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A ADMINISTRAÇÃO DA IGREJA

E O MINISTÉRIO DA PALAVRA

WITNESS LEE

1.......................... A edificação da igreja


2. Problemas na administração da igreja e no ministério da palavra
3. Não fazer uma obra de demolição no serviço da igreja
4. A importância da edificação revelada em João 14
5............................ A unidade em João 17
6. Edificar em amor e conhecer as pessoas
7. A edificação da igreja requer consagração total
8. A edificação da igreja requer conhecimento de diferentes questões
9. O significado da edificação está na edificação da autoridade de Deus sobre o homem
10. A escolha do material para o ministério da palavra
11. A importância e a comissão do ministério da palavra
12. A palavra serve para suprir

prefácio

Este livro é composto de mensagens proferidas pelo irmão Witness Lee em reuniões de serviço
realizadas em Taipé, capital de Taiwan, em setembro de 1957. São doze capítulos que abrangem
a importância da administração da igreja e do ministério da palavra, além dos problemas que
surgem em ambos, a edificação da igreja e a prática da restauração da base da igreja. Essas
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mensagens foram, primeiramente, traduzidas do original chinês para o inglês e a seguir do inglês
para o português.

CAPÍTULO UM
A EDIFICAÇÃO DA IGREJA

Leitura Bíblica: Mt 16: 18; Ef 4: 11, 16; 2:20; 1 Pe 2:5; 1 Co 3:9-10, 14; 14:4-5, 12, 26; Hb 11: 10

A INTENÇÃO DE DEUS É RESTAURAR A EDIFICAÇÃO DA IGREJA


Neste capítulo vamos compartilhar algo com relação à edificação da igreja. Nos últimos dois mil anos as pessoas
não deram a devida atenção a essa questão. Nos últimos séculos Deus já restaurou muitos itens. Esses itens da
restauração deixaram o povo de Deus tão ocupado, que eles não tiveram energia suficiente para perceber o que ainda
faltava na restauração de Deus. A rigor ainda não houve muita restauração com relação à edificação. Somente em anos
recentes é que Deus conduziu Seu povo a considerar com mais seriedade esse assunto.

Tivemos dificuldade em encontrar publicações cristãs relacionadas com o tema da edificação. Muitos falam em
aperfeiçoamento ou instrução, porém poucos falam da edificação propriamente dita. Por essa razão, nas versões em
inglês da Bíblia, a palavra grega para edificação muitas vezes é "edification", que tem o sentido meramente de
"instrução, aperfeiçoamento moral ou benefício espiritual" [no sentido de produzir algo construtivo], e não "building-
up", que por sua vez tem o sentido de "construção, edificação" do original grego. Esse também é o caso com as
versões em chinês da Bíblia. Em muitos trechos onde a palavra grega é traduzida pelo termo chinês correspondente a
"instrução" (como o principal sentido de "edification" em inglês), deveria ser traduzida por uma palavra
correspondente a "edificação" ou "construção" (como o termo inglês "building-up").

OS SANTOS SÃO EDIFICADOS COMO CASA ESPIRITUAL


Em grego o verbo edificar possui a mesma raiz que o substantivo casa. Se a palavra utilizada para edificar for
traduzida por um termo com o sentido de instruir, transmitirá apenas a idéia de educação, e não de edificação, construção
ou formação. Precisamos perceber a diferença entre edificação e instrução. No passado nos preocupávamos muito
com a instrução, mas não com a edificação. Nossa compreensão acerca da instrução era de experiência individual, pois
não tínhamos consciência de sua relação com a edificação corporativa. Entretanto na Bíblia a edificação se refere não
apenas a indivíduos recebendo instrução, mas também a santos sendo edificados juntos, de forma coletiva. Em outras
palavras, segundo as Escrituras a edificação inclui não só o aprendizado pessoal, mas também a edificação dos santos
como casa espiritual (1 Pe 2:5). A instrução é necessária para assuntos individuais e a edificação é necessária para os
aspectos referentes ao Corpo.

EDIFICAR O CORPO DE CRISTO


Já que as palavras para edificação e casa possuem a mesma raiz em grego, edificar significa construir os santos como
se constrói uma casa. Em termos espirituais significa edificá-los num Corpo (Ef 2:20-22; 4: 12). O corpo humano pode
ser comparado a uma casa. Segunda Coríntios 5: 1 se refere a ele como tabernáculo, devido a ele ser temporário. Esse
versículo também indica que o corpo transfigurado que teremos no futuro é um edifício de Deus, uma habitação eterna
nos céus.

A igreja é a casa de Deus (Ef 2:22) e o Corpo de Cristo (4:12). Apesar de indicarem dois aspectos da igreja,
referem-se à mesma coisa, porque o Corpo de Cristo é uma casa espiritual. Primeira Coríntios 6:19 nos ensina que
nosso corpo é templo do Espírito Santo. Nosso corpo é um templo, uma edificação. Quando o Senhor Jesus afirmou:
"Destruí este santuário, e em três dias o levantarei" (Jo 2:19), estava dizendo que, se os judeus destruíssem Seu corpo e
o matassem, Ele o reconstruiria em três dias. Isso mostra que na Bíblia corpo se refere a casa, e casa se refere a templo.
A igreja é a casa de Deus e o Corpo de Cristo, e esses dois aspectos dizem respeito a uma única coisa.

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Se a igreja fosse apenas o Corpo, poderíamos pensar que não existe necessidade de edificação; entretanto o Corpo é
também uma casa. Por isso há a necessidade de se edificar. A Bíblia fala de se edificar uma casa espiritual (1 Pe 2:5),
de se edificar uma habitação de Deus em espírito (Ef 2:22 - lit.), e também da edificação do Corpo de Cristo (4:12). Se
não conseguimos apreender o fato de que o Corpo é uma casa, com certeza questionamos a necessidade de se edificá-lo.

A EDIFICAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO


Que o Senhor conceda aos que servimos juntos um profundo sentimento de Sua necessidade quanto a uma
restauração prevalecente. Ele necessita de uma restauração com respeito à edificação. A edificação vai além da
instrução. Nossa obra não serve apenas para instruir os santos de modo geral, porém é para edificar um Corpo, uma
casa espiritual. Efésios 4:11-12 declara: "E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para
evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu
serviço, para a edificação do corpo de Cristo". As pessoas com seus dons são para a edificação do Corpo de Cristo.

Em Mateus 16:18 o Senhor declarou: "Edificarei a Minha igreja". Efésios 2:22 afirma que em Cristo judeus e
gentios são juntamente "edificados para habitação de Deus em espírito" (lit.). Primeira Pedro 2:5 diz que como pedras
vivas somos edificados casa espiritual. Primeira Coríntios 3:10 nos diz que Paulo, como sábio construtor, lançou o
fundamento e devemos atentar em como edificamos sobre ele. Devemos edificar com ouro, prata e pedras preciosas (v.
12). O capitulo catorze enfatiza que é preciso procurar com zelo os dons para a edificação (vs. 1, 3-5, 12). Isso quer
dizer que todos os dons devem ser utilizados para edificar a igreja. De acordo com os versículos acima, o desejo de
Deus nesta era é edificar a igreja, que é a casa, o Corpo de Cristo. O ser humano habita em seu corpo e também numa
casa. Ambos são habitação para os seres humanos. Quando alguém parte do mundo, é despido do corpo. Isso significa
que a pessoa deixa o corpo, a morada terrena. A obra de Deus na presente era é edificar uma morada para Si.

A EDIFICAÇÃO DA IGREJA É A EDIFICACÃO DA NOVA JERUSALÉM


Hebreus 11:10 diz que Abraão "aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador".
A cidade que tem fundamentos é a Nova Jerusalém vindoura. Ela é o tabernáculo de Deus com os homens (Ap 21:3).
Em outras palavras, a Nova Jerusalém é a morada de Deus. Isso não significa que Ele possua duas edificações nesta era.
Ele não possui a igreja na terra como Sua edificação e a cidade santa, a Nova Jerusalém, nos céus como outra cidade.
Deus não habita temporariamente na igreja hoje para descartá-la e se mudar para a Nova Jerusalém no futuro. A igreja e
a Nova Jerusalém são uma coisa só.

Quando edifica a igreja, Deus edifica a Nova Jerusalém. Esses são dois aspectos da mesma obra. A igreja é o
templo de Deus, a casa de Deus, porém na Nova Jerusalém não veremos um templo (v. 22), porque o templo será
aumentado para se tornar a cidade. A edificação do templo não é uma obra distinta e a edificação da cidade, outra. A
Nova Jerusalém por vir é a consumação da igreja. O templo é aumentado para ser uma cidade.
Nesta era, a única obra de Deus é a edificação. Embora seja na terra, Sua obra de edificação é celestial. Embora seja
realizada no tempo, ela é eterna. Apesar de Deus edificar a igreja na terra, essa edificação se dá num ambiente
espiritual. Apesar de edificá-la no tempo, essa edificação é eterna. A Nova Jerusalém é celestial; está repleta de
natureza celestial e de sabor celestial.

O alvo extremo da obra de Deus nesta era é a edificação de uma morada para Si. Em seu estado inicial essa morada
é uma casa, e em seu estado maduro será uma cidade, que será o tabernáculo de Deus com os homens. No Antigo
Testamento o tabernáculo de Deus é Seu templo. No Novo Testamento a igreja é o tabernáculo e o templo de Deus. A
Nova Jerusalém será, portanto, o tabernáculo de Deus com os homens. Não haverá templo na Nova Jerusalém porque
tudo terá atingido a maturidade. A cidade, assim, é um tabernáculo, bem como um templo, ampliado.

A OBRA CENTRAL DE DEUS É A EDIFICAÇÃO


A obra central de Deus é a edificação. A edificação não é questão de entender doutrinas, salvar pecadores ou
mesmo instruir os santos. Ainda que o Novo Testamento se refira à instrução dos santos de forma individual, ele se
concentra na edificação da casa de Deus. Muitas vezes ficamos profundamente sensibilizados com relação à salvação
dos pecadores e a instrução dos santos, no entanto falta-nos sensibilidade com relação à edificação da casa de Deus.
Isso não quer dizer que não devamos ocupar-nos com a salvação dos pecadores e a instrução dos santos, porém
precisamos entender qual é o alvo extremo da obra de Deus na presente era.
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Uma vez que Paulo tinha visão clara com respeito à edificação, ele afirmou: "Segundo a graça de Deus que me foi
dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém cada um veja como edifica" (1
Co 3:10). Precisamos ter cuidado com o modo de edificar, o material utilizado e o resultado da edificação. Que os
irmãos percebam que salvar pecadores e instruir os santos estão relacionados com o alvo central da edificação da casa
de Deus. Se prestarmos atenção a essa obra central, nossa pregação do evangelho com a finalidade de salvar os
pecadores será mais eficaz e nossa atividade de instruir os santos não causará problemas. Por exemplo, nossa falha
quanto à edificação da casa de Deus é o motivo básico por que os irmãos em Taipé parecem não ter a força necessária
para pregar o evangelho. A chave para isso é a edificação da casa de Deus. Se a casa de Deus, o Corpo de Cristo,
puder ser edificada, a salvação de pecadores e a instrução dos santos fluirão de modo muito fácil.

A CHAVE PARA A EDIFICAÇÃO DA IGREJA A ADMINISTRAÇÃO DA IGREJA


E O MINISTÉRIO DA PALAVRA
As duas coisas mais importantes no que concerne à edificação da igreja, da casa de Deus, são a administração da
igreja e o ministério da palavra. Se a administração de uma igreja for deficiente, não haverá muita edificação nela. De
igual modo, caso o ministério da palavra seja ineficiente em determinada igreja, também não haverá muita edificação
ali. Utilizamos a palavra instrução ou educação por tantos anos, mas agora precisamos usar a palavra edificação. Os
santos individualmente necessitam receber instrução; a igreja, por sua vez, enquanto entidade corporativa, como Corpo
de Cristo e casa de Deus, necessita ser edificada. A edificação da igreja depende de sua administração e do
ministério da palavra.

Segundo o Novo Testamento, todo o nosso falar deve ser para a edificação da igreja. Em 1 Coríntios 14:12,
Paulo afirma: "Assim, também vós, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir, para a edificação da igreja".
O versículo 1 diz: "Segui o amor e procurai, com zelo, os dons espirituais, mas principalmente que profetizeis". O dom
mais excelente para a edificação da igreja é o de profecia, porque profetizar está relacionado com o ministério da
palavra. Em 1 e 2 Timóteo, quando a igreja se encontrava em desolação, houve a necessidade de acrescentar a
administração da igreja ao ministério da palavra. A responsabilidade pela administração da igreja é dos presbíteros.
Depois que a igreja ficou nesse estado lamentável, o apóstolo falou com relação à sua administração nos livros de 1 e 2
Timóteo e de Tito. A administração da igreja se torna crucial quando esta está em situação desoladora e confusa.

A administração da igreja e outros temas relacionados com os presbíteros não são tratados no livro de Romanos.
Entretanto 1 e 2 Timóteo falam de maneira clara da administração pelos presbíteros, porque naquela época a igreja se
encontrava em estado deplorável. Se conhecermos o princípio da Bíblia, compreenderemos o que o Espírito Santo quer
dizer. No estágio inicial da igreja, Deus a conduziu e edificou por meio do ministério da palavra. No entanto depois de
certo tempo o ministério da palavra apenas não bastava; houve a necessidade de entrar em cena a administração da
igreja. Por esse motivo, em 1 e 2 Timóteo encontramos tanto a administração da igreja como o ministério da palavra.
Paulo diz: "E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e
também idôneos para instruir a outros" (2 Tm 2:2). Aqui vemos o ministério da palavra e a administração da igreja.

Depois de algum tempo em que a igreja se encontrava estabelecida, surgiu a necessidade de sua administração bem
como do ministério da palavra. Ambos são necessários para a edificação. Se a administração de uma igreja e o
ministério da palavra forem deficientes, ela não será edificada. Quando a administração da igreja e o ministério da
palavra são fortes, a igreja pode ser edificada. Que o Senhor abra nossos olhos quanto ao fato de que a obra central de
Deus nesta era é Sua edificação que Ele quer edificar Sua casa, o Corpo de Cristo, a igreja. Já que tomamos parte em
Sua edificação, precisamos entender a administração da igreja e o ministério da palavra. O ministério da palavra está
relacionado com o dom, e a administração da igreja, com o oficio. Ambos destinam-se à edificação da igreja. O que
falamos como profetas é para o ministério da palavra e está relacionado com o dom. O serviço dos presbíteros é para a
administração da igreja e está relacionado com o aspecto do oficio.

APRENDER OS PRINCÍPIOS PARA ADMINISTRAR A IGREJA E MINISTRAR A PALAVRA

Talvez não tenhamos a habilidade de falar e exercer o ministério da palavra como profetas e nem todos

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tenhamos a habilidade de administrar as igrejas como presbíteros. Entretanto deve haver bons presbíteros e irmãos
capazes de ministrar a palavra de maneira eficaz entre nós. Em princípio, quem participa da obra de Deus deve
aprender a administrar a igreja e a exercer o ministério da palavra. Embora as irmãs, na posição de ter a cabeça
coberta, não devam ser "presbíteras", em princípio devem aprender a administrar como os presbíteros. Todos os que de
alguma forma participam da obra de edificação de Deus, devem aprender a administrar a igreja e a ministrar a palavra.
Todos os que servem devem conhecer esses dois assuntos. Se não os conhecemos, não estamos aptos para a obra de
Deus. A administração da igreja e o ministério da palavra são duas lições que temos de aprender, porque a edificação
da igreja depende deles.
O desenvolvimento da igreja requer em primeiro lugar a administração da igreja e depois o ministério da palavra.
A seqüência na Bíblia, contudo, apresenta esses dois assuntos em ordem inversa. Quando a igreja vive em
normalidade, a administração da igreja não é tão crucial. Quando, porém, a igreja entra em degradação e desordem,
existe a necessidade da administração da igreja e do ministério da palavra. Esses dois assuntos andam juntos é difícil
dizer o que vem primeiro e o que vem em seguida. Portanto os irmãos, em especial os que ministram a palavra e
servem como presbíteros, precisam perceber a responsabilidade que têm. As condições da edificação de Deus, isto é,
se uma igreja é forte ou fraca, depende de sua administração realizada pelos presbíteros e da palavra
transmitida pelo ministério. Os presbíteros e os que ministram a palavra são obreiros habilidosos. E são auxiliados
por outros que não têm a mesma habilidade. Isso pode ser comparado à construção de uma casa com operários
habilidosos juntamente com outros não tão habilidosos. Sempre que os obreiros habilidosos estiverem fracos, a
administração da igreja e o ministério da palavra ali serão fracos e os colaboradores não tão habilidosos ficarão
confusos e não saberão o que fazer. Mas, sempre que os obreiros com maior habilidade estiverem fortes ao
realizar a obra, para os demais será fácil colaborar.

Essa é a condição da igreja local. Quando o ministério da palavra e a administração da igreja são fortes, os
que não têm tanta experiência podem ter uma bela ação coordenada. Entretanto, quando a administração dos
presbíteros e o ministério da palavra estiverem enfraquecidos, a igreja ficará desordenada mesmo se os santos
estiverem ocupados pregando o evangelho e instruindo os demais com todo o zelo. Nesse caso a edificação não
se dará, porque quanto mais "edificarem", mais desmoronará. A edificação da igreja depende da administração
da igreja e do ministério da palavra. Os envolvidos com a obra precisam conhecer o princípio desses dois
assuntos.

A CONDIÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DA IGREJA E DO MINISTÉRIO DA PALAVRA DEPENDE


DE NOSSA PESSOA
A condição da administração da igreja e do ministério da palavra depende de nós. Nós é que determinamos
a condição dessas duas coisas. A obra central de Deus é a edificação, que depende por sua vez da administração da
igreja e do ministério da palavra. O tipo de pessoa que somos determina como administramos a igreja e
ministramos a palavra. Esses dois serviços não podem ser independentes de nossa pessoa. Isso é similar ao fato
de que as casas construídas pelos ocidentais possuem aparência ocidental, enquanto as casas edificadas pelos
chineses possuem aparência chinesa. Edificamos de acordo com nossa personalidade. Isso é verdade
especialmente no que concerne a assuntos espirituais. Por esse motivo é inadequado estudar apenas como
administrar a igreja e ministrar a palavra.

Antes, precisamos entender que o caminho somos nós mesmos. A forma de administrar a igreja está
relacionada com a pessoa que a administra, e o tipo de pessoa que somos determina como administramos. É
inadequado aprender simplesmente de forma externa; precisamos lidar com nós mesmos.

Depois de longo período sem descanso, ganhei da parte de Deus a percepção interior de que Ele está
realizando uma obra de edificação nesta era. Em Manila, capital das Filipinas, liberei mais de quinze mensagens
relacionadas com a edificação. Quando fui a Hong Kong, os irmãos queriam que os aperfeiçoasse em certos
assuntos. Destaquei para os que serviam que é inadequado simplesmente estar ocupado a fazer algo. Precisamos
entender que Deus deseja a edificação. Neste período em Taipé, pude perceber muitas coisas concernentes à
edificação de Deus e aos que servem. Quando visualizo os dois juntos, a edificação de Deus e os que servem,
sinto-me muito triste e sobrecarregado no interior, pois nossa condição está longe da edificação de Deus.

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A EDIFICAÇÃO DE DEUS OCORRE QUANDO SOMOS DISCIPLINADOS
Deus quer tomar o caminho da edificação, mas o problema que encontra é nossa pessoa. Nós somos o
problema. Os que administram a igreja e ministram a palavra estão cheios de problemas. Nosso modo e
doutrina não são o problema; antes, o problema são nossas deficiências. Chegamos a um ponto crítico em nosso
serviço. A igreja em Taipé já está aqui há oito anos, de 1949 a 1957. Se continuarmos como estamos, nossa obra
não produzirá resultados. Só teremos problemas intermináveis e contínuas perdas; não haverá aumento na bênção.
Enquanto os que servem continuarem segundo a maneira tradicional, nossa obra não terá futuro. Pelo bem da
edificação de Deus e pelo futuro de nossa obra, que o Senhor tenha misericórdia de nós para entendermos que o
problema não está em nossa doutrina ou prática, mas em nós mesmos.

Precisamos considerar a condição de nossa obra e nossa atual situação diante do Senhor. Isso não significa que
devamos ser introspectivos. Precisamos ser iluminados e receber ajuda por meio dessa comunhão. Precisamos
aquietar-nos diante do Senhor e permitir que Ele brilhe em nós, fale conosco, nos toque e lide conosco. A não ser
que passemos pelas mãos do Senhor que podem lidar conosco, muito de nossa atividade externa será vã e
insignificante.

Se Deus não lidar conosco por completo, Sua edificação não se realizará, independe dos métodos que
utilizamos. Para que a edificação de Deus se realize de forma adequada, Ele precisa lidar profundamente conosco
nos aspectos da administração da igreja e do ministério da palavra. Na administração da igreja os irmãos que
servem como presbíteros precisam ser disciplinados pessoalmente. Os que falam em nome de Deus também
necessitam de disciplina pessoal. Caso contrário, nossa administração da igreja e ministrar não resultarão na
realidade da edificação. Que todos tenhamos um coração temente ao Senhor e capaz de perceber que a edificação
da igreja depende da pessoa dos que administram a igreja e dos que ministram a palavra. Se permitirmos que
Deus lide conosco, nossa obra causará impacto, mesmo que nosso método seja inferior. Caso contrário,
nossa obra fará a edificação desmoronar a despeito da metodologia que utilizarmos.

Atualmente Deus está preocupado com a edificação. A edificação depende da condição de nossa pessoa. Que
todos nos aquietemos diante do Senhor e Lhe concedamos permissão para brilhar em nós e falar conosco.

CAPÍTULO DOIS
PROBLEMAS NA ADMINISTRACÃO DA IGREJA E NO MINISTÉRIO DA PALAVRA

O PRIMEIRO PROBLEMA: NÃO TER ENCARGO


O maior problema na administração da igreja e no ministério da palavra é não ter encargo ou, pode-se dizer,
não receber um encargo ou não dar a devida atenção, ao encargo recebido. É possível que os presbíteros
administrem a igreja sem ter encargo. Os que ministram a palavra também podem fazer isso sem encargo.
A liberação de certo encargo quando ministramos a palavra não depende de saber falar bem. Se nosso único
desejo é falar bem para provocar certas emoções nas pessoas, nosso falar terá sido sem encargo. De modo
semelhante, a habilidade de administrar a igreja não libera o encargo. Não se trata de nossa capacidade de
administrar, porém de nossa administração ser eficaz e poder tocar as pessoas.

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Por exemplo, quando as pessoas vêm à reunião, pode haver a necessidade de se transmitir a palavra.
Precisamos buscar o Senhor com respeito ao que falar e ao resultado de nosso falar. Não é questão de falar
bem ou não, da logística da apresentação ou de os santos serem tocados, e sim do que será produzido neles. Se
alguns dos presentes ainda não são salvos, devemos ter o encargo pela condução de sua alma pela graça de Deus,
a fim de plantar nela a semente da salvação ao falar a palavra. Nosso encargo então é a salvação, e não a
pregação de uma palavra dinâmica. Se já são salvos, porém não amam o Senhor como deviam, nosso encargo
deve ser levá-los a amar o Senhor. Se amam o Senhor, mas não estão dispostos a se render a Ele e a receber Dele
disciplina pessoal, nosso encargo deve ser conduzi-los a se render prontamente ao Senhor e deixar que Ele lide
com eles. Isso é o ministério da palavra com encargo.

Caso contrário, a mensagem da reunião de domingo pode cair na situação dos ditos cultos dominicais. Toda
semana alguém é designado para pregar uma mensagem a fim de dar continuidade às reuniões. Depois da
reunião, todos vão para casa, almoçam, descansam e retornam à noite para a reunião do partir do pão. Esse é um
culto dominical. Nessa situação os que ministram a palavra precisam ter encargo. Precisamos conhecer a
condição dos que vêm ouvir a mensagem. Talvez eles mesmos não consigam perceber sua condição, mas
nós precisamos ter percepção total e muito clara com relação à condição deles. Talvez consigam sentar-se e
ouvir tranqüilamente a palavra, semana após semana, mas nós não podemos falar pacificamente semana após
semana. Precisamos receber o encargo a fim de "perturbá-los" e "incomodá-los" de modo tal que, quando vierem
para a reunião sentindo-se tranqüilos, saiam perturbados internamente.

Se não nos importamos que nossa pregação não produza nenhum efeito nos que a ouvem, é porque não
temos encargo. Essa situação indica que quem fala e quem ouve estão numa rotina. Essa é a condição do
cristianismo degradado, onde a congregação ouve de forma rotineira o pastor, e ele, por sua vez, prega de forma
rotineira à congregação ano após ano. Não é assim que deve ser nossa prática. O ministério da palavra deve
iluminar os que ouvem. Quando ministramos a palavra a cada domingo, devemos "incomodar" as pessoas a tal
ponto que não tenham mais paz. É isso o que significa ter encargo.

Se os ouvintes são indiferentes, mesmo que ouçam tranqüilamente, quem ministra a palavra não deve
ficar tranqüilo. Deve, antes, colocar-se diante do Senhor e deixá-Lo tirar-lhe a paz, a ponto de perder o sono e
não comer, até que tenha recebido um encargo do Senhor. Só então suas mensagens permitirão que o Espírito
Santo opere nos ouvintes. Somente esse tipo de falar é o falar de Deus. Os que ministram a palavra precisam ter
encargo; não apenas doutrinas, arranjo lógico e exemplos. Ministrar a palavra desse modo é inadmissível; é uma
ofensa a Deus e um pecado a Seus olhos.

Receber o encargo para falar a palavra de Deus no ministério da palavra


Em Isaías 13:1, a Versão União Chinesa [Chinese Union Version] afirma que os profetas recebiam inspiração
quando falavam em nome de Deus. A palavra hebraica para inspiração, no entanto, significa encargo, [ou peso -
VRC]. O homem precisa receber um encargo. Não podemos negligenciar nossa responsabilidade e pensar que
Deus não nos deu encargo. As Epístolas de Paulo demonstram claramente que ele recebia encargos. Quando
alguém na igreja em Corinto cometeu o pecado da fornicação, Paulo não condenou simplesmente o pecado ou
parou de orar por quem pecou. Ele recebeu de Deus o encargo de assumir a responsabilidade e a comissão em
favor da igreja (1 Co 5:1-13). Paulo não pregou doutrinas em suas epístolas; em vez disso, tinha encargo de
compartilhar certos assuntos de modo que conseguia tocar o sentimento das pessoas.

Existe o perigo de o ministério da palavra na igreja em Taipé tornar-se igual às pregações de sermões nos
cultos dominicais. Quando ministramos a palavra de Deus, nossa atenção deve estar concentrada no falar de Deus,
e não no tópico do que iremos falar. Para que Deus fale, quem ministra a palavra precisa receber um encargo. As
pessoas podem até reagir de forma negativa ou ser profundamente tocadas quando ouvirem uma mensagem
transmitida com encargo, no entanto não podem negar que é o falar de Deus. Esse tipo de mensagem pode ajudar
as pessoas e resolver seus problemas. Uma mensagem que soa agradável, mas é desprovida do falar de Deus, não
pode tocar as pessoas nem fazer com que se voltem para seu interior, ou ainda satisfazer os famintos e sedentos,
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pois não são as palavras que Deus quer transmitir, mesmo que sejam extraídas da Bíblia.

Portanto não devemos falar de modo tão cômodo ou de pouco valor. Não podemos simplesmente falar porque
preparamos uma mensagem. Quem ministra a palavra deve levar a condição das pessoas diante de Deus. Ele
tem a responsabilidade de conhecer suas necessidades, estar sensível à condição delas e saber o que Deus
quer falar. A ajuda que recebemos num treinamento não pode substituir o encargo dentro de nós. O perigo é que
o encargo tenha sido substituído de maneira que estamos desprovidos de revelação e encargo espiritual.

Estar desesperados com a situação das pessoas a fim de pregar a palavra eficaz
Em cada uma das cinqüenta e duas semanas do ano há reunião de pregação de mensagem no domingo na
igreja em Taipé. Acaso os que ministram a palavra jejuam e oram antes de pregá-la? É óbvio que não existe
regulamento que exija que façam isso, pois seria inútil. Os irmãos precisam compreender que conduzir a palavra
de Deus equivale a conduzir a alma dos homens. Os santos vêm às reuniões semana após semana a fim de ouvir-
nos, portanto isso precisa pesar sobre nós. Se passados três meses não houver mudança em sua vida, não devemos
ficar tranqüilos. Pode-se comparar essa situação com a de um comerciante que não consegue dormir
tranqüilamente quando fica sem fazer negócios por duas semanas e não consegue comer quando não tem lucro por
três meses seguidos. Ele ficará tremendamente aflito e preocupado.

Muitos que têm negócios vêm até mim. Embora apenas se sentem sem nada dizer, posso sentir o peso dentro
deles e perceber que têm dificuldades nos negócios. Acaso os que transmitem a palavra estão aflitos pelas
almas que não mudaram depois de três meses? O proprietário de uma loja que não tem fregueses não
conseguiria continuar trabalhando como se tudo estivesse bem. Ele analisaria a situação e encontraria uma forma
de mudá-la. Como podem os que ministram a palavra continuar como sempre quando não obtêm nenhum
benefício? Não podemos pensar que apenas falar do púlpito semana após semana é o suficiente.

Quando o irmão Nee iniciou sua obra em Foochow [capital da província de Fujian, no sudeste da China], ele
jejuava e orava todos os sábados pela reunião de pregação do evangelho no domingo. Ele ponderava diante do
Senhor o que falar e como falar. Ele considerava sobre que palavra os pecadores necessitavam ouvir. Como
jejuava e orava com pesado encargo, suas palavras eram sempre muito eficazes e mais tarde foram publicadas na
forma de mensagens. Muitos que são usados pelo Senhor têm encargo em seu ministério da palavra. Quando
Peace Wang era jovem, teve uma obra de avivamento bem-sucedida. Ela sempre se ajoelhava na presença do
Senhor e passava longo tempo a chorar e afligir-se pelos pecadores. Assim, quando se levantava para falar, suas
palavras eram sempre vivas e eficazes.

Servir com encargo


Temos nosso serviço bem organizado, entretanto nos falta encargo. Ter encargo significa ter um alvo a atingir. Se
ainda não atingimos o alvo ou somos incapazes de produzir os resultados esperados, devemos ficar preocupados. Se
somos capazes de servir mesmo sem alcançar nenhum resultado, é porque não temos encargo. Manter essa atitude
indica falta de encargo. Nosso ministério da palavra nunca deve chegar a esse ponto. Por conseguinte os que ministram
a palavra precisam ter sério encargo diante do Senhor, não tendo sossego para descansar ou comer, e até mesmo
inquietando os demais para que também não tenham paz. Pode-se comparar isso à cidade de Jerusalém que não teve
paz quando o Senhor Jesus nasceu (Mt 2: 1-18). Os que falam pelo Senhor precisam estar sensíveis para inquietar
os santos a ponto de que não tenham paz interior. Quando não tiverem paz, nós poderemos ter paz. Os santos
não podem amar o mundo e amar o Senhor. Não podem ser mornos. Os que servem o Senhor precisam ter esse
tipo de encargo.

Muitos são empregados de grandes empresas. Trabalham um número certo de horas todos os dias e simplesmente
fazem as tarefas a eles designadas. Não cometem grandes erros e não se importam se a empresa tem lucro ou não. São
empregados sem encargo; servem sem encargo. Se não ganhamos nada no primeiro dia de nosso negócio próprio,
devemos preocupar-nos com nosso sustento. Se os que servem, seja no serviço de crianças ou de jovens, tiverem essa
consciência, serão bem-sucedidos. Reclamar que fracassamos por ser fracos demonstra falta de encargo. Todos os que
servem devem ter encargo a ponto de se sentir responsáveis caso a obra não seja bem-sucedida. Deve ser como um

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empresário que pensa em seu negócio até mesmo enquanto dorme.

Discernir entre o serviço de responsabilidade e o serviço de encargo


Os presbíteros em todas as igrejas precisam ir à presença do Senhor a fim de receber encargo e ver se todas as
reuniões de casa em sua cidade caminham de modo satisfatório. Precisamos dar atenção à condição das reuniões.
São elas fortes ou fracas, vivas ou mortas, ricas ou pobres? Não podemos permanecer inalterados. Talvez os
responsáveis pelas reuniões de casa estejam em paz; os presbíteros, porém, não devem estar em paz. Os presbíteros
devem agir de forma coordenada, juntos, e não individualmente. Devem ter encargo coletivo para causar total
transformação na condição das reuniões de casa. Precisam orar pelos santos até com lágrimas e buscar o Senhor para
saber as palavras adequadas que deverão dizer. Em seguida devem falar nas reuniões de acordo com seu encargo até
que os santos se inquietem por dentro e não fiquem mais satisfeitos com a atual situação.
Quando os presbíteros falam dessa forma, não falam de acordo com sua organização, porém segundo seu encargo.
Eles devem ter encargo e não apenas ter responsabilidade. Como presbíteros, não devemos apenas compartilhar e
conversar sobre as condições das diferentes reuniões de casa, visitá-las e apresentar relatórios de avaliação na próxima
reunião de presbíteros. Não há encargo algum nessa prática; isso será ineficaz e não trará nenhum benefício. Se temos
uma empresa com muitos empregados, seu ganho anual não será influenciado por conversas, relatórios e avaliações.
Isso não cumpre o encargo. Se temos encargo verdadeiro, iremos estabelecer uma meta de ganho anual, trabalhar
na direção de alcançá-la e ser determinados em atingi-la.

Tanto na administração da igreja como no ministério da palavra, os irmãos são louváveis quanto ao grau de
responsabilidade. Entretanto falta-lhes encargo. Sem encargo, toda a nossa atividade será morta e ineficaz; já
com encargo, seremos vivos e prósperos. Esse resultado não está relacionado com nosso método, mas com
nossa pessoa.

Servir com encargo permitindo que o ego seja negado


As crianças jamais serão bem-sucedidas nos estudos caso estudem somente para as provas. Se tiverem
encargo, seus estudos sofrerão mudança. Um irmão pode dar uma mensagem apenas por obrigação, porque é
sua vez de compartilhar. Contudo dar mensagens não é questão de obrigação, porém de encargo. Podemos falar
por seis meses seguidos, no entanto os que nos ouvem podem não receber nada e nossa fala terá sido em vão. Se
temos encargo, percebemos que nossas mensagens são ineficazes. Elas devem "incomodar" as pessoas de modo
que não tenham paz e sintam-se estimuladas a amar e servir o Senhor. Nessa situação nosso ser será tocado por
Deus. Não existe necessidade de nosso ego ser negado se damos mensagens por obrigação. Entretanto, se damos
mensagens a partir de um encargo, nosso ego precisa ser crucificado.

Trabalhar das nove às seis como empregado é questão de obrigação e não requer qualquer tipo de ajuste. No
entanto trabalharíamos de modo diferente caso tivéssemos nosso próprio negócio. Nossa preguiça seria
eliminada porque teríamos que acordar cedo para o trabalho. A atitude de um garçom ou de um balconista para
com os fregueses talvez não precise de correção. Porém uma pessoa que dirige o próprio negócio se adapta para
jamais ofender os clientes. Em vez de ser transformados, alguns irmãos parecem ter mais problemas ao servir
por obrigação e não por encargo. Se existe encargo, nosso "eu" diminui e é eliminado. Ele não crescerá porque
existem coisas que nosso encargo não nos permite fazer, e existem áreas que demandarão disciplina antes de
compartilhar nosso encargo. Por esse motivo ter encargo é o que mais nos traz transformação.
Um jovem que não tem o encargo de cuidar da família pode não se importar com o modo como vive.
Todavia, depois de se casar e ter filhos, saberá o que significa ser diligente e disciplinado. Um filho pode gastar
o dinheiro dos pais livremente, sem nenhum domínio próprio. Porém, quando crescer e viver por conta própria,
seus gastos serão planejados. Será mais cuidadoso ao fazer compras. Gastar o dinheiro dos pais é uma coisa;
gastar o próprio dinheiro é um encargo. Parece que os irmãos nas igrejas servem por obrigação, como
empregados. Não parecem ter muito encargo. Um serviço desse tipo é perigoso e nos levará a perder a presença
do Senhor.

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Cada um recebe um encargo e serve o Senhor de acordo com o encargo
Todos os que servem o Senhor precisam receber encargo e ter encargo. Isso se aplica também às irmãs,
embora não estejam envolvidas na administração da igreja ou na pregação de mensagens. Se elas compartilham
juntas e visitam as pessoas apenas porque é hora de fazer isso, fazem tudo por obrigação. Elas devem buscar
saber o que seu compartilhar e visitas produziram. Devem conhecer a condição das irmãs sob seus cuidados.
Não devem dizer: "Desde que o Senhor opere nelas, estarão bem. Mas· se o Senhor não operar nelas, não há
nada que possamos fazer". Precisamos receber um encargo genuíno.

Apesar de muitas irmãs terem o desejo de servir o Senhor, poucas se levantaram para servi-Lo nos últimos
tempos. Os irmãos, porém, continuam servindo como sempre. Devemos notar que a situação das irmãs não está
boa e receber o encargo de encoraja-las. Também precisamos analisar os resultados de nossa pregação do
evangelho. Precisamos ponderar por que tantos ainda não estão salvos, apesar de haver tantos pecadores. Alguns
devem levantar-se para receber o encargo de pregar o evangelho até que alguém seja salvo. Precisamos ter
encargo.

O problema é que gradualmente nos inclinamos para a responsabilidade no serviço, e nos falta encargo. Como
a maioria de nossas orações é sem encargo, as reuniões de oração não produzem efeitos. Se alguém é salvo
quando pregamos o evangelho, agradecemos e louvamos ao Senhor. Mas se ninguém é salvo, ficamos em paz.
Quando pregamos mensagens, ficamos em paz mesmo quando não produzem nenhum efeito. O mesmo se aplica à
administração da igreja e às visitas aos irmãos; ficamos em paz mesmo que não haja resultado. Visto que essa é
nossa condição, nossa oração é por obrigação, e não que brota do encargo. Se orarmos com encargo, nossa reunião
de oração será diferente. Alguns prantearão com intensidade e pesar, sentindo que não poderão prosseguir da
mesma maneira. Perceberão que a pregação do evangelho, a administração da igreja e a condição das reuniões são
insatisfatórias. Esse tipo de oração brota de encargo.

Alguns dizem que é fácil perder o encargo depois de certo tempo. Todavia os que tiveram misericórdia
recebem encargos de forma contínua. É um problema muito sério se nosso encargo desaparece depois que
trabalhamos por algum tempo. No entanto um cristão pode continuar a trabalhar por obrigação, mesmo que não
tenha encargo, porque sua consciência o incomoda caso ele pare. Sempre que nosso serviço se torna questão de
cumprir obrigação, nosso serviço já se degradou. O serviço genuíno nunca é questão de obrigação, mas de
encargo; o encargo sempre vai além da obrigação.

O SEGUNDO PROBLEMA: FALTAR O SENTIMENTO DE COORDENAÇÃO


Outro problema entre nós é que, apesar da capacidade dos que servem, eles não possuem sentimento de
coordenação no espírito ao se reunir para servir. Parece como se cada um pudesse servir sem os demais.
Conseqüentemente poucos dentre nós têm espírito de aprendiz e de alguém que sabe que necessita de ajuda. Os
que de fato possuem espírito de coordenação devem ter um sentimento claro de que não podem fazer nada sem a
ajuda e a coordenação com outros. Nossa coordenação hoje é apenas formal. Eles realizam sua parte sem a ajuda
de ninguém. Pode ser que não haja discussões entre nós, mas também não existe muita interdependência no
espírito. Isso mostra quanto nosso espírito de serviço é inadequado.

Essa é a situação dos que trabalham com os jovens e as crianças. A coordenação é formal; todos fazem o que
devem fazer quando é sua vez na escala. Isso é cooperação, e não coordenação. Coordenação significa que não
podemos fazer nada sem os outros. Existe o sentimento de que necessitamos dos outros, e os outros, de nós .
Os que trabalham com os jovens devem ser assim; todo o serviço da igreja deve ser dessa forma. É normal que os
diáconos e os presbíteros necessitem uns dos outros, e os santos sintam que sem eles nada podem fazer.
Hoje temos regras e regulamentos. Os presbíteros fazem as coisas que lhes são pertinentes e os diáconos
fazem o que lhes é pertinente. Todos trabalham segundo a escala. Todavia não temos um sentimento profundo de
que não podemos prosseguir em nosso serviço sem os presbíteros e os diáconos. Alguns não só não sentem a
necessidade de presbíteros e diáconos, como até mesmo pensam que presbíteros e diáconos são desnecessários. Isso é
perigoso.
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A maior forma de orgulho
Os que moram na casa dos obreiros são brilhantes e capazes. Parecem ser independentes e não precisar dos outros.
Isso é muito perigoso, porque é a maior forma de orgulho que existe. Se quatro irmãos vivem na casa dos obreiros,
devem depender uns dos outros, e essa dependência deve ser notória. Infelizmente não é essa a atmosfera que nos
envolve. Por exemplo, se é minha vez de pregar o evangelho, ou faço tudo ou não faço nada. De uma perspectiva
humana isso pode ser considerado coordenação, no entanto esse tipo de coordenação é segundo as regras e os
regulamentos. Não existe a percepção de que se necessita um do outro em espírito. Alguns podem pensar que a
coordenação seja desnecessária e até perturbadora, e é melhor não haver coordenação.

