Você está na página 1de 18

30/03/2023, 17:49 :: 20003532037 - eproc - ::

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
Avenida Borges de Medeiros, 1565 – Porto Alegre/RS – CEP 90110-906

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 5077221-61.2023.8.21.7000/RS


TIPO DE AÇÃO: Concurso de Credores
AGRAVANTE: STAR FUNDO DE INVESTIMENTO EM PARTICIPACAO MULTIESTRATEGIA
AGRAVANTE: SERRA VERDE FUNDO DE INVESTIMENTO IMOBILIARIO
AGRAVANTE: FUNPARKS FUNDO DE INVESTIMENTO EM PARTICIPACOES MULTIESTRATEGIA
AGRAVANTE: AMSTERDAM FUNDO DE INVESTIMENTO EM PARTICIPACOES
MULTIESTRATEGIA
AGRAVADO: ARC RIO PARQUES TEMATICOS E DE DIVERSAO S.A.
AGRAVADO: BRASIL PARQUES TEMATICOS E DE DIVERSAO S/A.
AGRAVADO: GRAMADO PARKS INVESTIMENTOS E INTERMEDIACOES S.A.
AGRAVADO: GRAMADO PROMOCAO DE VENDAS LTDA

DESPACHO/DECISÃO

I. RELATÓRIO.

STAR FUNDO DE INVESTIMENTO EM PARTICIPACAO


MULTIESTRATEGIA, SERRA VERDE FUNDO DE INVESTIMENTO
IMOBILIARIO, FUNPARKS FUNDO DE INVESTIMENTO EM
PARTICIPACOES MULTIESTRATEGIA e AMSTERDAM FUNDO DE
INVESTIMENTO EM PARTICIPACOES
MULTIESTRATEGIA  interpuseram  recurso de agravo de instrumento contra
decisão que, nos autos  TUTELA DE URGÊNCIA CAUTELAR que ARC RIO
PARQUES TEMATICOS E DE DIVERSAO S.A., BRASIL PARQUES
TEMATICOS E DE DIVERSAO S/A., GRAMADO PARKS
INVESTIMENTOS E INTERMEDIACOES S.A. e GRAMADO PROMOCAO
DE VENDAS LTDA move em desfavor de FORTE SECURITIZADORA S.A. 

Transcrevo a decisão agravada (evento 37, DESPADEC1): 

TUTELA CAUTELAR ANTECEDENTE Nº 5001925-69.2023.8.21.0101/RS


REQUERENTE: GRAMADO PROMOCAO DE VENDAS LTDA
REQUERENTE: GRAMADO PARKS INVESTIMENTOS E INTERMEDIACOES LTDA
REQUERENTE: BRASIL PARQUES TEMATICOS E DE DIVERSAO S/A.
REQUERENTE: ARC RIO PARQUES TEMATICOS E DE DIVERSAO S.A.
REQUERIDO: FORTE SECURITIZADORA S.A.
DESPACHO/DECISÃO

5077221-61.2023.8.21.7000 20003532037 .V35


https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=a4ff55e3c2112805e84bac7e… 1/18
30/03/2023, 17:49 :: 20003532037 - eproc - ::

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
Vistos. 
GRAMADO PARKS INVESTIMENTOS E INTERMEDIAÇÕES S.A. (GPK), BRASIL
PARQUES TEMÁTICOS E DE DIVERSÃO S.A. (BPQ), GRAMADO PROMOÇÃO DE
VENDAS S.A. (GPV) e ARC RIO PARQUES TEMÁTICOS E DE DIVERSÃO S.A. (ARC
RIO), todas sociedades anônimas de capital fechado, ajuizaram tutela de urgência cautelar,
com fundamento nos arts. 305 e seguintes do CPC e 20-B, § 1º, da Lei nº 11.101/2005, com
a finalidade de garantir o resultado útil do procedimento de mediação junto à credora Forte
Securitizadora S.A. (Fortesec) junto ao CEJUSC do TJRS, para que a credora FORTESEC,
durante o curso da medida acautelatória, não acione as cláusulas contratuais capazes de
barganhar o ambiente negocial através de gatilhos que possam alterar o comando diretivo do
Grupo Gramado Parks, viabilidade e eficiência de eventual pedido de recuperação judicial
das requerentes e, especialmente, a preservação das atividades empresariais do Grupo
Gramado Parks. As três primeiras requerentes têm sede do Município de Gramado/RS; a
última, no Rio de Janeiro/RJ. As requerentes em conjunto formam o “Grupo Gramado
Parks”.
Sustentou o Grupo requerente que suas atividades encontram-se sujeitas a dano irreparável
em razão do atual comprometimento da integralidade dos recebíveis gerados pelas
atividades das requerentes e da existência de mais de 1.500 demandas contra as autoras, as
quais estão na iminência de serem implementados atos de constrição e expropriação,
colocando em risco a continuidade e reestruturação das requerentes.
Referiu que o Grupo Gramado Parks representa um grupo empresarial de atuação nos
setores imobiliário e de turismo e lazer, sendo responsável por relevante desenvolvimento
do turismo, principalmente na região de Gramado/RS, e que as atividades geram empregos a
quase 2.000 colaboradores diretos.
Aduziu que, com a pandemia do COVID-19 e as restrições daí advindas, bem como o
contínuo aumento dos índices de inflação, houve aumento significativo na quantidade de
distratos dos contratos imobiliários, gerando redução na sustentabilidade das atividades
desenvolvidas pelo grupo requerente. Assim, com a necessidade de injeção de capital, o
Grupo captou recursos através da emissão de debêntures, empréstimos bancários e
certificados de recebíveis imobiliários (CRI), substancialmente composto por operações de
crédito estruturadas firmados junto à Fortesec. Em garantia às dívidas com a Fortesec, foram
cedidos os recebíveis oriundos de todos os empreendimentos do Grupo Gramado Parks, os
quais têm sido depositados mês a mês, em conta centralizadora mantida e controlada
exclusivamente pela Fortesec. Em suma, a lógica da operação contratada se resume ao
depósito mensal de praticamente a integralidade dos recebíveis, apuração dos valores
necessários a perfazer a proporção exigida pela garantia, para que, por fim, haja a liberação
dos excedentes em favor do Grupo Gramado Parks, objetivando que esse consiga arcar com
os custos de suas operações, com a realização do pagamento de seus colaboradores e
fornecedores.
Todavia, ante a queda das receitas do Grupo Gramado Parks e o aumento das taxas
inflacionárias e de juros atreladas aos CRI, a parte requerente não tem mais a
disponibilidade de recebíveis excedente em valor suficiente para o pagamento de todas as
despesas. A atual situação da parte autora é de que o caixa não possui liquidez e as tentativas
administrativas de renegociação das operações com a Fortesec restaram infrutíferas.
Estimou que, mensalmente, sejam drenados para as contas centralizadoras da Fortesec
recebíveis que somam quase 20 milhões de reais, os quais, se liberados em favor do Grupo
Gramado Parks, permitiriam fazer frente às despesas operacionais, evitando o agravamento
das atividades empresariais e, quiçá, o colapso das operações.
Aduziu atender aos requisitos do art. 48 da LRF bem como não incidir nas vedações legais.
Salientou que há instauração de procedimento de mediação junto ao CEJUSC. Invocou
precedentes.
Postulou, em sede de tutela de urgência cautelar, a suspensão da exigibilidade de todos e
quaisquer créditos contra a parte requerente, pelo prazo de 60 (sessenta) dias; conceder a
moratória pelo prazo de 60 dias em relação aos créditos detidos pela Fortesec, em razão da
instauração da mediação; determinar que todo o ato administrativo que vise à alteração no
controle diretivo das requerentes e suas subsidiárias seja submetido previamente a juízo.
5077221-61.2023.8.21.7000 20003532037 .V35
https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=a4ff55e3c2112805e84bac7e… 2/18
30/03/2023, 17:49 :: 20003532037 - eproc - ::

