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1ª Edição

São Paulo – SP
Edição do Autor
2022
2022 ® por 1ª. Edição: Novembro / 2022
Wesley Abdel Valerio Acabamento e Impressão:
Editora Lucel® São Paulo
Direção Executiva editoralucel@gmail.com
Equipe Editora Lucel
Wesley Abdel Valerio
Diagramação Porque sofre o justo
Equipe Editora Lucel 1ª. Edição. São Paulo:
editoralucel@gmail.com Edição do Autor. 2022. 82p.

Todos os direitos autorais pertencem Wesley Abdel Valerio©. A reprodução


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de 1.998). Todos os direitos reservados nesta Edição ® 2022 Wesley Abdel
Valerio. As ideias, comentários e os conteúdos expressos neste livro são de
total e exclusiva responsabilidade de seu autor.
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4
A resposta para a pergunta “porque sofre o justo?” vem

tentando ser respondida pelos mais diversos ramos do saber

humano, seja pelas religiões que dão sentido dos mais


variados a esta pergunta, que mais confunde do que explica,

seja pela filosofia que por meio de ideias puramente

racionais também trazem respostas insatisfatórias para o

assunto.

Entre os anos de 1646-1716 viveu na Alemanha o

filósofo Gottfried Wilhelm Leibniz, que se interessou a

pesquisar a fundo sobre a origem do sofrimento e o que já se

tinha sido escrito a respeito disto durante as eras passadas.

Leibniz se tornou famoso ao publicar sua obra “Ensaios de

Teodicéia, este termo, teodicéia, segundo seus biógrafos foi

cunhado por ele mesmo, e significa grosso modo “justiça de

Deus “. O livro gira em torno da defesa de Deus em meio a

face do mal físico que assola os seres humanos, procurando

fazer uma defesa do Divino como não sendo Este o

responsável pelo mal.


5
Em sua obra ele afirma que o mal existe, mas que não é

originado em Deus, pois Ele é Bom. Os escritos deste autor

estão baseados em uma teologia natural que de certa forma

responde um pouco, mas não tudo a respeito da origem dos

males físicos a que os seres humanos estão sujeitos.

Entrementes não é na religião e nem mesmo na

filosofia que se pode ter uma visão mais ampla e

confortadora a respeito deste tema. O lugar onde vamos ter

respostas melhores sobre o assunto em questão é certamente

na bíblia sagrada, e principalmente no livro de Jó e sua

experiência com as dores físicas e emocionais que moeram

sua alma.

O pastor Claudionor de Andrade (ANDRADE,2003),

em seu comentário sobre Jó cita uma frase da educadora

cristã Norte- americana Henrieta Mears “vem a calhar que o

livro mais antigo da biblia trate dos problemas mais antigos da


humanidade”.

Lembrado que Jó, pelo menos no princípio, não possuía

nenhum conhecimento das causas e razões do que estava lhe

acontecendo torna o livro ainda

6
mais maravilhoso; como disse Caio Fábio certa vez “Jó

não leu o livro de Jó”. Diante de todas as notícias ruins que lhe

chegava e em meio as doenças “em tudo Jó não atribui a Deus

falta alguma “.

O propósito deste livro não é responder à pergunta,

mas sim mostrar que que mesmo em meio a dor e o

sofrimento há algum propósito específico, e se isto não ficar

muito claro aqui nesta vida certamente ficará na eternidade.

Geralmente as pessoas leem os dois primeiros

capítulos e os dois últimos do livro de Jó deixando de lado o

que ocorre em boa parte do texto, porém é necessário

discorrer por toda a história a fim de ter um entendimento

mais amplo e mais correto sobre o que se passa, ninguém

deve assistir os primeiros capítulos de um filme e logo pular

para os últimos, assim também é com este livro.


Uma leitura mais aprofundada sobre o livro de Jó

servirá de auxílio ao leitor que sofre e vive em busca de

respostas do seu sofrimento. Embora o tema do sofrimento

não seja uma exclusividade deste personagem bíblico, o que

7
se pode dizer é que nesta matéria, nenhuma outra história

das Escrituras tenha tratado isto de forma tão profunda,

exceto a de Nosso Senhor Jesus Cristo. É possível que Jó não

tenha tomado ciência de tudo que lhe passou, de forma que

esta Obra literária seja mais para as gerações futuras do que

propriamente para ele.

O livro de Jó está localizado bem no meio da bíblia, em

seu coração, e isto é de propósito, embora Jó tenha bastante

informação teológica, sua intenção é falar aos corações

trazendo esperança em meio a dor e angústia.

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Jó, o primeiro livro da bíblia a ser escrito, foi elaborado

em formato de poesia e está agrupado na bíblia entre os

livros que possuem o mesmo gênero, isto é, os poéticos ou


sapienciais, lembrando que a poesia judaica nem sempre é

uma rima de palavras e sim de ideias, outra coisa que deve

deixar claro aqui é que poesia neste caso não é uma ficção e

sim um estilo literário escolhido para relatar o fato, ou seja a

forma é de poesia, porém o assunto é real e verdadeiro, seus


personagens certamente existiram e não foram invenção

judaica e não podem ser comparados aos personagens do

Sítio do Pica Pau Amarelo, de Machado de Assis, estes sim são

fictícios.

Prova disto é que Jó foi mencionado em outros livros da

bíblia sagrada:

Ainda que estivessem no meio dela estes três homens, Noé,

Daniel e Jó, eles pela sua justiça livrariam apenas as suas almas,

diz o Senhor DEUS. Ezequiel 14:14


9
Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram.

Ouvistes qual foi a paciência de Jó, e vistes o fim que o Senhor lhe

deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso.

Tiago 5:11

Além disto tem se várias citações do livro que foram

absorvidas e aproveitadas no NT, por exemplo: Compare Jó

5.13 com I Co 3.19 e Jó 5.17 com Hb 12.5,6 além de outros.

Isto de certa maneira prova a historicidade do livro pois os

autores do NT não citariam trechos de uma ficção judaica a

fim de corroborar seus ensinos.

Outra observação que se deve fazer aqui, é que o livro

não é composto somente de poesia, outros recursos literários

são também utilizados, tais como: narração, diálogo,

enigmas, prosa e lamentos, e etc., porém a maior parte é sim

em forma de poesia, talvez tenha desejado o autor se


expressar de forma poética ao registrar a história de Jó, pois

este tipo de linguagem se aproxima bem da alma. Poesia é a

linguagem do coração do escritor para o coração do leitor.

10
A respeito da beleza desta obra escreveu Merril Unger

(UNGER,2006):

...” Um dos mais magníficos poemas dramáticos da

literatura. A sublimidade do tema, a majestade das ideias, a

grandeza do alcance literário não encontra grandeza do alcance

literário não encontram páreo em nenhuma peça da literatura

mundial”

Nas notas do Comentário Bíblico Beacon (VÁRIOS

AUTORES, 2016) há uma citação de uma frase de Thomas

Carlile, escritor escocês, sobre o livro de Jó que afirmou o

seguinte: “Não existe nada dentro ou fora da Bíblia com o mesmo

valor literário”.

Já o Dr. F. Davidson (DAVIDSON, 1963) em seu O

Novo Comentário da Bíblia cita um dito de Lutero sobre o


livro de Jó: "Magnífico e sublime como nenhum outro das

Escrituras".

11
Digno de nota é também o que relatou o pastor batista

e membro da Academia Evangélica de Letras do Brasil,

Antônio Neves de Mesquita: “Os Diálogos de Platão" não

chegam a fazer sombra a este drama e poema épico...”

12
Embora se tenham algumas opiniões que este

personagem seja contemporâneo de Abraão (ou ulterior a

ele), alguns outros especialistas apontam Jó, (cujo significado


do nome, de acordo com o teólogo e pastor José Gonçalves,

seria “desconsolado" ou “o que chora”, e de acordo com

Champlin seria “odiado”). Alguns teólogos sugerem que sua

existência se encaixa próxima a de Abraão, outros creem que

até antes disto, alguns sugerem que ele teria sido neto de Jacó
e filho de Issacar(Gn 46.13), e que ele teria descido com a

família para o Egito quando o José mandou-os buscar e que

tenha se distanciado da família se estabelecido na terra de

Uz, como defendido pelo pastor e escritor João Antônio de

Souza Filho (FILHO,2013).

As informações bíblicas que temos do mesmo é que

ele era o homem mais rico do Oriente, tão rico e abastado que

seus filhos faziam festas todos os dias, mas algo que a

Escrituras também vai destacar é com respeito ao tipo de

homem que ele era,” Homem sincero, reto, temente a Deus e

que se desviava do mal”. Isto foi destacado pelo próprio Deus


13
que dele deu testemunho, destacando o que Jó era e não o

que possuía, pois para Deus o “ser” tem mais valor que o

“ter”. O texto registra que ela o maior do Oriente, mas sua

superioridade não era apenas em dinheiro, o reunia em si,

bondade, retidão, generosidade e etc... Certa vez foi

sepultado um rico excêntrico e egoísta e sobre sua lápide foi

escrito “este homem era tão pobre que só tinha dinheiro”.

