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GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ

SECRETARIA DA PROTEÇÃO SOCIAL, JUSTIÇA, CIDADANIA,


MULHERES E DIREITOS HUMANOS - SPS
COORDENADORIA ESPECIAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE
PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL – CEPPIR

PLANO ESTADUAL DE POLÍTICAS DE PROMOÇÃO DA


IGUALDADE RACIAL DO ESTADO DO CEARÁ

FORTALEZA 2022
EXPEDIENTE

Governador do Estado do Ceará


Camilo Sobreira Santana
Secretário Chefe da Casa Civil
Chagas Vieira
Secretário Adjunto Gabinete do Governador
Fernando Matos Santana
Secretária Executiva do Gabinete do Governador
Carmen Silvia de Castro Cavalcante
Secretaria de Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos
Maria do Perpétuo Socorro França Pinto
Coordenadora da Ceppir
Martir Silva (2021- Atual)Maria Zelma de Araújo Madeira (20xx-2021)
Orientadora da Célula de Articulação Regional - Ceppir
Antonia Mendes de Araujo
Orientador da Célula de Programas e Ações Temáticas - Ceppir
José Maria da Silva
Assessoria Técnica Ceppir
Conceição Alves Feitosa
Assessoria Técnica Ceppir
Lucas Mateus Sobrinho
GT de Elaboração do Plano Estadual de Promoção da Igualdade Racial
André Guerra
Adelle de Azvedo
Maria da Conceição Alves Feitosa
Martir Silva
Maria Zelma de Araújo Madeira Rosana Marques Lima
Maria de Lourdes Vieira Ferreira
Madalena
Wanessa Nhayara Maria Pereira Brandão
Paulo Ferreira
SUMÁRIO

Lista de Siglas
1.APRESENTAÇÃO
2. INTRODUÇÃO
3. OBJETIVO E DIRETRIZES
4. DIAGNÓSTICO DAS DESIGUALDADES RACIAIS NO BRASIL E NO CEARÁ

4.1 Povos Indígenas


4.2 População Negra
4.3 Quilombolas
4.4 Ciganos
4.5 Povos de Terreiro
5. EIXOS E PROPOSTAS DO PLANO ESTADUAL DE POLÍTICAS DE PROMOÇÃO
DA IGUALDADE ÉTNICO-RACIAL DO ESTADO DO CEARÁ

5.1. Eixo 1 – Reconhecimento Étnico


5.2. Eixo 2 – Educação
5.3. Eixo 3 – Saúde
5.4. Eixo 4 – Cultura
5.5. Eixo 5 – Justiça, Direitos Humanos e Segurança Pública
5.6. Eixo 6 – Regularização dos Territórios
5.7. Eixo 7 – Desenvolvimento
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

7. ANEXOS
Anexo 1- Relação das Terras Indígenas
Anexo 2- Relação das Comunidades Quilombolas certificadas pela FCP
Anexo 3- Relação das Comunidades Quilombolas mapeadas pela CEQUIRCE
Anexo 4- Relação dos Terreiros de Candomblé
Lista de Tabelas
Tabela 1. População total e respectiva distribuição percentual, por cor ou raça, segundo as 13
Grandes Regiões, as Unidades da Federação e Regiões Metropolitanas – 2009.
Tabela 2. Comunidades Quilombolas Certificadas no Ceará 19
Tabela 3. Povos indígenas organizados no Estado do Ceará, por território. 20
Tabela 4. Marco Legal da Política de Promoção da Igualdade Racial. 28
Tabela 5. Marco legal – Povos e Comunidades Tradicionais 30

Tabela 6. Relação dos encontros de capacitação profissional para atuação 35


na política de igualdade étnico-racial
Tabela 7. Seminários de criação do Conselho Estadual de Políticas Públicas para a promoção 37
da igualdade racial
Tabela 8. Conferência Estadual para reelaboração do Plano Estadual de Políticas Públicas 37
para Promoção da Igualdade Racial
Tabela 9. Propostas políticas do Eixo 1 – Trabalho e desenvolvimento econômico 40
Tabela 10. Propostas políticas do Eixo 2 – Educação 43
Tabela 11. Propostas políticas do Eixo 3 – Saúde 46
Tabela 12. Propostas políticas do Eixo 4 – Diversidade cultural 48
Tabela 13. Propostas políticas do Eixo 5 –Direitos humanos e segurança pública 49
Tabela 14. Propostas políticas do Eixo 6 – Comunidades remanescentes de quilombos 51
Tabela 15 – Propostas políticas do Eixo 7 – Povos indígenas 52
Tabela 16 – Propostas políticas do Eixo 8 – Comunidades tradicionais de terreiros 55
Tabela 17 – Proposta política do Eixo 9 – Política internacional 56
Tabela 18 – Propostas políticas do Eixo 10 – Desenvolvimento social e segurança alimentar 57
Tabela 19 – Propostas políticas do Eixo 11 – Infraestrutura 59
Tabela 20 – Propostas políticas do Eixo 12 – Juventude 61
http://www.sepromi.ba.gov.br/arquivos/File/planodecadaafrodescendente.pdf
LISTA DE SIGLAS

SIGLAS
ADCT Ato das Disposições Constitucionais Transitórias

AGU Advocacia Geral da União


ASPRECCEC Associação de Preservação da Cultura Cigana do
Estado do Ceará
CEQUIRCE Coordenação Estadual das
Comunidades Quilombolas do Ceará
CEPPIR Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para a
Promoção da Igualdade Racial

CNPIR Conselho Nacional de Políticas de Igualdade Racial

COEPIR Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial

CONAQ Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades


Negras Rurais Quilombolas

COPHC Coordenadoria do Patrimônio Histórico e Cultural


(SECULT)
CPLP Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

CPSB Coordenadoria de Proteção Social Básica (SPS)

CRAS Centro de Referência e Assistência Social

CRQ Comunidades Remanescente de Quilombos

CTR Célula de Transferência de Renda(CPSB/SPS)

DSEI Distrito Sanitário Especial Indígena


FCP Fundação Cultural Palmares
FEPOINCE Federação dos povos indígenas no Ceará

FIPIR Fórum Intergovernamental de Promoção da Igualdade


Racial
FUNASA Fundação Nacional de Saúde
FUNDEB Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação
GABGOV Gabinete do Governador
GPTE Grupos Populacionais Tradicionais e Específicos

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICB Instituto Cigano do Brasil


INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

IPECE Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará

IVJ Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência

NEAB Núcleo de Estudos Afro-brasileiros


NUAFRO Laboratório de Estudos e Pesquisas em Afrobrasilidade,
Gênero e Família

OIT Organização Internacional do Trabalho

ONG’s Organizações não Governamentais


ONU Organização das Nações Unidas
PBF
Programa Bolsa Família

PCT
Povos e Comunidades Tradicionais

PNAD C
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua

PNPCT Política Nacional de Desenvolvimento


Sustentável dos
Povos e Comunidades Tradicionais
RMF Região Metropolitana de Fortaleza
SAGI Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação

SAP Secretaria de Administração Penitenciária

SAS Secretaria de Ação Social


SECULT Secretaria da Cultura
SEDUC Secretaria da Educação
SEPLAG Secretaria do Planejamento e Gestão
SEPPIR Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial
SESA Secretaria da Saúde
SESC Serviço Social do Comércio
SESAI Secretaria Especial de Saúde Indígena

SPAECE Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do


Ceará
SPS Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e
Direitos Humanos

SSPDS Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado


do Ceará
STF Supremo Tribunal Federal
SUS Sistema Único de Saúde
TCC Trabalho de Conclusão de Curso
UECUM União Espírita Cearense de Umbanda

UFC Universidade Federal do Ceará


UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura
UNILAB Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-
Brasileira
1 – APRESENTAÇÃO

O Plano Estadual de Promoção da Igualdade Racial do Ceará surge de um


trabalho conjunto entre a CEPPIR/SPS e o COEPPIR, por meio de uma Câmara temática
cuja missão foi consolidar informações sobre os grupos étnicos indígenas, população
negra, povos e comunidades tradicionais quilombolas, ciganos e de terreiro, necessárias e
relevantes para subsidiar a execução das políticas públicas de promoção da igualdade
racial e de combate ao racismo no período de 2020- 2030. Vale lembrar que coaduna com
a Década Internacional dos Afrodescendentes (2015-2024) proclamada pela Assembleia
Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), estruturada a partir de três eixos -
reconhecimento, justiça e desenvolvimento.

Compreende-se que a garantia da igualdade racial conta como desafio a


efetividade da intersetorialidade e transversalidade das políticas públicas na máquina
estatal. Portanto, o êxito desse Plano está em articular e integrar as ações de Governo que
tenham relação com a promoção da igualdade racial e as já previstas em instrumentos
normativos vigentes.

O objetivo geral do Plano Estadual de Promoção da Igualdade Racial é superar


o racismo inscritos nas persistentes desigualdades raciais e nas práticas cotidianas de
discriminação racial presente na sociedade cearense. Para o Estatuto da Igualdade Racial
(Lei 12.288 de 20 de julho de 2010) a discriminação racial ou étnico-racial é toda
distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou
origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento,
gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades
fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro
campo da vida pública ou privada.

A partir da consolidação desse marco legal da política de Igualdade racial


efetiva-se um compromisso político institucional com exercício de identificar e atender as
demandas apresentadas pelo público estratégico beneficiário da política, que é
majoritariamente de pobres e negros/as, cabendo a construção de medidas de superação
da pobreza atrelada ao combate ao racismo.
Torna-se fundamental o fortalecimento institucional das organizações, sejam
elas dos segmentos da sociedade civil ou do Poder Executivo na promoção de acesso e
oportunidade ao reconhecimento étnico racial, à educação, à saúde, ao trabalho, ao
emprego e renda, à Justiça, aos Direitos Humanos e à Segurança Pública, regularização
dos territórios, valorização da cultura e ao modelo de desenvolvimento.

SECRETARIA DE PROTEÇÃO SOCIAL, JUSTIÇA, CIDADANIA, MULHERES


E DIREITOS HUMANOS -SPS
2- INTRODUÇÃO

“[...] o racismo é uma desumanização e uma negação da


humanidade do outro, uma destruição muito profunda, que a
mobilidade social não resolve.”

(Munanga, 2008)

O Brasil se constitui como país pluriétnico. Muitas são as contribuições dos


diferentes grupos étnicos para a consolidação do país como nação, a saber: povos
originários indígenas, população negra, povos e comunidades tradicionais como
remanescentes de quilombos, povos de terreiro de matriz africana e afro-brasileira e
ciganos. A identificação de tais povos está prevista no decreto 60.040/2017, incluindo os
pescadores artesanais e marisqueiras. Para fins de formulação, execução, monitoramento
e avaliação de políticas públicas voltadas ao enfrentamento das desigualdades raciais se
faz necessário compreender os processos que resultaram na exclusão social, na
discriminação racial, a herança e recriação da escravidão, os impactos do racismo
estrutural e a necessidade de revelar as diversas composições étnicas em todas as regiões
do Brasil.
Torna-se relevante a implementação de ações que promovam a Igualdade
Racial. Contudo foi somente a partir do governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-
2003) que o Estado brasileiro reconheceu, institucionalmente, a existência da
desigualdade etnicorracial e, então, criou o Grupo de Trabalho Interministerial pela
Valorização da População Negra. “O combate ao racismo transcendeu da denúncia para o
reconhecimento de sua existência e, finalmente, para ser incluído na dimensão
institucional das políticas públicas” (OLIVEIRA, 2016, p. 32).
Para Madeira (2020) a formulação e prática dessas políticas ganharam maior
espaço e força a partir dos anos 2000, com o início do Governo Luiz Inácio Lula da
Silva. Em 2003, foi criada a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial (SEPPIR), com status de Ministério e tendo como objetivo formular e coordenar
políticas e articular ações do governo federal de combate à discriminação e à
desigualdade racial. Foram criados, ainda, o Conselho Nacional de Promoção da
Igualdade Racial (CNPIR) e o Fórum Intergovernamental de Promoção da Igualdade
Racial (FIPIR). Passaram a ser realizadas as Conferências Nacionais de Promoção da
Igualdade Racial, tendo ocorrido a primeira em 2005 e a segunda em junho de 2009. A
terceira ocorreu em 2013 e a quarta em maio de 2018 (JACCOUD, 2009).
O Governo do Estado do Ceará criou, em 2010, a Coordenadoria Especial de
Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial (CEPPIR), tendo sua
estruturação se efetivado no ano de 2011. Dentre as competências da CEPPIR, destacam-
se inicialmente: assessorar a direção e gerência superior do Gabinete do Governador em
assuntos relacionados às políticas para a promoção da igualdade racial; coordenar a
formulação e implementação de políticas públicas e de diretrizes para a promoção da
igualdade racial no estado do Ceará; articular ações governamentais de enfrentamento e
combate à discriminação racial de indivíduos e grupos étnicos, com ênfase na população
negra, nas comunidades quilombolas, indígenas, povos de terreiro (religiões de matriz
africana e afro-brasileira), ciganos e demais comunidades tradicionais, entre outras. A
Coordenadoria esteve até o final de 2018 vinculada à estrutura do Gabinete do
Governador do Estado do Ceará. Com a reforma administrativa, atualmente faz parte da
estrutura da Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos
Humanos- SPS (MADEIRA, 2020:p.158).
Entre as responsabilidades da CEPPIR/SPS tem-se a elaboração do Plano
Estadual de Promoção de Igualdade Racial cujo objetivo é atender as demandas dos
grupos etnicamente discriminados no Ceará, sistematizando as propostas apresentadas
nos espaços de fortalecimento da esfera pública, como as Conferências Estaduais de
Promoção da Igualdade Racial (2005, 2009, 2013 e 2017), momento de encontros dos
movimentos sociais e representações políticas dos povos indígenas, dos movimentos
negros, quilombola, de povos de terreiro e de ciganos.
Inclui-se ainda neste processo de diagnóstico e apresentação de propostas para
as Políticas Públicas para Promoção da Igualdade Racial, a implantação do Conselho
Estadual de Promoção da Igualdade Racial – COEPIR, criado pela Lei Nº15.953, de 14
de janeiro de 2016. O mesmo está na sua terceira composição e constituiu em 2018,
durante a segunda gestão, uma Câmara Temática para revisar e atualizar a proposta
anterior de Plano Estadual de Igualdade Racial do Ceará, com observância para as
demandas apresentadas pelos segmentos sociais que são impactados pelo preconceito,
discriminação racial e racismo na realidade cearense. Esse trabalho deu continuidade
com a nova composição do conselho do biênio 2021-2023, a partir de sua posse (junho
de 2021), formando uma nova composição da câmara temática.
O I Plano Estadual de Promoção de Igualdade Racial formaliza o
compromisso do Governo do Estado do Ceará com a implementação de políticas públicas
que enfrentem as desigualdades raciais no nosso Estado, com vistas a uma sociedade
diversa, transmulticultural e plural em termos étnico-raciais, comprometida com a
igualdade e justiça racial.
No Ceará, de acordo com a PNAD Contínua (IBGE, 2019), a população por
cor ou raça está assim distribuída do total de 9.129.378 milhões: 2.483.721 milhões se
autoafirmam brancos (27,21%); 536.594 mil, pretos (5,88%); e 6.038.557 milhões,
pardos (66,14%), 43.143 mil indígenas(0,47%) e 27.363 amarela (0,3%) (IBGE, 2019).
A população negra (somatório de pretos e pardos) totaliza 72,02%.
Segundo o Atlas da Violência 2018, os jovens negros estão entre as maiores
vítimas de mortes violentas. Sete em cada dez vítimas são negras, a maioria jovens e do
sexo masculino. Estes jovens têm se deparado cotidianamente com a herança do
escravismo, convivendo com o peso da “criminalidade” como particularidade nacional,
suas condutas identificadas como delituosas. São frequentes as narrativas que os colocam
numa condição de inferioridade como pretos, pobres e de periferia.
Conforme dados de relatório divulgado pela Secretaria Nacional de Juventude
em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (Unesco) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Ceará ocupa a segunda
posição do Brasil quando avaliados todos os componentes do Índice de Vulnerabilidade
Juvenil à Violência (IVJ) de 2017, que levam em consideração pobreza, taxa de
mortalidade e homicídio, frequência escolar e situação de emprego e está entre os 12
estados com alta vulnerabilidade. Quando avaliados apenas os riscos relativos de
homicídios entre negros e brancos, o estado é o sétimo do País e o segundo do Nordeste.
No Brasil, aponta IVJ, jovens negros têm 2,71 mais chances de serem assassinados do
que jovens brancos no país.
Portanto, faz-se necessária a garantia das políticas públicas de caráter
universal, e as específicas para a Igualdade Raciais voltadas para redução das enormes
desigualdades raciais e sociais. O combate às desigualdades raciais e ao racismo com
intervenção direta nas instituições para garantir a presença de grupos socialmente
discriminados, bem como possibilitar sua participação na busca de uma sociedade
democrática, em que haja igualdade de acesso aos recursos e de oportunidades à
população que se encontra em posição de desvantagens econômicas e sociais. É possível
verificar que no Ceará os indicadores sociais e econômicos têm revelado vulnerabilidade,
desigualdades socio raciais, e as recorrentes práticas do racismo.

3 – METODOLOGIA

A partir da atuação do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial


(COEPIR) do Estado do Ceará, como instância de controle social da política de Igualdade
Racial, considerou-se oportuno formalizar um grupo de trabalho, pela via de comissão
temática que se encarregaria de produzir esse documento. Desde a segundo gestão do
Conselho em 2018, foi formada uma Câmara Temática para revisar e atualizar a proposta
anterior de Plano Estadual de Igualdade Racial do Ceará, com observância para as
demandas apresentadas pelos segmentos sociais que são impactados pelo preconceito,
discriminação racial e racismo na realidade cearense. Esse trabalho deu continuidade com
a nova composição do conselho do biênio 2021-2023, a partir de sua posse (junho de
2021), formando uma nova composição da câmara temática.
Este documento está dividido da seguinte forma: a primeira parte inicial
introdutória em que se apresenta a política de promoção da igualdade racial,
contextualizando-a, a segunda refere-se à metodologia adotada pelo Grupo de Trabalho, a
terceira parte contém a descrição dos objetivos e das diretrizes do Plano, na quarta parte
está contido o diagnóstico da situação dos grupos étnicos contemplado pela política de
Igualdade Racial, de modo que seja possível ilustrar as condições sociais e econômicas
que caracteriza cada segmento populacional por meio de dados demográficos, e, por fim,
a quinta parte diz respeito aos eixos de demandas apresentadas nos eventos de
participação e controle social como conferências nacionais e estaduais, fóruns, seminários
temáticos e reuniões do COEPIR. Nos eixos, são apresentados os indicadores sociais
acompanhados das proposições da política.
Os dados dos diagnósticos aqui apresentados foram adquiridos por uma ampla
revisão bibliográfica de material produzido pelo Governo do Estado do Ceará e suas
secretarias, pesquisadores e pesquisadoras e pelo próprio movimento de indígenas,
quilombolas, ciganos, comunidade africana e povos de terreiro.

4. OBJETIVOS E DIRETRIZES

4.1 - Objetivos
– Promover a igualdade racial e o enfrentamento às desigualdades sociais resultantes do
racismo, inclusive mediante adoção de ações afirmativas;
– Articular planos, ações e mecanismos voltados à promoção da igualdade racial;
– Garantir a eficácia dos meios e dos instrumentos criados para a implementação das
ações afirmativas e o cumprimento das metas a serem estabelecidas;
– Formular políticas destinadas a enfrentar os fatores que vulnerabilizam, bem como
estimular a promoção da participação social da população negra, e demais povos e
comunidades tradicionais.
– Garantir a participação social e democrática no âmbito das políticas públicas de
promoção da igualdade racial.

