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Ü LIVRO DE


o LIVRO DE

INTRODUÇÃO
1. Título -O livro traz como título o nome de seu personagem principal - Jó, do heb.
'Iyyob.
2. Autoria- Embora não o faça de maneira unânime, a antiga tradição judaica atribui
a autoria do livro a Moisés. O Talmude Babilônico afirma: "Moisés escreveu seu próprio
livro e as passagens sobre Balaão e Jó" (Baba Bathra, I4b, l5a) . Essa afirmação é rejeitada
pela maioria dos estudiosos modernos , bem como por muitos de época anterior. Alguns
sugerem Eliú, Salomão ou Esdras como possíveis autores. Outros creem que o livro seja
obra de um autor anônimo, talvez do tempo de Salomão, do tempo de Davi ou da época do
cativeiro. Todas essas afirmações de diferentes autores, no entanto, constituem apenas con-
jecturas e carecem de suficientes evidências internas e externas para serem aceitas.
Há muitas evidências em apoio à tradição que atribui o livro a Moisés. Moisés passou
40 anos em Midiã, o que lhe daria amplos antecedentes para o forte toque árabe que se
evidencia em todo o livro. Os antecedentes egípcios de Moisés também explicam as alu-
sões à vida e às práticas egípcias feitas no livro. O quadro de Deus como criador e man-
tenedor combina com a narrativa da criação preservada em outro livro escrito por Moisés
(ver Ed, 159).
Alguns eruditos argumentam contra a autoria mosaica com base na diferença de estilo
entre Jó e os demais livros atribuídos a Moisés . O argumento baseado no estilo, porém ,
é frágil. Atribuir a Moisés a autoria do livro de Jó não exclui a possibilidade de que grande
parte do material já estivesse em forma escrita - talvez red igida pelo próprio Jó. O tem a de
Jó é bem diferente do que é abordado nos outros livros de Moisés e exi giria um tratamento
diverso. Por outro lado, pode ser demonstrado que há evidentes semelhanças de estilo. Por
exemplo, certas palavras usadas no livro de Jó ocorrem também no Pentateuco, mas em
nenhuma outra parte do Antigo Testamento; muitas outras palavras que são comuns a Jó
e ao Pentateuco raramente são usadas por outros escritores bíblicos. O título 'El-Shaddai ,
"o Todo-Poderoso" (ver vol. 1, p. 149), é usado 31 vezes no livro de Jó e seis vezes no livro
de Gênesis, mas não ocorre nesta forma particular em nenhuma outra parte da Bíblia .
3. Contexto histórico- O livro de Jó é um poema sobre a experiência humana , tendo
um profeta como seu autor. Os comentários anteriores indicam a época aproximada em que -c ~
o livro foi escrito - durante a peregrinação de Moisés em Midiã. Jó talvez tenha sido con-
temporâneo de Moisés.
Essa conj ectura quanto à data de elaboração do livro revela por que ele não faz menção
ao êxodo ou a eventos que o sucederam, pois ainda estavam por ocorrer. Os eruditos que

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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

procuram situar Jó na época de Salomão ou mais tarde precisam explicar a ausência dessas
alusões históricas em Jó. A semelhança entre Jó e a literatura sapiencial não implica que
Jó tenha copiado o estilo de Salomão ou de seus contemporâneos. É tão razoável presumir
que Salomão tenha sido influenciado por esta obra-prima literária, como presumir o oposto.
Porém, não é preciso assumir nenhuma das duas posições.
O contexto óbvio de Jó é o da cultura do deserto da Arábia. Estranhamente, não é um
contexto israelita. Havia adoradores do Deus verdadeiro fora dos locais habitados pelos
descendentes de Abraão. O contexto não é político, militar ou eclesiástico. Em vez disso,
Jó emerge num contexto doméstico, comum em sua época. Ele era um rico proprietá-
rio de terras, honrado e amado por seus compatriotas. Jó não pode ser identificado com
nenhuma dinastia ou clã dominante. Ele aparece como uma figura solitária e nobre na his-
tória, importante por causa de sua experiência pessoal, não por causa de sua relação com
sua época ou com seus contemporâneos.
4. Tema- Esta é a história de um homem que encontra o caminho de volta para a vida
normal, após uma série de revezes terríveis e inexplicáveis. Os elementos de fundo que tor-
nam a situação dramática são: (1) o contraste entre a prosperidade de Jó e sua degradação;
(2) a ocorrência repentina da calamidade; (3) o problema apresentado pela filosofia do sofri-
mento, comum em sua época; (4) a crueldade de seus amigos; (5) a profundidade de seu
desânimo; (6) a ascensão gradual à confiança em Deus; (7) a dramática aparição de Deus;
(8) o arrependimento de Jó; (9) a humilhação de seus amigos; e (lO) a restauração de Jó.
Não há uma declaração única que possa abranger o complexo ensino do livro. Dentro
do tema principal há muitos temas secundários, o que faz com que o conjunto da obra se
assemelhe a uma sinfonia de ideias. Uma das maiores contribuições do livro é o retrato
que faz de Deus. A glória e a profundidade divinas não foram tão eloquentemente expres-
sas, exceto na própria pessoa de Jesus Cristo. Satanás procura impugnar a Deus, Jó é ten-
tado pelas circunstâncias a duvidar do amor divino, e os amigos interpretam mal o caráter
de Deus. Contudo, no final, Deus Se revela de maneira tão magnificente que Jó é levado a
exclamar: "Agora os meus olhos Te veem" (Jó 42:5). É significativo que, mesmo nas profun-
deza s de sua tristeza, Jó lamenta mais o que lhe parece ser a perda de Deus do que a perda
de propriedades e da família . Deus está no centro do livro, oculto, às vezes, por nuvens de
incompreensão, mas, finalmente, vindicado como um Criador justo e amoroso.
O problema do sofrimento ocupa lugar importante no livro. O leitor da narrativa se
familiariza, desde o princípio, com a razão dos infortúnios de Jó. O patriarca não estava
ciente das intrigas de Satanás contra ele. Ao contrário, Jó e seus amigos estavam mergu-
lhados numa tradição que afirmava ser o sofrimento sempre um castigo por pecado espe-
cífico. Jó não estava ciente de ter cometido tal pecado e se via diante da difícil tarefa de
achar uma explicação para seu infortúnio. Em meio aos obstáculos de conceitos errôneos e
distorcidos, colocados em seu caminho pela tradição daquela época, ]ó teve de encontrar a
saída para deixar o desespero e recuperar a confianç a.
Em sua enfermidade, Jó foi colocado frente a frente com a morte; desse modo, foi levado
a meditar na condição do ser humano na morte. Ele considerou que a morte é um sono
(]ó 14:12) e que há uma ressurreição além dela (v. 14, 15). Essa declaração tem sido uma <il f
pedra de tropeço para os comentaristas que creem no estado consciente dos mortos. Muitas
interpretações fant asiosas têm sido dadas às referências de Jó à vida futura, embora essas
referências estejam em plena harmonia com o ensino das demais passagens bíblicas.

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Outro tema secundário é a personificação da sabedoria. Como Salomão fez posterior-


mente, Jó exaltou a sabedoria como o maior bem. Ambos os escritores associam a sabedo-
ria com "o temor do Senhor" (Jó 28:28; Pv 15:33).
Ao interpretar o livro de Jó, é preciso distinguir as ideias que expressam a verdade
divina e as declarações de sentimentos e opiniões pessoais expressas pelos personagens
da narrativa. Por exemplo, a filosofia do sofrimento apresentada pelos amigos de Jó não está
correta. Ela reflete as ideias errôneas daquela época. Os discursos amargos não estão em
harmonia com a vontade de Deus. A inspiração registrou as noções equivocadas de certos
homens, mas isso não torna essas ideias corretas. O leitor de Jó precisa distinguir entre as
verdades que Deus está ensinando e as ideias incorretas frequentemente expressas por pes-
soas finitas. Usar uma declaração de Bildade, por exemplo, para estabelecer uma doutrina
é seguir um princípio equivocado de interpretação.
No Comentário do livro são dadas interpretações alternativas para certas passagens.
A principal razão para isso é a obscuridade do texto hebraico. Frequentemente as palavras
hebraicas têm vários significados. Esses significados são, muitas vezes, bem diferentes, e
mesmo opostos. Em alguns casos, uma decl a ração pode ser interpretada de várias formas.
Nesses casos, são dadas as diferentes interpretações possíveis. Às vezes, o hebraico é tão
obscuro que há necessidade de conjecturas. Esses problemas, contudo, não afetam essen-
cialmente o significado geral do texto.
A característica impressionante de Jó é a habilidade literária com que o tema é desen-
volvido. O pesquisador George Foot Moore (1851-193 1) considerou essa composição como a
maior obra da literatura hebraica preservada e uma das maiores obras poéticas da literatura
mundial. Outro apreciador da obra, a chama de "o monte Cervino do Antigo Testamento".
O livro de Jó não pode ser bem compreendido sem atenção à sua estrutura . O livro é
obviamente um poema. A base da poesia hebraica é o paralelismo. Esta é uma forma poé-
tica em que uma ideia é expressa em duas frases curtas. Às vezes, as duas frases são quase
idênticas, como em Jó 3:25; outras vezes, a segunda é uma extensão da primeira e acres-
centa uma ideia (ver Jó 5:12; para uma discussão dos paralelismos hebraicos, ver p. 9-12).
O livro tem três divisões: prólogo, poema e epílogo. O poema é dividido em três partes:
os diálogos entre Jó e seus amigos, o discurso de Eliú e a intervenção de Deus. Nas dis-
cussões entre Jó e seus amigos há três ciclos, cada um dos quais contém três discursos de
Jó e um de cada um de seus amigos (exceto pela ausência do disc urso de Zofar, no terceiro
ciclo). Na parte fina l de Jó, há três discursos. Deus é apresentado fazendo três pronuncia-
mentos. O epílogo é dividido em três partes. Essa estrutura pode ser encontrada mesmo na
construção de alguns dos discursos individuais do livro. O arranjo não é de surpreender;
está em perfeita sintonia com o espírito peculiar da poesia hebraica (ver com. de Jó 27:13 ,
quanto à opinião de que Zofar fez um terceiro discurso).
É bom lembrar-se da questão da repetição no livro de Jó. O leitor comum fica impres-
sionado e, às vezes, desanimado com as muitas ocorrências de repetição de ideias. Deve - se ,. ~
lembrar que todos os discursos dos amigos de Jó tinham o objetivo de provar uma tese:
a de que o infortúnio deve ser interpretado como um castigo. Eliú também desenvolveu
um tema principal: o de que o infortúnio deve ser interpretado como uma disciplina. Jó,
por outro lado, tinha em mente um objetivo: a vindicação de sua integridade que fora
questionada. Em cada caso, todos os recursos são usados para provar a referida tese .
Isso leva à expressão da mesma ideia em muitos contextos diferentes; por exemplo, cada um

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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

dos amigos fala do mesmo assunto, enfatiza as mesmas ideias e frequentemente emprega
as mesmas expressões.
Deve-se observar que a prevalência da repetição cessa quando Deus começa a falar.
Os discursos dos amigos têm sido comparados a muitas rodas girando sobre o mesmo eixo.
A mesmice deles torna essa comparação apropriada. O discurso de Eliú representa a emo-
ção reprimida de um jovem entusiasmado com aquilo que considera ser uma grande ideia.
Os discursos de Deus são diferentes; constituem uma classe separada. Ao longo de todos
os pronunciamentos divinos há progresso. Cada frase é cheia de significado. Os discursos
de Deus são uma clara revelação do ser divino e usam os objetos da criação como meio de
expressão. Esses fatos devem ser reconhecidos pelo estudante do livro de Jó, a fim de que
a estrutura do livro seja corretamente interpretada.

5. Esboço
I. Prelúdio em prosa, 1:1~2:13.

A. Já e sua família, 1:1-5.


B. Satanás obtém permissão para afligir a Já, 1:6 -12.
C. Satanás aflige a Já, 1:13-19.
D. A resignação de Já, 1:20-22.
E. Satanás aflige a Já com enfermidade, 2: 1-10.
F. A chegada dos três amigos, 2:11-13.
li. Os diálogos entre Já e seus amigos, 3: 1 ~31:40.

A. O primeiro ciclo, 3: 1~ 11:20.


1. O primeiro discurso de Já: seu profundo desânimo, 3: 1-26.
2. O discurso de Elifaz: Já é reprovado, 4:1~5:27.
3. O segundo discurso de Já: a gravidade de sua aflição, 6: 1~7:21.
4. O discurso de Bildade: Já é acusado de ser um pecador, 8:1-22 .
5. O terceiro discurso de Já: queixa sobre o trato de Deus para com ele, 9: 1~1 0:22.
6. O discurso de Zofar: um ape lo ao arrependimento, 11:1-20.
B. O segundo ciclo, 12:1~20:29.
l. O primeiro discurso de Já: defesa de sua integridade, 12: 1~ 14:22.
2. O discurso de E lifaz: repreensão a Já por impiedade, 15:1-35.
3. O segundo discurso de Já: acusa os amigos de não terem misericórdia, 16: 1~17: 16.
4. O discurso de Bildade: a calamidade alcança o ímpio, 18:1-21.
5. O terceiro discurso de Já: expressão de sua crença na ressurreição, 19:1-29.
6. O discurso de Zofar: descrição do castigo presente e futuro dos ímpios, 20:1 -29.
C. O terceiro ciclo, 21:1~31:40.

1. O primeiro discurso de Já: os ímpios, às vezes, prosperam, 21:1-34.


~~ 2. O discurso de Elifaz: apelo para que Já se arrependa, 22:1-30.
3. O segundo discurso de Já: seu anseio por comparecer diante de Deus, 23: 1~24:25.
4. O discurso de Bildade: o homem não pode ser justificado diante de Deus, 25: 1-6 .
5. O terceiro e mais longo discurso de Já: recapitulação de sua experiência e afirmação de sua
inocência, 26: 1~31 :40.
Ill . Os discursos de Eliú, 32:1 ~ 37:24.
A. Introdução e primeiro discurso: apresentação de uma nova filosofia do sofrimento, 32:1~33:33.
B. Segundo discurso: esforço para vindicar a Deus, 34:1-37.

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JÓ l :l

C . Terce iro d isc urso: Deus não ouviu a ] 6, 35: 1-16.


O. Q uarto dis curso: aprese nt ação do Deus da tempestade, 36:1 -37:24.
IV. A resposta de De us, 38: 1-41 :34.
A. Pri me iro pronu nc iamento: o u n iverso físico reve la a Deus, 38: 1-4 1.
B. Segundo pronu nc iamento: a vid a anim al reve la a De us, 39 :1-30.
C. Terce iro pronu nciamento: o h ip opótamo e o leviatã revelam a De us, 40 :1- 41:3 4.
V. Posllid io em prosa , 42: 1-17.
A. Jó recon hece a Deus, 42: 1- 6.
B. Jó ora por seus amigos, 42:7-9.
C . A res tau ração de Jó, 42: 10 -17.

CAPÍTULO 1
1 A santidade, a riqueza e o cuidado religioso de ]ó para com seus filhos. 6 Satanás
comparece diante de Deus e obtém, por meio de calúnias, pennissão para
tentar a Jó. 13 Ao saber da perda de seus bens e dos filhos,
em seu sofrimento, Jó bendiz a Deus.

l H avia um hom em n a terra de Uz, cujo 8 Perg untou a ind a o SEN HOR a Sa ta n ás :
nome era Jó; homem íntegro e re to, temente a O bs ervas te o Meu ser vo Jó? Porq ue nin gué m
Deu s e que se desviava do mal. há n a terra seme lha nte a ele , homem íntegro
2 Nasce ram-lhe sete filh os e três filh as. e reto, temente a De us e que se desvia do m a l.
3 Poss uía sete mil ovelhas, três mil ca melos, 9 E ntão, responde u Sata nás ao SENH OR:
quinhe ntas juntas de bois e qu inhentas jumen- Porventura, Jó debalde teme a Deus?
tas; era ta mbém mui numeroso o pessoa l ao seu lO Acaso, não o cercaste com sebe, a e le, a
serviço, de maneira que este homem era o maior sua casa e a tudo q uanto tem? A obra de s u as -- ~
de todos os do Oriente. mãos abençoa ste, e os seus be ns se multi plica-
4 Seus filhos iam às casas uns dos outros e ra m na terra.
faz iam ba nquetes, cada um por sua vez, e man- ll Estende, porém, a m ão, e toca-lhe em
davam convid ar as suas t rês irmãs a comerem e tudo qua nto te m, e verás se não blas fema con-
beberem com eles. tra T i na Tua fac e.
5 Decorrido o turno de dias de seus banquetes, 12 Disse o SENHOR a Satanás : Eis que tudo
chamava Jó a seus filh os e os santificava; levantava- quanto ele tem está e m teu poder; somente con-
se de madrugada e oferecia holocaustos segundo o tra ele não este ndas a mão. E Satanás saiu da
número de todos eles, pois di zia: Talvez tenham pe- presença do SEN HO R.
cado os meus filhos e blasfemado contra Deus em 13 Su cedeu um dia, em qu e seu s filhos e
seu coração. Assim o fa zia Jó conti nuamente. suas filh as comi am e bebi a m vinho na casa do
6 N um dia em que os filh os de Deus viera m irmão primogênito,
apresentar-se perante o SE NHOR, veio també m 14 que veio um mensageiro a Jó e lhe disse:
Satanás ent re eles . Os bois lavrava m , e as jumentas pasciam junto
7 E ntão, perguntou o SEN HOR a Satanás: a eles;
Donde vens? Sata nás respondeu ao SEN HOR e 15 d e repe nt e, dera m sob re e le s os sa -
di sse: De rodear a te rra e passear por ela. be us , e os leva ra m, e mata ra m aos se rvos a

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l: l COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

fio de espada; só eu escapei, para trazer-te comendo e bebendo vinho, em casa do irmão
a nova. primogênito,
16 Falava este ainda quando veio outro e 19 eis que se levantou grande vento do lado
disse: Fogo de Deus caiu do céu, e queimou as do deserto e deu nos quatro cantos da casa, a
ovelhas e os servos, e os consumiu; só eu esca- qual caiu sobre eles, e morreram; só eu escapei,
pei, para trazer-te a nova. para trazer-te a nova.
17 Falava este ainda quando veio outro e 20 Então, Jó se levantou , rasgou o seu manto,
disse: Dividiram-se os caldeus em três bandos, rapou a cabeça e lançou-se em terra e adorou;
deram sobre os camelos, os levaram e mataram 21 e disse: Nu saí do ventre de minha mãe
aos servos a fio de espada; só eu escapei, para e nu voltarei; o SENHOR o deu e o SENHOR o
trazer-te a nova. tomou; bendito seja o nome do SENHoR!
18 Também este falava ainda quando veio 22 Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu
outro e disse: Estando teus filhos e tuas filhas a Deus falta alguma .

1. Uz. Este local geográfico não foi norte do deserto da Arábia, entre a Palestina
identificado com segurança. Segundo e o rio Eufrates. Gesenius defende essa
Lamentações 4:21, a "terra de Uz" nos dias localidade como sendo a Uz de Jó 1:1. Sua
de Jeremias equivalia a Edom, ou então a proximidade com a Caldeia, de onde saí-
"filha de Edom" habitava fora de seu territó- ram os bandos de saqueadores que levaram
rio, numa região que teria sido conquistada os camelos de Jó (v. 17), tende a favorecer
por Edom. Provavelmente o correto seja essa teoria. Por outro lado, nem sempre se
a segunda opção, uma vez que a "terra de pode confiar no testemunho da LXX, como,
Uz" e Edom são separadamente menciona- por exemplo, na declaração contida em seu
das numa longa lista de nações que deviam apêndice ao livro de Jó, que afirma ser Jó
sofrer a vingança divina (Jr 25:20, 21). um dos reis de Edom.
Contudo, os escassos dados bíblicos rela- Outras tradições, preservadas pelos
tivos à residência dos companheiros de Jó: árabes, colocam Uz nas vizinhanças de
Elifaz, Bildade e Zofar (Jó 2:11), parecem Damasco. Em realidade, uma área 65 km
indicar que eles eram de algum lugar nas a sudoeste de Damasco ainda mantém o
imediações de Edom. Por exemplo, Elifaz nome Deir Eiyub, perpetuando o nome de
era um temanita. Edom e Temã são men- Jó. Esse local e o que fica ao norte da Arábia
cionados, aparentemente em íntima ligação têm sido defendidos, uma vez que Jó é des-
(ver Jr 49:7, 20; Ez 25:13; Am l:ll, 12; crito como "o maior de todos os [homens] do
Ob 8, 9). A tribo de Bildade, composta Oriente" (v. 3). Presume-se que esse termo
pelos suítas, provavelmente descendeu de se aplique ao território a leste da Palestina.
Quetura, a concubina de Abraão (Gn 25:1, 2). Assim, as vizinhanças de Edom não preen-
Buz, a terra do quarto companheiro de Jó, cheriam esse requisito geográfico. Por
Eliú (Jó 32:2), também está ligada a Tema, a outro lado, caso se assuma a posição de que
cidade natal de Elifaz (ver Jr 25:23). Moisés seja o autor do livro (ver Introdução,
Apesar dessas evidências que apontam p. 549), a posição geográfica dele talvez
para a área edomita como a localização de tenha sido em relação ao Egito ou a Midiã,
Uz, outros fatores têm levado alguns a dife- e não à Palestina. ...
'~~ "' 00

rentes conclusões. A LXX traduz Uz como Há pouca coisa mais no livro em si que
Ausites, que se diz ser uma área na parte ajude a identificar Uz. Os filhos e filhas

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JÓ 1:3

de Jó viviam numa área onde um "grande em sentimento ou mais elevado em arte do


vento do lado do deserto" os atingiu (v. 19). que esse livro.
Moravam numa área cultivada onde "os Íntegro. Do heb. tmn. A KJV di z "per-
bois lavravam, e as jumentas pasciam junto feito". Esta palavra não implica necessaria-
a eles" (v. 14). A casa de Jó ficava numa mente absoluta ausência de pecado. Significa,
cidade ou perto dela (Jó 29:7). O quadro, antes, plenitude, integridade, sinceridade,
fragmentário como é, parece ser o de uma mas num sentido relativo. O homem "per-
área marginal, de fazendas e cidades, na feito" aos olhos de Deus é aquele que alca n-
fronteira com um deserto. Mas essa situa- çou o grau de desenvolvimento que o Céu
ção não seria incomum em muitas partes espera dele num determinado momento.
do Oriente. O termo heb. tam é equivalente ao gr. teleios,
Jó. Do heb. 'Iyyob, que alguns conside- que é frequ entemente tradu zido como "per-
ram como se viesse da raiz 'ayab, que signi- feito", no NT, mas que seria melhor tradu-
fica "ser hostil", "tratar como um inimigo". zido como "plenamente desenvolvido" ou
Portanto, "Jó" pode significar "o maltratado". "maduro" (ver 1Co 14:20, em que teleioi é
Gesenius sugere que a ideia primária de traduzido como "homens amadurecidos", em
'ayab pode ser a de respirar, soprar ou bufar contraste com "crianças"). É difícil encon-
sobre alguém, como uma expressão de ira trar uma palavra adequada para a tradução
ou ódio. Contudo, não pode ser estabelecido de tam. Alguns tradutores , seguindo a LXX,
com certeza que o nome "Jó" venha desta usaram a palavra "irrepreensível ", que não
raiz. Não é incomum, porém, na Bíblia, que parece suficiente para transmitir a conota-
o nome de um homem descreva sua princi- ção positiva de totalidade e inteireza que se
pal característica. Nomes assim eram pos- encontra em tam.
tos, sem dúvida , num momento posterior Reto. Do heb . yashar, "reto", "plano",
da vida, como ocorreu com o nome "Israel" "justo", "correto".
(G n 32:28). O nome "Jó" não se encontra em Temente a Deus. Uma expressão
nenhuma outra parte na literatura hebraica, bíblica comum qu e denota lea ldade e devo-
mas ocorre nas Cartas de Amarna, do século ção a Deus. Aqui se deseja mostrar um con-
14 a.C. sob a forma deAyyâh. O nome é tam- traste entre Jó, que era leal a Deus, e os que
bém atestado em documentos cuneiformes adorava m outras divindades.
de Mari, em que é escrito como Ayyâbum. Que se desviava. A ideia é a de evi-
O "Jó" de Gênesis 46:13 não vem do heb. tar o mal, desviando-se dele como da pre-
'Iyyob, mas de Yob. sença do perigo. As quatro ide ias incluídas
No Cemitério Rock Creek, em neste verso não são meras repetições para
Washington D.C., está a famosa estátua da impressionar o leitor com o fato de que Jó
dor feita por Augustus Saint-Gaudens. Ele era um bom homem. Em vez disso, comple-
pretendia que ela fosse uma personifica- mentam-se mutuamente para dar o quadro
ção de toda a dor humana . Um crítico fran- total de um personagem notável.
cês disse com respeito a ela: "Não conheço 3. Possuía. A ARC diz: "era o seu
nenhuma outra obra que seja tão profunda gado". O heb. miqneh, "gado", vem da raiz
em sentimento, tão elevada em arte e que qanah, "adquirir propriedades". A riqueza do
tenha sido criada por métodos tão simples antigo Oriente era em grande parte consi-
e amplos." A Bíblia tem sua "personifica- derada em termos de gado.
ção da dor" na pessoa de Jó. Parafraseando Ovelhas. Do heb. so'n, uma pala-
o crítico de arte, não há algo mais profundo vra que se refere tanto a ovelhas quanto

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1:4 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

a bodes. Tais animais forneciam alimento parece ser o exato oposto. Em vez de atribuir
e vestuário. diretamente significados opostos a barah,
Camelos. Estes animais tornavam pos- muitos eruditos preferem considerar o uso
síveis as transações comerciais com áreas aqui como um eufemismo. Outros vertem
remotas. baral{ por seu significado habitual de "aben-
Jumentas. Refere-se aos animais de çoar" e traduzem 'Elolúm como "deuses",
carga domésticos. em vez de "Deus", implicando assim que
O pessoal. Os muitos servos que reali- os filhos "abençoassem" falsas divindades.
zavam os trabalhos. Parece, contudo, que o significado preten-
4. Faziam banquetes. A palavra dido é "amaldiçoar" e que 'Elohim significa
hebraica para "banquete" vem de uma raiz o Deus verdadeiro. Palavras com sentidos
que significa "beber", o que indica, desta exatamente opostos se encontram também
forma, uma ocasião para se beber. em outras línguas antigas como a egípcia.
Por sua vez. Ou, "no seu dia" (ARC). Continuamente. Literalmente, "todos
Muitos entendem que esta expressão talvez os dias". Embora fosse um homem rico e
se refira ao aniversário, inferindo isto a par- influente, Jó não permitia que as respon-
tir de Jó 3:1 , que diz que Jó "amaldiçoou o sabilidades diminuíssem sua preocupação
seu dia" (ARC). Outros têm imaginado que com os filhos, a quem ele continuamente
os filhos e filhas davam banquetes todos os apresentava diante de seu Deus.
dias e que esta descrição indica a riqueza 6. Num dia. A tradição judaica sugere
deles. Outros ainda têm pensado que a alu- que este "dia" foss e o Ano Novo religioso
são aqui é aos dias de festa costumeiros. Não dos judeus. Alguns intérpretes cristãos
~ i>' há uma solução definitiva para o assunto. veem nesta frase o dia do julgamento anual.
5. Decorrido o turno. Ou, "comple- Não há a necessidade de este dia sincroni-
tado o círculo". O quadro é o de um ciclo de zar com alguma festividade humana. É des-
dias, vindo um após outro em rotação. necessário que os encontros de Deus com
E os santificava. Como o sacerdote os seres celestiais se encaixem em cálculos
patriarcal do lar, Jó consagrava seus filhos . terrestres. A frase obviamente implica que a
Parece que ele chamava os filhos a compa- reunião foi realizada no momento determi-
recer à sua casa, onde era realizada alguma nado por Deus (ver Jó 2: 1).
forma de cerimônia religiosa. Filhos de Deus. A LXX traduz a frase
Tenham pecado os meus filhos. Os como "anjos de Deus". Evidentemente a
filhos aparentemente levavam a vida des- referência é a anjos (ver OTN, 834; GC ,
preocupadamente no luxo. Jó, em sua sen- 518; T6, 456). Os anjos, como os homens,
sibilidade espiritual, reconhecia o perigo são seres criados (Cl l:l6) e, neste sentido,
deles e implorava o perdão divino em seu filhos de Deus.
favor. O pecado que Jó temia em seus Perante o SENHOR. O local não é espe-
filhos, estranhamente, era o mesmo que cificado e, portanto, não pode ser conhe-
ele próprio foi mais tarde tentado a come- cido. Não parece razoável que a cena tenha
ter. Eles eram tentados pelo conforto; ele o ocorrido no próprio Céu, pois Satanás
foi pela privação. estava excluído de seus domínios (Ap 12:7-9;
Blasfemado. A NVI diz "amaldiçoado". HR, 26, 27), mas tinha certo grau de acesso
O heb. barah mais de 200 vezes é traduzido a outros mundos (ver PE, 290).
como "abençoar". Mas aqui e em Jó l:ll; 2:5, Satanás. Do heb. hassatan , literalmente,
9; 1 Reis 21:10 e 13, o significado exigido "o adversário". Daqui vem o verbo satan,

556
]Ó 1: 15

"ser adversário" ou "agir como adversário". (v. 15-1 7), depoi s a casa (v. 18, 19) e, fi nal-
O verbo e o substantivo ocorre m juntos em mente, o próprio Jó (2:7, 8).
Zaca rias 3:1 , em que se di z, literalmente : Bens. D o heb. miqneh. Ver com . do v. 3.
"O adversá rio estava à sua mão direita para Multiplicaram. Do heb. parats, "trans-
se lhe opor." A palavra portuguesa "Satanás" por uma barreira", "irromper". Parats é
vem diretamente do hebraico. Satanás não usado na expressão "transbordarão de vin ho
é um dos "filhos de Deus". Ele veio entre os teus laga res" (Pv 3: lO). A prosperidade de
eles, mas não era um deles (ver G C , 51 8). ] ó era fe nomenal.
7. Rodear. Do h eb. shut, "ir de luga r 11. Porém. D o heb. 'ulam . Uma forte
em lugar" ou "perambul ar de um lugar para conjunção adversativa para enfa ti zar o con-
outro". Por exemplo, a palavra é usada para traste entre a atual felicidade de Jó e a ati-
des crever a procura pelo m aná (Nm 11 :8), tude predita para ele quando enfrent asse a
a reali zação de um cen so (2Sm 24:2) e a adversidade. O hebraico pode ser tradu zido
procura por um bom homem (Jr 5: 1). enfaticamente: "Com certeza ele Te amaldi-
Passear. Isto faz lembrar a fra se : çoa rá" (NVI). C om respeito a "amaldiçoar"
"O d iabo, vosso adversário, anda em derre - como tradução de barah, ver com. do v. 5.
dor, [... ] proc urando alguém para devorar" 12. Em teu poder. D e us aceitou o
(lPe 5: 8) . desa fio. Retirou sua proteção das posses de
9. Debalde. D o he b. chinnam, "por Jó, permitindo que ele demo nstra sse q ue
nad a", "para nada", "sem reservas", "e m es tava à altura d a prova. O Senhor dese -
vão". A mesma palav ra é usada em Jó 2:3, java mostrar que os seres hu ma nos pode m
em que o Senhor disse a Satanás: "E mbora servi-Lo por puro amor. Era necessári o p ro-
Me incitasses contra ele , para o con sumir var que o escá rnio de Sata nás era injusto.
sem causa'; e novamente em 9: 17, e m q ue Porém , ao longo de tudo, D eus usaria o qu e
Jó se q ueixa de Deus multi plica r su as cha- acontecesse para propósitos de misericórdia
gas "sen'l causa". (ver OTN, 471).
Satanás insinuou q ue Jó servia a D eu s 13. Sucedeu um dia. Ver com. do v. 6;
por m otivos egoístas , pelo ga nho mate- cf. Jó 2:1. Estas três passagens, que se ini-
r ial que Deus lhe permitia ac umular como ciam com a mesma expressão temporal, apre-
estímul o e recompensa pe lo se u serviço. sentam o contexto para três cenas sucess ivas.
Ele tentou negar que a verdadeira reli gião A primeira e a terceira dessas cenas ocorre-
emana do amor e de uma apreciação inteli- ra m num local desconhecido, talvez na esfera
ge nte do ca ráter de Deus; q ue os verdadei- celestial (ver com. do v. 6), e a que está sendo
ros adoradores amam a religião por causa da considerada neste verso ocor reu na Terra .
própria religião e não da recompensa dela; A cena se inic ia com um dos banquetes cos-
que os q ue servem a Deus o faze m porque tumeiros dos filhos de Jó, desta vez na casa do
o servir é correto em si mesmo e não mera- irmão ma is velho. A vida dos filhos era feliz
mente porque o Cé u é cheio de glóri a; e que e liv re de preoc upações, e a de Jó, tranguila .
se a ma a Deus porq ue Ele é digno de afei- 14. Lavravam. Isto indica que este não
ção e confiança, não porque Ele abençoa era um dia de festividade geral.
q uem o faz . 15. Os sabeus. Ta lvez descend en tes
10. Sua casa. Satan ás mencion a três de C uxe (Gn 10:7) ou de Abraão p or meio
iten s que seria m pl anejad amente cerca- de Qu e tu ra (G n 2 5:3). Os sabeus fora m
dos: o próprio Jó, sua casa e suas p osses . identificados como habi ta ntes d e várias
~ ,. A desgraça atingiu p rimeiramente as posses regiõ es d a Arábi a . Portanto, a loca li zação

55 7
I: 16 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

da terra de Uz (ver com. do v. 1) não pode implacável ritmo dos acontecimentos. Dentro
ser determinada localizando-se os sabeus. de poucos minutos o mundo dele desabou.
16. Fogo de Deus. A LXX omite "de 20. Rasgou o seu manto. Gesto habi-
Deus". Este fogo é considerado por mui- tual de dor (ver Gn 37:29, 34; 44:13; IRs
tos comentaristas como um relâmpago, 21:27; Is 15:2; ]r 47:5).
mas essa pressuposição não é necessária. Adorou. Do heb. shachah, "curvar-se",
Qualquer que fosse o agente destruidor, os "prostrar-se". Jó poderia ter amaldiçoado os
antigos o considerariam como tendo vindo sabeus e os caldeus. Poderia ter amaldiçoado
de Deus. Os fatos do grande conflito, tão o fogo e o vento. Poderia ter amaldiçoado a
notavelmente demonstrados na presente Deus, que permitiu tais catástrofes. Em vez
experiência, não eram compreendidos, e os disso, ele "adorou". Também Davi, após a
homens atribuíam a Deus aquilo que mui- morte do filho, "entrou na Casa do SE NHOR
tas vezes era obra do adversário. Mesmo e adorou" (2Sm 12:20).
que sejam reveladas as perversas artima - 21. Voltarei. A linguagem aqui não
nhas de Satanás, os atos que Deus permite, deve ser forçada. Trata-se de poesia, não de
muitas vezes, são considerados como sendo prosa. É simple smente uma forma poética
de Sua autoria. de dizer que o homem d eixa es te mundo
17. Os caldeus. Do heb. hasdim. tão nu e indefeso como quando entrou nele .
A LXX traz "os cavaleiros", mas provavel- ]ó não estava falando na linguagem técnica
mente isto seja interpretativo e indique uma da teologia, da metafísica ou da fisiologia. ~ ~
suposição dos tradutores, de que os bandos O SENHOR o deu. Esta declaração se
saqueadores dos lwsdim usavam cavalos. tornou a expressão clássica da resignação
Deram sobre. Ou, "fizeram uma inves- cristã. Desde a queda, Satanás tem detur-
tida contra". Essas investidas sempre foram pado o caráter de Deus. Pior que isso, tem
comuns na Arábia e em outras partes do feito parecer que os maus atos que pratica
antigo Oriente Próximo. devam ser atribuídos a Deus (ver GC, 534).
19. Do lado do deserto. Literalmente, Bendito. A conduta de Jó foi uma dra-
"dalém do deserto". A expressão parece des- mática negação à insinuação de Satanás
crever um vento que atravessou o deserto (v. 11). À pergunta: "Teme ]ó a Deus sem
e chegou com plena força à área habitada . interesse pelo ganho egoísta?", a resposta
A primeira e a terceira tragédias foram per- de Jó foi: "Sim." Satanás ficou perplexo. Ele
petradas por saqueadores: os sabeus e os havia visto muitos que, em circunstâncias
caldeus. A segunda e a quarta resultaram semelhantes, teriam amaldiçoado a Deus;
do fogo e do vento, agentes que escapam ao mas a atitude de Jó era inexplicável.
controle humano. Um incêndio assolou a paróquia de um
Sobre eles. Ou, "sobre os jovens" (ARC). missionário alemão, deix ando em ruínas
Do heb. ne'arim, literalmente, "meninos", sua casa e as de seu povo. Depois, a morte
"jovens". Talvez estejam incluíd as na palavra levou sua esposa e seus filhos. A doença o
idades desde a infância (Êx 2:6) até à juven- deixou prostrado; a seguir, sobreveio-lhe a
tude. Ne'arún é traduzido como "servos", em cegueira. Sob esta avalanche de angústi as,
Jó l:l5, 16 e 17. No v. 19 inclui filhos e filhas ele ditou as seguintes palavras:
(v. 18) e os servos que os atendiam. "Seja como queres, meu Senhor;
]ó não teve oportunidade de recuperar o Quero Tua vontade assimilar!
equilíbrio entre um golpe e outro. A inten- Quero em Tua mão cheia de amor
sidade das tragédias foi acentuada pelo Todo o meu viver depositar."

558
JÓ 1:22

22. Nem atribuiu a Deus falta. de que, mais t a rde , precisasse s e arre-
A expressão hebraica é idiomática. Lite- pender. Não cedeu à autocompaixão ou à
ralmente , diz "não atribuiu tiflah a Deus". lamentação melodramática. E le manteve o
Tiflah parece se refe rir ao que está fora de equilíbrio , quando homens de menos tê m-
harmonia com o caráter d e Deus. Em sua pera teriam desmoron ado diante dos terrí-
reação à tragédi a inicial, Jó não disse nada veis golpes.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

6- OTN, 834; GC, 518 9, lO - GC, 513 12-19-GC, 589


7 - MJ, 51; Tl, 341; T5, 294 lO - GC, 589 21 - LS, 253; Tl, 110, lll
8-12- Ed, 155 l2-T3,3ll

CAPÍTULO 2
1 Satanás comparece novamente diante de Deus e outra vez obtém permissão para
tentar a Já. 7 Ele o fere com tumores malignos. 9 Já repreende a esposa que o
incita a amaldiçoar a Deus. 11 Seus três amigos se condoem dele em silêncio.

Num dia em que os filhos de De us vie- SENHOR e feriu a Jó de tumores malignos, desde
ram apresen tar-se perante o SENHOR, veio tam- a planta do pé até ao alto da cabeça.
bém Satanás entre eles apresenta r-se perante 8 Jó, sentado em cinza, tomou um caco para
o SENHOR. com ele raspar-se.
2 Então, o SE NHOR disse a Sata nás: Donde 9 Então, sua mulhe r lhe disse: Ainda con-
ve ns? Respondeu Satanás ao SENHOR e disse: servas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus
De rodear a terra e passear por ela. e morre.
3 Perguntou o SENHOR a Sata nás: lO Mas ele lhe respondeu: Falas como qual-
Observas te o Meu servo Jó? Porque ninguém quer doida; temos recebido o bem de Deus e não
há na terra semelh ante a ele, hom em ínte- receberíamos também o mal? Em tudo isto não
gro e reto, temente a Deus e que se desvia do pecou Jó com os seu s lábios.
mal. Ele conserva a sua integridade, e mbo- li Ouvindo, pois , três amigos de Jó todo
ra Me incitasses contra ele, para o consumir este mal que lhe sobreviera, chegaram, cada
sem causa. um do se u luga r: E li faz, o tem a nita , Bildade, ""':3
4 Então, Satanás respond eu ao SEN HOR: o suíta, e Zofar, o naa matita; e combina ra m ir
Pele por pe le, e tudo quanto o homem tem dará junta mente condoer- se dele e co nsolá-lo.
pela sua vida. 12 Leva ntando eles de longe os olhos e não
5 Este nde, porém, a mão, toca- lhe nos ossos o reconhecendo, ergueram a voz e chorara m; e
e na carne e verás se não blasfem a contra Ti na cada um, rasgando o seu manto, lançava pó ao
Tua fa ce. a r sobre a ca beça.
6 Disse o SEN HOR a Satanás: Eis que ele 13 Sentaram-se com ele na terra , sete dias e
está em teu poder ; mas poupa-lhe a vida. sete noites ; e nenhum lhe dizia palavra alguma ,
7 Então, saiu Satanás da presença do pois viam que a dor era muito grande.

559
2: I COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

1. Apresentar-se. Ver com. de Jó 1:6. palavra não descreva a mesma doença em


2. Rodear. Ver com. de Jó 1:7. todos os casos. Muitos já tentaram diagnos-
3. Homem íntegro. Ver com. de Jó 1:1 , 7. ticar a doença de Jó a partir dos vários sinto-
Integridade. Do heb. tum.mah. Esta mas indicados (Jó 7:4, 5, 14; 17:1; 19:17-20;
palavra vem da mesma raiz que a palavra tra- 30:17-19, 30). Alguns presumem que o pro-
duzida como "íntegro" neste verso e em Jó 1:1 blema de Jó fosse tumores de pele purulen-
e 8. A ideia é de inteireza (ver com. de Jó l:l). tos comumente conhecidos hoj e . Outros
Para o consumir. Literalmente, "engoli-lo", pensam que Jó foi afligido por elefantíase.
"engolfar". Em vez de "o", a LXX traz "suas O nom e dessa doença provém da aparência
posses". das partes afetadas, que são cobertas por
Sem causa. Do heb. chinnam, traduzido uma casca nodosa e fissurada como o couro
como "debalde" (ver com. de Jó 1:9). de um elefante. É precário tentar diag-
4. Pele por pele. Esta expressão tem nosticar a doenç a de alguém que viveu há
provocado discussão entre os comentaris- 3.500 anos, quando a única informação con-
tas. O dito, evidentemente proverbial, tal- siste de umas poucas observações não técni-
vez tenha tido origem na linguagem de cas registradas num livro que é em grande
barganha ou troca , significando que um parte poético. Em primeiro lugar, não se
homem renunciaria a uma coisa por outra, pode afirmar com segurança que todas as
ou a uma propriedade de menor valor para doenças de hoje sejam idênticas às da época
salvar outra de maior valor. Da mesma de Jó. Os sintomas são demasiado vagos para
forma, ele estaria disposto a abrir mão garantir uma conclusão. Por fim, não é nem
de tudo para que sua vida, que constituía mesmo certo que a aflição de Jó causada
o objeto mais valioso, fosse preservada. por Satanás tenha manifestado os sintomas
Satanás está tentando mostrar que ainda de alguma doença conhecida naquela época
não havia sido imposto a Jó um teste sufi- ou hoje em dia. É suficiente ver Jó como um
cientemente severo para revelar seu verda- grande sofredor, sem tentar diagnosticar sua
deiro caráter. Ele propõe a teoria de que enfermidade específica.
todo homem tem seu preço. A integridade 8. Sentado em cinza. Um símbolo
de Jó havia demonstrado que alguém pode habitual de dor (ver Is 58:5; Jr 6:26; Jn 3:6).
perder sua propriedade e a inda continuar Para esta frase, a LXX diz: "sentado sobre
servindo a Deus ; mas Satanás não estava um monte de esterco fora da cidade", mas
disposto a admitir que alguém pudesse con- esta tradução pode ser interpretativa.
servar sua lealdade a Deus se su a vida foss e Um caco. Um pedaço de cerâmica que-
colocada em perigo (cf. Mt 6:25). brado, evidentemente usado para aliviar a
6. Poupa-lhe. Do heb. shamar, "conser- violenta coceira e talvez a fim ele remover a
var", "vigi ar", "preservar". secreção e a crosta provenientes das erupções.
A vida. Do heb . nefesh, frequentemente 9. Sua mulher. O Targum lhe atribui o
tradu zido como "alma", mas aqui a referên- nome Din á, a partir elo qu e alguns tê m con-
cia definitivamente é à vida física. cluído que Jó foi genro de Jacó. Isto, é claro,
7. Tumores. Do heb. sheclún, de uma é apenas uma tradição.
raiz que significa "estar quente", "estar Integridade. Ver com. de Jó 2:3.
infl amad o". A palavra é usada para falar Amaldiçoa a Deus. A esposa ele Jó
dos tumores causados pelas pragas do Egito tenta p e rsuadi-lo a fa zer o que Satanás
(Êx 9:9), das erupções de lepra (Lv 13:20) e queria. Em outras palavras, ela diz: "Q ue
da doença de Ezequias (2Rs 20:7). Talvez a benefício su a virtude está lhe trazendo?

560
JÓ 2:13

Daria no mesmo se você amaldiçoasse a de Midiã (Gn 25:2), cujos descendentes tal-
Deus e sofresse as consequências." A LXX vez habitassem em alguma parte do territó-
amplia grandemente o discurso da mulher rio edomita. Contudo, algumas inscrições
~ ~ de Jó: "E depois de ter passado muito tempo, apontam para Shukhu, no médio Eufrates,
sua mulher lhe disse: 'Qu anto tempo ainda como a provável origem de Bildade.
irás aguardar, dizendo: 'Eis que esperarei Zofar, o naamatita. Fora do livro de
um pouco mais, aguardando a esperança ]ó , não h á nenhuma outra referência ao
de m eu livramento?' Pois eis que foi abo- nome Zofar. H avia uma cidade chamada
lido da Terra o teu memorial: os teus filhos Naamá, no sudoeste de Judá (Js 15:41), à
e filhas, as angústias e dores do meu ven- qual Zofar pode ter pertencido.
tre, que, com sofrimento, dei à luz em vão; e Combinaram. As circunstâncias aqui
tu mesmo te assentas para passares as noi- mencionadas sugerem o lapso de um tempo
tes ao relento, em meio à corrupção dos ver- considerável desde que as calamidades
mes, e eu sou uma peregrina e uma serva h av iam atingido Jó. Levaria tempo para a
que vai de lugar em lugar e de casa em casa, notícia de seu infortúnio chegar a esses t rês
esperando o sol se pôr para que eu possa amigos, e também seria necessário um tempo
descansar de meus labores e das dores que adicional para os três se comunicarem entre
agora me perseguem: mas di z alguma pala- si e combinarem a visita. Depois disso, preci-
vra contra o Senhor, e morre."' sariam viajar até à casa de Jó, na terra de Uz.
A origem da declaraç ão acima é incerta . Esse intervalo ajuda a explicar a mudança de
Ela não se encontra em nenhum m anus- atitude de Jó da calma resignação (Jó 2:10)
crito hebraico em existência hoj e, e há para o profundo desânimo (cap. 3). O golpe
razões para duvidar que se encontrasse nos inicial da tragédi a pareceu não ser tão pre-
manuscritos mais antigos da LXX. judicial ao ânimo de Jó, como as semanas
10. Doida. Do heb. nebalah. Não se de constante sofrimento corporal e angústia
refere a fraqueza mental, mas a insensibili- mental que se seguiram.
dade religiosa e moral. Condoer-se. Literalmente, "menear a
Também o mal. Aqui aparece nova- cabeça como expressão de piedade", "fazer ges-
mente a completa resignação anterior- tos de dor". Às vezes, se traduz como "entriste-
mente expressa em Jó 1:21. A pergunta de cer-se", "compadecer-se" (]r 15:5; 16:5; etc.).
Jó pode ser parafraseada da seguinte forma: Consolá-lo. Do heb. nacham, que está
"Receberíamos todos os benefícios de D eus relacion ado a um a raiz árabe análoga que
como algo natural, e depois nos queixaría- significa "respirar pesadamente".
mos quando Ele envia aflição?" 12. Não o reconhecendo. Jó estava
11. Elifaz, o temanita. Ver com. de tão desfigurado por sua aflição que não era
Jó l:l . Um dos filhos de Esaú se chamava reconhecível. Os amigos não puderam con-
Elifaz. Ele, por sua vez, teve um filho cha- trolar a emoção qua ndo viram sua condição.
mado Temã (Gn 36: 11). Temã é mencio- Não apenas choraram, o que seria a reação
nada como uma localidade relacionada natural ; mas também manifesta ram expres-
a Edom (]r 49:7; Ez 25:13; Am 1:11 , 12; sões de dor habituais no antigo Oriente -
Oh 8, 9). Parece não haver informação defi- rasgando seus mantos e jogando pó ou cinza
nida quanto a que parte de Edom constituía na cabeça (ver Js 7:6; 1Sm 4:12).
a terra dos temanitas. 13. Nenhum lhe dizia. Esta declaração
Bildade, o suíta. Os comentaristas implica que eles tinham liberdade para dis-
têm relacionado Bildade com Suá, irmão cutir assuntos entre si ou com os servos de Jó.

561
3:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Palavra alguma. Alguns observaram um sinal de que desejava ser confortad a .


que entre judeus e orientais geralmente Se este era o caso, então enquanto Jó se
constituía um ges to de decoro , ditado pela mantive sse em sil ê ncio, os a migos evita-
fin eza e pela veracidade dos sentimentos, riam conversar.
não falar com uma pessoa que estivesse Dor. Física ou mental; aqui, provavel -
em profunda aflição até que e la desse mente, ambas.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

5-7 - DTN, 471; Ed, 155 7- PP, 129 7-10- AA, 575; T3, 311; T4, 525 ~

CAPÍTULO 3
1 ]ó amaldiçoa o dia de seu nascimento. 13 O repouso da morte.
20 Ele se queixa da vida por causa de sua angústia.

Depois disto, passou Jó a falar e ama ldi- 11 Por que não morri eu na madre? Por que
çoou o seu dia natalício. não expirei ao sa ir dela?
2 Disse Jó: 12 Por que houve regaço qu e me acolhesse?
3 Pereça o dia em que nasci e a noite em que E por que peitos , para que eu mamasse?
se disse: Foi concebido um hom em! 13 Porque já agora repousaria tranquilo; dor-
4 Converta-se aquele dia em trevas; e Deus, miria, e, então, haveri a para mim descanso,
lá de cima, não tenha cuidado dele, nem res- 14 com os reis e conselheiros da terra que
plandeça sobre ele a luz. para si edificaram mausolé us ;
5 Reclamem-no as trevas e a sombra de 15 ou com os príncipes qu e tinham ouro e
morte; habitem sobre ele nuvens; espa nte-o encheram de prata as suas casas;
tudo o que pode e negrecer o di a. 16 ou, como aborto oculto, eu não existiria,
6 Aquela noite, que dela se apode rem den- como crianças que nunca viram a lu z.
sas trevas; não se rego zije ela entre os di as do 17 Ali, os maus cessa m de perturbar, e, ali ,
ano, não e ntre na conta dos meses . repousam os cansados.
7 Seja estéril aq uela noite, e dela sejam ba- 18 Ali, os presos juntamente repousam e
nidos os sons de júbilo. não ouvem a voz elo feitor.
8 Ama ldiçoem-na aqueles que sabe m amal- 19 Ali, está ta nto o pequeno como o grande
diçoar o dia e sabem excitar o monstro marinho. e o servo livre de seu senhor.
9 Escureçam-se as estrelas do crepúsculo 20 Por que se concede luz ao mise rável e
matutino dessa noite; que ela espere a luz, e a lu z vida aos amargurados de â nimo,
não venha; que não veja as pálpebras dos olhos 21 que espera m a morte, e ela não vem? Eles
da a lva, cavam em procura dela mais do que tesouros
lO pois não fechou as portas do ventre de ocultos.
minha mãe, nem esconde u dos meus olhos o 22 El es se regozijariam por um túmulo e
sofrimento. exultariam se achassem a sepultu ra.

562
JÓ 3:5

23 Por que se concede lu z ao homem, cujo 25 Aquilo que temo me sobrevém, e o que
cam inho é oculto, e a quem Deus cercou de receio me acontece.
todos os lados? 26 Não tenho des ca nso, nem sossego, ne m
24 Por que em vez do meu pão me vêm gemi- repouso, e já me vem grande perturbação.
dos, e os meus lamentos se derrama m como água?

1. Amaldiçoou. A palavra traduzida de mulheres e crianças. Esta não é a pala-


como "amaldiçoou" vem de qalal, um termo vra comum para designar o sexo mas-
comum para o ato de amaldiçoar, e não de c ulino, que seria zahar. Aqui é empregado
barah, como em Jó 1:5, 11; 2:5 e 9 (ver com. o termo geber, poeticamente. Assim como
de Jó 1:5). O passar das semanas havia apa- o anúncio da concepção é feito pela "noite"
rentemente feito com que Jó passasse de personificada, o indivíduo concebido é
uma atitude de calma resignação para o considerado, n ão no sentido comum de
desespero. Jeremias também amaldiçoou o uma criança, mas como o homem que Jó
dia de seu nascimento em linguagem seme- no futuro devia se tornar. A LXX coloca a
lhante (Jr 20:14-18). noite como sendo a do nascimento de Jó e
2. Disse. Do heb. 'anah, geralmente não a de sua concepção. A razão para isso
traduzido como "responder". Aqui signi- é, provavelmente, evitar a dificuldade de
fica "responder a uma ocasião", "falar tendo se anunciar o sexo da criança na noite da
em vista as circunstâncias" (ver Dt 26:5; concepção. Contudo, por meio da fanta-
Is 14:10; Zc 3:4). Este verso encerra a intro- sia poética, tal conhecimento é aqui atri -
dução em prosa do livro de Jó. buído à noite.
Jó 3:3 a 26 apresenta o primeiro poema. 4. Aquele dia. Nos v. 4 e 5, ele amaldi-
Este é dividido em três estrofes: v. 3 a 1O; çoa o dia do nascimento, e, nos v. 6 a 10, a
11 a 19; e 20 a 26. Na primeira estrofe, Jó noite da concepção.
amaldiçoa o dia de seu nascimento e a noite Trevas. A mais dramática maldição que
de sua concepção. Na segunda, expressa poderia ser pronunciada sobre um dia, por-
o desejo de ter morrido antes de nascer. que as trevas são o oposto do dia.
Na terceira estrofe, fa z a pergunta: Por que Não tenha cuidado dele. Literal-
Deus compele os homens a viver quando mente, "não pergunte por ele". Deus é quem
eles prefeririam morrer? Suas execrações dá ao dia a sua lu z. Ele é aqui solicitado a
são solene s, profundas e sublimes. Essas passá-lo por alto.
declarações poéticas não se prestam a uma Nem resplandeça sobre ele a luz.
análise técnica minuciosa . Jó não está apre- A ênfase é alcançada pela reiteração.
sentando lógica, mas extravazando os senti- 5. Reclamem-no. Do heb. ga'al, "redi-
mentos apaixonados de uma alma sofredora. mir", "agir como parente próximo". Aqui
3. Pereça o dia. Um jeito poético de provavelmente, como a ARA o expressa, no
dizer: "Eu desejaria nunca ter nascido." sentido de "reclam ar". A palavra também
~ -- O "dia" aqui é personificado. tem o significado de "macular" ou "contami-
A noite. A "noite" também é personifi- nar" (ver ARC). Ambos os significados dão
cada. Uma tradução mais simples seria "a sentido à passagem, mas o primeiro dá uma
noite que disse". imagem mais vívida. A noite, como parente
Um homem. Do heb. geber, "um homem", mais próxima do dia, imediatamente após
com ênfase em sua força, para distingui-lo este haver chegado, o reclamaria para si

563
3:6 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

(sobre o significado de ga'al, neste sentido, amaldiçoadores do dia, indivíduos que afir-
ver com. de Rt 2:20). mavam ser capazes de trazer maldições
A sombra de morte. Do heb. tsalma- sobre dias específicos. Se esta interpreta-
weth. Alguns eruditos mudam a vocalização, ção é correta, isso não significa que Já acre-
de forma a transformar a palavra em tsal- ditasse em tais feiticeiros. Ele meramente
muth e traduzi-la como "trevas profundas", reconhecia sua existência e, na linguagem
ou "a mais densa escuridão" (NVI). Tsalmuth poética, desejava que pudessem ser acumu-
é considerada a palavra mais forte na língua lados sobre a noite de sua concepção não
hebraica para expressar a ideia de escuridão apenas males reais, mas também imaginá-
(ver Já 10:21, 22; 12:22; 16:16; 24:17; 34:22; rios. Adam Clarke (1760-1832) considera os
Is 9:2; Jr 2:6; Am 5:8). Outros eruditos não amaldiçoadores do dia como sendo os que
veem razão suficiente para mudar a vocaliza- detestam o dia; os que odeiam a luz, como
ção tradicional, que é respaldada pela LXX, os adúlteros, assassinos, ladrões e bandi-
e conservam a tradução "sombra de morte". dos, para cujas atividades a noite é mais
Nuvens. Parafraseando: "Que nuvens apropriada.
condensadas, compactadas e amontoadas Monstro marinho. Na ARC, "pranto",
baixem sobre esse dia." Esta é outra forma mas o texto significa, literalmente, "leviatã".
de expressar a ideia de escuridão que o Portanto, a frase deve ser: "sabem excitar o
poeta tenta enfatizar. monstro marinho" (ARA), ou "são capazes
Tudo o que pode enegrecer o dia. de atiçar o leviatã" (NVI). Os que aplicam a
Provavelmente uma referência a eclip- primeira parte do verso aos feiticeiros veem
ses, tornados ou tempestades de areia, que na segunda parte uma referência adicio-
escureceriam o dia. nal ao poder desses feiticeiros em atiçar o
6. Aquela noite. A noite da concepção leviatã. A mitologia antiga tinha um grande
de Já (v. 3). dragão inimigo do sol e da lua e que supos-
Densas trevas. Do heb. 'ofel, palavra tamente tinha poder sobre os eclipses. Não
usada, às vezes, para expressar a escuridão parece razoável crer que Já tivesse fé nesses
do mundo subterrâneo (ver Já 10:22). poderes. Se ele está se referindo à mitolo-
Não se regozije. Esta é a tradução lite- gia, o faz apenas para apresentar uma vívida
ral. A tradução "não seja ela incluída" (NVI) figura poética.
requer uma mudança na vocalização do 9. As estrelas do crepúsculo matu-
verbo hebraico. Essa mudança é respaldada tino. A palavra "crepúsculo" pode se referir
pela versão de Símaco da LXX. Contudo, a tanto ao crepúsculo da tarde quanto ao • )?
tradução literal é perfeitamente inteligível, da manhã; no caso aqui, ao último, e por
e parece não haver razões suficientes para isso a palavra "matutino" foi acrescentada
se optar por uma tradução diferente. na ARA.
Não entre. Já queria banir dos registros As pálpebras dos olhos da alva. Esta
a noite de sua concepção. é a tradução literal.
7. Estéril. Literalmente, "infrutífera", 10. Do ventre da minha mãe.
"dura", "estéril". Que aquela noite seja tão Literalmente, "meu ventre", isto é, o ventre
destituída do bem como a rocha nua é des- que me gerou. A noite é aqui retratada como
tituída de verdor. se tivesse o poder de evitar a concepção.
8. Amaldiçoem-na. Esta é uma pas- 11. Por que [... ]? Uma pergunta repe-
sagem difícil. Alguns comentaristas acredi- tida por Já, bem como por todos os sofredo-
tam que Já invocava o auxílio de feiticeiros, res ao longo dos séculos. Mas, neste caso,

564
JÓ 3:20

Já não está pergunta ndo por que precisou 17. De perturbar. Literalmente, "tur-
sofrer ; o que ele questiona é por que não bulência", "excitação". A palavra descreve
morreu quando bebê. Não está tanto pro- o desassossego, a agitação, a turbulência
curando uma resposta, mas expressando interna que carac teriza os ímpios. O termo
seu profundo desespero. vem d e uma raiz h ebraica que significa
12. Acolhesse. O verbo significa "encon- "agitar-se", "tremer" (ver Dt 2:25; P v 29:9 ;
trar", "confrontar", "receber". Jó questionava: Is 5:25). Jó 3: 17 a 19 não se refere à vid a
"Por que minha mãe me pegou no colo?" futura . D escreve o esquec ime nto no sepul-
13. Dormiria. Jó retrata a morte como cro. A agit ação, a fa di ga, a serv idão irri-
um sono calmo e repousante (ver SI 13: 3; tante da vida são tragadas num sono sem
Jo 11 :11 ; 1Co 15:51 ; 1Ts 4:14). Nesta pas- sonhos. Ao passo que este cons titui um
sagem ele não está ansi ando pela vida que belo p e nsa m ento , o cristão precisa olhar
se segue à ress urreição. Está simplesmente para além d a sepultura e ter em vista a
contrastando os sofrimentos do momento ress urreição e a imortalidade. Jó , poste -
com o repouso que poderia desfrutar se riormente, exp ressa es sa esperança fina l
estivesse morto. (Jó 14:14, 15).
14. Com os reis. Jó contrasta su a con- 18. Os presos. Ou , "escravos". Aq ui a
dição miserável com a dignidade da morte. referência é aos suj eitos a trabalhos força-
Sua ideia foi bem expressa no poema dos, constantemente sob o chicote do fei-
"Tha natopsis", de William C ullen Bryant: tor. A palavra traduzid a como "fe itor d e
"Contudo, para teu eterno lugar de repouso escravos" é a mesma traduzida com o "exa-
Não te recolherás sozinho, e també m tores" e "s uperintendentes", em Êxodo 3:7;
não poderias desejar 5:6, lO , 13 e 14.
Um leito mais magnífico. Irás repousar 19. Tanto o pequeno como o
Junto com patriarcas do princípio do grande. A igualdade de todas as idades na
mundo - com reis, morte é belamente retratada no já referido
Com os poderosos da Terra - com os 'Than atopsis", de Bryant:
sábios, com os bon s, "À medida que o longo cortejo
Com figuras belas e com antigos viden- De todas as eras avança, os filh os dos
tes de eras passada s, homen s,
Todos num único e grandioso sepulcro." O jovem que está na primavera da vid a
Mausoléus. D evido à brevid ade, fic a e aquele que va i
difícil descobrir o sentido exato da expres- Na plena força dos anos, a m ulhe r
são hebraica. Alguns veem na frase a idei a madura e a moça,
de reis que fazem monumentos para si ao O bebê que ainda não fal a e o homem
reconstruírem cidades arr uinadas , deso- grisalho -
ladas (ver Is 61:4; Ez 36: 10, 33; Ml 1:4); Um por um serão colocados ao teu lado
outros, a construção de edifícios que depois Por aqueles que, por sua vez, os seguirão."
fi caram desolados. Ainda alguns creem 20. Por que [... ]? Es ta expressão
que o termo seja uma designação irônic a introdu z a terceira est rofe do lam ento d e
de palácios esplêndidos que, apesar de sua Jó. Ele vinha meditando na serenidade da
grandiosidade, terminarão em ru ínas. m orte. E ntão, seus p ensam entos se vol-
16. Aborto oculto. Anteriormente Jó tam para sua própria miséria, e ele repete a .,.8
h avia ind agado: "Por que não morri eu na velha ind agação: "Por qu ê?" A estrofe apre -
m adre?" (ver com. do v. 11). senta o quadro de um homem que ans eia

565
3:23 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

ardorosamente pela morte, mas que está passagem faz com que a última explicação
fadado a continuar vivo. Essa experiência pareça mais provável.
tem seu correspondente moderno no por- Lamentos. Ou, 'gemidos", "s uspiros".
tador de câncer que vai se desgastando Estas expressões da dor de Jó são como um
durante meses longos, agonizantes e vazios, contínu o fluxo de águas.
antes q ue a morte por fim lhe dê liberta- 25. Aquilo. Isto implica que Jó havia
ção. Hoje, como naquela época, muitas abrigado medo do desastre antes de ser atin-
vezes é feita a pergunta: "Por quê?" gido pelo infortúnio? Essa dedução não é
Luz. Ver v. 16. A luz parece ser usada necessá ria. Traduzido literalmente, o texto
aqui como uma fig ura da vida. diz: "Pois temo um temor, e ele me sobre-
Amargurados de ânimo. Do heb. vém ; e aquilo qu e me aterroriza me acon-
mare nefesh. A combinação dessas pala- tece." Parece que Jó está descrevendo sua
vras hebraicas é traduzid a de várias fo rmas: experiência após as aflições terem come-
"ânimo amargoso" (Jz 18:25), "amargura de çado. C ada catástrofe aume nta seu medo
alma" (lSm 1:10), "amargurados de espí- de futuros infortúnios; e em cada caso, ao
rito" (lSm 22 :2), "em amargura" (lSm 30:6), que parece, mais problemas sobrevêm.
"enfurecidos" (2Sm 17:8). A expressão 26. Perturbação. Ver com . do v. 17.
aqui es tá no plural. Jó está pensando, não Não se deve concluir que a declaração
só em si mesmo, mas também em outros de Jó no cap. 3 represente uma reação lou-
sofredores. vável di ante da ca lam idade. Esse poema
23. Oculto. Jó se sente frust rado . Não contém diversas queixas e muita amargura
sabe que caminho tomar. que, naquelas circunstâncias, podiam ser
Cercou. Satanás afirmara que D eus perdoadas, embora não aprovadas. O fa to
h av ia coloc ado uma cerca de proteção de Jó se queixar de su a sorte o faz pare-
em torno de Jó (1:10). Aqui, Jó afirma qu e cer mais próximo da huma nidad e do que
Deu s colocou um a cerca de aflição ao seu se ele tivesse ficado impe rturbável diante
re dor. de seus infortúnios. Jó foi espiritualmente
24. Em vez do meu pão. Literalmente, gra nde, não porque nun ca tivesse ficado
"antes do meu pão" (ARC). O sign ificado é desanimado, mas porque, no fin al, conse-
incerto. Algun s traduzem a frase como "em guiu encontrar o caminho para sair do desâ-
vez do meu pão", mas h á dúvidas . Outros nimo. Quando se deseja ver um exemplo
sugeriram as seguintes traduções: "os gemi- perfeito de fortaleza dian te do sofrimento,
dos tom am o lugar de meu alimento diário", é preciso olhar para Jesus, não para Jó. Em
"por alimento tenho soluços" (BJ), "quando seu sofrimento, Jó amaldiçoou o dia de seu
começo a comer tenho suspiros". Alguns n ascimento; Jesus disse: "Precisamente com
ainda entendem que a condição de Jó tor- este propósito vim pa ra esta hora" (Jo 12:27).
nava doloroso o ato de comer; outros, que Neste mundo de pecado a perfeição de cará-
os gemidos eram tão constantes quanto ter só vem por meio do sofrimento (ver com.
seu alimento diário. A natureza poética da de Hb 2:10; 1Pe 4:13).