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
Emendada a inicial para corrigir o valor da causa.
Apresentado laudo de constatação prévia.
Vieram os autos conclusos.
É O RELATÓRIO.
DECIDO.
Da análise dos autos, constata-se que, em suma, pretende a parte autora obter tutela de
urgência cautelar para antecipar os efeitos do  stay period  de um procedimento futuro de
recuperação judicial (item “a” da inicial), bem como obtenção da liberação das travas de
securitização de créditos futuros detidos pela requerida FORTESEC (item “b” da inicial), e,
ainda, a extensão dos efeitos para a submissão ao Juízo de qualquer ato administrativo que
vise à alteração do controle diretivo das requerentes, a fim de preservar o ambiente negocial
por meio da mediação instaurada (item “c” da inicial).
A tutela de urgência cautelar é uma medida judicial que visa garantir a efetividade do
processo e a proteção dos direitos das partes envolvidas em uma ação judicial. Trata-se de
uma medida que pode ser requerida antes ou durante o processo, com o objetivo de
assegurar a preservação de direito que possa ser ameaçados ou prejudicados caso não sejam
tomadas medidas imediatas.
O art. 300 do CPC estabelece que a tutela de urgência será concedida quando houver
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo.
Ainda, nos termos do art. 20-B, § 1º, da Lei nº 11.101/2005 (LRF), serão admitidas
conciliações e mediações antecedentes ou incidentais aos processos de recuperação judicial.
Referido dispositivo vem assim vazado:
Art. 20-B. Serão admitidas conciliações e mediações antecedentes ou incidentais aos
processos de recuperação judicial, notadamente:
I - nas fases pré-processual e processual de disputas entre os sócios e acionistas de
sociedade em dificuldade ou em recuperação judicial, bem como nos litígios que
envolverem credores não sujeitos à recuperação judicial, nos termos dos §§ 3º e 4º do art. 49
desta Lei, ou credores extraconcursais;
II - em conflitos que envolverem concessionárias ou permissionárias de serviços públicos
em recuperação judicial e órgãos reguladores ou entes públicos municipais, distritais,
estaduais ou federais;
III - na hipótese de haver créditos extraconcursais contra empresas em recuperação judicial
durante período de vigência de estado de calamidade pública, a fim de permitir a
continuidade da prestação de serviços essenciais;
IV - na hipótese de negociação de dívidas e respectivas formas de pagamento entre a
empresa em dificuldade e seus credores, em caráter antecedente ao ajuizamento de pedido
de recuperação judicial.
§ 1º Na hipótese prevista no inciso IV do “caput” deste artigo, será facultado às empresas
em dificuldade que preencham os requisitos legais para requerer recuperação judicial obter
tutela de urgência cautelar, nos termos do art. 305 e seguintes da Lei nº 13.105, de 16 de
março de 2015 (Código de Processo Civil), a fim de que sejam suspensas as execuções
contra elas propostas pelo prazo de até 60 (sessenta) dias, para tentativa de composição com
seus credores, em procedimento de mediação ou conciliação já instaurado perante o Centro
Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) do tribunal competente ou da
câmara especializada, observados, no que couber, os arts. 16 e 17 da Lei nº 13.140, de 26
de junho de 2015.
 
I – Antecipação de efeitos do stay period

5077221-61.2023.8.21.7000 20003532037 .V35


https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=a4ff55e3c2112805e84bac7e… 3/18
30/03/2023, 17:49 :: 20003532037 - eproc - ::

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
No caso em tela, a medida ajuizada veio instruída com farta documentação, o que foi objeto
de análise pelo Administrador Judicial nomeado nos autos (laudo de constatação prévia
acostado no  evento 35, LAUDO1) o que, em sede de cognição sumária, revela a
probabilidade das alegações contidas na inicial em relação à concessão da suspensão das
ações e execuções contra as requerentes pelo prazo de 60 dias, consoante art. 20-B, IV e §
1º, da LRF. Salienta-se, outrossim, que, por ocasião de eventual ajuizamento do pedido
principal de recuperação judicial, o prazo concedido será deduzido do tempo total do stay
period, conforme art. 20-B, § 3º, da LRF.
No particular, o laudo de constatação prévia concluiu que o Grupo Gramado Parks preenche
minimamente os requisitos para o requerimento do pedido de recuperação judicial,
observada a complementação de documentação apontada no laudo (já havendo atendimento
parcial no ev. 36), atendidas, porém, as exigências do art. 48 da Lei n º 11.101/2005,  in
litteris:
 
Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça
regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos,
cumulativamente:
I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado,
as responsabilidades daí decorrentes;
II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial;
III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base
no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo;
IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa
condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.
§ 1º A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente,
herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente.
 
Ademais, o laudo de constatação atestou o funcionamento das atividades das empresas do
grupo requerente, o que revela, em sede de cognição sumária, a plausibilidade das alegações
de estrangulamento financeiro, decorrente do comprometimento dos recebíveis futuros do
grupo, mostrando-se prudente a aplicação do princípio da preservação da empresa,
insculpido no art. 47 da LRF1, porquanto eventual colapso financeiro das requerentes
repercute fortemente na economia regional, em especial no Município de Gramado/RS,
considerando que emprega cerca de 2.000 (dois mil) colaboradores diretos, conforme
noticiado na exordial.
Assim, sendo noticiada a crise enfrentada, com a atingimento dos requisitos exigidos pela
Lei 11.101/2005, o legislador pátrio previu regramento para organizar os credores de forma
que haja respeito aos direitos por eles requeridos (concurso de credores), determinando uma
solução coletiva do inadimplemento relatado, colocando credores de pequeno e grande porte
em igualdade de condições para negociar, além de exigir que credores de mesma classe
sejam tratados de maneira igualitária, conforme o princípio do "par conditio creditorum".
Portanto, tendo vista o poder geral de cautela, aliado ao princípio da preservação da
empresa, vai DEFERIDO, desde já, o pedido do item "a" da inicial, qual seja, o de
suspensão da exigibilidade de todos e quaisquer créditos detidos contra a Gramado Parks
Investimentos e Intermediações S.A., Brasil Parques Temáticos e de Diversão S.A.,
Gramado Promoção de Vendas S.A. e Arc Rio Parques Temáticos e de Diversão S.A. e suas
empresas controladas, inclusive sobre execuções já ajuizadas, nos termos do art. 6º, §12, da
Lei nº 11.1012005, pelo prazo de 60 (sessenta) dias.
 
II – Moratória de 60 dias para os créditos detidos pela FORTESEC, em razão da
instauração de procedimento de mediação

5077221-61.2023.8.21.7000 20003532037 .V35


https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=a4ff55e3c2112805e84bac7e… 4/18
30/03/2023, 17:49 :: 20003532037 - eproc - ::

