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ISSN 0104-0073
eISSN 2447-7443
Licenciado sob uma Licença Creative Commons
Atribuição – Não Comercial – Sem Derivações 4.0 internacional
RESENHAS
WIESE, Werner. Ética Fundamental. Critérios para crer e agir. São Bento do
Sul/SC: Editora União Cristã; FLT, 2008, 275 p.
Claus Schwambach1
1 Informações sobre o autor podem ser encontradas no início do artigo sobre “Justificação
por graça e fé”.
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a partir da criação de Deus”. Ali o autor trata das principais questões relativas à
correlação que existe entre antropologia e ética. Merece destaque sua abordagem
dos temas: “o ser humano como sujeito da ética”, ser humano como “imagem de
Deus”, “imagem de Deus e pecado original”, “dimensões de responsabilidade e
liberdade de ação” e, por fim, “a questão do bom-senso: a consciência humana”.
Novamente chama a atenção que a forma de abordagem não segue estereótipos
dos manuais acadêmicos da ética, mas sim, segue um padrão de reflexão teológica
que se deixa pautar pelo ensino da Escritura Sagrada e que pondera, a partir desse
critério, os diversos temas. O leitor encontrará nesta parte uma rica bagagem
de observações bíblico-teológicas, bem como uma síntese madura de reflexões
éticas, elaboradas no diálogo crítico com a tradição teológica e filosófica europeia
e voltadas para a análise dos desafios do nosso contexto brasileiro.
A terceira parte do livro de Wiese ocupa-se com a temática dos “valores
éticos a partir da história da salvação”. Aqui ele aborda o “vínculo do ser humano
com as normas: a ciência do que é bom” – com ênfase para uma análise crítica do
direito natural, bem como a “importância da lei revelada por Deus para a ética”
– com destaque para a lei do AT (decálogo) em seus diversos usos. Ao final, o
autor elabora um balanço do capítulo, pontuando a relevância do Decálogo como
expressão daquilo que é bom para todos e como moldura externa da ética cristã.
Ele conclui, apontando para o fato de que uma ética cristã não deve ser restrita aos
Dez Mandamentos, embora tenha nestes uma de suas referências contínuas.
A quarta e última parte da obra de Wiese está voltada para a “ética
especificamente cristã”. Trata-se da parte mais longa do livro, na qual o autor
entra em uma série de detalhamentos temáticos. Os principais subtópicos são: o
“horizonte da ética cristã: o Reino de Deus” e o “sujeito da ética cristã: o cristão”.
Neste último tópico mencionado, Wiese aborda a pergunta “quem é o cristão?”,
pontuando ser este uma “nova criatura”, alguém convertido, regenerado, alguém
que vive na justificação e na santificação. Ele conclui esse mesmo tópico apontando
para as consequências éticas do tornar-se e do ser (viver) cristão, entrando nos
detalhes da vida regenerada, na concretude da justificação e da santificação, bem
como nas dimensões da confissão e da absolvição de pecados. Aborda, além disso,
o que significa a “santificação” concretamente, enquanto busca pela vontade de
Deus e pela direção do Espírito Santo.
Partindo para o final da obra, Wiese entra em diversos “campos
específicos da ética cristã e sua relação mútua”. Ele aborda temas como a
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o autor publica na área. As outras três obras são: O oitavo dia na era da seleção
artificial (Editora União Cristã); Brincando no paraíso perdido: as estruturas
religiosas da ciência (Editora União Cristã) e Para entender Bioética (Editora
Sinodal). Isso atesta o caráter nada incipiente da ocupação de Westphal com o
assunto!
O livro está estruturado em 10 capítulos. No capítulo 1, o autor confronta
ciência e bioética como “diferentes pontos de vista”, mostrando como ambos
expressam apenas parcelas de uma realidade, que é sempre maior que as duas
áreas. No capítulo 2, ele trata do tema “ciência e teologia: descompassos e
convergências”, pontuando o assunto em 3 direções: - a questão da manipulação de
embriões; - a dignidade da vida como confissão de fé; - a questão, se anencéfalos
são seres humanos. No capítulo 3, Westphal trabalha a questão de “dogmas e
mitos” da ciência – entenda-se ciência sob o horizonte da Modernidade ocidental!
– destacando o “triunfo da dúvida” como premissa hermenêutica da pesquisa
científica e a questão do “domínio sobre a natureza” como fator determinante
no lidar com a natureza na história recente, desde René Descartes e Kant. Em
seguida, no capítulo 4, Westphal aborda a questão do “princípio” da “incerteza”,
de Werner Heisenberg, em suas implicações para a pesquisa e a reflexão científica.