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

3 - PR, 162; T3, 262

566
JÓ 4:2

CAPÍTULO 4
1 Elifaz repreende ]ó por irreligiosidade. 7 Afirma que os juízos de Deus não se
destinam aos justos, mas aos ímpios. 12 Sua visão espantosa,
que humilha a altivez das criaturas diante de Deus.

Então, respondeu Elifaz, o tema nita, e 12 Uma palavra se me disse em segredo; e


disse: os meus ouvidos perceberam um sussurro dela.
2 Se intentar alguém falar-te, enfadar-te-ás? 13 Entre pensamentos de visões noturnas ,
Quem, todavia, poderá conter as palavras? quando profundo sono cai sobre os homens ,
3 Eis que tens ensinado a muitos e tens for- 14 sobrevieram-me o espanto e o tremor, e
talecido mãos fracas. todos os meus ossos estremeceram .
4 As tuas palavras têm sustentado aos 15 Então, um espírito passou por diante de
~ "' que tropeçavam, e os joelhos vacilantes tens mim ; fez-me arrepiar os cabelos do meu corpo;
fortificado . 16 parou ele, mas não lhe cliscerni a apa-
5 Mas agora , em chegando a tua vez, tu te rência; um vu lto estava diante elos meus olhos;
enfadas; sendo tu atingido, te perturbas. houve silêncio, e ouvi uma voz:
6 Porventura, não é o teu temor de Deus 17 Seria, porventura, o mortal justo diante
aqu ilo em que confias, e a tua esperança, a reti- de Deus? Seria, acaso, o hom em puro diante elo
dão dos teus caminhos? seu Criador?
7 Lembra-te: acaso, já pereceu algum ino- 18 Eis que Deus não confia nos Seus servos
cente? E onde foram os retos destruídos? e aos Seus anjos atribui imperfeições;
8 Segundo eu tenho visto, os que lavram a ini- 19 quanto mais àqueles que habitam em
quidade e semeiam o mal, isso mesmo eles segam. casas ele barro, cujo fundamento está no pó, e
9 Com o hálito de Deus perecem; e com o são esmagados como a traçai
assopro da Sua ira se consomem. 20 Nascem de manhã e à tarde são destruí-
lO Cessa o bramido do leão e a voz elo leão dos; perecem para sempre, sem que di sso se
feroz, e os dentes dos leõezinhos se quebram. faça caso.
11 Perece o leão, porque não há presa, e os 21 Se se lhes corta o fio ela vida, morrem e
filhos da leoa anelam dispersos . não atingem a sabedoria .

1. Elifaz. O primeiro dos amigos que e Sua atitude para com o ser humano,
responde a Jó. Suas d eclarações são mais podem lidar de maneira ineficiente com
profundas que as de seus companhe iros. verdades profundas.
Talvez fosse o mais velho do grupo. Ele 2. Se intentar alguém falar-te. Elifaz
res ume, com grande clareza, a atitude geral começa seu discu rso com uma pergunta.
que prevalecia em seus dias acerca da rela- Esta é uma forma frequentemente usada
ção entre sofrimento e pecado. Há certa em Jó (ver Jó 8:2; 11:2; 15: 2; 18:2; 22:2).
dose de verdade no discurso de Elifaz. Ele É difícil saber ao certo se o tom da per-
revela um discernimento perspicaz, mas gunta de Elifaz é apologé tico ou levemente
lhe falta calor hum a no e simpatia, e erra sarcástico.
completamente ao avaliar a situação de Jó. Enfadar-te-ás? Literalmente, "ficarás
Elifaz é um exemplo de como pessoas sin- cansado", "ficarás impaciente". A m esma
ceras, que deixam de compreender a Deus palavra é usada no v. 5.

567
4:3 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Conter as palavras. Elifaz obser- ele esperava que Jó, que p erdera tudo ,
vou a aflição de Jó e ouviu suas queixas. enfrentasse a aflição com a mesma firmeza
Sentiu que não podia mais ficar calado. de outra pessoa que, por exemplo, tivesse
Evidentemente, ele chegou à cena com uma perdido um filho.
filosofia bem definida sobre o sofrimento. 6. O teu temor de Deus. As palavras
Então, tentou interpretar o infortúnio de Jó "de Deus" foram acrescentadas, mas, eviden-
à luz dessa filosofia. Parece determinado a temente, a referência é ao temor de Deus.
proteger suas ideias preconcebidas a qual- A retidão. Ou, "integridade", "perfei-
quer custo. ção". A palavra hebraica assim tradu zida
3. Ensinado. Talvez aqui em sentido vem da mesma rai z da que é traduzida como
moral, ensinando outros a considerar as "íntegro" (]ó l:l ). Elifaz se refere a duas das
aflições como castigos corretivos. grandes virtudes de Jó: seu temor a Deus e
Mãos fracas. Literalmente , "mãos caí- sua integridade. Será que es sas coisas não
das". Um sinal de abatimento e desânimo. são suficientes na hora da prova?
Elifaz presta tributo aos esforços de Jó em 7. Já pereceu algum inocente? O s
favor de seus semelhantes. v. 7 a ll declaram a filosofia de que o sofri-
4. Os que tropeçavam. Ou , "cambalea- mento é uma punição direta por um pecado
vam", "estavam a ponto de cair". específico.
Joelhos vacilantes. Ou, "joelhos que 8. Lavram a iniquidade. A conclu-
se dobravam"; joelhos incapazes de suportar são pretendida era inevitável: Jó estava
o peso de uma grande carga. Jó havia con- colhendo o que havia semeado.
seguido trazer ajuda aos desanimados e afli- 9. Assopro da Sua ira. Esta é uma
tos. Havia, sem dúvida, encaminh ado essas figura poética que atribui características
pessoas a Deus, e o conselho que lhes dera humanas a D eus.
fora eficaz . 10. Leão. Os v. lO e ll des crevem
5. Mas agora. A situação mudou. Jó cinco tipos que abrangem toda a gam a de
não m ais podia ter uma atitude objetiva leões: desde o filhote até o animal velho e
com respeito à aflição. A experiência pes- impotente. A figura sugere a extinção de
soal colocava à prova as teorias que ele um covil de leões. A ilustração é significa-
defendera antes. tiva num país onde os leões eram numero-
Tu te enfadas. Ou, "te cansas", "ficas sos. N a m ente das pessoas , os leões eram
impaciente" (ver com. do v. 2). sinônimo de violência e pod er destrutivo.
Perturbas. Ou, "te desanimas", "te Elifaz está indicando a destruição de todas
assustas". A observação de Elifaz é signifi- as classes de ímpios, jovens e velhos, fracos
cativa. Pessoas que se esforçam para ajudar ou fortes, assim como um grupo de leões é
outros a suportar suas aflições deviam ser dispersado. Elifaz talvez estivesse aludindo
~ I> um exemplo de fortaleza na provação. Por à família de Jó.
outro lado , é duvidoso qu e Jó teve alguma 12. Uma palavra. Do heb. dabar, tra-
oportunid ade de encorajar alguém cuja con- du zida como "coisa" (ACF); no entanto,
dição foss e tão grave quanto a sua. Elifaz mais frequentemente traduzida como "p ala-
parece não reconhecer que, fazia pou- vra", e é preferível assim, neste caso.
cos dias, Jó sofrera mais revezes do que Sussurro. Do heb. shemets, "murmú-
uma pessoa comum é chamada a suportar rio". Em uma das mais vívidas passagens do
durante toda a vida. Para a mente lega- livro, Elifaz descreve o que afirma ser uma
lista de Elifaz, problemas são problemas, revelação divina.

568
JÓ 4:21

13. Pensamentos. Literalmente, "pen- verteu brotos também em Jó 9:2; 10:4; 15:14;
samentos inquietadores", "pensamentos agi- 25:4; 28:4, 13; 32:8; 33:12; e 36:25, sendo
tados". A escuridão da noite proporcionava que em nenhuma dessas passagens a pala-
o clima de mistério apropriado para o que vra é traduzida para o inglês (KJV) ou o por-
vem a seguir. tuguês (ARA) como "mortal ". Além disso, a
14. Ossos. Uma vez que formam a es- LXX não é consistente em traduzir sempre
trutura interna de sustentação do corpo hu- 'enosh por brotos, nem mesmo no livro de
mano, os ossos, figurativamente, são muitas ]ó (ver cap. 5:17; 7:1, 17; 10:5; 14:19; 25:6;
vezes associados às emoções (ver Jó 30:30; 33:26, na LXX).
Sl3l:IO; Pv 3:8; 12:4; 15:30; 17:22). Justo diante de Deus. As versões
Estremeceram. Aplicado aos ossos figu- ACF, ARC e NVI trazem "mais justo do
rativamente no sentido mencionado acima. que Deus", mas a ARA, a NTLH e a BJ tra-
16. Discerni a aparência. Não há du zem a expressão como "justo diante de
nenhuma garantia de que esta foi uma reve- Deus". O hebraico permite as duas tradu-
lação genuína. Elifaz aparentemente cria ções. O uso de "diante de", em vez de "mais
em sua validade. Não há a mínima suges- do que", parece deixar mais forte o signi-
tão, em qualquer parte da Bíblia, de que ele ficado do verso. O homem não só é inca-
possuísse o dom profético. paz de superar a Deus em justiça e pureza, ... ~
17. O mortal. Do heb. 'enosh , que como também , de ser justo e puro aos olhos
simplesmente significa "humanidade" ou de DEle.
"homem" (ARC). 'Enosh é traduzido na 18. Servos. Aqui a referência é, evi-
ARA como "homem" 28 vezes, "homens" dentemente, a seres celestiais, pois eles são
sete vezes, "inteligível" uma vez e "incurá- contrastados com membros da raça humana
vel" três vezes; em conexão com outros subs- (v. 19). Não se deve concluir que esses seres
tantivos , é traduzido como "amigos íntimos" sejam pecaminosos. Em su a esfera, são per-
uma vez; e como "mortal" ou "mortais", feitos, mas sua santidade não é n ada em
três vezes (aqui e no SI 9:19 e 20). É tam- comparação com a infinita perfeição de
bém a mesma palavra para o nome "Enos" Deus. A história da rebelião no Céu indica
(Gn 4:26; 1Cr 1:1). A tradução da ARA, que mesmo os seres celestiais podia m ser
neste verso, (bem como da KJV) é interpre- influenciados pela tentação e era m capazes
tativa, por usar um adjetivo para traduzir de se rebelar contra Deus (ver Ap 12:3, 4).
um substantivo. A interpretação é seletiva Imperfeições. Literalmente, "erro".
porque escolhe um dos muitos atributos da 19. Quanto mais. Elifa z está contras-
família humana, cada um dos quais teria tando o homem com os seres celestiais e
igual validade, se houvesse a necessidade en fatizando a fragilidade humana.
de se usar um adjetivo. Tal, porém, não é o Esmagados como a traça. A NVI
caso. Portanto, o texto não pode ser usado diz: "m ais facilmente esmagados que uma
para substanciar a doutrina da mortali- traça"; e a BJ, "esmagados mais depressa que
dade do homem . Contudo, há clara prova a traça". Outros parafraseiam a expressão
dessa doutrina em outros textos bíblicos como "esmagados como se fossem traças".
(lTm 1:17; 6:16; etc.). 21. O fio. Do heb. yether, também tra-
É possível que a tradução "mortal" tenha duzido como "excelência" (ARC). O verbo
vindo por meio da LXX. Em Jó 4:1 7, essa tradu zido como "corta" tem o sentido básico
versão traduz 'enosh por brotos, que de fato de "puxar para cima ou para fora", e, por-
significa "homem mortal". Contudo, a LXX tanto, de sair em viagem. Portanto, alguns

569
5: l COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

traduzem o verso como: "Não é certo que as a pecaminosidade e fragilidade humana.


cordas de suas tendas são arrancadas, e eles No entanto, essas declarações não estão
morrem sem sabedoria?" (NVI) . Segundo misturadas com simpatia, bondade e com-
esta tradução, yether se refere à corda que preensão. O que Jó precisava ouvir é como
sustenta uma tenda. ele pode manter sua confiança em Deus em
A revelação que Elifaz descreve pode ser meio ao terrível sofrimento. Elifaz mera-
resumida como um vislumbre da grandeza mente lhe disse o que ele já sabia - que
e da bondade de Deus, em contraste com devia confiar em Deus.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

3- T5, 489

CAPÍTULO 5
1 O dano causado pela loucura. 3 O fim dos ímpios é a miséria. 6 Na aflição,
deve-se voltar para Deus. 17 O final feliz da correção divina.

1 Chama agora! Haverá alguém que te aten- 12 Ele frustra as maquinações dos astutos,
da? E para qual dos santos anjos te virarás? para que as suas mãos não possam realizar seus
2 Porque a ira do louco o destrói , e o zelo do projetos.
tolo o mata. 13 Ele apanha os sábios na sua própria
3 Bem vi e u o louco lançar raízes; mas logo astúcia; e o conselho dos que tramam se
declarei maldita a sua habitação. precipita.
4 Seus filhos estão longe do socorro, são es- 14 Eles de dia encontram as trevas; ao meio-
pezinhados às portas, e não há quem os livre. dia andam como de noite, às apalpadelas.
5 A sua messe, o faminto a devora e até do 15 Porém Deus salva da espada que lhes
meio dos espinhos a arrebata; e o intrigante abo- sai da boca, salva o necessitado da mão do
canha os seus bens. poderoso.
6 Porque a aflição não vem do pó, e não é da 16 Assim, há esperança para o pobre, e a ini -
terra que brota o enfado. quidade tapa a sua própria boca.
7 Mas o homem nasce para o enfado, como 17 Bem-aventurado é o homem a quem
as faíscas das brasas voam para cima. Deus disciplina; não desprezes, pois, a discipli-
8 Quanto a mim, eu buscaria a Deus e a Ele na do Todo-Poderoso.
entregaria a minha causa; 18 Porque Ele fa z a ferida e Ele mesmo a
9 Ele faz coisas grandes e inescrutáveis e ata; Ele fere , e as Suas mãos curam.
maravilhas que não se podem contar; 19 De seis angústias te livrará, e na sétima o
1O faz chover sobre a terra e envia águas mal te não tocará.
sobre os campos , 20 Na fome te livrará da morte; na guerra, <~ ::
11 para pôr os abatidos num lugar alto e do poder da espada.
para que os enlutados se alegrem da maior 21 Do açoite da língua estarás abrigado e,
ventura. quando vier a assolação, não a temerás.

570
JÓ 5:8

22 Da assolação e da fom e te rirás e das 25 Saberás ta mbé m que se multiplicará a


feras da terra não terás medo. tua descendênc ia, e a tua posteridade, como a
23 Porque até com as pedras do campo terás erva da terra.
a tua aliança, e os animais da terra viverão em 26 Em robusta velhice entrarás para a sepul-
paz contigo. tura, como se recolhe o feixe de trigo a seu tempo.
24 Saberás que a paz é a tua tenda , percorre- 27 Eis que isto já o havemos inquirido, e
rás as tuas possessões, e nada te faltará . assim é; ouve-o e medita nisso para teu bem.

I. Chama agora. Em outras palavras, diferença na vocalização hebraica permite


"se você se afastar de Deus e censurá-Lo, traduzi-la por "sedento" (ver NVI, BJ). Essa
que ajuda poderá invocar?" tradução daria sequência ao paraleli smo
Santos anjos. Literalmente , "santos". com a palavra "faminto" na primeira frase
Provavelmente a referênci a seja a anjos (ver do versículo; ela é respaldada por duas ver-
Dn 8:13; Zc 14:5), mas não se deve presu- sões gregas , bem como pela Siríaca e a
mir que esteja sendo endossada a invocação Vulgata (vervol. 1, p. 10, 11).
de anjos . Elifaz não é autoridade em assun- Abocanha. Ou, "anseia por", "anela".
tos religiosos. Os seus bens. Uma referência velada
2. Ira. Ou , "irritação". Elifaz suben- às grandes perdas materiais de Jó.
tende que ]ó , como um tolo, estava penni- 6. Do pó. Ver Jó 4:8, trecho ao qual
tindo que sua irritação o destruísse. A isto, Elifaz provavelmente faz alusão . A tristeza
]ó respondeu : "Oh! Se a minha queixa [irri- e os problemas, afirma ele, não crescem do
tação], de fato , se pesasse" (Jó 6:2). solo como ervas daninhas. O solo precisa
Zelo. Ou, "inveja", "ira apaixonada" ser preparado e a m á semente, pla ntada .
(Pv 14:30; Is 42:13). O homem é naturalmente pecaminoso; por-
Tolo. "Simples" seria melhor tradução. tanto, é natural que sofra.
3. Lançar raízes. Elifaz admite que os 7. Faíscas. Literalmente , "filhos da
ímpios podem "lançar raízes" e prosperar, chama". Todos os seres humanos pecam ;
mas ele não crê que tal prosperidade seja portanto, é tão natural que experimen-
permanente. tem problem as como que as faíscas voem
Declarei maldita. Isto é : "Porque sei para cima. Por que devia Jó reclamar de
que a maldição de Deus repousava sobre ela." sua sorte tão amargamente, se a tristeza é
4. Espezinhados às portas. A porta a sorte comum a todos os seres huma nos?
das cidades antigas era o local onde se reu- Elifaz deixa de reconhecer que declarar a
nia o tribunal de justiça. A expressão pode ser razão do sofrimento não conforta o sofre-
equivalente a "são privados de seus direitos no dor. O coração humano não é curado pelo
tribunal" (ver Pv 22:22). Alguns veem neste conhecimento da inevitabilidade dos pro-
verso uma alusão à morte dos filhos de Jó. blemas , assim como o pecado não é per-
5. Espinhos. Nem mes mo a cerca de doado mediante o conhecimento de que ele
espinhos construída ao redor do campo é um mal universal.
pode proteger a colheita do tolo dos bandos 8. Eu buscaria a Deus. "Se eu fos se
de saqueadores famintos. você", Elifaz está dizendo, "pa raria de rec la-
O intrigante. Do heb. tsammim, pala- mar e buscaria a Deus; em vez de dese-
vra de significado incerto, provavelmente, jar a morte, eu colocaria minha confiança
"uma cilada", "uma armadilha". Uma ligeira nEle." É fácil alguém supor que enfrentar ia

57 1
5:9 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

a adversidade com mais coragem do que se encontra em outros textos (ver SI 94:12;
outra pessoa. A experiência real, às vezes, Pv 3:11, 12; Hb 12:5-11).
revela a fraqueza dos mais confiantes. Elifaz 18. Ele faz a ferida. Ver Dt 32:39;
estava correto no que disse, mas Jó, poste- Os 6:1.
riormente, avaliou a adequação de sua ati- 19. De seis angústias te livrará, e
tude com as seguintes palavras: 'Todos vós na sétima. Uma expressão encontrada
sois consoladores molestos" (Jó 16:2). também na poesia ugarítica. Esses números
9. Coisas grandes. Nos v. 9 a 16, Elifaz não devem ser tomados no sentido literal.
fala da mão de Deus nos eventos humanos. Seis significa muitos, e sete significa mais.
Ele não estava ciente da presença e da atua- Esta é uma forma poética de dizer que Deus
ção do grande adversário, sobre quem deve livrará de toda angústia (ver Am 1:3-11,
recair a responsabilidade por todo o sofri- como exemplo de contagem semelhante).
~ .,. mento e miséria do ser humano. 21. Do açoite da língua. Calúnias e
12. Frustra. Ver Sl33:10; Is 8:10. os abusos.
13. Ele apanha os sábios. Esta é 23. Aliança. Uma figura poética.
a única passagem de Jó citada no NT Os seres animados (os animais) e os inani-
(1 Co 3: 19). Paulo provavelmente traduziu mados (as pedras) estariam em paz com o
o texto diretamente do hebraico, ou usou servo de Deus.
algum manuscrito da LXX que não existe 24. Nada te faltará. Do heb. chata',
hoje. Ele expressa uma ideia semelhante à palavra que pode ser traduzida como "pecar"
da LXX, mas faz uso de palavras diferentes. (ver ACF), "errar [um caminho ou alvo]"
Dos que tramam. Ou, "dos ardilosos". (ver Jz 20:16) ou "achar falta de". A frase
O conselho [... ] se precipita. Literal- pode ser tradu zida como: "Inspecionarás
mente, "é apressado", isto é, "é rapidamente teu aprisco e não sentirás falta de nada."
terminado". 25. Tua descendência. Ser abençoado
15. O necessitado. O texto hebraico com muitos descendentes era algo aceito
diz, literalmente: "Mas Ele salva da espada, como sinal do favor divino.
da boca e da mão dos poderosos os necessi- 26. Robusta velhice. Outro sinal do
tados." A passagem não segue o paralelismo favor divino. Apesar da grave condição
regular. Várias revisões já foram sugeri- física de Jó, seu amigo coloca diante dele a
das para preservar a métrica poética, mas esperança da longevidade.
nenhuma dessas versões acrescenta muito Como se recolhe o feixe de trigo.
à compreensão da passagem. Deus é retra- Compare-se com os versos de John Milton:
tado como um defensor do necessitado con- "Que assim vivas; até que, como fruto
tra aquele que o oprime. maduro, caias
17. Bem-aventurado. Os v. 17 a 27 No colo de tua mãe; ou facilmente sejas
provavelmente constituem a suprema passa- Colhido, e não severamente arrancado;
gem entre todas as declarações dos amigos Que estejas maduro para a morte."
de Jó; contudo está baseada na pressupo- 27. Assim é. Elifaz estava conven-
sição de que Jó estava sendo punido por cido de que suas observaçõ es e conclusões
algum pecado. estavam corretas, e instou com Jó para
Disciplina. Ou, "repreende". A ideia que aceitasse seu conselho e o pusesse em
de que a repreensão de Deus é um bem prática.

572
]Ó 6: I

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

3- FEC, 348 18- PR, 435

CAPÍTULO 6
1 ]ó mostra que suas queixas não são sem causa. 8 Ele deseja o descanso
da morte. 14 Reprova seus amigos por sua falta de bondade.

Então, Jó responde u: 15 Me us irmãos aleivosamente me trata ram;


2 Oh! Se a minha quei xa, de fa to, se pesasse, são como um ribeiro, como a torrente que tra ns-
e contra ela, numa balança , se pusesse a minha borda no va le,
miséria , 16 turvada com o gelo e com a neve qu e nela
3 es ta, na verdade, pesaria mais qu e a a reia se esconde,
dos mares; por isso é qu e as minhas palavras 17 torre nte que no tempo do ca lor seca, e mu-
foram precipitadas. de ce e desaparece elo seu lugar.
4 Porque as flec has do Todo-Poderoso estão 18 Desviam-se as carava nas dos seus ca mi-
em mim cravadas, e o meu espírito sorve o veneno nhos, sobe m para luga res desolados e pe recem .
delas; os ter rores de Deus se arregimentam con - 19 As ca rava nas de Temá procuram essa tor-
tra mim. rente, os viajantes de Sabá por ela suspira m.
5 Zurrará o jumento montês junto à relva? Ou 20 Fica m envergonhados por terem co nfiado;
~ "' mugirá o boi junto à sua forr age m? e m chegando ali , confundem-se.
6 Comer-se-á sem sa l o qu e é in sípido? Ou ha- 21 Assim também vós outros sois nada para
verá sabor na clara do ovo? mim ; vedes os meus ma les e vos es pantai s.
7 Aquilo que a minha alma rec us ava tocar, 22 Acaso, disse eu: dai-me um presente? Ou:
isso é agora a minha com ida repugnante. oferece i-me um suborno da vossa fazenda?
8 Quem dera qu e se cumpri sse o meu pedido, 23 Ou: li vra i-me elo poder do opressor? Ou: re-
e que Deus me concedesse o que anelol ei i mi-me elas mãos dos tiranos?
9 Que fosse do agra do de De us es maga r-me, 24 Ensinai-me, e eu me ca larei ; dai-m e a en-
que soltasse a Sua mão e acabasse comigo l tender em que tenho errado.
lO Isto ainda seria a minh a con solaçã o, e 25 Oh! Como são pers uasivas as palav ras retas!
sa ltaria ele contente na m inha dor, que Ele não Mas qu e é o que repreende a vossa repreensão?
poupa ; porque não tenho negado as palavras 26 Acaso, pensai s em reprova r as minh as pa-
do Santo. lavras, dita s por um desesperado ao vento?
li Por que esperar, se já não tenho forças? Por 27 Até sobre o órfão lançaríeis sorte e es pe-
qu e prolongar a vida , se o meu fim é ce rto? cu laríeis com o vosso amigo?
12 Acaso, a minha força é a fo rça da pedra? 28 Agora, pois, se sois servidos, ol hai pa ra
Ou é de bronze a minha carne? mim e vede que não minto na vossa cara.
13 N ão ! Jamais haverá socorro para mim; 29 Tornai a julgar, vos peço, e não haja iniqui-
foram afastados de mim os meus rec ursos. dade; torn ai a julgar, e a justiça ela minha ca usa
14 Ao aflito deve o amigo mostrar compai- triun fa rá.
xão, a menos qu e tenha abandonado o te mor do 30 Há iniquiclade na minha língua? Não pode
Todo- Poderoso. o meu palad ar discernir coisas perniciosas?

573
6:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

1. Jó respondeu. Os cap. 6 e 7 regis- 5. Junto à relva. O zurro dos jumen-


tram a resposta de Jó a Elifaz. A primeira tos e o mugido dos bois indicam que alguma
resposta procura justificar a amargura de necessidade desses animais não foi satis-
sua queixa. Contudo, o tom de seu discurso feita. Da mesma forma, a queixa de Jó
muda. Em vez da agonia quase febril e cheia emana daquilo que ele considera ser uma
de dúvidas do pronunciamento inicial, ele causa legítima.
mostra um espírito que pode ser caracteri- 6. Insípido. Ou, "sem gosto", "insosso",
zado como suave, melancólico e, em certa "sem tempero". ]ó considera suas reclama-
medida, sereno. ções como uma expressão justificável de
2. Queixa. Do heb. lw'as, literalmente, repugn ância pela dieta com que foi cha-
"irritação" ou "impaciência". K.a'as é tradu- mado a subsistir.
zida como "ira" em ]ó 5:2. Elifaz havia cri- Clara do ovo. Do heb. rir challamuth,
ticado Jó por sua "queixa". ]ó começa sua cujo significado é obscuro. Rir significa
defesa referindo-se a essa acusação. suco viscoso ou saliva (ver lSm 21:13).
Se pesasse. Jó expressa o desejo de Alguns consideram que challamuth se refere
que pudesse haver uma balança e que num a uma planta chamada beldroega, que tem
prato dela fosse colocada sua irritação e, um suco grosso e viscoso. Os rabinos con-
no outro, sua calamidade. Por mais amarga sideram que challamuth se refere à gema do
que tivesse sido sua queixa, ele achava que ovo e, portanto, que rir se refere à parte vis-
era pequena em comparação com o infortú- cosa do ovo, ou seja, à clara. Uma vez que
nio que a havia ocasionado. challamuth ocorre apenas aqui, é difícil defi-
3. Areia dos mares. Uma figura de nir precisamente qual seja seu significado.
linguagem que descreve, neste caso, grande 8. Meu pedido. O anseio pela morte
peso (ver Pv 27:3). ]ó admite certa extra- (]ó 3:11-19).
vagância em sua linguagem, mas acha que O que anelo. Literalmente, "minha
suas palavras imprudentes são justificadas expectativa" ou "meu desejo".
por seu terrível sofrimento. 9. Esmagar-me. Ou, "quebrantar-me"
4. Flechas do Todo-Poderoso. Uma (ARC).
expressão figurada que descreve calamida- Acabasse comigo. Ver Is 38:12. A ideia
des de maneira geral (ver Dt 32:23; SI 7:13; parece ser a de cortar o fio da vida, assim como
38:2; Ez 5:16). Jó menciona especificamente um tecelão corta do tear o material terminado.
a Deus como o autor de seu infortúnio. Essa 10. Consolação. Há algo enternece-
ideia parece aumentar grandemente seu dor relacionado ao fervor com que Já anseia
sofrimento, pois ele não pode entender por pela morte. Se ele fosse um pagão, talvez
que D eus o trata dessa forma. tivesse falado em suicídio, mas sua atitude
Veneno. Era comum em alguns luga- com relação à vida exclui essa ideia. Ele
res os guerreiros lutarem com flechas enve- depende de Deus para dirigir sua vida; pre-
nenadas (ver SI 7: 13). A ACF tra z: "cujo cisa se submeter a Deus, embora ache que
ardente veneno suga o meu espírito", mas a seus problemas sejam flechas envenenadas
frase pode ser tradu zida no sentido não de da parte de Deus. Embora deseje a morte,
que o veneno suga o espírito, mas de que o não dá a mínima evidência de que deseje
espírito sorve o veneno, como na ARA. tomar o assunto em suas próprias mãos.
Arregimentam. Uma figura que repre- Saltaria. O significado desta frase é
senta os males de ]ó agrupados contra ele incerto. A palavra assim traduzida não ocorre
como as forças de um inimigo hostil. em nenhuma outra parte da Bíblia. A LXX a

574
JÓ 6:21

traduz como "saltar", mas com um contexto nas regwes orientais. A plenitude, a força
totalmente diferente, traduzindo o verso da e o barulho dessas correntes temporárias
seguinte forma: "Que a sepultura seja minha durante o inverno são comparados à atitude
cidade, sobre os muros da qual tenho saltado. dos amigos de Jó para com ele nos dias de
Não recuarei dela; pois não tenho negado as sua prosperidade. O secamento das águas
santas palavras de meu Deus." com a aproximação do verão é comparado ao
Negado. Ou, "repudiado". Jó não tem fracasso desses amigos no tempo da aflição.
medo da morte; confia em sua inocência. 16. Turvada. Provavelmente uma refe-
Está cônscio de não haver negado a Deus. rência à primavera, quando o gelo e a neve
11. Forças. Elifaz predisse um futuro derretidos fazem com que as águas que cor-
mais feliz (Jó 5:17-27). Jó respondeu: "Não rem pelos cursos dessas correntes sejam
tenho forças suficientes para esperar tais escuras e turbulentas .
bênçãos prometidas." 17. Seca. Quando a água é necessária,
Meu fim. Ou seja: "Há algum propósito no calor do verão, as correntes desaparecem .
na prolongação de tal existência miserável?" 18. Caminhos. Do heb. 'orchoth, pala-
12. Pedra. Para suportar a aflição por vra corretamente tradu zida como "cami-
mais tempo seria preciso ter um corpo de nhos" ou "estradas", e que, como tal, se
bronze e a dureza da pedra. referiria às correntes que serpenteiam pelo
13. Socorro para mim. Mais literal- deserto e se perdem nas areias. Uma voca-
m ente: "Não é verdade que não há socorro lização ligeiramente diferente do hebraico
em mim?" A pergunta é um reconhecimento dá a tradução "caravanas" (ver Is 21: 13). -. ~
da completa frustração que Jó sente. A figura , então, mostraria essas ca rava nas
14. Aflito. O hebraico deste verso é se desviando para encontrar água nos le i-
obscuro. Alguns veem aqui a ideia de que tos dos rios e, então, perecendo de sede no
os amigos deveriam mostrar bondade para deserto estéril, por não tê-la encontrado.
com o aflito, ainda que o sofredor possa ter 19. Caravanas. Do heb. 'orchoth, a
abandonado o temor do Todo-Poderoso (ver mesma palavra empregada no v. 18. Se a
ARC). Se este é o significado das palavras ideia de caravana não está presente no v. 18,
de Jó, não se deve concluir que ele admita é definitivamente introduzida aq ui.
que apostatou. A última frase deve ser Temá. Um oásis bem con hecido no
considerada como hipotética, isto é, mesmo noroeste da Arábia.
que ele tivesse renunciado a Deus, seus Procuram. O quadro é de caravanas se
amigos não deveriam abandoná-lo. aproximando dos wadis, esperando ansiosa-
Outros, a partir de ideias sugeridas pelas mente encontrar água.
versões Siríaca e Vulgata e pelos Targuns, 20. Envergonhados. Palavra que se
dão a seguinte tradução: "Aquele que de um encontra também nos Salmos 6:10; 22:5
am igo retém a bondade, abandona o temor do (TB); 25:2, 3 e 20 . Também usada no sen-
Todo-Poderoso" (RSV). Ambas as traduções tido de desapontamento (ver Is 1:29; Jr 2:36).
fazem sentido e se encaixam ao contexto. 21. Nada. Esta tradução se baseia numa
15. Meus irmãos. Jó compara seus ami- variante encontrada na margem da Bíblia
gos a uma corrente de águas que é cauda- hebraica. O texto, da forma como se encontra,
losa e turbulenta no inverno, quando suas traz "a ele" ou "para ele", e o significado é in-
águas não são tão necessárias, mas que seca certo. A LXX traduz "a mim", neste contexto:
e desaparece no calor do verão. Essas cor- "mas viestes a mim sem piedade". Jó procura
rentes, conhecidas como wadis, são comuns se certificar de que seus amigos entendam

575
6:22 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

sua ilustração. Ele está desapontado por ir a Ao vento. Literalmente, "para o vento".
eles em busca de conforto e não encontrar Jó reconhece que suas palavras eram expres-
isso. Eles eram como leitos secos por onde sões de desespero. O texto, da form a como
deviam ter fluído correntes refrescantes. está, sugere que, como o vento, seus discur-
Males. Literalmente, "terror". Jó penetra sos foram caracterizados pelo som e pela
nos motivos de seus amigos. Eles se aproxi- fúria, em vez de pela serena confiança e pelo
maram com boas intenções, desejando con- discernimento. A tradução literal sugere que
fo rtá-lo e consolá-lo, mas quando viram sua o objetivo era que suas palavras fossem apa-
condiç ão, temera m mostrar amizade. Con- nhadas e levadas pelo ve nto, não qu e foss em
sideraram-no um objeto da vingança divina tomadas como algo qu e exigia reprovação.
e tiveram medo de ser castiga dos, caso lhe 27. Lançaríeis sorte. Lite ralm ente,
mostrassem compaixão. "fazer cair [sobre]". A expressão é usada
22. Dai-me um presente. Jó não pede para "la nçar sortes", e provavelmente tem
benefícios materiais de seus am igos. este significado aqui. São lançadas sortes
23. Livrai-me. Jó n ão pede vingança sobre os órfãos, que estão sendo vendidos
sobre seus inimigos, nem que seus amigos como escravos para pagar as dívidas de seu
recuperem sua propriedade perdida. pai falecido. As palavras são uma severa
24. Ensinai-me. Elifaz havia insinuado acusação aos amigos.
que Jó pecara . Con tudo, não havia sido feita 28. Olhai para mim. "Olhem- me no
nenhuma acusação específica com respeito olho", Jó di z, "e julguem pelo meu semblan te
à vida de Jó. É verdade qu e seus am igos cen- se estou di zendo a verdade". A inocência
sura m as palavras dele, mas elas meramente consciente de Jó se expressa neste desafio .
refletiam seu desespero. Jó desafiou seus 29. Tornai a julgar. "Voltem-se", isto
amigos a apresentarem ev idências concretas é, "mude m sua atitude". Vocês julgaram
de que seu sofrimento era cast igo direto por injustamente que sou cu lpado. Jó in sta com
algum pecado. os amigos para qu e proc urem outras expli-
25. Palavras retas. Literalmente, cações pa ra sua ca la midade. In siste em
"palavras de retidão". que um a investigação mais a mpla vind ica-
O que repreende a vossa repreen- ria sua ju stiça .
são? Jó argumenta que palav ras ditas com 30. Meu paladar. Jó se esforça para
sinceridade são efic azes. Mas, pergunta vindicar a integridade de seu discernimento
ele: "Que força tem as palavras de vocês? moral. Sua sinceridade não pode ser posta
O raciocínio de vocês é defeituoso porque em dúvid a, mas, ao colocar demasiada con-
suas premissas são falsas." fiança em seu próprio senso de valores, Jó
26. Reprovar as minhas palavras. Jó se encontra em terreno perigoso. Só De us
diz, com efeito: "Vocês se concentram em é compete nte para es tim ar o va lor moral
minh as palavras, pronunciadas no calor da e espiritual de uma pessoa. Mais tarde, Jó
paixão, em vez de consid erare m o fato de admitiu qu e havia falado do que não e nten-
minh a conduta ser irrepreensível?" dia (Jó 42:3).

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

2 - PR, 162; T5, 313 4- AA, 45 ; PR, 435 8-10 - PR, 163

576
JÓ 7:4

CAPÍTULO 7
1 Jó justifica seu desejo de morrer. 12 Queixa-se de sua
própria angústia, 17 e da vigilância de Deus

1 Não é penosa a vida do homem sobre a terra? 12 Acaso, sou eu o mar ou algum monstro
Não são os seus dias como os de um jornaleiro? marinho, para que me ponhas guarda?
2 Como o escravo que suspira pela sombra 13 Dizendo eu: consolar-me-á o meu leito, a
e como o jornaleiro que espera pela sua paga, minha cama aliviará a minha queixa,
3 assim me deram por herança meses de de- 14 então, me espantas com sonhos e com vi-
sengano e noites de aflição me proporcionaram. sões me assombras;
4 Ao deitar-me, digo: quando me levantarei? 15 pelo que a minha alma escolheria, antes,
Mas comprida é a noite, e farto-me de me revol- ser estrangulada; antes, a morte do que esta
ver na cama, até à alva. tortura.
5 A minha carne está vestida de vermes e de 16 Estou farto da minha vida; não quero
crostas terrosas; a minha pele se encrosta e de viver para sempre. Deixa-me, pois, porque os
novo supura. meus dias são um sopro.
6Os meus dias são mais velozes do que a lan- 17 Que é o homem, para que tanto o esti-
çadeira do tecelão e se findam sem esperança. mes, e ponhas nele o Teu cuidado,
7 Lembra-Te de que a minha vida é um 18 e cada manhã o visites, e cada momento
sopro; os meus olhos não tornarão a ver o bem. o ponhas à prova?
8 Os olhos dos que agora me veem não me 19 Até quando não apartarás de mim a Tua
verão mais; os Teus olhos me procurarão, mas vista? Até quando não me darás tempo de engo-
já não serei. lir a minha saliva?
9 Tal como a nuvem se desfaz e passa, aque- 20 Se pequei, que mal Te fiz a Ti, ó
le que desce à sepultura jamais tornará a subir. Espreitador dos homens? Por que fizeste de
lO Nunca mais tornará à sua casa, nem o mim um alvo para Ti, para que a mim mesmo
lugar onde habita o conhecerá jamais. me seja pesado?
ll Por isso, não reprimirei a boca, falarei 21 Por que não perdoas a minha transgres-
na angústia do meu espírito, queixar-me-ei na são e não tiras a minha iniquidade? Pois agora
amargura da minha alma. me deitarei no pó; e, se me buscas, já não serei.

I. Penosa a vida. Literalmente, 2. Suspira pela sombra. Como um


"guerra", "serviço militar". A NTLH diz: escravo espera impacientemente pelas
''A vida neste mundo é dura como o ser- sombras da noite para que possa parar de
viço militar." A descrição que Jó faz da trabalhar, assim Jó anseia pela morte.
vida contrasta distintamente com o qua- 3. Assim me deram por herança.
dro fascinante apresentado por Elifaz em Jó não pôde ver nenhum bem nos lon-
Jó 5:17 a 27. ]ó afirma que é tão natural e gos meses de infortúnio. Isso não implica
apropriado para alguém, em suas circuns- necessariamente que sua doença já estava
tâncias, desejar ser libertado pela morte em progresso havia meses. Ele poderia
como o é para um soldado desejar que seu prever os dias que tinha pela frente.
tempo de serviço termine (ver Jó 14:14; 4. Quando me levantarei? Qualquer
Is 40:2). pessoa que já sofreu uma doença grave

577
7:5 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

pode entender a alusão de Jó a suas longas frase da seguinte forma: "Q uem desce à
noites, aparentemente intermináveis, de dor sepultura não volta."
e desconforto. 11. Não reprimirei. O sofrimento de
5. Vermes. Vermes proliferam em suas Jó é tão intenso que ele se sente justificado
feridas. Formam-se crostas sobre as erup- em expressar suas queixas livremente (ver
ções. As úlceras se abrem e soltam um Sl 55:2; 77:3; 142:2).
líquido repugnante. 12. O mar. Jó indaga: Sou eu como um
6. A lançadeira do tecelão. Ele não mar agitado e bravio que precisa ser restrin-
se refere aqui tanto à rapidez com que os gido e limitado?
dias se passavam, mas ao fato de que logo Baleia (ARC). Do heb. tannin, "mons-
terminariam. tro marinho" (ver com. de Gn 1:21), "dra-
Sem esperança. Jó não partilha da gão" (LXX). Possivelmente o crocodilo. Jó
esperança que Elifaz apresenta (Jó 5:17-27). pergunta: Sou como um monstro perigoso
Ele não vê nenhuma esperança a não ser que tem de ser mantido sob guarda?
a morte. 14. Então, me espantas. Quando Jó
7. Lembra-Te. Aqui Jó passa a se diri- busca consolo no descanso e no sono, é ater-
gir a Deus e continua até o final deste dis- rorizado por seus sonhos. Ele coloca sobre
curso (v. 21). Ele eleva os olhos e o coração Deus a responsabilidade por esta condição.
ao Criador, e apresenta razões pelas quais 15. Estrangulada. É possível que uma
Deus devia pôr um fim à vida de Seu servo sensação de sufoco tenha acompanhado a
:;;,. desesperado. aflição de Jó. De qualquer forma, ele con-
8. Olhos. Note a repetição desta pala- sidera o estrangulamento mais desejável do
vra nos v. 7 e 8. Primeiramente, Jó menciona que a vida.
"meus olhos", depois "os olhos dos que agora Esta tortura. Literalmente, "meus
me veem", e depois "os Teus olhos", refe- ossos" (ARC), expressão que provavelmente
rindo-se aos de Deus. equivale a "um esqueleto vivo".
Já não serei. Literalmente, "a não exis- 16. Estou farto. Do heb. ma'as, "rejei-
tência de mim". Ele fala da morte (ver v. 9). tar", "desprezar", "rec usar". A expressão
9. Tal como a nuvem. Jó compara a "minha vida" é acrescentada como o objeto
morte ao desaparecimento de uma nuvem d este verbo, nas versões portuguesas (ver
no céu à medida que sua umidade se dissipa Jó 9:21, em que ma'as é traduzido como "não
no ar que a cerca. fazer caso" e "minha vida" aparece no texto).
Sepultura. Do heb. she'ol. O domínio Deixa-me. Estas são palavras audacio-
figurativo dos mortos, onde são retratados sas para qualquer mortal dirigir a Deus. Jó
dormindo ou descansando (ver Jó 3:13 -19). está nas profundezas do desespero. Ele acha
Jamais tornará a subir. Esta decla- que o Todo-Poderoso o discriminou e pede
ração não nega a ressurreição. Seu sig- para ser libertado da interferência divina.
nificado está restrito pela observação Quão diferentemente ele teria se sentido
feita no verso seguinte. Os mortos não se se pudesse saber o que estava por trás dos
levantam para voltar a seus antigos lares. bastidores e se pudesse ver seu Pai celestial
Mesmo tomadas independe ntemen te, contemplando-o com terna piedade e infa-
as palavras hebraicas tradu zidas como lível amor. Deus estava sofrendo com Seu
"jamais tornará a subir" não expressam servo, mas Jó não o sabia.
um ato conclusivo, mas, simplesmente, Sopro. Ou, "vapor", uma figura daquilo
uma ação incompleta. A NVI traduz a que é transitório. Jó considera sua vida de

578
JÓ 7:2 1

pouco valor. Ele era incapaz de apreciar seu então, por que D eus não o perdoa? Que
tremendo valor aos olhos de Deus . vantagem De us obtém ao atormentá-lo,
17. Que é o homem [...]? O salmista quando sua vida está tão próxima de ter-
us a palavras semelhantes num contexto que minar? Se o perdão não vier rápido, será
exalta o amor e o cuidado de Deus (Sl8:3-8). tarde demais .
Jó, em seu sofrimento, vê o incessante Há os que acreditam que os v. 20 e 21 <l ~
cuidado de Deus de maneira distorcida, são dirigidos não a Deus , mas a Elifaz.
interpretando-o como uma intromissão Segundo esse ponto de vista, Jó se voltou
inoportuna. Na verdade, Jó está dizendo a para Elifaz e disse, com efeito: "Você diz
Deus: "Por que incomodas o homem com que eu devo ter sido um pecador. E daí?
Tuas provas e aflições? Olha para outro Não pequei contra você, seu espia da huma-
lado. Dá-me tempo para 'engolir a minha nidade! Por que você me colocou como um
saliva"' (Jó 7:19). São palavras impróprias, alvo para atirar contra mim? Por que me
mas Deus não destrói a Jó por causa de sua tornei um fardo para você? Por que, em vez
audaciosa declaração. disso, você não passa por alto minhas trans-
20. Se pequei. O original diz apenas: gressões e desconsidera minha iniquidade?
"Pequei", mas Jó provavelmente não disse Amanhã, talvez, eu seja procurado em vãol"
isso como uma confissão, mas no sentido Tal interpretação é possível, mas não es tá
de "embora eu tenha pecado", ou "admito indicada no texto uma mudança na pessoa
que pequei". a quem Jó se dirige.
Espreitador. Ou, "vigia", em sentido O discurso de Jó, registrado nos cap. 6
negativo. A ideia parece ser a seguinte: e 7, mostra certos perigos: (1) O perigo
"E se pequei? Que diferença isso faz para da ênfase dema siada na vaidade da vida .
Ti, ó Vigia dos homens?" Os seres humanos devem se lembrar de seu
Alvo. Do heb. mifga', algo contra o qual grande valor aos olhos de Deus. (2) O perigo
se bate. Alguns veem na palavra a ideia de da livre expressão das emoções. Quando Jó
uma pedra de "tropeço" (TB) ou "obstáculo". removeu suas inibições, queixou-se com
Para Ti. Isto é, Jó se considerava um amargura, fez perguntas com irreverência,
objeto contra o qual Deus estava batendo. acusou com rispidez e rogou com impaciên-
A mim mesmo me seja pesado. Em cia. (3) A tendência do coração huma no,
vez de "a mim mesmo", a LXX diz "para Ti". quando cegado pela dor ou agitado pela pai-
A NVI traduz a frase da seguinte forma: xão, de interpretar mal a atuação de Deus .
''Acaso tornei-me um fardo para Ti?" A tra- (4) A certeza de que as pessoas boas ainda
dição judaica afirma que este era o signifi- podem ter dentro delas muito da velha
cado original, mas que foi corrigido pelos natureza não regenerada, que não é perce-
escribas porque parecia ímpio. bida até que a ocasião a revele. Dificilmente
21. Perdoas. Jó acha que dentro de alguém podia prever que Jó tivesse um rom-
pouco tempo morrerá ("me deitarei no pó"); pante de ira.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

11, 15, 16- PR, 163

579
8:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

CAPÍTULO 8
1 Bildade mostra a justiça de Deus ao tratar os homens de acordo com suas obras.
8 Ele recorre à sabedoria dos antigos para provar que a destruição
do ímpio é certa, 20 e aplica o justo trato de Deus a Jó.

1 Então, respondeu Bildade, o suíta: 11 Pode o papiro crescer sem lodo? Ou viça
2 Até quando falarás tais coisas? E até quan- o junco sem água?
do as palavras da tua boca serão qual vento 12 Estando ainda na sua verdura e ainda não
impetuoso? colhidos, todavia, antes de qualquer outra erva
3 Perve rteria Deus o direito ou perverteria se secam.
o Todo-Poderoso a justiça? l3 São assim as veredas de todos quantos
4 Se teus filhos pecaram contra Ele, se esquecem de Deus; e a esperança do ímpio
também E le os lançou no poder da sua perecerá.
tran sgressão . 14 A sua firmeza será frustrada, e a sua con-
5 Mas, se tu buscares a De us e ao Todo- fiança é teia de aranha.
Poderoso pedires misericórdia, 15 Encostar-se-á à sua casa, e ela não se man-
6 se fores puro e reto, Ele, sem demora, des- terá, agarrar-se-á a ela, e ela não ficará em pé.
pertará em teu favor e restaurará a justiça da 16 Ele é viçoso perante o sol, e os seus reno-
tua morada. vos irrompem no seu jardim;
7 O teu primeiro estado, na verdade, 17 as suas raízes se entrelaça m num montão
terá sido pequeno, mas o teu último crescerá de pedras e penetram até às muralhas.
sobremaneira. 18 Mas, se Deus o arranca do seu lugar,
8 Pois, eu te peço, pergunta agora a gera- então, este o negará, dizendo: Nunca te vi.
ções passadas e atenta para a experiência de 19 Eis em que deu a sua vida! E do pó bro-
seus pais ; tarão outros.
9 porque nós somos de ontem e nada sabe- 20 Eis que Deus não rejeita ao íntegro, nem
mos; porquanto nossos dias sobre a terra são toma pela mão os malfeitores .
como a sombra. 21 Ele te encherá a boca de riso e os teus lá-
lO Porventura, não te ensinarão os pais, não bios, de júbilo.
haverão de falar-te e do próprio entendimento 22 Teus aborrecedores se vestirão de igno-
não proferirão estas palavras : mínia, e a tenda dos perversos não subsistirá.

1. Bildade. Este capítulo contém a res- 2. Até quando [...]? Os amigos haviam
posta de Bildade ao discurso de Jó nos cap. 6 sem dúvida esperado que o argumento de
e 7. Bilda de não se refe re às expressões Elifaz silenciasse Jó. Ficam surpresos com
de desespero do a migo (Jó 6:1-13) n em a o fato de que ele continuou a despejar uma
sua s injúrias contra os colegas (Jó 6:14-30). torrente de p alavras intempestivas.
Em vez disso, ele trata das críticas de Jó Vento impetuoso. Jó havia se refe -
contra D e us. Enquanto Elifaz respaldou rido a seus próprios discursos como "vento"
seu argumento com uma visão que d ecla- (Jó 6:26), e Bildade p arece ter aproveitado a
rou vir de Deus (Jó 4:13) , Bilda de recor- figura . Nesse ponto e le concordava com Jó!
reu à sa bedoria dos antigos como seu 3. Perverteria Deus o direito [...]?
fundame nto. Bildade tenta defender a justiça de Deu s.

580
JÓ 8:13

Ele está correto em seu respeito pela jus- o verdadeiro fim da experiência de Jó (ver
tiça divina, mas errado n a compreensão Jó 42:12).
dela. Ele acredita que a justiça exija uma 8. A experiência de seus pais. E m
punição específica pelos pecados n esta todas as épocas os homens têm recorrido à
vida e presume que Jó esteja sendo objeto sabedoria de seus ancestrais. Bildade aplica
dessa justiça. a Jó as tradições passadas de ambos.
4. Teus filhos. A mais severa das per- 9. De ontem. Bildade deixa implí-
das de Jó foi a de seus filho s. Bildade diri- cito que se devia depender da filosofia do
giu um impiedoso ataque a Jó ao inferir que passado .
seus filhos morreram porque eram pecado- Sombra. Ver Sll02: ll ; 109:23.
res. Ano após ano Jó havia oferecido sacrifí- 10. Não te ensinarão os pais [...]?
cios em favor de seus filhos (Jó 1:5). Bildade Bildade obviamente considerava Jó um
estava errado em sua pressuposição. A ca la- aluno rebelde, mas esperava que ele desse
midade não é evidência de que as vítimas ouvidos às vozes do passado. Alguns creem
sejam culpadas (ver Lc 13:1-5; Jo 9:2, 3). que Bildade se referiu aos patriarcas do
5. Se tu buscares. Bildade parece mundo antigo, que viveram vida longa e,
di zer: "Seus fil hos morreram por causa assim, puderam adquirir sabedoria.
do pecado deles, mas você es tá vivo. 11. Papiro. Do heb. gome'. Geralmente
Se você buscar a Deus e viver corretamente, se considera que esta palavra se refira ao
talvez Deus ai nda possa remediar su a papiro, um junco alto que crescia até o
condição." dobro da altura de um homem e que tinh a
De madrugada (ARC). Esta locução um grande tufo de folhas e flo res na ponta.
adverbial é empregada p elos tradutores da Era abundante no Egito antigo e também
ARC para revelar mais claramente o signi- encontrado no vale do Jordão.
fic ado do verbo heb. shachar, que significa Junco. Do heb. 'achu. O junco consome
"buscar diligentemente" ou "buscar bem de grandes qu antidades de água.
m anh ã" (ver na ARC ou ACF: Jó 24:5; 12. Secam. Essas plantas não têm capa-
SI 63 :1 ; Pv 7:1 5; 8:1 7; Is 26:9; Os 5:15). cidade de autossustentação. Dependem da
6. Reto. Deus havia declarado que Jó umidade para se sustentar. Se faltar água,
era reto (Jó 1:8). Bildade exibiu a fa libili- murcham e morrem.
dade do discernimento humano quando 13. Todos quantos se esquecem
afirmou o contrário. As frias e insensíveis de Deus. Este verso contém a aplica-
insinuações deste crítico devem ter provado ção da parábola. Quando o poder susten -
severamente a paciência de Jó. tador de Deus é retirado de uma p essoa,
7. O teu último. Bildade se une a ela perece como o outrora luxuriante junco
Elifaz em predizer o retorno da prosperi- d'água. A figura ilustra o juízo que Bildade
dade de Jó se ele se arrependesse. É difí- pensa estar caindo sobre o homem que
cil que algum desses "consoladores" tivesse antes fora justo e, portanto, próspero, mas
fé nessa predição. Talvez tenha havido um que depois se afastou de Deus. Jó não dei-
sarcasmo implícito nas palavras de Bildade. xaria de compreender a aplicação.
"Se você fosse tão inocente como afirma Do ímpio. Do heb. chanef Literalmente,
ser", Bildade parece insinuar, "estaria "homem sem D eus". A ARC traz "hipó-
confiante em seu futuro. Se não está con- crita". A palavra hebraica não sugere a dis-
fiante , é porque deve estar cônscio de simulação implícita na palavra "hipócrita";
alguma culpa." Sem o saber, Bildade prediz o que ela denota é irreligião e profanidade

581
8:14 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

~ ~ · (ver
Jó 13:16; 15: 34; 17:8; 20:5; 27:8; 34: 30; Este o negará. O lugar onde a planta
36:13; Sl35:16; Pv 11 :9). cresceu é personificado e representado
14. A sua firmeza. Alguns supõem como se estivesse negando a existência da
que a citação dos antigos se encerra no planta outrora florescente.
v. 13, e que o v. 14 dá início aos comentários 19. Eis em que deu a sua vida!
de Bildade sobre a passagem que ele citou. A ARC diz: "Eis que este é a alegria do
Outros acham que a citação continua até o seu caminho." Esta é uma declaração irô-
fin al do v. 18, e outros ainda, que ela con- nica. Assim termina a trajetória da vida
tinua até o final do v. 19. outrora alegre.
Teia de aranha. Literalmente, "casa da Brotarão outros. Ninguém lamenta a
aranha". Um símbolo de fragilidade . morte da planta nem sente falta dela. Outras
15. À sua casa. Uma figura da insegu- plantas logo lhe tomam o lugar. Pela pará-
rança dos ímpios. bola da trepadeira, Bildade procura ilustrar
Agarrar-se-á a ela. A figura é a de o que aconteceu a Jó. Por algum tempo ele
uma aranha que está tentando se suster floresceu, depois veio o desastre e, como a
agarrando-se à sua casa. A "casa" de Jó lhe planta, ele é destruído.
h avia sido tirada. Sua esperança fora cor- 20. Ao íntegro. Bildade havia lançado
tada. Assim, Bildade parece classificar Jó dúvidas sobre a retidão de Jó (v. 6). Aqui, ele
como um ímpio. questiona outra das características notáveis
16. Viçoso. Uma nova ilustração, a de de Jó (ver l:l , 8), e afirma que se Jó é irre-
uma luxuriante trepadeira cheia de seiva preensível, Deus o abençoará.
e vitalidade, que de repente é destruída e 21. Ele te encherá a boca. Bildade
esquecida. não acha que o caso de Jó seja sem espe-
17. Num montão. Do heb. gal, indi- rança . Como Elifaz, ele prediz que a cala-
cando provavelmente um monte de pedras midade de Jó será revertida e que sobrevirão
e, por isso, a locução adjetiva "de pedras" foi juízos aos inimigos dele. Os amigos parecem
acrescentada pelos tradutores (ver Js 7:26; ter certo grau de confiança na integridade
8:29, em que a palavra ocorre junto a básica de Jó, embora estejam convencidos
"pedras"). de que ele cometeu algum grande pecado
Penetram até às muralhas. A LXX que trouxe a calamidade.
e a BJ dizem: "vive no meio das rochas". Uma comparação do primeiro discurso
A figura é provavelmente a de uma trepa- de Elifaz com o de Bildade revela que
deira que prende suas gavinhas, como a ambos têm uma introdução censuradora
hera, às rochas, e parece crescer das pró- e um encerramento conciliatório. Ambos
prias pedras. exortaram Jó a ir a Deus arrependido,
18. Se Deus o arranca. A palavra em busca de ajuda e apresentaram a pro-
"Deus" foi acrescentada. O suj eito parece messa de salvação. Elifaz reforçou seu argu-
ser impessoal, por isso a BJ traduz a frase mento com uma suposta revelação divina,
como "se o arrancam do lugar". Uma tem- enquanto que Bildade procurou alcançar o
pestade ou qualquer outra circunstância mesmo resultado, apelando para os antigos
desarraiga a planta e a destrói. mestres da sabedoria.

582
JÓ 9:1

CAPÍTULO 9
1 Jó, reconhecendo a justiça de Deus, mostra que não há como contender com Ele.
22 A inocência do homem não deve ser condenada por aflições.

Então, Jó respondeu e disse: 19 Se se trata da força do Poderoso, Ele


2 Na verdade, sei que assim é; porque, como dirá : E is-Me aqui ; se, de justiça: Que m M e
pode o homem ser justo para com Deus? cita rá?
3 Se quiser contender com Ele, nem a uma 20 Ainda que eu seja justo, a minha boca me
de mil coisas Lhe poderá responder. condenará ; e mbora seja eu íntegro, Ele me terá
4 Ele é sábio de coração e grande em poder; por culpado.
quem porfiou com Ele e teve paz? 21 E u sou íntegro, não levo em conta a
5 Ele é quem remove os montes, sem que minha alma , não faço caso da minha vida.
saibam que Ele na Sua ira os transtorna ; 22 Para mim tudo é o mesmo; por isso, di go:
6 que m move a terra para fora do seu lugar, tanto destrói E le o íntegro como o perve rso.
cujas colunas estremecem ; 23 Se qualquer flagelo mata subitam e nte,
7 que m fala ao sol, e este não sai, e sela as então, Se rirá do desespero do inocente.
estrelas; 24 A terra está entregue nas mãos dos per-
~~ 8 que m sozinho estende os céus e anda versos; e De us a inda cobre o rosto dos juízes
sobre os a ltos do mar; dela; se não é Ele o causador disso, quem é, logo?
9 quem fez a Ursa, o Órion , o Sete-estrelo e 25 Os meus dias foram mais velozes do que
as recâmaras do Sul; um corredor; fugiram e não viram a feli c id ade .
lO quem fa z grandes coisas, que se não 26 Passa ram como barcos de junco; como a
podem esquadrinhar, e maravilhas tais, que se águia que se lança sobre a presa.
não podem contar. 27 Se eu di sser: e u m e esquece re i da
11 Eis que Ele passa por mim, e não O vejo; minha queixa, deixarei o me u ar tri ste e fic a-
segue peran te mim , e não O percebo. rei contente;
12 Eis que arrebata a presa! Quem O pode 28 ainda assim todas as minhas dores me
impedir? Quem Lhe dirá: Que fazes? apavoram, porq ue bem se i que me não terás por
13 Deus não revogará a Sua própria ira; de- inocente.
baixo dEle se encurvam os auxiliadores do Egito. 29 Serei condenado; por que, pois, traba lho
14 Como, então, Lhe poderei eu responder eu em vão?
ou escolher as minhas palavras, para argumen- 30 Ainda que me lave com água de neve e
tar com Ele? purifique as mãos com cáustico,
15 A Ele, ainda que eu fosse justo, não 31 mesmo assim me submergirás no lodo,
Lhe responderia; a ntes , ao me u Jui z pediria e as minh as próprias vestes me abominarão.
mise ricórd ia. 32 Porque Ele não é home m , como e u, a
16 Aind a que O chamasse , e Ele me respon- quem eu responda , vindo juntamente a juízo.
desse, nem por isso creria eu que desse ouvidos 33 Não há entre nós árbit ro qu e ponha
à minha voz. a mão sobre nós ambos.
17 Porque me esmaga com uma tempestade 34 Tire Ele a Su a vara de cima de mim , e
e multiplica as minhas chagas sem causa. não me amedronte o Seu terror;
18 Não me permite respirar; a ntes, me farta 35 então, falarei sem O temer; do contrá rio,
de amarguras . não estaria em mim.

583
9:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

1. Jó respondeu. Os cap. 9 e 10 regis- 8. Estende os céus. Ver SI 104:2;


tram o terceiro discurso de Jó, no qual ele Is 40:22; ]r 10:12. Esta figura de linguagem
reconhece a onipotência de Deus e, por exalta a onipotência de Deus, chamando a
contraste, sua própria impotência. Depois, atenção para as obras de Suas mãos.
inicia outra queixa melancólica por causa Altos do mar. Deus é retratado como
de suas aflições. alguém que tem poder para subjugar a altiva
2. Assim é. ]ó reconhece que os argu- força da s ondas.
mentos de Bildade estão corretos. 9. A Ursa. Do heb. 'ash ('ayish, Jó 38:32).
Como pode o homem ser justo [... ]? A identificação não é segura, porém muitos
O problema de Jó não é a justiça de Deus; acham que a referência seja à constelação
esta ele reconhece. O que ele deseja saber é da Ursa Maior (ver com. de Jó 38:32).
como ele, um homem, pode ser justo diante Órion. Do heb. hesil, literalmente, "um
de Deus. As circunstâncias indicam que tolo", embora não sej a certo que o nome
ele é culpado, ao passo que sua consciência da constelação venha da mesma raiz que
testemunh a que ele é inocente. A pergunta a palavra cujo significado é "tolo". Há um
de Jó só foi completamente respondida na acordo geral quanto ao fato de que lzesil aqui
revelação do plano da salvação. Através das signifique Órion (ver com de Jó 38:31).
provisões desse plano, é possível que Deus Sete-estrelo. Do heb. lúmah. Alguns
seja "justo e o justificador daquele que tem interpretam 'as h como uma referência às
fé em Jesus" (Rm 3:26). Plêiades e consideram lúmah como alusão a
3. Uma de mil. O homem não está no outra estrela brilhante, como Sírius. A LXX
mesmo nível que Deus. Ele não tem resposta tradu z os três termos hebraicos como
para Suas perguntas ou para Suas acusações. "Plêiades , Hésp ero (Vênus) e Arcturus" (ver
4. E teve paz. Do heb. shalam, "estar com. de Jó 38:31).
completo, são, seguro". A palavra shalam tem As recâmaras do Sul. Provavelmente,
relação com uma raiz árabe que ainda traz constelações no sul do céu que não tinham
consigo a ideia adicional de "estar submisso a". nome, ou talvez os imensos espaços além elo
5. Remove os montes. O ser humano horizonte, na direção elo sul.
olha para as montanhas como símbolos de 10. Grandes coisas. Este verso usa
grande tamanho e estabilidade, mas Deus é quase as mesmas palavras de Jó 5:9, ditas
capaz de removê -las e de virá-las de cabeça por Elifaz. Elifaz vê nas maravilhas da cria-
para baixo. ção divina uma expressão da bondade ele
6. Move a Terra. Sem dúvida, uma Deus, enquanto Jó parece ver apenas o
referência a terremotos (lRs 19:11; ver SI poder ele Deus. Possivelmente, este s con-
104:32; Zc 14:4, 5; Mt 24:7). ceitos fossem comuns entre os religiosos
Cujas colunas estremecem. Uma da época.
descrição poética dos terremotos. Não é 11. Não O vejo. O mundo visível e o
necessário achar uma explicação literal invisível são divididos por uma nítida linha,
para as "colunas". que raramente é cruzada. Talvez Jó esteja
7. Fala ao sol. Deus é representado refletindo sobre a alegação de Elifaz de
como aquele que tem poder absoluto sobre haver estado fisicamente cônscio da visita
a natureza. As Escrituras frequentemente de um espírito (Jó 4:15, 16), e então afirma
mencionam os fenômenos naturais como que em seu caso é diferente: o mundo espiri-
5! ~~> exibições do poder de Deus (ver Êx 10:21; tual passa por ele e ele não recebe nenhuma
Ez 32 :7; ]I 2:31; Mt 24:29; Ap 6:12; 16:10). luz , iluminação ou instrução miraculosa.

