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A tipografia

Livros manuscritos medievais


• Durante toda a Idade Média (século V até séc
XV), os livros eram manuscritos, copiados nos
monastérios pelos copistas e ilustrados pelos
iluministas (as ilustrações eram chamadas
iluminuras). Os monastérios cristãos eram
centros culturais, educacionais e intelectuais.
• O valor de um livro manuscrito era igual ao
valor de uma fazenda, ou vinhedo.
• A produção era dividida entre especialistas:
escritas de letras, iniciais decorativas,
ornamentação em ouro, revisão, encadernação.
• Um livro de 200 páginas levava 4 a 5 meses de
trabalho e 25 peles de carneiro para o
pergaminho.
Duas páginas do Livro de Durrow, criado na Irlanda, com influência do
desenho celta, no início do século V. Letras unciais (assim chamadas
pois eram escritas entre as pautas que ficavam uma “úncia” (polegada)
de distância uma da outra.
Livro de Kells, feito por monges celtas por volta do ano 800 d. C. (séc. VII)
Evangelho de Lindisfarne, ano 700 d.C 5
Douce Apocalipse, 1265 (século XIII) - manuscrito com letras góticas
Douce Apocalipse, 1265
(século XIII) - manuscrito
com letras góticas:

Estilo de letra cuja repetição de


verticais é comparada com uma
cerca de ripas. Textura, do latim
Texturum (tecido ou textura
urdida, tramado), é o nome
preferido para esse modo
dominante de letras góticas. A
textura era funcional na
confeçcão e economizava espaço.
O efeito global é de uma densa
textura negra.

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• No século XV, a demanda por livros aumenta
pela classe média letrada e estudantes das
universidades.
• O papel foi criado na China, no ano 105 a.C.
Mas só chega à Europa, em meados do século
XII.
• Em 1276, criou-se uma fábrica de papel em
Fabriano, na Itália.
• Em 1348, a França recebe uma fábrica de papel.
• Com a produção de papel, a demanda por livros
e o conhecimento da impressão em relevo por
blocos de madeira (xilogravura), o século XV
estava pronto para criar os tipos móveis.
Johannes Gutenberg
• Os primeiros tipos metálicos foram
confeccionados pelo ourives alemão
Johannes Gutenberg (1400-1468), em
aproximadamente 1448.
Punção

Matriz

A letra é “esculpida” em um metal (punção)


que, por sua vez é pressionado contra um
outro metal (mais macio), deixando lá seu
desenho. A matriz gera, por fundição, uma
série de letras iguais, réplicas da punção.
Matrizes de metal
Tipos fundidos
Imagens do processo gráfico: 1. fabricante de pergaminhos, raspando a pele do animal; 2. papeleiro
tira o molde da tina; 3.fundidor de tipos; 4. Impressor (um imprime, o outro entinta); 5. designer,
desenhando uma imagem para uma xilogravura; 6. Xilógrafo entalha o desenho; 7. Iluminador aplica
ouro e cor; 7. encadernador verifica a ordem das páginas e o outro prepara a capa
Primeiro livro impresso:
a Bíblia de 42 linhas
• A primeira Bíblia impressa levou 5 anos para
ficar pronta (1450-1455). Tinha 1282 páginas,
com 42 linhas cada, com 2 volumes. A tiragem
foi de 180 exemplares em papel e 30
exemplares em velino (pele de carneiro ou vitelo
preparada). Restam, no mundo, 48 exemplares.
Bíblia de 42 linhas, em papel e em velino. Detalhes em cor, feitos à mão.
Caixotins
• Os caixotins eram caixas de
madeira onde se guardavam os
tipos. Na parte de cima, os
tipos maiúsculos, na parte de
baixo, tipos minúsculos. Daí a
denominação Caixa Alta (para
letras maiúsculas) e Caixa
baixa (para letras minúsculas)
Composição manual
• “Compor” significava formar o texto
desejado com a sequência correta dos
tipos retirados das caixas.
Texto composto com tipos
Cartões de visita
composto com tipos
Sala de composição de 1910
Prensas
Linotipia
• Em 1886, o emigrante alemão Ottmar
Mergenthaler inventa o Linotipo, que é uma
máquina que compõe uma linha inteira de texto,
chumbado (hot type), acelerando o processo de
produção com relação aos tipos móveis.
Fotocomposição
• As produção em linotipo foi substituída, na
década de 1950 pela fotocomposição, processo
da produção de texto que projeta as letras sobre
um papel fotográfico, formando assim o texto. O
texto era depois deste processo, colado sobre a
“arte”, o chamado “paste-up” (colar sobre)

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Desenvolvimento
da Tipografia
6.000 a 4.000 a.C.

