveria os problemas descritos no começo deste capítulo?

Capítulo 14 – O Desafio da Urbanização

Durante o século XX, o mundo tornou-se urbano. No seu início, somente


13% da população do mundo vivia em cidades. Agora que estamos adentrando
no novo século, metade do mundo vive em centros urbanos.
A migração de mais de um bilhão de pessoas para as cidades nas últimas
duas décadas representa o maior movimento populacional da história. O
crescimento biológico, o qual corresponde ao número de nascimentos sobre o
de mortes, colabora grandemente para este padrão de crescimento urbano.
As cidades representam o grande desafio para as missões cristãs devido
ao seu tamanho, sua influência e suas necessidades. Elas são,
reconhecidamente, centros de poder político, de atividade econômica, de
comunicação, de pesquisa científica, de instrução acadêmica e de influência
moral e religiosa. O que acontece nas cidades acaba por afetar uma nação
inteira. O mundo caminha na direção que as cidades seguem. O número de
pessoas que adoram e servem a Deus, portanto, crescerá grandemente quando
as missões cristãs levarem o Reino de Cristo para dentro das cidades.

AS MEGACIDADES DE AMANHÃ

Em 1950, somente duas cidades, Nova Iorque e Londres, tinham mais de


88
oito milhões de habitantes. No fim deste século, elas passarão a ter 22 milhões.
Estima-se que no ano 2015, 33 cidades deverão ter mais de oito milhões de
habitantes, sendo que 19 delas estarão na Ásia.
Analistas prevêem que, por ocasião do ano 2015, a população de algumas
das maiores cidades do mundo será:
ÁSIA Milhões ÁFRICA Milhões*
Bangladesh Nigéria
Dhaka 19 Lagos 24,4
China Zaire
Beijing 19,4 Kinshasa 13,9
Xangai 15,1 EUROPA E ORIENTE MÉDIO
Tiajin 10,4 Egito
Shenyang 9,4 Cairo 14,5
Japão França
Tóquio 28,7 Paris 9,6
Osaka 11,6 Irã
Coréia Teerã 14,6
Seul 13,1 Rússia
Tailândia Moscou 9,2
Bangkok 13,9 Turquia
Índia Istambul 12,3
Mumbai 27,4 AMÉRICA DO NORTE
Nova Deli 17,6 México
Calcutá 17,6 Cidade do México 18,8
Hyderabad 10,4 Estados Unidos
Madras 8,4 Nova Iorque 17,6
Indonésia Los Angeles 14,3
Jakarta 21,2 AMÉRICA DO SUL
Paquistão Argentina
Karachi 20,6 Buenos Aires 12,4
Lahore 10,6 Brasil
Filipinas São Paulo 20,8
Manila 14,7 Rio de Janeiro 11,6
Peru
Lima 12,1

*
Números ainda maiores são apresentados quando incluídas as áreas
metropolitanas. Os números acima dizem respeito apenas às cidades.
89
Agora, tenha em mente que cada uma destas pessoas é um ser humano
criado à imagem de Deus. Cada uma delas possui as mais variadas
necessidades, sendo a salvação em Jesus Cristo a maior delas. Que tremendo
desafio missionário nos aguarda nas cidades!

AS CAUSAS DA MIGRAÇÃO RURAL – URBANA

O crescimento global da população é uma das causas da migração para


as cidades. Atualmente, as pessoas têm vivido mais, a mortalidade infantil tem
diminuído e a medicina tem mantido a vida de pessoas que, anos atrás,
certamente já teriam morrido. A necessidade de mais empregos emerge com o
crescimento populacional. Isso força milhões de pessoas a deixarem suas
casas na zona rural e se moverem para as cidades em busca de emprego.
Existem também outros fatores. As cidades oferecem oportunidades de
educação que não são disponíveis em pequenas cidades ou vilas. Existem
hospitais e centros médicos nas cidades para as pessoas com necessidades de
tratamento especial. Jovens são atraídos pelas cidades por oferecerem
excitação, entretenimento e novas oportunidades. Eles, geralmente, vêm para
as cidades sonhando com as riquezas e um estilo de vida melhor, até terem
seus sonhos destruídos pela dura realidade da vida urbana.

A POBREZA E O SOFRIMENTO URBANO

Algumas das piores formas de sofrimento são encontradas entre as


pessoas recém chegadas nas cidades. Imigrantes rurais raramente estão
preparados para as dificuldades que nelas encontram. Eles não possuem as
habilidades ou o treinamento requerido para os trabalhos que são oferecidos.
Eles não possuem dinheiro para comprar uma propriedade, ou mesmo para
alugar um imóvel. São forçados a viver em favelas ou novos assentamentos,
localizados na periferia das cidades, em casas construídas com pedaços de
madeira, latão ou papelão.
Novos assentamentos ou favelas, em estágio inicial, são carentes de
água, esgoto, eletricidade e pavimentação. Os residentes estão sempre
temendo uma expulsão pelo fato dos terrenos não lhe pertencerem. Os mais
afortunados que encontram um trabalho gastam exaustivas horas diariamente
andando e viajando em ônibus, lotações e trens. A vida familiar se ressente com
o trabalho excessivo onde quer que se possa encontrá-lo.

90
A vida para os pobres é difícil nas cidades. Eles são freqüentemente
vítimas de crimes e injustiças. Além do mais, um grande número de pessoas
continuam a chegar das pequenas cidades e vilas. Elas são atraídas para as
cidades como se puxadas por um imã invisível. Elas possuem grande
esperança e sonhos para o futuro, apesar da pobreza e sofrimento que
experimentam agora. E firmemente acreditam que, se não elas, certamente
suas crianças vão ainda usufruir uma vida melhor na cidade.

A ABERTURA PARA O EVANGELHO

Pessoas que estejam passando por reestruturações em suas vidas e


experimentando grandes mudanças tornam-se muito mais abertas para o
evangelho. Em minha experiência, isso é uma grande verdade em relação às
pessoas que chegam às cidades.
Pessoas recém chegadas nas cidades estão abertas para novas idéias,
incluindo aquelas acerca de Deus e da religião. Eu tenho crido que Deus está
por detrás da migração de massas de pessoas para as cidades. Ele está
criando novas oportunidades para a expansão do evangelho entre pessoas não
alcançadas, vindas de pequenas cidades e vilas distantes. É nossa
responsabilidade aproveitar tal oportunidade e nos engajarmos no mandamento
missionário de Cristo.
Eu trabalhei com estudantes, evangelizando e plantando igrejas em novos
assentamentos e favelas durante os meus dias na Cidade do México.
Primeiramente, tentamos evangelizar outros grupos urbanos. Descobrimos que
o grupo mais aberto para o evangelho se encontrava entre pessoas que haviam
chegado na cidade nos últimos dez anos.
Nós iniciamos dezenas de células e igrejas nas casas usando o mais
simples e o mais barato dos métodos. De porta em porta, testemunhamos
pessoalmente para famílias, oramos pelos enfermos e iniciamos estudos
bíblicos.
Muitas destas células se desenvolveram em igrejas muito bem
estabelecidas. Isso me leva a crer que a migração em massa para as cidades
ao redor do mundo pode ser, pela providência de Deus, uma chave para a
evangelização. Deus tem atraído gente de toda raça, tribo e língua para lugares
em que eles podem ser alcançados pelo evangelho.

ALGUNS PROBLEMAS PRÁTICOS NAS MISSÕES URBANAS

91
a. Pobreza
Entre 30 a 50% dos habitantes de muitas cidades encontram-se em
condição de pobreza ou miséria. Por isso, em muitos casos, o trabalho
missionário urbano demanda de nós uma estratégia abrangente que, ao mesmo
tempo, proclame o evangelho do amor salvador de Deus e o demonstre de
forma prática. Lidar, diariamente, com questões sociais e diferenças
econômicas é um problema muito comum para os missionários urbanos.

b. Diversidade racial, étnica e cultural


Em muitos países, a população das cidades é composta por pessoas
vindas das mais variadas culturas. Elas representam diversas tribos, castas,
raças e classes sociais, e, em alguns casos, até mesmo falam diferentes
línguas. Inevitavelmente, isso gera efeitos na estratégia missionária e no
desenvolvimento da igreja na cidade.

c. Pluralismo religioso
Muitas pessoas seguem uma religião singular enquanto vivem numa
pequena cidade ou vila. No entanto, num centro urbano encontramos pessoas
seguidoras de uma variedade de crenças e práticas religiosas. Por isso, o
missionário urbano talvez tenha que focalizar um dos grupos, mas deve estar
preparado para testemunhar para outros grupos também. Além disso, precisa
estar preparado para responder a pessoas que rejeitam toda religiosidade ou a
outros que respeitam todas religiões como igualmente verdadeiras.

d. Atitudes anti-urbanas
Muito do trabalho missionário foi desenvolvido, inicialmente, em áreas
rurais. Isso fazia sentido no passado, uma vez que muitas pessoas viviam nessas
comunidades. Agora, o desafio se encontra nas grandes cidades e nelas há um
número reduzido de missionários. Muitos deles acabam por ficar tão perturbados
com o barulho e tráfego nas cidades, com a poluição, os problemas sociais, a
criminalidade e lugares lotados, que preferem trabalhar em áreas rurais ou
pequenas cidades do interior. Certamente, estas áreas rurais e cidades menores
também precisam ouvir do evangelho. No entanto, mais atenção precisaria ser
dada às massas de pessoas não salvas e não alcançadas por igrejas nos
grandes centros urbanos.

e. Custo financeiro

92
Um dos maiores problemas para as agências missionárias é o alto custo
financeiro do trabalho urbano. A moradia para missionários é mais cara nas
cidades. Um terreno para construção de um templo geralmente custa quase
nada em vilas, e crentes locais podem envolver-se pessoalmente na obra. Nas
cidades, porém, os terrenos são caros, existem normas de construção a serem
seguidas, sindicatos de trabalhadores a pressionar e altos salários e taxas a
serem pagos. Estes e outros fatores levam os missionários a evitar os grandes
centros, em detrimento das pequenas cidades ou zonas rurais.

PASSOS NA DIREÇÃO DO ENGAJAMENTO NAS MISSÕES URBANAS

Eu insisto com todos os cristãos que estão preocupados em fazer a vontade


de Deus e alcançar pessoas para Cristo que considerem o desafio das
crescentes cidades do mundo. Um movimento tão grande certamente tem por
detrás um propósito divino e, por isso, demanda de nós uma resposta.
A questão não é se preferimos ou não viver nas grandes cidades. A questão
é se vamos ou não para lugares em que trabalhadores são necessários e para
onde Deus quer nos enviar, assim como foi com o profeta Jonas. As grandes
cidades são lugares que oferecem uma oportunidade única para alcançarmos um
grande número de pessoas através do evangelho de Jesus e estendermos seu
Reino na terra.
Eu sugiro certos passos para aqueles que estão começando a ver quão
significativas são as missões urbanas em termos de Reino de Deus, e estão
desejosos de explorar o que Deus tem em mente para cada um deles.
O primeiro e mais importante passo é seu próprio desenvolvimento
espiritual. O ministério nas cidades requer que você se revista “de toda
armadura de Deus” (Efésios 6:11), não somente uma vez ou ocasionalmente,
mas diariamente. Por isso, amplie seu horizonte de espiritualidade. Vá além de
seu desenvolvimento espiritual individual, engajando-se em ministérios
relacionados a igrejas e a missões nos quais você terá que pagar o preço
visando servir e alcançar outros.
Em segundo lugar, torne-se envolvido em algum tipo de trabalho
missionário urbano. Isso lhe dará preciosas experiências e testará seus dons
para este ministério. Ofereça-se como “estudante” a algum pastor, missionário
ou evangelista com um ministério urbano efetivo. Observe atentamente como
Deus usa estes servos. Aprenda o quanto puder acerca de como apresentar o
evangelho a diferentes tipos de pessoas e como atender a várias formas de
necessidades.
93
Em terceiro lugar, leia livros e artigos que lidem com a questão do
trabalho missionário nas cidades e aprenda tudo quanto puder acerca de
diferentes modelos de ministérios urbanos. Se possível, faça um curso sobre
ministério urbano num seminário ou instituto bíblico. Alguns outros cursos
intensivos são oferecidos na área.
Em quarto lugar, investigue uma cidade em particular. Comece
estudando o mapa de uma cidade e identificando suas diferentes áreas –
comercial, industrial, residencial. Observe, especialmente, as áreas que estão
crescendo em termos populacionais e o perfil das pessoas que são encontradas
ali. Depois, escolha um a dessas áreas e estude seus moradores – sua religião,
cultura, língua e condição social. Questione-os acerca de suas necessidades
espirituais, sociais e materiais. Procure saber se existem igrejas fortes que
correspondem ao perfil daquelas pessoas. Pense acerca de caminhos através
dos quais o Reino de Cristo pode avançar naquela área em particular.
Seguindo estes passos, você aprenderá a tornar-se um efetivo missionário
e promotor do Reino de Cristo no mais estratégico lugar do mundo atual – os
grandes centros urbanos.

QUESTÕES PARA REVISÃO

1. Explique por que as cidades são estratégicas para missões, atualmente.


2. Explique por que milhões de pessoas estão migrando para as cidades
3. Como os missionários deveriam se preparar para o trabalho missionário
em cidades?

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. Que fatores devem guiar as agências missionárias na distribuição dos


obreiros entre as vilas e cidades?
2. O que atrairia você para as cidades? O que faria com que você as
evitasse?
3. O que é necessário ser feito para transformar uma vizinhança a fim de
que Deus seja adorado ali, sua Palavra seja obedecida e a vida humana
se torne digna para todos?