Os que não necessitam de coordenação são secos, sem bênçãos e inúteis. O fato de ser inteligentes, capazes e não
necessitar da ajuda uns dos outros é um grande perigo. Essa situação é triste e lamentável. O mais terrível é que essa
situação está encoberta, não sendo muito aparente. Ela pode ser comparada à lepra. Se ela se manifestar, será mais fácil
lidar com ela.

Isso revela que nos falta a comunhão do Corpo. Quando nos encontramos, raramente temos comunhão plena. Por
exemplo, quando os santos de outra cidade visitam Taipei, nós nos reunimos. Depois da reunião, no entanto, todos
seguimos o próprio caminho, separados, sem experimentar comunhão. Essa não era nossa situação nos primeiros seis
anos em Taiwan. Naquele período, sempre que tínhamos uma conferência, nos reuníamos e tínhamos muita comunhão.
Agora todos somos capazes, brilhantes e muito bem instruídos. Não precisamos mais uns dos outros; não precisamos
mais manter comunhão. Essa é a maior forma de orgulho possível. É a coisa mais ofensiva para o Senhor e Seu Corpo.
Devemos ministrar aos outros com toda humildade e restringir nossa inteligência e habilidade de coordenação.

A necessidade de comunhão e de coordenação no Corpo e na vida


Se perdermos o princípio da coordenação e da dependência no Corpo, não seremos fortes na administração da
igreja e no ministério da palavra. Se perdermos esse princípio, deixaremos de ter muita bênção. Nossa coordenação
não deve tornar-se mecânica, e não devemos trabalhar somente quando é nossa vez na escala. Devemos ter o
sentimento de que nada podemos fazer sem os outros, de que realmente necessitamos uns dos outros. Se nos
reunimos e dividimos o trabalho, e cada um faz apenas sua obra, nossa situação é similar à divisão de tarefas numa
organização pública ou grande instituição. Essa falta de gosto pela coordenação entre os membros do Corpo precisa ser
eliminada.

Que significa ver o Corpo? A maior indicação de que conseguimos ver o Corpo é que não podemos ser
independentes. Sentimos necessidade do Corpo, sentimos falta dos irmãos. No momento, contudo, nossa
coordenação pode ser comparada ao trabalho numa organização qualquer. Parece que nos movemos como máquina e
nos falta o sentido da comunhão de vida.

A falta de coordenação produz o criticismo


Se nos falta coordenação com os outros, sempre criticamos o que eles fazem. Mesmo que não expressemos
nossas críticas, estamos repletos delas e desaprovamos o que realizam. Pessoas assim são mesquinhas e dignas de pena.
Em nosso serviço nunca devemos esperar que os outros sejam como nós nem que sejamos como eles. No entanto,
por nos faltar coordenação no serviço e dependência mútua, quase sempre pisamos uns nos outros. Ou não
andamos ou pisamos nos outros quando resolvemos andar. Ou não trabalhamos ou fazemos o trabalho dos outros.
Ou não nos importamos ou criticamos o trabalho que os outros fazem. Quando determinado assunto está nas mãos
de outra pessoa, não somos capazes de fazer nada. Porém, quando surge uma oportunidade, fazemos à nossa
maneira e descartamos a ajuda dos outros. Apesar de essa situação não ser visível entre nós, ela o será no futuro,
porque não estamos dispostos a nos submeter uns aos outros. Esse é um jeito insensato de proceder.

Não exigir que os outros sejam iguais a nós, mas respeitar o que fazem

Não devemos exigir que os outros sejam iguais a nós em tudo. Não devemos discutir a maneira como pregam,
visitam as pessoas ou vivem. Mesmo que o modo como vivem não nos agrade, não podemos estabelecer padrões
para eles nem estamos qualificados a julgá-los. Apenas o Senhor é o critério e o Juiz. Precisamos aprender a
respeitar o que os outros fazem. Quando falamos em ser fervorosos, precisamos respeitar o silêncio dos outros;
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quando falamos em ser tranqüilos e nos unir ao Senhor, não devemos criticar os que estão ocupados. Se todos
forem exatamente como nós, não existirá o Corpo. Haverá apenas um membro. Isso não é a igreja . Se todos
fossem como nós, haveria apenas nós e não a igreja. A igreja é composta de várias pessoas. Isso pode ser
comparado ao corpo humano com seus diferentes membros. As mãos se parecem mãos, o pé se parece o pé, os
ouvidos se parecem os ouvidos e os olhos se parecem os olhos. Até mesmo o membro que aparenta ser o mais
impróprio é necessário ao corpo.

Por isso devemos aprender a não pisar os outros. Quando chega nossa vez de realizar uma obra, não
devemos criticar o que eles fizeram. É uma bênção respeitar o trabalho dos outros e acrescentar o nosso ao deles.
Devemos ser positivos ao falar com eles e não negativos. É falta de sabedoria dizer que estão errados. Enquanto
esses fatores negativos existirem entre nós, a administração da igreja terá problemas e o ministério da palavra não
será fortalecido. Muitos santos de vários lugares servem juntos na igreja. Eles têm distintos temperamentos e
histórico familiar, e também histórico espiritual e treinamento variado. Portanto não podemos esperar que todos
sejam como nós. Precisamos aprender a não pisar os outros. Quando damos um passo, não podemos pisar os
outros. Devemos evitar de modo especial pisar os outros quando ministramos a palavra.

Por exemplo, ao falar sobre oração, não devemos criticar os que falam em meditação, porque os santos podem
necessitar de ambas. Devemos limitar-nos a falar de forma positiva acerca da oração sem, no entanto, criticar o
que outros falam a respeito da meditação. Quando servimos juntos, precisamos evitar por completo criticar os
outros no ministério da palavra. Alguns podem falar sobre oração e outros sobre meditação; alguns podem falar
sobre ser fervoroso e outros sobre estar no Santo dos Santos. Nenhum desses ensinos é herético; são apenas
ênfases diferentes. Criticar os outros demonstra como somos mesquinhos e pode causar divisões. Se essa for
nossa forma de trabalhar, não haverá edificação entre nós. Pelo contrário, haverá destruição.

Devemos simplesmente trabalhar de forma positiva e aprender a receber ajuda de outras pessoas. Devemos
entender que ninguém pode fazer nossa parte. Nem mesmo o apóstolo Paulo poderia fazer o que somos
capazes de fazer. Mas também temos de admitir que não podemos substituir os demais. Cada pessoa tem sua
função. Quando ministramos a palavra, mantemos comunhão e oramos, não devemos criticar os outros.
Particularmente quando oramos com outras pessoas, devemos evitar orar de maneira contraditória.

Não insistir na própria maneira


Os presbíteros entenderam que certa reunião devia estudar o Evangelho de João. Um dos irmãos responsáveis
por aquele grupo, no entanto, sentiu que João seria longo demais e quis estudar 1 Tessalonicenses. Ele pensou
que isso ajudaria os que não estavam habituados a ler a Bíblia. Como ele insistisse, os presbíteros acabaram
concordando, embora seu encargo por 1 Tessalonicenses não fosse adequado. Na verdade esse irmão não tinha
encargo legítimo. Simplesmente pensou que os santos teriam receio de um livro com vinte e um capítulos, e
permitiu que sua opinião atropelasse os sentimentos dos demais. A não ser que ele tivesse realmente sido
incumbido de 1 Tessalonicenses, não deveria ter apresentado isso na reunião. Nenhum de nós deve fazer coisas
das quais não fomos incumbidos nem devemos abandonar coisas das quais fomos de fato incumbidos; mas
precisamos servir de acordo com nosso encargo. Fazer o contrário viola um princípio espiritual. Esse irmão
responsável ainda não aprendera a lição em assuntos espirituais e agiu de forma inexperiente em seu
comportamento. Se nossa comunhão está relacionada com um encargo espiritual, não deve haver nenhum
problema em se propor mudança, e não devemos criticar o encargo. No entanto, se tudo o que queremos é mudar
a forma como os outros fazem as coisas, não devemos levar isso adiante.

Precisamos respeitar o jeito dos irmãos com quem servimos.


Os presbíteros não irão forçar um grupo a estudar certo livro ou a falar determinadas coisas, porém não
devemos mudar ao acaso o que eles nos comissionaram. A rigor está tudo bem em estudar João ou 1
Tessalonicenses, pois não importa de fato qual livro será estudado. É possível ministrar aos irmãos com 1
Tessalonicenses e com o Evangelho de João. Em nosso serviço devemos sempre evitar mudar a forma dos outros
de fazer as coisas.

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Precisamos entender que, quando mudamos a maneira dos outros de realizar as coisas, eles talvez não
aceitem, porque entendem não ser apropriado mudar; e, caso aceitem, não será de forma agradável. Por causa
desse tipo de problema, nosso serviço na administração da igreja e no ministério da palavra não é forte. Até
mesmo no mundo, quando as pessoas trabalham juntas, não é fácil mudar a maneira dos outros de fazer as coisas.
Se de fato temos certa habilidade, ela se manifestará mesmo quando trabalhamos segundo o modo dos outros. Se
temos conteúdo espiritual, podemos ministrar aos santos por meio de 1 Tessalonicenses ou do Evangelho de
João. Não importa qual seja o livro, devemos ser capazes de ministrar seu conteúdo espiritual. O que
devemos recear é não ter conteúdo espiritual para ministrar; se o temos, somos capazes de ministrar e
desenvolver qualquer livro da Bíblia. Portanto mudar a forma dos outros de fazer as coisas indica que ainda não
aprendemos muitas lições espirituais. Também indica que ainda somos inexperientes na forma como nos
portamos.

Alguns irmãos levam os santos a servir de forma fervorosa, na esperança de que passem mais tempo aprendendo
a manter comunhão com o Senhor e conhecer o Espírito que habita neles. Não devemos tentar mudar sua prática.
Devemos, sim, elogiá-los, dizendo que é bom amar o Senhor e ser fervoroso. Contudo nosso elogio não deve ser
falso; antes deve ser um suplemento positivo da obra deles. Precisamos manter sempre uma atitude de respeito,
cooperação e coordenação com os outros. Devemos servir de acordo com nossa porção e honrar a dos outros,
porque ambas foram confiadas pelo Senhor. Todos devem ter a humildade de não considerar sua porção mais
elevada do que a de outrem. Devemos cuidar dos sentimentos dos outros. A não ser que falem heresias e criem
problemas para a obra e a igreja, devemos sempre respeitá-los, ser gentis e prestativos para com eles e abertos
para receber sua ajuda.

Que o Senhor nos conceda graça para perceber que isso é questão de vida e envolve ser quebrantados e
humildes. Os que conseguem atingir um objetivo sem forçar os demais a fazer tudo a seu modo são de fato
humildes. Visto que amamos o Senhor, desejamos viver para Ele e edificar a igreja. Esses objetivos estão certos,
porém existem muitas maneiras de alcançá-los. Por exemplo, pregar o evangelho junto com um irmão é um bom
alvo que pode ser realizado de acordo com sua maneira ou com a nossa. Somos abençoados quando não
forçamos os outros a fazer as coisas de nosso modo. Se temos conteúdo espiritual, podemos ministrar à sua
maneira e, se ele possui conteúdo espiritual, poderá ministrar à nossa. As duas formas são aceitáveis; não existe a
necessidade de se apegar a uma delas.

Preservar a consciência do Corpo e ser edificados em nosso serviço


Os irmãos precisam aprender a lição de ser quebrantados, amáveis com os outros e respeitar suas funções.
Nosso Senhor é grande e Sua obra possui muitos aspectos. Por isso precisamos ser fiéis ao que Ele nos confiou e
aprender a trabalhar de forma coordenada com os outros, respeitando o que fazem. A não ser que falem heresias,
não devemos interferir, intervir ou criticar. Somente assim podemos preservar a consciência do Corpo e gerar
edificação entre nós.

As sementes desse tipo de problema já foram plantadas entre nós e produziram situações negativas. Como
servimos juntos ao Senhor em Sua obra e a compartilhamos, precisamos levantar-nos-_e condenar tais situações.
Essas questões estão intimamente relacionadas conosco e irão mostrar quanto já fomos transformados diante do
Senhor e que lições de vida já aprendemos. Se crescermos em vida, formos quebrantados e aprendermos algumas
lições, estaremos salvos quanto a todas essas questões. Quando os presbíteros sugeriram estudar o Evangelho de
João e o irmão responsável pela reunião em casa disse que esse livro era grande demais, insistindo que os
presbíteros aceitassem sua maneira de fazer as coisas, o sentimento de coordenação enfraqueceu. Quando isso
ocorre, não podemos esperar que a edificação do Corpo seja forte.

Caso esse irmão continue a se opor às propostas dos presbíteros, os irmãos em sua reunião acabarão se
levantando para se opor a ele, porque ele deu o exemplo de se opor aos outros e fazer prevalecer a própria
opinião. Caso prossiga em seu modo, como poderá conduzir os demais em seu grupo de casa a ter um serviço
forte em coordenação e boa edificação? Todos precisamos aprender uma lição importante. Na coordenação do
Corpo, todos precisam funcionar e respeitar o que é feito pelos demais. Não devemos criticar os outros, mas
juntar-nos a seus esforços a fim de que o Corpo de Cristo seja suprido, e não danificado. Desse modo o
sentimento de coordenação será prazeroso e a edificação do Corpo será fortalecida.
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CAPÍTULO TRÊS
NÃO FAZER UMA OBRA DE DEMOLIÇÃO NO SERVIÇO DA IGREJA

A NECESSIDADE DE NOSSO SERVIÇO PRODUZIR A EDIFICAÇÃO


A edificação da igreja é efetivada mediante a administração da igreja e o ministério da palavra, e ambos
dependem da condição de nossa pessoa. Nossa administração da igreja talvez não resulte em muita edificação. É
possível também que nosso ministério da palavra não resulte em muita edificação. Até mesmo o fato de conduzir
pessoas à salvação e ajudar os santos em seu aperfeiçoamento pode não resultar em muita edificação da igreja.
Nossa obra pode ser eficaz, porém, quanto mais a realizamos, menos elemento de edificação existe. Em outras
palavras, a eficácia de nossa obra é inversamente proporcional à edificação da igreja. Ela corresponde à
demolição da obra de edificação de Deus, e não à edificação.

Em circunstâncias normais, quanto mais realizamos a obra mais edificamos. Nossa obra deveria corresponder à
nossa edificação. Por exemplo, quando alguns pregam o evangelho, não só salvam pecadores como também
edificam a igreja; quando instruem os santos, não só os ajudam como também edificam a igreja. Precisamos
atentar para este fato peculiar: podemos fazer uma obra sem produzir a edificação. Se estivermos na luz,
veremos que é possível salvar pecadores e instruir os santos sem edificar a igreja. Muitas obras no cristianismo na
verdade demolem a obra de edificação de Deus. A mais grave demolição da edificação de Deus na igreja não
resulta da perseguição nem da oposição dos incrédulos. Advém, porém, das muitas obras feitas com zelo no
cristianismo. Essas obras não procedem de más intenções, idéias perversas ou erros; antes, têm o bom propósito
de salvar pecadores e instruir os santos, todavia não resultam na edificação da igreja.

O ESQUEMA DE SATANÁS DE REALIZAR UMA OBRA DE DEMOLIÇÃO NO SERVIÇO DA IGREJA


Que significa nossa obra demolir a edificação de Deus? Um bom exemplo disso ocorre quando determinado
irmão, responsável por uma reunião de grupo, altera a proposta dos presbíteros de estudar um livro específico da
Bíblia. Trocar o livro a ser estudado pode ser instrutivo para os que participam de sua reunião, todavia a forma
como ele o fez derruba a edificação divina da igreja. Não ajudará em nada os santos a conhecer sua carne, lidar
com as opiniões próprias ou aprender a se sujeitar aos outros. Sua forma de agir só irá gerar pessoas cheias de
pontos de vista e opiniões, que gostam de corrigir os demais e não de se sujeitar a eles. Apesar de esse irmão ter
boa intenção e não criticar nem julgar os outros, a destruição causada é séria para a igreja.

Os presbíteros podem decidir que a igreja toda irá estudar o Evangelho de João, no entanto um irmão
responsável pode concluir que esse livro é muito grande e mudá-lo para 1 Tessalonicenses. Essa boa intenção
demonstra que ele ainda não aprendeu a lição de ser quebrantado; não consegue deixar de lado suas opiniões e
também não sabe submeter-se aos outros ao servir a igreja. A igreja não pode ser edificada se vinte e um dos
responsáveis disserem: "Os presbíteros não estão necessariamente certos na sua maneira de fazer as coisas. Suas
decisões nem sempre são corretas". Caso se adote uma atitude dessas, as coisas sairão de controle.

Talvez esses irmãos responsáveis não ficassem satisfeitos nem se o apóstolo Paulo fosse um dos presbíteros.
Se os presbíteros tomam decisões certas ou erradas não é problema nosso. Nossa necessidade é submeter-nos a
eles. É difícil acreditar que uma pessoa que não se submete aos presbíteros gere pessoas quebrantadas, que
neguem a si mesmas, coloquem-se sob as mãos de Deus e se sujeitem aos outros. O melhor que conseguem fazer
é produzir pessoas com pontos de vista e opiniões próprias, que demolem em vez de edificar a igreja.

Edificar é colocar uma pedra sobre a outra. Ao contrário disso, a palavra do Senhor em Mateus 24 nos mostra
a demolição: "Em verdade vos digo: De modo nenhum ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada" (v.
2). Quando se derruba, nenhuma pedra fica sobre a outra; quando se edifica, cada pedra está sobre a outra. As
pessoas podem elogiar nossa obra, mas precisamos ver se ela não derruba a igreja. O esquema de Satanás é

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derrubar. Toda a nossa obra em Taiwan foi de edificação; entretanto nos últimos seis meses houve muita
demolição. Esse é o esquema do inimigo, e muitos dentre nós foram usados por ele para realizar essa obra de
demolição. Não queremos fazer esse tipo de obra. Nenhum irmão a faz com má intenção. Contudo, por não ter
aprendido a lição, somos usados por Satanás de forma inconsciente em nosso serviço de derrubar. Talvez
pensemos que estamos edificando, no entanto nossa obra tem sido de demolir a igreja. Satanás derruba por meio
de nossa obra. Isso faz com que nosso serviço e o testemunho da igreja sofram grande prejuízo.

A DEMOLIÇÃO LEVA À DISSENSÃO E CAUSA DANOS À AUTORIDADE NA IGREJA


Precisamos consultar nosso coração e considerar se nossa obra nos últimos seis meses nos levou à unanimidade ou à
dissensão. Estar em unanimidade é edificar; estar em dissensão é demolir a edificação. Os irmãos responsáveis estão em
dissensão caso mudem a decisão dos presbíteros sem perceber que, na verdade, estão demolindo a edificação. Se apenas
sete das vinte e oito reuniões de grupos nas casas estiverem nessa condição, a igreja em Taipé estará em discórdia e
dividida.

Não estamos aqui para estabelecer a autoridade dos presbíteros como se fossem "papas", mas precisamos perguntar-
nos se de fato existe autoridade administrativa na igreja. Nas mãos de quem deve encontrar-se essa autoridade? Se
estiver nas mãos dos mil irmãos que se reúnem regularmente, nós nos tornaremos como a igreja em Laodicéia (d. Ap
3:14-22). Se essa autoridade estiver nas mãos de um "papa", seremos como a Igreja Católica Romana. A administração
de uma igreja se encontra nas mãos dos presbíteros. Eles devem aprender a estar submissos a Deus e temê-Lo. Devem
administrar a igreja em temor e tremor, e aprender a ser fortes. Devem temer cometer erros e ser fracos e indecisos.
Caso uma reunião de grupo precise ser interrompida, os presbíteros devem tomar essa decisão sem hesitar; caso
contrário, os grupos de reuniões nas casas restantes se tornarão como pequenas igrejas locais.

Caso ninguém numa igreja local tenha sido quebrantado, tema a Deus ou reconheça a autoridade na igreja em seu
ministério, a igreja está em discórdia. Suas muitas atividades resultarão em maior demolição. Seria praticamente melhor
ter menos atividades. Se qualquer um dos irmãos responsáveis na igreja em Taipé tem opinião diferente da decisão dos
presbíteros, haverá uma obra de desconstrução na igreja. Uma situação de dissensão dessas causará a morte. Caso os
responsáveis pelos grupos nas casas sejam assim, os membros dos grupos irão também manifestar opiniões opostas.
Esse tipo de tendência pode ser comparado ao corpo quando contrai infecção - isso pode matar o próprio corpo. Isso se
trata de dissensão e destruição da edificação.

Mediante o esquema sutil de Satanás, nosso esforço pode de fato ser uma obra de demolição. Alguns fizeram
grande sacrifício pelo Senhor e pela igreja. Por um lado, não devemos vangloriamos do sacrifício que fizemos; por
outro, uma vez que fizemos um sacrifício desses, não devemos permitir que o esquema de Satanás entre em nosso meio.
Se servirmos em meio à discórdia, não teremos como prosseguir. O esquema mais sagaz de Satanás é realizar uma
obra de dissensão e divisão em nosso meio.

A obra de Satanás não é levar todos a discutir entre si; antes, é realizar uma obra de demolição por meio dos bons
desejos e boas intenções das pessoas. Esse é o artifício. Aparentemente a sugestão do irmão responsável de estudar
outro livro da Bíblia é para o bem dos santos, quando na verdade não é. No entanto, se de fato aprendemos a lição,
veremos que apesar da organização do serviço na igreja ser flexível e não rígido, é necessário que exista harmonia e um
único mover na igreja. Isso evitará que a igreja caia nas artimanhas de Satanás.

A AUTORIDADE DO ESPÍRITO SANTO NA BÍBLIA


Toda igreja, grande ou pequena, precisa honrar a autoridade do Espírito Santo. Por exemplo, apesar de milhares
dentre os judeus terem crido na igreja em Jerusalém (At 21:20), não houve uma assembléia para que se votassem
as diferentes questões levantadas no capítulo 15. Em vez disso, os apóstolos e os presbíteros reuniram-se na
presença de Deus e depois que alguns compartilharam sua experiência e entendimento, Tiago pôs-se de pé e
falou (vs. 6, 22, 13). Essa é a autoridade do Espírito Santo na Bíblia.

Depois de se reunir, escreveram uma carta aos crentes gentios (v. 20). Eles não discutiram nem a igreja

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organizou uma assembléia para que os crentes expressassem suas opiniões mediante o voto; em lugar disso, os
apóstolos e presbíteros reuniram-se diante de Deus a fim de decidir a questão. Uma vez que tomaram uma
decisão com relação ao problema da circuncisão, nenhuma outra opinião foi expressa.

NÃO PLANTAR A SEMENTE DA MORTE OU DA DISSENSÃO


Os que aprenderam a lição dirão amém quando os presbíteros decidirem que os grupos de reuniões devem
estudar o Evangelho de João. Os que consideram que esse livro é longo demais devem receber ajuda dos que
aprenderam essa lição a fim de se submeter à igreja e respeitar a autoridade da igreja. Primeiro precisamos ajudar
os santos a aceitar o que foi planejado pelos presbíteros, antes de sugerir que um livro menor seja estudado.
Ajudar os santos nesse sentido é maravilhoso e contém o elemento de edificar em unanimidade.
Se, a partir de uma motivação impura, alguém responsável coloca em dúvida a decisão dos presbíteros e
compartilha seus sentimentos com outros responsáveis, o fator causador de morte se espalhará. Talvez não
difame os presbíteros ou se oponha a eles, mas em sua fala pode disseminar a idéia de que a igreja seja uma
ditadura. Isso causará dissensão. A semente da discórdia plantada nos santos pode crescer e por fim levá-los e
uma dissensão com a igreja. Isso é demolir a obra de Deus.

Até ao pregar o evangelho e instruir os santos pode existir um fator de demolição. Isso pode ser comparado a
beber uma xícara de chá que contenha a bactéria da tuberculose. Depois de bebê-lo, contrairemos a doença. É
muito grave se um irmão, que não tinha o coração inclinado à dissensão antes de ser instruído por nós, começar a
expressar um elemento de dissensão em seu serviço depois de ser instruído por nós.

A igreja numa cidade estará acabada se os santos divergirem entre si. Precisamos estar alertas para esse
grande perigo. O esquema mais ardiloso de Satanás é plantar a semente da dissensão por meio dos que
servem. Quando ele faz isso, a obra do Senhor é rompida e ocorre a discórdia no serviço da igreja. Uma pessoa
que contrai a tuberculose pode ter aparência saudável, contudo em um ano todo o seu ser entrará em colapso.

A EDIFICAÇÃO DESTINA-8E AO APOIO MÚTUO E A SUPRIR UNS AOS OUTROS

Nosso problema é que nos consideramos muito espertos e capazes, a ponto de não necessitar uns dos outros;
porém estamos sempre pisando os outros. Isso é indicação de discórdia com um elemento de demolição. Isso não
é edificação. Os que de fato edificam a igreja percebem que não podem agir de forma independente nem viver à
parte dos demais. Sentem que necessitam uns dos outros. Quando ministra a palavra, esse irmão sabe que
necessita dos demais a orar por ele a fim de lhe fornecer o apoio em seu espírito. Esse espírito parece ter
desaparecido de nosso meio. Os que ministram a palavra não parecem precisar das orações dos outros e os que o
escutam não possuem tal espírito de apoio; apenas ouvem os que lhes falam e fazem comparações. Tal espírito é
intolerável.

Quando a semente da discórdia em nosso meio produz frutos, então a igreja, nosso serviço e a obra entrarão em
colapso e desmoronarão, mesmo que sejamos muito espirituais. Nossos esforços não levaram as pessoas a estar em
unanimidade com a igreja. Em vez disso, parece que só causamos dissensão. Quanto mais ajudamos as pessoas, mais
parecem discordar da igreja e estar dispersas. Há a demolição, e não a edificação. Em particular os irmãos que
trabalham com os jovens não têm um sentimento de dependência uns dos outros.

Devemos todos ter uma só alma a fim de orar, suprir e apoiar quem libera a mensagem. Se os que servem o
Senhor estiverem sempre em discórdia em vez de estar em unanimidade, o inimigo, os santos e até as crianças
perceberão.

A EDIFICAÇÃO É A SUBMISSÃO
A verdadeira edificação depende da submissão. Submeter-se é estar sujeito aos outros. Quando estamos
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dispostos a nos submeter, temos a edificação. A submissão está fora de questão se apenas uma pessoa faz a obra.
Porém, se trabalhamos juntos, não devemos importar-nos apenas com nossa obra. Por exemplo, a submissão não é tema
para antes do casamento entre um irmão e uma irmã, entretanto depois de se casarem precisam aprender a se submeter.
Somente quando há submissão pode haver edificação. Quando se casa, o propósito do casal é constituir família. A
fundação dessa construção depende da submissão. A ênfase da edificação não está na obediência, mas na submissão. Se
a mulher não se submete ao marido e o marido não se submete à mulher, faltará edificação à família. Precisamos crer
que os presbíteros numa igreja local não são descuidados nas decisões nem autoritários na atitude. Embora possam se
sentir fracos e inadequados, carregam grande responsabilidade e cuidam da igreja em temor e tremor. Se todos os
presbíteros tiverem essa atitude e espírito, suas decisões serão merecedoras de nossa submissão.

APRENDER A LIÇÃO DA EDIFICAÇÃO E DE INTRODUZIR OUTROS NO EDIFÍCIO


Quem discute a respeito de que livro a igreja deve estudar e coloca em dúvida a decisão dos presbíteros a esse
respeito não tem espírito ou atitude de submissão. Sem submissão, não existe edificação. A edificação da igreja
mediante nossa administração e ministério da palavra depende de nossa pessoa. Se aprendermos a lição, estaremos
quebrantados e conheceremos a edificação de Deus, e os que conduzimos serão pedras vivas edificadas como casa
espiritual. Se nós mesmos não formos edificados, não teremos como edificar os outros. A obra de nossas mãos não
resultará em edificação. Quanto mais pessoas salvarmos pela pregação do evangelho e instruirmos, mais opiniões serão
introduzidas na igreja. Apesar de aumentar a quantidade de pedras, não haverá edificação.

A obra de Satanás é de demolição. Ele tem feito isso por dois mil anos. A maior parte da obra de evangelização no
cristianismo atrai as pessoas para crer mediante ganho material. Isso é pobre e superficial, e demonstra que se perdeu o
poder do evangelho. Quando uma igreja está cheia de dissensão, sua condição será de enfraquecimento. Desde que
viemos para Taiwan em 1949, a igreja em Taipé tem se mantido cheia de frescor, sem nenhum fator causador de
dissensão. Satanás agora tenta realizar uma obra de demolição. Quando estamos em unanimidade, temos a autoridade
do Espírito Santo.

SER CAUTELOSOS COM AS PALAVRAS PARA EVITAR DISSENSÃO E DEMOLIÇÃO


Alguns não são cautelosos com as palavras e de forma inconsciente trazem dissensão e demolição embora
não tenham má intenção. Por exemplo, um assunto que foi compartilhado na reunião dos presbíteros à tarde,
pode se espalhar por toda a igreja à noite, misturando-se rumores aos fatos. Isso demonstra que alguns falam
demais e não aprenderam a lição no serviço da igreja. Não temos nenhum segredo, entretanto os que já foram
transformados não falam de modo frívolo e leviano. Por exemplo, recentemente enviei cartas convidando alguns
irmãos para uma reunião, mas não contei à minha esposa. No fim ela recebeu a noticia por outra irmã. Se um
irmão recebe uma carta, deve simplesmente vir no dia marcado. Não há a necessidade de contar para outros a
esse respeito. Esse tipo de fala casual é sem sentido e dá espaço para Satanás.

Não há nada de reservado sobre enviar cartas acerca de uma reunião. Não divulgar a noticia de que você foi
convidado para uma reunião é rejeitar a carne. Eu tinha um sério encargo de convocar uma reunião, mas não
contei a minha esposa. Não consegui falar nem com minha esposa sobre meu encargo, então por que os irmãos
precisariam perguntar a ela a respeito desse assunto? Uma coisa tão pequena como essa pode trazer dissensão e
demolição. Quem aprendeu a lição não falará de maneira descuidada em seu serviço e coordenação. Embora
falemos de vários assuntos com as pessoas, precisamos conhecer nosso lugar ao falar de assuntos
relacionados com o serviço.

Com o objetivo de ser mais hospitaleiro com o irmão T. Austin-Sparks, procurei alguém que soubesse
preparar comida ocidental. Encontramos um cozinheiro e o pagamos, porém ele fugiu com o dinheiro. No dia
seguinte um irmão escreveu uma carta oferecendo-se para emprestar seu cozinheiro. Fiquei surpreso como as
noticias se espalharam tão rápido. Quem aprendeu a lição do serviço jamais falaria de tal assunto. Mesmo que
mil cozinheiros fugissem, por que falar a respeito disso quando o assunto nada tem a ver conosco? Isso não
significa que se deva manter segredo sobre o comportamento do cozinheiro por medo do que os outros possam
pensar. A Bíblia registra que um dos colaboradores de Paulo, Demas, amou o presente século (2 T m 4:10) e

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Paulo exortou os irmãos em Éfeso dizendo que quem roubava não roubasse mais (Ef 4:28). Por essa razão, um
cozinheiro fugindo com o dinheiro não é algo tão estranho assim. Mas por que notícias como essa haveriam de
ser espalhadas em menos de dois dias? Isso indica que precisamos aprender a lição de não divulgar
informações. Espalhar informações desconstrói.

Um irmão mencionou certa vez que outros lhe perguntaram se ele iria servir em Taichung, apesar de ele
mesmo desconhecer essa informação. Essa divulgação de informação ocorreu entre os que servem. Não importa
se esse irmão iria ou não servir em Taichung, não era necessário espalhar a informação. Caso esse irmão
necessite ter comunhão a respeito de seu serviço em Taichung, ele virá ter comunhão. Não precisamos fazer
tantas perguntas.

Se quisermos edificar a igreja, precisamos deixar o Senhor lidar conosco quanto a esses assuntos. Caso
contrário, quanto mais trabalharmos, mais demoliremos e mais dissensão será produzida. Muitas palavras
desnecessárias podem ser espalhadas por intermédio dos que servem. Precisamos pedir ao Senhor por Sua
misericórdia. Os que servem não devem falar de maneira leviana. Precisamos aprender essa lição. Podemos falar
com os irmãos a respeito de muitas coisas, porém no serviço que prestamos não devemos ser negligentes em falar
o que o Senhor não nos comissionou. Em questões que dizem respeito a nosso serviço, não devemos falar de
modo tão fútil. Alguns dentre os que servem espalharam certa vez a seguinte informação: "Os presbíteros não
conseguem tomar nenhuma decisão acerca de nada. Eles mudam de idéia a toda hora e não nos informam sobre
essas mudanças". Isso demonstra que ainda não aprenderam a se restringir ou a ser dirigidos pelo Senhor.
Embora sejam consagrados ao Senhor em seu serviço, umas poucas frases podem demolir a obra de um ano
inteiro. Eles trabalham com uma mão e demolem com a outra. Isso não é edificar. Precisamos estar alertas para
perceber que a obra em Taipé atualmente se encontra em meio à discórdia e caiu no esquema de Satanás. Satanás
espalha a dissensão por meio de nosso serviço.

Se não resolvermos esses problemas, não teremos edificação. Os problemas na administração da igreja e no
ministério da palavra resultam do problema existente em nosso ser. Por favor, permitam-me dizer uma palavra
dura: o espírito de insubordinação opera em nosso meio. Insubordinação significa demolição e não edificação.
Ser insubordinado é não edificar, não ser edificado e demolir.

CONCLUSÃO
Para que nossa obra edifique, muitos fatores negativos em nós precisam ser eliminados. Existem certas coisas
que não devemos dizer, certas atitudes que não devemos expressar e certas ações que não devemos realizar. A
fim de ser submissos, precisamos restringir-nos nesses aspectos. Visto que os que não se restringem não têm
consciência dos muitos fatores de dissensão que operam em seu interior, existe um elemento de dissensão em
suas palavras. Não devemos expor o Senhor à vergonha ou ficar em falta com nossa consagração. Nossa obra
precisa edificar, e não demolir; precisa ser feita em unanimidade, e não em discórdia.

É difícil estimar quanto quebrantamento e restrição precisamos a fim de que nossa obra seja em
unanimidade e edifique os outros. Embora essa seja uma palavra dura, por favor, recebam-na com coração
humilde e mansidão. Temos grande responsabilidade diante do Senhor. Cada um de nós dará conta a Ele diante
de Seu tribunal. Se nossa obra ruir, isso impedirá que muitos recebam graça e sejam instruídos. Esse é um
assunto muito sério. Precisamos aprender não só a trabalhar, mas também a realizar uma obra que edifique.
Jamais devemos permitir que nossas palavras, atitudes, ações e forma de nos expressar produzam qualquer
dissensão ou resultem em demolição na igreja. Não estamos aqui para edificar a autoridade humana; antes,
estamos aqui para edificar a igreja de Deus, de modo que Sua autoridade se manifeste nela. Portanto existem
coisas que não devemos dizer, ações que não devemos tomar e atitudes que não devemos expressar. Isso
requer que aprendamos na presença do Senhor.

CAPÍTULO 4
A IMPORTÂNCIA DA EDIFICACÃO REVELADA EM JOÃO 14

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Leitura Bíblica: Jo 14

João 14 parece ser de fácil leitura e existem muitos comentários sobre esse capítulo da Bíblia, mas na verdade é um
capítulo de difícil compreensão. Falta à maioria das pessoas luz adequada no que diz respeito a ele. Pela condução do
Senhor e mediante nossa experiência, estamos começando a compreender seu verdadeiro significado.

Esse capítulo fala da edificação de Deus no universo. O ensino dos Irmãos Unidos resultou na conclusão equivocada
de que João 14 é um capítulo profético. Eles consideram o que o Senhor diz no versículo 3, quando se dirige aos
discípulos antes de Sua partida do mundo, como uma palavra profética. Eles entendem que esse versículo significa que
o Senhor Jesus iria aos céus a fim de preparar lugar para nós, e depois que esse lugar estivesse preparado Ele viria e nos
levaria aos céus para estar com Ele. Desse modo, os Irmãos Unidos decidiram que esse capítulo trata de profecia. No
entanto a idéia contida nesse capítulo é mais significativa, profunda e elevada do que a idéia que eles atribuem a ele.
Eles não perceberam o verdadeiro sentido do versículo 3.

A IDÉIA CENTRAL: CRER EM DEUS, CRER TAMBÉM NO SENHOR


No versículo 1, o Senhor diz: "Não se turbe o vosso coração; crede em Deus, crede também em Mim".
Esse versículo é o tema do capítulo 14. A Versão União Chinesa [Chinese Union Version] traduz esse versículo
exatamente como a Versão Restauração em português acima citada; entretanto a palavra em é na verdade para
dentro de no original grego. Por essa razão, a tradução literal poderia ser: "Crede para dentro de Deus,
crede também para dentro de Mim". A preposição grega que significa para dentro de é eis. É a mesma palavra
utilizada na frase: batizados em Cristo Jesus em Romanos 6:3. Essa preposição significa para dentro de. Por
exemplo, se temos uma caixa e enfiamos a mão através de um buraco existente de um lado dela, nossa mão vai
para dentro da caixa. Portanto para dentro de transmite melhor o sentido da palavra em grego.

A idéia central em João 14 é: "Crede para entrar em Deus, crede para entrar também em Mim". Como
aqueles que crêem no Senhor Jesus, precisamos crer para dentro de Deus e crer para dentro do Senhor. [Isto é, ser
introduzido em Deus ao crer e ser introduzido no Senhor ao crer.] Ao ler a Bíblia, é muito importante captar o
tema central. Por exemplo, Gênesis 1 começa com: "No princípio, criou Deus os céus e a terra"; portanto o tema
central de Gênesis 1 é a criação de Deus. De modo semelhante João 14: 1 diz: "Crede para dentro de Deus, crede
também para dentro de Mim". Nossa necessidade de entrar totalmente em Deus é o tema central.

A IDA DO SENHOR É SUA VINDA


No versículo 2, o Senhor diz: "Na casa de Meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, Eu vo-lo teria dito;
pois vou preparar vos lugar". O versículo 1 diz: "Crede para dentro de Deus". E o versículo 2 prossegue: "Na casa
de Meu Pai". Essa é uma grande reviravolta. De acordo com o entendimento comum, a casa do Pai se refere aos
céus. Entretanto a Bíblia afirma que a igreja do Deus vivo é a casa de Deus (l Tm 3: 15). Ela não diz que a casa do
Pai é o céu. Que casa do Pai é essa, e a que se refere a ida do Senhor? A compreensão errônea dos Irmãos Unidos
é que a ida do Senhor foi Sua partida do mundo para ir aos céus.

Em João 14:3, o Senhor diz: "E se Eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos receberei para Mim
mesmo". A Bíblia União Chinesa [Chinese Union Bible], traduz a expressão para Mim mesmo por para o lugar onde
estou. Por isso as pessoas entendem esse versículo como se dissesse que o Senhor nos receberá num lugar - o lugar
onde Ele se encontra. Porém Ele não se refere a um lugar. Sua palavra aqui significa que Ele nos receberá Nele
mesmo, e não num lugar físico.

"Se Eu for [ ... ] virei" está de acordo com o texto original. A ida do Senhor é Sua vinda. Sua ida a fim de
preparar lugar para os discípulos era Sua vinda a eles.

DEUS VEIO À TERRA POR MEIO DO HOMEM, E O HOMEM FOI UNIDO A DEUS POR MEIO DO
SENHOR
O versículo 3 prossegue: "Para que onde Eu estou estejais vós também". A que se refere esse onde? O Senhor

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não se referia aos céus, porém ao Pai. Ele estaria no Pai, e nós também. O advérbio onde não se refere a um lugar;
refere-se a estar no Pai e no Senhor. A ida do Senhor mediante a morte e ressurreição não era para estar nos céus,
mas no Pai. Ao ressuscitar Ele entrou no Pai e também introduziu os discípulos no Pai. É esse o significado de para
que onde Eu estou estejais vós também.