4.2- DIRETRIZES

Transversalidade e Interinstitucionalidade
Pressupõe que o combate às desigualdades raciais e a promoção da igualdade
racial passam a constar como necessidades, portanto, em condições de serem inseridas no
conjunto das políticas de Governo do Estado do Ceará. As ações empreendidas terão a
função de sustentar a formulação, a execução, a avaliação e o monitoramento da política de
promoção de igualdade racial, de modo que as áreas de interesse imediato sejam
permeadas com o intuito de eliminar as desvantagens de base existentes entre os grupos
raciais, agindo sempre em parceria com outros órgãos do Governo Federal e Estadual.
Descentralização
Articulação entre Estado e Municípios para o combate à marginalização e
para a promoção da participação social dos setores desfavorecidos. As ações buscam
a constituição de redes de apoio político, técnico e logístico para que experiências de
promoção da igualdade racial obtenham resultados exitosos, visando a planejamento,
execução, avaliação e capacitação dos agentes da esfera estadual ou municipal para
gerir as políticas de promoção da igualdade racial.

Gestão Democrática

Propicia que as instituições da sociedade assumam papel ativo, protagonista na


formulação, implementação e monitoramento da política de promoção da igualdade racial
e estimula as organizações da sociedade civil na ampliação da participação popular sobre a
importância das ações afirmativas, de modo a criar sólida base de apoio social. Evidencia-
se que para dar resposta às necessidades da população em todas as suas dimensões, deve-
se considerar, na formulação das políticas públicas, a existência das desigualdades de
gênero, raça e etnia como fatores que geram discriminações e exclusões em nossa
sociedade.

Autoidentificação e autoreconhecimento

Para garantir a formulação e a efetivação de políticas públicas específicas,


garante-se o direito a autoidentificação aos povos indígenas com base na Organização
Internacional do Trabalho 169 (OIT 169), ou seja, nenhum Governo (Municipal, Estadual
e Federal), nenhuma pessoa física ou pessoa jurídica ou grupo social tem o direito de
negar a identidade a um povo indígena como tal ele se reconhece.

Para os Quilombolas, o autoreconhecimento

5- DIAGNÓSTICO DAS DESIGUALDADES RACIAIS NO BRASIL E NO CEARÁ

Diferentemente do que se possa supor, a demanda de informação racial não


traz a apartação. O preenchimento dos formulários de pertença racial, cor/raça de políticas
públicas é de grande valia para a formulação, execução, avaliação e monitoramento das
ações públicas que visam identificar os sujeitos sociais e suas demandas. A raça, em termo
social e político, é um fator relevante na promoção de direitos, na política de
reconhecimento e revalorização das identidades etnicorraciais. Pode permitir que as
pessoas se enxerguem na sua diversidade.

5.1 - POVOS INDÍGENAS


Por muito tempo, no Estado do Ceará, proliferou-se um discurso de ausência
de povos indígenas. De acordo com a análise da antropóloga Isabelle B. P. Silva (2009),
em 1863, no Ceará, por meio de um relatório provincial, foi declarado oficialmente à
extinção dos índios na província, impondo a eles o silenciamento étnico. A negação de
povos originários, em termos oficiais, só foi reparada com a sanção da Lei 17.165 em 02
de janeiro de 2020, que reconheceu as etnias existentes no Ceará e declarou a inestimável
contribuição da cultura indígena para a formação da sociedade cearense.
Atualmente, o estado do Ceará conta com 15 povos distribuídos em mais de 18
municípios. Segundo dados do Distrito Sanitário Especial Indígena da Secretaria Especial
de Saúde Indígena – DSEI CE, o Estado do Ceará tem uma população de
aproximadamente 35.220 indígenas cadastrados(as) e atendidos pela instituição. O número
de pessoas autoidentificadas como indígenas pode ser superior uma vez que há os que
vivem em áreas urbanas fora do território e outros que não recebem o atendimento
específico da saúde indígena.
Distribuídos em 15 etnias, estes povos ocuparam o interior cearense como
forma de resistência ao verdadeiro genocídio praticado pelos colonizadores, silenciando
suas existências durante muitos anos para evitar tais perseguições e voltando a reivindicar
seus direitos na década de 80, quando se insurgiram na luta, respectivamente, os povos
Tapeba, Tremembé, Pitaguary e Jenipapo Kanindé.
Toda a luta destes povos foi reconhecida pela Constituição Federal, que
garantiu no seu artigo 231 que “são reconhecidos aos índios sua organização social,
costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar
todos os seus bens”.
Nos parágrafos deste mesmo artigo, garantiu ainda a posse permanente das
terras indígenas tradicionalmente ocupadas, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das
riquezas do solo, dos rios e dos lagos, ao contrário do que alguns governantes e
latifundiários defendem atualmente, ao tentar regulamentar a mineração nas terras
indígenas, vendendo a ideia como uma promessa de progresso e bem-estar para estas
populações.
No Ceará, vários conflitos com posseiros são relatados pelas lideranças, alguns
inclusive já foram judicializados, impedindo o andamento dos procedimentos
administrativos de demarcação, os quais já são morosos naturalmente. Depois de tantos
anos de luta, os povos indígenas só conseguiram concluir um procedimento, qual seja o da
Terra Indígena Tremembé Córrego João Pereira, e acumulam decepções com a não
conclusão de 17 outros procedimentos em curso na Fundação Nacional do Índio (FUNAI)
e outros que sequer deram início aos primeiros trabalhos de identificação destas áreas.
Boa parte das terras indígenas reivindicadas são áreas preservadas e
conservadas que abrigam uma diversidade de plantas e animais em diferentes
ecossistemas. Essas áreas mantém esse status devido à relação dos povos indígenas com a
natureza que interagem a partir da ancestralidade e do saber cultural e ambiental, diferente
de outros que aplicam o capitalismo desenvolvimentista e exploratório.
No Brasil, o decreto de Nº 7.747 de 5 de junho de 2012, instituiu a Política
Nacional de Gestão Territorial e Ambiental (PNGATI), estabelecendo diretrizes e
objetivos para:

“(...) garantir e promover a proteção, a recuperação, a conservação e o uso


sustentável dos recursos naturais das terras e territórios indígenas, assegurando a
integridade do patrimônio indígena, a melhoria da qualidade de vida e as
condições plenas de reprodução física e cultural das atuais e futuras gerações dos
povos indígenas, respeitando sua autonomia sociocultural, nos termos da
legislação vigente” (BRASIL, 2012).

No Estado, não há uma política ambiental que promovam a gestão e proteção


ambiental e territorial das Terras Indígenas cearenses, ficando a cargo da Funai e dos
próprios indígenas a gestão e fiscalização de seus territórios contra os posseiros e invasores
que destroem e agridem o meio ambiente.
No Ceará, os povos indígenas o usufruem do território de forma sustentável,
permitindo a manutenção das culturas alimentares e de hábitos como a caça, a pesca e a
coleta de frutas. As culturas de milho, feijão e mandioca são as mais comuns nos
territórios, ora por áreas de plantio coletivo ou em áreas individualizadas em quintais
produtivos. É da natureza que muitos retiram a matéria prima para a fabricação e
confecção de artesanatos. Os/as artesãos/as indígenas fabricam brincos, colares, cocares e
vestimentas com penas, sementes e fibras. No litoral, alguns artesanatos são feitos com
búzios e fibra de coco. Há artesãos e artesãs que são especialista na fabricação de peças de
argila.
Importante dizer que Segundo Relatório de junho de 2020 sobre o Programa
Bolsa Família e Cadastro Único, no Ceará, estão cadastradas 5.224 famílias indígenas com
baixa renda, destas 3.688 são beneficiárias do Programa Bolsa Família.
No entanto, a conquista legislativa trazida pela Constituição Federal está
correndo risco, haja vista que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) ação que julgará
a constitucionalidade ou não do Parecer nº 001/2017, publicada pela Advocacia Geral da
União (AGU), ainda durante o Governo de Michel Temer, que levanta a tese do marco
temporal, segundo a qual só seria considerada terra tradicionalmente ocupada por
indígenas, aquelas que estivessem definitivamente ocupadas pelos povos originários até a
data da promulgação da Constituição Federal de 1988, desconsiderando a expulsão destes
povos de seus territórios e toda a violência sofrida até os dias atuais.
Com relação à Educação Escolar Indígena, a mesma é assegurada pela
Constituição Federal Brasileira de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei 9.394/96) que assegura às comunidades indígenas o direito à educação
diferenciada, específica e bilíngue.
A Secretaria de Educação do Estado do Ceará vem desde a década de noventa
desenvolvendo ações voltadas para a população indígena, construindo e mantendo escolas
diferenciadas, que atendam às demandas culturais e sociais dos povos indígenas do Estado.
A implantação de escolas em terras indígenas é uma reivindicação das próprias
comunidades indígenas e por essa razão o governo tanto Federal quanto Estadual tem dado
atenção especial à formação de professores indígenas por entender ser essa uma condição
para uma educação intercultural de qualidade.
Com esse objetivo em 2003 foi criado o núcleo escolar indígena do Ceará, o
Núcleo Gestor, composto de diretor, coordenador pedagógico e secretário, escolhidos pela
própria comunidade e foi ainda instituída a Comissão Interinstitucional de Educação
Escolar Indígena. Em 2004 foram diplomados no Estado 170 professores do Curso
Magistério Indígena e foram certificadas 20 lideranças relativas à educação indígena.
Através de reuniões, encontros e seminários - com a participação de diversas etnias - da
Secretaria de Educação do Estado do Ceará e da Comissão Interinstitucional busca-se
atender aos anseios da comunidade indígena presente no Estado.
O advento do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e
de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), a partir de 2007, tornou
possível o financiamento diferenciado da educação indígena/quilombola oferecida por
estados e/ou municípios. Com os novos critérios de distribuição dos recursos do fundo,
garantiu-se para esta modalidade de ensino, um investimento de R$ 1.110 por aluno/ano,
valor 20% superior ao despendido com os alunos dos anos iniciais do ensino fundamental
urbano. Quatro mil alunos cearenses foram beneficiados no ano de 2007, sendo 2,6 mil
pertencentes à rede estadual de ensino.
O ensino indígena vem crescendo nos últimos anos no Ceará, principalmente
no ensino fundamental e nas escolas estaduais. Cerca de 80% dos alunos estudam em
escolas mantidas pelo Governo do Estado e 73% cursam séries do Ensino Fundamental.
Atualmente, existem 38 escolas indígenas na rede estadual e 4 escolas das redes municipais
de ensino de Maracanaú e Caucaia e uma creche localizada em Itapipoca, distribuídas em
16 municípios: Acaraú, Aquiraz, Aratuba, Canindé, Caucaia, Crateús, Itapipoca, Itarema,
Maracanaú, Monsenhor Tabosa, Novo Oriente, Pacatuba, Poranga, São Benedito, Tamboril
e Quiterianópolis, assegurando uma matrícula de 8240 alunos, distribuídos da educação
infantil ao ensino médio.
Apesar de muitas críticas com problemas estruturais das escolas e com a
ausência de material didático específico e diferenciado, os professores destas escolas são
indígenas escolhidos pela própria comunidade, que passam por uma formação de
professores indígenas para iniciarem suas atividades. O processo de escolha do professor
indígena é fundamental para o reconhecimento e apoio da comunidade e garante o vínculo
cultural e de respeito mútuo. A atual reivindicação dos professores indígenas é a realização
de concurso público específico e diferenciado para a categoria de professor indígena, já
que estes são contratados de forma temporária e estão constantemente ameaçados a não
renovarem seus vínculos com as mudanças de gestão. Segundo informações da
Organização dos Professores Indígenas do Ceará (OPRINCE), de atualmente existem cerca
de 800 professores e professoras indígenas que atuam nas escolas indígenas do estado.
Além disso, foi apontado no Livro Situação dos Povos Indígenas do Ceará
(2019), os seguintes problemas com relação à educação escolar indígena:
 Não adoção de materiais didáticos específicos e diferenciados, que contemplem a
história e a cultura de cada povo;
 Escolas funcionando em estruturas inadequadas;

 Não incorporação da língua Tupi no currículo;

 Não oferta de curso permanente de magistério indígena para a formação dos


professores indígenas;
 Ausência de legislação que determinem claramente termos para a flexibilização do
calendário e das matrizes curriculares das escolas indígenas, adequando-os ao
contexto diferenciado dos povos, etc.

A Secretaria da Educação do Ceará acompanha os resultados de todas as


escolas cearenses, inclusive as localizadas em áreas indígenas, a partir do Sistema
Permanente de Avaliação do Ensino do Ceará – SPAECE. A partir da aplicação de
exames de proficiência pode-se dispor de indicadores de desempenho das escolas e
informações fundamentais para o acompanhamento das atividades escolares e correções
de rumo.
Com relação a saúde indígena, desde agosto de 1999, o Ministério da Saúde,
por intermédio da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), assumiu a responsabilidade de
estruturar o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, articulado com o Sistema Único de
Saúde – SUS.
Em 2010 foi criada a Secretaria de Atenção de Saúde Indígena – SESAI. No
dia 24 de maio de 2010, o presidente da República já havia assinado a Medida Provisória
483, transferindo a competência da saúde indígena para o Ministério da Saúde, por meio da
nova Secretaria Especial de Saúde Indígena.
A execução das ações de atenção básica à saúde indígena são desenvolvidas
pela Secretaria Especial de Saúde Indígena, em especial, pelo Distrito Sanitário Especial de
Saúde Indígena - DSEI que, por sua vez, contratam as equipes multidisciplinares de saúde
indígena compostas por profissionais como médicos, dentistas, auxiliares de enfermagem,
agentes indígenas de saúde e agentes indígenas de saneamento, que recebem treinamento
prévio para saber lidar e melhor conhecer as especificidades dos povos indígenas nas áreas
onde atuarão.
Nos problemas de saúde de mais alta complexidade, as comunidades indígenas
são atendidas em hospitais de referência de municípios próximos ou em Fortaleza e para
tanto contam com sistema de remoção terrestre através de veículo disponibilizado pelos
Distritos Sanitários Especiais Indígenas – DSEI.
A SESAI e o DSEI promovem também campanhas de vacinação, exames de
prevenção contra o câncer de colo uterino, tratamento odontológico e de saúde mental nas
comunidades indígenas.
Atualmente, os povos indígenas sofrem também com o avanço do crime
organizado, através da presença cada vez mais ostensiva de facções criminosas e uma
ausência cada vez maior das forças de segurança pública nas terras indígenas, levando os
criminosos a acreditarem que as terras indígenas não sofrem nenhum tipo de fiscalização e
são garantia de impunidade para o cometimento de crimes. Isto tem gerado ameaça às
principais lideranças, levando a inclusão delas nos programas de proteção, além da
cooptação de jovens indígenas.
Dessa forma, acreditamos que maioria dos problemas que esta população sofre
ocorre em razão da não demarcação das suas terras. Uma vez tendo seu direito à terra
tradicionalmente ocupada garantido, exercerão o usufruto exclusivo de suas riquezas
naturais, os posseiros e possíveis criminosos serão desintrusados e os indígenas poderão
exercer todos os seus direitos em um território livre de qualquer ameaça.

4.2- POPULAÇÃO NEGRA

A população negra no Estado do Ceará atualmente possui grande percentual


populacional, fato contemporâneo que questiona a lógica do discurso naturalizado de que
“no Ceará não há negros”, pois sabemos que não é um fato historiográfico, como
inicialmete aponta o historiador e professor da Universidade Federal do Ceará, Euripedes
Funes (2007, p. 104): “para entender como no cotidiano a identidade do ser negro se
constrói, é necessário perceber, logo de princípio, a significativa presença dos negros,
livres e cativos, no processo histórico cearense”. Fato também importante são as
denúncias escritas pelo Engenheiro André Rebouças, em 1884, que apontavam falhas na
elaboração de dados, que negligenciaram a presença negra no Ceará por meio do
ministério da agricultura e fazenda do império.

Fator não menos importante, é a abolição da escravidão e como se dá esse


processo que para Eurípedes Funes (2007, p. 132) “vem acompanhado de uma série de
medidas controladoras, que colocam esse indivíduo no seu (in) devido lugar, fecha todas
as possibilidades de ascensão social e direitos à cidadania”. Todas essas medidas que
foram tomadas como cita o pesquisador, são legados profundos na sociedade cearense que
precisam ser tomadas como categorias fundante e de aprofundamento das desigualdades
sócio-raciais.

Em 2019, estima-se que o Estado do Ceará tenha apresentado continuidade no


crescimento em seu número de habitantes. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, a taxa de crescimento populacional foi de 0,6%, até junho. Com isso, estima-
se que o Ceará tenha atingido 9,1 milhões de residentes. Dentro deste universo, podem-se
observar as seguintes divisões por faixa etária e racial. Lançando um olhar sobre os dados
conclusivos de 2018 a PNAD C demonstrava um total de 9,073 milhões de pessoas no
Estado. Dessas, 480 mil (5,29%) disseram que se reconhecem pretas. Em Fortaleza e
Região Metropolitana (RMF), foram 254 mil pessoas que se auto afirmaram pretas diante
de um total de 3,936 milhões de habitantes, o que resulta em 6,45% do total. O
documento demonstrou ainda que em 2012 o número de pretos na população cearense era
quase metade do revelado hoje, 253 mil habitantes de Fortaleza e Região Metropolitana
da Grande Fortaleza se autodeclararam pretas, numa população de 8,735 milhões em todo
o Estado. De forma que entre 2012 e 2018 observa-se crescimento na autodeclaração.

Os que se autodeclaram pardos continuam sendo o número majoritário. São


5.962 milhões no Ceará, representando 65,71%; e 2,431 milhões na RMF, representando
61,76%. O número de brancos no Estado é de 2,561 milhões e 1,205 milhão em Fortaleza,
conforme dados referentes a 2018.

Embora os números demonstrem uma maioria de negros (pretos e pardos) no


grupo populacional cearense e também de todo o país - conforme o IBGE (2020) 56,10%
da população brasileira se auto-declarou preta ou parda naquele ano. As desigualdades
fomentadas pelo racismo estrutural são persistentes. É possível observar o abismo social
no mercado de trabalho, na distribuição de rendimentos e condições de moradia,
educação, violência e representação política.

Tratando se ao direito à vida como garantia de cidadania plena temos como


maior índice de desumanização da população negra, a violência e a insegurança pública,
com densidade entre o extermínio e o encarceramento da população negra. Com dados
alarmantes do “atlas da violência de 2021” produzido pelo Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA), que variam entre as taxas de 34% de pessoas negras que
sofreram homicídios por crimes em relação à raça/cor, enquanto que a média no Brasil é
de 29%. Ainda em relação aos índices de homicídios no Ceará em relação ao Brasil, são
identificados no Ceará que a proporção desses homicídios atinge 93% de pessoas negras,
enquanto que a população não negra representa apenas 7% desse percentual (gráficos 6.2;
6.3).