584
JÓ 9:19

Segue. Do heb. chalaf, o mesmo verbo sua incapacidade para apresentar uma
que E li faz usou (Jó 4: 15) ao falar da visita defesa eficiente.
do espírito. 15. Ainda que eu fosse justo. Jó reco-
Não O percebo. Elifaz declarou ter nhece a soberania de Deus . Embora esteja
tido uma vívida percepção da presença certo de sua inocência, mesmo assim, apela
do espírito (Jó 4:15, 16) e ouvido sua voz por misericórdia ao se dirigir a seu Juiz.
(4:16-21). Jó aqui indica que não havia sido 16. Ainda que O chamasse. Do heb.
favorecido desta forma. qara'. Aqui, obviamente, no sentido legal
12. Quem O pode impedir? Ver Jó de "intimar". Jó está dizendo: "Se eu desa-
11:10; 23:13. Quando as calamidades atin- fiasse a Deus para uma confrontação, e Ele
giram Jó, sua resposta foi: "O SENHOR o deu aceitasse e ordenasse que eu apresentasse
e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome minha causa diante de Seu tribunal, mes mo
do SENHOR!" (1:21). Essa resposta refletiu assim eu não acreditaria que Ele estivesse
confiança. Porém , o transcurso do tempo e falando sério e que me permitiria entrar
o impacto da dor constante enfraqueceram ousadamente em Sua presença e questionar
o espírito de Jó. A confiança deu lugar a um livremente Seus atos." Tal condescendência
sentimento de impotência. Em vez de reco- parecia inconcebível para Jó. 11 ~
nhecer a sabedoria e o amor de Deus , ele vê 17. Porque me esmaga. Nos v. 17 a
sua própria fraqueza. Muitas vezes, a tragé- 21, Jó tenta imaginar o que aconteceria se
dia repentina não quebranta tanto o espí- ele desafiasse a Deus, e Deus aceitasse o
rito humano como o sofrimento persistente desafio. Ele retrata a Deus como alguém
e monótono. que agiria para com ele, não como um jui z,
13. Os auxiliadores do Egito. Do decidindo os assuntos de acordo com a lei,
heb. 'ozre rahab, literalmente, "os auxili a- mas como um soberano, decidindo-os de
dores de Raabe". A palavra rahab ocorre acordo com Sua própria vontade. Jó parece
em Jó 26:12 e Isaías 51:9, em que se tra- perder de vista o fato de que a soberania
duz de diferentes formas, como "soberba", suprema não é inconsistente com o amor e
"Egito", "Raabe", etc. Alguns creem que a retidão supremos.
Raa be era uma designação antiga para Sem causa. Do heb . chinnam, tra-
um grande poder do mal. Se for assim, Jó duzido da mesma forma em Jó 2:3 , mas
parece dizer que Deus mantém em sujei- como "debalde" em I :9. Jó atribui a De us
ção não apenas seres humanos , mas tam- aquilo que claramente era obra e maquina-
bém seres muito mais poderosos que o ção de Satanás (Jó 2:3; ver com. de SI 38:3;
homem, como Raabe e seus auxiliadores. 39 :9).
Uma vez que rahab significa orgulho, seria 18. Não me permite respirar. Os juí-
uma designação adequada para Lúcifer, e zos de Deus são descritos como tão cons-
o termo "a uxiliadores" seria uma designa- tantes e incessantes que Jó nem mesmo te m
ção para os seres que seguiram a Lúcifer tempo de respirar.
(ve r Is 14:12-14; Ap 12:7-9). Jó, por seus 19. Força do Poderoso. Jó não duvid a
discursos, porém, indica que tinha apenas do poder de Deus. A percepção que ele
um conhecimento limitado do grande con- tinha desse poder era mais aguçada do qu e
flito entre Deus e Satanás. seu reconhecimento da bondade de Deus.
14. Como, então, Lhe poderei eu Quem me citará? Isto é, "quem me
responder [...]? Os v. 14 a 16 sugerem a intimará"? A LXX diz: "Quem então resis-
linguagem de um tribunal. Jó reconhece tirá ao Seu julgamento?"

585
9:20 C O MENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

20. Ainda que eu seja justo. A ARC de se us discursos. Ele argume nta que a
di z: "Se eu me justificar". A frase é verd a- ordem estabelecida das coisas na soc ie-
deira se as palavras fo rem co rretamente dade human a deve ser a tribuíd a a D e us;
ap licadas (ver l C o 4:4). No entanto, Jó pen- n ão há ninguém mais a quem ela possa
sava nelas num contexto co mpletame nte ser atribuída .
di fe rente. Ele estava preoc upado com a 25. Os meus dias foram mais velo-
ideia de que a criatura não te m nen hum a zes. Por meio de três fi guras, Jó ilustra a rapi-
chance quand o discorda do Governante do dez com que sua vida se aproxim a do fim.
universo. Um corredor. Um mensageiro veloz.
21. Eu sou íntegro. Litera lme nte, 26 . Barcos de junco. E mbarcações
o verso di z: "Sou perfeito; não conheço a construídas tendo em vista a leveza e a velo-
mi m mes mo; aborreço minh a vida." A ideia cidade, mas não a res istência.
parece se r que Jó defendi a sua inocência, A águia. Jó havia mencionado o que
mas n ão po dia compree nd er a si mesmo era mais rápido em terra, o que era mais
nem às circun stâ ncias, e de que o con- rápido na água, e, aq ui, menciona o que é
fl ito era tão gra nde qu e ele desp rezava mais rápido no a r. Ele compa ra essas coisas
sua vida. à veloc id ade com que sua vida se aproxima
22. O mesmo. Ou , "um só assunto". de seu destino.
Isto é, tudo é igual aos olhos de Deus. Não 27. Meu ar triste. Literalmente,
há d iferença e ntre os casos dos ju stos e os "minh a face" ou "meu semblante", isto é,
dos ímpios. o se mblante triste de Jó. Ele sugere um
Digo. Jó está prestes a faze r um a ousada esforço para reanimar-se e encontrar a fel i-
afirm ação. cidade a despeito das aflições, mas julga
Destrói Ele. Jó está conve ncido de que que essas tentativas serão vãs .
nada pode ser afirm ado com certeza sobre 28. Minhas dores me apavoram.
o caráter de um homem a partir do tra to de O sofrimento de Jó era aumentado por seu
Deus com ele. D eus permite que tan to o medo de que Deus o condenari a. A frustra-
justo como o ímpio sejam dest ru ídos. ção, a dúvi da e o medo perseguia m Jó ta nto
23. Flagelo. Jó, provave lmente, está se quanto sua dor física.
referi ndo à guerra , praga ou peste. Se uma 29. Serei condenado. Literalme nte,
destas fo r "solta" sobre os homens, mata "sou ímpi o" ou "sou culpado". Isto é, Jó acre-
sem di scr iminação. Nesse caso, Deus nem dita que seus sofri mentos de monstra m que
sempre Se interpõe para salvar os justos. ele é considerado desta forma.
Então, Se rirá. Ou, "zombará de", "ridi- Por que, pois, trabalho [... ]? Uma
culariza rá". Um a afirmação audac iosa, irre- atitude derrotista persegui a o pensa mento
veren te e amarga que alguns têm tentado de Jó. Como muitos outros sofredores, ele
defender, dizendo que é uma declaração estava di zendo, em essência: "De qu e vaiei"
retórica, mas a defesa parece inadequada. 30. Água de neve. Que simboli za com-
Esta é obviame nte uma daquelas declara- pleta purificação.
ções de que ele mais tarde se arrependeu 31. No lodo. Não importa, diz Jó, o
"no pó e na ci nza" (Jó 42:6). quanto eu me esforce para estar limpo e
24. Se não. "Se não é Ele, então quem puro, Deus me lançará de novo na lama suja.
é?" Nesta passagem, Jó talvez reflit a o mais Vestes. As roupas de Jó são per-
profundo desânimo e a mais negra descon- sonificad as e represe ntadas como se o
fiança que se pode observar em qu alquer abominassem.

586
JÓ 9:3 4

32. Ele não é homem. Jó não vê Ele é Aquele que representa D eus para o
nenhuma esperança de chegar a um enten- homem, Aquele através de quem o homem
dimento com Deus , por causa do abismo pode compreender a Deus e se aproximar
que existe entre eles. Deus é infinito, e Jó dEle (ver Hb 2:17, 18).
es tá dolorosamente cônscio de sua própria Ponha a mão sobre. Tem sido suge-
existência mortal e finita. rido que talvez isto se refira a alguma a ntiga
33. Árbitro. Em sua contenda com cerimônia na qual , por alguma razão, o juiz
Deus , Jó ac ha que não h á ninguém que ou árbitro coloc ava a mão sobre as duas
pudesse estar entre eles dois como árbi- partes que estavam numa disputa legal.
tro. Ele pensa que apenas sob uma das Talvez signifique que o árbitro tivesse o
duas condições seguintes é que a disputa poder de controle sobre ambas as partes,
entre ele e Deus seria mai s equilibrada: que era sua incumbência mantê-las den-
(1) se Deus , despindo-Se de todos os Seus tro dos limites apropriados, impedir qual-
atributos divi nos , Se tornasse homem , ou que r expressão imprópria e cuidar para que
(2) se pudesse ser achado algum árbitro para o debate fosse conduzido de manei ra justa
decidir a disputa. Jó não achava possível, para ambos os lados . Esta figura, é claro,
contudo, que ocorresse alguma dessas con- não poderia ser aplicada a Deus como uma
dições. O evangelho provê o cumprimento das partes , em bora no conceito de Jó a ap li-
de ambas as condi ções. "O Eu Sou é o cação foss e válida.
Árbitro e ntre Deus e a humanidade, pondo 34. Tire Ele a Sua vara. Jó recua ante
a m ão sobre ambos" (OTN, 25). Não que o castigo de Deus. Ele está aterrorizado.
precisemos imaginar que Jesus resolva uma Acha que poderia falar em sua própria defesa
contenda entre o homem e Deus, mas que se Deus cessasse de infligir-lhe sofrim entos.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

2- GC , 254 5 - PP, 328 33 - OTN, 25


9 -PE,41

CAPÍTULO 10
1 Jó toma a liberdade de se queixar e protesta contra Deus sobre suas aflições.
18 Ele reclama da vida e anseia por um pouco de alívio antes da morte.

1 A minha alma tem té dio à minha vida; 4 Ten s Tu olhos de carne? Acaso, vês Tu
darei livre curso à minha queixa, fal arei com como vê o homem?
amargura da minha a lma. 5 São os Teus dias como os dias do mortal?
2 Direi a Deus: Não me condenes; faze-me Ou são os Teus anos como os anos de um homem,
saber por que contendes comigo. 6 para Te informares da minha iniquidade e
3 Parece-Te bem que me oprimas, que rejei- averiguares o meu pecado?
tes a obra das Tuas mãos e favoreças o conselho 7 Bem sabes Tu que eu não sou culpado; to-
dos perversos? davia, ninguém há que me livre da Tua mão .

587
10:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

8 As Tuas mãos me plasmaram e me aper- um leão feroz e de novo revelas poder maravilho-
feiçoaram, porém, agora, queres devorar-me. so contra mim.
9 Lembra-Te de que me formaste como em 17 Tu renovas contra mim as Tuas testemu-
barro; e queres, agora, reduzir-me a pó? nhas e multiplicas contra mim a Tua ira; males
10 Porventura, não me derramaste como e lutas se sucedem contra mim.
leite e não me coalhaste como queijo? !8 Por que, pois, me tiraste da madre? Ahl Se
!! De pele e carne me vestiste e de ossos e eu morresse antes que olhos nenhuns me vissem!
tendões me entreteceste. !9 Teria eu sido como se nunca existira e já
12 Vida me concedeste na Tua benevolên- do ventre teria sido levado à sepultura.
cia, e o Teu cuidado a mim me guardou. 20 Não são poucos os meus dias? Cessa,
!3 Estas coisas, as ocultaste no Teu coração; pois, e deixa-me, para que por um pouco eu
mas bem sei o que resolveste contigo mesmo. tome alento,
~ .. 14 Se eu pecar, Tu me observas; e da minha 2! antes que eu vá para o lugar de que não
iniquidade não me perdoarás. voltarei, para a terra das trevas e da sombra da
!5 Se for perverso, ai de mim! E, se for justo, morte;
não ouso levantar a cabeça, pois estou cheio de 22 terra de negridão, de profunda escurida-
ignomínia e olho para a minha miséria. de, terra da sombra da morte e do caos, onde a
!6 Porque, se a levanto, Tu me caças como a própria luz é tenebrosa.

1. Darei livre curso à minha queixa. julgamentos: que Ele distribui recompensas
Jó anuncia sua intenção de falar claramente. e punições com base numa compreensão
As três frases do verso foram descritas equivocada dos méritos dos homens?" Seus
como "três soluços convulsivos semelhan- amigos o julgaram mal; talvez Deus tenha
tes às grandes gotas esparsas que precedem feito o m esmo.
a tempestade". 5. Como os dias do mortal. A ter-
2. Faze-me saber por que. Jó está nova- ceira pergunta de Jó: "Será que Deus tem
mente levantando a pergunta não respon- a vida curta e, portanto, uma experiência
dida: "Por quê?" Nos versos que se seguem, e uma compreensão limitadas? Será que
ele examina uma suposição após outra que Deus espera morrer logo e, portanto, exerce
explique por que Deus o trata dessa forma. a máxima pressão sobre Jó como se o tempo
Jó rejeita essas suposições por não esta- fosse limitado?
rem em harmonia com a natureza de Deus. Como os anos de um homem. Do
O capítulo termina com Jó ainda confuso heb. kime geber, "como os dias de um homem
quanto às intenções e propósitos de Deus. forte". A expressão paralela na frase anterior
3. Parece-Te bem [...]? Ou seja, "Isso é lúme 'enosh., "como os dias da humanidade".
Te parece bom?" Será que Deus obtém 7. Bem sabes. Melhor, "embora saibas".
algum prazer ao oprimir Suas criaturas? Ninguém há que me livre. Duas
Deus fez o homem. Por que Ele despreza- ideias ocorrem ao longo dos discursos de
ria Sua obra? Jó: primeira, seu senso de inocência; e,
Favoreças. "Como é ", pergunta Jó, "que segunda, seu senso de impotência. Jó per-
os ímpios parecem ser mais bem tratados do cebe que suas perguntas (v. 3-6) estão
que aqueles que amam a Deus?" obviamente em tanta desarmonia com o
4. Olhos de carne. A segunda per- caráter de Deus que ele não pode consi-
gunta de Jó: "Será que Deus é finito em Seus derá-las seriamente. O confuso sofredor se

588
JÓ 10: 2 1

vê de volta ao ponto em que começou , ainda introdução elos versículos seguintes. Se esta
diante da provocativa pergunta : "Por quê?" interpretação é corre ta , Jó afirm a qu e, ap e-
8. A Tuas mãos me plasmaram. Quem sar elo cuid ado divin o por ele, Deu s havia
faz um belo vaso apenas pa ra ser destruído? nutrido propósitos m alignos que , e nfim , são
Quem esc ulpe uma estátua de m ármore m anifestos.
som e nte para fazê-la em p edaços? Quem 14. Pecar. D o heb. chata', "errar o alvo",
constrói um esplêndido edifício apenas para n ão re belião inten cion al, qu e é represen-
derrubá-lo? Quem planta uma ra ra e preciosa tada no hebraico pela raiz pasha'. Jó recla m a
flor ape nas para ter o prazer de arrancá-la? que D e us é severo demais com resp e ito a
9. Como em barro. "D e barro" pecados pequenos.
(LXX; ver Jó 33:6; Is 29 :1 6; 45: 9; Jr 18: 6; 15. Se for perverso. O u, "agir ím pia-
Rm 9: 20, 21). mente". A raiz he braica da qual o ve rbo é
10. Não me derramaste. Este verso traduzido indica atos de violência, em con-
e o seguinte são geralmente considerados traste com chata' (v. 14).
um a descrição da concepção e do desenvol- Se for justo. Jó reclam a que , m es mo
vimento fe tal. neste caso, ele não pode leva ntar a cabeça.
12. Benevolência. D o heb. chesed. E le sofre a desp eito de sua ju stiça e n ão
Palavra geralmente tradu zida como "miseri- p ode vind icar a si m esmo.
córdia", frequentemente como "bondade" ou 16. Se a levanto. Literalmente, "ele é le-
"be nign idade" e, só raram e nte, como "favor". vantado". A versão siríaca diz: "eu for leva ntado".
Não h á ne nhuma palavra em nossa líng ua Como a um leão feroz. Ver Is 31:4;
que tradu za adeq uadamente o termo chesed. Jr 25: 38 .
A BV o traduz como "amor fiel e dedicado", Revelas poder maravilhoso. D e us
q ue c hega mais perto do significado do ori- a flige de man eiras estranh as e maravilho-
ginal , embora ainda não consiga transmiti r sas, di z Jó.
ao leitor moderno o que chesed transmite ao 17. Renovas contra mim as Tuas
leitor do he braico. É difícil desc rever o cará- testemunhas. Cada nova calamidade tes-
te r de Deus em lingu agem humana. ti fica que Deus está descontente com Jó.
Cuidado. Literalmente, "visitação". Males e lutas. Literalmente, "muda n-
Uma palavra que descreve não só a visita, ças e uma multid ão". A figura é provavel-
m as també m aqu ilo que a visita efe tua . m ente a de exércitos, que estão semp re
Aqui a "visitação" represe n ta a solicit ude re novando suas forças de form a a m anter a
e c uidado exercidos pa ra com Jó. E le reco- pressão e o ímpeto de seus ataques.
Dl.,. n h ece o poder m a ntenedor de Deus, desde 18. Pois, me tiraste. Jó re n ova a
sua concepção até à plen a varonilidade, mas lamentação com respeito a seu n ascime nto
esse reconhecime nto só intensifica a per- (ver Jó 3: 1-13);
gu n ta acerca elo porquê D e us o t ra tar tão 20. Deixa-me. Melancolicamente, Jó roga
severame nte nesse mome nto. por um pouco de consolo antes que morra.
13. Estas coisas. As complexid ades ela 21. Trevas. A ideia ele escuridão é en fa ti-
criação de Jó ou as calamidades que D e us zada neste verso e no seguinte. Vários termos
pôs sobre ele. G eralmente se supõe que a hebraicos são empregados. No v. 21, é usada
refe rên cia seja às ú ltimas. a palavra mais comum para escuridão. Ela é
O que resolveste contigo mesmo. imediatamente seguida pela palavra tradu-
Isto é, a inten ção ele gerar essas calamicla- zida como "sombra da morte", que é um termo
cles . Alguns p e nsam que esta frase seja a poético para designar o mundo dos mortos.

589
10:22 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

22. Do caos. Nada descreve a morte (3) o apelo ao coração de Deus; v. 8 a 17: (l) o
mais vividamente que a escuridão e o caos. antigo cuidado amoroso de Deus, e (2) o atual
E, ao contrário, não há melhores símbolos tratamento cruel dispensado por Deus; v. 18
da vida do que a luz e a ordem. a 22: (l) o desprezo de uma grande misericór-
Foi sugerido o seguinte esboço homilético dia , (2) a condescendência com uma queixa
do cap. lO: v. 1 a 7: (l) o soluço aos ouvidos de pecaminosa, (3) um rogo ardente, e (4) a des-
Deus , (2) o rogo diante do trono de Deus, e crição de um futuro lúgubre.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1 - Ed,155

CAPÍTULO 11
1 Zofar reprova Já por justificar-se a si mesmo. 5 A sabedoria de Deus
é insondável. 13 As bênçãos seguras do arrependimento.

I Então, respondeu Zofar, o naamatita: li Porque Ele conhece os homens vãos e,


2 Porve ntura, não se dará resposta a esse pa- sem esforço, vê a iniquidade.
lavrório? Acaso, tem razão o tagarela? 12 Mas o homem estúpido se tornará sábio,
3 Será o caso de as tuas parolas fazerem quando a cria de um asno montês nascer homem.
ca lar os homens? E zombarás tu sem que nin- 13 Se dispuseres o coração e estenderes as
guém te envergonhe? mãos para Deus;
4 Pois dizes: A minha doutrina é pura, e sou 14 se lançares para longe a iniquidade da
limpo aos Teus olhos. tua mão e não permitires habitar na tua tenda
5 Ohl Falasse Deus, e abrisse os Seus lábios a injustiça,
contra ti, 15 então, levantarás o rosto sem mácula, es-
6 e te revelasse os segredos da sabedoria, da tarás seguro e não temerás .
verdadeira sabedoria, que é multiforme ! Sabe, 16 Pois te esquecerás dos teus sofrimentos
portanto, que De us permite seja esquecida e deles só terás lembrança como de águas que
6: ~> parte da tua iniquidade. passaram.
7 Porventura, desvendarás os arcanos de 17 A tu a vida será mais clara que o meio-
Deus ou penetrarás até à perfeição do Todo- dia; ainda que lhe haja treva s, se rão como a
Poderoso? manhã.
8 Como as alturas dos cé us é a Sua sabedo- 18 Sentir-te-ás seguro, porque haverá espe-
ria; que poderás fazer? Mais profunda é ela do rança ; olharás em derredor e dormirás tranquilo.
que o abismo; que poderás saber? 19 Deitar-te-ás, e ningu ém te espantará; e
9 A Sua medida é mais longa do que a terra muitos procurarão obter o teu favor.
e mais larga do que o mar. 20 Mas os olhos dos perversos desfa lecerão,
I O Se Ele passa , prende a alguém e cham a a o seu refúgio perecerá; sua esperança será o ren-
juízo, quem O poderá impedir? der do espírito.

590
JÓ 11: 8

I. Zofar. Elifaz falou (cap. 4 e 5) e Em certo sentido, Jó havia feito exa ta -


Bildade também (cap. 8). Ambos expres- m ente isso. Contudo, não alegou es ta r
saram profundos sentimentos, mas se ape- completamente sem p ecado ; o que a fir-
garam tenazmente à filosofia de que os mou foi que n ão era um pecador do tip o
sofrimentos de Jó eram correspondentes a que seus amigos o acusavam de ser. Este
seus pecados. Agora quem fala é Zofar. Seu verso reitera o ponto central de desacordo
discurso acrescenta pouca coisa às ideias entre Jó e seus amigos . Jó aceitava o teste-
já expressas por seus amigos. Ele , porém , munho de sua consciência, enqua nto seu s
revela falta de simpatia, gentileza e refi- amigos interpretava m m al o tes temunho de
na mento, talvez em maior grau do que os seu sofrimento .
outros. A reação impetuosa de Zofar é pro- 5. Falasse Deus. Jó desejou que D eus
vocada pela negação de culpa por parte de Jó falasse (Jó 6:24). Zofar repete o mesmo
e pelas acusações que este fez contra Deus . desejo, mas tem certeza de que, se Deus o
O discurso de Zofar pode ser dividido em fi zer, será para mostrar a Jó seu erro.
três partes: (l) a expressão do desejo de uma 6. Multiforme. O hebraico desta frase
declaração divina que convencesse Jó de sua é obscuro. A LXX diz nesta parte do verso:
culpa (v. 2-6); (2) uma descrição que tem o "pois será o dobro daquela [sabedoria] qu e
objetivo de alertar Jó para o exaltado conhe- es tá contigo". Evidentemente, a ideia é
cim ento de D eus , em virtude do qual Ele salientar o caráter superlativo e a natureza
acusa cada pessoa de seus pecados (v. 7-12); insondável da sabedoria de Deus.
e (3) uma ênfase na necessidade de arre- Deus permite seja esquecida. Zofar
pendimento como a única condição para Jó está di zendo, na verdade: "Se tão somente
recuperar a antiga prosperidade (v. 13-20). você entend esse a inescrut ável sabedoria
2. Palavrório. Zofar parece irritado divina, veria que Deus fez com que um a
com o tamanho do discurso de Jó. Os orien- parte de sua iniquidade fosse e squecida.
tais consideravam a brevidade no falar E m vez de trat á-lo, como você se queixa,
como uma virtude distintiva (ver Pv 10:19; com severidade, Ele de forma alg um a
Ec 5:2). infligiu as calamidades que você merece." ~ :;l
3. Parolas. Do heb. hadem, "fala vazia" Esta é provavelmente a ac usação m ais
(ver Is 16:6; Jr 48: 30; 50:36). Zofar caracte- ex travagante apre sent ad a contra J 6 até
ri za o discurso de Jó como palavreado vão e este ponto.
zombaria . Jó afirmou seu direito de se quei- 7. Desvendarás. A frase diz, lite ral-
xar (]6 10:1). Zofar assevera seu direito de m ente: "Você pode descobrir as coisas
responder a tal form a de discurso. a serem exploradas sobre D e us?" A per-
4. Doutrina. Do heb. leqah, "instru- gunta transmite a ideia d a absoluta gran-
ção", "ensino". A palavra ocorre no livro de deza de D eus e da impossibilidade de
Jó somente aqui e poucas vezes em outros compreendê -Lo.
livros. Zofar estava provavelmente aludindo 8. Como as alturas dos céus. Paul o
a declarações como a que se encontra no usa as m esmas quatro dimensões pa ra
cap. 10:7. Jó não havia usado precisamente descrever o amor de D eus em Cristo (ver
as palavras que Zofar aqui atribui a ele, mas Ef 3:18). As perguntas de Zofar, em meio
Zofar evidentemente resume a declaração a esta majestosa descrição de Deus, têm o
de Jó. objetivo de impressionar Jó com a insignifi-
Sou limpo. Zofar acusa Jó de defender cância do ser humano em contraste com a
tanto sua "doutrina" quanto sua conduta. grandeza de Deus.

591
11:9 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

9. Mais longa do que a Terra. Estas 14. Lançares para longe. Zofar apela
ilustrações eram bem mais impressionantes a Jó para que abandone seu pecado, do qual
nos dias de Jó. Nós já cruzamos o oceano, ele está certo de que Jó é culpado, como
mas eles ainda não o haviam feito; já explo- pré-requisito para que ele volte à segurança
ramos os confins da Terra, mas eles não e à felicidade.
h aviam chegado lá. Consideravam isso 15. Então. Quando você tiver se arre-
como façanhas impossíveis. pendido de seus pecados, encontrará con-
10. Passa. Literalmente, "passar rapi- fiança e segurança, bem como ausência de
damente", "passar e continuar em frente". medo.
Chama a juízo. "Convoca uma assem- 16. Como de águas. Como uma pan-
bleia", isto é, para julgamento. Em vista cada de chuva, uma poça d'água ou uma
da grandeza de Deus, argumenta Zofar, forte enxurrada que ameaça engolfar tudo,
se Ele decide ir contra uma pessoa, apri- logo passa e é esquecida , assim a desgraç a
sioná-la e intimá-la para ser julgada, quem de Jó cairia na insignificância em vista do
pode impedi-Lo? Certamente Jó não tinha brilhante futuro.
o direito de questionar o procedimento de 17. Que o meio-dia. Jó havia des-
Deus em relação a ele. crito seu fim como sendo de escuridão total
11. Homens vãos. Zofar lembra a Jó (Jó 10:22). Para enfatizar, ele usou várias
que Deus é capaz de reconhecer homens palavras alusivas a sombras e trevas . Zofar
inúteis e ímpios. responde prometendo um futuro de luz
12. A cria de um asno montês. Este como a da manhã e do meio-dia.
verso é difícil. Uma das possíveis tradu- 18. Seguro. O anelo milenar pela segu-
ções é: "um homem estúpido pode se tornar rança é refletido nesta promessa.
sábio, e um filhote de asno selvagem pode Olharás. Do heb. chafm~ "procurar",
se torn ar um homem", isto é, um homem "explorar."
tão intratável, indomado e teimoso como 19. Obter o teu favor. Zofar antevê
um asno selvagem ainda pode se transfor- Jó novamente como um homem distinto,
mar num verdadeiro homem. Outra inter- sendo procurado pelas pessoas em busca de
pretação é a sugerida pela tradução da ARA. conselhos.
Segundo ela, não há esperança de comuni- 20. Perversos. Se Zofar tivesse termi-
car sabedoria a um homem estúpido, assim nado com o v. 19, Jó poderia ter extraído
como não há esperança de um asno selva- conforto de seu discurso, que apresen-
gem dar à luz um homem. Contudo, esta tava a esperança de restauração ao favor de
interpretação não parece fornecer a tran- Deus e o retorno à felicidade. Mas, como
sição adequada para a segunda divisão do se quisesse acentuar o conceito desfavorá-
capítulo, já que Zofar não considera o caso vel que tem da conduta e do caráter de Já,
de Jó como sem esperança. ele não termin a com palavras encorajado-
13. Se dispuseres. "Se tu dispuseres", ras, mas acrescenta um trecho que tem ares
sendo o "tu" enfático no hebraico. de condenação.
O coração. Zofar aqui começa seu Sua esperança. A frase di z, literal-
apelo, chamando Jó ao arrependimento. mente: "sua esperança o exalar de sua vida".
Ao fazer isso, ele usa um argumento seme- A esperança do justo vive até alcançar seu
lhante ao de Elifaz (Jó 5:17-27). pleno cumprimento no Céu. Está com ele
Estenderes as mãos. Zofar insta com na saúde e o sustém n a doença; anima-o
Jó para que vá a Deus em atitude de súplica. na solidão e o acompanha quando está

592
JÓ 12:1

junto a outros; dá significado a sua vida e a providência de Deus. Ele é incapaz de ver
o fortalece na morte. O pecador não tem o sofrimento como outra coisa a não ser uma
[;i,. essa esperança. Para ele todas as expecta- punição direta pelo pecado. Ele exorta Jó a
tivas terminam quando se fecha a cortina se arrepender, quando devia leva r-lhe amor
da morte. e conforto. Os discursos dos amigos de Jó
O tributo que Zofar prestou a Deus é foram comparados a rodas que giram sobre o
magnífico. Sua sinceridade é óbvia. Mas ele, mesmo eixo. Eles variam nos detalhes, mas
como os outros amigos de Jó, interpretou mal concordam no ponto de vista básico.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

7- Ed, 169; GC, 343 ; 7, 8 -CC, 110; T5 , 698 8- OTN, 412


MCH , 108; MS , 95; 7-9 - CBV, 430; PP, 116; T8, 15-20 - PR, 163
T5, 301; T8, 285 279

CAPÍTULO 12
1 Jó se conserva contra os amigos que o reprovam. 7 Ele reconhece
a doutrina comum da onipotência de Deus.

1 Então, Jó respondeu: 10 Na Sua mão está a alma de todo ser vi-


2 Na verdade, vós sois o povo, e convosco ve nte e o espírito de todo o gênero humano.
morrerá a sabedoria. 11 Porventura, o ouvido não submete à prova
3 Também eu tenho entendimento como as palavras, como o paladar prova as comidas?
vós; eu não vos sou inferior; quem não sabe coi- 12 Está a sabedoria com os idosos, e, na lon-
sas como essas? gevidade, o entendimento?
4 Eu sou irrisão para os meus amigos; eu , 13 Não! Com De us está a sabedoria e a
que invocava a Deus, e Ele me respondia; o força; ele tem conselho e entendimento.
justo e o reto servem de irrisão. 14 O que Ele deitar abaixo não se reedifica-
5 N o pensamento de quem está seguro, há rá; lança na pri são, e ninguém a pode abri r.
desprezo para o infortúnio, um empurrão para 15 Se retém as águas, elas secam ; se as la rga ,
aquele cujos pés já vacilam. devastam a terra.
6 As tendas dos tiranos gozam paz, e os que 16 Com Ele está a força e a sabedoria; Seu é
provocam a Deus estão seguros; têm o punho o que erra e o que fa z errar.
por seu deus. 17 Aos conselheiros , leva-os despojados do
7 Mas pergunta agora às alimárias, e cada seu cargo e aos juízes faz desvairar.
uma delas to ensinará; e às aves dos céus, e elas 18 Dissolve a autoridade dos reis, e uma
to farão saber. corda lhes cinge os lombos.
8 Ou fala com a terra , e ela te instrui rá; até 19 Aos sacerdotes, leva-os despojados do seu
os peixes do mar to contarão. cargo e aos poderosos transtorna.
9 Qua l entre todos estes não sabe que a mão 20 Aos eloquentes Ele tira a palavra e tira o
do SENHOR fez isto? entendimento aos anciãos.

593
12: l COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

21 La nça desprezo sobre os príncipes e 24 Tira o e ntendime nto aos príncipes do


afrouxa o cinto dos fortes. povo da terra e os faz vaguear pelos desertos
22 Das trevas manifesta coisas profundas e sem caminho .
traz à lu z a densa escuridade. 25 N as trevas andam às apa lpadelas, sem
23 Multipli ca as nações e as faz perecer; dis- terem lu z, e os faz ca mba lea r co mo é brios.
persa-as e de novo as congrega .

l. Jó respondeu. Neste discurso, qu e dos ant igos; a fim de demonstrar isso, ele
abrange os cap. 12 a 14, Jó pela primeira cita vários provérbios nos versos qu e se
vez usou sarcasmo ao dirigir-se a seus ami - seguem.
gos. O ataque verbal, porém, parece ter um Coisas como essas. Jó considerava as
propósito secundário. O principal objetivo opiniões de seus am igos como coisas tri-
de Jó é justificar suas afirmaçõe s prévias : viais. Ele não só disse qu e conhecia esses
~ '"" (l ) que o rumo tomado pelos acontecime n- pontos de vista, m as declarou qu e seria
tos terrenos, sejam eles bons ou maus , deve estranho alguém não conh ecê-los.
ser atribuído a Deus ; e (2) que seus sofri - 4. Que invocava a Deus. Não está
mentos lhe dão o direito de defender-se inteiramente cl aro a quem essa decl a ração
diante de Deus e de exigir saber por que ele se aplic a. Se a alusão é a Jó , a referênc ia
está sendo punido daquel a ma neira. seria a seu passado, qu ando ele estava acos-
2. Na verdade. Do heb. 'omnam, "ver- tum ado a receber respostas a suas orações;
dad eiramente", da mesm a raiz que a palavra se é a Zofar, seria um ataque irônico. Jó está
traduzida como "a mém". lamentando o fato de qu e um hom e m de
Vós sois o povo. Esta linguagem expressa caráter re to, que conhece a Deus , esteja
sarcasmo mordaz. Jó parece dizer: "Vocês sendo objeto de ridículo.
são as únicas pessoas que devem ser leva- 5. Aquele cujos pés já vacilam.
das em consideração, as únicas que mere- Pa rafra seado , o verso poderia di zer: "Os
cem atenção e as únic as que podem falar." pensamentos do que está seguro mos-
Convosco morrerá. Qu ando eles mor- tram desprezo para com o desastre. Ele [o
rerem, a sabedoria desaparecerá da Terra. desprezo] está preparado [ou pronto] para
3. Entendimento. Literalmente, "cora- aqueles cujos pés escorregam." A ideia está
ção". O ter mo "coração" é frequentemente razoavelme nte c lara. Jó chama a ate nção
usado para denotar o entendimento ou a para a fraque za huma na qu e faz com que os
mente. Usamos o termo "coração" pa ra homens cubram de desprezo os des afortu -
denotar a sede das afeições e emoções, nados e deem mais um e mpurrão nos qu e
mas os h ebreu s achavam que o coração era já estão cambalea ndo. A ARC diz: "Toc ha
a sede do entendimento. Jó, provavelmente, desprezível é, na opinião do que es tá des-
está devolvendo o ataque que Zofar lhe diri- cansado, aquele que está pronto a tropeçar
giu (ver Jó 11 :12), caso essa declaração deva com os p és." Os qu e preferem a tradu-
ser compreendida no sentido de "o homem ção "toch a", que é possíve l, veem a ideia
estúpido se tornará sábio, quando a cria de de qu e, quando um a toch a está brilhando ,
um asno montês nascer homem" (ver com. ela é considerada útil; m as, quando já es tá
de Jó 11:12). prestes a apagar-se, é considerada inútil
Inferior. Jó afirm a ser igual a seus e descartada. Assim, qu a ndo um hom em
amigos na capacidade de citar as palavras é prósp ero , é olhado co mo um guia e um

594
JÓ 12 :17

exemplo; mas, na adversidade, seu conse- o sabor das comidas , os idosos foram capa-
lho é rejeitado e ele é olhado com desprezo. zes de adquirir por si mesmos, no decorrer
6. Tendas dos tiranos. Ou, "tendas de uma longa vida, o verdadeiro discerni-
dos ladrões" (BJ). No v. 5, Jó lamenta os mento dos valores.
problemas do infortunado; este verso con- 13. Com Deus. O v. 12 menciona a
trasta isso com a apare nte prosperidade dos sabedoria dos idosos. Contudo, a verdadeira
ímpios. Jó insiste em que Deus não trata os sabedoria se encontra somente em Deus .
homens neste mundo de acordo com seu No restante do capítulo, Jó apresenta ilustra-
verdadeiro caráter, mas que os ímpios pros- ções da sabedoria e da soberania de Deus .
peram e os justos são afligidos. Seu argumento é: Deus fez todas as coisas;
O punho. A ARC traduz a frase como: sustém todas as coisas; reverte a condição
"Nas suas mãos Deus lhes põe tudo." dos seres humanos como Lhe apraz; Ele eleva
O hebraico desta frase é incerto. O sentido é aqueles a quem quer e, quando decide, os
possivelmente de que os ímpios "têm o punho abate. Os atos de Deus são, em muitos aspec-
por seu deus" (ARA), como se não tivessem tos, contrários ao que poderíamos esperar.
Deus exceto seu próprio braço forte . 14. O que Ele deitar abaixo. Jó defende
7. Pergunta agora às alimárias. Jó que ninguém pode reedificar o que Deus
parece estar salientando que mesmo entre deita abaixo. Os homens podem construir
os animais inferiores, os violentos prospe- cidades, mas Deus pode destruí-las pelo fogo,
ram e os inocentes são as vítimas. Deus não pela peste ou pelo terremoto. Jó, sem dúvida,
dá segurança aos mansos, aos dóceis e aos enfatiza este aspecto de sua compreensão da
inocentes nem castiga os ferozes, os sangui- soberania de Deus porque em suas próprias
nários e os cruéis. experiências considerou-se objeto da ativi-
9. A mão do SENHOR. Jó defende sua dade destruidora de Deus.
tese da soberania arbitrária de Deus; está Lança na prisão. Deus tem poder para
se esforçando para mostrar que seu infortú- privar o ser humano da liberdade.
nio não é evidência conclusiva de que ele é 15. Retém as águas. Tanto as secas
ímpio. Mesmo a natureza, afirma ele, refuta como as inundações são, no argumento de
tal filosofia. O termo Yahweh, "SEN HOR", Jó, evidências da soberania de Deus. Esses
nesta frase, ocorre apena s aqui nas porções desastres da natureza provavelmente eram
poéticas de Jó. A designação geral do ser bem conhecidos pelos habitantes do país
divino é 'Eloah ou 'el (ver v. 4, 6). Não há de Jó.
n en huma explicação óbvia para es ta inte- 16. O que erra. Todos os tipos de seres
ressante variação. Vários manuscritos con- humanos estão sob o controle de Deus.
servam o termo 'Eloah aqui. O que usa a sabedoria para desenca minhar
10. Alma. Do heb. nefesh, "vida" (ver as pessoas bem como o que a usa para o bem
com. de 1Rs 17:21). delas estão nas m ãos de Deus e servem aos
11. O ouvido não submete à prova. Seus propósitos. Deus estabelece limites
Jó parece apelar para que seja feita uma dis- além dos quais o ser humano não pode ir.
tinção entre o verdadeiro e o falso, e entre o 17. Aos conselheiros, leva-os despo-
certo e o errado. jados. Os conselhos dos grandes homens
12. Longevidade. A provável liga- e dos sábios não prevalecem contra Deus.
~ .,. ção deste verso com a declaração anterior A palavra traduzida como "despojados", lite-
é que, assim como o ouvido determina o ralmente, significa "descalços". A figura é
valor das palavras, ou o paladar di stingue provavelmente alusiva à prática de remover

595
12:18 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

as vestes exteriores dos cativos de guerra 22. Manifesta coisas profundas. A es-
(ver Mq 1:8). curidão não é problema para Deus. Ele pode
Aos juízes, faz desvairar. Deus tem trazer luz até mesmo das trevas. Este texto
poder para derrotar os conselhos dos que pode se referir: (l) à habilidade de Deus para
parecem muito competentes para aconse- detectar tramas, intrigas e conspirações;
lhar. Jó faz um vívido contraste entre a sabe- (2) ao Seu poder para predizer o futuro; ou
doria de Deus e a sabedoria dos homens (3) à habilidade divina para sondar os mais ín-
mais inteligentes. timos pensamentos humanos (ver Mt 10:26).
18. A autoridade dos reis. Aquilo 23. Multiplica as nações. Ver Dn 4:17;
mediante o que eles prendem os outros. PR, 499, 500.
A última parte do verso retrata os reis que 24. Tira o entendimento. Ele frustra
antes aprisionaram a outros e, mais tarde, os planos dos grandes e torna insignificante
foram amarrados e levados como prisionei- sua sabedoria. Eles se tornam como viajan-
ros. Toda a série de observações aqui se re- tes perdidos (ver SI 107:4).
fere aos revezes e às mudanças de sit uação 25. Nas trevas andam às apalpadelas.
da vida. Isto encerra o capítulo e, com ele, a controvér-
19. Sacerdotes. Do heb. lwhanim. Até sia com respeito ao conhecimento de Jó sobre
os ministros da religião estavam sujeitos aos ditados proverbiais impressionantes e perti-
revezes que afligiam outras pessoas . nentes. Jó demonstrou que estava tão familia-
20. Eloquentes. Deus tira a eloquên- rizado com provérbios sobre Deus quanto seus
cia e a capacidade de liderança dos que amigos, e que tinha ideias tão elevadas como as
ganharam reputação como conselheiros. deles sobre o controle e o governo do Altíssimo.
21. Afrouxa o cinto. Os orientais usa- Os amigos interpretavam a Deus como alguém
vam túnicas soltas amarradas por um cinto que recompensava as pessoas nesta vida de
nos quadris. Quando eles trabalhavam, cor- acordo com seus atos. Jó vê a Deus como al-
riam ou viajavam, as túnicas ficavam amar- guém que governa os assuntos humanos a par-
radas . Afrouxar o cinto significava impedir tir de outro critério, não por seus atos. Ele acha
a execução dessas atividades. que sua vida tem sido irrepreensível.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

7, 8- CG, 58; Ed, 117 7-9 - TS, 327 13 - Ed, 13, 14; TS , 327

CAPÍTULO 13
1 ]ó acusa seus amigos de parcialidade. 14 Ele expressa sua confiança em Deus 20 e
exige saber quais são seus pecados e qual é o propósito de Deus em afligi-lo.

1 Eis que tudo isso viram os meus olhos, e os 3 M as falarei ao Todo -Poderoso e quero
meus ouvidos o ouviram e entenderam. defender-me perante Deus.
2 Como vós o sabeis , ta mbém eu o sei; não 4 Vós, porém, besuntais a verdade com menti-
vos sou inferior. rase vós todos sois médicos que não valem nada.

596
JÓ 13:8

5 Tomara vos calásseis de todo, que isso 17 Atentai para as minhas razões e dai ouvi-
seria a vossa sabedoria! dos à minha exposição.
6 Ouvi agora a minha defesa e atentai para 18 Tenho já bem encaminhada minha causa
os argumentos dos meus lábios. e estou certo de que serei justificado.
7 Porventura, falareis perversidade em favor 19 Quem há que possa contender comigo?
de Deus e a Seu favor falareis mentiras? Neste caso, eu me calaria e renderia o espírito.
8 Sereis parciais por Ele? Contendereis a 20 Concede-me somente duas coisas; então,
favor de Deus? me não esconderei do Teu rosto:
9 Ser-vos-ia bom, se Ele vos esquadrinhas- 21 alivia a Tua mão de sobre mim, e não me
se? Ou zombareis dEle, como se zomba de um espante o Teu terror.
homem qualquer? 22 Interpela-me, e Te responderei ou deixa-me
10 Acerbamente vos repreenderá, se em fala r e Tu me responderás.
oculto forde s parciais. 23 Quantas culpas e pecados tenho eu?
11 Porventura, não vos amedrontará a Sua Notifica-me a minha transgressão e o meu pecado.
dignidade, e não cairá sobre vós o Seu terror? 24 Por que escondes o rosto e me tens por
12 As vossas máximas são como provérbios Teu inimigo?
de cinza, os vossos baluartes, baluartes de barro. 25 Queres aterrorizar uma folha arrebatada
13 Calai-vos perante mim , e fa larei eu , e pelo vento? E perseguirás a palha seca?
venha sobre mim o que vier. 26 Pois decretas contra mim coisas amar-
14 Tomarei a minha carne nos meus dentes gas e me atribuis as culpas da minha mocidade.
e porei a vida na minha mão. 27 Também pões os meus pés no tronco, ob-
15 Eis que me matará, já não ten ho esperan- servas todos os meus camin hos e traças limites
ça; contudo, defenderei o meu procedimento. à planta dos meus pés,
16 Também isto será a minha salvação, o 28 apesar de eu ser como uma coisa podre que
fato de o ímpio não vir perante Ele. se consome e como a roupa que é comida da traça.

1. Viram meus olhos. Os v. I e 2 estão deve-se lembrar de que ele está sendo con-
estreitamente ligados ao cap. 12 e formam fron tado por três oponentes, que estão
a conclusão natural da primeira seção do todos ansiosos para apanhá-lo em alguma
argumento defendido por Jó, de que Deus falta e que não são nada amáveis em suas
é absolutamente soberano nos negócios repreensões .
humanos. 7. Em favor de Deus. Esta frase se
3. Falarei ao Todo-Poderoso. Zofar encontra no princípio da sentença hebraica,
havia expressado o desejo de que Deus apa- indicando assim que deve receber ênfase
recesse e falasse contra Jó (I I: 5). Jó aceitaria especial. "Em favor de Deus vocês falarão
alegremente a oportunidade de discutir o perversidades?" Quantas vezes coisas injus-
assunto com Deus. tas foram ditas ou feitas, professamente
4. Besuntais. Literalmente, "vocês para promover os interesses de Deus!
aplicam um reboco de mentiras". A Seu favor. Frase colocada, no hebraico,
Médicos que não valem nada. Eram no princípio da sentença, da mesma forma
como m édicos que saem para visitar os que a frase "em favor de Deus", acima.
doentes, mas não podem fazer nada por eles. 8. Sereis parciais por Ele? Literal-
5. Vossa sabedoria. Ver Pv 17: 28. Se mente, "levantar sua face", um idiomatismo
alguém achar que Jó é um pouco impaciente, hebraico que significa mostrar parcialidade.

597
13:9 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

~ ~· Na verdade, o que Jó está dizendo é: "Por provavelmente o significado aqui. Jó parece


parcialidade para com Deus vocês defen- ridicularizar os argumentos de seus amigos,
derão princípios injustos e posições que são que ele classifica como baluartes de barro.
insustentáveis?" Jó sentia que seus amigos o 13. Calai-vos. H á aqui a sugestão de
estavam prejudicando enquanto se esforça- que alguém tentou interromper a Jó. Ele
vam para vindicar a Deus. Ele achava que pede o privilégio de continuar e terminar
estavam inconscientemente revelando que seu discurso, seja como for. No hebraico,
serviam a Deus de maneira subserviente e o pronome "eu" é enfatizado, significando
que não tinham compreensão adequada das "e eu vou falar [não vocês]".
questões envolvidas. 14. Tomarei a minha carne nos meus
Contendereis a favor. Ou seja: "Será dentes. Esta é uma passagem obscura.
que, como um juiz injusto, vocês se inclinarão Alguns acham que a figura seja tirada da
em favor de uma das partes numa disputa?" prática de animais carregarem sua presa nos
9. Esquadrinhasse. "Vocês seriam dentes. Essa posição exposta da presa leva
capazes de suportar o escrutínio de Deus?" outros animais a desejarem tomá-la, o que
Como se zomba de um homem. muitas vezes resulta em disputa e na possí-
Parafraseando: "Vocês acham que podem vel perda da presa. Segundo essa interpreta-
enganar a Deus como enganariam a um ção, Jó estaria dizendo que suas declarações
semelhante?" Deus é grande e sábio demais o colocavam em perigo, mas ele estava deter-
para ser enganado por lisonjas ou por uma minado a continuar, de qualquer maneira.
demonstração de reverência. Outros salientam que a frase é melhor
10. Acerbamente vos repreenderá. explicada quando comparada com a segunda
Esta predição se cumpriu posteriormente parte do verso: "e porei a [minha] vida na
(ver Jó 42:7). minha mão". Esta frase parece implicar a
Fordes parciais. Ver com. do v. 8. Em ideia de um risco calculado.
circunstância alguma é correto mostrar par- Outros acreditam que a expressão seja
cialidade, a despeito da pessoa envolvida. reminiscente de um a primitiva crença de
Deve ser buscada a exata verdade e, de acordo que, quando a pessoa morria, sua alma saía
com isso, se deve chegar a um veredito. do corpo pela boca ou pelas narinas. Isto
11. Amedrontará. Jó adverte os ami- tornaria o texto equivalente a "estou pres-
gos sobre como Deus é exaltado e elevado. tes a morrer". Esta interpretação é forç ada e
Ele crê que eles estão se expondo à ira não se harmoniza com o contexto.
divina devido a ideias errôneas . A ideia de um risco calculado parece
12. Máximas. Literalmente, "memo- ser o significado mais provável da frase. Jó
riais"; aqui, frases, ditos ou máximas memori- reconhece que está discutindo com Deus.
zadas. As citações dos sábios da antiguidade Está ciente de sua fraqueza, contudo per-
não valem mais do que cinzas. siste em expor os argumentos que acha cer-
Baluartes. Do heb. gabim, palavra que se tos, a despeito das consequências. O verso
refere a qualquer coisa curva, e que, portanto, reflete a coragem moral de Já.
pode ser aplicada às costas de um homem 15. Já não tenho esperança. Outra
(SI 129:3). Outros significados são: "monte" tradução possível da frase hebraica da pri-
ou "colina" (Ez 16:24, 31, 39, BJ; traduzida meira metade deste verso seria: "ainda que
como "prostíbulo de culto", na ARA); "proje- Ele me mate, nEle esperarei" (ACF, ARC;
ção convexa [de um escudo]" (traduzida como ver NVI). A diferença reside na grafia da
"grossura", em Jó 15:26); e "baluartes", que é palavra heb. lo', traduzida como "nEle".

598
JÓ 13:27

Lo' quase invariavelmente significa "não", que os amigos de Jó o acusaram de impie-


e é o advérbio hebraico comum de nega- dade, ele insistiu no privilégio de defender
ção. Para obter a tradução "nEle", a grafia sua causa diante de Deus. As coisas chega-
seria normalmente lo. Contudo, a tradução ram então a um ponto em que ele precisaria
da ARC, da ACF e da NVI é respaldada fa lar, ou morreria.
pela LXX, Vulgata, siríaca e pelos Targuns. 20. Duas coisas. Jó pede dois favo-
Assim sendo, ou os tradutores das versões res: (l ) alívio do sofrimento pelo menos por
antigas tinham diante de si a palavra lo, no certo tempo (v. 21); e (2) alívio dos terrores
texto hebraico, ou consideravam lo', às vezes, mentai s e espirituais (v. 21). Sem a ausência
equivalente a lo. H á outros textos em que da dor física e da angústia mental, Jó ach a
lo', "não", aparentemente está escrito como lo, que não seria capaz de defender seu caso de
"para ele", ou seu equivalente (Êx 21:8 ; m aneira plena ou justa.
Lv 11:21; 25: 30; 1Sm 2:3; 2S m 16:18). 22. Deixa-me falar. Jó estava pronto a
Se estiver correta a tradução da ARC , assumir o papel de ac usado ou de deman-
ACF e NVI , este seria o primeiro degrau na dante no processo com Deus.
escada pela qual Jó emergiu de seu abismo 23 . Quantas [... ]? Jó não reivindica
de desespero. "Das profundezas do desen- perfeição absoluta, m as afirma que seus
corajamento e desânimo, Jó se levanta pecados não são equivalentes a seu sofri-
para as alturas da implícita confi ança na mento. Ele p ede que Deus enumere se us
misericórdia e no poder salvador de Deus. pecados.
r;: ... Triunfantemente declarou: 'Ainda que Ele 24. Escondes o rosto. Talvez tenha
me mate, nEle esperarei"' (PR, 163, 164). havido uma pausa dram ática após o v. 23,
Defenderei o meu procedimento. enquanto Jó aguardava a resposta de Deus
Jó repete a decisão dos v. 13 e 14, de defen- com respeito a seus pecados. Uma vez que
der se u caso. Deus não respondeu, Jó exclamou: "Por qu e
16. Também isto será. A LXX tradu z escondes o rosto?" Ou , talvez, Jó estivesse
a frase assim: "Isto se transformará p ara simplesmente reclamando que De us não
mim em salvação." atendeu os pedidos que fez no v. 21.
O ímpio. Do heb. chanef, um homem E me tens. Isto é, "me consideras".
profa no e irreligioso. A LXX traduz como: 25. Uma folha. Jó se compara a dois
"pois a fraude não terá acesso à presença dos objetos ma is insignificantes e sem
dEle". valor. Ele não consegu e entender por que
17. Atentai. Este texto enfatiza o que Deus iri a aterrorizar e perseguir alguém tão
Jó afirmou nos versos anteriores. Ele deseja insignificante.
que os amigos estejam cientes de sua con- 26. Decretas. Ou, "escreves" (A RC ).
fianç a em Deus, bem como de sua intenção ] ó se refere ao fato de fazer um registro das
de expressar sua queixa. ac usações que Deus apresentou contra ele.
18. Tenho já bem encaminhada Da minha mocidade. Jó considera sua
minha causa. Isto é, "já preparei minha aflição como resultado dos pecados de sua
defesa". mocidad e, uma vez que ele não cometeu
Justificado. Ou, "declarado justo", pecados na idade m adura qu e o fi zessem
"vindicado". incorrer no desprazer divino.
19. Eu me calaria. A ACF diz: "Se eu 27. No tronco. Um primitivo meio de
agora me calasse, renderia o espírito", isto punição e apris ionamento.
é : "Preciso falar, senão morrerei ." Uma vez Observas. Literalmente, "vigias".

599
13:28 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Traças limites. Jó estaria confinado (ver v. 25) . Seu uso da terceira pessoa,
dentro de certos termos. Deus estabeleceu "ele", ao referir-se a si mes mo , inte nsi-
limites para sua atividade. Jó é como um fica o senso de sua insignificância. Este
homem aprisionado e vigiado, sem liberdade. verso tem uma ligação lógica com o cap. 14,
28. Coisa podre. Jó se refere à fragi li- que desenvolve a ideia da fragilidade do
dade dele próprio e de toda a humanidade homem .

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

11 - CBV, 434 MCH, 328; T6 , 15 7; 15, 16 - PR, 164


15 - CPPE , 317; Ed, 156; T7, 275

CAPÍTULO 14
1 ]ó pede que Deus lhe seja bondoso por causa da brevidade da vida e da certeza
da morte. 7 Em.bora a vida, uma vez perdida, seja irrecuperável, ele ainda espera
·mudança. 16 Por causa do pecado, a criatura está sujeita à corrupção.

O homem , nascido de mulher, vive breve 12 assim o homem se deita e não se levanta ;
tempo, cheio de inquietação. enqu anto ex istirem os céus , não acordará, nem
2 Nasce como a flor e murcha; fo ge como a será despertado do seu sono.
sombra e não permanece; 13 Qu e me encobrisses na sepultura e me
3 e sobre tal homem abres os olhos e o fazes ocultasses até q ue a Tua ira se fosse , e m e pu-
entrar em juízo contigo? sesses um prazo e depoi s Te lembrasses de
4 Quem da imundícia poderá tirar coisa mim I
pura? Ninguém! 14 Morrendo o home m, porventura tornará
~~ 5 Visto que os seus dias estão contados, con- a viver? Todos os dias da minh a luta espe raria,
tigo está o número dos seus meses; Tu ao homem até que eu fosse substituído.
puseste limites além dos quais não passará. 15 C hamar-me-ias , e eu Te responderia; te-
6 Desvia dele os olhares, para que ten ha repouso, ri as saudades da obra de Tuas mãos;
até que, como o jornaleiro, tenha prazer no seu dia. 16 e até contarias os meus passos e não leva-
7 Porqu e há esperança para a árvore, pois, rias em conta os meus pecados .
mesmo cortada, a inda se renovará, e não cessa- 17 A minh a tra nsgressão estaria selada num
rão os seus rebentos. saco, e teri as encoberto as minhas iniquid ades .
8 Se envelhecer na terra a sua raiz, e no chão 18 Como o monte que se esboroa e se des-
morrer o seu tronco, faz, e a rocha que se remove do seu lugar,
9 ao cheiro das águas brotará e dará ramos 19 como as águas gasta m as pe dras, e as
como a planta nova. cheias arrebatam o pó da te rra , assim destróis a
10 O homem , porém, morre e fica prostrado; esperança do homem .
expira o homem e onde está? 20 Tu preva leces para sempre contra ele, e
li Como as águas do lago se evaporam, e o ele passa, mudas-lhe o semblante e o despedes
rio se esgota e seca, para o além.

600
JÓ 14:13

21 Os seus filhos recebem honras, e ele o 22 Ele sente as dores apenas de seu próprio
não sabe; são humilhados, e ele o não percebe. corpo, e só a seu respeito sofre a sua alma.

1. Vive breve tempo. Literalmente, 6. Desvia dele. Jó suplica a Deus que


"curto de dias" (ver SI 90:10; Gn 47:9). deixe de vigiá-lo tão rigorosamente, para que
Cheio de inquietação. Este texto, que ele possa respirar um pouco antes de morrer.
é muito repetido, introduz uma passagem Repouso. Literalmente, "cessar". A ideia
eloquente sobre a fragilidade humana. não é a de repouso, mas a de que Deus cesse
2. A flor. Os escritores bíblicos frequen- de afligi-lo. Jó deseja que Deus o deixe em
temente comparam a vida à flor da erva (ver paz (Jó 10:20).
SI 37:2; 9Q:5, 6; 103:15; Is 40:6; Tg 1:10, ll ; Jornaleiro. O trabalhador realmente
1Pe 1:24). Shakespeare escreveu: começa a desfrutar seu dia quando a sombra
"Esse é o destino de todo homem: hoje da tarde traz consigo o descanso pelo qual
lhe nascem anseia e o salário que ganhou . Da m esma
as folhinh as tenras da esperança; ama- forma, Jó deseja para si a satisfação que o
nhã ele floresce, fim do trabalho e da tristeza poderá trazer.
carregado ficando de honrarias; 7. A árvore. Jó havia visto árvores
mas no terceiro dia vem a geada, uma serem cortadas e depois brotarem nova-
geada mortal , mente e crescerem tão viçosas como antes.
e no momento preciso em que ele - quão O homem, porém, nem mesmo tem essa
simplório e calmo! esperança.
- crê que sua grandeza está madura , ela 9. Das águas. Uma estação excepcio-
a raiz lhe morde, nalmente chuvosa despertaria a vida na raiz
caindo ele." - Shakespeare, Henrique aparentemente morta e, mais uma vez, bro-
VIII. tariam ramos.
A sombra. Nada é mais imaterial do 10. Homem. Do heb. geber, "guerreiro",
que uma sombra (ver 1Cr 29:15; SI 102:11; "homem forte".
144:4; Ec 6:12). Onde está? Jó acha difícil penetrar o
3. Abres os olhos. Isto é, "esq uadri- véu do futuro. Os detalhes de uma ressur-
nhas um ser tão insignificante com o pro- reição corpórea só foram claramente reve-
pósito de puni-lo?" lados no tempo de Cristo (ver Jo 5:28, 29;
E o fazes entrar em juízo contigo? 1Co 15:12-56; 1Ts 4:13-18; 2Tm 1:10).
Isto é: "Deveria alguém tão frágil ser cha- 11. Águas [... ] se evaporam. A figura
mado a julgamento diante de alguém tão muda. O homem não é como a árvore que
poderoso?" poderia brotar novamente , m as como um
4. Da imundícia. Jó admite suas fal- rio que se seca e desaparece. Os efeitos
tas, mas pergunta: "Como se pode esperar da morte parecem ser tão imutáveis como
que eu seja sem falt as? Pertenço a uma raç a os céus.
p ecadora. Por que, e ntão, Deus me segue 13. Sepultura. Do heb. she'ol. O sono
com tanta severidade?" sem sonhos da morte não era motivo de
5. Os seus dias estão contados. medo para Jó . Em sua condição, ele o
O propósito do texto é mostrar a fragilidade achava bem-vindo, pois seria um refú -
do ser humano: sua vida é limitada; dentro gio contra a ira de De us (ver com. de
de alguns anos , morre. Pv 15:11).

601
14:14 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

E me pusesses um prazo. Este é o quantia, assim Deus estaria tomando nota


ponto crucial da passagem. Jó expressa de cada pecado de Jó.
o desejo de que, além do sono da morte , Alguns interpretam os v. 16 e 17 como uma
quando a ira divina cessasse, Deus Se lem- descrição, não da vigilância de Deus, mas de
brasse dele. O espírito humano não pode Sua promessa de perdão (ver v. 16, 17, ARA).
se satisfazer com a ideia de uma inevitável 18. E se desfaz. Este verso começa a
extinção. Tal pensamento leva à conclusão última estrofe do discurso de Jó. Antes, ele
de que a vida é sem sentido. expressou esperança, muito embora esti-
14. Tornará a viver? Jó parece exa- vesse vendo como em espelho, obscura-
minar atentamente o horizonte que vai mente (ver 1Co 13:12). Nesse momento, ele
além de sua vida. Ele não divisa tão clara- acusa a Deus de tratá-lo de forma a extin-
mente , quanto os escritores do NT, os piná- guir sua esperança. As tragédias da vida
culos daquela distante cidade onde a vida são comparadas à montanha que desmo-
é perpétua , mas vê o suficiente para ter rona e à rocha que rola.
esperança. 19. Destróis a esperança. Como
Da minha luta. A linguagem parece rochas que rolam e rios furiosos que des-
ser tomada da vida de um soldado. O guer- troem a terra, os infortúnios da vida, que
reiro serve até ser dispensado. Jó atribui a Deus, destroem a esperança do
15. Chamar-me-ias. Uma descrição ser humano.
da ressurreição. Como alguém que dorme é 20. Para sempre. Isto é, continuamente.
chamado a despertar pela manhã, Jó estava As incessantes aflições acabam resultando
confiante de que um dia seria chamado em morte.
para uma nova vida. 21. Os seus filhos. Este texto mostra
Terias saudade. Ou, "ansiarias [por]". de forma clara que Jó considerava a morte
Jó acredita que Deus não Se esquecerá da como um sono (ver Jo 11:11).
obra de Suas mãos. Esta é a base de sua 22. Sente as dores. Por meio de uma
esperança de ressurreição e imortalidade. personificação poética, diz-se qu e o corpo
16. Contarias os meus passos. Jó vis- na sepultura sente dores e, da mesma
lumbrou um dia em que Deus Se lembraria forma, que a alma sofre. Esta é uma vívida
dele com misericórdia , mas a visão desva- figura das devastações ocasionadas pela
neceu, e ele novamente olha para seu pre- morte. Esta passagem não deve ser interpre-
sente sofrimento e para Deus, que vigia tada como se significasse que os mortos são
sua vida. capazes de ter sensações. Em linguagem
17. Selada. Como um tesoureiro conta poética são atribuídos inteligência, persona-
seu dinheiro, guarda-o em segurança numa lidade e sentimentos a objetos ou conceitos
bolsa e coloca nela um selo indicando a desprovidos desses atributos (ver Jz 9:8-15).

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

2- PP, 754 T8, 306 14 - T6, 230


4- OTN, 172; FEC, 173; 10-12 - GC, 550 21 - GC, 550
CBV, 443; CC, 20; l3 - Ed, 155

602
JÓ 15: l

CAPÍTULO 15
1 Elifaz acusa ]ó de impiedade por se autojustificar. 17 Ele prova
pela tradição que os ímpios vivem na inquietude.