Capítulo 15 – Missões Através de Palavras e Ações

94
Numa linda manhã de domingo, enquanto observava centenas de pessoas
chegando para a adoração numa cidade do oeste da África, me perguntei:
“Como esta igreja teve início?” “Quem foi o primeiro a trazer o evangelho aqui?”.
A resposta foi a seguinte: “Uma mulher missionária veio para a cidade,
como enfermeira. Anteriormente à sua chegada, metade das nossas crianças
morriam antes de completarem cinco anos de vida. Então, a missionária vacinou
nossas crianças. Ela ensinou as mães a manterem suas crianças sadias. Ela
preveniu que nossas crianças morressem enquanto nos ensinava acerca de
Deus”.
A igreja naquela vila teve início a partir de missão através de palavra e
ação.
Eu visitei um ancião numa favela onde a maioria das pessoas eram
mulçumanas. Ele, seus quatro filhos, noras e netos haviam se tornado cristãos.
Então, lhe perguntei o que os havia tirado do Islamismo para a fé em Jesus
Cristo.
Ele me contou esta história: “Muitos cristãos vinham, toda semana, para
nossa comunidade e ensinavam a Bíblia a alguns poucos cristãos que viviam
aqui. Eles viam que éramos muito pobres, e ajudavam a todos, cristãos e
mulçumanos. Eles não faziam pouco caso de ninguém. Por muito tempo eu os
observei para descobrir suas verdadeiras intenções sobre nós. Eu não
conseguia entender por que eles ajudavam tanto os cristãos quanto os
mulçumanos da mesma maneira, e sem esperar nada em troca. Eles não eram
obrigados a fazer isso. Então, eu lhes perguntei o que os motivava a esta
atitude, e eles me responderam: ‘fazemos isto porque Deus se preocupa com
todos, de tal maneira que enviou Jesus para nos salvar quando morreu e pagou
por nossos pecados’. Deus se preocupa, e Jesus é quem pagou! Este era um
motivo que eu nunca tinha ouvido antes. Eu comecei a acreditar que era
verdade. Comecei a orar a Deus, em nome de Jesus Cristo. Meus filhos
seguiram meu exemplo e assim nos tornamos cristãos”.
Missões através de palavra e ação representam um testemunho poderoso.
Este tipo de missão abre as portas das casas, cidades e nações para o
evangelho. Segue o exemplo do próprio Jesus que “percorria todas as cidades e
povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando
toda sorte de doenças e enfermidades” (Mateus 9:35).

O QUE DIZER SOBRE O “EVANGELHO SOCIAL”?

95
Pregar o Evangelho (“palavra”) e ajudar o pobre e o oprimido (“ação”)
eram realizados concomitantemente, através da história do Cristianismo. No
começo do século XX, entretanto, uma teologia liberal entrou em muitas igrejas,
negando ensinamentos básicos da Bíblia, tais como o nascimento virginal de
Cristo, a expiação e a sua ressurreição física. Esta teologia promoveu o que
chamamos, em missões, de “Evangelho Social”.
As pessoas que se identificavam com o Evangelho Social se engajavam
em ministérios entre os pobres, mas havia um problema. Elas não visavam
convertê-los à fé em Cristo como o Salvador dos pecadores perdidos. Elas não
ensinavam que a Bíblia é a regra de fé e de conduta cristã. Sua teologia liberal
abria mão dos ensinos mais básicos do evangelho.
Muitos cristãos que se fiavam na autoridade da Bíblia reagiram ao
Evangelho Social. Eles criam na necessidade de uma conversão pessoal a
Cristo e na plantação de igrejas, mas evitavam os ministérios sociais, a não ser
os de “socorro” em situações emergenciais. Uma parede, então, se erguia entre
a palavra e a ação em missões, a qual perdurou por cinqüenta anos.
Hoje, os cristãos de diversas partes do mundo trabalham para quebrar
esta parede. Eles querem reunir palavra e ação de modo que atuem juntos em
prol do Reino. Chamamos a isto de “holismo” em missões. Uma maneira
“holística” de fazer missões reconhece que ambas as necessidades espirituais e
materiais dos seres humanos são reais e importantes. E não é bíblico ignorar
qualquer uma delas.

TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO

Um movimento conhecido como “Teologia da Libertação” nasceu na


segunda metade do século XX, na América Latina, e se espalhou em muitas
partes do mundo. Assim como o Evangelho Social, a Teologia da Libertação
preocupava-se, principalmente, com os pobres e era fraca nas áreas
relacionadas à conversão religiosa e salvação pessoal.
A Teologia da Libertação focalizava-se na opressão e nas causas políticas
e econômicas da pobreza. A solução que pregava continha fortes elementos do
Marxismo, que perdeu seu crédito no fim do século. Então, os teólogos da
libertação ficaram sem as respostas que consideravam ser as corretas. A
Teologia da Libertação tentou resolver o problema da opressão e injustiça, mas
o evangelho Bíblico do Reino de Deus é o único que pode oferecer uma solução
genuína.

96
Devemos olhar para o livro de Gênesis a fim de entender o evangelho do
Reino. Ele ensina que todos os seres humanos foram feios à imagem de Deus
(Gênesis 1:26-27). Missões, do ponto de vista do Reino, leva o bem-estar das
pessoas muito a sério, assim como Deus o faz. Ele dá tanto valor aos seres
humanos que enviou seu próprio Filho, Jesus Cristo, para redimi-los da
escravidão do pecado, de Satanás e do inferno. Cristo levou as pessoas tão a
sério que enviou seus discípulos ao mundo todo, pregando o evangelho do
Reino.
Missões, a partir da perspectiva do Reino, considera qualquer pessoa ou
sistema político e econômico que oprime os seres humanos como inimigo de
Cristo e do seu Reino. Oprimir os seres humanos é pecar contra Deus, pois
todos foram criados à sua imagem.
Não é de se admirar o fato de os opressores não quererem que o
evangelho se propague. Eles são inimigos das missões cristãs porque sabem
que a Palavra de Deus coloca em exposição seus caminhos malignos e ameaça
o reino de Satanás, ao qual representam. As pessoas que Cristo tem libertado
da escravidão do pecado e da morte não se submetem facilmente à opressão
que lhes é imposta pelos homens.

HOLISMO EM MISSÕES: ESTRATÉGIA DO REINO

O mandamento de Cristo, “Ide e fazei discípulos”, nos instrui a proclamar o


evangelho através do mundo. O fim dos tempos não virá até que esta ordem
seja cumprida (Mateus 24:14). Isto significa:
 Convidar pessoas de todas as raças, tribos e nações a se arrependerem
e seguirem a Cristo;
 Cuidar dos pobres, doentes e das vítimas de opressão;
 Plantar e desenvolver igrejas que preguem, fielmente, a Palavra e
proclamem o evangelho às pessoas ao seu redor, bem como aos confins
da terra;
 Aplicar o senhorio de Cristo e a autoridade de sua Palavra às vidas dos
fiéis;
 Promover a verdade, justiça e reconciliação, em oposição à mentira, ao
mal e aos conflitos;
 Cuidar de toda a criação, que tem sido mal tratada – a água, o solo, o ar
e as árvores – a qual Deus fez para sua glória e para o bem-estar da
raça humana.

97
A vida do Reino é uma vida de verdade, justiça, misericórdia e amor. Ela é
proclamada com palavras e demonstrada pelas atitudes. O evangelho do Reino
envolve tudo. Convida para a transformação do coração e de toda a vida.
Direciona como vivermos individual, familiar e comunitariamente. Ensina-nos a
mostrar misericórdia ao pobre, defender o oprimido e buscar reconciliação entre
oposições.
Nós compreendemos quão grande e gloriosa é a tarefa das missões
cristãs quando observamos o quadro do evangelho do Reino. Através delas é
que o reino chega em lugares onde nunca esteve antes. A justiça do Reino é a
esperança do mundo.

CONSELHOS PRÁTICOS SOBRE


MISSÕES ATRAVÉS DE PALAVRA E AÇÕES

1. Cristo deve ser exaltado em tudo que fizermos e dissermos


Muitos copos de água gelada são necessários, mas todos eles devem ser,
sempre, dados em nome de Cristo. Os erros do Evangelho Social não devem
ser repetidos. Boas ações, apenas, não bastam. Se missionários não falarem de
Cristo e da graça salvadora de Deus, o evangelho não terá poder de salvar.

2. Os missionários que possuem dons especiais na pregação e no


ensino não devem desconsiderar aqueles cujos dons estão em
outras áreas.
Eliminemos, entre os servos do mesmo Senhor e Mestre, Jesus Cristo,
toda a arrogância e orgulho. Alguns missionários têm mais talento para
agricultura, negócios, ensino de línguas ou traduções do que para a pregação
diante de um grande grupo. A verdade é que o Espírito Santo chama e usa
diferentes tipos de missionários, cada qual com seus dons.

3. Faça o possível para evitar a dependência a longo-termo no


dinheiro ou na ajuda de fora.
A dependência causa sérios danos às igrejas e instituições quando elas já
deveriam estar dando conta de seus próprios negócios. Os programas iniciados
pelos missionários devem ser colocados nas mãos dos cristãos locais, o mais
rápido possível. Se o povo local não puder assumir a responsabilidade em
tempo hábil, o programa deve ser interrompido.

98
4. A plantação e o desenvolvimento de igrejas que preguem a Palavra
e demonstrem compaixão pelos pobres deve ser o alvo de todo
programa de missões.
As igrejas são os faróis do reino de Deus. Não há esperança para os
pobres e os perdidos sem elas.

5. Os missionários que trabalham entre os pobres devem ser


cuidadosos em não passar a impressão de estar tirando vantagem
da sua pobreza somente para ganhá-los para a religião cristã.
Mulçumanos e hindus, algumas vezes, acusam os cristãos de tentarem
“comprar” convertidos ao oferecem ajuda a eles. Não devemos permitir que esta
acusação nos reprima de ajudar os pobres, antes devemos cuidar em não
causar impressões erradas sobre os motivos por detrás de nossas atitudes.

6. Em casos de emergências provocadas por guerras ou desastres


naturais, o trabalho de “socorro” é apropriado. Entretanto, para a
assistência a longo-termo o “desenvolvimento” é a melhor forma de
ministrar às pessoas carentes.
Serviços de socorro pouco fazem para mudar problemas que são de
longo-termo, e geralmente criam uma dependência na ajuda que vem de fora.
Ministérios de desenvolvimento, por outro lado, têm como alvo capacitar
pessoas que são pobres a ganharem uma vida digna, por si sós.
Um provérbio chinês muito antigo ilustra a diferença entre o socorro e o
desenvolvimento. “Se você der peixe a um faminto, matará sua fome por um
dia. Se ensiná-lo a pescar, suprirá suas necessidades para o resto da vida”. O
desenvolvimento protege a dignidade do pobre e lhe oferece a oportunidade de
sair da pobreza e suprir suas próprias necessidades.

7. O trabalho dos missionários não termina quando grupos de


convertidos são alcançados e igrejas são iniciadas.
O trabalho inclui equipar a jovem igreja através da instrução de seus
membros, do treinamento de líderes e da formação de ministérios que levem o
evangelho à comunidade toda e até a lugares distantes.
Os missionários servem de exemplo para os novos cristãos à medida que
edificam a igreja. Eles mantêm relacionamentos e oferecem serviço aos cristãos
locais que testificam a unidade e o amor existente entre os fiéis. Esta unidade e
amor ultrapassam as barreiras de língua, raça, nacionalidade e cultura.

99
Proclamam ao mundo que, apesar das diferenças superficiais, os cristãos são
realmente um corpo. Servimos ao mesmo Rei, e seu nome é Jesus.

QUESTÕES PARA REVISÃO

1. Explique o que é o Evangelho Social e seus principais erros


2. Qual a diferença entre Evangelho Social e Teologia da Libertação?
3. Descreva o Reino de Jesus Cristo, e explique como o Holismo promove
o Reino.
4. Por que os opressores odeiam missões?

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. Quando e onde o “socorro” é a melhor coisa a se fazer, e como se difere


do “desenvolvimento”?
2. Por que a dependência é perigosa? Descreva algumas situações em
que a dependência a longo-termo deva ser evitada.
3. Dê exemplos de trabalhos missionários que testificam a unidade e o
amor entre os cristãos. Como podemos multiplicar estes exemplos?
4. Descreva quatro ou mais tipos de ministérios mais práticos que você tem
visto, além de serviço médico. Na sua opinião, são eles efetivos em
suprir as necessidades humanas e levar pessoas a Jesus? O que faria
para mudá-los ou melhorá-los?

Capítulo 16 – Pastores, Evangelismo e Missões

Há alguns anos atrás, o líder missionário John R. Mott falou sobre o papel-
chave dos pastores locais no mundo das missões.

O segredo para a capacitação da igreja em exercer seu papel


no mundo não-cristão está na sua liderança. As pessoas não
vão além de seus líderes no conhecimento e no zelo, não lhes
ultrapassam na consagração e no sacrifício. O pastor cristão
(...) detém a posição divinamente orientada de inspirar e guiar
os pensamentos e atitudes da igreja. Devido à sua posição ele
pode ser uma força poderosa na evangelização do mundo.
(The Pastor and Modern Missions, 3)

100
Mott argumentou que, em muitos casos, o ponto fraco em missões está
nas igrejas locais e sem a ajuda dos pastores o problema não pode ser
resolvido. Eles determinam a direção que suas congregações tomam. Pastores
são mestres, modelos e líderes. O fogo das missões e do evangelismo estará
aceso nas congregações cujos pastores estão com os corações ardendo de
paixão em alcançar os perdidos.
Mott acreditava que pastores que não têm paixão por missões não podem
realmente ser ministros do evangelho. Eles são espiritualmente fracos. São
cegos para a mensagem missionária da Bíblia. Eles não podem entender que o
principal trabalho da igreja é tornar Cristo conhecido e amado através do
mundo. Eles não são cheios do Espírito de Cristo. Suas congregações têm um
vácuo de poder e visão em conseqüência disso, e as missões é que sofrem.
De fato, são raros os casos onde uma congregação evangeliza os
perdidos mesmo seu pastor sendo indiferente para com missões. Estas
permanecem vivas em tais congregações devido à forte influência de um ou
mais líderes leigos comprometidos. Porém, a visão missionária do pastor é que,
normalmente, vitaliza as missões na congregação. Deixe-me ilustrar isso.

O CASO DO PASTOR QUE PERDEU UMA GRANDE OPORTUNIDADE

Há alguns anos atrás, meu amigo e companheiro missionário, Richard


DeRidder, estava tomando café da manhã em sua casa, em Colombo, Sri
Lanka, quando o telefone tocou. Na outra linha estava o pastor de uma das
maiores igrejas da cidade. Ele era um homem já nos seus quarenta anos de
idade e ocupava uma posição de influência e liderança na sua denominação. A
igreja a qual servia era grande e rica, mas não estava engajada no evangelismo
ou suporte missionário.
O pastor parecia perturbado. “Richard”, ele disse, “Há um monge budista
na minha porta dizendo que quer se tornar cristão. O que é que devo fazer com
ele?” Richard sugeriu que o pastor pegasse a Bíblia e explicasse àquele monge
que o Deus que criou a terra e os céus providenciou a salvação para os
pecadores através da graça e fé em Cristo. “Mas, Richard,” replicou o pastor,
“Eu não sou bom nesse tipo de coisa. Você não poderia vir aqui e cuidar disso?”
Richard foi até a casa do pastor tão logo pôde. Ali encontrou um monge
budista vestido em suas roupas amarelas, que lhe contou uma história
fascinante. Ele havia, secretamente, estudado a Bíblia por muitos anos. Havia
feito cursos bíblicos por correspondência usando o nome e endereço de uma
outra pessoa, para que os outros monges não descobrissem o que ele estava
101
fazendo. Finalmente, decidiu se tornar um cristão e procurou imediatamente por
um ministro cristão.
O monge não sabia nada a respeito das diversas denominações ou
igrejas, então escolheu a maior delas na principal rua da cidade e pediu para
ver o seu pastor. Infelizmente, este não sabia nada sobre evangelismo ou como
apresentar as verdades básicas do evangelho a um líder de outra religião.
Graças a Deus que Richard sabia como fazê-lo. Ele gastou o dia todo com
aquele monge, respondendo às suas perguntas e explicando as verdades da fé
cristã. Quando a noite chegou, o homem indagava se já poderia ser batizado.
Esta história ilustra o elemento ausente no pensamento e ministério de
muitos pastores. Este pastor liderava uma grande congregação por muitos
anos, mas não tinha a visão de alcançar pessoas para Cristo. Ele não conduzia
os membros de sua igreja a evangelizar, muito menos a suportar o trabalho
missionário. Não é de se estranhar, portanto, que tenha falhado quando a
oportunidade de levar um monge à fé em Cristo bateu à sua porta. Este poderia
ter sido um grande momento em seu ministério, mas o pastor teve que buscar
ajuda por não saber como evangelizar.