No versículo 4, o Senhor continua: "E para onde Eu vou, vós sabeis o caminho". Os discípulos não eram os
únicos a não saber para onde o Senhor ia. Muitos de nós também não sabem. No entanto o ensino errôneo do
catolicismo diz que o Senhor foi para os céus a fim de preparar mansões para nós. Esse não é um conceito
bíblico. Portanto não devemos pensar que vamos para algum tipo de mansão celestial. No versículo 5, Tomé diz
para o Senhor: "Senhor, não sabemos para onde vais; como podemos saber o caminho?". Esse versículo mostra
que, de acordo com a compreensão de Tomé, o Senhor falava a respeito de ir para um lugar. A resposta do
Senhor: "Eu sou o caminho", demonstra, porém, que Ele não se referia a lugar nenhum. O Senhor afirmou: "Eu
sou o caminho, e a realidade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por Mim" (v. 6). Devido à tradução ninguém vem
ao Pai não estar de acordo com o padrão lingüístico chinês, a versão Bíblia União Chinesa [Chinese Union BibleJ
traduz a segunda parte desse versículo como: "Ninguém vem ao lugar onde o Pai está, a não ser por Mim".
Conseqüentemente as pessoas consideram o lugar onde o Pai está como os céus ou uma mansão celestial.
A expressão ao Pai no versículo 6 se refere a crer para dentro de Deus, do Pai. Esse versículo não se refere à nossa ida
ao céu por meio do Senhor Jesus, mas ao fato de nos unir a Deus e contatá-Lo. Ninguém pode tocar Deus ou
entrar Nele senão por meio do Senhor Jesus. O Senhor Jesus é o caminho, a realidade e a vida; ninguém vem ao
Pai senão por Ele. Por conseguinte nada tem a ver com a questão de ir para o céu. De acordo com o ensino dos
Irmãos Unidos, esse capítulo fala de ir para o céu; contudo ele fala de se crer para entrar em Deus e não para ir
ao céu. Existe um quadro de uma mansão celestial com uma escada que se refere a Cristo. O quadro também traz
a seguinte inscrição: "Ninguém vem ao Pai senão pelo Senhor". Isso implica em que ir ao Pai corresponde a ir à
mansão celestial. Esse entendimento está totalmente errado. João 14:6 significa que ninguém pode entrar no Pai
a não ser por meio de Cristo; ninguém pode contatar Deus exceto por meio de Cristo. Portanto para onde Eu vou
significa que por meio de Sua morte e ressurreição o Senhor entraria no Pai.

ESTAR EM DEUS SIGNIFICA ESTAR NOS LUGARES CELESTIAIS


O pensamento humano sempre conflita com o de Deus. Nossa mente sempre considera ir a algum lugar - seja
o céu ou o inferno - mas a idéia de Deus é de uma pessoa, e não de um lugar. Nós pensamos sobre céu e terra;
Deus pensa sobre Deus e o homem. O conceito central da Bíblia é a entrada do Senhor Jesus no homem, e não
Sua vinda à terra. O fato de o Senhor ter-se tornado carne e entrado no homem é Sua vinda à terra. De maneira
similar, o homem entra em Deus. Ele não vai ao céu. Se o Senhor Jesus não entrasse no homem, não poderia ter
vindo à terra. Para vir à terra, o Senhor Jesus tinha de entrar no homem. Em outras palavras, quando entrou no
homem, Ele veio à terra. De modo semelhante, o homem vai para o céu entrando em Deus. Quando o homem
entra em Deus, está no céu.

Nosso conceito humano se refere a um lugar, enquanto o conceito divino se refere a uma pessoa. Entrando no
homem, Deus pôde vir à terra; entrando em Deus, o homem pode entrar no céu. A terra está relacionada com o
homem, e o céu está relacionado com Deus. Se o Deus do céu viesse à terra sem entrar no homem, isso não seria
Sua vinda à terra. Ele precisava entrar no homem para que Sua vinda fosse completa. De igual modo sem entrar
em Deus o homem não pode ir ao céu. Para ir ao céu, ele precisa entrar em Deus. Quando entra em Deus, o
homem está no céu. Se entendermos isso, conseguiremos entender a Bíblia.

Efésios 2:6 diz: "E, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo
Jesus". Podemos estar assentados juntamente com Cristo nos lugares celestiais porque estamos Nele. Se não
estamos em Cristo, estamos na terra e não nos lugares celestiais. No entanto, por estar em Cristo, podemos sentar
com Ele nos lugares celestiais. Podemos sentirmos na terra, todavia, uma vez Nele, estamos também nos lugares
celestiais. Não podemos estar no céu estando em nós mesmos; antes, só estamos no céu estando em Cristo.
Precisamos mudar nosso conceito.

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A CASA DE DEUS É O PRÓPRIO DEUS
O protestantismo adotou a noção católica e sempre fala de ir ao céu. Na realidade, estamos no céu; fomos
assentados com Cristo nos lugares celestiais desde o dia em que fomos salvos, porque no dia em que cremos
Nele entramos em Deus. Não existe base nas Escrituras para os ensinos católicos e protestantes com relação a ir
ao céu. Até mesmo Paulo não está no céu - ele está no Paraíso. Precisamos compreender que se trata de pessoas:
Deus e o homem. Não é questão de lugar: o céu. O ato de Deus entrar no homem é Sua vinda à terra; o ato de o
homem entrar em Deus é sua ida ao céu. Por essa razão o Senhor disse: "E para onde Eu vou, vós sabeis o
caminho" (Jo 14:4). Ele estava, na realidade, dizendo: "Agora Eu vou para o Pai. Do mesmo modo que entrei no
homem pela encarnação, vou para o Pai para entrar Nele pela morte e ressurreição". Os discípulos entenderam
que o Senhor se referia a um lugar e disseram: "Não sabemos para onde vais; como podemos saber o caminho?"
(v. 5). Então o Senhor lhes falou: "Eu sou o caminho [ ... ] ninguém vem ao Pai senão por Mim" (v. 6). O
caminho é o próprio Senhor e o destino é o Pai. Por conseguinte, não é questão de lugar, mas de ser
introduzido no Senhor ao crer, de ser introduzido em Deus ao crer.

Mediante a morte e ressurreição, o Senhor Jesus levou o homem a Deus a fim de entrar em união com Deus.
Quando o homem entra em Deus, penetra no âmbito do céu, isto é, no âmbito em que Deus se encontra. A partir
dessa perspectiva, trata-se de um lugar. O início do capítulo catorze fala de Deus e da casa de Deus. Ele não pode
ser separado de Sua casa. É necessário entrar em Deus para estar na casa de Deus. Quem entra Nele entra em Sua
casa. Portanto ninguém pode entrar na casa de Deus sem estar Nele. É preciso estar Nele para entrar em Sua casa.

Em Sua encarnação o Senhor Jesus veio da parte do Pai e entrou no homem. Contudo, para retornar ao Pai,
precisou passar pela morte e ressurreição. Por meio da morte e ressurreição, o Senhor voltou ao Pai a partir do
homem. Dessa forma o Senhor estaria no Pai. Era para lá que Ele ia. A vinda do Senhor foi uma questão de
entrar no homem, e não de vir à terra. Sua ida foi uma questão de ir para o Pai, não de ir ao céu (v. 28). O Senhor
entrou no homem mediante a encarnação e entrou no Pai mediante a morte e ressurreição. O Evangelho de João
de fato afirma que o Senhor Jesus ascendeu ao céu. Ele diz: "Ninguém subiu ao céu, senão Aquele que do céu
desceu: o Filho do Homem, que está no céu" (3:13). Porém não devemos dizer que a ida do Senhor ao Pai se
refere à Sua ida ao céu. Ele não retornou ao céu. Ele se encontrava na ocasião com os discípulos, e habita em nós
o tempo todo. Uma vez que quer habitar conosco, como poderia deixar-nos? Portanto Sua ida no capítulo catorze
não se refere à ida ao céu, e sim à ida ao Pai a partir do homem. "Crede para dentro de Deus, crede também para dentro
de Mim": esse é o tema desse capítulo. O próprio Senhor é o caminho para crer e entrar em Deus. O Senhor entrou no
Pai pela morte e ressurreição, e nós entramos no Pai pelo Senhor.

"Se vós Me tivésseis conhecido, conheceríeis também a Meu Pai. Desde agora O conheceis e O tendes visto" (v. 7).
O Senhor queria que os discípulos soubessem que não se tratava de posição ou lugar, porém de uma pessoa, isto é, o
Pai. Filipe disse: "Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta" (v. 8). Jesus respondeu: "Há tanto tempo estou convosco,
e não me tens conhecido, Filipe? Quem Me vê a Mim, vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?" (v. 9). Essas palavras
são muito significativas. Esses versículos não falam de um lugar; falam de uma pessoa. Falam de Deus, e não dos céus.
É questão de entrar em Deus e não de ir ao céu. Esse capítulo não trata do arrebatamento ou da ascensão; trata do
Senhor Jesus introduzindo o homem em Deus mediante Sua morte e ressurreição. "Crede para dentro de Deus, crede
também para dentro de Mim" é o assunto desse capítulo. Essa questão se refere totalmente a uma pessoa.

No versículo 10 o Senhor diz: "Não crês que Eu estou no Pai e o Pai está em Mim? As palavras que Eu vos digo,
não as falo de Mim mesmo; mas o Pai, que permanece em Mim, faz as Suas obras". Enquanto o versículo 2 diz: "Na
casa de Meu Pai", o versículo 10 afirma: "O Pai, que permanece em Mim". Onde o Pai habita? Onde é Sua casa?
Seguindo a lógica, moramos em casa. Nossa casa é onde habitamos. Muitos cristãos pensam que a casa do Pai é o céu;
porém, o versículo 10 declara: "O Pai, que permanece em Mim". Isso mostra que quando o Senhor Jesus estava na terra,
Ele era a casa do Pai. Não podemos dizer que uma pessoa vive em Taipé e sua casa está em Taichung. Uma pessoa vive
em sua casa.

A IDA DO SENHOR PARA PREPARAR LUGAR VISA À AMPLIAÇÃO DE CRISTO


Se o Senhor Jesus é a casa de Deus, como pôde ir preparar lugar para nós? Sua ida para preparar-nos lugar é Sua
ampliação. Primeira Coríntios 6: 19 diz que nosso corpo é santuário do Espírito Santo que está em nós. Primeira Pedro
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2:5 diz que somos edificados casa espiritual. Efésios 2:21-22 diz que crescemos para santuário ou templo santo no
Senhor, para ser habitação de Deus em espírito. Primeira Timóteo 3: 15 diz que a casa de Deus é a igreja do Deus vivo.
Casa e templo nesses versículos referem-se à morada de Deus. A casa é o templo, e o templo é a morada. A morada de
Deus é um mistério no universo, pois se trata de uma pessoa, e não de um lugar. A morada de Deus é a igreja, composta
de crentes. Eles são a ampliação de Cristo. Compreendendo esse conceito, entenderemos o que Deus faz no universo.

Deus habita na igreja, e a igreja é a casa de Deus. Portanto a igreja possui o elemento humano e o elemento divino
juntamente com o elemento celestial. Deus está na igreja, e o céu também está na igreja. Apesar de estar na terra, a
igreja é celestial, porque o céu está nela. Por isso a igreja é uma mescla de Deus e o homem, e é a união do céu e a terra.
Essa é a morada de Deus, a qual é diferente de Sua morada no céu. A morada de Deus no céu se constitui apenas de céu;
não possui o elemento humano e não está unida à terra. Contudo a igreja, adquirida por Deus para ser Sua morada, é um
mistério, porque Ele entrou no homem e com ele Se mesclou. Quando Deus vem, o céu vem também e, porque o
homem está aqui, a terra também está aqui. Isso é Deus mesclado com o homem e a união de céu e terra. Embora
não seja da terra, essa entidade está na terra. Embora esteja na terra, ela é do céu e possui o elemento divino. Essa
morada, a mescla de Deus com o homem e a união do céu com a terra, é a eterna morada que Deus está
edificando. É esse lugar que o Senhor disse que iria preparar, o qual inclui a igreja e o céu.

Em João 14: 11-12, o Senhor diz: "Crede-Me que Eu estou no Pai, e o Pai em Mim; se não, crede ao menos
por causa das próprias obras. Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê em Mim, esse também fará as
obras que Eu faço, e maiores do que estas fará, porque Eu vou para o Pai". Nesses versículos o Senhor disse que
iria ao Pai, e também no Pai introduziria os que cressem Nele. Aqui temos uma pessoa e também um lugar. O céu
pode ser expresso na terra porque está em Deus e é expresso pelo mesclar de Deus com o homem. Isso é um
mistério. O elemento celestial pode ser expresso na terra mediante a mescla de Deus com o homem. Essa é a
Nova Jerusalém.

A Nova Jerusalém, assim como a igreja, possui a mescla de Deus com o homem, e o céu também está
mesclado com ela. A igreja se compõe de crentes que estão mesclados com Deus e que possuem a condição, o
elemento, celestial que também está em nós. Desse modo, Deus e o céu são expressos na terra. Apesar de isso se
dar apenas como uma miniatura, ainda assim não podemos compreendê-la por completo. No novo céu e nova
terra vindouros, a época da maturidade e da plenitude, Deus estará totalmente mesclado com o homem, e o
homem entrará plenamente em Deus. Deus tomará o homem por Sua morada, e o homem terá Deus como sua
habitação. Assim os elementos divinos e celestiais serão introduzidos no homem e expressos na terra. É isso o
que o Senhor Jesus quis dizer ao afirmar que iria preparar-nos lugar.

A EDIFICAÇÃO COMO O ÚNICO ALVO DE DEUS


Não devemos pensar que depois de Deus ter salvado a todos nós pecadores e terminado de construir mansões
para nós no céu, Ele virá e nos levará para viver nelas. Deus tem apenas uma obra de edificação no universo,
na qual os pecadores são salvos para ser materiais de construção que são, então, mesclados com Deus. O
elemento celestial também faz parte dessa mescla. Essa é a edificação de Deus, onde Deus toma o homem como
Sua morada e o homem toma Deus como sua habitação. Essa é uma habitação misteriosa; é "cidade que tem
fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador" (Hb 11:10). Em todo o universo Deus só tem essa única
obra, essa única edificação. Nesse edifício Deus está mesclado com o homem, e o céu está unido à terra.

A Bíblia toda nos mostra a obra de edificação de Deus, cuja conclusão é a manifestação da Nova Jerusalém.
A Nova Jerusalém é Deus no homem, isto é, Deus tomando o homem como Sua habitação. Também é o homem
em Deus, isto é, o homem tomando Deus como sua morada. No fim, Deus e o homem, o homem e Deus estarão
mesclados. Deus introduz o céu na Nova Jerusalém; nela estão a condição e o elemento celestial. Além disso, a
Nova Jerusalém não é apenas expressa na terra, mas também unida à terra. Deus e o homem são mesclados; o céu
e a terra são unidos. O homem toma Deus como sua morada, e Deus toma o homem como Sua habitação. Essa é
a edificação de Deus no universo. Ainda que seja chamada de um lugar porque o céu está incluído e é expresso
na terra, é também uma pessoa porque Deus está no homem. É isto o que Deus edifica hoje: a cidade que tem
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fundamentos, cujo arquiteto e edificador é Deus. Esse edifício é o lugar que o Senhor está preparando. Por essa
razão, Apocalipse 21:2 utiliza a palavra preparada: "A nova Jerusalém, descendo do céu da parte de Deus, preparada
como uma noiva adornada para seu noivo" (TB).

O alvo da obra de Deus é a edificação: para isso Ele salva os pecadores e instrui os santos. A Nova Jerusalém é
composta de todos os crentes salvos. Conforme Apocalipse 21, a cidade possui um muro e doze portas. Os nomes das
doze tribos dos filhos de Israel estão inscritos nelas, e o muro tem doze fundamentos com os doze nomes dos doze
apóstolos do Cordeiro (vs. 12-14). Deus não está edificando uma habitação com o propósito de nos levar para lá quando
estiver terminada. Isso não está de acordo com a revelação da Bíblia.
Nós somos a casa, a habitação, que Deus edifica. Somos o templo de Deus, Sua morada por meio do Espírito Santo.
Como pedras vivas, somos edificados casa espiritual (1 Pe 2:5). Em sua completação, o templo se ampliará tornando-se
uma cidade. Por isso não existe nenhum templo nessa cidade (Ap 21:22). A cidade é a ampliação do templo.

A obra de Deus é edificar uma habitação para Si no universo. Por esse motivo, ao falar da cidade, o versículo 3 diz
que é o tabernáculo de Deus com os homens, e Ele habitará (armará tabernáculo, no original) com eles. Salvar os
pecadores e instruir os santos não são o alvo de Deus. Ele salva os pecadores e instrui os santos para adquirir um
edifício na terra. Sua edificação é um homem corporativo, não um indivíduo. Essa é Sua morada.

João 14 mostra o que Deus faz hoje no universo. Salvar pecadores e instruir os santos é apenas parte de Sua obra.
Ele faz uma obra de edificação e quer preparar uma habitação. Essa habitação é uma entidade misteriosa. É Deus
mesclando-Se com o homem e transformando-o Nele mesmo. Essa edificação inclui também o elemento celestial, e o
céu é unido à terra. É essa obra que Deus realiza hoje. Se conseguirmos compreender esse ponto à medida que lermos o
Novo Testamento, seremos grande mente iluminados e entenderemos o significado da Nova Jerusalém e da igreja.
Entenderemos também qual é nosso alvo e propósito na obra do Senhor. Não estamos aqui meramente para salvar
pecadores e instruir os santos. Antes, nosso alvo é o edifício de Deus, Sua habitação na terra.

Deus realiza uma obra de edificação. O Evangelho de João, Atos dos Apóstolos e as epístolas nos mostram as
pedras a ser utilizadas na edificação de Deus. Atos 4:11 diz que Cristo é a pedra angular; Efésios 2:22 diz que somos
edificados Nele para habitação de Deus. Em 1 Coríntios 3, Paulo diz que somos o edifício de Deus (v. 9) e que devemos
cuidar como edificamos (v. 10). "Se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira,
feno, palha, manifesta se tornará a obra de cada um" (vs. 12-13a). Hebreus 11: 10 fala da "cidade que tem fundamentos,
da qual Deus é o arquiteto e edificador". Deus está projetando e construindo uma cidade. Segundo o versículo 40, os
santos do Antigo Testamento necessitam dos crentes do Novo Testamento para receber a promessa de Deus.

Apesar de Abraão ter sido edificado por Deus, muitos nos tempos do Novo Testamento não o foram. Em
decorrência disso, a cidade ainda não se manifestou. Entretanto se manifestará e estará preparada e edificada no fim de
Apocalipse. Apocalipse 21:3 diz de modo claro que a Nova Jerusalém é Deus "armando tabernáculo" com os homens.
Ela é repleta do elemento celeste, mas se expressa na terra. É a união do céu com a terra, o homem e Deus
mesclados. Não é uma bênção para crentes espirituais de forma individual. O templo de Deus se torna uma cidade, a
habitação de Deus. É isso o que Ele quer e está fazendo. Esse é Seu alvo, Sua obra central.

CAPÍTULO CINCO
A UNIDADE EM JOÃO 17

Leitura Bíblica: Jo 17
O PROCESSO DA UNIDADE
João 17 é a oração do Senhor na qual Ele pede ao Pai que cumpra tudo o que foi falado nos capítulos catorze a
dezesseis. No capítulo catorze, o Senhor falou acerca do Consolador que estava por vir; no quinze falou da videira,
mostrando que nosso relacionamento com Ele se assemelha à união da videira com os ramos; e no dezesseis disse que o

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fator singular e inigualável dessa união é o Espírito Santo. O Espírito Santo vem não só para nos convencer do pecado a
fim de nos unir ao Senhor em amor, mas também para nos transmitir tudo o que o Pai e o Filho têm.

João 17: 1 começa com "Essas coisas falou Jesus", onde "essas coisas" se refere ao conteúdo dos capítulos catorze a
dezesseis. Depois de dizer o que disse nesses capítulos, o Senhor orou ao Pai: "Pai, é chegada a hora. Glorifica a Teu
Filho, para que o Filho Te glorifique a Ti" (v. 1). O Senhor profetizara que seria glorificado e que o Pai seria glorificado
Nele (12:23; 13:31-32).

Em 12:24 Ele disse que morreria como grão de trigo para que a casca da Sua humanidade se partisse e a vida
divina em Seu interior fosse dispensada a muitas pessoas para ser expressa por meio delas. Como essa vida divina
é o elemento divino de Deus Pai, o Pai é glorificado no Filho mediante a glorificação do Filho.

A frase "vou para Ti" em 17:11, confirma as palavras do Senhor no capítulo catorze, que Ele iria para o Pai e
Sua ida era a Sua vinda. Conseqüentemente a oração do Senhor no capítulo dezessete revela o significado do que
foi dito nos capítulos catorze a dezesseis. O Senhor desejava que todos os crentes fossem um assim como os três
do Deus Triúno - o Pai, o Filho e o Espírito Santo - são um.

João 14:20-24 diz: "Naquele dia, vós conhecereis que Eu estou em Meu Pai, e vós em Mim, e Eu em vós.
Aquele que tem os Meus mandamentos e os guarda, esse é o que Me ama; e aquele que Me ama será amado por
Meu Pai, e Eu o amarei e Me manifestarei a ele. Disse-Lhe Judas, não o Iscariotes: Que houve, Senhor, que Te
hás de manifestar a nós, e não ao mundo? Respondeu-lhe Jesus: Se alguém Me ama, guardará a Minha palavra; e
Meu Pai o amará, e viremos a ele e faremos com ele morada. Quem não Me ama não guarda as Minhas palavras; e
a palavra que estais ouvindo não é Minha, mas do Pai que Me enviou". Esses versículos mostram como a unidade
passa a existir. Por Sua morte e ressurreição, Sua ida, o Senhor entrou em Deus e Nele introduziu também o
homem, fazendo de Deus a habitação do homem e do homem a morada de Deus. É assim que a unidade passou a
existir.

Essa unidade é conseqüência da edificação, o resultado de o Senhor ter ido preparar lugar. A preparação de um
lugar é a edificação; e essa obra de preparação é a obra da edificação, que tem por resultado a unidade.

A UNIDADE É MEDIANTE A EDIFICAÇÃO


Numa casa física todos os materiais estão unidos como um só porque foram edificados. Isso também se aplica
ao edifício espiritual. Se um irmão não vive a edificação, será difícil ser um com os irmãos da igreja. Uma
pedra ou uma tábua precisa passar pelo processo de edificação para se tornar parte da casa. Efésios 4: 11-13 nos
mostra que Deus deu apóstolos, profetas, evangelistas e pastores e mestres como dons para o aperfeiçoamento dos
santos para a edificação do Corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao pleno conhecimento do
Filho de Deus. A unidade é o resultado da edificação, e não é mera questão de ter os mesmos pontos de vista e
opiniões. A unidade é questão de ser edificado.

Antes de o Espírito Santo descer no dia de Pentecostes, as cento e vinte pessoas no cenáculo eram unânimes.
Todos perseveravam unânimes em oração (At 1:14). Sua unidade não surgiu de modo instantâneo. Antes de orar
em unanimidade, os discípulos haviam recebido o Espírito Santo (Jo 20:22). Isso se tornou o fator de sua unidade,
capacitando-os a orar com uma só alma. Eles também estiveram sob a liderança do Senhor Jesus por três anos e
meio e por Ele foram ensinados durante quarenta dias após Sua ressurreição (At 1:3).

A dimensão da edificação determina a dimensão de nossa unidade. Por exemplo, mesmo que os irmãos da
igreja em Taipé não tenham opiniões a impor nem discutam, não podemos afirmar que isso seja unidade. A
genuína unidade advém de ser edificado. Talvez não haja unidade nem entre os que servem. A ausência de
contendas não significa necessariamente que somos um. Uma coisa é não discutir; outra bem diferente é ser
um. Para ter unidade, precisamos ser edificados por Deus. Por esse motivo, não podemos afastar-nos da igreja,
não podemos afastar nos dos irmãos com quem devemos ser edificados. Uma peça de madeira pode ser bom
material de construção, porém, se não for edificada como parte da casa, será inútil. Não basta ser bom material.
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Somente quando os materiais são edificados como parte da casa pode existir a genuína unidade.

A BÊNÇÃO DE DEUS ESTÁ NA UNIDADE


A bênção de Deus para a igreja está na unidade. O Espírito Santo se move na unidade, o poder do evangelho
se encontra na unidade, a autoridade de Deus reside na unidade, a luz de Deus é encontrada na unidade e o
suprimento da vida divina também se encontra na unidade. No entanto, para haver unidade, é necessário que haja
a edificação. Sem a edificação não existe unidade genuína. Mesmo que exista algum tipo de unidade, ela não
durará. Apenas quando somos edificados podemos ter a genuína unidade. Podemos servir juntos sem ser um.
Podemos não tentar impor nossas opiniões e ainda assim não ser um. Somente quando somos edificados pode
existir a unidade. Não experimentamos a bênção de Deus de forma abundante nem Sua presença é evidente entre
nós, porque não há edificação o bastante entre nós. Isso é prova tremenda de que nos falta submissão à
autoridade.

Pode ser que não discutamos nas reuniões, porém não somos unânimes, porque não há muita edificação entre
nós. Quando os irmãos vêm às reuniões, não há nem harmonia nem coordenação no espírito. Até mesmo os que
servem são independentes. Isso demonstra que ainda não fomos edificados.

Amamos o Senhor e nos dispomos a buscá-Lo. Mesmo que nos sintamos incomodados quando faltamos às
reuniões, isso não mostra que fomos edificados. Oramos quando nos sentimos inspirados e guardamos silêncio
quando não temos nenhuma inspiração. Não nos importamos com a condição dos irmãos e não nos
incomodamos se somos cristãos isolados. Apesar de salvos e de participar das reuniões, estamos destacados e
isolados. Até mesmo os que servem em tempo integral são assim. Quando vêm a uma reunião, sentem-se
isolados e destacados no espírito. Isso faz com que o espírito da reunião seja fraco.

Se os que servem estiverem em harmonia, coordenados e com o mesmo sentimento, a reunião será
poderosa, significativa e repleta de bênçãos. Isso prova que a presença de Deus está na edificação.
Portanto a chave para a bênção de Deus e Sua presença está na edificação entre os que servem.

Um carro é uma boa ilustração. Quando pisamos no acelerador, o carro se move porque ele foi" edificado".
Se tivermos apenas peças separadas de carro muito bem pintadas, o carro não se moverá, porque as peças
separadas não foram montadas, ou "edificadas". Usando a mesma figura, algumas vezes os que servem numa
reunião foram "desmontados". Não estão coordenados, antes são independentes e cada um faz o que acha que
deve. Isso demonstra que os que servem não foram edificados como um só. Isso dificulta que os santos sob os
seus cuidados sejam edificados também. O resultado é que as orações e as atividades nas reuniões são
independentes, individualistas, não corporativas e não em unidade.
Uma pilha de boas auto peças não montadas ou coordenadas é inútil. Sem edificação não há como o carro se
mover. Em 1946 trabalhei em Xangai e Nanking. Toda vez que voltava para Nanking, via clara unanimidade,
seja nos cânticos, nas orações ou na mensagem. Na reunião da mesa do Senhor, todos os santos em Nanking
testificavam da mesma coisa. Eram nossa carta de recomendação. Até mesmo os que só iam às reuniões vez ou
outra sentiam-se renovados.

Hoje sinto um espírito de independência em muitas reuniões. Cada um age de forma claramente
individualista. Funcionamos com base em nossa inspiração do momento. Oramos ou pedimos um hino quando
estamos inspirados. No entanto estamos desconectados e desunidos. Apesar de não brigarmos, não há edificação.
Não só não há a edificação orgânica como também há a demolição. Por exemplo, dois irmãos podem ter boa
coordenação juntos, porém quando outros se juntam a eles, tropeçam em sua coordenação. Como estamos
destacados e por isso nos falta a edificação, não é fácil ver as bênçãos de Deus e Sua presença em nosso meio.

Não é fácil encontrar a presença de Deus na espiritualidade individual. Sua presença se manifesta onde existe
unanimidade, onde há harmonia. Por isso o Senhor disse em Mateus 18: "Em verdade ainda vos digo que, se dois
dentre vós sobre a terra concordarem a respeito de qualquer coisa que pedirem, ser-lhes-á feita por Meu Pai que
está nos céus. Porque onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, ali estou no meio deles" (vs. 19-20).

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Sem unanimidade em nosso meio, não podemos esperar alguma bênção, mesmo que trabalhemos de forma
diligente sem brigas e sem discussões. Outros podem ser muito bem-sucedidos com pouco esforço, mas nós
temos pouco sucesso não importa quanto nos esforcemos. Mesmo que recebamos a bênção de Deus e nossa obra
ajude outros a aprender em vida, receber instrução espiritual e amar o Senhor, ainda não conseguiremos
empreender uma obra eterna. Nossa obra não produzirá edificação. Não levará os santos a servir o Senhor em
amor, sendo dependentes uns dos outros e fazendo deles a habitação de Deus. Ele não quer pessoas que sejam
meramente salvas e se tornem espirituais de modo individual. Ele quer a edificação.

Se formos apenas instruídos, sem permitir que Deus faça uma obra de edificação em nós, administraremos a
igreja como presbíteros, porém nossa administração não terá o elemento da edificação. Sendo colaboradores ou
os que ministram a palavra, não teremos como resultado a edificação. Nossa palavra pode levar outros à salvação
e a ser espirituais, mas nada pode produzir para edificação. Podemos ser capazes de reunir muito material para
edificação e trabalhar nele, porém não será utilizado para a edificação com outros materiais. Podemos conseguir
visitar as pessoas e ajudá-las a ser espirituais, ainda assim não haverá nenhuma edificação.

Que Deus tenha misericórdia de nós para nos fazer humildes. Não devemos pensar que, por salvar algumas
pessoas para o Senhor, sabemos realizar a obra de Deus. Não é isso o que Ele quer. Ele quer um edifício. Onde há
edificação, existe unidade; onde existe unidade, existe algo genuíno. É isso o que Deus quer.

DIFICULDADES E PROBLEMAS DEVIDOS PRINCIPALMENTE AO INDIVIDUALISMO


Existem alguns assuntos que me fazem sofrer. Depois de ouvir um irmão falar, alguns vieram a mim e
reclamaram que ele atacou outros em sua fala. Quando os irmãos dão mensagens, o propósito deles é instruir.
Com relação ao conteúdo das mensagens, não creio que digam alguma heresia. Também não existe a
necessidade de atacar outras pessoas enquanto falam. Se somos movidos por questões emocionais em nossa
atividade, não faremos a obra de edificação. Os santos têm a simplicidade das crianças. Os irmãos devem
cooperar com Deus a fim de falar da parte de Deus, com o propósito de edificação e não de demolição. Os que
ministram a palavra não devem oferecer ajuda com uma das mãos e transmitir germes com a outra. Caso
contrário, os santos serão instruídos e feridos ao mesmo tempo. Isso resultará na demolição do edifício.

Depois de ouvir uma mensagem dada por um jovem, algumas pessoas vieram a mim e me inquiriram sobre o que
ele falou. Isso indica que há um espinho em sua obra que torna as pessoas desconfortáveis. Podemos entender que
realizamos uma obra, contudo não percebemos que há um espinho interferindo nela. Esse tipo de obra não é proveitosa.
Nossas mensagens não devem atacar as pessoas; devem ser positivas. Nossa fala deve transmitir vida. Não deve levar
as pessoas a fazer comparações negativas ou a ter um sentimento crítico ou de julgamento. O alvo quando falamos é a
edificação. Portanto não devemos dar a impressão aos santos de que o que falamos é mais elevado do que o que os
outros falam. Em vez disso, os santos devem perceber que a nossa palavra está em harmonia com a dos demais. Eles
não deveriam ficar com a sensação de que um irmão ataca outro quando prega. Embora falem de diferentes
perspectivas, eles são um. Por essa razão, precisamos esforçar-nos para falar palavras que edificam. Isso requer que
estejamos quebrantados e edificados juntos. Do contrário, não será possível fazer a obra de Deus. Esse é um assunto
solene.

Embora as igrejas estejam fundamentadas em base adequada, a situação entre elas parece ser a de governo
autônomo. Não devemos ter aromas locais distintos; antes, devemos ter apenas o aroma de Cristo. Por exemplo, se
vamos à cidade de Kaohsiung, devemos ter a sensação de que somos apenas a igreja em Kaohsiung. Um crente pode
estar somente em uma cidade, e deve servir para a edificação ali.

Isso, porém, pode causar um novo problema, caso a igreja numa cidade não esteja disposta a manter comunhão
com outras. Quando várias cidades foram erguidas pelo Senhor, os irmãos não sabiam administrar a igreja e, portanto,
dependiam de outras igrejas. Por exemplo, as igrejas em Taiwan e em Kangshan dependiam da igreja em Kaohsiung.
Depois de progredir um pouco, passaram a cuidar de si mesmas sem depender de Kaohsiung. Apesar de não brigar,
discutir ou entrar em contendas com a igreja em Kaohsiung, eles têm um governo autônomo. Os de Kaohsiung podem
até partir o pão com eles, no entanto existe um sentimento de independência. Não há nem mesmo a edificação entre os
santos individualmente. A falta de edificação entre as igrejas resulta da falta de edificação entre os santos.

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Os irmãos responsáveis pela obra com jovens não dependem uns dos outros para ter vida. Isso é muito
decepcionante. Eles são inteligentes e habilidosos e sentem que é mais eficaz trabalhar sozinho. Esse labor individual,
entretanto, não produzirá resultado. Apesar de não brigar ou discutir com os outros, são incapazes de trabalhar juntos e
servir ao Senhor com uma só alma. Portanto, não há bênção.

Não podemos enganar os outros com relação à nossa verdadeira condição. Quando outros tocam em nosso espírito,
conseguem perceber nossa real condição e sabem com certeza se somos ou não honestos. Os responsáveis pela obra
com os jovens não possuem espírito corporativo. Podem até dizer que necessitam uns dos outros e não podem ser
independentes; no entanto no coração desejam não ter de trabalhar com outras pessoas.
Se queremos ter a bênção do Senhor e Sua presença, e se queremos que os outros sejam aperfeiçoados, precisamos
aprender a ser edificados juntos. Precisamos fazer cada obra na posição, atmosfera e espírito de ser edificados. Somente
assim nosso empenho produzirá o resultado que Deus busca e abençoa. Se de fato formos iluminados por Deus com
essa verdade, iremos prostrar-nos em Sua presença e dizer: "Não posso viver à parte dos outros. Preciso ser
edificado independente de quão espiritual eu sou".

A EDIFICAÇÃO COMO A SOLUÇÃO DE TODOS OS PROBLEMAS NA IGREJA E COMO A


INTRODUÇÃO DAS BÊNÇÃOS DE DEUS
Paulo foi o maior apóstolo do Senhor. Contudo, ao escrever a Epístola de 1 Coríntios, declarou: "Paulo,
chamado pela vontade de Deus para ser apóstolo de Jesus Cristo, e o irmão Sóstenes" (1:1). A referência de
Paulo a Sóstenes demonstra que ele tinha consciência do Corpo e espírito de coordenação. Tenho dúvidas que
muitas pessoas tenham prestado atenção ao nome de Sóstenes.

O espírito do apóstolo é diferente do nosso. O isolamento entre nós se aprofunda cada vez mais. Todos são
capazes, os mais jovens e os mais velhos, e é como se não houvesse necessidade de depender uns dos outros. Os
mais velhos acham que são mais experientes e sabem tudo sobre a administração da igreja. Sentem que sabem
ser presbíteros. Apesar de não dizer isso, é a atitude que cultivam no espírito. Podemos ser gentis e chamar isso
de espírito de demolição, mas na verdade trata-se de espírito de rebelião. Quando um irmão fala, alguns podem
ser críticos e dizer no coração: "Já sei isso". Esse tipo de espírito é destrutivo para a obra de Deus.

Não devemos esperar que nossa obra seja abençoada se estamos isolados e agimos de forma
individual. Não devemos esperar que uma obra realizada assim produza edificação. Como ministramos a
palavra e participamos da obra de Deus de alguma forma, haverá resultados. Até a obra da Igreja Católica
produz resultado. Precisamos perguntar-nos, no entanto, se essa obra produz o que Deus quer. Será que a Igreja
Católica pode instruir dois ou três milhões de pessoas para que vivam unânimes, amem-se mutuamente e
tomem posição por Deus? As pessoas que forem instruídas por ela serão cheias de opinião própria. Deus não
pode edificá-las. Ele não pode obter uma habitação, uma morada, nelas.

Pela misericórdia de Deus, que enxerguemos a necessidade de ser edificados e assim nos dedicar a uma obra
que edifique outros. Quando levamos pessoas à salvação, é preciso que haja elemento de edificação. Quando as
levamos à salvação, precisamos não só torná-las espirituais, como também edificá-las. Depois de conduzi das ao
Senhor por nosso intermédio, elas devem não só amar o Senhor, mas também ser edificadas juntamente com
outras pessoas. Seguindo o mesmo princípio, os presbíteros não precisam só administrar a igreja, mas também
edificá-la. Assim, os irmãos sob sua administração serão unânimes e dispostos a se submeter a outros,
considerando a submissão como sua glória. Essa é a gloriosa obra que precisamos realizar aqui.

Só capacidade não basta. Se forem comparados aos presbíteros, alguns irmãos mais jovens podem ser mais
aptos em termos de habilidades pessoais e capacidade intelectual. Isso, porém, não significa que possam servir
como presbíteros. As qualificações para ser presbítero não dependem de habilidades ou de capacidade
intelectual, mas de ele ser quebrantado e submisso. É possível que em nossa obra como presbíteros,
acabemos gerando santos inclinados à dissensão e à rebelião. Nosso serviço pode levar as pessoas à salvação e
fazer delas pessoas espirituais que amem ao Senhor com zelo, porém que não sejam edificadas. Por favor,
permitam-me que lhes diga algo solene: desde o início do ano venho sentindo que Satanás quer que façamos
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uma obra ao mesmo tempo espiritual e cheia de zelo, mas também demolidora e carente de submissão mútua.

Muitos jovens foram envenenados quanto a esses aspectos. Precisamos proclamar uma advertência: os que
desejam servir ao Senhor precisam tomar o caminho da edificação. Se há conhecimento, porém falta edificação,
está aberto o caminho para a rebelião. Se há "espiritualidade", porém não há edificação, esse é o caminho de
Satanás. Nos dois mil anos de história da igreja, ninguém foi usado por Deus sem estar disposto a se colocar sob
Sua mão e ser submisso. Deus não quer realizar uma obra hoje apenas de salvar pecadores e aperfeiçoar os
santos. Sua obra primordial é edificar uma habitação.

Jamais devemos pensar que a edificação não é essencial ou que seja facilmente "fabricada". Deus precisa
trabalhar muito a fim de edificar uma pessoa isolada. Ele quer que entremos na glória. Quer que sejamos
edificados juntamente com outros como Sua gloriosa habitação. Sem estar coordenados e edificados com
outros, não poderemos entrar na glória. Se pudermos viver e trabalhar de forma coordenada, Deus
acrescentará outras pessoas que também sejam aptas a viver e trabalhar desse modo. Se Deus não puder realizar
Sua edificação em nós hoje, Ele o fará mais tarde. Os que entram na glória de Deus precisam ser edificados por
Ele.

Para ser edificados, é crucial ser capazes de nos coordenar com outros. Para estar coordenados, precisamos
ser quebrantados. Talvez nos consideremos pedras excelentes, porém não conseguimos ser edificados juntos. De
modo semelhante, podemos considerar alguém que é capaz de se coordenar com outros como uma pedra feia.
Isso apenas mostra que o que de fato importa é alguém ser capaz de ser edificado junto a outros e não seu grau de
"espiritualidade".

Não é fácil para Deus encontrar um grupo de pessoas dispostas a se sujeitar mutuamente e a ser edificadas
por Ele juntas. Deus quer derramar Sua bênção, contudo não é nada fácil achar vasos assim. O Senhor afirmou
que se dois ou três estiverem reunidos em harmonia, Ele estaria com eles e as suas orações seriam respondidas
(Mt 18:19-20). Em outras palavras, as bênçãos de Deus estão onde quer que a edificação se manifeste. Se dez por
cento dos que servem em Taipé estiverem unânimes, a bênção de Deus acompanhará seu serviço. Por outro lado,
se não existirem discussões em uma cidade, mas também não existir edificação, a bênção de Deus não se fará
presente. A bênção de Deus se baseia na unanimidade, na harmonia de espírito uns com os outros, na verdadeira
coordenação entre nós e na unidade genuína. Por exemplo, se cinco irmãos e quatro irmãs se reúnem, os irmãos
devem ser submissos uns para com os outros exatamente como as irmãs. Se um irmão escolher um hino, todos
devem cantar juntos com regozijo. Esse tipo de condição e de espírito trará a bênção de Deus sobre vocês.

O ORGULHO CONVIDA A DESTRUIÇÃO E A HUMILDADE INTRODUZ A BÊNÇÃO


Há também muito orgulho em nosso meio. É doloroso ouvir perguntas como: "Por que ele é presbítero e eu
não? Por que ele lidera a igreja toda e eu apenas um grupo nas casas?". Isso é orgulho. O orgulho é fonte de
suspeitas e nos leva a pensar que os presbíteros têm alta consideração por outros, mas não por nós. Isso é
vergonhoso.

Se essa é nossa condição, poderemos pregar mensagens maravilhosas, no entanto nossa obra não trará
resultados. A questão principal é nossa pessoa, e não a forma como falamos. A habilidade de pregar melhor
do que Paulo não fará nossa obra mais eficaz. Tudo depende do estado de nossa pessoa. Uma pessoa orgulhosa
irá gerar outros orgulhosos. Produzimos frutos de acordo com nossa espécie. Colhemos o que plantamos. Quem
ministra a palavra com orgulho não deve esperar colher frutos de humildade. Quem administra a igreja com
orgulho não deve esperar colher uma igreja humilde. Se administramos a igreja de forma orgulhosa, ela pode
levantar-se para nos condenar e até rejeitar. A presença de tal condição em nosso meio nos dá um pesado encargo.
Precisamos perceber o que Deus realiza no universo hoje. Alguém pode dizer orgulhosamente: "Vejam! Todas
essas pessoas foram salvas por meu intermédio". Podemos ter conduzido muitos à salvação, mas eles podem estar
todos doentes, porque nós estamos doentes. Desse modo causamos dano à igreja e não temos como evitar que
nossa doença se espalhe. Os que amam o Senhor não elogiarão nossa obra. Se esperamos ser igualmente amados e
louvados por quem ama e louva o Senhor, colheremos o fruto de nosso esforço algum dia.

