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Anais do XIX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178

Anais do IV Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420


23 e 24 de setembro de 2014

A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA NO COMENTÁRIO DE SANTO


AGOSTINHO A PRIMEIRA EPÍSTOLA DE SÃO JOÃO
João Ricardo de Moraes Prof. Dr. Pe. Paulo Sergio Lopes
Faculdade de Teologia e Ciências Religisas Gonçalves.
CCHSA Ética, Epistemologia e Religião
Joao.rdm@hotmail.com CCHSA – Faculdade de Filosofia
paselogo@puc-campinas.edu.br

Resumo: Na condição de Doutor e Bispo da Área do Conhecimento: Fenômeno Religioso:


Igreja, Santo Agostinho investiu na leitura da Escri- Dimensões Epistemológicas – Ética, Epistemologia
tura. Sabe-se de sua dedicação à primeira epístola e Religião – FAPIC/REITORIA
de São João, principalmente pela afirmação de que
“Deus é amor”. Não se cansou de dialogar com 1. INTRODUÇÃO
Deus, cuja experiência se efetivou mediante a via Santo Agostinho (354-430), um dos maiores pensa-
interior: o olhar para si mesmo para encontrar Aque- dores cristãos do ocidente, teve uma produção lite-
le que é a sua beata vita. Mas esse olhar considera rária imensa. Dentre suas obras, podemos destacar
a Escritura como livro da revelação divina, sendo a as de caráter filosófico, que foram escritas através
referida epístola uma obra que explicita a revelação de diálogos (Solilóquios, De Magistro, Contra os
da caridade divina em Cristo. Ao escrever o “Co- acadêmicos), sendo esses escritos redigidos na sua
mentário da primeira epístola de São João” (415), fase ainda jovem recém-convertido ao cristianismo.
Santo Agostinho mostra um método exegético pró- Junto às obras filosóficas, temos as apologéticas ( A
prio, uma mística profunda no ato da leitura da epís- verdadeira religião) que foram feitas em período
tola e o saborear de Deus mediante a dialética do próximo ao supracitado. Depois de sua conversão,
seu “eu” interior e o “eu” de Deus testemunhado na já como bispo, temos as obras da sua vida madura,
Escritura. Para realizar este trabalho tomar-se-á a dentre elas podemos destacar os tratados teológi-
obra supracitada como fonte principal, amparada cos e doutrinais (A cidade de Deus, A Trindade), e a
nas interpretações de Martin Heidegger e Étienne sua obra magna considerada uma verdadeira obra
Gilson. O primeiro interpreta a experiência religiosa prima tanto do ponto de vista filosófico quanto literá-
de Agostinho à luz da faktische Lebenserfahrung e rio: Confissões. Trata-se de uma autobiografia de
segundo realça a dialética entre Deus e o homem Agostinho em que descreve sua vida desde a sua
nas inquietações do pensador de Hipona. Desta concepção até a sua conversão e relação com
fora, objetivar-se-á inferir elementos filosóficos e Deus. Mesmo sendo uma autobiografia, essa obra
teológicos que apontem o significado da experiência possui um caráter teológico explícito principalmente
religiosa de Santo Agostinho. Em termos interrogati- dos livros XI ao XIII. Já na fase considerada madura
vos: Como se efetiva a experiência religiosa, en- do autor, observamos seus escritos no campo da
quanto experiência amorosa do encontro entre Deus exegese bíblica e pastoral, dentre eles podemos
e o homem, conforme a interpretação de Santo A- destacar a obra Comentários da primeira epístola de
gostinho acerca da primeira epístola de São João? São João, datada aproximadamente no ano de 415.
Agostinho foi um grande pensador, não só no cam-
Palavras-chave: Via interior, hermenêutica da vida po teológico, mas filosófico e literário. Suas obras
fática, Santo Agostinho, Deus. transparecem sua vida, seu modo de pensar e de
entender a realidade material e espiritual e seu de-
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sejo que o acompanha desde adolescente de se Hipona, redigiu uma série de pregações referentes à
chegar à verdade, perpassando pelos escritos filo- carta, deixando somente as explicações dos 18
sóficos de Cícero, pelo Maniqueísmo (que depois irá versículos finais. Agostinho escolheu essa carta
combater até o fim da sua vida), ceticismo ( por um porque a mesma estava em perfeita harmonia com
curto espaço de tempo), neoplatonismo, até se con- as alegrias pascais.