Jó era um pai-sacerdote que intercedia e sacrificava

por seus filhos constantemente, pois sempre os mandava

buscar para realizar sacrifícios por eles e com eles, como bem

registra o cap 1.5, se lido na versão ARC o leitor encontra a

palavra “enviava Jó e os santificava”, mas em outras versões

este ato fica mais claro, por exemplo na NVI (Nova Versão

Internacional) “Jó mandava chamá-los e fazia com que se

purificassem”...

Também é digno de nota que Jó conseguia manter seus dez

filhos unidos, coisa bem difícil em qualquer família. Outro

fato, tudo indica que ele também vivia num casamento

monogâmico, isto é, possuía apenas uma mulher, pois não se

14
tem notícia de outras esposas, algo bem atípico para a época

e cultura, porém, alinhado com o propósito divino em

Gênesis.

Os primeiros capítulos relatam o que ele era dentro de

sua casa, porém ao seguir com a leitura do livro o leitor

poderá ter um conhecimento do que Jó era do lado de fora,

isto é, no seu relacionamento com as pessoas, por exemplo,

ao chegar no capítulo 29(embora, segundo alguns teólogos, os

livros poéticos não se contam capítulos) pode se ler as seguintes

informações:

Porque eu livrava o miserável, que clamava, como também o

órfão que não tinha quem o socorresse.

A bênção do que ia perecendo vinha sobre mim, e eu fazia que

rejubilasse o coração da viúva.

Vestia-me da justiça, e ela me servia de vestimenta; como

manto e diadema era a minha justiça.


Eu me fazia de olhos para o cego, e de pés para o coxo.

Dos necessitados era pai, e as causas de que eu não tinha

conhecimento inquiria com diligência.

15
E quebrava os queixos do perverso, e dos seus dentes tirava a

presa.

Jó 29:12-17

Com a leitura deste texto têm se um vislumbre maior

da razão e do porquê ele era chamado de justo e reto.

Existem pessoas que são boas com seus familiares, mas

indiferentes com os não sanguíneos, Jó era generoso para

com os necessitados, bem diferente de outro rico

mencionado nas Escrituras cujo nome é Nabal, cuja vida era

de ganância e de falta de compaixão e generosidade (I

Sm.25).

Por causa desta vida de retidão ele teria alcançado um

lugar de destaque e liderança entre seus Conterrâneos,

sendo considerado uma autoridade e conselheiro a que

todos do lugar recorriam constantemente a fim de pedir


ajuda, conselho, justiça e ouvir seus ditos(cap.29), isto

explica o porquê de satanás investir tanto com sua vida.

16
Algo que fica claro aqui é a riqueza nem sempre é

sinônimo de desonestidade, Jó deixa claro que possuía bens,

mas seus bens não o possuíam, o Pr. Hernandes Dias Lopes

sempre profere a seguinte expressão” O dinheiro é um ótimo

servo, mas um péssimo patrão”, já o apóstolo Paulo deixou

registrado que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males

(I Tm. 6.10), mas este não era o caso deste homem pois sua

confiança estava em Deus.

17
Uz(Terra Salgada) segundo alguns estudiosos, ficava

ao norte da Arábia, entre a Palestina e o Eufrates, embora não

se possa identificar sua localização exatamente existem


várias menções a respeito da existência desta região (Jr 25.20,

Lm 4.21)

De acordo com o Dicionário Bíblico Wyclife(VÁRIOS

AUTORES ,2006):

Elifaz o temanita:

Temã era uma região da Iduméia(terra de Edom) e era

famosa por dar ao mundo homens sábios.

(Hc. 3.3, Jr 49.7)

Elifaz era descendente de Esaú e teve um filho chamado

Temã ,por isto a cidade herdou este nome


18
(Gn. 36.10,11).

Tudo indica que o pai de Bildade era Suá , de Abraão

com Quetura (Gn. 25.2) e, portanto, Bildade era neto do

patriarca.

Zofar o Naamatita

Segundo especialistas, Naamá era uma aldeia que

ficava ao sul de o Sodoma.

Segundo as notas do já citado Beacon, o nome de Elifaz


teria como significado “Deus subjuga” e Zofar seria algo
como “prego afiado”, os nomes destes dois por si só já revelava

o resultado desta visita, eles vieram com o propósito de

subjugar Jó em Nome de Deus, e também ser um prego

afiado em suas feridas, que já estavam sangrando, quando

na verdade deveria consolar lhe e trazer bálsamo para suas

dores. Tão grave como a antipatia (aversão ou raiva) pelas

pessoas é a apatia (falta de sensibilidade), mas a bíblia

19
valoriza a empatia (se pôr no lugar do outro) com os que

sofrem.

Ao que está aflito devia o amigo mostrar compaixão, ainda

ao que deixasse o temor do Todo-Poderoso.

Jó 6:14

Warren Wiersbe (Wiersbe, 2008 ) conclui que Elifaz era

mais espirituoso do grupo e fundamentou sua prédica em

“experiência espiritual”, Bildade mais tradicionalista e usa

alguns argumentos de inteligência e lógica e Zofar o mais

dogmático e eu julga ter o melhor conhecimento a respeito

de Deus, este é o trio de amigos que vai confrontar Jó, mas

no final o que se vê é que a aparência de sabedoria destes é

posta em xeque.

20
Vários comentaristas entendem que o autor é anônimo,

porém para a maioria dos teólogos entendem que este livro

tenha sido escrito por Moisés, e que em sua época, a história


fazia parte da tradição conhecida e contada oralmente entre

o povo, e teria cabido a ele, Moisés, um escritor habilidoso e

cheio das revelações de Deus fazer o registro por escrito

desta história tão fascinante.

O local de sua escrita, segundo uma tradição judaica foi

durante a passagem de Moisés por Midiã, região que faz

fronteira com o lugar onde Jó teria vivido e pode ser que

tenha tido conhecimento da existência de Jó nesta época.

Possivelmente Jó não tenha vivido o bastante para ler

sua história, porém Deus respondeu sua oração quem um

dia ele fizera em meio aquela turbulência toda:

Quem me dera agora, que as minhas palavras fossem escritas!

Quem me dera, fossem gravadas num livro!


21
E que, com pena de ferro, e com chumbo, para sempre fossem

esculpidas na rocha.

Jó 19:23,24.

Deus não deixa uma oração sem resposta.

22
Tudo indica que esta seja um dos mais antigos livros da

bíblia e seu lugar seria entre o final de Gênesis e o início de

Êxodo, este fato de certa maneira choca o leitor principiante


da bíblia, mas algo que precisa ficar claro na mente deste

leitor é que os livros das Escrituras não estão agrupados em

ordem cronológica e sim arranjados e distribuídos por

ordem de assuntos.

A fim de confirmar a tese acima os especialistas em AT

citam vários fatores observáveis no livro tais como: Ausência

de qualquer referência a lei mosaica, ao tabernáculo, ao

sistema sacerdotal Levítico, reis e etc.

Alguns Nomes de Deus aparecem no texto como Javé,

mas o uso abundante que que se destaca é El Shaday, ou o

Todo Poderoso (Nome que aparece cerca de trinta vezes no

livro), um dos nomes primitivos de Deus, além da

longevidade de Jó que retrata os povos antigos, estas e

algumas outras pistas parecem realmente indicar esta

história bem ulterior aos dias de Moisés.


23
O aparecimento de satanás no livro:

Nos dois primeiros capítulos o que se tem é uma

mudança brusca de cenários, ora os eventos estão

acontecendo no mundo espiritual, ora eles se projetam para

o físico e de forma repentina voltam para o espiritual e

depois para o físico novamente, mas do capítulo três em

diante os eventos se restringem ao mundo físico.

Começa o livro com um testemunho da vida e caráter

deste personagem, suas posses e como ele vivia com sua

família e repentinamente se descortina uma reunião no

mundo espiritual.

E num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se

perante o Senhor, veio também Satanás entre eles.

Jó 1:6

Três perguntas devem ser feitas aqui, a primeira é:

Quem são os filhos de Deus e a segunda onde foi este encontro e a

24
terceira, o que Satanás estava fazendo ali e se ele tem acesso à

presença de Deus.

1-Quem são os filhos de Deus?