Então, respondeu Elifaz, o te manita: 20 Todos os dias o perverso é atormentado,


2 Porventura , dará o sábio em resposta ciên- no curto número de anos que se reservam para
cia de vento? E encher-se-á a si mesmo de vento o opressor.
oriental, 21 O son ido dos horrores está nos seus ouvi-
3 arguindo com palavras que de nada ser- dos; na prosperidade lhe sobrevém o assolador.
vem e com razões de que nada aproveita? 22 Não crê que tornará das trevas, e sim que
4 Tornas vão o temor de Deus e diminuis a o espera a espada .
devoção a Ele devida. 23 Por pão anda vagueando, dizendo: Onde
5 Pois a tua iniquidade ensina à tua boca, e está? Bem sabe que o dia das trevas lhe está pre-
tu escolheste a língua dos astutos. parado, à mão.
6 A tua própria boca te condena, e não eu; os 24 Assombram-no a angústia e a tribula-
teus lábios testificam contra ti. ção; preva lecem contra ele, como o rei prepara-
7 És tu, porventura, o primeiro homem que do para a peleja ,
nasce u? Ou foste formado antes dos outeiros? 25 porque estendeu a mão contra Deus e de-
8 Ou ouviste o secreto conselho de Deus e a safiou o Todo-Poderoso;
ti só limitas te a sabedoria? 26 arremete contra ele obstinadamente, trás
9 Que sabes tu, que nós não saibamos? Que da grossura dos seus escudos,
entendes, que não haja em nós? 27 porquanto cobriu o rosto com a sua gor-
lO Também há entre nós encanecidos e ido- dura e criou enxúndia nas ilhargas;
sos, muito mais idosos do que teu pai. 28 habitou em cidades assoladas, em casas
ll Porventura, fazes pouco caso das conso- em que ninguém devia morar, que estavam des-
lações de Deus e das suaves palavras que te di- tinadas a se fazerem montões de ruínas.
ri gimos nós? 29 Por isso, não se enriquecerá, nem subsis-
12 Por que te arrebata o teu coração? Por tirá a sua fazenda, nem se estenderão seus bens
que flamejam os teus olhos, pela terra.
l3 para voltares contra D eus o teu furor e 30 Não escapará das trevas ; a chama do fogo
deixares sair tais palavras da tua boca? secará os seus renovos, e ao assopro da boca de
14 Que é o homem , para que seja puro? E o Deus será arreba tado .
que nasce de mulher, para ser justo? 31 Não confie, pois, na vaidade, enganando-
15 Eis que Deus não confia nem nos Seus se a si mesmo, porque a vaidade será a sua
santos; nem os Céus são puros aos Seus olhos , recompensa.
16 quanto menos o homem, que é abominável 32 Esta se lhe consumará antes dos seus
e corrupto, que bebe a iniquidade como a água! dias, e o seu ramo não reverdecerá.
17 Escuta-me, mostrar-to-ei; e o que tenho 33 Sacudirá as suas uvas verdes, como a
visto te contarei, vide, e deixará cair a sua flor, como a oliveira ;
18 o que os sábios anunciaram, que o ouvi- 34 pois a companhia dos ímpios será estéri l,
ram de seus pais e não o ocultaram e o fogo consumirá as tendas de su borno.
19 (aos quais somente se dera a terra, e ne- 35 Concebem a malícia e dão à luz a ini-
nhum estranho passou por entre eles) : quidade, pois o seu coração só prepara enganos .

603
15: 1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

1. Respondeu Elifaz. Os discursos irreligiosa de Jó tinha um efeito adverso não


no livro de Jó se dividem em três ciclos. só sobre ele, mas sobre a vida espiritual dos
Este capítulo marca o início do segundo outros. Se Deus tratasse o justo e o ímpio
ciclo, que continua até o cap. 21. A ordem da mesma forma, o primeiro teria pouco a
no segundo ciclo é a mesma do primeiro: esperar, e o segundo, pouco a temer. Seria
Elifaz, Bildade e Zofar falam em ordem, pequeno o incentivo para orar a Deus .
vindo após o discurso de c ada um deles Como poderia o justo esperar Sua bênção
uma resposta de Jó. Este discurso de especial, se Ele estava disposto a tratar de
Elifaz tem um tom rude e argumentativo. maneira igual os bons e os maus? Por que
~ ,.. Ele se divide em três seções: (l) reprova- não seria a mesma coisa viver no pecado
ção direta a Jó por sua presunção (v. 1-6); e ser santo? Como alguém poderia orar a
(2) reflexão sarcástica sobre sua prepo- um Deus assim ou confiar nEle? Elifaz trai
tência e arrogância (v. 7-16); e (3) exposi- sua falta de conhecimento das recompen-
ção do trato de Deus para com o homem, sas e punições que há além da vida pre-
baseada na experiência de antigos sábios sente. Estas compensarão as desigualdades
(v. 17-35). desta vida.
2. O sábio. Cada um dos discursos 5. Tua boca. A frase também pode
de Elifaz começa com uma pergunta. No ser assim traduzida: "Porque a tua boca
início do discurso anterior, Jó afirmou ter declara a tua iniquidade" (ACF, ARC).
sabedoria. Disse: 'Também eu tenho enten- As duas traduções são gramaticalmente
dimento como vós" (Jó 12:3). Ele repete a possíveis. A da ARA expressa a ideia de
ideia no cap. 13:2. Sarcasticamente, Elifaz que as palavras de Jó são inspiradas por
questiona essa sabedoria. seus pecados.
Ciência de vento. Ou, "conhecimento Astutos. A palavra assim traduzida
de vento". Jó havia aplicado esta figura a vem da mesma raiz que a palavra traduzida
suas próprias declarações (ver Jó 6:26). como "sagaz" em Gênesis 3:1.
Vento oriental. Este era conside- 6. Tua própria boca te condena. Isto
rado o pior dos ventos. Era um vento seco pode ser comparado com a acusação seme-
que soprava através do deserto com efei- lhante feita contra Jesus: "Blasfemou; para
tos devastadores (ver Gn 41:6, 23; Jr 18: 17; que precisamos ainda de testemunhas? Eis
Ez 17:10; 19:12; 27:26; Os 13:15). que bem ouvistes, agora, a Sua blasfêmia"
4. Temor. Isto é, reverência para com (Mt 26:65, ARC).
Deus. Jó não só fora ousado, mas aberta- 7. O primeiro homem. Esta é a pri-
mente irreverente em sua atitude para com meira de uma série de perguntas sarcásti-
Deus (ver com. de Jó 9:23). Sua autocon- cas. E li faz procura vencer a Jó pela zombaria
fiança o levou a desafiar a Deus e a soli- e pelo ridículo.
citar uma oportunidade de defender seu 8. Conselho. Do h eb . sod, um cír-
caso para mostrar em que Deus era injusto culo de amigos qu e se sentam juntos
(13:3, 15, 22). Ele expressou completa con- para uma conversa familiar (ver Jr 6:11;
fiança em sua vindicação (3:18). Elifaz 15:17; 23:18, 22; Ez 13:9, em que tamb ém
interpreta essas declarações quase como sod ocorre).
blasfêmia. Limitaste a sabedoria? Isto é, "você
Diminuis a devoção. Ou, "você res- monopoliza a sabedoria?" Jó apresentou
tringe a meditação", "você atrapalha a medi- substancialmente a mesma acusação contra
taç ão devota". Elifaz cria que a atitude seus amigos no cap. 12:2.

604
JÓ 15:26

9. Que sabes tu [... ]? Isto pode Esta descrição se estende do v. 20 até o fim
ser comparado com a id eia expressa em do capítulo, e claramente tem a intenção de
Jó 13:2. se aplicar a Jó.
10. Entre nós. Isto é, "do nosso par- 18. Sábios. Ver Jó 8:8-10. Novamente
tido", "do nosso lado". Elifaz deseja impres- recorre-se à tradição dos antigos.
sionar Jó com a ideia de que todos os idosos 19. Nenhum estranho. Entre os povos
de sua época, bem como todos os homens orientais, desde os tempos mais remotos, a
antigos de eras passadas, es tão do seu lado pureza da etnia era considerada um sinal da
e pensam como ele. Bildade usou um argu- mais alta nobreza.
mento semelhante (ver Jó 8:8). 20. O perverso. Os v. 20 a 35 apresen-
11. Consolações. As perspec tivas tam um a elaborada declamação, cheia de
do favor divino que os amigos de Jó lhe ilustrações e metáfora s, qu e defende que
haviam apresentado se ele se arrependesse os ímpios não pod em escapar da desdit a.
(ver Jó 5:18-27; 8:20-22; 11:13-19). É atormentado. Jó havia declarado:
Suaves palavras. Do heb. dahar la'at. "Os que provocam a Deus es tão seguros"
Elifaz provavelmente se refere a suas pró- (Jó 12:6); mas Elifaz assume a posição
prias pal avras e às de seus amigos, com as oposta. Os dois parecem ter exagerado
quais te ntaram convencer Jó de seu erro. em seus argumentos. A experiência mos-
Ele crê que Jó deveria ter ficado impres- tra que os ímpios podem ou não pros-
sionado com as palavras "suaves" deles. perar e que os justos pode m ou não ser
12. Flamejam os teus olhos. Do afl igidos.
heb. mzam, cuja única ocorrência é aqui. 21. O sonido dos horrores. Talvez a
Pensa-se que se refira às faíscas qu e saem maldição de uma consciência má .
dos olhos. Provavelmente, os olhos de Jó Na prosperidade. Ver SI 37:35, 36;
flamejavam quando ele ouvia as acusações 73:18-20.
de seus amigos. 22. Não crê. O ímpio está constante-
13. Tais palavras. Para Elifaz e seus mente temendo algum mal terrível. Nunca
companheiros, as queixas de Jó eram indi- está seguro. Sua mente nunca está ca lma .
cativo de um espírito orgulhoso, rebelde Ele vive em constante terror.
e blasfemo. Trevas. Termo frequentemente usado
14. Que é o homem [... ]? Esta é a no sentido de infortúnio (ver v. 23, 30 ;
repetição de um a ideia expressa por Elifaz Jó 19:8).
em seu primeiro discurso (ver Jó 4:17-19). 23. Pão. Provavelmente urna figura de
15. Santos. Aqui, evidentemente, os linguage m que se refere ao rico opressor
~ ,.. anjos. De acordo com Elifaz, até o Céu e qu e é atormentado por visões de fom e.
os anjos parecem impuros em comparação 24. A angústia e a tribulação. Jó difi-
com a infinita santidade de Deus. cilmente poderia deixar de notar a aplicação
16. Abominável. O hom em é retratado a si mesmo.
como uma criatura depravada que está tão 25. Contra Deus. Aqui é descrita a
ansiosa para cometer iniquidade como um atitude desafiadora dos ímpios. Não é ver-
sedento para encontrar água. dade, porém, que ignorar a Deus é tão grave
17. Escuta-me. Elifaz aq ui apresenta, quanto desafiá-Lo?
com um elaborado prefácio (v. 17-19), o que 26. Arremete contra ele. A figura
seria a citação de um livro ou uma análise aqui é tirada da maneira como os hom ens
que ele mesmo fez do destino dos ímpios. entravam em batalha. Um ataque violento

605
15:27 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

geralmente era acompanhado por um grito, 31. Vaidade. Olhando pelos olhos do
na tentativa de intimidar o inimigo. preconceito, os amigos de Jó podiam ver
Grossura dos seus escudos. A proje- apenas vacuidade nas palavras dele.
ção convexa de um escudo, ou seja, a parte 32. Esta se lhe consumará. Isto é,
que fica de fre nte para o inimigo. receberá a plena retribuição antes do venci-
27. Gordura. Uma figura da vida extra- mento do prazo.
vagante e intemperante dos ímpios (ver 33. Oliveira. Assim como uma árvore
Dt 32: 15; SI 73:7; ]r 5:28). deixa cair suas flores em profusão, da
28. Cidades assoladas. A referên- mesma forma o ímpio perderia todas as
cia é provavelmente a cidades que o pró- suas posses.
prio ímpio havia assolado por ganância, ou 34. Ímpios. Ou, "hipócritas" (ARC).
a lugare s sob a maldição de Deus e, por Isto é uma insinuação de que Jó é culpado
isso, fadados a permanecer em perpétua de hipocrisia e corrupção.
assolação (ver Dt 13:16; Js 6:26; 1Rs 16:34). 35. Concebem a malícia. Aqui há
A última opção descreve a maneira como o uma mudança na figura empregada (ver
ímpio desafia a Deus. Is 59:4).

CAPÍTULO 16
1 Jó acusa seus amigos de inclemência. 7 Ele mostra quão lamentável
é seu caso 17 e defende sua inocência.

I Então, respondeu Jó: 9 Na Sua ira me despedaçou e tem animosi-


2 Tenho ouvido muitas coisas como estas; dad e contra mim; contra mim ran ge u os dentes e,
todos vós sois consoladores molestos . como meu adversário, aguça os olhos.
3 Porventura, não terão fim essas palavras de lO Homens abrem contra mim a boca, com
vento? Ou qu e é que te instiga para responde- desprezo me esbofet eiam , e contra mim todos se
res assim? ajuntam.
4 Eu também poderia falar como vós falais; se ll Deus me entrega ao ímpio e nas mãos dos
a vossa alma estivesse em lugar da minha, eu po- perversos me faz cair.
deria dirigir-vos um montão de palavras e menear 12 Em paz eu vivia, porém Ele me quebran -
contra vós outros a minha cabeça; tou; pegou-me pelo pescoço e me despedaçou;
~· 5 poderia fortalecer-vos cotn as minhas pala- pôs-me por Seu alvo.
vras, e a compaixão dos meus lábios abrandaria a l3 Cercam-me as Suas flechas, atravessa-me
vossa dor. os rins, e não me poupa, e o meu fel derrama na
6 Se eu falar, a minha dor não cessa; se me terra.
calar, qual é o meu alívio? 14 Fere-me com ferimento sobre ferimento,
7 Na ve rd ad e, as minhas forças estão arremete contra mim como um guerreiro.
exaustas; Tu, ó Deus, destruíste a minha fa- 15 Cosi sobre a minha pele o cilício e revolvi o
mília toda. meu orgulho no pó.
8 Testemunha disto é que já me tornaste en- 16 O meu rosto está todo afogueado de cho-
carquilhado, a minha magreza já se levanta con- rar, e sobre as minhas pálpebras está a sombra da
tra mim e me acusa cara a cara. morte,

606
JÓ 16:8

17 embora não haja violência nas minhas 20 Os meus amigos zombam de mim , mas os
mãos, e seja pura a minha oração. meus olhos se desfazem em lágrimas diante de Deus,
18 Ó terra, não cubras o meu sangue, e não 21 para que Ele mantenha o direito do homem
haja lugar em que se oculte o meu clamor! contra o próprio Deus e o do filho do homem con-
19 Já agora sabei que a minha testemunha tra o seu próximo.
está no Céu, e, nas alturas, quem advoga a minha 22 Porque dentro de poucos anos eu seguirei
causa. o caminho de onde não tornarei.

1. Respondeu Jó. É de desespero .o 5. Fortalecer-vos. "Se eu estivesse no


tom da resposta de Jó ao segundo discurso lugar de vocês", declara Jó, na verdade, "não
de Elifaz. agiria como vocês. Eu confortaria e encora-
2. Muitas coisas como estas. Não jaria vocês ."
houve nada novo no discurso, exceto o 6. Se eu falar. Os amigos de Jó pode-
aumento da amargura. Jó tinha ouvido, riam prover conforto se quisessem, mas
muitas vezes antes, todos os chavões sobre a ]ó não obtinha alívio quando falava nem
pecaminosidade universal do ser humano e quando ficava em silêncio.
a ligação invariável entre o pecado e o sofri- 7. Tu. A súbita mudança da terceira
mento (ver com . de SI 38:3; 39:9). pessoa para a segunda não é incomum no
Consoladores molestos. Elifaz havia hebraico. Note que houve uma mudança
perguntado: "Porventura, fazes pouco caso em ordem reversa nos v. 8 e 9. Um a tran-
das consolações de Deus?" (Jó 15: 11). Esta sição é feita no v. 7. Jó passa das queixas
aparentemente é a resposta de Jó à pergunta contra seus consoladores para uma enume-
de Elifaz. ração de seus sofrimentos. Sua primeira
3. Palavras de vento. Jó havia rogado queixa é a de cansaço (ver Jó 3:13). Era
aos amigos que se calassem (Jó 13:5, 13). natural que ele ansiasse por repouso. Su a
Esta declaração é uma resposta a Elifaz, segunda queixa é que perdeu os filhos e
que acusara Jó de ter um conhecimento de que os amigos não eram leais. O cansaço
vento (ver Jó 15:2, 3). e o senso de solidão lhe provocavam grande
Que te instiga [...]? Literalmente, sofrimento.
"o que lhe dói?", isto é, o que o perturba ou 8. Já me tornaste encarquilhado.
incomoda? Literalmente, "me agarraste". O verbo
4. Falar como vós falais. Não é difí- assim traduzido ocorre apenas aqui e no
cil encontrar argumentos para massacrar o cap. Jó 22:16. Alguns acham que o termo <4 :f
aflito. Qualquer pessoa pode falar quando hebraico aqui se refere à contração da face
está desfrutando as coisas boas da vida. Se em rugas (ver a ARC e a ACF, cuja tradu-
as posições se invertessem, Jó poderia con- ção é "enrugado"). Contudo, outros acham
denar e fazer reflexões morais como eles. que talvez signifique "encolhido", "compri-
Dirigir-vos um montão de palavras. mido", isto é, pelas aflições. Jó parece retra-
Isto é, emendar palavras, recitando um tar a Deus como alguém que o comprime
ditado ou provérbio antigo após outro, como com aflições até que seu corpo se encolhe
os amigos de Jó vinham fazendo. e se dobra em rugas . Esta condição é inter-
Menear [... ] a minha cabeça. Uma pretada por seus amigos, segundo a teoria
forma hebraica de mostrar condenação (ver que têm sobre o sofrimento, como um tes-
Sl22:7; Is 37:22; Jr 18:16; Mt 27:39). temunho contra ele.

607
16:9 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Magreza. O emagrecimento de Jó é, da portanto, o significado seria: "Meu rosto


mesma form a, interpretado como prova de está vermelho de tanto chorar."
sua grande pecaminosidade (ver SI 109:24). Sombra da morte. A aparência dos
9. Despedaçou. A fi gura parece ser a olhos de ]ó prenunciava a morte.
de um animal selvagem que está atacando 17. Violência. ]ó nega as insinuações
sua presa. Parece que Deus é seu inimigo, que Elifaz havia feito contra ele (ver
ao passo que , se os fatos fossem conhecidos, ] ó 15:34, 35).
Satanás é qu e seria visto como o responsá- Seja pura a minha oração. Ele
vel pelo ocorrido (ver Jó 10:16; cf. Os 13:7). defende não só a integrid ade de suas ações,
10. Todos. Jó acha que ta nto Deus mas também a sinceridade de suas orações.
quanto os seres humanos estão contra ele 18. Não cubras. Os v. 18 a 22 regis-
(ver SI 22:13; 35:15, 16; Mq 5:1 ; Mt 27:30; tram um veemente apelo por vindic ação.
Lc 22:64; ] o 18:22). Não haja lugar. As pa lavras "em que
11. Deus me entrega. Jó atribui ao se ocu lte" foram acrescentadas. A referên-
próprio Deus tudo o que sofria nas mãos cia também pode ser a "luga r de desca nso".
das pessoas, como os escárnios de seus Meu clamor. Jó desejava que a voz de
"consoladores", os insultos e a zombaria de seu protesto não se desva necesse sem que
home ns vis e a deserção de muitos que deve- alguém a ouvisse.
r iam ajudar. Ao fazê -lo, ele comete um erro 19. Minha testemunha. Este verso
comum aos seres humanos: culpar a Deus apresenta evidências de um tênue raio de
pelas manifestações perversas da natureza esperança na escura noite do desespero.
humana incitada por Satanás. Embora Jó esteja convencido de que Deus
12. Seu alvo. Jó se cons idera um alvo o está afligindo, ainda conserva pelo menos
para as fle ch as de Deus (ver Dt 32:2 3; certo grau de confiança n Ele .
Jó 6:4; SI 7:13 ; 38:2 ; Lm 3:12) . Quem advoga. Literalm ente, "minh a
13. Suas flechas. Talvez Jó esteja se testemunha". A LXX aqui di z: "Meu advo -
referindo a se us "amigos". gado está nas alturas."
Rins. Ver com. de Jó 19: 27. 20. Diante de Deus. Só Deus é o refú-
14. Ferimento sobre ferimento. Ou, gio de Jó. Por mais dura mente qu e ele ache
"golpe sobre golpe" (ARC) . A figura muda, e qu e Deus o tenha tratado, Jó ainda se volta
Jó parece ser um a fo rtaleza que Deus que- para Ele em busca de vindicação, apoio e
bra por meio de um ataque após outro, até simpatia. Não há ninguém mais para quem
qu e ela fic a em ruínas. possa se voltar. Apesar das tempestades qu e
15. Cosi sobre minha pele o cilício. agitam as águas da superfície em sua vida,
O utra tran sição de ideias. ]ó passa a consi - as águ as mais fundas permanecem, em
derar como agiu em meio à severa aflição. certa medida , imperturbadas .
Ele colocou cilício sobre si, não durante 21. Mantenha o direito do homem.
algum tempo, como em geral o fazem os que O rogo de Jó parece ser o de que Deus o
estão sofrendo, mas permanentemente, cos- declare inocente; qu e Deus pare de o afli-
turando-o apertado sobre a pele. gir e Se coloque ao seu lado . No v. 19, Jó
Orgulho. Literalmente, "chifre". Um havia chamado a Deus de sua testemunh a.
símbolo de orgu lho, dignidade e força. O v. 21 parece um ap elo pa ra qu e De us
16. Afogueado. Da raiz heb. chamar, realmente dê testemunho em seu favor.
que aqu i talvez seja equivalente a uma raiz Contra o seu próximo. Jó havia, sem
árabe que significa "ser ou estar vermelho"; dúvida, compa recido muitas vezes como

608
JÓ 16:22

testemunha de defesa para um amigo. 22. Eu seguirei. Seria mais apropriado


Por que Deus não podia fazer o mesmo que este verso iniciasse o capítulo seguinte,
em seu favor quando ele precisava tanto que começa com uma antecipação da proxi-
de ajuda? midade da morte.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

2 - TM, 350; T3, 508 4, 5 - T3, 508

CAPÍTULO 17
1 Já deixa de apelar aos homens e passa a apelar a Deus. 6 O trato inclemente
dispensado aos aflitos pode surpreender, mas não desanimar os justos.
11 A esperança dele não está na vida, mas na morte.

1 O meu espírito se vai consumindo, os 8 os retos pasmam disto, e o inocente se le-


meus dias se vão apagando, e só tenho perante vanta contra o ímpio.
mim a sepu ltura. 9 Contudo, o justo segue o seu caminho, e o
2 Estou, de fato, cercado de zombadores , e puro de mãos cresce mais e mais em força .
os meus olhos são obrigados a lhes contemplar 10 Mas tornai-vos, todos vós , e vinde cá;
a provocação. porque sábio nenhum acharei entre vós.
3 Dá-me, pois, um penhor; sê o meu fiador 11 Os meus dias passaram, e se malograram
para contigo mesmo; quem mais haverá que se os meus propósitos, as aspirações do meu coração.
possa comprometer comigo? 12 Convertem-me a noite em dia, e a luz,
4 Porque ao seu coração encobriste o enten- dizem, está perto das trevas.
dimento, pelo que não os exaltarás. 13 Mas, se eu aguardo já a sepultura por
5 Se alguém oferece os seus amigos como minha casa; se nas trevas estendo a minha cama;
presa, os olhos de seus fi lhos desfalecerão . 14 se ao sepulcro eu clamo: tu és meu pai ; e
6 Mas a mim me pôs por provérbio dos povos; aos vermes: vós sois minha mãe e minha irmã,
tornei-me como aq uele em cujo rosto se cospe. 15 onde está, pois, a minha esperança? Sim,
7 Pelo que já se escureceram de mágoa os a minha esperança, quem a poderá ver?
meus olhos, e já todos os m eus membros são 16 Ela descerá até às portas da morte, quan -
como a sombra; do juntamente no pó teremos descanso.

1. Vai consumindo. Literalmente, "está ter sido omitida ou ter sido colocada depois
arruinado", "está quebrantado". A mesma de Jó 16:21.
forma do verbo hebraico ocorre em Isaías 10:27, Vão apagando. Jó acha que está perto
e ali é traduzida como "será despedaçado". de morrer.
Este capítulo é uma continuação das Sepultura. No origina l hebraico, a pa la-
queixas de Jó, que começaram no cap. 16. vra está no plural, mas a LXX e a Vu lgata a
Logicamente, a divisão deste capítulo devi a traduzem no singular. O plural no hebraico

609
17:2 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

pode ser explicado considerando-se que ele se 6. Provérbio. Jó de fato se tornou um


refira aos nichos comumente escavados numa provérbio, mas não no sentido que ele pen-
câmara mortuária para receber os corpos. sava que se tornaria. Ele suportou tão bem
2. Zombadores. Os amigos de Jó sua aflição que se tornou em exemplo pro-
haviam insistido no fato de que sua vida verbial de paciência e perseverança (ver
poderia ser poupada se ele se arrependesse. Tg 5:11).
Até apresentaram a ele a perspectiva de um Aquele em cujo rosto se cospe. Do
brilhante futuro . Para Jó, tal perspectiva era heb. tofeth, o ato de cuspir. Jó diz, literal-
tão remota que parecia pura zombaria. mente: "uma cusparada no rosto me tornei".
A provocação. A palavra traduzida 7. Os meus olhos. Ver SI 6:7; 31:9.
como "provocação" vem de uma raiz que Sombra. Jó se tornou um mero esque -
significa "ser rebelde". A figura parece sig- leto, exausto e emagrecido.
nificar que Jó não podia obter alívio algum 8. Pasmam. Os justos irão se admirar
dessas zombarias. de que seja permitido a um homem repu-
3. Dá-me, pois, um penhor. Os ter- tado como fiel sofrer de maneira tão terrível.
mos usados neste verso são termos legais. O inocente se levanta contra. Estes
Jó conclama Deus a ir ao tribunal com ele. mesmos justos se oporão aos ímpios. Jó tal-
O "penhor" se refere ao dinheiro que o tri- vez esteja se referindo a seus amigos. A infe-
bunal exige antes de empreender a investi- rência não está clara.
gação do caso. A passagem toda seria mais 9. Segue o seu caminho. Jó parece
clara se soubéssemos mais sobre as práticas se referir a si mesmo e declarar que ele, um
legais da Antiguidade. Parece que Jó dese- justo tão grandemente injustiçado, seguiria
java que Deus lhe desse garantia de que seu caminho. Apesar de suas tentações e
entraria em litígio com ele em termos iguais. infortúnios, Jó tinha convicção de que seria
Fiador. Provavelmente outro requisito capaz de perseverar. Ele havia decidido cer-
legal cuja natureza não é revelada. Pode se tas coisas em seu coração. A calamidade
referir a um compromisso assumido mutua- poderia abalá-lo, mas não poderia destruir
mente entre os litigantes de que cumprirão sua integridade (ver 2Co 4:8, 9).
a decisão do juiz. 10. Tornai-vos. Isto é: "Renovem seu
Que se possa comprometer comigo. ataque . Retomem seus velhos argumentos.
Literalmente, "dar um aperto de mãos", Repitam suas críticas insensíveis. Vocês
uma expressão que significa ratificar um revelarão novamente sua falta de sabedoria."
acordo (ver Pv 6:1; 17:18). 11. Os meus dias passaram. Jó, na
4. Ao seu coração encobriste. Aqui verdade, pergunta: "Que importa o que vai
]ó se refere a seus amigos. Ele está seguro acontecer comigo agora?" Ele acha que toda
de que Deus não permitirá que triunfem. esperança de se recuperar está no passado.
5. Oferece os seus amigos como Suas curtas frases se assemelham aos sus-
presa. Pensa-se que esta expressão se refira piros de um moribundo.
~ .,. àqueles que traem os amigos , entregando-os 12. Convertem-me. Quem faz isso são
aos pilhadores. Se isto está correto, Jó os amigos de Jó. Eles tentavam convencê-lo
compara seus amigos a pessoas que anun- de que um novo dia nasceria se ele se arre-
ciam a localização dos vizinhos aos ladrões, pendesse (Jó 5:18-26; 8:21, 22; 11:15-19).
a fim de que estes possam roubá-los. Declaravam, a seu modo, o seguinte pen-
De seus filhos. Os filhos sofrem na samento: "A hora mais escura ocorre jus-
calamidade que atinge os pais. tamente antes do nascer do sol." Jó não

610
JÓ 17:16

havia encontrado consolo nessas garantias. 16. Descerá. Há uma dúvida com res-
Pa recia faltar a elas o toque da sinceridade. peito a qual seria o sujeito deste verbo,
13. A sepultura. Do heb. she'ol. Jó anseia, cuja forma é feminina plural. M as não há
com certo grau de antecipação, pelo descanso nenhum sujeito expresso ou que possa ser
do sofrimento que a sepultura iria trazer-lhe. fornecido pelo contexto. Alguns consideram
14. Tu és meu pai. Uma forma alta- que o sujeito seja "portas" ("barras", ACF) ,
mente figurativa de se descrever a morte. um substantivo hebraico masculino, e tra-
O gênero muda de "pai" para "mãe" e "irmãs" duzema frase como: "as barras da sepultura
a fim de concordar com "vermes", que é descerão" (ACF). Outros retroced em até
feminino, no hebraico. "esperança", um feminino singular (v. 15),
15. Minha esperança. A p ergunta e traduzem a frase como: "ela [a esperança]
expressa uma perplexidade não resolvida. descerá" (ARA).
Seus amigos lhe haviam falado de espe- O discurso de Jó termina com um a nota
rança. Em vista da proximidade da sepul- de completo desespero. A sepultura pa rece
tura, onde está essa esperança? ser sua única esperança.

CAPÍTULO 18
1 Bildade acusa Jó de presunção e impaciência. 5 As calamidades dos ímpios.

l Então, respondeu Bildade, o suíta: 12 A calamidade virá faminta sobre ele, e a


2 Até quando andarás à caça de palavras? miséri a estará alerta ao seu lado,
Considera bem , e, então, falaremos. 13 a qual lhe devorará os membros elo corpo;
3 Por que somos reputados por animais, e aos serão devorados pelo primogênito ela morte.
teus olhos passamos por curtos de inteligência? 14 O perverso será arrancado ela sua tenda,
4 Oh! Tu, que te despedaças na tua ira, será onde está confiado, e será levado ao rei elos
~ ~ a terra abandonada por tua causa? Remover-se-ão terrores.
as rochas do seu lugar? 15 Nenhum dos seus morará na su a tenda,
5 Na verdade, a luz do pe rverso se apagará, e espalhar-se-á enxofre sobre a sua habitação.
para seu fogo não resplandecerá a faísca; 16 Por baixo seca rão as suas raízes, e mur-
6 a lu z se escurecerá nas suas tendas , e a sua charão por cima os seus ramos.
lâmpada sobre ele se apagará; 17 A sua memóri a desaparecerá ela terra, e
7 os seus passos fortes se estreitarão, e a sua pelas praças não terá nome.
própria trama o derribará. 18 Da lu z o lançarão nas trevas e o afu gen-
8 Porque por seus próprios pés é lançado na tarão elo mu nclo.
rede e andará na boca de forje. 19 Não terá filho nem posteridade entre o
9 A armadilha o apanhará pelo calcanhar, e se u povo, nem sobrevive nte algum ficará n as
o laço o prenderá. suas moradas.
lO A corda está-lhe escondida na terra, e a 20 Do seu dia se espantarão os elo Ocide nte,
armadilha, na vereda. e os do Oriente serão tomados de horror.
11 Os assombros o espantarão de todos os 21 Tais são, na verdade, as moradas elo perver-
lados e o perseguirão a cada passo. so, e este é o paradeiro elo que não conhece a Deus.

611
18:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

1. Respondeu Bildade. Grandemente que Jó representou a Deus como se o tivesse


irritado pelo fato de Jó tratar o conse- despedaçado "na Sua ira".
lho de seus amigos com tanto desprezo, Abandonada por Tua causa. Isto é,
Bildade não consegue mais conter suas "será que a trajetória do mundo será alterada
emoções. Ele amontoa observações desde- para satisfazer os seus desejos?" Jó desejava
nhosas sobre Jó e tenta aterrorizá-lo para algumas coisas impossíveis (ver Jó 3:3-6).
que siga o conselho dado por eles. Ele traça A repreensão de Bildade não é totalmente
o quadro mais terrível de todos já apresen- injusta, mas ele deixa de levar em conta
tados sobre o fim dos ímpios, e insinua que os efeitos que o sofrimento exercia sobre o
Jó pode esperar algo até pior se não mudar modo de pensar de Jó.
seus caminhos. Para Bildade, Jó se tornou 5. A luz do perverso se apagará.
um homem ímpio (v. 5, 21), uma personifi- Este verso dá início a uma série de dita-
cação do mal. Nenhuma punição é severa dos aparentemente proverbiais, mostrando
demais para alguém tão depravado. que a calamidade certamente alcançará
2. Até quando [... ]? Bildade os ímpios. As palavras aqui podem se refe-
repreende Jó por suas muitas palavras. rir aos costumes da hospitalidade árabe,
Em seu discurso anterior ele havia feito segundo os quais fogueiras eram mantidas
o mesmo (Jó 8:2). A razão para o uso da acesas para benefício de estranhos e de hós-
segunda p essoa do plural neste verso pedes (ver Pv 13:9; 24:20).
e nos seguintes não está clara. Talvez 6. Sua lâmpada. O apagar-se de uma
Bildade considere que Jó tem partidários lâmpada é, para os orientais, uma imagem
entre as pessoas que observam a cena, e de completa ruína. Uma luz acesa na casa
es tes poderiam ser muitos; ou, então, ele se e o fogo ardendo na lareira são símbolos
dirige não só a Jó, mas a todos que têm a de que a boa fortuna do proprietário está
mesma opinião. preservada. Quando esta se acaba, a lu z se
Considera. Isto é: "Observe, preste apaga (ver Jó 21:17). -c ~
atenção e medite. Pense um pouco, em vez 7. Seus passos fortes se estreitarão.
de falar; depois, calmamente e sem pressa, Forma figurativa de se dizer que a esfera
começaremos a responder ao que você disse." de atuação se estreitará, as atividades serão
3. Animais. Talvez Bildade estivesse restringidas e limitados os poderes.
se referindo ao que Jó disse (Jó 12:7), no A sua própria trama. Ver Jó 5:13;
sentido de que até os animais podiam dar SI 7: 14-16; 9:16; 10:2; Os 10:6.
a esses amigos informações sobre Deus. Alguns veem nos v. 7 a 13 uma alusão a
A ideia geral parece ser que Jó não mostrara vários métodos e técnicas de caça. No v. 7,
consideração pelos pontos de vista deles, pessoas entram numa floresta e espantam
como eles achavam que aqueles sábios con- os animais, partindo de uma área ampla e
ceitos mereciam. dirigindo-os para um espaço mais restrito.
Curtos de inteligência. Jó não havia Os v. 8 a 10 descrevem redes, armadilhas
usado este termo para se referir a seus ami - e covas preparadas para apanhar a presa.
gos. A acusação foi uma representação dis- O v. 11 , segundo essa teoria, alude a cães
torcida dos fatos. de caça que perseguem a presa sem mise-
4. Despedaças. A língua hebraica per- ricórdia. Os v. 12 e 13 descrevem a even-
mite rápidas transições da segunda para a tual captura das vítimas. Essa interpretação
terceira pessoa e vice-versa. Talvez nestas parece fantasiosa. Bildade provavelmente
palavras haja uma alusão no cap. 16:9, em só tinha em mente um conjunto de figuras

612
JÓ 18:21

que enfatizariam a inevitabilidade da cap- 17. Memória. O mundo não sofrerá


tura fina l. nenhuma perda quando o ímpio se for (ver
8. Rede. Ver SI 7: 15; 9:15; 35:8; 57:6; Sl34:16; 109:13).
Pv 26:27. Os ímpios arruínam a si mesmos Pelas praças. Isto é, no mundo lá fora.
enquanto tramam a ruína de outros. 18. Nas trevas. Aquilo qu e para
9. Armadilha. Uma arapuca para apa- Jó representa um retiro bem-vindo (ver
nhar pássaros. cap. 10:21, 22; 17:16), para onde ele iria ale-
Laço. Como o que era armado para gremente, Bildade descreve como um exílio
apanhar ladrões. para onde Jó seria forçado a ir por causa de
10. A armadilha. Bildade vai acumulan- seus pecados.
do todas as palavras que pode para descrever 19. Filho nem posteridade. O ímpio
a arte de preparar armadilhas . Os monumen- será um andarilho sem lar que peregrina ora
tos antigos trazem representações de uma agui, ora ali. Não deixará descendentes, nem
grande variedade de métodos de captura. entre seu próprio povo nem nos lugares onde
12. Faminta. Serão acrescentadas as morar temporariamente. Bildade parece se
dores da fome aos outros sofrimentos do ímpio. referir à destruição dos filhos de Jó.
13. Os membros do corpo. Literal- 20. Os do Ocidente. Na ARC, "os vin-
mente, "as partes de sua pele". douros". A expressão tem sido interpretada
Primogênito da morte. Parece que as como sendo "descendentes". A ex pressão
doenças são descritas como filhas da morte, paralela, "os antigos" (ARC; na ARA , "os
isto é, filhas que causam morte. Neste caso, do Oriente"), vem do heb. qadam, que pode
o "primogênito da morte" seria uma doença significar "esta r de frente para", sendo, por-
de natureza particularmente grave. Prova- tan to, interpretada como "contemporâneos".
velmente a referência seja a Jó e sua aflição. A tradução da ARA é possível , mas os adje-
14. Arrancado de sua tenda. Em tivos assim traduzidos não são usados em
outras palavras, é perdida a segurança do lar. nenhuma outra parte da Bíblia para se refe-
Rei dos terrores. Um a referência rir aos moradores dessas áreas.
metafórica à morte. 21. Tais são, na verdade. Bildade não
15. Morará. Uma passagem obscura. aprese nta algo novo na denúncia e ncon-
Talvez se referisse a estrangeiros morando na trada neste capítulo. Ele expressa com
casa dele. renovada veemência seu conceito de que
Enxofre. Uma possível referência à des- as calamidades de Jó são res ultado de seus
truição das cidades da planície (Gn 19:24); pecados. Pode ser que a renovada fúria do
ou uma alusão à destruição da propriedade ataque de Bildade se devesse, em pa rte, à
de Jó pelo chamado "fogo de Deus" (Jó 1: 16); fr ustração pelo fato de suas admoestações
ou , simplesmente, uma referência ao e nxo- prévia s terem sido desconsideradas . Talvez
fre como símbolo de assolação. Bildade já tivesse esgotado sua lógica e
16. Secarão. Ver Jó 14:8. Outra ima- agora tentasse usar a veemência para suprir
gem de completa desolação. essa falt a.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

8 - LA, 72

613
19:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

CAPÍTULO 19
1 )ó se queixa da crueldade de seus amigos e mostra que nele há miséria suficiente
para alimentar essa crueldade. 21 Ele anseia por piedade 25 e crê na ressurreição.

1 Então, respondeu Jó: 17 O meu há lito é intolerável à minha mu-


2 Até quando afligireis a minha alma e me lher, e pelo mau cheiro sou repugnante aos fi -
quebrantareis com palavras? lhos de minha mãe .
3 Já dez vezes me vituperastes e não vos en- 18 Até as crianças me desprezam, e, queren-
vergonhais de injuriar-me. do eu levantar-me, zombam de mim.
4 Em bora haja eu , na verdade, errado, comi- 19 Todos os meus amigos íntimos me abo-
go ficará o meu erro. minam , e até os que eu amava se tornaram con-
5 Se quereis engrandecer-vos contra mim e tra mim .
me arguis pelo meu opróbrio, 20 Os meus ossos se apegam à minh a pele
6 sabei agora que Deus é que me opr imiu e e à minha carne, e salvei-me só com a pe le dos
com a Sua rede me cercou. meus dentes.
7 Eis que clamo: violência! Mas não sou ou- 21 Compadecei-vos de mim, amigos meus,
vido; grito: socorro I Porém não há justiça. compadecei-vos de mim, porque a mão de Deu s
8 O meu camin ho Ele fechou , e não posso me atingiu.
passar; e nas minhas veredas pôs trevas. 22 Por que me perseguis como Deus me
9 Da minha honra me despojou e tirou-me persegue e não cessais de devorar a minh a
da cabeça a coroa. carne?
lO Arru inou-me de todos os lados, e eu me vou; 23 Quem me dera fossem agora escritas as
e arrancou-me a esperança, como a uma árvore. minhas palavras! Quem me dera fossem grava-
ll Inflamou contra mim a Sua ira e me tem das em livro!
na conta de Seu adversário. 24 Que, com pena de ferro e com chumbo,
12 Juntas vieram as Suas tropas , prepararam para sempre fossem esculpidas na rocha!
contra mim o seu caminho e se acampa ram ao 25 Porque eu sei que o meu Redentor vive e
redor da mi nha tenda. por fim Se levantará sobre a terra.
13 Pôs longe de mim a me us irmãos , e os 26 Depois , revestido este meu corpo da
que me con hecem , como estra nhos, se apar ta- minha pe le, em minha carne verei a Deus.
ram de mim. 27 Vê-Lo-ei por mim mesmo, os meus olhos
14 Os meus parentes me desampararam, e O verão, e não outros; de saudade me desfa lece
os meus conhecidos se esqueceram de mim. o coração dentro de mim.
15 Os que se abrigam na minha casa e as 28 Se disserdes: Como o perseguiremos?
minhas servas me têm por estranho, e vim a ser E: A causa deste mal se ac ha nele,
estrangeiro aos seus olhos. 29 temei , pois , a espada, porque tais acusa-
16 C hamo o meu criado, e ele não me res- ções merecem o Seu furor, para saberdes que
ponde; tenho de suplicar-lhe, eu mesmo. há um juízo.

1. Respondeu. Jó responde ao segundo 2. Afligireis a minha alma. Jó não


discurso de Bildade, protestando contra a é um estóico. E le não é insensível aos ata-
falta de consideração dos am igos e reite- q ues de seus amigos. Ao contrário, as pa la-
rando sua miséria. vras deles lhe causam sofrimento e tortura

614
JÓ 19 :15

e ferem sua alma. O ataque de Bildade foi Trevas. Ele se sente como alguém qu e
o mais cruel de todos. A resposta de Jó não consegue ver para onde está indo.
indica quão profundamente ele foi afetado. 9. Honra [... ] coroa. Símbolos de dig-
Bildade havia perguntado até quando Jó nidade (ver Pv 17:6; Lm 5:16; Ez 16:1 2).
continuaria a falar (cap. 18:2). Jó responde 10. Arruinou-me. Jó parece se com-
perguntando até quando Bildade vai conti- parar a uma cidade cujos muros sofrem
nuar a feri-lo. ataques de todos os lados, e então são
3. Dez vezes. Esta expressão é pro- derrubados.
vavelmente um número arredondado (ver Como a uma árvore. A expec tativa de
com. de Gn 31:7; ver também Gn 31:41; Nm Jó era levar uma vida tranquila e piedosa,
14:22; Ne 4:12; Dn 1:20). cercado por parentes e amigos, até atin-
Injuriar-me. Do heb. tahheru, que gir idade avançada e poder descer à sepul-
ocorre apenas aqui. O significado é incerto. tura dignamente . Essa esperança havia sido
Outros possíveis sentidos são: "tratar-me arrancada pelas raízes quando lhe sobrevie-
injustamente", "tratar-me de maneira dura". ram as calamidades.
4. Haja eu, na verdade, errado. Não li. Seu adversário. Jó não diz que ele
necessariamente uma admissão de culpa e Deus são inimigos, mas sim , que Deus o
moral, mas um reconhecimento de suas trata como ele foss e inimigo, e Jó não con-
9; ~ limitações humanas. segue entender o porquê disso.
Comigo ficará. Provavelmente o signi- 12. Tropas. Jó volta à símile de uma
ficado da frase seja: "Isso não prejudica nin- cidade sitiada e representa seus atacantes
guém exceto a mim mesmo." como se estivessem fazendo aterros para
5. Engrandecer-vos. A alusão é ao fato cercá-lo ou plataformas para destruir suas
de se constituírem a si mesmos como juízes. defesas.
E me arguis. Os amigos usaram a cala- 13. Irmãos. Não está claro se Jó se
midade de Jó como evidência contra ele. refere a irmãos literais (Jó 42: ll) ou se usou
6. Deus é que me oprimiu. Jó não o termo em sentido figurado , aplicando-o
só era vítima no sentido de ser mal inter- a amigos íntimos ou aos que es tavam na
pretado por seus amigos, mas também no mesma condição dele. Neste verso, encon-
sentido de se achar objeto da ira de Deus. tra-se a primeira de uma série de expres-
Bildade havia mencionado as armadilhas, sões que descrevem seus amigos e parentes
ci ladas e redes preparadas para os ímpios e a atitude que tiveram para com ele. A par-
(Jó 18:7-12), e insinuou que Jó havia caído tir deste verso até o 19, ocorrem as seguin-
nas armadilhas que ele próprio armou. Jó tes expressões: "m eus irmãos", "os que me
responde que a rede em que está preso foi conhecem", "parentes", "conhecidos", "os
armada por Deus. que se abrigam na minha casa", "servas",
7. Clamo. Desde o principio, Jó alegou "cr iado", "mulher", "filhos", "amigos íntimos"
ser vítim a de injustiça (ver Jó 3:26; 6:29; e "os que eu amava".
9:17, 22; 10:3; Jr 20:8; Hc 1:2), e até aqui 14. Parentes. Literalme nte, "os que
não recebeu uma resposta de Deus. são próximos". A palavra se refere a proximi-
8. Fechou. Ver Jó 3:23; 13:27; Lm 3:7, 9; dade, quer seja por consanguinidade, afei-
Os 2:6. Ta lvez esta seja um a figura baseada ção ou localização.
no viajante cujo caminho é obstruído, Conhecidos. Ver SI 41:9.
tornando-lhe impossível o seguir em frente. 15. Os que se abrigam. D o h e b.
Jó se sente impedido de continuar. garim, literalmente, "peregrinos". Pode se

6 15
19:16 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

referir a hóspedes, estrangeiros, servos ou 22. Por que me perseguis [... ]? E le


inq uilinos. A ideia essencial é que não são queria dizer: "Por que vocês me perseguem
moradores permanentes, embora, durante sem razão? Por que me acusa m de crimes
certo tempo, sejam considerados membros que não cometi?"
da casa. Devorar a minha carne. Um idiom a-
Vim a ser estrangeiro. Isto é, deixa- tismo oriental que sign ifica: "Por que vocês
ram de me tratar como o chefe da família. estão sempre me caluniando?" Em Daniel
16. Não me responde. ] ó estava acos- 3:8, a palav ra traduzida co mo "ac usara m"
tumado à obediência por parte de seus ser- é, literalmente, "comera m fragmentos ele".
vos. Nesse período, eles o ignorava m. O caluniador ou ac usador é figurativa mente
1 7. Meu hálito é intolerável. Provavel- alguém que devora a ca rne de sua vítim a.
mente era rep ulsivo por causa de sua doença. 23. Fossem agora escritas. Isto pode
Minha mulher. Ao longo de todo o se referir às palavras que vêm imedi ata-
livro é mencionada apenas um a esposa de mente a seguir. Es te verso introduz um a das
Jó, fato digno de nota, um a vez que certa- passagens m ais importantes do livro.
mente ele viveu numa época em que a poli- Gravadas. Literalmente, "esculpidas",
gamia era comum. "inscritas".
Minha mãe. Literalmente, "meu útero", Livro. Do heb. sefer. Não necessari a-
isto é, o útero de sua mãe (ver Jó 3: 10). Com mente um documento extenso. A palavra é
a palavra "filhos", ]ó evidentemente se refe- usada para descrever uma certidão ele di vór-
ria a seus irmãos e irmãs. cio (Dt 24:1, 3), um a escritura ele compra
18. Crianças. Do heb. 'myilim, que sig- (Jr 32: 11 , 12), um registro geral (G n 5:1),
nifica "crianças", como aqui e em ] ó 21:11 , um livro da lei (Êx 24:7), bem como relatos
ou "ímpio", como em ]ó 16:11. As crianças extensos como a hi stória dos re is (lRs ll:41 ).
são descritas como se não estivessem dando 24. Esculpidas na rocha. ]ó deseja
a Jó o respeito devido à sua idade. que seu relato seja gravado na rocha com um
19. Amigos íntimos. Literalmente, cinzel de ferro e que os caracteres esculpi-
"todos os homen s elo meu conselho". dos em baixo relevo seja m preenc hidos com
Os que eu amava. Ver Sl41:9; 55:12-14; chumbo. Sabe-se que esta prática foi seguida
Jr 20 :10. O afastamento de am igos ínti- em tempos a ntigos, co mo, por exemplo, no
mos é uma das experiências mais ama rgas caso da inscrição ele Behistun (ver a ilustra -
da vida. ção da p. 68 ; ver também vol. 1, p. 75, 90).
20. Meus ossos se apegam à minha 25. Meu Redentor. Es ta é um a da s
pele. Esta é a descrição de um estado passagens mais frequente mente citadas
de severa magreza em decorrência el a do livro. Representa um avanço significa-
enfermidade. tivo na traje tór ia de Jó, do desespe ro pa ra
A pele dos meus dentes. Uma expres- a confiança e a esperança. "Das profunde-
são proverbial que indica que Jó havia esca- zas do desencoraja mento e do desân imo Jó
pado por pouco. A doença o havia afligido se levanta para as alturas ela implícita con-
até que seu corpo se degenerou. fiança na misericórdia e no poder salvador
21. Compadecei-vos. Este é um elos de Deus" (PR, 163). A palavra hebraica tra-
apelos m ais tocantes do livro. Jó mostrou duzida como "redentor", go'el, também é tra-
como se encontrava abandonado e solitário e duzida como "vingador" (Nm 35:12 , 19, 21,
retratou seu infortúnio ele maneira eloquen- 24, 25, 27), "parente chegado" (NTLH) ou
~ .,_ te. Aqui , ele implora piedade aos amigos. "resgatador" (Rt 2:20; 3:9, 12; 4:1, 3, 6, 8, 14;

616
]Ó 19:28

ver com. de Rt 2:20). D eus é frequente- "do monte" (Êx 19:14); (2) "fora de" com a
mente chamado de go'el, no sentido de que ideia de separação, como em "for encoberta
Ele vindica os direitos de Seus filhos e res- aos olhos da congregação [literalmente, "fora
gata os que foram colocados sob o domínio dos olhos da congregação"]" (Nm 15:24);
de outrem (Is 41:14; 43:14; 44:24; 47:4; etc.). (3) "de", no sentido de "fora de", como "das
]ó já havia expressado seu desejo de ter águas o tirei" (Êx 2:10); (4) vários outros sig-
um "árbitro" entre ele e Deus (Jó 9:32-35). nificados, como "do lado de", "em" e "por".
No cap. 16:19, ele havia declarado sua con- O contexto deve decidir a escolha do signifi-
vicção de que sua "testemunha está no cado em cada ocorrência da preposição.
Céu"; no cap. 16:2 1, ele pede a Deus que No texto em consideração, qualquer
seja o seu fiador. Tendo reconhecido a Deus que seja a tradução aceita, há indicação da ... ~
como "á rbitro", testemunha, advogado e fia- crença numa ressurreição corpórea, ou pelo
dor, é perfeitamente lógico que ele che- menos não há uma negação dela. As versões
gasse ao reconhecimento de Deus como que empregam a frase "em minha carne" ou
seu redentor. Este texto representa uma das "de minha carne" apresentam uma afirma-
revelações do AT sobre Deus como redentor ção clara dessa crença. Nas traduções que
do ser humano, uma verdade profunda que apoiam a ideia de "sem minha ca rne" ou
foi plenamente revelada na pessoa e na mis- "fora de minha carne", seria possível con-
são de Jesus Cristo. siderar que estejam apresentando a ideia de
Por fim. O significado é que, por mais Jó de ver a Deus em seu corpo ressuscitado,
tempo que Jó tivesse de sofrer, por mais pro- não em seu corpo atual, um conceito que
longadas que fossem suas calamidades, ele é essencialmente paralelo à declaração de
tinha a máxima confiança no fato de que Paulo em 1 Coríntios 15:36 a 50. Se essa
Deus finalmente o vindicaria. As palavras era sua intenção, Jó deu uma declaração
dos v. 25 e 26 indicam que a vindic ação significativa de que um dia estaria livre de
divin a ocorreria quando Deus Se leva ntasse um corpo afligido pela doença e atormen-
sobre a Terra e quando Jó visse a Deus. Este tado pela dor, e de que, em um novo corpo
é um vislumbre inequívoco da ressurreição. glorioso, teria o privilégio de ver a Deus (ver
26. Em minha carne. Esta passagem Fp 3:21; GC, 644, 645 ).
apresenta várias di ficuldades de tradução. 27. Vê-Lo-ei. "Vislumbrando o tempo
No hebraico não existe a palavra "corpo". do segundo advento de Cristo, disse o
As diferentes versões mostram uma interes- patriarca Jó: 'Vê-Lo-ei por mim mesmo,
sa nte variação de traduções, tanto no texto e os me us olhos, e n ão outros, O verão"'
quanto na margem . A trad ução da ARC (PJ, 421). Jó indica que na ressurreição ele
(citada em Ed, 15 6) dá uma versão mais conservará sua identidade pessoal.
literal do hebraico: "E depois de consumida O coração. Literalmente, "rins". Os rins
a minha pele, ainda em minha carne verei a eram considerados como a sede de fortes
Deus." Em vez de "em minha ca rne", alguns emoções, e ]ó aqui parece expressar um
optam pela tradução "sem minha carne" ou intenso a nseio pelo cumprimento dos glo-
"fora de minha carne". riosos eventos dos quais ele havia acabado
A diferença surge da possibilidade de se de falar.
atribuir várias definições à preposição heb. 28. Se disserdes. Jó ameaça seus am i-
min, traduzida como "em" (ARA, ARC) ou gos. Com efeito, ele afirma: "Se, depois do
"sem" (NVI). Min tem vários significados: que eu disse, vocês continuarem a ser cruéis
(l) "de", expressando afasta mento, como em comigo e combinarem qu anto à melhor

617
20:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

maneira de me p erseguir, continuando pronunciado juízos sobre ele. Porém, tendo


a presumir que estou em falta, temam." sua confiança aumentada, Jó, por sua vez,
Os a migos de Jó haviam repetidamente os ameaça com a ira e o juízo de Deus.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

7-21- Ed, 156 25 - MS, 33; MJ, 410; PR, 264 PR, 164; T2 , 88
24- CS, 561; TM, 430; 25, 26 - MCH, 328 27 - PJ, 421
T7, 164 25-27 - Ed, 156; GC, 299;

CAPÍTULO 20
Zofar mostra a condição e a sorte dos ímpios.

Então, responde u Zofar, o n aa matita: 13 e o saboreie, e o não deixe ; antes, o rete-


2 Visto que os m eus p ensame ntos me im - nha no seu paladar,
põem resposta , eu me apresso. 14 contudo, a sua comida se transformará
3 Eu ouvi a repreensão, que me envergonha, nas suas entranhas; fe l ele áspicles será no seu
mas o meu espírito me obriga a responder se- interior.
gundo o meu entendimento. 15 Engoliu riquezas, m a s vomitá-las-á; do
4 Porve ntura, não sabes tu que desde todos seu ventre Deus as lançará.
os tempos, desde que o homem foi posto sobre 16 Veneno de áspides sorveu; língua ele ví-
a terra , bora o m atará.
5 o júbilo dos perversos é breve, e a alegria 17 N ão se deliciará com a vista dos ribeiros e
elos ímpios, momentânea? elos rios transbordantes de mel e d~ le ite.
6 Ainda que a sua pre sun ção remonte aos 18 Devolverá o fruto do seu trabalho e não
céus, e a sua cabeça atinja as nuvens , o engolirá ; do lucro de sua barganh a não tirará <11 ~
7 como o seu próprio esterco, apodrece- pra zer nenhum.
rá para sempre; e os qu e o conheceram dirão: 19 Oprimiu e desamparou os pobres, reubou
Onde está? casas que não edificou.
8 Voará como um sonho e não será achado, 20 Por não haver limites à sua cobiça, não
será afugentado como uma visão da noite. chegará a salvar as coisas por ele desejadas .
9 Os olhos que o viram jamais o verão, e o 21 Nada escapou à sua cobiça insaciável ,
seu lugar não o verá outra vez. pelo que a sua prosperidade não durará.
lO Os seus filhos procurarão aplacar aos 22 Na pl e nitude da sua abastança, ver-s e -á
pobres, e as suas mãos lhes restaurarão os seus angustiado; toda a força da mis é ria virá so-
bens. bre ele.
11 Ainda que os seus ossos estejam cheios 23 Para encher a sua barriga, Deus manda-
do vigor da sua juventude, esse vigor se deitará rá sobre ele o furor da Sua ira, que, por alimen-
com ele no pó. to, mandará chover sobre ele .
12 Ainda que o mal lhe seja doce na boca, e 24 Se fugir das armas ele ferro, o arco ele
ele o esconda debaixo da língua, bronze o traspassará.

618
JÓ 20: 9

25 Ele arranca das suas costas a flecha, e 27 Os céus lhe mani fes tarão a sua iniquida-
esta vem resplandecente do seu fel; e haverá as- de; e a terra se levantará cont ra ele.
sombro sobre ele. 28 As riquezas de sua casa serão transpor-
26 Todas as ca lamidades serão reservadas tadas; como água serão derramadas no dia da
contra os seus tesouros; fogo não assoprado o ira de Deus.
consum irá, fogo que se apascentará do que ficar 29 Tal é, da parte de Deus, a sorte do homem
na sua tenda. perverso, ta l a hera nça decretada por Deus.

. 1. Respondeu Zofar. Este é o segundo de Elifaz (Jó 15:7-13). Zofa r está dizendo
di sc urso de Zofar. Seu propósito é mostrar que a hi stória prova seu argumento.
que não importa a que altura o ímpio seja 5. Momentânea. Este verso expli ca a
exaltado, não importa quão próspero ele solu ção de Zofar para o probl ema da pros-
possa se tornar, Deus o humilhará e fará peridade dos ímpios. E le admite que eles
com que ele sofra. A referência a Jó é óbvia podem gritar de triunfo, mas q ue essa ale -
demais para não ser notada. O cap. 19 termi- gria é m omentânea . E m parte, Zofar está
nou com uma advertência fei ta por Jó. Zofar certo, m as seu argumento é frac o porq ue
se ressente do fato de Jó dirigir a ameaça não reconh ece que um pecador pode pare-
de castigo contra seus amigos, já que está cer triun far ao longo de toda a sua vida
seguro de que somente Jó é c ulp ~do. mortal (ver SI 37:3 5, 36; 73:1-1 7). A curta
2. Meus pensamentos. O s pensamen- duração do triunfo dos maus é um dos
tos de Zofar não constituem ca lma reflexão p rincipais pontos de desacordo entre Jó e
ou profund a meditação. Ele está agitado. seus oponentes. Tanto Elifaz como Bildade
Seu s pensamentos pa recem ser expressos defend era m o mesm o ponto de vista de
de m aneira confusa e desordenada. Zofar (Jó 4: 8-ll; 5:3 -5; 8:11 -19; 15:21, 29).
Eu me apresso. Zofar ad mite seu tem- Jó tem um a opinião d ife rente. Ele sab e
peramento impetuoso. que os perversos "vivem , [.. .] envelhecem e
3. A repreensão. Provavelm e nte, ainda se tornam mais poderosos" (2 1:7); que
Zofa r se refere ao q ue J ó dis se no fin al eles "passam [... ] os seus dias em prosperi-
de seu disc urso (Jó 19: 29); ou , talvez, dade e em paz descem à sepultura" (2 1:13).
refira-se à repree nsão de Jó 19:2. Também Ele não está pronto para admitir as generali-
n ão pode ter-se esquecido do que Jó h avia zações de seu s am igos. Jó mostra maior dis-
d ito em res posta a seu di scurso ante - cernimento do que eles, um discernimento
rior (1 2:2). Na verdade, o que Zofar está nascido do sofrim ento.
dizendo é: "Você me ac uso u fals amente, e 6. Aos céus. Outra maneira de desc re-
meu ressen timento me com pe le a respon- ver as altu ras das consecuções e da influê n-
der." Es te verso revela o cará ter de Zofar: cia que os ím pios podem alcança r (ver
ele é irritável e impetuoso. Ma l p ôde SI 73 :9; Dn 4: 22).
esp erar Jó terminar, para começar a falar 8. Como um sonho. Uma figura que
indign ada mente. descreve a instabilid ade dos ímpios. Nada
Meu entendimento. N ão é incomum é ma is irrea l e passageiro do qu e um sonh o.
que uma pessoa impetuosa afi rme falar 9. Os olhos que o viram. Referin do-se
guiada pelos princípios da calma sabedoria. ao pecador, Zofar emprega quase a mesma
4. Não sabes tu [... ]? A pergunta é sar- lingu agem que Jó u sara ao referir-se a si
cástica, da mes ma forma qu e as perguntas mesmo (Jó 7:8 , lO ; cf. 8: 18; Sll03:16).

6 19
20:10 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTI STA

10. Aplacar aos pobres. Talvez no Não chegará a salvar-.-Ek não será
:g" sentido de pedir esmolas aos mendigos. capaz de conservar as coisas que sua ga nân-
Restaurarão. Este verso retrata a cia acumulou.
humilhação do pecador orgulhoso e prós- 21. Insaciável. D o heb. 'okel, "ali-
pero, que d esce à condição de procurar o mento". A NVI traduz: "N ad a lhe res tou
favor dos pobres e de ser forçado a dar-lhes para devorar."
sua riqueza. Sua prosperidade não durará.
11. Seus ossos estejam cheios. Isto Na LXX: "Portanto, sua s boa s coisas não
é, cheios do vigor da juventude. Esse vigor, prosperarão."
no entanto, segundo a frase seguinte, jazerá 22. Angustiado. A prosperidade não o
com ele no pó. isentará de angústias .
12. Ainda que o mal lhe seja doce. 23. O furor. Zofar obvia m ente está
Este verso inicia uma nova estrofe. A impie- aplicando estas palavras a Jó. Em meio à
dade tem seus prazeres, mas eles são super- prosperidade, Jó foi humilh ado. As palavras
ficiais e transitórios . de Zofar têm o objetivo de ferir. Ele tenta
13. E o saboreie. O gosto da impie - apresentar Jó como um pecador que experi -
dade é saboroso. O pecador odeia sepa rar-se menta o fu ro r da ira de D eus.
de sua loucura e de seu prazer. Ele é como 24. Se fugir. D eu s é retratado como
a criança que procura fazer um pedaço de fazendo guerra ao pecador, que inutilmente
doce durar o máximo possível. tenta escapar.
14. Contudo, [...] se transformará. 25. Resplandecente. D o heb. baraq,
O pecado, depois de ser engolido, fica literalmente , "raio", usado aqui figurativa -
amargo e se torna como o veneno da áspide . mente para descrever a ponta reluzente de
15. Vomitá-las-á. Um modo expressivo uma flecha. A vívida figura é a do ímpio que
de ilustrar o juízo divino que Zofar acredita tenta remover uma flecha do corpo. Terrores
estar reservado para os ímpios . da morte iminente o cercam . A inferência é
17. De mel e de leite. Ver Êx 3:8, 17; que Jó seja como essa pessoa.
13: 5; Dt 26 :9, 15 ; Is 7:22; Jl 3: 18. A pros- 26. Contra os seus tesouros. A frase
peridade dependia de um abundante supri- diz, literalmente: "Tod a a escuridão está
mento de água. O leite ("manteiga", para a reservad a para seus tesouros ." A ideia é ,
ACF e A RC, e "nata", para a NVI) se refere, provavelmente, de que todo tipo de ca lami -
provavelmente, a leite ou nata coa lhados. dade aguarda os tesou ros que o ímpio ajun-
18. Devolverá. A fim de compensar tou e acumulou para si.
aqueles a quem roubou, o ímpio terá de dar-lhes Fogo não assoprado. Este , provavel-
a riqueza que ganhou honestamente. mente , não era um fogo ace so por m ãos
19. Desamparou os pobres. Estas humanas . Talvez Zofar es teja a ludindo ao
acu sações de m aus-tratos aos pobres são, "fogo de D eu s" (Jó 1:16) que queimou as
pela prim eira vez, insinuad as contra Jó. ovelhas e servos de Jó.
Mais ta rde, serão feitas abertam ente por 27. Manifestarão a sua iniquidade.
Elifaz (Jó 22: 5-9). Jó nega as ac usações E sta é a resp osta de Zofar ao apelo de
(Jó 29 :11-17). ] ó (16:18, 19): para qu e o céu e a terra deem
20. Por não haver limites à sua testemunho a seu favor. O céu, diz ele, em
cobiça. A frase diz, literalmente: "porque vez de falar a favor de Jó, revelará sua ini-
ele não conheceu tranquilidade em seu ven- quidade . A terra, em vez tom ar partido por
tre", isto é, seu desejo era insaciável. ele, se levanta rá co ntra ele .