verter ao cristianismo com a pregação do bispo Esse escrito nos mostra um Agostinho no auge de
Ambrósio, que lhe ensinou o método da exegese sua vida intelectual e apostólica, onde temos con-
alegórico-filosófico da Bíblia (REALE, 2005, p 82). comitante a essas obras a redação das duas outras,
Nos seus escritos, em sua grande maioria, podemos como: A Trindade e a Cidade de Deus. Ambas as
observar que neles estão contidos aspectos que obras denotam muita técnica e uma preocupação
demonstram ao leitor elementos que ajudam a en- acadêmica em sua redação. Entretanto, o comentá-
tender as suas experiências religiosas, não só atra- rio da epístola de São João nos mostra um bispo
vés dos seus escritos dogmáticos, mas também preocupado com sua comunidade, com a pastoral.
filosóficos e exegéticos. Todavia, nós nos pergun- Isso não significa que esta obra seja de menor im-
tamos: por que escolher Agostinho, e não outro portância teológica que aquelas. Fato que, quando
autor, para compreender, através da mediação filo- se lê o comentário, é notória a preocupação pastoral
sófico-teológica, a experiência religiosa? Essa res- de Agostinho com a comunidade de Hipona no que
posta pode ser dada através da análise que o filóso- se refere ao cisma dos donatistas que influenciaram
fo Martin Heidegger faz no seu livro Fenomenologia muito e dolorosamente os cristãos ao norte da Áfri-
da vida religiosa ( cf. HEIDEGGER, 2010, 157-232) ca com as doutrinas equivocadas acerca do Credo,
sobre do livro X das Confissões. Heidegger analisa sacramentos e da natureza da Igreja. Agostinho,
Agostinho mediante uma fenomenologia hermenêu- durante vinte anos, teve uma preocupação de suma
tica da facticidade para compreender sua experiên- importância com os cristãos. Nesta obra, é evidente
cia religiosa. Para o filósofo alemão, Agostinho vi- o cuidado de Agostinho de preservar a fé dos cris-
vencia a experiência de Deus sem desvincular-se tãos e da Igreja, una e católica em seu sentido uni-
de sua vida cotidiana, com tudo aquilo que ela con- versal, no combate do cisma donatista através da
tém. É através de sua experiência de vida que A- demonstração da verdadeira caridade.
gostinho tem acesso à verdadeira experiência religi- Durante a leitura da obra, Agostinho faz seus co-
osa ( cf. HEIDEGGER, 2010, p 161), a busca da- mentários teológicos versículo por versículo da epís-
quele que ele mesmo o denominou como a Beata tola. Esses comentários mostram a profundidade de
Vita ( cf. HEIDEGGER, 2010, p.174). suas reflexões pautada em sua experiência religiosa
que o pensador africano presenciou em sua vida no
2. A OBRA passado e na vida presente. Os temas que se en-
Santo Agostinho escreveu a obra Comentário da contram na carta e que são trabalhados pelo bispo
primeira epístola de são João por volta dos anos de Hipona são: a fé na encarnação do verbo divino;
313-18. Não se sabe ao certo sua data de composi- a revelação desse verbo como luz e também como
ção, porém sabemos que a obra foi escrita durante amor; e a participação de nós fiéis nesse amor que
a oitava da Páscoa, pois, esses escritos, denotam é a comunhão plena com aquele que é a suma cari-
uma preparação meticulosa e cuidadosa referente dade,ou seja, o próprio Deus. Para que ocorra a
às homilias que o próprio Agostinho, já bispo da comunhão e a efetivação dessa experiência com
cidade de Hipona, realizou em suas celebrações. Deus é preciso, portanto, da necessidade de corrigir
Essas homilias, que são comentários da carta epis- o pecado através da obediência aos mandamentos
tolar de são João, resultaram na obra. Tendo estu- de Deus e a aceitação de Cristo em nossas vidas.
dado e analisado o texto da epístola, o bispo de Entretanto, o que marca no comentário de Agosti-
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nho é a necessidade de afirmar a presença de Deus de Cristo, sobre a unidade e caridade contida na
na comunidade através dos sinais do amor dele Trindade que é dada por nós. O modo que Agosti-
para conosco, porque ele nos amou antes mesmo nho escreve o comentário nos parece um exercício
de nós existirmos. exegético da palavra de Deus e também um exercí-
Agostinho ressalta a necessidade também de amar cio espiritual sobre o tema do amor de Deus que é a
os inimigos através da caridade fraterna que é um caridade, gratuidade.