Está claro que pelo contexto que são os anjos, são filhos

de Deus por criação, mas não se pode de forma alguma

confundi-los com os filhos de Deus de Gn. 6.2 que pelo

contexto lá está claro que são os descendentes da geração

piedosa de Sete, e que alguns teólogos insistem em afirmar

que são anjos também.

2-Onde foi este encontro?

Parece que este encontro ou reunião assemelha se a

algum tipo de prestação de conta ou algo parecido assim já

que não se tem muitos detalhes, não se sabe ao certo em que

região se dá tal encontro, mas de acordo com alguns

escritores não está claro que seria nas mansões celestiais e


sim em algum lugar na atmosfera talvez.

3- O que Satanás estava fazendo ali e se ele tem acesso a

presença de Deus.

25
Existem alguns comentaristas que afirmam que esta

reunião teve lugar no céu, é o caso do já citado teólogo e

pastor norte americano Warren Wiersbe, porém parte dos

escritores entendem que esta aparição de Satanás no meio

desta reunião só foi possível porque não estava sendo feita

no céu, pois de lá o mesmo foi expulso e nunca mais

voltando a acessar (Is. 14.12) e sim na atmosfera, lugar e

campo de sua atuação após a queda, outros compreendem

que sim era no céu o lugar desta reunião e ele teria entrado

de forma ali sem ser convidado, e que somente depois da

obra de Cristo na cruz é que ele foi definitivamente

impedido de acessar ali, para isto citam dois textos bíblicos

do Novo Testamento:

E disse-lhes: Eu via Satanás, como raio, cair do céu. Lucas

10:18

Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe

deste mundo. João 12:31

26
A verdade é que é muito difícil determinar onde se deu

este encontro, mas este autor entende que Satanás não tem

mais acesso a presença de Deus e que este foi um caso ímpar

que aconteceu sob a permissão de Deus.

Fazendo uma comparação com o livro de Gênesis cap

3 e este texto o que se pode verificar é que ali Satanás (cujo

significado é Adversário) aparece diante dos homens a fim

de acusar Deus, aqui ele aparece diante de Deus para acusar

o homem, e no Novo Testamento ele reaparece a fim de

tentar o Filho de Deus, Jesus Cristo, realmente este ser não

tem limite em sua petulância, mas graças a Deus que nestes

dois últimos casos Satanás foi vencido.

Apesar de Jó ter vivido distante do caminho do mal, O

mau entrou em seu caminho. Há um diálogo que se trava

entre Deus e o Maligno, e o tema do assunto gira em torno

da pessoa de Jó, onde o próprio Deus dá testemunho de sua

integridade, algo que cada servo Dele nesta terra deve

27
procurar alcançar, pois os céus dão testemunho da vida de

um crente fiel, mas o príncipe deste mundo também o estava

observando, isto serve de aviso para o servo de Deus, pois

sempre alguém estará vendo suas atitudes, e sempre fará um

julgamento a respeito de sua vida, e este julgamento nem

sempre será correto .

Ao ouvir o testemunho de Deus sobre Jó , Satanás

alega que isto não é sem razão e sim porque o Senhor o

abençoa ,e que se fosse tirada as bênçãos ele certamente não

manteria sua fidelidade ,Jó estava sendo julgado à revelia em

um tribunal e nem mesmo se dava conta disto, o promotor

era o anjo caído e o Advogado de Jó era o próprio Deus que

o defende ,”toca em tudo o que tem e verá se não blasfema em sua

face “disse o acusador, o que então responde Deus “Eis que

tudo quanto ele tem está na tua mão; somente contra ele não

estendas a tua mão”.


Outra coisa que fica evidente no texto é que Satanás

acusa Jó de ser interesseiro e ao mesmo tempo e de forma

sutil acaba por acusar Deus de comprar a fidelidade de Jó

com bênçãos dos céus.

28
Algo importante a ser comentado aqui é que os

pregadores precisam ser cuidados em não pregar este tipo

de teologia satânica do Toma-Lá-Dá-Cá, ou seja, um

relacionamento com Deus á base de troca, onde o adorador

ou o servo será cumulado de bençãos, e por servir a Deus

Ele não lhe permitirá perdas e fracassos, este evangelho

triunfalista certamente não tem respaldo na bíblia sagrada.

29
Os proponentes do Teísmo Aberto diriam que não,

pois segundo esta teoria, Deus não é Onisciente, o que é uma

aberração, Deus sim conhece o futuro e o rege, por isto


permitiu que seu servo passasse por tudo que passou para

no seu fim lhe abençoar.

É importante também dizer aqui que Satanás, não

tem poder sobre a vida dos servos de Deus do jeito que


muitos pensam, ele precisou de permissão divina para fazer

um ataque a Jó,observa se também que uma limitação lhe foi

feita “só não toca-lhe a vida, o pastor Hernandes Dias Lopes,

citando uma frase de Lutero disse “Satanás é um cão na coleira

de Deus”, ou seja, não pode agir discriminadamente contra a

vida das pessoa e principalmente dos que são servos do Deus

Altíssimo.

Agora, se Deus não precisava de provas do temor e

fidelidade de Jó, então porque permitiu?, na verdade foi uma

resposta mais para o inimigo, e também para a posteridade


30
que leria nas páginas da bíblia e teria então alento e conforto

diante das próprias adversidades em saber que Deus jamais

desampara os seus. Algo que não pode deixar de ser

mencionado aqui é que nem todos os que sofreram perdas

terão a mesma restauração financeira e de saúde como a de

Jó, mas na eternidade sim, ali toda fidelidade será

recompensada.

Nas notas do Novo Comentário da Bíblia, de

Daividson, há menção de um acréscimo posterior no último

versículo do livro de Jó, este acréscimo está na Bíblia

Septuaginta (primeira versão grega do AT) e diz da seguinte

maneira :

“E está escrito que ele(Jó) ressuscitará juntamente com

aqueles que o Senhor ressuscitar".",ou seja, um dia a

recompensa deste servo de Deus será ainda mais destacada


ao experimentar a ressurreição e receber seu galardão por

sua fidelidade ao Senhor.

31
Como já foi explicado acima, os eventos mudam de
cenário quase que de forma brusca, e após este diálogo o

cenário já é a terra novamente, e se este livro fosse um filme

certamente Jó seria o personagem principal envolvido numa

disputa entre Deus e Satanás. O que se verá é uma sucessão

de catástrofes e desgraças que abatem em um só momento a

vida deste servo de Deus:

Os bois e jumentos roubados e também os camelos,

mortandade nas ovelhas duma só vez, um vento forte

derruba a casa onde seus filhos estão alojados e todos os dez

morrem, fazendo um funeral e sepultamento coletivo

trazendo dores e tristezas tudo isto num só dia.

Os métodos usados pelo Maligno para atacar tentar


desestruturar lhe foram: A imprevisibilidade, a surpresa, o

sofrimento cumulativo, ataque aos bens preciosos, as

notícias ruins e a falta de apoio familiar, porém Jó consegue

adorar a Deus em meio a todas estas tragédias foi fiel a Deus,

32
na riqueza e também na pobreza, na alegria e na dor, no

monte da benção e no vale da angústia.

Então Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua

cabeça, e se lançou em terra, e adorou.

E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá;

o Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor.

Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma.

Jó 1:20-22

33
O capítulo dois inicia se novamente no céu, e com uma

nova reunião, e desta vez o maligno sugere que se a saúde

de Jó for atacada aí sim ele não suportará, de acordo com o


Hernandes Dias Lopes, Satanás tinha algumas teses para

atacar a Jó, a primeira é que ninguém ama a Deus mais que

o dinheiro e a segunda é que ninguém ama mais a Deus mais

que a família, e a terceira é que ninguém mais que a sua

própria pele ou a própria vida, então o Senhor permite que o


adversário toque em sua saúde, então o cenário volta se para

a terra novamente onde Jó é ferido dos pés à cabeça.

Hernandes Dias Lopes (Lopes,2014) foi cirúrgico ao

apontar que com as aflições que satanás causou a Jó, este ser

maligno tinham como propósito provar que ninguém ama a

Deus mais que as riquezas, mais que a família e que a sí

mesmo, pelo menos na vida de Jó ele estava equivocado pois

este provou que amava seu Senhor acima de todas as coisas.

34
Ao discorrer por todo o livro pode anotar o estado físico

e emocional que Jó ficou: Dores constantes (2.13),tumores por

todo o corpo(2.7,7.5),angustia no espírito e na alma (7.11,10.1),


insônia (7.4), pesadelo (7.13,14), depressão (7.16,30.16), problema

na visão (17.7), mal hálito (19.17), fraqueza (19.18), falta de apetite

(19.20), pontada nos ossos (30.17), febre constante (30.30) e pele

descamada e escura (30.30).

