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História Contemporânea
Prof. Julia Freire
Caio Siqueira, Arthur Bertolo e Carolina Menconi
A pergunta que, à primeira vista, aparenta ser uma indagação rapidamente respondida, é
destrinchada em profundidade pelo filósofo italiano Giorgio Agamben ao longo de
pouco mais de 20 páginas. O texto que é, na verdade, a lição inaugural do seu curso de
Filosofia Teorética na Universidade de Roma, apresenta, arrimado por um constante
diálogo com a literatura, um panorama heterodoxo do significado do “contemporâneo”.
Portanto, não se trata de um texto de história, mas de um ensaio sobre a Filosofia da
História; ou sobre a Filosofia do Tempo. Antes de providenciar respostas, Agamben
lança as bases para entendimento de sua visão sobre o tempo histórico: uma revisão do
que, de profundis, significa ser contemporâneo.
Partindo de tal premissa, antes de sintetizar outras nuances do que significa ser
contemporâneo, Agamben recorre à catártica literatura russa, a fim de exprimir com
maior efeito seu ponto. Evitando de entrar na crítica literária, o argumento do italiano ao
citar Osip Mandelstam se faz, quiçá, ainda mais pertinente ao investigar a própria vida
do poeta. Tal como Nietzsche, o russo é um ácido crítico do estado moral que se
encontra sua pátria no alvorecer do século XX. "Meu século, minha fera", exclama
Mandelstam, ao contemplar, literalmente, à distância a nação russa; posto que seus
versos lhe renderam alguns anos de trabalho forçado na Sibéria em decorrência de uma
sátira à Stalin. Paradoxalmente, sua prisão lhe permite, como descreve Agamben, se
tornar ainda mais contemporâneo, distanciando-se da realidade, podendo viver nela de
maneira sem as amarras da febre histórica.
Por fim, o ensaio se desenvolve a partir da síntese entre as ideias supracitadas. A figura
de linguagem que o autor encontra a fim de ilustrar de maneira mais didática sua tese é
a do escuro, não como uma ausência de luz, como uma força própria que o historiador
deve ser capaz de perceber. “Ser contemporâneo” consiste, em última instância, em não
apenas se resguardar das trevas que escurecem a análise histórica coesa, mas de ser
capaz de distingui-las dos feixes de luz que iluminam o tempo histórico, e, assim, poder
meditar a respeito de sua natureza e suas idiossincrasias.