UMA TRISTE DESCOBERTA

Eu conheci George Peters numa conferência sobre evangelização do


mundo, na Tailândia, há alguns anos atrás. Ele lecionou sobre missões por
muitos anos no Seminário Teológico de Dallas. Ao se aposentar, realizou
viagens para a Europa para falar aos pastores de lá. Um encontro desses
contou com mais de 350 pastores. Quando Peter lhes perguntou quantos
haviam estudado evangelismo, apenas cinco deles confirmaram ter tido algum
curso sobre o tema, vinte tiveram um Workshop de um dia e o restante nunca
havia recebido qualquer treinamento em evangelismo, nem muito menos sobre
missões mundiais. Sua teologia não lhes motivava a pregar aos perdidos.
Peter se perguntou se havia alguma relação entre esta falta de interesse
sobre treinamento em evangelismo e o não crescimento das igrejas na Europa.
Concluiu que as igrejas e escolas usadas para treinar pastores não incluíam o
evangelismo e missões ao mundo perdido no ministério pastoral.

QUANDO OS PASTORES FALHAM

Uma série de coisas ruins acontece quando pastores falham em


apresentar a reivindicação de Cristo para com os não-salvos. Primeiro, o
102
evangelho da Graça divina e salvadora não brilha a partir de seus púlpitos.
Então, os membros não necessitam espalhar o evangelho e se tornam
envolvidos em outras atividades que não são necessariamente ruins, mas que
não comunicam o evangelho de um modo claro.
Uma grande preocupação entre alguns membros da igreja é o
Ecumenismo, isto é, a cooperação entre as igrejas. Falam sobre diálogo com
pessoas de outras religiões ao invés de evangelismo. O meio ambiente é outra
preocupação, e muitos estão mais interessados em salvar as árvores, baleias e
pássaros do que na salvação eterna das almas. A proclamação da salvação
através da fé em Cristo está ausente e a convicção de que os perdidos
necessitam da conversão não existe.
Bill Hybels, pastor da igreja de Willow Creek, próxima a Chicago, está
certo quando diz que uma igreja evangelizadora é a esperança do mundo, e o
reavivamento da igreja com relação ao evangelismo depende dos seus líderes.

JESUS, O PASTOR COM UMA PAIXÃO PELAS ALMAS

Quem melhor do que Jesus para nos ensinar sobre evangelismo? Quem é
o Líder dos líderes? Jesus é chamado de Supremo Pastor em 1 Pedro 5:4.
Todos os outros líderes da igreja estão sob sua liderança. O texto de Hebreus
13:20 chama Jesus de o Grande Pastor, pois ele é o modelo perfeito a ser
seguido. Todos nós que fomos chamados para sermos líderes do povo de Deus
devemos prestar contas a Jesus acerca de como nos achegamos a ele no
nosso coração, nas nossas atitudes e condutas.
Olhemos para Jesus e seu ministério. Ele ensinou aos discípulos e
alcançou os perdidos. Ele mostrou o que pastores de verdade deviam fazer
através dos seus ensinamentos e do seu exemplo. Ele alimentou seu rebanho
enquanto ensinava. Ele buscou o perdido enquanto pregava de um lugar para
outro. Ele mostrou que amava o mundo ao enviar seus discípulos aos confins
da terra. Jesus demonstrou ter um coração de pastor de todas as maneiras
possíveis. Ele foi um pastor que, às custas de grande sacrifício pessoal, e até
mesmo a morte, veio para buscar e salvar o perdido.
Na parábola da ovelha perdida, Jesus descreveu a alegria que ele e o Pai
sentem quando uma ovelha perdida é trazida para casa (Mateus 18:12-14;
Lucas 15:4-7). O coração de Deus é revelado na figura do pastor carregando a
ovelha nos braços e trazendo-a de volta ao aprisco. Jesus é o exemplo perfeito
de como trazer os pecadores de volta a Deus e cuidar deles. Este é o ofício
sagrado dos pastores.
103
Nenhuma outra religião tem um Pastor ou Líder como Jesus, nem alguém
que se assemelhe ao pastor cristão. Jesus mostrou quão longe ele iria a fim de
salvar o perdido, através do seu sofrimento e sua morte. Ele foi para a cruz para
cumprir o propósito salvífico de seu Pai Celestial. O trabalho dos pastores e
missionários está ligado a esse propósito divino.

PAULO E TIMÓTEO

Paulo lembrou os anciãos da igreja de Éfeso que, durante seu ministério


entre eles, ele nunca separou o evangelismo do seu ministério pastoral. Paulo
havia evangelizado, ensinado a sã doutrina, organizado a congregação,
desenvolvido os membros na fé e no serviço aos pobres, e treinado os líderes
locais. Ele esperava que esses líderes seguissem seu exemplo (Atos 20:17-38).
Paulo disse ao jovem pastor Timóteo que ele deveria “fazer o trabalho do
evangelista” (2 Timóteo 4:5), e assim cumprir com as obrigações do seu
ministério. O que Paulo queria dizer com isso? Ele achava que Timóteo tinha
dois trabalhos, o primeiro de ser um pastor e outro de ser evangelista? Não.
O estudioso em Bíblia, William Hendriksen, aponta em seu comentário do
Novo Testamento – I e II Timóteo e Tito, que no texto em Grego não há artigo
definido antes da palavra evangelista. Isto quer dizer, para Hendriksen, que
Paulo não tinha intenção de dar a Timóteo um “segundo trabalho”. Ele queria,
sim, enfatizar para Timóteo o caráter evangelístico dos deveres pastorais.
Quando Paulo disse, “faça o trabalho de evangelista”, estava querendo
dizer: “Timóteo, seu trabalho pastoral deve ter um caráter evangelístico onde
quer que você vá, ou em tudo que fizer. Você é um pastor-evangelista, isto é,
não será um pastor se não for ao mesmo tempo um evangelista”. Todos os
pastores são chamados, assim como Timóteo, para cuidar de suas
congregações (Atos 20:28; 1 Pedro 5:2-4), buscar os perdidos (Mateus 18:12-
14; Lucas 15:3-7), e proteger os crentes dos falsos mestres (Atos 20:29-31).

OS PASTORES-EVANGELISTAS DE HOJE

Os pastores-evangelistas cumprem seu papel como líderes no


evangelismo e em missões de três maneiras:
(1) ensinando e pregando sobre evangelismo e missões nas
escrituras e mostrando aos membros como orar pela
propagação do evangelho através do mundo;

104
(2) dando exemplo pessoal de como pastores vêem e usam as
oportunidades que têm de contar do evangelho para os não-
salvos nas casas, ruas, nos hospitais e ônibus;
(3) organizando suas congregações, inclusive os jovens, em
atividades evangelísticas tais como estudos bíblicos nas prisões,
casas, escolas, nos escritórios, e através do serviço aos pobres
quando podem testificar do amor e da misericórdia de Deus
através de palavras e atitudes.
Charles L. Goodell diz o seguinte sobre o trabalho de um pastor em seu
livro Pastor and Evangelist (p. 110)

As pessoas perdidas, assim como ovelhas perdidas, não vêm


para casa por si sós. Elas têm que ser buscadas. Não basta
construir sua igreja e postar-se no seu púlpito e dizer,
“Venham”. Você tem que ir e buscar se quiser salvar.
Quando a paixão pelas almas morre perece também todo o
senso de realidade da religião. Somente quando O vemos
curando as pessoas é que temos fé no grande médico.
Somente quando vemos os perdidos sendo salvos é que
cremos no Cristianismo. E quando a paixão pelos perdidos
morre no púlpito, as pessoas juntam suas cinzas ao invés de
aquecer suas almas na chama da luz que foi acesa nos céus.
Tenhamos, então, um conceito mais claro do que é ser um
pastor. A função pastoral nada mais é do que cuidar do
rebanho e trazer aqueles que estão desviados de volta ao
aprisco. Já é tempo de regressar ao real motivo pelo qual a
Igreja de Deus foi organizada e inspirada.

QUESTÕES PARA REVISÃO

1. Resuma o que John R. Mott disse sobre o papel do pastor.


2. O que acontece quando pastores não promovem o
evangelismo?
3. O que Paulo quer dizer com “faça o trabalho de um
evangelista”?
4. Como os pastores-evangelistas cumprem seu chamado?

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO


105
1. Quando pastores ignoram o evangelismo, quem deve ser
responsabilizado? Os próprios pastores ou as escolas que os
treinaram? Por que?
2. Imagine que Jesus vai examinar o que sua congregação está
fazendo no evangelismo. O que ele aprovaria ou não?
3. Descreva algumas oportunidades que surgem especialmente
para pastores compartilharem sobre Cristo a não-salvos.
4. Pelo quê a leitura deste capítulo lhe move a orar?

Capítulo 17 – Suporte Financeiro de Missões

Como os missionários devem ser financeiramente suportados em


seu trabalho? Como qualquer outra pessoa, os missionários precisam
de dinheiro para pagar pela comida, moradia e outras necessidades.
Aqueles que são casados e têm filhos possuem necessidades
financeiras ainda maiores.
Os missionários, geralmente, têm mais despesas que o normal.
Seu trabalho requer que eles viajem, às vezes de ônibus, carro, barco,
ou avião. Devem, além disso, comprar comida e gastar com
hospedagens, quando se encontram longe de casa. Eles necessitam
de dinheiro não apenas para seu próprio sustento como também para
comprar bíblias, literatura e outros materiais úteis na proclamação do
evangelho onde quer que trabalhem.

FAZEDORES DE TENDAS

Os missionários, algumas vezes, podem encontrar empregos


locais a fim de se sustentarem. Nós costumamos denominá-los de
“fazedores de tendas”. Eles seguem o exemplo do apóstolo Paulo que
trabalhou, juntamente com Áquila e Priscila, como confeccionador de
tendas em Corinto (Atos 18:2-3).
Há vantagens em ser um “fazedor de tendas”. Um emprego diário
numa escola ou empresa provê o suporte financeiro ao missionário e
também os contatos pessoais com a gente local. Estes contatos são
valiosos. Um emprego regular também dá uma identidade ao
missionário dentro da comunidade. Ele é um “estrangeiro”, mas quando

106
está empregado tem a vantagem de se identificar com a escola ou
instituição para a qual trabalha.
“Fazedores de tendas” também enfrentam certos problemas. Um
deles é que seu trabalho diário ocupa muito do seu tempo e energia.
Outro problema é que seus patrões podem impedi-los de se engajar
em atividades religiosas de qualquer tipo.
Em alguns países é impossível ser um “fazedor de tendas”
porque o governo não permite que estrangeiros sejam empregados.
Eles podem entrar nesses países como visitantes, mas não podem
ganhar dinheiro. Os missionários, então, têm que depender dos fiéis de
outros lugares para providência de suas necessidades, quando não
existem cristãos locais que os suportem.

OS ENSINAMENTOS DO NOVO TESTAMENTO


ACERCA DO SUPORTE MISSIONÁRIO

O Novo Testamento contém muitas instruções sobre como


suportar os servos do Senhor. O apóstolo Paulo escreveu aos cristãos
de Corinto que “assim ordenou também o Senhor aos que pregam o
evangelho, que vivam do evangelho” (1 Coríntios 9:14). Este
ensinamento foi baseado nas leis do Antigo Testamento. Deus ordenou
que os sacerdotes e levitas deveriam ser suportados através das
ofertas das pessoas (Levítico 7:28-36; Números 18:8-21).
Jesus enviou seus discípulos para as “ovelhas perdidas de Israel”
e lhes disse que não levassem consigo dinheiro ou roupas extras, à luz
do ensinamento do Antigo Testamento. “Pois digno é o trabalhador do
seu alimento” (Mateus 10:10). Os judeus, que conheciam o Antigo
Testamento, entendiam que os trabalhadores religiosos mereciam ser
suportados. Por este motivo, os discípulos de Jesus poderiam esperar
receber comida e hospedagem enquanto trabalhavam entre os judeus.
Porém, os apóstolos não podiam esperar o mesmo tipo de
recepção quando iam aos gentios. Eles necessitavam de outro tipo de
suporte financeiro. O texto de Filipenses 4:10-20 oferece ensinamentos
importantes acerca do modo como os primeiros missionários
receberam suporte material.