O presidente do Fórum Brasleiro de Segurança Pública, Daniel Cerqueira,


aponta algumas características que compõem o pano de fundo desses altos índices:
a associação de variáveis socioeconômicas e demográficas, que definem um
lugar social mais vulnerável aos negros na hierarquia social e que limitam o seu
acesso e usufruto às condições de vida melhores (CERQUEIRA; MOURA,
2014); a reprodução de estereótipos raciais pelas instituições do sistema de
justiça criminal, sobretudo as polícias, que operam estratégias de policiamento
baseadas em critérios raciais e em preconceitos sociais, tornando a população
negra o alvo preferencial de suas ações

Ainda em relação aos homicídios, cabe enfatizar a enorme variação na


proporção na categoria de gênero, enquanto os índices do Atlas da violência apontam que,
esses casos acontecem: 90% entre mulheres negras e 10% entre mulheres não negras
(gráfico 5.6). Ainda com maior densidade, o extermínio da juventude negra é perceptível
já que a cada grupo de 100 jovens entre 15 a 19 anos 64 são vítimas de homicídios. No
Ceará esses dados concentram a proporção de 99,5% em relação há qualquer outro índice
de homicídios, que nos coloca sempre em risco quanto ao “genocídio da juventude negra”.

A proporcionalidade étnico-racial do desemprego é outro fator que ratifica as


desigualdades que atingem pretos e pardos, a exemplo de dados do último semestre de
2018, em que esses representavam 64,6% dos desempregados. Quanto ao rendimento,
dados do mesmo período (IBGE,2020) demonstrou que o rendimento médio mensal das
pessoas ocupadas brancas foi da ordem de 73,9% superior ao das pessoas pardas e pretas:
R $2.756 contra R $1.608.

Em 2018, mulheres pretas e pardas receberam, em média, menos da metade


dos salários dos homens brancos (44,4%). Enquanto 34,6% das pessoas ocupadas de cor
ou raça branca estavam em ocupações informais, entre as de cor ou raça preta ou parda
esse percentual atingiu 47,3%. Quanto aos cargos gerenciais 68,6% eram ocupados por
brancos e 29,9% ocupados por pretos ou pardos. A distribuição de condições de moradia
foi inferior a US $5,50/dia para 15,4% das pessoas brancas e 32,9% para pretos e pardos.

Com relação a educação, a população negra encontra-se em desvantagem com


relação a população branca, como 17,48% das pessoas negras concluíram o Ensino
Superior comparado a 20,37% da população branca; a taxa de analfabetismo da população
negra chega a ser de 33,57% comparado a 10,42% da população branca. Segundo alguns
dados do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará – IPECE, apresentados
abaixo:

Tabela x – Dados sobre a educação da população cearense, por raça e cor (2019)
Pessoas que concluíram o ensino superior
Cor ou raça %
Branca 20,37
Preta 8,43
Amarela 8,31
Parda 9,05
Indígena 9,62
Taxa de conclusão do ensino médio (%) (população de 19 a 22 anos de idade)
Cor ou raça %
Branca 73,19
Preta 57,94
Amarela 45,25
Parda 64,82
Indígena 49,28
Total 66,26
Taxa de analfabetismo (população de 15 anos ou mais de idade)
Cor ou raça %
Branca 10,42
Preta 19,25
Amarela 18,39
Parda 14,32
Indígena 15,65
Escolaridade média (25 anos ou mais de idade)
Cor ou raça Anos de estudo
Branca 9,3
Preta 7,3
Amarela 7,3
Parda 7,8
Indígena 8,1
Total 8,1
Fonte: PNADC - Suplemento Educação – 2019

No que tange às famílias em situação de vulnerabilidade e inscritas no


Cadastramento Único, o Ceará apresenta um número significativo de famílias em cenários
de pobreza. Segundo o relatório de junho de 2020 sobre o número de famílias inscritas no
CadÚnico e beneficiárias do programa Bolsa Família, o Ceará conta com um total de
1.855.216 famílias cadastradas, destas 1.047.063 são famílias cadastradas com renda per
capita mensal de R$ 0,00 até R$ 89,00; 136.108 famílias cadastradas com renda per capita
mensal entre R$ 89,01 e R$ 178,00; 371.315 famílias cadastradas com renda per capita
mensal entre R$ 178,01 e ½ salário mínimo e 300.730 famílias cadastradas com renda per
capita mensal acima de ½ salário mínimo.
Os dados estatísticos têm elucidado que 71% da extrema pobreza cearense é
negra, o que nos leva a afirmar que as famílias negras buscam sua inscrição no CadÚnico
para acessar benefícios como os programas de transferência de renda. Entre os
beneficiários do programa bolsa família encontram-se os Grupos Populacionais
Tradicionais e Específicos, os Grupos de Origem Étnica como famílias indígenas, famílias
quilombolas, famílias ciganas e famílias pertencentes a Comunidades de Terreiro.
Segundo o IBGE (2018) crianças, jovens e mulheres negras são os mais
afetados pela pobreza. No Nordeste estão 44,8%, isto é, 25,5 milhões de pessoas. Os que
mais sofrem com a pobreza são pretos ou pardos (34,5%). Quando consideramos as
mulheres pretas ou pardas sem cônjuge e com filhos sobe para 64,4% como grupo mais
afetado. Acresce a informalidade que atingiu 37,3 milhões de trabalhadores em 2017 e
pretos ou pardos são maioria entre os trabalhadores informais (46,9%), estes recebem 60%
de um branco que está na mesma situação de informalidade.
Esses dados desmascaram o racismo estrutural e a naturalização das
desigualdades raciais, que fomentam a visão da pobreza como problema de ordem moral e
comportamental, pois estes são acusados de gastarem mal seus recursos, viverem no ócio,
no alcoolismo, na vadiagem, ou seja, são destituídos de ética e de moral para o trabalho e
para a vida social. Essas forças discursivas têm servido para culpabilizar a população
negra por seu “destino” e estereotipá-la como classe perigosa, conformando o traço
histórico da criminalidade mestiça. A pobreza não pode estar desconectada da estrutura
econômica, política e histórica de racismo, guarda relação com a forma de organização da
produção e da exploração do trabalho.
A questão racial é um nó no Brasil. A raça funciona como fator de
classificação dos seres humanos, denotando hierarquias raciais naturalizadas e o racismo
silenciado, que perversamente afeta a vida das pessoas com violência nas relações
interpessoais e institucionais. Historicamente a pauta racial tem sido desprezada pelas
pessoas que tem poder de decisão, pela academia como lugar de produção de
conhecimento, pelos economistas, pela mídia, pelos juristas, pela maioria do parlamento.
As consequências são sistematicamente negadas pela maioria das pessoas, interditando a
denúncia e as formas de superação do racismo estrutural.
Diante do exposto cabe entender que a questão racial sempre esteve no centro
da organização da produção e reprodução da vida, e para propor um novo pacto
civilizatório, baseado no bem viver, cujos princípios seja a igualdade e a democracia
devemos contar com as políticas públicas universais e as específicas de promoção da
igualdade racial, nas dimensões repressiva, valorizativa e afirmativa.
4.3 - QUILOMBOLAS

A formação territorial e social dos quilombos no Brasil, se deu de modos


distintos, quanto a possessão de terras e a constituição das territorialidades. No passado,
alguns quilombos surgiram em lugares isolados para dificultar o acesso de terceiros que
não faziam parte da comunidade, em contraponto, esses espaços não poderiam ser
totalmente isolados, pois, a exemplo do quilombo de Palmares, eles mantinham relações
comerciais com mercados fora do quilombo, para completar o ciclo de subsistência das
famílias.
A visão hegemônica de que os quilombos eram lugares formados apenas por
negros escravizados fugidos é superada por estudiosos, que afirmam que, alguns deles
eram territórios compostos pela população negra escravizada em busca de constituir outra
forma de vida, mas também, por indígenas e não negros que de alguma forma
necessitavam de abrigo. Mesmo assim, é ingênuo concordar com a ideia de que os
quilombos foram a única forma de resistência dos escravizados, na verdade, essa
população estabeleceu múltiplas formas de resistência, sendo o quilombo a mais insurgente
e grandiosa em termos de capilaridade e alcance.
Seguindo com a reflexão das formações territoriais, identificamos algumas
diversas estruturas sócio-históricas-territoriais de formação e origem das terras ocupadas
pelos povos quilombolas, e assim destacamos os seguintes contextos: Ocupação de
fazendas falidas e/ou abandonadas; Compras de propriedade por escravos alforriados;
Doações de terras para ex- escravizados por proprietários; Pagamento por prestações de
serviços em guerras oficiais; Terrenos de ordem religiosa doados para ex-escravizados;
Ocupações de terras sob o controle da Marinha do Brasil e Extensões de terrenos da união
não devidamente cadastrados.
Com a constituição desses territórios, não podemos desconsiderar que a
identidade quilombola está intimamente imbricada com a noção do território, pois, numa
dualidade recíproca, o território produz a identidade e a identidade produz o território; e
este processo de troca, é produto de ações coletivas e mútuas dos sujeitos sociais. É a
relação do ser com sua natureza íntima, que é registrada pela memória, individual e
coletiva, fruto e condição de saberes e conhecimentos (MALCHER, 2006, p. 67).
Dessa forma, verificamos que a formação dos quilombos brasileiros não é
única, e sim, diversa, e por isso, é uma categoria com contínua reflexão científica, para fins
de estudo e de formulação de legislações. Os territórios quilombolas brasileiros são
regulamentados pelo Decreto Federal n° 4.887/2003, que além de garantir o direito à auto-
identificação como único critério para identificação das comunidades quilombolas, tendo
como fundamentação a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT),
que prevê o direito de autodeterminação dos povos indígenas e tribais, o decreto
mencionado, regulamenta a Política de Regularização Fundiária para Territórios
Quilombolas, ou seja, o processo administrativo de identificação, reconhecimento,
delimitação, demarcação e titulação dos territórios ocupados pelas comunidades
quilombolas, e este trabalho é de responsabilidade do Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária – INCRA.
Atualmente não há um consenso sobre o número exato de comunidades
quilombolas do Brasil, mas a partir de pesquisas das autarquias e instituições que lidam
com a questão quilombola, é possível mensurar números possíveis, sendo assim, segundo
dados da Fundação Cultural Palmares (2020), existem atualmente no país, 3.386
comunidades remanescentes de quilombos reconhecidas e mapeadas por esta instituição.
Destas comunidades, segundo a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades
Negras Rurais Quilombolas – CONAQ (2020) há 2.847 que possuem certificação da
Fundação Cultural Palmares; 191 estão com certificação em andamento (em análise
técnica); e 38 estão aguardando visita técnica (PALMARES, 2020), ainda, são 1.533
processos abertos no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA e 154
das terras quilombolas tituladas em todo o Brasil, 77% delas regularizadas pelos governos
estaduais (CONAQ, 2020). Para Gomes (2015) o número de comunidades quilombolas no
Brasil chega a 5.319. De acordo com a CONAQ e os movimentos negros há cerca de 6 mil
quilombos espalhados pelo Brasil (GOMES, 2015), dentre identificados, mapeados,
certificados, titulados e/ou em processo de regularização fundiária. Por regiões do Brasil, a
Fundação Cultural Palmares (FCP) identifica em seu site:
Tabela x – Total de Comunidades Remanescentes de Quilombos (CRQs)
certificadas segundo a Fundação Cultural Palmares

REGIÃO COMUNIDADES
CERTIFICADAS
NORTE 369

NORDESTE 2.182

CENTRO OESTE 169

SUDESTE 539

SUL 192

Total 3.451

Fonte: Fundação Cultural Palmares (FCP). Atualizado até a portaria nº 118/2020, publicada no dou de 20/07/2020
<http://www.palmares.gov.br/?page_id=37551> Acesso: 05/10/2020 as 14h29.

Nessa mesma compreensão, é imprescindível pensar que os quilombos


brasileiros existem e resistem. A partir do quadro elaborado, percebemos que em todas as
regiões do Brasil há quilombos, e nesse sentido, é notável como o fenômeno foi
expressamente utilizado como estratégia de ressignificação de um novo modelo de vida no
Brasil colonial, e que mesmo na contemporaneidade é fato sua presença massiva no país,
por isso, para Gomes (2015) “a história dos quilombos, do passado e do presente, se
transformou em bandeira de luta”, significa dizer que, o movimento quilombola passou
por ressignificações ao longo do tempo, e atualmente, reivindicam-se como sujeitos de
direitos.
Desde a insurgência dos quilombos, nos séculos XVI, XVII e XVIII, os
quilombolas lutavam por uma sociabilidade marcada de liberdade, mas nem todos
mantinham um isolamento total; eles estabeleciam relações comerciais com espaços fora
do quilombo, para que pudessem garantir a economia dos territórios. Além disso, um
ponto interessante, é que a formação dos quilombos no Brasil Colônia, nem sempre tem
origem em movimentos de rebeldia, e por justamente esse motivo, os quilombolas
tentavam transitar pelos espaços fora do quilombo ou mantinham parcerias com senhores
de engenho. O que queremos dizer com isso é, outrora em nossa história, os quilombos
reassumiam uma postura de reviver aspectos de sociabilidade africana, do qual, eles
pudessem se autogerir, como uma recriação de seus territórios em África.
Já no Brasil República em 1889, os quilombolas assumem-se como sujeitos de
direitos, que demandam liberdade e livre arbítrio dentro da sociedade capitalista. Passado
os anos, eles se transformam em movimento social quilombola e postulam políticas
públicas e direitos sociais específicos como grupo étnico, assim, em culminância, no
período de 1980 a 1988, a luta e resistência quilombola origina a Agenda Negra e
Quilombola e com isso conseguem ter uma presença mesmo que ainda tímida, na
Constituição da República Federativa do Brasil, através dos artigos 215, 216 e artigo 68
(ADCT).
Após os quilombos serem inseridos na Constituição da República Federativa
do Brasil, há a criação da Fundação Cultural Palmares através da Lei N° 7.668 de 22 de
agosto de 1988, essa instituição “tem a finalidade de promover a preservação dos valores
culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade
brasileira”, ou seja, tem uma atuação direcionada com os quilombos brasileiros.
Em 1995, há no Brasil a realização do I Encontro Nacional das Comunidades
Negras Rurais Quilombolas e na ocasião, o movimento quilombola cria a Coordenação
Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas - CONAQ, mesmo
que ainda que naquela época fosse apenas uma comissão, mas que com o passar do tempo
foi se fortalecendo e se tornando um dos movimentos mais fortes politicamente do país.
Embora existam os marcos legais que demonstram avanços no que concerne as
legislações quilombolas não significa dizer que há uma materialização plena dessas leis no
âmbito ao amparo as famílias, em termos de território, educação, saúde, previdência,
dentre outras políticas públicas. Assim, cabe destacar informações conforme detalha
Almeida (2018, p. 26-27),

Das 80 mil famílias quilombolas do Cadastro Único, sistema que serve de banco
de dados para programas sociais, o documento indicou que 74,7% viviam em
estado de extrema pobreza. O relatório também apontou que os quilombolas têm
menos acesso a serviços básicos como saneamento e energia elétrica, quando
comparados ao restante da população. Entre os quilombolas, 48,7% deles vivem
em casas com piso de terra batida, 55,21% não têm água encanada, 33,06% não
têm banheiro e 15,07% deles possuem esgoto a céu aberto. Há, ainda, um alto
índice de analfabetos: 24,81% deles não sabem ler e, em 2013, a taxa de
analfabetismo dentro das comunidades quilombolas era quase três vezes mais
alta do que a média nacional, já que a Pesquisa Nacional por Amostras de
Domicílio (PNAD) indicava 9,1% para o país.

Esses dados endossam a necessidade de uma maior efetivação das políticas


públicas universais e específicas quilombolas, uma vez que esses números revelam que o
grupo étnico quilombola está posicionado socialmente em desvantagem e desigualdade.
A região nordeste do Brasil é a mais habitada por quilombos, segundo a
Fundação Cultural Palmares (2020) são 2.138 quilombos nos estados nordestinos
certificados e reconhecidos pela FCP. No Ceará, não há nenhum quilombo titulado, o que
significa dizer que a justiça racial para esse povo segue em um horizonte distante, mesmo
assim, há no estado do Ceará, 5 comunidades quilombolas em processo de Análise
Técnica para receber a certificação, são elas:

Quadro x– Comunidades quilombolas do CE aguardando Certificação da Fundação


Cultural Palmares.

MUNICÍPIO COMUNIDADE DATA DE ABERTURA


DO PROCESSO
Crateús Vila nova 14/08/2009
Crateús Domingos pereira 14/08/2009
Quiterianópolis Cajueiro 13/01/2011
Quiterianópolis Olho d´água 13/01/2011
Quiterianópolis Sipueiro 13/01/2011
Fonte: Fundação Cultural Palmares (FCP). Atualizada até o dia 24 de agosto de 2020 .

Destas apresentadas no quadro acima, nenhuma está no documento do


Mapeamento das Comunidades Quilombolas do Ceará, organizada pela Comissão
Estadual dos Quilombolas Rurais do Ceará (CEQUIRCE), ou seja, isso demostra o
crescimento da autodeclaração étnica quilombola mesmo em tempos de autoritarismo e
ataque aos direitos humanos, ao tempo que também demonstra a dificuldade de mensurar
em números a imensidão dessas comunidades.
Em 2019, a entidade de representação do movimento quilombola cearense,
realizou através de orçamento público da Secretaria de Desenvolvimento Agrário, um
mapeamento das comunidades quilombolas do Ceará; com sua equipe total composta de
pesquisadores quilombolas. O mapeamento teve a intenção de mapear todos os quilombos
existentes no estado, mesmo aqueles que não fossem ainda reconhecidos pela Fundação
Cultural Palmares (FCP), além de constatar as demandas sociais, econômicas e políticas
dessas comunidades. Segundo o documento, existem atualmente no Ceará, 87
comunidades quilombolas. Aqui, é importante pontuar, que de fato são apenas 76
comunidades quilombolas mapeadas. Segundo as lideranças quilombolas do Estado,
representantes da CEQUIRCE, foi informado que durante a pesquisa, os pesquisadores
quilombolas mapearam 87 quilombos, no entanto, no decorrer do tempo, algumas
comunidades foram se desfazendo ou mesmo algumas famílias foram renunciando de sua
autodeclaração perante o Estado. Este fato é recorrente em todo o Brasil, e decorre de
processos por pressão latifundiária e racismo que incorrem na desistência da
autodeclaração étnica. Dentre estas, 53 certificadas pela FCP.
Ainda, um dos resultados do mapeamento, apontam para as maiores
problemáticas dos quilombos cearenses, que são: a invisibilização do povo negro,
sobretudo quilombola; carência de políticas universais e específicas; latifúndio; Expansão
do agronegócio; dificuldade de acesso a Declaração de Aptidão do Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) – programa este que abre portas para o
acesso a outras políticas públicas; empregabilidade e renda; insfraestrutura de estradas,
inclusive dificultando o acesso a cidade; ausência de projetos para aquisição de renda;
ausência de torres de comunicação; ausência de postos de saúde, sobretudo com
especialidade em saúde da população negra; ausência de creches e escolas quilombolas;
problemas com aquisição/abastecimento de água potável nos territórios e projetos sociais
para todos os grupos geracionais, mas sobretudo para a juventude e mulheres quilombolas.
A partir do mapeamento e as demais fontes utilizadas acima, os números
aproximados de famílias por região do Estado do Ceará, segue abaixo:

Quadro xx – Quantitativo de famílias quilombolas do Estado do Ceará


REGIÕES QUANTITATIVO DE FAMILIAS
Região Metropolitana de Fortaleza 1.497
Região do Cariri 917
Região Sertão Central 309
Região Sertão de Crato 834
Região dos Inhamuns 440
Região dos vales do Curu, Aracatiaçu e Sobral 760
Total 4.757

As comunidades quilombolas no Ceará vivem em situação de vulnerabilidade


econômica e social, e tem buscado acessar programas de transferência de renda como o
Bolsa Família no âmbito do Governo federal. De acordo com o Relatório do CADUnico
de junho de 2020 são 3.262 as famílias quilombolas cadastradas e 2.060 famílias
quilombolas beneficiárias do Programa Bolsa Família.
No Ceará, conforme mencionamos anteriormente, não há nenhum quilombo
titulado, o que significa dizer que a justiça racial para esse povo segue em um horizonte
distante. Mesmo assim, no Estado temos algumas comunidades que estão perto de
conseguir os títulos definitivos de seus territórios, faltando apenas o decreto presidencial
de regularização definitiva o qual depende de decisão política. São elas: Sítio Arruda no
Município de Araripe, as Comunidades de Encantados do Bom Jardim, Brutos e Lagoa
das Pedras no Município de Tamboril, Alto Alegre e Base no Município de Horizonte,
Comunidade de Base em Pacajus, Três Irmãos em Croatá, Serra dos Chagas em Salitre, e
no Município de Novo Oriente a comunidade quilombola Minador.
Em termos de assistência social, no Estado do Ceará, segundo o Mapeamento
das Comunidades Quilombolas do Ceará, todas essas são assistidas pelo Programa do
Governo Federal Bolsa Família e há um Centro de Referência em Assistência Social
Quilombola – CRAS, localizado na comunidade quilombola de Alto Alegre no município
de Horizonte.
Com relação à educação, segundo a Secretaria de Educação, no estado do
Ceará existe somente-----
Os pesquisadores quilombolas do Mapeamento das Comunidades Quilombolas
do Ceará, dentro do instrumental de pesquisa e entrevista as comunidades, elaboraram um
quadro contendo a maior parte de programas e/ou projetos que deveriam beneficiar os
quilombos para que as lideranças pudessem responder, e diante das respostas, é revelado
que dos 41 programas e projetos mencionados, a maioria das comunidades tem apenas de
3 a 15 projetos contemplados em seus territórios, o que demonstra a grande ausência do
Estado no amparo às famílias quilombolas cearenses.
Com todos os dados apresentados, concluímos que o caminho a partir de agora
é fortalecimento identitário quilombola, de forma a ampliar a visibilidade espacial desses
territórios étnicos brasileiros; Reafirmar a pertença etnicorracial; Superar o racismo
estrutural (incluindo o racismo institucional e ambiental) que naturaliza as situações de
desvantagens, as desigualdades, as discriminações e preconceito racial; E inserir os
quilombos na redistribuição econômica via políticas públicas.