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Em Mateus 7:22-23, o Senhor disse: "Muitos, naquele dia, Me dirão: Senhor, Senhor! não foi em Teu nome
que profetizamos, e em Teu nome expulsamos demônios, e em Teu nome fizemos muitos milagres? Então lhes
declararei: Nunca vos conheci. Apartai-vos de Mim, os que praticais a iniqüidade". Nesses versículos nunca vos
conheci significa nunca os aprovei. O Senhor não aprovava o que eles faziam. Portanto devemos sempre perguntar-
nos se nossa pregação do evangelho e nossa administração da igreja são ou não para a edificação.

Talvez pensemos que somos competentes para administrar a igreja, porém depois de três anos a igreja estará
em rebelião. Que o Senhor tenha misericórdia de nós e percebamos que o espírito de Babel é rebelião, e isso é
intolerável. Se pudermos acolher com humildade a Sua misericórdia, seremos abençoados. Que o Senhor tenha
misericórdia de nós e nos livre do espírito de Babel para que nos tornemos humildes e submissos.

A semente do orgulho no interior de todos nós é o maior problema para o Senhor em Sua obra de edificação.
Ela é a fonte de nossa falta de edificação. Se queremos ser edificados, precisamos submeter-nos aos outros e
acolhê-los. Submissão requer humildade e acolhimento requer mansidão. Quem não é submisso nem acolhedor é
orgulhoso, sentindo que pode fazer tudo por si mesmo.

APRENDER NO SERVIÇO - SER HUMILDES EM RELAÇÃO A NÓS MESMOS E PUROS EM RELAÇÃO


AOS OUTROS
Não existe status no serviço do Senhor. Não devemos esperar que os outros nos exaltem. Um irmão certa vez
disse que, se os que servem ao Senhor fossem respeitados, muitos se levantariam a fim de servi-Lo. Isso é errado.
Ao contrário, quando os servos do Senhor são desprezados, uma multidão se ergue para servi-Lo.

No serviço que prestamos não existe essa coisa de posição ou status nem devemos cobiçar isso. Não
devemos esperar obter alta consideração ou mesmo ser apreciados. Devemos, sim, estar preparados para
ser maltratados, sem qualquer demonstração de apreço por nossos esforços. Nosso galardão não advém de
homens.
Essa, no entanto, não é nossa real situação. Antigamente deixamos muito claro que nosso caminho era oposto
ao do mundo. Deixamos claro que esse não era o caminho para quem almejava glória. Não devemos dizer que os
que servem ao Senhor devem ser respeitados a fim de atrair outros para o serviço do Senhor. Um ambiente desses
comprova que estamos em estado de degradação. Mesmo que fôssemos respeitados, outros se levantariam
continuamente para servir o Senhor; eles não podem ser impedidos.

Precisamos conscientizar-nos de que tudo pertence a Deus e Ele assume toda a responsabilidade. Ele nos
conduziu a esse caminho. Isso é obra Dele. Não podemos estimular outros a isso nem controlá-los. É vergonhoso
utilizar recursos financeiros com o fim de manter outros sob controle ou até controlar servos do Senhor.

O Senhor quer que toda obra dependa Dele. A forma como somos tratados pelos outros é secundário e não
deve incomodarmos. Os que servem o Senhor precisam estar preparados para depositar tudo em Suas mãos e
viver somente para Ele. Deus é totalmente responsável por nossas necessidades. Vivemos pela fé, mesmo quando
precisamos fazer tendas como Paulo (At 18:3; 20:34).

Precisamos ser humildes e puros enquanto servimos. Ser humilde é colocar-nos de lado e submeter-nos ao
arranjo de Deus. Ser puro é reconhecer que tudo vem de Deus e não temos outras motivações nem expectativas.
Tomamos esse caminho quer as pessoas nos elogiem ou se oponham a nós. Quando somos apreciados, trilhamos
esse caminho; quando não somos, ainda assim o trilhamos. Seguimos por ele caso concordem ou não. Segui-Lo é
algo totalmente entre nós e Deus; nada tem a ver com qualquer outra pessoa ou coisa. Quem serve o Senhor deve
ser assim.

Chegando ao fim de seu ministério, Paulo disse: "Todos os da Ásia me abandonaram", e também: "Na minha
primeira defesa, ninguém foi a meu favor; antes, todos me abandonaram" (2 Tm 1:15; 4:16). Parece que ele queria
dizer que muitos receberam seu ministério, porém nenhum permaneceu com ele em sua primeira defesa. Não
obstante, o Senhor permaneceu com ele e o capacitou de tal forma que por meio dele "a pregação fosse

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plenamente cumprida" (v. 17). No desempenho de nosso serviço não devemos desejar obter a comiseração
dos outros. Nosso caminho depende do Senhor.

Todos os que servem ao Senhor necessitam ser humildes em relação a si e puros em relação aos outros. Não
devem almejar a aprovação dos irmãos nem esperar posição elevada, ótimo tratamento, elogios ou reações
positivas. Precisamos ser puros no alvo de buscar somente a Deus. Também precisamos ser humildes e nos
submeter aos outros e às nossas circunstâncias. Servimos ao Senhor e os que O amam. Se Ele pôde até mesmo
lavar os pés dos discípulos, a quem não podemos servir? Se o Senhor pôde ir ao Hades, onde é que não podemos
servir? Seja numa cidade grande ou pequena, seja como presbíteros que administram a igreja ou apenas limpando
os banheiros, precisamos empenhar-nos no serviço. Somente dessa maneira podemos realizar a obra de
edificação. Esse tipo de serviço produzirá um resultado orgânico de edificação. De outro modo, nosso serviço irá
gerar apenas "gigantes". Por favor, não se esqueçam de que só colhemos o que plantarmos.

Satanás realiza uma obra sutil para nos tornar individualistas e para vivermos em desacordo, apesar de não
discutir entre nós. Desse modo, trabalhamos com uma das mãos e demolimos com a outra. Numa situação dessas
é difícil ter a bênção; é difícil nossa obra produzir algum resultado orgânico. A bênção de Deus está em agirmos
de comum acordo e na unidade. A genuína unidade vem com a edificação. Se estamos edificados, podemos estar
com os irmãos de qualquer cidade em qualquer circunstância. Seja como presbítero ou varrendo o chão, servimos
com ações de graça e louvor. Somos flexíveis em nossa coordenação com os outros.

Se aprendermos essa lição diante de Deus, nosso serviço como presbíteros resultará na edificação da igreja e
nossa limpeza do salão de reuniões também resultará na edificação da igreja. Assim, não importa que livro da
Bíblia os presbíteros querem que estudemos, seja o Evangelho de João ou as Epístolas aos Tessalonicenses, não
teremos preferências pessoais. Desde que sejamos edificados, não importa onde somos colocados ou o que nos
pedem que façamos, estamos na edificação. Tudo depende de ser ou não edificados pelo Senhor, e não se somos
ou não solicitados a ministrar a palavra.

Os que servem em tempo integral não adquirem seu sustento pregando; antes, são os que sacrificam seu futuro
a fim de servir o Senhor. Que sejamos os que estão no coração do Senhor e aprendem a receber Seu
quebrantamento. Que possamos dizer como a irmã M. E. Barber: "Senhor, não tenho outro desejo além de Ti".

O AMOR FRATERNO GENUÍNO É A EDIFICAÇÃO


Outra razão para a falta de edificação entre os que servem é a falta de amor uns pelos outros. Essa falta de
amor mútuo me faz sofrer. Não existe amor genuíno entre nós e na verdade não nos importamos muito uns com
os outros. Parece que estamos satisfeitos com o mero fato de nos entender uns com os outros. É como se fôssemos
meros colegas. Sem o amor fraternal, entretanto, perderemos o nosso testemunho e a bênção do Senhor.

Deve existir amor extraordinário entre os que servem. Esse é um ponto crucial abordado em João 13-17. A
palavra do Senhor para nós e Sua oração foi que nos amemos uns aos outros (13:34; 15:12, 17). Tal amor uns
pelos outros advém de nossa unidade com o Senhor, e não é algo comum. Significa amar uns aos outros na vida
divina e no amor do Senhor (17:26). Somente esse amor pode edificar-nos juntos.

CAPÍTULO SEIS
EDIFICAR EM AMOR E CONHECER AS PESSOAS

João 13:34-35 diz: "Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como Eu vos amei, que
também vos ameis uns aos outros. Nisso conhecerão todos que sois Meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos
outros". As palavras saberão que sais Meus discípulos podem também ser traduzi das por saberão que sais os que Me
seguem. João 17:21 diz: "A fim de que todos sejam um; como Tu, Pai, estás em Mim, e Eu em Ti, que também

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estejam eles em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste". O versículo 23 diz: "Eu neles e Tu em Mim, a
fim de que sejam aperfeiçoados em um, para que o mundo conheça que Tu Me enviaste, e os amaste como amaste
a Mim". Quando as pessoas no mundo vêem a unidade dos que servem, podem crer que o Senhor foi de fato
enviado por Deus, que é o Cristo de Deus. Essa unidade é a unidade do Deus Triúno.

Os versículos acima demonstram que a harmonia em amor é a característica dos que são edificados por Deus.
Quando as pessoas entram em contato com essa característica, percebem que essas pessoas seguem a Cristo. A
característica de amar-nos uns aos outros, a harmonia em amor, leva outros não só a saber que somos seguidores
do Senhor, mas também a crer que Ele é o Cristo. Em João 14-17, o Senhor falou de amar-nos uns aos outros. Se
estudarmos esses capítulos cuidadosamente, podemos saber o que significa amar uns aos outros.

AMAR UNS AOS OUTROS


Um crente que não tenha sido edificado pelo Senhor, não terá amor genuíno pelas pessoas. Um crente novo
ama os irmãos. Apesar de esse amor ser do Senhor, está em seu estágio inicial e não pode durar, porque não é o
tipo de amor de que fala o Evangelho de João. Nesse Evangelho o amor é resultado de permanecer no Senhor, ter
comunhão com Ele e ser um com os que Lhe pertencem. Os que foram edificados por Deus têm esse tipo de
amor.

Paulo é um dos que foram trabalhados pelo Senhor e edificados por Deus. Seu amor por todas as igrejas,
irmãos e colaboradores não procedia do afeto natural, das boas intenções ou da igualdade de temperamento. O
amor de Paulo procedia de ele ter sido edificado no Senhor. Esse amor pode ser visto nas epístolas, em suas
palavras, atitudes e ações para com as igrejas, para com crentes específicos ou para com colaboradores, seja por
meio de repreensões ou elogios. Ele tinha uma inquieta preocupação por todas as igrejas. Se um colaborador,
igreja ou santo estivesse enfraquecido, ele também ficava fraco. Se tropeçassem, ele se entristecia e se indignava
com o causador do tropeço (2 Co 11:28-29).

APRENDER A SE IMPORTAR COM OS OUTROS


Embora nossa situação seja melhor do que a dos que estão no mundo, falta um sentimento de amor e de
preocupação entre os que servem. Pode haver alguém que goste de determinado irmão e consiga manter boa
coordenação com ele, todavia isso não é amor. O Senhor deseja que amemos uns aos outros assim como Ele nos
ama. Seu amor por nós não se baseia em emoções. Ele não nos ama porque somos dignos de amor. Não somos
amáveis nem tratamos o Senhor de modo que nos faça merecer Seu amor. Se fizéssemos por merecer Seu amor e
O tratássemos bem, poderíamos ser merecedores de amor, entretanto tal amor poderia ser baseado em emoções.
Contudo não existe nada em nós que mereça ser amado; por esse motivo o amor do Senhor para conosco não se
baseia em nenhuma emoção. Ele nos ama porque necessitamos de Seu amor.

Deve existir esse tipo de amor entre os que servem e entre os santos. Não devemos amar os irmãos porque
são amáveis. Não devemos amar um irmão porque ele nos trata bem. Devemos amar os santos porque são nossos
irmãos e porque fomos trabalhados pelo Senhor; porque fomos edificados juntos por Deus.

Não precisamos exortar os santos para que se amem uns aos outros. Porém, quanto mais edificação houver
entre nós, mais a característica do amor e da preocupação mútua será expressa. Então nossa administração da
igreja e nosso ministério da palavra produzirão resultados. Os irmãos também passarão a amar-se mutuamente.
Se os irmãos conseguem amar os outros depende da administração da igreja e da pessoa dos que ministram a
palavra. Pregar uma mensagem sobre amar uns aos outros pode não ser algo eficaz, mas nossa administração da
igreja pode levar os irmãos a amar uns aos outros. Às vezes quanto mais falamos de amar uns aos outros, menos
os santos se amam.

Em algumas igrejas os que ministram a palavra nunca falam do amor mútuo, mas os santos amam uns aos
outros. Os presbíteros podem não conduzir os irmãos a amar, porém sob sua administração os irmãos amam uns
aos outros de forma espontânea. Isso ocorre quando os que administram a igreja já foram edificados pelo
Senhor. Há algo neles que demonstra que se importam com os outros, amam os outros e cuidam deles.

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Deixe-me dar uma ilustração. Um irmão da casa dos obreiros estava doente há dois dias, no entanto nenhum
dos irmãos foi visitá-lo. Os quatro irmãos que normalmente tomavam o café da manhã com ele pareciam não
perceber que ele estava faltando. Podem ter pensado: "Não sou eu quem está faltando. Vou tomar o meu café da
manhã e então cuidar dos meus assuntos". Pode alguém assim servir o Senhor? Quem já foi edificado pelo
Senhor precisa aprender a se importar com os outros. Se há o amor genuíno, os quatro irmãos logo irão
procurar saber da condição do irmão que falta. Isso é a coisa adequada a se fazer.

Se descobrimos que as meias de nosso irmão estão rasgadas, devemos procurar saber se ele possui outro par.
Caso não tenha, devemos conseguir outro par para ele, sem que saiba quem foi que fez isso. É isso que significa
amar uns aos outros. Nós nos degradamos se nos falta esse tipo de amor uns para com os outros. É inútil apenas
pregar mensagens apelativas. Se observamos que um irmão sempre usa a mesma camisa, precisamos descobrir se
possui outras. É preciso importar-se desse modo com as pessoas.

Se não nos importamos dessa maneira, será difícil servir ao Senhor. Podemos ser capazes de administrar a
igreja de forma ordeira, mas não haverá edificação em nossa administração. Podemos também pregar mensagens,
mas os santos não serão edificados. O conhecimento nos ensoberbece, mas o amor nos edifica (l Co 8:1). Isso não
significa, porém, que devemos pregar mensagens sobre amar uns aos outros; antes, que precisamos ser
trabalhados e edificados pelo Senhor. Só assim nos importaremos com os outros e iremos amá-los.

Quando compramos um par de sapatos, devemos considerar se o irmão que serve conosco possui outro par.
Precisamos ter essa consideração também ao comprar roupa nova. Lamentavelmente, essa não é a situação entre
nós. Não devemos cuidar apenas de nossa vida; antes, devemos cuidar também do irmão que se encontra a nosso
lado. Isso é muito sério. Certa vez alguém me acusou de utilizar o dinheiro para controlar outros. Isso é um insulto
para mim e para os outros irmãos. O Senhor sabe que não tenho a menor intenção de manipular os irmãos. Meu
desejo é que as necessidades deles sejam preenchidas. Nenhum dos que estão a serviço deveria passar
necessidade.

Simplesmente dar coisas aos outros não é um indicativo de amor. Pode ser apenas questão de emoção.
Devemos ter um amor que se importa com os outros e cuida deles. Se um irmão está doente ou uma irmã tem
problema, devemos sentir como se fôssemos os envolvidos. Precisamos pensar sempre nas necessidades dos
outros. Quando compramos um par de sapatos, devemos pensar nos sapatos de nosso irmão; quando mandamos
fazer alguma peça de roupa, devemos pensar nas de nosso irmão. Precisamos ter esse tipo de consideração.
Não devemos pensar que perdemos ao cuidar dos que servem conosco. Mesmo se tivermos alguma perda, será
glorioso. Quem cuida apenas de si é muito pobre; e a pessoa mais pobre que existe é quem cuida de si mesmo
acima de tudo. Contudo quem aprende a cuidar dos outros é rico. Se cuidarmos dos outros e levarmos seus
fardos, seremos ricos. Não devemos carregar apenas nosso fardo; precisamos aprender a levar também os
dos outros. Pela misericórdia do Senhor, devíamos ser capazes de testificar que quanto mais levamos os fardos
dos outros, mais o Senhor carrega os nossos e nos fortalece. Não devemos ser como quem serve ao Senhor sem se
importar com os conservos. Se cuidarmos dos que servem conosco, nosso ministério da palavra e administração
da igreja serão capazes de edificar os santos juntos.

Caso um presbítero deseje que sua administração da igreja traga a edificação, precisa aprender a amar e a
cuidar das pessoas. Numa conferência, havia uma gripe se espalhando e muitos ficaram doentes. Um dos irmãos
encarregado da limpeza estava gripado. Não o vi durante vários dias. Quando descobri que estava doente, fui
visitá-lo. Quando o vi, soube que ninguém cuidara dele, nem mesmo os que compartilhavam o mesmo quarto
com ele. Ele estava de cama com febre e não tinha nem mesmo um copo de água. Fiquei muito triste ao ver
aquela situação. Se somos todos desse jeito, não adianta falar ou ouvir nenhuma outra mensagem, porque elas
serão inúteis. Aquele irmão estava prostrado na cama com febre, porém todos lhe foram indiferentes. Se uma
pessoa que é indiferente torna-se presbítero ou ministro da palavra, poderá instruir os santos, mas não edificá-los.
A instrução é para o benefício de um indivíduo; a edificação leva os santos a ser edificados como um só. Deus
não quer ganhar indivíduos; ao contrário, quer ganhar um edifício. Ele não pode usar a obra que só produz
resultados individuais. Nossa obra precisa produzir resultado corporativo para que a vontade de Deus se cumpra.

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Pode ser que certo irmão não seja capaz de pregar mensagens de forma dinâmica, porém quando administra a
igreja, os santos se mesclam e são edificados. Isso é a igreja. A igreja é uma entidade corporativa, edificada. A
reunião de milhares de pessoas não é a igreja caso vivam de modo independente uns dos outros e não estejam
edificados juntos. Deus não tem nenhum edifício entre eles.
Deus precisa do edifício, um edifício corporativo. Quando os irmãos servem e se reúnem em amor, sua
pregação do evangelho será vitoriosa e muitas pessoas serão levadas à salvação. Em algumas reuniões, porém,
falta poder aos irmãos quando pregam o evangelho. Não há a percepção de edificação entre eles; só há a sensação
de desolação e dispersão. Uma igreja na qual os irmãos cuidam uns dos outros tem futuro. Quando nosso
cuidado mútuo advém da obra de edificação do Senhor em nós e não de exortação externa, temos o edifício. Se
os que servem não se importam uns com os outros, não devemos esperar que nossa obra resulte em
edificação.

Nosso amor uns pelos outros não é uma reação emocional nem deve ser conseqüência de nos tratar bem.
Quando você não estiver doente e não tiver nenhum problema, posso ficar sem ir a seus aposentos por dois
meses seguidos, porque você não tem nenhuma necessidade. Entretanto, quando você estiver enfermo e passando
necessidade, com certeza estarei ao seu lado. Se nos amamos de forma genuína, importamo-nos uns com os
outros a despeito dos problemas. Existe amor mútuo genuíno quando nos importamos uns com os outros. Isso é
resultado de ser trabalhados pelo Senhor. Quanto mais alguém é trabalhado pelo Senhor e edificado por Ele,
mais se importa com outros, cuida deles e os ama.
Coisas mortas e sem vida não requerem amor. Numa casa não existe a necessidade de a madeira amar os
tijolos ou de os tijolos amarem as telhas, porque são materiais inertes. No entanto coisas vivas precisam amar
umas às outras a fim de se manter unidas. Em algumas cidades, apesar de estar juntos, os irmãos estão em
discórdia e lhes falta o amor mútuo. Não há edificação entre eles. Colegas de quarto que não discutem entre si
podem ainda assim estar em discórdia porque não foram edificados juntos. Essa situação é muito triste.

É muito triste quando só notamos as meias novas de um irmão, mas não quando estão rasgadas. A condição
normal deveria ser de não reparar quando um irmão adquire meias novas, e sim suas meias rasgadas. Se é desse
modo que agimos, poderemos realizar uma obra sólida. Precisamos amar os irmãos e cuidar deles, mas esse amor deve
basear-se em suas necessidades, não em nossa emoção. Quando eles têm uma necessidade, nós temos uma necessidade.
Devemos aprender a levar seus fardos (Gl 6:2). Então a administração da igreja e o ministério da palavra trarão muita
edificação para a igreja.

A edificação da igreja não fácil. Levar pessoas a ser salvas e instruí-las é fácil, no entanto edificar a igreja não é
assim tão fácil. Levar as pessoas à salvação e ao aperfeiçoamento pessoal não requer que aprendamos lições.
Entretanto, para edificar a igreja, edificar um grupo de pessoas juntas, unidas como um só, temos de assimilar algumas
lições. Para que a administração dos presbíteros e o ministério da palavra contribuam para a edificação da igreja,
precisamos prestar atenção aos pontos apresentados acima. Sem aprender esses pontos, não podemos esperar que nossa
administração da igreja e ministério da palavra edifiquem a igreja.

Alguns pensam que os presbíteros devem ser humildes e cuidadosos e os que ministram a palavra devem ser
cuidadosos com as palavras. Isso pode estar correto, porém ser humilde, cuidadoso e prudente não é o mais importante.
Essas qualidades não levarão os irmãos a nos ter em alta consideração, muito menos a ser edificados. Antes, sua
edificação depende dos pontos práticos que estivemos considerando. Temos de aprender esses pontos e estar equipados
com eles.

APRENDER A CONHECER AS PESSOAS


É crucial também aprender a conhecer as pessoas à medida que administramos a igreja e ministramos a palavra.
Precisamos conhecê-las para administrar a igreja e também para ministrar a palavra. Se não as conhecemos, não
podemos edificar a igreja. Pelo contrário, a igreja será levada à confusão e à demolição. Quem quer edificar a igreja
deve conhecer as pessoas. Temos de saber a condição pessoal dos irmãos. Isso inclui conhecer suas intenções diante
de Deus, suas inclinações da carne e também de seu espírito. Todo habilidoso trabalhador de construção deve ser
instruído acerca de pedras, telhas e madeira. Precisa saber discernir a natureza da madeira, se é leve ou pesada. Caso
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não conheça a natureza da madeira e a utilizar de forma indiscriminada, será perigoso morar nas casas que ele
construir.

Muito do conhecimento que temos das pessoas se dá de acordo com a transformação que já recebemos. Se o
Senhor lidou conosco quanto a certo aspecto, será mais fácil para conhecer as pessoas naquele aspecto. Se nossas
motivações nunca foram trabalhadas pelo Senhor, será difícil perceber se as motivações dos outros são puras ou não.
Caso nossas intenções, motivações e propósitos já tenham sido trabalhados totalmente pelo Senhor, quando entrarmos
em contato com os outros, conheceremos suas intenções, motivações e pensamentos, e saberemos prontamente qual é a
raiz de seus problemas. Saberemos quando forem puros. Se a nossa carne nunca foi eliminada pelo Senhor e nunca
aprendemos a lição de ser quebrantados, não saberemos discernir quando os outros estiverem na carne. Portanto nosso
conhecimento das pessoas se baseia no conhecimento de nós mesmos. Quem é sério e correto ao lidar com ele
mesmo conhece as pessoas de modo correspondente.

É muito importante que os presbíteros que administram a igreja conheçam as intenções, as motivações e os
propósitos dos irmãos. Eles precisam conhecer a condição espiritual dos irmãos e onde se encontram diante de Deus. Se
isso não ocorre, estão sujeitos a cometer muitos erros. Quando alguém que é gentil, eloqüente, instruído, cheio de zelo e
capaz de pregar mensagens chega à igreja, eles podem achar que ele pode servir em coordenação com os demais.
Quando é colocado para trabalhar, porém, um grupo inteiro de serviço entra em colapso.

Os que administram a igreja devem evitar a inconstância. Não é adequado que estejam sempre mudando sua
avaliação dos irmãos. Não devem dizer que um irmão é espiritual e mudar de idéia dois meses depois. Isso
precisa ser evitado na administração da igreja; e só pode ser evitado quando se conhece as pessoas e sempre se
aprende a conhecê-las.

Os presbíteros que já aprenderam essa lição e já foram trabalhados pelo Senhor terão conhecimento claro
acerca dos outros, sabendo onde se encontram e a condição de seu espírito, independente de como se comportam.
Quando alguém fala, eles sabem se o que diz representa sua verdadeira condição de espírito. Sabem se ele está
cheio da impureza de seu ego e do homem natural, porque seu espírito jamais foi libertado de seu ego.

Você saberá se ele está inclinado a realizar uma obra sozinho, sem a colaboração de ninguém mais. Um
crente pode ter experiência, sabendo comportar-se, mas ainda assim não estar liberto do ego. Se sua visão e
conhecimento forem seculares, não poderá assumir um serviço espiritual. Se alguém assim se tornar presbítero,
demolirá a igreja mesmo que saiba ministrar a palavra. Qualquer responsabilidade e coordenação do serviço que
assuma será uma obra de demolição. Será o mesmo que instalar uma bomba relógio num edifício: dentro de
algum tempo irá explodir e o prédio inteiro ruirá. Preparar tudo para que ele se torne presbítero resultará em
destruição, e não em edificação. Em vez de ser algo bom para a edificação, será como uma bomba relógio.
Quando chegar a hora de perder a calma, toda a situação já estará fora de controle. Ele pode ser capaz de
conquistar as pessoas e ajudá-las mediante sua humildade, conhecimento, eloqüência e discurso persuasivo,
porém isso tudo terá sido de acordo com a carne. A igreja estará arruinada em suas mãos. Essa é a situação real
em alguns lugares. Cometer um erro em conhecer uma pessoa pode estragar cinco anos de trabalho e esforço.
Alguns estragos não podem ser recuperados em pouco tempo. O Senhor pode requerer cinco anos para
reiniciar uma obra.

Alguns oram segundo a própria direção, e não segundo a direção do Espírito. Outras falam de acordo com a
própria direção e não segundo a direção do Espírito. Não devemos encorajá-los dando-lhes responsabilidade ou
encargo para servir. Não podemos proibir as pessoas de falar nas reuniões da igreja, mas temos de observá-las e
verificar se sua conduta é apropriada. Se sua maneira de proceder for inapropriada, devemos exorta-las para que
saibam que não encorajamos nem aprovamos sua maneira. Isso tocará seus sentimentos. Não devemos
excomunga-las por falar algo inadequado, todavia, se o fizerem segunda vez, precisamos dizer-lhes que seus
modos não são aprovados. Precisamos fazê-las sentir que sua maneira de se portar não é aprovada. Isso lhes
abrirá caminho para obter a ajuda adequada.

Quando os presbíteros não possuem esse tipo de discernimento, talvez designem um irmão mais velho que
aparenta ser humilde, instruído e experiente, como responsável por algum serviço. Mais tarde, quando os
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problemas surgirem e a igreja tiver sido prejudicada, começarão a compreender que não deviam conhecer as
pessoas segundo a carne. Essa tem sido a situação em muitos lugares.

Discernir as motivações humanas


Se nosso juízo sobre as pessoas não for acurado, nossa administração da igreja resultará em demolição. Falta
de conhecimento no que concerne às pessoas só fará com que a igreja sofra perdas, embora não tenhamos essa
intenção.

Se queremos conhecer as pessoas, precisamos aprender a discernir se suas motivações e intenções são puras
diante de Deus. Se alguém não tem motivação pura, não devemos dar-lhe nenhuma responsabilidade no serviço.
Nosso conhecimento das motivações das pessoas está baseado em como o Senhor lida com nossas motivações. Se
nossas motivações nunca foram trabalhadas pelo Senhor, não devemos pensar que podemos saber as reais
motivações dos outros. Mas, se nossas motivações já foram trabalhadas e agora são puras, nosso ministério da
palavra não produzirá "efeitos colaterais" nem resultarão em confusão. Antes, seremos singelos e puros para com
Deus.

Precisamos lidar com nossas motivações em todas as coisas, não apenas no ministério da palavra. Quando
aprendermos essa lição, seremos capazes de discernir com facilidade as motivações dos que vêm a nós. Depois
que nossas motivações forem purificadas, seremos capazes de discernir com facilidade a motivação daqueles com
quem nos reunimos. Talvez não possamos perceber a pureza em seu coração, mas reconheceremos de imediato a
impureza em seu íntimo. Conseguiremos discernir se alguém é singelo e puro ou se é impuro quanto às
motivações. Poderemos conhecer facilmente uma pessoa.

Discernir a carne humana


Uma pessoa cuja carne nunca foi eliminada ou que nunca aprendeu lição alguma com relação à própria carne
e suas inclinações, não poderá trabalhar coordenadamente com os outros em nenhum serviço. Podemos permitir
que sirva, porém não deveríamos designá-lo para nenhum serviço. Isso seria um erro. Já que é difícil encontrar
alguém cuja carne tenha sido trabalhada por completo, não devemos designar ninguém para nenhum serviço de
maneira incondicional. Em outras palavras, a delegação ou atribuição de uma pessoa a um serviço deve ser de
acordo com o grau com que sua carne já foi trabalhada. Quanto mais sua carne é trabalhada, mais podemos
designar-lhe serviço. Caso tenha sido pouco trabalhada, não devemos atribuir-lhe grande responsabilidade no
serviço, pois isso poderá resultar em problemas.

Vamos supor que um irmão ame o Senhor, seja zeloso e queira servir. Não devemos regozijar-nos quando ele
expressar esse desejo e permitir que participe do serviço. Isso não resultará na edificação. Ninguém constrói uma
casa desse modo. Um carpinteiro primeiro olha seu material para conhecer a natureza, a condição e as dimensões
do que utilizará na edificação. Somente então começa a edificar. Ele precisa primeiro avaliar a condição do
material e então designar cada um segundo sua natureza e condição. Apenas dessa forma seu trabalho será
apropriado para a construção.

Entretanto os presbíteros de algumas igrejas não agem assim. Regozijam-se quando descobrem um irmão que
ama o Senhor e logo o tornam responsável por uma reunião de grupo. Porém, como suas motivações são impuras e
seu ego ainda não foi negado, todos os seus "truques" se tornam aparentes em semanas. Muito embora os santos
gostem muito dele, do mesmo modo que os filhos de Israel gostavam muito de Absalão, a igreja sofrerá
considerável estrago. Algumas vezes esses estragos só conseguem ser recuperados depois de vários anos, e a
igreja sofre grande perda.

Isso afeta a capacidade da igreja de pregar o evangelho com poder, a habilidade dos irmãos se levantar e a
falta de vitalidade nas reuniões. Toda a igreja parece sofrer de envenenamento, passando às pessoas um
sentimento de desamparo ou impotência.

Essa é a conseqüência de os presbíteros não saberem administrar a igreja e não conhecerem as pessoas. São como um
carpinteiro que não conhece seus materiais. Por essa razão é difícil ter a edificação.

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Não é difícil pregar o evangelho e levar as pessoas à salvação, e é fácil ministrar a palavra a fim de instrui-Ias,
porém não é assim tão simples edificá-las juntas. É por esse motivo que o apóstolo Paulo diz: "Segundo a graça de
Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém cada um veja
como edifica" (1 Co 3:10). Realmente não é fácil edificar a igreja. Não podemos simplesmente deixar que os
irmãos cresçam por si mesmos. Precisamos compreender que a igreja necessita ser administrada e grande parte
da administração de que ela necessita depende de nossa habilidade em conhecer as pessoas e discernir suas
motivações e inclinações da carne.

Discernir o nível espiritual das pessoas


Discernir o nível espiritual de alguém é conhecer se sua condição espiritual é consistente, robusta, elevada e pura.
Por exemplo, existem alguns cujo coração é puro e cuja carne já foi trabalhada, mas devido a seu espírito ser muito
fraco e não conseguir se elevar, eles não têm condições de realizar nada.
No que diz respeito a nosso conhecimento das pessoas, precisamos saber suas motivações, condições da carne e do
espírito. É claro, existem outros aspectos que também precisamos saber, mas esses três são os mais importantes.
Designar responsabilidade a uma pessoa para o serviço na igreja de acordo com certo conhecimento desses três
aspectos resultará na edificação apropriada.

Quem ministra a palavra e fala em nome do Senhor tem de conhecer as pessoas segundo suas genuínas condições
com o objetivo de que suas palavras provoquem mudança nelas. Se não as conhecemos de acordo com sua condição
genuína, não conheceremos suas verdadeiras necessidades. Às vezes um irmão pode pregar uma mensagem dirigida a
uma pessoa específica, porque se sente desconfortável em falar de maneira direta com ela. Isso é pregar uma mensagem
a fim de repreender um irmão em vez de se ministrar a palavra. Quem a ouve sabe que o irmão está sendo repreendido e
o próprio irmão também sabe. Isso não é apropriado.

Outras vezes, alguém na reunião representa os santos como um todo. Por exemplo, pode haver um grupo de irmãos
que não conheça a chave para a oração, e um deles pode estar presente na reunião. Uma vez que já fomos trabalhados
pelo Senhor nessa área de nossa vida, podemos pregar uma mensagem sobre a chave para a oração. Dessa forma
ninguém ficará com a sensação de que estamos falando para ele especificamente. Embora tenhamos clareza de que
estamos falando a ele, nossa palavra tocará a todos porque todos necessitam dela. Se a mensagem for consistente, o
irmão estará entre os primeiros a testificar que foi tocado. Uma mensagem assim advém de conhecer as pessoas.

Não devemos falar aos filhos de Deus sem conhecê-los, pois isso será vazio e não tocará ninguém. Os filhos de
Deus não necessitam desse tipo de mensagem. Eles não serão beneficiados por nossas mensagens se não os
conhecemos. Isso é um grande problema. Nossas mensagens atingirão o alvo quando conhecermos os outros. Se
queremos que atinjam o alvo e sejam poderosas, precisamos conhecer as pessoas. E se queremos conhecê-las, temos de
aprender as lições.

Se nunca fomos trabalhados na questão da oração e não temos a chave para a oração, não seremos capazes de saber
quando outros necessitarem de uma palavra sobre esse tema. A falta de conhecer as pessoas torna nossas mensagens
teóricas e não práticas. Se queremos que sejam práticas, precisamos conhecer os outros. Isso requer que aprendamos
algo todos os dias.

Os presbíteros que administram a igreja precisam estudar continuamente a fim de discernir as condições em que as
pessoas se encontram, conhecê-las e discernir-lhes as motivações, a carne e o espírito. Quem ministra a palavra
precisa aprender a ser sensível às necessidades dos outros. Nenhuma epístola do Novo Testamento foi escrita
partindo-se primeiramente de uma revelação de Deus e em seguida aplicando-a a determinadas necessidades. Pelo
contrário, todas elas foram escritas depois de primeiro ter-se entrado em contato com a necessidade das pessoas e a
seguir ter recebido uma palavra da parte de Deus a fim de satisfazê-la.

As epístolas aos Coríntios foram escritas desse modo. Paulo foi capaz de lhes escrever, porque percebeu os
problemas e conhecia a condição da igreja em Corinto. Isso também se aplica à questão de pregar mensagens. Sem
conhecer ou observar os irmãos, não estamos em condições de lhes falar. Quem ministra a palavra precisa conhecer a
genuína condição dos que ouvem e levar sua condição diante de Deus. O irmão Nee pregou certa vez uma mensagem

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dirigida de forma específica a um presbítero. Quando lhe falamos do problema daquele irmão, o irmão Nee disse-nos
que a mensagem inteira do domingo foi dirigida a ele. Se queremos que nossa administração da igreja seja para a
edificação, precisamos conhecer as pessoas. As irmãs que visitam outras irmãs e têm comunhão com elas, devem fazer
isso com base em seu conhecimento dos problemas e condições daquelas que visitam. Isso requer que aprendamos
diversas lições de maneira muito séria.

CAPÍTULO SETE
A EDIFICACÃO DA IGREJA REQUER CONSAGRACÃO TOTAL
.
Na administração da igreja e no ministério da palavra, precisamos conhecer as pessoas para ter edificação. Além
disso, devemos prestar atenção à consagração.

CONSAGRAÇÃO INCOMPLETA É FONTE DE PROBLEMAS NO SERVIÇO


Todos sabem bastante sobre consagração, mas poucos sabem com clareza com relação a como a consagração afeta
nossa vida. Os problemas que alguns dos que servem enfrentam podem estar relacionados com a consagração. Não nos
referimos as ofertas materiais. A consagração é uma necessidade básica para que Deus realize uma obra de edificação
na terra por nosso intermédio. Entretanto não se trata de doutrina vazia, e sim de um assunto pessoal e prático. As
condições inadequadas entre os que servem indicam que sua consagração não foi total ou foi inconsistente.

Todos os nossos problemas, dificuldades e sofrimentos relacionam-se com a consagração. Quanto mais sossego e
conforto desejarmos, menos consagrados precisaremos ser. Se não queremos nenhum sofrimento, não há necessidade
de nos consagrar. Não devemos culpar o Senhor por nos dar sofrimentos. Os sofrimentos resultam de nossa
consagração. Alguns dizem que os nossos sofrimentos nos são dados pelo Senhor. Na verdade os verdadeiros
sofrimentos dos cristãos são trazidos pelos próprios cristãos sobre si mesmos. Se não queremos nenhum
sofrimento, devemos simplesmente não nos consagrar. Podemos ser zelosos, pregar o evangelho e até ministrar
a palavra, sem nos consagrar. No cristianismo institucionalizado pode-se ser bem-sucedido sem ter de sofrer. Os
desastres naturais e as calamidades provocadas pelos seres humanos são a porção de todas as pessoas. Uma
pessoa não consagrada, contudo, está isenta de grande quantidade de sofrimentos.

É como se os apóstolos na vida da igreja primitiva buscassem sofrimentos. Caso não tivessem sido
totalmente íntegros e corretos, e tivessem feito concessões, não teriam tido tantos sofrimentos. Se tivessem feito
concessões, não teriam sido perseguidos pela religião judaica e pelo império romano. Os sofrimentos que
enfrentaram resultaram de sua consagração. Geraram sofrimentos para si mesmos por causa de sua consagração.
Os sofrimentos que o apóstolo Paulo enfrentou foram em conseqüência de sua consagração. Teria sido possível
que ele amasse e servisse ao Senhor sem passar por nenhum sofrimento caso ele não tivesse sido tão íntegro, e
de forma tão radical e extrema em sua consagração. Paulo disse: "Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por
vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja" (Cl
1:24). Paulo se consagrou de boa vontade. Ele declarou: "Meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de
parto, até ser Cristo formado em vós" (Gl 4:19). A boa vontade de Paulo advinha de sua consagração.

SOMOS INCAPAZES DE REALIZAR A OBRA DE EDIFICAÇÃO


CASO NOSSA CONSAGRAÇÃO SEJA INCONSISTENTE
Ao contrário do que vimos nas Escrituras, nossa situação parece revelar que nossa consagração
continuamente se enfraquece. Podemos ser cristãos excelentes e também ótimos pregadores aos olhos do
mundo. Porém não conseguimos realizar a genuína obra de edificação da igreja, porque nossa consagração é
inconsistente. Quando nos consagramos totalmente, os santos algumas vezes não o aprovam. Eles prefeririam
que fossemos mais condescendentes em nosso serviço, isto é, que fôssemos moderados, neutros ou menos
radicais no desempenho do serviço.

Se queremos que os outros nos recebam de braços abertos, precisamos apenas fazer algumas concessões em
nosso serviço ao Senhor. Pelo menos setenta por cento dos santos nos apoiarão se passarmos a servir de forma
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mais condescendente. Contudo, caso optemos por ser totalmente íntegros em nossa consagração, e isso de modo
contínuo, os que nos apóiam diminuirão e nossos sofrimentos aumentarão.

Na era apostólica, os apóstolos foram perseguidos onde quer que se encontrassem. Hoje em dia, porém,
poucos pregadores são perseguidos. Isso não acontece porque vivemos numa era diferente ou porque o mundo é
mais favorável para com os cristãos do que antigamente. Antes, acontece porque a consagração dos que servem
ao Senhor não se compara à dos apóstolos na igreja primitiva. Os assim chamados servos do Senhor na
atualidade perderam a consagração dos antigos apóstolos. Se todos os que servem se consagrassem como os
primeiros apóstolos, passariam por muitos sofrimentos, apuros e privações.

Muitos jovens constroem relacionamentos com a perspectiva de se casar e estabelecer família, o que é
totalmente necessário. Todavia o que temos observado nos leva a perguntar se esses relacionamentos fortalecem
ou enfraquecem a consagração deles. Não podemos condenar os jovens, no entanto devem considerar se sua
consagração foi fortalecida ou enfraquecida. É possível que considerem o futuro de seu serviço, de seu
encargo ou de sua função. Essas suas considerações, porém, indicam fortalecimento ou enfraquecimento de sua
consagração?