FILIPENSES 4:10-20

107
A primeira coisa que vemos quando examinamos esta passagem
da Escritura é que Paulo se alegrou quando os cristãos de Filipos
demonstraram preocupação com ele (verso 10). Eles haviam se
beneficiado através do seu ministério em Filipos, e agora se
preocupavam com as necessidades do apóstolo enquanto este
percorria outros lugares. Esta preocupação era evidência de seu
crescimento espiritual e sua sinceridade, o que trazia alegria a Paulo.
O apóstolo admitiu que estava com necessidades (verso 11) e
enfrentando sérios problemas (verso 14). Ele assegurou aos filipenses
que havia aprendido a estar contente em qualquer circunstância e a
depender de Cristo para tudo (versos 11-13). Entretanto, Paulo
realmente tinha necessidades materiais, e estava grato pelo fato dos
filipenses terem suprido sua carência.
Paulo elogiou os cristãos de Filipos porque, em contraste com
outras igrejas, eles o haviam suportado desde o princípio (verso 15).
Eles não foram tardios em aprender a importância de suportar missões,
mas aplicados aprendizes. Paulo foi a Tessalônica para pregar o
evangelho, depois de ter deixado Filipos. Mas, os filipenses
continuaram a enviar suporte financeiro e material para ele (verso 16).
Eles tinham o coração em missões!
Paulo estava na prisão, em Roma, quando escreveu aos
filipenses. Ele foi abençoado, mais uma vez, pelos seus presentes, aos
quais chamou de “aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a
Deus” (verso 18). Paulo lhes assegurou que Deus seria bom para com
eles, assim como eles haviam sido bons para com o seu servo
(verso19).
Podemos aprender alguns princípios básicos sobre o suporte
missionário a partir desta passagem das Escrituras. Primeiro, o suporte
deve ser feito de modo organizado. Paulo, algumas vezes, sofreu
carência de suporte porque algumas igrejas ou ignoravam suas
necessidades, ou não tinham em mãos os meios de fazer a ajuda
chegar até o apóstolo. Os filipenses tinham boas intenções, mas por
um tempo não tiveram a “oportunidade de mostrar isso” (verso 10).
A segunda lição é que o suporte deve ser coletado nas igrejas e
entregue aos missionários de um modo eficiente e responsável. Juntas
e agências missionárias são organizadas com o fim de entregar o
suporte das igrejas nas mãos dos missionários, onde e quando eles

108
necessitarem. E os missionários não sofrem necessidades quando
estas agências fazem bem o seu trabalho.
Uma terceira lição é que o suporte de missões é uma resposta
voluntária dos fiéis que, em gratidão a Deus pela salvação, suportam a
proclamação do evangelho. Os filipenses voluntariamente davam seus
presentes para suportar o missionário a quem amavam. Eles não
estavam pagando uma “taxa” ou tentando ganhar o favor de Deus.
Em quarto, seu suporte era mais do que o básico, era amplo.
“Recebi tudo e tenho abundância”, disse Paulo (verso 18). Os cristãos
em filipenses não eram culpados da falsa idéia de que os missionários
podem sobreviver com quase nada. Eles enviaram um de seus
membros, Epafrodito, para entregar as doações e também para ficar
com Paulo, ajudando-o.
Epafrodito ficou muito doente enquanto esteve com Paulo. Então,
o apóstolo decidiu que era melhor enviá-lo de volta à igreja em Filipos.
Paulo elogiou Epafrodito ao dizer que “por causa da obra de Cristo ele
havia chegado às portas da morte e se dispôs a dar a própria vida,
para suprir a vossa carência de socorro para comigo” (Filipenses 2:29-
30).
Uma quinta lição que podemos aprender é que o suporte de
missões deve ser feito, no decorrer dos anos, de um modo constante.
Paulo elogiou os filipenses pelo seu suporte fiel e constante (4:16).
Outras igrejas, algumas vezes, ignoraram suas necessidades (verso
15), mas Paulo podia contar com os fiéis de Filipos. A Bíblia não relata
os detalhes do sistema que eles usavam para levantar o sustento
missionário; mas os resultados eram claros, e a igreja foi elogiada pela
sua fidelidade.
Os missionários dependem da fidelidade dos fiéis em quem eles
confiam, ano após ano, para seu sustento em orações e doações.
Estes sustentadores são verdadeiros colaboradores na propagação do
evangelho.
Paulo escreveu, em Filipenses 1:4-5, sobre as orações oferecidas
a favor da igreja. Ele orava por eles com grande alegria por causa da
sua “parceria no [trabalho] do evangelho”. Não há maior privilégio para
a igreja e para o cristão do que este, de ser parceiro com os
missionários na proclamação do evangelho.
Finalmente, podemos aprender desta passagem que o sustento
missionário é um investimento espiritual que Deus credita na conta dos
109
doadores (4:17). É uma oferta presenteada primeiramente a Deus, e
não aos homens (verso 18). Toda a glória pertence a Deus, e ele irá
recompensar ricamente aqueles que suportam o trabalho de missões
(versos 19-20).

FAZENDO TUDO PELA PROPAGAÇÃO DO EVANGELHO

Paulo sempre temeu que as pessoas pudessem pensar que ele


servia como missionário para ganho pessoal. Ele assegurou aos fiéis
em Filipenses 4:17 que não estava em busca de algo para si próprio,
mas do crescimento espiritual entre eles.
O apóstolo Paulo lembrou os fiéis em 1 Coríntios 9 que ele tinha
o direito de receber sustento deles. Mas, ele preferiu se auto-
sustentar, ao invés de dar idéia a qualquer pessoa de que ele pregava
o evangelho para ganho pessoal.

Não temos nós o direito de comer e beber? Ou somente eu e


Barnabé não temos o direito de deixar de trabalhar? Se outros
participam desse direito sobre vós, não o temos nós em maior
medida? Entretanto, não usamos desse direito; antes,
suportamos tudo, para não criarmos qualquer obstáculo ao
evangelho de Cristo. Se anuncio o evangelho, não tenho do
que me gloriar, pois sobre mim pesa esta obrigação; porque ai
de mim se não pregar o evangelho! Se o faço de livre vontade,
tenho galardão; mas, se constrangido, é, então, a
responsabilidade de despenseiro que me está confiada.
Nesse caso, qual é o meu galardão? É que, evangelizando,
proponha, de graça, o evangelho, para não me valer do direito
que ele me dá (versos 4, 6, 12, 16-18).

A paixão pelas almas, que ardia no coração do apóstolo, era tão grande
que ele desejava fazer qualquer coisa pela pregação do evangelho. Ele estava
disposto a se tornar “escravo de todos, a fim de ganhar o maior número
possível” (verso 19) mesmo tendo muitos ‘direitos’. O suporte financeiro de
missões não será um problema quando a mesma paixão arder nos corações
dos missionários e das igrejas de hoje.

QUAL O MELHOR SISTEMA DE SUSTENTO?


110
Há vários sistemas para sustentar missões. As lições que aprendemos
das Escrituras devem ser observadas em qualquer sistema que for usado.
Alguns missionários recebem suporte financeiro de um grupo de fiéis que
lhe são pessoalmente fiéis, e oram por eles regularmente. Também, os crentes
podem enviar suas doações através de agências missionárias organizadas para
esse fim. Estas agências também assistem no recrutamento dos missionários,
em alguns casos, ajudando-os a ir ao campo e supervisionando seu trabalho.
Outros missionários recebem suporte de uma ou mais congregações.
Estas se comprometem com uma certa quantia do suporte financeiro a cada
ano. Paulo e Barnabé retornaram a Antioquia e disseram à igreja acerca da sua
missão entre os gentios (Atos 14:26-28). Igualmente, os missionários visitam as
congregações que os suportam e lhes informam sobre seu trabalho. Os
missionários mantêm contato com seus sustentadores através de cartas,
telefonemas e e-mails. Estes contatos os encorajam a continuar com o sustento.
Denominações e grupos de igrejas podem prover os missionários com o
sustento de que eles necessitam de um modo organizado e constante. As
denominações geralmente formam suas próprias agências ou juntas de
missões. Estas servem como canais pelos quais os missionários, juntamente
com seu suporte financeiro, são enviados para os campos.
Os sistemas de suporte diferem de igreja para igreja ou em cada parte do
mundo. As igrejas são responsáveis, perante o Senhor, em desenvolver os
sistemas que melhor se adaptem à sua cultura, necessidades e situações.
Porém, certos princípios devem permanecer claros em qualquer tipo de sistema
adotado.
 O suporte financeiro de missões é uma responsabilidade básica e
contínua das igrejas em todo lugar.
 Os missionários não devem ter que “implorar” por sustento. Eles
não são obreiros de “segunda-classe”, que necessitam ou
merecem menos dinheiro do que pastores, professores ou os
demais trabalhadores.
 O sistema de sustento deve permitir que os missionários utilizem o
máximo de seu tempo e energia no trabalho missionário.
 Todo trabalho missionário é “uma obra de fé”, do começo ao fim.
Qualquer que seja o sistema de suporte financeiro, os missionários
devem confiar em Deus e depender da fidelidade do seu povo.
Sem a fé, a oração e o sacrifício qualquer obra missionária irá
falhar.
111
Os missionários se envolvem numa aventura tão grandiosa e difícil que só
poderá ser cumprida com o poder e a vontade de Deus. Tanto os missionários
quanto aqueles que os sustentam, portanto, devem ser pessoas de fé, a qual irá
crescer à medida que obedecem ao mandamento de Cristo, “Ide e fazei
discípulos!”.
Lembremo-nos de que o objetivo final de missões é que Cristo seja
conhecido e adorado em todo lugar. Aqueles que fazem o trabalho de missões
de um modo que honre a Cristo podem estar certos de que ele irá suprir todas
as suas necessidades.

QUESTÕES PARA REVISÃO

1. O que é um “fazedor de tendas” e quais as suas vantagens e


desvantagens?
2. Que lições podemos aprender em Filipenses 4:10-20 sobre o suporte
financeiro aos missionários?
3. Por que Paulo abriu mão dos seus “direitos” de sustento em Corinto?
4. Quais são os quatro princípios para o suporte financeiro, apresentados
neste capítulo?

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. Por que os missionários têm que levantar suporte financeiro?


2. Quais os sistemas de sustento para os obreiros cristãos que você
conhece? Como eles suprem suas necessidades?
3. Como o suporte financeiro a missões pode ser aumentado na sua
igreja?

Capítulo 18 – A Ética do Evangelismo e de Missões

Uma mulher cristã, num grande escritório, escutava, dia após dia, uma de
suas colegas contar estórias de como seu marido lhe maltratava. A mulher
decidiu compartilhar sua própria história, depois de muita hesitação. Ela falou
com a mulher que vinha sendo abusada e lhe contou como Jesus tinha entrado
em sua vida e na vida de sua família, trazendo amor e paz onde só havia
conflito. Ela insistiu para que sua colega pedisse para que Jesus viesse habitar
na sua vida e na vida de seu marido.

112
A colega se irou e acusou aquela mulher cristã de “proselitismo”. Além
disso, dirigiu-se ao supervisor delas e se queixou de que sua crença religiosa
tinha sido violada. Ela acusou aquela cristã de estar tentando forçá-la a aceitar
a sua religião. O supervisor advertiu à sua subordinada cristã que se isso
acontecesse novamente ela seria despedida.
Fatos como este estão acontecendo mais e mais freqüentemente. O
evangelismo, mesmo que feito de um modo humilde e amoroso, provoca ira em
algumas pessoas. Os cristãos são acusados de invadir a privacidade dos outros
quando testemunham da sua fé. As pessoas dizem que somos arrogantes
porque cremos em Cristo como único caminho a Deus. Eles dizem que não
respeitamos as outras crenças.
Isto suscita questões como as que se seguem:
 Missões e evangelismo são atividades éticas, ou expressões de
arrogância e agressão religiosa?
 Se dissermos que todas as religiões são igualmente válidas e pararmos
de tentar mudar a crença de outros povos promoveríamos paz na
comunidade?
 Qual a diferença entre evangelismo e proselitismo?
 Há regras que separem métodos legítimos e ilegítimos de trabalho
missionário?
 O chamado à conversão é um insulto aos seguidores de outra fé?
Estas questões nos levam ao coração do evangelho. Nós as
examinaremos, agora, e buscaremos respostas bíblicas.

O EVANGELISMO CORRETAMENTE DEFINIDO

Evangelismo é a comunicação das boas novas acerca de Jesus Cristo,


que culmina no convite à decisão de aceitá-lo ou não. A verdade sobre Jesus
ser o único Salvador e Senhor é inerente ao evangelho, e aqueles que se
tornam seus discípulos abrem mão de seus deuses e suas crenças de outrora.
O alvo do evangelismo é, sem dúvida, a conversão a Cristo e o
arrependimento de qualquer forma de idolatria. O apóstolo Paulo deixou isso
claro quando disse que seu chamado a missões era para “lhes abrires os olhos
e os converteres das trevas para a maravilhosa luz e da potestade de Satanás
para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os
que são santificados pela fé em [Cristo]” (Atos 26:18).
Não é de se estranhar que o evangelismo e missões sejam considerados
ofensivos e encontrem oposição. Os corações humanos que não foram
113
regenerados pelo Espírito Santo rejeitam a voz de Cristo e são inclinados a
derrubar aqueles que o proclamam.
Mesmo sendo o evangelismo tão impopular, nós devemos rejeitar a
tentação de ficar quietos sobre Cristo, de mudar a sua definição ou de substitui-
lo por outras atividades. Mas, devemos nos lembrar de que até Jesus enfrentou
a inimigos amargurados, apesar de não ter cometido pecado e qualquer mal às
pessoas. Paulo sofreu violenta oposição. Os cristãos, através dos séculos,
foram perseguidos por causa do seu testemunho. Devido à natureza do pecado
e às demandas exclusivas do evangelismo, aqueles que rejeitam a Cristo
sempre considerarão a sua mensagem como ofensiva.
O proselitismo difere do evangelismo em seu caráter e metodologia. Os
defensores do proselitismo usam qualquer método a fim de ganhar convertidos.
Podem ser enganadores, apresentando apenas parte da verdade, podem apelar
para emoções e tirar proveito de mentes atordoadas. Eles colocam os
convertidos em servidão aos líderes e às regras do grupo. Os motivos comuns
por detrás do proselitismo são o dinheiro e o poder de controlar outras pessoas.

MÉTODOS QUE DEVEM SER EVITADOS

Jesus ordenou que o evangelho fosse proclamado a todas as pessoas,


mas insistiu que o uso dos métodos fosse ético. Jesus nunca forçou as pessoas
a o aceitarem, nem instruiu seus discípulos a usarem métodos elaborados para
enganá-las. Ele, aberta e honestamente, disse às pessoas o que deviam
esperar ao se decidirem a segui-lo, quando as chamou para se tornarem seus
discípulos. Jesus não confundiu suas emoções para fazer com que as pessoas
o seguissem cegamente, ou sem qualquer discernimento. Ele, claramente, disse
o quanto custava o discipulado. Significava rompimento de laços com pessoas e
coisas que pertencem ao mundo, significava até a cruz (Lucas 14:25-35).
Paulo e outros apóstolos do primeiro século já tinham tido que lidar com
pessoas que estavam tentando tomar vantagem do evangelho, usando métodos
enganosos e nada éticos. Ele assegurou aos coríntios, “rejeitamos as coisas
que, por vergonhosas, se ocultam, não andando com astúcia, nem adulterando
a Palavra de Deus; antes, nos recomendamos à consciência de todo homem,
na presença de Deus, pela manifestação da verdade” (2 Coríntios 4:2). A
implicação disso era que alguns missionários não mantinham o mesmo padrão.
Paulo estipulou uma distância entre si e eles.
Ser ético, entretanto, não livra os apóstolos das críticas e da oposição.
Aos tessalonicenses, Paulo escreveu:
114
Mas, apesar de maltratados e ultrajados em Filipos, como é do
vosso conhecimento, tivemos ousada confiança em nosso
Deus, para vos anunciar o evangelho de Deus, em meio a
muita luta. Pois a nossa exortação não procede de engano,
nem de impureza, nem se baseia em dolo; pelo contrário, visto
que somos aprovados por Deus, a ponto de nos confiar ele o
evangelho, assim falamos, não para que agrademos a homens
e sim a Deus, que prova o nosso coração. A verdade é que
nunca usamos de linguagem de bajulação, como sabeis, nem
de intuitos gananciosos. Deus disto é testemunha. Também
jamais andamos buscando glória de homens, nem de vós,
nem de outros. Embora pudéssemos, como enviados de
Cristo, exigir de vós a nossa manutenção, todavia, nos
tornamos carinhosos entre vós, qual ama que acaricia os
próprios filhos (1Tessalonicenses 2:2-7).

