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ONDE ESTÃO AS CHAVES?

Não há como falar sobre Dharma sem antes gerar um sentimento de alegria e
agradecimento aos grandes mestres que vem por anos e anos Ensinando de forma genuína os
Ensinamentos do Buddha. Para que consigamos achar um tesouro, antes, precisamos nos guiar
pelo mapa. Esses grandes mestres são o mapa que nos guiam ao tesouro da felicidade e das suas
causas – o que é bem mais valioso que todos esses pedaços de pedras coloridas enterradas pela
terra. E é claro, sem os mestres, seria difícil estudar o Dharma, até porque, desta minha mente,
não posso esperar muita coisa útil. Apenas os mestres podem limpar todo esse lixeiro que eu
chamo de mente. Por isso, tento gerar essa grande alegria por todos esses mestres.
Eu vivo perdendo minhas chaves. É difícil lembrar onde as coloco. E olha que tenho
muitas. Uma para cada coisa. Uma para a porta de casa, outra para o portão, uma outra para a
porta do escritório e outra para a gaveta dos documentos, além de existirem muitas outras.
Imagina perder alguma dessas? Pois é, eu faço isso quase sempre. É difícil lembrar onde eu
coloco as chaves, até porque, você não concorda que são apenas pedaços de metal que com um
certo movimento abrem coisas? Pois então, essas coisas abertas por chaves são muito
importantes. Imagina perder as chaves de casa em um dia que você acorda atrasado para o
trabalho? Esses pedaços de metal rapidamente viram algo importante para mim quando lembro
disso. É algo interessante, perder chaves dentro de casa. Imagina a situação da casa, não é? Pois
é, minha casa é assim, uma bagunça, e olha que ela tem apenas 3 cômodos. Mas eu preciso me
virar nos 30 quando lembro que estou atrasado para ir para o trabalho e minhas chaves estão em
algum lugar no meio da bagunça. Eu, como uma espécie de “aspirante a budista”, poderia
recitar alguns mantras para tentar achar as chaves, ou ainda, como nasci em uma família
católica, poderia acendar uma vela para algum santo em troca de alguns pulinhos para que a
chave caia misteriosamente em minhas mãos. Mas isso não iria funcionar muito, na verdade,
sem chances de isso funcionar. Se eu não arregaçar as mangas e começar a arrumar a bagunça
para achar minhas chaves, elas irão ficar perdidas por muito tempo. Dar socos e chutes no
portão também não é uma boa opção, depois de arrombadas, eu teria que pagar o concerto, além
da minha casa ficar desprotegida. Resmungar para uma bela opção, mas também não ajuda. De
um ponto de vista budista, eu estaria gerando ações de fala não virtuosa, o que iria complicar
um pouco a minha situação. Por isso, a solução é arrumar a bagunça em busca das chaves.
Acho essa jordada da procura das chaves algo bem interessante, me faz aprender muito
sobre o Dharma. Por exemplo, eu posso perceber minha casa como sendo minha própria mente.
Todas as coisas que estão dentro da minha casa, como meus pensamentos. Como minha casa
sempre está bagunçada, já podemos deduzir como é minha mente, uma bagunça! Um verdadeiro
terro baldio de aflições! E no meio disso tudo, em algum lugar estão minhas chaves. Mas essas
não são chaves comuns, elas não abrem portas de madeira ou ferro, elas são chaves que o nosso
Mestre Buddha usou para atingir a Iluminação, elas abrem a porta para sair de todo os
sofrimentos. E se eu não achar as chaves e não conseguir sair de casa a tempo, não será meu
chefe enfurecido que irei encontrar, mas sim, terei que encontrar mais e mais sofrimentos.
Eu me alegro, ‘Oh, que maravilha. A chave para a felicidade eterna está bem aqui’, e
logo fico um pouco triste ‘aqui... no meio de toda essa bagunça’. É claro, meu tempo é muito
curto. O que fazer? Eu conheço vários mantras que podem me ajudar. Mas acho que não iria
funcionar. Eu preciso é arrumar esta bagunça chamada de mente. Eu preciso colocar em ordem
todos os pensamentos. E não adianta ir jogando um pensamento por cima do outro
desesperadamente em busaca da chave da felicidade. Isso irá criar ainda mais bagunça. Eu
preciso arrumar cuidadosamente cada pensamento, cada emoção, enfileirar algumas, separar
algumas para jogar fora, outros para reciclar. Deixar minha mente limpa, clara, confortável.
Cada pensamento em seu lugar. E depois disso, lá estará ela, bem embaixo de toda essa bagunça
eu consigo ver a chave da felicidade. Não é fácil gerar motivação para arrumar tudo isso. Nunca
é. Às vezes fico com vontade de parar no meio da faxina. Tudo bem, que bom que já comecei.
Pelo menos sei que, se eu continuar arrumando minha mente, em algum momento irei alcançar a
chave da felicidade. Ela sempre esteve aqui, por baixo de toda essa bagunça que eu mesmo fiz e
que eu mesmo posso arrumar. Que coisa boa! E o melhor, depois de arrumar toda essa minha
mente, eu poderei ajudar a meus amigos que também querem arrumar a mente deles. Pensa que
maravilha. Poder contar a todas as pessoas que elas possuem uma chave da felicidade bem
embaixo da bagunça de suas mentes.
Eu aprendi arrumar a casa com alguns amigos, quando morei em repúblicas. E agora
estou aprendendo a arrumar a minha mente através da grande compaixão dos mestres.
Claro, eu ainda não sei arrumar casa – muito menos a minha mente – por isso, levem
essas palavras com nenhuma seriedade.

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