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Gaetano Mosca
Elementos de ciencia politica

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TÍTULO: Elementos de ciência


política AUTOR: Mosca, Gaetano
TRADUTOR:
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CÓDIGO ISBN E-BOOK:

DIREITOS AUTORAIS: não

LICENÇA: este texto é distribuído com a licença


especificada no seguinte endereço de Internet:
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DE: Elementos de ciência política / Gaetano Mosca;
2. ed. com uma segunda parte inédita. - Tori-no:
F.lli Bocca, 1923. - IX. 514 p.; 24cm.
CÓDIGO ISBN FONTE: não disponível

1ª EDIÇÃO ELETRÔNICA DE: 23 de abril de 2012

ÍNDICE DE CONFIABILIDADE: 1
0: baixa confiabilidade
1: confiabilidade média

2
2: boa confiabilidade
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DIGITALIZAÇÃO:
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REVISÃO:
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DISPOSIÇÃO:
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PUBLICAÇÃO:
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3
Índice geral

PREFÁCIO................................................................................................8
PARTE UM.............................................................................................11
CAPÍTULO I.
O método na ciência política...................................................12
CAPÍTULO II.
A classe política..............................................................................85
CAPÍTULO III
Noções preliminares..................................................................114
CAPÍTULO IV.
Relações entre a classe política e o tipo social..........140
CAPÍTULO V.
Defesa legal....................................................................................163
CAPÍTULO VI.
Controvérsia...................................................................................211
CAPÍTULO VII.
Igrejas, partidos e seitas..........................................................248
CAPÍTULO VIII.
As revoluções................................................................................300
CAPÍTULO IX.
Os exércitos sedentários..........................................................333
CAPÍTULO X.
Conclusão.........................................................................................363
SEGUNDA PARTE........................................................................488

4
CAPÍTULO I.
Origens da doutrina da classe política
e causas que impedem a sua propagação......................489
CAPÍTULO II.
Descrição dos diferentes tipos
de organização política............................................................504
CAPÍTULO III..............................................................................536
CAPÍTULO IV.
Diferentes princípios e tendências afirmados na forma
formação e organização da classe política.
585
CAPÍTULO V.
Esclarecimentos e controvérsias........................................639
CAPÍTULO VI.
Conclusão........................................................................................691
ÍNDICE ALFABÉTICO DE AUTORES
MENCIONADO NO VOLUME.............................................736
ÍNDICE...................................................................................................746

5
Gaetano Mosca
PROFESSOR TÍTULO DE DIREITO CONSTITUCIONAL DA UNIVERSIDADE DE TURIM
SENADOR DO REINO

ELEMENTOS
DO
CIÊNCIA POLÍTICA

Segunda edição com uma segunda parte inédita.

Dilexi justitiam, quaesivi veritatem.

TURIM
FRATELLI BOCCA EDITORI
3 - Via Carlos Alberto - 3
1923

6
À DOCE E QUERIDA MEMÓRIA

DA MINHA FILHAGRAZIELADEDICO

ESTAS PÁGINAS A QUE CONSAGRAI AS

MELHORES HORAS DA MINHA VIDA

7
PREFÁCIO

O volume que agora vem à luz é composto por duas


partes: a primeira é a segunda edição doElements of
Political Science, que foram publicados no final de
1895; o segundo é completamente novo e foi concebido
e escrito nos últimos dois ou três anos.
De fato, como a primeira edição da obra sobre
Ciência Política, publicada há quase trinta anos, há
muito se esgotou, tornou-se necessário fazer uma nova;
mas entretanto os tempos mudaram, novos
acontecimentos amadureceram e forneceram-me novos
dados que tive de ter em conta, também porque
modificaram significativamente algumas das formas de
ver a que me conformava quando escrevi a primeira
parte do o trabalho. Tampouco devo esconder do leitor
que essas variações que ocorrem no caráter e na
mentalidade de qualquer homem contribuíram para
isso, até que ambos, com idade muito avançada, se
cristalizem de forma definitiva.
Dadas essas minhas condições intelectuais e morais,
ou eu tinha que refazer a primeira parte do trabalho ou
tinha que escrever outra, que correspondia
perfeitamente ao meu modo de pensar atual. Eu escolhi
o último

8
solução, acrescentando à primeira parte do trabalho
apenas as poucas notas marcadas com um asterisco,
também porque quis manter intacta a interpretação que
há muitos anos tinha dado a alguns problemas políticos
importantes, uma interpretação que acontecimentos
muito recentes confirmado hoje.
Mas, tanto na primeira como na segunda parte deste
trabalho, procurei manter-me fiel ao método que, desde
muito jovem, escrevia oA teoria dos governos, eu adotei
e depois sempre tentei praticar fazendo todas as
melhorias que eu era capaz. Há muitos anos estou
convencido de que o único sistema possível com o qual
o homem pode, até certo ponto, dominar suas paixões e
melhorar suas fortunas consiste no estudo da psicologia
humana individual e coletiva. Desde uma época muito
remota, a sabedoria helênica julgou que a maneira mais
eficaz de o homem elevar seu caráter e moderar os
efeitos de alguns de seus instintos consistia em conhecer
a si mesmo. É, portanto, explicável se eu acreditava e
acredito firmemente que tal método pode ser aplicado
com resultados iguais ao estudo da psicologia coletiva.
Com efeito, já lhe era aplicado há mais de vinte e dois
séculos, em

9
masculinidade. Acrescento que o exemplo da Economia
Política que, estudando os fenómenos económicos com
o mesmo sistema, certamente soube evidenciar algumas
das leis que os regulam, muito me encorajou a persistir
no caminho que há muito tempo vinha trilhando. .
Claro que não escondo as grandes dificuldades que o
uso do método que mencionei brevemente apresenta,
entre as quais a quantidade de conhecimento exato que
requer sobre tudo o que aconteceu e está acontecendo
nas sociedades que têm história ocupa um dos
primeiros lugares. ; nem me gabo de ter superado todos
eles. Portanto, só posso afirmar que fiz o meu melhor,
confiante de que, se a civilização humana for capaz de
vencer a tempestade que hoje a ameaça, meu modesto
trabalho poderá ser continuado e aperfeiçoado por
outros e que todos eles serão preencheu gradativamente
as grandes lacunas que apresenta hoje.
Por fim, direi que tentei comprimir todas aquelas
paixões e sentimentos que poderiam obscurecer a visão
objetiva dos fatos sobre os quais tive que basear minhas
conclusões. Reconheço que o pleno êxito desse esforço
exigiria que o homem deixasse de ser tal, mas creio ter
feito tudo o que, por boa fé e boa vontade, pôde ser
obtido nesse sentido. Perto do fim da minha carreira
científica, queria com firmeza expor, sem ódio, sem
raiva, sem entusiasmo, com a serenidade que só

10
idade avançada pode dar, tudo o que o estudo dos
acontecimentos e do caráter humano pôde me ensinar.
Turim, dezembro de 1922.

G.AETANOM.OSCA.

11
PARTE UM

12
Dilexi justitiam, quaesivi veritatem.

CAPÍTULO I.
O método na ciência política.
I. Origens e objetivos da ciência política. -II. Por que esta
denominação foi escolhida. -III. O método experimental e a
origem das ciências. - 4. Várias aplicações deste método na
ciência política. - V. Sistema que prioriza o meio físico no
estudo da ciência política. - VI. Da prevalência dos povos do
norte sobre os do meio-dia. - VII. Continua o mesmo tópico. -
VIII. Os vários tipos de organização política e a diversidade do
clima. - IX. Importância das diferentes configurações do solo.
- X. Sistema que faz depender os fenômenos políticos da
diversidade das raças humanas. - XI. Raças superiores e
inferiores. - XII. O gênero das raças. - XIII. O sistema
evolutivo e a luta pela existência. - XIV. Progresso político e
aperfeiçoamento físico das raças humanas. - XV. Resumo da
teoria evolucionista. - XVI. O método histórico baseado na
identidade fundamental das tendências e atitudes políticas das
grandes raças humanas. - XVII. Novos materiais disponíveis
para este método. - XVIII. Objeções feitas a ele. - XIX.
Condições sob as quais este método pode ser bem utilizado. -
XX. Continuação do mesmo tópico e conclusão.

13
I. - Durante muitos séculos surgiu na mente dos
pensadores a hipótese de que os fenômenos sociais que
se desenrolavam diante deles não eram meros acidentes,
nem a manifestação de uma vontade sobrenatural e
onipotente, mas antes o efeito de constantes tendências
psicológicas, que determinam a ação das massas
humanas. Desde Aristóteles tentamos descobrir as leis e
modalidades que regulam a ação dessas tendências e o
estudo, que teve esse objetivo, foi chamado de política.
Nos séculos XVI e XVII muitos escritores,
especialmente na Itália, envolveram-se na política 1. Mas
eles, a começar por Maquiavel, que é o mais famoso de
todos, não se preocuparam tanto em determinar essas
tendências constantes em todas as sociedades humanas,
que já mencionamos, mas em investigar as artes pelas
quais um homem ou uma classe de pessoas poderiam vir a
dispor do poder supremo, numa dada sociedade, e a
defender-se contra os esforços daqueles que os queriam
suplantar. São duas coisas que, embora tenham algum
ponto de contato entre si, também são substancialmente
diferentes2. Um exemplo, que acreditamos ser muito
apropriado, di-

1 O FERROSem seu Curso sobre Escritores Políticos Italianos


(Mila-no, 1862) ele conta com várias centenas, quase todos
pertencentes aos séculos mencionados.
2 A diferença entre a política como arte de governar
(Staatskun-st) e a política como ciência de governar
(Staatswissenschaft) foi realizada, para dizer o mínimo com
pouca precisão e clareza, pelo H.OLTZENDORFFnos dois primeiros
capítulos do livro Principes de la politique. Introduction à l'étude
du droit public contemporain. Entre-
14
mostra isso muito melhor do que um longo raciocínio. A
economia política estuda as leis ou tendências
constantes que regulam a produção e distribuição da
riqueza nas sociedades humanas: mas este estudo não é
de forma alguma igual à arte de se enriquecer e
conservar a riqueza. Um economista muito talentoso
pode, de fato, ser absolutamente incapaz de construir
uma fortuna, e um banqueiro, um industrial, um
especulador, embora possam derivar alguma percepção
do conhecimento das leis econômicas, não precisam ser
mestres e são capazes de fazer muito bem, mesmo que o
ignorem completamente.

II. - Hoje em dia, o estudo iniciado por Aristóteles foi


dividido e especializado, de modo que mais do que
ciência temos ciência política. Além disso, procurou-se
sintetizar, coordenar os resultados dessas ciências e
assim nasceu a Sociologia. Mesmo os escritores do
direito público, que interpretam e comentam as leis
positivas, são quase sempre atraídos para a investigação
das tendências gerais nas quais essas leis se inspiram, e
os historiadores, que narram os eventos humanos,
examinando-os, muitas vezes tentaram para deduzir as
leis que os regulam e determinam. Assim fizeram
Políbio e Tácito na antiguidade, Guicciardini no século
XVI, Macaulay e Taine no século atual. Filósofos,
teólogos, juristas, todos aqueles que tiveram com o
propósito de

aprendeu em francês com Lehr. Hamburgo, 1887.

