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O INÍCIO DA ESCRITA
O homem surgiu cerca de 1500 000 anos atrás. Porém, somente nos últimos 30 000
anos surgiram as pinturas rupestres em cavernas. Essas pinturas são encontradas em
todas as partes do mundo. A escrita não se originou dessas pinturas, mas elas
serviram para ajudar o homem a representar o mundo fora de sua mente.
DESENHO OU ESCRITA?
A distinção entre um desenho e uma figura que tem o valor de escrita reside no fato
de o desenho referir-se aos objetos materiais do mundo e a escrita referir-se às
palavras, sílabas, sons ou idéias ligadas à linguagem oral.
TIPOS DE ESCRITA
A escrita fonográfica parte do reconhecimento dos sons que as letras têm, com o
objetivo de formar os sons de uma palavra completa para, assim, se descobrir qual o
significado. Juntando as duas partes - sons e significados - descobre-se, então, a
palavra que a escrita representa. Este tipo de escrita só serve para uma língua por
vez.
Rébus é um tipo de escrita que usa pictogramas para representar um ou mais sons
de uma palavra e é muito usado em cartas enigmáticas e em grafites. Como
apresentam uma espécie de charada, os rébus são usados como uma forma de
desafio ou de jogo. Veja o seguinte grafite de um muro: 80 = 20 v (decifração: oi,
tentação! vim te ver).
INVENTORES DE ESCRITA
ESCRITA CUNEIFORME
A escrita cuneiforme era feita quase sempre da direita para a esquerda linearmente
(anverso), com as escritas separadas por linhas. No tempo dos pictogramas, as
palavras eram escrita em pequenos quadrados e os pictogramas não tinham ali uma
ordem fixa: era preciso interpretar também a ordem para se chegar ao
reconhecimento final da palavra.
Com a escrita surgiu a escola. A primeira escola era para se aprender a escrever. Um
estudioso dos sumérios, chamado Walker, diz: Quase todas as residências desse
período (Babilônico Antigo 2004-1595), escavadas em Ur e Isin, possuíam alguns
textos escolares de um ou de outro tipo, sugerindo que todos os meninos das
famílias ricas eram enviados à escola. Os alunos treinavam primeiros “as cunhas”
verticais, horizontais e oblíquas, em separado; depois, formando caracteres e,
finalmente, formando palavras e seqüências de caracteres, tendo como modelo
inicial sempre nomes próprios.
Nos tempos modernos, a escrita persa antiga foi a primeira forma de escrita
cuneiforme a ser decifrada, graças a um texto trilíngüe (persa, elamita e babilônico)
de Dario no rochedo de Behistum. Acredita-se que o próprio Dario (521-486 a.C.)
tenha mandado inventar uma escrita própria para os monumentos do rei. A escrita
tinha três vogais (a, i, u) e 36 caracteres silábicos, formados de consoante mais uma
das três vogais. Além disto, havia uma cunha inclinada que era usada como divisor
de palavras e cinco ideogramas. A escrita persa antiga parou com o fim da dinastia
aquemênida, com Artaxerxes III (358-338).
ESCRITA EGÍPCIA
A ORIGEM DO ALFABETO
ANTECEDENTES
Por volta de 2000 a.C., em Ugarit, surgiu um sistema de escrita muito simplificado,
que empregava apenas um caractere para cada tipo de consoante mais três
caracteres para representar as vogais a, i e u precedidas de uma consoante oclusiva
glotal. Uma idéia mais difundida de simplificação da escrita deve ter vindo de um
modo de escrever que começou a aparecer com os semitas que, por volta de 1500
a.C., trabalhavam para os egípcios nas minas do Sinai e que, hoje, constitui a
primeira manifestação do alfabeto.
O alfabeto foi criado a partir da aplicação do princípio acrofônico. Foi feita uma
lista de palavras cujo primeiro segmento fonético não se repetisse; desse modo,
chegou-se a uma lista de 21 palavras - constatou-se que nenhuma palavra começava
por vogal. Definidos os sons básicos do sistema, a escolha dos caracteres acabou
recaindo nas formas hieroglíficas egípcias, de tal modo que o aspecto figurativo dos
pictogramas lembrassem os objetos representados pelas palavras da lista. Por
exemplo, a primeira palavra da lista era álef , que significava boi. Então, foi
escolhido o hieróglifo que tinha o aspecto figurativo da cabeça de um boi para ser a
letra que passaria a ter o som inicial da palavra alef (uma oclusiva glotal - som que
aparece na nossa fala quando alguém diz Ah! Ah!? com um ‘corte’ no meio da
vocalização dos dois As). Para a segunda palavra beth, que queria dizer casa, foi
escolhido o hieróglifo que representava uma casa (que em egípcio se dizia per). E
assim com todas as palavras da lista que se tornaram também os nomes das
primeiras letras do alfabeto.