620
JÓ 20:29

28. As riquezas. A ira de Deu s fará legalista e crítica dos amigos . Dificilmente
com que todas essas coisas desapareçam seria possível enfatizar, de maneira mais ter-
como uma inundação que se vai. rível e vívida do que Zofar o fez, a visão de
29. Tal é [...] a sorte. Esta conclusão que o ímpio rico é punido por Deus. Para
é semelhante à que Bildade tirou no final de Zofar, Jó é um ímpio, que enfrenta os resulta-
seu discurso (Jó 18:21). Nesta seção de sua dos de seus próprios pecados. Ele é culpado
fala , Zofar quis transmitir a Jó que ele não de ganho injusto; portanto, Deus consome
podia esperar sorte diferente da que lhe cabia. suas posses. Zofar procura minar a nova con-
Isto conclui a contribuição de Zofar. Ele fiança em Deus que Jó havia expressado. Não
não participa do terceiro ciclo de discursos. se pode discernir em seu discurso nenhum
Sua fala representa o ápice da atitude estreita, sinal de bondade ou simpatia.
/

CAPÍTULO 21
1 Jó mostra que, mesmo pelo raciocínio humano, ele tem razão para estar magoado.
7 Às vezes, o ímpio prospera, mesmo desprezando a Deus. 22 Os felizes
e os infelizes são iguais na morte. 27 A retribuição está por vir.

l Respondeu, porém, Jó: 14 E são estes os que dissera m a D e us:


2 Ouvi atentamente as minhas razões, e já Retira-Te de nósl Não desejamos co nhecer os
isso me será a vossa consolação. Teus caminhos.
3 Tolerai-me, e eu fal arei; e, havendo eu fa- 15 Que é o Todo-Poderoso, para que nós O
lado, podereis zombar. sirvamos? E que nos aproveitará que Lhe faça-
4 Acaso, é do homem que eu me queixo? mos orações?
Não tenho motivo de me impacien tar? 16 Vede , porém , que não provém de les a
5 Olhai para mim e pasmai; e ponde a mão sua prosperidade; longe de mim o conselho dos
sobre a boca ; perversos!
6 porq ue só de pensar nisso me perturbo , e 17 Quantas vezes sucede que se apaga a
um calafrio se apodera de tod a a minh a carne . lâmpada dos perversos? Quantas vezes lh es so -
7 Como é, poi s, que vivem os perversos, en- brevém a destruição? Quantas vezes De us na
velhecem e ainda se tornam mais poderosos? Sua ira lhes reparte dores?
8 Seus filhos se estabelecem na sua presen- 18 Quantas vezes são como a palha di a n-
ça; e os se us descendentes , ante seus olhos. te do vento e como a pragana arrebatada pelo
9 As suas casas têm paz, sem temor, e a va ra remoinho?
de Deus não os fustiga. 19 Deus , dizeis vós, guarda a iniquidade do
lO O seu touro gera e não falha, suas novi- perverso para seus filhos. Mas é a ele que deve -
lh as têm a cria e não abortam. ria Deus dar o pago, para que o sinta .
11 Deixam correr suas crianças, como a um 20 Seus próprios olhos devem ver a sua
reba nho, e seus filhos sa ltam de a legria; ruína, e ele, beber do furor do Todo-Poderoso.
12 cantam com tamboril e harpa e alegram-se 21 Porque depois de morto, cortado já o núme-
ao som da flauta. ro dos seus meses, que interessa a ele a sua casa?
13 Passam eles os seus dias em prosperidade 22 Acaso, alguém ensinará ciência a Deus , a
e em paz descem à sepultura. Ele que julga os que estão nos céus?

621
21:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

íB Um morre em pleno vigor, despreocupa- 29 Porventura , não tendes interrogado os que


do e tranquilo, viajam? E não considerastes as suas declarações,
24 com seus baldes cheios de leite e fresca a 30 que o mau é poupado no dia da calamida-
medula dos seus ossos. de, é socorrido no dia do furor?
25 Outro, ao contrário, morre na amargura 31 Quem lhe lança rá em rosto o seu proce-
do seu coração, não have ndo provado do bem. der? Quem lhe dará o pago do que faz?
26 Juntamente jazem no pó, onde os vermes 32 Finalmente, é levado à sepultura, e sobre
os cobrem. o seu túmulo se faz vigilâ ncia.
27 Vede que conheço os vossos pensamen- 33 Os torrões do vale lhe são leves, todos os
tos e os injustos desígnios com que me tratais. homens o seguem, ass im como não têm número
28 Porque direis: Onde está a casa do os que fora m adiante dele.
príncipe, e onde, a tenda e m que morava o 34 Como, pois, me con sola is em vão? Das
perverso? vossas respostas só resta falsidade.

1. Respondeu, porém, Jó. Aqui 5. Pasmai. Jó está prestes a defender a


tem início o terceiro ciclo de discursos ideia de que os ímpios tê m vida longa, tran-
(Jó 21-31), composto por três de Jó, um de quila e próspera. Sabendo que essa ideia
Elifaz e um de Bildade. Zofar não participa revolucionária despertará horror e indigna-
deste ciclo. ção em seus ouvintes, ele os prepara para o
2. Consolação. Elifaz referiu-se a suas choque.
próprias p alavras como se fossem a con- 6. De pensar nisso me perturbo.
solação de D eus (Jó 15:11). Jó aqui busca O próprio Jó se enche de medo quando pensa
consolação no privilégio de ser ouvido. nas implicações do que está para dizer. É algo
Frequentem ente a pessoa ferida é m ais sério expressar uma opinião em desacordo
beneficiada quando alguém a ouve do que com o pensamento dos contemporâneos.
quando alguém lhe fala. 7. Como é [... ]? O verso anterior revela
3. Tolerai-me. Isto é, "permitam-me que Jó não faz a pergunta meram en te a
falar". H á uma ênfase no "eu" da primeira título de argumentação. Ele está genuina-
frase. Jó parece deixar implícito que seus mente preocupado. Já observou o sucesso e
oponentes não lhe estão concedendo o a prosperidade dos ímpios. Diferentemente
tempo devido para falar, o que seria uma de seus amigos, está disposto a admitir este
~ " acusação injustificada. Desde que o diá- estranho fenôme no. Mas, embora o reco-
logo se iniciou, Jó falou mais do que seus nheça, ac ha difícil aceitá-lo. Jó não é a única
consoladores. pessoa que buscou respostas para esta intri-
Podereis zombar. Talvez esta declara- gante pergunta.
ção tenha sido especificamente dirigida a Envelhecem. Zofar afirmou que o
Zofar, que em seu discurso anterior parece triunfo dos ímpios era curto (Jó 20:5 ). Com
ter fer ido Jó de maneira especial, e que não mais discernimento, Jó vê que a prosperi-
diz mais nada após esta réplica de Jó. dade dos ímpios pode continuar ao longo de
4. Eu me queixo. Jó deixa implícito toda a vida de les.
que se queixa a respeito de algo cuja causa 8. Seus filhos se estabelecem.
é sobrenatural. Os amigos de Jó afirm aram qu e os filh os
lmpacientar. Em vista do fato de ser Deus dos ímpios não sobreviveriam (Jó 18: 19).
quem o castiga, por que ele não se angustiaria? Jó questiona essa posição.

622
JÓ 2 1: 21

9. Sem temor. Os amigos de Jó defen- essa acusação era falsa. Aqui ele vai m ais
di am exatamente o oposto (Jó 15:21-24; além e se recu sa a lanç ar sua sorte com os
20:27, 28). ímpios , embora reconheça que eles desfru-
11. Seus filhos saltam de alegria. tam prosperidade, enqu anto este não é o
Um quadro de despreocupada felicidade e seu caso.
prosperidade. 17. Quantas vezes. Bildade havia dito:
12. Tamboril. O "tamboril" era um "Na verdade, a lu z do perverso se apagará"
tambor de mão. A "harpa", na verdade uma (Jó 18:5). Jó pergunta : Com que freq uência
lira, era um in strumento simples que con- isso realmente aco ntece?
sistia de uma armação de madeira através Reparte dores? Embora na ARC esta
da qual eram estiradas de quatro a sete cor- frase seja tradu zida como um a exclamação,
das . A "flauta" era de junco. Estes parecem é provável que deva ser traduzida como um a
repre sentar os três tipos de instrumen- pergunta, da mesma form a qu e as duas pri-
tos musicais: de percussão, cordas e sopro meiras frases do verso.
(sobre os antigos instrumentos musicais, ver 18. Palha. Esta frase também tradu-
p. 14-27). zida como uma exclam ação (ver ARC e
13. Em paz. Os ímpios têm vida prós- ACF) deve continu ar como par te da série
pera e livre de cuidados e morrem sem sofri- de perguntas que tiveram início no verso
m ento e sem doença prolongad a. N ão se anterior (como na ARA).
deve entender que Jó estivesse afirmando 19. Para seus filhos. A frase "dizeis
ser sempre esta a experiência dos ímpios , vós" foi acrescentada p elos tradutores . Ela
m as ele havia observado o suficiente na vida indica a objeção que Jó supõe que seus opo-
para saber que isto ocorria com frequên- nentes far iam a seus argumentos.
cia. Esta imagem da vid a está em completo Dar o pago. Esta parte do verso parece
desacordo com a dos am igos, que apresen- ser a resposta de Jó à obj eção mencionada
tavam os ímpios como pessoas invariavel- acima. Jó deseja que os próprios pecadores,
m ente atormentadas por sua consciênci a e não seus filh os, sintam o impacto de seus
(]ó 15: 20), que ficavam sem filh os (18:19) e atos ímpios.
sofriam morte trágica (20:24). 20. Seus próprios olhos. Este verso
14. Retira-te de nós. Estas declara- d á sequência ao p ensamento do anterior.
ções expressam a filosofia dos infiéis ao Jó observou que os pecadores morrem n a
longo d e todos os séculos . Os autossuficien- prosp e rida d e e e m aparente b e m -est a r, m as
tes não sentem necessidade de Deus, não ele gosta ri a que não fosse assim. Ele dese-
desejam conhecer os caminhos de Deus jaria que seus amigos estivessem certos
e não reconhecem a autoridade do Todo- em sua insistência de que o ímpio recebe a
Poderoso. Não estão interessados em nada recompen sa nesta vida, mas a experiência
qu e não prometa benefício imediato para lh e ensinou que eles não estão corretos em
si mesmos. seu ponto de vista.
16. Não provém deles. Alguns trad u- Furor. Ver Dt 32:33; Is 5l:l7, 22;
zem esta frase como uma pergu nta: "Não Jr 25:15; Ap 14:8.
provém deles a sua prosperidade?" 21. A sua casa. Os amigos de Jó defen-
O conselho. Satanás havia ac usado Jó diam que os filhos dos ímpios seria m puni-
de servir a D eus em troca de reco mpensas dos (ver com. do v. 19). Jó respond e que os
temporais. Jó, ao apegar-se a Deus, mesmo ímpios é que devem sofrer p or seus pró-
sem entender Seus caminhos, mostrou que prios pecados, pois, diz ele, na verdade,

623
21:22 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

o ímpio não se importa com o que acon- que muitas pessoas boas sofrem e que pes-
tece com sua família após a morte (ver soas ímpias prosperam.
Ez 18:1-23). 30. É poupado. Do heb. yechaseh,
22. Ensinará ciência a Deus [...]? da raiz chasah, "reter", cuja tradução é, às
]ó assinala que os caminhos de Deus são vezes, "impedir" (ver Gn 20:6), "negar" (ver
inescrutáveis e reconhece que é inútil o ser Gn 22:12, 16) ou "poupar" (ver SI 78:50).
humano tentar sondar ou mudar os cami- A frase aqui parece significar que os ímpios
nhos de Deus. são poupados das angústias da vida presente
23. Um morre. Novamente Jó enfatiza em vista do juízo vindouro, quando recebe-
que não há norma confiável pela qual expli- rão seu castigo. Esta observação está em har-
car o sofrimento ou a ausência dele na vida monia com a declaração de Pedro (2Pe 2:9).
de alguém. No dia da calamidade. A frase diz,
24. Baldes. Do heb. 'atinirn, um vocá- literalmente, "para o dia da ira", mas alguns
bulo que só ocorre aqui . O significado é a traduzem como "no dia da ira". Isto resulta
incerto. No hebraico moderno, 'atan sig- de forçar um pouco o significado da prepo-
nifica "colocar dentro", como, por exem- sição heb. le, cuja tradução correta é "para".
plo, azeitonas numa vasilha. A partir disto, A mudança é feita numa tentativa de har-
algu ns derivam o significado "baldes", como monizar as declarações deste verso com
na ARA. A LXX traz "o interior", a siríaca, o contex to, pois acredita-se que Jó ainda
"lados", isto é, "flancos". A NVI tradu z a estava enfatizando que os ímpios escapam
frase como: "tendo o corpo bem nutrido". das aflições.
Qualquer que seja a tradução correta, a 31. Quem lhe lançará em rosto [... ]?
figura obviamente denota prosperidade. Enqu anto o ímpio tem poder, ninguém ousa
25. Na amargura. Em con traste com a condená-lo abertamente ou puni-lo por sua
prosperidade de alguns, outros morrem em impiedade .
amargura após uma vida de miséria. Jó não 32. Finalmente. A palavra tradu zida
tenta explicar esta anomalia da vida. como "levado" significa "conduzir", "ca rre-
26. Juntamente. Na morte, a condição gar" em cortejo. A ideia parece ser de qu e o
de ambos é a mesma (ver com. de Jó 3:20). ímpio morre em plena honra e é levado em
27. Injustos desígnios. Jó tem cons- cortejo para sua sepultura.
ciência de que seus amigos o consideram 33. Os torrões do vale lhe são leves.
muito ímpio. Ele sabe que não tem a com- Uma figura de linguagem que não deve ser
paixão deles. interpretada como se ensinasse a consciên-
28. A casa. Os amigos de Jó haviam cia na morte (ver com. de SI 146:4).
afirmado que a casa dos ímpios seria des- Nau tem número. Desde o assassinato
truída (Jó 8:15, 22; 15: 34; 18:15, 21); eram cometido por Caim, os portais da sepultura
persistentes em sua teoria. No entanto, o se abrem e se fecham em ritmo interminá- ~ ~:
ponto de vista deles os levava a conclusões vel. Houve apenas duas exceções: Enoque
errôneas, porque julgavam que todos que e Elias. A ceifa implacável continuará até
passam por infortúnios são ímpios. que, finalmente, seja "tragada [... ] a morte
29. Os que viajam. Jó pede aos amigos pela vitória" (lCo 15:54).
que perguntem aos viajantes, que já obser- 34. Em vão. "A filosofia de vocês está
varam pessoas em diversos países, se eles errada", diz Jó a seus amigos. "A ideia de
não concordam com ele. Jó estava certo de vocês sobre a retribuição divina nesta vida
que a observação desses homens revelaria não é comprovada pelos fatos da experiência

624
JÓ 22:1

humana. Não há consolo no que vocês irritado, como no princ1p10. Suas declara-
dizem, porque não falam a verdade." Este ções são menos pessoais e mais profundas.
capítulo pode ser chamado de o triunfo Este discurso é marcado pelo fervor, pela
de Jó sobre seus oponentes. Ele não está confiança e pela reverência.

CAPÍTULO 22
1 Elifaz mostra que a bondade do homem de nada aproveita para Deus. 5 Ele acusa Jó
de diversos pecados. 21 Exorta-o ao arrependimento, com promessas de misericórdia.

l Então, respondeu Elifaz, o temanita: 16 Estes foram arrebatados antes do tempo;


2 Porventura, será o homem de algum pro- o seu fundamento, uma torrente o arrasta .
veito a Deus? Antes, o sábio é só útil a si mesmo. 17 Diziam a Deus: Retira-Te de nós. E: Que
3 Ou tem o Todo-Poderoso interesse em que pode fazer-nos o Todo-Poderoso?
sejas justo ou algum lucro em que faças perfei- 18 Contudo, Ele enchera de bens as suas
tos os teus caminhos? casas. Longe de mim o conselho dos perversos!
4 Ou te repreende pelo teu temor de Deus 19 Os justos o veem e se alegram, e o ino-
ou entra contra ti em juízo? cente escarnece deles,
5 Porventura, não é grande a tua malícia, e 20 dizendo: Na verdade, os nossos adversá-
sem termo, as tuas iniquidades? rios foram destruídos, e o fogo consumiu o resto
6 Porque sem causa tomaste penhores a teu deles.
irmão e aos seminus despojaste das suas roupas. 21 Reconcilia-te, pois, com Ele e tem paz, e
7 Não deste água a beber ao cansado e ao fa- assim te sobrevirá o bem.
minto retiveste o pão. 22 Aceita, peço-te, a instrução que profere e
8 Ao braço forte pertencia a terra, e só os ho- põe as Suas palavras no teu coração.
mens favorecidos habitavam nela. 23 Se te converteres ao Todo-Poderoso,
9 As viúvas despediste de mãos vazias, e os serás restabelecido; se afastares a injustiça da
braços dos órfãos foram quebrados. tua tenda
lO Por isso, estás cercado de laços, e repen- 24 e deitares ao pó o teu ouro e o ouro de
tino pavor te conturba Ofir entre pedras dos ribeiros,
11 ou trevas, em que nada vês; e águas trans- 25 então, o Todo-Poderoso será o teu ouro e
bordantes te cobrem. a tua prata escolhida.
12 Porventura, não está Deus nas alturas 26 Deleitar-te-ás, pois, no Todo-Poderoso e
do céu? Olha para as estrelas mais altas. Que levantarás o rosto para Deus.
altura! 27 Orarás a Ele, e Ele te ouvirá; e pagarás
13 E dizes: Que sabe Deus? Acaso, poderá os teus votos.
Ele julgar através de densa escuridão? 28 Se projetas alguma coisa, ela te sairá
14 Grossas nuvens O encobrem, de modo bem, e a luz brilhará em teus caminhos.
que não pode ver; Ele passeia pela abóbada 29 Se estes descem, então, dirás: Para cima!
do céu . E Deus salvará o humilde
15 Queres seguir a rota antiga , que os ho- 30 e livrará até ao que não é inocente; sim ,
mens iníquos pisaram? será libertado, graças à pureza de tuas mãos.

625
22:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

1. Respondeu Elifaz. A característica resposta negativa: "Certamente que não!


distintiva deste terceiro discurso de Elifaz é Se Ele está reprovando você, deve ser por-
o fato de que ele acusa Jó de pecados espe- que você não O teme. O fato de você estar
cíficos contra o próximo. Embora Elifaz seja sendo reprovado é positiva evidência de sua
o mais gentil dos amigos, ele parece, neste culpa." O temor é usado no sentido de pie-
discurso, estar fazendo um esforço desespe- dade, isto é, a ideia do verso seria: certa-
rado para defender sua posição. Ele encerra mente Deus não aflige um homem porque
este discurso da mesma forma que o pri- ele é piedoso!
meiro, isto é, com um apelo a Jó para que Juízo. Jó repetidamente expressou o
mude seus caminhos a fim de ser liberto desejo de apresentar seu caso diretamente
do sofrimento. a Deus (ver Jó 13:3). Elifaz considera isso
2. De algum proveito. Este verso con- um absurdo.
tém a primeira de quatro perguntas que, 5. Grande a tua malícia. Com esta
tomadas em conjunto, têm sido conside- declaração Elifaz inicia uma enumeração do
radas como um silogismo. Segundo este que ele considera que sejam os pecados de Jó.
esquema , as primeiras duas perguntas 6. Tomaste penhores. Um "penhor" é
(v. 2, 3) constituem a premissa maior; a ter- o bem dado por um devedor ao credor como
ceira pergunta (v. 4), a premissa menor; e a garantia. O crime atribuído a Jó era o de
quarta pergunta (v. 5), a conclusão. No v. 2, exigir tai s penhores sem justa razão, isto é,
Elifaz admite que um sábio pode buscar quando não havia dívida, quando a dívida já
vantagem para si próprio, mas nega que estava paga, ou que o penhor ia muito além
alguém possa fazer favores a Deus. Elifaz do valor da dívida (ver Ne 5:2-ll). Segundo
infere que Jó considera que Deus tenha o código levítico, as roupas exigid as como
alguma obrigação para com ele, o que Elifaz penhor precisavam ser devolvidas antes do
crê ser injustificad o. pôr do sol (Êx 22:26, 27). Também era proi-
3. Tem o Todo-Poderoso interesse bido tomar como penhor pedras de moinho
[...]? Elifaz apresenta Deus como alguém (Dt 24:6). Tirar vantagem do pobre injus-
extremamente impessoal. Ele declara que tamente tem sido uma falha comum da
a justiça ou a perfeição do ser humano não humanidade em todas as eras .
traz nem prazer nem lucro para Deus. Parece Os pecados de que Elifaz acusa Jó
estar se esforçando para demonstrar que os são maus atos frequentemente pratica-
motivos que impelem Deus a infligir sofri- dos por pessoas ricas e influentes. A maio-
mento não são egoístas nem arbitrários. ria dos verbos hebraicos nos v. 6 a 9 está
Contudo, no esforço para provar sua ideia, num tempo que sugere a ideia de frequên-
Elifaz deixa de fazer justiça ao caráter divino. cia, indicando que Elifaz representava esses
O salmista, porém, tinha uma concepção pecados como o modo de vida habitua] de
mais adequada de Deus (Sl147:ll ; 149:4). Jó. Tanto quanto se saiba, a única evidên-
4. Pelo teu temor. Têm sido dadas aqui cia que ele tinha de Jó ter cometido esses
duas interpretações de significados diferen- pecados era o sofrimento dele. Um terrível
tes: (1) Elifaz está perguntando a Já se ele infortúnio, de acordo com a ideia de Elifaz,
acha que Deus tem medo dele (como n a pressupunha graves pecados.
ARC: "ou te repreende, pelo temor que tem 7. Água. Dar água ao sedento era con-
de ti?"); (2) Elifaz pergunta: "ou te repreen- siderado no antigo Oriente um dos deve-
de pelo teu temor de Deus?" (como na res mais elementares para com o próximo
ARA). Esta última pergunta implica uma (Pv 25:21). Isaías menciona os temanitas

626
JÓ 22:13

(o povo de Elifaz) como pessoas que leva- pelo que disseram (Jó 42:7). Não é sufi-
riam água aos sedentos e pão aos fugitivos ciente a declaração d e fatos abstratos; é
(Is 21:14). essencial a aplicação correta de tais fatos.
8. Braço forte. Literalmente, "homem No cap. 21, Jó comprova sua argumenta-
de braço". O "braço" na Bíblia é símbolo de ção com fatos observáveis e inegáveis. Em
poder (Sl10:15; 89:13; 98:1; Ez 30:21). Alguns vez de enfrentar esses fatos, Elifaz repreen-
consideram este verso como uma referência deu a Jó por negar a providência divina e
intencional a Jó. Se este é o caso, Elifaz quis procurou obscurecer o que Deus realmente
dizer que Jó havia desapossado os pobres e faz, chamando a atenção para o que Deus é
ocupado a terra à força. Outros entendem capaz de fazer.
que os de "braço forte" e os "favorecidos" Muitos, desde o tempo de Elifaz, têm
eram os amigos e os empregados de Jó. caído em semelhante erro. O que Deus
9. As viúvas despediste. A opres- escolhe fazer é bem diferente do que Ele
são destas classes . de p essoas é conside- teoricamente é capaz de fazer. Jó procurava
rada na Bíblia como crime grave (Dt 27:19; entender a D eus, enquanto Elifaz mera-
~ ... Jr 7:6; 22:3). Jó não podia deixar passar esta mente tentava defendê-Lo. Em longo prazo,
acusação sem refutá-la (ver sua resposta em a pessoa que tenta esclarecer os mistérios da
Jó 29:13; 31:21, 22). atuação de Deus termina por representá-Lo
10. Por isso. Elifaz não se arrisca a dar Deus de forma mais justa do que os
oportunidade para Jó interpretar mal suas acomodados com meras expressões de sub-
declarações. Ele expressa conclusões espe- missão. É claro que a mente humana não
cífic as: enfatiza que os infortúnios de Jó pode sondar os caminhos de Deus, mas
resultam diretamente dos maus-tratos por deve procurar conhecer diligentemente o
ele infligidos aos fracos e necessitados. que é possível compreender sobre Ele.
Laços. Isto pode ser comparado com a É apropriado que se empreguem as
ameaça de Bildade no cap. 18:8 a lO e com melhores energias a fim de compreender
o reconhecimento de Jó (19:6). o que D eus achou por bem revelar quanto
Repentino pavor. Ver Jó 7:14; 13:21. à Sua m aneira de agir em relação ao ser
11. Trevas. Um símbolo de confusão e humano. O próprio fato de Ele achar con-
calamidade (ver Jó 19:8; 23:17). veniente dar certas informações é evidência
Águas. Figura comum na Bíblia para de que deseja que elas sejam conhecidas.
representar calamidade (ver Jó 27:20; Mas o ser humano envereda por caminho
SI 42:7; 69:1 , 2; 124:4, 5; Is 43:2; Lm 3:54). perigoso quando presume poder sondar
Os v. lO e 11 constituem uma transição aquilo que Deus não achou por bem reve-
da acusação feita na seção anterior para a lar. Nesse sentido, muitos se extraviaram e
advertência que vem a seguir. naufragaram espiritualmente. Portanto, é
12. Nas alturas. Elifaz chama a aten- preciso contentar-se com o que Deus reve-
ção para a transcendência e a onipotên- lou , mas ser diligente em buscar compreen-
cia de Deus. Esta é meramente mais uma der o máximo possível à mente finita.
repetição do argumento dos amigos de Jó. 13. Densa escuridão. Nos v. 13 e 14,
Eles colocavam grande ênfase na sobera- Elifaz coloca palavras na boca de Jó. Ele
nia de Deus. Até certo ponto, muitas de n ão via como Jó podia manter suas opi-
suas declarações estavam corretas. Mas, no niões sem negar a possibilidade de Deus
final, o próprio D eus, que eles descreviam conhecer as condições reinantes na Terra
em palavras tão exa ltadas, os repreendeu (ver SI 10:11; 73:11; 94:7; Is 29:15; Ez 8:12).

627
22: 14 COM E NTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Jó é acusado de pensar que Deus não não se regozijaram quando Deus escolheu
enxerga o que está além das escuras nuvens punir alguém tão ímpio quanto supunham
que O cercam (ver SI 18:ll ; 97:2). que Jó fosse?
14. Abóbada. Do heb. chug, literal- Há um sentido legítimo em que os
mente, "um círculo", como em Is 40:22. bons podem se regozijar com a punição
15. Queres seguir a rota antiga[... ]? dos ímpios. N ão se regozijam pelo fato de
Ou, "Você vai continuar no velho cami- o pecado ter sido cometido, nem pela misé-
nho que os perversos palmilharam?" (NVI). ria que acompanha a punição. Eles se rego-
Elifaz insinua que a intenção de Jó é lançar zijam pelo fato de o mal ser erradicado e de
a sorte com os ímpios prósperos que ele des- o bem, por fim, triunfar.
creveu no capítulo anterior (v. 7-15). Alguns 20. Nossos adversários. Do heb.
entendem isso como uma referência aos qimanu, literalmente, "nosso levantamento".
antediluvianos (ver Jó 22:16). As versões que traduzem esta expressão
16. Torrente. Elifaz enfatiza a insegu- como "nossos adversários" consideram o
rança dos ímpios. verso como uma declaração do "inocente"
17. Retira-Te de nós. Jó havia, ante- do verso anterior, como se ele estivesse
riormente, atribuído estas palavras aos dizendo: "N a verdade , aqueles que se levan-
ímpios prósperos (Jó 21 :14, 15). taram contra nós foram destruídos." A LXX
Fazer-nos. O hebraico diz: "fazer-lhes" traduz a palavra como "riquezas", e nisto é
(BJ, margem), mas a LXX e a Siríaca dizem seguida pela NTLH.
"fazer-nos", o que torna a frase uma expres- Fogo. Outro símbolo que descreve a
são adicional de arrogância. destruição dos ímpios.
18. Ele enchera de bens as suas 21. Reconcilia-te. Este verso inicia
casas. Talvez a frase seja irônica, com o o apelo de Elifaz para que Jó corrija seus
seguinte significado: "Você está querendo caminhos. Elifaz acha óbvio que Jó seja um
dizer que foi Ele que encheu as casas deles pecador e que não esteja familiarizado nem
de bens?" Ou talvez Elifaz estivesse expres- reconciliado com D eus. O apelo é belo, con-
sando o que lhe parecia um contraste entre tudo, mal aplicado.
o repentino juízo que sobrevém aos ímpios e Paz. Ver Rm 5:1.
o longo período de prosperidade que o pre- O bem. Uma análise do "bem" que
cede, o que faz parecer que eles estão isen- resulta da comunhão com Deus revela que
tos de punição. No cap. 21, Jó enfatizou a ele inclui o seguinte: (1) perdão do pecado,
prosperidade dos ímpios; E lifaz destaca (2) certeza da salvação, (3) paz de consciên-
~ ,.. aqui sua segura destruição. cia, (4) vitória sobre o pecado, (5) apoio na
Conselho. A última frase do v. 18 é um provaç ão, (6) a alegria do serviço e (7) parti-
eco da declaração de Jó (2 1:1 6). Jó usou a cipação no reino da glória.
expressão após sua descrição dos pecadores 22. A instrução. Do heb. torah. Esta é
prósperos. Elifaz, depois de também des- a única ocorrência da palavra no livro de Jó.
crever os ímpios, entre os quais ele aparen-. Parte da experiência de permanecer junto a
temente classifica Jó, repete essa expressão Deus consiste em receber Sua instrução e
para afirmar sua piedade. prezar Suas palavras .
19. E se alegram. Os justos são des- 23. Restabelecido. Esta parece ser
critos como pessoas que se alegram com uma promessa de recon strução e restaura-
a destruiç ão dos ímpios. Se esta era uma ção condicionada à conversão a D eu s por
reação apropriada, por que os amigos de Jó parte de Jó. Alguns adotam o texto da LXX

628
JÓ 22:30

para a primeira parte do verso, como é o Jó 7: 17-20; 9:17, 34; 10:15-17; 13:2 1; 14:6-13).
caso da NTLH: "Se você voltar para o Todo- 27. Ele te ouvirá. Jó acha que havia
Poderoso e se humilhar. .." um estranho abismo entre ele e Deus. Em
Tua tenda. Ver Jó 11:14, em que Zofar ocasiões anteriores, ele orou e Deus o ouviu;
insinua a existência de ganhos adquiridos agora Deus parece distante. Elifaz promete
ilicitamente na tenda de Jó. que a antiga intimidade será restaurada se
24. Ao pó. Isto seria uma descrição das Jó se arrepender.
bênçãos que Elifaz acreditava que viriam 29. O humilde. Ver Mt 23:12.
ap ós o arrependimento de Jó, ou uma 30. Ao que não é. Do heb. 'i, que, às
declaração de que o ouro era de menor vezes, significa "ilha", mas que é também
importância, comparado à comunhão com uma partícula negativa . Atribuindo-se a ela
o Altíssim o, e que, portanto, poderia ser a função negativa, o sentido da frase é : "Ele
lançado ao pó. livra mesmo o que não é inocente." O signi-
25. Ouro. Do heb. betser, a mesma ficado parece ser o de que Deus livrará, a
palavra usada no v. 24. A palavra tam- pedido de Jó, até o pecador. A LXX dá um
bém significa "fortaleza", mas já que está sentido oposto, ao traduzir a frase como: "Ele
tão estreitamente relacionada com o pen- livrará o inocente." Neste caso, Elifaz esta-
samento anterior, é mais natural traduzi-la ria apenas afirmando uma de suas premis-
como "ouro" (ver o que Jó diz em 31:24, 25). sas básicas, isto é, que Deus faz prosperar
26. Deleitar-te-ás. Em vez de queixas, os justos.
tal comunhão com Deus traria felicidade e Será libertado. A LXX diz: "serás
confiança (comparar isto com as queixas de libertado".

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

12 - C BV, 434 MDC, 131; MCH, 336; 22- MCH, 28


2 1 -M, 126; Ed, 14; T5, 742 25 -29- CBV, 410
21, 22- CBV, 410

CAPÍTULO 23
1 Jó anseia comparecer diante de Deus, 6 confiando em Sua misericórdia.
8 Deus, que é invisível, observa nossos caminhos. 11 A inocência
de Já. 13 O decreto de Deus é imutável.

l Respondeu, porém , Jó: 5 Saberia as palavras q ue Ele me respondes-


2 Ainda hoje a minha queixa é de um revolta- se e entenderia o que me dissesse.
do, apesar de a minha mão reprimir o meu gemido. 6 Acaso, segund o a grandeza de Seu
3 Ah! Se eu soubesse onde O poderia achar! poder, contenderia comigo? Não; antes, m e
Então, me chegaria ao Seu tribunal. atenderia .
4 Exporia ante Ele a minha causa, encheria 7 Ali, o homem reto pleitearia com Ele, e eu
a minha boca de argumentos. me livraria para sempre do meu juiz.

629
23: l COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

8 Eis que, se me adianto, ali não está; se 13 Mas, se Ele resolveu alguma coisa, quem
torno para trás, não O percebo. O pode dissuadir? O que Ele deseja, isso fará.
9 Se opera à esquerda, não O vejo; esconde-se 14 Pois Ele cumprirá o que está ordenado a
à direita, e não O diviso. meu respeito e muitas coisas como estas ainda
lO Mas Ele sabe o meu caminho; se Ele me tem consigo.
provasse, sairia eu como o ouro. 15 Por isso, me perturbo perante Ele; e,
11 Os meus pés seguiram as Suas pisadas; quando O considero, temo-O.
guardei o Seu caminho e não me desviei dEle . 16 Deus é quem me fez desmaiar o coração,
12 Do mandamento de Seus lábios nunca e o Todo-Poderoso, quem me perturbou,
me apartei, escondi no meu íntimo as palavras 17 porque não estou desfalecido por causa das
da Sua boca. trevas, nem porque a escuridão cobre o meu rosto.

1. Respondeu, porém, Jó. Ele res- 5 Que Ele me respondesse. Jó está


ponde a Elifaz num discurso que ocupa dois cansado de argumentações humanas. O que
capítulos (23 e 24), totalizando 42 versos. ele está ansioso para conhecer é o ponto de
Diferentemente das respostas anteriores vista de Deus .
de Jó, este discurso é em form a de monó- 6. Contenderia comigo? Jó manifesta
logo, sem que ele se dirij a diretamente aos confiança na justiça divina.
amigos. Jó começa justificando a veemên- 7. O homem reto. A consciência de Jó
cia de suas queixas. No cap. 24 ele recapi- testifica de sua integridade e retidão inte-
tula seus argumentos, defendendo que os riores. Ele acha que , se puder fazer com
ímpios gozam prosperidade , e termina com que Deus o ouça, será vindicado de uma
um desafio para que seus oponentes pro- vez por todas. Sua queixa básica nos v. I
vem que isso não é verdade. a 7 é de que ele não sabe como chegar até
2. De um revoltado. Isto é o que diz lite- Deus . Jó parece achar que, se tão somente
ralmente o hebraico. "Com amargura" ou "em conseguir chegar até a presença de Deus,
amargura" (ACF, ARC, NVI) é o que se encon- Ele o tratará com bondade.
tra na versão Siríaca, na Vulgata e nos Targuns. 8. Se me adianto. Começa aqui uma
Jó não se desculpa por suas queixas. Ele reco- nova estrofe. Os v. 8 e 9 descrevem vivida-
nhece que, apesar de tudo o que seus oponen- mente a busca fútil que Jó empreende para
tes disseram sobre seu direito de se queixar, encontrar a Deus . Jó olha para todos os pon-
mesmo assim ele se queixa amargamente. tos cardeais à procura de Deus, mas em vão.
Mão. A frase diz, literalmente: "A minha Os antigos geógrafos orientais se orientavam
mão pesa sobre meu gemido" (ACF), signi- voltados para o leste, em vez de para o norte,
ficando que Jó tenta reprimir seu gemido, como nós o fazemos. O oeste estava atrás
que não é de forma alguma proporcional às deles, o sul à direita e o norte à esquerda. <41 g;
calamidades. A LXX traduz a frase como: 10. Sairia. Este é um dos versos-
"Sua mão pesou sobre meu gemido." chave do livro. Embora Jó pareça não
3. Ao Seu tribunal. Literalmente, "Seu encontrar a Deus , ele crê que o Senhor
assento". Jó é afligido pelo senso do afasta- conhece seus caminhos e que tem um pro-
m ento e da inacessibilidade de Deus. Ele pósito na m a neira em que lida com ele.
acha que precisa, de alguma forma, encon- Jó começa a compreender que está sendo
trar a Deus, e repete seu desejo de compare- provado. Ele não sabe do desafio feito
cer diretamente diante d Ele. por Satan ás com relação a sua pessoa.

630
JÓ 23:17

Um dos degraus da escada pela qual Jó 13. Se Ele resolveu. VerTg 1:17. Jó com-
ascendeu do desespero para a fé foi seu preendia claramente a soberania de Deus.
reconhecimento de que não estava sendo 14. Ordenado a meu respeito. Do
punido nem tratado injustamente, mas que heb. chuqqi, literalmente, "a porção que me
foi provado para que saísse como ouro puro foi estipulada" (ver o uso desta palavra no
de uma fornalha. v. 12). O fato de a tradução no v. 14 reque-
12. No meu íntimo. Ou, "meu ali- rer obviamente o significado de "ordenado",
mento" (ARC). O heb. chuqqi, literalmente, em vez de "íntimo", faz parecer razoável
"a porção que me foi estipulada", pode ser que a mesma tradução deva ser seguida em
alimento (ver Gn 47:22, onde choq é tra- ambos os versos (ver com. do v. 12).
duzido como "porção") ou qualquer outra 15. Por isso, me perturbo. O medo
coisa que seja estipulada. Choq é frequente- de Jó era provocado por seu sofrimento e
mente traduzido como "estatuto" (Êx 15:25, por seu futuro incerto. Um dos grandes pro-
26; 18:16; etc.) e, às vezes , "lei" (Gn 47:26; pósitos da mensagem de Deus a Jó (cap. 38
l C r 16: 17; Sl 94:20; 105:10). Por isso, alguns a 41) era dissipar esse temor e essa incer-
interpretam o significado da expressão como teza. Deus não deixa Seus filhos no medo.
"mais do que minha própria lei", isto é, ele 16. Desmaiar. Ver Dt 20: 3.
teria colocado a vontade de Deus acima de 17. Trevas. O que esmagava Jó não era
suas próprias inclinações (cf. a tradução da tanto o sofrimento, m as o pensamento de
NTLH: "Sempre faço a Sua vontade e não a que o Deus que ele amava e servia é que
minha"). A ARA segue o texto da LXX: "no lhe enviara o sofrimento. Ele reconhece a
meu íntimo". Se essa é a ideia, Jó sugere que escuridão que cerca a Deus e cogita por que
as palavras da boca de Deus são para ele um o Senhor não o destruiu antes de sua cala-
tesouro preciosíssimo. Uma interpretação midade, ou n ão a removeu dele. As queixas
diferente é exposta no com. do v. 14. têm continuação no cap. 24.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

3-10 - Ed, 156 lO- CS, 300; Ev, 632; TM, 355; T I, 83; T7, 210, 274

CAPÍTULO 24
1 A impiedade muitas vezes não é punida. 17 Há um
julgamento secreto para os ímpios

l Por que o Todo-Poderoso não designa 4 Desviam do caminho aos necessitados, e


tempos de julgamento? E por que os que O co - os pobres da terra todos têm de esconder-se.
nhecem não veem tais dias? 5 Como asnos monteses no deserto, saem
2 H á os que removem os limites, roubam os estes para o seu mister, à procura de presa no
rebanhos e os apascentam . campo aberto, como pão para eles e seus filhos.
3 Levam do órfão o jumento, da viúva, 6 No campo segam o pasto do perverso e lhe
tomam-lhe o boi. rabiscam a vinha.

631
24: I COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

7 Passam a noite nus por falta de roupa e 17 Pois a manhã para todos eles é como
não têm cobertas contra o frio. sombra de morte; mas os terrores da noite lhes
8 Pelas chuvas das montanhas são molhados são familiares.
e, não tendo refúgio, abraçam-se com as rochas. 18 Vós dizeis: Os perversos são levados ra-
9 Orfãozinhos são arrancados ao peito, e dos pidamente na superfície das águas; maldita é a
pobres se toma penhor; porção dos tais na terra; já não andam pelo ca-
lO de modo que estes andam nus, sem minho das vin has.
roupa, e, famintos, arrastam os molhos. 19 A secura e o calor desfazem as águas da
ll Entre os muros desses perversos espre- neve; assim faz a sepultura aos que pecaram.
mem o azeite, pisam-lhes o lagar; contudo, pa- 20 A mãe se esquecerá deles, os vermes
decem sede. os comerão gostosamente; nunca mais haverá
~~ 12 Desde as cidades gemem os homens, e a lembrança deles; como árvore será quebrado o
alma dos feridos clama; e, contudo, Deus não injusto,
tem isso por anormal. 21 aquele que devora a estéril que não tem
13 Os perversos são inimigos da luz, não co- filhos e não faz o bem à viúva.
nhecem os Seus caminhos, nem permanecem 22 Não! Pelo contrário, Deus por Sua força
nas Suas veredas. prolonga os dias dos valentes; veem-se eles de
14 De madrugada se levanta o homicida, pé quando desesperava m da vida.
mata ao pobre e ao necessitado, e de noite se 23 Ele lhes dá descanso, e nisso se estribam;
torna ladrão. os olhos de Deus estão nos caminhos deles.
15 Aguardam o crepúsculo os olhos do adúl- 24 São exaltados por breve tempo; depois,
tero; este diz consigo: Ninguém me reconhece- passam , colhidos como todos os mais; são corta-
rá ; e cobre o rosto. dos como as pontas das espigas.
16 Nas trevas minam as casas, de dia se 25 Se não é assim, quem me desmentirá e
conservam encerrados , nada querem com a luz. anulará as minhas razões?

1. Não designa tempos. A primeira propriedades vizinhas n ão eram dividi-


frase d este verso pode ser literalmente das por cercas d e qualque r tipo, como no
traduzida da seguinte forma: "Por que os antigo Oriente em geral, a única forma de
tempos não são entesourados da parte do distinguir entre a terra de um homem e a
Todo-Poderoso?" Estes "tempos" p are cem de outro era por m eio de marcos, que geral-
se refe rir a ocasiões especiais em que Deus mente consistiam de pequen a s pedras colo-
Se mostra em ação, vindicando os justos e cadas a intervalos na linha de divisa . Uma
julgando os pecadores. Jó, em sua p erplexi- forma fácil de roubo era d eslocar esses mar-
dade, n ão vê evidências desses tempos de cos, colocando-os mais para dentro da terra
retribuição da parte de D e us. do vizinho.
Não veem tais dias. Isto é, os dias de Roubam os rebanhos. Eles roubam os
retribuição. rebanhos de outros e os apascentam junto
2 . Os limites. Ou , "os m arcos de divisa" com os seus.
(NTLH). Jó começa um recital do que lhe 3. Órfão. Ver lSm 12: 3. Deus deu regu-
parece m ser evidências de que D e us nem lamentos destinados a reprimir a tendência
recompensa os justos nem pune os ímpios natural dos egoístas de não tratar com bon-
(quanto aos m arcos, ver Dt 19:14; 27:17; dade os órfãos e as viúvas (ver Êx 22:22;
Pv 22:28; 23:10; Os 5:10). Nos lugares onde Dt 24:17; 27:19 ; SI 94:6; Is 1:23; 10:2;

632
JÓ 24:16

Jr 5:28; Zc 7:10). O jumento do órfão e o boi intervir a fim de punir os responsáveis por
da viúva estavam entre as mais valiosas pos- tal crueldade; ao contrário, Ele os deixa
ses desses desafortunados. prosseguir em sua má conduta sem qual-
4. Desviam do caminho. O signifi- quer interferência .
cado é que os ímpios forçam os pobres a sair 11. Espremem o azeite. Os mesmos
da estrada e esperar até que eles passem. desafortunados são empregados nas pro-
Ou, então, a declaração pode significar que priedades dos opressores para extrair óleo
os ímpios tornam as estradas tão perigo- das azeitonas e vinho das uvas. São ator-
sas com sua violência que obrigam pobres mentados por constante sede, mas não têm
e necessitados a procurar desvios mais permissão de satisfazê-la com os produtos
seguros. Para se proteger, esses pobres se ao seu alcance.
amontoavam em qualquer refúgio que con- 12. Desde as cidades. O clamor dos
seguiam (ver Jó 30:6). oprimidos emerge não só dos desertos e das
5. Como asnos monteses no deserto. fazendas, mas também das cidades. O obje-
Talvez isto se refira aos bandos de saquea- tivo de Jó era mostrar, em oposição à crença
dores que vagueavam pelo deserto como errônea de seus amigos, que Deus não pune
m anadas de jumentos selvagens, ou aos imediatamente todo mau ato nem recom-
oprimidos e necessitados que eram banidos pensa toda boa obra. Muitas vezes , há um
da sociedade e obrigados a procurar subsis- longo tempo até que o vício seja punido e
tência precária como a do jumento selva- a virtude, recompensada. Portanto, o cará-
gem no deserto. ter de alguém não pode ser julgado por
À procura de presa. Isto é, como ali- sua prosperidade ou adversidade . Aqui se
mento para seus filhos. A preocupação de encontrava a falha básica na filosofia dos
Jó com a triste condição do povo comum supostos amigos de Jó.
reflete seu caráter justo. 13. Inimigos da luz. Este versículo ini-
6. A vinha. O texto pode ter duas inter- cia uma nova seção, que abrange os v. 13 a
pretações: (l) o sujeito oculto "eles" se refere 17 e trata de assassinos , adúlteros e ladrões .
aos saqueadores que pilham as plantações Esse tipo de iniquidade floresce na escuri-
para subsistir, ou (2) se refere aos pobres dão. Seus adeptos são "inimigos da luz" -
oprimidos que "rabiscam a vinha" do per- não só a luz do dia, mas também a luz da
~ ._ verso (ARA). razão, da consciência e da lei. Não possuem
8. São molhados. Uma vívida descri- qualquer restrição moral.
ção dos que vagueia m sem lar, procurando 15. Do adúltero. Ele também espera as
abrigo da tempestade. trevas para procurar sua presa. Disfarça-se
9. Orfãozinhos são arrancados. Esta secretamente para não ser apanhado (ver
é uma referência ao costume cruel de tomar Pv 7:8, 9).
crianças como escravas a fim de saldar a 16. Minam as casas. Antigamente
dívida do pai (ver Ne 5:5; cf. 2Rs 4:7). o roubo de casas era feito desta forma.
Toma penhor. Ver com. de Jó 22:6. As janelas eram poucas e ficavam muito
10. Arrastam os molhos. A figura de altas na parede. As portas eram forte-
um homem faminto carregando molhos de mente trancadas com ferrolhos e barras,
cereais, mas impedido de tirar algo deles mas as paredes, por serem feitas de barro,
a fim de satisfazer sua fome , é uma vívida entulho ou tijolos secos ao sol, eram fra-
descrição da opressão em todas as épo- cas e podiam ser facilmente rompid as (ver
cas. Contudo, para Jó, Deus não parece Ez 12:5, 12).

633
24:17 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

De dia se conservam encerrados. 21. A estéril. Nesta seção, Jó retoma a


A frase diz, literalmente: "de dia se fecham descrição da opressão dos fracos. A esterili-
com selo para si mesmos", isto é, se man- dade era considerada um dos maiores infor-
têm escondidos, "não saem" (NTLH), "se túnios possíveis (ver 1Sm 1:5-8). A opressão
enclausuram" (NVI). Esses criminosos de uma estéril indicava extrema crueldade.
odeiam a luz e amam as trevas. A mulher estéril era especialmente vítima
17. Sombra da morte. Ou, "profunda indefesa da opressão porque não tinha filho
escuridão". Quando a profunda escuridão para defender seus direitos. A esterilidade -4 ~
da noite se inicia, essas pessoas começam era considerada como resultado de algum
seu trabalho. A chegada da noite é para pecado e do desprazer divino.
elas o que o amanhecer é para outros. Este 22. Dos valentes. A frase diz, no
verso completa a seção iniciada no v. 13, hebraico: "Ele prolonga os dias dos valen-
que enfatiza a maneira como os transgres- tes." Muitos entendem que o pronome "ele"
sores do sexto, sétimo e oitavo mandamen- se refira ao opressor e consideram que o
tos amam as trevas e odeiam a luz. texto revele que os ímpios não só oprimem
18. Rapidamente na superfície os fracos, mas também que tornam desa-
das águas. Esta frase vívida pode sugerir gradável a vida dos valentes. Outros (como
a figura de um barco leve, de detritos flu- na ARA) consideram que "ele" se refira a
tuantes ou qualquer outro objeto leve que Deus: "Deus [... ] prolonga os dias dos valen-
se mova silenciosamente pela superfície da tes." Se esta é a interpretação correta, é
água. Os movimentos silenciosos e rápi- outra queixa de Jó quanto ao fato de Deus
dos de um ladrão são comparados a estes. não punir os ímpios.
Ou, talvez, a ideia seja de que os ímpios 23. Ele lhes dá descanso. Deus dá
serão levados como detritos num rio veloz. segurança ao perverso. Esta é a convicção
A porção. Isto é, seu modo de vida, seu de Jó, baseada em sua própria observação.
modo de ganhar a vida, é abominável. 24. São exaltados. Esta é a conclusão
Das vinhas. Suas vinhas não produ- de Jó com respeito à maneira como Deus
zirão. Eles têm vivido de pilhagem e não trata os ímpios. Seus amigos afirmam que
merecem ganhar sua subsistência por meio estes são punidos nesta vida por seus peca-
das vinhas. dos e que grandes crimes logo atrairiam
19. A secura e o calor. O significado grandes calamidades. Jó nega isso e diz
parece ser de que, assim como o calor do que o fato é que os perversos são exaltados.
verão faz com que a água da neve desapa- Contudo, ele sabe que chegará o tempo em
reça, da mesma forma a sepultura consome que eles receberão a recompensa por seus
os ímpios. maus atos. Jó afirma, porém, que a morte
20. A mãe se esquecerá deles. deles pode ser tranquila e fácil e que talvez
A ideia convencionalmente aceita sobre o nenhuma prova extraordinária do desprazer
destino do ímpio era de ser esquecido até divino acompanhe sua partida.
pela própria mãe, virar comida de vermes 25. Quem me desmentirá. Jó desafia
ou ser cortado como uma árvore. Nos versos seus amigos a provarem que sua proposição
anteriores a esta seção (v. 18-20) e nos que a está errada. Ele acha que tem o respaldo da
sucedem, Jó observa que a realidade da vida experiência humana, que seus amigos não
não está em conformidade com essa norma. podem refutar.

634
JÓ 25:6

CAPÍTULO 25
Bildade mostra que o homem não pode ser justificado diante de Deus.

l Então, respondeu Bildade, o suíta: Deus, e como seria puro aquele que nasce de
2 A Deus pertence o domínio e o poder; Ele mulher?
faz reinar a paz nas alturas celestes. 5 Eis que até a lua não tem brilho, e as estre-
3 Acaso, têm número os Seus exércitos? E las não são puras aos olhos dEle.
sobre quem não se levanta a Sua luz? 6 Quanto menos o homem, que é gusa no, e
4 Como, pois, seria justo o homem perante o filho do homem, que é verme!

I. Bildade. Esta curta resposta de Bildade seres sobrenaturais (ver 2Rs 6:16, 17; SI 68:17;
encerra o que os três amigos de Jó tinham a Dn 7:10; Mt 26:53; Hb 12:22). Como exérci-
dizer, pois Zofar não tenta responder. O dis- tos, essas hostes executam as ordens de Deus.
curso parece ser o esforço elaborado de alguém 4. Como, pois, seria justo [...]? Nem
que sentia a necessidade de dizer algo, mas Bildade, nem seus amigos, nem Jó podiam res-
que não sabia como refutar a linha argumenta- ponder a esta pergunta. Somente no tempo do
tiva de Jó. Longe de aceitar o desafio de Jó e de evangelho é que os seres humanos receberam
lidar com a dificuldade envolvida na prosperi- plena elucidação do princípio da justificação
dade dos ímpios, Bildade evita completamente pela fé (ver Rm 3:23-25; C! 1:25-27).
o assunto e se limita a tocar brevemente em dois 5. Não tem brilho. Bildade acredita
velhos e surrados temas: o poder de Deus e a que tanto a lua quanto as estrelas são imper-
pecaminosidade universal do ser humano. Ele feitas quando contrastadas com Deus , o cria-
não lança nova luz sobre nenhum desses temas. dor delas . Se assim é, quão pequ eno deve
Repete em grande parte o que Elifaz já havia parecer o homeml O que Bildade não sabia
dito em discursos anteriores (ver Jó 4:17; 15:14). é que o ser humano, a despeito de sua fra-
2. O domínio. Jó reconhecera ple- gilidade, é infinitamente mais precioso aos
namente a sabedoria de Deus (Jó 23:13). olhos de Deus do que as obras inanimadas
Contudo, Bildade podia fazer estas declara- da criação.
ções facilmente porque não estava passando 6. Que é verme. Ver Jó 7:5. Estas pala-
por uma experiência de sofrimento. Jó estava vras têm o objetivo de humilhar a Jó e de
passando por um teste pessoal de sua con- impressioná-lo com sua pequenez. Jó preci-
fiança em Deus. sava ser encorajado, não ser conscientizado de
Ele faz reinar a paz. Isto parece chamar sua fraqueza. Dessa forma, os amigos termi-
a atenção para o fato de que Deus é quem man- nam sua defesa da tradição: falando de ver-
tém a harmonia nas regiões celestes. mes! Em seu zelo por defender uma ideia,
3. Exércitos. A interpretação mais óbvia falharam em compreender a Deus e em soli-
deste termo é que ele se refira às hastes de darizar-se com o amigo que sofria.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

3- CBV, 434 6 -AA, 572

635
26:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

CAPÍTULO 26
1 ]ó reprova o espírito insensível de Bildade 5 e reconhece que
o poder de Deus é infinito e insondável

1 Jó, porém, respondeu: nuvens não se rasgam debaixo delas.


2 Como sabes ajudar ao que não tem força e 9 Encobre a face do Seu trono e sobre ele es-
prestar socorro ao braço que não tem vigor! tende a Sua nuvem.
3 Como sabes aconselhar ao que não tem 10 Traçou um círculo à superfície das águas,
sabedoria e revelar plenitude de verdadeiro até aos confins da luz e das trevas.
conhecimento! 11 As colunas do céu tremem e se espan tam
4 Com a ajuda de quem proferes tais pala- da Sua ameaça.
vras? E de quem é o espírito que fala em ti? 12 Com a Sua força fende o mar e com o Seu
5 A alma dos mortos treme debaixo das entendimento abate o adversário.
águas com seus habitantes. 13 Pelo Seu sopro aclara os céus, a Sua mão
6 O além está desnudo perante Ele, e não há fere o dragão veloz.
coberta para o abi smo. 14 Eis que isto são apenas as orlas dos
7 Ele estende o norte sobre o vazio e faz pai- Seus caminhos! Que leve sussurro temos ou-
rar a terra sobre o nada. vido dElel Mas o trovão do Seu poder, quem o
8 Prende as águas em densas nuvens, e as entenderá?

I. Jó. Aqui começa o longo discurso de Jó, 2. Como sabes ajudar [... ]! Os v. 2 a
que termina no cap. 31. Neste discurso, após 4 contêm uma série de exclamações e per-
descartar rapidamente o último discurso de guntas que objetivam revelar a frac a lógica
Bildade, Jó passa a explicar seus pontos de do discurso de Bildade. Es ta é a mais
vista . Ele fala, em primeiro lugar, do poder longa fala de Jó dirigida a um só indiví-
e da majestade de Deus (Jó 26:5-14); depois, duo. Geralmente, ele se dirigia aos três jun-
lida com as questões que dizem respeito a tos, na segunda pessoa do plural. Bildade
sua própria integridade e à forma como Deus não havia dito a Jó nada que ele já n ão sou-
trata os seres humanos. Ele admite que, no besse. Que bem fi zera pelo ato de lembrar
fi nal, a retribuição sobrevém aos ímpios a Jó que ele era um verme e que era total-
(Jó 27). No cap. 28, depois de prestar um mente imu ndo?
merecido tributo à inteligência e à engenhosi- 3. Aconselhar. Provavelmente um
dade do ser humano no que respeita às coisas comentário irônico sobre a ideia defendida ~ ~
terrenas, Jó diz que o mundo espiritual e os no breve discurso de Bildade. Supondo que
princípios do governo divino são para ele Jó admitisse sua falta de sabedoria, o que
inescrutáveis, e que sua única sabedoria ver- Bildade fez para remediá-la?
dadeira é a conduta correta. Finalmente, ele Verdadeiro conhecimento. Ou, "con-
volta a seu próprio caso e, após dar uma des- selho equilibrado".
crição de sua antiga vida próspera (cap. 29), 4. De quem é o espírito[ .. .]? Jó ques-
em contraste com sua vida desditosa atual tiona: de onde procede a sua autoridade?
(cap. Jó 30), ele conclui com uma declaração Certamente, não havia evidências d a ins-
de sua integridade nos vários deveres e obri- piração divina. Teria sido Elifaz quem m oti-
gações da vida (cap. Jó 31). vou Bildade a falar (ver Jó 4:17-19)?

636
JÓ 26:9

5. A alma dos mortos. No original não que o retrata como um lugar de ruína e des-
h á a palavra "alma". A frase diz: "os mortos", truição. A palavra ocorre seis vezes no AT
O termo heb. refa'im é aplicado (1) a uma (Jó 26:6; 28:22 ; 31:12; SI 88:11; Pv 15:11;
antiga raça de gigantes (Gn 14:5; 15:20; 27:20; c f. Ap 9: 11).
Dt 3:11; Js 17:15), (2) a um vale que ficava 7. O norte. Jó se volta do poder de Deus
fora de Jerusalém (Js 15:8; 18:16; 2Sm 5:18, manifesto na morte e na destruição para
22; 23:13; 1Cr ll:15; 14:9; Is 17:5) e (3) aos Seu poder manifesto na criação. Na direção
mortos (Sl88:IO; Pv 2:18; 9:18; 2l:l6; Is 14:9; do norte, o céu continha as mais importan-
26:14, 19). A derivação da palavra é incerta, tes constelações mencionadas no livro de
e não se sabe como ela poderia se referir, ao Jó. Nesta passagem, Jó reconhece que esses
mesmo tempo, a uma raça de pessoas e aos corpos celestes são sustentados pelo poder
mortos. Talvez o termo refa'im, que designa divino (ver Jó 9:8; SI 104:2; ls 40:22; 44:24;
uma raça, seja derivado de uma raiz diferente Zc 12:1).
do termo homógrafo que designa os mortos. A palavra traduzida como "estende" é
Alguns relacionaram as duas ideias obser- frequentemente usada para indicar a ação
vando que, como raça, os reja' im haviam de armar uma tenda (Gn 12:8; 26:25; 33:19;
sido extintos e tinham perdido o poder. Seus 35:21; Jz 4:11). Jó concebe os céus como se
orgulhosos representantes jaziam prostrados estivessem estendidos como uma tenda
no she'ol e a recordação deles se tornara vaga sem suportes.
e obscura. Daí se tornarem uma alusão ade- O vazio. Do heb. tohu, a palavra tradu-
quada dos mortos. zida como "sem forma" (em Gn 1:2). Em vez
Outros entendem que "mortos" venha de visualizar a Terra como se repousasse
da raiz rafah, que significa "tornar-se fraco", sobre colunas, como criam alguns antigos,
"diminuir a força", considerando os mortos sua concepção era a de ser ela sustentada
como sem força e incapazes. pelo poder do Deus que ele adorava .
O fato de que os refa'ún eram uma raça 8. Prende as águas. A metáfora é pro-
de gigantes está implícito em Deuteronômio vavelmente extraída dos odres de água tão
2:11, 20; 3:ll e 13. Aideia de estatura, prova- conhecidos no antigo Oriente, e especial-
velmente, é derivada, não de um significado mente na Arábia, para o armazenamento
inerente à palavra em si, mas do contexto. deste líquido. Esses odres podiam se rom-
O contexto de Jó 26:5 sugere que a refe- per com o peso do conteúdo, mas as nuve ns
rência é aos mortos. Bildade enfatizou a podiam conter grandes quantidades de
soberania de Deus nos céus. Jó acrescenta água sem tais riscos (ver Jó 38:37; Pv 30:4).
que o poder de Deus se estende até aos 9. Encobre. Isto é, ele cobre Seu trono
habitantes do she'ol (ver v. 6). de nuvens. O significado desta declaração
Tremem. Da raiz chil, "tremer", "con- pode ser de que Deus Se oculta aos senti-
torcer-se". Os mortos são figurativam ente dos físicos do ser humano. Deus acha por
representados como se estivessem cons- bem manter Sua comunhão com as pessoas
cientes (ver Is 14:9, lO), embora, de fato, em nível espiritual, em vez de em nível sen-
não o estejam (Sl146:4; Ec 9:5, 6). sorial. Embora as nuvens possam esconder
6. Além. Do heb. she'ol, um lugar figu- Seu trono da visão humana (ver lRs 8:1 2;
rativo onde os mortos são descritos como se Sl18:ll; 97:2), este existe, e um dia os redi-
estivessem juntos (ver Is 14:9, 10). midos o verão (Ap 22:1-4).
O abismo. Do heb. 'ahaddon. Um subs- A tradução "lua" em vez de "trono" (ver
tantivo empregado paralelamente a she'ol e NTLH, NVI) requer uma mudança na

637
26: lO COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

pontuação da palavra heb. lússeh para fazer duas definições, o texto revela o domínio de
com que ela seja lida como l{eseh. As pon- Deus sobre o mar.
tuações vocálicas só foram introduzidas no O adversário. Do heb. rahab (ver com.
7o séc ulo d .C. e, portanto, não eram empre- de Jó 9:13).
gadas nos documentos originais. M as, como 13. Sopro. Do heb . ruach, que tam -
regra geral, a grafia tradicional é aceita, a bém pode ser traduzido como "espírito" ou
~ I> menos qu e o contexto claramente indique "vento", como em dezenas de casos no AT.
uma mudança, por razões gra maticais ou de O contexto precisa determinar a escolha do
outra natureza. Aqui, o contexto não parece significado. Com um sopro de Deus , isto é,
favorecer tal alteração. com um vento que Ele envia, os céus, até
10. Traçou um círculo. A frase com- então tomados de nuvens e tempestades,
pleta diz, literalmente: "O decreto de um recobram sua serenidade. Tanto a tempes-
círculo sobre a face das águas." A versão tade quanto a calmaria são retratadas como
Siríaca e os Targuns traduzem como: "Ele vindas de Deus.
traçou um círculo sobre a fac e das águas ." Fere. A versões ARC e ACF empregam
A referência parece ser a form a do horizonte, o verbo "formar", mas o hebraico, literal-
que tem a aparência de um círculo e parece mente, di z: "ferir".
ser traçado com um compasso. O dragão veloz. Literalmente, "a ser-
Da luz e das trevas. A frase diz, lite- pente fugitiva" (ver NTLH ). Talvez Jó tivesse
ralmente: "até o fim da [o limite entre a] luz em mente a guerra no Céu quando Satanás,
e as trevas", isto é, o horizonte. a "antiga serpente", foi expulso (Ap 12:7-9;
"Ali as rodas férvidas suspende: cf. Rm 16:20).
Então, pegando no compasso de ouro 14. Orlas. Do heb. q etsoth, "fins",
(Q ue, preparado no arsenal do Eterno, "extremidades". Jó se esforçou para retra-
Guardado estava para em tempo fixo tar a Deus como o grande Criador e sus-
Circunscrever os términos do Mundo), tentador do universo . Seu método consistiu
Firma-lhe uma das pontas, e sobre ela em ilustrar o poder de D eus referindo-se
A outra vira em redor pelo amplo Abismo. a fenômenos naturais. Mas, depois de ter
E disse:- "Os teus confins, ei-los, ó Mundo; feito seu melhor, ele exclama: "Eis que isto
Estende-te até 'qui, daqui não passes." são apenas as orlas dos Seus caminhos! " Jó
(John Milton, Paraíso Perdido, Canto foi capaz de descrever apenas os aspectos
VII; Trad . de António José de Lima Leitão) periféricos do poder de D eus.
11. Colunas. Esta parece ser uma Leve sussurro. Literalmente, "o sus-
figura que descreve as montanhas no hori- surro de uma palavra". O que sabemos sobre
zonte, sobre as quais acreditava-se que o Deus é meramente um leve murmúrio.
cé u repousava. Trovão. Em contraste com o sussurro,
12. Fende. Do heb. raga', "perturbar", Jó compara o real poder de Deus ao tro-
"agitar" (ver NVI) ou "estar em repouso" vão. Ele sugere que mencionou apenas uma
(ver BV). Raga' ilustra como certas palavras pequena fração das gra ndes obras de D eus.
podem expressar ideias opostas. Quando Dificilmente poderia ter escolhido lingua-
essas palavra s são usadas , o c.o ntexto pre- gem mais nobre para expressar seus pro-
cisa de terminar a escolha do significado. fundos sentimentos quanto à maneira como
No caso em pauta, qualquer dos dois sig- a glória divina ultrapassa o conhecimento
nificados faz sentido; e, com qualquer das humano .

638
JÓ 27: l

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

6- Ed, 132 7-14- Ed, 131; T8, 282 lO- AA, 572; San, 53

CAPÍTULO 27
1 Jó afirma sua sinceridade. 8 O ímpio não tem esperança.
11 As posses dos ímpios se transformam em maldições.