15
direta ou indireta de seu trabalho a melhoria da
sociedade humana, e por isso ter examinado as leis que
regulam sua organização, podem ser considerados, pelo
menos por um lado, como estudiosos da ciência política.
De modo que talvez uma boa metade do conhecimento
humano, uma imensa soma de esforços intelectuais, que
o homem empregou na busca de seu passado, para
esquadrinhar seu futuro, para estudar sua própria
natureza moral e social, possa ser considerada
consagrada a eles. .
Entre as ciências políticas ou sociais, um ramo
atingiu tal maturidade científica que, devido à certeza e
abundância dos resultados adquiridos, todos os outros
são consideravelmente deixados para trás. Pretendemos
aludir à economia política.
De fato, no final do século XVIII, algumas mentes
poderosas isolaram os fenômenos relativos à produção e
distribuição de riqueza de outros fenômenos sociais e,
olhando-os isoladamente, conseguiram determinar
muitas das leis ou tendências psicológicas constantes
que eles obedecem. O isolamento dos fenômenos
econômicos dos demais ramos das ciências sociais, e
especialmente o uso generalizado de considerá-los como
independentes de outros fenômenos, que dizem respeito
à organização dos poderes políticos, se por um lado
explica o rápido progresso da Economia Política, por
outro por outro lado, talvez seja a principal causa pela
qual alguns postulados desta ciência ainda são objeto de
discussão. De modo que talvez, coordenando suas
observações com outras que
16
olhando para outros lados da psicologia humana, a
economia política será capaz de dar novos e decisivos
passos à frente3.
È É indiscutível, porém, que as tendências que
regulam a ordenação dos poderes políticos não podem
ser estudadas sem levar em conta os resultados que a
economia política, essa ciência irmã que atingiu sua
maturidade mais cedo, já alcançou. Nós o estudo das
tendências acima mencionadas, que é o tema de nosso
trabalho, chamamos de Ciência Política. E escolhemos
essa denominação porque foi a primeira utilizada na
história do conhecimento humano, porque ainda não
caiu em desuso.4, e também porque o novo nome de
Sociologia, que, depois de Augusto Comte, foi adotado
por muitos escritores, ainda não tem um significado
bem determinado e preciso e,

3 Nos últimos vinte ou trinta anos surgiu a tendência de


explicar todos os fatos políticos que ocorrem na história da
humanidade através do estudo dos fenômenos econômicos. Na
Itália, este conceito ousado
è foi realizado por L.ORIAno livro The Economic Theory of
Political Constitution (Turim, 1886). Esta parece-nos uma forma
de ver demasiado unilateral e exclusiva. Existem fenômenos
sociais e políticos, por exemplo, o surgimento e disseminação de
grandes religiões, o renascimento de algumas nacionalidades
antigas, o estabelecimento de algumas grandes monarquias
militares, que não podem ser explicados exclusivamente pela
variação da distribuição da riqueza ou pela luta entre capital e os
proletários ou entre o capital móvel e o imóvel, como gostaria
Loria.
4 É usado, além do já mencionado Holtzendorff, por
Bluntschli, Donnat, Scolari, Brougham, Sheldon-Amos, De
Parieu, Pollock e outros escritores dos séculos XIX e XX.
17
de uso comum, abrange todas as ciências sociais,
inclusive a economia e aquelas que têm por objeto o
estudo das leis que determinam a delinquência, ao invés
daquela, que tem como finalidade principal o exame dos
fenômenos, que mais propriamente e especialmente são
chamados de políticos.

III. - Uma ciência resulta sempre de um sistema de


observações feitas sobre uma dada ordem de fenômenos
com especial cuidado, com métodos e coordenadas
apropriados para chegar à descoberta de verdades
indiscutíveis, que teriam permanecido desconhecidas da
observação vulgar e comum.
As ciências matemáticas fornecem o exemplo mais
simples e fácil para esclarecer como o processo
científico é formado. O axioma é fruto de uma
observação acessível a todos e cuja verdade salta
imediatamente aos olhos até do leigo; recordando e
coordenando vários axiomas chegamos à prova dos
teoremas mais fáceis, e então, coordenando novamente
as verdades obtidas desses teoremas com as dos
axiomas, chegamos à prova de novos teoremas que são
ainda mais difíceis, e cuja verdade não pode ser intuído
ou provado por aqueles que não são iniciados nessas
ciências. Da mesma forma, procede-se na física e nas
outras ciências naturais, mas nelas o método começa a
se complicar com novos elementos: muitas vezes não
basta coordenar várias observações simples para obter a
demonstração de uma verdade,
18
na maioria dos casos, o que é axio em matemática - mas
é alcançado por meio de um experimento ou longa
experiência. Ora, um e outro têm valor quando são
feitos com métodos especiais e precisos e por pessoas
devidamente iniciadas nesses métodos. Nos primórdios
das ciências individuais, o verdadeiro processo
científico é quase sempre devido a hipóteses felizes, que
foram então comprovadas pelas experiências e
observações dos fatos, e que por sua vez explicaram
muitas outras experiências e muitos outros fatos. Quase
sempre um longo período de empirismo, de sistemas
errados, que nos impediam de coordenar utilmente os
dados coletados sobre fenômenos únicos, de métodos de
observação imperfeitos ou errados, precedeu o período
verdadeiramente científico de uma determinada
disciplina. É assim que, por longos séculos, a
astronomia e a química lutaram contra os erros e
delírios da astrologia e da alquimia. Somente depois que
os cérebros humanos trabalharam por muito tempo
sobre uma determinada ordem de fenômenos, a
abundância de dados coletados, a perfeição dos métodos
e ferramentas materiais de observação, a intuição e a
longa paciência de gênios poderosos produziram essas
hipóteses felizes, que mencionamos, e tornaram possível
uma ciência real.
Do que dissemos é fácil deduzir que não basta obter
resultados científicos reais que, numa dada ordem de
fenômenos, se proceda com o sistema de observação e
experiência. Francesco Bacone sim

19
iludidos, e talvez muitos pensadores e escritores
contemporâneos também tenham ilusões, sobre a
capacidade absoluta que o referido sistema tem em
descobrir a verdade científica5. Na verdade, para que a
observação dos fatos e a experiência dêem bons
resultados, são necessárias as condições que acabamos
de mencionar; mal utilizados e quando o procedimento
científico está errado levam a descobertas falaciosas e
podem até dar um tom de seriedade ao verdadeiro
disparate. Basicamente, a astrologia e a alquimia, que já
mencionamos, foram fundadas em observações
verdadeiras ou supostas de fatos e experiências: mas o
método de observação, ou melhor, o ponto de vista que
todos os informavam e coordenavam, estava
profundamente errado. O famoso Martino Delrio
quando escreveu seu livro De disquisi-tione magicarum,
que se acredita ser baseado na observação dos fatos,
determinando as diferenças entre o feitiço amoroso, o
hostil e a pílula para dormir e revelando as artes e
costumes das bruxas e das feiticeiras, e pretendia
precisamente que sua experiência ajudasse a descobri-
los e a tomar precauções com eles. Os economistas
anteriores a Adam Smith acreditavam que os
economistas anteriores a Adam Smith também se
baseavam na observação de fatos, que a riqueza de uma
nação consistia apenas no dinheiro e na produção da
terra; E
5 Francesco Bacone, como sabemos, comparou o método
experimental, usado para o crime muito antes dele, a uma bússola
que permite, mesmo a uma mão inexperiente de desenho, traçar
círculos perfeitos, ou seja, obter resultados . científico exato (ver
MACAULAY, Essais politique et philosophiques, traduzido por
Guglielmo Guizot. Paris. Michel Lévy, 1872).

20
Don Ferrante, o tipo de cientista do século XVII pintado
tão eficazmente por Manzoni, baseava-se nos fatos e
experiências quase universalmente reconhecidos por
seus contemporâneos, quando com um raciocínio, nas
aparências e de forma perfeitamente lógica e positiva,
quis provar a impossibilidade de que existisse o
contágio da peste bubônica6.

4. - A ciência política não acreditamos que, mesmo


agora, tenha entrado inteiramente no verdadeiro período
científico. Embora um estudioso possa ver nela muitas
coisas que escapam à atenção de um leigo, não nos
parece que ela possa fornecer um complexo de verdades
indiscutíveis, reconhecidas por todos aqueles que são
iniciados nesta disciplina, muito menos aqueles que já
adquiriu um método de investigação seguro e
universalmente aceito por todos. As causas disso são
várias, mas por enquanto nos absteremos de expressar
nossos pensamentos sobre o assunto. Diremos apenas
que nos parece que não são de forma alguma atribuíveis
a uma deficiência de inteligência, que meditaram em
argumentos políticos, mas em maior medida.

6 Para quem não se lembrava ou não tinha lido Os Noivos, o


raciocínio de Dom Ferrante era o seguinte: in rerum natura só há
substâncias e acidentes. Ora, o contágio não pode ser acidental
porque não poderia passar de um corpo a outro, e não pode ser
substância porque as substâncias são terrosas, aquosas, ígneas e
aeriformes. Se fosse substância terrena seria visível, se fosse
aquosa molharia, se fosse ígnea queimaria, se fosse aérea voaria
para sua esfera.

21
maior complexidade dos fenômenos que a eles se
referem e, sobretudo, à quase impossibilidade, que
existia até algumas décadas atrás, de se ter uma
compreensão ampla e exata desses fatos, a partir do
estudo do qual se pode derivar a noção desses fatos leis
ou tendências constantes, que regulam o ordenamento
político das sociedades humanas.
Por mais incompletos ou incompletos que possamos
pensar neles, é nosso dever fazer um rápido exame dos
vários métodos ou sistemas de idéias com os quais
procedemos até agora ao estudo da ciência política.
Muitos deles foram e nada mais são do que uma
justificativa mais ou menos filosófica, teológica ou
racional de certos tipos de organização política, que
durante séculos desempenharam um papel importante, e
às vezes ainda desempenham, na história da
humanidade. Pois, como veremos mais adiante, uma das
tendências sociais mais constantes é justamente essa de
explicar a forma de governo existente por meio de uma
teoria racional ou de uma crença sobrenatural. Tivemos,
portanto, uma pretensa ciência política a serviço
daquelas sociedades nas quais as crenças sobrenaturais
ainda predominam nas almas humanas e nas quais,
portanto, a O exercício dos poderes políticos encontra
sua explicação na vontade de Deus ou dos Deuses, e
tivemos, e temos, outra ciência política que os mesmos
poderes legitimam ao querer fazer uma expressão livre e
espontânea do livre arbítrio dos pessoas, ou seja, da
maioria dos indivíduos que compõem uma determinada
sociedade. No entanto, devemos preferencialmente lidar
com dois desses sistemas.
22
métodos de observação política, que têm um caráter
mais objetivo e universal e tendem a encontrar as leis
pelas quais se explica a existência de todas as várias
formas de regime político existentes no mundo.
Esses dois métodos são: aquele que faz a
diferenciação política das várias sociedades depender da
variedade do meio físico e, sobretudo, do clima dos
países em que vivem, e o outro que a faz depender
principalmente das diferenças físicas, e nas
consequências psicológicas, que existem entre as
diferentes raças humanas. Uma faz prevalecer o critério
do ambiente físico nas ciências sociais, a outra o
etnológico ou somático. Ambos têm um papel muito
importante na história da ciência, e também na ciência
contemporânea, e um caráter aparentemente muito
positivo e experimental para que possamos prescindir de
examinar seu verdadeiro valor científico.