4.4 - POVOS DE TERREIRO

Tratar dos povos de terreiro nos remete necessariamente a falar da


colonialidade e do escravismo moderno, posto que vem de lá as marcas das violências e
tentativa de apagamento de um legado cultural dos povos escravizados. No período
colonial, o/a escravizado/a trazido para o Brasil era batizado já no porto onde partia da
África ou quando chegava ao novo continente, sendo marcado à brasa ou sendo colocada
uma argola de ferro em seu pescoço para identificar o seu novo status de cristão
(SILVEIRA, 2006).
As comunidades usualmente tratadas como povos de terreiro englobam o
Candomblé, enquanto partícipe dos Povos e Comunidades Tradicionas – PCT’s e a
Umbanda, referenciada como religião afro-brasileira que tem como marco sua carta
magna. O terreiro pode ser entendido como campus de fortalecimento da identidade
cultural, lugar de prática de saúde, de sociabilidade, de solidariedade e de constituição da
identidade dos participantes. A busca por bem-estar espiritual, felicidade e acolhimento se
dá nos espaços do terreiro. Ali o espírito religioso se revela como sentimento de conexão
ordenada com as coisas que o cercam: os seres, a vida e o cosmo, formatadas nas famílias
de santo.
O candomblé se entende como sociedade, como uma organização comunitária
de resgate a cultura, valores, educação, alimentação e linguagem voltadas a uma matriz
afro. Identifica-se, portanto, como um povo. Ancorados pela convenção 169 da
Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Cartilha de Povos e Comunidades
Tradicionais de Matriz Africana (2016), compõe-se enquanto um território mítico-
religioso de resistência e de construção política. Assim, compreende-se que a
espiritualidade e o culto ao sagrado perpassam a cosmologia de vida de seus integrantes.
Contudo, não os limita como religião já que a referência dos/as candomblecistas é a
vivência coletiva em uma sociabilidade que os religue a África e que os identifique como
comunidade que (re)vive a tradição e costumes próprios de seu povo.
A expressão família-de-santo, bem como povo-de-santo, faz parte do linguajar
especifico dos terreiros sejam das comunidades de matriz africana como da umbanda. É
uma abstração que serve para designar os que convivem e comungam da mesma crença e
compreensão de vida, de cultura e de sociabilidade creem. Significa uma rede humana que
funciona em forma de família com o objetivo de afirmar um espaço de referência
espiritual, mas, também, social e territorial (TEIXEIRA, 2000).
Assim, o povo de terreiro recebe diferentes nomeações na grande extensão
territorial do Brasil, tais como: a Pajelança, a Jurema, o Catimbó, o Xangô, o Tambor de
Mina, o Batuque, o Candomblé e a Umbanda dentre outras. No Ceará conta-se com
poucas informações sobre os povos de terreiro, contudo está em curso um inventário em
todo o Estado do Ceará em que irá apontar quantos são, onde estão, suas principais
demandas e como acessam as políticas públicas.
Foi obrigada a integrar sua cosmologia às contradições de classe, marcadas
pela urbanização e pela industrialização do País. Essa religião é, sem dúvida, dentre as
afro-Para Ortiz (1999), a Umbanda é uma religião brasileira que tem origem na região
Sudeste brasileira, a mais praticada em todo o Brasil, possuindo um rico panteão e uma
visão de mundo fortemente marginalizada. As práticas afro-brasileiras irão, pela
Umbanda, se integrar à sociedade nascente. A África deixa de ser a forte inspiração
sagrada, a terra-mãe, há uma aposta na brasilidade, na nacionalidade. Essa religião
congrega uma síntese das outras diversas, como Espiritismo, Catolicismo, religiões
africanas e indígenas. (MADEIRA).
Já o Candomblé se constitui como uma sociedade que cultua sua
espiritualidade e que remonta a vinda de negros/as escravizados/as no período colonial no
qual eram arrancados de seu território e expostos a diversos tipos de violência (física,
sexual, cultural etc). Estes vinham de diversas regiões e, portanto, representavam variadas
nações que, a fim de sobreviver ao contexto violento ao qual eram submetidos/as,
organizavam-se em irmandades e famílias nas quais, entre outras estratégias de vida,
estabeleceram o culto ao sagrado como forma de religação/retorno a África.
O candomblé é, portanto, símbolo de resistência, de religação a África, de
fazer político. Uma de suas formas de contrariar o sistema colonial é que se estrutura,
desde a origem, a uma lógica matriarcal: foi ( e é) pensado e organizado por mulheres
colocando-as a frente na hierarquia e valorizando seu poder.
Caracterizando-se por cultuar os elementos da natureza, o Candomblé tem
uma concepção baseada no acolhimento dos indivíduos, a partir da inclusão destes em
núcleo familiar hierarquizada, na qual a figura da Iyalorixá ou do Babalorixá educa e
orienta os demais para o fiel cumprimento da tradição, que é repassada oralmente através
das gerações. Além disso, seus Ilês (também chamados de casas ou roças pelos
praticantes) presentes no Estado do Ceará atuam como verdadeiros articuladores de
melhorias e transformação social, no seu interior através das relações familiares
estabelecidas, mas também nas comunidades ao seu redor, a partir de doações e trabalhos
conjuntos com a vizinhança. É outra forma de ver o mundo, na qual a natureza e os seres
divinos que habitam nela são objeto de culto, devoção e fortalecimento das relações
familiares.
As religiões afro-brasileiras e o candomblé têm um universo plural. O panteão
de origem africana é formado pelos orixás iorubanos, voduns, jejes, inquices (bantos) e
outras entidades espirituais, demarcando um complexo quadro de diversidades culturais no
Brasil. Para Prandi (2004), se movimentam e se metamorfoseiam num universo de
constantes mudanças e permanente expansão, conformando uma realidade místico-
religiosa formada de múltiplas vertentes. Os elementos culturais que nos mostram que o
vasto repertório de práticas, saberes, valores presentes nos terreiros são importantes não
apenas para os povos que criaram essas comunidades como estrutura de resistência ao
racismo colonial, mas para toda a sociedade brasileira.
A pesquisa de Madeira (2009) intitulada “A maternidade simbólica na
religião afro- brasileira: aspectos socioculturais da mãe-de-santo na Umbanda em
Fortaleza-Ceará”, apresenta algumas características do Candomblé e Umbanda de
Fortaleza e região metropolitana.
A Umbanda e o Candomblé em Fortaleza caracterizam-se por ser religiões de
família. É frequente encontrar terreiros em que a família biológica passa a ser
também a família-de santo, convivendo no mesmo espaço: o terreiro é a
residência. Há aquelas famílias nas quais os membros não são todos adeptos e
têm uma participação indireta ao frequentar as cerimônias públicas, ao solicitar
trabalhos etc. (MADEIRA, 2009, p.37)
Ou ainda:

O Candomblé começou a se difundir em Fortaleza a partir dos anos 1970, com o


aumento de interação com sacerdotes e sacerdotisas de outros locais,
principalmente de Salvador e do Rio de Janeiro. A partir dos anos 1980, percebe-
se uma migração de alguns adeptos da Umbanda para o Candomblé, motivados
por vários fatores, dentre os quais a compreensão deste último como mais
organizado e garantidor de status. (MADEIRA, 2009, )

Os dados referentes ao último censo demográfico de 2010 apresentam muitas


limitações, pois muitos adeptos do candomblé e umbanda omitem informações pelo peso
da discriminação e do racismo religioso. Durante os debates pós-divulgação do Censo
2010, muitos apontaram exemplos de entrevistados pertencerem a um grupo religioso e
declararem outro. Os mais conhecidos são umbandistas e candomblecistas, entre outros
religiosos, a exemplo dos afro- ameríndios, que se declaram católicos ou espíritas e até
mesmo espiritualista. (SANTOS, 2014, p.25).
Segue dados do Censo Demográfico de 2010 do Brasil e do estado do Ceará.

Tabela x- A população residente, por situação de domicilio e sexo segundo grupos de


religião no Brasil
Religião Total Homens Mulheres
População Brasil 190.755.799 93.406.990 97.348.809
Umbanda 407.331 182.119 225.213
Candomblé 167.363 80.733 86.630
Outras declarações de religiosidades 14.103 6.636 7.467
afro-brasileiras
Total 588.797
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010

Tabela 2 - A população residente, por situação de domicilio e sexo segundo grupos de


religião no Ceará.
Religião Total Homens Mulheres
População Ceará 8.452.381 4.120.088 4.332.293
Umbanda 7.158 3.556 3.602
Candomblé 1.393 777 615
Outras declarações de religiosidades 73 59 15
afro-brasileiras
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010

O quantitativo diminuto de adeptos que se autodeclaram, não tem


correspondido à realidade. É possível inferir que no caso do Ceará o quantitativo geral de
8.624 adeptos está longe da verdade e se aproxima mais do número de terreiros existentes
em Fortaleza e região metropolitana, conforme apontou a UECUM em 2005 (MADEIRA,
2009). Para Prandi, o Censo “sempre ofereceu números subestimados dos seguidores das
religiões afro-brasileiras, o que se deve às circunstâncias históricas nas quais essas
religiões se constituíram no Brasil e ao seu caráter sincrético daí decorrente” (PRANDI,
2013:204:). Persiste a tendência dos adeptos das religiões afro-brasileiras e das
comunidades de matriz africana camuflarem sua identidade registrando uma declaração
professarem outra crença, uma estratégia de evitar a discriminação. (TEIXEIRA, 2014).
Segundo Menezes (2014) essas recusas estariam associadas a um histórico de
perseguições e preconceitos sofridos pelos adeptos num país em que até 1889 o
catolicismo era religião oficial do Estado, e que mesmo depois do advento republicano,
teve dificuldade em acolher práticas de matriz africana como verdadeiras religiões.
Acresce a tudo isso a importância de saber como os recenseadores e pesquisadores
abordam e compreendem essas religiões. Ou se a questão clássica do sincretismo envolve
um pluralismo identitário mais amplo e mais simbiótico, a ponto de qualquer demarcação
exclusivista carecer de significado. (MENEZES, 2014, p.67).
Diante das ausências desses dados o que pode ser considerado são os
resultados de pesquisas acadêmicas (TCCs, dissertações e teses) de diversas áreas como
sociologia, antropologia, serviço social, comunicação social, direito dentre outras. No
Ceará dentre as religiões afro-brasileira tem maior destaque a Umbanda.
O Ceará, em particular a cidade de Fortaleza conta com a Festa de Iemanjá. A
festa atribui sentido a comunidade de matriz africana e religiões afro-brasileira. A música
e a dança são linguagens privilegiadas, ocasião em que as divindades vêm a terra para
dançar, festejar, evocadas pelos sons dos atabaques e dos pontos cantado
Em Fortaleza a comemoração a Iemanjá acontece no dia 15 de agosto, desde o
final dos anos 1960, na Praia do Futuro, assumindo caráter de festa pública. Porém nos
últimos anos também se realiza na praia de Iracema. Os pedidos de registro como
patrimônio histórico e cultural da Festa de Iemanjá de Fortaleza foram propostos pela
União Espírita de Umbanda – UECUM e o Instituto de Difusão da Cultura Afro Brasileira
conforme Parecer Técnico da Coordenação do Patrimônio Histórico e Cultural –
COPHC/Fortaleza (2017). No ano de 2018, através do Decreto 14.262/2018 tornou-se
Patrimônio Imaterial da cidade, concretizando uma solicitação antiga dos povos e
comunidades de terreiro.
Nessa data, é feriado na cidade – não por ocasião da Festa de Iemanjá, mas por
ser o dia de Nossa Senhora de Assunção, padroeira de Fortaleza. Essa festa é uma das
poucas ocasiões de publicização das religiões de terreiro, principalmente da Umbanda no
Ceará. Há um investimento na construção de uma identidade religiosa associada aos
umbandistas e a sua inserção na sociedade cearense, como forma de romper o
silenciamento e/ou visão estereotipada e discriminatória dos adeptos que enfrentam
cotidianamente os ataques, as intolerâncias e o racismo religioso.
Os participantes pertencem aos diversos estratos sociais, numa interação dos
diferentes segmentos, sendo mais frequentes as camadas populares, que vêm louvar
Iemanjá todos os anos, entregam suas oferendas para a mãe das mães, para a mãe de todos,
símbolo de maternidade fecunda e nutritiva.
Uma forte demanda apresentada pelos povos de terreiros tem sido a denúncia
das práticas da violência causada pela intolerância religiosa, ou seja, do racismo religioso.
O “racismo religioso” define-se como manifestações de racismo constantes. É preciso
dizer que outras religiões não cristãs não sofrem o mesmo tipo de preconceito, portanto
esse preconceito está ligado à formação colonial, à divisão e valoração racial negativa,
influenciando na compreensão da religião, explicita o histórico de marginalidade.
Funciona como ferramenta estruturante para a manutenção dos privilégios de uma minoria
que domina e disputa poder no Brasil. Esse tipo de racismo reproduz e fortalece um
projeto de nação racista.
Os atos discriminatórios não devem ser vistos como comportamentos
individuais, mas como rede, como grande teia que se espalha, esparrama tanto nas relações
interpessoais, quanto no âmbito das instituições, porque tem raízes estruturais, política e
economicamente, fortalecendo os processos de exclusão social de certos grupos
É comum ouvir relatos de que ainda existem práticas repressivas por parte de
agentes públicos em relação aos religiosos, conflitos, no âmbito policial e judicial
associam dos cultos africanos ao mal, da figura da religião negra ao menos evoluído, ao
engano e ao charlatanismo, demonizar o panteão, a cosmovisão. Ataques aos terreiros sob
premissa de que são religiões que refletem o mal. Então componentes de etnocentrismo,
racismo, questões econômicas e de manutenção do status quo são algumas das motivações
que podem acompanhar a manifestação de intolerância.
Insurgem nas últimas décadas movimentos de combate à Intolerância
Religiosa, e a reivindicação por políticas públicas no plano do governamental que
possibilite a construção de um reconhecimento público das religiões de matriz afro-
brasileiras como mesmo status que as demais religiões. Diante do racismo religioso os
adeptos tem procurado manter a articulação entre os povos de terreiros por diversas
formas, por meio de estratégias como criar comissões de combate a intolerância; ocupar
espaço dentro dos conselhos de políticas públicas de igualdade racial, de saúde, de
educação, dentre outros; sistematizar os casos de intolerância religiosa, computando os
casos de ataques aos terreiros, casos de violência contra os adeptos e aos sacerdotes e
sacerdotisas; denunciar junto as Ouvidorias de direitos humanos com o objetivo de
produção, controle e defesa dos territórios de identidade, de cultura e do sagrado. Os
povos de terreiro no Ceará apresentam, além do já apresentado racismo religioso,
vulnerabilidades econômicas, com necessidade de acessar programas sociais. Segundo
informações do Relatório de junho de 2020, no Ceará cerca de 190 famílias pertencentes a
comunidades de terreiro estão cadastradas do CADUnico das quais 108 famílias
beneficiárias do Programa Bolsa Família. Sabemos que esses números não demonstram a
realidade. As famílias e povos de terreiro existem em número superior ao apresentado;
este fato se dá principalmente pelo racismo religioso

4.5- CIGANOS
Os povos ciganos se configuram como Povos e Comunidades Tradicionais de
acordo com o Decreto 6.040 de 7 de fevereiro de 2007, que institui a Política Nacional de
Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT), Povos e
Comunidades Tradicionais (PCTs) são definidos como: “grupos culturalmente
diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de
organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para
sua reprodução cultural, social, religiosa e econômica, utilizando seus conhecimentos,
saberes, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição e entre redes
familiares”.

Barroso (2004), nos conta que a chegada dos ciganos no Brasil, se deu através
de “João Torres, conforme a grafia da época, 1574, é, documentalmente, o primeiro
cigano mandado para o Brasil. No século XVII, os ciganos são degredados no Maranhão;
no século XVIII, no nordeste, especialmente no Ceará, em 1760 (BARROSO, 2004, p.
215). Mesmo após muito tempo desde a chegada da primeira pessoa cigana no país, ainda
não existem dados concretos que dimensionem a existências dos Povos Ciganos neste
território. Compreendemos que esta ausência se coloca como atenuante no
desconhecimento, invisibilidade e silenciamento da participação e contribuição destes
povos na história, cultura e sociedade brasileira.

O campo das pesquisas científicas têm se enveredado e buscado compreender


mais sobre os ciganos. Entre os pesquisadores China (1936), Barroso (2004), Santanna
(1983), Coelho (1892), é dito sobre a chegada destes ao Brasil, e como se espalharam
pelo país. Sabemos que foi no Nordeste que grande parte dos ciganos degredados foi
enviada.

Embora o campo científico tenha crescido nos últimos anos no Brasil, o


conhecimento sobre os ciganos no Brasil ainda não se coloca em proporcionalidade a
dimensão de escala da produção existente na Europa. “Os ciganos representam um dos
maiores grupos étnicos na Europa. (SOUZA, 2013, p.17), segundo a antropóloga, não há
dados exatos.