SOMOS INCAPAZES DE CUIDAR DA CASA DE DEUS E DA NOSSA


Certa vez alguns missionários ocidentais me confrontaram, dizendo que os irmãos responsáveis pelas
reuniões de grupo deveriam cuidar de forma apropriada da própria casa e não participar de tantas reuniões.
Apesar de estarem bem-intencionados, devemos perguntar: "Qual casa é mais importante, a de Deus ou a
nossa?". É uma questão de consagração. Não podemos dizer amém para a atitude que os missionários ocidentais
têm para com a família. Em vez de sacrificar sua casa em favor da casa de Deus, eles sacrificam a casa de Deus
em favor da sua. Não podemos dizer amém a isso. A família deles pode ser maravilhosa, no entanto qual é o
estado da igreja que dirigem? Quase todos os santos que servem ao Senhor têm famílias. Caso passassem todo o
tempo com elas, produzindo famílias que são como jardins de felicidade e filhos que são como anjinhos, a casa
de Deus se desmantelaria. Isso é questão de consagração.

Se nossa consagração for total, até mesmo nossos filhos poderão se levantar para se opor a nós. Nenhum dos
filhos dos missionários ocidentais se opõe a seus pais, porque os missionários se preocupam demais com a
família. Alguns não tinham empregados em seu país, mas quando chegaram à China contrataram alguém para
cozinhar, alguém para tomar conta dos filhos, alguém para lavar e limpar, além de jardineiro, de motorista e até
mesmo um guarda. Se de fato formos consagrados, os primeiros a se opor a nós serão nossos filhos. Por
esse motivo questiono a consagração dos missionários que falam de maneira irresponsável e sarcástica. Embora
sejam servos de Deus, não devemos aprender de seu estilo de vida. É inegável que devemos fazer o melhor para
cuidar da família, mas precisamos também estar seguros quanto à consagração.

Certo irmão tem cinco filhos, e a reunião de grupo pela qual é responsável tem mais de cem santos
participando. Caso cuide apenas de sua família, não terá condições de cuidar dos irmãos. Se ele cuidar apenas
dos irmãos, não conseguirá cuidar da família de forma adequada. É difícil saber cuidar da reunião de grupo de
forma apropriada e ao mesmo tempo cuidar adequadamente da família. Cuidar da reunião de grupo requer a
pessoa por inteiro. Precisamos considerar sobre a reunião de grupo até mesmo em nossos sonhos.

Se copiarmos os missionários ocidentais no modo como cuidam da família, o resultado de nossos esforços
para com a igreja se comparará ao deles. Em certos momentos críticos dizem: "Irmãos, não posso mais fazer
essa obra, porque preciso estar com meus filhos". Nós, por outro lado, não podemos agir assim, por causa de
nossa consagração. Que Deus nos abençoe para que nossa família receba misericórdia e cuidado! Porém
precisamos estar avisados que a conduta de alguns missionários não é a nossa. Eles não seguem o caminho da
consagração.

SOMOS INCAPAZES DE SERVIR AO SENHOR E A MAMOM


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O irmão T. Austin-Sparks disse em certa ocasião que existem alguns problemas com os missionários
ocidentais no cristianismo institucionalizado. Reconhecemos que viajaram para uma terra distante por amor a
Cristo, contudo isso não quer dizer que todos os missionários que vieram para a China se sacrificaram e são
consagrados. Não tenho nenhuma intenção de condenar seu estilo de vida, porém precisamos saber que o caminho
da consagração tem como resultado muitos sofrimentos. Antes de nos consagrar, não temos muitos problemas
com os estudos, emprego ou família. Mas depois de consagrados surgem muitos problemas. Antes de nos
consagrar podemos ter sido bons professores, médicos, funcionários públicos, pais ou filhos. Contudo, quanto
mais nos consagramos, menos capazes nos tornamos e mais problemas encontramos. Em certo sentido, quem
mais incomoda as pessoas é Jesus; foi Ele quem levou inúmeras pessoas a "naufragar". Muitas pessoas talentosas
naufragaram por meio Dele: muitos bons estudantes, muitos bons professores, muitos bons pais e mães foram
levados ao naufrágio por Jesus.

Quando estive em Manila, nas Filipinas, um grupo de jovens me pediu que falasse a eles. Minha primeira
frase foi: "Jesus leva as pessoas ao naufrágio". Os jovens em Manila precisam ser naufragados por Jesus, e as
famílias cristãs dos chineses de além-mar, residentes em Manila, necessitam ser naufragadas por Jesus. Não
pensem que nossa obra no sudeste asiático é bem-vinda pelas pessoas. Nos últimos poucos anos temos travado a
batalha todos os dias.

Quando estive em Manila em 1955, os irmãos de lá me respeitavam, tinham-me em alta consideração e me


tratavam bem; por outro lado, porém, eu enfrentava uma batalha junto a eles. Eu combatia a batalha no que diz
respeito ao "céu". Queria erradicar o conceito de "céu" de seu ser. Disse-lhes que, como cristãos, não devemos
pensar que a vida cristã é questão de pedir bênçãos, longevidade, paz, de temer o Senhor e não pecar. Nem é
questão de ir para o céu para usufruir bênçãos eternas quando morrermos. Esse tipo de evangelho pode parecer
muito atraente, porém diz total respeito a certo conceito religioso que considera Jesus simplesmente uma pessoa
um pouco mais confiável do que um Buda.

Por essa razão, fui firme em combater a batalha no que diz respeito a ir para o céu. Mostrei-lhes as palavras
do Senhor nos evangelhos: "Se alguém vem a Mim, e não odeia ao próprio pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãs,
e irmãs, e, ainda, até a sua própria vida da alma, não pode ser Meu discípulo" (Lc 14:26). Essa palavra categórica
tocou o coração dos que amavam o mundo.

Numa festa de amor compartilhei a respeito de como ler a Bíblia e orar a fim de receber graça e resposta para
as orações, e ser objeto da misericórdia do Senhor. Um irmão, então, perguntou-me por que não falei desse modo
para todos os santos, e sim de negar tudo pelo Senhor e de consagração. Logo respondi: "Caro irmão, acaso
precisa de mim para pregar mensagens que você mesmo poderia pregar?". Depois da refeição disse aos mais
velhos presentes que precisavam considerar sua condição. Que não deviam apenas dizer que os jovens amavam o
mundo e não tinham nenhuma realidade; antes, que precisavam considerar a própria condição. Quando me
encontraram mais tarde, sentiam-se envergonhados. Os que amam o mundo deviam se envergonhar.

É por isso que todo o que crê em Jesus sofrerá naufrágio. Todos os que crêem de forma genuína em Jesus
serão naufragados por Ele. Não será corrompido por Jesus, mas naufragado por Ele. Se os jovens quiserem seguir
Jesus, enfrentarão problemas na escola. Caso se trate de um médico, não espere prosperar. A maioria dos que
levam uma vida suave e próspera enfrenta problemas com relação à consagração. Uma pessoa capaz de prosperar
como médico, ganhar dinheiro como empresário, ficar famoso como professor universitário, ser reconhecido
como o melhor aluno ou ser excelente pai deve ter problemas com a consagração. Uma pessoa só pode ter um
Senhor. Se estiver ocupada com os estudos, não restará espaço para Jesus, e, se estiver ocupada com Jesus, não
sobrará espaço para os estudos. De maneira similar, se estiver ocupada com os filhos, não terá espaço para Jesus,
e, se estiver ocupada com Jesus, não terá espaço para os filhos. Portanto é impossível para uma pessoa servir o
Senhor de modo apropriado e também ser bom médico ou bom pai aos olhos do mundo.

Não é difícil uma pessoa ser respeitada, desde que não se consagre. No entanto isso não significa que os que
servem ao Senhor e pregam a palavra devem comportar-se de forma inadequada. Precisamos comportar-nos de
maneira respeitável e digna do elogio dos homens ao servir o Senhor e pregar a palavra. Se queremos ser

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totalmente íntegros em nossa consagração, precisamos estar preparados para levar uma vida de sofrimentos. Esse
preço foi colocado diante de nós, e precisamos avaliar o custo.

Nestes dias, o inimigo não apenas realiza uma obra de dissensão entre nós como também conduz muitos a
enfraquecer a consagração de si mesmos e ser cristãos condescendentes. Não podemos servir o Senhor e
pertencer ao mundo; não conseguiremos ser bem-sucedidos em ambos. Se todos os que servem cuidassem bem
de sua carreira e família, seriam mais bem-sucedidos na carreira e cuidariam muito melhor da família. Isso pode
ser comparado a cuidar de um jardim capinando e regando todos os dias. Com certeza esse jardim será lindo. Se
uma pessoa gerencia um hospital e trabalha diligentemente todos os dias, esse hospital será sem dúvida um
sucesso.

Isso se assemelha à questão da consagração. Se nos devotamos a cuidar da carreira, estudos e família,
não devemos esperar que a igreja prospere. Em lugar disso, a igreja ficará desolada e abandonada. Se
dermos prioridade a nossa carreira profissional e a nossa família, e colocarmos o Senhor e a igreja em
segundo lugar, a igreja não crescerá.

Reunir-se todos os dias pode fazer-nos sofrer perdas pessoais. Entretanto precisamos perguntar-nos com
relação ao propósito de nossa existência: Estamos aqui por nossa casa ou pela casa de Deus? Um missionário
ocidental em Manila testemunhou que sua filha mais velha e seu segundo filho queriam ser pregadores. Ele se
regozijava porque muitos de seus filhos eram pregadores e por sua família ser de missionários. Se vivermos uma
vida confortável e fácil e não pagarmos o preço de seguir o Senhor, nossos filhos irão querer seguir-nos.
Pregadores assim podem viajar por todo o mundo, podem ter empregados, não sofrem privações. Podem ainda
ser tidos em alta consideração pelos outros. Quantas pessoas têm condições de viver o tipo de vida que eles
levam? Se escolhessem o caminho de um nazireu, seria muito improvável que seus filhos ainda quisessem ser
pregadores.

Visto que os que trabalham na China escolheram o caminho da consagração, nenhum de seus filhos tem o
desejo de servir. Se queremos fazer uma obra de consagração e tomar o caminho estreito na restauração do
Senhor, não devemos alimentar a expectativa de que uma vida confortável nos aguarda à frente. Não podemos
confiar no caminho tomado pelos missionários do ocidente. Se o tomarmos, realizaremos uma obra do
cristianismo institucionalizado, e não a obra de edificar a igreja. Quando realizamos a obra de edificação da igreja,
nossa fama, reputação, família, energia e homem natural sofrerão naufrágio. Nossa reputação e o que de fato somos
naufragarão.

Quem deseja servir ao Senhor e preservar a respeitabilidade em sua família, carreira e estudos, tomou o caminho
errado. Para nós não existe maneira de obter sucesso em ambos. Se queremos permitir que o Senhor edifique e
obtenha alguma coisa, nossa consagração precisa ser total. Isso não é apenas questão de seguir os pais ou o marido
porque sentimos o desejo de pregar. É questão de sofrer naufrágio causado por Jesus. Ele fará naufragar nosso tudo.
Trata-se de real consagração.

Entretanto isso não significa que não precisamos estudar, ter profissão ou cuidar da família. Não devemos
abandonar tudo. Devemos e temos de fazer o melhor nos estudos, no cuidado da família e no trabalho. No entanto,
quando existir conflito entre os dois, devemos perguntar-nos que lado deve vencer. O Senhor Jesus deve obter a vitória,
ou nosso benefício deve sair vitorioso? Devemos perguntar-nos também que lado tem prioridade em nosso íntimo?
Qual é nossa ocupação principal? Todos devemos dar uma resposta definitiva diante do Senhor. Acaso
consideramos o Senhor Jesus e Sua obra em primeiro lugar ou em segundo? Se queremos fazer uma obra do
cristianismo institucionalizado, podemos considerar o que nos pertence em primeiro, e o que pertence ao Senhor em
segundo lugar. Se queremos edificar a igreja, precisamos dar prioridade ao Senhor.

A VERGONHA DE BUSCAR AJUDA DE OUTROS A FIM DE REDUZIR NOSSO SOFRIMENTO

O caminho da consagração é um caminho de sofrimento, de sacrifício, no qual tudo o que nos pertence naufraga.
Alguns se consagram a fim de obter a compaixão dos outros e assim reduzir o próprio sofrimento. Esses crentes
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perderam sua consagração. É vergonhoso buscar a ajuda de terceiros com o objetivo de reduzir nosso sofrimento. Os
que são de fato consagrados precisam aprender a não procurar ajuda dos outros. Preferimos sofrer diante do Senhor a
buscar a ajuda de terceiros, e preferimos passar fome por três dias seguidos a permitir que outras pessoas saibam de
nossa necessidade. No entanto essa não é nossa realidade atual. Alguns ao sofrer muito pouco já desejam ser notados
pelos outros e receber ajuda deles. Isso é indicativo de que sua consagração já não é tão forte como no passado.
O primeiro grupo de servos entre nós não buscava ajuda de terceiros. Até mesmo diziam às pessoas que não
escolheriam o caminho de receber ajuda dos outros. Tinham a capacidade de fazer dinheiro no mundo, mas por amor ao
Senhor não foram ao mundo para obtê-lo. Tais eram a situação e o caráter dos que serviam logo no início. Infelizmente
alguns dentre nós agora receiam não conseguir ajuda. Parece que vergonha para nós agora é não receber ajuda. Mas é
uma glória que os outros não cuidem de nós, porque servimos ao Senhor em tempo integral. Não é glorioso procurar
obter ajuda e compaixão de outros; ao contrário, é vergonha.
Nós nos tomaremos deploráveis parasitas se sempre esperarmos a ajuda de terceiros. Em função disso, alguns
podem repreender-nos, afirmando que somos os parasitas da sociedade, já que dependemos de outros para nosso
sustento. Isso indica que nossa consagração não é firme. Contudo não quer dizer que os santos não devam amar e
cuidar dos servos do Senhor. Por muitos anos os colaboradores mais velhos mantiveram o principio de que não nos
agradamos nem nos sentimos gratos pela ajuda que recebemos diretamente dos outros. Não queremos receber nenhuma
contribuição diretamente das mãos dos homens. Os que se sentem responsáveis por nosso cuidado devem ofertar
pela caixa de ofertas. Queremos receber nosso suprimento diretamente das mãos de Deus.

Uma pessoa perguntou certa ocasião a um irmão, que servia em tempo integral, quanto em oferta ele recebera
naquela semana. Esse tipo de pergunta é um insulto a quem serve em tempo integral. Devemos olhar bem nos
olhos de quem as faz e dizer-lhe que isso não é da conta dele. Sua pergunta não reflete amor pelos que servem ao
Senhor; ao contrário, são uma ofensa. Uma pessoa de fato interessada deve contribuir colocando a oferta na caixa
apropriada sem perguntar quanto um servo do Senhor recebe. Essas são perguntas inconvenientes.

A esposa de um irmão que serve disse certa vez que seu marido recebia apenas uns poucos dólares por
semana. Isso levou outros a sentir que deveriam ajudá-lo a encontrar um emprego. Isso é vergonhoso. Já que esse
casal estava disposto a seguir por esse caminho, não devia reclamar. Quem serve ao Senhor não deve agir desse
modo.

Os que escolhem seguir esse caminho precisam saber que é um caminho de sofrimento e pobreza. Não
devem esperar ter vida próspera. O Senhor nunca disse que os que optarem por esse caminho terão comida com
que se alimentar e boa vida. Em vez disso disse que devemos deixar tudo para segui-Lo. Devemos até mesmo
perder a vida. Esse é o caminho da consagração. É glorioso quando podemos viver pela fé um ano inteiro, sem
que ninguém demonstre preocupação conosco. Porém existem situações em que os que servem pedem a ajuda
dos outros. Quando estamos nessa condição, podemos fazer a obra do cristianismo institucionalizado, mas não a
da edificação da igreja. Quando edificamos a igreja, nossa fama, reputação, ser e família irão naufragar. Nossa
reputação, o que somos e o que temos precisam ser enterrados. O apóstolo Paulo sofreu naufrágio pelo Senhor; e
o Senhor ganhou seu tudo. O Senhor Jesus pode levar as pessoas ao naufrágio. Muitas vidas já naufragaram por
causa Dele. Isso é questão de consagração, de se pagar o preço; isso é o que significa afirmar: "Preencho o que
resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja" (Cl 1:24).

O CAMINHO DA CONSAGRAÇÃO É CONSIDERADO ANORMAL


Precisamos considerar a questão da consagração e considerar o preço que precisamos pagar. Os que estão
no cristianismo institucionalizado não seguem esse caminho. Precisamos estar prontos para ser naufragados por
Cristo. Não devemos avaliar as coisas de acordo com nossos pensamentos naturais. Não devemos considerar
nossa profissão, casamento, família ou estudos segundo o pensamento natural. A situação dos primeiros
apóstolos, dos cristãos que tomaram parte na vida da igreja primitiva e dos que seguiram o Senhor através dos
séculos sem dúvida não pode ser considerada normal. Somente podemos ser considerados normais se não nos
consagramos e não trilhamos o caminho da consagração. Todos os caminhos da consagração são com certeza
anormais. Por exemplo, os pais da irmã Dora Yu enviaram-na à Inglaterra para estudar medicina. Contudo,
quando o navio em que ela estava, chegou ao porto de Marselha, na França, ela disse ao capitão que precisava
retomar à China a fim de pregar o evangelho. Isso é anormal. Não podemos trilhar um caminho normal em nossa
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vida humana. Se seguirmos por um caminho normal, não poderemos trilhar o caminho da consagração. Que todos
vejamos que o caminho de servir ao Senhor é o caminho da consagração. Não existe nada de normal nesse
caminho; ao contrário, tudo nele é anormal.

CAPÍTULO OITO
A EDIFICACÃO DA IGREJA REQUER CONHECIMENTO DE DIFERENTES QUESTÕES

A IMPORTÂNCIA DE CONHECER DIFERENTES QUESTÕES


Neste capítulo iremos considerar as várias questões que precisamos conhecer. Para a edificação da igreja,
precisamos conhecer as pessoas e várias questões. Se queremos apenas ser pessoas zelosas que pregam o
evangelho a fim de salvar os pecadores e falam a verdade a fim de aperfeiçoar os santos, não há necessidade de
adquirir conhecimento com relação a várias questões. Entretanto, se queremos edificar a igreja, precisamos
conhecer as pessoas e várias questões. Precisamos conhecer os que contatamos e os que desejam servir o
Senhor. Devemos conhecer suas motivações e saber se sua carne já foi crucificada, e também conhecer seu
espírito. Precisamos ainda conhecer a natureza, o resultado, o relacionamento e o impacto causado por essas
questões.

Há muitos aspectos das coisas que precisamos conhecer. Por exemplo, um irmão que ama o Senhor pode dizer
que Ele o moveu a ofertar vinte mil dólares à igreja. Por um lado, devemos agradecer ao Senhor e nos regozijar
por esse irmão estar disposto a ser usado dessa forma pelo Senhor. Por outro, precisamos conscientizar-nos de
que essa questão não é simples. Precisamos ter entendimento com relação à questão de ofertar, ou seja, temos de
compreender a motivação, natureza, método e propósito da oferta desse irmão. Também devemos conhecer os
possíveis resultados e influência de sua oferta. Se apenas agradecemos ao Senhor e a aceitamos, nossa obra não
terá sido para a edificação da igreja, e sim para sua demolição.

Precisamos buscar ser iluminados pelo Senhor mediante oração e consideração para examinar a história e os
antecedentes da pessoa que faz a oferta. Temos de levar em consideração sua reputação e posição na sociedade,
além da origem do dinheiro que oferta. Devemos considerar também suas intenções diante do Senhor e o espírito
de sua oferta. Quando os presbíteros recebem grande soma de dinheiro como oferta para a igreja, devem dedicar
tempo para compreender como esse valor foi obtido. Além disso, precisam considerar seriamente os possíveis
efeitos, diretos ou indiretos, de recebê-la. Em outras palavras, os presbíteros necessitam ter conhecimento básico
acerca dessa questão especifica.

Vamos supor que outro irmão diga que deseja ofertar cinqüenta mil dólares para ajudar os irmãos em
necessidade. Apesar de ser bom, isso não é tão simples. Não devemos simplesmente agradecer ao Senhor por
esse irmão, pensando que essa é uma oferta que veio no tempo oportuno para ajudar os santos necessitados. Não
devemos pensar que, só por distribuir cinqüenta mil dólares entre os pobres da igreja, ela será edificada. Pelo
contrário, precisamos considerar se a oferta não poderia levar a igreja a desmoronar. Isso pode ser comparado a
uma cirurgia que leva a pessoa a perder a vida em vez de curá-la ou a um alimento que leva a pessoa a ficar
doente em vez de nutri-la.

Para edificar a igreja, não podemos ser simplórios a esse ponto. Precisamos aprender a ter total compreensão
da situação que estamos enfrentando. Só assim poderemos determinar o que temos de fazer e como fazê-lo.

Discernir as questões relaciona-se não apenas com a administração da igreja, como até mesmo com o ministério
da palavra. Podemos pregar mensagens que desencorajem em lugar de encorajar se nos falta conhecimento de
determinado assunto. Por isso, se queremos aprender a edificar a igreja, precisamos aprender a discernir as
situações. Temos de aprender a conhecer todas as questões direta ou indiretamente relacionadas com a igreja,
desde que sejam algo que possamos investigar e contatar. Nossa habilidade de administrar a igreja depende
de nossa capacidade de conhecer as pessoas e as questões. Nossa habilidade de pregar a palavra e trabalhar
para o Senhor depende de conhecer ou não as pessoas e as questões. Até mesmo nossa habilidade de visitar e
oferecer ajuda às pessoas depende de tais conhecimentos.
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Alguns irmãos responsáveis agem de maneira imprópria na administração da igreja, porque lhes falta o
conhecimento com respeito às várias questões. Algumas mensagens podem instruir os santos, mas resultar em
demolição e não em edificação da igreja. Isso resulta de um conhecimento inadequado no que diz respeito às
questões. A falta de conhecimento também pode levar-nos a demolir a igreja enquanto a edificamos.

CUIDAR DOS SANTOS NECESSITADOS

Dois irmãos do ocidente, um dos quais era médico, estiveram conosco por algum tempo, porém sua obra não nos
trouxe muitos benefícios. Tinham o desejo de servir com os santos, no entanto sentimos que não obtiveram muito
proveito nem trouxeram muito proveito aos irmãos. A falta de frutos não se relacionava com a instrução, mas com a
edificação da igreja. Com respeito à edificação da igreja, sentimos que recebê-los no serviço resultaria em grande perda.
Como servos do Senhor, não devemos fazer fofoca ou ser descuidados nas conversas sobre esse assunto. O fato, no
entanto, é que o contato com esses dois irmãos deu origem a muitos problemas em vez edificar a igreja.

Segundo nosso discernimento, problemas poderiam surgir porque não conhecíamos totalmente que tipo de pessoa eles
eram. Não estávamos certos também quanto ao que seriam capazes de fazer ou qual seria o resultado de sua obra. As
pessoas que entraram em contato com eles estavam confusas e incertas. Eles ajudaram muitos santos com seus
conhecimentos médicos, sem nada cobrar e até pagaram despesas hospitalares para alguns. Entretanto toda a obra que
realizaram resultou em demolição da igreja, e não em edificação.

Certo dia minha esposa e eu fomos visitar o irmão que era médico. No caminho vimos uma irmã cuja criança contraíra
tuberculose e já fora operada por ele duas vezes. Ela sentia que fora pela misericórdia de Deus que o irmão cobrara dela
apenas a metade das taxas na primeira cirurgia e realizara a segunda sem cobrar nada. Por um lado, ele era gentil e
cuidava dos pobres. Por outro, aqueles de quem ele cuidava ficavam agradecidos a ele, mas não obtinham mais de
Cristo. Portanto não era para a edificação da igreja. Além do mais, aqueles a quem ele ajudava não se sentiam dignos;
pelo contrário, sentiam-se inferiores a ele e aos irmãos responsáveis. Por essa razão, o que esse irmão fazia em amor na
realidade trazia demolição para a igreja, e não edificação.

Caso tivesse encargo de ajudar os santos materialmente, poderia aceitar os honorários médicos e ser conduzido pelo
Senhor a colocar um valor na caixa de ofertas. Desse modo os irmãos receberiam ajuda diretamente das mãos de Deus;
não se sentiriam aviltados diante dos homens nem pensariam que a ajuda vinha de homens ou da igreja. Sentiriam
apenas que Deus os visitara. Isso os edificaria com um caráter nobre.

Se nossa ajuda leva os irmãos a se sentir inferiores ou em débito conosco, demolimos a igreja em lugar de edificá-
la. Nossa ajuda não deve levar os outros a se sentir gratos a nós. Em outras palavras, não devem sentir-se
inferiores a nós. Não devem sentir-se como nossos beneficiários. Se causamos esses sentimentos nas pessoas,
somos uma instituição de caridade e não a igreja. Os santos não devem simplesmente sentir-se agradecidos a nós,
à igreja ou aos presbíteros. Precisamos conduzi-los a Cristo. Somente esse resultado produz a edificação da
igreja.

Se mantivermos a atitude de dar esmolas, demonstrar caridade ou prestar assistência aos santos necessitados, vamos
corromper a igreja do Senhor. Embora a irmã cujo filho contraíra tuberculose estivesse muito grata ao Senhor e O
louvasse por isso, todo o seu ser estava corrompido. Em seu aviltamento, ela se tornou dependente dos outros e até
mesmo subserviente a eles. Os que recebem contínua ajuda de terceiros não podem ser edificados no caráter e a igreja,
por sua vez, também não pode ser edificada. Nesse aspecto os dois irmãos ocidentais necessitavam de fato de nossa
comunhão. Contudo não fomos capazes de ajudá-los. Isso prova que não tivemos discernimento no que diz respeito a
essas questões. Além disso, devido a essa falta, nossa obra aqui não pode edificar a igreja.

Quando cuidamos dos irmãos necessitados, precisamos considerar se nosso cuidado é para a edificação ou para a
demolição deles. Isso depende de nossa habilidade em discernir as questões.

RECEBER A AJUDA DE DEUS E NÃO DO HOMEM

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Não devemos ficar em débito com os outros. Devemos receber nossa ajuda de Deus e não do homem. Os últimos
cem anos de obra cristã aqui não trouxeram edificação para a igreja; antes, trouxeram danos e causaram demolição
na igreja. Os missionários do ocidente precisam aprender a lição de ajudar as pessoas diante do Senhor sem torná-
las seus beneficiários. As pessoas devem sentir que receberam a ajuda de Deus e não do homem.

Não é edificante para os irmãos ocidentais produzir nas pessoas o sentimento de ser beneficiários. Ao fazê-lo,
fazem-se superiores aos outros. Isso jamais trará edificação para a igreja. A igreja foi corrompida. Quando
ajudamos em secreto, nossa ajuda de fato beneficia os outros.

NÃO CONSIDERAR OS OUTROS SUPERIORES E A NÓS MESMOS INFERIORES

Os irmãos do ocidente tinham boas intenções, mas precisavam considerar suas atitudes. Elas eram impróprias
porque não eram construtivas. Muitos dentre os irmãos ficaram associados a eles por longo tempo, porque
consideravam que tudo o que vinha do ocidente era bom e útil. Nunca pensamos que devíamos tê-los ajudado
nesse aspecto, porque nos considerávamos inferiores. Não devemos ter alta consideração por nós mesmos nem
devemos considerar-nos inferiores. Precisamos sim do suprimento do ocidente em muitas áreas, mas isso não
significa que tudo que vem de lá está certo. Isso depende de nossa habilidade de discernir as coisas.

Recebemos ajuda dos irmãos ocidentais, mas eles também necessitam receber nossa ajuda. Devemos ser humildes
e receber a ajuda deles, contudo isso não quer dizer que tudo o que possuem nos é conveniente. Nós os criticamos
porque temos a esperança de que todos aprendamos a lição. Quando os presbíteros decidem estudar certo livro da
Bíblia, eles não insistiriam em outro livro se fossem experientes em questões espirituais e no comportamento.
Esses irmãos tinham competência em sua área médica, porém na administração da igreja e no tocante a questões
espirituais, eles eram como crianças aprendendo a falar.

Suprir as necessidades da igreja não depende de qual livro da Bíblia estudamos. Podemos suprir as
necessidades espirituais dos santos mediante qualquer livro da Bíblia. Esses irmãos não eram os responsáveis
na igreja, mas deram aos santos uma impressão negativa. Antes de fornecer suprimento, eles corrigiram outros;
antes de exibir suas capacidades, criticaram outros. Isso indica falta de aprendizado em questões espirituais e falta
de habilidade em lidar com os outros. Essa falta prejudica a obra de edificação da igreja. Por isso precisamos
aprender a conhecer as pessoas e a discernir as questões que se colocam diante de nós.

Quando aprendemos a servir ao Senhor, precisamos ser capazes de discernir as situações. Não devemos pensar
que tudo o que vem do ocidente é bom. Já convidamos irmãos do ocidente nutrindo grande expectativa, contudo o
resultado da visita nos deixou apreensivos. De seu lado, sua conduta foi inconveniente; do nosso, não sabíamos
como nos expressar. Tivemos muitas "refeições ocidentais", mas os irmãos do ocidente se recusaram a fazer
"refeições chinesas". Isso é orgulho.

É necessário discernir as situações para obter a edificação da igreja. Se sempre apreciamos as coisas do ocidente e
mostramos desprezo pelas do oriente, a igreja jamais será edificada. O Senhor não é somente Senhor dos judeus; é
também Senhor dos gentios. De igual modo, o Senhor é dos ocidentais e também dos chineses.

Ele não dá luz e entendimento apenas para o ocidente. Por essa razão, enquanto não devemos ser orgulhosos,
também não devemos sentir-nos inferiores. Devemos estudar se uma situação é certa ou errada, se é ou não útil.
Não devemos pensar que tudo o que procede do ocidente é bom e, portanto, deve ser recebido. Antes, devemos
aprender a conhecer as pessoas e a discernir as questões.

À medida que edificamos a igreja do Senhor, precisamos aprender a discernir as questões. Não devemos tratar
nada de forma leviana. Devemos considerar e avaliar cuidadosamente as questões que envolvem a nós e os
santos. Precisamos considerar a fonte de cada tópico e suas conseqüências antes de tomar qualquer decisão.
Precisamos aprender essa lição. Todo médico tem de considerar com todo cuidado a medicação que deverá ser
receitada a um paciente. Não podemos ser precipitados e negligentes ou imaturos e imprudentes; antes, temos de
ser sempre cuidadosos e precavidos. Precisamos passar tempo na presença do Senhor a fim de ponderar com todo

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cuidado como lidar com os outros. Uma vez que estamos edificando a igreja, precisamos aprender a discernir os
fatos. Isso se aplica à administração da igreja, ao ministério da palavra e aos contatos com os outros.

COMO CONHECER AS QUESTÕES

Em nossos contatos com as pessoas precisamos discernir as questões. Apesar de não interferir em questões que
não nos dizem respeito, não devemos negligenciar os assuntos que nos envolvem. Portanto precisamos aprender a
discernir os fatos. No entanto nosso aprendizado deve ser gradual, e não apressado.

Ao aprender a conhecer as situações, diversos pontos requerem nossa atenção. Primeiro, por trás de cada
situação existe uma pessoa. Quando a pessoa está certa, a situação em si quase sempre está certa. Por esse
motivo, devemos sempre saber quem está na origem de cada situação. Precisamos conhecer o causador, o
patrocinador, da situação. Se existir um problema na origem, haverá problemas ainda que a situação pareça certa.
Precisamos chegar ao fundo de cada questão.

Segundo, precisamos conhecer a motivação por trás da questão. Alguém pode doar dez mil dólares apenas
para receber a aprovação dos outros. Outra pode fazer a mesma oferta somente porque outros a censuraram por
não ofertar. A motivação está errada nas duas situações. Devemos prestar atenção à motivação dos outros. Isso
não quer dizer que tudo o mais está certo quando a motivação está certa. Precisamos saber também se a natureza
está certa. Por exemplo, um irmão que deseja algo inadequado pode vir a receber ajuda de outro irmão. Embora o
irmão que o ajuda possa ser motivado pelo amor, o objeto de sua ajuda não é apropriado.

Terceiro, mesmo que a natureza esteja correta, precisamos saber se a maneira de executar é certa. Por
exemplo, um irmão que queira fazer uma oferta de dez mil dólares, pode simplesmente trazer o dinheiro a nós.
Devemos ajudá-la a compreender que essa não é a maneira certa de se fazer a oferta. Ele deve colocar o dinheiro
na caixa de ofertas. Devemos ensinar-lhe a orar a fim de conhecer as necessidades da igreja. Então verá que sua
oferta não se dirige a um indivíduo ou propósito único. Podemos ensinar-lhe sobre isso compartilhando com ele.
Quando ele se colocar diante do Senhor, a igreja será edificada. Por um lado, não devemos pensar apenas que
uma oferta de dez mil dólares é algo maravilhoso; por outro, não devemos rejeita -la por acaso. Temos de
aprender a melhor forma de cuidar desse assunto e estar atentos aos resultados.

Quarto, precisamos saber qual será o resultado de cada situação. A forma como algo é efetuado pode ser boa,
mas a conseqüência não. Se o efeito provocado não for bom, não se deve tocar mais no assunto. Aqui está um
breve esboço. A administração da igreja, o ministério da palavra e de visitação aos santos devem ser efetuados
segundo essas considerações. Se praticarmos isso, será fácil discernir as questões. Quando as discernimos desse
modo, edificamos em vez de danificar a igreja. Portanto precisamos aprender a conhecer a fonte e a natureza das
questões de tal forma que encontremos o modo adequado de lidar com ela para a edificação da igreja.
Se existir um problema com quem oferta, devemos ajudá-lo no que tange à sua pessoa. Se ele tem a motivação
errada, devemos ajudá-lo. Se houver um problema com a maneira como algo é efetuado, com seu resultado ou
efeitos, não devemos ignorar o problema nem tratá-lo levianamente, porque pode causar impacto na edificação da
igreja. Devemos ajudar o irmão com a adequação, a ajuda e o ensino necessários. Isso trará edificação para a
igreja.

Se lidarmos com as questões com leviandade ou negligência, perderemos a oportunidade de edificar a igreja.
Precisamos compreender toda questão que chega a nós e aproveitar a oportunidade para instruir e ensinar os
envolvidos. Isso edificará também a igreja. Se os santos puderem receber nossa ajuda quanto à questão das
ofertas materiais, serão edificados de forma genuína. Também serão edificados como parte da igreja.

Em nossa obra e serviço, precisamos conscientizar-nos que ser orgulhoso não faz sentido e considerar-nos
inferiores é pior ainda. Não há valor algum em pensar que estamos sempre certos; nem existe valor em pensar
que estamos sempre errados. As duas atitudes são erradas e indignas. Sempre que nos defrontamos com uma
pessoa ou questão, precisamos aprender a conhecer as forças e fraquezas da pessoa, bem como a fonte e
natureza da questão. Desse modo, saberemos ajudar a pessoa a ser edificada na igreja; saberemos também lidar
com a situação. Isso é edificar.
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ESTAR ALERTAS CONTRA O SENTIMENTO DE SUPERIORIDADE NACIONAL


E OS HÁBITOS MUNDANOS

A edificação da igreja não depende de reconhecer que o que vem do ocidente é sempre bom. Mesmo que oitenta
por cento das coisas que procedem do ocidente sejam boas, ao menos vinte por cento das coisas no oriente
também são boas. Não devemos pensar que as pessoas do ocidente estão cem por cento certas. Caso contrário, as
igrejas no oriente e no ocidente não serão edificadas juntas.

Dois dias atrás, um irmão do ocidente disse que vários servos da casa dos obreiros estiveram numa festa de
aniversário com sua família. Ele os convidou para se alegrar com eles no aniversário de seu filho. Não devemos
trazer hábitos do mundo para nosso meio. Desde que tomamos o caminho da restauração do Senhor, não
celebramos aniversários nos últimos trinta anos. Não somos perfeitos, mas alguns missionários do ocidente
precisam ser censurados. Eles vieram ao oriente a fim de fazer a obra do Senhor, no entanto também prejudicam
essa obra. Celebrar o aniversário dos filhos e até mesmo convidar os que servem a participar é uma atitude
carnal que trará danos à obra do Senhor.

Isso pode encorajar os que vivem na casa dos obreiros a celebrar o aniversário dos filhos. Isso é intolerável.
Permitimos que os irmãos do ocidente nos influenciem em vez de influenciá-los. Os que laboram pelo Senhor
precisam ter muito cuidado.

Sempre que recebemos um convite, temos de saber quem está envolvido e qual é o propósito da reunião.
Pregamos a verdade com relação a não amar o mundo e desejamos que os outros não amem o mundo. Nos
últimos trinta anos nossos colaboradores não celebraram os aniversários dos filhos ou mesmo dos pais.
Precisamos aprender essa lição a fim de edificar a igreja. Doutro modo, nosso esforço será como um
provérbio chinês que diz que moemos grãos de soja sem produzir nenhum tufou. Nossos esforços serão em vão.
Por essa razão, não devemos orgulhar-nos ou humilhar-nos em excesso ao conhecer a origem de certa questão.

Antes de convidar determinado irmão do ocidente para falar, consideramos o fato de que ele agradecera em
público aos que lhe enviaram cartões de natal. Apesar de eu ter recebido ajuda espiritual desse irmão, nesse
aspecto ele é que precisava de ajuda. Se o natal é condenado por Deus, mesmo que as pessoas nos enviem
cartões, não devemos agradecer-lhes. Esse exemplo demonstra que nem tudo o que vem do ocidente está certo.
Eles necessitam de nossa ajuda em muitas questões. Apesar de não ter nenhuma luz com respeito à base da igreja,
recusam-se a receber ajuda quanto a esse assunto. Até mesmo debatem e discutem repetidas vezes sobre a base da
igreja. Isso revela um sentimento de superioridade nacional. Para que as igrejas no oriente e no ocidente sejam
edificadas juntas, os irmãos do ocidente precisam estar abertos para a questão da base da igreja. Não ficamos
brincando nos últimos trinta anos. Demos a vida para seguir esse caminho. Não devemos considerar
nenhum assunto da igreja de forma superficial. Devemos sim estar desesperados com relação a alguns
assuntos e deixar outros de lado. Respeitamos os ministérios espirituais do ocidente, contudo não concordamos
em que tudo o que vem de lá esteja correto.

As igrejas estão diante de nós. Aceitamos os irmãos do ocidente que estão conosco e devemos permitir que
sirvam ao Senhor. Entretanto precisamos aprender a conhecer as pessoas e a discernir as questões.
Precisamos saber também o que podemos e o que não podemos aceitar. Precisamos discernir inclusive as
questões que envolvem um jovem ou uma jovem. Devemos encorajar o que é conveniente e restringir o que não
é. A mera pregação do evangelho para a salvação dos pecadores e a instrução dos crentes não podem edificar a
genuína igreja do Senhor. Precisamos conduzir outros a Cristo e ajudá-los a se estabelecer e ser edificados na
igreja.

CAPÍTULO NOVE
O SIGNIFICADO DA EDIFICACÃO ESTÁ NA EDIFICAÇÃO
DA AUTORIDADE DE DEUS SOBRE O HOMEM
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A maior parte das pessoas pensa que a edificação nos capacita a agir em coordenação uns com os outros de tal modo
que não sejamos mais indivíduos separados, porém um Corpo corporativo. O verdadeiro significado da edificação,
porém, é edificar Cristo na pessoa dos crentes. Quando Cristo já estiver edificado nos crentes, eles se tornam Seu
Corpo. Em Efésios 4:11-12 Paulo diz que Deus concedeu à igreja diversos dons para a edificação do Corpo de Cristo, a
edificação da igreja. Em 1 Coríntios 3 ele se refere à edificação do Corpo como a edificação da habitação de Deus. O
Corpo e a habitação são exatamente a mesma coisa. Paulo nos diz que devemos usar ouro, prata e pedras preciosas para
a edificação. Se edificarmos com madeira, feno e palha, nossa obra será consumida (vs. 12-15).

O versículo 12 do capítulo três nos mostra que o material da edificação são ouro, prata e pedras preciosas. O ouro
representa a natureza divina de Deus Pai, a prata representa a redenção de Cristo, o Filho, e as pedras preciosas
representam a obra transformadora do Espírito. Isso nos ensina que o material a ser usado na edificação é o Deus
Triúno - o Pai, o Filho e o Espírito. Em outras palavras, o edifício é construído com a natureza divina do Pai, a
redenção do Filho e a obra de transformação do Espírito. Esse versículo, no entanto, não nos diz o que edificamos.
Por exemplo, tijolo, pedra ou madeira dizem respeito ao material usado na construção, mas casa, sala de aula ou
auditório referem-se ao edifício em si.