Em decorrência de tudo isto, Jó se mostra um tanto

deprimido, em alguns momentos diz palavras duras contra

os céus, porém isto não pode servir de motivo de julgamento,

pois está terrivelmente abalado .

Vários estudantes do e comentaristas tem se proposto a

especular qual teria sido o diagnóstico da doença de Jó. O

pastor Claudionor de Andrade (ANDRADE ,2003) cita o

teólogo alemão J.D. Michaelis, que dá uma sugestão para a

doença de Jó da seguinte maneira: “J. D. Michaelis, tomando

por base a descrição do texto bíblico, diagnostica a doença de Jó


35
como elefantíase: “Ela começa pela erupção de pústulas, que têm a

forma de nódulos, daí o seu nome latino lepra nodosa. Em seguida,

à semelhança do cancro, passa a cobrir toda a superfície do corpo,

corroendo-o de tal modo que todos os seus membros começam a se

separar uns dos outros. Os pés e as pernas incham-se de tal forma

que se cobrem de crostas e coágulos até se assemelharem às pernas

dos elefantes. Eis por que a doença se chama elefantíase. O rosto

incha-se; a voz torna-se fraca. A doença termina por tornar o

paciente completamente mudo”. (pág 84)

36
Soma se a isto a coceira insuportável e as feridas que

abriam ao caçar com cacos de telhas, as cinzas que eram

postas sobre os sulcos de sua pele a fim de suavizar as dores


que o tornava irreconhecível e o mal cheiro insuportável.

Pelo que se entende Jó passa todo este momento ou a maior

parte dele em algum lugar fora de casa, onde está exposto a

vexação e julgamento das pessoas da região, a presença de

cinzas aqui talvez indique algum lugar fora da cidade onde


se queimava o lixo da cidade. Ele teria ido do luxo ao lixo em

um só dia .

O ´Jó que se vê no capítulo três em diante é bem

diferente em seus discursos feitos diante da perda de seus

filhos e de seus bens onde adora a Deus de modo

maravilhoso, e diante de sua esposa que a repreende ao

sugerir que ele amaldiçoe a

37
Deus, porém deste capítulo em diante, ele está bastante

mal humorado(e não é para menos) abre boca atribuindo a

Deus todo aquele infortúnio, em alguns momentos usa

palavras contra Deus que deixaria qualquer cristão bem

indignado, porém é necessário ler o livro com certa

condescendência e se pôr em seu lugar. Jó se vê no direito de

expressar sua dor, mesmo que no final ele se arrependa e

diga “Certo é que falei de coisas que eu não entendia, coisas tão

maravilhosas que eu não poderia Saber”. (Jó 42:3). Quem é que

no momento da dor e da angústia não fale coisas que depois

precise se retratar e se arrepender?.

O capitulo três abre com Jó rasgando o verbo e

escancarando sua boca contra aquela situação ,ele deixa sua

alma gritar palavras e questionamentos que espantaria

qualquer um que o conhecesse ,exceto não fosse o momento

de dor intensa que ele está vivendo, por exemplo ele


amaldiçoa o dia em que nasceu vv1-10, ele diz que teria

preferido ter sido um natimorto v 11, porque sua mãe lhe

deu de mamar quando bebê ?, estas palavras agridem os

ouvidos ,porem foram proferidas em um momento de total

38
angustia e certamente Deus não as levou em conta,

certamente que o leitor já deve ter falado coisas em

momentos assim, e depois se arrependeu? Graças a Deus que

Ele não leva em conta este tipo de palavras.

Uma outra observação que sem tem de fazer sobre esta

passagem, é que embora ele tenha desejado não ter nascido

e nem mesmo ter vivido todos os bons dias que viveu , em

momento algum o suicídio é cogitado ou tentado por ele,

pois Jó sabe que Deus é o Autor da criação e a vida está nas

mãos Dele, não cabendo ao homem o direito de decidir sobre

isto.

Aquele que se suicida peca contra Deus e nunca poderá

ver a mudança que Deus poderia ter proporcionado em sua

vida, graças a Deus que Jó esperou até ao fim para viver uma

virada em sua vida.

39
Os pregadores deveriam ser mais comedidos ao

citarem de forma negativa a mulher de Jó, pois a dor de ter

perdido tudo, e os dez filhos que saíram de suas entranhas

deve ter mesmo abalado suas estruturas, e quem a crítica,

murmuraria por bem menos.

Outra coisa a se dizer a respeito desta mulher, é que de

vez em quando surge um e outro trazendo uma tese que esta

mulher teria dito “abençoa este Deus e morre “, ao invés de

“amaldiçoa este teu Deus e morre” , porém, os mais entendidos

nos manuscritos atestam que sim, ela disse amaldiçoa, e o

próprio contexto da passagem aponta para este fato.

"Como tenho saudade dos meses que se passaram, dos dias

em que Deus cuidava de mim, quando a sua lâmpada brilhava

sobre a minha cabeça e por sua luz eu caminhava em meio às

trevas!

40
Como tenho saudade dos dias do meu vigor, quando a

amizade de Deus abençoava a minha casa.

Jó 29:2-4(ARA)

O fato de ter aliança com Deus, de ser amigo dele não

isenta os seus, de problemas e tampouco é uma blindagem

contra os infortúnios da vida Abraão foi chamado amigo de

Deus e mesmo assim foi provado, a mesma coisa no NT,

Lázaro era amigo de Jesus e mesmo assim enfrentou a morte,

embora tenha ressuscitado depois. Se pelo menos Deus

houvesse dito a Jó algo do tipo “Meu servo vais passar por uma

turbulência, mas agüenta firme que no final eu vou te honrar assim

diz o Senhor, mas isto não aconteceu e esta parece ser, de

acordo com suas reclamações, o que mais lhe afligia.

Estes dois temas caminham juntos, se de um lado Deus

provava seu servo ,do outro satanás estava a tentá lo, existe

uma linha tênue entre provação e tentação, a tentação tem


como propósito a queda,

41
mas a provação o crescimento e o aperfeiçoamento. Pela

leitura dos capítulos iniciais sabe se que não foi Deus que

pesou a mão sobre Jó, e sim satanás que teria arruinado sua

vida, mas com permissão divina. A provação não significa

que Deus resolva jogar com a vida humana, a provação

consiste em Deus testar o comportamento de seus servos em

meio a algumas circunstâncias, e a tentação é a ação do

Inimigo levá-lo a queda e ser reprovado.

“Existem certos amigos que não são amigos certos “

(Antônio Vieira)

É bom que se diga que a chegada destes amigos não


foi, pelo menos a princípio, algo que se possa ser visto de

negativo, pois pelo consta foram os únicos que se

aproximaram para lhe prestar auxílio, deixaram seus

afazeres e fizeram longa viagem para fazer lhe uma visita.

42
A origem dos mesmos já foi descrita no início, e eles

chegam e ao ver o estado de Jó, sentam se ao chão e por um

espaço de sete dias não emitem nenhuma palavra ao

combalido amigo, somente choraram, rasgaram suas vestes

e permaneceram ali ao seu lado diante de tamanha dor.

Mas ao terminar este período começaram, do mais

velho ao mais novo discutir com ele sobre as causas daquela

situação, e a semelhança de um debate político, onde há fala,

réplica e tréplica, o que acontece por boa parte do livro.

Em suma, o diálogo consistia em acusar a Jó de ter

pecado contra Deus, não tendo sucesso eles passaram a

criticar lhe duramente e até a zombar dele (12.4), ao ponto de

Jó contabilizar as vezes que foi vilipendiado por eles (19.1-3),

e ele chega mesmo a pedir que estes seus amigos se calem

(13.5), pois a princípio vieram para lhes trazer consolo e


alento, mas aquela visita havia se tornado uma seção de

acusação que estava o atormentando. Eles vieram com o

propósito de trazer conforto, porém aquela visita transformou

se em um confronto.

43
Tenho ouvido muitas coisas como estas; todos vós sois

consoladores molestos. Jó 16:2

O leitor com certeza já percebeu que satanás

simplesmente desaparece do livro depois do capítulo dois,

mas também com estes amigos de Jó ele nem precisa mesmo

aparecer, pois eles estavam fazendo o trabalho dele, em

meio aquelas discussões se tornaram como escreve Caio

Fábio (FÁBIO,2002) “demônios-psicológicos “, sem o saberem,

os amigos de Jó terem, na prática, cumprido um papel mais

satânico que o do Diabo na história do drama de Jó, completa ele .

Lembre se que Jesus também estava cercado de um “diabo

humano” ( Jo 6.70). Se Jó estivesse vivido depois da escrita do

Novo Testamento certamente teria dito aos seus amigos

aquele versículo onde Jesus repreende Pedro “Para trás de

mim, Satanás.”(Mt 16:23).