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
Em relação ao pedido do item "b" da inicial, revela-se um ponto contraditório e polêmico na
doutrina e jurisprudência, especialmente porque, ao que tudo indica, os créditos detidos pela
Fortesec debatidos nesta demanda, incluída no polo passivo, são créditos fiduciários e não
sujeitos aos efeitos da recuperação judicial, conforme art. 49, §3º, da LRF, o que também foi
observado no laudo de constatação prévia (evento 35, LAUDO1, fl. 19). 
Tal pedido assemelha-se aos pedidos de liberação de travas bancárias e operações de
autocreditamento durante a antecipação do  stay period  que tem sido preciados pelo Poder
Judiciário, em demandas análogas, como também posto nos julgados colacionados à
exordial (Caso Livraria Saraiva: Recuperação Judicial nº  1119642-14.2018.8.26.0100,
perante a 2ª  Vara de Falências e Recuperações Judiciais da Comarca de São Paulo/SP;
Caso Livraria Cultura: Agravo Interno nº 2236949-78.2018.8.26.0000 do TJSP; Caso West
Coast: Recuperação Judicial nº  5008261-83.2019.8.21.0019, perante a Vara Regional
Empresarial da Comarca de Novo Hamburgo/RS; Caso Metodista: Tutela Cautelar
Antecedente nº  5035686-71.2021.8.21.0001, perante a Vara Regional Empresarial da
Comarca de Porto Alegre/ RS).
Os créditos fiduciariamente cedidos são uma forma de garantia oferecida pelos devedores
aos credores. Nessa modalidade, os devedores cedem os direitos de crédito que possuem
sobre determinados bens (como maquinários, equipamentos, imóveis etc.) para um agente
fiduciário, que atua em nome dos credores. Dessa forma, caso o devedor não cumpra com
suas obrigações, os credores têm o direito de executar os bens cedidos em garantia para
recuperar seus créditos. Essa estrutura confere posição privilegiada na recuperação judicial,
pois permite que os credores garantidos tenham prioridade na cobrança de seus créditos
sobre os demais credores. A alienação fiduciária transforma, portanto, o crédito em
extraconcursal, ou seja, permite que os credores mantenham as mesmas condições pactuadas
com o devedor, podendo manter a cobrança, pois não se submete à recuperação judicial,
salvo se declarada a sua essencialidade para a manutenção e soerguimento do negócio.
As travas bancárias, por sua vez, são cláusulas inseridas em contratos de financiamento que
impedem que o devedor realize operações financeiras sem a autorização prévia dos
credores. Essa medida tem como objetivo proteger os credores contra a dilapidação do
patrimônio da empresa em recuperação. Durante o stay period, esses mecanismos podem ser
utilizados para evitar que o devedor tome decisões que prejudiquem a recuperação da
empresa.
Por fim, a securitização de créditos consiste na venda de direitos de crédito para um veículo
especial, como um fundo de investimento em direitos creditórios (FIDC). O veículo em
questão emite títulos de dívida lastreados nos direitos de crédito adquiridos, os quais são
então vendidos para investidores. Essa estrutura permite que a empresa em recuperação
converta seus recebíveis em recursos financeiros imediatos, o que pode ser útil para sanar
dívidas emergenciais e manter a operação da empresa.
Em resumo, esses instrumentos financeiros podem ser utilizados para viabilizar a
recuperação judicial de empresas em dificuldades financeiras, permitindo que os credores
protejam seus interesses e que a empresa tenha acesso a recursos financeiros para manter
suas atividades. Contudo, é importante destacar que a utilização dessas ferramentas depende
de diversos fatores, como o perfil da empresa, o tipo de dívida e a estratégia adotada pelos
credores.
Em que pese o cenário controverso, fático e jurídico, deve ser considerado o princípio da
preservação da empresa art. 47 da Lei nº 11.101/2005, anteriormente já mencionado,  in
litteris:
 
Art. 47 A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise
econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do
emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação
da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.
 

5077221-61.2023.8.21.7000 20003532037 .V35


https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=a4ff55e3c2112805e84bac7e… 5/18
30/03/2023, 17:49 :: 20003532037 - eproc - ::

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
O princípio da preservação da empresa é um dos fundamentos da Lei de Recuperação de
Empresas e Falências, previsto no citado artigo 47, e destina-se a viabilizar a superação da
situação de crise econômico-financeira da empresa, de forma a permitir sua continuidade no
mercado e a manutenção dos empregos e da atividade econômica que ela gera.
Esse princípio é de suma importância para o direito empresarial, pois reconhece que a
empresa é um ente econômico que não pode ser tratado da mesma forma que um indivíduo
comum, uma vez que ela tem uma função social a desempenhar na economia do país.
Assim, a preservação da empresa é uma preocupação central no processo de recuperação
judicial.
Segundo leciona Fábio Ulhoa Coelho: 2
O princípio da Preservação da Empresa reconhece que, em torno do funcionamento regular
e desenvolvimento de cada empresa, não gravitam apenas os interesses individuais dos
empresário e empreendedores, mas também os metaindividuais de trabalhadores,
consumidores e outras pessoas;  são estes últimos interesses que devem ser considerados e
protegidos, na aplicação de qualquer norma de direito comercial.
Na mesma toada, Ricardo Negrão:3
A diretriz do legislador ordinário, ao estabelecer a multiplicidade de instrumenots
recuperatórios, cumpre norma maior, com vistas a atender à função social da propriedade e
do incentivo á atividade econômica (CF, arts. 170, II e 174).
Das normas constitucionais, decorre o objetivo da tutela recuperatória em Juízo: atender à
preservação da empresa, mantendo, sempre que possível, a dinâmica empresarial, em seus
três aspectos fundamentais: fonte produtora, emprego dos trabalhadores e interesses dos
credores.
 
Dessa forma, o princípio da preservação da empresa é um importante pilar do direito
empresarial e da legislação de recuperação judicial e falências, pois reconhece a importância
da atividade empresarial para a economia e para a sociedade, buscando viabilizar a
superação da crise econômica e a continuidade da empresa no mercado.
No caso em tela, as operações do Grupo Gramado Parks atingem um grande número de
empregos diretos e indiretos, além de uma longa cadeia produtiva, local e regional, havendo
repercussão em todo contexto socioeconômico envolvido.
Não se ignora o princípio da  par  conditio creditorum,  que visa garantir que todos os
credores sejam tratados de forma igualitária e justa em caso de falência ou insolvência
pontual do devedor, auxiliando a evitar a preferência de alguns credores em detrimento de
outros e a assegurar que todos os credores tenham a mesma oportunidade de recuperar seus
créditos.
Assim, prima facie, o deferimento da moratória ou liberação das travas de auto creditamento
(créditos fiduciários da requerida), poderia significar ofensa ao referido princípio de
tratamento igualitário a todos credores em caso de insolvência.
Entretanto, há que se considerar que o pedido demanda urgência na análise; que  o prazo
pretendido pelas Requerentes não equivale à totalidade do stay period, mas tão somente a 60
dias (corridos), e, ainda, que há verossimilhança demonstrada de que tal medida se mostre
necessária para a estruturação do pedido principal de recuperação judicial, aliado à
mediação dos créditos da Fortsec (não sujeitos, em princípio, ao concurso de credores, por
ser extraconcursal), e também possível mediação em relação a demais questões societárias.
Assim, tenho que a existência das “travas bancárias” ou auto creditamento em função dos
créditos fiduciários ignoram o par conditio creditorum. Isso porque o bloqueio de recebíveis
da empresa em dificuldades financeiras quita apenas a dívida de um credor, podendo até
mesmo inviabilizar a recuperação da atividade da sociedade empresária, desrespeitando os
demais credores sujeitos ao tratamento igualitário promovido pela LRF.
Segundo a doutrina especializada, a liberação de travas bancárias durante o stay period está
em consonância com o princípio da preservação da empresa, previsto no artigo 47 da lei.
Para Eduardo Secchi Munhoz:4
5077221-61.2023.8.21.7000 20003532037 .V35
https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=a4ff55e3c2112805e84bac7e… 6/18
30/03/2023, 17:49 :: 20003532037 - eproc - ::

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
 
[...] a não sujeição de certos créditos aos efeitos da suspensão e ações e execuções contra o
devedor (stay period) pode prejudiar a proteção da integralidade do patrimônio da empresa
no curso do processo de recuperação e, assim, pôr em risco o objetivo de cuscar soluções no
sentido da maximização do valor dese patrimônio.
 