Pictogramas
Ideogramas
egípcios
Representação de ideias
Figuras ou símbolos
e formas abstratas (dia,
que representam um
luz, claridade, etc)
objeto como forma
de comunicação

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3000 a 1300 a.C

Sumérios Fenícios
(4.000 a 1.950 a.c) (1.500 a 300 a.C)
Escrita cuneiforme Desenvolveram o
(objetos em formato primeiro sistema
de cunha - 600 alfabético com 22
símbolos) símbolos
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900 a 400 a.C

GREGOS (2000 até 146 a.C.)


Baseado no alfabeto dos fenícios, os gregos criaram
um sistema completo de alfabetos, com consoantes
e vogais. 32
900 a 400 a.C
ETRUSCOS
(Séculos VII a II a.C.)

Povo da península itálica, atual


região da Toscana.
O alfabeto etrusco foi utilizado
entre os séculos VII e II a.c. por
um povo cuja língua é de
origem desconhecida e de
difícil tradução.

Baseado no alfabeto grego,


tinha 20 letras, sendo 16
consoantes e 4 vogais.

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Século I a IV d.C.
Escrita Romana

Capitulares quadradas
Os romanos não só desenvolveram
o alfabeto que usamos até hoje,
com 23 letras adaptadas a partir do
alfabeto etrusco, mas também os
Capitais rústicas
seus valores fonéticos, a forma das
letras, a sua estética e as relações
recíprocas – espacejamentos – que
hoje se chamam tracking e kerning.
Desenvolveram letras de pompa e
celebração, mas também
inventaram letras com formas
muito condensadas – solução mais
econômica. Praticaram uma grafia
tosca para documentos feitos à
Uncial
pressa.

Cursiva

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Os caracteres romanos
são inspirados na
inscrição lapidar feita
na base da Coluna de
Trajano, em Roma.
Finalizada no ano 113,
foi construída em
homenagem ao
Imperador Trajano
(por encomenda do
próprio) pelas vitórias
nas campanhas
militares
Nesta inscrição, acredita-se que os artesãos
entalhariam um pequeno espaço extra no fim de
cada traço das letras a fim de prevenir o acúmulo de
cascalho e poeira no encave. Este prolongamento,
copiado nas fontes desenvolvidas pelos tipógrafos
do renascimento, é denominado SERIFA
Tipos = fontes
• Os primeiros tipos usados para impressão
imitavam o tipo gótico, usado nos manuscritos
medievais do final da idade média
• A letra gótica ou blackletter tem origem no
século XI, na Bélgica e no norte da França. Usada
originalmente nos manuscritos medievais, para
que coubesse mais texto no espaço
Tipografia na Alemanha
Anton Koberger
Liber Chronicarum, 1493

Com o
desenvolvimento
da tipografia, a
xilogravura
substitui os
iluministas na
ilustração de
livros
Exemplar do livro Liber Chronicarum, 1493. À
esquerda, o layout para o tipógrafo, com a
marcação das ilustrações. À esquerda, o livro
impresso.
Tipografia na Itália
Depois, na Itália se desenvolveu uma tipografia
baseada nos desenhos das letras romanas
(alfabeto latino), combinando as letras
maiúsculas de inscrições romanas antigas e
minúsculas arredondadas, daí a origem da
denominação CARACTERES ROMANOS.
No Renascimento do século XV, escritores e
acadêmicos rejeitaram as escritas góticas por um
modo clássico de escrita manual, com formas mais
largas e abertas. Muitas das fontes que usamos hoje,
incluindo Garamond, Bembo, Palatino e Jenson,
herdaram seus nomes de impressores que
trabalharam nos séculos XV e XVI. Essas fontes são
conhecidas como humanistas.
A tradição do tipo serifado dura até o século XIX,
quando surgem os primeiros tipos sem-serifas.
Acredita-se também que a serifa tem sua origem na
fonte manuscrita, “ajudando” o olho a fazer a ligação
entre as letras, sendo usadas para longos textos.
Tipografia na Itália
Renascimento
Aldus Manutius
(Sermoneta, 1452 - Veneza, 1515)