Alguns sugerem que Eliú seria um servo de Jó, visto

que ele não é mencionado chegando, e possivelmente que

estava a acompanhar tudo de perto, então resolve falar


44
também, se esta teoria estiver correta é bem provável que ele

tenha adquirido com seu senhor, pois seu discurso é o que

está mais perto da verdade, prova disto é que ele não foi

repreendido por Deus como aconteceu com os outros três.

Uma frase deste jovem que causa espanto é a que está no cap.

34.36

“Pai meu! Provado seja Jó até ao fim”...

“Sentiríamos mais pelos prisioneiros se soubéssemos mais

acerca da prisão”

Spurgeon

Existem ótimos materiais escritos sobre o livro de Jó, e

neles pode se encontrar de forma exaustiva e detalhada o que

cada um destes personagens defenderam em suas crenças

sobre Deus, porém não é este o propósito deste livro, mas

apenas um resumo de toda teologia que os mesmos

esboçaram, lembrando que muito do que disseram era

verdade e grande parte não, aí é que está o grande problema,

45
as meias verdades podem ser mais prejudiciais do que a

heresia velada.

A grosso modo, os discursos consistiam no seguinte

teor, Jó é acusado de estar colhendo o que havia plantado,

seu castelo de cartas está desabando, e que Deus o estava

instruindo por meio daquilo tudo, que ele deveria buscar a

Deus, pois certamente estava sendo infiel a Ele . Afinal Deus

é justo e não rejeita o reto de coração e que se Jó fosse

humilde e se arrependesse logo o castigo seria removido.

Algo que deve ser lembrado aqui é que os filhos de Jó

também estão sendo acusados do merecimento de morte tão

brusca que veio sobre eles, até a família de Jó foi atacada, a

memória dos filhos não fora respeitada e isto deve ter doído

muito mais em seu coração.

Além de tudo acima, pode se identificar uma


semelhança com a teologia moderna da Prosperidade, que

alega que os que servem a Deus não sofrem e tampouco são

provados, e que o mal só bate à porta dos que não conhecem

a Deus, o que é uma falácia enorme.

46
Nunca se viu tanta fala inútil como a destes oradores,

que versam em debates intermináveis sobre a causa do

sofrimento, sem ao menos dar apoio ao doente e abatido Jó,

que num momento deste o que mais precisava era de amigos

e não de juízes. Estes personagens do livro nos alerta para

algo muito importante, é muito perigoso emitir juízo de

valor sobre a vida dos outros sem ter conhecimento real dos

fatos ,pois as causas do sofrimento e da dor não fazem parte

de uma ciência exata, existem ímpios que vivem a vida toda

sem muitos males e justos que sofrem, ao bem e o mal todos

estão sujeitos(Mt 5.45) ,isto mostra o livro de Eclesiastes(Ec

7.15,9.2) , por isto Jó chegou ao ponto de pedir lhes que se

calassem:

Quem dera que vos calásseis de todo, pois isso seria a vossa

sabedoria. Jó 13:5

“Uma grama de amor vale mais do que uma tonelada de


conhecimento”,disse certa vez John Wesley.

*Sobre a questão de ímpios que nem sempre

experimentam aquilo que colhem, um exemplo é do médico

47
nazista de Hitler , Joseph Mengueli, mais conhecido como o

“Anjo da Morte” , que cometeu graves atrocidades aos judeus

na segunda guerra mundial, levando a morte mais de 3 mil

bebês assassinando-os de forma mais vil. No ano de 1979

morreu afogado enquanto se banhava em uma praia em

Bertioga,SP, onde viveu por anos com identidade falsa e sem

nunca ter sido descoberto e tampouco ter pago em vida pelos

seus crimes, enquanto judeus sofreram os horrores do

Holocausto.

48
Sua capacidade adorar:

Satanás havia dado por certo que Jó iria se rebelar

contra Deus, mas em meio as duas investidas do inimigo ,ele

pode irromper em louvor e adoração a Deus .

Seu conhecimento de Deus :

Embora ele tenha afirmado no final do livro que antes


conhecia Deus de ouvir falar, o que se pode deduzir por meio

de uma leitura mais acurada de seus atos e seus discursos é


que sim Jó possuía um bom conhecimento da pessoa e das

obras de Deus, em tempo algum pairou sobre si alguma

dúvida da existência de Deus .

49
Em seus discursos se dirige a Deus como o Todo

Poderoso, o El Shaday ,o mesmo título por qual Deus se

apresentara a Abrão ( Gn 17.1)

Sua esperança nele:

“Ainda que Ele me mate esperarei Nele..”( 13.15ª ), a leitura

de um texto como este por si só já é o bastante para revelar o

quanto de confiança ele tinha em Deus, mesmo não sabendo

o porquê de fato estava acontecendo tudo aquilo com ele e

por qual razão o motivo do silêncio.

Muito embora o livro exalta o caráter de Jó, algo que

não pode ser furtado do leitor é o texto de 3.25, onde ele

confessa que possuía um certo medo, e justamente este receio

abateu sobre sua vida, alguns estudiosos se debruçam sobre

este versículo e chegam à conclusão de que Jó tinha medo de

que um dia viesse a perder tudo, isto de fato aconteceu,só lhe


sobrando mesmo a fé em Deus ,a quem ele se agarra, mesmo

sem vê lo, Jó em

50
momento algum duvida disto. Esta passagem serve

para mostrar que o coração não deve se encher de

preocupações e nem de medos pois isto não ajuda em nada,

e outra coisa, o servo pode perder tudo mas nunca sua fé em

Deus e jamais se apegar em coisas materiais pois são

passageiras .

Normam Champlim(CHAMPLIM,2001) comentando

sobre este texto escreveu que “na presença de Deus, talvez os

nossos argumentos intelectuais não melhorem; mas a nossa fé em

sua providência torna-se invencível”.

Sua vida de comunhão:

Jó sempre orava a Deus, e era temente a Ele, havia

desenvolvido o hábito de orar durante toda sua vida, e esta

prática certamente lhe trouxe comunhão, a oração é como

um depósito de fé e forças para os dias de adversidades. Se


o inimigo tinha como intento afastar Jó de Deus, ele deve ter

se decepcionado, pois durante este momento de angustia Jó

clamou a Deus constantemente,teve experiência com o

51
Senhor, e depois que tudo passou ficou ainda mais perto de

Dele.

Algumas das respostas que foram dadas a Jó para o

tema do sofrimento são pregadas até os dias de hoje e


acabam mais por confundir do que ajudar as pessoas , sobre

a complexidade do assunto o pastor Antonio

Mesquita(MESQUITA ,1972),de saudos memória, pontua

sobre Jó “todos explicam e ninguém entende”. Sobre a doença

por exemplo, afirmam que é resultado de falta de fé, como

ensinam os pregadores da doutrina da prosperidade, outros

dizem que a doença é sinal de infidelidade, ou seja, se

alguém peca logo vem o castigo, como se as doenças fossem

sempre uma ação direta de Deus na vida do ser humano e

etc.., porém deve ser ter o cuidado com estes extremos e

analisar o que as Escrituras relatam sobre o tema, João

Moreno

(MORENO,2007) pontua que o sofrimento pode ser

oriundo de diversas ordens como pode se ver abaixo:

52
1-O sofrimento pode ser uma conseqüência dos próprios

atos :

Resultado de uma má alimentação que pode ter

trazido doenças, ou falta de direção divina ao fechar

negócios ou ao se casar ,ou contrair dívidas etc... estas são

algumas razões consecutivas para o sofrimento e nem

sempre é uma ação direta de Deus.

2-O sofrimento pode ser uma correção:

A fim de levar o homem a abandonar suas ações,

Deus pode enviar ou permitir o sofrimento.

(Pv 3.11,12)

3- O sofrimento pode ser uma punição:

Pode ser aplicado ao homem em forma de

julgamento, quando o mesmo não quer abandonar seus

pecados e se torna irredutível, a diferença da correção para a

53
punição é que naquela há uma esperança em resgate e nesta

pode ser irreversível.

4- O sofrimento pode ser instrutivo: Sl119.67,71

Pode ser permitido com o propósito do

aperfeiçoamento, crescimento e amadurecimento do crente

fiel, Jó mesmo confirma isto ao dizer depois da prova “agora

te veem os meus olhos...”(42.5)

No século 19 ,na Inglaterra viveu o pastor Charles

Haddon Spurgeon, muitos o conhecem como o “Príncipe dos

pregadores “, mas o que poucos sabem é que ele esteve por

um longo período angustiado por uma profunda depressão,

porém depois de tê-la vencido ele pôde registrar o resultado

desta situação da seguinte maneira :

“Estou certo de que vi mais no escuro do que jamais vi na luz,

mais estrelas,com certeza, mais coisas boas no céu e menos coisas

na terra. A bigorna, o fogo e o martelo são os que nos formam, não

somos lapidados por qualquer outra coisa. Este martelo pesado

54
caindo sobre nós ajuda a obtermos forma. Portanto deixe a aflição,

a tribulação e a provação virem”.(A Depressão de Spurgeon.

p.178)

5- O sofrimento pode ser redentivo: 1 Co 5.5

No texto referido acima, Paulo escreve á igreja de

Corinto para tratar do caso de um irmão que pecou, e que

este irmão estaria sofrendo, mas no final seria salvo.