Somente com os gregos, cerca de 700 anos depois, o sistema passaria a incorporar
também as vogais como letras independentes, chegando, assim, à forma acabada do
sistema alfabético.
Infelizmente, uma idéia tão genial e uma invenção tão importante encontrou um
obstáculo que modificou fundamentalmente a natureza “alfabética” do sistema
recém criado. Desde os sumérios, já se tinha visto que era preciso “congelar” formas
de escrita para que todos escrevessem de um único modo as mesmas palavras,
independentemente da maneira como cada um (pessoa ou dialeto) pronunciava-as.
Os egípcios também estabeleceram logo essa regra. Na verdade, o princípio
ortográfico faz parte de todo e qualquer sistema de escrita. E o alfabeto não era uma
exceção.
Com a ortografia em ação, o valor fonético das letras deixou de ser dado pelo
princípio acrofônico e passou a ser definido a partir de todas as pronúncias que as
palavras têm. Assim, em português, a letra T que representava o som de tê passou a
ter também o som de tchê (cf. tua, tia); a letra S ficou também com o som de chê (cf.
pronuncia carioca de rapaz), além do som de sê (cf. sapo)... e assim por diante. A
noção de contexto em que ocorre uma letra ou um som passou a ser um elemento
muito importante para as relações entre letras e sons: o S que ocorre entre vogais
tem o som de “zê” (cf. casa) e é diferente daquele que ocorre no início de palavras
(cf. sapo).
Na evolução histórica do alfabeto, a “lista de palavras” que servia de base para o
princípio acrofônico e que acabou originando os nomes das letras, foi se
modificando, de tal modo que o princípio acrofônico precisou de interpretações
especiais. Assim, dizemos “bê” para a letra B e o princípio acrofônico funciona
bem. Mas, dizemos, “eme” para M e, neste caso, o som da consoante não aparece no
início, mas no meio de seu nome (é a única consoante do nome). No caso de H e W,
o princípio acrofônico não se aplica.
Ao que tudo indica, os usos mais antigos do nosso alfabeto foram encontrados em
1904, no monte Sinai, nas ruínas de um templo da deusa Hator, em Serabit al-
Khadim e nas redondezas, onde semitas trabalhavam para egípcios em minas de
cobre. A decifração da escrita encontrada foi feita por Alan Gardiner em 1916. Não
se sabe ao certo qual língua semítica do sul do Oriente Médio tinha sido usada, mas
presume-se que tenha sido o canaanita. Aqueles documentos datam de cerca de
1500 a.C. Esse tipo de escrita ficou conhecido como proto-sinaítica e dela foram
encontrados registros posteriores em outras partes da Palestina, indo até cerca de
1300 a.C.
Em 1923, foi encontrado o documento mais antigo com escrita fenícia, na lápide da
tumba do rei Ahiram de Gebal, em Biblos, datado do final do século XIII a.C. A
escrita fenícia, nessa época, já estava bem estabelecida e iria durar vários séculos e
influenciar outros sistemas. Os documentos com escrita fenícia apareceram mais
freqüentemente só a partir do século V a.C.; o auge, porém, do uso dessa escrita se
dá no séc. III a.C. A escrita fenícia serviu de modelo para as escritas das línguas
canaanita e aramaica, que foram muito usadas no Oriente Médio antigo. Da escrita
aramaica surgiu a escrita hebraica.
A genealogia do alfabeto mostra como as escritas que são usadas hoje vieram de
outras que, em geral, acabaram desaparecendo em um certo momento da história da
civilização.
A adaptação do alfabeto para escrever línguas diferentes criou alfabetos derivados
que variavam quer no valor fonético de algumas letras, quer na forma gráfica dos
caracteres.
O ALFABETO GREGO
O grego arcaico já tinha sido escrito com os caracteres silábicos de Creta (escrita
linear B) e com o de Chipre, na época micênica (c. 1500 a.C.). Depois,
aparentemente, os gregos deixaram de escrever por cerca de 800 anos! Conta a
lenda ou a história que um certo fenício de nome Cádmio mudou-se para a Boécia
em 1350 a.C. e começou a escrever o grego, usando o alfabeto consonantal fenício.