Em suma, a liberação de travas bancárias durante o  stay period  é uma medida importante
para a recuperação judicial da empresa, pois permite que ela tenha acesso aos recursos
financeiros necessários para manter suas atividades e eventual estruturação do plano. Essa
medida está em consonância com o princípio da preservação da empresa e é fundamental
para assegurar a efetividade do processo de recuperação judicial.
Nesse sentido, cumpre citar os seguintes julgados:
 
PEDIDO DE ATRIBUIÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO ATIVO À APELAÇÃO CÍVEL.
DECISÃO MONOCRÁTICA. RECUPERAÇÃO DE EMPRESA. TUTELA DE
URGÊNCIA CAUTELAR ANTECEDENTE. SUSPENSÃO DE PROCEDIMENTO
EXTRAJUDICIAL DE CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE EM FAVOR DA
CREDORA FIDUCIÁRIA. - A medida postulada pela parte autora - tutela de urgência
cautelar para suspender execução em curso durante tentativa de renegociação de dívida -
encontra amparo no art. 20-B, §1º, da Lei 11.101/2005. Entretanto, tal pleito depende da
observância e do cumprimento do art. 305 do CPC e seguintes, que tratam da tutela cautelar
requerida em caráter antecedente. Não fosse isso, devem estar presentes e preenchidos os
requisitos do artigo 48 da LRJEF, que se consubstanciam nos pressupostos para se pleitear a
benesse da recuperação judicial. - Quanto à competência para apreciação, ainda que a
credora da dívida em questão seja a Caixa Econômica Federal, tendo em vista que a medida
é lastreada na Lei nº 11.101/2005, impera a vis atrativa e o princípio da universalidade do
juízo da recuperação judicial, se houver. - Em conjunto a isso, tendo em vista a limitação do
pedido da medida ora em apreciação - que é de concessão de efeito suspensivo ativo à
apelação - é necessário verificar a presença da probabilidade de provimento do recurso; se é
relevante a fundamentação; aliado a existência de risco de dano grave ou de difícil
reparação, a teor do art. 1.012, §4º, do CPC. - Quanto à probabilidade de provimento do
recurso, verifico de pronto que a decisão recorrida indeferiu a inicial por inépcia, por falta
de pedido ou causa de pedir, sem intimação prévia para reparo da parte, em nítida violação
ao disposto nos arts. 9º e 10, do CPC, desconsiderando a existência do princípio da não-
surpresa, o que caracteriza nulidade pelo cerceamento de defesa. -  Em juízo de cognição
sumária, verifica-se que a relevante fundamentação está demonstrada, uma vez que a
parte comprova a existência de aprazamento de sessão de mediação, bem como o
preenchimento dos requisitos do art. 48 da LRJEF. Aliado a isso, a urgência se
depreende da intimação para purgação de mora referente a débito garantido por
alienação fiduciária de parte do parque fabril. - Nesse contexto, reitero, em juízo de
cognição sumária e mediante uma análise perfunctória, o instrumento pré-insolvência
postulado encontra amparo nas circunstâncias demonstradas, ao que vai deferido o
efeito suspensivo ativo, para suspender o procedimento de consolidação da propriedade
pelo prazo de até 60 dias. PEDIDO PARCIALMENTE DEFERIDO.(Pedido de Efeito
Suspensivo à Apelação, Nº  51096392320218217000,  Sexta Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Gelson Rolim Stocker, Julgado em: 16-07-2021). (Grifado.)
 
PEDIDO DE ATRIBUIÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO À APELAÇÃO CÍVEL.
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. TUTELA CAUTELAR DE URGÊNCIA EM CARÁTER
ANTECEDENTE. ART. 20-B, §1º, DA LEI Nº 11.101/05. PRESSUPOSTOS FORMAIS
PARA REQUERIMENTO ATENDIDO. PERIGO DE DANO. 1. A presente pretensão de
atribuição de "efeito suspensivo" (consubstanciado em antecipação dos efeitos da tutela
recursal) encontra cabimento nos artigos 299, Parágrafo Único, e 1.012, §§3º, I, e 4º, ambos
do Código de Processo Civil. 2. Tutela Cautelar requerida em Caráter Antecedente ajuizada
nos termos dos artigos 305 e seguintes do Código de Processo Civil e dos artigos 6º, §12, e
20-B, §1º, da Lei nº 11.101/05. 3. Possibilidade de dano grave ou de difícil reparação ao
5077221-61.2023.8.21.7000 20003532037 .V35
https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=a4ff55e3c2112805e84bac7e… 7/18
30/03/2023, 17:49 :: 20003532037 - eproc - ::

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
autor, que poderá restar impossibilitado de dar continuidade à atividade empresária e ao
angariamento de recursos para desenvolver a atividade por meio de execuções relativas aos
créditos que intenta negociar antecipadamente com os credores. Suspensão das execuções
contra o grupo devedor propostas pelo prazo de 60 (sessenta) dias, nos exatos termos do art.
20-B, §1º, da Lei nº 11.101/05, com a suspensão de eventuais medidas constritivas
relacionadas aos créditos elencados na inicial. PEDIDO PARCIALMENTE DEFERIDO.
(Pedido de Efeito Suspensivo à Apelação, Nº  51892993220228217000,  Quinta Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Lusmary Fatima Turelly da Silva, Julgado em: 27-
09-2022)
 
A par  da relevância e utilidade da medida postulada, há que se considerar que, segundo
consignado no laudo de contatação prévia (evento 35, LAUDO1, fl. 09), "conforme item 4
do presente laudo, não foram constatados documentos comprobatórios anexados à exordial
que demonstrem ou comprovem a correlação entre esse valor declarado de despesas
operacionais do Grupo Gramado Parks com o valor dos créditos securitizados, no montante
mensal também declarado". 
Assim, e por prudência,  o pedido do item "b" da exordial vai DEFERIDO EM PARTE,
mediante observância das seguintes condições :
 
A)  deferimento da moratória e/ou de liberação dos créditos fiduciários em favor das
requerentes, pelo prazo inicial de 30 dias, limitado ao valor mensal descrito na
inicial,  mediante comprovação posterior e imediata da destinação e utilização destes
recursos, devendo ser vinculados aos motivos expostos na exordial (fluxo de caixa,
pagamento de folha, estruturação do pedido de recuperação judicial), e sob fiscalização da
Administração Judicial;
B) deferimento da moratória e/ou de liberação dos créditos fiduciários, pelo prazo posterior
e adicional de mais 30 dias (ou seja, dia 31 ao 60), limitado ao valor mensal descrito na
inicial, mediante depósito judicial pela requerida Fortesec, à disposição deste Juízo e
vinculado aos autos, cuja liberação em favor das requerentes dar-se-á mediante atendimento
do disposto no item anterior, somado à demonstração (documental) da necessidade da
utilização dos recursos pelo prazo adicional citado, também sob fiscalização da
Administração Judicial;
 
A medida deverá ser cumprida em 48h (quarenta e oito horas) pela requerida, sob
pena de multa diária no valor de R$100.000,00 (cem mil reais)  em caso de
descumprimento.
A parte autora deverá propor, no prazo de 30 (trinta) dias úteis, com base no art. 308 do
CPC, a ação principal de recuperação judicial, atendendo aos requisitos da LRF, a fim de
contemplar todos os demais credores não abarcados ou relacionados no âmbito desta medida
de tutela de urgência, sob pena de revogação e imediata perda da eficácia das medidas ora
deferidas. Assim, o pedido do item "e" da inicial vai INDEFERIDO, devendo ser observado
o prazo do art. 308 do CPC.
 
III- Questões contratuais e societárias
Em relação às questões contratuais e societárias narradas na inicial, verifica-se que
extrapolam o limite abrangido pelo procedimento de recuperação judicial da Lei nº
11.101/2005, mas podem ser abarcadas pela mediação judicial.
Assim, e, utilizando o poder geral de cautela, é prudente também o DEFERIMENTO
da medida do item "c" da inicial, de modo que DETERMINO que todo o ato administrativo
societário que vise à alteração no controle diretivo das Requerentes e suas subsidiárias seja
subjetido previamente a Juízo, como forma de fiscalizar e prevenir condutas predatórias
societárias, a fim de preservar o ambiente negocial por meio da mediação instaurada, sendo
fiscalizado pelo Administrador Judicial e pelo Ministério Público.