V. - Começando com Heródoto e Hipócrates e


chegando até o presente século, é muito grande o
número de escritores que falaram da influência do clima
nos fenômenos sociais em geral e especialmente nos
fenômenos políticos. Muitos também tentaram provar
isso e fundaram sistemas científicos inteiros sobre isso.
Entre eles destaca-se Montesquieu, que talvez com mais
firmeza do que qualquer outro afirmou a influência
preponderante do clima no sentido moral e na ordem
política das nações:
23
se no Espírito das leis, e em outra passagem da mesma
obra ele decidiu que a liberdade é incompatível com
países quentes e que não floresce onde a laranjeira
floresce. Outros escritores admitem que a civilização
nasceu em países quentes, mas também argumentam
que seu centro de gravidade se deslocou cada vez mais
para o norte e que hoje estão localizados os países mais
politicamente organizados.7.
Começando a tratar deste tema, parece quase
supérfluo lembrar que o clima de um país não depende
exclusivamente de sua latitude, mas também é
influenciado por outras circunstâncias, como a altitude
acima do nível do mar, exposição, ventos
predominantes, etc. Deve-se notar também que nem
todo ambiente físico depende do clima, ou seja, das
variações termométricas e hidrométricas; outras
circunstâncias também contribuem para determiná-lo,
por exemplo, a maior ou menor população que um
distrito pode ter e, portanto, o grau em que a cultura do
solo chegou até ele e também o tipo de cultura mais
comumente em uso8.
È é inegável então que a influência que o clima pode
exercer em toda a vida e na ordem política da
7 M.OUGEOLLE, Statique des civilizações. Paris, Leroux, 1883 e
Les problèmes de l'histoire. Paris, Reinwald, 1886; B. LUNTSCHLI ,
Politik ah Wissenschaft. Estugarda, 1876.
8 Os habitantes de um país escassamente povoado e, portanto,
pastoril ou arborizado, vivem em um ambiente físico diferente
daqueles que vivem em um distrito muito populoso e, portanto,
intensamente cultivado.

24
um povo deve diminuir continuamente com o
crescimento da civilização. O reino vegetal é, sem
dúvida, o mais sujeito às condições atmosféricas e
telúricas, porque as plantas, a menos que sejam criadas
em estufas, carecem quase absolutamente de meios de
reação e de defesa contra as influências externas. Os
animais já o são menos, porque para eles a defesa e a
reação não são completamente impossíveis. O homem,
mesmo selvagem, é ainda menos, porque seus meios de
defesa são sempre superiores aos dos animais, e muito
menos o homem de civilização avançada, que possui
recursos para ser relativamente afetado. muito pouco, e
esses recursos estão aumentando e se aperfeiçoando a
cada dia.
Dito isto, parece-nos um conceito óbvio e aceitável:
que as primeiras grandes civilizações nasceram nos
sítios onde a natureza apresentava mais facilidades ou
menos resistência; de modo que geralmente têm
prosperado em grandes vales com um clima bastante
quente e bem irrigado, que, com relativa facilidade,
permitem o cultivo de alguns cereais, cultura necessária
para o sustento de grandes massas humanas em espaços
relativamente pequenos.9.
9 O fato de a população ser bastante densa é condição quase
indispensável para o nascimento de uma civilização; na verdade,
não é possível onde vivem cem homens espalhados por mil
quilômetros quadrados. Agora, para que muitos homens vivam
em um espaço relativamente pequeno (pelo menos 10 ou 20 por
quilômetro quadrado), é necessário o cultivo de cereais. De fato
encontramos a civilização chinesa contemporânea ou posterior à
cultura do arroz, a
25
Esta indução é confirmada pela história, que nos
mostra as primeiras civilizações surgidas nos vales do
Nilo, do Eufrates, do Ganges e do Rio Amarelo, ou no
planalto de Anahuac, países que apresentam todas as
condições físicas que mencionamos. No entanto, uma
vez que o homem conseguiu, em um local
excepcionalmente favorável, organizar suas forças de
modo a dar-lhe natureza, ele pode mais tarde superá-lo
em outros lugares, onde é mais relutante. Atualmente,
exceto as regiões polares e talvez algumas regiões
equatoriais e outras que, por malária ou aridez
excessiva, apresentam condições desfavoráveis muito
especiais, todos os outros países são ou podem se tornar
suscetíveis a abrigar povos civilizados.

TU. - A regra segundo a qual a civilização se expande


sempre do sul para o norte, ou melhor, dos países
quentes para os frios, parece-nos ser uma daquelas
fórmulas simplistas que pretendem explicar fenômenos
muito complexos por uma única causa. Baseia-se apenas
em um fragmento da história, na de um único período
da civilização européia, e isso é estudado muito
superficialmente. Examinar um mapa geográfico com
um método semelhante, observando, por exemplo. a do
norte da Alemanha ou da Sibéria, pode-se tirar a lei dela
ziana e mesopotâmica com base na cultura do trigo, cevada e
milheto, o indígena americano na cultura do milho. Talvez em
algum país tropical algumas frutas ou raízes amiláceas, como
banana e mandioca, possam substituir os cereais.

26
que todos os rios correm do sul para o norte, porque isso
acontece naqueles países que têm as colinas ao meio-dia
e o mar ao norte. A regra poderia ser revertida se
olharmos para o sul da Rússia, e no sul da América uma
terceira poderia ser encontrada: ou seja, que os rios
fluem de oeste para leste. A verdade é que os rios,
independentemente da latitude ou extensão, correm
sempre de cima para baixo, da montanha ou dos
planaltos para o mar ou lagos. E quase diríamos que,
considerando os bairros baixos como aqueles onde há
menos resistência, a lei que regula a expansão das várias
civilizações é semelhante. O movimento civilizador
procede indiferentemente de sul a norte e de norte a sul,
mas sempre de preferência à direção em que encontra
menos obstáculos naturais e sociais;
De fato, a civilização chinesa, nascida nas províncias
centrais do império, no norte foi detida pelos planaltos
estéreis e frios da Ásia central, enquanto no sul pôde se
estender não apenas às províncias meridionais da China
propriamente dita, mas também na Indochina. Mesmo a
civilização indiana, encontrando no norte a cadeia quase
insuperável do Himalaia, estendeu-se de norte a sul, do
norte da Índia ao Decão e depois também ao Ceilão e
Java. A civilização egípcia estendeu-se para o norte até
encontrar no norte da Síria a poderosa confederação dos
Khetas, ou seja, o choque de outra civilização; ele
poderia pelo contrário

27
expandir mais ao sul, subindo o Nilo de Mênfis a Tebas
e de Tebas a Meroe10. A civilização persa, herdeira das
muito antigas da Mesopotâmia. estendia-se de leste a
oeste, uma direção na qual encontrou menos obstáculos
naturais, até esbarrar na civilização grega. Por sua vez, a
civilização greco-romana, abrangendo toda a bacia
mediterrânea, limitada ao sul por desertos insuperáveis,
a leste pela civilização oriental, representada pelo
império parta e depois pelo persa, estendeu-se ao norte
até encontrar os pântanos e florestas, então muito
difíceis, do norte da Alemanha e da Escócia.
A civilização maometano, limitada ao sul pelo mar e
pelo deserto, também teve que avançar para o noroeste.
Na Idade Média, a civilização européia, espremida ao
sul pela civilização árabe, que se apossou de toda a
parte meridional da bacia mediterrânea, espalhou-se
para o norte, adquirindo a Escócia, o norte da
Alemanha, a Escandinávia e a Polônia. Hoje, a
civilização europeia estende-se em todas as direções,
onde quer que existam terras escassas de população e
facilmente colonizáveis ou nações de civilização
decaída à espera de quem as conquiste. E acrescentamos
que o centro, o lar principal de uma civilização também
se desloca, conforme se estende em uma direção ou na
outra.
10 Recordamos que agora parece provado que as dinastias
mais antigas floresceram em Tanis e Mênfis, que Tebas só
adquiriu importância após a invasão dos Pastores, que a Etiópia
foi encorajada pelos egípcios e que só muito tarde se tornou um
reino independente.

28
tro, obedecendo a lei que mencionamos. Os países que
estão na fronteira de um tipo de cultura humana não são
normalmente aqueles que se destacam nela. Quando a
civilização européia abrangeu toda a bacia do
Mediterrâneo, a Grécia propriamente dita e o sul da
Itália estavam no centro do mundo civilizado e eram os
países mais prósperos, mais cultos e mais ricos; quando
se tornaram a vanguarda mais avançada, diante do
mundo muçulmano, necessariamente decaíram11.

VII. - Mesmo uma hipótese muito arriscada nos


parece aquela que atribui uma moralidade mais alta aos
povos da seita do que aos do sul. A moralidade resulta
de qualidades tão complexas da alma e da mente, e as
circunstâncias externas nas quais a vida ocorre
desempenham um papel muito importante em suas
afirmações positivas e negativas.

11 No mesmo país, em igualdade de circunstâncias, a parte


mais civilizada e próspera é quase sempre aquela que tem mais
facilidade de comunicação com os distritos que formam o lar ou o
centro irradiante daquela civilização à qual o próprio país
pertence. Por exemplo, na Sicília a parte mais próspera e
civilizada era a costa leste até a ilha pertencer à antiga civilização
helênica, que tinha seu centro no leste da Sicília (B ELOCH, A
população da antiga Sicília. "Arquivo histórico siciliano" 1887).
Durante o período árabe, a Sicília ocidental era mais culta, mais
rica, mais populosa, mais próxima da África, de onde surgiu a
civilização maometano (AMARI, História dos muçulmanos na
Sicília. Florença, Le Monnier, 1854-58-68). Hoje em dia a maior
população e riqueza está na costa norte da ilha, que enfrenta o
norte da Europa.

29
humano, que já é um julgamento bastante difícil
determinar se um único indivíduo é potencialmente
mais moral do que outro; e o mesmo julgamento torna-
se muito difícil quando se deseja fazê-lo em relação a
duas sociedades, a duas massas humanas compostas de
indivíduos muito numerosos. Os dados estatísticos sobre
este assunto não podem dizer tudo e muitas vezes nem
dizem o suficiente, e impressões pessoais, quase sempre
muito subjetivas12eles são ainda mais falaciosos do que
as estatísticas.
O vício, que é mais comumente atribuído aos sulistas,
é a luxúria, enquanto a embriaguez é mais geralmente
atribuída aos nortistas. Mas pode-se de fato observar
que os negros do Congo se embriagam mais
vergonhosamente que os camponeses russos e os
trabalhadores suecos e quanto à luxúria parece que os
hábitos e o tipo de organização social que cada povo por
uma série de circunstâncias históricas é criado, afeta
você mais do que o clima. São Vladimir, o czar
santificado que se tornou o santo padroeiro de todas as
Rússias, antes de se converter ao cristianismo manteve
mais mulheres em seus zoológicos do que o califa
Harun-al-Raschid e Ivan, o terrível pela crueldade,
poderiam ter.
12 Geralmente o tipo de moralidade a que estamos menos
acostumados impressiona mais e, portanto, os homens de outro
país facilmente se julgam piores do que os do nosso. Mas também
é comum o hábito de julgar mais imoral que os outros aquele país
em que mais cedo ou melhor se teve a oportunidade de conhecer
e apreciar os vícios e as fraquezas, que são típicos de todos os
homens.
30
Nero, Eliogabalo e os sultões mais ferozes do Oriente.
Hoje em dia, a prostituição de Londres, Paris e Viena
talvez tenha superado a da antiga Babilônia e Delhi. Na
Europa de hoje o máximo de crimes libidinais é
apresentado pela Alemanha, seguida em ordem
decrescente pela Bélgica, França, Áustria-Hungria; A
Itália ocupa um lugar próximo ao mínimo, que é
marcado pela Espanha13.
Muitos dos sociólogos criminalistas geralmente
admitem que os crimes de sangue, aqueles contra as
pessoas, prevalecem no Sul, enquanto atribuem ao
Norte um número maior de crimes contra o
patrimônio.14. Mas Tarde e Colajanni mostraram a
evidência de que as relações que se buscaram entre as
várias formas de delinquência e o clima devem antes ser
atribuídas às diferenças de condições sociais, às vezes
encontradas entre as várias regiões do mesmo estado 15.
É verdade que nos Estados Unidos da América, na
França e também na Itália observa-se constantemente
uma prevalência de crimes de sangue no sul, enquanto
no norte há um número relativamente maior de crimes
contra o patrimônio, mas como detectar Muito bem o
próprio Tarde, em todos esses países o comércio do sul
é mais desprovido de comunicações, mais distante dos
grandes centros industriais e dos lares do
13 C.OLAJANNI, Sociologia Criminal, vol. II, cap. VII, Catania,
editora Tropea, 1889.
14 Veja as obras de Maury, Lombroso, Ferri, Pu-
filha.
15 T.ARDE, La Criminalitè comparée, cap. 4.