amor gratuito, porque o amor que vem de Deus é
graça. E foi nessa gratuidade da caridade que Deus 3. A INTERPRETAÇÃO DE MARTIN HEIDEGGER
nos criou e em seu filho se encarnou a fim de mor- SOBRE SANTO AGOSTINHO
rer por nós e dar-nos o testemunho do amor. Não só Heidegger interpreta a experiência religiosa de A-
o tema do amor é trabalhado nesse comentário, gostinho à luz da faktische Lebenserfahrung (expe-
como também a fé é apresentada de modo articula- riência de vida fática), conceito estudado na obra
do com a caridade. A fé é a adesão a esse amor Fenomenologia da vida religiosa, constituída de três
que foi revelado na encarnação e redenção. A fé preleções realizadas em Friburgo, no período de
não é tão somente aderir às verdades dogmáticas, 1920-21. Na primeira, Heidegger realizou uma intro-
mas aceitar o amor de Deus constante da vida do dução à Fenomenologia da Religião e a aplicou na
homem, no qual presenciamos a conversão de um análise referente a algumas cartas paulinas. Na
homem todo. Essa adesão é fazer a verdadeira segunda, analisou o livro X das Coinfussões de
experiência com Deus, com o amor, retornando Agostinho e na terceira analisou a mística medieval.
esse amor gratuito que nos foi dado em direção aos Para Heidegger, Agostinho significa duas coisas
nossos irmãos. para o pensamento cristão ocidental: filosoficamente
No escrito da epístola de são João, que foi redigida é um platonismo de coloração cristã contra Aristóte-
em grego, o termo original que se refere ao amor é les; e teologicamente é uma determinada concep-
a palavra agape. Entretanto, Agostinho não teve ção da doutrina do pecado e da graça. Todavia,
acesso ao original, mas à tradução vulgata que se Heidegger não pretende analisar o pensamento
traduziu o agape por dilectio. Porém, são Jerônimo agostiniano através de um método histórico crítico,
traduziu o mesmo termo em caritas. Todavia, Agos- histórico dogmático ou uma filosofia que contribui
tinho, no comentário, introduz uma terceira expres- para uma filosofia da cultura. Heidegger analisa
são: o amor. Portanto, os termos empregados no Agostinho especificamente a partir do livro X das
comentário, encontramos em três tipos: amor, dile- Confissões mediante o método fenomenológico e
ção e caridade. O amor é usado por Agostinho para inferindo deste capítulo alguns conceitos-chaves
designar como antítese entre o amor ao bem e ao que demonstram um Agostinho não puramente
mal, ou também para o amor as coisas criadas. A dogmático, mas um pensador que lida com as ten-
dileção já corresponde ao amor das coisas espiritu- sões da vida procurando um caminho para compre-
ais, o amor da benevolência de Deus para conosco. endê-las melhor. Através dessa análise podemos
E a caridade é o amor da virtude teologal, o amor inferir da obra Comentários sobre a primeira epísto-
desinteressado e gratuito. As características da la de são João elementos sobre a experiência de
verdadeira experiência religiosa da caridade, do vida Fática contidas no texto.
amor, são os dois traços revelados por cristo na Heidegger interpreta Agostinho não como um pen-
cruz: a universalidade e a gratuidade. sador dogmático, mas como quem tenta lidar com
Além desse tema de suma importância que norteia suas experiências religiosas, que muitas vezes lhe
todo o comentário da epístola que Deus é amor (1jo faz viver em tensões. Essas tensões que Agostinho
4, 8.16) Agostinho trabalha sobre o mesmo tema em confessa obter significa para Heidegger uma auten-
consonância com o conceito de Igreja como corpo ticidade da existência fática, pois ele não foge des-
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sas tensões, pelo contrário, ele vive e toma deci- lhos denotam grande erudição dessa área onde
sões para chegar à beata vita, que é seu objetivo, encontramos inúmeras obras e artigos referentes ao
através da via interior. Não tem como enfrentar es- pensamento de Santo Agostinho. E é através desse
sas tensões sem vivencia-las, pois elas se encon- autor que iremos debruçar para entendermos me-
tram na própria experiência da vida fática. É nesse lhor a dialética entre Deus e o homem nas inquieta-
enfrentar que Heidegger encontra a verdadeira ex- ções do pensador de Hipona
periência religiosa, o de enfrentar o mundo que cir- Um dos seus maiores trabalhos sobre o