5077221-61.2023.8.21.7000 20003532037 .V35


https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=a4ff55e3c2112805e84bac7e… 8/18
30/03/2023, 17:49 :: 20003532037 - eproc - ::

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
 
IV- Segredo de Justiça
Considerando o deferimento das medidas de tutela de urgência, garantindo razoavelmente a
estabilidade das relações entre credor fiduciário e as requerentes, entendo que o segredo de
justiça (nível 1) deve ser levantado e afastado, uma vez que, pela análise da exordial e dos
documentas acostados, não há requerimento específico nesse sentido, muito menos
documentos sensíveis que justifiquem a manutenção de sigilo bancário ou fiscal. Por si só, a
tutela cautelar de urgência ou a recuperação judicial não importam em procedimentos
abarcados pelo segredo de justiça. Pelo contrário, a publicidade dos atos de recuperação
judicial (publicação de editais, atos assembleares etc.) são inerentes ao próprio
procedimento e contribuem para que os credores possam acompanhar os trâmites e
efetuarem os devidos requerimentos.
Nos termos do art. 11 do CPC, todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
públicos, como regra geral, tramitando em segredo de justiça apenas nas hipóteses elencadas
no art. 189 do referido diploma legal, o que não é o caso dos autos.
Nesse sentido, cabe referir os seguintes julgados do Egrégio TJRS:
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO.  RECUPERAÇÃO  JUDICIAL. DEFERIMENTO DO
PROCESSAMENTO DA  RECUPERAÇÃO  JUDICIAL.  SIGILO  QUANTO ÀS
INFORMAÇÕES/RELAÇÃO DE BENS PARTICULARES DOS SÓCIOS.
TRAMITAÇÃO EM SEGREDO DE JUSTIÇA. IMPOSSIBILIDADE. INCABÍVEL A
DECRETAÇÃO DO SEGREDO DE JUSTIÇA ÀS INFORMAÇÕES/RELAÇÃO DE
BENS PARTICULARES DOS SÓCIO DA SOCIEDADE RECUPERANDA, PELA
ABSOLUTA AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL E PELA PUBLICIDADE EXIGIDA
EM PROCESSOS DESTA ESPÉCIE. DERAM PROVIMENTO AO AGRAVO DE
INSTRUMENTO.(Agravo de Instrumento, Nº 50824795720208217000, Sexta Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Eliziana da Silveira Perez, Julgado em: 18-03-
2021)
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO.  RECUPERAÇÃO  JUDICIAL. CRÉDITOS
GARANTIDOS POR ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. REGISTRO DOS CONTRATOS.
CRÉDITOS NÃO SUJEITOS AOS EFEITOS DA  RECUPERAÇÃO  JUDICIAL.
TRAMITAÇÃO EM  SEGREDO  DE  JUSTIÇA. IMPOSSIBILIDADE. 1. O princípio da
preservação da empresa, insculpido no art. 47 da Lei 11.101/2005, dispõe que
a  recuperação  judicial  tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise
econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do
emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação
daquela, sua função social e o estímulo à atividade econômica. 2. Os créditos têm origem
em diversas Cédulas de Crédito Bancário e em Contratos de Consórcio, com garantia por
alienação fiduciária. Hipótese prevista no art. 49, § 3º, da Lei nº 11.101/2005, incidente
somente nos contratos registrados no Registro de Títulos e Documentos, conforme preceitua
o art. 1.361, §1º, do Código Civil e o art. 42 da Lei n.º 10.931/04. 3. No presente feito os
contratos que deram origem aos créditos da parte agravante foram averbados Registro de
Títulos e Documentos da Comarca de domicílio da parte agravante, salvo o crédito oriundo
da Cédula de Crédito Bancário Empréstimo Capital de Giro n.º 958812, que não detém
garantia mediante alienação fiduciária. 4. Dessa forma, os créditos arrolados pela parte
agravante não se sujeitam aos efeitos da  recuperação  judicial, pois aplicável ao caso em
exame a exceção prevista no art. 49, § 3º, da Lei nº 11.101/2005. 5. Por fim, deve ser
afastado o segredo de justiça atribuído ao presente feito, pela absoluta ausência de previsão
legal e pela publicidade exigida em processos desta espécie, de sorte a ser imperiosa a
aplicação dos preceitos do art. 11 do Código de Processo Civil Dado provimento ao agravo
de instrumento.(Agravo de Instrumento, Nº 70077275949, Quinta Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Jorge Luiz Lopes do Canto, Julgado em: 29-08-2018)
 
V – Mediação
5077221-61.2023.8.21.7000 20003532037 .V35
https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=a4ff55e3c2112805e84bac7e… 9/18
30/03/2023, 17:49 :: 20003532037 - eproc - ::

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
No tocante à mediação aprazada perante o CEJUSC (evento 1, OUT5), e considerando o já
anteriormente exposto, determino e mantenho a nomeação da MRS Administração Judicial
para acompanhar e fiscalizar o procedimento através de co-mediação, com base nos arts. 20-
A, 20-B, I e IV, e §1º, da Lei 11.101/2005.
 
VI - Honorários da Administração Judicial
Nos termos do art. 24 da LRF, o juiz fixará o valor e a forma de pagamento da remuneração
do Administrador Judicial, observados a capacidade de pagamento do devedor, o grau de
complexidade do trabalho e os valores praticados no mercado para o desempenho de
atividades semelhantes, de modo, ainda, que o total pago não excederá 5% (cinco por cento)
do valor devido aos credores submetidos à recuperação judicial.
No caso dos autos, trata-se o presente feito de medida cautelar antecedente, não havendo
que se falar em recuperação judicial ainda, pois condicionada ao ajuizamento da ação
principal.
Assim, cabe analisar a remuneração devida para a realização do laudo de constatação prévia
(trabalho já realizado), observando-se as peculiaridades do processo, o elevado valor dos
créditos submetidos à presente medida cautelar, o trabalho exigido, decorrente de visita às
sedes de cada uma das requerentes e o volume da documentação examinada.
Portanto, quanto aos honorários  da realização do Laudo de Constatação Prévia, que não se
confundem com os honorários da Administração Judicial, com fundamento no art 24 da
LRF,  entendo por fixar em R$ 100.000,00  (cem mil reais), os quais deverão ser
prontamente satisfeitos pela Requerente.
Quanto ao trabalho a ser realizado, decorrente  da concessão parcial da liminar, como
participação da co-mediação perante o CEJUSC, fiscalização das negociações e análise das
prestações de contas e valores a serem liberados por alvará, prudente que, antes da fixação
pelo Juízo, a Administração Judicial apresente seu orçamento para a realização do trabalho,
indicando, de modo mais completo possível, além das variáveis legais, a relação de
profissionais envolvidos na tarefa, locais de sua realização e a sua pretensão remuneratória.
De tal pretensão, será colhida a manifestação da parte devedora, para posterior fixação pelo
Juízo, admitida a composição entre esta e a Administração, desde que observados os
parâmetros legais. 
Os pagamentos poderão ser mensais ou periódicos, desde que não ultrapassem sobremaneira
o prazo de tramitação do processo, correspondente ao período de fiscalização judicial.
Por fim, em caso de propositura e processamento de pedido principal de recuperação
judicial, serão fixados novos honorários, o que será objeto de análise no momento oportuno.
 