31
a civilização atual dos distritos do norte; agora é natural
que a forma violenta de criminalidade prevaleça,
independentemente do clima, nos países mais
grosseiros, enquanto o crime astuto se torna mais
comum nos mais cultos. E tanto que esta é a melhor
explicação do fenômeno, que os departamentos
franceses onde a criminalidade violenta é maior estão, é
verdade, no sul da França, mas têm um clima
relativamente frio porque são montanhosos.16. Isso
também se observa na Itália, onde Basilicata, distrito
que deu uma das mais fortes contagens de crimes de
sangue, é um país montanhoso com um clima
relativamente frio, e os jugos dos Matese, Gargano e
Sila e aqueles onde existem alguns Municípios da
Sicília famosos por empreendimentos sanguinários e
bandidos17.

VIII. - Chegando então à parte estritamente política


da questão, diremos que, antes de julgar que os sulistas
são incapazes de liberdade, é necessário concordar com
o significado preciso e científico desta palavra. Se
admitirmos que um país mais livre é aquele em que os
direitos dos governados são melhor defendidos contra a
arbitrariedade pessoal e o desejo de intimidação dos
governantes, devemos
16 Seriam os departamentos dos Pirenéus orientais de Ardèche
e Lozère.
17 Na já mencionada Sociologia Criminal de C OLAJANNI(vol. II,
cap. VII) existem inúmeros outros exemplos adequados, que
demonstram a escassa ou nenhuma influência do clima sobre o
crime.
32
concordar que as instituições políticas a este respeito
consideradas melhores estiveram em vigor tanto em
países frios do que em outros muito temperados, como,
por exemplo, Grécia e Roma. Vice-versa, a vontade dos
governantes em elevá-los a um sistema de governo
também pode ser encontrada em países muito frios
como a Rússia. O sistema constitucional não teve início
mais vigoroso na nebulosa Inglaterra do que em Aragão,
Castela e Sicília.18. Admitindo que actualmente as
diferentes modalidades de governo representativo
possam ser consideradas as formas menos imperfeitas
de regime político, encontramo-las em vigor na Europa,
tanto no norte como no sul, e, fora da Europa,
funcionam talvez muito ... bem no frio Canadá do que
no Cabo da Boa Esperança, onde o clima, se não quente,
é certamente muito temperado.
A razão pela qual os sulistas devem ser menos aptos a
um regime político livre e elevado só pode ser esta: eles
têm menos energia física e, acima de tudo, menos
energia moral e intelectual. É de fato uma opinião muito
comum que os nortistas estão destinados com sua
energia superior, que

18 Para se ter uma noção da importância e do desenvolvimento


que teve a antiga constituição siciliana, pode-se consultar:
ROSÁRIOG.REGORY, Introdução ao estudo do direito público siciliano
e Considerações sobre a História da Sicília (Palermo, 1794 e
1831-34). Se Montesquieu tivesse estendido suas viagens um
pouco mais para o meio-dia, teria encontrado na Sicília uma
ordem política em que, mesmo em sua época, a autoridade real
era muito mais temperada do que na França.

33
expressa-se no trabalho, nas armas, na ciência, para
sempre conquistar os sulistas fracos. Mas esta opinião é
ainda mais superficial e mais contrariada pelos fatos do
que aqueles que refutamos anteriormente. Com efeito,
as civilizações nascidas e desenvolvidas em climas
quentes ou muito temperados deixaram-nos
monumentos, que testemunham uma cultura avançada e
uma incalculável energia de trabalho, o que é mais
maravilhoso quando se lembra que não tinham aquelas
máquinas, que agora os as forças do homem se
multiplicam. A diligência de um povo mais do que do
clima parece depender de hábitos que são em grande
parte determinados por seus acontecimentos históricos.
Em geral os povos da civilização antiga têm hábitos
laboriosos, que há muito atingiram a fase agrícola e, no
entanto, gozam há muito de um regime político
tolerável, que garante aos trabalhadores pelo menos
parte do fruto de seus esforços. Pelo contrário, os povos
bárbaros e semi-bárbaros, ou que voltaram a uma
barbárie parcial, acostumados a viver em parte na guerra
e no roubo, fora da guerra e da caça costumam ser
preguiçosos e inertes. Como tal, de fato, Tácito descreve
os antigos alemães, tais são os Peles Vermelhas da
América do Norte agora e os Calmucchi são
extremamente preguiçosos, embora os primeiros
vivessem e os outros ainda vivam em países muito frios.
Pelo contrário, os chineses das províncias do sul são
muito trabalhadores e os felás egípcios sabem trabalhar
com grande tenacidade. E se a falta de grandes
indústrias na parte mais meridional da Europa que
assegura aos trabalhadores pelo menos uma parte do
fruto de seus próprios esforços. Pelo contrário, os povos
bárbaros e semi-bárbaros, ou que voltaram a uma
barbárie parcial, acostumados a viver em parte na guerra
e no roubo, fora da guerra e da caça costumam ser
preguiçosos e inertes. Como tal, de fato, Tácito descreve
os antigos alemães, tais são os Peles Vermelhas da
América do Norte agora e os Calmucchi são
extremamente preguiçosos, embora os primeiros
vivessem e os outros ainda vivam em países muito frios.
Pelo contrário, os chineses das províncias do sul são
muito trabalhadores e os felás egípcios sabem trabalhar
com grande tenacidade. E se a falta de grandes
indústrias na parte mais meridional da Europa que
assegura aos trabalhadores pelo menos uma parte do
fruto de seus próprios esforços. Pelo contrário, os povos
bárbaros e semi-bárbaros, ou que voltaram a uma
barbárie parcial, acostumados a viver em parte na guerra
e no roubo, fora da guerra e da caça costumam ser
preguiçosos e inertes. Como tal, de fato, Tácito descreve
os antigos alemães, tais são os Peles Vermelhas da
América do Norte agora e os Calmucchi são
extremamente preguiçosos, embora os primeiros
vivessem e os outros ainda vivam em países muito frios.
Pelo contrário, os chineses das províncias do sul são
muito trabalhadores e os felás egípcios sabem trabalhar
com grande tenacidade. E se a falta de grandes
indústrias na parte mais meridional da Europa ou caídos
em uma barba parcial, acostumados a viver em parte de
guerra e roubo, fora da guerra e da caça costumam ser
preguiçosos e inertes. Como tal, de fato, Tácito descreve
os antigos alemães, tais são os Peles Vermelhas da
América do Norte agora e os Calmucchi são
extremamente preguiçosos, embora os primeiros
vivessem e os outros ainda vivam em países muito frios.
Pelo contrário, os chineses das províncias do sul são
muito trabalhadores e os felás egípcios sabem trabalhar
com grande tenacidade. E se a falta de grandes
indústrias na parte mais meridional da Europa ou caídos
em uma barba parcial, acostumados a viver em parte de
guerra e roubo, fora da guerra e da caça costumam ser
preguiçosos e inertes. Como tal, de fato, Tácito descreve
os antigos alemães, tais são os Peles Vermelhas da
América do Norte agora e os Calmucchi são
extremamente preguiçosos, embora os primeiros
vivessem e os outros ainda vivam em países muito frios.
Pelo contrário, os chineses das províncias do sul são
muito trabalhadores e os felás egípcios sabem trabalhar
com grande tenacidade. E se a falta de grandes
indústrias na parte mais meridional da Europa Norte-
americanos e extremamente preguiçosos também são os
Calmucchi, embora os primeiros os tenham habitado e
os outros ainda vivam em países muito frios. Pelo
contrário, os chineses das províncias do sul são muito
trabalhadores e os felás egípcios sabem trabalhar com
grande tenacidade. E se a falta de grandes indústrias na
parte mais meridional da Europa Norte-americanos e
extremamente preguiçosos também são os Calmucchi,
embora os primeiros os tenham habitado e os outros
ainda vivam em países muito frios. Pelo contrário, os
chineses das províncias do sul são muito trabalhadores e
os felás egípcios sabem trabalhar com grande
tenacidade. E se a falta de grandes indústrias na parte
mais meridional da Europa
34
deu origem e alimenta o preconceito de que os seus
habitantes não são muito laboriosos, quem conhece bem
essas populações sabe muito bem que em geral esta
acusação não é bem merecida19.
Se admitirmos que a superioridade militar é um teste
de maior energia, é de fato difícil estabelecer se os
nortistas venceram e conquistaram os sulistas com mais
frequência do que foram derrotados e conquistados por
sua vez. Os egípcios eram egípcios do sul, que em seus
belos momentos viajavam vitoriosos pela Ásia até as
montanhas da Armênia, e esses guerreiros assírios
viviam em um país de clima muito temperado, cuja
crueldade se pode odiar, mas também se deve admirar o
indomável guerreiro energia. Os gregos eram do sul,
que souberam conquistar toda a Ásia ocidental e, com
armas, colônias, comércio, a superioridade de seu gênio,
helenizaram toda a parte oriental da bacia do
Mediterrâneo e grande parte da bacia do Mar Negro. .
Os romanos também eram,

19 Citaremos o exemplo da Sicília: esta ilha, numa área de


cerca de 25.000 quilómetros quadrados, tem uma população
superior a três milhões e meio de habitantes, ou seja, mais de 130
por quilómetro quadrado. Não tem grandes indústrias, nem
grande abundância de capital, seu solo é em grande parte
montanhoso, rico em sol, mas pobre em água: agora, nessas
condições, para que uma população possa viver com um conforto
apenas moderado, uma incansável agricultura trabalho e também
muito bem gerido.

