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ADICIONAL DE PERICULOSIDADE

SEGURANÇA E MEIO AMBIENTE

NOGUEIRA SEGURANÇA DO TRABALHO


IDAL NOGUEIRA
Rua São Bento, 91, 2º Andar Sala 11- Fone (15) 9732-87
Assessoria e Consultoria em Segurança do Trabalho

Nogueira & Nogueira Serviços Especializados Ltda

1 INTRODUÇÃO
O adicional de periculosidade está previsto no art. 193 da Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), considerando atividades e operações perigosas aquelas que, por natureza ou
métodos de trabalho, impliquem risco acentuado em virtude de exposição permanente do
trabalhador a inflamáveis, explosivos ou energia elétrica, roubos ou outras espécies de
violência física nas atividades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial. Este estudo
se deterá no armazenamento de líquidos inflamáveis em recinto fechado.
O direito ao adicional de periculosidade foi instituído, inicialmente, para os
trabalhadores que exerciam atividade no setor de energia elétrica, por meio da Lei nº 7.369, de
20 de setembro de 1985, a qual foi recentemente revogada expressamente pela Lei nº 12.740,
de 8 de dezembro de 2012, que deu nova redação ao art. 193 da CLT.
A caracterização e a classificação da periculosidade se dão por meio das Normas
Regulamentadoras de Segurança e Saúde no Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE).
A Portaria nº 3.214, de 8 de junho de 1978, do MTE, em sua Norma Regulamentadora
nº 16 (NR-16), considera perigosas as atividades e operações realizadas no transporte e
armazenamento de inflamáveis líquidos e gasosos liquefeitos, e de vasilhames vazios não
desgaseificados ou decantados, assegurando a todos os trabalhadores que operam na área de
risco adicional de 30% (trinta por cento) incidente sobre o salário.
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2 - DEFINIÇÃO DE LÍQUIDO INFLAMÁVEL

A NR-16 não estabelece expressamente o conceito de líquido inflamável, definindo


apenas o conceito de líquido combustível, que é excluído para efeitos de direito à percepção
do adicional de periculosidade.
Partindo dessa premissa, tem-se que, para obter a configuração da periculosidade por
inflamável, é necessário conhecer o ponto de fulgor da substância, para o correto
enquadramento nos termos da NR-16.
O ponto de fulgor é a temperatura a partir da qual pode haver uma quantidade
suficiente de combustível vaporizado a ponto de gerar uma reação em cadeia. Uma reação em
cadeia é uma explosão. Quando uma molécula de combustível reage com o oxigênio presente
no ar, ela gera energia, que faz com que a molécula vizinha também reaja, formando a reação
em cadeia.
Contudo, a NR-20, com sua nova redação, define os inflamáveis como líquidos ou
gasosos. Os inflamáveis líquidos são aqueles que possuem ponto de fulgor menor ou igual a
60ºC (sessenta graus Celsius), enquanto os gases inflamáveis são líquidos inflamáveis com
ponto de fulgor maior que 60ºC (sessenta graus Celsius) e menor ou igual a 93ºC (noventa e
três graus Celsius).
No caso de um incêndio, o líquido inflamável pode incendiar-se, causar explosões e,
se estiver armazenado nas dependências de um edifício com vários andares, criar uma
situação de risco enorme para todas as pessoas que nele trabalham. Além da propagação do
incêndio no pavimento, todo o prédio seria envolvido, tendo em vista o pânico decorrente da
fumaça, que se espalharia através dos dutos dos elevadores e das comunicações entre
pavimentos.
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3 - ÁREA DE RISCO