Os dados populacionais sobre os ciganos não são reflexos diretos de realidades


demográficas ou identitárias, representando estimativas construídas a partir das diferentes
agendas políticas que orientam o debate público sobre ciganos. Por exemplo, no Brasil,
associações ciganas e representantes do estado brasileiro indicam a existência de 800.000
a 1 milhão de ciganos no país. (SOUZA, 2013, p. 18)

No Brasil os números são variáveis. De acordo com o Censo do IBGE 2010, o


Brasil tem cerca de 800 mil ciganos, distribuídos em 291 cidades brasileiras, sendo mais
de 1.500 na Paraíba. Outras informações confirmam que o número de ciganos em
território brasileiro ultrapassam 1 milhão. Da origem, a chegada e quantos são? O
antropólogo Franz Moonen escreve sobre os ciganos que estão no Brasil, e vai montando
o caminho de entendimento ao escrever sobre esses povos e seus pertencimentos:

“cigano” é um termo genérico inventado na Europa do Século XV, e que


ainda hoje é adotado, apenas por falta de um outro melhor. Os próprios
ciganos, no entanto, costumam usar autodenominações diferentes. Hoje,
os ciganos e os ciganólogos não- ciganos costumam distinguir pelo
menos três grandes grupos: 1. Os Rom, ou Roma, que falam a língua
romani; são divididos em vários sub-grupos, com denominações
próprias, como os Kalderash, Matchuaia, Lovara, Curara e.o.; são
predominantes nos países balcânicos, mas a partir do Século XIX
migraram também para outros países europeus e para as Américas.2. Os
Sinti, que falam a língua sintó, são mais encontrados na Alemanha, Itália
e França, onde também são chamados Manouch. 3. Os Calon ou Kalé,
que falam a língua caló, os “ciganos ibéricos”, que vivem principalmente
em Portugal e na Espanha, onde são mais conhecidos como Gitanos, mas
que no decorrer dos tempos se espalharam também por outros países da
Europa e foram deportados ou migraram inclusive para a América do Sul
(MOONEN, 2012, p. 5).

Moonen (2012), ainda descreve e define os povos ciganos, numa perspectiva


interessante que como povos pertencentes a lógicas e dinâmicas próprias de organização
social, dando fôlego e caminho para pensar a necessidade de criação de políticas públicas
específicas para estes povos.

Apesar de todas estas dificuldades, baseando-nos na definição antropológica de


índio adotada no Brasil, definimos aqui cigano como cada indivíduo que se
considera membro de um grupo étnico que se auto-identifica como Rom, Sinti
ou Calon, ou um de seus inúmeros sub-grupos, e é por ele reconhecido como
membro. O tamanho deste grupo não importa; pode ser até um grupo pequeno
composto de uma única família extensa; pode também ser um grupo composto
por milhares de ciganos. (...) (MOONEN, 2011:p.21).

A organização social dos povos ciganos de diferentes pertencimentos ou


segmentos étnicos, mostra-se como um desafio potencial ao Estado para realização de um
mapeamento qualitativo detalhado para o conhecimento e a quebra do silenciamento sobre
a presença destes povos no território brasileiro. Quem são? Onde estão? Quantos são?
Quais as demandas desses povos para formulação das políticas públicas? Como garantir o
acesso à política de reconhecimento identitário desses povos e comunidades tradicionais,
diante dos processos de vulnerabilidade, de invisibilidade social por parte dos agentes
públicos, bem como as potencialidades dos povos ciganos que de maneira criativa têm
resistido. De modo que as comunidades ciganas tenham acesso às políticas de
redistribuição econômica,reconhecimento étnico racial, acesso garantido aos direitos
básicos.
A população cigana no Nordeste, em grande parte, não possui registro civil,
consequentemente, tem dificuldades para acessar programas governamentais, redes
públicas de saúde e educação e outros serviços . No estado do Ceará, ainda não se têm
dados exatos sobre os povos ciganos, consta um mapeamento em curso financiado pela
Secretaria de Desenvolvimento Agrário e em realização pela ASPRECCEC- Associação
de Preservação dos Ciganos no Estado do Ceará; Assim, de acordo com informações do
Notícias SESC CE de 21 de agosto de 2018:
Grupos ciganos da etnia Calon radicaram-se no território cearense há
mais de 80 anos, formando comunidades em mais de quarenta
cidades. A invisibilidade desta minoria étnica e o preconceito em
relação à sua cultura colocam em risco a continuidade dos costumes
ciganos, o principal deles, o dialeto chibi, falado por menos de duas
mil pessoas e em risco de extinção”.

Um levantamento feito por associações representantes dos Ciganos no Ceará,


com o objetivo de acessar as políticas públicas desenvolvidas pelo estado por decorrência
da Pandemia, identificou (em situação de vulnerabilidade) nos municípios de Acopiara,
Aquiraz, Barro, Beberibe, Cascavel, Caucaia, Crateús, Fortaleza, Guaraciaba do Norte,
Independência, Itaiçaba, Itapipoca, Itapajé, Jucás/Independência, Limoeiro do Norte,
Pindoretama, São Benedito, Sobral/Catatau, Tianguá e Varjota cerca de 497 famílias
ciganas. De acordo com informações da Coordenadoria da Proteção Social Básica –
CPSB e Célula de Transferência de Renda cerca de 457 famílias ciganas estão cadastradas
no cadastro único e cerca de 97 são beneficiárias do programa Bolsa Família (FONTE:
MC/SAGI, 2020).
O Ceará conta ainda representação cigana no Conselho Estadual de Promoção
da Igualdade Racial (COEPIR), criado em 2016 e atualmente está em sua segunda gestão
(2018-2020), no entanto, na primeira gestão (2016-2018) embora tenha se desprendido
esforço o colegiado não contou com a participação de representações ciganas para ocupar
a vaga a eles destinadas, contudo nas eleições para a segunda e terceira gestão contou-se
com a participação destes, concorrendo a eleição e foi eleita uma entidade representativa.
Neste movimento de inclusão, destacamos que os ciganos cearenses realizaram
dois encontros sendo o primeiro realizado no dia 24 de maio de 2018 e o segundo nos dias
24 e 25 de agosto de 2019. A data do primeiro encontro coincide com o Dia Nacional dos
Ciganos, instituído através de decreto presidencial em 2006. A data do segundo encontro
aconteceu em homenagem ao Beato Zeferino Gimenez Malla, cigano. Ainda, através da
Lei 16.621/2018 foi instituído o Dia Estadual da Etnia Cigana no Ceará, celebrado no dia
24 de maio. Estes reconhecimentos por parte dos Governos Federal e Estadual são
importantes, pois trazem ao conhecimento da sociedade em geral a presença do povo
cigano, geralmente ausentes da narrativa histórica tradicional.
No Ceará os Povos Ciganos tem dialogado institucionalmente com o Governo
do Estado do Ceará através das entidades sendo representados por duas entidades
constituídas, são elas: Associação de Preservação da Cultura Cigana do Estado do Ceara –
ASPRECCEC, Associação Comunitária dos Povos ciganos de Condado Paraíba-
ASCOCIC e o Instituto de Cultura, Desenvolvimento Social e Territorial do Povo Cigano
do Brasil –ICB. É importante destacar que a atuação das associações têm sido um
movimento importante que rompe com anos de silenciamento que passaram as famílias
ciganas devido ao forte racismo que enfrentaram e enfrentam nos dias atuais.

4.6 AFRICANOS NO CEARÁ

Dados da Superintendência Regional da Polícia Federal no Ceará dão conta de


2.658 africanos com registro de permanência no ano de 2017, sendo maioria oriundos dos
países como Angola, Cabo Verde, Congo, Gana, Moçambique, Nigéria, Senegal, Serra
Leoa, São Tomé e Príncipe, e Guiné-Bissau entre outros, ha também os solicitantes de
refúgio que totalizam 365 até 2017, segundo a mesma fonte entre 2010 a 2017, 6.116,
africanos ingressaram no Ceará, sendo na condição de estudantes e distribuídos nas
diferentes Instituições de Ensino.

Atualmente a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-


Brasileira – UNILAB a partir da diretoria de registro acadêmico contabiliza 1816
estudantes africanos, nos campis localizados nos municípios de Redenção e Acarape, o
Ceará a par da Bahia são pioneiras no País na integração entre a Comunidade dos Países
de Língua Portuguesa (CPLP), os africanos também se fazem presente na Universidade
Federal do Ceará – UFC que atualmente conta com mais de cem estudantes, os demais
estão distribuídos em diferentes Instituições Privadas de Ensino Superior e Técnicos no
Ceará.

As principais demandas dos africanos consistem na regularização dos vistos,


fato que gradativamente vem sendo mudado desde a aprovação da Lei N°13.445, de 24 de
maio de 2017, no acesso ao mercado de trabalho qualificado, na qualificação profissional,
além da solicitação de infraestrutura para desenvolvimento de atividades socioculturais.
5.- EIXOS E PROPOSTAS DO PLANO ESTADUAL DE POLÍTICAS DE
PROMOÇÃO DA IGUALDADE ÉTNICO-RACIAL DO ESTADO DO CEARÁ -
2013/2015

Conforme já foi explicitado, na reelaboração do plano Estadual de Igualdade


racial optou- se resgatar o primeiro documento de construção do Plano de Promoção da
Igualdade Etnicorracial – PEPIER, organizado pela antiga Secretaria de Ação Social –
SAS em 2006, bem como as propostas das Conferências Estaduais de Promoção da
Igualdade Racial, realizadas respectivamente em 2005, 2009, 2013 e 2016.

É portanto, a síntese reelaborada das propostas aprovadas nestas, revisadas e


atualizadas pelo Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial, devido ao decurso
de 4 anos desde a última Conferência.

5.1 - EIXO 1 – RECONHECIMENTO ÉTNICO


A luta pelo reconhecimento étnico dos povos e comunidades tradicionais
remonta a forma violenta pela qual se deu a colonização do Brasil, que encurralou os
povos indígenas e escravizou os negros africanos. Os povos indígenas utilizaram a
estratégia de silenciarem enquanto adentravam no território; já os negros escravizados
criaram territórios de resistência em locais de difícil acesso denominados Quilombos.

Após a redemocratização do país, na década de 80, os movimentos indígena e


quilombola ganharam fôlego e passam a reivindicar seus direitos, principalmente aos seus
territórios, que historicamente foram negados pelo Estado, conseguindo garantir
dispositivos constitucionais que garantiram não só a demarcação das terras indígenas
como a titulação dos territórios quilombolas.

Paralelo a estas lutas emergiram ainda os povos de terreiro e os ciganos que


lutam por reconhecimento étnico, bem como pela regularização dos seus territórios.

No Ceará, acreditou-se durante muito tempo não existir negros e indígenas.


Criou-se uma ficção que a Abolição ocorreu antes no nosso Estado pela não existência de
negros escravizados, enquanto que os povos indígenas tiveram sua presença negada por
decreto provincial em 1863. Atualmente, foi aprovada a Lei 17.165/2020 que reconhece a
existência, contribuição e os direitos dos povos indígenas para formação da sociedade
cearense, restando agora a efetivação dos seus direitos para reconhecê-los de fato.

EIXO 1 – RECONHECIMENTO ÉTNICO


AÇÕES ÓRGÃO META PRAZO INDICADOR
PARA ES DE
EXECUÇÃO EXECUÇÃO
1.Implantar programa SPS/CEPPIR e 20 órgãos Permanente Campanha
Intersetorial permanente GABGOV estaduais e184 Ceará sem
de valorização, municípios Racismo
sensibilização e acesso ao com campanha fortalecida,
conhecimento da história lançada. com
local das comunidades material
quilombolas, indígenas e impresso e
demais comunidades distribuído
tradicionais; nas
secretarias,
controladori
as e
procuradori
a estaduais e
prefeituras
municipais.
2. Promover o debate da SPS/CEPPIR e Realização de Permanente Registro de
Igualdade Racial por SECULT 24 eventos por número de
meio de palestras, rodas ano. participantes e
de conversas, fotografias.
seminários, mostra
cultural, que venham
exaltar as identidade
indígena, quilombola,
cigana e de povos de
terreiro;
3. Incluir um grupo de SPS/CEPPIR e 12 meses
trabalho SAP
– GT, intitulado
Ditadura e Racismo na
Comissão Estadual da
Verdade, destinado a
apurar os efeitos da
ditadura militar na
população negra em
consequências do
racismo, com vista ao
reconhecimento dos
direitos, à memória e à
verdade da população
negra e dos povos e
comunidades
tradicionais.
4. Elaborar e aprovar SPS/CEPPIR e Estatuto da 48 meses Lei publicada
Estatuto da Igualdade COEPIR Igualdade no Diário
Racial e de Racial e de Oficial do
Enfrentamento à Enfrentamen to Estado.
Intolerância Religiosa à Intolerância
do Estado do Ceará Religiosa do
Estado do Ceará
elaborado,
aprovado e
publicado.
5. Criar e implantar SPS/CEPPIR e Comitê 12 meses Decreto
Comitê Estadual de COEPIR Estadual de publicado;
Diversidade Diversidade
Religiosa. Religiosa Lista de
criado. Frequência das
reuniões,
relatórios e
fotos.
6. Criar e monitorar um SPS/CEPPIR 12 meses
banco de dados, com
indicadores sobre casos
de racismo, de
intolerância religiosa e
sobre políticas de ações
afirmativas, realizadas
para a população negra,
povos originários e
comunidades
tradicionais.
Disponibilizado para
subsidiar o
monitoramento da
política de PIR pelos
órgãos de governo e
pela sociedade civil
7. Criar e implantar SPS/CEPPIR 48 meses
um Fórum estadual de
gestores e gestoras
municipais de
promoção da
igualdade racial –
FIPIR
8. Reservar 10% do SEPLAG 12 meses
Fundo de Combate e
Erradicação da Pobreza
no Estado do Ceará –
FECOP/CE, para
execução de políticas
de promoção da
igualdade racial
destinadas à população
negra, indígena,
quilombola, cigana e
povos de terreiro. Este
recurso será aplicado
de forma intersetorial,
envolvendo diversas
secretarias de governo.
9. Criar, manter e GABGOV/ 12 meses
disponibilizar em site CASA CIVIL
um banco de dados do
quadro funcional do
setor público estadual,
com recorte racial e de
gênero, como base para
a formulação de
programas de ação
afirmativa.
10. Apoiar e fortalecer SPS/CEPPIR
iniciativas de
organizações e
movimentos sociais com
atuação na defesa das
pautas étnico- raciais e
no exercício do controle
social.

5.2 - EIXO 2 – EDUCAÇÃO


As atividades da Educação para as relações étnico-raciais no Brasil são esforços
do Governo Federal, por meio do Ministério da Educação, para concretizar os tratados
internacionais que estabelecem a “Educação para todos e todas”, o respeito à diversidade e
à eliminação de toda e qualquer forma de preconceitos.
A Lei 10.639/03, de 09 de janeiro de 2003, que altera a Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir
obrigatoriamente nos currículos oficiais da rede de ensino a temática “História e Cultura
Afro-Brasileira”, conforme seus artigos 26-A, 79-A e 79-B, completou 10 anos no dia
09/01/2013, mas sua implementação é ainda incipiente nos aspectos que envolvem as
interfaces entre educação e cultura de matriz africana.
Embora existam diversas atividades de interesse público mantidas por
comunidades de matriz africana, tais como saúde da população afrodescendente,
assistência social, educação, proteção da infância e da mulher, não há no seio do
Ministério da Educação elementos teóricos e pesquisas que subsidiem o auxílio e
preservação dessas atividades com políticas sociais educativas. Há várias décadas, a luta
pelo acesso à educação escolar formal de qualidade se estabelece como um dos objetivos
primordiais da população afrodescendente no Brasil, pois o sistema educacional ainda é
uma área onde existem muitos estereótipos. No que diz respeito ao debate racial,
evidenciam-se trajetórias marcadas por desigualdades socioeconômicas, que dificultam a
ascensão social desses indivíduos. Políticas públicas que assegurem a universalização do
acesso à educação pública, gratuita e de qualidade é ainda uma demanda emergente para
os/as afrodescendentes.
O Censo do IBGE 2010 mostra que os brancos também dominam o ensino
superior no país: da faixa etária entre 15 e 24 anos, 31,1% da população branca
frequentava a universidade. Em relação aos pardos e pretos, os índices são de 13,4% e
12,8%, respectivamente. A referida pesquisa ainda apresentou correlações relevantes entre
as taxas de analfabetismo e as categorias de cor e/ou raça. No total da população, a taxa de
analfabetismo é de 9,6%; entre os brancos, 5,9%; entre pardos e pretos, 13% e 14,4%,
respectivamente.
Um estudo realizado 2012 pela Secretaria de Assuntos Estratégicos –SAE, em
parceria com a Faculdade Zumbi dos Palmares, a Secretaria de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial e a Fundação Getúlio Vargas apresenta o primeiro banco de dados
nacional sobre a população negra intitulado “Observatório da População Negra”. Esta
pesquisa aponta que no Brasil, 51% da população é formada por negros. No entanto, as
informações levantadas para o banco de dados mostram que, apesar dos avanços, ainda
existe uma grande desigualdade no país. Exemplo disso é que os negros representam
apenas 20% dos brasileiros que ganham mais de dez salários mínimos. A população negra
também representa apenas 20% dos brasileiros que chegam a fazer pós-graduação no país.
Com base em dados da PNAD (Pesquisa Nacional de Amostragem
Domiciliar), 13% dos negros com idade a partir de 15 anos ainda são analfabetos.
Somando todas as etnias, o total de pessoas que não sabem ler nem escrever no país chega
a 10% da população. O maior percentual de analfabetismo entre a população negra está
registrado no Nordeste, 21%. Depois vêm o Norte e o Sul, cada um com 10%, seguido da
região Centro Oeste, 9% e do Sudeste, com 8%.
Segundo os estudos coordenados pela subsecretaria de Ações Estratégicas da
SAE, a maior concentração de negros analfabetos por faixa etária está registrada a partir
de 65 anos, quando totaliza 45% da população nacional. No Nordeste este percentual se
amplia e tem-se que 57% da população negra com idade a partir de 65 não sabe ler nem
escrever. Nas outras regiões, as taxas são menores do que a registrada no Nordeste. No
Centro-Oeste, 43% da população negra com idade a partir de 65 anos é analfabeta. No
Norte, 42%, no Sul, 39% e no Sudeste 33%.
Considerando todos os segmentos étnicos do país, 31% das pessoas com 65
anos ou mais são analfabetos, incluídos aí os que se declaram negros. A maior
concentração está no Nordeste, onde 51% das pessoas nessa faixa etária não sabem ler
nem escrever. Entre os mais jovens, cuja idade varia entre 15 e 29 anos, as taxas de
analfabetismo na população negra caem consideravelmente. Fica em 6% no Nordeste, 2%
no Norte, no Centro Oeste e na Região Sul e 1% no Sudeste. Na soma do país, 3% dos
negros com idade de 15 a 29 anos não sabem ler nem escrever. Na faixa de 30 a 64 anos o
percentual sobe para 15%.
As políticas públicas e ações afirmativas no Brasil são relativamente novas. As
ações afirmativas, no que tange principalmente a educação, é uma das principais bandeiras
de lutas do Movimento Negro. De acordo com Pinto (2001) as cotas são uma tentativa de
neutralizar ou compensar os efeitos negativos da discriminação “racial” e da exclusão dos
negros brasileiros. Em 1997, somente 2,2% de negros frequentavam o ensino superior.
Atualmente, são mais de 10%. Com criação do Programa Universidade para Todos
(Prouni), no total de 1,2 milhão de contratos dos egressos, mais de 630 mil são bolsistas
negros nas instituições privadas.
Ainda no que concerne ao ensino superior, o levantamento do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), de 201
5.3 - EIXO 2 – EDUCAÇÃO