cunda o próprio homem, mesmo quando as tensões pensador de Hipona, que podemos observar em
estão presentes, pois, só assim, o homem assume Gilson, é a obra intitulada de Introdução ao estudo
o risco de decidir as contradições das tentações de Santo Agostinho, no qual encontramos todo um
existenciais encontradas na vida. Deste modo, é estudo aprofundado sobre os maiores problemas
assim também que ele irá compreender melhor es- que Agostinho enfrentou em seu pensamento filosó-
sas tensões e irá saber de que modo resolve-las fico e teológico após a conversão ao cristianismo.
através das habilidades no próprio funcionamento Esta obra está estruturada em introdução, três capí-
das tentações presente nas experiências fáticas da tulos, com seus subtítulos, e uma conclusão. Na
vida. introdução, Gilson aborda o conceito de beatitude e
Heidegger buscou compreender em Agostinho as da finalidade do pensamento agostiniano sobre
experiências religiosas que o pensador de Hipona itinerário da alma para Deus. O autor elucida que,
confessa no livro X das Confissões. Nesses relatos segundo Agostinho, é preciso e necessário que o
fica claro que é impossível vivenciar uma experiên- homem rejeite as paixões e a soberba, pois elas
cia religiosa abdicando da própria experiência de ofuscam o verdadeiro caminho da busca da verda-
vida fática, onde o homem se depara com seus deira sabedoria que é a beatitude que se realiza no
afetos e tensões. A verdadeira autenticidade da encontro com aquele que é a sua beata vita, isto é,
experiência religiosa se obtém quando o próprio a Verdade que é o próprio Deus. No primeiro capítu-
homem faz sua tomada de decisão diante dos para- lo Gilson apresenta Agostinho como àquele que
doxos das tentações e dúvidas da própria vida. Des- busca a Deus através do viés da inteligência prece-
te modo, podemos observar claramente no texto de dida e iluminada pela fé. Neste capítulo encontra-
Agostinho Comentários da primeira epístola de são mos a teoria do conhecimento em Agostinho a
João que Agostinho faz sua tomada decisiva diante quem o mesmo apresenta os graus da racionalidade
da comunidade na luta contra as heresias que esta- sempre obtendo a fé como aquela que ilumina e
vam ocorrendo ( pelagianismo e donatismo) em sua estimula a inteligência. É evidente em seu pensa-
diocese de Hipona através das homilias e prega- mento, na explicação racional sobre o conhecer das
ções em suas celebrações. Nessas homilias são coisas sensíveis, a forte influência neoplatônica e
apresentadas o modo apologético e catequético de cristã. No terceiro capítulo também são refletidas e
Agostinho, onde o próprio assume a sua decisão de estudadas as noções de criação, tempo, matéria e
enfrentar as tensões que viam ocorrendo em sua forma e os vestígios de Deus na criação e a noção
comunidade. de contemplação de Deus. Com efeito, esses con-
ceitos são raciocinados, explicados e articulados por
4. INTERPRETAÇÃO DE ÉTIENNE GILSON Agostinho através de ambas as influências ditas
SOBRE AGOSTINHO anteriormente.
Étienne Gilson (1884-1978) é exímio escritor O segundo capítulo da obra de Gilson (Gilson, 2007,
e pesquisador da história da filosofia patrística e 221-350) nos mostra um panorama abrangente dos
medieval, e um dos maiores pesquisadores do pen- principais conceitos trabalhados por Agostinho para
samento agostiniano, dentre os quais, seus traba- entender a busca do homem para alcançar a verda-
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deira sabedoria que é o próprio Deus. Esses concei- Cada conceito trabalhado por Gilson é fundamen-
tos são: a sabedoria, a virtude, a caridade, a liber- tado em diversas obras de Agostinho, sendo não
dade, a vontade, o mal e o amor. Eles nos revelam necessariamente cronológica, mas sim por intensi-
a busca do pensamento agostiniano em compreen- dade dos conceitos contidos em cada obra do pen-
der aquele que se deve buscar, amparado pelo ra- sador de Hipona. Apesar de ser uma obra introdutó-
ciocínio lógico da filosofia concernente ao entendi- ria a um pensador não significa que seja para inici-
mento teológico de Deus. antes em filosofia ou teologia, pelo contrário, é uma
De principio, Gilson demonstra que para buscar a obra densa, em que se expõe de modo claro e con-
Deus, no pensamento Agostiniano, é preciso en- ciso o pensamento agostiniano e os seus principais