A NR-16 considera área de risco toda a área interna do recinto em que são
armazenados vasilhames que contenham inflamáveis líquidos ou vazios não desgaseificados
ou decantados.
A orientação jurisprudencial contida na OJ nº 385, da SDI-1 do colendo Tribunal
Superior do Trabalho, consagra o entendimento de que toda a área interna do edifício é
considerada de risco diante da simples presença de líquidos inflamáveis no interior de sua
prumada. Nesse sentido, colaciona-se o elucidativo aresto abaixo transcrito:
Adicional de periculosidade - Devido - Armazenamento de líquido inflamável no prédio -
Construção vertical.
“É devido o pagamento do adicional de periculosidade ao empregado que desenvolve suas
atividades em edifício (construção vertical), seja em pavimento igual ou distinto daquele onde
estão instalados tanques para armazenamento de líquido inflamável, em quantidade acima do
limite legal, considerando-se como área de risco toda a área interna da construção vertical”
(DJe, TST, 9/6/2010, p. 1, grifo nosso).
A interpretação do dispositivo supracitado traduz como operação perigosa toda a
atividade exercida em construção vertical, independentemente das atividades desenvolvidas
pelo trabalhador. Nesse sentido, já decidiu a 2ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª
Região, no Recurso Ordinário nº 0258900-26.2009.5.02.0024, cuja ementa transcrevo abaixo:
RECURSO DE REVISTA - ADICIONAL DE PERICULOSIDADE - CONSTRUÇÃO
VERTICAL - ARMAZENAMENTO DE LÍQUIDO INFLAMÁVEL NO PRÉDIO - ÁREA
DE RISCO. A jurisprudência desta Corte vem se firmando no sentido de que fazem jus ao
adicional de periculosidade todos aqueles empregados que laboram no prédio onde se
armazena combustível, ante o fato de que uma eventual explosão no recinto coloca em risco
não só aqueles empregados que trabalham diretamente na área onde se localiza o tanque de
combustível, mas também os empregados de outros andares, por ficarem sujeitos ao impacto
do eventual acidente na estrutura do prédio. Inteligência da Orientação Jurisprudencial nº 385
da SBDI-1 do TST. Recurso de revista conhecido e provido.
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4 - CARACTERIZAÇÃO DA PERICULOSIDADE POR INFLAMÁVEIS, CRITÉRIO


LEGAL E A SUA NOVA DISPOSIÇÃO

A NR-20 – Segurança e Saúde no Trabalho com Inflamáveis e Combustíveis, com


vigência até 5 de março de 2012, que deve ser interpretada conjuntamente com a NR-16,
disciplinava a forma de instalação de líquidos inflamáveis no interior dos edifícios, da
seguinte forma:
20.2.7 Os tanques para armazenamento de líquidos inflamáveis somente poderão ser
instalados no interior de edifícios sob a forma de tanques enterrados.
[...]
20.2.13 O armazenamento de líquidos inflamáveis dentro do edifício só poderá ser feito com
recipientes cuja capacidade máxima seja de 250 (duzentos e cinquenta) litros por recipiente.
Após essa data, a referida norma foi alterada pela Portaria SIT nº 308, de 29 de fevereiro de
2012, passando a definir que o armazenamento de líquidos inflamáveis no interior de edifícios
somente pode se dar sob a forma de tanques enterrados:
20.17 Tanque de líquidos inflamáveis no interior de edifícios
20.17.1 Os tanques para armazenamento de líquidos inflamáveis somente poderão ser
instalados no interior dos edifícios sob a forma de tanque enterrado e destinados somente a
óleo diesel.
Desse modo, nem mesmo o confinamento em saletas contendo líquidos inflamáveis
armazenados atende à norma de segurança do trabalho, pois esta exige que, no interior de
edifícios, os tanques devem ser necessariamente enterrados ou aterrados.
As Turmas do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, reiteradamente, têm
enfrentado esse tema e por diversas vezes destacaram que os tanques de armazenamento de
líquidos inflamáveis, no interior dos edifícios, essencialmente, deverão ser aterrados, segundo
as recomendações da própria norma regulamentadora acima mencionada.
, ainda, os magistrados daquela Corte que as lajes verticais não constituem barreiras
efetivas para efeito de isolamento de sinistros, sejam eles incêndios ou explosões, pois, ainda
que estes ocorram no subsolo ou na superfície, as chamas se expandirão por toda a edificação,
atingindo todos os que nela se encontrarem.
Além disso, revela situação de perigo iminente que, uma vez ocorrido, pode ceifar a
vida de muitos trabalhadores, sendo este o bem maior que se visa proteger.
O labor em edifício onde o combustível destinado aos geradores é armazenado sem o
imprescindível aterramento configura as condições perigosas de que trata o art. 193 da
CLT, impondo o pagamento do respectivo adicional de periculosidade.
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5- EXCEÇÕES À NR-16, ITEM 16.6