De acordo com a Bíblia, existem dois aspectos da edificação de Deus no universo: um se refere a urna habitação, e
o outro, a urna cidade. Tudo o que diz respeito à edificação está relacionado com a habitação ou com a cidade.
Seja Deus ou o homem que constrói, existem apenas esses dois aspectos da edificação: a habitação e a cidade.
Habitação, templo e palácio referem-se todos à mesma e única coisa. Um templo é urna habitação, e um palácio
também. Com exceção da torre de Babel, toda construção mencionada na Bíblia se refere a urna habitação
ou a urna cidade. Hoje Deus edifica urna habitação. A igreja é Sua habitação, Sua casa. Quando esse edifício
estiver concluído, será urna cidade: a Nova Jerusalém. Conforme Efésios 2:22, Deus edifica urna habitação, e de
acordo com Hebreus 11: 10, Deus edifica urna cidade com fundamentos.

A EDIFICAÇÃO DO TEMPLO DE DEUS

No Antigo Testamento, o templo santo tipifica a habitação de Deus, e a cidade santa tipifica a Nova Jerusalém.
Quando o povo de Israel entrou em Canaã, de seu ponto de vista eles obtiveram a bênção de urna terra de onde
manava leite e mel. Já do ponto de vista divino, no entanto, eles estavam construindo um templo e urna cidade
para Deus (1 Rs 8: 12-21). Os israelitas tornaram o templo santo e a cidade santa, Jerusalém, para ser seu centro.
Quando o povo de Israel chegou a Canaã, seu trabalho era o de edificar o templo e a cidade. Todo o
relacionamento de Deus com Seu povo no Antigo Testamento estava relacionado com o templo e a cidade. Por
isso, os salmistas falavam com freqüência do templo santo e da cidade santa. Essa é a questão central entre Deus e
Seu povo.

Satanás, o inimigo de Deus, fez tudo o que estava ao seu alcance para destruir o relacionamento de Deus com Seu
povo. Ele fez isso destruindo o templo santo e a cidade santa. Depois da destruição do templo e da cidade santa,
houve urna restauração entre o povo de Israel. O edifício precisava ser restaurado. O templo santo e a cidade santa
necessitavam ser edificados. Isso mostra que a edificação do Corpo de Cristo é a edificação do templo de Deus por
um lado e da cidade de Deus por outro. Por um lado, o Corpo de Cristo é a casa, a habitação e o templo de Deus; por
outro, é a igreja e a noiva de Cristo. Em Apocalipse 21 encontramos urna cidade - a Nova Jerusalém. A cidade santa
é a noiva. Portanto a igreja diz respeito ao templo e à cidade. Edificar a igreja é edificar o templo e a cidade de
Deus.

A EDIFICAÇÃO DO TEMPLO É A EDIFICAÇÃO DA MESCLA DE DEUS COM O HOMEM

Edificar a igreja, o Corpo de Cristo, é urna expressão genérica na Bíblia. Urna expressão mais específica e melhor
definida é a edificação do templo e da cidade. A ênfase do templo está na presença de Deus, na mescla de Deus e
do homem. Por esse motivo, edificar o templo é edificar a mescla de Deus com o homem. Para começar 1
Coríntios 6:19 diz: "Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós". Somos o
santuário ou templo de Deus e o Espírito de Deus habita em nós. Essa é a mescla de Deus com o homem. O
templo diz respeito ao mesclar de Deus com o homem. Depois que o templo foi construído, a glória do Senhor
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encheu todo o templo (1 Rs 8:10-11). Esse templo representa o povo de Israel como habitação de Deus; Deus
habitou entre eles. Na administração da igreja e no ministério da palavra estamos edificando a igreja. Estamos
edificando a mescla de Deus com o homem nas pessoas. O propósito da administração da igreja é produzir a
mescla de Deus com o ser humano. O propósito de nosso ministério da palavra também é produzir tal
mescla. Se produzimos a mescla de Deus com o homem, edificamos o templo.

Esse princípio pode ser aplicado a muitas situações. Talvez dois irmãos vivam juntos, mas não se dêem bem. Eles
não brigam e são educados, porém não há edificação entre eles. Eu pergunto: "A presença de Deus está com eles?
O templo de Deus está lá?". Se não existe edificação entre eles, eles não têm a presença de Deus ou o templo de
Deus com eles. São pessoas independentes, sendo que nenhum dos dois se importa com os assuntos do outro. São
apenas dois irmãos que servem ao Senhor juntos e moram na mesma casa. Não têm a presença de Deus, Seu
templo.

Se já fomos edificados e aprendemos a lição da edificação, perceberemos que falta mescla a esses irmãos. Os dois
têm grande quantidade de ego e, portanto, não há muita mescla com o Senhor. Por essa razão, nossa tarefa é
edificá-los, de modo que Cristo seja mais mesclado com eles. Precisamos prestar maior atenção a que parte de seu
ser não lhes permite ser mesclado a Deus. Caso permitam que essas partes sejam trabalhadas, serão mesclados
com Deus e, assim, o templo de Deus estará neles. A extensão de nossa união com os outros depende de quanto já
fomos mesclados com Deus. Essa é a edificação e o templo de Deus com Sua presença.

Sempre que prestamos verdadeira ajuda espiritual às pessoas, nós as capacitamos a ser mais mescladas com Deus.
Quanto mais estiverem mescladas com Deus, mais estarão unidas a outros membros do Corpo de Cristo. Aqueles a
quem falta o elemento de Deus não podem ser um com outros crentes. Portanto os irmãos que falam do púlpito
devem assegurar-se que suas palavras resultem em Deus ser mais mesclado com os santos. Se trabalhamos com os
jovens, as mensagens que pregamos devem levá-los a ser mais mesclados com Deus. Se nossas mensagens não
produzirem esse resultado, nossa obra não será de edificação. Não edificaremos o templo. A obra que edifica o
templo é a que permite a Deus obter habitação para Si mesmo. Permite que Deus habite no íntimo do ser humano.
Nossa obra deve levar Deus a habitar ainda mais no homem e ser mesclado com ele.

A EDIFICAÇÃO DA CIDADE DE DEUS

Há distinção entre o templo e a cidade. O templo enfatiza a habitação, a morada. A cidade está relacionada com a
administração. Portanto o templo diz respeito à Sua presença e a cidade à Sua autoridade soberana, a Seu poder.
Quando a Nova Jerusalém entrar em cena, esses dois aspectos serão combinados. A Nova Jerusalém é uma cidade,
o que é questão de autoridade, e também é o tabernáculo de Deus com os' homens, que diz respeito ao aspecto de
morada. Por isso na Nova Jerusalém vemos tanto a presença de Deus como Sua autoridade. Apesar de os dois
aspectos estarem combinados, a ênfase na cidade está na autoridade. Por isso o centro da Nova Jerusalém é o trono
de Deus e do Cordeiro, que diz respeito ao poder soberano de Deus, à Sua autoridade (Ap 22:3).

A EDIFICAÇÃO DA CIDADE É A EDIFICAÇÃO DA AUTORIDADE DE DEUS SOBRE O HOMEM

Edificar o templo é edificar a habitação de Deus para que Ele tenha base no ser humano, habite nele e esteja
mesclado com ele. Edificar a cidade é edificar o poder soberano de Deus, Sua autoridade sobre o homem. Em
primeiro lugar precisamos edificar a presença de Deus no homem. Esse é o passo inicial. A seguir precisamos
edificar o poder soberano, a autoridade divina, sobre o homem. Esse é o passo final. Por essa razão, primeiro
temos a igreja, a casa de Deus, Seu templo, e a seguir temos a manifestação da Nova Jerusalém. Na obra de
edificação sempre edificamos em primeiro lugar o templo e a seguir a cidade. A presença de Deus vem antes de
Sua autoridade. Primeiro edificamos o mesclar de Deus com o homem, depois edificamos Sua autoridade
sobre o homem.

Apesar de o templo ser o centro, a proteção se encontra na cidade. Uma pessoa que só tenha o elemento do
templo, e não o da cidade, está sem proteção. Se houver apenas a restauração do templo, sem a cidade, o
templo estará desprotegido. Por essa razão, depois que o templo foi restaurado por Esdras, Neemias ainda
precisou restaurar a cidade. Não houve combates durante a restauração do templo, porque a questão da
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proteção não era problema; havia, porém, a ameaça de guerra quando a cidade era restaurada, porque a
cidade estava relacionada com a proteção.

A presença de Deus não implica na existência de batalhas, porém a autoridade de Deus se relaciona com o
combate. A obra de Satanás nas pessoas é destruir a autoridade de Deus, e não Sua presença. O propósito
primordial de Deus é Sua autoridade, e não Sua presença. A manifestação extrema na Bíblia é uma cidade com o
trono de Deus no centro. Isso significa que o alvo primordial de Deus é realizar algo onde Ele reine e estabeleça
Seu trono.

Quando estamos mesclados com Deus e temos Sua presença em nós, podemos ser unidos a outras pessoas como o
templo de Deus. Os que estão mesclados com Deus e têm Sua presença interior podem ser unidos a fim de ser o
templo de Deus. Todavia isso não faz de nós a cidade de Deus. Precisamos ser edificados a ponto de estar sob a
autoridade de Deus, tendo Seu poder soberano sobre nós. Somente então podemos ser unidos a fim de nos tornar
uma cidade. Se estamos apenas mesclados com Deus, Ele só pode ter uma habitação. Para Ele reinar entre
nós, precisamos ter Sua autoridade sobre nós.

Assim, o significado da edificação é edificar a presença de Deus nas pessoas e Seu reino sobre elas, isto é, edificar
o mesclar de Deus nelas e Seu domínio sobre elas. Se não existe templo nem cidade na terra, Deus estará restrito
aos céus e só pode reinar nos céus .. Somente quando há um templo na terra é que Deus pode habitar na terra, e
apenas quando existe uma cidade na terra é que Sua vontade pode ser feita e Seu reino ser exercido aqui. Em
outras palavras, quando tivermos sido edificados por Deus no nosso interior e assim tivermos Sua presença,
seremos unidos aos que também foram edificados por Deus e, portanto, também têm Sua presença a fim de nos
tornar Seu templo. Então, quando tivermos a autoridade de Deus e Seu reinar sobre nós, poderemos ser unidos aos
que também estão sob Sua autoridade a fim de nos tornar uma cidade.

Por essa razão, precisamos permitir que Deus opere em nós para que sejamos edificados. Se existir qualquer
aspecto em que não estamos mesclados com Deus, não seremos Seu templo. Se não permitirmos que Ele reine em
nós em certo aspecto, não seremos Sua cidade. Precisamos deixá-Lo edificar em nós. Depois de edificados,
saberemos se o ser interior de alguém com quem entramos em contato está desolado ou se tem a presença do
Senhor. Saberemos também se foi edificado e tem o templo de Deus nele. Talvez ame o Senhor com sinceridade,
mas só identificamos desolação em seu íntimo. Ele não tem a presença do Senhor quando lida com várias coisas. No
máximo conseguimos perceber que é zeloso, ativo e determinado, no entanto não conseguimos identificar o templo nele.
Não conseguimos entrar em contato com a presença de Deus nele. Portanto, ele não pode servir de forma coordenada
com outros cristãos.

Para ajudar uma pessoa nessas condições, precisamos fazer a obra de edificação a fim de edificar Deus em seu intimo.
Em outras palavras, necessitamos edificar a presença de Deus em seu intimo para que ela tenha, em certa medida, o
templo, a presença e o mesclar de Deus. Nessa pequena medida da presença e do mesclar de Deus, também somos
edificados nela. Com essa pequena medida da presença e do mesclar de Deus, ela também pode unir-se a nós. Com essa
pequena medida da presença e do mesclar de Deus, ela está edificada e não isolada. Quanto mais trabalharmos nessa
pessoa, mais a presença e o mesclar de Deus no intimo dela crescerão. O templo de Deus nela crescerá e sua união com
outros aumentará. Quanto mais ela for edificada desse modo, mais estará salva de ser independente. Quanto mais for
edificada desse modo, mais estará salva de ser individualista e mais aprenderá a ser unida com outros a fim de ser
edificados juntos.

Depois que trabalharmos numa pessoa por algum tempo, ela possuirá alguma edificação em si mesma e por fim terá o
templo de Deus em si. Entretanto ela ainda não tem a cidade de Deus; ainda não conhece a autoridade de Deus, Seu
poder soberano. A cidade é totalmente uma questão de autoridade. Quando a cidade e a torre de Babel foram
construídas na terra, o homem subverteu a autoridade de Deus (Gn 11:3-4). Quando edificamos o templo de Deus no
intimo de uma pessoa, temos de edificar nela também a cidade de Deus: Seu poder soberano, Sua autoridade. Então ela
aprenderá a ter não apenas a presença de Deus, como também a estar debaixo de Sua autoridade em tudo.

Que significa estar sob a autoridade de Deus? Que é autoridade? Precisamos ver que existe não só autoridade e ordem
na igreja, mas também saber que o universo inteiro é questão de autoridade. Por exemplo, quando o arcanjo Miguel
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contendeu com o diabo a respeito do corpo de Moisés, ele não ousou emitir juízo infamatório contra o diabo. Apenas
disse: "O Senhor te repreenda!" (Jd 9). Isso é questão de autoridade. Em Mateus 8 o centurião disse ao Senhor Jesus:
"Pois também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados às minhas ordens; e digo a este: Vai, e ele vai; e a
outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz" (v. 9). Isso também é questão de autoridade. O universo
todo é questão de autoridade, de ordem. Há ordem em nossa casa. Ordem envolve autoridade. Isso se aplica ainda mais
à igreja.

Desde o início de Gênesis o universo está um caos, porque perdeu-se a ordem. No Novo Testamento, a começar do
Evangelho de Mateus, Deus realiza uma obra de restauração. À medida que Ele a realiza, há cada vez mais ordem.
Quando chegamos ao fim de Apocalipse, tudo está em perfeita ordem. Portanto, quando a cidade se manifestar, tudo
estará debaixo de autoridade. A obra de edificação que realizamos começa com a edificação de Deus sendo mesclado
com o homem e culmina na edificação da autoridade de Deus sobre o homem. Quanto mais uma pessoa é mesclada com
Deus e mais autoridade divina tenha sobre si, mais será unida a outras. Ter apenas boa conduta não é o suficiente na
igreja, porque a igreja é questão de ser edificados sob a autoridade de Deus.

O TEMPLO E A CIDADE SÃO IGUALMENTE CRUCIAIS

Nossa obra é fazer com que as pessoas saibam o que significa ter o mesclar de Deus e o homem, e o que significa estar
debaixo da autoridade divina. Sem o mesclar e a autoridade de Deus, não pode haver nenhuma edificação. Sem o
templo, não há habitação; sem a cidade, não há proteção. Em outras palavras, se conhecemos a presença de Deus sem
conhecer Sua autoridade, não temos a cidade e o templo. A presença de Deus por fim será perdida, porque não há
proteção. Temos de ter a presença de Deus bem como Sua autoridade para ter proteção.

A edificação sempre envolve combate. Efésios 2 fala de edificação, e o capítulo seis fala de batalha espiritual. A batalha
está relacionada com a cidade, e não com o templo. A batalha é pela autoridade de Deus, e não por Sua presença.
Quando Neemias retomou a fim de edificar a cidade, encontrou guerra (Ne 4:7-8). Parece que o inimigo não desejava
frustrar a edificação do templo tanto quanto a da cidade. Isso é porque a cidade envolve a autoridade de Deus. O
inimigo sabe muito bem que se não houver cidade, o templo poderá ser facilmente destruído; por isso seu combate visa
o que diz respeito à autoridade e a ordem. Se não existir cidade, o templo não possui proteção. Satanás sabe que a
presença de Deus pode ser facilmente destruída quando não há ordem, quando não há autoridade, na igreja.

Todo obreiro do Senhor precisa compreender o significado de edificar a igreja. Edificá-la é edificar a autoridade de
Deus nela. Se a igreja numa cidade tiver apenas fervor, cordialidade e amor mútuo, mas não tiver ordem nem
autoridade, essa igreja está errada. Ela não tem proteção. Embora possa estar muito bem hoje, a falta de proteção pode
levá-la ao colapso amanhã.

Amar uns aos outros não significa necessariamente a presença de Deus, pois isso pode ser do afeto do homem natural e
não ter em si o mesclar de Deus. Mesmo que tenhamos o mesclar de Deus, se não possuirmos Sua autoridade, não
haverá proteção. É preciso se estabelecer autoridade na igreja. Uma igreja estará muito enfraquecida caso os irmãos
tenham opiniões divergentes quando surgir alguma situação. Em vez de haver edificação nela, haverá apenas uma pilha
de pedras. Uma igreja forte é repleta da presença de Deus e de Sua autoridade, tendo assim tanto o templo como a
cidade.

É difícil encontrar a autoridade de Deus no cristianismo institucionalizado. A maioria dos grupos está cheia de opiniões
humanas. Eles se exaltam afirmando que são democráticos, no entanto estão repletos de opiniões humanas e da falta da
autoridade de Deus. Essa era a situação da igreja em Laodicéia. Essa é a razão por que diáconos discutem com
presbíteros e presbíteros discutem com pastores. Nossa intenção não é criticar os outros, porém desvendar a verdade de
que, se não levarmos a autoridade de Deus em consideração e enfatizarmos a opinião dos homens, o resultado será uma
interminável discussão.

A igreja de Deus é um templo e uma cidade. Na igreja de Deus estão o templo e a cidade - a presença de Deus e Sua
autoridade. Precisamos considerar que tipo de obra realizamos. Será que estamos edificando a igreja ou o cristianismo
institucionalizado? Temos de saber primeiro se estamos ou não debaixo da autoridade de Deus e se mantemos ou não
nossa posição na ordem planejada por Ele. Poucas pessoas entendem que edificar a igreja é edificar a presença e a
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autoridade de Deus. A partir desse momento, entretanto, precisamos saber que edificar o Corpo de Cristo é edificar o
mesclar de Deus com o homem e edificar a autoridade de Deus sobre o homem. Precisamos realizar essa obra.

PERMITIR QUE DEUS SEJA EDIFICADO EM NOSSO ÍNTIMO

Ser edificados em Deus significa permitir que Ele opere em nós e Se mescle conosco em tudo. Se somos edificados
por Deus e estamos sujeitos a Sua autoridade, podemos então ajudar outros realizando uma obra de edificação
neles. Quando trabalhamos em outras pessoas, primeiramente acrescentamos Deus a elas para que tenham Sua
presença no andar e viver prático. Desse modo tornam-se o templo de Deus. Precisamos então realizar outra obra
nelas, para que conheçam a autoridade de Deus. Isso corresponde a edificar o muro nelas. Dessa forma terão a
presença e a autoridade de Deus. Serão pessoas edificadas não importa aonde forem. Saberão o que é ter a
presença de Deus, Seu mesclar, e também conhecerão Sua autoridade e ordem. Elas terão sido edificadas.

Alguns podem ser fervorosos, mas não têm o templo de Deus ou Sua cidade. Podem ter certa medida de Sua
presença, porém não compreendem Sua autoridade. Há certa medida da restauração de Esdras, no entanto não há
nada da restauração de Neemias. Porém há outros que têm tanto o templo como a cidade. Têm a presença e a
autoridade de Deus. Em tudo têm o mesclar de Deus e estão sob Sua autoridade. Mantêm a ordem e estão debaixo
de autoridade. Também reinam, porque têm a autoridade divina. Em outras palavras, possuem a cidade de Deus.
Tendo a cidade de Deus em nós, temos proteção para nossa condição espiritual.

CONHECER AS ARTIMANHAS DO INIMIGO

O Antigo Testamento diz que a cidade de Davi era sua fortaleza (l Cr 11:5,7). Portanto, quando Neemias
prosseguiu com a restauração da cidade, os inimigos apareceram (Ne 4:7-8) e os que edificavam faziam a obra
com uma das mãos e seguravam a arma na outra (v. 17). Essa figura é óbvia. Tipifica que os que edificam a igreja
devem trabalhar na obra de edificação e lutar ao mesmo tempo. A autoridade é proteção para a igreja.
Precisamos lutar por ela. Para lutar pela autoridade da igreja, devemos aprender a lição. Quando conduzimos os
irmãos a amar o Senhor e viver por Ele, capacitando-os a obter a continua presença de Deus, não encontramos
muita oposição. Todavia, à medida que conduzimos a igreja a ter ordem adequada e se submeter à
autoridade de Deus, o inimigo ataca.

O livro de Neemias nos mostra que a primeira artimanha do inimigo não é um ataque frontal. Ele ataca pelos
flancos. Todos os envolvidos na obra de edificação necessitam aprender a combater na batalha espiritual.
Precisamos, em primeiro lugar, saber lidar com as artimanhas do inimigo. Paulo diz que precisamos ficar firmes
contra as ciladas do diabo (Ef 6:11). Não ignoramos seus ardis. Sempre que edificamos a ordem na igreja, Satanás
usa de meios hábeis para destruir nossa obra. Ele fará uma bela proposta por meio de um amado irmão. Se a
aceitarmos, a edificação inteira será destruída. As ciladas do inimigo podem ser vistas com freqüência na igreja.
Ele realiza uma obra extremamente traiçoeira, que visa danificar a ordem na igreja a fim de demolir os muros da
cidade.

Na batalha espiritual é mais importante compreender as ciladas ou artimanhas do inimigo do que empunhar uma
espada para lutar com ele. É isso o que Neemias fez. Primeiro ele compreendeu as artimanhas do inimigo. Então,
quando o inimigo disse: "Vem, encontremo-nos", a resposta de Neemias foi: "De tudo o que dizes coisa nenhuma
sucedeu; tu, do teu coração, é que o inventas" (Ne 6: 1-9). Neemias conseguiu enxergar através das artimanhas do
inimigo. Portanto, na obra de edificação precisamos conhecer as pessoas, as questões e as artimanhas do inimigo.
Nosso conhecimento acerca das ciladas do inimigo depende de conhecer as pessoas e as questões. Se não
conhecemos as pessoas e seus assuntos, o inimigo pode esconder-se neles. Caso Neemias tivesse aceitado as
sugestões do inimigo, teria caído vítima de suas armadilhas. Se não conhecemos certa questão ou assunto, não
sabemos quais são as ciladas do inimigo e será fácil cair vítimas de seus estratagemas. O inimigo deseja destruir a
autoridade e a ordem de Deus na igreja.

Por exemplo, surgiu certa vez um problema com relação ao tamanho que deveria ter o cálice da mesa do Senhor -
se deveria ser usado apenas um cálice grande ou vários cálices individuais pequenos. Esse problema é na
realidade uma questão de autoridade, e não do tamanho do cálice. Em princípio, os presbíteros de nosso distrito
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ou de nossa igreja devem ter a autoridade administrativa para determinar o tamanho do cálice. A autoridade
administrativa quanto a esse problema pertence aos presbíteros, e não aos responsáveis pelas reuniões de grupos.
Esse não é um assunto de menor importância, mas um princípio fundamental. Se queremos edificar e administrar
a igreja, a determinação do tipo de cálice não dependerá de discernir a verdade, mas da decisão dos presbíteros.
Devemos obedecer à autoridade representativa dos presbíteros.

Mesmo que a igreja numa cidade utilize um cálice grande, no entanto o distrito quer utilizar cálices pequenos, a
decisão ainda dependerá dos presbíteros. É um assunto administrativo. Não existe necessidade de debate com
relação ao tamanho do cálice para a reunião da mesa do Senhor e ao que utilizar para o batistério à parte da
decisão dos presbíteros. Esse tipo de discussão somente leva ao caos e à desordem. Isso indica falta de
conhecimento quanto à questão da autoridade. Em outras palavras, não haverá edificação nesse aspecto
fundamental.

A rigor, podemos expressar nossa opinião em qualquer lugar que não seja a igreja. Se queremos seguir o
caminho dos gentios e praticar a democracia, perdemos a presença e a proteção de Deus. Precisamos
conhecer a obra de edificação de Deus e precisamos conhecer a presença e a autoridade de Deus. Em
questões relativas à igreja, os que servem ao Senhor não devem falar livremente. Expressar nossas opiniões
faz da igreja um clube de debates.

Isso não quer dizer que não devemos expressar nossas considerações, e sim que precisamos estar conscientes da
autoridade de Deus. Um irmão responsável por uma reunião de grupo deve lidar com os problemas mediante o
canal apropriado. Pode compartilhar com os presbíteros e deixá-los a par de seus sentimentos e percepções. O
problema deve ser levado aos presbíteros. Os presbíteros não devem rejeitar de maneira precipitada a perspectiva
compartilhada pelo irmão. Antes, devem levar os sentimentos do irmão à presença do Senhor e ver como o
Senhor os conduz. Isso é apropriado. O irmão responsável deve então seguir a decisão dos presbíteros sem emitir
qualquer juízo pessoal. Os presbíteros podem escolher seguir o entendimento do irmão. Podem vir a entender
também que toda a igreja deveria seguir o mesmo caminho. Essa é uma igreja apropriada.

EDIFICAR A AUTORIDADE APROPRIADA NA IGREJA

A igreja deve funcionar desse modo, e a administração de qualquer país também deveria funcionar assim. Novas
medidas a ser tomadas não se originam de brigas. Para que uma nova medida seja transformada em lei, o órgão
legislativo de um país precisa funcionar de forma apropriada e ordenada. Rixas não são eficazes. Precisamos
aprender essa lição. Quando um problema se nos apresenta, não devemos expressar inúmeras opiniões diferentes.
Não há necessidade de iniciar disputas na igreja. Pelo contrário, devemos edificar a autoridade, o muro, a fim de
proteger todos os santos na igreja. Temos de aprender essa lição se queremos trabalhar com seriedade. A artimanha
de Satanás é causar danos à edificação de Deus. Por essa razão não devemos encorajar um ambiente de livre expressão
de opiniões pessoais. Um ambiente desses trará danos para a igreja. Não devemos encorajar atividades carnais ou a
expressão de opiniões humanas na igreja. Devemos receber o trabalhar do Senhor e permitir que Ele Se edifique em nós.

Os que já aprenderam a lição diante do Senhor e foram aperfeiçoados sabem que há ordem na igreja. Isso não significa
que são a autoridade, e sim que mantêm a posição. Caso não tenhamos aprendido a lição e sido edificados pelo Senhor,
nossa obra não será para edificação. Os que forem salvos por meio de nós não saberão conduzir-se, porque nós não
fomos edificados por Deus. Os que instruímos também não saberão se portar. Não seremos capazes de edificar porque
não passamos pelo processo de edificação. Como conseqüência, o Senhor não terá caminho em nós.

O cristianismo atual é caótico. Há muitas oportunidades para os que seguem rumo ao caos. Podem até mesmo abrir uma
congregação como melhor entenderem. No entanto os que desejam fazer a obra de edificação de Deus necessitam
aprender lições muito importantes e enxergar através das artimanhas do inimigo. Isso não é questão relacionada à
verdade. Nossa opinião pode estar certa, ainda assim podemos não andar conforme a ordem estabelecida, não obedecer
à autoridade e não ser trabalhados. Visto que não aprendemos a lição, não conhecemos a igreja.

Um irmão responsável por uma reunião de grupo não tem autoridade para decidir algo referente à administração da
igreja. Se as igrejas em Taiwan utilizam cálices grandes para a mesa do Senhor, é tolice uma reunião de grupo mudar
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para cálices pequenos. Isso prova que ainda não aprendemos as lições e ainda não conhecemos a igreja e a edificação.
Isso demonstra que somos presunçosos e insolentes. Precisamos aprender essa lição solene e então poderemos fazer
uma obra igualmente séria. Essa obra será valiosa porque será a edificação.

Edificar a autoridade não significa edificar nossa autoridade, e sim edificar a ordem de Deus na igreja. Quando alguém
entrar em contato com essa autoridade, perceberá que essa é de fato a igreja e a ordem de Deus está presente aqui. Deus
terá caminho e nós também. Por séculos muitas pessoas seguiram o caminho do cristianismo institucionalizado. Esse,
porém, não é o caminho de Deus. Que o Senhor nos conceda graça para que conheçamos Sua edificação com relação à
administração da igreja e ao ministério da palavra.

CAPÍTULO DEZ
A ESCOLHA DO MATERIAL PARA O MINISTÉRIO DA PALAVRA O MINISTÉRIO DA
PALAVRAÉ PARA QUE AS PESSOAS RECEBAM O SUPRIMENTO DE VIDA

Um ministro da palavra precisa estar atento ao material que utiliza. A escolha do material é importante e envolve
muitos detalhes. Os que ministram a palavra precisam compreender que o ministério da palavra tem por
objetivo dar vida. O exercício do ministério da palavra deve também apresentar soluções para os problemas das
pessoas e gerar nelas um sentimento de necessidade. Não deve dar-lhes apenas material para reflexão. Ao
exercer o ministério da palavra precisamos suprir as pessoas de vida, solucionar seus problemas e gerar
nelas um sentimento de necessidade. Precisamos seguir esses princípios ao escolher o material para o
ministério da palavra.

Mais livros foram produzidos sobre temas relativos ao cristianismo do que sobre qualquer outro assunto. O
número de livros publicados sobre exposição bíblica é especialmente grande. Se algum ministro da palavra pensa
que não precisa usar material extraído de publicações de terceiros, é orgulhoso e tolo. Um ministro da palavra pode
ser tentado também a crer que precisa somente de material extraído de livros publicados no cristianismo. Um ministro
que pensa assim perdeu seu ministério da palavra. Um ministro da palavra não deve depender exclusivamente de
material encontrado em livros.

O MATERIAL BÁSICO PARA O MINISTÉRIO DA PALAVRA É COMPOSTO DE LIÇÕES APRENDIDAS


PESSOALMENTE E DE ENCARGOS RECEBIDOS DO SENHOR

O material básico para o ministério da palavra deve ser composto das lições que uma pessoa aprendeu e dos encargos
que recebeu do Senhor. Queremos pregar uma mensagem que esteja baseada numa lição que aprendemos e num encargo
recebido. Podemos consultar outras pessoas para conhecer suas perspectivas, explicações e ilustrações relativas à lição
que aprendemos e ao encargo recebido. Ler livros de consulta regularmente ajuda a ampliar nosso conhecimento, mas se
um ministro da palavra compila suas mensagens a partir de livros de consulta, sem ter aprendido nenhuma lição ou
recebido nenhum encargo, sua mensagem será degradada e inútil. O ministério da palavra é baseado nas lições que já
aprendemos e nos encargos que já recebemos. Se um ministro da palavra não aprende nenhuma lição e nunca
recebe nenhum encargo da parte do Senhor, não deve falar do púlpito.

Por essa razão, os que ministram a palavra precisam continuamente aprender lições mediante o trabalhar do Senhor nas
coisas grandes e pequenas. Precisa também aprender a receber encargos. Deve receber um encargo de pregar o
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evangelho e dar determinada mensagem. Tem de sempre receber encargos. Embora os irmãos amem o Senhor com todo
o fervor, falta edificação entre nós. Por isso há a necessidade de receber encargos a fim de conduzi-los a um profundo
sentimento de que necessitam de edificação. Temos de receber um encargo da parte do Senhor e liberá-lo mediante o
ministério da palavra.

NÃO SER ORGULHOSOS, MAS GUARDAR O CORAÇÃO

Não devemos ser orgulhosos no ministério da palavra. É tolice sentir orgulho à medida que nos preparamos, pensando
que nosso material é melhor do que o dos outros. Mesmo que seja de fato melhor, ao consultar os outros, nosso
conhecimento será ampliado e nossa percepção da palavra será aprofundada. Desse modo, à medida que escolhemos
material para o ministério da palavra, devemos verificar e nos certificar de que as lições aprendidas e o encargo recebido
são nossa base; por outro lado, devemos guardar o coração para não sentir orgulho.

O que uma pessoa fala é degradado e pecaminoso caso precise pesquisar livros por não ter nada para falar. A liberação
da palavra não baseada na experiência pessoal ou num encargo recebido do Senhor é uma ofensa a Deus. Falar com
essa negligência é pecado. Toda mensagem precisa estar baseada na experiência pessoal e liberada a partir de um
encargo. Essa é a base fundamental para a liberação da palavra. Ao liberá-la não devemos orgulhar-nos. Devemos estar
abertos para usar livros de consulta e receber ajuda de outros. Por exemplo, se lemos um livro há muitos anos sobre
certo tópico, não fará mal nenhum lê-lo de novo. Nosso coração e atitude no momento são de consultar outras fontes de
material e receber a ajuda de outras pessoas. Todavia não devemos coletar material de maneira indiscriminada. Essa é a
atitude correta e o coração correto.

ESCOLHER MATERIAL QUE SEJA VIVO, E NÃO QUE SEJA NOVO E INCOMUM

Ao nos preparar para ministrar a palavra, devemos procurar material vivo, e não morto. Se quem ministra a
palavra quer ser diferente dos demais, será tentado a escolher material novo e incomum, mas também morto. Por
causa disso, suas mensagens serão frívolas e não terão o sabor da vida. Por isso, ao preparar uma mensagem,
precisamos evitar a idéia de ser originais usando material novo e incomum. Em lugar disso, devemos
esforçar-nos para liberar mensagens vivas e cheias do suprimento de vida. Por exemplo, apesar de outros já terem
falado sobre regeneração muitas vezes, devemos continuar a falar desse assunto. Regeneração é um tópico antigo,
sem nada de novo ou incomum, porém, se nosso material for vivo, nossa fala será repleta de suprimento e sabor.
Se nossa única preocupação é contar histórias e negligenciar o suprimento de vida, somos meros contadores de
histórias. Embora os santos possam rir, nossa fala é uma ofensa ao Senhor.

EVITAR A EXPOSIÇÃO DAS ESCRITURAS

Quando procuramos material, devemos evitar a exposição das Escrituras. A Bíblia não é um livro simples. Se
falarmos de acordo com ela, não teremos muitos problemas, mas, se a expusermos, teremos muitos problemas,
porque falar de acordo com a Bíblia é diferente de expô-la. Podemos pregar uma mensagem com base em alguns
poucos versículos. Por exemplo, ao citar Hebreus 2:3: "Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande
salvação?", a fim de estimular o apreço das pessoas por sua salvação, falamos de acordo com a Bíblia ou a partir
dela. No entanto, quando tentamos explicar o significado das palavras salvação e negligenciar, fazemos uma exposição
bíblica. Quem fala do púlpito deve evitar expor as Escrituras. Pode falar de acordo com a Bíblia, porém não deve
expô-la.

Exposição bíblica é um assunto sério. Por isso devemos evitar material que expõe as Escrituras, uma vez que esse
material não contém muita vida e está sujeito a erros. A rigor, somente os que possuem o dom de ensino devem
fazer exposição das Escrituras, e nem todos o possuem. As palavras na Bíblia podem ser usadas para transmitir
uma mensagem, mas a exposição bíblica pode causar problemas. Por esse motivo, é melhor evitar livros com
exposição bíblica.

A maioria dos livros que traz exposição bíblica transmite conhecimento, porém não fornece muita vida. Além
disso, existem muitas formas de expor a Bíblia. O mesmo trecho da Palavra com freqüência possui várias
interpretações. Quando era jovem, li um bom livro relativo às setenta semanas de Daniel. Depois que terminei a
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leitura, comecei a falar o que aprendi a outros. Mais tarde me dei conta de que estava sendo tolo, e acabei rindo de
mim mesmo porque há muitas interpretações acerca das setenta semanas e cada uma com sua lógica. Fazer
exposição bíblica é assunto muito sério. Devemos evitar ao máximo expor a Bíblia.

Através dos séculos, a maioria dos sermões foi baseada em versículos da Bíblia. Por exemplo, o dr. John Sung
usou o "fluxo de sangue" de Lucas 8:43 para pregar sobre o sangue precioso do Senhor, sem fazer uma exposição
do versículo. Devemos evitar fazer exposição bíblica, a não ser que precisemos fundamentar uma base
bíblica. A exposição bíblica deve servir para preencher a necessidade específica de estabelecer base bíblica.
Devemos expor a Bíblia nos limites dessa base concreta. Devemos permanecer nesses limites, caso contrário nossa
mensagem será morta. Temos de nos ater a esse princípio básico de que a mensagem precisa ser viva. Se
queremos que nossa mensagem seja viva, não podemos falar apenas doutrinas vazias, não podemos simplesmente
expor a Bíblia.

Devemos usar da exposição bíblica apenas quando precisamos de base bíblica para transmitir determinado
conceito às pessoas. Uma vez que tal necessidade seja preenchida, já não há necessidade de tantas explicações.
Além do mais, citar os outros pode causar confusão entre os santos, por causa dos diferentes pontos de vista das
exposições.
A primeira vez que li a Bíblia, passei muito tempo lendo livros de consulta com respeito às profecias na Bíblia.
Em Mateus 24:41 o Senhor Jesus disse que "Duas estarão moendo no moinho: uma será tomada, e deixada a
outra". Um competente expositor dentre os Irmãos Unidos disse certa ocasião que a mulher que seria deixada era
a melhor e a seguir forneceu muitas razões para apoiar sua declaração. Como a melhor poderia ser deixada?
Cremos que a que será tomada é a melhor. Portanto, se não tivermos discernimento, seremos mal conduzidos.

Existem muitos livros publicados no cristianismo de forma que os ministros da palavra se sentem muitas vezes
tentados a utilizá-los. Apesar da necessidade de consultar vários livros, alguns deles não têm conteúdo preciso.
Por exemplo, Andrew Murray de fato conhecia o Senhor no íntimo, porém suas exposições nem sempre eram
acuradas. Podemos confiar em suas experiências espirituais, mas nem sempre podemos confiar nele no que diz
respeito às exposições bíblicas.

Quando o irmão T. Austin-Sparks esteve em Taiwan, afirmou que a Nova Jerusalém não existe. Ele ultrapassou
sua porção e fez exposição bíblica. Não podemos aceitar essa exposição. Mesmo tendo em alta consideração o
conteúdo espiritual que ele nos ministrou, não podemos concordar com essa exposição.
Se a Nova Jerusalém não existe, onde estarão os crentes? É por esse motivo que temos tanto cuidado com relação
à exposição bíblica. Em termos gerais, não é difícil escolher material para o ministério da palavra. No entanto,
caso não estejamos totalmente seguros quanto a determinado material de exposição bíblica, não devemos aceitá-
lo. Também não devemos tentar expor as Escrituras a não ser que seja totalmente necessário.

Através dos séculos, várias pessoas espirituais fizeram exposição bíblica, contudo foi difícil para eles não
cometer erros. Andrew Murray, o irmão Austin-Sparks e até mesmo a Sra. Jessie Penn Lewis cometeram graves
erros em sua exposição. Os que participaram da vida interior tiveram boas experiências espirituais, todavia
estavam distantes no que dizia respeito à exposição das Escrituras. A irmã Dora Yu era muito espiritual, mas
também foi imprecisa na exposição bíblica. Ela disse que ser salvo não equivale a ser regenerado e os já salvos
ainda precisavam arrepender-se a fim de ser regenerados. Por esses motivos, precisamos evitar fazer exposição
bíblica na escolha do material. É melhor não escolher material relativo à exposição bíblica se não há necessidade
definida nem estejamos certos quanto a sua precisão.

NÃO CONVERTER AS MENSAGENS EM MATERIAL DE ENSINO

Essas bases e princípios para a escolha do material têm por objetivo suprir as pessoas de vida, solucionar seus
problemas e gerar um sentimento de necessidade em seu íntimo. É assim que o material deve ser escolhido
para a reunião dos jovens. Embora nossas mensagens sejam educativas, devemos evitar fazer delas um curso
de ensino. Por exemplo, a assim chamada escola dominical se tornou um curso com cinqüenta e dois temas de
estudo. Uma criança pode participar de todas essas aulas sem adquirir muita coisa em seu interior com relação à
espiritualidade, ao conteúdo do evangelho e à experiência de vida.
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Por exemplo, freqüentei uma escola de ensino fundamental cristã e fui um dos melhores alunos na escola
dominical. Até servi como assistente de professor na escola dominical. Contudo não tive nenhum proveito com a
escola dominical. É por esse motivo que digo que devemos abandonar a palavra escola das reuniões das crianças.
Não queremos uma escola dominical. Queremos apenas reuniões de crianças. Não devemos transmitir- lhes o
conceito de que a reunião é um curso de estudo e elas devem, portanto, recitar e memorizar. Elas devem sentir
que são tocadas e supridas interiormente quando participam das reuniões. Por isso, nossas reuniões das
crianças devem concentrar-se em fazer das crianças jovens piedosos que vivem na presença do Senhor. Se saírem
impressionadas com questões acerca do viver humano, do temor a Deus ou da salvação, isso lhes será de grande
ajuda.

Numa reunião de crianças em Manila, nas Filipinas, os que serviam queriam contar-lhes a história de Sansão e
Dalila, porque diversos cinemas na cidade exibiam um filme sobre o romance entre Sansão e Dalila. Esse é um
erro básico na escolha de material. Esse é um método errado de escolher. Não devemos falar aleatoriamente às
crianças sobre Samuel hoje, Davi amanhã, Saul depois de amanhã e a seguir sobre Pedro, fornecendo-lhes esboços
para memorizar e em seguida testando-os sobre a matéria dada. Isso é fútil e está errado. Precisamos tocar seus
sentimentos.

Por exemplo, as reuniões de crianças conduzidas por D. L. Moody se pareciam com uma escola dominical, porém
não eram. Ele se sentia responsável pela alma das pessoas. Certa vez convidou uma menina para participar de sua
escola. A garota prometeu ir, porém não o fez. Vários dias depois, ele a viu na rua. Assim que ela o viu, entrou
numa taverna e se escondeu debaixo de uma cama. Moody correu atrás dela e a puxou de debaixo da cama.
Depois disso, a menininha foi à sua escola dominical. Se nos sentirmos responsáveis como Moody, seremos bem-
sucedidos. Precisamos atentar para esse assunto. As demais coisas são secundárias.