Este texto das Escrituras deixa claro que o comportamento ético deve
caracterizar as palavras e ações dos evangelistas e missionários. Suas
intenções não devem ser as de serem servidos, e seus métodos não devem ser
enganosos de modo algum. Não deve haver qualquer sugestão de busca de
benefícios pessoais através da proclamação do evangelho. A Palavra do
evangelho deve ser pregada, acima de tudo, sem alterações e descrédito.

NORMAS ÉTICAS PARA OS EVANGELISTAS

Moishe Rosen dirigiu a organização missionária “Judeus para Cristo”, por


muitos anos. Pelo fato de seus evangelistas serem freqüentemente criticados,
Rosen cuidadosamente estudou as cartas do apóstolo Paulo e seu exemplo
com relação à conduta ética no trabalho de missões. No encontro de Lausanne
de 1985, em Texas, ele propôs as seguintes normas éticas acerca do
evangelismo de judeus:
 O evangelho deve ser proclamado de modo que agrade a Deus, em
conformidade com sua Palavra e não de maneira elaborada para
agradar os ouvintes.
 A proclamação do evangelho não deve envolver qualquer tipo de
enganação
 Qualquer sinal de que a ganância é o que motiva o evangelista é
totalmente inaceitável.
115
 Toda a glória deve ser dada a Deus, no evangelismo, e nenhuma glória
deve ser dada aos seus proclamadores.
 Evangelistas divinos não reclamam seus direitos, mas têm como
principal preocupação o bem-estar de seus ouvintes.
 O Evangelismo é gentil e não usa de força ou violência
 O Evangelismo que agrada a Deus vem através do amor sincero para
com os perdidos.
 A base para o verdadeiro evangelismo é o amor ao próximo, que se
expressa na busca do bem-estar do outro.

Rosen diz que no evangelismo cristão os fins nunca justificam os meios.


Devemos ser gentis no modo como proclamamos as boas novas
espirituais, tão poderosas que podem provocar mudanças nos corações
e nas vidas de nossos ouvintes. Nossa fé está no Deus soberano cuja
mensagem de salvação proclamamos. Portanto, evitamos métodos de
persuasão que mostrem desrespeito pelos homens e mulheres.
Conservamos nossos corações como pessoas criadas à imagem de
Deus, a quem prestamos contas de nossas decisões e ações.
O motivo básico para a conduta ética no evangelismo não é evitar
as críticas, mas honrar o Senhor e obedecer à sua vontade. A oposição
não vai desaparecer mesmo que os evangelistas e missionários falem e
ajam com extremo cuidado. O Espírito de Deus somente é quem pode
trazer a convicção e o arrependimento. O sucesso todo só depende do
Espírito.

ESPERAR PELA CONVERSÃO É ÉTICO?

Dr. Mahendra Singhal é um professor de matemática numa


universidade dos Estados Unidos. Ele contou a sua história de
conversão do Hinduísmo a Cristo num artigo intitulado “O Preço da
Conversão”, publicado no World Evangelization (vol. 15, no. 53),

Quando eu me converti ao Cristianismo, meu pai anunciou


que, para ele, era como se eu nem tivesse nascido. A reação
da minha mãe não foi tão drástica quanto à do meu pai. Mas,
ela era totalmente submissa e tinha medo dele, e não havia
nada que pudesse fazer para me defender. Na Índia, a
conversão a Cristo significa que você perde o seu status na
116
sociedade. Você se torna um “intocável”, e isso significa que
você não pode se misturar com as demais castas. Na maioria
dos casos, isso significa que até sua própria família não tem
nada mais a ver com você.

Dr. Singhal descreveu o medo e a frustração que existem nos corações


dos hindus devotos. Por um lado, eles têm medo da reencarnação, devido à
possibilidade de retornarem a uma vida de maior sofrimento. Por outro lado,
sentem-se frustrados porque nunca alcançam certeza alguma de satisfazerem
as demandas dos deuses a quem adoram, sejam eles quais forem.
Quando ouviu o evangelho pela primeira vez, Dr. Singhal o achou
diferente de tudo que o Hinduísmo ensinava. Ele achou que os cristãos eram
arrogantes por afirmarem que através da fé em Cristo tinham certeza de ir ao
céu.
Após muitas discussões, estudos bíblicos e testemunho de cristãos
Indianos, cujas vidas davam evidência da Graça de Deus, Mahendra Singhal se
converteu e, abertamente, professou a fé em cristo. Os problemas começaram
assim que contou isso à sua família. Seu pai ficou furioso e nunca o perdoou.
Dr. Singhal tem motivos para crer que seu tio tentou envenená-lo. Seus velhos
amigos o trataram como traidor.
O custo da conversão ao Cristianismo pode ser extremamente alto em
muitas sociedades. Pode trazer divisões dentro das famílias e perda de
emprego e reputação na comunidade. Pode até custar a própria vida do
convertido.
Estas questões, então, surgem: é ético os missionários e evangelistas
convidarem as pessoas à conversão? Não seria pedir muito? Se a conversão a
Cristo traz tanta dor consigo, é o seu apelo moralmente justificável, mesmo em
face dos problemas e oposições que essa conversão possa enfrentar?
Estas questões nos forçam a pensar sobre o cerne do Cristianismo. Se o
que a Bíblia nos ensina é verdade – que somente através de Cristo os seres
humanos podem encontrar a salvação, pelo fato de ser Cristo o único Mediador
divinamente humano, que veio, morreu, ressuscitou, reina e vai voltar – então, a
resposta é clara. Não somente o apelo à conversão a Cristo é ético, como
também não é ético não evangelizar. Nós oferecemos às pessoas a única
esperança que podem ter de conhecer a Deus, recebendo seu perdão e
desfrutando de paz com ele. Evangelismo e missões são uma obrigação ética.
QUESTÕES PARA REVISÃO

117
1. Descreva as características do proselitismo
2. Descreva as características do evangelismo
3. Mostre como o texto de 1 Tessalonicenses 2:2-7 serve como guia para
os verdadeiros evangelistas

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. “Roubar ovelhas” de outra igreja é ético? Explique.


2. Como você aconselharia um novo convertido a Cristo, cuja família é
muito devota à sua antiga religião?
3. Como você defenderia o evangelismo contra as acusações de
“arrogância” e “imperialismo religioso”?

Capítulo 19 – Missões e a Unidade entre os Cristãos

Jesus disse: “Bem-aventurados são os pacificadores, porque serão


chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9). Os pacificadores são muito importantes
num mundo tão dividido e cheio de ódio e conflitos.
Os missionários são chamados para serem pacificadores. Eles proclamam
a Cristo, o Grande Pacificador entre Deus e os pecadores. A Bíblia chama
Cristo de “príncipe da Paz” (Isaías 9:6). O apóstolo Paulo foi inspirado pelo
Espírito Santo para descrever a paz, unidade e reconciliação que Cristo traz.

Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo


derribado a parede da separação que estava no meio, a
inimizade, aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na
forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si
mesmo, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliasse
ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz,
destruindo por ela a inimizade. E, vindo, evangelizou paz a vos
outros que estáveis longe e paz também aos que estavam
perto; porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um
Espírito (Efésios 2:14-18)

O FRUTO GLOBAL DE MISSÕES

A igreja de Cristo tem se tornado a maior comunhão de pessoas no


mundo. Esta comunhão consiste de pessoas de todas as raças, nacionalidades,
118
culturas e línguas. Observamos um grande aumento do número de pessoas que
se converteram ao Cristianismo, bem como o de igrejas formadas neste século.
E, no século XXI, esta comunidade de pessoas irá crescer ainda mais, pela
Graça de Deus.
Os cristãos ao redor do mundo professam ter a unidade do Corpo de
Cristo. Lembram a morte de Jesus pelos pecados de todos os fiéis através da
celebração da Santa Ceia. Professam compartilhar de “uma só fé, um só
Senhor, um só Batismo” (Efésios 4:5). Almejam a reunião no céu onde adorarão
a Deus para sempre, numa assembléia unida (Apocalipse 5:9-10).

POR QUE OS CRISTÃOS SÃO DIVIDIDOS NA TERRA?

Se é verdade que os Cristãos formam uma comunhão espiritual global, por


que há divisões e conflitos entre nós, e por que elas se perpetuam? Por que as
igrejas se dividem por tão pouco? Por que as igrejas segregam raças, tribos,
castas ou classes sociais?
Será que nos esquecemos de que a unidade entre os fiéis contribui para a
propagação do evangelho e que a desunião prejudica as missões? Jesus disse,
na sua grande oração, logo antes de ser preso e crucificado,

Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que
vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de
que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti,
também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu
me enviaste. Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens
dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles, e tu
em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para
que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como
também amaste a mim” (João 17:20-23)

Uma parte vital do trabalho dos missionários, em vista do que Cristo


ensinou e orou, deve ser a busca do fim dos conflitos e divisões entre os
Cristãos. O apóstolo Paulo fez disso uma parte do seu trabalho (1 Coríntios 3:1-
9), e a necessidade hoje é igualmente grande.
Os missionários devem ser pacificadores, em todo sentido da palavra.
Devem deixar claro, quando pregam o evangelho para todas os povos, raças,
tribos e castas, que há somente um Criador. Deus, o Criador, fez todos à sua
imagem (Gênesis 1: 26-27). A grande tragédia da raça humana é que todos
119
pecaram e receberam o julgamento de Deus (Gênesis 3: 16-19; Romanos 3:23;
6:23). A partir disso é que as hostilidades, divisões e conflitos começaram.
Primeiramente, houve uma separação de Deus, e depois se seguiram as
divisões entre os povos.
Entretanto, Deus está reconciliando os pecadores consigo mesmo, através
da obra salvífica de Jesus Cristo e pela pregação do evangelho (2 Coríntios
5:18-21). Todos que, pela fé, se unem a Cristo formam um só Corpo de pessoas
redimidas e reconciliadas. Este evangelho da reconciliação através de Cristo é a
nossa mensagem ao mundo. Devemos proclamá-la com nossos atos e
palavras.

OS DANOS CAUSADOS EM MISSÕES, E POR QUE SE PERPETUAM

Considere estes três casos:


(1) Havia um pastor que possuía grandes dons em evangelismo, num país
do sul da Ásia, onde estive ministrando por um tempo. Deus o usou para atrair
muitos a Cristo. Todavia, alguns membros da igreja o criticavam continuamente,
por uma razão ou outra. O pastor, finalmente, deixou o ministério daquela
denominação.
Qual era, de fato, o problema? Alguns de nós conhecíamos bem o pastor,
e o respeitávamos grandemente. Também conhecíamos a situação da igreja, e
entendíamos o motivo que estava por detrás do conflito. O fato era que o pastor
pertencia a um diferente grupo étnico da maioria dos membros. Nada que o
pastor fizesse agradaria alguns dos membros, os quais consideravam como
mais importante a sua identidade étnica do que a cristã. A unidade dos fiéis no
Corpo de Cristo não significava praticamente nada para eles.
(2) Eu conheci um missionário veterano, num país ao oeste da África, que
teve um sério problema. Ele tinha um ministério poderoso de oração e estudo
bíblico, através do qual ganhou um bom número de mulçumanos para Cristo.
Quando os convertidos chegaram na igreja é que os conflitos começaram. Os
membros da igreja eram de uma tribo diferente e foram perseguidos por
mulçumanos, no passado. Eles não queriam receber aqueles recém-convertidos
na igreja, e começaram a criticar o missionário por diversas razões, e,
eventualmente, o forçaram a sair da área.
(3) Uma divisão ocorreu numa congregação Norte Americana envolvendo
três níveis de controvérsias. Primeiramente, houve um conflito acerca do local
onde se erigiria um novo edifício. Um grupo queria derrubar o antigo prédio e

120
construir outro no mesmo local. Outro grupo queria comprar um terreno um
pouco afastado dali para a construção.
Segundo, um grupo queria outras mudanças, e chegou a ser denominado
de “liberal” em sua teologia. Queria mudanças na liturgia e no modo como o
pregador pregava. Queria mais evangelismo e novos ministérios entre os
jovens. Queria, também, um prédio que fosse adequado a esses ministérios.
Terceiro, o conflito tinha a ver com aqueles que desejavam o poder.
Certos membros tinham sempre controlado a igreja e queriam permanecer no
controle. Após muitos meses de controvérsias, a igreja se dividiu, o pastor saiu
e muitas pessoas ficaram feridas.
Alguma coisa deveria ter sido feita a fim de reconciliar os lados, em todos
estes casos, mas ninguém agiu em tempo. Por que permitimos que os conflitos
continuem, quando eles nos prejudicam e ao nosso testemunho no mundo?
Vejamos algumas razões:
 A maioria de nós evita o envolvimento com pessoas em conflito,
especialmente quando são irmãos ou irmãs em Cristo, pastores e
missionários.
 Poucos de nós sabem identificar os problemas, resolver os conflitos e
curar as feridas que causam.
 A maioria dos cristãos tem vergonha dos conflitos e acha que eles irão
desaparecer se forem ignorados.
 Alguns cristãos assumem que nada pode ser feito para a solução desses
conflitos.

CASOS DE CONFLITOS NO NOVO TESTAMENTO

Sempre haverá conflitos, porque este é um mundo pecador e nem os


cristãos são perfeitos. Os missionários, em particular, enfrentam diferenças
entre culturas, tradições e estilos de vida que facilmente podem gerar conflitos.
Eles precisam estar preparados para se tornarem pacificadores entre os
cristãos, tanto quanto entre os descrentes em Deus. Devem ter a fé de que,
com a ajuda do Espírito Santo, muitos conflitos poderão ser resolvidos, se
medidas sábias forem tomadas em tempo.
Há exemplos de conflitos entre os cristãos no Novo Testamento, no
contexto de missões, e cada um deles nos oferece uma instrução.

1. Atos 6:1-7

121
Um conflito teve início muito cedo na vida da igreja, acerca do modo como
algumas viúvas estavam sendo injustamente tratadas. Isto poderia ter gerado
uma séria divisão na igreja; mas foi tratado de modo sábio e rápido, e o
evangelho continuou a se propagar em virtude disso (verso 7).