A nova legislação inscrita no item 16.6 da NR-16, da Portaria SIT nº 308/2012,


expedida pelo MTE, passou a excluir o direito à percepção do adicional de periculosidade nas
situações de transporte de inflamáveis consideradas perigosas, dependendo do volume
transportado, sem, contudo, fazer qualquer menção às atividades de armazenamento. Dispõe o
item 16.6 da NR-16:
16.6: As operações de transporte de inflamáveis líquidos ou gasosos liquefeitos, em quaisquer
vasilhames e a granel, são consideradas em condições de periculosidade, exclusão para o
transporte em pequenas quantidades, até o limite de 200 (duzentos) litros para os inflamáveis
líquidos e 135 (cento e trinta e cinco) quilos para os inflamáveis gasosos liquefeitos (grifo
nosso).
A doutrina de Camisassa (2015, p. 476) define que não são consideradas perigosas as
atividades de transporte de inflamáveis em pequenas quantidades, até os limites (grifo do
autor):
a. Inflamáveis líquidos: 200 litros
b. Inflamáveis gasosos liquefeitos: 135 quilos.
No mesmo sentido, Saliba e Corrêa (2013, p. 156) lecionam que a
NR-16 exclui, para efeitos de percepção do adicional de periculosidade, o transporte
de inflamáveis em pequenas quantidades até o limite de 200 litros para inflamáveis líquidos e
135 quilos para inflamáveis gasosos liquefeitos.
Nesse contexto, a questão que se coloca neste artigo é a de saber se os limites
permitidos para transporte também se aplicam ao armazenamento de líquidos inflamáveis,
porquanto o disposto na mencionada norma não estabelece o limite de líquidos inflamáveis
para o deferimento do adicional de periculosidade quando se trata de armazenamento,
somente impondo limite de 200 litros no caso de transporte.
Em que pese a norma não mencionar de forma expressa a quantidade no que se refere
ao armazenamento de inflamáveis líquidos, a inclinação doutrinária e jurisprudencial, com a
qual nos alinhamos, tem-se firmado no sentido de que deve prevalecer esse mesmo limite para
o armazenamento de líquidos inflamáveis no interior de edifícios, de modo que, a partir desse
limite máximo de tolerância, toda a edificação se tornará área de risco. O legislador entendeu
que nessa situação o risco à integridade física do trabalhador também é pequena ou
inexistente em caso de ocorrer algum acidente.
Além disso, a NR-16, item 4.1, para efeitos de percepção do adicional de
periculosidade, equipara as atividades de manuseio, armazenagem e transporte de líquidos
inflamáveis de recipientes de até cinco litros, lacrados na fabricação, contendo líquidos
inflamáveis, independentemente do número total de recipientes armazenados ou
transportados, não fazendo nenhuma distinção nas hipóteses ali mencionadas.
Os debates jurídicos a respeito do adicional de periculosidade para trabalhadores que
se ativam habitualmente em áreas contendo líquidos inflamáveis costumam produzir
considerações muito acaloradas.
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Por conta disso, pululam na Justiça do Trabalho perícias judiciais que