Não devemos simplesmente dar aulas como os professores do ensino fundamental, que dividem as crianças por
faixas etárias e dirigem suas classes. Não devemos dar aula às crianças e então começar a próxima perguntando:
"Qual foi a lição da semana passada? Certo, foi sobre Davi. Quem é Davi?". As crianças então respondem: "Davi
foi uma pessoa segundo o coração de Deus". "Davi reinou durante quarenta anos". A seguir dizemos: "Muito bem,
vocês acertaram". Se nossas reuniões das crianças são assim, fazemos uma obra de morte, que deve ser
interrompida. As reuniões de crianças em Taipé ainda têm esse aroma.

O material que usamos deve ser vivo. Podemos falar às crianças a respeito de amar os irmãos, do amor de Deus
e de como Deus criou os homens com coração amoroso. Não precisamos falar sobre amor espiritual. Precisamos
sim fazê-los perceber que o amor que está neles vem de Deus e eles, portanto, devem amar seus irmãos. Eles então
se sentirão culpados caso não os amem. Na reunião seguinte podemos falar sobre honrar pai e mãe, pedindo-lhes
que obedeçam a seus pais. Essa fala é viva. Isso não quer dizer que não devemos usar histórias bíblicas. Podemos
usar uma história na Bíblia para ilustrar o amor aos irmãos. Isso não é um curso de estudo, mas uma aplicação
viva.

Isso também deve ser aplicado à obra com os jovens. Os que servem os jovens precisam compreender que não
devemos depender das reuniões de instrução. Se dependermos delas, fracassaremos. De 1946 a 1948 não havia
reuniões de jovens em Xangai. Nem mesmo tínhamos esse titulo. Naquela época o cuidado com os jovens
advinha de um encargo. Os santos os pastoreavam individualmente. É pena que nossas conferências universitárias
sejam dirigidas como aulas ensinando sobre certo assunto. Todos os que falam em nome do Senhor precisam
aprender que nossa fala deve instruir sem que pareça uma aula. Não estamos ministrando aulas. Isso é morto e
não vivifica as pessoas.

Os que falam devem receber um encargo a fim de laborar nos jovens, um a um. Por meio da oração e outros
recursos devemos pastoreá-los para que o Senhor os ganhe. Não devemos ensinar-lhes sempre o que Adão, Abel,
Enoque e Abraão fizeram. Eles podem memorizar tudo isso numa semana e na seguinte esquecer tudo. Ensinar-
lhes desse modo será fútil. Devemos entrar em contato com seus sentimentos de forma que nunca esquecerão.
Exercício intelectual e sabatina oral não passam de letra morta. Não há necessidade de dar tanta atenção a essas
coisas. Além disso não devemos preocupar-nos com quantos participam. Em vez disso, devemos empenhar-
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nos em aprender lições, ter experiências vivas e receber encargos vivos para laborar nos jovens. Devemos
fazer uma obra de acender neles o fogo que os leve a acendê-lo nos outros. Somente esse tipo de obra será vivo.

APRENDER A TOCAR OS OUTROS EM SEU INTERIOR

Seguindo o mesmo principio, ao dar uma mensagem devemos evitar falar de modo cientifico. Por exemplo,
fracassaremos se ensinarmos às pessoas apenas seguindo os principais tópicos e subtópicos de um esboço.
Mesmo não sendo ruim ler os pontos principais de um esboço, é mais importante aprender a tocar os sentimentos
das pessoas. Se enfatizarmos de modo excessivo a necessidade de memorizar um esboço, os santos podem não
conseguir se lembrar desses pontos. Mesmo que sejam capazes de se lembrar deles, irão esquecê-los caso não
tenham entrado em contato com algo mais profundo. Os que ministram podem falar muito, mas sua prioridade
número um deve ser dar às pessoas algo vivificante e tocar seu ser interior. Desse modo, mesmo que elas se
esqueçam dos pontos do esboço, algo consistente permanecerá.

Além do mais, devemos aprender a não trazer nenhum tipo de treinamento para nossas reuniões . Os
treinamentos são diferentes em natureza das reuniões da igreja. Não devemos tratar os irmãos como se fossem
treinandos. Eles podem esquecer-se dos pontos de um esboço e dos versículos das Escrituras, todavia, se forem
tocados por algo, depois da reunião irão orar, confessar os pecados e até mesmo pregar o evangelho. Se esse é o
caso, a mensagem terá sido viva e capaz de suprir. A carne de um filé em geral vem presa aos ossos, mas ao
servir o filé devemos dar a carne e não os ossos. Um esboço é importante porque muitos pontos podem tocar o
sentimento das pessoas. Contudo, ao alimentá-las devemos dar-lhes "carne" e não "ossos", porque poucos
conseguem mastigar ossos. Isso é muito importante.

Desse modo, precisamos aprender a usar um material que toque o sentimento das pessoas para que sejam
tacadas mesmo que não consigam compreender toda a mensagem. Uma mensagem transmitida dessa
forma é poderosa porque é clara e rica em conteúdo, sem forçar habilidades de raciocínio lógico. Pelo
contrário, entra em contato com os sentimentos profundos no intimo das pessoas.

Temos um sério encargo com relação ao ministério da palavra. O ministério da palavra é muito fraco nas manhãs
do domingo, nas reuniões do meio da semana, nas reuniões nas casas, nas reuniões dos jovens e até mesmo nas
reuniões de crianças. Temos problemas com esse ministério. A palavra é muito fraca, resultando numa situação
de fraqueza entre os santos. A principal razão para isso é que a palavra é morta. Quando a palavra é morta, o
suprimento por inteiro é enfraquecido. Por isso todos os responsáveis por ministrar a palavra precisam empenhar-
se em encontrar um meio de a palavra fornecer um suprimento de vida e não ser morta. Isso requer que não
falemos mais como se déssemos aulas, com a rígida utilização de esboços prontos. Nossa vida espiritual requer
ensino, porém não podemos ser rígidos. Precisamos evitar material que se assemelhe ao de ensino nas
escolas. Não devemos dar aos irmãos dever de casa. Devemos, sim, tocar seus mais profundos sentimentos
e plantar algo sólido em seu íntimo.

Se falhamos em fazer isso no ministério da palavra, é porque não temos a habilidade de ministrar a palavra. Se a
temos, tocamos os sentimentos dos santos e os suprimos de vida, sendo nós gagos ou eloqüentes, e se eles gostam
ou não de nós.

A IGREJA NECESSITA COM URGÊNCIA REALIZAR A OBRA


DE EDIFICAÇÃO MEDIANTE O MINISTÉRIO DA PALAVRA

Atingimos o ponto crítico da necessidade urgente de edificação. Se apenas salvarmos pecadores e os instruirmos,
repetiremos a obra do cristianismo nos últimos cem anos. Essa obra não resultou na edificação ou na habitação de
Deus. Quando uma pessoa é edificada em Kaohsiung, ao deixar essa cidade e ir para Hualien ou Tainan, ainda
estará edificada. Mesmo que saia de Kaohsiung, não saiu do edifício; ainda é parte da casa espiritual. Essa casa
não é limitada por tempo ou espaço. Aonde quer que vá, estará edificada no Corpo de Cristo. Na edificação única
de Deus no universo, ela é uma pessoa edificada. É diferente de outra pessoa que esteja apenas salva. É diferente
de uma pessoa espiritual. Ela é 'edificada. Somente uma pessoa assim pode fazer parte da habitação de Deus e
funcionar como membro do Corpo de Cristo aonde quer que vá.
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Deus necessita de um grupo de pessoas assim na terra hoje. Ele necessita com urgência de uma obra de
edificação. Se queremos participar dessa obra, precisamos da administração da igreja e, mais ainda, do ministério
da palavra. O ministério da palavra vem primeiro, e depois a administração da igreja. Atualmente nossa maior
falta é no ministério da palavra. Esse é um problema muito sério. Todas as nossas reuniões são pobres, fracas,
deficientes, frias, mortas e superficiais, porque nos falta o ministério da palavra. A administração da igreja é a
segunda em ordem de importância. Portanto os irmãos que sempre falam do púlpito precisam considerar com
seriedade esse assunto e se empenhar por aprender a lição concernente ao ministério da palavra. Jamais devemos
depender da idade. Ou seja, não devemos pensar que, porque já falamos há muitos anos, podemos simplesmente
ajeitar uma mensagem extraída de nossas antigas notas e dos livros de consultas. Uma mensagem dessas não terá
valor algum nem causará impacto. Não tocará os outros e não atingirá o alvo.

Precisamos aprender a sempre incomodar os irmãos quando ouvirem uma mensagem. Eles devem ser tocados
mesmo que venham a esquecer-se do assunto ou perder o conteúdo. Devem sentir como se tivessem sido picados
por um inseto. Como resultado disso, serão incapazes de descansar após a reunião, porque algo foi injetado em
seu interior.

As irmãs também devem ter essa habilidade ao visitar as outras. Perguntar às pessoas se têm lido as Escrituras ou orado
deixa-as embaraçadas. Não devemos ser mortos; precisamos aprender a ser vivos e também desenvolver algumas
habilidades. Talvez não mencionemos nada de espiritual, porém inconscientemente uma injeção espiritual é aplicada.
Pode ser que falemos com as pessoas sobre o mundo que elas amam, porém ao fim de nossa fala elas são "picadas". Não
conseguem descansar e se sentem incomodadas. Precisamos aprender a fazer isso.

MINISTÉRIO DA PALAVRA E O SERVIÇO NA IGREJA


NECESSITAM TER UMA COORDENAÇÃO VIVA

Precisamos compartilhar, mediante oração e consideração, com aqueles com quem servimos, a respeito do conteúdo de
nossa palavra. Quando eu servia no norte da China, entre 1940 e 1943, havia um irmão cuja situação estava sempre em
minhas considerações. Algumas vezes eu sentia um peso enquanto falava do púlpito e então dizia que esse irmão
necessitava de uma visita. Os irmãos que me ouviam recebiam um encargo e então o visitavam. Hoje em dia, porém,
como todos se esforçam para se destacar quando falam a fim de se tornar famosos, eles não estão preocupados em
receber encargo. Isso não pode ser considerado serviço.

É lamentável que os irmãos do norte da China não tenham saído do continente. As mensagens que davam preenchiam as
necessidades práticas e não eram compiladas com pressa. Quando os santos retornavam de suas visitas aos irmãos,
apresentavam um relatório. Nas segundas-feiras de manhã compartilhávamos com respeito às condições dos santos das
oito horas da manhã às três da tarde. Às vezes até mesmo jejuávamos e orávamos por eles. Como conseqüência disso,
aprendemos muitas lições.

Estudávamos como ajudar os que passavam por problemas e como enfrentá-los. Com freqüência, depois de visitada,
uma pessoa era vivificada. Nossa fala e visitas atuavam em harmonia. No entanto essa harmonia não resultava de
discussões, mas era espontânea. Isso é a verdadeira e prática ação coordenada.

A fala do púlpito era viva e os que vinham às reuniões também eram vivos. Muitos dentre os santos ficavam atônitos
com a maneira como as mensagens satisfaziam sua necessidade especifica. Sempre que vinham a uma reunião, seus
problemas eram solucionados. A palavra tocava seus problemas e seu íntimo; dessa forma, seus problemas encontravam
solução e suas necessidades eram satisfeitas. O que era falado era a palavra viva. Essa foi a situação por quase dois
anos, porque os que serviam buscavam uma palavra viva, e não apenas uma fala rotineira. Não eram desorganizados
nem folgados, nem falavam o que bem entendiam. Por isso, onde quer que fossem, sua liderança na igreja era
vivificante.

O melhor período de nossa coordenação no ministério da palavra foi entre 1940 e 1943. A situação atual não se compara
à que tínhamos então. Naquele período, a coordenação entre os que serviam e os que ministravam a palavra era viva.
Imprimir algo não era tão fácil quanto é hoje e não havia tanta organização, porém tudo era vivo.
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CONCLUSÃO

Em resumo, não podemos ser individualistas. Precisamos aprender a depender dos outros, confiando neles quanto a
nossa vida. Precisamos aprender a agir coordenadamente com os outros com relação a nosso serviço. Não devemos usar
ordenanças mortas ou falar mensagens mortas. Antes, devemos estudar um meio vivificante e aprender as lições. Além
disso devemos receber um encargo e compreender as necessidades das pessoas. Devemos conhecer os vários
problemas dos santos, das crianças, dos jovens e dos idosos. Com base nesse conhecimento, poderemos tocar os
idosos, os jovens e os pais quando falamos. Todos que ouvirem a mensagem serão tocados. A igreja necessita
dessa palavra viva que traga uma situação viva.

Hoje em dia encontramos morte em todas as nossas reuniões. A reunião das crianças, a reunião dos jovens e a
reunião do domingo são todas conduzidas de acordo com ordenanças mortas. Essas reuniões são de nossa
responsabilidade. Não podemos continuar assim. A obra do Senhor e a igreja sofrem grande perda e a maior
responsabilidade é dos que ministram a palavra. O suprimento no ministério da palavra é importante para as
crianças, os jovens, os pais, os idosos e os santos que trabalham.

CAPÍTULO ONZE
A IMPORTÂNCIA E A COMISSÃO DO MINISTÉRIO DA PALAVRA
COM RELAÇÃO À REUNIÃO DE LEITURA BÍBLICA

Algumas cidades vão muito bem com relação à administração da igreja e o ministério da palavra. De modo geral,
contudo, a administração da igreja é mais fraca do que o ministério da palavra em todas as cidades. Segundo a
função, o ministério da palavra é mais importante do que a administração da igreja. Por isso existe maior
necessidade do ministério da palavra do que da administração da igreja em todas as cidades.

As mensagens pregadas no domingo são comuns e genéricas. Como não são vivas, tornaram-se corriqueiras e
rotineiras, e não causam impacto. Portanto as igrejas devem prestar atenção à palavra ministrada em todas as
reuniões, e não apenas no domingo. A palavra ministrada nas outras reuniões com freqüência causa impacto
definido. Por exemplo, numa cidade a reunião de leitura bíblica tem sido conduzida de forma bem-sucedida e está
cheia da presença do Senhor.

Ter um responsável pela reunião

Toda igreja local deve empenhar-se em levar os irmãos a se apaixonar pela leitura da Bíblia, para que tenham
prazer em lê-la. Se possível, a igreja em cada cidade deve esforçar-se por ter uma reunião na qual os irmãos lêem a
Bíblia. A reunião de leitura pública na igreja que citamos acima tem um responsável. Por um lado, os líderes pedem aos
santos que leiam a Palavra; por outro, lá sempre um responsável pela reunião, a quem é dado ao menos entre vinte a
trinta minutos para falar sobre alguns assuntos relevantes. Em suas reuniões, os irmãos compartilham na primeira
metade da reunião e a seguir a pessoa responsável desenvolve o trecho que leram. Essa é uma característica de suas
reuniões.

Receber o suprimento espiritual

Outra característica é que no desenvolvimento da palavra entre os irmãos, a ênfase não recai sobre a lógica ou a
exposição bíblica, porém sobre o suprimento espiritual. Apesar de estudar a Palavra, seu desenvolvimento não se limita
a simplesmente lê-la, mas a suprir vida com base no entendimento espiritual obtido gradualmente a partir de um
versículo, frase ou trecho. Existe a tentação numa reunião de leitura bíblica de se exigir que todos compreendam e
memorizem os pontos-chave de um resumo feito a partir do estudo. Não devemos cair nessa tentação, porque isso acaba
fazendo de nossas reuniões uma prática sem vida.

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As reuniões de leitura bíblica, entretanto, caíram de alguma forma nessa tentação. Ao ajudar os irmãos a ler a Palavra,
não levemos explicar como as várias seções são divididas nem levemos compartilhar com relação ao esboço ou pontos
que elaboramos. Antes, devemos compartilhar a luz da vida e o suprimento espiritual. Um irmão iluminado e firme na
Palavra deve fazer uma síntese de vinte a trinta minutos. A primeira parte da reunião fornece ao Espírito Santo a
oportunidade de liberar as riquezas por meio dos irmãos e dá a estes a chance de praticar. No entanto as reuniões de
leitura bíblica não dependem desse compartilhar. Não importa se esse compartilhar dos irmãos é rico ou pobre, ele não
afeta a reunião, porque a palavra de fechamento suprirá e alimentará a todos.

Se dependermos somente do compartilhar entre os irmãos, as reuniões podem não ser consistentes e o apetite dos
santos pela reunião será perdido. Eles deixarão de considerar a reunião de leitura bíblica como algo importante e a
freqüência cairá. Por exemplo, em Taipé o número de participantes nas reuniões de leitura bíblica decresce
gradualmente. Uma das razões pode ser o compartilhar improdutivo. Não devemos permitir que as pessoas sintam que a
reunião de leitura bíblica é insignificante. Se chegarem à reunião de estômago vazio e voltarem para casa do mesmo
jeito, sentirão como se a reunião fosse um desperdício de tempo. Chegarão com grande expectativa e sairão
desapontados.

Além disso, no compartilhar e na síntese precisamos libertar-nos dos esboços prontos. Quando os irmãos começam a ler
a Bíblia, podemos ajudá-los com um esboço para que entendam como os capítulos estão subdivididos. Mas, à medida
que a reunião prossegue, não devemos concentrar-nos no esboço; caso contrário, nossa reunião não terá vida.

Não abranger material em excesso

Na reunião de leitura bíblica, é melhor ler um capítulo por semana. Não é recomendável abranger material demais. Isso
pode ser comparado à alimentação. Se engolirmos comida sem mastigar, não poderemos saboreá-la. Um capítulo por
semana pode ser considerado uma leitura muito lenta. Como os santos se reúnem somente uma vez por semana,
algumas igrejas os encorajam a ler um capítulo por dia em casa. Desse modo podem ler seis capítulos numa única
semana. Isso é muito bom. Contudo não devem abranger todos os seis capítulos quando se reúnem para
compartilhar. Em vez disso, é melhor abordar apenas um. Portanto, seja pregando uma mensagem ou lendo a
Palavra juntos, nunca devemos tentar abranger material em excesso. Esse é um princípio muito importante. Basta
abordar um ponto por reunião. Abordar dois ou mais assuntos pode levar a reunião a perder o foco e assim ser
arruinada. Por isso não é bom abranger material demais.

Se lermos seis capítulos da Bíblia por semana, teremos lido mais de trezentos capítulos em cinqüenta e duas
semanas, porém não conseguiremos nos lembrar de todos. Contudo, se lermos um capítulo por semana na reunião
com entendimento e suprimento, teremos lido cinqüenta e dois num ano. Como isso será precioso! Ficará bem
gravado nos santos e estimulará seu amor pela leitura da Bíblia, levando-os a lê-Ia por si mesmos. Talvez até
leiam seis capítulos por dia! Desse modo, formarão o hábito pessoal de ler a Bíblia.

Tornar a palavra saborosa para as pessoas

Logo depois de salvo, eu amava a Bíblia e fui aperfeiçoado na leitura bíblica. Devemos extrair o suprimento de
vida da Bíblia a fim de alimentar os irmãos. Dessa forma, eles adquirirão gosto, desejarão o suprimento e terão
prazer na leitura. Terão prazer até mesmo em lê-la sozinhos.

Se abrangermos seis capítulos na reunião de leitura bíblica toda semana, não haverá desfrute e os santos ficarão
desinteressados e aborrecidos. Portanto não devemos ler capítulos em excesso, para que nossa pressa não se
transforme em desperdício e acabemos obtendo exatamente o efeito contrário. É melhor ler apenas um
capítulo e extrair as riquezas inerentes a esse trecho da Palavra para alimentar os santos. Assim eles sentirão que
a Bíblia é doce e preciosa e irão querer continuar participando das reuniões. Irão até mesmo estudá-la em casa.
Por isso não é aconselhável ler muitos capítulos da Bíblia de uma só vez nas reuniões de leitura bíblica. Os
santos, porém, devem ler um ou mais capítulos por dia sozinhos.

Os responsáveis por ministrar a palavra precisam estudar como conduzir a reunião de leitura bíblica. Primeiro,
precisamos ter algum alimento sólido e nutritivo para os irmãos. A seguir, precisamos tornar a reunião "saborosa"
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para eles. É claro que não devemos usar de artifícios, porém precisamos dar-lhes o sentimento de que ganharam
algo. Dessa maneira, eles até convidarão outros para vir e ouvir a Palavra do Senhor. Portanto a reunião de leitura
bíblica e o ministério da palavra estão intimamente ligados.

Recentemente, uma igreja iniciou uma reunião com o propósito de buscar as Verdades Cruciais nas Escrituras
Sagradas no domingo à noite. O número de participantes dessa reunião era maior do que o da de domingo de
manhã. Havia entre cento e quarenta a cento e cinqüenta pessoas, apesar de o salão comportar apenas cerca de
cento e trinta. Algumas se sentavam no pátio. Outra igreja ao sul de Taiwan começou uma reunião de leitura
bíblica na qual a freqüência passou de sessenta para cento e quarenta. Os santos adquiriam um sólido suprimento.
Vale a pena estudar juntos.

O suprimento da palavra tem foco de atenção e é genérico

Quando os que assumem a liderança na reunião de leitura bíblica percebem algo que é a necessidade da
igreja, devem pensar em como deixar esse ponto gravado nos irmãos. Não devem tocar de leve nesse aspecto,
mas repeti-la de modo enfático até que os santos a absorvam. No norte da China passei cerca de cinco anos falando a
respeita da cruz. Todas os dias eu "martelava" no ouvido dos santos esse encargo. Usava toda oportunidade que surgia
para falar sobre a cruz. Esse foi meu modo de falar repetido e continuamente sobre o assunto da cruz com todos os
irmãos. Essa é uma boa prática, mas não devemos executá-la com excessiva rigidez.

Além da mais, devemos ter uma abordagem mais genérica ao enfatizar um encargo específico, de maneira que as outras
necessidades também sejam supridas. Uma igreja deve concentrar-se no ministério da palavra, mas também cuidar de
outros aspectos. Por exemplo, quando eu enfatizava a cruz no norte da China, meu falar também abrangia 0utras
necessidades. Devemos observar tudo e cuidar de todos os assuntos à medida que surgem. Precisamos cuidar dos
presbíteros, dos diáconos, dos que visitam e dos que receberam o encargo de pregar a evangelho. Se não cuidarmos de
todas as necessidades, a igreja em nossa cidade pode ser aperfeiçoada quanta a uma questão, porém estar em falta
quanta a outras. Por exemplo, se um irmão falar continuamente sobre a carne, negligenciando assim outras
necessidades, a reunião do partir do pão pode tornar-se árida porque todos estão preocupados com a carne. De modo
semelhante, a pregação do evangelho se interromperá parque todas só falarão da carne. Até mesma os serviços da igreja
podem tornar-se áridas. Portanto precisamos cuidar de todas as necessidades.

SUPRIR A PALAVRA EM REUNIÕES DE MUTUALIDADE

Existe outra necessidade da qual não cuidamos no passado. Devemos agarrar a oportunidade em todas as reuniões de
mutualidade com o fim de suprir os outros da palavra. Isso pode acontecer na reunião de oração, na reunião do partir do
pão e na reunião de comunhão. Em algumas cidades, não há ministração da palavra nas reuniões de oração. Em vez
disso, os santos cantam alguns hinos e oram um pouco. Depois disso a reunião é encerrada. Essa situação não é normal
nem apropriada.

Alguns dos que vêm à reunião de oração podem ser crentes novos, outros podem não saber orar e outros ainda podem
não estar com disposição para orar. Por isso, sem o ministério da palavra, a reunião será sem gosta e os santos perderão
o desejo de participar dela. Em outras reuniões de oração há falta no ministério da palavra e falta em se conduzir os
santos a orar. A reunião de oração é como um barco sem leme atirado de um lado para o outro pelo vento. Quando o
vento sopra do oriente, a reunião ruma em direção ao ocidente; quando o vento sopra do acidente, a reunião flutua em
direção ao oriente. Esse tipo de reunião não é atrativo, e depois de ocupar o tempo flutuando aqui e acolá, ela chega ao
fim. Reuniões assim não atraem as pessoas; além disso, é uma ofensa para o Senhor e para os irmãos.

Portanto em reuniões como o do partir do pão, a de oração e a de comunhão, deve haver provisão do ministério
da palavra. Os que servem não devem dormir tranqüilamente, mas sempre considerar como estimulá-las. As
reuniões devem ser estimuladas pelo ministério da palavra e pela condução dos santos a escolher os hinos, a orar, a
falar e o dar avisos. O coração dos irmãos deve ser estimulado e eles devem ser ajudados a abrir a boca um a um para
orar na reunião.

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Em específico, os que servem no ministério da palavra devem proferir algo em todas as reuniões de oração. Isso,
porém, jamais deve ser feito de forma rígida. Uma palavra deve também ser proferida na reunião do partir do pão, mas
não com rigidez. Precisamos ser flexíveis. Algo pode ser dito antes do partir do pão ou logo em seguida. Pode-se
inclusive compartilhar algo mais curto enquanto o pão e o cálice são passados. Devemos simplesmente seguir o fluir do
Espírito. Os que ministram a palavra devem estar preparados para proferir algo nas reuniões.

Com relação à reunião do partir do pão

Muitos crentes novos não têm muito conhecimento no que concerne à importância do partir do pão. Portanto precisamos
falar de forma contínua estimulando-os acerca desses assuntos. Porém, esse tipo de estímulo não deve ser educativo por
natureza. Podemos levar uma palavra de instrução nas reuniões de oração, mas não devemos fazer isso nas reuniões do
partir do pão. Essas reuniões diferem quanto ao seu centro de atenção e importância. Não deve haver nada que seja
educativo na reunião do partir do pão. Qualquer elemento educativo matará a reunião. Se percebermos a necessidade
de instrução, ela deve ser dada depois que o pão já tiver sido partido. Qualquer palavra proferida antes que o pão seja
partido ou enquanto é passado com o cálice não leve ser de caráter instrutivo; caso contrário, matará o Espírito.
Qualquer palavra de caráter educativo, seja para correção, instrução ou explicação, deve ser dada depois da reunião do
Partir do pão. Mas devemos evitar dar uma palavra educativa antes ou durante o partir do pão, porque distrairá do
Senhor a atenção dos santos. Devemos falar algo que introduza os santos no Senhor, em vez de tirá-los Dele.

Conduzir as pessoas a apreciar a doçura e a beleza do Senhor

Quando começamos a nos reunir no norte da China, a palavra era ministrada em todas as reuniões do partir do pão,
sempre para conduzir as pessoas a entrar na doçura, na glória e na beleza do Senhor. Certa ocasião, quando já prestes a
partir o pão, eu me levantei e compartilhei uma breve palavra concernente à doçura e ao amor do Senhor para com os
que O conhecem e O apreciam. Usei diversos trechos dos evangelhos a fim de mostrar que o Senhor foi ungido na
cabeça (Mt 26:6-7), nos pés (Lc 7:36-38), presenteado com incenso aromático e mirra por ocasião do nascimento (Mt 2:11)
e ungido com especiarias ao ser sepultado ao 19:39-(40). Por isso, da cabeça aos pés e do nascimento à morte, Ele é doce
e amoroso. Essa fala levou os irmãos a conhecer o Senhor de quem se lembravam.

Em outra reunião do partir do pão, eu li em Isaías 53:10-11: "Ele [ ... ] verá a sua posteridade e prolongará os seus dias;
[ ... ] Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito". A seguir continuei com um trecho de Salmos
17:15: "Quando acordar, eu me satisfarei com a tua semelhança". Esses dois textos falam de satisfação de dois lados.
Com palavras simples então expliquei: "Nossa reunião aqui é fruto do trabalho do Senhor, e Ele está satisfeito por nos
ver aqui. E não somente isso, quando nos achegamos à Sua mesa, somos como os que foram despertados do seu sono.
Ficamos zonzos no mundo, mas diante do pão e do cálice somos despertados. Somos despertados Nele, contemplamos
Sua face e somos satisfeitos. Essa é uma história de satisfação de dois lados: nós O satisfazemos e Ele nos satisfaz". A
seguir pedi um hino relacionado com esse tema. Tivemos muitas situações assim que não eram de caráter educativo,
mas continham quantidade considerável de instrução.

Em outra ocasião fiquei de pé e disse que o Senhor recebera um nome que está acima de todo nome (Fp 2:9). Então falei
por quinze minutos com respeito ao nome do Senhor, mostrando aos irmãos que somos salvos nesse nome, fomos
inseridos nesse nome, oramos nesse nome e vencemos Satanás por esse nome. Essa palavra introduziu os santos no
nome do Senhor. Depois disso todos fomos tocados enquanto cantávamos um hino relativo ao nome do Senhor.

Ainda em outra reunião do partir do pão falei a respeito do pão e do cálice. Foi uma mensagem simples, mostrando que
o pão é uma história de vida e o cálice, uma história de bênção. A vida do Senhor, simbolizada no pão, é para nosso
desfrute. Também o próprio Deus e tudo o que Ele é se tornaram nossa bênção no cálice. Numa mensagem anterior eu
concentrara a atenção no cálice e comecei a falar da importância do cálice de acordo com o Salmo 16:5, que diz: "O
Senhor é a porção [ ... do meu cálice". Um cálice representa a porção que devemos ter. Originalmente nossa porção era
o cálice da ira de Deus. Essa porção é o lago de fogo. Apocalipse 14:10 fala de um grupo de pessoas cuja porção é o
lago de fogo e enxofre. A porção que Deus preparou para eles é o lago de fogo, o cálice de Sua ira. Quando o Senhor foi
para a cruz, tomou o cálice da ira de Deus. Ele disse: "Não hei de beber o cálice que o Pai Me deu?" Mt 18:11). Ele
bebeu o cálice da ira por nós. Visto que o fogo da ira de Deus O queimava enquanto Ele estava na cruz, Ele disse estar
com sede. Isso corresponde às palavras do Senhor no Salmo 22:14-15: "Todos os meus ossos se desconjuntaram; meu
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coração fez-se como cera, derreteu-se dentro de mim. [ ... a língua se me apega ao céu da boca". Essa é a descrição da
sede do Senhor. Na cruz Seu sangue foi derramado, o qual se constitui em nosso cálice de salvação, e esse cálice
transborda de bênçãos.

À medida que nos lembramos Dele ao ver o cálice, precisamos conscientizar-nos de que por amor de nós Ele bebeu o
cálice da ira, o qual era a nossa porção. Então nos deu o cálice da salvação que transborda de bênçãos. Quando partimos
o pão para nos lembrar do Senhor, recebemos o cálice da bênção. Se falarmos sobre o pão e o cálice na reunião de
comunhão ou de oração, nossa palavra não atrairá a atenção das pessoas, mas, quando falarmos desses elementos na
reunião do partir do pão, nossa fala será muito atrativa.

Não devemos falar de forma educativa com relação à pessoa do Senhor Jesus e Sua obra na reunião do partir do
pão; em vez disso, devemos falar de modo simples, com amor. Devemos falar como quem conta uma história de
amor. Contamos como a pessoa que amamos é maravilhosa. Por exemplo, podemos ler um trecho de Cântico dos
Cânticos descrevendo-O como "alvo e rosado, o mais distinguido entre dez mil" (5:10). Podemos dizer em seguida algo
que se relacione com alvo e rosado. Devemos também destacar a beleza do Senhor e quanto Ele é amoroso, para que os
outros tenham Dele um conhecimento verdadeiro e doce. A reunião do partir do pão é para lembrar da obra do Senhor e
glorificar e exaltar Seu nome. Portanto podemos até mesmo dizer algo relacionado com Sua volta. Como a mesa do
Senhor implica Sua volta, essa palavra pode ser muito doce. Toda vez que comemos o pão e bebemos o cálice,
anunciamos a morte do Senhor até que Ele venha (1 Co 11:26). O Senhor disse que, depois que bebesse o cálice com os
discípulos, não beberia dele novamente até o dia em que o beberia novo no reino de Seu Pai (Mt 26:29). Uma breve
palavra pode introduzir os santos na questão da volta do Senhor. Enquanto O relembram, eles aguardam Seu retorno.
Uma palavra dada a partir de um coração repleto de sentimento pode estimular as pessoas.

A necessidade do suprimento mediante o ministério da palavra

Todo crente ama o Senhor. Quando seu amor pelo Senhor é estimulado, ele aguarda com anseio pela próxima reunião
do partir do pão. Se receber um antegozo e suprimento, com certeza irá querer voltar. Se todos fossem como o
apóstolo Paulo, não haveria necessidade de lhes estimular o coração. Todavia muitos santos são crentes novos,
que realmente precisam de ajuda e de ser supridos. Se vierem vez após vez à reunião, porém não souberem cantar
hinos e orar como os outros, só poderão ouvir os demais. Se ouvirem sempre as mesmas melodias, sentirão que
falta sabor à reunião e que ela é longa e entediante. Por vezes a reunião inteira é como uma pessoa idosa
descendo as escadas: leva as pessoas a suar frio e ninguém sabe o que fazer. Reuniões como essas não podem
elevar o espírito das pessoas nem satisfazê-las. Não podem fazê-las desejosas de pagar o preço de voltar.

Por isso, não podemos reclamar de nenhum declínio na freqüência das reuniões. Os que as conduzem, em
particular os que ministram a palavra, têm a maior responsabilidade. Precisamos ministrar a palavra em todas
as reuniões a fim de suprir e dar instruções aos santos. Por exemplo, depois que os novos crentes no norte da
China receberam ajuda com relação aos assuntos fundamentais por cinco anos, suas orações e louvores na
reunião do partir do pão eram capazes de conferir grande ajuda a outros novos crentes. Eles louvavam o Senhor
por Sua doçura e pelos frutos da Sua obra, declarando que estavam satisfeitos com Ele. Aqueles santos oravam:
"Senhor, Tu és tão doce. Da cabeça aos pés Tu és digno de ser ungido por nós. Senhor, do nascimento à morte Tu
és digno de ser ungido. Senhor, Tu estás satisfeito quando vês o fruto de Teu trabalho. Hoje estamos assentados
em Tua presença e satisfeitos ao olhar para Ti". Muitos se abriram quando ouviram orações como essa. Em
algumas orações há suprimento mediante a ministração da palavra. Orações repletas de luz podem resultar em
suprimento para os outros.

Se a reunião do partir do pão não supre as pessoas mediante o ministério da palavra, ela é muito
deficiente. Os novos crentes acharão que a reunião é sem sentido caso não ganhem muito nem ouçam qualquer
palavra com conteúdo espiritual. Não devemos apenas estar firmes na base apropriada, mas também estar numa
condição normal.

O serviço no ministério da palavra requer que se invista tempo de estudo

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Os que ministram a palavra devem passar um tempo diante do Senhor diariamente estudando como
ministrar a palavra na reunião do partir do pão. Nossa palavra nessas reuniões não é a mesma que a palavra
proferida do púlpito. Ela não deve ser educativa em natureza; antes, deve ser proferida com sentimento, levando
as pessoas a perceber a beleza do Senhor, apreciá-Lo, adorá-Lo e ser atraídas a Ele. Nossa fala não deve levá-las
a se esquecer do Senhor. Pelo contrário, deve levá-las a contemplá-Lo e entrar em Sua presença. Devemos falar a
respeito da obra e da pessoa do Senhor, Sua exaltação, Seu nome, Sua glória e Sua segunda vinda. Podemos até
dizer algo com relação a Seu poder, no entanto isso depende de como falamos. Devemos sempre falar com
ternura, mencionando que o amor de Deus é poderoso e Seu poder se manifesta em Seu amor. Essa palavra é
muito doce.

Se apenas dissermos que o poder do Senhor é grande, maior até do que a energia atômica, os irmãos podem
esquecer quanto Ele é amável. Por isso devemos considerar sobre como falamos. Podemos dizer: "O poder do
Senhor está em Seu amor. As mães amam os filhos, mas nem todas têm o poder de cuidar deles de forma
adequada. Mas o Senhor não é assim. Há poder em Seu amor e Seu poder se manifesta mediante o amor".
Quando falamos dessa forma, os santos percebem que o Senhor é tão amoroso quanto poderoso. São levados ao
Senhor e Sua intimidade. Além disso esse falar não interromperá o espírito de adoração dos santos.

Ao falar, precisamos atentar à atmosfera da reunião. Algumas vezes devemos falar logo no início da reunião
ou quando o pão e o cálice são passados. É extraordinário e muito significativo quando nossas palavras seguem o
pão à medida que é passado. Quando os irmãos passam o pão, falamos a respeito do pão; e depois que ele já foi
passado, podemos falar com relação ao cálice. Isso dará aos santos um doce sabor. Eles nem sentirão enquanto
falarmos; antes, perceberão uma atmosfera que os conduz à presença do Senhor. Pode ser que tenham a doce
sensação de que o Senhor derrama Seu sangue na presença deles e o fluir de Seu sangue é para que o bebam. O
suprimento fornecido por esse falar é repleto de sabor. Isso nos mostra que falar em nome do Senhor requer
considerável investimento em estudo.

O MINISTÉRIO DA PALAVRA REQUER TOTAL DEDICAÇÃO

Por essa razão, os que administram a igreja não podem ser simplistas. Devemos dedicar todo o nosso ser ao que
fazemos. Isso pode ser comparado a um experiente engenheiro que continuamente considera o projeto de um
edifício. Até mesmo quando dorme, ele pensa no projeto. Portanto não é algo simples desenvolver um projeto.
No entanto parece que consideramos nosso serviço como algo simples.

Por exemplo, os irmãos responsáveis de modo geral chegam à reunião do partir do pão na hora de iniciar. Não
ponderam sobre como conduzir a reunião antes de ela se iniciar. Nesse momento começam a pensar a respeito da
escolha de um hino, e um deles procura um hino, folheando o hinário página por página. Depois que o hino é
cantado, segue-se uma oração e outro hino é cantado. Essa situação dá aos santos a sensação de que os líderes
estão matando o tempo. Depois que o pão e o cálice são passados, um irmão pode então se levantar e dizer que
tem algo a compartilhar, mas como não investiu tempo para se preparar, ninguém entende o que ele diz.

Os responsáveis pelas reuniões não devem sentir-se em paz se os santos não são supridos na reunião do
partir do pão. Nem devem conseguir comer ou dormir. Devem sempre considerar sobre como melhorar a
reunião. Não devem conseguir dormir tranqüilos. Essa é a atitude apropriada de parte dos responsáveis pela
reunião.

Alguns reclamam que não há material suficiente para compor uma mensagem. Quando comecei a servir o
Senhor, não havia material algum nem pessoas para me ajudar. Na primeira reunião do partir do pão,
simplesmente partimos o pão. Mas, à medida que considerava sobre esse assunto, senti que deveríamos
abandonar as rotinas das denominações. Depois de considerar bastante, recebi entendimento e encontramos um
caminho para prosseguir. Passei longo tempo pesquisando, porque não tinha paz. Por exemplo, eu pensava: "A
reunião de oração deve ser feita dessa maneira? Quando cristãos se reúnem para orar, é assim que devem fazer?"
Se pensarmos dessa forma, creio que o Senhor nos mostrará o que devemos fazer.

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Os irmãos necessitam saber o significado da oração, pelo que orar e como orar numa reunião. Isso deve se dar
segundo a Bíblia. A seguir precisamos encontrar algo para lhes ministrar. Se fizermos isso, as reuniões de oração
irão mudar, e o número dos participantes irá crescer. Os santos terão prazer em vir à reunião de oração, porque
serão supridos. Esse assunto requer muita reflexão. Quanto mais nos empenharmos, mais vivas serão as reuniões
de oração.

COMISSÃO ESPECIAL PARA QUEM SERVE NO MINISTÉRIO DA PALAVRA

Os que servem no ministério da palavra devem estudar como ministrar a palavra na reunião do partir do pão e na
reunião de oração. Devemos ministrá-la na reunião de oração sem nos alongar ou matar o espírito de oração, e sem
interromper a disposição para orar. Pelo contrário, nossa palavra deve fortalecer e abrir o espírito de oração e ainda
estimular os outros a orar. É positivo se os que normalmente não oram queiram orar depois que proferimos a palavra.

Quando fui a Manila pela primeira vez, os irmãos temiam a reunião de oração e a reunião do partir do pão, embora
sejam as reuniões mais importantes da vida cristã. Por esse motivo, pedi aos irmãos responsáveis que fizessem uma
reunião do partir do pão à noite. Eles achavam que ninguém viria se a reunião fosse à noite. Empenhei-me para corrigi-
los e no fim a reunião do partir do pão teve a melhor freqüência até então. Atualmente o número de santos que
freqüentam a reunião do partir do pão em Manila é maior do que o dos que freqüentam a reunião do domingo de manhã.
Os santos dizem que é porque são supridos na reunião do partir do pão.

Infelizmente, não me foi possível trabalhar longo período lá. Por isso, o efeito de meu trabalho não se compara ao que
fizemos no norte da China. Obtivemos sucesso no norte da China porque trabalhamos por muitos anos e nos
concentramos em uma única igreja. Em Manila, porém, havia muitos assuntos para atender e não seria apropriado
assumir uma igreja e fazer a obra eu mesmo. Somente poderia trabalhar como conselheiro. A despeito desses motivos,
ainda houve melhoras.