35
aos receptáculos mais remotos de suas montanhas frias e
selvagens. Os italianos da Idade Média eram sulistas,
que fizeram prodígios de atividade militar, industrial e
comercial; e os sulistas eram os espanhóis do século
XV, aqueles famosos conquistadores, que em menos de
meio século exploraram, viajaram e conquistaram a
maior parte da América. Os sulistas eram, em
comparação com os ingleses, aqueles franco-
normandos, seguidores de Guilherme, o conquistador,
que em poucos anos conseguiram desapropriar quase
completamente os habitantes da parte sul da Grã-
Bretanha e que, com a espada nas costas, perdido - guit
os ângulos até a antiga muralha romana; e meridionais
em sentido absoluto aqueles árabes que, em menos de
um século, conseguiram impor sua conquista e, com a
conquista da língua,

IX. - As diferenças de organização social


determinadas pela configuração do solo podem ser
consideradas como um apêndice daquelas devidas à
variedade de climas, embora sejam talvez mais
importantes.
De fato, não se pode negar que ser um país mais ou
menos plano ou montanhoso, estar nas grandes vias de
comunicação ou estar isolado delas, são elementos que
influenciam sua história muito mais do que alguns graus
a mais ou a menos em sua história. média termométrica;
mas sua importância não deve ser exagerada a ponto de
torná-los uma lei fatal. Certas circunstâncias
topográficas,
36
que, dadas algumas condições históricas, são favoráveis,
em outras se tornam muito desfavoráveis e vice-versa.
A Grécia, quando toda a Europa ainda estava na Idade
do Bronze e no início da Idade do Ferro, encontrava-se
em condições maravilhosamente favoráveis para se
tornar o primeiro país civilizado desta parte do mundo;
porque, de preferência a qualquer outro distrito, poderia
receber as infiltrações das civilizações egípcias e
asiáticas. Mas na era moderna, até que o istmo de Suez
foi cortado, pode-se dizer que o mesmo país estava entre
os mais desfavoravelmente situados da Europa, porque
estava longe do centro da cultura europeia e das grandes
rotas comerciais. Indiano. Outra opinião bastante
difundida nesses argumentos é a que torna os
montanhistas geralmente superiores às planícies e quase
sempre destinados a conquistá-las. Certamente é menos
infundado do que aquele que atribui grande
superioridade aos povos do norte, pois, se é
questionável que um clima frio seja mais saudável que
um temperado ou quente, parece certo que os países
elevados são quase sempre mais saudáveis do que os
baixos. , e melhor saúde significa constituição física
mais forte e, portanto, maior energia individual. Mas
nem sempre uma maior energia individual vem
acompanhada de uma organização mais forte da
estrutura social, da qual depende basicamente ser um
povo dominador ou dominado. Agora um organismo
político sólido, que une e dirige os esforços de grandes
massas de homens,

37
nas planícies e não nas montanhas. De fato, vemos no
Oriente que os alpinistas circassianos, curdos e
albaneses atingiram muitas vezes individualmente uma
grande importância, seus bandos, que entraram a serviço
dos impérios vizinhos, muitas vezes se tornaram
influentes e temerosos20, mas a Albânia, a Circassia e o
Curdistão nunca, em tempos históricos, formaram o
núcleo de grandes impérios independentes, pelo
contrário, sempre foram atraídos para a órbita dos
grandes organismos políticos, que tocaram suas
fronteiras. Os suíços também foram de grande
importância como indivíduos e como corpos de
soldados mercenários, mas a Suíça, como nação, nunca
pesou significativamente no equilíbrio político da
Europa.
Na história, então, em geral, vê-se que, se os ousados
bandos de montanhistas muitas vezes devastaram em
vez de conquistar as planícies, mais frequentemente os
exércitos organizados das planícies conseguiram vencer
os esforços desconexos dos alpinistas e os domaram
firmemente. .-você. Foram os romanos que
conquistaram os samnitas, enquanto estes só às vezes
podiam vencer os romanos; e, na Grã-Bretanha, se os
bandos de highlanders escoceses às vezes avistavam e
devastavam o norte da Inglaterra, os lowlanders ingleses
conquistavam com mais frequência e conquistavam a
Escócia montanhosa e acabavam domando seus
humores desenfreados e assimilando-a completamente.
Nem do
20 Era o curdo Saladino, o albanês Mehemet Ali, primeiro
quedive do Egito. Os circassianos eram os famosos beis
mamelucos, que por muitos séculos dominaram o Egito.

38
o resto, pode-se admitir que os povos que vivem nas
planícies devem necessariamente ser destituídos ou
mesmo carentes de energia: basta refletir que os
holandeses, os Te-desks do norte, os russos e os
próprios ingleses são em sua maioria habitantes de um
país muito baixo para entender quão infundada seria tal
opinião.

X. - O método que faz um povo depender da raça a


que pertence não só o grau de progresso civil, que
atingiu genericamente, mas também o tipo de ordem
política que adotou, é muito menos antigo que o
outro. . , quem é o árbitro de tudo faz o clima. Poderia
ter sido de outra forma, porque a antropologia e a
filologia comparada, nas quais se baseia a classificação
científica das raças humanas, são ciências muito
recentes: Broca e Grimm viveram no século XIX,
enquanto uma noção bastante aproximada das
diferenças climáticas foi possível desde o tempo de
Heródoto. No entanto, por mais tardia que fosse, a
tendência etnológica nas ciências sociais era igualmente
intrusiva: e nas últimas décadas do século XIX, com a
diferença e a21.
21 Veja entre outros QUATREFAGES, Histoire generale des races
humaines. Paris, 1889; G.UMPLOWICZ, Der Rassenkampf. Insprück,
1884; euAPOUGE, várias monografias publicadas na "Revue d'An-
thropologie" de 1887 e 1888, além das obras do H.ELWALD, do
DEG.OBINEAU(Essai sur inègalitè des races humaines. Paris,

39
Foi feita uma distinção entre raças superiores e
inferiores, atribuindo à civilização anterior, a
moralidade, a capacidade de formar-se em grandes
aglomerações políticas; Reservo para os outros o
destino duro, mas fatal, de desaparecer das altas raças
ou de ser conquistado e civilizado por elas. No mínimo,
admite-se que eles possam continuar a viver
permanecendo independentes, mas sem jamais alcançar
aquela cultura e aquela ordem social e política perfeita,
que são próprias apenas dos povos de linhagem
privilegiada.
Rènan escreveu que a poesia da alma, fé, liberdade,
honestidade, sacrifício só apareceu no mundo com as
duas grandes raças, que em certo sentido formaram a
humanidade: isto é, a raça ariana.22. Para De Gobineau,
o ponto central da história é sempre onde vive o grupo
branco mais puro, mais inteligente e mais forte. O
Lapouge leva a mesma doutrina às suas consequências
mais extremas; segundo este autor não só a raça
verdadeiramente moral e superior em tudo é a ariana,
mas nesta mesma raça só se destacam os indivíduos que
o tipo ariano mantém puro e incontaminado; aqueles
que são altos, loiros e dolicocéfalos. Mesmo entre os
povos que passam por indo-germânicos esses indivíduos
nada mais seriam do que uma ínfima minoria espalhada
entre uma maioria de baixinhos, pardos e
braquicefálicos. Os verdadeiros arianos, portanto,

1884, ed. Didot), etc.


22 Vida de Jesus, cap. I. Em outras obras o mesmo autor
descreve o semita de forma pouco lisonjeira.
40
bastante numerosos entre os ingleses e norte-
americanos, começariam a escassear na Alemanha, onde
só podiam ser encontrados nas classes altas, seriam
raros na França e nos países do sul da Europa se
tornariam mercadoria quase desconhecida.23.
Ao lado desta escola, que sustenta a superioridade
inata e fatal de algumas raças humanas, existe outra que,
sem estar em absoluto contraste com ela, está mais
diretamente ligada aos teóricos de Darwin, cujas
aplicações as ciências sociais na segunda metade do
século passado foram muito difundidos. Spencer é o
escritor mais famoso desta segunda escola, cujos
seguidores são muito numerosos: eles, sem sustentar a
inevitável e contínua superioridade de uma raça sobre as
outras, acreditam que todo progresso social aconteceu e
aconteceu. e evolução superorgânica. Segundo essa
escola, dentro de toda sociedade haveria uma luta
contínua, aquela pela existência; para os quais os
indivíduos mais fortes, melhores e mais adequados
23 Ver artigos citados na “Revue d'Anthropologie”. Eles.URSOS,
em artigo publicado na “Ilustração Popular” de 1887 (Biondi e
Bruni) faz sua a tese de Lapouge, defendendo a superioridade das
loiras sobre as morenas; porque as nações mais civilizadas são
aquelas onde as loiras prevalecem mais e na mesma nação a
região ou província onde as loiras são mais numerosas é cada vez
mais civilizada. Admitindo-se que o fato é verdadeiro, deve-se
provar também que no passado os mulatos nunca foram mais
civilizados e fortes do que os louros, pois, neste caso, a atual
superioridade das nações e províncias onde o cabelo louro é mais
comum poderia ser por outras causas.

41
meio ambiente, sobreviveriam aos mais fracos e menos
aptos e proliferariam em preferência aos últimos,
comunicando aos filhos como inatas aquelas qualidades
pelas quais haviam conquistado e que para eles foram
adquiridas através de uma educação lenta. A mesma luta
ocorreria entre as próprias sociedades, pelas quais
aquelas mais solidamente constituídas, ou compostas
por indivíduos mais fortes, venceriam as outras menos
vantajosamente dotadas, que, caçadas nos locais menos
propícios ao desenvolvimento humano, estariam
condenadas a permanecer em um estado de
inferioridade perene.
Não é difícil encontrar uma diferença substancial
entre as duas doutrinas mencionadas, porque, mesmo
admitindo a teoria monogenista, ou seja, que todas as
raças humanas derivam de um único tronco, é certo que
seus caracteres diferenciais são muito antigos, e eles
tiveram que ser fixados em tempos muito remotos,
quando o homem não havia passado da fase da vida
selvagem e, portanto, estava mais apto a sentir a
influência dos agentes naturais com os quais estava em
contato.24. Portanto, segundo a teoria estritamente
etnológica, desde o início da época histórica as raças
elevadas já teriam essas características de superioridade,
que ainda conservam quase inalteradas; enquanto a
teoria prova
24 É certo que, desde uma época pré-histórica bastante remota,
a raça indígena americana tinha aquelas características físicas que
ainda a distinguem; em baixos-relevos egípcios muito antigos
(cerca de vinte séculos antes da Era Comum), as figuras dos
negros, os semitas, os egípcios indígenas têm aquelas
características físicas que ainda distinguem essas raças.
42
na verdade, o chamado evolucionista, implícita ou
explicitamente, admite que a luta pela existência teve
seus efeitos práticos mais recentemente e atribui a ela a
decadência ou prosperidade das várias nações e
civilizações durante o período histórico.

XI - Antes de falar da superioridade ou inferioridade


das várias raças humanas, é necessário determinar o
valor da palavra raça, à qual se atribui um significado
ora muito amplo, ora muito limitado. As raças branca,
amarela e preta são ditas, indicando variedades da
espécie humana que se distinguem não só pela
linguagem, mas também por diferenças anatômicas
bastante importantes e palpáveis, e as raças ariana e
semítica também indicam duas subdivisões. a raça
branca, distinta, é verdade, da linguagem, mas cuja
semelhança física é muito notável. As raças latina,
germânica, eslava também são ditas, sempre denotando
com a mesma palavra três subdivisões do ramo ariano
da raça branca; que, embora falem línguas diferentes,
contudo, está demonstrado que estão filologicamente
ligados por uma origem comum e cujas diferenças
físicas são mínimas, tanto que pode acontecer que um
indivíduo de um seja julgado como pertencente a outro.
Ora, a confusão das palavras conduz, neste caso, como
sempre, à das ideias: a diferença de raça vale tanto para
explicar certas diferenças, que
vi estão na civilização e na ordem política de brancos e
negros, tanto quanto para justificar aquelas entre latinos,
alemães e eslavos; enquanto, no primeiro caso, ele
realmente pode
43
o coeficiente etnológico tem muita importância e no
segundo, tem um mínimo.
Deve-se também ter em mente que, nos períodos
históricos e pré-históricos, eram frequentes os
cruzamentos e misturas, especialmente entre povos de
raças muito semelhantes. Neste último caso, como as
diferenças físicas entre as raças que se cruzaram não são
muito importantes e sobretudo não facilmente
perceptíveis, ao fazer as classificações mais do que os
caracteres anatômicos, deu-se importância às afinidades
filológicas. Mas este critério está longe de ser seguro e
infalível. Muitas vezes pode acontecer e acontece que
dois povos intimamente relacionados pelo sangue falam
línguas, que filologicamente têm relações distantes,
enquanto povos de raças diferentes podem fazer uso de
línguas e dialetos, cujas raízes e estrutura gramatical são
muito semelhantes. Por mais improvável que pareça à
primeira vista, no entanto, há muitos exemplos e
circunstâncias históricas que explicam e provam isso;
geralmente os povos conquistados, se são menos
civilizados que os conquistadores, adotam as leis, as
artes, a cultura, a religião e muitas vezes acabam
adotando a língua25.