2. Gálatas 2:11-21

Paulo e Pedro tiveram uma confrontação. A verdade do evangelho estava


em jogo, devido ao comportamento de Pedro. Paulo o confrontou
veementemente. A Bíblia não relata de modo preciso como o conflito foi
solucionado, mas parece que Pedro aceitou a repreensão e se arrependeu do
seu erro.

3. Atos 15:1-35

Houve “contenda e não pequena discussão” em Antioquia causada por


homens da Judéia, com respeito à necessidade ou não da circuncisão. Eles
levantaram questões que ameaçavam a verdade do evangelho, pregada por
Paulo e os outros apóstolos. O conflito foi resolvido (a) ao enviarem as questões
para uma “suprema corte”, uma grande assembléia de líderes cristãos em
Jerusalém (verso 2), e, mais tarde, (b) ao acatarem a decisão tomada em
Jerusalém como sendo vontade de Deus (versos 30-31).

4. Atos 15: 36-41

Houve uma forte desavença entre dois missionários, Paulo e Barnabé,


acerca de dar ou não a João Marcos uma segunda chance. A separação entre
os dois foi a única solução encontrada.

5. Filipenses 4:2-3

Evódia e Síntique foram duas mulheres que ajudaram a Paulo na


propagação do evangelho, e elas tiveram um sério desentendimento uma com a
outra. A Bíblia não nos conta a causa desse conflito. Parece que não dizia
respeito à doutrina ou moral. Como Paulo lida com essa situação? Ele as
chama pelo nome e apela que “pensem concordemente, no Senhor” (verso 2).
Paulo lhes relembra os bons tempos que passaram juntas quando trabalhavam
com ele. Pede também que o pastor local ou ancião, um fiel companheiro de
122
jugo de seu (verso 3), intervenha ativamente para ajudar as duas mulheres a
por um fim ao seu desacordo. Paulo sabia quão perigoso e desastroso era
deixar que conflitos assim se perpetuassem.

6. Conflitos e divisões na igreja de Corinto

As duas cartas de Paulo à igreja de Corinto mostram que seus membros


tiveram sérios conflitos e divisões. Grupos dentro da igreja escolheram
diferentes líderes e tomaram partido em relação a eles (1 Coríntios 1-2). Eles
discordavam sobre aceitar ou não o apostolado de Paulo (1 Coríntios 3; 2
Coríntios 11). Os líderes eram tardios em lidar com a imoralidade na igreja,
talvez porque importantes pessoas fossem os culpados (1 Coríntios 4-5). Os
membros mais ricos provocavam divisões ao mostrarem seus banquetes,
quando a congregação fazia suas refeições em conjunto (1 Coríntios 11:17-22),
e alguns até mesmo se embebedavam nesses encontros (verso 21).
Vimos, então, que a igreja vivenciava conflitos, desde os tempos do Novo
Testamento. Alguns deles entre os fiéis judeus e gentios, outros entre fiéis que
tinham diferentes visões da vida cristã, e ainda outros entre os próprios líderes.
Muito do trabalho dos apóstolos envolvia a resolução desses conflitos. Seus
escritos e exemplos nos mostram maneiras de lidar com os problemas na igreja
e nas missões do nosso tempo.

SUGESTÕES PARA MISSIONÁRIOS E OUTROS LÍDERES

Primeiro, nós devemos aceitar o fato de que missionários e líderes da


igreja têm que conviver com altos níveis de tensão entre as pessoas às quais
servem. Os conflitos são inevitáveis. Junto com o chamado à liderança, nós
aceitamos a responsabilidade de lidar com diferenças e mal-entendidos, e, em
alguns casos, com pessoas muito difíceis.
Segundo, devemos trabalhar duro em toda situação na qual ministramos
para construir e manter uma rede de pessoas com quem mantemos contato
regularmente. Novos missionários, especialmente, devem aplicar sérios
esforços para conhecer o maior número possível de pessoas locais e tentar
ganhar sua confiança.
A comunicação entre os líderes, obreiros e os membros regulares é
essencial. Os conflitos que se desenvolvem podem ser solucionados mais
facilmente se uma forte rede de confiança e comunicação já estiver
estabelecida.
123
Terceiro, assumindo nosso papel de líderes, devemos usar de toda
oportunidade para enfatizar as crenças, os valores e a unidade espiritual que
nos liga uns aos outros. Podemos promover a paz e a reconciliação através do
que escrevemos, ensinamos e da nossa conversa casual, e devemos parar de
espalhar o desentendimento e conflito. Podemos relembrar aos cristãos o que a
Bíblia ensina acerca de questões que causam diferenças de opinião. Podemos
encorajá-los, dessa forma, a examinar as diferenças sob a luz da verdade
eterna, ao invés de, simplesmente, deixá-los em suas tradições e preconceitos.
Quarto, agindo como pacificadores, não devemos fugir dos conflitos mais
sérios, quando estes ocorrerem. Devemos fazer o melhor para resolvê-los, e
trazer a reconciliação. O processo da reconciliação envolve examinar
atentamente (1) as razões por detrás dos conflitos; (2) os que as partes
envolvidas no conflito estão realmente buscando; (3) quem pode estar sendo
ferido e quais as causas da ofensa; e (4) que influências externas podem estar
contribuindo para o conflito. As pessoas devem ser conduzidas ao
arrependimento, ao perdão e à reconciliação tão logo tenham agido ou falado
erradamente.
Quinto, se um dos lados diz que o conflito é de origem doutrinária e
teológica, devemos ser mais cuidadosos. Se, realmente tratar-se de uma
questão teológica, ela deve ser examinada com atenção sob a luz da Bíblia. As
falsas doutrinas não devem ser permitidas. Entretanto, devemos estar atentos
para perceber se as pessoas envolvidas no conflito não o fazem parecer como
sendo doutrinário a fim de ganhar mais força a seu favor. A real causa pode não
ser teológica de fato, mas uma briga pelo poder ou uma diferença de opinião
sobre algum problema mais superficial.
Mantenhamos em mente que os conflitos são, geralmente, muito
complicados. Não devemos tentar encontrar uma solução singular ou simples,
porque isso acarretará em maiores dificuldades, mais tarde. Nós temos que nos
lembrar que raramente haverá uma solução “perfeita” e que satisfaça a todos.
As soluções perfeitas só são encontradas no céu. Devemos nos empenhar pela
unidade com paciência e amor naquelas questões que não afetam a sã
doutrina.
Construir e manter a unidade entre os fiéis não é fácil. Em missões
interculturais torna-se uma tarefa ainda mais difícil, pois os desentendimentos
são facilmente levantados pelas diferenças culturais. Devemos nos lembrar de
que Satanás é um enganador e causador de divisões, que continuamente tenta
reduzir o poder do testemunho cristão. Devemos orar para que a unidade entre

124
os fiéis seja estabelecida e mantida, pelo bem da igreja e do avanço das
missões.

QUESTÕES PARA REVISÃO

1. Dê evidências de que o trabalho missionário é frutífero.


2. Por que Jesus se preocupou com a unidade entre seus discípulos?
3. Por que muitos cristãos evitam lidar com os conflitos?
4. De que modo os missionários são pacificadores?

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. Quem é o Grande Pacificador em Efésios 2:14-18, e quais são as


implicações práticas desta passagem?
2. Dê exemplos, da sua experiência, de conflitos que também já foram
encontrados nos dias dos apóstolos.
3. Discuta as sugestões práticas oferecidas neste capítulo, e selecione
duas que você julga serem especialmente importantes.

Capítulo 20 – O preparo para tornar-se um missionário

Eu me lembro de ouvir o famoso missionário aos hindus, E. Stanley Jones,


dizer a um grupo de estudantes reunidos na Cidade do México,

Alguns de vocês, jovens, estão pensando sobre ministério e


missões. Meu conselho a vocês é este: se puderem ficar de
fora, então fiquem; mas, se não puderem, então, venham! É
maravilhoso!

Há apenas um chamado para todos os cristãos, o de seguir a Cristo no


serviço para a glória de Deus e crescimento de seu Reino; mas, há várias
tarefas dentro desse chamado. Eu tenho uma experiência de mais de quarenta
anos, e gostaria de dar alguns conselhos para aqueles que se sentem
chamados a se tornarem missionários.

MISSIONÁRIOS SÃO EDIFICADORES

125
O apóstolo Paulo se denominou, certa vez, como um prudente construtor
(1 Coríntios 3:10). Os edifícios em que ele trabalhou foram as igrejas de Jesus
Cristo (verso 9). O fundamento, a pessoa e a obra de Jesus Cristo (verso 11).
Tudo dependia deste fundamento.
Paulo sabia que ele não estava trabalhando sozinho. Outros fiéis
trabalhavam junto com ele, e muitos outros viriam depois dele. A questão para
todos os edificadores é a mesma: Qual a qualidade do seu trabalho (verso 13)?
A obra dos edificadores irá permanecer, ou ruirá nos tempos de adversidade?
Nós sabemos que os construtores necessitam das ferramentas adequadas
a fim de realizar um bom trabalho. Observe um exímio carpinteiro usando suas
ferramentas! Ele sabe exatamente quais as necessárias para cada projeto. Os
construtores são limitados no que realizam se não tiverem as ferramentas
certas. Entretanto, com elas podem construir lindas e duradouras coisas.
A aplicação para missões é óbvia. Todos que querem trabalhar para Deus
necessitam adquirir as ferramentas corretas, e devem aprender a manuseá-las.
As “ferramentas” são o conhecimento da Palavra de Deus e as qualidades
espirituais e experiências necessárias para a obra cristã.
A seguir apresentarei uma lista das ferramentas que, na minha opinião,
são necessárias para um trabalho missionário frutífero. Ninguém possui todas
elas, nem tão pouco serão necessárias todas as ferramentas o tempo todo.
Entretanto, eu lhes prometo que a maioria dessas ferramentas certamente será
indispensável no curso do seu ministério. Algumas delas serão necessárias já
no começo.
Todos aqueles que querem ser usados para a edificação da igreja de
Cristo através do trabalho missionário devem começar cedo a reunir as
ferramentas que irão precisar. Não esperem pela primeira experiência
missionária para começar. Adquiram, o quanto antes, o máximo de ferramentas
possíveis e aprendam a usá-las bem.
Vocês podem estar certos de que o serviço missionário irá testar a
qualidade do seu caráter cristão. Testará suas habilidades, mais do que vocês
imaginam. Comecem agora e empreguem todo esforço em edificar seus
conhecimentos para o ministério. Ganhem experiência no serviço ao Senhor. Se
vocês são casados, ou planejam se casar, incluam seus cônjuges no processo
de aprendizado de como usar as ferramentas adequadas para missões.

FERRAMENTAS MISSIONÁRIAS BÁSICAS

1. Forte vida espiritual


126
Isto inclui a disciplina diária de oração e leitura bíblica na comunhão do
Espírito Santo. Há muitas coisas urgentes a serem feitas em missões, e os
trabalhadores são poucos. Os missionários são tentados a se tornarem muito
envolvidos em muitas coisas boas e importantes, e acabam negligenciando sua
vida espiritual.
Numa pesquisa feita entre missionários em mais de doze países, a
fraqueza espiritual foi identificada como sendo o problema número um. Muitos
dos missionários admitiram que não tinham desenvolvido o hábito da oração
particular e leitura bíblica diárias antes de ir para missões. Sua vida espiritual
sofria grandemente no campo missionário.
O melhor conselho que posso dar a qualquer um que está se preparando
para ser um missionário é: entrem em missões de joelhos. Os missionários
experimentam solidão, tentação, ataques satânicos e períodos de depressão e
desapontamento. Eles devem manejar bem as ferramentas da leitura bíblica,
oração, adoração e comunhão com Deus antes de qualquer coisa.

2. Amor pelas pessoas

Paulo é exemplo de um missionário amoroso. Ele escreveu para os


cristãos de Filipos afirmando que os tinha no seu coração (Filipenses 1:7). A
Bíblia diz que entre os líderes da igreja de Éfeso “houve grande pranto entre
todos, e, abraçando afetuosamente a Paulo, o beijavam” (Atos 20:37). O grande
amor de Paulo pelas pessoas, bem como por Deus, era a chave do seu sucesso
como evangelista e plantador de igrejas.
Infelizmente, alguns cristãos gostam dos livros e da privacidade muito
mais do que de amar as pessoas. Querem servir ao Senhor, mas não desejam
se aproximar das pessoas. O trabalho missionário, entretanto, requer
envolvimento com todos os tipos de pessoas e o amor por elas em nome de
Cristo.
Certa vez, fui convidado por um pastor no México para ajudá-lo a
descobrir o que havia de errado com a Escola Dominical de sua igreja. O líder
da Escola Dominical era uma pessoa altamente culta e parecia ser muito
dedicada em organizar um programa excelente. Entretanto, os problemas
surgiam, um após o outro, e todos se tornavam frustrados.
Eu visitei as classes e conversei com o superintendente por muitas horas.
Descobri a raiz do problema quando ele me disse, “eu sinto um grande prazer

127
na organização e liderança da Escola Dominical, contanto que afastem a
crianças de mim. Eu não gosto de crianças!”
Aqui estava a razão de todos os problemas na Escola Dominical. A
pessoa responsável não amava as crianças! Algumas vezes, há missionários
que não amam as pessoas às quais estão tentando levar para Cristo. Alguns
pastores não amam suas congregações. Tais pessoas não abençoam o
trabalho cristão.
Peça a Deus que lhe dê um grande amor pelas pessoas dos mais
variados tipos, se você está pensando em se tornar um missionário. Gaste
tempo com o povo. Aprenda a entendê-lo e busque maneiras de servi-lo em
nome de Cristo. O amor é essencial em missões.

3. Uma Teologia Bíblica de Missões

Nós não cumpriremos o chamado de Deus em missões ao menos que


tenhamos um entendimento básico do propósito salvífico de Deus para o
mundo, revelado na Bíblia. Missões recebem sua inspiração e direção das
Escrituras. Os missionários devem continuamente estudar a Bíblia, ou irão ser
levados por idéias que surgem em nome de “missões”, mas que são falsas, na
sua maior parte.
Estejam certos de ganhar um fundamento sólido nas Escrituras antes de
irem ao campo como missionários, e estejam perto da Palavra durante toda a
sua vida. Passem aos novos fiéis e aos líderes das igrejas com as quais vocês
trabalham as bases bíblicas de missões, em que vocês mesmos acreditam.
Assim estarão construindo sua fé e inspirando-os a missões.

