Upile Chisala // Eu destilo Melanina e Mel

Por Ryane Leão

Upile Chisala, escritora, socióloga e ativista dos direitos humanos, nasceu e foi
criada em Zomba, no Malawi. Graduada na Universidade de Oxford, mora em
Joanesburgo, na África do Sul. ​Eu destilo melanina e mel ​é seu primeiro livro.

Poemas

E hoje
os seus ossos
acolheram a sua pele
e disseram
“Venha, vamos fazer isso de novo”.

Eu espero que você perdoe

as partes de você que ainda são incertas
quando uma coisa boa te encontrar.
Elas estão se curando.

Talvez este seja todo o começo

de que você precisa,
apesar de mal composto,
feito com mãos nuas,
transmitido muitas e muitas vezes.
Ainda assim é um começo, querida
e você lutou por isso.

Crie o hábito de celebrar a si mesma

da pele à medula dos ossos.
Você é pura magia.

Aí está você
Negra e mulher, e apaixonada por si
mesma.
Você é aterrorizantemente incrível
E eles ficam incrivelmente
aterrorizados.

(E devem ficar mesmo.)

(...)
Amar a mim mesma nunca será um ato de
caridade.

Mais sobre a autora: ​https://www.instagram.com/beingupile/

Livro: ​https://www.amazon.com.br/destilo-melanina-mel-Upile-Chisala/dp/8577346927

Reflexões

A poesia de Upile Chisala me relembra de olhar no espelho e dizer obrigada.

Obrigada ao meu corpo que me fez chegar até aqui. Corpo mágico, capaz de infinitas
sensações, que vai me acompanhar para o resto da vida. Obrigada aos meus olhos por
estarem dispostos a mergulhar em novos cenários. Obrigada ao meu ori (cabeça em
yorubá) por contar e recontar histórias sagradas. Obrigada a minha pele por ter se
permitido resgatar sua identidade e sair de um não-lugar. Obrigada a minha solitude
por me dizer que ainda que seja somente eu restando em alguma narrativa, isso já é o
suficiente. Obrigada aos meus ossos por sua composição ancestral que determina que
nada pode me derrubar por definitivo. O que seus ossos, sua pele e seus poros estão
destilando agora?