25 Os gregos e os romanos puderam expandir


maravilhosamente sua língua e sua civilização, tornando-os
adotados pelos povos barbados. Na França, o substrato da
população ainda é Celto-Kimric, enquanto o francês é uma língua
essencialmente neolatina. Mesmo na Espanha é muito provável
que no norte da península prevaleça o sangue basco, enquanto no
sul a mistura de sangue árabe-berbere deve ser muito forte. Na
própria Itália existem certas diferenças étnicas muito sensíveis
entre os italianos do norte e aqueles
44
Dito isto, parece-nos um fato estabelecido que as
raças mais pobres, aquelas que os antropólogos chamam
de mais baixas, os fueguinos, os australianos, os
boschimanes, etc., são física e até intelectualmente
inferiores às demais. Que essa inferioridade seja inata,
que sempre existiu, ou que deva ser atribuída à
desolação dos bairros que esses povos habitam, à
escassez de recursos que oferecem e à extrema miséria
que daí resulta, é uma questão que não é fácil nem
essencial para nós resolvermos. Depois de todas essas
raças
do sul e das ilhas, embora os vários dialetos sejam todos
essencialmente neo-latinos. Saindo da influência da língua latina
constatamos que os fellah, descendentes dos antigos egípcios,
esqueceram a antiquíssima língua de mizraim e adotaram o árabe,
língua que também se generalizou no Iraque-árabe, na Síria e é
cada vez mais tornando-se a língua falada pelos berberes da
África. Na Índia, os dialetos originários do sânscrito são falados
por populações cuja cor da pele e feições mostram uma mistura
muito forte, e talvez também a prevalência, de sangue dravidiano.
Na Silésia, Brandemburgo, Pomerânia e na antiga Prússia, o
alemão é falado por populações de origem parcialmente eslava ou
litorânea. Finalmente nos dias atuais os celtas de
Essas considerações são óbvias; no entanto, as classificações
etnográficas continuam a ser feitas, especialmente as dos povos
europeus, baseando-se apenas em critérios filológicos. Na
verdade, a favor desse sistema, pode-se argumentar que a
semelhança das línguas, ao ocasionar uma maior troca de idéias e
sentimentos entre certos povos, contribui para dar-lhes uma
semelhança intelectual e moral muito mais forte do que a das
línguas, o que geralmente é atribuída à consanguinidade.

45
eles formam apenas uma fração muito pequena da
humanidade, uma fração que está diminuindo
rapidamente junto com a expansão da raça branca, atrás
da qual a raça amarela também vai em muitos lugares.
Para o espírito de justiça deve-se reconhecer que a
prosperidade dessas duas raças, naquelas mesmas terras
onde os aborígenes só podiam lutar para sobreviver, não
se deve apenas à superioridade orgânica que ostentam.
Já que os novos habitantes trazem consigo
conhecimentos e meios materiais, bens que extraem
desses torrões de subsistência abundantes, que
espontaneamente não teriam dado quase nada. O in-
digene australiano se contentou por séculos e séculos
em perseguir cangures, matar pássaros com o bomerang
ou, na pior das hipóteses, comer lagartos;
Muito mais difícil é a sentença sobre a inferioridade
da raça aborígene americana e da raça negra. Desde
tempos imemoriais eles estiveram na posse de distritos
vastos, nos quais poderosas civilizações poderiam ter se
desenvolvido. Na América, de fato, no México, no Peru,
em algum outro lugar havia ou existiram impérios
poderosos, dos quais, porém, não podemos determinar
com exatidão o grau de cultura, porque erraram ao
desmoronar diante do impacto de alguns cem adventu -
cortesãos espanhóis. Na África às vezes a raça negra é

46
politicamente organizado em vastos impérios, como era,
por exemplo. a de Uganda, mas ninguém atingiu
espontaneamente um grau de cultura que seja
comparável aos estados mais antigos fundados pela raça
branca ou amarela, aos impérios chinês, babilônico ou
egípcio antigo, em que a raça civilizadora não era a
Preto. Parece, portanto, que tanto para os indígenas
americanos quanto para os negros uma certa
inferioridade pode até ser estabelecida à primeira vista.
Mas quando as coisas vão para um lado, nem sempre
é legítimo afirmar que elas necessariamente e
inevitavelmente tiveram que seguir esse caminho. É
duvidoso que o homem tenha vivido durante o período
terciário, mas é um fato cientificamente comprovado
que sua antiguidade remonta ao início do período
quaternário e que, portanto, deve ser calculado não para
milhares de anos, mas para centenas e talvez - Milhares
de séculos. Ora, as raças, como já mencionamos,
tiveram que ser formadas em épocas muito remotas e,
sendo uma questão de períodos tão longos, sendo uma
raça que atingiu, trinta, quarenta, até cinqüenta séculos
antes, uma considerável perfeição de cultura , não é uma
prova infalível de superioridade orgânica. Das
circunstâncias externas, muitas vezes também fortuitas,
a descoberta e utilização de um metal, que é mais ou
menos fácil de acordo com os vários países, a se há ou
não uma planta ou animal abdominal-estável de fácil
acesso. eles podem acelerar ou retardar o
desenvolvimento de uma civilização, ou mudar suas
vicissitudes. É inegável que se os indígenas americanos
tivessem conhecido o uso de
47
ferro26, ou se os europeus tivessem descoberto a pólvora
dois séculos depois, não teriam destruído tão rápida e
completamente suas organizações políticas. Também
não devemos esquecer que quando uma raça atingiu
uma civilização madura encontra-se em contato com
outra em estado bárbaro, se por um lado lhe fornece
uma quantidade de ferramentas e conhecimentos úteis,
por outro os perturba profundamente, quando não
interrompe completamente seu desenvolvimento
espontâneo e original.
De fato, os brancos não apenas destruíram ou
escravizaram os indígenas americanos em quase todos
os lugares, mas durante séculos também brutalizaram e
empobreceram a raça negra com álcool e tráfico; de
modo que deve ser acordado que até agora a civilização
européia não só se opôs, mas quase impediu, todos os
esforços que Negri e Pelli Rosse poderiam ter feito
espontaneamente para progredir.
Reprovam-se vários ramos da raça indígena
americana, que se estende também aos polineses, bem
como aos australianos e outras raças humanas dos mais
pobres, por não conseguirem manter contato com o
homem branco e por desaparecerem rapidamente diante
do avanço disso. A verdade é que os brancos tiram os
meios de subsistência das raças de cor antes que possam
se acostumar a fazer uso dos novos meios de
sustentação da vida, que são introduzidos pelos próprios
brancos. Normalmente os campos de caça das tribos
selvagens são invadidos e os grandes

26 A hipótese nada tem de impossível porque eles conheciam


outros metais, como ouro e cobre.
48
a caça é destruída antes que os nativos possam se
adaptar à agricultura. Além disso, as raças civilizadas
comunicam suas doenças aos menos civilizados, sem
que estes possam ordinariamente valer-se dos métodos
preventivos e curativos que o progresso científico e uma
longa experiência lhes ensinaram. A constipação, a
sífilis e a varíola provavelmente causariam entre nós o
mesmo massacre que fazem entre algumas tribos
selvagens, se preveníssemos e curássemos essas
doenças com os únicos meios que estão ao alcance dos
selvagens, que consiste em não ter nenhum.
Os Peles Vermelhas e os Negros são geralmente
inferiores aos Brancos como indivíduos? Embora a
maioria responda imediata e energicamente sim, alguns
dizem não com igual prontidão e resolução; parece-nos
difícil captá-lo com certeza, como negá-lo.
Quem se lembra da história da primeira colonização
da Virgínia deve concordar que a filha de Powattan, a
Sachem que governava aquelas terras com a chegada
dos brancos, a bondosa e afetuosa Pocahonta, tinha dons
de mente e coração não inferiores aos de quase qualquer
garota européia de seu tempo. Stanley, que os negros
devem ter conhecido bem, nunca se pronunciou sobre a
absoluta inferioridade da raça africana, pelo contrário
cita vários exemplos de negros inteligentes e não sem
qualidades morais, especialmente entre aqueles que
foram educados entre os povos civilizados: mesmo entre
aqueles absolutamente bárbaros encontram certas
qualidades desenvolvidas, que foram preferencialmente
cultivadas; para
49
por exemplo, ele diz que no Congo até uma criança é
superior ao mais astuto casamenteiro europeu na
capacidade de fazer valer seus bens, em saber vender
caro e comprar barato27Os indígenas americanos, onde
se misturaram com os brancos e abraçaram sua
civilização, não deixaram de dar a alguns homens
notáveis, como Garcilasso della Vega e Benito Juarez 28.
O Ne-gri em condições idênticas pode ostentar
Toussaint Louverture, o erudito teólogo e humanista
Morton, o Fir-min29e vários outros. No entanto,
devemos confessar que, em ambas as raças, a nota de
individualidades coespecíficas é muito escassa em
comparação com a quantidade de indivíduos que
tiveram e podem usufruir das vantagens oferecidas pela
vida civilizada. Mas a observação que um erudito bispo
negro fez a George tem algum peso 30: que as crianças
negras nas escolas lucram tanto quanto as brancas e são
igualmente despertas e inteligentes até os dez ou doze
anos, mas assim que começam a entender que
pertencem a uma raça considerada inferior, e que não
têm outro destino é reservado do que o de ser
cozinheiros e carregadores,

27 Veja Cinq-annes au Congo. Tradutor Gerad Harry. Paris.


1885. Editora Dreyfus.
28 Porfirio Diaz, ex-presidente da república mexicana, que
conseguiu garantir ao seu país um longo e incomum período de
tranquilidade, era mestiço.
29 Autor do livro l'Égalité des races humaines. Paris, 1885.
- Citado por COLAJANNI, Sociologia Criminal, vol. II, pág. 227.
30 Progresso e pobreza,Código postal. durar. Londres. 1883.

50
não do estudo e cair em apatia. De fato, não se pode
negar que em grande parte da América os homens de
cor são geralmente considerados seres inferiores, que
necessariamente devem estar vinculados às últimas
camadas sociais; ora, se nossas classes deserdadas
trazem em sua aparência a marca indelével de sua
inferioridade social, é certo que entre elas muito poucos
seriam os indivíduos que teriam energia para ascender a
uma condição social muito superior à de seu
nascimento.
Em todo caso, se é legítimo levantar alguma dúvida
sobre a atitude dos negros e indígenas americanos em
relação a uma civilização e ordem política superiores,
qualquer perplexidade desaparece em relação não
apenas aos arianos e semitas, mas a toda a chamada raça
mongol ou amarela e também àquela raça parda, que na
Índia vive agora misturada com a raça ariana e no sul da
China, na Indochina, talvez também no Japão tenha se
fundido com a amarela31. O complexo dessas raças
certamente forma mais de três quartos e talvez quatro
quintos de toda a humanidade.
Os chineses foram capazes de fundar uma civilização
muito original, que durou maravilhosamente e ainda
mais maravilhosamente soube se expandir. A filha em
grande parte da civilização chinesa é a do Japão e essa

31 Não estamos falando da raça polinésia, que talvez tenha


atitudes superiores, mas, sendo escassa em número e espalhada
por quase todas as pequenas ilhas, não foi capaz de criar nenhuma
grande civilização.

51
da Indochina, e parece que o povo Somiri e Akkad, que
fundou a mais antiga civilização babilônica, pertencia à
raça turânica. A raça parda parece ter sido a autora da
muito antiga civilização Elam ou Susian, e uma
civilização indígena parece ter existido na Índia antes da
chegada dos arianos. O Egito deve sua civilização a uma
raça chamada sub-semita ou berbere, e Nínive, Sidon,
Jerusalém, Damasco, talvez também Sardes, pertenciam
aos semitas. Parece supérfluo mencionar a civilização
mais recente dos árabes maometanos.