VII - CONCLUSÃO
Ante o exposto, DEFIRO PARCIALMENTE a tutela cautelar antecedente para o fim de:
-  determinar  a suspensão da exigibilidade de todos e quaisquer créditos detidos contra a
Gramado Parks Investimentos e Intermediações S.A., Brasil Parques Temáticos e de
Diversão S.A., Gramado Promoção de Vendas S.A. e Arc Rio Parques Temáticos e de
Diversão S.A. e suas empresas controladas, inclusive sobre execuções já ajuizadas, nos
termos do art. 6º, §12, da Lei nº 11.101/2005, pelo prazo de 60 (sessenta) dias;
- conceder a moratória em relação aos créditos detidos pela FORTESEC, pelo prazo inicial
de 30 dias, limitado ao valor mensal descrito na inicial, mediante comprovação posterior e
imediata da destinação  destes recursos, devendo ser vinculados aos motivos expostos na
exordial (fluxo de caixa, pagamento de folha, estruturação do pedido de recuperação
judicial) e sob fiscalização da Administração Judicial;
-  conceder  a moratória em relação aos créditos detidos pela FORTESEC, pelo prazo
posterior e adicional de mais 30 dias (ou seja, dia 31 ao 60), limitado ao valor mensal
descrito na inicial, mediante depósito judicial pela requerida FORTESEC, à disposição
do Juízo e vinculado ao processo, cuja liberação em favor das requerentes dar-se-á mediante
5077221-61.2023.8.21.7000 20003532037 .V35
https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=a4ff55e3c2112805e84bac7… 10/18
30/03/2023, 17:49 :: 20003532037 - eproc - ::

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
atendimento do disposto no item anterior, somado à demonstração (documental) da
necessidade da utilização dos recursos pelo prazo adicional citado, também sob fiscalização
da Administração Judicial.
A medida deverá ser cumprida em  48h  (quarenta e oito horas) pela requerida, sob pena
de multa diária no valor de R$100.000,00 (cem mil reais) por dia de descumprimento;
-  determinar  que todo o ato administrativo societário que vise à alteração no controle
diretivo das Requerentes e suas subsidiárias seja subjetido previamente a Juízo, como forma
de fiscalizar e prevenir condutas predatórias societárias, a fim de preservar o ambiente
negocial por meio da mediação instaurada, sendo fiscalizado pelo Administrador Judicial e
pelo Ministério Público.
Defiro prazo de 05 dias à parte requerente para a juntada a documentação complementar,
apontada no laudo de constatação prévia, e já solicitada perante o Poder Judicário do Rio de
Janeiro/RJ, conforme petição do ev. 36.
Aguarde-se o ajuizamento da ação principal (art. 308 do CPC).
A presente decisão vale como ofício e meio hábil ao cumprimento da medida, podendo ser
encaminhada pela parte requerente aos juízos, órgãos e instituições competentes.
Cite-se nos termos do art. 306 do CPC.
Intimem-se, inclusive o Ministério Público e as Fazendas Públicas.
Cumpra-se COM URGÊNCIA.
Diligências legais.

Em suas razões (evento 1, INIC1), as partes agravantes STAR FUNDO


DE INVESTIMENTO EM PARTICIPACAO MULTIESTRATEGIA, SERRA
VERDE FUNDO DE INVESTIMENTO IMOBILIARIO, FUNPARKS FUNDO DE
INVESTIMENTO EM PARTICIPACOES MULTIESTRATEGIA e AMSTERDAM
FUNDO DE INVESTIMENTO EM PARTICIPACOES
MULTIESTRATEGIA  sustentam que o  objeto deste agravo de instrumento é a
reforma da decisão, proferida pelo Juízo da 2ª Vara Judicial de Gramado, que deferiu
o pedido de tutela cautelar preparatória de recuperação judicial formulado pelo
Grupo Gramado Parks, sem, contudo, se atentar ao fato de que os requerentes não
demonstraram o preenchimento dos requisitos legais necessários para tanto.
Destacam que o pedido de recuperação judicial jamais foi deliberado, muito menos
aprovado, pelas assembleias gerais extraordinárias das companhias, bem como que
os requerentes sequer comprovaram a dificuldade financeira alegada, conforme
reconhecido no próprio laudo de constatação prévia.  No que tange à estrutura
societária do Grupo Gramado Parks, Os Fundos agravantes são acionistas detentores
de 100% do capital social das quatro companhias agravadas, requerentes do pedido
de tutela de urgência de origem, que integram o chamado Grupo Gramado Park,
atuante no setor de incorporações imobiliárias direcionadas ao setor hoteleiro, de
turismo e de lazer.  Que em 2019 os sócios fundadores, por meio do SR
ANDERSON Diretor-Presidente das quatro empresas (ARC RIO PARQUES
TEMATICOS E DE DIVERSAO S.A., BRASIL PARQUES TEMATICOS E
DE DIVERSAO S/A., GRAMADO PARKS INVESTIMENTOS E
5077221-61.2023.8.21.7000 20003532037 .V35
https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=a4ff55e3c2112805e84bac7e… 11/18
30/03/2023, 17:49 :: 20003532037 - eproc - ::

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
INTERMEDIACOES S.A. e GRAMADO PROMOCAO DE VENDAS LTDA)
buscou a Gestora, com a intenção de expandir os negócios.  Para tanto, as
companhias passaram por uma reorganização societária, que resultou na estrutura
acima indicada. Os Sócios Fundadores passaram a ser cotistas dos Fundos
agravantes que, por sua vez, se tornaram os únicos acionistas das respectivas
Companhias.  A reorganização societária foi o meio escolhido pelos Sócios
Fundadores para obter governança e capital para atingir um fim: o sonho de
expansão dos negócios. Daí, é possível verificar ser inverídico afirmar que “o
controle acionário do Grupo Gramado Parks ainda pertence à Família Caliari” pois,
em realidade, a integralidade das ações das companhias pertence aos Fundos
agravantes. Ainda, reestruturação, na realidade, decorreu única e exclusivamente da
intenção dos próprios Sócios Fundadores em expandir os seus negócios. Que a
reorganização societária implicou em ganhos para as companhias o que, por sua vez,
permitiu a expansão dos negócios. A narrativa de “imposição” da reestruturação é
completamente ilógica e descolada da realidade. Toda a operação, inclusive com a
escolha da Gestora, foi realizada livre e negocialmente pelas partes, por pessoas
capazes, sem qualquer alegação de coação que pudesse causar nulidade ou
anulabilidade dos atos jurídicos.  Que a busca de Anderson pela Gestora foi um
caminho para profissionalizar os negócios e, com os ativos integralizados nos
Fundos, devidamente regulados e auditados, acessar o mercado de capitais na busca
por capital para a expansão, seja via dívida ou aporte em equity. Os acionistas das
Companhias praticaram atos durante 3 anos para constituir os Fundos de
Investimentos e agora alegam que foi uma mera exigência da FORTESEC. Se, por
um lado, Anderson tinha interesse em expandir os negócios, por outro, não estava
interessado em se submeter às regras de governança corporativa implementadas
pelos Fundos agravantes. Isso, pois, tais regras implicam na fiscalização dos atos
fraudulentos de gestão praticados por Anderson, os quais foram recentemente
descobertos pela Gestora dos Fundos.  Que alguns avanços foram obtidos na
implantação de governança corporativa nas empresas, no entanto, em alguns temas
que envolviam os interesses pessoais de Anderson e da Família Caliari, bem como
dos demais Sócios Fundadores, algumas dúvidas pairavam. Que Anderson leva uma
vida luxuosa e cheia de ostentação às custas das companhias e certamente não quer,
de forma alguma, perder tal prerrogativa. Prova disso é que Anderson gastou mais
de R$ 2MM com combustível de avião para uso particular.  Que ciente do fato de
que a Gestora havia descoberto os referidos atos fraudulentos, que Anderson
outorgou poderes aos patronos constituídos na origem, a fim de formular o pedido
de tutela cautelar deferido pela decisão agravada. Ou seja, a ação de origem não
passa de uma tentativa de Anderson de permanecer no cargo de Diretor Presidente,
para que possa continuar atuando da forma irregular, tal como vem
fazendo. Anderson celebrou, em nome da GPK, um acordo, no âmbito de ação de
cobrança movida por antigos acionistas, Srs. Alex Sandro Cavaleiro e Tatiane Bolfe
Cavaleiro (processo nº 5004387-67.2021.88.21.0101 — Doc. 6), por meio da qual a

5077221-61.2023.8.21.7000 20003532037 .V35


https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=a4ff55e3c2112805e84bac7… 12/18
30/03/2023, 17:49 :: 20003532037 - eproc - ::