Prosseguindo Jó em seu discurso, disse: 12 Eis que todos vós já vistes isso; por que,
2 Tão certo como vive Deus, que me tirou pois, alimentais vãs noções?
o direito, e o Todo-Poderoso, que amargurou a 13 Eis qual será da parte de Deus a porção
minha alma, do perverso e a herança que os opressores rece-
3 enquanto em mim estiver a minha vida, e berão do Todo-Poderoso:
o sopro de Deus nos meus narizes, 14 Se os seus filhos se multiplicarem, será
4 nunca os meus lábios falarão injustiça, para a espada, e a sua prole não se fartará de pão.
nem a minha língua pronunciará engano . 15 Os que ficarem dela, a peste os enterrará,
5 Longe de mim que eu vos dê razão' Até e as suas viúvas não chorarão.
que eu expire, nunca afastarei de mim a minha 16 Se o perverso amontoar prata como pó e
integridade. acumular vestes como barro,
~ 11> 6 À minha justiça me apegarei e não a lar- 17 ele os acumulará, mas o justo é que os
garei; não me reprova a minha consciência por vestirá, e o inocente repartirá a prata.
qualquer dia da minha vida. 18 Ele edifica a sua casa como a da traça e
7 Seja como o perverso o meu inimigo, e o como a choça que o vigia constrói.
que se levantar contra mim, como o injusto. 19 Rico se deita com a sua riqueza, abre os
8 Porque qual será a esperança do ímpio, seus olhos e já não a vê .
quando lhe for cortada a vida, quando Deus lhe 20 Pavores se apoderam dele como inunda-
arrancar a alma? ção, de noite a tempestade o arrebata.
9 Acaso, ouvirá Deus o seu clamor, em lhe 21 O vento oriental o leva, e ele se vai;
sobrevindo a tribulação? varre-o com ímpeto do seu lugar.
10 Deleitar-se-á o perverso no Todo- 22 Deus lança isto sobre ele e não o poupa, a
Poderoso e invocará a Deus em todo o tempo? ele que procura fugir precipitadamente da Sua mão;
11 Ensinar-vos-ei o que encerra a mão de Deus 23 à sua queda lhe batem palmas, à saída o
e não vos ocultarei o que está com o Todo-Poderoso. apupam com assobios .

1. Jó. Este capítulo pode ser dividido em punição e a destruição final deles. Este dis-
três partes distintas. Na primeira (v. l-6), curso toma a forma de uma série de provér-
Jó afirma sua integridade e determinação bios que Jó cita, um após o outro.
de permanecer fiel até o fim. Na segunda Discurso. Do heb. mashal, palavra
(v. 7-12), ele censura seus inimigos. Na ter- usada para descrever (l) um ditado ou pro-
ceira (v. 13-23), considera novamente o vérbio (lSm 10:12; Ez 18:2, 3); (2) uma
modo como Deus trata os ímpios e admite a zombaria ou motejo (Dt 28:37; lRs 9:7);

639
27:2 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

(3) um discurso profético figurativo (Nm 23:7, uma infalível fonte de consolo: a consciên-
18; Is 14:4; Mq 2:4); (4) uma parábola cia limpa (ver At 23:1; 24:16; lCo 4:3, 4;
(Ez 17:2; 20:49); (5) um poema (Nm 21:27- 2Tm 1:3; lJo 3:21). V>
<~ g;

30); e (6) frases curtas de sabedoria ética 7. Inimigo. Este verso, com suas impre-
(lRs 4: 32; Pv 10:1 ). O termo sugere um a cações contra os inimigos de Jó, inicia a
nova tendência nas palavras de Jó. As pala- segunda seção do capítulo.
vras combativas e carregadas de emoção 8. Ímpio. Ou, "irreligioso" (ver Me 8:36,
es tão dando lugar a uma expressão c aleu lada 37). Esta declaração concorda com a afi r-
de opiniões que são fruto de gra nde reflexão mação de Bildade, em Jó 8:13, e com a de
(ver a repetição do termo em ]ó 29:1 ). Zofar, em Jó 20:5.
2. Como vive Deus. Este é o único 9. Tribulação. A hipocrisia consciente
lugar em que Jó recorre a um juramento. e a constante impiedade sepa ram a pessoa
Diante da solenidade da ocasião, ao exor- de Deus e, frequentemente, tornam impos-
tar pela última vez os amigos, Jó acha que sível que Ele atenda as orações. Os am igos
é apropriado iniciar suas observações com de Jó fizeram declarações semelhantes, apli-
um apelo a Deus como sua testemunha (ver cando-as a ele.
Jz 8:19; Rt 3:13; l Sm 14:39; 2Sm 4:9 ; 12:5; 10. Invocará a Deus em todo o tempo?
lRs 2:24; 2Rs 5:20; 2Cr 18:13; Jr 38:16). O ímpio ora apenas em ocasiões extraordi-
Tam an ha é a confia nça de Jó em sua própria nárias; não habitualmente. Ele permite que
sinceridade, que ele se sente livre para apelar suas ocupações interrompam o te mpo des-
ao Deus que, conforme sua visão humana, o tinado à oração, negligencia a devoção par-
tem tratado como se ele fosse culpado. ticular pelo menor pretexto e logo acaba
3. Vida. Do heb. nesharn.ah, da raiz abandonando-a por completo.
nasharn., "ofegar". 11. Ensinar-vos-ei. Ver com . do v. 13.
Sopro. O heb. ruach, às vezes, é sinô- 12. Todos vós. Jó n ão prete nde di zer
nimo de nesharn.ah, mas que tem outros aos amigos algo que já não saibam.
significados, como "vento" (ver com. de 13. A porção. Os v. 13 a 23 apresentam um
Jó 26:13) e como o princípio que anima a problema ao negarem completamente a ante-
vida (ver com. de Ec 3:19). rior posição de Jó sobre a punição dos ímpios
4. Injustiça. Os amigos de Jó tentaram nesta vida (ver Jó 9:22-24; 21; 24). Foram fei-
extrair dele uma confissão de culpa. Jó não só tas várias tentativas para explicar a aparente
permanece firme na consciência de sua inte- mudança de ponto de vista, presumindo-se:
gridade, mas faz um compromisso decidido (l) Que esta passagem seja, na verdade,
de lealdade futura. A despeito da pressão e da uma fala de Zofar. Este po nto de vista é
tradição, Jó está determinado a ser honesto. insustentável, pois para defendê-lo é preciso
5. Que eu vos dê razão. Os amigos supor a omissão de dois versos: um entre os
de Jó afirmaram resolutamente que ele era v. lO e ll , que apresentasse Zofar como o
culpado de algum pecado. Em linguagem orador, e outro no início do cap. 28 , reapre-
forte , Jó se recusa a admitir que eles tives- sentando Jó. Também req uer a alteração de
sem razão. Algumas pessoas, sob coerção, todos os pronomes nos v. li e 12, da segunda
confessam faltas que não cometeram. Jó se pessoa do plural para a segunda pessoa do
recusou firmemente a fa zer isso. singular, uma vez que se consideraria que
6. À minha justiça me apegarei. Zofar estivesse dirigindo as palavras a Jó.
Uma pessoa pode perder propriedades, (2) Que Jó está se esforçando para retratar
famílias , amigos, saúde; mas ai nda pode ter suas declarações anteriores, pronunciadas

640
JÓ 27:23

impensadamente no calor da discussão e 15. Os que ficarem. Os sobreviven-


não bem ponderadas. Este ponto de vista é tes morreriam pela peste e seriam enterra-
positivo por conservar Jó como o orador, mas dos e esquecidos (ver Lv 26:25; 2Sm 24:13;
o apresenta como se estivesse ensinando aos Jr 14:12; 15:2).
amigos o que já criam e que já haviam repe- 18. Traça. Um símbolo de fragilidade,
tidamente afirmado (ver v. 11 , 12). impotência e decomposição.
(3) Que Jó está repetindo o argumento que Choça. A referência é a cabanas ou
ele prevê que seus amigos usarão para respon- a abrigos feitos de ramos, montados em
der ao atual discurso. Contudo, não há nada vinhas ou pomares para ocupação temporá-
que indique tal propósito, e também não há ria (ver Is 1:8; Lm 2:6). Eram habitações do
refutação dos argumentos, como se poderia tipo mais frágil e fraco. Os ímpios carecem
esperar caso Jó estivesse chamando a atenção de estabilidade, permanência e segurança.
para a resposta que os amigos dariam. 19. Rico. Literalmente, a fras e seria:
(4) Que Jó está falando do juízo final. "Rico se deita e não será recolhido" (ARC).
Este ponto de vista é excluído por uma aná- A LXX diz: "e não acrescentará", isto é, a
lise cuidadosa das calamidades, que revela experiência não será repetida. Daí a tra-
o fato de que todas elas devem acontecer dução da NTLH: "mas é pela última vez".
nesta vida. A morte de que ele fala é a pri- A ARA omite a segunda parte da frase.
meira, não a segunda morte. Já não a vê. Literalmente, "ele n ão
(5) Que Jó está aqui voltando as armas será" (ARC); ou "ela [a riqueza] não será".
de seus amigos contra eles mesmos e invo- O homem acorda e se vê arruinado ou n a ~ ~
cando sobre eles as calamidades que decla- mão de assassinos , ou então acorda e desco-
raram ser a sorte dos ímpios. Este ponto de bre que sua riqueza se foi .
vista parece se encaixar na sequência de 20. Pavores. Ver Jó 18:14; 20:25 ;
ideias. Jó reafirmou sua inocência (v. 1-6). SI 18:4.
Por dedução, seus amigos são condenados, 21. O vento oriental. Ver Jó 1:19; 9:17;
pois apresentam falsas acusações contra 15:2; 38:24; Is 27:8; Ez 27:26 . Vindo do
outra pessoa. Jó os ameaça com os mesmos deserto da Arábia, o vento oriental signifi-
terrores que usaram para tentar intimidá-lo. cava calor e seca , da m esma form a que o
Ele os repreende por sua vagareza de per- vento vindo do ocidente trazia chuva.
cepção, ao não verem que pronunciaram 22. Deus. Esta palavra foi acrescen-
aquelas coisas contra si mesmos. Este ponto tada. O vento (v. 21 ) pode ser o sujeito da
de vista, como os demais, também é conjec- frase, o qual "atira-se contra ele sem pie-
tura], mas parece requerer mínimos ajustes dade" (NVI); ou "soprando contra ele sem
para se encaixar no quadro geral. piedade" (NTLH).
14. Filhos. Jó perdera os filhos, o que, 23. Batem palmas. Não está claro se
para os amigos, era indício de pecaminosi- o sujeito desta frase é "o vento oriental",
dade. O próprio Jó afirmava que os filhos "Deus" ou "os homens". Em qualquer dos
dos ímpios prosperam (Jó 21:8, 11). casos, o ímpio é objeto de zombaria.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

5- AA, 575; T3, 311; T4, 525

641
28: l COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

CAPÍTULO 28
1 Há conhecimento natural das coisas, 12 mas a sabedoria é dom exclusivo de Deus.

1 Na verdade, a prata tem suas minas, e o 15 Não se dá por ela ouro fino, nem se pesa
ouro, que se refina, o seu lugar. prata em câmbio dela.
2 O ferro tira-se da terra, e da pedra se 16 O seu valor não se pode ava liar pelo
funde o cobre. ouro de Ofir, nem pelo precioso ôn ix, ne m pela
3 Os homens põem termo à escuridão e até safi ra.
aos últimos confins procuram as pedras ocultas 17 O ouro não se igu ala a ela, nem o cri sta l;
nas trevas e na densa escuridade. ela não se trocará por joia de ouro fino ;
4 Abrem ent rada para minas longe da habi- 18 ela faz esqu ecer o cora l e o cristal; a
tação dos homens, esquecidos dos transeuntes ; aquisição da sabe doria é melhor que a das
e, assim , longe deles, dependurados, oscilam de pérolas.
um lado para outro. 19 Não se lhe igualará o topázio da Etiópia,
5 Da terra procede o pão, mas embaixo é re- nem se pode avaliar por ouro puro.
volvida como por fogo. 20 Donde, pois, vem a sabedoria, e onde
6 Nas suas pedras se encontra safira , e há está o lugar do entendimento?
pó que contém ouro. 21 Está encoberta aos olhos de todo viven te
7 Essa vereda, a ave de rapina a ignora, e ja- e oculta às aves do céu.
mais a viram os olhos do falcão. 22 O abis mo e a morte di zem: Ouvimos com
8 N unca a pisaram feras majestosas , nem o os nossos ouvidos a sua fama.
leãozinho passo u por ela. 23 Deus lhe entende o caminho, e E le é
9 Estende o homem a mão contra o rochedo quem sabe o seu lugar.
e revolve os montes desde as suas raízes. 24 Porque Ele perscruta até as extrem id a-
lO Abre canais nas pedras, e os seus olhos des da terra, vê tudo o que há debaixo dos~éus.
veem tudo o que há de mais precioso. 25 Quando regulou o peso do vento e fixou a
11 Tapa os veios de água, e nem uma gota sai medida das ág uas;
deles, e traz à luz o q ue estava escondido. 26 quando determinou leis para a chuva e
12 Mas onde se ac hará a sabedoria? E onde caminho para o relâmpago dos trovões,
está o lugar do entendimento? 27 então, viu Ele a sabedoria e a manifestou;
13 O homem não conhece o valor dela , nem estabeleceu-a e também a esq uadrinhou .
se acha ela na terra dos viventes . 28 E disse ao homem: Eis que o temor do
14 O abismo di z: Ela não está em mim; e o SENHOR é a sabedoria , e o apar tar-se do mal é o
mar di z: Não está comigo. entendimento.

1. A prata tem suas minas. Este capí- Jó mostra que o homem fez surpreendentes
tulo é uma das mais antigas e belas obras de descobertas com respeito à natureza, mas a
história n atural do mundo . É também um verdadeira sabedoria se encontra somente
:;;-. dos grandes poemas da literatura univer- no temor do Senhor.
sal. O capítulo não é argumentativo, senão A mineração do ouro e da prata é men-
meditativo. Seu objetivo parece ser mostrar cionada como um exemplo da habilidade
que o ser humano deve aceitar a providên- humana. Além desta passagem, a mine -
cia divina, ainda que talvez não a entenda. ração é mencionada no AT somente em

642
JÓ 28:11

D e uteronômio 8:9, em que se descreve Como por fogo. Esta frase é muito
Canaã como uma terra de ferro e cobre. obscura. Alguns têm apresentado a hipó-
Diodoro descreve da seguinte maneira o tese de que a referência seja a alguma subs-
processo de mineração na Antiguidade: tância combustível semelh ante ao carvão
"Os túneis seguiam os veios de quartzo até que era extraído do solo em alguns lugares
o interior da montanha. O fogo era usado da Arábia. Se for verdade, a ideia seria qu e
para fazer com que a pedra ficasse quebra- o mesmo solo que produ z o pão, qua ndo
diça, e então ela era extraída com o uso de escavado, produz combustível para o fogo.
enxa das por homens que usava m lampa- Outros ac ham que Jó esteja se referindo às
rinas. O quartzo era esmiu çado, transfor- pedras preciosas m encion adas nos versos
mado e m pó e lavado até que permanecesse seguintes, das quais se poderia dize r que
só o ouro" (ver Erman , Life in Ancient brilham como brasas de fogo.
Egypt, p. 463-ss). O livro de Jó revela que, 6. Safira. Este mineral era uma pedra
mesmo em sua época remota, essa a rte já semipreciosa, provavelmente o que hoj e é
era conhecida (ver Gn 2:11 , 12; 4:22). conhecido como lápis-lazúli (ver Êx 28 :1 8).
2. Ferro. O ferro é m encionado aqui 7. A ave de rapina a ignora. Aquele
como uma ilustração da habilidade e das que procura joias e metais preciosos passa
realizações do ser humano (ver com. de por um caminho que não é visto nem por
G n 4:22; cf. Nm 35:16; Dt 27:5). um pássaro de visão aguçada .
Cobre. A palavra pode se referir tanto ao 8. O leãozinho. Ou, "leão" (ver ARC e
cobre quanto ao bron ze (ver Gn 4:22; Êx 25:3; NVI). O leão, que se aventura a ir aos luga-
26: 11). A menção da "pedra" de que ele é fun - res mais peri gosos em busca da presa, não
dido, mostra que o metal era extraído do miné- ousou ir aonde o homem foi em busca de
rio, o que prova que a referência é ao cobre; o pedras preciosas e de ouro.
bron ze é uma liga de cobre e estanho. 9. Revolve. O tema ainda é a mineração.
3. Termo à escuridão. A referência A ideia é que nada, por mais difícil que seja,
aind a parece ser ao processo de minera- nem mesmo o trabalho de cortar a rocha
ção, e a ideia é que os homens vão até às mais dura, detém o mineiro em sua tarefa.
regiões mais esc uras. Eles levam a luz, seja 10. Abre canais. No processo de mine-
artificial ou natural, para regiões que nunca ração , o ser hum ano abre canais para remo-
antes a haviam visto. ver a água que se ac umula nas minas.
Densa escuridade. Ver com. de Jó 3:5. De mais precioso. Sua visão aguçada
4. Abrem entrada para minas. O sig- observa todas as ev idênci as da presença de
nificado do verso não está claro. Jó ainda riquezas minerais.
parece se referir a processos de mine- li. Tapa. A referência talvez seja à cri a-
ração. A obscuridade do texto talvez se ção de barragens, diques e outras form as de
deva à menção de práticas compreendidas represamento para controlar a água no pro-
naq uele tempo, mas que hoje são desconhe- cesso de mineração.
cid as. Pode ser uma descrição do processo O que estava escondido. Tesouros
de perfurar um poço numa mina (ver ACF, ocultos, ouro e pedras preciosas que estão
NTLH, NVI). nas profundezas da terra. A ilustração foi
5. Procede o pão. Da a rte da minera- admiravelmente escolhida. O objetivo de
ção, Jó se volta para a agricultura. O mesmo Jó era mostrar que a verdadeira sabedo-
solo que produ z ouro e prata , ferro e cobre, ria não podia ser encontrada pelo conheci-
também produ z pão. mento huma no ou por mera investigação.

643
28:12 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Portanto, ele escolhe um exemplo em que da Bíblia. Pensa-se que signifique "vidro" e,
o ser huma no demonstra grande habili- neste versículo, pode se referir a algum tipo
dade e sabedoria, e em que adentra mais de cristal de rocha.
longe na escuridão. Ele escava poços atra- 18. Coral. Do heb. ra'moth. Não se
vés das rochas, fecha fontes que esgui- sabe ao certo a que gema ou substância pre-
:;;;. cham e desnuda tesouros ocultos por ciosa o termo se refere. A aplicação da pala-
gerações. Tudo isso, porém, não o capacita vra ao coral é uma interpretação rabínic a.
a compreender como funcion a o governo Cristal. Embora a ARC traduza a pala-
de Deus. vra como "pérolas", o significado dela, muito
12. Sabedoria. Jó então começa a apli- provavelmente, é "cristal", como na ARA.
car essa ilustração. Seu objetivo é mostrar Pérolas. As versões ARC e NVI trazem
que a sabedoria não pode ser encontrada "rubis". A identificação da gema aqui men-
na mais profunda ciência nem nas maiores cionada é incerta (ver Pv 3:15; 8:11; 20:15 ;
realizações humanas. 31:10; Lm 4:7).
13. Valor. Do heb. 'erelz, "avaliação". 20. Donde, pois, vem [... ]? Em vista
A LXX diz hodos, "caminho", que é uma tra- do fato de que a sabedoria não pode ser
dução do heb. dereh. Qualquer das duas tradu- obtida por mineração nem comprada, onde
ções faz sentido. é possível encontrá-la? Esta pergunta, feita
Terra. O homem precisa olhar para no v. 12 , é repetida para ênfase. É a per-
uma fonte mais elevada de sabedoria . A ver- gunta básica considerada no capítulo.
dadeira sabedoria vem por revelação divina. 21. Está encoberta. Nem os habitan-
14. O abismo. Do heb. tehom , "profun- tes da terra nem os do ar sabem a resposta
dezas", "mar", "abismo" (ver com. de Gn 1:2); da pergunta. O termo "todo vivente" pode,
o termo é, às vezes, usado para se refe- figuradamente, referir-se ao reino animal,
rir a águas subterrâneas (Gn 7:11; Dt 8:7). criando, no texto, um equilíbrio entre an i-
A ideia é que as vastas profundezas podem mai s terrestres e aves.
ser investigadas, mas a verdadeira sabedoria 22. Abismo. Do heb. 'abaddon (ver com.
não se encontra desta form a. de Jó 26:6). Jó falou das descobertas da
15. Ouro fino. O ouro é mencionado ciência, mas em nenhuma delas se encon-
cinco vezes nos v. 15 a 19. São usadas qua- trava a verdadeira sabedoria. Ela não foi
tro diferen tes palavras hebraicas para descoberta no poço que o mineiro cavou na
aumentar a força da figura, indicando que terra. Não pode ser comprada com prata,
não existe nenhum tipo de ouro que possa ouro ou pedras preciosas. Nem os pássaros
comprar a sabedoria. ou os animais terrestres a conhecem. Aqui,
16. Ouro de Ofir. A palavra usada a busca é estendid a aos confins da abismo
para "ouro" aqui é diferente do termo usado e da morte. Estas, por personificação, são
para ouro no versículo anterior. O ouro de representadas como se apresentassem uma
Ofir era tido em alta estima (sobre a locali- resposta vaga e insatisfatória: "O uvimos
zação de Ofir, ver com. de 1Rs 9:28). com os nossos ouvidos a sua fama."
Ônix, [... ] safira. Pedras semiprecio- 23. Deus lhe entende. O ser humano
sas, provavelmente não as pedras que têm estendeu as investigações da ciência muito
estes nomes hoje. além dos limites de conhecimento alcan-
17. Ouro. Ver com. do v. 15. çados nos dias de Jó. Ele mergulhou nos
Cristal. A palavra hebraica assim tra- segredos do átomo. Contudo, a declaração
duzida não ocorre em nenhuma outra parte de Jó é tão verd adeira hoje como quando

644
JÓ 28 :28

foi proferida. A verdadeira sabedoria só vem do acaso; está em Deus, uma vez que Ele é
por revelação divina. a causa primeira de tod as as coisas.
24. Ele perscruta. Uma figura da oni- 28. Eis. Jó indica a seus ouvintes a con-
presença e da onisciência de Deus. A visão clusão para a qual todo o capítulo converge.
de Deus não é limitada nem distorcida. Ele O que é a sabedoria? A resposta é dad a :
vê o que o homem não pode enxergar. "o temor do Senhor". O devido reconheci- <~ ;::]
25. Vento [... ] águas. Estas coisas, menta de Deus e a submissão a Ele cons-
que estão entre os elementos mais incon- tituem o fator de suprema importância.
troláveis da Terra, estão sob o controle de Humildade, reverência , respeito, adoração
Deus. Aquele que pesa os ventos e mede as e fé são aspectos da sabedoria que ultra-
águas é uma fonte confiável de sabedoria. passam o conhecimento terreno. O que é
26. Leis para a chuva. Aquele que o entendimento? A resposta é igualmente
controla estes elementos está qualificado a clara: "o apartar-se do mal ". O entendi-
revelar a verdade e pode dar a con hecer os mento é mais do que intelectual - é ético;
princípios que regem Seu governo. exige um padrão de vida. Reverência e reti-
27. Viu. Este versículo usa uma série dão são os dois grandes requisitos divinos.
de verbos para revelar a relação de Deus Miqueias (6:8) fala desses dois traços de
com a sabedoria. Só Deus a compreende e caráter como justiça e misericórdia pa ra
revela. A sabedoria não tem nenhuma outra com o semelhante e humildade diante de
fonte (ver Pv 8:22-30). Ela não é resultado Deus (comparar com Mt 22:36-40) .

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

10 - PR, 265 14-18- PJ, 107 16 - CPPE , 132


12-28- CBV, 430 ; T8, 280 15, 16- T5, 544 28- OTN , 89; PP, 222
15-18-Ed, 18

CAPÍTULO 29
Jó lamenta a perda de sua antiga prosperidade e honra.

l Prosseguiu Jó no seu discurso e disse: 6 quando eu lavava os pés em leite, e da


2 Ah! Quem me dera ser como fui nos rocha me corriam ribeiros de azeite.
meses passados, como nos dias em que Deus 7 Quando eu saía para a porta da cidade, e
me guardava! na praça me era dado sentar-me,
3 Quando fa zia resplandecer a Sua lâmpada 8os moços me viam e se retiravam; os idosos
sobre a minha cabeça, quando eu, guiado por se levantavam e se punham em pé;
Sua luz, caminhava pelas trevas ; 9 os príncipes reprimiam as suas palavras e
4 como fui nos dias do meu vigor, quando a pun ham a mão sobre a boca;
amizade de Deus estava sobre a minha tenda; 10 a voz dos nobres emudecia, e a sua língua
5 quando o Todo-Poderoso ainda estava co- se apegava ao paladar.
migo, e os meus filhos, em redor de mim; ll Ouvindo-me algum ouvido, esse me

645
29:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

chamava feliz; vendo-me algum olho, dava tes- 19 A minha rai z se estenderá até às águas, e
temunho de mim; o orvalho ficará durante a noite sobre os meus
12 porque eu livrava os pobres que clama- ramos;
vam e também o órfão que não tinha quem o 20 a minha honra se renovará em mim, e o
socorresse. meu arco se reforçará na minha mão.
13 A bênção do que estava a perecer vinha 21 Os que me ouviam esperavam o meu
sobre mim, e eu fazia rejubilar-se o coração da conselho e guardavam silêncio para ouvi-lo.
viúva. 22 Havendo eu falado, não replicavam;
14 Eu me cobria de justiça, e esta me ser- as minhas palavras caíam sobre eles como
via de veste; como manto e turbante era a minha orvalho.
equidade. 23 Esperavam-me como à chuva, abriam a
15 Eu me fazia de olhos para o cego e ele pés boca como à chuva de primavera.
para o coxo. 24 Sorria-me para eles quando não ti-
16 Dos necessitados era pai e até as causas nham confiança; e a luz elo meu rosto não
dos desconhecidos eu examinava. desprezavam.
17 Eu quebrava os queixos do iníquo e dos 25 Eu lhes escolhia o caminho, asse ntava-
seus dentes lhe fa zia eu cair a vítima. me como chefe e habitava como rei entre
18 Eu dizia: no meu ninho expirarei, multi- as suas tropas, como quem consola os que
plicarei os meus dias como a areia. pranteiam.

1. Prosseguiu Jó no seu discurso. parecia tão próximo. O cl amor de Já é como


De sua profunda meditação sobre a natu- o de uma criança órfã.
reza da verdadeira sabedoria e sobre o con- 3. Lâmpada. Ver Já 18:6; 21:17;
traste entre as realizações humanas e o SI 18:28. Deus tinha sido uma lu z para
infinito conhecimento de Deus, Já se volta Já. De repente, aquela luz se apagou,
para outro contraste sobre o qual fala ao deixando-o a tatear na escuridão. Mas ele
longo de dois capítulos (29 e 30). Éste dis- se lembra da luz, anseia por ela e espera
curso apresenta o contraste entre o que encontrá-la novamente (ver Pv 20:27).
~ ., Já foi e o que ele é, entre sua condição na 4. Nos dias do meu vigor. Literal-
época de prosperidade e aquela à qual foi mente, "nos dias do meu outono". Já pro-
reduzido por suas aflições. A descrição de vavelmente se refere aos dias de sua idade
sua antiga vida no cap. 29 efetivamente res- madura, à qual havia chegado quando suas
ponde às acusações de seus amigos com res- calamidades lhe sobrevieram.
peito a seu caráter e conduta. A amizade. Do heb. sod, "conselho", de
2. Nos meses passados. Ninguém onde se obtém a ideia de amizade íntima.
jamais ansiou tão profundamente pelos A LXX traduz esta frase da seguinte forma:
"bons e velhos tempos" como Já. Poucas "Quando Deus cuidava de minha casa." Já
pessoas já sofrera m maior revés de circuns- parece retratar a Deus como um amigo que
tâncias ou tiveram mais razões para ente- vinha à sua tenda, cuja companhia ele usu-
sourar lembranças do passado. fruía e de cujos planos ele partilhava. Porém,
Deus me guardava. Nesta expressão aqui, parece que Deus o passou por alto.
pode ser vista não só a saudade das bên- Ele não entende mais o modo de Deus agir.
çãos materiais do passado, mas também a Parece que Deus o deixou a sofrer sozinho
saudade do cuidado daquele Deus que lhe sem uma explicação do motivo do sofrimento.

646
JÓ 29:15

5. Ainda estava comigo. Devido a 9. Os príncipes. Es tes dignitários


suas aflições, Jó tinha passado a pensar qu e nunc a se ave nturavam a dar uma opini ão
o Todo-Poderoso não m ais estava com ele contrária à de Jó, devido à alta estim a por
(ver Jó 6:4; 7:19; 9: 17; 10:16). sua sabedoria e seu caráter (cf. Jó 2 1:5).
Filhos. As duas experiências mais dolo- 11. Algum ouvido. Esta é uma per-
rosas para Jó são colocadas paralelamente sonificação que significa: "aqueles que me
neste verso: a aparente retração da amizade ouviam", assi m como o olho significa "aque-
de Deus e a perda de seus filhos. les que me veem". Este verso abra nge o
A mais elevada felicidade traz consigo as povo, além dos príncipes e nobres. As pes-
possibilidades de mais profunda tristeza. As soas comu ns aclam avam Jó como he rói
maiores bênçãos, quando removidas, dei- e prote tor, e ele obtinha a satisfação q ue
xam o maior vazio. advém do amor sincero das pessoas .
6. Leite. A ARC diz: "Quando lavava 12. Eu livrava. Este verso revela o espí-
meus passos na manteiga." A manteiga e o rito de Jó em contraste com as acusações de
óleo eram símbolos de prosperidade entre os seus amigos (ver Jó 22:5-10). Um dos pr in-
orientais. Jó descreve sua an tiga vida como cípios éticos mais enfa tizados do AT é a
um tempo quando o leite e a manteiga eram justiça em favor dos pobres e a misericór-
tão comuns como a água, e quando o solo di a em favor dos indefesos (ver SI 72: 12- 14;
rochoso no qual as oliveiras cresciam der- Pv 21:1 3; 24:11 , 12; Is 1:17).
ra mava rios de óleo. O óleo era usado para 13. A perecer. Ele se refere a um homem .. ~
alimentação, para luz, para passar no corpo fa lsa mente acusado e em perigo de ser exe-
e pa ra propósitos medicinais (ver Dt 32 :1 3, cutado, ou a alguém próximo da morte por
14), e era um artigo apreciado e valioso. pobreza e necessidade. Não há gratidão mais
7. Para a porta. Jó recorda três fontes entu siasta e sincera do q ue a da pessoa cujo
primárias de sua antiga felicidade: (1) o com- benfeitor a livrou da morte iminente.
panheirismo de Deus (2) e dos filhos e (3) o O coração da viúva. Jó viveu num a
respeito dos semelhantes. Neste capítulo é época em que a sobrevivência dos indefe -
dedicada mais atenção à últim a dessas três sos, como viúvas e órfãos , dependia da bon-
experiências. A porta da cidade era o lugar dade de pessoas compassivas. Não h avia
onde se ministrava justiça e se realizavam assistência social, como a que exi ste em
negócios públicos. Neste local, reuniam-se alguns países hoje, para sati sfazer as neces-
as multidões, e as p essoas m anifestavam sidades humanas. Homens como Jó traziam
respei to a Jó como um líder entre elas (ver grande felicidade àqueles q ue se achavam
Ne 8: 1, 3, 16). privados de apoio.
Sentar-me. Para ali era m levados e pre- 14. Servia de veste. A justi ça e o ju ízo
parados assentos que os juízes ocupava m a eram parte tão essencial de Jó que se tor-
fim de ouvir os casos e pronunciar vereditos. naram as carac terísticas distintivas p elas
8. Os moços. A imagem toda apresenta q uais as pessoas o reconhecia m (Is 61:10 ;
um a bela ilu stração dos m odos orientais e cf. SI 109 :1 8, 19).
do respeito demonstrado a um homem de 15. Cego. Antes do progresso da ciê n-
caráter e d isti nção. O s jovens se retiravam cia médica , os cegos eram numerosos.
para lugares di scretos e os idosos se leva n- Muitas vezes , subsistia m mendigando. Jó
tavam em reve rente respeito . A homenagem não se esquecia desses párias da sociedade .
prestada era n ão tanto em razão da idade, A figura indica que ele lhes dava mais do que
como da dignidade. ninharias . Aparentemente, fazia o máxim o

64 7
29:16 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

possível para lhes suprir as necessidades. Tal 23. Chuva. Relacionar o conselho de Jó
caridade o justificaria ao dizer que ele era os com a chuva era atribuir a esse conselho o
"olhos" do cego e os "pés" do coxo. mais alto valor. A "chuva de primavera" era a
16. Necessitados. Ver v. 12. As doa- que ajudava a amadurecer a safra (ver vol. 2,
ções eram fruto de compaixão. p. 92, 93; cf. Dt 11:14; Jr 3:3; 5:24; Jl 2:23;
As causas dos desconhecidos. Os 6:3).
A ARC diz: "as caus&s de que não tinha 24. Sorria-me. Antigos comentaristas
conhecimento", mas a tradução mais cor- judeus consideravam que este texto indi-
reta é como na ARA. A construção é seme- cava que os homens respeitavam tanto a
lhante à traduzida como "o paradeiro do que importância de Jó que não acreditavam ser
não conhece" (Jó 18:21). Jó estava disposto possível que ele tivesse a intimidade de rir
a fazer esforços em favor dos estrangeiros com eles. Uma explicação mais plausível
para garantir que eles receberiam justiça. seria que Jó animava as pessoas abatidas
17. Quebrava os queixos. A metáfora dando sorrisos amigáveis.
é tirada da caça. Jó compara os ímpios a um Meu rosto. Jó era capaz de ajudar, com
animal selvagem com sua indefesa vítima seu sorriso, os que estavam perplexos e aba-
nas garras. Ele se compara àquele que salva tidos, e o desânimo demonstrado por outros
essas vítimas quebrando as mandíbulas do nunca conseguia abater se u semblante. Ele
animal de rapina. tinha suficientes recursos espirituais para
18. Ninho. Uma metáfora para "habi- permanecer feli z e sereno, embora os que o
tação" ou "lar". cercavam estivessem desanimados.
Como a areia. Uma símile que indica 25. Chefe. Este verso parece descre-
vid a longa. ver Jó em sua vida civil, administrativa e
19. Minha raiz. Jó se compara, em sua doméstica. Como magistrado, ele esco-
condição anterior de prosperidade, a uma lhia o caminho, ajustava as diferenças e se
árvore que cresce à margem de um rio, assentava como chefe. Como administra-
nutrida pela água que chega até suas raí- dor capaz, habitava como um rei entre as
zes e pelo orvalho que cobre suas folhas e tropas, preservando a ordem e a disciplina.
ramos (ver Gn 27:39; Sl1:3; 133:3; Jr 17:8). Como homem comum, esforçava-se para
20. Meu arco. Um símbolo de força aliviar e confortar o próximo.
(Gn 49:24). Jó não estava esgotado; ele con- Por que Jó se esforçava tanto para se
tinuava com vigor e força. defender? Ele fora acusado de grande culpa
21. Conselho. No v. 7, ]ó fala de sua e de hipocrisia. Essas acusações não podiam
função como juiz. Agora ele se refere à posi- passar sem ser refutadas. Essa descrição da
ção que ocupava entre seus conterrâneos antiga felicidade de Jó tendia a enfatizar,
como estadista e conselheiro. por contraste, a enormidade de sua miséria.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

4-16-Ed, 142 15- MCH, 243; T3, 521, 530 T5, 151
11-16 - T7, 238 15-17 - T3, 518 21-25- Ed, 142
12-16- MDC, 23 16- MCH, 244; T4, 513;

648
JÓ 30:1

CAPÍTULO 30
1 A honra conferida a ]ó se transforma em extremo desprezo, 15 e sua prosperidade,
em calamidade.

Mas agora se riem de mim os de menos 16 Agora, dentro de mim se me derrama a


id ade do que eu, e cujos pais eu teria des- a lma; os dias da aflição se apoderaram de mim .
de nhado de pôr ao lado dos cães do m e u 17 A noite me verruma os ossos e os desloca,
rebanho. e não descansa o mal que me rói.
2 De que tam bém me serviria a força das 18 Pela grande violênci a do meu m a l está
suas mãos, homens cujo vigor já pereceu? desfigurad a a minha veste, mal que me cinge
3 De míngua e fome se debilitaram; roem como a gola da minha túnica.
os luga res secos, desde muito em ruínas e 19 Deus, Tu me lançaste na lama, e me tor-
desolados. nei semelhante ao pó e à cinza.
4 Apanham malvas e folh as dos arbustos e 20 Clamo a Ti, e não me respondes; estou
se sustentam de raízes de zimbro. em pé, mas apenas olhas para mim.
5 Do meio dos homens são expulsos; grita-se 21 Tu foste cruel comigo; com a força da Tua
contra eles, como se grita atrás de um ladrão; mão Tu me combates.
6 habitam nos desfiladeiros sombrios , nas 22 Leva ntas-me sobre o vento e me
cavernas da terra e das rochas. fazes cavalgá-lo; dissolves-me no estrondo da
7 Bramam entre os arbustos e se ajuntam tempestade.
debaixo dos es pinheiros. 23 Pois eu sei que me levarás à morte e à
8 São filh os de doidos , raça infa me, e da casa destinada a todo vivente.
terra são escorraçados. 24 De um montão de ruínas não estenderá o
9 Mas agora sou a sua canção de motejo e homem a mão e na sua desventura não levanta-
lhes si rvo de provérbio. rá um grito por socorro?
lO Abominam-me, foge m para longe de mim 25 Acaso, não chorei sobre aquele que atra-
e não se abstêm de me cuspir no rosto. vessava dias difíceis ou não se angustiou a
11 Porque Deus afrou xo u a corda do m eu minha a lma pelo necessitado?
arco e me oprimiu ; pelo que sacudiram de si o 26 Aguardava eu o bem, e eis que me veio o
freio perante o meu rosto. mal; esperava a luz, veio-me a escuridão.
12 À direita se levanta uma súcia, e me em- 27 O meu íntimo se agita sem cessar; e dias
purra , e contra mim prepara o seu caminho de de aflição me sobrevê m.
destruição. 28 Ando de luto, sem a luz do sol; levanto-me
l3 Arruínam a minha vereda, promovem a na congregação e clamo por socorro.
minha calamidade; gente para quem já não há 29 Sou irmão dos chacais e companheiro de
socorro. avestruzes.
14 Vêm contra mim como por uma grande 30 Enegrecida se me cai a pele, e os meus
brecha e se revolvem ava nte entre as ruínas. ossos queimam em febre.
15 Sobrevieram-me pavores, como pe lo 31 Por isso, a minha harpa se me tornou em
vento é varrida a minha honra; como nuvem prantos de luto, e a minha flauta, em voz dos que
passou a minha felicidade. choram.

649
30:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

1. Mas agora. Este é um dos capítu- Raízes de zimbro. Além daqui, a pala-
los mais toc antes do livro. Nele , Jó retrata vra traduzida como "zimbro" ocorre ape-
o contraste entre sua condição presente e a nas em 1 Reis 19:4 e 5 e no Salmo 120:4.
anterior. É provavelmente um a espécie de giesta
Os de menos idade. Parece que na qu e cresce no vale do Jordão e na Arábi a
região de Jó moravam pessoas vis e degra- (ve r NVI). Não deve ser confundida com o
dadas, consideradas pelos vizinhos como moderno zimbro. Os beduínos, muitas vezes,
ladrões , e que viram nas calamidad es de acampam-se onde ela cresce, a fim de usá-
Jó a oportunidade de insult ar um membro la como abrigo do vento e do sol. Seria usada
de uma classe superior. Essas pessoas era m como alimento apenas por quem estivesse
tão inferiores e corruptas que os cães pas- na mais absoluta pe núria. Este é o "zimbro"
tores era m considerados melhores do que sob o qual Elias buscou repouso quando
elas. Dificilmente os orientais podi am usar fugia de Jezabel.
uma linguagem que expressasse m ais des- 5. Expulsos. As tribos expulsas quase
prezo por alguém do que chamá-lo de cão invariavelmente passavam a subsistir po~
(ver Dt 23:18 [ARC]; 1Sm 17:43; 24:14; roubo. Privadas das fontes de subsistência
~ 2Sm 3:8; 9:8; 16:9; 2Rs 8:13). normais , recorriam ao saque e à rapin a. Era
2. De que também me serviria. penoso para Jó ser objeto de ridículo por
Jó parece esta r descrevendo aqu eles que , parte desses nômades.
p ela degradaç ão e pobreza, chegaram ao 6. Desfiladeiros. A parte ociden-
ponto de não possuir valor algum para tal da Ásia é cheia de regiões rochosas ,
um empregador. N essa época, ele próprio, cortada s por desfilad ei ros profundos e
qu e fora honrado por príncipes e nobres fend as onde se encontram cave rnas e fis-
(Jó 29:9, 10), chegou ao ponto de não rece - suras . A área que fica em torn o de Petra
ber respeito nem das pessoas das classes é talvez a mais not ável de ss as regiõ es .
m ais degradadas. Contudo, há mu itas outras qu e se ass e me -
3. De míngua e fome. Para enfatizar lh am a ela. A palavra traduzid a como "ba r-
seu próprio infortúnio, Jó desce a detalhes ran cos" (ARC) pod e ser tradu zida como
para mostrar quão miseráve is eram essas "sombrios" (ARA), da ndo o sen tido de que
pessoas que dele zombavam. es ses pária s habitava m nos desfilad ei ros
Roem. A palav ra hebraica assim tradu- mais tenebrosos, em regiõe s acidentadas
zida ocorre apenas duas vezes: aqui é tra- e isoladas, onde, além deles , havia apenas
duzida como "recolhem-se" (na ARC); e, no animais selvagens.
v. 17, é traduzida como "nervos" na mesma 7. Bramam. As vozes desses nômades
versão. Essa tradução se baseia na LXX, soavam como o bramido de asnos selvagens.
mas o significado mais correto do termo é E se ajuntam. Essas pessoas eram
"roer", como na ARA. Essas pessoas eram, quase subumanas no que diz respeito a seu
literalmente, "roedores do deserto". Estavam modo de vida, mas Jó havia decaído tanto
reduzidas a uma condição em que roíam as que se transformara em objeto de ridículo
raízes e arbustos . para elas. O fato de ele não deixar de ter
4. Malvas. De maneira geral, pensa-se compaixão de tais pessoas é indicado por
que a palavra hebraica descreva uma sua descrição aparentemente do mesmo
pl anta que tem folhas pequenas, grossas grupo em ]ó 24:4 a 8. Ele não as despreza,
e aze das. Esta planta era com estível, mas mas está confuso e magoado pelo fato de ter
pouco apetitosa. se tornado inferior a elas.

650
JÓ 30:16

8. Raça infame. Literalmente, "homens e ficavam de pé na minha presença, e os


sem nome". A descrição toda indica o retorno jovens se afastavam para um local mais re-
a um nível de existência animalesco. Essas tirado; mas agora o populacho m e lança
pessoas não possuíam herança fami liar, des- para o lado. Eles me empurram , me pisam ,
conheciam as melhores coisas da vida, mas me esmagam."
estavam prontos a zombar de um homem 13. Arruínam a minha vereda. Isto é,
que já tivesse possuído tais coisas. estragam todos os meus planos. Os que eram
9. Sua canção de motejo. O passa- amigos de Jó de longa data não se demons-
tempo das pessoas degeneradas consiste em tram como tai s na hora da necessidade
fazer ca nções irreverentes sobre aqueles a extrema. Em vez disso, foram um desaponta-
quem desprezam. Jó foi vítima de tais indig- mento para ele. Tornaram o fardo de seu sofri-
nidades (ver Jó 17:6; Sl69:12; Lm 3:14). mento mais pesado por sua incompreensão.
10. Abominam-me. Jó acha difícil Em vez de tornarem seu caminho mais difí-
compreender que pessoas geralmen te con- ci l, podiam ter feito o oposto. Eram amigos
sideradas repugnantes para outros seres só dos bons momentos, e quando as tempes-
humanos o repugnassem. Os indivíduos tades desabaram sobre ele, não lhe trou xeram
mais menosprezados se consideravam muito encorajamento. "O amigo na necessidade é
superiores a ele. amigo de verdade" [provérbio inglês].
Cuspir no rosto. O hebraico pode sig- Não há socorro. Isto pode significa r
nificar "cuspir no rosto" ou "cuspir em pre- qu e essas pessoas são tão sem valor e degra-
sença de". A primeira opção parece ser a dadas que ninguém deseja ajudá-las.
maneira mais provável. 14. Brecha. Isto pode se referir a um
ll. Afrouxou a corda. A figura buraco feito pelo inimigo nos muros de uma
parece ser a de um arco. A aplicação não cidade. Quando o muro caísse, o exército
está totalmente clara. Talvez Jó estivesse adversário entraria (ver Is 30:13).
dizendo que Deus afrouxou a corda do seu 15. Pavores. Seus infortúnios, inimi-
arco, isto é, tirou seu vigor. Ele, então, é gos e até os amigos conspiram para encher
vítima de seus mais fracos inimigos, que de pavor a vida de Jó . O vívido contraste
avançam sobre ele com desenfreada feroci- entre o glorioso passado e o melancólico
dade. Descartam todas as restrições impos- presente tende a acentuar esse pavor.
tas pelo respeito por sua posição, por sua Pelo vento. A figura revela quão cruel
reputação e por seu valor moral, e o tratam era a busca. É difícil encontrar no deserto
com toda sorte de ultrajes. um esconderijo para se abrigar do vento.
12. Uma súcia. Do heb. pirchah. Este Honra. Do heb . nedibah, "nobreza".
substantivo não ocorre em nenhum outro Felicidade. Do heb. yeshu'ah, "sa lva-
lugar do AT, mas a raiz da qual ele deriva ção", "livramento"; aqui, provavelm e nte ,
é comum e significa "desabrochar" ou "prosperidade".A dissolução de uma nuvem
"brotar" (por isso a ARC traduz o termo pelo vento é um símbolo apropriado da
como "moços"); também tem sido tradu- suspensão da prosperidade e do bem- esta r
~ .,_ zido como "raça" (no sentido pejorativo) ou de Jó.
"descendência" e é relacionado ao popul a- 16. Derrama a alma. Jó ex perime n-
cho já descrito. tava uma desintegração de vida difícil de
E me empurra. Jó parece dizer: "Eles ser expressa. Seus revezes o feriram gra-
me empurram para fora do caminho. Ou- vemente e ele ainda não está curado. Está
trora os idosos e honoráveis se levantavam esmagado, machucado e esgotado.

651
30:17 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

17. Ossos. Muitas vezes representados ou pelo menos se eu pudesse pedir isso a
nas Escrituras como o centro de uma dor outro, e ele o fizesse para mim! "
aguda (ver SI 6:2; 22:14; 31:10; 38:3; 42:10; 25. Não chorei [... ]? Novamente Jó faz
Pv 14:30). um apelo baseado em sua condição ante-
Que me rói. Literalmente, "roedores" rior. Ele se sente justificado em clamar por
(ver com. do v. 3). Dia e noite Jó sofria a ajuda, porque sempre foi compassivo com
devastação de uma dor incessante. os outros .
18. Está desfigurada a minha veste. 26. Aguardava eu. Jó não pode enten-
A interpretação comum desta passagem é der por que, apesar de ser tão compas -
que, por causa da natureza de sua doença, sivo, foi forçado a lutar com o mal e com
a veste de Jó havia se tornado desfigurada as trevas.
e imunda. Também pode significar que, 27. Dias de aflição me sobrevêm.
em vez de usar uma veste comum, como Isto é, me confrontam.
outrora, ele agora usa uma veste de úlceras 29. Chacais. Do heb. tannim (ver
repugnantes e dolorosas que o cinge como o Sl44:19; Is 13:22; 34: 13; 35:7; 43:20; ]r 9:11;
colarinho de sua túnica. 10:22; 51 :37; Mq 1:8; Ml 1:3). Jó com-
21. Cruel. Esta declaração deve ser para su as queixas aos uivos dos animais
entendida como se refletiss e o ponto de selvagens.
vista de Jó sob a pressão de seu sofrimento, Avestruzes. O lamento de Jó se asse-
e não o verdadeiro caráter de Deus. melhava ao triste som feito pelo avestruz no
22. Sobre o vento. Jó parece dizer: "Sou solitário deserto.
como a palha apanhada por um redemoinho 30. Enegrecida se me cai a pele.
e levada daqui para ali até desaparecer." A partir destes e de outros sintomas, muitos
23. Sei que me levarás à morte. Esta já tentaram diagnostica r a doença de Jó (ver
é a lingu agem do desespero. Jó oscila entre com. de Jó 2:7).
a esperança e o desespero. 31. Em prantos de luto. O que anti-
24. De um montão de ruínas. As gamente emi tia sons alegres passa a emitir
várias versões dão traduções muito dife- apenas notas de queixa e lamentação. Este
rentes para o verso. A LXX diz: "Oh, se eu é um agudo contraste entre a passada e a
pudesse colocar as mãos sobre mim mesmo, presente experiênci a de Jó.

CAPÍTULO 31
Já faz solene declaração de integridade em vários deveres.

I Fiz aliança com meu s olhos ; como, pois, os 4 Ou não vê Deus os meus caminhos e não
fixaria eu numa donzela? conta todos os meus passos?
2 Que porção, pois, te ria eu do Deus lá de 5 Se andei com fa lsidade, e se o meu pé se
cima e que hera nça, do Todo-Poderoso desde apressou para o engano
as a lturas? 6 (pese-me Deus em balanças fiéis e con he-
3 Acaso, não é a perdição para o iní- cerá a minha integridade);
quo, e o infortúnio, pa ra os que praticam a 7 se os meus passos se desviara m do ca -
maldade? minho, e se o meu coração segue os me us

652
JÓ 3 1:1

olhos, e se às minhas mãos se apegou qualquer 24 Se no ouro pus a minha esperança ou


mancha, disse ao ouro fino: em ti confio;
8 então, semeie eu, e outro coma, e sejam 25 se me a legrei por serem grandes os
arrancados os renovos do meu campo. meus bens e por ter a minha mão alca nçado
9 Se o meu coração se deixou seduzir por muito;
causa de mulher, se andei à espreita à porta do 26 se olhei para o sol, quando resplandecia ,
meu próximo, ou para a lua, que caminhava esplendente,
lO então, moa minha mulher para outro, e 27 e o meu coração se deixou enganar em
outros se encurvem sobre ela. oculto, e beijos lhes atirei com a mão,
11 Pois seria isso um crime hediondo, delito 28 também isto seria de lito à punição de
à punição de juízes; juízes; pois assim negaria e u ao Deus lá de
12 pois seria fogo que consome até à destrui- cima.
ção e desarraigaria toda a minha renda . 29 Se me alegrei da desgraça do que me tem
13 Se desprezei o direito do meu servo ou da ódio e se ex ultei quando o mal o at ingiu
minha serva, quando eles contendiam comigo, 30 (Também não deixei pecar a minha boca,
14 então, que faria eu quando Deus Se le- pedindo com imprecações a sua morte.);
vantasse? E, inqu irindo Ele a causa, que Lhe 31 se a gente da minha tenda não disse: Ahl
responderia eu? Que m haverá aí que não se saciou de carne pro-
15 Aquele que me formou no ventre mater- vida por ele
no não os fe z também a eles? Ou não é o mesmo 32 (O estrangeiro não pernoitava na rua; as
que nos formou na madre? min has portas abria ao viandante.)!
16 Se retive o que os pobres desejavam ou 33 Se, como Adão, encobri as minhas trans-
fiz desfalecer os olhos da viúva; gressões , ocultando o meu delito no me u seio;
17 ou , se sozinho com i o meu bocado, e o 34 porque e u temia a grande multidão, e o
órfão dele não participou desprezo das famílias me apavorava, de sorte
18 (Porque desde a minha mocidade cresceu que me calei e não saí da porta.
comigo como se e u lhe fora o pai, e desde o ven- 35 Tomara e u tivesse quem me ouvisse !
tre da minha mãe fui o gu ia da viúva.); Eis aqui a minha defesa assinada! Que o Todo-
19 se a alguém vi perecer por falta de roupa Poderoso me responda! Que o meu adversário
e ao necessitado, por não ter coberta; escreva a sua acusação!
20 se os seus lombos não me abençoaram, 36 Por certo que a levaria sobre o meu
se ele não se aquentava com a lã dos meus ombro, atá- la-ia sobre mim como coroa;
cordeiros; 37 mostrar-Lhe-ia o número dos meus pas-
21 se e u levantei a mão contra o órfão, por sos ; como príncipe me chega ria a Ele.
me ver apoiado pelos juízes da porta, 38 Se a minha terra clamar contra mim , e se
22 então, caia a omoplata do meu ombro, e os seus sulcos juntame nte chorarem;
seja arrancado o meu braço da arti culaç ão. 39 se comi os seus frutos sem tê-la pago de-
23 Porque o castigo de Deus seria para mim vidamente e causei a morte aos seus donos ,
um assombro, e eu não poderia enfrentar a Sua 40 por trigo me prod uza cardos, e por ceva-
majestade. da , joio. Fim das palavras de Jó.

l. Fiz aliança. Este capítulo repre- pública e da deferência que lhe era mostrada
senta a conclu são do longo discurso de Jó. antes. Neste capítulo, ele menciona os prin-
No cap. 29, ele falou de sua honrosa vida cípios que regulam sua conduta particular.

653
3 1:2 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Esses prinCJpiOs podem ser delineados 5. Falsidade. Os am igos de Jó o ac usa-


da seguinte forma: (l) castidade (v. l-4), ram repetid amente de hipocrisia (ver Jó 4:7-9;
(2) seriedade e sinceridade (v. 5, 6), (3) retidão 8:6; 11:4, 6, ll-14; 15: 30-35; 20:5-29). Esta
e pureza (v. 7, 8), (4) fidelidade ao voto matri- acusação é fáci l de se fazer e difícil de se
monial (v. 9-12), (5) fidelidade a seus servos refutar. Ele achou necessário defender sua
(v. 13-15), (6) benevolência para com os inde- própria integridade , e estava disposto a invo-
fesos (v. 16-23), (7) abstenção da cobiça e da car a Deus como testemunha disso. Sabia
idolatria (v. 24-28), (8) bond ade para com que em sua vida não havia enga no nem fa lsi-
seus inimigos (v. 29, 30), (9) hospitalidade dade, e não temia revelações vindas do Céu
(v. 31, 32), (lO) isenção de pecados secretos ou de seres humanos.
(v. 33-37), e (ll) honestidade em questões de 6. Pese-me. Jó es tá disposto a permitir
propriedade (v. 38-40). Este capítulo fornece que Deus pese seus motivos; não tem nada
um resumo amplo da ética de Jó; é um exem- a esconder.
plo sem paralelo de idealismo. 7. Segue os meus olhos. Este simbo-
Como pois, os fixaria eu numa don- lismo descreve a luta entre os sentidos (os
zela? Literalmente, "eu pensaria num a don- olhos) e os pensamentos íntimos (o cora-
zela" (ver Mt 5:27, 28). Jó compreendia qu e ção). Jó afirma que não permitiu que seus
mera mente evi tar o ato ex terno de adultério sentidos o controlassem.
não era suficiente. A fim de estar à altura do Às minhas mãos se apegou. Esta é a
padrão divino, tanto o pensamento quanto conhecida ilustração das mãos limpas. Não
os atos deviam ser puros. Jó enfrentou o pro - é preciso entender que Jó estava afirm ando
blema fazendo um pacto consigo mesmo de nunc a ter havido qualquer mancha em suas
que não permitiria sua mente demorar-se mãos, mas ele nega que qualquer mancha
na sedução da lascívia . Na linguagem figu- tenha se apegado a suas mãos.
rada do texto , foi feita uma aliança entre 8. Outro coma. Jó menciona as ma ldi-
a consciência e os olhos, um acordo que ções que es tá disposto a aceitar se não foi
impunha aos olhos uma obrigação defini- correto nos assuntos mencionados no v. 7.
tiva de não se demorar sobre o que sugerisse Se ele não foi honesto e m seu trato com
pensamentos impuros. outros, qu e seja pri vado dos frutos de seu
2. Que porção [... ]? O significado próprio trabalho (ver Lv 26:16; Dt 28 :33,
parece ser: "Se eu condescendesse com pen- 51; Jó 5:5) .
samentos impuros, que porção ou herança Os renovos. Do heb. tse'etsa'ay, que sig-
poderia esperar de Deus?" Jó considerava nifica a prole de seres hum a nos ou os produ-
uma presunção alguém alimentar uma tos da terra (com respeito ao último uso, ver
mente impura e esperar aprovação ou favor Is 34:1 ; 42:5). A interpretação de tse'etsa'ay
de Deus. Ele tinha consciência ética supe- como sendo os produtos da terra completa o
rior à da maioria de seus contemporâneos e, paralelo entre as duas partes do verso.
na verdade, de indivíduos de outras épocas. 9. Por causa de mulher. Nos v. 9 a 12,
4. Não vê Deus [... ]? Jó reconhece Jó continua declarando que é irrepreensível
que Deus vê todas as coisas. Ele sabe que em se u relacionamento com as mulheres.
Deus está ciente de sua pureza, e é enco- Ele fala de mulheres casadas, em contraste
rajado a continuar nos camin hos da justiça com as donzelas (v. l). A LXX di z: "pela
pela consciência de sua responsabilidade esposa de outro homem". As sed uções da
para com D eus (ver Jó 34:21; SI 139:3; lascívia são bem ilustradas na expressão "se
Pv 5:2 1; 15:3). o meu coração se deixou seduzir".

654
JÓ 31:2 1

Se andei à espreita. Isto é, para vigiar essa acusação (29:12-16) e, novamente torna
quando seu vizinho estava fora de casa. a negá-la.
10. Moa minha mulher. A condição Viúva. Ver Jó 22:9; cf. Jó 13; e também
de uma escrava que moía o cereal era con- Êx 22:22; Dt 14:29; 16:11, 14; 24:19 ; 26:12,
siderada o ponto mais baixo da escravidão 13; Sl146:9; Pv 15:25; Is 1:1 7; Jr 7:6; Ml3:5 ;
doméstica (ver Êx 11:5; Jz 16:21 ; Is 47:2). 1Tm 5:16 ; Tg 1:27. A expressão "fi z desfale-
E outros se encurvem. Alguns pen- cer os olhos" significa um desejo não cum-
sam que isto seria o tomar a escrava como prido, isto é, a viúva é imped ida de receber
~ ... concubina. o que espera.
11. Seria isso um crime hediondo. 17. Sozinho. É costume entre os ára-
Ver Lv 20:10; Dt 22:22. bes que os convidados tenham a preferên-
12. Seria fogo. A condescendência cia, não importa quão necessitada seja a
com este pecado tende a destruir tudo o família. Comer seu bocado sozinho signi-
que é bom num homem. Ela é desoladora fica quebrar as leis da hospitalidade, bem
em seus efeitos. como deixar de levar em conta as necessi-
Desarraigaria toda a minha renda. dades dos desafortunados.
Consumiria a riqueza, por levar ao esbanja- Órfão. Esta última frase indica que
mento e ao desperdício ou por atrair os juí- Jó estava se referindo especificamente
zos de Deus. A experiência revela como a aos órfãos. Repartir com eles era conside-
imoralidade frequentemente leva à pobreza rada uma das virtudes básicas da vida (ver
(ver Lc 15:11-32). Êx 22:22; Dt 10:18; SI 68:5; Is 1:17; Jr 22:3;
13. Do meu servo. Elifaz acusara Jó de Ez 22:7; Zc 7:10). Elifaz havia especifica-
ser severo e cruel com os fracos (Jó 22:5-9). m ente acusado Jó de oprimir os órfãos
Jó refuta essa acusação revelando sua ati- (Jó 22:9), e Jó negou tal acusação (29: 12).
tude para com seus servos. Diante da lei, 18. Cresceu comigo. No original, "o
os escravos tinh am poucos direitos , mas Jó criei como se fosse seu pai, e desde o nasci-
estava disposto a ouvir as queixas de seus mento a guiei". Esses dois pronomes, "o" e
servos e a con siderar seus protestos. "a", parecem se referir ao "órfão" e à "viúva"
14. Quando Deus Se levantasse. Jó m encion ados no verso anterior. A ideia é
crê que deverá responder diante de Deus que Jó sempre foi um pai para os órfãos e
pela maneira como trata seus servos. Se os um guia para as viúvas.
maltrata sse, ficaria com medo da indigna- Desde o ventre. Uma hipérbole que
ção divina. indica qu e Jó não se lembrava de não ter
15. Que nos formou. Este verso reve- atendido às necessidades dos indefeso s.
la clara compreensão da igualdade dos seres 19. Falta de roupa. Jó precedeu
humanos diante de Deus (ver At 17:26). Jó es- Dorcas (At 9:36-42) em muitos séculos (ver
tava muito à frente de sua época no reconhe- Is 58:7; Ez 18:7, 16; Mt 25:36).
cimento da atitude apropriada de um senhor 20. Os seus lombos. Uma personifica-
para com um escravo. O fato de Deus ser o ção pela qual a parte do corpo vestida pela
criador de todos, tanto senhores como escra- benevolência de Jó expressa apreciação ao
vos, é uma das grandes revelações da Bíblia. benfeitor (ver Jó 29:11, 13).
16. Se retive o que os pobres. Os 21. Levantei a mão. Jó nega ter algum
v. 16 a 23 falam da atitude benevolente de dia tirado vantagem dos órfãos, mesmo
Jó para com os indefesos. Elifaz o acusara quando era um magistrado e tinha amplos
de maltratar os pobres (Jó 22:6, 7). Jó negou poderes para fazê-lo. Sempre teria havido

655
31:22 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

alguém que fornecesse "ajuda" a Jó pa ra do Sermão do Monte. Muitos no passado e


fazer o m al. Mas, embora ele tivesse poder, mesmo hoje se sentem justificados em se
amigos e influência , recusou-se a usá-los alegrar com a queda de um inimigo. Jó pos-
para desvantagem do pobre. suía um discernimento espiritu al mais pro-
22. Caia a omoplata. Este verso men - fundo e captou um vislumbre da ideia do
ciona a maldição que Jó está disposto a aceitar amor aos inimigos (ver com. de Mt 5:44).
se puder ser provado que ele tirou vantagem 31. Minha tenda. A ideia parece ser de
dos pobres. Que o juízo caia particularmente que Jó desafia qualquer pessoa a mencionar
sobre as partes do corpo que fizeram o mal uma ocasião em qu e sua generosid ade ou
ou que se recusaram a fazer o bem. A lingua- hospitalid ade foi questionada.
gem revela que ele confia em sua inocência e 32. Na rua. Jó continu a defendendo
que odeia os pecados mencionados . sua reputação de ser hospitaleiro. E le vivia
23. O castigo de Deus. Jó declara à altura das exigências da hospitali dade
temor e respeito por Deus, os quais apre- oriental , lembrando-se do estrangeiro tanto
senta como ra zões por que não poderia ter quanto dos membros de sua própria casa
sido culpado dos cruéis atos a ele atribuídos. (ver Gn 18:2-8).
24. Se no ouro pus a minha espe- 33. Como Adão. Ou , "como os homens".
rança. Jó fora rico, mas não fi zera do ouro A palavra hebraica 'adam pode significar a raça
sua esperança ou confiança. Sua confiança humana e também o nome pessoal de Adão.
estava em Deus. 34. Eu temia. Jó parece estar se esfor-
25. Os meus bens. Ver Jó 1:3; 20:15; çando para deixar claro que não deixava de
~ a. 22:24. fazer o bem por medo dos outros. ''Alguma
26. Olhei para o sol. Uma referên- vez fui impedido de fazer o bem pela voz de
cia específica à idolatria. O cu lto ao sol era uma multidão? Quando famílias ou tribos me
comum no antigo Oriente e dominante no pressionavam para fazer o mal, acaso suc umbi
Egito havia longo tempo. A adoração à Lua à persuasão delas? Porventura permaneci
era subordin ada à adoração ao Sol. Parecia escondido e em reclusão quando devia ter
haver um a tendência n atura l para se ado- saído para defender uma causa justa?" A cons-
rar aquilo que fornecia luz (ver Dt 4: 19; ciência de Jó está limpa quando ele recorda a
2Rs 23:5; Ez 8:16). honestidade de seu trato com as pessoas.
27. Meu coração se deixou enganar. 35. Minha defesa assinada. Do heb.
O pecado do coração vem primeiro. Havia algo tawi. A ARC traduz o termo como "meu
atraente na adoração aos corpos celestes, com intento", mas, literalmente, a palavra signi-
seu ritual, que apelava ao coração natural. fica "minha marca". Taw é a palavra traduzida
Beijos lhes atirei com a mão. A ARC como "marca" em Ezequie l 9:4 . Muitos defen-
diz: "A minha boca beij ou a minha mão." dem que a expressão hebraica se refere ao fato
A sed ução do coração é seguida pelo ato de Jó, neste verso, afixar dramaticamente sua
da m ão. Era cost ume beijar os ídolos (lRs assinatura, por assim dizer, a sua defesa.
19:18; Os 13:2). Os corpos celes tes estavam Acusação. Literalmente, "documento".
tão longe que os adoradores não podiam ter Jó a ind a parece procurar esclarecer a ques-
acesso a eles e, portanto, expressavam sua tão entre ele e Deus.
adoração beijando a m ão. O que Jó quer 36. Sobre o meu ombro. Jó tem tanta
dizer é que nunca participou dessa idolat ria. confiança em sua inocência que se rece-
29. Se me alegrei. O sentimento ex- besse a ac usação de Deus de forma escrita,
presso por Jó é uma antecipação dos ensinos n ão hesitaria em u sá-la sobre o omb ro ou

656
JÓ 31:40

sobre a cabeça. Este é um dramático pro- dos grandes proprietários de terra. Zofar o
testo de inocência. acusou de roubo e opressão (Jó 20:12-19).
37. Mostrar-Lhe-ia. Jó não tinha nada O mesmo fez Elifaz (Jó 22:5-9). Jó nega
a esconder de Deus. Ele está disposto a enfaticamente tais acusações.
divulgar todos os atos de sua vida. Irá respon- 40. Produza cardos. "Se sou deso-
der à acusação de Deus em todos os porme- nesto", diz Jó, "que cresçam espinhos e
nores. Pode se colocar diante de Deus, não ervas daninhas em vez de cereal."
como um acusado, mas como um príncipe. Fim das palavras de Jó. Assim ter-
38. Se a minha terra clamar. Jó mina o argumento do patriarca em seu
encerra seu argumento com uma afirmação próprio favor. Até o fim ele protesta sua
de sua honestidade em questões de proprie- integridade. Jó oscila entre a esperança e
dade. Ele apela à própria terra que culti- o desespero . Sua atitude para com Deus é
vou para que o vindique. Ele quer saber se a a de alguém ferido , que busca ser curado.
terra tem alguma queixa contra ele. Houve avanço rumo a uma solução, mas os
39. Sem tê-la pago. Jó está seguro de fios emaranhados só são alinhados quando
que não cometeu um dos pecados comuns Deus Se revela (Jó 38:1).