equivocadamente afastam a periculosidade por entenderem que a quantidade de líquidos
inflamáveis estocados no interior dos edifícios está abaixo do limite unitário estabelecido pela
NR-16. A norma regulamentadora referida quantificou em 250 litros o tamanho máximo que
deveria ter o recipiente armazenador do líquido inflamável.
Mas essa conclusão não se alinha com as decisões proferidas pelo colendo Tribunal
Superior do Trabalho, que, uniformizando a sua jurisprudência sobre o tema, ressaltou que o
transporte e o armazenamento de inflamáveis, para fins de caracterização ou não da
periculosidade, são equiparados, conforme se vê da ementa abaixo:
RECURSO DE REVISTA - ADICIONAL DE PERICULOSIDADE - ARMAZENAMENTO
DE INFLAMÁVEIS. A NR-16 da Portaria nº 3.214/78 do Ministério do Trabalho não
estabelece o limite de líquidos inflamáveis para o deferimento do adicional de periculosidade
quando se trata de armazenamento, somente impondo limite mínimo de 200 litros no caso de
transporte. Ressaltando-se que a nova legislação, inscrita no item 16.6 da NR-16 da Portaria
nº 3.214/78, pela redação que lhe foi atribuída pela Portaria nº 545/2000 do Ministério do
Trabalho e Emprego, passou a excluir o direito à percepção do adicional de periculosidade nas
situações de armazenamento de recipiente de até cinco litros, lacrados na fabricação, contendo
líquidos inflamáveis, independentemente do número total de recipientes armazenados.
Precedentes da Subseção 1 Especializada em Dissídios Individuais do TST. Recurso de
revista conhecido e provido. (TST, RR 101500-47.2009.5.04.0232, Relator Ministro Luiz
Philippe Vieira de Mello Filho, 4ª Turma, publicado 01/06/2012, v.u.) (grifo nosso).
Assim, conclui-se que, de acordo com o disposto no Anexo 2 da NR-16, Portaria nº
3.214/1978, do MTE, conjugado com o item 16.6 da mesma norma, que se aplica por
analogia, são consideradas atividades perigosas, ensejando o adicional de periculosidade,
aquelas desenvolvidas habitualmente em área de risco, contendo, armazenados, líquidos
inflamáveis em quantidades superiores a 200 litros. Portanto, no caso de armazenamento, essa
tolerância, imposta por analogia, deve prevalecer, em que pese a norma não estabelecer
expressamente a quantidade estocada.
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6 - CONCLUSÃO

Com base no exposto, conclui-se que os limites permitidos para o transporte de


líquidos inflamáveis também se aplicam ao armazenamento, considerando que a área de risco
é toda a área interna do recinto.
Convém ressaltar que o armazenamento de combustível em construção vertical merece um
tratamento diferenciado, com uma proteção especial aos trabalhadores que nela se ativam,
pois eventual explosão coloca em risco não apenas aqueles que se encontram dentro do
recinto onde estão localizados os tanques de combustível, mas, também, os empregados de
outros andares, dependendo do impacto do acidente na estrutura do prédio, que poderá não
suportar e ruir.
Ora, se a primeira norma regulamentadora alude a toda a área interna do recinto, por certo que
os especialistas do Ministério do Trabalho que elaboraram a norma visaram a proteger o
maior número de empregados que circulassem no ambiente de trabalho.
Tanto assim que a outra norma regulamentadora referida quantificou o tamanho máximo que
deveria ter um recipiente armazenador do líquido inflamável de no máximo 200 litros, ou
seja, o risco de dano seria muito superior àquele estabelecido como limite pelo Ministério do
Trabalho. Ademais, tratando-se de edifício em construção vertical, não se sabe se a laje de
separação de andares é suficiente para isolar o dano decorrente de virtual explosão.
Por isso, não se apresenta mais adequada a interpretação literal da NR-16, segundo a qual se
considera como área de risco apenas a área interna do recinto, excluindo os trabalhadores dos
demais andares.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAMISASSA, Mara Queiroga. Segurança e Saúde no Trabalho: NRs 1 a 36 comentadas e
descomplicadas. São Paulo: Método, 2015.
CONSULTOR JURÍDICO. Disponível em: <www.conjur.com.br>. Acesso em: 4 maio 2014.
GONÇALVES, Edwar Abreu; GONÇALVES, José Alberto. Segurança e Saúde no Trabalho
em 2000 perguntas e respostas. 5. ed. São Paulo: LTr, 2013.
MIGALHAS. Disponível em: <www.migalhas.com.br>. Acesso em: 4maio 2014.
MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Normas Regulamentadoras nºs 16 e 20.
Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/portal-mte/>. Acesso em: 3 dez. 2014.
NOTAS e Informações. O Estado de S. Paulo,São Paulo, p. A3, 27 out. 2014.
PALÁCIO DO PLANALTO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Disponível em:
<www.planalto.gov.br>. Acesso em: 13 out. 2014.
SALIBA, Tuffi Messias; CORRÊA, Márcia Angelim Chaves. Insalubridade e periculosidade:
aspectos técnicos e práticos. 12. ed. São Paulo: LTr,2013

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