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
GPK se obrigou ao pagamento do valor de R$ 7.225.000,00 (sete milhões e
duzentos e vinte e cinco mil reais), para a quitação de todos os contratos já firmados
anteriormente entre as partes.  Constou do Acordo que “os pagamentos serão
realizados diretamente pela Gramado Parks” (cf. item 5 do Acordo) e que “a
Gramado Parks será a única responsável pelo pagamento da totalidade dos valores
acordados no presente Acordo”. A título de garantia do pagamento do valor ajustado,
o Acordo previu que figurariam como garantidores, fiadores e responsáveis
solidários pelo pagamento as seguintes sociedades Snowland Participações e
Consultoria LTDA. (“Snowland”), e Gramado Termas Park Parques Temáticos
LTDA. (“Gramado Termas”), empresas subsidiárias das companhias do Grupo
Gramado Parks — que prestaram fiança do total acordado, com renúncia ao
benefício de ordem, na forma do art. 828, I, do Código Civil (cf. item 7 do
Acordo).  Que a ação havia sido ajuizada pelos antigos acionistas, objetivando
cobrança do pagamento de “bônus adicional” (earn out), devido na hipótese de
lançamento de novos empreendimentos, de acordo com as regras estabelecidas entre
as Partes no Contrato Particular de Compra e Venda de Cotas Sociais.  Tal
instrumento, por sua vez, foi celebrado em 10.06.2016 pela GPK, na qualidade de
promitente compradora, e os antigos acionistas, na qualidade de promitentes
vendedores, e seu objeto consistiu na compra da integralidade das quotas sociais
pertencentes aos vendedores em diversas empresas. Enquanto o Contrato de Compra
e Venda foi celebrado em benefício dos Sócios Fundadores, já que diz respeito à
compra de participações societárias em sociedades nas quais figuravam como únicos
sócios, foi exclusivamente a GPK que se comprometeu a arcar com o custo integral
do Acordo — tal como vem arcando (Doc. 95). Como se não bastasse, passaram a
figurar como garantidoras empresas subsidiárias do Grupo Gramado Parks, em
substituição aos Sócios Fundadores.  Que os Sócios Fundadores adquiriram, no
passado, a participação societária dos antigos acionistas e, atualmente, quem paga
por isso é a própria companhia do grupo. Esses pagamentos indevidos em benefício
dos Sócios Fundadores já vêm ocorrendo, pois nos extratos de pagamentos enviados
à Gestora, também foram identificados pagamentos de R$ 90.000,00 (noventa mil
reais) realizados pela Gramado Parks Investimentos e Intermediações S.A. ao
escritório Ferro, Castro Neves, Daltro e Gomide Advogados, sob a rubrica de
“Pagamento de Escritório Terceirizado FCDG pela Assessoria extrajudicial contra
Alex Sandro Cavaleiro e Tatiani Bolfe Cavaleiro”. Dão conta que Em 13.03.2023, o
Grupo Gramado Park, sem a autorização assemblear exigida por lei (LSA, art. 122,
IX), e representado pelo Sr. Anderson, ajuizou a tutela cautelar de urgência de
origem, preparatória de posterior pedido de recuperação judicial. O Grupo Gramado
Parks narra que passava por uma crise financeira, decorrente da pandemia do Covid-
19 e do aumento da inflação, o que gerou a necessidade de injeção de capital nas
Companhias. Sendo assim, as Companhias captaram recursos por meio da emissão
de debêntures, de empréstimos bancários e de certificados de recebíveis imobiliários
(“CRIs”). Tal endividamento, por sua vez, é substancialmente composto por

5077221-61.2023.8.21.7000 20003532037 .V35


https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=a4ff55e3c2112805e84bac7… 13/18
30/03/2023, 17:49 :: 20003532037 - eproc - ::

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
operações de crédito estruturadas Fortesec.  O Grupo Gramado Parks requereu, em
síntese, (a) a suspensão da exigibilidade de todos e quaisquer créditos detidos contra
as Companhias, inclusive sobre execuções já ajuizadas, pelo prazo de 60 dias; (b) a
concessão de moratória de 60 dias em relação aos créditos detidos pela FORTESEC,
em razão da instauração do procedimento de  mediação, determinando-se que a
FORTESEC repasse às Companhias os recebíveis futuros que seriam depositados
nas contas centralizadoras durante a vigência desta medida cautelar; e (c) que todo
ato administrativo societário que vise à alteração no controle diretivo das
Companhias e de suas subsidiárias fosse submetido previamente ao Juízo da
cautelar, como forma de fiscalizar e prevenir condutas predatórias societárias.
Aventam a  Incompetência absoluta do Juízo da 2ª Vara Judicial de Gramado para
decidir sobre questões societárias. Que no que diz respeito à imposição de
submissão ao Juízo da recuperação judicial para alterações societárias, é, para dizer
o mínimo, teratológica. Que além de não haver qualquer fundamento legal para tal
medida, o próprio Juízo reconhece que as “questões contratuais e societárias (...)
extrapolam o limite abrangido pelo procedimento de recuperação judicial da Lei no
11.101/2005”. Que o quatro fundos detêm a totalidade das ações do Grupo Gramado
Parks. São eles os Fundos agravantes: Serra Verde, Amsterdam Fundo, Funparks
Fundo e Star Fundo. O regulamento do fundo Serra Verde elegeu o foro da Comarca
da Capital do Estado de São Paulo para dirimir as controvérsias que surgissem entre
seus cotistas, enquanto os três outros fundos possuem cláusula compromissória,
instituindo que os conflitos oriundos dos respectivos regulamentos deveriam se
submeter à arbitragem, nos termos das regras do Centro de Arbitragem e Mediação
da Câmara de Comércio Brasil Canadá (“CAM-CCBC”). Que como não se bastasse
o próprio reconhecimento do Juízo da 2ª Vara Judicial de Gramado sobre a
extrapolação da competência do Juízo da Recuperação Judicial para tratar de
matérias societárias, os respectivos estatutos que regulam os fundos — detentores da
totalidade das ações das requeridas — indicam quem deverá dirimir suas
controvérsias, o que mostra a patente ilegalidade da decisão agravada. Que a decisão
agravada acaba por interferir nas próprias prerrogativas dos Fundos agravantes
como acionistas e no exercício dos seus direitos políticos no âmbito das companhias
por meio da Gestora. Tudo isso causado em razão da atuação transversa do Sr.
Anderson, cotista dos Fundos e administrador das companhias, que age como se
acionista fosse. Tal discussão, evidentemente, se dá no âmbito dos regulamentos dos
Fundos, o qual regula a relação entre cotistas e Gestora. E, se o Juízo recuperacional
não é competente para apreciar as questões societárias das próprias companhias,
muito menos o é para analisar a discussão societária travada no âmbito dos próprios
Fundos. Mesmo porque, conforme pontuado, todos os regulamentos preveem
cláusula de eleição de foro.  Que com base no reconhecimento do próprio Juízo a
respeito da sua extrapolação aos limites impostos pela LFR para dirimir questões
contratuais e societárias, a decisão de Evento 37 deve ser reformada, para
reconhecer a incompetência do Juízo da recuperação judicial para decidir sobre

5077221-61.2023.8.21.7000 20003532037 .V35


https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=a4ff55e3c2112805e84bac7… 14/18
30/03/2023, 17:49 :: 20003532037 - eproc - ::

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
questões societárias, especialmente quanto à alteração do controle diretivo, em razão
da existência de cláusulas compromissória e de eleição de foro nos estatutos dos
fundos que detêm a totalidade das ações das requeridas. Que inexistindo aprovação
do pedido de recuperação judicial pelos acionistas das companhias, é medida de
rigor a imediata extinção da ação, sem apreciação do mérito, em razão da total
ausência de legitimidade ativa das companhias nos termos do 485, VI do CPC. Que
a decisão agravada não se atentou a um ponto essencial: o pedido formulado na
petição inicial não preenche os requisitos exigidos nos arts. 20-B, §1º da LFR e 305
do Código de Processo Civil, em razão da absoluta ausência de demonstração do
fumus boni iuris e do periculum in mora. Que em nenhum momento as requerentes
demonstraram, objetivamente, em que medida a continuidade da cessão dos
recebíveis à FORTESEC prejudicaria o funcionamento regular das atividades das
empresas. Não há nos autos da medida cautelar de origem qualquer informação mais
detalhada sobre as receitas e despesas das requerentes, tampouco a respeito do seu
patrimônio, que permita aferir a extensão dos supostos danos alegados. Pedem  o
integral provimento do recurso, com a consequente reforma da decisão agravada.
Subsidiariamente, pedem  que a decisão agravada seja reformada  para afastar a
determinação de que quaisquer alterações societárias das  companhias que visem a
alteração do controle diretivo sejam previamente submetidas ao Juízo a quo. 