No capítulo 5, o autor trata da “crise espiritual e [a] cultura científica”, mostrando
como ambas estão correlacionadas em diversos aspectos. No 6º capítulo, ele trabalha
a questão da “morte de Deus” como premissa da ciência, e suas implicações éticas
e bioéticas. O capítulo 7 trata da questão dos “paradoxos” da natureza e o capítulo
8 trata da “vida” enquanto “dádiva de Deus”. Nesse capítulo, o autor combate
fortemente a coisificação atual do ser humano e aborda questões de antropologia
fundamental, a saber, o ser humano como corpo, alma e espírito. No 9º capítulo,
ele trata da questão da “morte” e, no último capítulo, resume algumas de suas
posições, em “um novo olhar e diferentes perspectivas”.
Como já se percebe na construção do livro, Westphal está interessado
em apontar para as raízes filosóficas e científicas da crise ética e bioética atuais,
mostrando como a fragmentação dos saberes, originada na separação entre res
cogitans e res extensa, na separação entre teologia e ciências, na separação
entre corpo e alma, entre ciências humanas e naturais, tem impedido, se não
impossibilitado, o diálogo real e necessário entre estes saberes humanos nos últimos
séculos. O autor desmascara as mazelas e aponta para as imensas fragilidades de
uma visão mecanicista da ciência, de uma hermenêutica da dúvida e ateísta, de uma
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Na verdade, para uma obra que pretende ser uma “introdução à teologia”,
o livro poderia parar por aqui. No entanto, como a obra vai muito além de uma
mera introdução, o autor aborda, na parte 2 (p. 261-517), os “sistemas teológicos”,
apresentando-os em seus traços fundamentais. Os assuntos dessa parte são
abordados, via de regra, nas faculdades teológicas e seminários, em disciplinas da
área da história da igreja e da teologia e da dogmática. A forma de apresentação
auxilia o leitor a desenvolver suas percepções quanto às diferenças doutrinárias
das diversas tradições teológicas. O autor trabalha as seguintes tradições – ou
sistemas teológicos: Ortodoxia, Catolicismo romano, Luteranismo, Teologia
reformada (Calvinismo), Teologia wesleyana-arminiana, Dispensacionalismo,
Liberalismo, Neo-ortodoxia e Teologia da Libertação. Trata-se de um excelente
“mapa” conceitual, que auxilia o leitor a localizar-se no mar de concepções
teológicas que há hoje. Além disso, o fato de o autor contemplar essas diferentes
tradições, torna sua obra convidativa para o estudo sob um ponto de vista de
diversas denominações cristãs e sob um ponto de vista ecumênico. Os sistemas
teológicos não caracterizam apenas denominações, mas podem ser vistos, em
parte, como grandezas transconfessionais, razão pela qual vale a pena o trabalho
de conhecê-las no conjunto.
A terceira e última parte (p. 519-637) contém uma série de esboços
biográficos de teólogos e filósofos que são importantes para o estudo da teologia,
além de apresentar um breve dicionário de termos teológicos e filosóficos. Trata-
se de uma pequena fonte de consulta e pesquisa, que pode ser bastante útil no
estudo da teologia.
Se formos arriscar um balanço geral dessa obra, só podemos afirmar que
é muito bem-vinda às nossas academias e prateleiras, pois em sua amplitude e
profundidade certamente preenche um espaço que ainda não havia sido ocupado
com tal propriedade por obras similares dessa área do conhecimento. O autor possui
amplos conhecimentos históricos, hermenêuticos e filosóficos e desenha o papel da
teologia dentro de tal quadro de referenciais. Ele assume uma posição evangelical
e, ainda assim, descreve da melhor forma possível as diferentes correntes do
pensamento teológico evangélico. Uma obra mais do que recomendável!
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4 Roger Marcel Wanke (Dr.) é docente na área bíblica, com ênfase em Antigo Testamento,
na FLT - Faculdade Luterana de Teologia. Concluiu seu doutorado em 2009, na facul-
dade de teologia evangélica da Universidade Friedrich Schiller, em Jena, na Alemanha,
sobre o tema da “Praesentia Dei – As concepções da Presença de Deus no livro de Jó”.
É Pastor da IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil desde 1997 e faz
parte do Comitê Editorial da Revista Vox Scripturae. E-mail: roger.wanke@flt.edu.br.
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