6-O sofrimento pode ser devido á causa naturais:

Jo 16.33

Pode se dizer que esta é a causa mais comum do

sofrimento, pois o mal pode acontecer com qualquer ser

humano sem que se tenha uma razão específica, todos estão

sujeitos a doenças e a toda sorte de dores nesta terra.

Charles Swindow (SWINDOW, 2004) pontua quatro

princípios a respeito do sofrimento que faz bem serem

55
mencionados aqui, pois estão bem alinhados com as

respostas acima, são estes:

Primeiro princípio: Encontramos um inimigo que não

podemos ver, mas ele é real.

Segundo princípio: Suportamos provações imerecidas, mas

que são permitidas.

Terceiro princípio: Há um plano que não compreenderemos,

mas que é o melhor.

Quarto princípio: Sofremos consequências que não

esperávamos, mas que são necessárias.

Uma das belezas do AT, é sua intenção de revelar,

ainda que de forma antecipa a Gloriosa pessoa e obra de

Cristo, isto pode ser visto em várias ocasiões, e neste livro

não é diferente, nas palavras que Jó recita pode se perceber

de forma nítida a sua esperança em Cristo, embora não saiba

seu Nome, ele clama por sua manifestação:

56
Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se

levantará sobre a terra.

E depois de consumida a minha pele, contudo ainda em

minha carne( *) verei a Deus .Jó 19:25,26

Jó é tido como um homem de caráter acima de

qualquer suspeita, de certa forma representa Cristo (ainda

que de forma bem pálida pois é falho), que é totalmente sem

pecado, assim como um homem justo sofreu sem merecer

tudo aquilo, assim foi com Nosso Senhor, assim como Jó

experimentou o silêncio e certo desamparo(na cabeça dele)

de Deus diante do sofrimento, assim Jesus deu um brado na

cruz : E, à hora nona, Jesus exclamou com grande voz, dizendo:

Eloí, Eloí, lamá sabactâni? que, traduzido, é: Deus meu, Deus

meu, por que me desamparaste?Mc 15:34. Ambos Jó e Jesus

fazem perguntas a Deus em seus momentos de maior dor (Jó

10.2), além de nestes momentos de dor eles intercederam


pelos que lhes fizeram mau, Jó pelos seus amigos e Cristo

pelos que lhe entregaram á cruz e pelos seus algozes (Lc.

23.34 ).

57
Some se às semelhanças acima, o fato de as únicas

vezes que se tem a voz de satanás conversando com Deus é

no livro de Jó e a outra é nos evangelhos onde o Maligno

conversa com Deus Filho, Jesus Cristo, na passagem da

tentação.

*Uma observação deve ser lançada aqui afim de fazer

o leitor pensar ,e é com respeito um trecho do texto

mencionado logo acima, na versão ARC(Almeida Revista e

Corrigida )está assim “contudo ainda em minha carne verei a

Deus”, dando a entender que Jó, cria na ressurreição após

morte, ou cria que seria curado, ou ainda veria a Deus em

carne mesmo doente, o que de fato aconteceu ,mas se o leitor

tomar por base outra versão das Escrituras lerá da seguinte

maneira “E depois que o meu corpo estiver destruído e sem

carne, verei a Deus” ( NVI).Como o leitor pode perceber cada

versão apresenta o texto de uma forma, e não é tão fácil


determinar qual está mais certa, a opnião dos Comentaristas

não são unânimes quanto a isto, mas o fato é que se esta

última estiver correta, Jó de forma profética está declarando

que em algum momento na eternidade se encontraria com

58
seus Redentor, o que de fato também aconteceu quando

Jesus ressuscitou e foi a região dos mortos(Ef 4.8-10).

Alguém disse em resposta a uma indagação do porquê

do silêncio de Deus diante das lutas e tribulações que seus


servos passam “No dia da prova o professor fica em silencio”. O

já citado Hernandes Dias Lopes pontua que “O silêncio de

Deus grita mais alto em nossos ouvidos do que o barulho mais

ruidoso das circunstancias “. Jó havia chamado a Deus que

viesse e com ele falasse, e Deus veio, na hora que quis vir, e

falou o que quis falar, sem jamais dar as respostas do porquê

tanto sofrimento.

Depois disto o SENHOR respondeu a Jó de um redemoinho,

dizendo:Jó 38:1

Se o leitor observar a parte “b” do capítulo 12.4 ...”Eu,

que invocava a Deus, e ele me respondia”,chegará à conclusão

de que Jó era um crente fiel, que estava acostumado a clamar

a Deus constante mente, ele era um homem de oração e


59
comunhão com Deus, porém houve um momento nesta

história em que Jó se desespera e clama por uma audiência

com Deus , porém nada acontece, o céu está quieto e parece

não ouvir se lamento, cada servo de Deus certamente já

passou por uma experiência desta em meio a dor e ao

sofrimento:

Ah, se eu soubesse onde o poderia achar! Então me chegaria

ao seu tribunal.

Exporia ante ele a minha causa, e a minha boca encheria de

argumentos.

Saberia as palavras com que ele me responderia, e entenderia

o que me dissesse.

Porventura segundo a grandeza de seu poder contenderia

comigo? Não: ele antes me atenderia.

Ali o reto pleitearia com ele, e eu me livraria para sempre do

meu Juiz.

Eis que se me adianto, ali não está; se torno para trás, não o

percebo.

Se opera à esquerda, não o vejo; se se encobre à direita, não o

diviso.

Jó 23:3-9

60
Mas ao chegar no capítulo 38 Deus rompe o silencio e

fala com seu servo, isto depois de todos terem esgotado os

seus argumentos, quando todos se calaram, inclusive Jó,

Deus falou com ele, ou melhor, fez a ele 73 perguntas

retóricas a respeito da criação (entre os cap 38-41).O

interessante é que em momento algum Deus dá satisfação a

seu servo de seus feitos e tampouco lhe explica a razão

porque de tudo aquilo tudo que lhe sucedeu ,isto porque Ele

é Soberano e não deve satisfação a ninguém. Houve no

passado uns pregadores que surgiram com uma mensagem

que o homem deveria perdoar a Deus por causa de algum

mal que Ele teria permitido abater e magoar seus servos, isto

é uma falácia sem tamanho e esta história comprova que o

ser humano é que deve a Deus e não ao contrário.

Ao seu servo Elias Deus escolheu falar por meio de uma

brisa mansa, mas com Jó Ele resolve falar de dentro de um


redemoinho que certamente chacoalhou o lugar onde seu

servo estava, e aquilo deve realmente lhe causado espanto;

Deus tem seus meios de falar com o homem, ora de maneira

mais calma, ora por métodos mais espantosos. Aquela era

61
uma forma de dizer a ele que sempre esteve por perto diante

do furação que passou sobre sua vida . O belo poema Pegadas

na Areia bem que poderia ter sido da lavra de Jó, pois

representa bem tudo que o mesmo passou.

O silêncio e ocultamento de Deus:

“Verdadeiramente tu és o Deus que te ocultas..”

Is. 45:15

Este texto do profeta Isaias retrata bem a verdade

experimentada por Jó, onde experimentou o silêncio e o

ocultamento divino. Assim como Jó, muitos servos de Deus

também experimentaram em meio as angústias da vida este

aparente e momentâneo ocultamento, um exemplo disto

pode ser visto no livro “Torturados por amor a Cristo” que

conta a história do Pastor romeno Richard Wurmbrand,


fundador da Agência Missionária Voz dos Mártires, que passou

quatorze anos de sua vida numa prisão solitária comunista

em 1948 ,separado da família e sofrendo as mais graves

torturas, enquanto sua esposa, também presa, estava em um

62
campo de concentração. Ele permaneceu firme em Cristo

sem perder sua esperança até ser libertado. É dele a seguinte

frase: ”uma fé que pode ser destruída pelo sofrimento não pode ser

chamada de fé”.