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

24, 28- CBV, 210 32- OTN, 500; Ed, 142

CAPÍTULO 32
1 Eliú fica indignado com Jó e seus três amigos. 6 Uma vez que a sabedoria não
vem com a idade, ele justifica sua ousadia ao falar, sendo jovem. 11 Ele os
repreende por não refutarem a Jó. 16 Sua ansiedade para falar.

1 Cessaram aqueles três homens de respon- 6 Disse Eliú, filho de Baraquel, o buzita: Eu
der a Jó no tocante ao se ter ele por justo aos sou de menos idade, e vós sois idosos ; arreceei-me
seus próprios olhos. e temi de vos declarar a minha opinião.
2 Então, se acendeu a ira de Eliú, filho de 7 Dizia eu: Falem os dias, e a multidão dos
Baraquel, o buzita, da família de Rão; acendeu-se anos ensine a sabedoria.
a sua ira contra Jó, porque este pretendia ser 8 Na verdade, há um espírito no home m, e o
mais justo do que Deus. sopro do Todo-Poderoso o fa z sábio.
3 Também a sua ira se acendeu contra os 9 Os de mais idade não é qu e são os sá -
três amigos, porque, mesmo não achando eles o bios, nem os velhos, os que ente ndem o que
que responder, condenavam a Jó. é re to.
4 Eliú, porém, esperara para falar a Jó, pois lO Pelo que digo: dai-me ouvidos , e tam bém
eram de mais idade do que ele. eu declararei a minha opinião.
5 Vendo Eliú que já não havia respos- 11 Eis que aguardei as vossas palavras e
ta na boca daqueles três homens, a sua ira se dei ouvidos às vossas considerações , enquanto,
acendeu. quem sabe, buscáveis o que dizer.

657
32:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

12 Atentando, pois , pa ra vós outros, eis que 17 Também eu concorrerei com a minha res-
nenhum de vós houve que refut asse a Jó, nem posta; declararei a minha opinião .
qu e respondesse às suas razões. 18 Porque tenho muito que fa lar, e o me u
13 N ão vos desculpeis, pois, di zendo: Acha- espírito me constrange.
mos sabedori a nele; Deus pode ve ncê-lo, e não 19 Eis que dentro de mim sou como o vinh o,
o homem . sem respiradouro, como odres novos, prestes a
14 Ora, e le n ão me dirigiu pa lavra a lgu- arrebentar-se.
ma, nem e u lh e re torquire i com as vos sas 20 Permiti , pois, que eu fale para desafoga r-me;
pa lav ras. abrirei os lábios e responderei.
15 Jó , os três estão pas mados, já não respon- 2 1 Não fa rei acepção de pessoas , nem usa rei
de m, fa lta m-lhes as palavras . de li sonjas com o homem.
16 Acaso, devo espera r, pois não falam , 22 Porqu e não se i li sonjea r; e m caso contrá-
estão parados e nada mais res pondem? rio, em breve me leva ri a o me u C riador.

1. Cessaram [... ] de responder. Ape- Ser mais justo. O motivo do longo dis-
sar da magnífica defesa de Jó, seus amigos curso de Eliú é defender a Deus. Ele tem
desistira m dele, pois o consid eraram tei - pouco a dizer sobre o passado de Jó. É um
moso, obstin ado e cheio de justiça própria . filó sofo e tem o obje tivo de defe nd er um a
N ão puderam respond er aos a rgumentos proposição; sua tese é: "Um home m não tem
dele, m as n ão ousaram abrir m ão de suas direito de apresentar qu eixa contra Deus." • §
próprias tradições . Jó os teria sati sfeito ape- 3. Não achando eles o que res-
nas se confessasse, humilhado, q ue peca ra. ponder. As razões apresentadas por
Isto ele não podia, em sã consciência , fazer; Elifaz, Bildade e Zofar não era m adequ a-
portanto, a discu ssão entre Jó e Elifaz , Bil- das, segundo a man eira de ver de Eliú. E le
dade e Zofa r terminou num impasse. parte para o estabelecimento do que consi-
2. Eliú. As informações sobre EliCJ são dera uma fil osofia adequada pa ra re solver
limitadas. Ele não é mencionado anterior- o enigma criado pela aparente contradição
mente no livro, nem depois de seu disc urso. entre a vid a de Jó e seu sofrim ento. E liú
C ontud o, são dados m ais detalhes sobre tanto condena Jó qu anto seus amigos, mas
sua ascendência do que sobre qualquer por razões diferentes .
outra p essoa m e ncionada no livro. Eliú é 7. Dizia eu. Eliú passava por um a luta.
uma palavra hebraica basta nte comum que Ele queri a falar, mas o bom senso e a tradi-
significa "Ele é [meu] Deus" (ver lSm l:l ; ção lhe di ziam que deixa sse os ma is velhos
1Cr 12:20; 26:7; 27:18). "Baraquel", o nome serem os defensores da sabedoria.
de seu p ai, significa "Deus abençoa". 8. Espírito. Aqui Eliú d á a razão para
"O bu zita" ide ntificaria Eliú como m em- se aventurar a fa lar, embora fo sse o m ais
bro da fam ília de Naor, o irmão de Abraão novo do grupo. Ele concluiu que o entendi-
(Gn 22: 20, 21; cf. Gn 11 :29). Rão tem sido mento vem, não da idade, mas do Espírito
identificado por alguns como o ancestral de de Deus. Um a vez que a sabedoria é dom
Davi mencionado em Rute 4:1 9 e M ate us divino, tanto os jovens qua ndo os idosos
1: 3 e 4, sob o nome de "Arão". Mas outros podem possu í-l a.
supõem que ele seja o membro da fa mí- 9. Os de mais idade. Esta t radução é
lia de Naor mencionado em Gênesis 22:21 respaldada pela LXX, a versão Siríaca e a
como filh o de Quemuel. Vulgata. A ARC traz "os grand es".

65 8
JÓ 32:22

10. Pelo que. Uma vez que a sabedoria homens mais velhos por causa de seu silên -
é dom de Deus e não está limitada a uma cio e manifestando crescente ansiedade
determinada idade ou status, Eliú expressa para apresentar seu próprio ponto de vista.
ousadamente sua opinião. 17. Concorrerei com a minha res-
11. Aguardei. Este verso indica que posta. A decisão é tomada. Eliú não vai
Eliú ouvira cuidadosamente tudo o que os esperar mais. Já suportou o quanto pôde o
amigos de Jó tinham a dizer. silêncio dos idosos.
12. Refutasse. A ARC diz "conven - 18. Tenho muito que falar. Literal-
cer". Eliú não quer dizer somente que Jó não mente, "estou cheio de palavras" (ver ARC;
ficou convencido, mas que os argumentos de ver também a declaração de Zofar em
Jó não foram refutados por seus oponentes. Jó 2 0: 2, 3). Os amigos de Jó não tinham
13. Deus pode vencê-lo. Não está mais nen huma palavra. Eliú , ao contrário,
claro se esta frase expressa a ideia de Eliú estava cheio de palavras .
ou se é citada como se os amigos de Jó a O meu espírito. Literalmente, "o espí-
tivessem dito. De acordo com o último rito de meu ventre".
ponto de vista, Eliú advertiu os amigos para 19. Como o vinho. O vin ho que estava
não se desculparem por não conseguirem fermen tando nos antigos odres distendia
convencer a Jó de que só Deus podia refu- o recipiente, geralmente feito de peles, ao
tar os argumentos dele . D e acordo com o ponto de este se romper (ver Mt 9:1 7), um a
primeiro ponto de vista, o significado é ilustração adequada da ansiedade para se
que só Deus pode levar Jó a se humilhar. exprim ir que enchia a alma de Eliú.
Os homens sábios foram incapazes de refu- 20. Para desafogar-me. A pressão
tar os argumentos de Jó. Suas tradições e interna vinha aumentando durante os lon-
preceitos eram inúteis. Deus terá de intervir gos discursos dos amigos. Havia chegado ao
para realizar o que eles não conseguiram. ponto de arrebentar.
14. Não me dirigiu. Eliú pode partici- 21. Acepção. Eliú sinceramente deseja
par da discussão de maneira m ais objetiva, ser justo. Nega que tenha preferências pes-
porque o severo discurso de Jó não se diri- soais. Não deseja ser influenciado pela
gia a ele. Ele tinha estado ali apenas como idade, posição social ou amizade pessoal.
expectador, um observador. Sua filosofia certamente vai desagradar
Com as vossas palavras. Eliú planeja alguns de seus ouvintes; portanto, ele sente
usar uma abordagem nova. O s três ami- a necessidade de fazer esta declaração com
gos repetiram, em grande parte, os concei- respeito a sua objetividade.
tos uns dos outros. Eliú promete contribuir Lisonjas. É bem conhecida a prática
para a discussão com algo novo. oriental de dar títulos longos e extravagan-
15. Pasmados. Talvez Eliú estivesse se tes. A lisonja é condenada por Jó (Jó 17:5),
dirigindo a Jó nesta declaração, ou usando pelo salmista (SI 12:2, 3; 78:36) e por
a terceira pessoa simplesmente para parecer Salomão (Pv 2: 16; 7:21; 28:23).
menos desrespeitoso. D e qualquer forma , 22. Meu Criador. Eliú crê que Deus
ele parece se referir aos três amigos e poria fim à sua existência se ele se rebai-
repreendê-los por sua incapacidade de refu- xasse a u sar a lisonj a. Ele cumpre a pro-
tar os argumentos de Jó. messa e, durante todo o seu longo discurso,
16. Devo esperar [... ]? Aqui se mostra não dá ocasião para que ninguém o acuse
a impaciência do jovem Eliú, incitando os de insinceridade.

659
33:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

CAPÍTULO 33
Eliú se oferece, no lugar de Deus, com sinceridade e mansidão, para arrazoar com Jó.
8 Justifica o procedimento de Deus em não dar ao homem satisfação de Seus caminhos,
devido à Sua grandeza. 14 Deus chama o homem ao arrependimento por visões,
19 por aflições 23 e por Seu ministério. 31 Ele pede a Jó
que atente para o que ele diz.

l Ouve, pois, Jó, as minhas razões e dá ouvi- 18 para guardar a sua alma da cova e a sua
dos a todas as minhas palavra s. vida de passa r pela espada.
2 Passo agora a falar, em minha boca fala a 19 Também no seu leito é castigado com
língua . dores , com incessante contenda nos seus ossos;
3 As minhas razões provam a sinceridade do 20 de modo que a sua vida abomina o pão, e
meu coração, e os meus lábios proferem o puro a sua al ma, a comida apetecível.
saber. 21 A sua carne, que se via, agora desaparece, e
4 O Espírito de Deus me fez, e o sopro do os seus ossos, que não se viam , agora se descobrem.
Todo-Poderoso me dá vida . 22 A sua alma se vai chegando à cova, e a
5 Se podes, contesta-me, dispõe bem as tuas sua vida, aos portadores da morte.
razões perante mim e apresenta-te. 23 Se com ele houver um anjo intercessor,
6 Eis que diante de Deus sou como tu és; um dos milhares, para dec larar ao homem o que
também eu sou formado do barro. lhe convém,
7 Por isso, não te inspi ro terror, nem será pe- 24 então, Deus terá misericórdia dele e dirá
sada sobre ti a minha mão. ao anjo: Redime-o, para que não desça à cova;
8 Na verdade, falaste pera nte mim, e e u ac hei resgate.
ouvi o som das tuas palavras: 25 Sua carne se robustecerá com o vigor da sua
9 Estou limpo, sem transgressão; puro sou e infância, e ele tornará aos dias da sua juvent ude.
não ten ho iniquidade. 26 Deveras orará a Deus , que lhe será propí-
lO Eis que D eus procura pretextos contra cio; ele, com júbilo, verá a face de Deus, e Este
mim e me considera como Seu inimigo. lhe restituirá a sua justiça.
ll Põe no tronco os meus pés e observa 27 Cantará diante dos homen s e dirá:
todas as minhas veredas. Pequei, perver ti o direito e não fui punido se-
12 Nisto não tens razão, eu te respondo; por- gundo merecia.
que Deus é maior do que o homem. 28 Deus redimiu a minha a lma de ir para a
l3 Por que contendes com Ele, afirmando cova; e a minha vida verá a lu z.
que não te dá contas de nen hum dos Seus atos? 29 Eis que tudo isto é obra de Deus , duas e
14 Pelo contrário, Deus fala de um modo, sim, três vezes para com o homem,
de dois modos, mas o homem não atenta para isso. 30 para reconduzir da cova a sua a lma e o
15 Em son ho ou em visão de noite, quan- alumiar com a luz dos viventes.
do cai sono profundo sobre os homen s, quando 31 Escuta, poi s, ó Jó, ouve-me; cala-te , e eu
adormecem na ca ma, falarei.
16 então, lhes abre os ouvidos e lhes sela a 32 Se tens alguma coisa que dizer, responde-
Sua instrução, me; fa la, porque desejo justificar-te .
17 para apa rtar o homem do seu desígnio e 33 Se não, escuta-me; cala-te, e ensi nar-te-e i
livrá-lo da soberba; a sabedoria.

660
JÓ 33 :1 9

I. Ouve, pois, Jó. O di sc urso de ste 12 . Deus é maior. Nos v. 8 a 11 , E liú


capítulo é dirigido a Jó. O principal pro- resumiu a argumentação de Jó; agora ele
p ósito é convencer Jó de que ele errou questiona seu ponto de vi sta . Seu pri meiro
em se us pontos de vi sta sobre o sofri- argumento de refutação é: "Deus é m aior
m ento. O s am igos de Jó consideram a afli- do que o homem ." Poder não signi fica jus-
ção co mo um ca stigo. Jó discordou ; ele tiça, e dizer que Deus pode faze r o que Lhe
p arece con siderar o sofrimento simples- agrada porque é todo-poderoso é um argu-
m ente como um a expressão da soberania mento incoerente para defendê-Lo.
divina. Eliú crê que Jó e seus am igos não 13. Por que contendes [... ]? E liú
têm a resposta corre ta. Ele acredita que e n fa ti za a in utilid ade de contend er com
o verdadeiro obj etivo da afl ição é purifi- De us. D eus faz o que ac ha melhor e não
~ .. car, fortalecer, me lhorar, provar, esclare - precisa explicar o motivo de Se us a to s .
cer, desenvolver a fé e salva r. D eu s é como um pa i, q ue po de não jul-
4. Espírito de Deus. A energia divina gar prud e nte revela r ao filho a razão do
o criou e lhe deu vida (ver G n 2:7) . que faz .
5. Contesta-me. Eliú promete que o 14. De um modo. Deus tem ma is de
debate entre ele e Jó será rea lizado em ter- um modo de falar ao homem , mas o homem
m os justos. Promete não tentar sobreca rre - nem sempre reconh ece Sua voz. Jó so li c i-
ga r Jó de repreensões e reconhece que Jó tou uma resposta da parte de Deus (Jó 10: 2;
tem o direito de lhe responder e de discor- 13:22; 23:5). Eliú afirma que Deus está
dar dele. fa la ndo a Jó de várias fo rmas, que são expl i-
6. Diante de Deus. Eliú não reivindica cadas nos versos seguintes.
superioridade ou nobreza . Ele se expressa 15. Em sonho. Ver Gn 20 :3-7; 31:11 ,
modes tamente ao tentar assentar a base de 24; 41 :1-7, 25; Nm 12:6; 1Rs 3:5 ; Dn 2:1 , 29;
sua mensagem. 4:5-1 8; M t 1:20 ; 2:13, 19.
7. Não te inspiro terror. Eliú insiste 16. E lhes sela a sua instrução.
em qu e Jó não tenha medo dele. Algum as versões, com base na LXX, mudam
Nem será pesada[ ... ] a minha mão. a pontu ação do hebraico e dão, em essência,
Eliú não pretende usar a coerção para pro- a seguinte tradução: "E os aterrori za com
mover seus argumentos. aparições" (BJ; ver também vol. 1, p. lO).
8. Falaste. Eliú faz com qu e Jó se 17. Apartar o homem. Este verso revela
re corde de decla rações qu e ele suposta- o propósito das in struções mencion adas no
m en te tenha feito. Seu pla no parece ser verso anterior. Deus está ten tando apa rtar o
convencer Jó co m base e m suas próprias homem do mal e curar seu orgulho.
declarações. 18. Guardar. Este verso revela um
9. Estou limpo. Isto é um exagero . Jó pouco m ais do prop ósito das advertências
n ão h avia reivindicado perfeição absoluta divinas. Por meio delas, Deus pode salva r
(ver Jó 7:20, 21; 9:28; 13:26; 14:4, 17). É ver- alguém da ruína.
dade que ele defendeu sua inocência diante 19. Com dores. E liú se aproxim a
das acusações de grave p ecado que seus progressiva m ente do problem a de Jó. E le
am igos apresentaram contra ele, mas não expressa s ua p ró pr ia com preen são do
chegou ao extremo de afirmar estar livre de min istério da dor. Para ele, Deus é bom e
todo pecado . amoroso ao infligir a dor, não como puni -
10. Seu inimigo. Ver Jó 16:9; 19: 11. ção, mas como dis ciplina . Parece h ave r
11. No tronco. Ver Jó 13:27. certa progressão no di sc urso de E liú .

66 1
33:20 COM ENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Primeiramente, ele menciona sonhos, mensageiro, iniciadas no v. 24 (ver NTLH).


depois, advertências e, então, a dor. A ideia Depois de o castigo ter feito sua obra,
de dor como disciplina não era nova. Elifaz segue-se a recuperação da saúde . A carne
havia aludido a isso em Jó 5:17. Eliú, con- restaurada , robustecida com o vigor de um a
tudo, expa nde e desenvolve a ideia de uma criança, contrasta com a aflição de Jó (ver
forma que Elifaz não o hav ia feito (sobre 2Rs 5:14).
a disciplin a do sofrimento, ver SI 11 9:6 7, 26. Orará. Eliú está tentando pintar
71, 75). um quadro encorajador sobre os resultados
20. Abomina o pão. Alude-se aqu i à da disciplina do sofrimento. A comunhão
seriedade da aflição. O sofrimento de Jó o com Deus, a alegria e a justiça vêm após a
havia levado a uma situação tal que coisas experiência de dor e tristeza.
que comumente trariam prazer, como gulo- 27. Cantará. Do heb. yashor, que
seimas, haviam perdido todo o atrativo. alguns consideram ser um a forma poé-
21. Desaparece. Este verso continua a tica de yashir, "ele cantará " (como a ARA),
descrever a aflição em termos que Jó podia mas outros consideram que seja uma forma
compreender. derivada de shur, "olhar", "contempl ar" (ver
22. Cova. Do heb. shachath, a mesma ARC). No caso da interpretação usada pela
palavra usada no v. 18. Jó repetidamente ARA, a passage m descreveria a alegria da
expressa sua impressão de que a morte es tá alma restaurada e perdoada.
próxima. 28. Minha alma. Es te verso é um a
Portadores da morte. Literalmente, continuação do cântico de louvor daquele
"os que faze m morrer". P rovavelmente, que foi perdoado.
uma alus ão figurativa a seres sobrenatu- 29. Duas e três vezes. Eliú afirma
ra is, comissionados a executar juízo (ver que Deus traz aflição a fim de produzir
2S m 24:16, 17). Ou, a expressão pode se disso um glorioso livramento. Sua inferên-
referir às dores e enfermidades que pare- cia é a de que as aflições de Jó são disci-
ciam estar pondo fim à vida. plinares e, dessa forma, podem atuar para
23. Um anjo. Do heb. mal 'ak, "anjo" seu benefício.
ou "mensageiro". Esta passagem (v. 23, 24) 31. Cala-te. Talvez}ó, nesse momento,
pode ser considerada messiâ nica. A lingua- tenh a mostrado alguma inclinação para
gem descreve a obra de Cris to e é dessa quebrar o silêncio e responder a Eliú . Não
forma empregada (ver Ed, 115; cf. PP, 366). desejando ser interrompido, Eliú impede
O que lhe convém. Isto é, o cam inho que Jó se pronuncie . Então, desejando
~ ... que ele deve seguir (ver Jo 16:8). ser cortês, e ao mesmo tempo apresen-
24. Resgate. Do heb. lwfer, do qual é tar seu argumento, ele faz a concessão no
derivado o verbo hafar, que geralmente é verso seguinte.
traduzido como "fazer expiação". 32. Justificar-te. Eliú p arece ter
25. Sua carne se robustecerá. um sincero de sejo de que Jó seja declara-
Pode ser uma continuação das palavras do do justo.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

24 - Ed, 115

662
JÓ 34: l

CAPÍTULO 34
1 Eliú acusa Jó de atribuir injustiça a Deus. 1O O Deus todo-poderoso não pode ser
injusto. 31 O homem deve humilhar-se diante de Deus. 34 Eliú repreende ]ó.

I Disse mais Eliú: 19 Quanto me nos Àquele que não faz acep-
2 Ouvi, ó sábios, as minhas razões; vós, ins- ção das pessoas de príncipes, nem estima ao 11 ~
truídos, inclinai os ouvidos para mim. ri co m ais do que ao pobre; porque todos são
3 Porque o ouvido prova as palavras, como o obra de Suas mãos .
paladar, a comida. 20 D e repente, morrem ; à meia-noite, os
4 O que é direito escolhamos para nós; co - povos são perturbados e passam, e os poderosos
nheçamos entre nós o que é bom. são tom ados por força invisível.
5 Porque Jó di sse: Sou justo, e Deus tirou o 2 1 Os olhos de Deus estão sobre os ca mi-
meu dire ito. nhos do homem e veem todos os seus passos.
6 Apesar do meu direito, sou tido por men- 22 Não há trevas ne m sombra assaz pro -
tiroso; a minha ferida é incurável, sem que haja funda, onde se escondam os que pratica m a
pecado em mim. ini qu idade.
7 Que homem há como Jó, que bebe a zom- 23 Pois Deu s não prec isa observar por muito
baria como ág ua? tempo o homem antes de o fazer ir a juízo pe-
8 E anda em compa nhi a dos que praticam a rante Ele .
iniquidade e caminha com homens perversos? 24 Quebranta os fort e s, sem os inquirir, e
9 Pois disse: De nada aproveita ao homem o põe outros em seu lugar.
comprazer-se em Deus. 25 Ele conhece, pois , as suas obras ; de noite,
10 Pelo que vós, homens sensatos, escutai-me: os tra nstorna, e ficam moídos.
longe de Deus o praticar Ele a perversidade, e do 26 Ele os fere como a perversos, à vista de
Todo-Poderoso o cometer injustiça. tod os;
li Pois retribui ao homem segundo as suas 27 porque dEle se desv iaram, e não quise-
obras e faz que a cada um toque segund o o seu ram compreender nenhum de Seus caminhos,
caminho. 28 e , assim, fi zera m que o clamor do pobre
12 Na verdade, Deus não procede malicio- subisse até Deus, e Este ouviu o lamento dos
samente; nem o Todo-Poderoso perverte o juízo. aflitos.
13 Quem Lhe entregou o governo da terra? 29 Se E le aquietar-Se, quem o conde nará?
Quem Lhe confiou o universo? Se encobrir o rosto, quem O poderá conte mplar,
14 Se Deus pe nsasse apenas em Si mesmo e seja um povo, seja um homem?
para Si recolhesse o Seu espírito e o Seu sopro, 30 Para que o ímpio não reine, e não haja
15 toda a carne juntamente expiraria , e o quem iluda o povo .
homem voltar ia para o pó. 31 Se a lguém di z a Deus: Sofri, não peca-
16 Se, pois, há e m ti entendimento, ouve rei mais;
isto ; inclina os ouvidos ao som das minha s 32 o que não vejo, ensina- mo Tu; se cometi
palavras. inju stiça, ja mais a tornarei a praticar,
17 Acaso, governaria o que aborrece sse o 33 acaso, deve Ele recompensar-te segundo
direito? E quererás tu condenar Aquele que é tu queres ou não queres? Acaso, deve Ele dizer-te:
justo e poderoso? Escolhe tu, e não Eu ; declara o que sabes, fal a?
18 Dir-se-á a um rei: Oh! Vil? Ou aos prínci- 34 Os homens sensatos dir-me-ão, dir-me -á
pes: Oh! Perversos? o sábio que me ouve:

663
34:2 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

35 Jó falou sem conhecimento, e nas suas 37 Pois ao seu pecado acrescenta rebeli ão,
palavras não há sabedoria. entre nós, com desprezo, bate ele palmas e mul-
36 Tomara fosse Jó provado até ao fim, por- tiplica as suas palavras con tra Deus .
que ele respondeu como homem de iniquidade.

2. Ó sábios. Neste ponto, Eliú deixa de E liú , Jó condescendera com a irreverência e


se dirigir a Jó e passa a se dirigir àqueles a a crítica a Deus com ta nta facilidade como
quem cha ma de "sá bios" ou "homens sensa- se bebe água (ver Jó 15:16).
tos" (v. 10). É possível que este grupo inclua 8. Com homens perversos. Este verso
mais do qu e os três amigos de Jó. É prová- continua a expressar o horror de E liú pela
vel que um considerável número de pessoas irreverênci a de Jó e reflete a ntes a atitude
influentes tivesse se ajuntado para ouvir de Eliú do que os atos de Jó. A filosofia de
a discu ssão. Eliú sobre a di sciplin a de D eu s indicava
3. Prova as palavras. Ver Jó 12:11. que Jó devia ser um pecador. Nesse as pecto
Eliú tenta apelar para o discernimento espi- suas ideias não diferiam das dos três ami-
ritual de seus ouvintes. Ele deseja que com- gos . Segundo sua interpre tação, quer os
parem sua posição à de Jó, e pretende que infortúnios de Jó fosse m disciplin a ou puni-
percebam o qu e lhe parece ser a grande ção, Jó devia ter feito alguma co is a para
superioridade de seu ponto de vista. merecê-los.
4. Escolhamos. Este verso é um apelo, 9. Pois disse. Ver Jó 9:22 . O horror
da parte de Eliú , para qu e se desc ubra a ver- de Eliú por Jó ati nge o c límax neste verso.
dade em meio às opiniões e conceitos con- É totalmente inconcebível para Eliú que <4 ~
f lita ntes apresentados. alguém ache que o favor divino não resulte
5. Jó disse. Os v. 5 a 9 recapitulam as automaticame nte do serviço fiel. Na ver-
ac usações de Jó co ntra Deu s. Eliú declara dade, esta citação não reflete ac uradame nte
que Jó acusou a Deus de afligi-lo apesar de a posição de Jó. Ele nunca chegou a dec la-
ele ser justo. Esta era, na verdade, a base do rar que não havia reco mpensas para a con-
problema de Jó. Ele não conseguia harmo- duta correta. O que e le defende u foi que os
nizar seu s infortúnios com sua consciência justos nem sempre são abençoados e qu e os
de ter vivido de maneira justa. ímpios não recebem retribuição im edi ata.
6. Sou tido por mentiroso. Neste No entanto , esta generalização de E liú,
verso, Eliú continu a a citar Jó, mencionando como muitas de suas declarações, desfi gu-
que ele teria dito que "apesar de minha vida ram a verd adeira at itude de Jó (ver Jó 17:9;
justa, sou considerado um mentiroso quando 21:9; 28:28).
me defendo. Sou punido como um malfei- 10. Escutai-me. Eliú declarou o que
tor, embora esteja livre de transgressão". ele concebe ser a posição de Jó. Então, pede
Ferida. Literalmente, "flecha". Esta é a atenção dos ouvintes e declara solene-
uma metáfora cujo sentido é uma ferida feita mente que Deus é justo. A declaração de
pela fl echa de Deus. O Senhor havia infli- Eliú co ncernente a Deus é verdade ira , mas
gido a Jó uma ferida mortal, mas Jó não está o fa zer tal decl araç ão não resolve o pro-
ciente de qualquer transgressão de sua parte. blem a discutido . Em vez de enfrentar os
7. Que homem [...]? Eliú acha difícil fatos do caso e tentar conciliar os eventos
ter palavras para expressar sua intensa aver- com a justiça de Deus, Eliú transforma o
são à perversidade de Jó. Na estim ativa de problema todo num ass unto de soberani a

664
JÓ 34:24

divina, o que pouco contribui para a verda- Não faz acepção. Fazer acepção de
deira solução do caso. alguém é tratá-lo com especial favor por
11. Segundo o seu caminho. Esta causa de sua posição, riqueza ou outros fato-
declaração é verdadeira (ver Rm 2:6-10; res (ver Lv 19:15; Dt l:l7; 16:19; 2Cr 19:7;
2Co 5:10; Ap 22:12). Ela se aplica a toda At 10:34; Rm 2: 11 ; Gl 2:6; Ef 6:9; C! 3:25;
a conduta do ser humano e a todo o trato Tg 2:1, 9).
de Deus para com ele. Talvez a declaração 20. À meia-noite, os povos são per-
não pareça verdadeira quando se examina turbados. Este texto indica a iminência
apenas parte da vida e não sua totalidade. da catástrofe. Doenças, terremotos, inun -
Por esta razão, não se pode extrair con- dações , violência, incêndios e acidentes são
clusões a respeito do caráter de alguém matadores à espreita. Eles atacam quando
examinando-se apenas seus infortúnios. menos se espera - "à meia-noite"- e atin-
12. Deus não procede maliciosa- gem tanto ricos quanto pobres.
mente. Ver v. 10. Por força invisível. Literalmente, "não
13. Quem Lhe entregou. A pergunta com mão", isto é, sem o auxílio de mãos
é feita para enfatizar o fato de que ninguém humanas (ver Dn 8:25).
deu a Deus Seu poder e autoridade. Ele é o 21. Seus passos. Eliú adota um novo
Criador e a fonte de poder. argumento: apela para a onisciência de
14. Para Si recolhesse. Isto é, se cha- Deus como garantia de que Ele vai agir com
masse de volta o sopro de vida que Ele deu à justiça. Deus conhece a capacidade, a dis-
raça humana na criação (ver Gn 2:7). posição, as circunstâncias e as tentações de
15. Toda a carne. Eliú apresenta o poder cada ser humano. Ele não comete o erro de ,
soberano de Deus. Se Deus desejasse, pode- indevidamente, afligir alguém.
ria destruir o ser humano num momento. 22. Trevas. A onisciência de Deus não
Ninguém pode negar que Deus tem o direito é só uma proteção para os justos; é uma
de fazer isso. O ser humano não pode recla- fonte de terror para os ímpios (ver SI 139:11 ;
mar o direito à vida. Sendo de tal forma sobe- Hb 4:13).
rano, Deus Se reserva o direito de afligir Suas 23. Observar. O texto é vertido de diver-
criaturas se achar por bem fazê-lo . sas formas. A ACF diz: "Porque De us não
16. Ouve isto. Os v. I a 15 foram ditos sobrecarrega o homem mais do que é justo."
para os expectadores (v. 2). A partir daqui, Os tribunais humanos precisam fazer longa
Eliú se dirige diretamente a Jó. e paciente investigação e, mesmo assim , fre -
17. Aborrecesse o direito. Eliú parece quentemente cometem erros. Deus não tem
se referir ao governo do universo. Deus é o essa necessidade. Outra interpretação: "Pois
supremo governante, e é inconcebível que não se fixa ao homem um prazo para com- · ~
Ele odeie o direito e ame o erro. parecer ao tribunal divino" (BJ; ver também
18. A um rei. Eliú extrai uma ilustra- NTLH); esta tradução acrescenta a palavra
ção dos reis terrenos. Os súditos de um rei mo'ed, "tempo", "prazo", o que é, contudo,
lhe mostram respeito e não o chamam de desnecessário, já que o texto hebraico, d a
vil (heb. beliyya'al, termo traduzido como maneira como se encontra, fa z sentido.
"Belial" e que significa, literalmente, "indi- 24. Sem os inquirir. Não há necessi-
víduo inútil") ou perverso. dade de que Deus faça um exame extenso
19. Quanto menos [... ]? Se aos reis e da vida dos ímpios. Ele os vê imediata-
aos príncipes se deve respeito, quanto mais mente , conhece toda a sua conduta e pode
Àquele que criou os reis e os príncipes? julgá-los sem demora (ver SI 75:7; Dn 2:21 ).

665
34:26 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

26. À vista de todos. Deus pune os que diz respeito a você, não a mim ; contudo,
ímpios abertamente. você deve fazer sua decisão e expressar seus
28. O clamor do pobre. Eliú consi - pontos de vista." O propósito do verso parece
dera os ímpios como opressores. Jó e seus ser u m apelo para que Jó tome uma deci-
amigos trocaram acusações e negações com são. A julgar pelas anteriores declarações de
respeito a este ponto (ver Jó 22 :5-10; 29:12). Eliú , a decisão à qual ele se refere é que Jó
29. Quem O condenará? Eliú enfatiza confesse seus pecados, reconhecendo que
a onipotência divina. Nenhum indivíduo ou Deus é justo em Seus juízos, e que aceite seu
nação pode resistir a Deus. Quer Ele aben- sofrimento como disciplina. Até aqui, Jó se
çoe ou amaldiçoe, Seus atos são poderosos e rec usou a desistir da consciência de sua inte-
inquestionáveis (ver Sl104:29; Rm 8:31-34). gridade e a fazer tal confissão.
31. Se alguém diz. Este verso inicia o 34. Os homens sensatos. Este verso
desenvolvimento de uma nova ideia. O pro- parece ser uma introdução à citação feita
pósito parece ser inspirar uma atitude de no v. 35.
humildade da parte de Jó. A reação ideal 35. Sem conhecimento. Eliú tenta
ao sofrimento, segundo a opinião de Eliú, é humilhar Jó, ao lembrá-lo de como os
resumida nas quatro declarações da pessoa homens sensatos olharão para ele. É extre-
afligida (v. 31, 32). Eliú deseja que Jó faça mamente perturbador o não ter bom con-
declarações assim em vez de se defender e ceito aos olhos de pessoas distintas.
insistir em sua própria integridade. Os senti- 36. Porque ele respondeu. Esta
mentos sugeridos por Eliú são nobres, e estão tradução se baseia em dois manuscritos
de acordo com a concepção do sofrimento hebraicos. Eliú crê que Jó merece mais afli-
como uma disciplina. Ele não entende, con- ção para purificá-lo daquilo que ele, Eliú ,
tudo, o real motivo do sofrimento de Jó. considera como ideias malignas. A declara-
33. Segundo tu queres. Sugeriu-se o ção é dura e se encaixa bem no padrão das
seguinte significado para a passagem: "Deve expressões usadas pelos três amigos.
Deus esperar para retribuir de acordo com os 37. Bate ele palmas. Um sinal de
seus desejos? Será que Deus vai fazer o que indignação, ridículo ou zombaria (ver
você acha que é certo? Esta é uma pergunta Nm 24:10; Jó 27:23).

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

21 - CS, 341; T3, 417 22- Ed, 144

CAPÍTULO 35
1 O homem não pode comparar-se com Deus, porque nossa bondade ou maldade não
O afeta. 9 Muitos clamam em suas aflições, mas não são ouvidos por falta de fé.

1 Disse mais Eliú: 3 Porque di zes: De que me serviria ela?


2 Achas que é justo dizeres: Maior é a min ha Que proveito tiraria dela mais do que do meu
justiça do que a de Deus? pecado?

666
JÓ 35 :8

4 Dar-te-ei resposta , a ti e aos teus amigos 10 Mas ninguém diz: O nde está Deus, que me
~ I> contigo. fez, que inspira canções de louvor durante a noite,
5 Atenta para os céus e vê; contempla as 11 que nos ensina mais do que aos animais da
altas nuvens aci ma de ti. terra e nos faz mais sábios do que as aves dos céus?
6 Se pecas, que mal Lhe causas tu? Se as 12 Clamam, porém Ele não responde, por
tuas transgressões se multiplicam , que Lhe causa da arrogâ nc ia dos maus.
fazes? 13 Só gritos vazios Deus não ouvirá , nem
7 Se és justo, que Lhe dás ou que recebe Ele atentará para eles o Todo-Poderoso.
da tua mão? 14 Jó, ainda que di zes que não O vês, a tu a
8 A tu a impiedade só pode fazer o mal ao causa está diante dEle; por isso, espera n Ele.
homem como tu mesmo; e a tua justiça, dar pro- 15 Mas agora, porque Deus na Sua ira não
veito ao filho do homem. está punindo , nem fazendo muito caso das
9 Por causa das muitas opressões, os homens transgressões,
clamam, clamam por socorro contra o braço 16 abres a tua boca, com palavras vãs, amon-
dos poderosos. toando fras es de ignorante.

1. Disse mais Eliú. Ver com. de Jó 32:2. conduta humana . A grandeza de Deu s é
2. Do que a de Deus. Jó não fez tais ilustrada pela imponência e pelo esplendor
afirmações. Ele questionou a justiça de dos céus e das nuvens.
Deus (Jó 9:22-24; 10:3; 12:6), mas a ac usa- 6. Que Lhe fazes? O a rgumento é
ção de Eliú, como aparece aqui, vai muito de que o Deus que criou os céus n ão é
além de qualquer intenção de Jó em seus influenciado nem intimidado pelo pe cado
discursos. do ser hum ano: Seu poder não é dimi-
3. De que me serviria ela? Eliú con- nuído, Ele não é prejudicado, nem Sua dig-
test a que Jó tenha o direito de declarar nidade , ferid a.
que um justo pode sofrer da mes ma forma 7. Que Lhe dás [... ]? Por outro lado,
que um pecador. Esse ponto de vista é tão defende Eliú, a justiça humana não pode
ofensivo para ele como para os três ami- benefici ar a Deus, nem colocá-Lo sob obri-
gos. Contudo, ele faz inferências injustas gação para com o homem .
das declarações de Jó. Jó não afirmou que 8. Sp pode fazer o mal ao homem.
o justo no final não tem vantagem sobre Segundo o raciocínio de Eliú, os resulta-
o pecador. O que ele fez foi insistir no dos da iniquid ade ou da justiça são sen-
fato de que neste mundo a Providência tidos, não por Deus, mas pelo próprio ser
nem sempre atua de acordo com o caráter huma\-10. Deus está tão afas tado dos efei-
das pessoas. tos do p ecado ou da justiça humana que
4. Dar-te-ei resposta. A resposta não há motivo para Ele não ser estri-
de E liú amplia o argumento de Elifaz em tamente justo . D es ta form a, onde deve
Jó 22 :2 e 3. haver recompensa, h averá, e onde deve
Amigos. Do heb . re'im, a mesma pala- haver castigo, h averá . Portanto, há va n-
vra usada em Jó 2:11; 19: 21; e 42:7. A refe- t agem em ser justo. D eus é exa ltado
rência é aos três amigos de Jó. demais p ara modificar a lei da ca u sa
5. Atenta para os céus. O objetivo da e do efeito que, na est imativa de Eliú,
declaração de E liú é mostrar que D eu s é exige a recompensa para o justo e a puni-
tão grande que não pode ser afetado pela ção para o m a lfeitor. Em outras palavras,

667
35:9 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

a impiedade ou a justiça de um homem 12. Clamam. Eliú obviamente tem


afeta somente a ele, não a Deus . A filoso- seus olhos em Jó . Deus responde ao cla-
fia de Eliú, neste particular, deixa de reco- mor sincero. Isso é verdade, mas segue-se
nhecer o estreito vínculo que existe entre daí que todos os clamores sinceros são aten-
Deus e Suas criaturas . Eliú vê a transcen- didos imediatamente, ou da maneira dese-
dência de Deus, mas deixa de ver Sua pro- jada? Isto é simplificar demais o problema
ximidade daqueles que criou. O evangelho do sofrimento, e mostra como uma posição
apresenta um Deus amoroso, que é afe- aparentemente lógica pode ser extrema-
tado pelo que Suas criaturas fa zem e que mente enganosa.
Se relaciona com elas de maneira pessoal Não responde. Eliú propõe que Deus
(ver Hb 4: 15). não responde aos maus porque eles pedem
9. Muitas opressões. Eliú se vê diante com arrogância, sem humildade. Afirmam
do difícil fato da opressão. Ele não podia ter direito ao alívio do sofrimento e recor-
negar que multidões clamavam por causa rem a Deus por motivos egoístas.
do tratamento recebido dos poderosos. 14. Ainda que. Provavelmente esta
Como podia ele encaixar esse fato em sua frase deveria ser traduzida da seguinte
filosofia? Por que essas pessoas oprimidas forma: "quanto menos quando dizes que
não eram libertadas? não podes vê-Lo! " (como continuação da
10. Ninguém diz. A posição de Eliú frase anterior). Isto é, se Deus não ouve um
é de que os oprimidos continuam a sofrer clamor vazio, muito menos ouvirá o cla-
porque reclamam de seus males, mas dei- mor de alguém que se queixa de não poder
xam de clamar a Deus com o es pírito cor- vê- Lo. Eliú aparentemente se refere a
~ .,. reto. Se eles se aproximassem assim de expressões de desânimo pronunciadas por
Deus, Ele lhes inspiraria "canções de lou- Já, como às registradas nos cap. 9:ll; 13:24;
vor durante a noite" ou contentamento 23:3, 8, 9; 30:20; e 33 : lO.
na hora da escuridão e da angústia (ver 15. Mas agora. A primeira parte deste
Sl 30:5; 77:6; 90 :14; 143:8). O ponto fraco verso pode ser traduzida literalmente da
dessa posição é que ela pressupõe que os seguinte forma: "E agora, porque Ele não
que continuam a sofrer não clamam a Deus visitou a ira dele [de Jó] ." A ideia pode ser
corretamente. de que Deus não enviou novas aflições por
11. Mais do que aos animais. Os causa das palavras arrogantes de Jó, e isso
animais e as aves gritam instintivamente fez com que Jó se tornasse mais ousado para
quando em dor e aflição, mas não sabem continuar suas queixas.
apelar para o Criador. Deus ensinou o ser 16. Palavras vãs. Eliú conclui que
humano a fazer mais do que reclamar: ele Já não tem motivo justo para se quei-
deve levar sua dor a Deus num espírito xa r; subentende que Jó n ão sofreu tudo
de fé, piedade, humildade e resignação. que merece e qu e de fato ele não sabe do
De acordo com Eliú, se Deus não respon- que está falando. Certamente Jó jamais
der ao apelo, é porque não foi feito com o poderia ser consolado por um discurso
espírito correto. como esse!

668
JÓ 36:1

CAPÍTULO 36
1 Eliú mostra como Deus é justo em Seus caminhos. 16 Como os pecados de Já
impedem as bênçãos de Deus. 24 As obras de Deus devem ser magnificadas.

l Prosseguiu Eliú e disse: 17 mas tu te enches do juízo do perverso, e,


2 Mais um pouco de paciência , e te mostra- por isso, o juízo e a justiça te alcançarão.
rei que ainda tenho argumentos a favo r de Deus. 18 Guarda-te, pois, de que a ira não te indu-
3 De longe tra rei o meu conhecimento e ao za a escarnecer, ne m te desvie a grande qua n-
meu C riador atribuirei a justiça. tia do resgate.
4 Porque, na verdade, as minh as pa lav ras 19 Estimaria Ele as tuas la múrias e todos os
não são falsas; contigo está quem é senhor do teus grandes esforços , para que te vejas livre da
ass unto. tua angústi a?
5 Eis que De us é mui gra nde ; contudo a 20 Não suspires pela noite, em que povos
ningué m despreza ; é grande na força da Sua serão tomados do seu lugar.
compreensão. 21 Guard a-te, não te inclines para a iniqui-
6 Não poupa a vida ao perverso, mas faz jus- dade ; pois isso preferes à tua mi séri a.
tiça aos a fiitos . 22 Eis que Deus Se mostra grande em Seu
7 Dos justos não tira os olhos; antes, com poderl Quem é mestre como Ele?
os reis, no trono os assenta para sempre, e são 23 Quem Lhe presc reveu o Seu ca minho ou
exa ltados. quem Lhe pode dizer: Praticaste a injustiça?
8 Se estão presos em grilh ões e amarrados 24 Lembra- te de Lhe magnifica res as obras
com cordas de aflição, que os homens celebra m.
9 Ele lhes faz ver as suas obras , as suas 25 Todos os home ns as contempla m ; de
tra nsgressões, e que se houveram com soberba. longe as admira o homem .
lO Abre-lhes também os ouvidos para a 26 Eis que Deus é gra nde, e não O pode-
instrução e ma nda-lhes que se conve rta m da mos compreender; o número dos Seu s a nos não
iniquidade. se pode calcular.
li Se O ouvirem e O servirem , acabarão seus 27 Porque atra i para Si as gotas de ág ua que
dias em felicidade e os seus anos em delícias. de seu vapor destila m em chu va,
12 Porém, se não O ouvirem, serão traspas- 28 a qual as nu vens derra mam e gotejam
sados pe la lança e morrerão na sua ceguei ra. sobre o homem abunda ntemente.
13 Os ímpios de coração a montoa m para si 29 Acaso, pode alguém entender o estender-se
a ira; e, agrilhoados por Deus , não clama m por das nuven s e os trovões do Seu pavilhão?
socorro. 30 Eis que estende sobre e las o Seu re lâ m-
14 Perd em a vida na sua mocidade e morrem pago e encobre as profundezas do mar.
e ntre os prostitutos cultuais. 31 Pois por estas coisas julga os povos e lhes
15 Ao aflito livra por meio da sua afli ção e dá mantimento em abund ância.
pe la opressão lhe abre os ouvidos. 32 Enche as mãos de re lâmpagos e os da rde-
16 Assim também procura tira r-te das fa u- ja contra o adve rsário.
ces da angústia para um lugar es paçoso, em que 33 O frago r da te mpestade dá notícias a res-
[2.- não há aper to, e as iguarias da tua mesa seriam peito dEle, d Ele q ue é zeloso na Sua ira contra
cheias de gordura; a injustiça .

669
36 :1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

I. Prosseguiu Eliú. Os cap. 36 e 37 9. Ele lhes faz ver. Eliú afirma que a
formam um único discurso . Constituem aflição sobrevém aos justos com o propósito
um apelo final a Jó para que seja resignado de lhes revelar suas debilidades de caráter e
e paciente diante de Deus. a natureza de suas transgressões.
2. A favor de Deus. A suposta razão de 10. Abre-lhes. E liú di z qu e Deus
Eliú para continuar seu discurso é qu e há torna os homens disp ostos a aprend er e
mais coisas que ele se sente co nstrangido a a ouvir ao permitir as aflições. Assim era
dizer para vindicar a Deus. Ele acha qu e é o com Jó, diz ele.
advogado de Deus no caso "Deus versus Jó ". Manda-lhes. As aflições de D eus são
3. De longe. Eliú não pretende repe- ordens para que a pessoa vá e não peque mais.
tir argumentos surrados. Deseja apresentar Eliú elabora sua teoria do sofrimento como
conhecimento a respeito de coisas que esca- disciplina e não como punição. Em vez de
param à atenção dos demais; planeja extrair olhar para Jó como os outros amigos haviam
argumentos do vasto campo da história e feito, como um pecador de quem Deus estava
da natureza para vindicar a justiça de Deus Se vingando, ele o considera uma pessoa cas-
(ver Jó 8:8). tigada com amor por causa de suas faltas. -<e ~
4. Contigo está. Estas palavras pare- 11. Se O ouvirem. Eliú apresenta a pro-
cem arrogantes, mas talvez Eliú não as tenha messa de que sobrevirão prosperidade e pra-
dito com tal intenção. Jó acusara seus amigos zer nesta vida se os que forem castigados
de argumentos incorretos em sua defesa de reagirem da maneira correta (ver Jó 33:23-28;
Deus (ver Jó 13:7, 8). Eliú promete que suas Jr 7:23; 26:13). A volta de Jó à prosperi-
palavras serão verdadeiras. Ele baseará suas dade , afirma Eliú, depe nderá de seu arre-
declarações no que considera ser o conhec i- pendimento por seus pecados e d e sua
mento perfeito e não em ideias preconcebidas. obediência a Deus, pois ele está sob di s-
5. É mui grande. Este verso apresenta ciplina. Eliú, porém, deixa de ver que os
o tema do di scurso de Eliú, que é o poder e justos devem esperar tribulação e perse-
a sabedoria de Deus. guição (ver Jo 16:33; At 14:22; 2Tm 3: 12;
6. Não poupa. Eliú defende, em essên- Hb 12:1-11 ; 1Pe 4:12 , 13).
cia, a mesma filosofia dos três amigos de 12. Se não O ouvirem. Este verso
]ó. Acredita que o modo de Deus tratar o apresenta a alternativa ao v. 11. A id eia
ser humano nesta vida é determinado pelo implícita é que a desobediência leva à
caráter da pessoa. Jó fizera a observação de morte. H á elementos de verdade no ponto
que os ímpios parecem ser protegidos con- de vista de Eliú.
t ra os infortúnios (Jó 21:7). 14. Perdem a vida na sua mocidade.
7. Não tira. Eliú assume a posição de Para Eliú, o fim dos ímpios chega cedo.
que, embora os justos sejam afligidos, não A idade avançada era altamente respeitada
são abandonados. Deus mantém os olhos entre os antigos, e morrer jovem era consi-
sobre eles, quer estejam em tronos ou em derado grande tragédia.
calabouços (v. 8). Jó h avia insinuado que Os prostitutos cultuais. Do heb.
Deus o abandonara (cap. 29:2). Eliú nega qedeshim, (ver Dt 23:18 ; 1Rs 14:24; 15:12;
isso (ver SI 34: 15), pois crê firmemente na 22:46, 47; 2Rs 23:7). A ideia parece ser a de
exaltação dos justos . que os ímpios partilhariam do destino dos
8. Presos em grilhões. Ver Gn 39:20; indivíduos mais desprezíveis e vis da raça
- Jr 40:1; Dn 3:2 1; Mt 14:3; At 12:1-6; 16:24; humana. O fato de professarem a religião
24:27. não os protegeria do castigo.

670
JÓ 36:33

15. Por meio de sua aflição. A ideia há alguns que tentam instruí-Lo, ditar a
parece ser de que Deus usa a aflição como conduta que Ele deve seguir, e melhorar
um meio de livramento para os justos (ver e modificar Seu universo. Eliú infere qu e
SI 119:67, 71). algo nesse sentido foi mencionado nos pro-
Abre os ouvidos. Os ouvidos surdos testos de Jó (ver Jó 9:22-24; 10: 3; 12:20-25;
à voz de D e us se tornam sensíveis como 16:11-1 7). Jó chegou perigosamente perto de
resultado da adversidade. ac usar a D eus de inju stiça; ele deu moti vo
16. Tirar-te. Eliú diz a Jó que ele tam - para Eliú fazer tais acusações.
bém teria sido livrado e restaurado à pros- 24. De lhe magnificares as obras.
peridade se tivesse aceitado suas aflições Em vez de ac usar a D eus, Jó devia louvá-Lo,
com o devido espírito e aprendido as lições como outros o fazem .
que elas tinham o objetivo de ensinar-l he . 26. Deus é grande. A grandeza de
17. Por isso, [... ] te alcançarão. De Deus e a fragilidade hum ana são co ntras -
acordo com Eliú, Jó não havia reagido como tadas aqui.
devia à disciplin a de Deus; portanto os juí- 27. Destilam em chuva. Eliú apela
zos divinos, reservados para os ímpios, lhe para a n atureza a fim de vindicar a gran -
sobreviriam. deza de Deu s. Ele descreve os fenômenos
18. De que a ira. Eliú parece dizer: da evaporação e da destil ação que tornam
"Jó, você está irado, portanto, tome cuidado possível a chuva .
para não sofrer o juízo divino por causa de 29. Os trovões. Eliú evidente-
sua ira. Se isso acontecer, não haverá meio mente está iniciando a descrição de um a
de livramento para você." tempestade.
19. Lamúrias. Alguns consideram que 30. Relâmpago. Literalmente, "lu z"
a palavra heb. shua' se refira a um grito por (cf. ACF, ARC), mas , provavelmente, aq ui
socorro (ver NTLH); outros, que se refira a uma referência ao relâmpago.
riquezas (ver ARC e NVI). Ambas as ideias 31. Por estas coisas. É provável que o
são possíveis . antecedente seja "nuvens". É dito que, por
20. Não suspires. Uma alu são ao repe- meio d as nuvens , D eus opera dois efeitos
tido desejo de Jó de ser morto imediata- opostos. Por um lado, Ele exec uta juízos
mente e posto na sepultura (ver Jó 6:9; 7:15 ; sobre os povos, des truindo suas colhei-
14:13). Eliú afi rma que esse desejo é errado. tas, causando ruína generalizada, ferindo e
21. Não te inclines para a iniqui- matando com o relâmpago. Por outro, Ele
dade. Eliú acusa Jó de dar vazão às quei- dá comida em abundância, tornando a vege-
xas em vez de suportar as provações com taç ão possível pelos aguaceiros de c huva
resignação. que as nuvens proporcionam.
22. Deus Se mostra grande. Esta tem 32. Dardeja. A figura de linguagem
sido chamada de a nota tônica de todo o dis- parece ser que D eus toma o relâmpago em
curso de Eliú. Ele está tentando destacar a Suas mãos e o dirige como Lhe apraz. A frase
ideia de que Deus é um grande mestre (ver "contra o adversário" é uma tradução da pre-
Jó 33: 14, 16; 35:11 ; 36: 10). Suas providências posição heb. be, "por" ou "com", e da pala-
devem ser consideradas como lições que, vra ·mafgia', "um agressor". Alguns mud am a
se aprendidas, resultarão em prosperidade; pontuação massorética para chegar ao termo
m as, se rejeitadas, produzirão adversidade. wtifga', "alvo" (cf. NTLH, NVI, BJ).
23. Quem Lhe prescreveu [... ]? 33. O fragor. O estrondo do trovão (cf.
Conquanto Deus seja o mestre perfeito, NTLH , NVI , BJ).

67 1
37: 1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Zeloso. A tradução literal do texto mas - uma mudança na vocalizaç ão , obtivera m


sorético é: "como tam bém o gado, com res- versões muito diferentes , como, por exem-
peito àquilo que sobe [ou àquele que sobe]". plo, a da ARA. Estas traduções alternativas
O significado é obscuro. Algun s, através de são, obviamente, fruto de conjectura.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

18 - T3, 549

CAPÍTULO 37
1 Deus deve ser temido por causa de Suas grandes obms.
15 Sua sabedoria nelas é insondável.

I Sobre isto treme também o meu coração e 13 E tudo isso faz Ele vir para disciplina, se
sa lta do seu lugar. convém à terra, ou para exercer a Sua misericórdia.
2 Dai ouvidos ao trovão de Deus, estrondo 14 Inclin a, Jó, os ouv idos a isto, para e con-
que sai da Sua boca ; sidera as maravilhas de Deus.
3 Ele o solta por debaixo de todos os céus, e 15 Porvent ura, sabes t u como Deus as opera e
o Seu relâ mpago, até aos confin s da terra . como faz resplandecer o relâmpago ela Sua nuvem?
4 Depois deste, ruge a Sua voz, troveja com 16 Tens tu notícia do equilíbrio das nuvens
o estrondo da Sua majestade, e já Ele não retém e das maravi lhas dAqu e le que é pe rfeito e m
o re lâ mpago quando lhe ouvem a voz. con hec imento?
5 Com a Sua voz troveja Deus maravi- 17 Que faz aquecer as tuas vestes, quando
lhosamente; faz grandes coisas , que nós não há ca lm a sobre a terra por causa elo vento sul?
compreendemos. 18 Ou estendeste com E le o firm a mento ,
6 Porque Ele di z à neve: Cai sobre a terra ; e que é sólido como es pelho fundido?
à chu va e ao ag uaceiro: Sede fort es . 19 E nsina-nos o que Lhe diremos; porque
7 Assim, torna Ele inativas as mãos de todos nós, envoltos em trevas, nada Lhe podemos expor.
os home ns, para que reconheçam as obras d Ele. 20 Contar-Lhe-ia alguém o que ten ho dito?
8 E as alimárias e ntram nos Seus esconderi- Seria isso desejar o homem ser devorado.
jos e fi ca m nas Suas cavernas. 21 Eis que o home m não pode olha r para o
9 De Suas recâmaras sai o pé de ven to, e, sol, que brilha no céu, uma vez passado o ve nto
dos ventos do norte, o frio. que o deixa li mpo.
lO Pelo sopro de Deus se dá a geada , e as 22 Do norte vem o áureo esplendor, pois
la rgas águas se congelam. Deus está cercado de tremenda majestade.
ll Também de umidade carrega as densas 23 Ao Todo-Poderoso, não O pode mos al-
nuvens , nuvens que es pargem os relâmpagos. ca nçar; Ele é grande em poder, porém não per-
12 Então, elas, segu ndo o rumo que Ele dá, se verte o juízo e a plenitude da justiça .
espalham para uma e outra direção, para fa zerem 24 Por isso, os homens O temem; Ele não
tudo o que lhes ordena sobre a redondeza da terra. olha para os que se julgam sábios .

672
JÓ 37:21

1. Sobre isto. Não há uma divisão 11. Carrega. Deus deixa a nuvem
natural entre os cap. 36 e 37. Eliú continua cheia de umidade. A chuva é uma das prin-
~ .. usando a figura de uma tempestade para cipais preocupações nesses países secos .
descrever o poder de Deus. Diz que seu É Deus quem dá as nuvens carregadas de
coração treme quando ouve o trovão e vê o umidade que proporcionam água para a
relâmpago riscar o céu. terra sedenta .
2. Ao trovão de Deus. Literalmente, Nuvens que espargem os relâmpa-
"o estrondo da Sua voz" (ver NVI). Eliú está gos. Literalmente, "a nuvem de Sua luz",
usando uma figura de linguagem. Ele não talvez como se os relâmpagos estivessem
quer dizer que o trovão é realmente a voz de armazenados numa nuvem . Ou pode ser
Deus (ver SI 77:18; 104:7). que a expressão signifique: "as nuvens sobre
5. Grandes coisas. Este versículo ter- as quais repousa a luz do Seu sol".
mina a parábola da tempestade. Com esta 12. Elas. O antecedente mais óbvio é
vívida descriç ão, Eliú tenta impressionar "nuvens ".
a Jó com o senso da majestade e do poder Rumo. Do heb. tachbuloth, "orienta-
de Deus. ção", "direção". Deus guia as nuvens e os
7. Torna Ele inativas. Isto pode se refe- relâmpagos , fazendo-os girar (ver NVI),
rir à cessação do trabalho ao ar livre durante dirigindo-os conforme Sua vontade.
o inverno, devido à neve, ao gelo e às chuvas 15. Como Deus as opera. Eliú per-
pesadas. Esta pausa na atividade do homem gunta a Jó se ele sabe como Deus dá Suas
dá tempo para reflexão e, assim, promove ordens e como dirige o curso e a sequência
um conhecimento mais claro de Deus. dos eventos naturais.
8. Entram nos Seus esconderijos. 16. Do equilíbrio. O fenômeno das
Este verso tende a substanciar a interpre- nuvens suspensas no céu, carregadas de
tação do v. 7. É no inverno que os animais chuva sem que nada as sustente, provocou
hibernam. Isto, da mesma forma, é para a admiração de Eliú (ver Jó 26:8).
Eliú uma prova da sabedoria de Deus. Ele Conhecimento. Os fenômenos natu-
fez provisão para que os animais fossem pro- rais indicam o conhecimento ilimitado de
tegidos do frio e subsistissem com pequenas Deus. A inferência é que Jó não devia criti-
quantidades de alimento durante a estação car um Deus que revela Sua onisciência por
da escassez. obras tão maravilhosas.
9. Das Suas recâmaras. Isto é, do 19. Ensina-nos. Aqui há sinais de
depósito onde, segundo a ilustração, Deus ironia. Eliú diz a Jó: "Se você é tão sábio,
guarda Suas tempestades (ver Jó 38:22 ; ensine-nos como nos aproximar de um Deus
SI 135:7). tão grande, pois estamos em trevas."
Dos ventos do norte. Literalmente , 20. Seria isso desejar. Jó manifes-
"dos dispersadores". Isto parece se referir tara o desejo de que Deus o ouvisse e lhe
aos fortes ventos que dispersam as nuvens respondesse. Eliú, quis reprovar sua pre-
e deixam o tempo claro e frio. Eliú enfatiza sunção, mas receando fazê-lo de m aneira
que todas essas coisas estão sob o controle direta, se coloca no lugar de Jó e pergunta:
de Deus, e que esses fenômenos naturais "Seria apropriado que eu exigisse falar com
provam Sua grandeza. Deus?" Em caso negativo, também não
10. Águas se congelam. Literalmente, seria apropriado que Jó o fizesse.
"ficam restringidas," isto é, solidificadas 21. Para o sol, que brilha. Os seres
pelo congelamento (ver Sll47:16-18). humanos não conseguem olhar para o sol

673
37:22 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

ofuscante; quanto menos seriam capazes de Os que se julgam sábios. Isto é , os


fic ar frente a frente com Deus! convencidos. Certamente é verdadeiro o que
22. O áureo esplendor. Do heb . Eliú declara como um princípio. É tolice um
zahab, literalmente, "ouro". homem pensar em comparar sua insignifi-
24. Os homens O temem. Eliú ter- cante sabedoria com a de Deus. O erro de
mina seu discurso com uma última provo- Eliú está em tentar aplicar o princípio a Jó.
cação a Jó, dizendo que Deus não respeita O problema com Eliú e com os outros pro -
os convencidos. tagonistas foi que eles ousaram julgar a Jó.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

5-24 - CBV, 434 16 - OC, 46; Ed, 15, 21;


14-16 - MCH, 112 MS, 7; PP, 50

CAPÍTULO 38
1 Deus desafia Já a responder. 4 Por Suas poderosas obras,
Deus convence Já de Sua ignorância 31 e tolice.