AÇÕES ÓRGÃO PARA META PRAZO INDICADOR ES


EXECUÇÃO DE EXECUÇÃO
Implementar as SEDUC e 48 meses
leis10.639/03 e SECITECE
11.645/08, garantindo uma
dotação orçamentaria para
formação continuada e
permanente para técnicos
profissionais da
educação básica e superior e
agentes culturais da
educação bem como
aquisição de material
didático, criação de
mecanismos de
monitoramento e avaliação
das mesmas.
Incentivar a criação um SEDUC
acervo de literatura afro- 96 meses
brasileira nos espaços
escolares públicos nos
privados.
Promover a reforma dos SEDUC
96 meses
currículos escolares para que
mostrem a historicidade dos
grupos etnicorraciais das
macrorregiões do estado do
Ceará.
Realizar seminários tendo SEDUC 48 meses
em vista a formação de
gestores, técnicos dos
municípios e também a
sociedade civil das
macrorregiões do Estado
para que ampliem o
conhecimento a respeito da
Política da Igualdade Racial.
Construir escolas SEDUC 96 meses
quilombolas conforme a
resolução nº 8, de 20 de
novembro de 2012, nos diversos
quilombos do Estado
fortalecendo as já existentes.
Garantir a formação dos SEDUC 24 meses
profissionais nas escolas
diferenciadas (quilombolas,
indígenas, povos tradicionais),
dando formação aos mesmos
para vivenciar e ensinar a cultura
tradicional africana e indígena.
Incentivar a criação de SEDUC 24 meses
fóruns municipais de educação
em todo o Estado valorizando as
expressões culturais de
afrodescendentes, indígenas,
ciganos e outras etnias
discriminadas.
Fomentar nos currículos SEDUC
escolares o resgate da língua 96 meses
materna nas escolas das terras
indígenas.
Realizar cursos de línguas SEDUC 24 meses
dos povos originários e de
comunidades tradicionais: -
Tupi, para indígenas; -
Calon, para população
cigana; - Iorubá, para
comunidades de matriz
africana.
Priorizar o afastamento dos SEDUC 24 meses
professores para os cursos de
Pós-graduação
(especialização, mestrado
e doutorado) voltados para
as leis 10.639/03 e
11.645/08 garantindo a
integralidade dos
vencimentos dos
professores.
14. Garantir no projeto SEDUC 24 meses
pedagógico das escolas
estaduais a semana da
consciência negra, semana
indígena e semana do povo
cigano.
SEDUC e 24 meses
15. Fortalecer e manter SPS/CEPPIR
Fórum Estadual de Educação
e Diversidade Étnico-racial.
16.Oferecer curso SEDUC 24 meses
preparatório para o Exame
Nacional do Ensino Médio
- ENEM para que pessoas
negras, povos e
comunidades tradicionais,
oriundas de escolas
públicas, ingressem em
universidades.
17. Implantar Programa de SDA/ 24 meses
bolsa de estudos SECITECE/
destinadas ao ingresso de FUNCAP
estudantes negros(as),
povos originários e de
comunidades tradicionais,
em situação de
vulnerabilidade social, às
instituições de ensino
superior, no Estado do
Ceará.

5.4 - EIXO 3 – SAÚDE


A 8.ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, constituiu um marco
na luta por condições dignas de saúde para a população, uma vez que fechou questão em
torno da saúde como direito universal de cidadania e dever do Estado. Naquele espaço, os
movimento sociais negros participaram ativamente dos processos de elaboração e votação
das propostas, ao lado de outros movimentos, em especial o Movimento pela Reforma
Sanitária. O principal desdobramento da conferência foi a introdução, realizada pela
Assembleia Constituinte, do sistema dte seguridade social na Constituição Federal, que
ocorreria em 1988. A saúde passou a ser compreendida pelo Estado como direito
universal, ou seja, algo que independe de cor, religião, local de moradia e orientação
sexual, a ser provido pelo SUS (BRASIL, 1988, art. 194).

A atuação do Movimento Social Negro brasileiro na 11.ª e na 12.ª Conferências


Nacionais de Saúde, realizadas respectivamente em 2000 e 2003, fortaleceu e ampliou sua
participação social nas instâncias do SUS. Como resultado dessa atuação articulada, foram
aprovadas propostas para o estabelecimento de padrões de equidade étnico-racial e de
gênero na política de saúde do país.

O direito à saúde é, pois, fundamento constitucional e condição substantiva


para o exercício pleno da cidadania. É eixo estratégico para a superação do racismo e
garantia de promoção da igualdade racial, desenvolvimento e fortalecimento da
democracia. A construção de uma política pública foi resultado da luta histórica pela
democratização da saúde encampada pelos movimentos sociais, em especial pelo
movimento negro. Atualmente, é fruto da pactuação de compromissos entre o Ministério
da Saúde e a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, a fim de
superar situações de vulnerabilidade em saúde que atingem parte significativa da
população brasileira.

Em novembro de 2006, o Conselho Nacional de Saúde aprovou por


unanimidade a criação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra –
PNSIPN, reconhecendo as desigualdades raciais como fatores que interferem no processo
saúde, doença, cuidado e morte, bem como a necessidade de implementar políticas que
combatessem as iniquidades. Entretanto, a PNSIPN só foi pactuada na Comissão
Intergestores Tripartite em 2008, e somente em maio do ano seguinte, o Ministério da
Saúde publicaria a Portaria reconhecendo que o racismo existente na sociedade brasileira
impacta a saúde,

A redução das desigualdades sociais, considerando como causas determinantes


e condicionantes de saúde: modos de vida, trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer,
cultura, acesso a bens e serviços essenciais, entre outros, podem estar associados ao
racismo e a discriminação social (BRASIL, 2009).

Através da Portaria Nº 992, de 13 de Maio de 2009, institui-se a Política


Nacional de Saúde Integral da População Negra define os princípios, a marca, os
objetivos, as diretrizes, as estratégias e as responsabilidades de gestão, voltados para a
melhoria das condições de saúde desse segmento da população. Inclui ações de cuidado,
atenção, promoção à saúde e prevenção de doenças, bem como de gestão participativa,
participação popular e controle social, produção de conhecimento, formação e educação
permanente para trabalhadores de saúde, visando à promoção da equidade em saúde da
população negra.

A construção desta política é resultado da luta histórica pela democratização da


saúde encampada pelos movimentos sociais, em especial pelo movimento negro. É,
outrossim, fruto da pactuação de compromissos entre o Ministério da Saúde e a Secretaria
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, a fim de superar situações de
vulnerabilidade em saúde que atingem parte significativa da população brasileira. Ao
reconhecer o racismo, as desigualdades étnico-raciais e o racismo institucional como
determinantes sociais das condições de saúde da população, elencou os seguintes objetivos
específicos:

 Aprimorar os sistemas de informação em saúde pela inclusão do quesito cor em


todos os instrumentos de coleta de dados adotados pelo Sistema Único de Saúde
(SUS);

 Desenvolver ações para reduzir indicadores de morbimortalidade materna e


infantil, doença falciforme, hipertensão arterial, diabetes mellitus, HIV/AIDS,
tuberculose, hanseníase, cânceres de colo uterino e de mama, miomas, transtornos
mentais na população negra;

 Garantir e ampliar o acesso da população negra do campo e da floresta e, em


particular, das populações quilombolas, às ações e aos serviços de saúde; e
Garantir o fomento à realização de estudos e pesquisas sobre racismo e saúde da
população negra.

Essa política aponta os caminhos e define os princípios, a marca, os objetivos,


as diretrizes, as estratégias e as responsabilidades de gestão, voltados para a melhoria das
condições de saúde desse segmento da população. Inclui ações de cuidado, atenção,
promoção à saúde e prevenção de doenças, bem como de gestão participativa, participação
popular e controle social, produção de conhecimento, formação e educação permanente
para trabalhadores de saúde, visando à promoção da equidade em saúde da população
negra.
Eixo 3 – SAÚDE

AÇÕES ÓRGÃO PARA META PRAZO INDICADOR ES


EXECUÇÃO DE EXECUÇÃO
1.Implantar política SESA 24 meses
de atendimento e
diagnóstico a
anemia falciforme
pelos PSF/SUS:
contribuindo e
estimulando na
formação de
políticas públicas
voltadas para a
redução da
mortalidade das
pessoas, envolvendo
nas demais
enfermidades, os
saberes indígenas e
africanos das
rezadeiras;
Criar um comitê SESA 12 meses
técnico de saúde da
população negra,
quilombolas,
indígenas,
comunidades de
terreiros e ciganos,
com recursos
garantidos no PPA –
Plano Plurianual;
Incentivar a atuação e SESA/ 12 meses
capacitar CEPPIR
indígenas,
quilombolas, ciganos e
povos de terreiros para
atuarem como agentes
de saúde nas
comunidades
tradicionais;
Promover SESA e 24 meses
intercâmbios entre SPS/CEPPI
povos (indígenas, R
negros,
quilombolas, ciganos e
membros da
comunidade de matriz
africana) visando
trocas de experiências
através de seminários,
workshops e oficinas;
Garantir o acesso aos SESA 12 meses
leitos dos pacientes
indígenas,
quilombolas, ciganos e
membros das
comunidades de matriz
africana dos seus
líderes espirituais para
realizarem tratamentos
de cura em paralelo ao
tratamento
convencional;
Atender as 96 meses
comunidades
quilombolas e
indígenas com
programas sociais e
saúde da família com
direcionamento
patológicos de raça
estruturando os postos
de saúde indígenas e
quilombolas;
Capacitar os SESA 48 meses
profissionais da área
de saúde e incluir nos
currículos de formação
desses profissionais
em nível de graduação
e pós- graduação
temas relativos às
questões étnico raciais
e as iniquidades,
preconceitos e doenças
geradas pelas
desigualdades raciais;
Fomentar pesquisas na SESA e 24 meses
área da saúde com SECITEC
enfoque étnico-racial; E
Garantir assentos SESA 24 meses
nos
conselhos estaduais
de saúde
às
populações
historicamente
discriminadas;
Expandir a terapia SESA E SUAS 48 meses
comunitária
às comunidades
tradicionais através da
criação de espaços
terapêuticos com
capacidade de
atender a população
local que apresentem
distúrbios emocionais,
respeitando suas
crenças, costumes e
valores das várias
etnias;

5.4. Eixo 4 – Cultura


A sociedade brasileira é constituída por grupos ét
A partir da Constituição Federal de 1988, a temática racial se fez presente,
principalmente, na criminalização do racismo, na valorização da diversidade cultural e no
reconhecimento dos direitos territoriais dos povos e comunidades tradicionais. No Art.216
Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados
individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória
dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
        I - as formas de expressão;
        II - os modos de criar, fazer e viver;
        III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
        IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais;
        V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
Também em 1988 foi criada a Fundação Cultural Palmares (FCP) – organismo
federal voltado à promoção e à preservação da influência negra na sociedade brasileira.
Ligada ao Ministério da Cultura (MinC), a FCP foi a primeira instituição responsável por
promover a igualdade racial e a valorização da cultura negra no país.
Nacionalmente, as deliberações políticas sobre diversidade cultural, aprovadas
na I, II e III Conferências Nacionais de Promoção da Igualdade Racial e em todo o seu
processo preparatório ocorreram sob a perspectiva do diálogo intercultural. O eixo
temático diversidade cultural foi um dos mais trabalhados nas Conferências Estaduais,
resultando numa grande variedade de propostas de implementação de políticas públicas,
tais como a ampliação de recursos e financiamentos, proteção dos patrimônios material e
imaterial das comunidades e indicação de festividades e novas referências contextuais nos
calendários nacionais.
Em relação às políticas públicas, foram expostas as demandas de
implementação da perspectiva cultural e inter-étnica (inter-racial) no planejamento,
orçamento e execução das três esferas de governo. Esta perspectiva se referência na
inclusão social, com enfoque nas populações negra, quilombola, indígena e cigana,
historicamente discriminadas pela sociedade brasileira. Destacou-se a necessidade de
desenvolver e ampliar ações afirmativas em todas as políticas públicas como forma do
Estado assumir o enfrentamento de preconceitos e discriminações contra negros, indígenas
e demais etnias, fomentando as manifestações culturais das diferentes culturas que
compõem a nação brasileira.
No Ceará, a política da cultura é conhecida pelo pioneirismo de ser a mais
antiga do Brasil, tem ao longo de 55 anos de história buscado garantir a execução de
programas, projetos e ações de salvaguarda e sustentabilidade do patrimônio cultural e da
memória cearense. Nos últimos, dada a necessidade de implementar ações afirmativas, a
Secretaria da Cultura do Estado do Ceará vem desenvolvendo ações de equidade das
manifestações culturais nas atividades oficiais em todos os níveis; política de editais que
valorizem e incentivem a produção das artes e cultura manifestações afro-brasileira,
indígena, quilombola, comunidades tradicionais de matriz africana e afro-brasileira ,
garantindo políticas culturais específicas de preservação e difusão das manifestações
culturais, principalmente no que diz respeito ao fomento e à preservação das culturas afro-
brasileira, indígena, quilombola, cigana e de outros segmentos étnico-raciais, nas suas
diversas manifestações, extensivas ao território cearense.
Nos anos de 2017 e 2018 foram instituídos o Comitê Gestor de Políticas
Culturais Indígenas no Ceará através da Portaria n° 201/2017, de 05 de setembro de 2017 e
o Comitê Gestor das Expressões Culturais Afro-brasileiras da Secretaria da Cultura,
instituído pela Portaria n° 181/2018, de 28 de junho de 2018. Esses comitês gestores
representam um espaço de diálogo para garantir a participação, articulação, planejamento,
execução e controle social das políticas públicas destinadas reconhecimento de formas de
expressão, de celebrações, de saberes e fazeres dos grupos étnico-raciais.
Os grupos étnico-raciais têm participação ativa na implementação de políticas
públicas no Estado do Ceará, por meio de ações estabelecidas no Plano Estadual da
Cultura, Política Estadual da Cultura Viva, Plano Plurianual (PPA), Plano de Gestão,
dentre outros marcos legais da política cultural. Além de colaborar e protagonizar a
visibilidade das manifestações afrodescendentes e indígenas em eventos estruturantes da
SECULT, como a Bienal do Livro, Encontro Mestres do Mundo, além do marco histórico
da publicação de edital específico de reconhecimento e valorização da Culturais Afro-
Brasileiras e Culturas Indígenas do Ceará.
Outro feito, refere-se à titulação de reconhecimento dos fazeres e saberes de
mestres e mestras no Estado do Ceará, por meio da Lei n° 13.842, de 27 de novembro de
2006 “Tesouros Vivos da Cultura”, são 05 (cinco) mestres/as da tradição cultura indígena,
02 (dois) mestres da tradição da capoeira, 01(um) mestre tradição de maracatu, 01(uma)
mestra de tradição medicina tradicional de terreiro e 01(uma) mestra quilombola de
tradição dança do coco e maneiro pau, estes também são reconhecidos através do título de
notório saber concedido Universidade Estadual do Ceará, cujo objetivo é diplomar os
mestres e mestras para que possam lecionar no ensino fundamental, ensino médio e ensino
superior.
A cultura é um direito fundamental, onde os detentores dos saberes e fazeres
culturais constroem caminhos de gingas e rituais para defesa da sua história e memória.
Portanto, é necessário que o poder público desenvolva ações com vista na garantia do
pleno exercício dos direitos culturais, de modo a salvaguardar a identidade na diversidade
cultural, história e patrimônio, o saber, o conhecimento, a inventividade, a circulação,
inclusão social e sustentabilidade.
Adiante, temos as propostas dos diálogos realizados nas conferências de
promoção da igualdade racial junto aos movimentos sociais, no sentido de afirmar a
necessidade de ações para à promoção e preservação de espaços culturais, pontos de
cultura, museus pelo incentivo à produção cultural na área de ciências sociais, literatura e
artes no combate à desigualdade, ao preconceito e à discriminação.

EIXO 4 - CULTURA
AÇÕES ÓRGÃO PARA META PRAZO INDICADORES DE
EXECUÇÃO EXECUÇÃO
Criar espaços Secretaria da Cultura do 50% nos 2020-2030 Nº de
culturais de Estado; Secretarias primeiros 5 atividades da
incentivo a municipais da Cultura; anos e depois diversidade
diversidade cultural SPS/CEPPIR; mais 50%. artística e
e etnicorracial como COPPIR PMF. Atingindo ao cultural dos
casas de cultura, final do grupos étnico-
museus com acervo período da raciais
de amostras da execução do realizados
cultura dos povos plano atingir mensalmente
indígenas, africanos 100% nos
e ciganos existentes equipamentos.
em todas as Nº de atividades totais
macrorregiões do vinculadas aos órgãos
Estado. públicos.