Os historiadores Heródoto (484-420 a.C.) e Eratóstenes (282-192 a.C.) contam essa
história.
Fora o caso do vaso dipylon, os documentos mais antigos de escrita grega foram
encontrados nas ilhas de Thera, Melos e Creta e trazem a forma gráfica de caracteres
recém importados da escrita fenícia dos séculos IX e VIII a.C. Como se vê, há um
vazio de cerca de 500 anos entre a chegada de Cádmio e o documento mais antigo
grego escrito com caracteres fenícios. A figura histórica desse fenício pode ser uma
lenda, mas o fato de os gregos terem importado o alfabeto fenício é uma verdade
histórica.
LETRAS E NÚMEROS
O ALFABETO ETRUSCO
Os etruscos começaram a escrever no séc. VII a.C. e prestigiaram tanto a escrita que
colocavam-na em muitos objetos. Há cópias do alfabeto em vasos, mostrando a
escrita como objeto de decoração e de prestígio.
O alfabeto etrusco tinha 26 letras. Como na língua etrusca não existiam as oclusivas
sonoras [b, d, g] (nem a vogal [o]), as letras correspondentes apareciam no alfabeto,
mas não nos textos (assim como nós temos em nosso alfabeto as letras K, W e Y). A
letra grega representava [], que existia em etrusco, mas como havia também [f],
inventaram uma nova letra para esse som, semelhante a um 8.
O ALFABETO LATINO
Como o latim não tinha oclusivas aspiradas, a letra (que era [] ficou com o som
de P. A antiga letra Y vau, escrita como µacabou se transformando no F e
representava os sons [u, v, f]. No século IV a.C., o latim substituiu o som S por R.
Na mesma época o caractere que representava o som Z caiu em desuso. As letras
etruscas C, K e Q foram usadas no começo; porém, depois, sobrou apenas a letra C,
que representava o som de [k]. Quando o latim passou a ter também o som de [g],
representado também pela antiga letra C, Spurius Carvilius Ruga inventou o traço
vertical na letra C, produzindo a letra G, em 230 a.C.
Talvez por influência etrusca, os romanos não pegaram os nomes gregos das letras.
Como a escrita alfabética baseia-se no princípio acrofônico, bastava identificar os
sons das letras para constituir seus nomes. Assim, as letras passaram a se chamar: a,
bê, cê, dê, etc. No começo, as consoantes se diziam pelo som inicial mais a vogal e,
exceto K que se dizia ka, Q que se dizia qu e X que se dizia iks. Na época do
gramático Varrão (nascido por volta de 116 a.C.), os nomes das letras mudaram. As
vogais continuaram tendo apenas o som que representavam. As consoantes F, L,
M, N, S e R passaram a ter o som consonantal precedido da vogal E e não seguido,
como acontecia com as demais letras. As letras Z e Y foram reintroduzidas no
alfabeto posteriormente, ocupando os últimos lugares e ficaram com os nomes
gregos: zeta e ípsilon. A letra H era chamada de adspiratio e representava uma
fricativa glotal surda (do tipo do H em inglês). Com essa estrutura, o alfabeto latino
iria dominar o mundo da escrita até os dias de hoje.
J - A letra J surgiu da forma alongada da letra I, quando ocorriam dois Is (II), para
não confundir isso com a letra U. No século XIV, surgiu o costume de colocar pingo
nos Is e Js. O ortógrafo francês Louis Meigret colocou o J depois do I no alfabeto,
dando-lhe o valor de nova letra, uma vez que passou a representar um som
diferente.
V - A forma gráfica V era usada pelos latinos para representar o som de U ou a
fricativa labiodental sonora, ainda no latim. A escrita uncial arredondou a forma da
letra. No séc. XVII, as duas letras passam a ser independentes, com funções
próprias. A nova forma V foi colocada após o U (que era a forma semítica mais
antiga).
t - Com a escrita uncial, a letra T passou a ter o traço vertical alongado, indo além da
trave horizontal. Essa característica foi passada para as letras carolinas e,
conseqüentemente, para as letras minúsculas.
& - Forma antiga com ligadura das letras E+T, equivale a um E, em português (e
and em inglês).
@ - Usado como símbolo universal da arroba ou, hoje, como demarcador nos
endereços de E-mail. Trata-se de uma ligadura de A + T, por isso os ingleses usam
para a palavra “at”.
Letras sem uso - Por outro lado, algumas línguas não usam determinadas letras do
alfabeto, como o italiano que não as letras J K W X e Y na sua ortografia e o yorubá
que não usa as letras C Q V e Z.