tender o conceito de sabedoria que o mesmo ilustra conceitos. Demonstra-se claramente o raciocínio de
em suas obras. Há dois tipos de concepções do Agostinho no entendimento da dialética entre o
saber: aqueles que buscam por buscar, ou seja, criador e as criaturas, o sumo bem a ser alcançado
uma busca sem método e sem ordenamento, onde e a vontade daquele que deseja entender e possuir
o sujeito da busca jamais sabe o momento certo aquele que o criou.
onde está a sua busca, sem objetivo, a sua busca
se funda na alimentação de si mesmo. Por outro 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
lado, temos a busca por um fim, que se pauta numa Objetivou-se nessa pesquisa inferir o conceito de
direção de uma meta fixa por caminhos determina- experiência religiosa de Santo Agostinho à luz de
dos, onde há um fim, e esse fim é a plena felicidade. sua obra Comentário da primeira epístola de São
Esta busca pela felicidade só se dá pelo meio da João na tentativa de compreender melhor esse con-
razão superior que é a sabedoria. ceito nesta obra. Para isso usamos dois pensadores
O homem, segundo Agostinho, é constituído por Martin Heidegger e Étienne Gilson. Heidegger en-
duas operações: o homem interior e o exterior. Este tende que a experiência religiosa vivenciada pelo
se equipara aos animais porque possui um corpo santo africano se deu através da decadência de sua
material, vida vegetal e sensações iguais aos ani- vida através das tensões vivenciadas e não aniqui-
mais, aquele diz respeito tudo aquilo que os animais ladas. Somente através desse modo é que o ho-
não possuem que é a capacidade de raciocinar. O mem pode viver realmente uma verdadeira experi-
homem exterior se fixa na razão inferior que é a ência religiosa. Gilson buscou compreender a expe-
razão da ciência, das coisas criadas. Já o homem riência religiosa através da via interior que se dá na
interior ultrapassa a ciência, que é subordinada à dialética e da busca constante entre o homem e
razão superior e instrumento da mesma, e se lança Deus, sendo que este é quem interpela primeiro o
para a razão superior que é a razão que busca o homem e o ilumina para compreendê-lo através
criador, não mais na busca das coisas materiais, graça. Entretanto, para acolher a graça o homem
mas na busca das coisas eternas. A sabedoria, necessita desenvolver sua liberdade, porque so-
portanto, é o conhecimento das coisas divinas, eter- mente através dela é que o homem se depara com
nas e imutáveis. Só temos esse ensejo de buscar e o bem que o leva à Beata Vita em que se realiza
contemplar o divino porque nos foi dada a capaci- verdadeiramente a experiência religiosa.
dade de se chegar à sabedoria. É preciso, portanto,
que o homem se submeta à sabedoria para que seu 5. AGRADECIMENTOS
pensamento se ordene e chegue ao seu fim devido Agradeço à Pontifícia Universidade Católica Campi-
que é a felicidade eterna, caso contrário, o homem nas por proporcionar e incentivar aos estudantes de
viverá numa eterna busca sem sentido, onde ape- graduação a realização da Iniciação Científica.
nas saciará a si mesmo numa eterna soberba. Agradeço ao meu orientador Prof. Dr. Paulo Sergio
Lopes Gonçalves, por sua disposição e inteligência,
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cresci e aprendi em cada uma de nossas conversas


e orientações prestadas, bem como pela atenção
em todos os nossos encontros. Agradeço ao grupo
de pesquisa ao qual fiz parte durante esses anos de
pesquisa.

6. REFERÊNCIAS
[1]AGOSTINHO. Comentário da primeira epístola de
São João. Paulinas: São Paulo, 1989.
[2]__________. Confissões. Paulinas: São Paulo,
1984, pp. 249-301.
[3]_________. A verdadeira religião. Paulinas: São
Paulo, 1987.
[4]GILSON, e. Introdução ao estudo de Santo Agos-
tinho. Paulus: São Paulo, 2007.
[5]GONÇALVES, P.S.L. A religião na pós-
modernidade. Análise fenomenológica da vida reli-
giosa, in Ontologia Hermenêutica e Teologia. San-
tuário: Aparecida (SP), 2011, pp. 59-105.
[6]HEIDEGGER, M. Fenomenologia da vida religio-
sa. Vozes – São Francisco: Petrópolis – Bragança
Paulista, 2011.
[7]MATTHEWS, G.B. Santo Agostinho. A vida e as
idéias de um filósofo adiante de seu tempo. Jorge
Zahar Editor: Rio de Janeiro, 2007.

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