Outro exemplo é o livro “Refugio secreto” , que conta

a história da cristã holandesa Corrie Ten Boom, que teve sua

liberdade suspensa ao ser descoberto que ela e sua família

abrigava em casa judeus, escondendo-os das mãos dos

nazistas, alguns de seus familiares foram para outras

prisões enquanto Corrie e sua irmã Betsie foram enviadas

para a prisão juntas, Betsie não sobreviveu e morreu ali,

Corrie sobreviveu para contar,é dela a frase que foi cunhada

durante estes dias de sofrimento: “Nenhum poço é tão

profundo que Ele não possa alcançar”. Embora Deus sempre

esteja por perto, existem situações que Ele, por motivos que

não se podem ser explicados satisfatoriamente Ele resolve


não intervir. Neste tempo de ocultamento pode ser que não

se veja Deus, mas Deus sempre contempla seus servos, isto

disse Hagar no deserto em um momento de sofrimento em

lágrimas “Tu és Deus que me vês”(Gn 16.13).

63
Estes dois livros citados acima deveriam ser lidos por

todo cristão que sofre sem compreender os motivos da dor

que insiste em não ir embora.

Durante todo o livro Jó havia desafiado a Deus que


viesse e agora Deus veio e é Ele quem o desafia com

perguntas que Jó não consegue responder.

Disse mais o Senhor a Jó:

Acaso, quem usa de censuras contenderá com o Todo-

Poderoso? Quem assim argui a Deus que responda.

Então, Jó respondeu ao Senhor e disse:

Sou indigno; que te responderia eu? Ponho a mão na minha

boca Jó 40:1-4

Um comentário deve ser feito aqui a respeito de 38.2

que diz : Quem é este que escurece o conselho com palavras sem

conhecimento? esta pergunta feita pelo Senhor Deus aparece

assim que Ele se manifesta, não se sabe se Ele está se

64
referindo a Jó e Eliú que foi quem acabara de falar ,mas se

for a Eliú isto mostra o quão indignado Ele deve ficar com

aqueles que em seu Nome pregam a sua palavra de maneira

equivocada, por isto disse Tiago “Meus irmãos, muitos de vós

não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo.”Tg

3.1

“Agora cinge os teus lombos, como homem” Jó 38:3

Depois se manifestar a Jó, Deus o ordena que se cinja,

isto que se vista, pois mesmo em meio ao sofrimento o servo

de Deus não pode perder sua dignidade. Os especialistas em

hebraico apontam que Jó é intimado a se vestir como fazem

os soldados ao ir para guerra onde usam uma roupa de

proteção aos órgãos vitais, seria como os modernos coletes

balísticos que profissionais da segurança usam hoje, ou seja,

para Deus Jó ainda é


um guerreiro, portanto a palavra homem que aparece

neste texto, segundo os mesmos especialista é “homem

valoroso e valente “. A lição aqui é a seguinte, independente

65
do que estás passando não perca a postura de um soldado

de Cristo.

Enquanto os amigos de Jó só conseguiram deixá-lo

pior do que estava, Deus começou a curá-lo ao fazê-lo tomar

postura diante da prova.

Sobre as respostas que Deus deu a seu servo ,o que se

pode inferir é que Jó estava bastante equivocado ao dizer que

o Senhor estava longe dele, pois Deus lhe mostra de maneira

detalhada sobre a criação dos corpos celestes, da natureza e

dos animais que Ele criou e que se Jó tivesse observado isto

certamente o teria contemplado em suas obras e isto teria

trago algum alento para si. Deus no mesmo tempo que é um

Ser Transcendente, isto é separado e acima de suas criaturas,

também é um Ser Imanente, ou seja, Ele está presente e

próximo a sua criação, (isto pode ser visto claramente no

Salmo 19), porém as aflições de um servo acabam por


anuviar esta grande e maravilhosa verdade, mas uma coisa

que os sofredores nunca devem duvidar, é que além dos

atributos acima, Deus é um Ser Condescendente, isto é, que

se importa com o ser humano .

66
O Pastor José Gonçalves(GONÇALVES,2020) em sua

Obra sobre o mesmo assunto comenta que “o livro deixa claro

que Ele permite Jó ser testado até o limite último, mas não para

provar que era soberano ou mostrar que era Deus, mas sim, para

provar que mesmo oculto e ficando em silêncio ,Ele estava com Jó e

amava-o”.

Enquanto na escola secular o aluno recebe a lição e

depois de tê-la aprendido, então se aplica a prova, com Deus

a coisa é quase sempre diferente, primeiro vem a prova e

depois as lições.

É certo que Jó era um homem justo ,mas não significa

que era um homem perfeito ,e algo que esta experiência


serviu foi para lhe mostrar seu

próprio pecado, que até então era tão sutil que ele nem

mesmo pode perceber:

Então aqueles três homens cessaram de responder a Jó;


“porque era justo aos seus próprios olhos”.Jó 32:1

67
Acaso, anularás tu, de fato, o meu juízo? Ou me

condenarás, para te justificares?.Jó 40:7,8

Existem “pecadinhos” que são tão perigosos quanto aos

“pecadões” , e no caso de Jó, era este seu pecado, um senso de

auto-justiça. Não há nada de errado com ser justo mas no

caso dele já havia se tornado um orgulho, e isto somente foi

possível detectar por causa desta imensa provação que ele

passou, por isto é que as provas são correções de Deus para

o aperfeiçoamento de seus servos. Jó se orgulhava de sua

auto-justiça e não existe algo tão sutil, tão fatal como o

orgulho, e não existe algo tão eficaz como a dor e o

sofrimento para removê-lo do ser humano. Paulo sabe muito

bem a respeito desta matéria, quando depois de uma grande

experiência com Deus de arrebatamento disse “E, para que

não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um

espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me


esbofetear, a fim de não me exaltar.” (2 Co12.7)

Ao chegar no capítulo 42, ele então toma uma atitude

que ainda não havia tomado em todo o livro,isto é tomar

palavras de arrependimento:

68
Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza.

Jó 42:6

Enquanto aqueles homens falava, Jó os rebatia de

forma contundente, mas quando Deus se manifestou, ele

simplesmente se quebrantou, isto porque diante da

Majestade nenhum homem se mantém firme sem que se

humilhe aos seus pés. A semelhança de Jó houve outros

casos também onde Deus se manifestou e o homem teve de

se humilhar, por exemplo: Quando Isaias viu ao Senhor ele

sentiu seu pecado e se humilhou (IS.6.5), Habacuque

quando ouviu sua palavra temeu(Hc 3.2),Daniel teve visões

Dele e perdeu as forças e sentiu dores(Dn 10.15,16), no Novo

Testamento tem a experiência de Paulo com a manifestação

divina no caminho de Damasco onde cai ele e sua soberba

também diante da voz poderosa de Cristo Jesus (At. 9.1-6)

Outra experiência que Jó teve foi o fato de conhecer a


Deus de verdade, por meio de toda aquela turbulência que

teve:

69
Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os

meus olhos.

Jó 42:5

Alem de tudo Jó deixou uma linda declaração a

respeito da onipotência divina:

Bem sei que tudo pode e nenhum de seus planos podem ser

abalados ..Jó 42.2

Como registra umas das estrofes do hino 126 da harpa

cristã ,”os mais belos hinos e poesias foram escritos em

tribulação”..Jó 42.2

Deus se dirige então aos seus três amigos com uma

palavra de repreensão, pois suas idéias teológicas e

filosóficas a respeito Dele e de Jó eram bastante equivocadas:

70
A minha ira se acendeu contra ti, e contra os teus dois

amigos, porque não falastes de mim o que era reto, como o meu

servo Jó.

Jó 42:7

Imagine hoje quanta ira e reprovação certos

pregadores tem chamado para sí ao ensinarem suas heresias

em Nome de Deus. Parece que Elifaz foi o mais agressivo em

seu julgamento contra Jó e por isto Deus tenha o mencionado

primeiramente ,ou também porque era o mais velho deles.

Não se sabe ao certo a razão de Eliú ter ficado de fora

desta reprimenda, alguns afirmam que sua fala é a que mais

se aproximou da verdade e por isto Deus o tenha poupado,

mas se uma análise minuciosa for feita dos seus ditos poderá

se verificar que ele também estava bem distante da verdade

plena, então por que não foi repreendido como os outros?


Uma outra conclusão que certos escritores chegam é que

estes capítulos da fala de Eliú foi uma inserção bem posterior

ao término do livro feita por alguém que teria se indignado

com a fala de Jó e seus amigos, e o fato de não haver

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nenhuma tréplica por Jó como acontece em todo o livro

parece confirmar isto, mas nem todos estão de acordo com

esta teoria.

Algo interessante aqui é que o livro de Jó inicia se com

ele exercendo sacrifícios em prol dos pecados de seus filhos

e vai terminar com ele fazendo o mesmo por seus amigos,

prova clara que as orações dele eram ouvidas e seu culto era

recebido também.