Reconhecer e apoiar Secretaria da Cultura do 50% nos 2020-2030 N° de grupos


a economia, a Estado; Secretarias primeiros 5 afroempreendedores
cultura e o meio municipais da Cultura; anos e depois apoiados.
ambientes originais SETUR-CE; mais 50%.
nas comunidades CEPPIR; Atingindo ao
tradicionais, nos COPPIR PMF. final do
municípios e período da
Estado. execução do
plano atingir
100%
Garantir a Secretaria da Cultura do 50% nos 2020-2030 N° de campanhas
perpetuação e a Estado; Secretarias primeiros 5 realizadas com objetivo de
valorização dos municipais da Cultura; anos e depois valorizar os saberes
saberes ancestrais SPS/CEPPIR; mais 50%. ancestrais.
das lideranças COPPIR PMF. Atingindo ao
quilombolas, final do
indígenas, povos de período da
terreiros e demais execução do
comunidades plano atingir
tradicionais. 100%
Promover o debate Secretaria da Cultura do 50% nos 2020-2030 N° de seminários,
da Igualdade Racial Estado; Secretarias primeiros 5 formações e mostras
por meio de municipais da Cultura; anos e depois culturais com objetivo de
palestras, rodas de SPS/CEPPIR; mais 50%. valorizar e dar visibilidade
conversas, COPPIR PMF; Atingindo ao para as culturas
seminários, mostra SEDUC. final do tradicionais dos grupos
cultural etc. período da étnicos do Ceará.
execução do
plano atingir
100%
Manter e reformar Secretaria da Cultura do 50% nos 2020-2030 N° de casas religiosas
casas de religiões de Estado; Secretarias primeiros 5 atendidas e mantidas com
matrizes africanas, municipais da Cultura; anos e depois recurso público das
escolas indígenas e SPS/CEPPIR; mais 50%. secretarias.
ciganas, através do COPPIR PMF. Atingindo ao
lançamento de final do
editais com recursos período da
garantidos no PPA. execução do
plano atingir
100%
Promover concursos Secretaria da Cultura do 50% nos 2020-2030 N° de artistas e escritores
literários da cultura Estado; Secretarias primeiros 5 apoiados pela política de
negra e indígenas. municipais da Cultura; anos e depois literatura, livro e biblioteca
SEDUC. mais 50%. da Secult.
Atingindo ao
final do
período da
execução do
plano atingir
100%
7. Realizar o Secretaria da Cultura do 50% nos 2020-2030 Criação de uma política de
inventário cultural Estado; Secretarias primeiros 5 patrimônio cultural de
dos seus bens municipais da Cultura. anos e depois natureza material e
materiais e mais 50%. imaterial com vista nos
imateriais, Atingindo ao grupos étnicos do CE.
paisagísticos e final do
étnicos. período da
execução do
plano atingir
100%
8- Realizar Secretaria da Cultura do 50% nos 2020-2030 Publicação realizada.
mapeamento dos Estado; Secretarias primeiros 5
coletivos culturais municipais da Cultura. anos e depois
que trabalham com mais 50%.
a negritude, Atingindo ao
objetivando garantir final do
a potencialização período da
dos grupos de execução do
juventude negra já plano atingir
existentes. 100%
9- Incluir nos Secretaria da Cultura do 50% nos 2020-2030 Inclusão da pauta étnica na
instrumentais das Estado; Secretarias primeiros 5 política da cultura do
políticas de saúde, municipais da Cultura; anos e depois Ceará.
cultura, educação e SPS/CEPPIR; mais 50%.
assistência social a COPPIR PMF; Atingindo ao
identificação das SEDUC; final do
comunidades SESA. período da
quilombolas, povos execução do
indígenas, povo plano atingir
cigano e povo de 100%
terreiro a fim de
garantir o direito ao
reconhecimento da
identidade, da
memória e da
cultura
afrodescendente.
10 – Elaborar uma Secretaria da Cultura do 50% nos 2020-2030 Publicação da cartilha.
cartilha de Estado; Secretarias primeiros 5
valorização da municipais da Cultura; anos e depois
cultura de matriz SPS/CEPPIR; mais 50%.
africana e afro- COPPIR PMF; Atingindo ao
brasileira, SEDUC. final do
quilombolas, povo período da
indígena, e povo execução do
cigano que plano atingir
contribua na 100%
disseminação e
valorização dos
conhecimentos dos
Povos tradicionais
com ampla
distribuição em
espaços públicos.
11- Implantar Secretaria da Cultura do 50% nos 2020-2030 Criação do programa
Estado; Secretarias primeiros 5 através da Lei.
programa
municipais da Cultura; anos e depois
Intersetorial SPS/CEPPIR; mais 50%.
COPPIR PMF. Atingindo ao
permanente de
final do
valorização, período da
execução do
sensibilização e
plano atingir
acesso ao 100%
conhecimento da
história local das
comunidades
quilombolas e
demais
comunidades
tradicionais;
12- Promover o Secretaria da Cultura do 50% nos 2020-2030 N° de palestras realizados.
Estado; Secretarias primeiros 5
debate da Igualdade
municipais da Cultura; anos e depois
Racial por meio de SPS/CEPPIR; mais 50%.
COPPIR PMF; Atingindo ao
palestras, rodas de
SEDUC. final do
conversas, período da
execução do
seminários, mostra
plano atingir
cultural, que 100%
venham exaltar a
identidade indígena;
13- Realizar Secretaria da Cultura do 50% nos 2020-2030 N° de intercâmbios
Estado; Secretarias primeiros 5 realizados.
encontros e
municipais da Cultura; anos e depois
intercâmbios para a SPS/CEPPIR; mais 50%.
COPPIR PMF; Atingindo ao
discussão a respeito
final do
das temáticas período da
execução do
relacionadas aos
plano atingir
quilombolas, 100%
indígenas e demais
comunidades
tradicionais;
14- Estimular a Secretaria da Cultura do 50% nos 2020-2030 Criação de uma política da
Estado; Secretarias primeiros 5 cultura alimentar voltada
cultura africana com
municipais da Cultura; anos e depois para a cultura dos grupos
recorte na culinária SPS/CEPPIR; mais 50%. étnicos.
COPPIR PMF; Atingindo ao
desenvolvida nos
SEDUC. final do
quilombos com a período da
execução do
realização de cursos
plano atingir
de capacitação. 100%

EIXO 5 – JUSTIÇA, DIREITOS HUMANOS E SEGURANÇA PÚBLICA

A perspectiva dos Direitos Humanos foram constituídos a partir de


determinados referenciais de poder. A Declaração Universal de Direitos Humanos,
organizada em 1948, estabeleceu em torno de si um conjunto de intenções em conflito,
centralizando a agenda política internacional. Neste período, os países colonizados
pautaram a necessidade de que a perspectiva universal se afastasse do ideal eurocentrado,
ie, de um ‘universal’ baseado no homem branco, oriundo das potências ocidentais,
heterossexual e cristão.
No contexto da Guerra Fria, parte das disputas foram deslocadas para o
âmbito das singularidades. Os movimentos sociais passaram a exigir o reconhecimento de
iguais direitos na diferença, dos direitos específicos e da diversidade como valor. Como
se pode verificar, esta inflexão do discurso dos movimentos não encontra resposta nos
marcos da política internacional. Somente em 1993, na Conferência Internacional de
Direitos Humanos, o conceito de gênero passou a fazer parte da normativa internacional.
A questão étnico-racial, por sua vez, começou a apresentar sinais de avanços em 2001, em
Durban, na Conferência Mundial contra o Racismo, a Xenofobia, a Discriminação e
Intolerâncias Correlatas.
O Mapa da Violência 2011 – Os Jovens do Brasil, é resultado de uma
colaboração entre o Ministério da Justiça e o Instituto Sangari, publicado em 2011. Neste
documento, a violência é colocada como um dos maiores desafios que o Brasil enfrenta
hoje. De acordo com este texto, os índices brasileiros de violência permanecem
extremamente elevados, tanto se comparado aos indicadores de outros países do mundo,
como na percepção e temores da população sobre sua própria insegurança. A preocupação
cresce quando verificamos que essa violência continua a ter como principal ator e vítima
a nossa juventude e, na sua maioria, de cor negra. O texto considera a escravização como
um fenômeno que se produz bem além dos limites histórico-jurídicos do período
escravocrata, mostrando que o tráfico de africanos escravizados para o Brasil data de
1526 e perdura até o século XIX. Ao longo desses séculos, os portugueses exerceram a
dominação e a exploração sobre os colonizados – índios/as e negros/as.
A sujeição, a coisificação e a animalização dos escravizados foi produzida em
todas as esferas da vida social. Os corpos dos nativos e escravizados pertenciam aos seus
donos, senhores e senhoras brancas podiam manifestar livremente agressiva luxúria sobre
as negras, abusarem sexualmente, estuprarem meninas e adolescentes negras, desde o
embarque nos navios negreiros. As características da sexualidade forjada neste contexto
de colonização, provocaram consequências para a vida da população negra – em especial
das jovens negras – que até os dias atuais têm de conviver com formas perversas de
exacerbação de atributos físicos: corpo, lábios, cabelos, forma do nariz, seios etc. Na
grande mídia e no imaginário hegemônico, as jovens negras são coisificadas, mediante a
exaltação dos caracteres selvagens, robustos e primitivos, perpetuando a distinção de
papeis entre negros/as e brancos/as.
Meninas negras no Ceará vivem o drama da exploração comercial e sexual.
Cotidianamente, associam sexo, drogas e “diversão” como festas, forró. Fazem uso de
bebidas alcoólicas e outras drogas, se evadem da escola como meio de evitar
constrangimento por parte dos estudantes e até de professores e daqueles que dirigem a
escola, sendo alvo de chacota e discriminação. Soma-se a isso a negação da estética
negra, e a busca artificial de um modelo de beleza da mulher branca.
O ideal de branqueamento populacional se fez presente na sociedade
brasileira como um todo, ideologia levada a cabo pelas elites dominantes, em sua maioria
branca, em seu intento de europeizar o Brasil negando e invisibilizando as raízes negras e
indígenas sobre as quais conformaram esta nação. Assim, nossas meninas negras não se
reconhecem nem se auto afirmam como negras, não existindo nenhuma instituição
responsável pela socialização e pelo empoderamento de pertencimento étnico-racial.

EIXO 5 – JUSTIÇA, DIREITOS HUMANOS E SEGURANÇA PÚBLICA

AÇÕES ÓRGÃO META PRAZO INDICADOR ES


PARA DE EXECUÇÃO
EXECUÇÃ
O
Criar SSPPDS 96 meses
delegacias
especializadas em
repressão aos crimes de
racismos e intolerância
religiosa, para
atendimento de grupos
etnicorraciais
tradicionais, nas
macrorregiões do
Estado.
Criar Centro de CEPPIR
Referência de
Enfrentamento ao
Racismo e Intolerância
Religiosa do Ceará
Estimular a criação de CEPPIR 48 meses
secretarias,
coordenadorias e
conselhos de políticas
de promoção da
igualdade racial no
âmbito dos municípios
alinhados às
ações
desenvolvidas pela
CEPPIR.
Fortalecer a POLÍTICA 48 meses
coordenadoria de S DE
promoção de Igualdade DROGAS
Racial e o s conselho
estadual de promoção
de Igualdade Racial,
garantindo capacitação
contínua
dos(as)
conselheiros(as).
Implementar políticas CEPPIR 24 meses
de prevenção e redução
de danos relativos ao
uso de drogas junto a
população
afrodescendentes,
índios, ciganos e as
diversas etnias
discriminadas.
Fortalecer os Centros CEPPIR 24 meses
Regionais
especializados em
Direitos Humanos,
com equipes
multidisciplinares para
o enfrentamento de
qualquer forma de
preconceito racial.

Tornar obrigatória a 24 meses


disciplina de igualdade
racial e direitos
humanos na grade
curricular da Academia
Estadual de Segurança
Pública em todos os
graus de hierarquia,
visando o combate ao
racimo.
Criar CEPPIR 24 meses
atendimento
psicossocial para as
vítimas de violência
racial extensivo às
famílias.
9. Criar uma ouvidoria CEPPIR
para tratar casos de
racismo e
discriminação
religiosa.

5.6 - Eixo 6 – Regularização dos Territórios

O Estado brasileiro, acolhendo reivindicações apresentadas pelas


organizações que representam os segmentos sociais discriminados, vem buscado, na
última década, alterar a situação de exclusão e invisibilidade econômica, social e cultural
desses grupos com medidas que reconhecem o direito dos povos e comunidades ao
domínio sobre os seus territórios e estabelece condições institucionais para a implantação
de ações que promovam o seu desenvolvimento social. Exemplo de tais medidas é a
promulgação do Decreto nº 6.040 de 07 de fevereiro de 2007 que institui a Política
Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais.

Esse Decreto pretende criar condição para a reversão da situação de exclusão


social, a preservação da diferença cultural desses grupos, retirando-os da invisibilidade e
trazendo-os para o campo dos direitos através do incentivo ao exercício da cidadania
como instrumento para o empoderamento desses grupos.

As terras ocupadas por esses grupos são uma garantia da sua reprodução
física, social, econômica e cultural, compreendendo ainda o uso dos recursos ambientais
necessários à preservação de seus costumes, tradições, cultura e lazer, os espaços de
moradia, inclusive aqueles destinados aos cultos religiosos e os sítios que contenham
reminiscências históricas dos antigos quilombos (cf. Instrução Normativa nº 20 –
INCRA).

Embora cada grupo tradicional apresente singularidades em sua formação


cultural e forma de organização social, a estrutura desigual sob a qual está assentada a
sociedade brasileira, os submeteu, ao longo da história, à negação das condições básicas
para a sua reprodução sociocultural, sobretudo, pelo “imprensamento” desses grupos,
provocado pela invasão das suas terras, que ameaçam aquilo que fundamenta seus modos
de vida e os identificam como segmento tradicional: o domínio sobre o território e
recursos necessários ao desenvolvimento dos usos e práticas comuns que possibilitam a
construção de um sentimento de pertencimento, sociabilidade e identidade, alicerçados
pelas relações de parentesco e solidariedade, enquanto fundamentos legados pela tradição
e repassados aos novos por mecanismos centrados na ancestralidade.

A falta de acesso à posse da terra dificulta o desenvolvimento das suas


atividades de reprodução social e preservação da sua identidade cultural, pois a relação
desses povos com a terra e os recursos naturais ultrapassa a questão produtiva, sendo
elemento fundamental na constituição e reprodução dos seus modos de vida. O
desrespeito histórico aos seus direitos sociais básicos e a falta de acesso às políticas
públicas explicam a precariedade das condições de vida que se encontram atualmente e
exigem medidas por parte do Estado no sentido de reparar uma dívida histórica da
sociedade para com esses segmentos.

Os povos africanos ao serem transladados para o Brasil na condição de


escravos, nos mais diversos modelos de resistência ao regime escravocrata, recriaram,
através das comunidades de terreiros, ordenamentos políticos referenciados na África pré-
colonial. Essas formas de organização social retratam uma sociedade em que a terra é de
propriedade coletiva, onde todos cuidam, cultivam, vivem e sobrevivem dela, sem cercas.
Além disso, para estas comunidades, a terra é sagrada, pois pertenceu aos seus
antepassados e será das gerações futuras. A terra e o território são a referência maior das
comunidades de terreiro por estarem diretamente ligada ao sagrado, ao social, ao
econômico, ao político, portanto, ao cultural.

Os povos indígenas, apesar do reconhecimento dos direitos a terra e ao acesso


diferenciado à saúde e à educação, apresentam indicadores sociais ainda críticos com
precariedade das condições de saúde e com taxas de morbimortalidade superiores à média
brasileira (FUNASA). Sua história é marcada pela sucessão de conflitos fundiários com
grileiros e posseiros que avançam sobre suas terras e ameaçam seu principal elemento de
reprodução sociocultural: o território. Sob a ameaça de desaparecimento, a população
indígena demanda do Estado ações públicas urgentes que sejam empregadas para
resguardá-los da marginalização e da violência a que são submetidos e assegurar-lhes
condições de vida digna, associadas a sua forma tradicional de viver.

Eixo 6 – Regularização dos Territórios


AÇÕES ÓRGÃO META PRAZO INDICADO
PARA R ES DE
EXECUÇÃO EXECUÇÃ
O
Acompanhar através do INCRA
IDACE e da CEPPIR os
processos em andamento de
demarcação das terras
indígenas e titulação dos
territórios quilombolas
Estabelecer parcerias SDA/INCRA
entre o
Governo do Estado através
do
IDACE e o Governo federal
por meio do INCRA com o
intuito de agilizar os
processos de titularização
das áreas da população
remanescente de quilombos
Estabelecer parcerias entre SDA/FUNAI
o Governo do Estado
através do IDACE e o
Governo federal por meio
da FUNAI com o intuito de
agilizar os processos de
demarcação das Terras
Indígenas
Realizar diálogo SDA
permanente com o Governo
Federal com o fim de
incentivar a demarcação das
Terras Indígenas e a
titulação dos Territórios
Quilombolas
SDA
Garantir a infraestrutura
como: redes de esgoto,
saneamento básico e energia,
compatível com o ambiente e
cultura das áreas ocupadas
pelas comunidades
tradicionais,
afrodescendentes,
quilombolas, indígenas e
outras etnias discriminadas;
SDA
Disponibilizar

programas sustentáveis de
uso e ocupação nas áreas das
populações tradicionais,
indígenas e quilombolas;
SDA/SEMA
Realizar o planejamento
ambiental sustentável e
participativo das terras
direcionadas as comunidades
tradicionais, indígenas e
quilombolas;

5.7 - Eixo 7 – Desenvolvimento


As desigualdades raciais no mundo do trabalho se consubstanciam em
um dos maiores desafios, senão o maior, a serem enfrentados pelas políticas
públicas. No caso específico das mulheres negras, os indicadores revelam que estas
ainda ocupam a base piramidal de trabalho e renda, recebendo remuneração inferior
a homens negros, mulheres brancas e homens brancos, estes no topo da pirâmide.
Diante desse quadro, os debates em torno deste tema, desde os processos locais até a
I Conapir, foram unânimes em salientar que o maior desafio das políticas públicas
de emprego e geração de renda é a efetiva implementação das Convenções 100, 111
e 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para superação das
discriminações salariais e relacionadas às profissões.

De acordo com os dados do IBGE de 2010, sobre as desigualdades


raciais na apropriação de renda, pretos e pardos no Brasil são 74% entre os mais
pobres e só correspondem a pouco mais de 12% entre os mais ricos. O relatório
anual das desigualdades raciais no País (LAESER, 2008) revela aspectos distintos de
cor ou raça e de sexo nas diferentes formas de distribuição das posições na ocupação
do mercado de trabalho entre 1995 a 2006. Os dados mostram a condição assalariada
com carteira profissional assinada era mais comum entre os trabalhadores brancos
(36,8%) do que entre pretos e pardos (33%); e entre as brancas (33%) do que entre
as pretas e pardas (22%). O emprego assalariado sem carteira assinada era mais
comum aos homens pretos e pardos (25,2%) do que aos brancos (17,2%). Entre as
mulheres, o percentual de pretas e pardas era superior. O emprego de funcionário
público ou militar era pouco mais às mulheres brancas (9,9%) do que as pretas e
pardas (7,5%) e aos homens brancos (5,9%) do que aos pretos e pardos (4,6%).

Uma política efetiva de ações afirmativas “pela diversidade e equidade


racial e de gênero” deve ser suficientemente ampla para abarcar as administrações
centralizadas, autarquias, fundações, empresas públicas, privados, nacionais,
multinacionais e cooperativas. Esta política diz respeito não apenas à criação de
cotas para negros, indígenas e quilombolas nos processos seletivos das instituições,
mas também à oferta de oportunidades equitativas de estágio, capacitação,
qualificação e ascensão profissional. Cabe ao Estado e à sociedade a implementação
de ações afirmativas direcionadas à melhoria da renda e geração de emprego para os
grupos étnica e racialmente discriminados, com recorte geracional e de gênero,
difundindo a importância da diversidade racial, objetivando a conscientização da
existência de talentos disponíveis em todas as áreas de conhecimento nesses grupos
e não aproveitados nas empresas públicas e privadas.

Uma conquista da população negra no âmbito do trabalho e


desenvolvimento econômico foi a aprovação da Lei nº 12.990, de 09 de junho de
2014 como o objetivo promover a inclusão da população afrodescendente no serviço
público, estabelecendo a reserva de cotas em 20% (vinte por cento) em concursos
públicos federais para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito
da administração pública federal, das autarquias, das fundações públicas, das
empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União, na
forma desta Lei.

Sendo uma das faces da segregação social, a subordinação econômica e


política de todas as etnias à branca é fortemente associada à insegurança alimentar e
contribui para definir o quadro de vulnerabilidade socioeconômica da população
negra e dos povos e comunidades tradicionais.

Há necessidade de etnizar a elaboração de políticas públicas de segurança


alimentar, direcionando-as a esses grupos, com o objetivo de eliminar tanto a
situação de vulnerabilidade como a de pobreza, decorrente de sua discriminação. As
mulheres negras, indígenas e ciganas são as mais diretamente afetadas, e estão na
sub-base da pirâmide social, Tais segmentos populacionais se encontram em um
índice de pobreza duas vezes superior que o das mulheres brancas, o que demonstra
que o desenvolvimento de políticas públicas diferenciadas, pautadas pelo recorte
étnico-racial e de gênero, é instrumento fundamental para a promoção da equidade e
do desenvolvimento social no Brasil.

A alteração da condição de exclusão social desses grupos exige uma


intervenção imediata e qualificada do Estado no sentido de articular
intersetorialmente um conjunto de ações sistemáticas e integradas nas áreas de
educação, saúde, assistência social, agricultura e cultura que promovam o
desenvolvimento social dessas populações, reparando assim, séculos de exclusão.

O Estado do Ceará estruturou no de 2012 o Plano de Segurança


Alimentar e Nutricional para o período 2012/2015, baseado nos princípios
nomeados na Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional – LOSAN. Neste
documento, a elite política do país assume o desafio de implantação e
implementação da Política de Segurança Alimentar e Nutricional, fundamentando-
se em um conjunto de ações planejadas para garantir o acesso de todos a alimentos
saudáveis e adequados que promovam a nutrição e a saúde da população. Os
princípios sobre os quais esta lei é fundamentada dizem respeito à universalidade e
equidade no acesso à alimentação adequada, garantindo equivalência às populações
tanto urbanas como as rurais; respeito à dignidade e autonomia das pessoas sem
nenhum tipo de discriminação, assegurando ainda os costumes e a preservação
cultural; participação social na elaboração, execução e controle social da política,
plano, programas e projetos no âmbito de SAN; transparência e divulgação ampla
dos programas, projetos, ações de SAN e dos recursos disponibilizados, quer
públicos ou privados, e dos critérios para sua concessão.
O referido Plano Estadual, segue os fundamentos do I PLANSAN
quando incorpora no seu desenvolvimento os eixos orientadores e as diretrizes da
Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – PNSAN, vinculando a
cada diretriz os objetivos, metas e iniciativas relacionados aos programas e ações de
SAN que deverão ser executados pelo Estado.