Requerem a atribuição de efeito suspensivo ao agravo nos termos do


art. 1.019, inciso I, do CPC. Contados e realizado o preparo (GUIA DE CUSTAS:
235192611);

Sobreveio peticionamento pelas partes agravantes (evento 6, PET1)


dando conta a respeito da utilização indevida da cautelar manejada. Destacam o
Stress financeiro irreversível. Enfatizam que a conduta do administrador Anderson
está prejudicando 600.987  - seiscentos mil, novecentos e oitenta e sete - cotistas

Com as razões juntou documentos. Regularmente distribuídos, vieram-


me os autos conclusos para decisão.

É o relatório.

II. ADMISSIBILIDADE.

O recurso é tempestivo e estão presentes os pressupostos dos artigos


1.016 e 1.017 do CPC, razões por que defiro seu processamento.

III. DECISÃO.

5077221-61.2023.8.21.7000 20003532037 .V35


https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=a4ff55e3c2112805e84bac7… 15/18
30/03/2023, 17:49 :: 20003532037 - eproc - ::

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
Sinalizo verossimilhança - parcial - na situação em comento, tendo em
vista, especialmente, que a decisão vergastada pode vir a causar efeitos de caráter
irreversível, sopesando a abrangência da Lei nº 11.101/05. 

Explico.

Muito embora a mediação judicial possa ser utilizada para em relação


à questões contratuais, é importante destacar que as questões contratuais e
societárias extrapolam o limite abrangido pelo procedimento de recuperação judicial
da Lei nº 11.101/2005, de modo que, muito embora possam ser  abarcadas pela
mediação judicial, não podem ser objeto de cotejo ou de análise prévia  perante o
Juízo Recuperacional, até mesmo porque, não cabe ao Poder Judiciário, pelo menos
neste momento processual, interferir  no controle diretivo das empresas
autoras/agravadas. Inclusive, não é demais lembrar que existem  regulamentos de
determinados fundos envolvidos que preveem a utilização de Arbitragem para a
solução de litígios envolvendo a seara societária.

Colocando de uma outra forma: não é possível realizar uma análise


prévia ou comparação dessas questões societárias diante do Juízo Recuperacional,
uma vez que o controle diretivo das empresas não deve ser objeto de interferência
pelo Poder Judiciário neste momento processual, ao menos sem nenhuma indicação
de violação de qualquer regra previamente estabelecida e legalmente prevista. Cabe
ressaltar que existem regulamentos de determinados fundos que estipulam a
utilização da Arbitragem como meio para solução de litígios relacionados à esfera
societária.

Ainda, numa análise, mesmo que nesse momento  pouco aprofundada


ou superficial, aliás como a situação processual exige, as provas coligidas perante a
Origem se mostram pouco contundentes no sentido de que existe eventual conflito
de interesses entre a  gestora nomeada para dirigir a operação dos Fundos e
a  Fortesec. Mas não é só isso, que mesmo existente eventual conflito econômico
(meterial), não há indicação de violação dos contratos e/ou da disposições legais.
1
Não é demais lembrar que, nos conformes do artigo 47 da Lei nº 11.101/05 ,
a  recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise
econômico-financeira do devedor entregando sua administração justamente a um
administrador judicial, não sendo do escopo da referida Lei a proteção do controle
societário ou a interferência no âmbito societário (pelo menos não do modo com que
deferido pela Origem). 

Dessa forma, é de se conceder tutela antecipada parcial para o fim de


suspender o seguinte trecho da decisão agravada: 

5077221-61.2023.8.21.7000 20003532037 .V35


https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=a4ff55e3c2112805e84bac7… 16/18
30/03/2023, 17:49 :: 20003532037 - eproc - ::

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
-  determinar  que todo o ato administrativo societário que vise à
alteração no controle diretivo das Requerentes e suas subsidiárias
seja subjetido previamente a Juízo, como forma de fiscalizar e
prevenir condutas predatórias societárias, a fim de preservar o
ambiente negocial por meio da mediação instaurada, sendo
fiscalizado pelo Administrador Judicial e pelo Ministério Público.

No que toca aos demais pedidos, entendo que desprovidos de urgência,


de modo que, deverão ser submetidos ao contraditório e, após, colocados sob o crivo
do Colegiado desta 6ª Câmara Cível. Isso porque encontram supedâneo na Lei nº
11.101/05 e, pelo menos em uma análise pouco aprofundada não possuem caráter
irreversível ou ilegal. De qualquer forma, ainda que uma análise preliminar ou
superficial indique que tais pedidos não possuem caráter irreversível ou ilegal, é
imprescindível submetê-los ao crivo do órgão competente - 6ª Câmara Cível - para
uma avaliação mais aprofundada. Dessa forma, garante-se a observância dos
princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório, essenciais para a
proteção dos direitos das partes envolvidas.

Diante do exposto, concedo o efeito suspensivo parcial para o fim


de obstar os efeitos da decisão no ponto em que interfere nos atos de viés
societário, administrativo ou diretivo das partes,  nos termos da fundamentação
supra, pelo menos por ora, sendo necessário aguardar a manifestação das partes
adversas para que haja uma melhor análise da questão, pelo Colegiado desta 6ª
Câmara Cível.

Intimem-se as partes agravadas  para, querendo, apresentarem


contrariedade ao recurso, nos termos do artigo 1.019, II, do CPC.

Intime-se a  FORTESEC SECURITIZADORA (que consta  como


requerida nos autos da Origem) para, querendo, apresentar  contrariedade ao
recurso, nos termos do artigo 1.019, II, do CPC.

Intimem-se também  a  Administração Judicial (MYNARSKI,


SAMRSLA E RUTZEN CONSULTORIA EMPRESARIAL E ADMINISTRACAO
JUDICIAL LTDA),  os Interessados cadastrados e os cientificados obrigatórios,
 para, querendo, manifestarem-se no prazo de 15 (quinze) dias úteis.

Subsequentemente, determino seja dada vista ao Ministério Público. 

Após, com o transcurso do prazo ou com a apresentação de


contraminuta, voltem os autos conclusos.

5077221-61.2023.8.21.7000 20003532037 .V35


https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=a4ff55e3c2112805e84bac7… 17/18
30/03/2023, 17:49 :: 20003532037 - eproc - ::

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
6ª Câmara Cível
A cópia dessa decisão serve como mandado, o qual deve ser cumprido
imediatamente e independente do trânsito em julgado do que aqui decidido, salvo
eventual reconsideração deste Relator ou, posteriormente, do colegiado.

Documento assinado eletronicamente por GELSON ROLIM STOCKER, Desembargador Relator, em


30/3/2023, às 9:58:47, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006. A autenticidade do documento pode ser
conferida no site https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/externo_controlador.php?
acao=consulta_autenticidade_documentos, informando o código verificador 20003532037v35 e o código
CRC d9c88635.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): GELSON ROLIM STOCKER
Data e Hora: 30/3/2023, às 9:58:47

1. DA RECUPERAÇÃO JUDICIALSeção IDisposições GeraisArt. 47. A recuperação judicial tem por


objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a
manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo,
assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.
5077221-61.2023.8.21.7000 20003532037 .V35

https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=a4ff55e3c2112805e84bac7… 18/18

Você também pode gostar