As lições são infindas e inesgotáveis, quando mais se

cava neste poço profundo que é o livro de Jó, mais água se

tira, porém somente quatro serão comentadas aqui:

Jó é um livro de aparentes injustiças:

Neste livro a lei da semeadura parece ter falhado. Jó

parece estar experimentando algo que todo servo de Deus

em algum momento da vida parece viver, as contradições da

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vida ,isto fica claro em suas palavras: Todavia aguardando eu

o bem, então me veio o mal, esperando eu a luz, veio a escuridão

(Jó30:26). Quem é que já não viveu algo semelhante, depois

de ter feito tudo certinho, de acordo com o protocolo e

mesmo assim deu errado? Nestas horas é preciso ser

cauteloso e não tirar conclusões precipitadas pois com o

decorrer do tempo Deus vão se esclarecendo as coisas.

2- Jó é um livro de muita fala:

O inimigo falou ,os amigos de Jó falaram, ele também

falou bastante. Enquanto Jó e seus amigos falavam Deus se

calou e quando então todos se calaram Deus pode falar:

...”Acabaram-se as palavras de Jó.”Jó 31:40

“Depois disto o SENHOR respondeu a Jó de um

redemoinho... Jó 38:1

Quando acabam os argumentos do homem então o

mesmo está pronto para ouvir a voz de Deus, quando se

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deixa de ouvir a voz da terra então pode se ouvir a voz do

céu.

Deus fala de um redemoinho com seu servo, este é um

tipo de lição que cada servo de Deus não deve esquecer, nem

todo furacão é sinônimo de mal, as vezes Deus resolve vir

dentro deles a fim de socorrer os seus.

Os três amigos gastaram cerca de nove capítulos a fim

de convencer a Jó, Eliú seis, e o próprio Jó em seus discursos

de tréplicas e questionamentos ocupou cerca de vinte

capítulos e não houve nenhuma conclusão, porém Deus em

quatro, pôde trazer convencimento a Jó, ainda que nem de

longe tenha lhe dado satisfação sobre o porquê de toda

aquela situação. Por isto é tão importante ouvir sua voz, sua

palavra tem o poder que os homens com suas filosofias não

possuem. Notável também é a diferença entre os discursos


destes amigos em comparação com os de Deus, eles alistam

em seus discursos pecados contra Jó mas não o convencem,

e Deus (que poderia alistar os pecados de Jó) não o faz e

mesmo assim o convence e o leva ao arrependimento.

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Embora seja aconselhável a busca de profissionais de

saúde, de remédios e tratamentos para a doença, para as

angústias e para dor, tem respostas e alívios que só serão

encontrados em Deus.

3- Jó é um livro de muitas perguntas sem respostas:

Jó fez cerca de dezesseis perguntas, Deus fez várias,

cerca de setenta e três, e todas sem respostas. Perguntas

fazem parte da vida do ser humano, mas nem sempre se terá

as melhores respostas a elas, então invés de se perguntar

“porque”? , O melhor mesmo é perguntar “para que”? Por

exemplo, ao invés de perguntar a Deus “Porque me deixou

passar por isto” ? O melhor seria reformulara pergunta assim

:”Para que estou passando por isto? Qual será a lição que queres

me ensinar “?

4-A vida de Jó virou história e sua história virou inspiração e

poesia:

Jó plantou nos amigos e parentes e depois pode colher:

75
Então vieram a ele todos os seus irmãos, e todas as suas

irmãs, e todos quantos dantes o conheceram, e comeram com ele

pão em sua casa, e se condoeram dele, e o consolaram acerca de todo

o mal que o Senhor lhe havia enviado; e cada um deles lhe deu uma

peça de dinheiro, e um pendente de ouro.

Jó 42:11

Deus abençoou seu servo, mas foi por meio de

pessoas que ele mesmo devia ter abençoado por toda sua

vida, esta é também uma lição que se não se deve esquecer,

a lei do retorno, o bem que se faz por alguém em algum

momento volta, imagine se Jó não fosse benevolente com as

pessoas, será que eles o ajudariam agora? porém não se deve

esquecer que a vida é como uma roda gigante, ora está em

cima, ora pode se estar em baixo.

É de se notar que estes parentes parecem estar


ausentes durante todo o processo de sofrimento de Jó,

somente surgindo no final, isto não deve ser visto como um

abandono e sim com uma permissão de Deus, as vezes Ele

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permite que alguns se afastem por um tempo para tratar

com seus servos.

Quando não se pode mais descer é a hora de subir, é

disto que trata esta parte final do livro,e ele subiu


mesmo,para mais acima de onde estava anteriormente.

A maioria dos especialistas concluem que o mesmo

estava com a idade de setenta anos quando passou por

aquela provação e teria vivido mais cento e quarenta anos

depois, chegando a soma de duzentos e dez anos de vida, já

seu gado que era de sete mil ovelhas passou a ser de

quatorze mil, seus camelos eram cerca de três mil cabeças e

passaram a ser de seis mil, as quinhentas juntas de bois se

tornaram em mil juntas e da mesma forma as jumentas que

eram de quinhentas passaram a ser de mil ,mas seus filhos

eram dez e ele obteve dez novamente ,a princípio parece que

só houve recebimento em dobro de animais e não de filhos,

porém como explica Wiersbe em seu Comentário, os filhos

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tiveram o número dobrados sim,pois na eternidade não

seriam número de dez e sim de vinte.

Uma observação que se deve fazer aqui é que tudo

aconteceu enquanto Jó orava por seus amigos (42.10) ,ou seja,

ele ainda estava mal ao orar, mas neste momento que ele ora

e também deve ter liberado o perdão a eles ali, sua história

foi mudada.

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É possível que leitor ao chegar até aqui e sentir se

insatisfeito ao não ter encontrado resposta satisfatória para a

questão do sofrimento do justo, isto não será um problema,


pois olhando para a história deste personagem o que se pode

notar é que realmente esta dúvida não é sanada, e isto não é

de tudo o mais importante, pois muitas lições podem ser

extraídas nas experiências amargas da vida. Algumas coisas

ficaram evidentes aqui sobre Jó, é que ele reconheceu a


soberania de Deus e pode permanecer fiel a Ele durante todo

o processo ...

A respeito do sofrimento e da dor, ninguém está

escape, nem os maus e nem os bons, e nem mesmo o próprio

Filho de Deus, mesmo sendo sem pecado, se isentou de

provar o seu cálice. Talvez a questão mais importante aqui

não é porque sofre o justo e sim como manter a fé em Deus

diante das adversidades e sofrimentos e suas causas

inexplicáveis. Outra coisa que fica evidente no livro e que

pode se aplicar a vida de qualquer um é que nem todos os


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dias serão alegres, as noites sem sono virão, a dor, as

doenças, as crises, tragédias, os desentendimentos familiares

e etc... todas estas coisas fazem parte da existência da

humanidade, nem sempre dá para sorrir, mas a felicidade é

possível quando se tem Jesus Cristo no coração, pois este tipo

de felicidade não depende de circunstâncias.

Também é preciso registrar que não uma garantia e

tampouco uma promessa de restituição financeira por parte

de Deus a todos aqueles que passaram pelas perdas na vida,

ela pode ou não acontecer, o que Deus fez na vida de Jó está

no campo da experiência, mas um coisa é certa, a Graça de

Deus sempre vai ser abundante e a restauração pode

acontecer em outras esferas da vida humana de cada um.

80
Jó ,o Problema do Sofrimento do Justo e o seu Propósito-

Claudionor C. de Andrade- 2003 .CPAD

Manual Bíblico Unger – Merril Unger -2006 VIDA NOVA


Comentário Bíblico Beacon Vl. 3–2016-Vários Autores -–

CPAD

O Novo Comentário da Bíblia – F Davidson- 1963-VIDA

NOVA

Livros Poéticos –João A. de S,Filho -2013- CETADEB


Dicionário Bíblico Wyclife- Vários Autores -2006- CPAD

Comentário Bíblico Wiersbe Antigo Testamento-Wiersbe -

2008 GEOGRAFICA

As Teses de Satanás,Hernandes D. Lopes -2014- HAGNOS

Jó, O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Propósito-

2003- CPAD

O Enigma da Graça – Caio Fábio -2002-PRÓLOGOS

O Antigo Testamento Interpretado – N.Champlim-2001-

HAGNOS

Estudos no Livro de Jó- Antônio N. Mesquita 1972- JUERP

Livros Poéticos – João Moreno- 2007-IBAD


81
A Depressão de Spurgeon – Zack Eswine -2014- FIEL

Jó, Um homem de Tolerância Histórica – C. R. Swindow-

2004-MUNDO CRISTÃO

A Fragilidade Humana e a Soberania Divina- J. Gonçalves -

2020-CPAD

82

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