XII - Sem admitir a absoluta superioridade ou


inferioridade de qualquer raça humana, muitos
acreditam que cada uma delas possui qualidades
intelectuais e morais especiais em necessária
correspondência com certos tipos de organização social
e política, daí seu espírito, ou melhor ainda, o que se diz
a gênio da raça não permite que ela desapareça.
Agora dada a devida parte aos exageros, que são
facilmente admitidos sobre este assunto, sempre tendo
em conta a grande formação humana, que se encontra
em todos os povos e em todos os tempos, é inegável que
não dizemos todas as raças, mas todas as nações , cada
região, cada cidade tem um certo tipo especial, nem em
todos os lugares igualmente determinado e preciso, que
consiste em um complexo de ideias, crenças, opiniões,
sentimentos, costumes e preconceitos, que representam
para cada

52
grupo da humanidade, ou seja, que os traços faciais são
para cada indivíduo.
Mas essa diversidade de tipo seria certamente
consequência das diferenças físicas, da variedade da
raça, do sangue diferente que corre nas veias de cada
nação, se não encontrasse sua explicação em outro fato,
que é um dos o mais seguro e constante, que podem ser
verificados pela observação da natureza humana.
Tendemos a aludir à mímica, àquela grande força
psicológica pela qual cada indivíduo costuma adquirir
as ideias, crenças e sentimentos, que são mais comuns
no ambiente em que cresceu. Com raras e quase nunca
completas exceções, pensa-se, julga-se, acredita-se,
como pensa, julga e acredita a sociedade em que
vivemos; das coisas que observamos desse lado, que
geralmente é mais notado pelas pessoas ao nosso redor,
e desenvolvemos no
De fato, a unidade de um tipo moral e intelectual
encontra-se muito forte em uma coletividade de pessoas,
entre as quais não há comunidade especial de sangue e
raça. Por exemplo, o clero católico, que, disperso por
toda a parte, mantém sempre uma singular uniformidade
nas suas crenças, nos seus hábitos intelectuais e morais
e também nos seus costumes.
O fenômeno é observado de forma mais acentuada
nas diversas ordens religiosas; a maravilhosa
semelhança de um

53
Jesuíta italiano, com um jesuíta francês, alemão ou
inglês. Muita semelhança é encontrada também no tipo
militar comum a quase todos os grandes exércitos
europeus; e um tipo intelectual e moral bastante
constante também pode existir mesmo nos regimentos
individuais da milícia, nas escolas militares e mesmo
nos colégios leigos, onde quer que um ambiente
particular tenha sido capaz ou conhecido por constituir
uma espécie de forma psicológica, que molda à sua
maneira todos os indivíduos que nela são lançados.
Não investiguemos agora como os grandes círculos
nacionais, e melhor ainda, aquelas grandes correntes
psicológicas, que às vezes abrangem toda uma
civilização ou os seguidores de uma religião, se
formaram, viveram e muitas vezes até desapareceram do
cenário mundial. Iniciar este estudo equivaleria a
relembrar a história de toda a parte civil da humanidade:
podemos afirmar com segurança que as circunstâncias
históricas especiais de cada um dos grandes grupos da
humanidade formaram principalmente os ambientes
especiais, aos quais mencionamos, e novas
circunstâncias históricas esses ambientes lentamente
modificam ou até mesmo destroem. A parte que a
consanguinidade, a raça, tem na formação dos diversos
ambientes morais e intelectuais pode, pelo menos em
alguns casos, ser pequena e difícil de apreciar, mesmo
quando o coeficiente étnico parece à primeira vista
preponderante. Assim citamos o exemplo dos judeus,
que, dispersos entre outros povos, há séculos e séculos

54
seu tipo nacional é lindamente preservado. Mas deve-se
ter em mente que os descendentes de Israel sempre
viveram moralmente separados das populações entre as
quais viveram e, portanto, sempre estiveram em um
ambiente especial.32.
De fato, os descendentes de famílias judias
convertidas ao cristianismo ou ao islamismo raramente
retêm a longo prazo, ou seja, por muitas gerações, os
caracteres de seus ancestrais, e o mesmo judeu não
convertido retém melhor seu tipo especial onde vive
mais isolado. . Um judeu da Pequena Rússia ou
Constantinopla é muito mais judeu do que um colega
religioso nascido e criado na Itália ou na França, países
onde os guetos não passam de uma memória. Os
chineses transportados para a América também
aprendem muitos aspectos da civilização branca,
embora moralmente não transformem seu tipo; mas eles
na Califórnia e em outros lugares sempre vivem entre si
em um ambiente chinês. Na Turquia europeia e asiática,
turcos, gregos, armênios, judeus e francos vivem juntos
nas mesmas cidades e não se fundem, nem mudam as
raças, porque eles, embora materialmente em contato,
eles estão moralmente divididos e cada um tem seu
próprio ambiente especial. E pôde-se até observar que a
maior tenacidade com que se preserva o tipo nacional
inglês, entre os de outras nações europeias, é
consequência da falta de sociabilidade.
32 Veja L.EROY-BEAULIEUPARAOTANLE, Les juifs et
l'antisemitisme. Na "Revue des Deux Mondes" de 1891, 92 e 93.
Segundo este autor, o judeu moderno é produto do isolamento em
que foi mantido durante tantos séculos pela Thora, pelo Talmude
e pelo Gueto.
55
que os ingleses, estabelecidos em país estrangeiro, têm
em relação aos nativos, o que os obriga a permanecerem
entre si em um embrião de ambiente britânico33.
O chamado gênio das raças não é, portanto, algo tão
fatal e necessário como alguns gostam de imaginar.
Mesmo supondo que as várias raças superiores, isto é,
capazes de criar sua própria e original civilização, sejam
organicamente diferentes umas das outras, não é a soma
de suas diferenças orgânicas que determinam exclusiva
ou mesmo principalmente a diversidade. que adotaram,
mas sim a diversidade de contatos sociais e
circunstâncias históricas, às quais não apenas todas as
raças, mas todas as nações e todos os organismos sociais
estão destinados a se submeter.

33 Poderíamos citar muitos casos em que a afinidade étnica


entre dois povos constitui um vínculo quase imperceptível em
comparação com aqueles que resultam da semelhança de religião,
ou da comunalidade da história e da civilização. Os estudiosos
descobriram que um Magiaro está mais próximo de um chinês do
que de um turco do que de um francês ou alemão, mas quem pode
afirmar que moral e intelectualmente ele está mais próximo do
primeiro do que do segundo? Os arianos maometanos da Pérsia e
do Hindustão certamente têm mais afinidade moral com os árabes
e turcos do que com seus pares europeus, e os judeus
estabelecidos há muito tempo na Europa Ocidental certamente se
sentem moralmente mais próximos dos povos entre os quais
vivem, em vez de seus árabes. parentes, que abraçaram a
civilização oriental.

56
XIII. - A questão da raça estaria esgotada aqui se
fosse aceito por todos que as mudanças orgânicas e
psíquicas, pelas quais uma raça humana pode ser
modificada mesmo durante um longo período histórico,
por exemplo vinte ou trinta séculos, não são muito
apreciáveis e quase insignificante. Mas, longe de ser
uma crença tão amplamente aceita, agora prevalece uma
escola, baseada em diferentes postulados; pois, ao
aplicar as doutrinas de Darwin sobre a evolução das
espécies às ciências sociais, ele admite que todo grupo
humano pode, no decorrer de alguns séculos, atingir um
notável aperfeiçoamento orgânico, do qual dá origem a
um aperfeiçoamento político e social.
Agora, sem discutir ou negar as doutrinas de Darwin
sobre a transformação em espécie, e também admitir a
descendência do homem de um hipotético antropopítico,
uma coisa parece certa, indiscutível e perceptível à
primeira vista: que a famosa luta pela existência e a
seleção natural, que é uma conseqüência dele, como foi
descrito em plantas, animais e homens selvagens, não
existe nas sociedades humanas que chegaram a um
estágio muito medíocre de civilização. Ter desejado
encontrá-lo é um efeito natural da extraordinária fortuna
que a hipótese darwinista teve nas ciências naturais,
fortuna que deve ter tentado fortemente os espíritos
sistemáticos a estender sua aplicação. Este é também o
efeito de um mal-entendido, da confusão de dois fatos,
que, substancialmente diferentes,

57
quanta confusão é fácil explicar que ocorreu nas mentes
fortemente preconceituosas em favor do sistema
evolucionista. Para explicar em poucas palavras, a luta
pela existência foi trocada pela preeminência, o que é
realmente um fato constante, que ocorre em todas as
sociedades humanas, desde as mais civilizadas até as
que acabaram de sair do estado.
De fato, na luta entre as várias sociedades humanas, o
vencedor ordinariamente, aliás quase sempre, não
destrói o derrotado, mas o subjuga, assimila, impõe seu
próprio tipo de civilização. Hoje na Europa e na
América a guerra não tem outro resultado senão a
hegemonia política da nação, que é militarmente
superior, ou a anexação de alguma província; mas
também nos tempos antigos, quando a Grécia lutava
com a Pérsia e Roma com Cartago, o organismo político
às vezes era destruído, a existência nacional dos
vencidos, mas individualmente, mesmo na pior
hipótese, estes eram preferencialmente reduzidos à
servidão em vez de serem postos à a espada. Casos
como os de Sagunto e Numância, da captura de Tiro por
Alexandre o Grande e de Cartagine sempre foram
absolutamente excepcionais. Os assírios no antigo
Oriente, os mongóis na Idade Média foram os povos que
mais frequentemente praticaram o uso horrendo do
extermínio sistemático dos vencidos, mas eles também o
usaram como meio de alcançar a submissão de outros
pelo terror. , em vez de um fim; e na verdade não se
pode dizer que uma única população

58
foi de seus horríveis massacres que foram
materialmente destruídos34.
Se pensarmos então no trabalho interior que se realiza
no seio de cada sociedade, vemos imediatamente que
nela o caráter de luta pela preeminência e não pela
existência é ainda mais marcado. A competição entre os
indivíduos de cada núcleo social é alcançar altos
lugares, riquezas, comandar, conquistar os meios, que
dão a faculdade de dirigir muitas atividades e muitas
vontades humanas à vontade. Os vencidos, que são
naturalmente a maioria nesta luta, já não são, como seria
o caráter substancial da luta pela vida, nem devorados,
nem destruídos, nem quase impedidos de se reproduzir;
eles apenas desfrutam de menos satisfações materiais e,
acima de tudo, têm menos liberdade e independência.
Ao contrário, pode-se dizer que, em geral, nas
sociedades educadas, as classes mais baixas, por muito
tempo
34 Falando de populações totalmente destruídas pelos
vencedores, citamos o caso dos tasmanianos, australianos e peles-
vermelhas. Mas, na verdade, essas tribos selvagens, muito poucas
em número ou espalhadas por imensos territórios, pereceram e
perecem principalmente porque a cultura e a civilização invasora
reduzem a grande caça, que constituía seu principal meio de
subsistência. Em alguns locais, em que os peles-vermelhas
conseguiram se adaptar a uma agricultura grosseira, eles
escaparam da destruição. No México e no Peru, onde os
indígenas eram numerosos porque chegaram à fase agrícola,
apesar dos massacres dos conquistadores espanhóis, eles sempre
constituem a grande maioria da população. Mesmo na Argélia, a
conquista atrofiada e sangrenta, que os franceses fizeram,

59
já de serem lentamente eliminados pela chamada
seleção natural, são mais prolíficos que os superiores, e
é certo que, mesmo nessas classes, todos os indivíduos
acabam quase sempre por ter um pão e uma mulher;
embora o primeiro possa ser mais ou menos preto e
atarracado, o segundo mais ou menos gracioso e
desejável.
A poligamia das classes altas é o único argumento
que poderia ser citado em favor do princípio da seleção
natural aplicado às sociedades bárbaras e civilizadas.
Mas mesmo este argumento é muito fraco, porque a
poligamia humana nem sempre corresponde a uma
maior fecundidade e porque as sociedades humanas que
alcançaram menor progresso social são
preferencialmente polígamas; de modo que a seleção
natural teria se mostrado mais impotente onde tinha os
maiores meios de ação.