Durante muitos séculos, a escrita alfabética utilizou apenas um estilo de letras que
chamamos de letras maiúsculas. As escritas árabe e hebraica, ainda hoje, mantém
um estilo básico de letras no uso geral. Na Idade Média, um fator que contribuiu
para a expansão de novos estilos de letras foi a produção de livros manuscritos nos
scriptoria. Cada calígrafo ou copista punha características pessoais no trabalho,
criava modelos e influenciava outros escribas.
O ALFABETO HOJE
O sistema alfabético, que usamos, conta com cerca de 3500 anos de uso
ininterrupto. Se não tiver durado mais é, pelo menos, tão antigo quanto o sistema
chinês. Com o passar do tempo, o alfabeto teve uma importância cada vez maior.
A escrita tem, ainda, um outro problema muito complicado que enfrenta a todo
instante: é a variação dialetal da fala das línguas. Os sistemas fonográficos, como o
alfabeto, acabam congelando a forma gráfica das palavras através da ortografia,
com o objetivo de neutralizar a variação dialetal de pronúncia.
Quanto mais se estende o uso do alfabeto, mais rígida torna-se a ortografia. Com o
passar do tempo, as forma ortográficas das palavras acabam se distanciando muito
dos valores fonéticos tradicionais das letras, criando um novo problema para o
sistema. Reformas ortográficas são inevitáveis a muito longo prazo, caso contrário,
o sistema perde sua característica mais importante que é a neutralização da variação
dialetal.
Todo sistema de escrita tem um princípio cumulativo que faz com que velhos usos
fiquem no sistema enquanto novas formas vão surgindo. Isto não tem a ver somente
com o fato de a escrita trazer a memória da humanidade, mas é algo da própria
natureza dos sistemas. Por essa razão, vemos hoje como no uso que fazemos da
escrita encontram-se elementos de vários tipos de escrita e não apenas de um
modelo alfabético. Isto é notável sobretudo na publicidade e em jornais e revistas.
Não é raro constatar em uma mesma página, elementos de escrita como os
apontados a seguir:
- Letras de mais de um estilo: pelo menos letras maiúsculas (estilo capital) e letras
minúsculas (estilo carolina). Além destes, outros estilos ou fontes costumam
aparecer. Nota-se que uma mesma letra aparece com diferentes formas gráficas:
A, a, a; B, b, etc.
- Acentos, diacríticos, marcas, pontuação, etc.: fôrma, não, / ; > ! ? #, @, % ... “a”.
- Números e notações científicas: 259, , etc.
- Letras usadas como verdadeiros ideogramas, por exemplo, R. para rua, SP para
São Paulo, Dr. para doutor, etc.
- Escritas que representam barulhos, sons e até sentimentos, através de interjeições
ou de outras formas de expressão, como: tchigum, Grrrrr, nhec-nhoc-nhec-
nhoc!, @#*$, etc.
- Gráficos, mapas, tabelas - que são formas de escrita ideográfica.
- Notas musicais e símbolos: .
- Letras usadas para “inventar” palavras novas, como nas siglas, logotipos,
logomarcas: Banespa, INPS (dito “ienepeesse”), Gegê (nome de loja), etc.
- Uso de pictogramas (figuras representando palavras), como em 123-4567 (ou
123-4567), em que representa as palavras “telefone para” ou que
representa as palavras “corte aqui”, etc.
- Formas ortográficas variantes, antigas e novas: Thais e Thaís, Antônio e António,
etc.
- Nomes estrangeiros: Schumacker, New York, Peter Sellers (e não Pedro
Vendedores), etc.
- Ilustrações, diagramação, destaques através de cores diferentes, etc.
Os computadores trouxeram nova vida à escrita, sobretudo no uso feito pela Internet
e nos materiais de multimídia, como os jogos de computador. O excesso de ícones e
de pictogramas no mundo moderno, fora dos livros tradicionais, tem colocado o
homem moderno diante de uma quantidade diferente de material de escrita.
Os aparelhos multimídia estão cada vez mais utilizando a fala e a imagem e menos a
escrita do tipo alfabética. Isto não significa que a escrita alfabética esteja
desaparecendo, uma vez que tem seu lugar garantido por muito tempo nos livros,
revistas e jornais. Mas os hábitos de leitura e de escrita e o modo de relacionamento
do homem moderno com a escrita mudaram muito e a tendência é mudar mais para
o futuro, com novas tecnologias de comunicação.