Humanista entusiasta, editor e tipógrafo, com oficina


em Veneza. Manutius foi o editor renascentista que
definiu os padrões estéticos dos novos livros — não
só impressos com tipos móveis, mas também
radicalmente diferentes das obras manuscritas da
Idade Média. Aldus definiu um layout e uma
tipografia para livros que continua atual, criando o
protótipo do livro de bolso, com uma obra em
formato 7,7 x 15,4 cm, com tipos itálicos,
desenvolvido pelo tipógrafo Francesco Griffo.
Obra Hypnerotomachia Poliphili,
de 1499, de Manutius.
Francesco Griffo (1450-1518)
Em 1496 desenha a fonte Bembo (Para impressão
de uma obra do cardeal Pietro Bembo)
Em 1503 grava uma letra cursiva (itálica) a pedido
do editor Aldus Manutius, que solicitou uma
fonte onde coubessem mais caracteres por
página. Os tipos de Griffo tornaram-se
referência para a tipografia francesa.
Tipografia na França
Os impressores de Paris, com apoio
do rei François I, fizeram dos
primeiros 60 anos do século XVI a
época áurea da tipografia francesa.
Eles eram eruditos e artistas.
Escreveram livros, imprimiram e
editaram os clássicos que saíram
dos seus prelos
Os primeiros impressores franceses
não se arriscaram logo a introduzir a
letra humanista (romana). Somente no
final do século XV a Romain
substituiu a gótica em muitos países
europeus

Henri Estienne
A família Estienne foi uma
família de tipógrafos ativos
até meados do século XIX

Obras de Platão, de 1578


Claude Garamond
(Paris, 1490 - 1561)

Fonte Garamond, séc XVI


Matriz da fonte Garamond
Robert Granjon
(1513-1589)

Tipo cursivo, baseado


no desenho do
Francesco Griffo
Geofroy Tory
(1480-1533)
Tipógrafo francês, foi
Impressor do Rei.

Alfabeto baseado nas proporções humanas e alfabeto


fantástico.
Inglaterra
William Caslon
(Cradley, Inglaterra, 1692–1766)
Fonte Caslon, 1734-70
John Baskerville
(1706-1775)
Fonte: Baskerville, 1757
Itália

Giambattista Bodoni
(1740, 1813)
• Nasceu a 16 de Fevereiro de 1740
em Saluzzo, no Piemonte (Itália). Aí
aprendeu na oficina do pai o ofício
de tipógrafo e a arte de gravar
tipos.
Fonte: Bodoni, 1790
Desenhos de fontes serifadas
Times New Roman
• A Times New Roman é uma família
tipográfica serifada criada em 1932 para
uso do jornal inglês The Times of London
em substituição à Times old Roman,
fonte usada no jornal. Hoje é
considerada um dos tipos mais
conhecidos, utilizado ao redor do mundo
— devido ao fato de ser a fonte padrão
em diversos processadores de texto.
Século XIX

• Com o crescimento da
industrialização no século XVIII
e do consumo de massas, a
propaganda explode: uma nova
forma de comunicação exigia
novas formas tipográficas.
Fontes grandes e pesadas feitas
com distorção das letras
clássicas. Fontes expandidas,
contraídas, sombreadas,
vazadas, engordadas, floreadas
surgem neste período.

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Fontes sem serifa
• O primeiro tipo sem serifa (sans-
serif) ou grotescas (do alemão
grotesk) foi publicado por Willian
Caslon IV (descendente do Willian
Caslon, das fontes serifadas) em
meados de 1816.
Akzidenz Grotesk
• Na Alemanha, as fontes “grotescas”
aparecem a partir de 1832.
• A mais famosa das antigas sem serifa
alemãs foi esta Akzidenz-Grotesk,
produto tipográfico de autor anónimo,
“mãe” das posteriores sem-serifa feitas
na Suíça do pós-guerra, da Helvetica e
da Univers.
Catálogo da fonte Akzidenz-Grotesk Capa da revista da
escola Bauhaus, de
1928. A escola Bauhaus
pretendia criar uma
fonte universal, de
caráter funcional
Fonte universal, somente em caixa
Alfabeto experimental de Josef
baixa, criada pelo professor Herbert
Albers (professor da Bauhaus)
Bayer, designer alemão, livre de
embelezamentos, de ideologia
Alfabeto Universal -
Bauhaus

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Franklin Gothic
• A popularíssima
família de fontes
Franklin Gothic,
de Morris Fuller
Benton, foi
lançada em 1904
Gill Sans (Eric Gill)

• Desenhada pelo
tipógrafo inglês
Eric Gill, em 1928
a fonte é usada
pelo canal BBC de
Londres
Helvetica (Max Miedinger, 1956/7)

Desenhada pelo
suíço Max
Miedinger
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Univers e Frutiger
• Desenhadas pelo suíço Adrian Frutiger, a
Univers (1957) é uma das fontes sem-serifa
mais conhecidas, muito usada em sinalização.
• A Frutiger (1976) foi desenvolvida para o
sistema de comunicação visual do Aeroporto
Charles de Gaulle, em Paris.
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Aeroporto
Internacional
Charles de Gaulle
de Orly, Paris na
década de 1970 e
nas notas de Euro
Anatomia das fontes

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