5.7 - EIXO 7 - DESENVOLVIMENTO


AÇÕES ÓRGÃO PARA META PRAZO INDICADOR ES
EXECUÇÃO DE EXECUÇÃO

1.Garantir uma COORDENA 72 meses


política equânime DORIA DE
de acesso ao INCLUSÃO
trabalho e à renda
para a
população afro- SOCIAL SPS CORTÊS
brasileira,
indígenas,
quilombolas e
ciganos;
2. Criar espaços SECRETARIA 96 meses
culturais urbanos e EXECUTIVA DE
rurais que PROTEÇÃO SOCIAL
desenvolvam a
formação
profissional juvenil
da população negra
que mora em áreas
vulneráveis;
3. Criação de um CEPPIR 72 meses
fundo para o
financiamento das
atividades artísticas
culturais que
promovam a
Igualdade Racial;
4. Financiar o COORDENA DORIA 72 meses
microcrédito para DE INCLUSÃO
a SOCIAL SPS

população
afrodescendente;
5. Premiar empresas SECRETARIA 24 meses
públicas e privadas EXECUTIVA DA
que invistam em JUSTIÇA, CIDADANIA
projetos e E DIREITOS
campanhas HUMANOS
midiáticas que
ressaltem a imagem
positiva da
população
afrodescendente;
48 meses
7. Criar programas COORDENA DORIA 72 meses
de desenvolvimento DE INCLUSÃO
econômico e SOCIAL SPS
créditos especiais
para o
fortalecimento
dos
empreendimentos
dos
afrodescendentes,
indígenas, ciganos e
outras etnias
discriminadas;
8. Capacitar as CEPPIR/SPS 24 meses
entidades negras,
indígenas, ciganas e
outras etnias
discriminadas em
elaboração de
projetos para
concorrerem a
editais públicos;
9. Proporcionar COORDENA DORIA 24 meses
estágios em DE INCLUSÃO
empresas públicas e SOCIAL SPS
privadas destinados
a negros, índios,
ciganos e outras
etnias
discriminadas;
10. Criar bancos de SPS/CEPPIR 24 meses
dados com
profissionais das
comunidades
afrodescendentes,
indígenas e outras
etnias discriminadas
em diversas áreas
promovendo
parcerias junto a
empresas privadas e
públicas;
11.Incentivar, SDA 24 meses
através de
financiamento e
capacitação, a
criação de
cooperativas de
produtos na
perspectiva de
valorização da
cultura e do respeito
ao trabalho na
própria comunidade
promovendo,
incentivando e
divulgando as
organizações da
economia solidária,
agricultura familiar,
rede e cadeias
produtivas através
de cooperativas
tradicionais e
sociais, empresas
recuperadas,
associações de
produção/consumo
e entidades
formalmente
constituídas na
perspectiva de obter
financiamentos de
agentes
financiadores;
12. Realizar o SDA/ COORDENA 24 meses
mapeamento DORIA DE
material e imaterial ARTESANAT O DA
das comunidades SPS
negras,
quilombolas,
indígenas e ciganas
do Estado dando a
visibilidade desta
população por meio
do ecoturismo
através de ações de
valorização da
cultura e do
artesanato;
13. Criar centros de EXECUTIVA DE 72 meses
formação PROTEÇÃO SOCIAL
profissional e de
assistência social
nas regiões do
Estado no Ceará;
14. Incentivar a SEMA 72 meses
formação de
empreendimentos
ecologicamente

sustentáveis
vinculados às
potencialidades
socioculturais
étnico-
raciais, turismo

comunitário
dentre
outros;
15. Garantir cotas SPS 72 meses
étnicas nos
Institutos
Tecnológicos;
16. Destinar SEMA 48 meses
recursos no
orçamento estadual
para formação
profissional na área
da gestão
ambiental,
tecnologias limpas
e renováveis,
reciclagem de
resíduos sólidos e
lixo, tecnologia da
informação e
comunicação,
polos energéticos
focados na
população indígena,
negro, ciganos e
comunidades
tradicionais;
17. SDA

Incentivar o
desenvolvimento
da agricultura entre
as famílias
das localidades
rurais,
principalmente
nas
comunidades

indígenas,
quilombolas,
ciganas e de povos
de terreiro, a fim de
melhorar a
sobrevivência
econômica da
família e
consequentemente
da comunidade;
18. Possibilitar COORDENA DORIA
inclusão de jovens DE INCLUSÃO SOCIAL
para estágio e SPS
primeiro emprego
através de cotas dos
que se auto afirmam
etnicamente negro,
indígena e
pertencentes aos
povos tradicionais
em empresas
públicas e privadas
das suas
Macrorregiões do
Estado;
19. Estimular a CEPPIR/ ESCOLA DE 96 meses
cultura africana GASTRONIA
com recorte na - SECULT
culinária
desenvolvida nos
quilombos e nas
aldeias indígenas
com a realização de
cursos de
capacitação;
20. Garantir política SPS/ CONSEA/ SDA 24 meses
de segurança
alimentar e
nutricional para a
população afro-
brasileira,
indígenas,
quilombolas e
ciganos;
21. Elaborar e CEPPIR
sancionar projeto de
Lei para reservar à
população negra,
indígena,
quilombola e
cigana, 20% a 50%,
de forma gradual,
das vagas
oferecidas nos
concursos públicos
para provimento de
cargos efetivos e
empregos públicos
no âmbito da
administração
pública Estadual, da
Universidade
Estadual
da
Paraíba,Universidad
e Estadual do
Ceará, URCA e
UVA, além das
autarquias, das
fundações públicas,
das empresas
públicas e das
sociedades de
economia mista
controladas pelo
Governo do Estado
da Ceará
22. Criar Selo CEPPIR
Negro Estadual
para empresas
privadas e
fornecedores que
promovam a
ascensão funcional
de 30% de
profissionais negros
e negras nos
quadros de
funcionários(as),
através dos seus
respectivos planos
de cargos e
carreiras.
23. Criar e COORDENA DORIA
implantar uma linha DE INCLUSÃO SOCIAL
de crédito e SPS
fomento ao afro
empreendedorismo,
com recorte
geracional,
acessível à
população negra, e
mulheres negras,
artistas negros(as),
bem como povos
originários e
comunidades
tradicionais do
Ceará.
24. Facilitar a SDA
obtenção de selo de
origem para
produtos da
agricultura familiar
para povos
originários e
comunidades
quilombolas

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/discrimina/dec78.htm.
FALTA TRAZER AS FONTES DOS TEXTOS ATUALIZADOS (por gentileza
coloquem as fotos).

SITES CONSULTADOS
IBGE – http://www.ibge.gov.br FUNAI – http://www.funai.gov.br INCRA –
http://www.incra.gov.br
SEPPIR – http://www.seppir.gov.br
Fundação Palmares – http://www.palmares.gov.br
IPEA – http://www.ipea.gov.br/portal/
SEDUC - https://www.seduc.ce.gov.br/educacao-escolar-indigena

ANEXO 1
ANEXO 1- RELAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS NO CEARÁ

Nº TI ETNIA MUNICÍPIOS INÍCIO SITUAÇÃO PRÓXIMA


FASE
1 Córrego João Tremembé Acaraú, 1992 Homologada A Terra
Pereira Itarema encontra-se
reguralizada

2 Pitaguary Pitaguary Maracanaú, 1993 Declarada Pagamento de


Pacatuba Benfeitorias,
Desintrusão e
Homologação

3 Lagoa Jenipapo Aquiraz 1995 Declarada Pagamento de


Encantada Kanindé Benfeitorias,
Desintrusão e
Homologação

4 Barra Tremembé Itapipoca 2003 Declarada Pagamento de


Benfeitorias,
do Mundaú Desintrusão e
Homologação

5 Queimadas Tremembé Acaraú 2003 Declarada Pagamento de


Benfeitorias,
Desintrusão e
Homologação

6 Tapeba Tapeba Caucaia 1985 Delimitada Julgamento


do Processo
Judicial e
Publicação da
Portaria
Declaratória

7 Almofala Tremembé Itarema 1986 Delimitada Julgamento


do Processo
Judicial e
Publicação da
Portaria
Declaratória

8 Nazário- Tabajara, Crateús 2003 Transferência Efetivação da


Mambir Potyguara, do Transferência do
a Kalabaça, INCRA
Kariri INCRA para FUNAI
para FUNAI
e Tupinambá

9 Taba Anacé Caucaia 2003 Reserva Regularização


Entregu
dos Anacé e
10 Anacé Anacé Caucaia 2003 Em Estudo Publicação no
DOU do
resumo do
relatório

11 Serra Tabajara, Monsenhor Tabosa, 2003 Em Estudo Publicação no


Potyguara, Tamboril, Boa DOU do
das Matas Kalabaça, Viagem resumo do
Gavião relatório

e Tubiba-
Tapuya

12 Gameleira Kanindé Canindé 2001 Em Estudo Constituição do


GT

13 Sítio Kanindé Aratuba 2001 Em Estudo Constituição do


Fernande GT
s

14 Cajueiro Tabajara e Poranga 2007 Em Estudo Constituição do


Kalabaça GT

15 Gameleira Tapuya São Benedito, 2007 Em Estudo Constituição do


Kariri Carnaubal GT

16 Aroeira Tremembé Acaraú 2004 Inquéri Qualificação da


to demanda
Civil

17 Santo Tremembé Itarema 2010 Inquéri Qualificação da


Antôni to demanda
o Civil

18 Camundongo Tremembé Itarema 2010 Procediment Qualificação da


o demanda
Preparatório

19 Lagoinha Potyguara Novo Oriente 2003 Sem Qualificação da


Providênci demanda
as

20 Croat Tabajara Quiterianópolis 2003 Sem Qualificação da


á- Providênci demanda
Fidéli as
s
21 Periferia Tabajara, Crateús 2003 Sem Regularização das
Potyguara, Providênci áreas de moradia
de Crateús Kariri, as indígena na
Kalabaça e cidade
Tupinambá

22 Imburana Tabajara Poranga SD Sem Qualificação da


Providênci demanda
as
Fontes: FEPOINCE- Situação dos Povos Indígenas do Ceará (2017)

ANEXO 2-

RELAÇÃO DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS CERTIFICADAS PELA


FCP

ANEXO 3
- RELAÇÃO DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS MAPEADAS PELA
CEQUIRCE

ANEXO 4

RELAÇÃO DOS TERREIROS DE CANDOMBLÉ


No. Terreiro / Ilê Ialorixá ou babalorixá Bairro
responsável pela Casa
1 Ilé Asé Omode Alafun Pai Agideí de Oxalá Canindezinho
2 Ilé Asé Olojudolá Pai Aluízio de Xangô Modubim
3 Ilé Asé Odé Igbo Miwa Pai Kaká do Oxossi Maracanaú
4 Ilé Ibá Asé Possum Aziri Pai Shell de Obaluaê Itaperi
5 Ilê Axé Oni Abá Pai Francisco de Iansã Granja Lisboa
6 Ilê Osun Oyeyé Ni Mo SEM DEFINIÇÃO Canindezinho
7 Ilé Oya Liri Mãe Leda de Iansã Álvaro Weyne
8 Ilé Bokun Mãe Leila de Iansã Maranguape
9 Ilé Asé Odé Rumim Pai Lindolfo do Oxossi Jardim Iracema
10 Ilé Adjebówara Mãe Lúcia de Iansã Jardim Jatobá
11 Ilé Asé Oloyobá Babakekerê Lino de Maracanaú
Ogun
12 Ilé Asé Òsanyín Yánsàn Pai Roberto de Osanyín Eusébio
13 Ilé Asé Alaketu Omi Pai Sílvio de Iemanjá Maranguape
Ya Ogun
14 Ilê Axé Omo Tifé Mãe Valéria de Logun Messejana
Edé
15 Ilé Asé Oju Oya Pai Valdo de Iansã Bom Jardim
16 Ilé Asé Omo Olore Pai Paulo de Xangô Caucaia
17 Ilé Asé Ya Omin Ogunté Pai Clayton de Yemanjá Fortaleza
18 Ilé Asé Tobi Fumi Deja Pai Gê de Oxoguian Caucaia
19 Asé t’Muwá Mãe Josy de Oxum Maracanaú
20 Igbasé Ominolé Pai Leo de Oxum Fortaleza
21 Ilé Asé Obarewa Pai Virgílio de Omolu Caucacia
22 Ilé Omi Sola Asé Olodé Pai Fábio de Oxóssi Fortaleza
23 Ilé Alaketú Asé Logun Pai Thomas de Logun Jardim Jatobá
Igbain
24 Ilé Asé T’inuadê Omin Ya Pai Pedro de Yemanjá Bom Jardim
Sadê
25 Ilé Alaketú Ijobá Asé Pai Isaac de Logun Edé Juazeiro do
Logun y Oyá Norte
26 Ilê Axe Omolwaiya Pai Bira de Omolú Juazeiro do
Norte
27 Ilê Axé Oxum Tunji Mãe Célia de Oxum Juazeiro do
Norte
28 Ilé Asé Iya Omi Arin Pai Cleudo de Oxum Maracanaú
Massun
29 Ilé Asé Ogun Alagbedé Pai Lindeberg de Ogun Aquiraz
30 Ilé Oba Ola Deji Pai Linconly de Xangô Mararacanaú
31 Abacá de Ogum Ilê de Iansã Mãe Ana Lúcia Siqueira
32 Ilê Axé Omim de Fé Arvoredo
32 Ilê Axé Adê Oya Pai Djeilson de Yansã Granja Lisboa
34 Ilê Obaluaye Mãe Fátima de Omulu Lagoa Redonda
35 Organização Maracanaú

Cultural Religiosa de
Matriz Africana
Ilê Ogodo
36 Ilê Axé Ogum Oya Pai Duda de Ogun / Mãe Maracanaú
Marta de Oya
37 Abaça deKatu Izó Pai Alves Pedras/Itaitinga
Nação Luanda
Kiokô - Omolokô -
Kafungê
38 Ilê Olodê Axé Ayra Pai Fábio de Odé Parque
São
Jorge/Fortaleza
39 Ilê Axé Yeye Mimo Mãe Odete de Oxum Canindezinho/
Fortaleza
40 Ilê Axé Ogum Tobi Mãe Cleide de Ogum José
Walter/For
taleza
41 Ilê Ase Ode Abolaja Pai Fabio de Oxossi Esperança/
Fortaleza
42 Egbe Ilê Yemonja Oronobi Pai Junior de Yemanjá Siqueira /
Fortaleza
43 Ilê Asé Ifá Orixá Pai Alberto do Ogum / Pacatuba
Pai Kleitin de Ogun
44 Ile Osóòsí Abi Dode Pai Lindolfo de Oxossi Pacatuba
45 Abasá de Oya – Nação Mãe Mona de Oya Fortaleza
Omoloko
46 Ilê Axé Omim Bilé Mãe Mirella de Oxum Pratius
/
Pindoretama
47 Axé Oromim Logun Pai Neto de Logun Fortaleza
48 Ilê Alaketu Pai Ozires de Oxoguian Barra Nova
Asé Cauaia
Omoséregigbo
49 Tumbessi Neto Pai Philipe- Taata Bom
Monaleui
Jardim
/Fortaleza
50 Ilê de Iemanjá Sabá Ialorixá Maria Forte Parque

Potira
/Caucaia
51 Abasa Ayrá Oiá David Zelado Parque

Potira
II/Caucaia
52 Ilê Axé Oiá Onira Ialorixá Lusi Meire Parque
Potira
II/Caucaia
53 Ilê Axé Agodô Rozendo Damião Pereira Parque
Guadalajara/C
aucai
a
54 Organização de Culto e Babalorixá Marcelo Airá Nova
Cultura de Religião de Brasília/Ca
Matriz Africana Ilê ucaia
Ogodôo
55 Ilê Iansã Mãe Juçara de Iansã Cidade
dos
Funcionários/F
ortal
eza
56 Egbé Ifá Agbonniregun Baba Miguel de Logun y Pedrinhas/
Odu Okaran Ate Oya Juazeiro do
Norte
57 IlÊ Axé Omo Obá Ya Oba Obasse Frei
Damião/Juazei
ro do
Norte
58 Abassa Ymulezambi Pai Adriano de Oxala Frei
Damião/Juazei
ro do Norte
59 IlÊ Axé Ominsensu Pai João Paulo de Oxossi João
Talandgy Cabral/Juazeir
o
do
Norte
60 Ilê Axe Omindereci Doné Omi Ofadogi e João
e Mutalegi Omindereci Cabral/Juazeir
o
do Norte
61 Ilê Axé Omin Ojó Winderson DE Oxaguian Triângulo/
E Oxossi Juazeiro
do Norte
62 Terreiro de Candomblé Taata Mutaruessy e Limoeiro/
Nação Angola Nzo Ngana Mametu Maleozazi Juazeiro do
Nzazi Norte
63 Ilê Axé Omo Aye Baba Edilsom Vale
do
Amanhecer/
Juazeiro do
Note
64 Ilê Axé De Oxum Ya Deleuide Oxum Salesiano/
Juazeiro do
Norte
65 Ilê Omo Oba Izo Ya Gege de Ayra João
Cabral/Juazeir
o
do
Norte
66 Ilê Axé Oni Abá Pai Francisco de Yansã Granja
Lisboa/For
taleza
67 Ilê Axé Omin Lumê Mãe Lurdes de Oxum Missão Velha
68 IlÊ Axé Oya Fungelecy Mãe Jacinta de Oya Juazeiro do
Norte
69 IlÊ Axé Amimboji Mãe Eliane de Oxum Juazeiro do
Norte
70 ilê Axé Ewe Orum Babalorixá Ramom de Missão Velha
Osayne Egbom Adriano
de Odé
71 Terreiro de Oya Matamba Mãe Mariquinha de Missão Velha
Matamba
72 Ilê Ocowow Asé Ya Awoyo Babalorixá Guilherme de Eusébio
Oxalá
73 Comunidade Tradicional de Francisco Eldemir Quixeramobim
Matriz Africana Ilê Ayrá Pereira da Silva Pinheiro
74 comunidade tradicional Pai Mesquita Itapipoca
de matriz
africana ilê
axé
ogunjá
75 comunidade tradicional Evelane Silveira Farias Aquiraz
de matriz
africana ilê yemonjá
76 Ilê Axé Oxaguian Pai Luciano de Yemanjá Pacajus
77 Ilê Axé Vodunce Azerí Mãe Dorinha Russas
78 ilê igba aguêlonmin azerí Baba Fabiano de Ossayn Aracati
axé
azoany
79 ilê okin asé omimoodo BABA SERGIO DE Caucaia
OGUN
80 ilê asé iya omi otoluefon Babalorisá: Rogerio de Caucaia
Giyon - Akandê
81 ase alaketu iya omi oju aro Leo de Oxossi Aquiraz
82 Casa de Yansã Baba Cicero de Caucaia
Obaluayê
Fonte: MADEIRA / 2005/ FARIAS/RELAÇÃO DE CASAS DE CANDOMBLÉ CEARÁ/2020

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