4. Alvos e Estratégias

Os pedreiros sábios seguem um plano, quando constroem uma casa. Eles


não vão erguendo paredes ao léu, na esperança de que, de alguma forma, o
seu trabalho resulte numa casa. Ao invés disso, eles edificam exatamente o tipo
de prédio que querem, seguindo os seus planos.
Algumas vezes, os cristãos cometem o erro de pensar que os planos não
são necessários no trabalho missionário. Isto é uma tolice.
Os missionários necessitam estabelecer metas bíblicas, tais como a
plantação de igrejas entre as pessoas que não têm uma igreja e a expansão do
Reino de Cristo através da ajuda aos pobres para que se tornem produtivos e
capazes de se sustentarem. Os missionários devem também seguir métodos
128
lógicos para alcançarem seus objetivos. A Bíblia está repleta de exemplos que
nos ajudam. Planos cuidadosos, humildemente submetidos a Deus, em oração,
recebem sua bênção.

5. Treinamento e Experiência nas Seguintes Áreas

 Evangelismo Pessoal. Os missionários necessitam estar


preparados para contar a história do evangelho, da obra salvífica
de Deus em Cristo, de modo claro, acurado e de fácil
compreensão por parte dos seus ouvintes.
 Evangelismo organizado. Os missionários, muito freqüentemente,
trabalham em equipes. Aprendam a trabalhar com outros,
portanto, em atividades missionárias já estabelecidas.
 Pequenos Grupos de Estudos Bíblicos. Este é o método mais
efetivo de propagação do evangelho em países e culturas
através do mundo. Aprendam como organizar e liderar um estudo
em casas, antes de irem para o campo.
 Aconselhamento e ensino de novos discípulos. Os novos
convertidos necessitam de ajuda para lidar com problemas
enraizados nas suas vidas. Necessitam de instrução nas
disciplinas básicas do Cristianismo, tais como a oração,
adoração, batismo, serviço e moral. Os missionários devem estar
preparados para ensinar
 A organização da Igreja e de seus ministérios. O apóstolo Paulo
nos deu um exemplo, pois organizou igrejas em todo lugar que
pôde. Sejam ativos numa boa igreja e aprendam como foi
organizada e como funciona, antes de se tornarem missionários.
Aprendam tudo que puderem com seus pastores.
 Desenvolvendo líderes. Ganhem experiência na liderança
assumindo responsabilidades nos mais diferentes tipos de
ministérios. Vocês irão treinar outros a se tornarem líderes, mais
tarde, quando estiverem no campo missionário.
 Ajudando os pobres. Os cristãos sempre são requisitados a
ajudarem os pobres, e como missionários vocês provavelmente
encontrarão muitos povos pobres. Aprendam a ajudá-los a fim de
que se tornem livres da dependência de caridade.

6. Adaptação em Outras Culturas e Sociedades


129
O trabalho de missões freqüentemente requer a vivência entre povos de
diferentes culturas e línguas, bem como religiões. O sucesso do missionário
dependerá de um grande desejo e habilidade em fazer mudanças sociais e
culturais em sua própria vida.
Gastem tempo vivendo e trabalhando entre pessoas que são diferentes de
vocês, como parte de sua preparação para o serviço missionário. Busquem
oportunidades de testar se vocês possuem os dons e as atitudes necessárias
para viver e trabalhar em outras culturas.

7. Se casados, que o cônjuge seja comprometido com Missões

O stress e sacrifício acompanham o trabalho missionário. Ambos o marido


e a esposa necessitam estar certos de estarem seguindo a vontade de Deus,
quando vão para missões.
Se tiverem filhos, suas necessidades devem ser consideradas
cuidadosamente. A falha em satisfazer as necessidades da família é uma das
causas mais comuns pelas quais os missionários retornam antes do previsto.
Ter a família com vocês em missões pode ser uma vantagem para o
evangelho, ou não. Portanto, pensem cuidadosamente sobre a sua família, ao
fazer planos para o serviço missionário.

8. Seus dons e personalidade

Deus fez cada um de nós de um modo diferente, e ele usa todo tipo de
pessoa. Espera-se, geralmente, que um missionário seja disposto e capaz para
fazer de tudo. Isto pode levar à ansiedade e infelicidade.
Ganhem experiência em várias áreas de trabalho e aprendam quais são
seus dons antes de ir ao campo missionário. Que tipo de trabalho lhes dá a
maior satisfação? Busquem uma agência missionária que poderá enviar vocês a
um campo que melhor se encaixe aos tipos de dons que possuem.

ENTUSIASMO PELO SENHOR E POR MISSÕES

Eu espero que todos aqueles que se sentem chamados a missões tenham


um profundo entusiasmo pelo Senhor Jesus Cristo e pelo ministério do
evangelho. “É maravilhoso!”, como E. Stanley Jones já disse. Não há satisfação
maior do que aquela que os missionários experimentam quando vêem o Espírito
130
de Deus mudando os corações e as vidas, trabalhando através dos seus
esforços tão fracos para construir igrejas de Cristo.

QUESTÕES PARA REVISÃO

1. Faça uma lista das principais ferramentas necessárias para os


missionários, e explique resumidamente cada uma delas.
2. Onde podemos ir para aprender sobre “alvos e estratégias”? Dê
exemplos.
3. Qual é o método mais singular e efetivo de propagar o evangelho?

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. Por que trabalhar nas igrejas é tão importante em missões?


2. Qual o papel das pequenas viagens missionárias na preparação das
pessoas para o serviço missionário de longo termo?
3. Quais dons especiais o Senhor tem dado a você, que poderão ser
usados no campo missionário?

Apêndice – Como Evangelizar e Multiplicar Igrejas

Muitos anos atrás, publiquei um livreto em espanhol intitulado 6 Pasos:


Como evangelizar y multiplicar Iglesias. O Espírito Santo usou aquele livro para
inspirar alunos, pastores e leigos a seguir os simples passos para iniciar uma
igreja. Uma pessoa na América do Sul começou 25 igrejas seguindo aquelas
instruções.
Apresentarei aqui as idéias principais do livro como um apêndice,
seguindo a sugestão de Harold Kallemeyn, missionário aos povos de língua
francesa. Espero que possam motivar os leitores deste livro a se engajarem no
tipo de evangelismo que multiplique igrejas de Jesus Cristo.

INTRODUÇÃO

Homens e mulheres desejam compartilhar sua fé com outros, quando o


Espírito Santo enche seus corações com essa fé amorosa. Este desejo vem de
Deus, que quer que as pessoas em todo lugar do mundo o conheçam e sejam
salvas (1 Timóteo 2:4).

131
A motivação para o evangelismo vem do Espírito Santo que vive nos
corações de cada crente. O Espírito dá aos homens e mulheres o poder para
fazerem o que não lhes é possível com suas próprias forças, sempre que são
movidos a levar o evangelho aos outros. O Espírito abre portas e os guia
àquelas pessoas que Deus pretende chamar para si (João 6:44).
Há alegria no trabalho do evangelismo quando os pecadores se
arrependem e vêm para Deus. Há também frustrações quando elas se recusam
a ouvir a mensagem de Cristo e rejeitam seus mensageiros. Pode haver ainda
sofrimento e perseguição quando Satanás e seus servos tentam parar a
propagação do evangelho.
Esta instrução é para você que deseja ser instrumento de Deus para
chamar outros a Cristo e construir sua igreja. O Novo Testamento ensina que
Paulo e os outros apóstolos pregavam o evangelho e estabeleciam igrejas, por
onde quer que passassem. Eles não consideravam o trabalho do evangelismo
completo até que uma congregação de fiéis fosse estabelecida.
Somando-se aos apóstolos, muitos outros fiéis evangelizaram e
começaram novas igrejas. A maioria das igrejas do primeiro século foi iniciada
por leigos que, capacitados pelo Espírito Santo, trabalharam duro para espalhar
o evangelho.
Os passos que você encontrará a seguir são, basicamente, os mesmos
que os apóstolos e os outros tomaram. Eu estudei a Bíblia, orei por divina
inspiração sobre a obra de missões e tentei muitos métodos diferentes, por
muitos anos. Descobri que estes são os passos que produzem maior fruto, com
a bênção de Deus.
Acredito que se você seguir estes mesmos passos, Deus irá usar seus
esforços para atrair pessoas a Cristo e multiplicar igrejas. Que o Espírito Santo
possa lhe abençoar com o poder na proclamação da sua Palavra e com o fruto
que permaneça para a eternidade.

1O PASSO – COMECE COM UM ESTUDO BÍBLICO

Como começar
Comece com uma oração pedindo a direção de Deus e o poder do Espírito
Santo. Ore para que portas e corações se abram. Ore pelas pessoas que você
planeja convidar. Ore para que Deus seja glorificado através da obra que você
pretende realizar.

Quem convidar
132
Convide os seus amigos, membros de sua família, vizinhos que não são
cristãos e todos aqueles que mostrarem interesse na mensagem Cristã.

Quando e onde se encontrar

Escolha uma hora que seja conveniente para a maioria das pessoas que
você espera que atendam ao estudo. Encontre um lugar onde haja pouca
interrupção e distúrbios.

O que fazer no encontro

Você e outro crente devem ser os líderes do encontro. Não sejam muito
formais. Sigam estas sugestões:
1. Expliquem, em poucas palavras, que vocês convidaram as pessoas
com o propósito de desfrutarem um tempo de comunhão, oração
pelas necessidades uns dos outros e estudo dos ensinamentos da
Bíblia.
2. Façam uma oração pedindo por divina ajuda e entendimento da Bíblia.
3. Leiam uma passagem da bíblica que já tenha sido cuidadosamente
escolhida de antemão. É prudente começar com os Evangelhos e
estudar o mesmo Evangelho a cada semana.
4. Expliquem a passagem bíblica, respondendo às quatro questões a
seguir:
 Primeiro, o que estas palavras significaram para as primeiras
pessoas que as ouviram?
 Segundo, o que elas nos dizem acerca de Deus e sua
vontade?
 Terceiro, o que podemos aprender sobre Jesus, através delas?
 Quarto, como devemos obedecer ao que elas ensinam?
Convidem as pessoas a levantarem questões sobre a passagem e sobre
como elas deverão aplicá-la em suas vidas.
5. Escolham um hino ou cântico para cantarem juntos. Ensinem as
pessoas a cantar novas canções cristãs.
6. Convidem a todos para falarem de suas necessidades e de seus
problemas, e orem por elas. Peçam aos fiéis, que estão crescendo na
fé, para orar pelos outros do grupo.

133
7. Convidem aqueles que possam ter perguntas adicionais ou problemas
pessoais para conversar com vocês mais tarde, ou logo após o
encontro.
8. Anunciem a hora e o lugar do próximo encontro, e estimulem cada
pessoa a trazer um amigo ou membro de sua família.
9. Sirvam chá, cafezinho ou refrescos antes do grupo se despedir.

O que fazer entre os encontros

1. Estimulem todos os que atenderam a lerem um ou dois capítulos da


Bíblia todos os dias e a orarem a Deus em nome de Jesus Cristo. As
orações devem incluir o seguinte:
 Agradecimento pelas bênçãos de Deus
 Confissão dos pecados
 Pedidos de perdão e purificação
 Pedidos pela direção de Deus e entendimento da sua vontade
para nossas vidas
 Intercessão por outras pessoas e suas necessidades.

2. Estimulem todos que atenderam a obedecerem os mandamentos de


Deus e a viverem em paz com o seu próximo.

2O PASSO – VISITE OS LARES

A importância da visitação
Poucas coisas são mais importantes do que fazer visitas pessoais nas
casas de pessoas que mostram interesse no evangelho e atendem aos estudos
Bíblicos. Você deve omitir tais visitas apenas nos casos em que há uma
oposição severa ao evangelho por outros membros da família.

As visitas aos lares servem da seguinte maneira:


1. Você aprende a conhecer os outros membros da família e a construir
relações de amizade com eles.
2. Você demonstra seu interesse por cada membro do lar, por seus
problemas e suas necessidades, e mostra seu desejo de ajudá-los no
que puder.

134
3. Você tem a oportunidade de falar, pessoalmente, para os membros da
família acerca da sua necessidade de salvação através do Senhor Jesus
Cristo, explicar o modo de obter esta salvação, e orar por eles.

Como visitar as casas


1. Comece com oração. Ore a Deus antes de sair em visita, a fim de que
ele a use para glorificar seu nome e atrair pessoas a Jesus Cristo.
2. Leve sua Bíblia. Você não sabe quais as oportunidades que lhe
aguardam para ensinar o caminho da salvação diretamente da Palavra
de Deus. Portanto, esteja pronto.
3. Visite os lares num horário apropriado. Faça as visitas quando os
membros da família estiverem em casa, menos na hora da refeição.
Você quer encontrá-los e ganhar seu interesse e boa vontade. Os
homens nunca devem entrar numa casa quando uma mulher estiver
sozinha. As mulheres nunca devem entrar em casas onde moram
apenas homens.
4. Mostre interesse pela vida e necessidades da família. Se houver sérias
necessidades, tente socorrê-las. Mostre o amor cristão através de suas
ações, bem como de suas palavras.
5. Fale da Palavra do Senhor. Lembre-se de que você está ali como um
servo e mensageiro de Deus. Leia ou recite alguns versos da Bíblia que
falem da situação da família e explique o que significam. Se tiverem
questões, tente respondê-las.
6. Peça que lhe permitam orar por eles. Se alguém estiver doente, ore por
cura. Peça a Deus que supra as necessidades de cada pessoa da casa,
e que acima de tudo, lhes dê a fé em Jesus.
7. Mostre esperança e alegria. Algumas pessoas na casa podem ser
negativas para com você. Mostre-lhes, através de suas palavras e
atitudes, que você tem esperança e alegria em Cristo. Diga-lhes que irá
orar por elas e que poderão contar com suas orações todas as vezes
que houver crises em suas vidas
8. Convide a todos para o estudo bíblico. Os convites pessoais são
poderosos. Muitas pessoas nunca atenderão a uma reunião se não
receberem um convite pessoal. Você pode convidar algumas pessoas
muitas vezes, sem obter uma resposta. Mesmo assim, continue
tentando.
9. Dirija as pessoas à fé em Cristo. A fé no Senhor pode começar durante
um estudo bíblico, ou durante a sua visita no lar, ou depois, quando as
135
pessoas estiverem sozinhas. Algumas delas decidem seguir a Cristo
rapidamente, enquanto que para outras isto é um processo lento.
Quando você faz visitas, observa sinais de que Deus está trabalhando
nos corações das pessoas. Esteja pronto para explicar o plano da
salvação e de como se tornar membro na família de Deus. Convide as
pessoas que se converterem durante uma visita a testemunharem no
próximo estudo bíblico

O que você deve esperar?