Depois disto, o SE NHOR, do meio de um 12 Acaso, desde qu e começaram os teus


redemoinho, respondeu a }6: dias, deste ordem à madrugada ou fi zeste a alva
2 Quem é este que escurece os Meus desíg- saber o seu lugar,
nios com palavras sem conhecimento? l3 para que se apegasse às orlas da terra , e
3 Cinge, pois, os lombos como homem , pois desta fossem os perversos sacudidos?
Eu te perguntarei, e tu Me farás saber. 14 A terra se modela como o barro debaixo
4 Onde estavas tu , quando Eu lança- do selo, e tudo se apresenta como vestidos;
va os fund amentos da terra? Dize-Mo, se tens 15 dos perversos se desvia a sua luz, e o
entendimento. braço levantado para ferir se quebranta.
5 Quem lhe pôs as medidas, se é que o 16 Acaso, entraste nos mananciais do mar
sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel? ou percorreste o mais profundo do abismo?
6 Sobre que estão fund adas as suas bases ou 17 Porventura, te foram reveladas as portas da
quem lhe assentou a pedra angular, morte ou viste essas portas da região tenebrosa?
7 quando as estrelas da alva, juntas, alegremen- 18 Tens ideia nítida da largura da Terra?
te cantavam, e rejubilavam todos os filhos de Deus? Dize-Mo, se o sabes.
8 Ou quem encerrou o mar com portas, 19 Onde está o caminho para a morada da
quando irrompeu da madre; luz? E, quanto às trevas, onde é o seu lugar,
9 quando Eu lhe pus as nuvens por vestidu- 20 para que as conduzas aos seus limites e
ra e a escuridão por fraldas? discirnas as veredas para a sua casa?
lO Quando Eu lhe tracei limites, e lhe pus 21 Tu o sabes, porque nesse tempo era s nas-
ferrolhos e portas, cido e porque é grande o número dos teus dias!
11 e disse: até aqui virás e não mais adian- 22 Acaso, entraste nos depósitos da neve e
te, e aqui se quebrará o orgulho das tuas ondas? viste os tesouros da saraiva,

674
JÓ 38:2

23 que Eu re ten ho até ao tempo da a ngúst ia, 33 Sabes tu as ordena nças dos céus, podes
até ao dia da peleja e da gue rra? es ta belecer a sua influência sobre a te rra?
24 Onde está o caminho para onde se difun- 34 Podes leva ntar a tu a voz até às nu ve ns,
de a luz e se es palha o vento orienta l sobre a terra? pa ra qu e a ab undância das ág uas te c ubra?
25 Quem abriu regos para o aguaceiro ou ca - 35 Ou ordenarás aos relâmpagos qu e sa ia m
minho para os relâmpagos dos trovõ es; e te di gam: Eis-nos aqui?
26 para qu e se faça chove r sobre a te rra, onde 36 Quem pôs sabedoria nas ca madas de
não há ningué m, e no ermo, em que não há gente; nuven s? Ou quem deu ente ndimento ao me teoro?
27 pa ra dessedenta r a terra deserta e assol a- 37 Quem pode nume ra r com sa bedo ri a as
da e pa ra fazer crescer os re novos da e rva? nuven s? Ou os od res dos cé u s, quem os pode
28 Acaso, a c huva tem pa i? Ou q ue m gera as despejar,
gotas do orvalho? 38 pa ra que o pó se tra nsfo rm e e m massa
29 De qu e ventre procede o gelo? E qu em dá sólida , e os torrõ es se apegue m uns aos outros?
à lu z a geada do cé u? 39 C aça rás, porventura, a presa para a leoa?
30 As ág uas fic a m duras co mo a pedra , e a Ou saciarás a fome dos leõez inhos,
su perfíci e das profundezas se torn a compac ta . 40 qu a ndo se agac ham nos covis e estão à
3 1 Ou poderás tu atar as cadeias do Sete- es preita nas covas?
es trelo ou solta r os laços do Órion? 4 1 Que m p repara aos corvos o seu alim e n-
32 Ou fazer apa recer os sig nos do Zodíaco to, quando os seus pintainhos grit a m a De us e
ou guiar a Ursa com se us filho s? a nd am vaguea ndo, por não terem que come r? ~ ~

1. O SENHOR. A resposta de Deus a Jó Deus é mais importante do que uma reve-


ocupa quatro capítulos (38 -41 ), interrom- laç ão de todas as razões pelas quais De us
pidos apenas por uma curta confissão de age como o faz . Deus não explica por qu e
] ó (40:3-5). Os cap. 38 e 39 estão intima- os ímpios prosperam ou por qu e os jus-
mente ligados, e constituem um a exortação tos sofrem . Não diz nada sobre o mund o
a Jó, em vista de sua ignorância sobre a cria- futuro , ou sobre uma compensação futura
ção natural de Deus. De us tenta ampliar para as desigualdades presentes. De us sim-
o conceito de Jó sobre o Ser divino . Esses plesmente Se revela: revela Sua bond ade,
dois capítulos podem ser subdivididos da Seu pod er, Sua sabedoria , e espera que essa
seguinte form a: revelação solucion e os probl emas de Jó.
A cria ção do mundo (38: 4-7); o m ar A resposta de Deu s faz com que Jó se
(v. 8-ll); a alva (v. 12-15); outros fenôme- fa miliari ze não meramente com fatos, mas
nos terrestres como os segredos do mar, da com Deu s. Essa abordagem foi tão efic az
luz e da escurid ão, da neve, do granizo, das q ue a resposta de Jó foi: "Agora os m e us
enchentes, da chuva, do rel â mpago, do tro- olhos Te vee m" (Jó 42:5). Quando Jó viu
vão, do gelo, do orvalho, da geada (v. 16-30); a Deus, suas perplexidades desaparece-
as estrelas e as nuvens (v. 31-38); e o mundo ra m. Só Deus poderia forn ecer este tipo de
animal (38:39- 39:30). solução para os seus problemas. H á um a
Respondeu a Jó. Deus não vindica Jó profundidade na maneira de Deus respo n-
imediatamente. Seu propósito divino não é der às perguntas de Jó que desafia a mai s
resolver uma disputa, mas revelar-Se . Ele intensa reflexão.
ta mb ém não explica a Jó a razão de seu 2. Quem é este [... ]? Não está claro
sofrimento. Uma compreensão clara de se Deus está Se referindo a Jó ou a Eliú.

675
38:3 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Há os seguintes argumentos em favor da que fique firme . Deus pergunta a Jó sobre


posição de que a declaração se refere a Eliú: o que repousa o mundo. A figura não deve
(1) parece inconsistente que Deus diga, ser tomada literalmente.
neste caso, que Jó havia obscurecido Seus 7. Estrelas da alva. Esta expressão é
desígnios com "palavras sem conhecimento" aparentemente um sinônimo de "filhos de
e, então, em Jó 42:7 diga que os amigos não Deus". Quanto à identidade dos "filhos
haviam dito sobre Ele o que era reto, "como o de Deus", ver com. de Jó 1:6.
meu servo Jó"; (2) Eliú falou imediatamente Rejubilavam. Três vezes é mencionada
antes de Deus aparecer, e não seria inconsis- a alegria dos anjos: na criação, na redenção
tente que Deus descartasse os argumentos e na recriação da Terra (ver PP, 65; T6, 456;
dele, juntamente com os dos outros amigos, TS, 42).
antes de Se dirigir a Jó. E há os seguintes 8. Mar. Da terra, Deus transfere a
argumentos em favor de se considerar que a atenção de Jó para o mar como a segunda
declaração é referente a Jó: (l) O discurso é grande maravilha da criação (ver Gn 1:9, lO;
dirigido a Jó (ver Jó 38:1; 40:1, 6; 42:7); e (2) Êx 20:11; SI 104:24, 25).
Jó parece aplicar o comentário a si (Jó 42:3). lrrompeu. Deus compara a criação do
3. Cinge. Deus se dirige a Jó. Ele dese- mar ao nascimento de uma criança. O verso .. ;:g
jou interrogar a Deus, mas Deus toma a chama a atenção para duas evidências
iniciativa e lhe anuncia que está prestes a do poder de Deus: a criação do mar e sua
interrogá-lo (ver Jó 9:32-35; 13:3, 18-22; contenção dentro de seus limites.
23:4-7; 31:35). "Cingir os lombos" é uma 9. Nuvens. O infante mar, recém-nas-
frase que alude ao antigo modo de vestir-se. cido, é representado como se tivesse recebido
A veste larga e esvoaçante comumente usada as nuvens por vestes e a escuridão por fraldas.
naquele tempo era amarrada com um cinto 10. Eu lhe tracei limites. Esta é a
quanto os homens corriam ou trabalhavam versão da LXX. O hebraico usa um verbo
ou estavam em luta. A ideia é: "Empregue que significa "quebrar", "romper".
a maior energia e o vigor que puder. Esteja 11. Até aqui. A bela estrutura poética
preparado para esforçar-se ao máximo." destes versos possui um atrativo especial
4. Fundamentos. A figura que des- para os que amam o mar.
creve a Terra como se possuísse funda- 12. Madrugada. Do mar, Deus Se
mentos é frequentemente empregada (ver volta para o nascer do sol. O romper do dia é
SI 102:25; 104:5; Pv 8:29; Is 48:13; 51:13, um milagre que se repete constantemente,
16; Zc 12:1; Hb 1:10). e Deus pergunta a Jó se ele exerce qualquer
Dize-Mo. Estas expressões têm o efeito controle sobre esse fenômeno.
de mostrar a Jó quão limitado, em reali- 13. Fossem os perversos sacudidos.
dade, era seu conhecimento. A ideia parece ser de que a aurora segura a
5. Se é que o sabes. Ou, "pois sabes". Terra e sacode dela os ímpios. Esta vívida
O propósito da declaração, obviamente, é figura de linguagem se refere ao fato de
ajudar Jó a reajustar seu pensamento. os ímpios odiarem a luz (ver Jó 24:16, 17).
Estendeu [... ] o cordel. Uma figura Quando rompe o dia, eles desaparecem.
extraída da construção de edifícios. Um 14. A terra se modela. Ou, "se trans-
divino arquiteto traçou a planta da Terra. forma" (ver ACF).
6. Fundadas. Literalmente, "afunda- Como o barro. Como o selo muda o
das". Uma figura que se refere ao assenta- barro, fazendo-o deixar de ser uma massa
mento ou fixação de uma pedra angular até inexpressiva e sem forma e imprimindo em

676
JÓ 38:31

sua superfície uma figura, assim a vinda nascido, e que é grande o número dos teus
da alva transforma a Terra, de uma massa dias." O hebraico do v. 21 é ambíguo e pode
indistinta, num objeto que tem forma e cor. ser traduzido como pergunta ou afirmação.
Como vestidos. O nascer do sol faz Uma vez que a declaração afirmativa repre-
com que a terra tome forma e cor, como senta uma forma extrema de ironia, pro-
o desenho ricamente bordado numa veste. vavelmente seja melhor optar pela forma
As colinas, árvores, flores, casas e cam- interrogativa ou adotar a ideia sugerida pela
pos se tornam nítidos e belos, ao passo que LXX (ver Jó 15:7, em que Elifaz formula
durante a noite a Terra parecia desolada e uma pergunta irônica).
desinteressante. 22. Neve. Fenômenos naturais como a
15. Desvia a sua luz. A luz do dia não neve e o granizo (saraiva) representaram um
traz alegria para os ímpios. Suas trevas inte- mistério durante muitos séculos, mas não
riores fazem com que procurem escapar da constituíam um mistério para Deus.
luz exterior. Quando o dia nasce eles são 23. Retenho. O granizo é conside-
descobertos e punidos. rado ao longo de toda a Bíblia como um ins-
Braço levantado. O braço levantado trumento de juízo divino (ver Êx 9:18-29;
para cometer um ato violento é quebrado ]s 10:11; SI 18:12, 13; 78:47, 48; 105:32; Is
pela chegada da luz. As atividades ilícitas 30:30; Ez 13:11, 13; Ap 11:19; 16:21).
são interrompidas. 24. Onde está o caminho [... ]?
16. Mananciais do mar. É perguntado Muitas das perguntas de Deus voltam à
a Jó se ele já foi ao local onde o mar nasce. questão básica das origens. O problema
O mais profundo. As cavernas inex- filosófico de Jó era que ele não entendia a
ploradas no fundo do mar são desconheci- fonte de seu infortúnio.
das por Jó. 25. Abriu regos. Os canais que leva-
17. Portas da morte. Ver SI 107:18; vam o excesso de água das chuvas violentas
cf. Is 38:10; Ap 20:14. não foram abertos pelo ser humano e por
18. Largura da Terra. O mundo de seus animais de carga.
Jó era pequeno. Ele provavelmente só havia Caminho para os relâmpagos. Nin-
viajado no raio de alguns quilômetros. guém pode mapear o curso de um raio.
Quando Deus lhe perguntou se ele com- 26. Onde não há ninguém. A provi-
preendia o tamanho da Terra, esse pensa- dência de Deus não se restringe apenas a
mento deve tê-lo deixado aturdido. suprir as necessidades dos seres humanos,
19. A morada da luz. Jó é desafiado a mas também tem terna consideração pela
explicar os fenômenos da luz e da escuridão. vida animal.
20. Para a sua casa. A luz e as trevas 31. Poderás [... ]? Deus dirige a atenção «< ~
são personificadas e apresentadas como se de Jó, das maravilhas da criação na Terra,
residissem em casas. Quando a noite cai, para os esplendores dos céus. Apontando
a luz volta para sua habitação e as trevas para várias constelações brilhantes e conhe-
saem. Pela manhã, são as trevas que voltam cidas, Deus pergunta se Jó se acha capaz de
para casa e a luz sai. guiá-las em sua rota ao longo do espaço.
21. Tu o sabes. A LXX liga este versí- Do Sete-estrelo. Do heb. lúmah, tal-
culo com o precedente, da seguinte forma: vez uma designação para as Plêiades, a par-
"Se puderes me conduzir aos seus limites tir da raiz árabe hum, que significa "grupo"
e se também discernires as veredas delas, ou "rebanho". A palavra ocorre nova-
eu saberei então que nesse tempo eras mente em Amós 5:8, junto com o Órion,

677
38:32 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

uma constelação adjacente no céu inver- o "cinturão" do Órion. Embora aparente-


nal do hemisfério norte. Desde os tempos mente próximas no céu, essas estrelas não
mais remotos os homens têm considerado são membros de um aglomerado como as
as Plêiades, um brilhante aglomerado de Plêiades. Na verdade, estão viajando a uma
estrelas na constelação de Touro, como grande velocidade em direções diferentes.
o m ais belo e fascinante espetáculo dos Esta sugestão estaria em h armonia com o
céus. O poeta A. F. Tennyson as descre- óbvio contraste do texto entre o "atar" das
veu como um enxam e de vagalumes pre- Plêiades e o "soltar" do Órion .
sos numa rede de prata. Ainda que vista de 32. Os signos do Zodíaco. Do heb.
telescópios p equenos, a cintilante beleza mazzaroth. Esses 12 "signos" ou constela-
deste aglomerado desperta no observador o ções - Áries (Carneiro), Touro, Gêmeos,
mesmo senso de reverência e espanto que Câncer (Caranguejo), Leão, Virgem, Libra
sobrevém a uma pessoa que contemple as (Balança), Escorpião, Sagitário (Arqueiro),
vastas profundezas do Grand Canyon, do Capricórnio (Bode), Aqu ário (Portador de
rio Colorado. Água) e Peixes - formam um cinturão ao
A palavra traduzida como "cadeias" redor do Equador e, assim, marcam o cami-
vem do h eb . ma'adannoth, que talvez se nho através do qual o sol aparece para viajar
refira à força da gravid ade que m antém em seu circuito ao longo dos céus estrelados
unidos os m embros individuais do aglo- durante o decorrer do ano. O termo mazza-
merado em seu voo p elo espaço. Sabe-se roth provém de um a raiz que significa "bri-
que ess as estrelas comp õem um gr upo lhar" ou "ser brilhan te".
físico intimamente associado e possuem Ursa. A opinião geral é que o termo
rotas paralelas. Algun s tê m sugerido que se refira à constelação Ursa Maior, e não
ma'adannoth se refi ra à estranha nebu- à estrela Arcturu s (com o dizem algumas
losid ade em que as Plêiades estão imer- versões), embora nenhuma das duas iden-
sas. Este material nebuloso, iluminado tificações seja conclusiva . Se a alusão aqui
pelas es trelas nele imersas como se fosse é a Arcturus, "se us filhos" seriam as sete
gás num tubo de neon, é claramente visí- estrelas da Grande Concha, que faz parte
vel m esmo com um telescópio pouco da constelação vizinha da Ursa Maior.
potente e, num a foto, tornam as Plêiades A palavra Arcturu s vem de duas p alavras
um obj eto de b eleza inigua lável nos céus . gregas: arktos, "urso", e ouros, "guarda". Por
Contudo, por m ais atrativa que seja esta ser a estrela mais brilhante da constelação
explicação, é preciso ser lem brado que ]ó Boates (Boieiro), às vezes, Arcturus é retra-
não podi a ver a nebulosidade. Portanto, é tada como um caçador, ou um "amestra-
mais provável que Deus di rigiss e a aten- dor de ursos", que, com seus cães de caça
ção de Jó para algo que ele podia ver, e atrelados (a constelação próxima, Ga nes
que ma'adannoth se refira às "cadeias" da Venatici ou Cães de Caça), parece es tar
gravidade que mantêm unidos os mem- perseguindo a Ursa Maior pelos céus do
bros deste lindo aglomerado em sua jor- hemisfério norte. Aqueles que preferem a
nada pelo espaço. tradução "Arcturus" sa l!i entam que o notá-
Órion. Esta identificação é conside- vel "movimento próprio" dessa estrela, isto
rada certa, mas não está claro o que signi- é, seu aparente movim ento em relação
fica a expressão "laços" do Órion. Alguns às estrelas vizinhas , torn a apropriadas as
sugeriram que esta palavra designa as três palavras de ]ó 38:32. Se, por outro lado,
estrelas popularmente conhecidas como a referência é à constelação Urs a Maior,

678
JÓ 38:39

"se us filhos" seriam as várias estrelas desse 37. Nuvens. As nuvens, como os grãos
§ ~ gr upo .Tem sido salientado que as estrelas de areia na praia, não podem ser estatistica-
qu e formam a Grande Concha, conquanto mente computadas.
p a reçam estar relativamente próximas no Os odres dos céus. A expressão di z,
céu , não são membros de um verdadeiro literalmente, "quem pod e deita r os odres",
aglomerado, mas es tão se movimentando isto é, incliná-los p a ra que o conteúdo
em diferentes direções, com tremenda saia .
velocidade. 38. O pó se transforme em massa
36. Coração (NVI). A ARC diz sólida. Este verso completa o pensa mento
"íntimo". O texto é perfeitamen te inteligí- da figura de linguagem an terior. Qu ando o
vel com essas traduções , mas a dificuldade solo está duro e seco, quem pode pers uad ir
de explicar uma repentina transição de as nuvens a derra mar água sobre ele?
nuvens e fenômenos celes tiais, nos v. 34 39. Leoa. A figura mud a nova me nte.
e 35, p ara o ser humano e depois nova- Pela lógica, o cap. 39, que é um a discussão
mente para as nuvens, no v. 3 7, levou mui- sobre o reino animal, devia começar nes te
tos a tentar descobrir outros significados ponto. Deus es tá p erguntando a Jó se ele
para as palavras he braicas tradu zidas como seria bem-s ucedido se lhe fo sse confiada a
"ín timo" ou "coração" e "mente". Daí surge responsabilidade de alimenta r uma famí-
a tradução da ARA ("camadas de nuvens "). lia de leões. Instintos divinamente impl a n-
Essas outras traduções, n o entanto, são tados levam os animais a fazer o que seria
apenas conj ec turas. difícil ou impossível a um ser hum ano.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

1- PR, 164 7- DTN, 281 , 769; Ed , MS, 143; PP, 97, 694;
2- C BV, 442; T1 , 330 22, 161 ; PE , 217; FEC , San 53, 55; T4, 287
3 - T3, 509 375; GC, 511; M DC, 48 ; 22, 23 - PP, 509
4-27- Ed, 159 MCH, 348; MS, 215; PR, 31 - PE ,41
4- PE, 217; GC, 455 732; PP, 47, 65; TM, 136; 31, 32- Ed, 160; O E, 14
6, 7- GC , 455 ; MCH, 140 T6, 349,456;T8, 42 ,197 41 - LS, 230
11 - AA, 572; MCH , 336;

CAPÍTULO 39
1 As cabras-monteses e as corças. 5 O jumento selvagem. 9 O boi selvagem.
13 O avestruz e a cegonha. 19 O cavalo, 26 o falcão e 27 a águia.

I Sabes tu o tempo em que as cabras mon - 3 Elas encurva m-se, para terem seus filhos ,
teses têm os filhos ou cuidaste da ~ corças qua n- e la nçam de si as suas dores.
\ 4 Seus filh os se torna m robu stos, cresce m
do dão suas cr ias? ' 1

2 Podes contar os meses que cumprem? Ou no campo abe rto, saem e nunca mai s torn a m
sabes o tempo do seu parto) para e las .

679
39: l COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

5 Quem despediu livre o jumento selvagem, 18 mas, quando de um salto se leva nta para
e quem soltou as prisões ao asno veloz, correr, ri-se do cavalo e do cavaleiro.
6 ao qual dei o ermo por casa e a terra salga- 19 Ou dás tu força ao cavalo ou revestirás o
da por moradas? seu pescoço de crinas?
7 Ri-se do tumulto da cidade, não ouve os 20 Acaso, o fazes pular como ao gafanho-
muitos gritos do arrieiro. to? Terrível é o fogoso respirar das suas ventas.
8Os montes são o lugar do seu pasto, e anda 21 Escarva no vale, folga na sua força e saí
à procura de tudo o que está verde. ao encontro dos armados.
9 Acaso, quer o boi selvagem servir-te? 22 Ri-se do temor e não se espanta; e não
Ou passará ele a noite junto da tua manjedoura? torna atrás por causa da es pada.
lO Porventura, podes prendê-lo ao sulco 23 Sobre ele chocalha a aljava, flam eja a
com cordas? Ou gradará ele os vales após ti? lança e o dardo.
ll Confiarás nele, por ser grande a sua 24 De fúria e ira devora o caminho e não se
força, ou deixarás a seu cuidado o teu trabalho? contém ao som da trombeta.
12 Fiarás dele que te traga para a casa o que 25 Em cada sonido da trombeta, ele diz:
semeaste e o recolha na tua eira? Avantel Cheira de longe a batalha, o trovão dos
13 O avestruz bate alegre as asas; acaso, príncipes e o alarido.
§i ._ porém , tem asas e penas de bondade? 26 Ou é pela tua inteligência que voa o fal-
14 Ele deixa os seus ovos na terra, e os cão, estendendo as asas para o Sul?
aquenta no pó, 27 Ou é pelo teu mandado que se remonta a
15 e se esquece de que algum pé os pode esma- águia e faz alto o seu ninho?
gar ou de que podem pisá-los os animais do campo. 28 Habita no penhasco onde fa z a sua mora-
16 Trata com dureza os seus filhos, como se da, sobre o cimo do penhasco, em lugar seguro.
não fossem seus; embora seja em vão o seu tra- 29 Dali, descobre a presa; seus olhos a avis-
balho, ele está tranquilo, tam de longe.
17 porque Deus lhe negou sabedoria e não 30 Seus filhos chupam sangu e; onde há
lh e deu entendimento; mortos , ela aí es tá.

1. Sabes tu [...]? Deus continua a apre- (aplicação esta que torna a segunda frase
sentar a Jó a divina descrição das maravi- uma repetição da primeira) ou à corça.
lhas da criação animal que se iniciou em 2. Contar os meses. O período de ges-
]ó 38:39. Expressões como "sabes tu?" enfa- tação de animais como a cabra-montês pro-
tizam a ignorância de Jó em contraste com a vavelmente era desconhecido , já que esses
sabedoria de Deus. O homem nem mesmo animais não podia m ser dom esticados nem
consegue compreender as coisas que Deus cuidadosamente observados. Todo nasci-
é capa z de criar. mento, mesmo que de um animal selva-
Cabras-monteses. Eram animais sel- gem, é evidência do poder doador de vida
vagens e habitavam regiões remotas e do Criador.
rochosas. Sua natureza tornava impossível 4. Seus filhos. A independê ncia das
que se conhecessem seus hábitos. Contudo crias dos animais selvagens é notável.
Deus, o Criador, conhece todos os detalhes Crescem no campo aberto. Esses
concernentes a elas. jovens animais crescem livres e logo dei-
Corças. Ver SI 29:9. O termo pode se xam a mãe . Esses fenômenos notáveis não
referir à fêmea da espécie da cabra-montês dependem, de forma alguma, da sabedoria

680
JÓ 39: 13

ou do planejamento huma nos. Ao contrá- dos quais dá a seguinte descrição: "Esses


rio, revelam o incrível planejamento de um uros [auroques] são pouco menores que
Deus inteligente e amoroso. elefantes no tamanho, mas em sua natu-
5. Jumento selvagem. Ver com . de Jó reza, cor e forma são touros. Grande é sua
11:12. É dito que este animal é diferente em força e sua velocidade, e não poupam nem
temperamento, energia, agilidade e aparên- homem nem animal uma vez que os avis-
cia em relação ao animal domado do mesmo tem. [... ] Mesmo quando jovens, não con-
nome. Por ser selvagem, está inteiramente seguem se acostumar ao homem nem ser
fora da influência humana. Qualquer um amansados . O tamanho e a forma de seus
que estude os hábitos dessa criatura só pode chifres são muito diferentes dos de nossos
se maravilhar com o conhecimento criador bois" (De bello Gallico, vi.28). Crê-se comu-
responsável por tal beleza, agilidade e inde- mente que o contraste entre o boi selvagem
pendência. Esta parece ser a lição que Deus e o domado, descrito nos v. 9 a 12, é compa-
tenta ensinar a Jó. rável ao contraste entre o jumento selvagem
6. O ermo. Do heb. melechah, literal- e o domado, mencionado nos v. 5 a 8.
mente, "salgadura", "esterilidade", referindo-se Servir-te. O boi puxa o arado, mas o
aq ui às planícies salgadas. Melechah é boi selvagem não poderia ser usado para
traduzida como "terra salgada", em Jeremias tais propósitos.
17:6. Deus criou o jumento selvagem para Junto da tua manjedoura. O boi
que pudesse habitar confortavelmente nos selvagem não podia ser mantido num
desertos áridos e sem árvores onde o homem am biente doméstico. Sua natureza era dife-
e seus anima is domados dificilmente pode- rente. Quem o dotou de características tão
ria m sobreviver. diferentes, embora externamente talvez se
7. Gritos do arrieiro. O asno domado assemelhasse ao seu irmão domado? A res-
é dirigido pelo homem, mas as ordens do posta é: Deus.
arrieiro não significam nada para o jumento 11. Confiarás nele [... ]? Não se pode
selvagem, que é filho das planícies sem confiar no boi selvagem. Sua força não pode
árvores. Ele não pode ser restringido em ser empregada para os propósitos humanos .
sua liberdade. Essa diferença de natureza é divinamente
8. Seu pasto. As montanhas rochosas implantada, e ne nhum esforço humano
são a fonte de alimento para o jumento sel- pode mudá-la.
vagem. Ele sobrevive onde muitos outros 12. Traga para casa o que semeaste.
animais morreriam de fome. De quem esse A fidelidade do boi é proverbial. Jó sabe
§ ~ an imal recebe suas habilidades incomuns? muito bem que o boi selvagem é inteira-
Não do homem, mas de Deus. mente diferente neste aspecto. Será que ele
9. Boi selvagem. Do heb. rem, e em pode explicar as razões para essa diferença?
outras passagens re'em; a pa lavra ocorre Tal conhecimento está além de seu alcance.
nove vezes no AT. Pelas várias descrições 13. Avestruz. O texto hebraico deste
desse animal, pensa-se que se refira ao boi verso é di fíci l de se traduzir. A opinião geral
selvagem (ver Nm 23:22; 24:8; Dt 33: 17; é de que a referência seja ao avestruz, que
SI 22:21; 29:6; 92:10). O boi selvagem, fre - era comum na região de Jó.
q uentemente encontrado em monumen- Pela versão alternativa da segunda
tos assírios, era conhecido como rimu. frase, dada na margem do texto hebraico:
O animal era provavelmente semelh ante "as penas da cegonha e da avestruz", alguns
aos que Júlio César encontrou na Gália, e concluíram que, aqui , Deus contrastou

681
39:14 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

a cegonha e o avestruz, como contrastou humano não pode entendê-las. Há um pro-


o jumento domado e o selvagem, e o boi vérbio árabe que diz: "Estúpido como um
domado e o selvagem. A cegonha é um pás- avestruz."
saro que pode voar facilmente e com graça. Deus fala de Si mesmo, aqui, na terceira
O avestruz tem grandes asas que batem pessoa, talvez para ênfase.
quando corre, mas es sas asas dificilmente 18. Ri-se do cavalo. Apesar de sua
erguem do solo a pesada criatura. Há tam- estupidez e da falta de preocupação com
bém uma diferença marcante nos hábi- os filhotes , o avestruz foi dotado por Deus
tos das duas aves. A cegonha é terna para de notável capacidade de se locomover.
com seus filhotes, mas o avestruz parece ter É bem conhecido o fato de que a ave supera
pouca consideração pelos seus. Essa carac- o cavalo mais veloz.
terística é desenvolvida em versículos sub- 19. Cavalo. Os v. 19 a 25 descrevem
sequentes do capítulo. A ideia parece ser a o cavalo de guerra. A seguinte citação de
de que Deus, em Sua providência, dotou as Virgílio se assemelha à vívida descrição
várias criaturas com diferentes característi- contida nos versículos mencionados: -<~ 8
cas. Essas variações não podem ser explica- "Se nasce o potro dos de melhor casta,
das ou controladas pelo ser humano. Dá para ouvir ao longe tinir arma,
Outras tentativas para traduzir a Não é capaz de se manter quieto,
segunda frase, extremamente obscura, são: Fica de orelha fita, tremem pernas
"Nias nenhuma avestruz voa como a cego- E como das narinas lhe sai fogo.
nha" (NTLH), e: "Que se dirá então das A crina espessa quando sacudida,
asas e da plumagem da cegonha?" (NVI). Lhe cai para a direita, e sobre a espinha
14. Deixa os seus ovos. Os avestru- Se lhe vê desenhado um longo sulco
zes põem os ovos na areia para serem aque- Que duplo vai quando lhe chega aos rins;
cidos pelo sol. As fêmeas de um grupo A pata marca a terra, o casco soa"
usam um só ninho, sendo que uma delas (Virgílio, Obras: Bucólicas, Geórgicas,
fica com os ovos parte do dia enquanto as Eneida; Lisboa, Temas e Debates, 1997,
outras perambulam em busca de comida. trad. Agostinho da Silva).
O macho choca os ovos à noite. Crinas. Do heb. ra'mah, cujo signifi-
15. E se esquece. A fêmea fica peram- cado é incerto. Alguns creem que a pala-
bulando, sem nenhuma preocupação com vra designe a crina do cavalo. Ra'mah é a
os ovos. Mais tarde, todos os filhotes acom- forma feminina da palavra traduzida como
panham todo o grupo. Isso pode explicar a "trovão", no v. 25, mas é duvidoso que a
indiferença dela para com os filhotes. forma feminina tenha o mes mo significado
16. Trata com dureza. O avestruz da masculina. A figura é a da excitação e da
parece não ter inteligência suficiente para ansiedade do cavalo de guerra quando, com
mostrar preocupação com sua prole (ver o pescoço arqueado, se lança em batalha.
Lm 4:3). 21. Escarva. A figura é a de um cavalo
Em vão. Ainda que seus ovos se que- revolvendo a terra com a pata, ansioso para
brem e ela fique sem filhotes, isso não a sair à guerra.
preocupa. Dos armados. Literalmente, "equipa-
17. Deus lhe negou. Ao fazer esta cria- mento", "armas", "arsenal".
tura, Deus aparentemente achou por bem 22. Ri-se do temor. O cavaleiro pode
dotá-la de inteligência limitada. Ele não estar assustado, mas ele, não; a espada não
explica Suas razões para fazer isso, e o ser o aterroriza.

682
JÓ 39:30

24. Devora o caminho. Um modo para o falc ão migrador. Implantou Jó o ins-


vívido de se descrever a rapidez com que tinto que faz com que o pássaro procure
corre um cavalo de guerra treinado. climas mais quentes no inverno? Ele é nova-
25. Avante! Talvez uma descrição do mente confrontado com um exemplo da
resfolegar ou do relincho do cavalo (cf. a insondável sabedoria de Deus.
tradução da NTLH: "Eles respondem com 27. Alto. A águia sempre foi admirada
rinchos"); ou pode, figurativamente, descre- pelas grandes alturas às quais ascende. Será
ver o cavalo como se emitisse uma expres- que Jó instruiu esses pássaros a buscar os
são de sati sfação quando ouve a trombeta píncaros como seu lar?
de guerra (cf. a tradução da N VI: Ao "toque 28. No penhasco. Nenhum lugar é
da trombeta [...] ele relincha: 'Eia!"'). demasiado escabroso ou inacessível para ser
O trovão. Ver Is 5:28-30. Layard assim a morada de uma águia.
descreveu o cavalo árabe: "Embora seja dócil 29. Dali. As águias , conhecidas por
como um cordeiro e não exija outra guia sua visão aguçada, percebem a presença
senão o cabresto, quando a égua árabe ouve da presa a uma distância incrível, e des-
o grito de guerra da tribo e vê a tremulante cem velozmente de seus altos ninhos para
lança de seu cavaleiro, seus olhos brilham agarrar a vítima. Quem lhes deu esses in s-
como se fossem de fogo, suas narinas verme- tintos, que estão totalmente além do conhe-
lhas como sangue se dilatam, seu pescoço cimento humano?
se arqueia nobremente, e sua cauda e crina 30. Ali ela está. Ver Mt 24:28;
se leva ntam e esvoaçam com o vento" (A. H . Lc 17:37. Os fe nômenos mencionados ilus-
Layard, Discoveries at Nineveh and Babylon tram o poder e a bondade de Deus . Tudo o
[G. P. Putnam and Co, 1853], p. 330). que o ser humano descobriu sobre a natu-
26. Falcão. Do cavalo de guerra usado reza desde a época de Jó somente tende a
no ataque, Deus transfere a atenção de Jó substanciar esse mesmo poder e bondade.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

26- MCH, 105

CAPÍTULO 40
1 Jó se humilha diante de Deus. 6 O Senhor o desafia a mostrar
sua justiça, poder e sabedoria. 15 Sobre o hipopótamo.

1 Disse mais o SENHOR a Jó: 5 Uma vez fa lei e não replicarei, aliás, duas
2 Acaso, quem usa de censuras contende - vezes, porém não prosseguirei.
rá com o Todo-Poderoso? Quem assi m argúi a 6 Então, o SENHOR, do meio de um redemoi-
Deus que responda. nho, respondeu a Jó:
3 En tão, Jó respondeu ao SENHOR e disse: 7 Cinge agora os lombos como homem ; Eu
4 Sou indigno; que Te responderia e u? te perguntarei , e tu Me responderás.
8,._ Ponho a m ão na minha boca. 8 Acaso, anularás tu, de fato, o Meu juízo?

683
40: l COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Ou Me condenarás, para te justificares? 17 Endurece a sua cauda como cedro; os


9 Ou tens braço como Deus ou podes trove- tendões das suas coxas estão entretecidos.
jar com a voz como Ele o faz? 18 Os seus ossos são como tubos de bronze,
lO Orna-te, pois, de excelência e grandeza, o seu arcabouço, como barras de ferro.
veste-te de majestade e de glória. 19 Ele é obra-prima dos feitos de Deus;
11 Derrama as torrentes da tua ira e atenta quem o fez o proveu de espada.
para todo soberbo e abate-o. 20 Em verdade, os montes lhe produzem
12 Olha para todo soberbo e humilha-o, pasto, onde todos os animais do campo folgam.
calca aos pés os perversos no seu lugar. 21 Deita-se debaixo dos lotos, no esconderi-
13 Cobre-os juntamente no pó, encerra-lhes jo dos canaviais e da lama.
o rosto no sepulcro. 22 Os lotos o cobrem com sua sombra; os
14 Então, também Eu confessarei a teu res- salgueiros do ribeiro o cercam.
peito que a tua mão direita te dá vitória. 23 Se um rio transborda, ele não se apres-
15 Contempla agora o hipopótamo, que Eu sa; fica tranquilo ainda que o Jordão se levante
criei contigo, que come a erva como o boi. até à sua boca.
16 Sua força está nos seus lombos, e o seu 24 Acaso, pode alguém apanhá-lo quando ele
poder, nos músculos do seu ventre. está olhando? Ou lhe meter um laço pelo nariz?

1. Disse mais. Os v. l a 5 deste capítulo Aqui, depois de Deus dar uma nova revela-
marcam um breve interlúdio no discurso ção de Sua sabedoria, é perguntado a Jó se
que Deus dirigiu a Jó. Parece que neste ele ainda se acha qualificado a ser o deman-
momento Deus está dando a Jó a oportuni- dante numa causa contra Deus.
dade de fazer uma entrega completa. 3. Jó respondeu. Ele havia ansiado por
2. Contenderá. A pergunta que Deus uma oportunidade como esta de expor sua
faz a Jó gira em torno de quatro verbos (con- causa diretamente diante de Deus. Esta era
tender, repreender, responder e acusar), a ocasião que ele aguardava havia tempo.
que podem ser melhor percebidos na NVI: O que ele faria?
"Aquele que contende com o Todo-Poderoso 4. Sou indigno. Em vez de dizer: "Sou
poderá repreendê-lo? Que responda a Deus inocente", como pretendia, ele responde:
aquele que O acusa!" Jó ouviu as profun- "Sou indigno." A revelação divina havia
das indagações dos cap. 38 e 39. Então, lhe mudado totalmente sua atitude em relação
é feita a pergunta: Pode ele, o crítico, o con- a si mesmo e a Deus. Uma convicção seme-
tendor, ensinar o Deus de toda a natureza? lhante sobrevém a todo ser humano que
A resposta de Jó é óbvia em vista das reve- chega a ter uma devida apreciação de Deus.
lações contidas nos dois capítulos anterio- Que Te responderia eu? Aquele ]6
res. Jó é claramente desafiado a justificar tão ansioso para apresentar seu caso a Deus
sua tentativa de repreender a Deus. Satanás não tem resposta.
predisse que Jó amaldiçoaria a Deus. Isto Ponho a mão. Ver Jó 21:5; 29:9.
ele não havia feito, mas havia errado em 5. Não replicarei. Este verso é um
tentar dizer a Deus o que fazer. reconhecimento da parte de Jó da futilidade
Jó dissera estar ansioso para defen- de seus argumentos.
der sua causa diante de Deus. Ele pare- 6. Respondeu a Jó. Aparentemente Jó
cia achar que, de alguma forma, Deus não precisa de mais instruções; a voz divina volta
entendia completamente o que se passava. a se manifestar do meio do redemoinho.

684
JÓ 40:23

Se o objetivo de Deus tivesse sido o de dei- (G n 36:6; etc .). Parece ser usada aqui como
xar Jó desco ncertado, não ser ia preciso um plural inte nsivo, referindo-se a um ani -
dize r mais nenhuma p alavra. Jó já h avia m al muito grande. A maioria dos eruditos
admitido sua pequenez e prom etido não ac ha que o termo se refere ao hipopótamo.
dizer mais nada. Mas o propósito primário Contudo, há alguns q ue a aplicam (l) ao
de Deus não é embaraçar Jó, m as levá-lo a elefante, (2) a alguma espécie ex tinta ou
um a nova expe riência. (3) a um a representação simbólica.
7. Cinge. Ver com. de Jó 38: 3. Contigo. Deus é tanto o criador deste
8. Anularás tu [... ] o Meu juízo? Isto animal como de Jó.
é: "Você vai continuar a dizer que não fui Come a erva. O anim a l mencionado
justo? Vai condenar M inha conduta para se como behemah é aparentemente herbívoro.
justificar?" Jó havia chegado muito perto de 17. Como cedro. A ca uda fina do
§ ..- fazer exa tamente isso. elefante não se enc aixa nesta descrição.
9. Braço como Deus. Ver Dt 5:15 ; 7:1 9 ; A cauda do hipopótamo é grossa, curta e
SI 89 :13; Is 51:9. Deus lembra a Jó que con- musculosa.
dená-Lo é loucura, porque ele é extrem a- 19. Obra-prima. Do heb. re'shith.
mente fraco em comparação com o Senhor. A palavra pode indic ar o maior em idade ou
Não pode agir nem falar como Deus. e m posição. É presumível que o significa do
10. Majestade. Esta passagem m en- aqui seja o final.
cio na quatro atributos de Deus: excelência, Quem o fez o proveu de espada. Se
grandeza, majestade e glória (ver SI 93:1 ; es ta for a tradu ção correta, "espada" pode
104:1, 2). Jó é desafiado a se vestir com se referir aos dentes afiado s do hipopó-
esses atributos, pois somente então estaria tamo, que são eficientes para alimentação e
à altura de De us para poder arrazoar com defesa. A tradução "o seu Criador pode che-
Ele em termos de igualdade. gar a ele com Sua espada" (NVI) sugere qu e
11. Abate-o. Jó é desafiado a ver o que somente aquele q ue fez o hipopóta mo pode
pode fazer em relação à transgressão e aos matá-lo (ver também NTLH).
transgressores. 20. Os montes. As colinas qu e ficam
13. Encerra-lhes o rosto. Isto pode se às margens do rio, caso o hipopóta mo seja o
referir a algum costume antigo referente ao beemote (ver com. do v. 15). Se não, a fig ura
sepultamento dos mortos. Sabe-se que na se referiri a a um a nimal qu e vagueia pelas
preservação das múmias o corpo todo era montanhas (ver SI 104:14).
envolto em panos, inclusive o rosto . 21. Debaixo dos lotos. Do heb.
14. Tua mão direita te dá vitória. tse'elim, que se crê ser um tipo de lótu s.
Quando Jó puder tomar para si os atribu- O tal hipopótamo era aparentem ente um
tos de Deus, quando puder abater os orgu- a nimal aquático.
lhosos e os ímpios, qu ando p uder red uzir 22. Os salgueiros. Esta é outra desc ri -
à sepultura os praticantes da iniquidade, ção que aponta para a vida aq uática.
então Deus reconhecerá que ele é capaz de 23. Se um rio transborda. Esta tra-
salvar a si mesmo . dução é baseada na LXX. A fig ura é a de
15. O hipopótamo. No original, behe- um animal tão acostum ado à água que não
moth, que é a forma plural de hehemah, se perturba com inundações ou corre ntes
um a palavra comum no h ebraico tradu- fortes. Isto, é cl aro, sugere o hipopótamo.
zida como "an imais domésticos" (Gn 1:24, Jordão. Aq ui, provavelmente, usado no
25; etc.), "a nimais" (G n 8:20; etc.) ou "gado" sentido de qualquer grande rio.

685
40:24 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

24. Quando ele está olhando. A frase mete um laço no nariz." Outra tradução pos-
pode ser assim traduzida: "Ele [Deus] o apanha sível é: "Poderá alguém apanhá-lo quando ele
de frente [isto é, diante dos seus olhos] e lhe estiver de vigia?" (TB).

CAPÍTULO 41
Sobre o poder de Deus manifestado por meio do crocodilo.

Podes tu , com anzol, apa nhar o crocodilo 16 A tal ponto uma se c hega à outra , que
ou lhe trava r a língua com uma corda? entre elas não entra ne m o ar.
2 Podes meter-lhe no nariz uma vara de junco? 17 Umas às outras se ligam, aderem entre si
Ou furar-lhe as bochechas com um gancho? e não se podem separar.
3 Acaso, te fa rá muitas súplicas? Ou te fala- 18 Cada um dos seus espirros faz resplandecer
rá palavras brandas? luz, e os seus olhos são como as pestanas ela alva .
4 Fará ele acordo contigo? Ou tomá-lo-ás 19 Da sua boca saem tochas ; faíscas de fogo
por servo para sempre? saltam dela.
5 Brincarás com ele, como se fora um pas- 20 Das suas narinas procede fuma ça, como
sarinho? Ou tê-lo-ás preso à correia para as tuas de uma panela fervente ou de juncos que ardem .
;g_. meninas? 21 O seu hálito faz incender os carvões; e da
" 6 Acaso, os teus sócios negocia m com ele? sua boca sai chama.
Ou o repartirão entre os mercadores? 22 No seu pescoço reside a força; e diante
7 Encher-lhe-ás a pele de arpões? Ou a ca- dele sa lta o desespero.
beça , de far pas? 23 Suas partes ca rnudas são bem pegadas
8 Põe a mão sobre ele, lembra-te da peleja e entre si; todas fundidas nele e imóveis.
nunca mais o intentarás. 24 O seu coração é firme como uma pedra,
9 Eis que a gente se engana em sua esperança; firme como a mó de ba ixo.
acaso, não será o homem derribado só em vê-lo? 25 Levanta ndo-se ele, tremem os va lentes ;
lO Ninguém h á tão ousado, q ue se atreva quando irrompe, ficam como que fora de si.
a despertá- lo. Que m é, pois , aquele qu e pode 26 Se o golpe de espada o a lcança , de nada
erguer-se diante de M im? vale , nem de lança, de dardo ou de flech a.
11 Quem primeiro Me deu a Mim, para que 27 Para ele, o ferro é palh a, e o cobre, pau
Eu haja de retribu ir-lhe? Pois o que está debai- podre.
xo de todos os céus é Meu. 28 A seta o não faz fugir; as pedras das fun -
12 Não Me ca larei a respeito dos seus mem- das se lhe tornam em restolho.
bros, nem da sua grande força, nem da graça da 29 O s porretes atirados são para e le como
sua compostura. palha, e ri-se elo brandir da la nça.
J 3 Quem lhe abrirá as vestes do seu dorso? I 30 De baixo do ve ntre, há escamas pontiagu-
Ou lhe penetrará a couraça dobrada? das ; arrasta-se sobre a la ma, como um instru-
14 Quem abriria as portas do seu rosto? Pois , mento de debulhar.
em rod a dos seus dentes está o terror. 31 As profundezas faz ferver, como uma pa-
15 As fileiras de suas escamas são o seu or- nela ; torna o mar como ca ldeira de unguento.
gulho, cada um a bem encostada como por um 32 Após si, de ixa um sulco lumin oso; o abi s-
selo que as ajusta. mo parece ter-se enca nec ido.

686
JÓ 41:10

33 Na terra, não tem ele igual, pois foi feito 34 Ele olha com desprezo tudo o que é alto;
para nunca ter medo. é rei sobre todos os animais orgulhosos.

1. Crocodilo. Ou, "leviatã" (ARC). pássaros de vários tipos eram domesticados.


Do heb. liwyathan. Esta palavra também Um crocodilo domesticado seria um animal <~ §
é traduzida como "pranto" em outras pas- de estimação bem incomum, e as "meninas"
sagens, nas versões ARC e ACF (ver com. certamente fariam objeções a tal ideia! A iro-
de Jó 3:8; e ainda SI 74:14; 104:26; Is 27:1). nia é usada para enfatizar os aspectos em que
A criatura é representada como sendo sel- o crocodilo era superior ao homem.
vagem, feroz e indomável, dotada de grande 6. Sócios. A palavra pode se referir a
boca e armada com fortes dentes. O corpo um grupo de pessoas unidas, seja para pro-
é coberto de escamas bem unidas, como se pósitos de amizade ou comerciais.
formassem uma malha. Não é possível esta- Negociam. Do heb. lwrah. Esta palavra
belecer se aqui está sendo descrito o croco- tem três significados básicos: "cavar", "nego-
dilo, como muitos comentaristas pensam, ciar" e "dar um banquete". Aqui, a defini-
ou algum outro monstro já extinto. ção mais apropriada parece ser "negociar",
Com uma corda. Os animais selva- especialmente se a referência é a "sócios" no
gens eram muitas vezes levados por uma ramo da pesca .
corda que lhes prendia a boca, como o reve- Entre os mercadores. O crocodilo
lam esculturas assírias. Deus pergunta se o nunca era usado como artigo de comércio.
grande leviatã pode ser apanhado com um 7. Encher-lhe-ás a pele. Este verso
anzol ou levado por uma corda presa ao redor alude à pele grossa, quase impenetrável, do
de sua mandíbula. Esta pergunta, como as animal. Arpões e lanças podiam ser empre-
precedentes, acentua a limitação humana em gados para capturar o hipopótamo, m as
comparação com o poder criador de Deus. o crocodilo era bem protegido contra tais
2. Vara de junco. Literalmente, métodos de ataque.
"junco": ou um junco usado como corda, ou 8. Nunca mais o intentarás. O mero
uma corda tecida com fibra de junco. pensamento da luta com o crocodilo faz a
Gancho. A referência parece ser a um pessoa desistir de tentar capturá-lo.
gancho ou argola como a que era usada 9. Em sua esperança. Aparentemente
para manter peixes presos debaixo da água a esperança de capturar ou matar o mons-
ou para levar prisioneiros de alta posição tro. Só o ver o crocodilo já intimidaria a
diante dos monarcas que os haviam captu- pessoa. A força do crocodilo era tão supe-
rado (ver 2Rs 19:28; 2Cr 33:ll; Am 4:2). rior à do homem que o animal podia dor-
3. Muitas súplicas. Alguém poderia mir sossegado nos bancos de areia ao longo
imaginar o poderoso crocodilo suplicando dos rios.
misericórdia a Jó? 10. Erguer-se diante de Mim. Este
4. Fará ele acordo. Ironicamente, versículo contém a conclusão da argumen-
Deus pergunta se Jó pode tornar o croco- tação toda. Uma criatura que Deus fez é
dilo seu escravo (ver Êx 21:6; Dt 15:17). tão formidável que o homem não ousa "des-
5. Brincarás com ele. Antigas inscri- pertá-lo". Como, então, alguém ousa con-
ções revelam que os egípcios e outros povos tender com o Criador? O objetivo é, sem
da Antiguidade gostavam de animais de esti- dúvida, repreender Já por seu desejo impru-
mação. Cães, antílopes, leopardos, macacos e dente de argumentar com Deus.

687
41:11 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

De acordo com os Targuns e com vários 18. Espirros. Quando o crocodilo, vol-
manuscritos hebraicos, a última parte deste tado para o sol com as mandíbulas abertas,
verso diz: "Quem é, pois, aquele que pode solta um espirro, a água que é lançada de
erguer-se diante dEle?" Contudo, a LXX e sua boca cintila ao ser exposta à luz solar.
outras versões antigas apoiam a tradução Olhos. Muitos já observaram que os
"diante de Mim". olhos pequenos do crocodilo possuem um
11. Quem primeiro Me deu a Mim lampejo semelhante ao dos olhos do gato.
[...]? A ideia do texto parece ser: "Quem 19. Tochas. A linguagem deste versí-
Me colocou em obrigação com ele para que culo é altamente figurada. Parece descrever
Eu tenha de retribuir-lhe?" O argumento é: a impressão do monstro sobre a mente dos
se o homem não pode controlar criaturas observadores. Quando ele expele gotículas
como o crocodilo, como pode querer forçar de água pelo nariz ou pela boca, ou quando
o Criador a conceder-lhe favores especiais? espirra água ao movimentar-se, o reflexo do
A alusão parece ser às repetidas demandas sol faz com que isso se pareça com tochas
de Jó para ser ouvido (Jó 9:34, 35; 13:3, 22; e faíscas.
23:3-7). Deus resiste a todos os desafios para 20. Fumaça. Este versículo e o 21 con-
que Se justifique, pois não está em dívida tinuam a figura de linguagem do v. 19.
para com nenhuma de Suas criaturas. 22. Pescoço. Como a força do "bee-
É Meu. D eus lembra a Jó de que Ele é mote" está nos lombos (Jó 40:16), a do cro-
o dono do universo. codilo está no pescoço.
12. Dos seus membros. Deus volta a Salta o desespero. Esta frase diz, lite-
uma descrição mais completa e detalhada ralmente: "e diante dele as danças se ame-
do crocodilo. drontam". A ideia é que tudo treme diante
13. Quem lhe abrirá. Literalmente, dele. Por onde quer que vá, ele causa terror
"descobrirá". e as pessoas fogem em pânico. <e ~
As vestes do seu dorso. Ou, "seu 23. Suas partes carnudas. Literal-
revestimento externo". A referência parece mente, "as caídas de sua carne", provavel-
ser à sua cobertura escamosa. mente as partes onde a carne é mais mole,
Couraça dobrada. Não está claro o como embaixo da mandíbula.
significado desta figura. Alguns creem que 24. Firme como uma pedra. Possi-
a frase signifique: "Quem ousaria colocar velmente, uma referência ao temperamento
rédeas nele, como num cavalo?" (ver NVI) . do animal.
Outros entendem que a expressão se refira Mó de baixo. A pedra de baixo do moi-
a sua dupla fileira de dentes, e que Deus nho era maior e mais dura que a de cima.
está perguntando se alguém ousaria se colo- 26. De nada vale. Nenhuma arma que
car ao alcance desses dentes. Outros ainda Jó conhecesse era eficaz contra esse animal.
(entre eles a ARA) adotam uma tradução 27. Ferro. O ferro e o bronze eram os
baseada na LXX, que diz: "Quem pode metais mais eficientes que Jó conhecia para
entrar na dobra da sua couraça?" implementos de guerra, mas, para lidar com o
14. Quem abriria [... ]?Se o crocodilo crocodilo, eram como palha ou madeira podre.
escolher manter a boca fechada, quem teria 28. Seta. O crocodilo não tem medo
coragem ou tentaria abri-la? ·~_ das insignificantes invenções do homem.
15. Escamas. Literall1\lenl:e, "escudos". 30. Escamas pontiagudas. Literal-
As escamas são representadas como mui- mente, "cacos de cerâmica pontiagudos".
tos escudos. O significado é que a parte de baixo do

688
JÓ 41:34

animal era coberta por escamas como cacos Unguento. Talvez isto se refira a um
de cerâmica. odor peculiar, semelhante ao almíscar, que
Instrumento de debulhar. Ou, "deixa se diz ser característico do crocodilo.
rastro na lama como o trilho de debulhar" 32. Encanecido. O rastro brando de
(NVI). A referência é às marcas que ficavam espuma deixado pela criatura faz com que
nos bancos de lama onde o animal se deitava. a água pareça ter envelhecido e ficado de
31. Faz ferver, como uma panela. cabelos brancos.
Uma descrição do aspecto da água quando 34. Rei. Por mais orgulhosos que outros
o crocodilo se sacudia dentro dela. an imais sejam, precisam se submeter a ele.

CAPÍTULO 42
1 Jó se submete a Deus. 7 Deus toma o lado de Jó, faz com que seus amigos se humilhem
e o aceita. 10 Ele exalta e abençoa Jó. 16 A idade avançada e a morte de Jó.

1 Então, respondeu Jó ao SENHOR: SENHOR lhes ordenara; e o SENHOR aceitou a


2 Bem sei que tudo podes, e nenhum dos oração de Jó.
Teus planos pode ser frustrado. 10 Mudou o SENHOR a sorte de Jó, quando
3 Quem é aquele, como disseste, que sem este orava pelos seus amigos; e o SENHOR deu-
conhecimento encobre o conselho? Na verdade, lhe o dobro de tudo o que antes possuíra.
falei do que não entendia ; coisas maravilhosas 11 Então, vieram a ele todos os seus irmãos,
demais para mim , coisas que eu não conhecia. e todas as suas irmãs, e todos quantos dantes o
4 Escuta-me, pois, havias dito, e eu falarei; conheceram, e comeram com ele em sua casa,
eu te perguntarei, e tu me ensinarás. e se condoeram dele, e o consolaram de todo o
5 Eu Te conhecia só de ouvir, mas agora os mal que o SENHOR lhe havia enviado; cada um
meus olhos Te veem . lhe deu dinheiro e um anel de ouro.
6 Por isso, me abomino e me arrependo no 12 Assim, abençoou o SENHOR o último es-
pó e na cinza. tado de Jó mais do que o primeiro; porque veio
7 Tendo o SENHO R falado estas palavras a Jó, a ter catorze mil ovelhas, seis mil camelos , mil
o SENHOR disse também a Elifaz, o temanita: juntas de bois e mil jumentas.
A Minha ira se acendeu contra ti e contra os 13 Também teve outros sete filhos e três
teus dois amigos; porque não dissestes de Mim fil has .
o que era reto, como o Meu servo Jó. 14 Chamou o nome da primeira Jemima, o da
8 Tornai, pois, sete novilhos e sete carneiros, outra, Quezia, e o da terceira, Quéren-Hapuque . .;c§
e ide ao Meu servo Jó, e oferecei holocaustos por 15 Em toda aquela terra não se acharam
vós. O Meu servo Jó orará por vós; porque dele mulheres tão formosas como as filhas de Jó; e
aceitarei a intercessão, para que Eu não vos trate seu pai lhes deu herança entre seus irmãos.
segundo a vossa loucura; porque vós não disses- 16 Depois disto, viveu Jó cento e quarenta
tes de Mim o que era reto, como o Meu servo Jó. anos ; e viu a seus filhos e aos filhos de seus fi-
9 Então, foram Elifaz, o temanita, e Bildade, lhos, até à quarta geração.
o suíta , e Zofar, o naamatita , e fizeram como o 17 Então, morreu Jó, velho e farto de dias.

689
------- ~

42:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

I. Respondeu Jó. Ele subiu gradual- Deus; está preparado para falar. Sabe, final-
mente a longa escada do desespero para a mente, o que deseja dizer.
fé. Recebeu uma revelação de Deus como 5. Mas agora. Jó admite que seu conhe-
poucos. Deus falou com ele em parábolas cimento anterior de Deus era baseado em
tiradas da natureza. Jó ouviu a voz dAquele coisas que ouvia dizer. Enfim, ele adquiriu
que ele soube então ser digno de amor e um conhecimento de primeira mão. A lição
confiança. Então, ele falou. O que disse mais importante do livro de Jó se encon-
está registrado nos v. 2 a 6. tra nesta passagem. Nesta declaração, ele
2. Tudo podes. Jó reconhece a onipo- revela a transição de uma experiência reli-
tência de Deus. giosa moldada pela tradição para outra
3. Quem é aquele [...]?Esta pergunta baseada na comunhão pessoal com Deus.
repete em palavras quase idênticas a inda- De acordo com a tradição em que ele fora
gação feita por Deus em ]ó 38:2 (por isso criado, os justos não deviam sofrer. Desde
a ARA acrescenta as palavras: "como dis- sua juventude, Jó havia ouvido falar que
seste"). Não se pode saber com certeza se a Deus livraria os justos de todo mal na vida
referência naquele momento era a Eliú ou presente. Mas, quando enfrentou o sofri-
a Jó (ver com. de Jó 38:2). No entanto, Jó mento, ele ficou confuso, porque aquilo era
agora a aplica a si mesmo. A primeira coisa contrário ao que ouvira falar sobre Deus.
que ele reconhece é o limite de seu conhe- Sua confusão foi ampliada pela atitude dos
cimento. Suas conclusões se baseavam na amigos. Então, Jó viu a Deus. Soube que
ignorância; portanto, embora ele fosse sin- Deus possui poder e graça infinitos, e tam-
cero, estava errado. bém viu que, embora ele pudesse sofrer, ele
Coisas que eu não conhecia. Quão era filho de Deus. Deus não fez nenhuma
inadequado parece ser o conhecimento tentativa de lhe explicar por que ele estava
parcial quando brilha a luz de uma ver- sofrendo, mas ele se convenceu de que,
dade maior! Quando Jó fez suas queixas, qualquer que fosse a razão, não era preciso
seu raciocínio lhe parecia irrefutável. Ele ter nenhuma dúvida.
achava que sua atitude era justificada. Mas, A experiência de Jó lhe ensinou o signi-
quando entendeu a Deus mais claramente, ficado da fé. Seu conceito de Deus o capaci-
seu raciocínio anterior não mais pareceu tou a se render à vontade divina. Sua devoção
convincente. A lógica humana muitas vezes a Deus, então, tornou-se independente das
se demonstra falha. Ideias que hoje parecem circunstâncias. Ele não mais esperava bên-
sábias podem se tornar absurdas amanhã. çãos temporais como evidência do favor do
A disposição de Jó para admitir sua Céu. Seu relacionamento com Deus pas-
ignorância é elogiável. Ele não tenta se sou a repousar sobre uma base mais firme
desculpar ou defender sua posição. É tão e confiável do que antes. Jó achou a solução
honesto em sua confissão como foi em sua para seus problemas quando descobriu que
argumentação. Esta característica é parte Deus não é limitado pelas tradições huma-
da integridade que o relato atribui a Jó nas. Essa compreensão mais ampla, que Jó
desde o princípio (Jó l:l). revelou quando disse: "Agora os meus olhos
4. Eu falarei. Como no v. 3, Jó se refe- Te veem", é comparável à experiência de
riu à pergunta registrada no cap. 38:2, aqui fé tão fortemente enfatizada ao longo da
ele repete a pergunta feita no cap. 38:3 (por Bíblia, especialmente no evangelho de João
isso a ARA acrescenta as palavras "havias e nas epístolas aos Romanos e aos Gálatas
dito"). Ele está pronto a aceitar o desafio de (]o 1:12-17; Rm 8:1-8; Gl4:3-7).

690
JÓ 42:11

6. E me arrependo. É presumível que desespero eram mais agradáveis a Deus do


Jó ainda estivesse sentado sobre o monte de que a fria lógica de seus amigos.
cinzas em que se atirou logo que a doença o 8. Orará por vós. Um exemplo de ora-
atingiu (Jó 2:8). Seus amigos o haviam ins- ção intercessória (ver Tg 5:1 6; 1Jo 5:1 6) .
~ ~~> tado a arrepender-se, mas o apelo deles era Deus, às vezes, acha por bem conceder Seu
baseado na pressuposição de que ele havia perdão e Suas bênçãos em resposta à oração
cometido pecados, o que não era verdade. intercessória. Neste caso, o significado de
Ele acabou se arrependendo, mas foi de sua tal oração é maior, pelo fato de que Jó está
atitude equivocada em relação a Deus. Uma orando por aqueles que não o trataram de
comparação do arrependimento de Jó com o maneira justa nem amável.
de Isaías (Is 6:5) e de Pedro (Lc 5:8) mostra Loucura. D eus assim caracteriza os
que, em cada caso, a manifes tação de Deus discursos dos amigos. Quão tolas parecem
fez o que nenhum argumento baseado em para Deus as tradições e teorias humanas !
tradições humanas poderia fazer. Quão surpresos Elifaz e seus amigos devem
7. A Minha ira se acendeu. Este ver- ter fic ado, já que haviam feito tanta ques-
sículo inicia a porção final do livro, escrita tão de defender a Deus! Os seres humanos
em prosa. Deus volve Sua atenção para os precisam aprender que defendem melhor a
três amigos de Jó, dirigindo-Se a Elifaz apa- Deus quando O representam como Ele é:
rentemente como o líder do trio. Deus havia um Deus de amor e misericórdia.
repreendido Jó por sua falta de entendi- 9. Aceitou a oração de Jó. O homem
mento, mas indica que está irado com os que eles haviam se esforçado para corrigir
amigos por não terem falado o que é "reto". se tornou o intercessor em favor da sa lvação
Isto suscita a interessante questão da dife- e do arrependimento deles. Este é um con-
rença entre os erros de Jó e os de seus ami- traste dramático. Deus aceitou a oração de
gos. Uma análise revela que Jó errou devido Jó em favor deles. Seria interessante saber
ao sofrimento, à pressão, ao desânimo e se esses três homens revisaram sua fi loso-
ao desespero. Ele foi vítima de uma situa- fia de vida e a colocaram em harmonia com
ção angustiante que não podia compreen- o que Deus estava tentando ensinar-lhes.
der. Suas declarações foram, algumas vezes, 10. Mudou o SENHOR a sorte. O NT
petulantes e, outras vezes, se aproxim aram ensina que o perdão de Deus é conce-
do sacrilégio. Contudo, o tempo todo ele dido na proporção em que os seres huma-
m anteve uma confiança fundamental em nos perdoam uns aos outros (Mt 6:12, 14,
Deus. Os amigos não estavam sofrendo como 15; 18: 32-3 5). Este princípio parece ter sido
Jó. Suas palavras errôneas eram a expres- antecipado na experiência de Jó. É quando
são de falsa filosofia. Eles permitiram que ele ora por seus amigos que a sorte dele é
a tradição eclipsasse a compaixão. Acharam mudada. Isto não deve ser interpretado no
que tinham justificativa para ser rudes por- sentido de que a oração intercessória, por
que seu conceito de Deus parecia exigir tal mais sincera que seja, gara ntirá a prosperi -
atitude. Elifaz e seus amigos têm muitos dade material. O livro de Jó, como um todo,
equivalentes em tempos modernos: pessoas refuta essa pressuposição. O que esta expe-
boas, é claro, mas que se sentem compeli- riência mostra é a aprovação de Deus à pes-
das a defender ideias errôneas por motivo soa que ora por aqueles que o trataram mal.
de consciência. Jó cometeu erros , mas, 11. Irmãos. Os irmãos de Jó o haviam
em comparação com seus amigos, falou "o esquecido e abandonado, e se voltado con-
que era reto". Seus tocantes clamores de tra ele (Jó 19:13, 14, 19). Quando sua sorte

69 1
42:12 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

foi revertida, eles foram até ele para ajudá-lo eles próprios seriam chamados a se arrepen- .,. =
a comemorar. Não pareciam dispostos a der de suas noções e atitudes equivocadas.
mostrar-lhe simpatia até que tiveram evi- 16. Viveu Jó. O homem que estava
dências de que as coisas sairiam bem. tão certo de que a sepultura estava a um
Refletem, dessa forma, uma falha comum passo continuou a viver por quase mais um
aos seres humanos. século e meio! A vida que pareceu arrui-
Dinheiro. Do heb. qesitah, que ocorre nada floresceu novamente, com mais bri-
apenas aqui, em Gênesis 33:19 e em Josué lho. As bênçãos que pareciam ter acabado
24:32. O qesitah era provavelmente uma voltaram, mais maravilhosas do que nunca.
medida de peso. Essa é uma indicação da Os bens, a família , os amigos, a reputa-
antiguidade do livro. ção, tudo lhe foi devolvido. Porém, mais
Anel. Do heb. nezem, usado para vários elevada do que essas bênçãos era a recor-
tipos de anéis e de brincos (ver Gn 24:47; dação de uma experiência em que ele viu
35:4; ]z 8:24, 25; Pv ll:22 [traduzido como a Deus face a face e aprendeu lições mais
"joia"]; 25:12; Is 3:21; Os 2:13). valiosas do que posses materiais. Deus,
12. Abençoou o SENHOR. Os três ami- em Sua providência, achou por bem par-
gos haviam predito que, se Jó se arrepen- tilhar tais lições com toda a humanidade,
desse, seria abençoado (Jó 5:18-26; 8:20, e assim o livro de Jó foi preservado como
21; ll:l3-19). Suas predições se cumpriram, uma das grandes heranças espirituais de
mas o arrependimento de Jó foi de um tipo um passado remoto. É nosso privilégio hoje
muito diferente do que haviam previsto; e aprender, da experiência de Jó, lições de fé
o certo é que nunca haviam imaginado que e confiança em Deus.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

6 - GC, 471; T3, 509 I0-12-Ed, 156

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