Todos devemos praticar os assuntos já compartilhados. Não vamos dar atenção apenas à palavra a ser proferida no
domingo pela manhã. Temos de nos empenhar em levantar a reunião do partir do pão e elevar o nível da reunião
de oração. É preciso haver suprimento da palavra nessas reuniões. Devemos estudar como suprir uma palavra
específica. Precisamos escavar o ouro e encontrar os tesouros.

APRENDER A FAZER AJUSTES NA REUNIÃO

Além disso precisamos conduzir os santos a participar nas atividades das reuniões. Isso requer certa consideração. Por
exemplo, quando se deve escolher um hino? Quando e como devem ser dados os avisos? Quando todos devem levantar-
se para cantar e quando devem ajoelhar-se para cantar? Esses assuntos requerem cuidadosa consideração. Às vezes
ajoelhar para cantar poderá levantar a reunião, ou ficar de pé para cantar pode vivificar o espírito. Esse é um assunto
misterioso.

Não devemos ser legalistas com relação a ficar de pé ou sentado. Por vezes o modo de uma pessoa se levantar na
reunião é monótono. Se a criticarmos, porém, ela talvez não queira levantar-se de novo pelos próximos seis meses. Não
devemos ser rígidos. Às vezes nosso corpo precisa sentar-se, levantar-se, andar ou deitar-se. Por isso é preciso que haja
alguém que conduza as reuniões de forma apropriada e faça ajustes. Todavia os que fazem os ajustes não substituem os
irmãos; eles os ajudam. O Espírito Santo sempre se move por meio das pessoas. Se não houver quem faça esses ajustes,
talvez seja difícil elevar o espírito dos irmãos. Se o espírito for ajustado, poderá ser avivado. Por isso temos de aprender
a seguir o espírito.

Precisamos aprender a ajustar e elevar a reunião de oração e a do partir do pão. Isso se aplica à reunião de
comunhão e também às demais. Somos responsáveis por suprir os irmãos de palavra. Em outras palavras, sempre
deve haver alguém que siga o Espírito Santo para ajustar as reuniões. Deve haver também breve ministração da
palavra para ajudar os santos. Depois de participar dessa reunião, os santos terão desejo de voltar. Desde que
queiram achegar-se ao Senhor e sejam capazes de receber suprimento espiritual nas reuniões, desejarão vir.
Espero que os irmãos dêem a devida atenção a esse assunto.

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CAPÍTULO DOZE
A PALAVRA SERVE PARA SUPRIR E A ADMINISTRAÇÃO SERVE PARA EDIFICAR
AO PREGAR MENSAGENS DEVEMOS CUIDAR DE NECESSIDADES PRÁTICAS,
E NÃO DE PROFUNDIDADE

No capítulo anterior consideramos a necessidade de estudar o uso do ministério da palavra para elevar as reuniões
da igreja. É preciso acrescentar que o ministério da palavra deve ser vivo e prático; não depende de assuntos
elevados nem de conteúdo profundo. Não devemos pensar que temas como a regeneração e como lidar com o
pecado são muito superficiais apenas porque alguém já falou sobre eles. Esse é um conceito muito equivocado. O
ministério da palavra depende da necessidade. Se alguém necessita ouvir uma mensagem sobre a regeneração,
devemos transmitir uma mensagem viva a esse respeito. Creio que até o apóstolo Paulo às vezes gostava de ouvir
outros pregando o evangelho. É provável que fosse suprido quando pregavam o evangelho, porque suas
pregações eram vivas.

Alguns consideram difícil pregar uma mensagem na igreja em Taipé, porque os santos já ouviram boas e
elevadas mensagens nas conferências. Pensam que se a palavra for sobre um assunto comum, os santos já a
ouviram. Mas, se a palavra for sobre um assunto elevado, os santos não conseguem atingir o padrão. Ao
ministrar a palavra, o conteúdo não deve ser elevado demais. É errado ir às "alturas" para encontrar um
caminho. Não é normal andar em cima dos telhados. Os que tentam andar em cima de telhados procuram
encrenca. Antes, devemos sempre procurar um caminho claro e desobstruído ao andar, e como não há obstruções
esse caminho pode ser tomado repetidas vezes. Por isso não devemos recear temas antigos, e sim velhas formas
de expressão e velhas maneiras de falar o assunto. O tema pode ser o mesmo, entretanto precisa de várias
maneiras de apresentação para que se torne vivo. Não há benefício algum no esforço por pregar mensagens
elevadas. Devemos crer que entre os ministros levantados por Deus na igreja, alguns funcionarão para suprir a
igreja de coisas novas e originais, e outros não.

Os irmãos não necessitam de palavras profundas para ser supridos; só precisam de palavras simples. Pessoas são
salvas todos os dias e devem aprender a se consagrar. Os que já se consagraram, porém, precisam renovar a
consagração. Portanto não devemos necessariamente dar mensagens elevadas. Precisamos esforçar-nos para
receber um encargo do Senhor. Devemos apegar-nos a esse princípio. Precisamos conhecer a necessidade dos
irmãos. Em vez de nos preocupar se uma mensagem é superficial ou profunda, devemos ocupar-nos da genuína
necessidade da igreja. A mensagem proferida em reuniões regulares é sempre diferente da palavra proferida nas
conferências. As conferências apresentam mensagens em momentos específicos para semear a necessidade da
igreja no íntimo dos santos. Eles precisam digerir essas mensagens. A palavra no domingo, contudo, é para
atender às necessidades gerais dos irmãos. Por isso, não há necessidade de pensar se uma mensagem é superficial
ou profunda nem de se preocupar se já foi pregada por outras pessoas. Nossa única preocupação deve ser se ela
supre as necessidades dos irmãos. Para que isso ocorra, nossas palavras precisam ser vivas.

Jamais devemos recear que um tema comum seja muito superficial para os santos. Na realidade, não existe isso.
Até mesmo uma mensagem "superficial" pode ministrar coisas profundas às pessoas. Em 1942 um irmão que
congregava em certa denominação vinha com freqüência a nossas reuniões com o intuito de ouvir as mensagens
de evangelho. Apesar de a pregação do evangelho ser muito simples, pela qual os incrédulos são salvos, esse
irmão acabou se voltando para a base da igreja em razão delas. Os que são responsáveis pelo ministério da
palavra precisam sofrer mudança conceitual. Não devemos considerar se um tema é profundo ou simples, ou se
outros já falaram a respeito dele. Em vez de nos preocupar com essas questões, devemos receber um encargo para
saber exatamente o que os santos necessitam. Uma vez recebido esse encargo, precisamos estudar para encontrar
um modo vivo de apresentá-lo. Isso não significa que nossas palavras precisam ser cheias de vivacidade,
eloqüência ou persuasivas, e sim que devemos falar palavras de vida, que toquem, movam e elevem o espírito dos
santos e os convençam em seu espírito, libertando-os assim. É aí que devemos investir nossa energia e esforços.

Por isso precisamos orar com fervor: "Senhor, hoje vou falar sobre regeneração. Dá-me uma palavra nova e cheia
de vida". Nosso falar deve ser tal que até o apóstolo Paulo diria que foi tocado. Ela deve dar até mesmo aos
crentes experientes um suprimento novo e fresco, tão refrescante quanto o orvalho da manhã. Embora a

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regeneração seja um tema "velho" já fala do tantas vezes, ainda devemos dar ao espírito das pessoas um novo
suprimento desse tema. Isso é a palavra viva.

O MINISTÉRIO DA PALAVRA
TEM UM PONTO PRINCIPAL E SUPRE OS SANTOS

Como responsáveis pelo ministério da palavra nas igrejas, precisamos aprender a ter um ponto principal e ao
mesmo tempo ser capazes de suprir a palavra em todos os aspectos. Ninguém pode dizer que a única coisa que
sabe fazer é pregar o evangelho. Devemos descobrir como conduzir os responsáveis pelas reuniões nas casas e
grupos pequenos. Precisamos buscar ter uma palavra para eles e uma palavra para suprir todas as necessidades dos
santos.

Estamos centrados no ministério da palavra. Podemos falar sobre Cristo, o Filho de Deus, a cruz, como lidar com
a carne e outros temas que suprem os santos. Porém necessitamos também de palavras que cuidem dos que
servem. Ainda que a palavra numa igreja possa ter Cristo, o Filho de Deus, a cruz e como lidar com a carne como
centro de atenção, existe a necessidade também de se falar sobre outros aspectos. Por exemplo, se comermos filé
de manhã e à noite, cedo ou tarde teremos problemas. Assim como os seres humanos necessitam ser nutridos de
diferentes elementos, todos necessitamos de toda sorte de alimento. E não somente isso, como também os chineses
do norte apreciam alho, e os ocidentais gostam de café. Alguns gostam de molho de soja e outros preferem vinagre
nas refeições. Precisamos aprender a suprir as diversas necessidades dos santos; caso contrário, conhecerão apenas
uma verdade e perderão o equilíbrio. Assim a igreja sofrerá grande perda.

Quando os irmãos são fortes num aspecto, mas fracos em outros, é difícil a igreja se desenvolver. Podemos falar
do mesmo ponto se ministramos a mais de uma igreja. Se eu ficar em Tainan por dois meses, posso concentrar-
me em servir aos santos o assunto de como lidar com a carne. Se então vou para Taichung pelos dois meses
seguintes, posso servir aos santos a mesma coisa. Isso é aceitável, porque toda igreja necessita aprender a lidar
com a carne. No entanto não será aceitável ficar numa única cidade e falar todos os anos a respeito de lidar com a
carne. Isso fará com que a igreja se torne desequilibrada.

Portanto os que ministram a palavra precisam aprender a ser versáteis. Isso se compara a um militar capaz de
cuidar de questões financeiras e um financista capaz de cuidar também de assuntos educacionais. Um economista
que só se especializa em sua área e não conhece nada a respeito de assuntos militares não pode liderar um
exército. O general Tseng Kuo-fan era escritor, mas foi capaz de derrubar o comando rebelde conhecido como
Reino Celestial da Paz. Ele combinou táticas militares com sua experiência política e desse modo obteve sucesso e
alcançou a vitória. Por isso ninguém deve dizer que só pode falar sobre a cruz e se especializar em lidar com a
carne.

Os que enfatizam a questão de lidar com a carne devem aprender a pregar o evangelho e ensinar os irmãos a
proceder nas reuniões. Precisamos ser multifacetados; caso contrário, a igreja ficará desequilibrada. Uma boa dona
de casa sabe preparar vários pratos. Apesar de cenoura fazer muito bem, ela não serve apenas cenoura todos os
dias. De semelhante modo, nós também não devemos falar sobre como lidar com a carne em todas as reuniões.
Devemos falar sobre oração na reunião de oração, sobre adoração no partir do pão, sobre servir na reunião de
comunhão e sobre responsabilidade num grupo pequeno de santos que têm muitos encargos no serviço. Em todas
essas várias reuniões o ministério da palavra é suplementar. O centro de atenção pode ser como lidar com a
carne e conhecer a Cristo, porém ainda é necessário suprir a palavra em outros aspectos.

A igreja não deve receber mensagens suplementares sem que receba mensagens centrais. Precisamos cuidar de
ambas. Esse princípio se aplica à Bíblia. Nenhum de seus livros abrange um único assunto. Por exemplo, embora
Romanos se concentre na justificação pela fé, também traz uma saudação no início, uma bênção no fim e muitos
outros aspectos da verdade, como apresentar o corpo e acolher os santos. Esses aspectos nada têm a ver com a
justificação pela fé, a mensagem central, mas estão ligados a ela. Efésios é profundo, porém inclui tópicos
relacionados com honrar os pais, submissão ao marido, amor à esposa, a não deixar o sol se pôr sobre a ira e não
roubar mais (6:1; 5:22, 25, 33; 4:26, 28). Esse livro se concentra na igreja como o Corpo de Cristo, a plenitude
Daquele que a tudo enche em todas as coisas (1:23), no entanto há muitos outros temas suplementares.
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Na igreja edificamos o Corpo de Cristo; por isso nos concentramos em ajudar as pessoas a conhecer o Cristo
todo-inclusivo, a cruz e como lidar com a carne. Porém nossa fala deve suprir também as várias outras
necessidades dos santos. Às vezes existe a necessidade prática de uma palavra de consolo ou sobre sofrimento,
apesar de não ser tão importante quanto a mensagem central. Por exemplo, depois de orar na reunião de oração
por uma família que passava por provações e alguns irmãos desempregados ou doentes, usei os dez minutos
restantes para falar a respeito de sofrimentos e provações. Isso trouxe consolo e encorajamento para os ouvintes.
Depois compartilharam essas palavras com a família de forma que a família inteira foi encorajada e fortalecida.

Isso mostra que o ministério da palavra deve ser vivo e multifacetado. Não devemos pensar jamais que após
pregar uma mensagem no domingo nosso encargo terminou e assim podemos relaxar até quinta à noite quando,
então, vamos "para a cruz" mais uma vez ao falar. Isso é inadmissível. Precisamos aprender a ser versáteis para
atender a todas as necessidades. Pode ser que não tenhamos considerado falar sobre aflições, mas, ao ouvir as
orações dos irmãos na reunião de oração e ver as lágrimas derramadas pelo sofrimento e tristeza da família,
acabamos percebendo que existe uma necessidade. Como resultado, depois da reunião de oração devemos
levantar-nos e compartilhar algo segundo nossa inspiração. Essa inspiração resulta do exercício diário. O Espírito
de Deus não se move em pedras; portanto versículos ou mensagens relativos a sofrimento precisam fazer parte de
nossa constituição. Então, quando sentirmos no espírito que os irmãos necessitam dessa palavra, seremos capazes
de oferecer-lhes consolo, força e instrução em meio aos sofrimentos. Isso requer muita preparação.

Ninguém se torna ator, cantor ou músico famoso da noite para o dia. É preciso que se dedique de todo o seu ser
para se tornar famoso ou ter sucesso. Um ator deve estudar como falar e rir. Precisa aprender a rir para
sensibilizar os outros. Então, quando ele rir no palco, a platéia será tocada pelo mesmo sentimento e rirá junto.
Quando chorar no palco, a platéia também se comoverá a ponto de chorar. No entanto essa habilidade não se
adquire num mês. Ele precisa gastar tempo todos os dias estudando, praticando e aprendendo com os melhores
atores do passado e do presente. Ele precisa aprender com eles e acrescentar as próprias idéias a fim de produzir
algo novo. Desse modo poderá criar um estilo próprio exclusivo.

Não estou encorajando ninguém a se tornar um grande mestre; antes, meu desejo é que nos empenhemos em
fazer nossa obra de maneira respeitável. Jamais devemos pensar que, visto que nossas verdades são tão valiosas,
já temos conteúdo suficiente para as próximas cento e quatro semanas. Se pensarmos desse modo, acabaremos
sendo desleixados e mecânicos. Em vez disso devemos investir tempo todos os dias a considerar e estudar a
condição dos irmãos e a situação da igreja. Não devemos meramente copiar as mensagens que nos foram
transmitidas por terceiros sem estudá-las. Se nos empenharmos no estudo, vamos exercitar o espírito, receber
encargo e ministrar às pessoas segundo suas necessidades. Quando exercitarmos o espírito numa reunião de
casamento, conheceremos a necessidade do casal e diremos uma palavra que a preencha. Numa reunião em
memória de alguém, saberemos se a família necessita de consolo ou encorajamento e, assim, a supriremos de
acordo. Esse exercício requer muito preparo.

Nosso ministério da palavra precisa ter um foco central e nós precisamos ser versáteis. Precisamos aprender a
ministrar a palavra para atender a diferentes necessidades. Não devemos considerar isso algo fácil de fazer.
Sempre que ministramos precisamos ter um foco e também estar atentos às várias necessidades, procurando
supri-Ias. De outro modo nosso ministério será desequilibrado e a igreja enfrentará grandes perdas. Como a
maioria dos colaboradores permanece num único lugar, cuidando de uma só cidade, o ministério da palavra
precisa abranger muitos aspectos, senão a igreja sofrerá perdas.

O MODO DE FALAR NECESSITA SER ADEQUADO E APROPRIADO

Os que transmitem a palavra precisam atentar também para o modo de falar. Isso diz respeito à postura e
está relacionado com o temperamento. É claro que não damos atenção a coisas externas, no entanto a maneira de
falar pode afetar em grande medida a palavra que transmitimos. É possível que nossa postura reduza o peso da
mensagem. Por exemplo, gesticular demais com as mãos pode causar distrações e, portanto, deve ser corrigido.
Podemos corrigir esse erro praticando nossa fala em frente ao espelho. Então conseguiremos corrigir-nos.

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Um obreiro do Senhor não deve fingir; porém todo obreiro deve manter postura apropriada. Postura refere-se à
maneira de falar. A primeira lição que um diplomata deve aprender é com relação à postura. Ele não pode portar-
se como criança num evento importante. Até mesmo um atleta mantém a postura apropriada. Ele tem um modo
próprio de se portar, seja quando anda ou corre. Quando um atleta se levanta, porta-se de tal forma que os outros
o reconhecem como tal.

Um obreiro jamais deve fingir, porém ser genuíno. Não obstante, precisamos portar-nos de maneira apropriada.
As irmãs devem portar-se de modo apropriado para uma irmã. Esse modo difere do modo dos irmãos. Os idosos
devem ter conduta que lhes seja apropriada. O mesmo se aplica aos mais novos. Alguns presbíteros são
descuidados quando entram em contato com os santos; não mantêm a conduta apropriada. Um presbítero não
deve conduzir-se como burocrata, mostrando-se especial e superior aos outros; deve, antes, comportar-se de
modo conveniente. Deve ser sincero, despretensioso e simples, e não presunçoso. Ao mesmo tempo, não deve ser
leviano ou desleixado. As pessoas devem perceber que ele tem peso, é sério e sua conduta é de presbítero. Essas
qualidades se relacionam com os antecedentes históricos da pessoa, sua disposição natural, educação, ambiente e
família.

Todo diplomata precisa aprender três importantes lições: em primeiro lugar, a conduta apropriada. A seguir
precisa aprimorar sua aptidão com o idioma. Um diplomata precisa ser bom com as palavras. Precisa ser capaz de
virar qualquer situação a seu favor com poucas palavras. Somos todos embaixadores do reino de Deus,
diplomatas, que interagem com o reino do diabo na terra todos os dias. Já tivemos a experiência de mudar os que
se opunham a nós com apenas algumas palavras. Eles até mesmo receberam o Senhor depois de algumas palavras,
apesar de inicialmente não terem nenhum desejo com relação a Ele. Portanto a segunda coisa que um diplomata
precisa aprender é falar.

Em terceiro lugar, um diplomata precisa aprender a ser magnânimo. Uma pessoa magnânima não deixa que os
outros necessariamente saibam quando ela está feliz ou triste. Uma pessoa magnânima sempre permite que os
outros se retraiam. Por exemplo, quando é ofendido, ele não fica logo irado. Em vez disso, exerce sua
magnanimidade retraindo-se e considerando a situação para ver se tem base para dar uma resposta clara. Não se
zanga logo depois de ofendido nem se dispõe a fazer coisas para os outros com base em seu estado de humor. Um
diplomata magnânimo sempre consulta muitos especialistas, como conselheiros, supervisores, secretários e
consultores a fim de examinar as vantagens e desvantagens de determinada situação antes de responder.

Quem não é capaz de aprender essas três questões não pode ser bom diplomata mesmo que tenha muito
conhecimento. O conhecimento é secundário para ele. A questão mais importante é sua conduta. A seguir deve
possuir habilidade de falar e de ser magnânimo. Quando provocado ele não perde o controle emocional e quando é
elogiado não se sente obrigado aos outros. Todos os que servem devem aprender essas três lições. É
completamente impróprio perder o controle quando nos sentimos ofendidos por algum irmão. E também não é
apropriado concordar prontamente com o pedido de um irmão sempre que ele nos for favorável.

Precisamos dar atenção ao modo de nos portar quando contatamos os outros e ministramos a palavra. Nesses
aspectos é muito difícil que outros nos corrijam. É melhor ir diante do espelho, fazer uma auto-observação e
nos corrigir no que for necessário. Por exemplo, um irmão franze a testa, com uma sobrancelha erguida bem alta
e a outra abaixada, sempre que se levanta para falar. A seguir balança a cabeça duas vezes antes de pronunciar a
primeira frase. Ele já faz isso há mais de vinte anos e nunca mudou sua postura ao falar. Há outro que sempre fica
nervoso e agitado ao receber estrangeiros. Apesar de afetuosa, sua conduta é inconveniente. É possível permanecer
tranqüilo e agir de forma digna quando cumprimentamos alguém. Se não nos portamos de modo conveniente,
causamos má impressão.

Além do mais não devemos todos ter a mesma postura quando falamos. Por exemplo, havia um pregador que
usava uma toga e não se movia muito ao falar, no entanto quando abria a boca para dizer: "Deus amou o mundo de
tal maneira", era algo poderoso e comovente. Outro pregador costumava descer correndo da plataforma de onde
pregava, atravessar o salão de reuniões e então voltava para o lugar de onde saíra. Ele chorava e dava risadas,
gritava e berrava, ajoelhava-se e deitava no chão. Às vezes imitava o jeito de andar e falar de algumas mulheres
para mostrar como isso era inconveniente. As pessoas de modo geral achavam difícil aceitar o modo como se
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comportava, mas depois de ouvir sua mensagem, eram conquistadas e acabavam convencidas de que seu
comportamento estava certo; que não era inconveniente. Portanto todos os que ministram a palavra têm um jeito
próprio de se conduzir.

A questão da postura é um problema para praticamente todos. Dez anos atrás houve um irmão que ficava o tempo
todo erguendo as calças enquanto falava. Outro irmão não percebia que seu cinto estava dobrado toda vez que
terminava de falar. Ainda outro gostava de segurar a gravata enquanto falava. Embora não sejam questões
importantes, podem afetar nossa pregação da palavra. Um irmão que gosta de franzir as sobrancelhas não deveria
falar num casamento ou reunião em memória de alguém. Casamentos são ocasiões de alegria e sua testa franzida
não seria apropriada. Do mesmo modo, as pessoas já estão bem tristes numa reunião em memória de um ente
querido, e não precisam de seu franzir. Na verdade seria inadequado essa pessoa falar em qualquer ocasião.

Alguns sempre se portam de maneira apropriada. Numa ocasião de alegria, sua fala é adequada mesmo que não
falem sobre felicidade propriamente dita. Quando falam numa reunião em memória de alguém, os parentes do
falecido são consolados grandemente. Talvez eles não falem muito, mas sua postura tem grande peso.

Por certo tempo, eu pensava que o irmão Nee era espiritual demais para prestar atenção a questões pequenas como
a aparência. Certo dia, porém, enquanto me ensinava a compor hinos em chinês utilizando tipos, ele disse que se
imprimíssemos os hinos no sentido horizontal seria menos eficaz para tocar as pessoas, mas se os imprimíssemos
na vertical causaria impacto maior. Nós então compusemos um hino na horizontal e na vertical. Quando lemos e
cantamos o hino nos dois sentidos, descobrimos que de fato havia diferença. Como seres humanos somos
afetados por muitas coisas. A habilidade de tocar as pessoas é basicamente uma obra do Espírito Santo;
entretanto certas coisas podem frustrar essa obra. Ler algo composto no sentido horizontal pode frustrar essa
obra, enquanto ler a mesma coisa na vertical pode contribuir para ela. De igual forma, a postura apropriada não só
elimina a resistência das pessoas para com o Espírito Santo, como também colabora em Sua obra. Se for
imprópria, nossa postura se tornará motivo de resistência ao Espírito Santo. Por vezes nossa conduta imprópria
pode anular por completo o impacto de nossa fala. Quando as pessoas não gostam de nossa atitude, não
prestam atenção ao que dizemos; seu coração se fecha e elas não conseguem absorver nada da mensagem.

Além disso os mais jovens jamais devem comportar-se como idosos. Devem ser espontâneos e naturais, mantendo
uma conduta apropriada e distinta. Devemos ser loucos diante de Deus e sóbrios diante dos homens (2 Co 5:13).
Todavia ser ajuizado diante dos pais é diferente de ser ajuizado diante dos filhos. Mesmo permanecendo sóbrios
nos dois contextos, nosso comportamento será diferente. Ser sóbrio diante dos pais expressa certo tipo de conduta,
porém a conduta diante dos filhos será diferente. Precisamos estudar esse assunto.

A ADMINISTRAÇÃO DA IGREJA É PRINCIPALMENTE PARA A EDIFICAÇÃO

Na administração da igreja, há um assunto que tem sido negligenciado por todas as igrejas. Em nosso
entendimento, a administração da igreja está relacionada com assuntos administrativos e financeiros. Alguns
podem até entender que administração implica administrar ou gerenciar pessoas. Embora isso não esteja
totalmente errado, não é o verdadeiro significado da administração da igreja. A administração da igreja tem por
finalidade principal a edificação dos crentes coletiva e não individualmente. A administração da igreja é
principalmente para edificar muitos indivíduos juntos como um só. Onde não há administração, não há
edificação, mas se existe administração, existe também a necessidade de se edificar as pessoas juntas, unidas
como um só Corpo.

Como realizar a administração para que haja a edificação? Os doze presbíteros da igreja em Taipé podem
organizar-se para ter vinte e oito irmãos responsáveis pelas reuniões de grupos. Em certa medida, tal organização
está centrada na edificação, em especial se houver irmãos que amam o Senhor e buscam espiritualidade, porém
não agem de forma coordenada entre si. Para haver coordenação de forma prática, é preciso haver a administração
da igreja. No entanto os presbíteros não devem parar na designação de irmãos responsáveis que se
responsabilizem pelas reuniões nas casas. Essa administração possui, de forma muito clara, a natureza da
edificação, mas eles devem seguir em frente.

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Os presbíteros podem observar que um irmão escolhido para ser responsável por um grupo tem problemas que
precisam ser resolvidos, ou não terá condições de assumir responsabilidades junto aos outros no futuro. Os
presbíteros devem passar algum tempo considerando esse irmão, orando por ele e compartilhando com ele. Devem
continuar em oração e compartilhando até que sejam capazes de falar com ele com respeito aos problemas. Se ele
acolher o compartilhar, os problemas serão removidos, e não haverá nenhum problema quando se coordenar com
outros para a reunião de grupo. Isso é edificação.

Isso se compara a construir com pedras. Para que uma pedra fique sobre a outra, a de baixo precisa ter superfície
plana. Qualquer aresta da pedra precisará ser continuamente trabalhada, até que outra pedra possa ser colocada
sobre ela em segurança. Isso demonstra que edificar envolve mais do que colocar uma pedra sobre outra. Envolve
também a remoção de arestas de determinada pedra para ela ser edificada sobre outra. Esse é o sentido da
administração. Quando os que administram a igreja percebem que um irmão que poderia assumir
responsabilidades tem alguma falta, devem preenchê-la por ele.

Isso também se compara a procurar pedras para a edificação de uma casa. Uma pedra adequada pode ter uma
saliência que necessita ser trabalhada, assim poderá ser edificada sobre outras com segurança.

Também pode acontecer de um irmão responsável não saber falar muito bem e não estar apto para ministrar a
palavra, no entanto sua administração na reunião ainda ter o gosto da edificação. Ele observa os irmãos e sabe
quando estão prontos para assumir responsabilidades ou necessitam de treinamento. Por fim os santos em sua
reunião serão capazes de assumir responsabilidades. Isso é edificação e também administração. Portanto os
presbíteros devem passar um quarto do tempo de reunião resolvendo questões administrativas e financeiras e três
quartos tratando da condição dos irmãos. Não devem fazer fofocas sobre pontos fortes e fracos dos santos. Antes,
devem estudar os santos a fim de saber se cumprem suas tarefas ou têm problemas. Um irmão pode parecer muito
útil, no entanto está com problema. De igual modo, outro irmão pode ser capaz de ministrar a palavra, porém não
está maduro o suficiente para ser diácono. Por conseguinte os presbíteros devem considerar qual é a melhor
maneira de ajudá-los. Um dos presbíteros pode ser incumbido de passar seis meses com eles para que sejam
aperfeiçoados e continuem trabalhando no ministério da palavra. Esse tipo de administração da igreja tem valor e
é importante. A administração não cuida apenas de questões administrativas e contábeis, mas serve para edificar
os crentes.

Infelizmente nossa administração da igreja ainda está em falta. Quando um dos santos tem problema, os
presbíteros devem estudar sua situação e cuidar dela de acordo com a edificação. Se o problema não for cuidado
de maneira apropriada, outros santos também terão problemas e a edificação será frustrada.

Quando eu era responsável numa igreja no norte da China, fizemos muito quanto ao aspecto de administrar a
igreja. Ofertas materiais também estavam a cargo da administração da igreja. Não dávamos ofertas de maneira
indiscriminada. A oferta era feita sob a direção da administração da igreja, garantindo assim que o objeto da oferta
seria de fato beneficiado por ela. A forma de conceder ajuda a um irmão necessitado é parte da administração. É
isso que presbíteros devem fazer. Presbíteros são pastores, mestres e administradores. Essas três funções estão
inter-relacionadas e não devem ser separadas. Alguns são bons em lidar com questões administrativas e finanças, e
outros em aperfeiçoar os santos. Entretanto os presbíteros não devem trabalhar separados; devem agir de forma
coordenada, juntos, como uma só pessoa, para observar todos os lados de cada situação. Quando a maior parte
do tempo e da energia na reunião dos presbíteros, que é para a administração da igreja, é passado em
questões administrativas, a igreja sofre perda, porque as necessidades espirituais dos santos não são
tocadas. Quando a administração da igreja não toca no espírito dos santos, a igreja perde.

Três quartos do tempo e da energia da reunião dos presbíteros devem ser gastos no cuidado da situação espiritual
dos santos. Não podemos passar sem o aspecto gerencial da administração da igreja, contudo precisamos de mais
prática sobre quanto tempo dedicar a isso. Administrar as necessidades espirituais dos santos requer muito maior
esforço e tempo do que o mero gerenciamento de questões administrativas e contábeis. Requer nossa paciência,
sabedoria, disposição e energia para fazer tudo em amor e não segundo as afeições naturais. Isso pode ser
comparado à relação entre médico e paciente. O médico prescreve o que o paciente necessita em amor. Quando o
paciente necessita de remédio, ele prescreve remédio, se necessita ser operado, ele opera. Portanto na
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administração da igreja os presbíteros devem aprender a ser suaves, duros, rápidos e devagar. Devem agir com
equilíbrio em todas as situações. Não devem lidar com toda situação da mesma maneira. Uma situação pode
requerer severidade e outra brandura. Todas essas situações requerem aprendizado.

Levar as pessoas à salvação não requer muito aprendizado. De igual modo, instruí-las também não requer muito
aprendizado. Todavia, se desejamos administrar a igreja e ministrar a palavra para edificar os filhos de
Deus, para a manifestação da habitação de Deus e o funcionamento do Corpo de Cristo, precisamos
aprender muitas lições. Sem aprender as lições, podemos salvar pecadores e aperfeiçoar os santos, mas ser
incapazes de edificá-los para que sejam o Corpo de Cristo, a habitação de Deus. É possível até mesmo que nós
próprios não sejamos edificados. Se é esse o caso, podemos servir como presbíteros ou no ministério da palavra,
mas nossa administração da igreja e ministério da palavra só levarão os santos a amar o Senhor com fervor e ser
espirituais de forma individual. Não poderá edificá-los juntos para ser cheios da presença de Deus no íntimo e de
Sua autoridade externamente, de modo que se tornem Sua habitação, o Corpo de Cristo, o desejo divino. Se nos
empenharmos em executar a administração da igreja de forma apropriada, o poder e eficácia de nosso evangelho
aumentarão e a eficácia de nossa instrução aos santos também.

A IGREJA EDIFICADA APRESSA A VOLTA DO SENHOR

A bênção de Deus está no Corpo, em Sua morada. Esta é a era da graça. Deus concede graça a todos os crentes
inclusive aos católicos. Ele faz Seu sol nascer sobre maus e bons, e envia chuva sobre justos e injustos (Mt 5:45);
isso é graça. No entanto não podemos afirmar que os crentes que estão no catolicismo podem satisfazer o desejo e a
necessidade do coração de Deus nesta era. Seguindo o mesmo princípio, podemos salvar muitas pessoas e aperfeiçoá-las
para ser espirituais, porém isso não pode satisfazer o desejo do coração de Deus. O desejo de Seu coração é obter um
Corpo edificado na presente era. É isso o que Ele está realizando.

Se os escolhidos de Deus ainda não estão edificados, necessitam sê-lo algum dia. Não existem crentes dispersos no
novo céu e nova terra. Antes, todos eles estão edificados juntos como uma cidade, na qual os fundamentos e os muros
são pedras preciosas, e as portas são pérolas. Não devemos esperar pelo futuro para ser edificados. Talvez não saibamos
ser edificados, porém Deus quer que Seus crentes o sejam. Ele nos diz de forma clara que depois de salvos devemos ser
edificados. Somos a casa edificada por Deus (Ef 2:22j 1 Pe 2:5). Deus concede diferentes dons para a edificação do
Corpo (Ef 4: 11-12). Se desejamos com sinceridade os dons, devemos desejar o dom de edificar a igreja. Deus deseja
uma morada, um Corpo, contudo encontrou muitas dificuldades nos últimos dois mil anos. Não é difícil conduzir as
pessoas à salvação nem ajudá-las a ser espirituais. Entretanto é realmente difícil edificar um grupo de pessoas como um
só Corpo espiritual, uma habitação corporativa. Por esse motivo não houve muita edificação na história da igreja.

O irmão T. Austin-Sparks perguntou-me certa vez qual era minha percepção acerca da segunda vinda do Senhor.
Respondi que minha percepção interior era de que a volta do Senhor ainda não estava próxima. De acordo com
Apocalipse 14:15, a seara da terra necessita amadurecer para ser colhida. A seara madura e sua iminente ceifa se
referem à colheita do Senhor de Seus crentes maduros quando de Sua vinda. No entanto o povo de Deus, Sua seara, não
está maduro. Há somente brotos tenros. O Senhor da seara não pode voltar quando ainda não há nada para colher.

Esse assunto envolve o arrebatamento dos crentes e a maturidade de vida. Se a igreja perseguir a edificação com afinco,
os crentes amadurecerão mais cedo, e o Senhor da seara poderá retomar para ceifá-la. Quem cultiva arroz sabe que
todos gostam de colher mais cedo se o arroz já está maduro. No entanto, se os campos ainda estão verdes, não existe
como fazer a colheita.

Há dois mil anos o Senhor disse: "Eis que venho sem demora" (22:7, 12). Ele deseja retornar, contudo a seara da terra
não está madura. Como poderia voltar antes de a seara amadurecer? Apocalipse 14:15 não depende de um cronograma
depende de vida. Quanto mais rápido nossa vida amadurecer, mais cedo Ele virá. Se precisarmos de mais tempo para
amadurecer em vida, Ele voltará mais tarde. Do ponto de vista da maturidade em vida, a igreja está repleta de campos
ainda verdes e até mesmo desolados. Visto que não existe edificação, os que foram iluminados irão chorar sobre a
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situação de desolação, pois não conseguirão regozijar-se. O que nos faz ainda mais tristes é a condição da igreja com
relação à edificação. Choramos dia após dia por esse motivo, porque ninguém fala a respeito da edificação da igreja e
não há muita edificação entre nós. É claro que devemos dar atenção à propagação da obra, mas devemos dar maior
atenção ainda à edificação. De outro modo, o Senhor não terá caminho e nossa obra não terá caminho. Se não temos
caminho, os santos também não têm.

Chegou a hora em que precisamos com urgência de edificação. Como participamos da obra do Senhor, em tudo o que
fazemos, seja na administração da igreja, no ministério da palavra ou na visitação dos santos, devemos agarrar-nos ao
princípio de que nossa obra deve resultar na edificação dos crentes. Devemos ser capazes de edificá-los um a um como
parte do Corpo de Cristo, um vaso corporativo de Deus na terra. Deus

deseja um vaso corporativo, e não individual. Se nosso desejo é meramente aperfeiçoar as pessoas visando sua
espiritualidade individual, não resta muito para aprender. Porém, se desejamos participar na obra de edificação,
há muitas lições para aprender e precisamos ser corrigidos em muitas áreas. A administração da igreja precisa ser
corrigida, o ministério da palavra necessita de correção e a forma como visitamos as pessoas em suas
necessidades precisa ser corrigida. Precisamos aprender lições diligentemente. Não há muito do elemento da
edificação em nossa administração da igreja e ministério da palavra.

A partir de agora, a administração em todas as igrejas deve concentrar-se nas pessoas, e não em assuntos
administrativos. Devemos concentrar-nos em todos os crentes, e não em indivíduos específicos, para que se
tornem um vaso corporativo. Estamos sendo edificados na coordenação com os outros e aprendendo a
administrar e ajudar os outros. Aprenderemos a suprir a falta de alguns e remover o excesso de outros, ou a
acrescentar aos que têm pouca utilidade e ajudar os que já são úteis a se desenvolver em seu serviço ainda mais.
Aprenderemos também a ajudar outros a agir de forma coordenada de modo que não haverá indivíduos
espirituais que exerçam sua função no Corpo de maneira individualista. Em lugar disso, todos os crentes devem
ser unidos como um só a fim de exercer suas funções de forma coordenada uns com os outros. Fazendo isso,
prepararemos um excelente caminho para o retorno do Senhor.

A OBRA DE EDIFICAÇÃO NECESSITA SER EFETUADA NA BASE APROPRIADA

Para que o Senhor continue a avançar nestes últimos dias, não podemos apenas falar acerca da base da igreja. Se
queremos ter edificação, precisamos estar seguros de ter a base apropriada. Enquanto nossa base estiver insegura,
nada pode ser exercitado na prática. Precisamos ainda reconhecer o esquema do inimigo. Sem a base apropriada,
podemos ser espirituais, mas estamos em Babilônia. Talvez sejamos tão espirituais quanto Daniel, mas incapazes
de edificar o templo santo. Se desejamos ser edificados juntos a fim de nos tornar o templo santo, a cidade santa,
temos de retornar para Jerusalém. Portanto precisamos ter certeza quanto à base; caso contrário, não saberemos
onde devemos construir. Podemos ser espirituais em Babilônia, Arã, Síria ou Samaria, mas de forma dispersa.
Porém o templo de Deus não é construído em Babilônia, Arã, Síria ou Samaria. É construído em Jerusalém. Não
podemos edificar de acordo com opiniões pessoais. Precisamos retornar à fundação sobre a qual nossos
antepassados edificaram o templo: Jerusalém.

Essa questão nada tem a ver com nossa opinião. Tem a ver com a luz concedida aos apóstolos. Devemos voltar à
mesma base sobre a qual eles edificaram as igrejas. Todas as coisas que concernem à base da igreja devem ser de
acordo com a Bíblia. Isso se compara ao batismo. Não se trata de ser batizados por aspersão ou imersão, mas ao
retorno à prática do início. No início os santos eram batizados em água. Eram sepultados com Cristo. De maneira
similar, a prática da mesa do Senhor não é questão de cálice grande ou pequeno, mas de se retornar à prática do
início. O apóstolo Paulo disse: "Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque
todos participamos do único pão" ( 1 Co 10:17). Apesar de muitos, somos um único pão. Precisamos retornar à
prática inicial.

No início, havia apenas uma base da igreja: a cidade. Precisamos voltar para a Bíblia. Ela fala da igreja em
Jerusalém (At 8:1; 11:22), da igreja em Antioquia atos 8:1), da igreja em Corinto (1 Co 1:2; 2 Co 1:1), da igreja em
Éfeso (Ap 2:1). Isso mostra a base da igreja. Não podemos seguir outras propostas. Precisamos ter uma base
definida, então poderemos trabalhar sem reservas na edificação da casa de Deus. Poderemos concentrar-nos na
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obra de edificação. Não podemos falar da obra de edificação se a base for incerta. Podemos falar da salvação dos
pecadores e de assuntos espirituais, porém não da edificação.

Precisamos ver os dois lados. Não podemos ter somente a base da igreja. Precisamos ter também a edificação.
Entretanto, se nos faltar a presença do Senhor e Sua autoridade, e nos faltar oração e o operar da cruz, teremos
apenas a base local e nada mais. Precisamos de realidade espiritual e também da base e da edificação. Esse é um
princípio duplo ao qual precisamos nos agarrar com firmeza.

O Senhor nos levantou com um grande propósito. A base da igreja, que assumimos, causa grande impacto nos
filhos de Deus. Não podemos perder o alvo nem esquecer-nos de nosso ministério e obra que realizamos. Se
permanecermos fiéis na base a fim de receber maior transformação e aprender novas lições, confiando na graça do
Senhor para trabalhar na edificação, causaremos grande impacto. Não teremos somente a base, mas também algo
sólido e espiritual edificado sobre ela. O impacto causado por um testemunho desses na igreja de Deus é
inestimável e é maior ainda sobre os filhos de Deus. Cremos que foi para esse fim que o Senhor nos levantou.
Portanto, com os olhos bem iluminados e o alvo bem definido, precisamos enxergar o que o Senhor deseja que
façamos. Precisamos enxergar que, nesta era e no universo, Deus tem a intenção de realizar uma obra de
edificação, e essa obra precisa ser realizada numa base. Temos de permanecer sobre ela e acompanhar a direção de
Deus hoje.

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