O que você deve esperar, quando faz visitas aos lares, testemunha sobre
Cristo e começa um estudo bíblico?
1. O Senhor, através do Espírito Santo trabalhará nos corações de
algumas das pessoas. Sua fé em Cristo irá crescer e elas irão louvar a
Deus por sua misericórdia.
2. Um sentimento de pertencer a um grupo de fiéis em Cristo e de
seguidores de sua Palavra irá crescer entre essas pessoas.
3. Algumas delas perderão o interesse e abandonarão os estudos. Outros
permanecerão fiéis. Novas pessoas serão somadas e se tornarão
crentes. Estas, geralmente, serão mais dedicadas que os que
freqüentaram as reuniões em primeiro lugar.
4. Algumas pessoas vão querer mais instrução cristã. Então, você
reconhecerá que chegou a hora de tomar um terceiro passo. Continue
dando estudos bíblicos e visitando os lares, e adicione uma classe de
discipulado cristão.

3O PASSO – INICIE UMA CLASSE DE DISCIPULADO

O que é discipulado?
Lembre-se da comissão missionária de Jesus: Ide e fazei discípulos!
Jesus explicou o que ele queria dizer quando adicionou as instruções, (1)
batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; e (2) ensinado-os a
guardar tudo que vos tenho ordenado (Mateus 28:19-20).
Os discípulos de Jesus sabem quem é o verdadeiro Deus e como ele
salva aqueles que acreditam nele, através de Jesus. Os discípulos ouvem a
Palavra de Deus e a seguem. “Fazer” discípulos significa informar às pessoas
sobre Deus e sobre a vida, morte e ressurreição de Jesus.
Ser um discípulo significa crescer em entendimento da Palavra de Deus,
tentando fazer o que ela ensina, com a força que o Espírito Santo dá.
136
O discipulado significa adorar a Deus, louvá-lo, obedecer seus
mandamentos, estudar a Bíblia, servir às necessidades dos outros, ser parte da
comunhão da igreja e contar aos não-cristãos sobre a salvação através de
Cristo.
O discipulado significa colocar de lado o “velho homem que se corrompe
segundo as concupiscências do engano” e, pelo poder do Espírito Santo,
revestir-se do “novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão
procedentes da verdade” (Efésios 4:22-24).

Quem convidar para uma classe de discipulado

Convide aqueles que atendem ao estudo bíblico, que mostram interesse


em aprender mais sobre os ensinamentos bíblicos e que desejam ser batizados.

Quando e Onde se encontrar

Ensine a classe num horário que seja conveniente para aqueles que mais
desejam atendê-la. Pode ser necessário dar mais do que uma classe a cada
semana se as pessoas têm uma agenda muito ocupada. Dê a aula num lugar
onde vocês não sejam interrompidos ou perturbados.

Quem deve ensinar

Via de regra, a pessoa que ensina a Bíblia é a mesma que lidera o


discipulado, mas outra pessoa poderá assumir tal posição. O importante é que
seja alguém bem preparado, uma pessoa de oração e que estuda a Bíblia. Deve
se lembrar de que os ensinamentos da Palavra de Deus têm conseqüências
eternas para as vidas das pessoas que os ouvem. A Bíblia diz, “a fé vem pela
pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Romanos 10:17).

O que estudar?

Nós já dissemos o que significa ser um discípulo de Cristo. Estude o que a


Bíblia ensina sobre isso. Sua igreja deve ter um livro com as doutrinas básicas
da Bíblia que você pode usar em aula.

Quanto tempo a classe deve durar?

137
Estimule todos na classe a continuarem até que tenham estudado as
doutrinas principais acerca de Deus, da Salvação e da vida Cristã. Aqueles que
desejam ser batizados e se tornar membros da igreja devem assim fazê-lo.
Novas classes podem ser oferecidas, depois disso, àqueles que desejam
aprender a Palavra de Deus e seguir a Jesus.

4O PASSO – BATIZAR OS CRENTES E, SE POSSÍVEL, TODOS OS DA SUA


CASA

Por que o Batismo é importante?

O batismo é importante porque Jesus assim o ordenou, ao dizer,


“portanto, ide e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do
Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mateus 28:19).

Quem deve ser batizado?

Todos os que se arrependeram de seus pecados, creram em Cristo como


seu Salvador e Senhor, e prometeram viver de acordo com os ensinamentos de
Cristo devem ser batizados.
A família toda deve ser batizada se estiver preparada para este passo tão
importante, seguindo o exemplo do apóstolo Paulo em Atos 16:33.

Quem deve batizar?

As igrejas aprenderam, pela própria experiência, que o batismo deve ser


protegido. A maioria das igrejas, portanto, requerem que o batismo seja feito
pelo pastor que examina as pessoas que desejam ser batizadas, preocupando-
se com a sua fé e seu compromisso com cristo.

Como e onde devem ser feitos os batismos?

1. Os batismos devem ser feitos em lugares onde as pessoas a serem


batizadas possam oferecer um testemunho a todos
2. Devem ser feitos com água sobre a cabeça ou em imersão num rio,
lago ou mar, como um sinal de estarem lavando os pecados com o
sangue de Cristo, e começando uma nova vida nele.

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3. Devem ser proclamados em nome do Deus trino, Pai, Filho e Espírito
Santo.
4. Devem ser acompanhados da leitura das Escrituras e da pregação do
evangelho.

As mudanças que o Batismo representa

As pessoas que são batizadas entram num relacionamento novo e eterno


com o Deus trino, Pai, Filho e Espírito Santo. O batismo significa o fim da antiga
vida de pecados e o começo de uma nova vida de amor e obediência a Deus. A
Bíblia diz, em Romanos 6:1-4,

Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para seja a


graça mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos
ainda nos pecado, nós os que para ele morremos? Ou,
porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em
Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, pois,
sepultados com ele na morte, pelo batismo; para que, como
Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai,
assim também andemos nós em novidade de vida.

5O PASSO – ORGANIZAR UMA IGREJA

A igreja, como a vemos na terra, é o Corpo de Cristo organizado em


assembléias locais de crentes e seus filhos.
Não devemos deixar novos crentes isolados de outros cristãos se
seguirmos os ensinamentos e exemplos dos apóstolos. Devemos reuni-los em
congregações, sempre que possível. Congregações de fé, comunhão e serviço
a Deus, que são geralmente chamadas de “igrejas”.

Quem deve se tornar membro da igreja?

1. Todos que professarem a fé em Jesus Cristo como Salvador e Senhor


serão batizados no nome do Trino Deus.
2. Todos que concordarem com as doutrinas básicas da Bíblia acerca de
Deus, da Salvação e da vida cristã, nas quais a igreja foi estabelecida.
3. Os fiéis que vêm através de outras igrejas cristãs e cumprem os
requisitos dados acima.
139
4. As famílias crentes que forem batizadas. É maravilhoso ver como
Deus trabalha de uma geração a outra. O que Deus prometeu a
Abraão, o pai de todos os fiéis (Romanos 4:11), permanece
verdadeiro.

Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua


descendência no decurso das suas gerações, aliança
perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência (Gênesis
17:7)

Características de uma igreja forte e sadia

1. A Palavra de Deus, a Bíblia, é pregada regularmente e os membros


vêm, fielmente, receber suas instruções.
2. O batismo e a Santa Ceia são administrados regularmente, com
instruções sobre seu significado na Palavra de Deus.
3. Os membros da igreja vivem de acordo com a Palavra de Deus. Se
alguns deles, todavia, se afastam do caminho da verdade e justiça, os
outros membros apelam para que se arrependam e mudem seus
caminhos. Se aqueles se recusam, são removidos da igreja.
4. A oração é uma parte vital da igreja e de seus membros. Há mais
escritos sobre a oração do que a pregação no Novo Testamento!
5. A igreja é ativa no evangelismo e continuamente ganha novas
pessoas para Cristo. Os membros começam novos estudos bíblicos e
repetem o processo de iniciar novas congregações.
6. A misericórdia para com os pobres é demonstrada, primeiros aos que
são crentes e também aos não crentes.
7. Os membros da igreja brilham como luzeiros do Reino de Deus. Eles
dão glória a Deus ao se oporem ao mal e promoverem o que é bom.
Defendem a verdade e promovem a justiça, mesmo que isso custe
sacrifico ou perseguição.

6O PASSO – PROVER PARA A VIDA E O CRESCIMENTO DA IGREJA

Não basta reunir novos fiéis e organizar igrejas. Cristo quer que elas
cresçam na fé, no amor e serviço, tanto quanto em número. Os líderes devem
dar atenção especial para o seguinte:

140
1. Adoração

Jesus disse que seu Pai Celestial quer ser adorado “em espírito e em
verdade” (João 4:23). Isto significa que a nossa adoração deve vir dos
nossos corações e ser de acordo com a Palavra da verdade, a Bíblia.
Os elementos da adoração Cristã são os seguintes:
 Cantar salmos, hinos e cânticos espirituais;
 Orar, ambos individual e comunitariamente;
 Ler e receber instrução da Palavra de Deus;
 Dar dízimos e ofertas;
 Expressar unidade e fé (algumas igrejas recitam o credo
apostólico, em uníssono);
 Dar e receber a bênção de Deus.

2. A Sagrada Comunhão

Celebre a Santa Ceia, pelo menos, quatro vezes ao ano para fortificar
a fé dos membros. 1 Coríntios 11:23-34 dá instruções sobre como a Santa
Ceia deve ser observada.

3. Santidade

Estimule os membros a viverem vidas santas, através da pregação e


ensinamento da Palavra de Deus, oração e advertências sobre o pecado e
as “artimanhas de Satanás” (Efésios 6:11).

4. Disciplina

Se os membros caírem em pecado, mostre-lhes seu erro a partir das


Escrituras, ore com eles e insista para que se arrependam e sigam a Cristo
em justiça e verdade. Se eles se recusarem, afaste-os para que o nome de
Cristo não seja desonrado, ou os outros membros sejam tentados a
abandonarem a fé e desobedecerem a Deus.

5. Educação

Ensine as crianças, os jovens e os adultos a Palavra de Deus em


classes, literaturas, vídeos e muitos outros meios que possam edificar sua fé
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e seu conhecimento. Encoraje-os a compartilharem com outros o que têm
aprendido.

6. Ofertas

Encoraje os membros a serem generosos para com os pobres.


Levante ofertas, semanalmente, para o suporte de pastores e evangelistas
que abandonaram os seus empregos seculares a fim de servirem ao
Senhor. As ofertas são expressão da gratidão a Deus pela sua misericórdia
para conosco.

7. Evangelismo

Convide as pessoas que ainda não são cristãs a atenderem aos cultos
de adoração e ouvirem o evangelho. Trabalhe para o crescimento de igrejas
através da conversão de mais e mais novas pessoas. Multiplique o número
dos estudos Bíblicos em vários lugares e ajude-os até que se tornem
congregações, e igrejas.

8. Líderes

Treine diversos tipos de líderes, seguindo o exemplo dos apóstolos no


Novo Testamento.
1. Líderes que trabalham, principalmente, entre os membros da igreja,
explicando a Bíblia, visitando os lares, orando pelos doentes, ensinando
as crianças e os jovens e cuidando do bem-estar espiritual dos membros
são chamados de anciãos, na Bíblia (Atos 14:23; 1Timóteo 3:1-7; 5:17-
20; Tito 1:5-9).
2. Certos anciãos podem ser escolhidos para serem chamados de pastores
por demonstrarem dons espirituais necessários para liderar e fortificar a
igreja (Atos 20:28; Efésios 4:11-12).
3. Diáconos são líderes que servem à igreja de diversas maneiras,
especialmente recebendo as ofertas e servindo as mesas dos pobres. A
qualidades espirituais e morais esperadas dos diáconos, bem como dos
anciãos, são ensinadas em 1 Timóteo 3:1-13.
4. As igrejas necessitam de evangelistas para proclamarem o evangelho
àqueles que não são ainda cristãos (Efésios 4:11). Os evangelistas que

142
são enviados para lugares distantes são chamados de missionários, o
que significa “pessoas que são enviadas”.

Faça do treinamento de líderes locais uma prioridade.

1. Estude Atos 20:17-38, a história de como o apóstolo Paulo estabeleceu a


igreja em Éfeso. O treinamento dos líderes locais foi uma prioridade para
o apóstolo Paulo.
2. Reconheça que, para que as igrejas sejam fortes e sadias, são
necessários líderes chamados por Deus, dotados pelo espírito Santo,
respeitados pela comunidade pela sua vida moral irrepreensível, e
comprometidos com o serviço ao Senhor e sua igreja.
3. O treinamento é um processo. No começo, apenas os evangelistas
sabem o que é verdadeiro e certo, e o que deve ser feito. Neste ponto,
eles devem tomar todas as decisões e fazer de tudo. Gradualmente, as
coisas vão mudando de figura, à medida que certos membros aceitam
responsabilidades e aprendem a conduzir bem os diversos ministérios da
igreja. O processo é completo quando um grupo de pessoas locais
conhece o que é a verdade, e o que deve ser feito, e, se compromete
com o serviço do Senhor e sua igreja.

Quanto tempo ficar e quando sair

1. Ninguém pode predizer, precisamente, quanto tempo este


processo requer. Ore para que líderes locais que sejam
competentes (que sabem o que a igreja necessita deles) e
comprometidos (que desejam servir fiel e sacrificialmente)
apareçam logo. As igrejas permanecem dependentes e imaturas e
caem facilmente em sérios problemas sem líderes locais
competentes e comprometidos. Os plantadores de igrejas
necessitam ficar até que líderes locais ocupem seu lugar.
2. Lembre-se de que, quando os líderes locais estiverem prontos
para assumir responsabilidades, você deve sair do caminho e
deixá-los liderar sozinhos. Evite o erro de tentar permanecer no
controle. Pelo contrário, assim como o apóstolo Paulo, coloque-os
nas mãos de Deus e siga em frente.

9. Relações entre as igrejas


143
Tente estabelecer relações com outras igrejas que ensinam e adoram do
mesmo modo. As igrejas necessitam umas das outras para encorajamento e
assistência mútua, e, algumas vezes, para correção. O isolamento pode ser
tão perigoso para a igreja quanto para cada indivíduo.

10. Construções

Uma casa pode ser útil quando o número de membros é ainda pequeno.
Você necessitará, porém, de um lugar mais amplo à medida que este
número crescer. Tente conseguir um lugar que seja adequado para os
cultos de adoração, para os ensinos bíblicos e a comunhão. A igreja não é o
prédio, mas este é importante para a igreja administrar seus ministérios.

11. Oração

Torne cada igreja que você iniciar uma comunidade de oração e


intercessão. Torne os grupos de estudos bíblicos centros de oração. Ore
pelos líderes e pelos membros. Ore pelos fortes e fracos. Ore pelos
evangelistas e missionários que pregam o evangelho em outros lugares, Ore
por cada professor que ensina as crianças sobre Cristo.
Lembre-se de que Deus opera, em resposta à oração, coisas que jamais
aconteceriam se as pessoas não orassem. Portanto, pregue o evangelho
com paixão. Torne cada igreja que você começar, como Jesus disse, em
“casas de oração” (Mateus 21:13).

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