XIV. - Perante estas observações, que equivalem


quase a uma questão preliminar, chegando a outra
ordem de ideias, é fácil notar que, se o progresso de
uma raça e de uma nação dependia principalmente do
aperfeiçoamento orgânico dos indivíduos que a ela
pertencem , os acontecimentos do mundo devem
apresentar uma trama bem diferente daquela que
conhecemos. O progresso moral, intelectual e, portanto,
social de cada povo deve ser mais lento, porém mais
contínuo. A lei da seleção natural combinada com a da
herança deve fazer com que cada geração dê um passo,
mas apenas um passo à frente daquela que a deu.
60
vendido; e não deveria acontecer, o que vemos muitas
vezes na história, que um povo em duas ou três gerações
sozinho dê muitos passos à frente e, às vezes, muitos
retrocessos.
Esses casos de progresso rápido e decadência
vertiginosa são tão comuns que dificilmente valeria a
pena mencioná-los. De Pisístrato a Sócrates se passaram
apenas cento e vinte anos, mas durante eles a arte, o
pensamento e a civilização helênica fizeram um
progresso tão imensurável que transformaram um povo
de civilização medíocre, por mais antiga que seja,
naquela Grécia, que na história do progresso humano
ele escreveu as páginas mais esplêndidas, profundas e
indeléveis. Não citamos o exemplo de Roma porque,
para dizer a verdade, a influência helênica desempenhou
um papel muito importante em sua rápida passagem da
barbárie à civilização; mas a Itália do Renascimento é
cronologicamente apenas cerca de um século da Itália
de Dante, mas neste espaço de tempo, o ideal artístico,
Observemos por um momento a França de 1650 e a
de 1750. Na primeira ainda vive quem se lembra da
noite de São Bartolomeu; as guerras religiosas, a liga
sagrada, dois reis que consecutivamente caem na faca
dos fanáticos são fatos que ainda não adquiriram o
mistério da antiguidade, dos quais não devem ser raros
os testemunhos oculares; na tomada de Roccella, o
último episódio do período histórico que mencionamos,

61
puderam ajudar todos aqueles que acabaram de passar
pela primeira juventude; quase ninguém se atreve a
expressar suas dúvidas sobre a existência de duendes e
bruxas, e trinta e sete anos se passaram desde o dia em
que, como bruxa, a esposa do marechal d'Ancre foi
queimada. Um século depois, Montesquieu já é velho,
Voltaire e Rousseau são adultos, a Enciclopédia, se não
publicada, já está amadurecida no mundo intelectual, a
revolução dos oitenta e nove em ideias, crenças,
costumes pode-se dizer quase consumada. E, sem
procurar outros exemplos distantes, vejamos os países
mais conhecidos da atual Europa, Inglaterra, Alemanha,
Itália, Espanha. Certamente a revolução intelectual e
moral, ocorrida no século passado nessas nações,35.
Por outro lado, mesmo exemplos de rápida
decadência de nações e civilizações inteiras não são
raros. Tentamos explicá-los atribuindo-os às invasões e
destruições do

35 Em algumas regiões que por razões particulares ficaram


para trás do movimento geral da Europa, a transformação que
mencionamos foi mais rápida e, sobretudo, mais profunda. Quem
conhece superficialmente a história da Escócia e da Sicília poderá
fazer uma rápida comparação entre o status social do primeiro
desses países em 1745 e o que havia alcançado em 1845, e entre
as condições sociais da Sicília em 1812 e hoje . A rápida
civilização dos montanhistas escoceses também foi observada por
Colajanni, na obra supracitada, e por outros autores.

62
bárbaros, mas esquecemos que, para um país civilizado
tornar-se presa dos bárbaros, deve ter caído em um
estado de grande esgotamento e grande desorganização,
que são conseqüência da dissolução moral e política;
pois, no caso contrário, uma civilização maior
pressupõe sempre uma população maior e cognições e
meios de ataque e defesa mais poderosos e eficazes. A
China foi conquistada duas vezes pelos mongóis ou
tártaros e a Índia várias vezes pelos turcos, tártaros,
afegãos, mas as civilizações chinesa e indiana na época
das invasões já haviam entrado em períodos de declínio.
E esse declínio espontâneo dos povos civilizados
pode, em alguns casos, ser verificado quase
matematicamente. Todos os orientalistas sabem que a
mais antiga de todas as antigas civilizações egípcias,
aquela que canalizou o Nilo, inventou a escrita
hieroglífica, construiu as grandes pirâmides,
desapareceu espontaneamente e desapareceu sem saber
até agora as razões. Houve guerras civis, isso é tudo o
que se sabe, e depois a escuridão e a bar-barie, das
quais, depois de mais de quatro séculos, surge
espontaneamente uma nova civilização.36.
36 euIMENSOescreve (Histoire ancienne de l'Orient, vol. II, cap.
II, Paris, 1881) que "até a data dos problemas e guerras civis em
que Nitocri (Nit-aqrit) pereceu um eclipse repentino e até então
inexplicável da civilização egípcia. do final da VI dinastia ao
início da XI Manetho conta 436 anos, durante os quais os
monumentos são absolutamente silenciosos. O Egito parece então
ter desaparecido do número de nações e quando a civilização

63
A Babilônia, que por muitos e muitos séculos foi um
foco de civilização, não foi destruída por seus
conquistadores, nem por Ciro, nem por Dario, nem por
Alexandre, decaiu e desapareceu do cenário mundial por
consumo lento, por decadência espontânea. Diz-se que o
império romano ocidental foi destruído pelos bárbaros,
mas quem conhece mal a história sabe que os bárbaros
só mataram um cadáver, sabe quão grande foi a
decadência na arte, na literatura, na riqueza, na
administração, em todos os ramos da civilização romana
de Marco Aurélio a Diocleciano; época em que os
bárbaros não faziam nada além de fluir temporariamente
algumas províncias, mas não se estabeleceram em
nenhuma parte do império, nem tiveram a oportunidade
de causar danos duradouros37. Sem ser perturbada por
nenhuma invasão ou elemento estrangeiro, a Espanha da
segunda metade do século XVII não era mais do que a
sombra daquele país que, um século antes, era a
Espanha de

reaparece, parece que está recomeçando seu curso sem a tradição


do passado".
LÁ. para dizer a verdade não exclui que durante este período
não tenham ocorrido invasões estrangeiras, mas, além de que não
há vestígios delas nos monumentos e nas inscrições, é certo em
todo o caso que tiveram que seguir não preceder o decadência da
primeira civilização egípcia.
37 A grande invasão dos godos que ocorreu sob o imperador
Décio e que foi rejeitada por Cláudio II talvez seja uma exceção.
Mas desolou as províncias orientais do império, países onde a
civilização greco-romana duraria séculos muito longos.

64
Carlos V e que meio século antes teve Cervan-tes,
López de Vega e Quevedo38.
Todos esses fatos podem ser muito mal explicados,
ou melhor, não podem ser explicados com a teoria da
evolução orgânica e superorgânica e da seleção natural.
Segundo ela, um povo mais civilizado deveria ser mais
expurgado e aprimorado da luta pela existência, e por
causa da herança deveria ter adquirido uma vantagem
sobre os outros, o que, na corrida das nações através dos
séculos, não fica claro por quê. então deve perder. Pelo
contrário, vemos uma nação, um grupo de povos, ora
avançando com ímpeto irresistível, ora em colapso e
miseravelmente atrasados. Pode-se notar um movimento
de progresso que, apesar das interrupções e lacunas,
empurra a humanidade cada vez mais longe, e a
civilização atual da raça ariana é de fato superior a todas
as anteriores,

38 Este declínio muito rápido da Península Ibérica é atribuído


à expulsão dos mouros, que ocorreu principalmente em 1609 sob
Filipe III. Mas a expulsão dos mouros só poderia prejudicar
algumas províncias, isto é, partes de Valência e Andaluzia, que
eram então as que menos sofriam com o esgotamento geral da
Espanha. Portugal e Itália, que caíram ao mesmo tempo para a
Espanha, embora de forma menos sensível, certamente não
sofreram com a expulsão dos mouros.

65
conhecimento positivode todas as civilizações que a
precederam.
É claro que os alemães de Tácito não teriam chegado
em dezoito séculos para formar centros culturais como
Londres, Berlim, Nova York se tivessem que inventar a
escrita alfabética, os primeiros elementos da matemática
e todo aquele imenso tesouro do conhecimento. contato
com gregos e romanos. Nem a civilização helênica nem
a civilização romana teriam progredido tanto sem as
infiltrações das antigas civilizações orientais, às quais
deviam a noção do alfabeto e os primeiros rudimentos
das ciências exatas. Portanto, mais do que pelo caminho
da herança orgânica, a civilização humana progride pelo
caminho da herança científica; eles podem permanecer
estacionários, ou mesmo tornar-se bárbaros,39.
39 Recordamos, por exemplo, que os anglo-saxões modernos
não descendem já dos romanos e dos gregos, nem dos semitas da
Síria, entre os quais nasceu aquela religião que tão fortemente
fixou sua marca nos povos da Grã-Bretanha e suas colônias, não
dos árabes a quem devemos tanto do conhecimento físico e
matemático que os britânicos e os americanos modernos
aplicaram e fertilizaram tão maravilhosamente. Eles são
herdeiros, não do sangue, mas das elaborações científicas e
psicológicas dos povos Summentovati. Às vezes, um povo pode
valer-se do trabalho intelectual e moral de seus ancestrais,
ascendendo à civilização, que, depois de civilizada, recaiu na
barbárie.

66
Para dizer a verdade, os evolucionistas também
reconhecem o fato de que, antes da raça ariana e
especialmente do ramo germânico dela, outras raças
chegaram à civilização; mas deve-se acrescentar que
essas raças decaíram ou permaneceram estacionárias
porque envelheceram, ou, em outros termos, porque
esgotaram toda a soma de energia intelectual e moral de
que podiam dispor. De fato, essa ideia da velhice de
algumas raças nos parece o efeito de uma analogia
bastante aparente entre a vida do indivíduo e a da
comunidade; ao passo que, de acordo com os fatos que
vemos, como os membros desta última sempre se
reproduzem e cada nova geração tem todo o vigor da
juventude, uma sociedade inteira não pode envelhecer
como o indivíduo quando suas forças começam a
declinar.40. Nem, até onde sabemos, nenhuma diferença
orgânica jamais foi determinada entre os indivíduos de
uma sociedade em desenvolvimento e os de outra
sociedade decadente.
As sociedades decadentes envelhecem porque o tipo
de organização social muda; então, crenças religiosas,
costumes, preconceitos e tradições sobre as quais as
instituições políticas e sociais são fundadas envelhecem,
ou melhor, eles se dissolvem lentamente: mas todos
esses são elementos
Tal foi o caso dos antigos egípcios e dos italianos do
Renascimento; mas esse fato, se o considerarmos bem, fornece
outro argumento contra a teoria de que o progresso social
depende da herança orgânica.
40 Esta última observação que removemos de G EORGE, obra
citada, último capítulo.
67
mentes sociais cuja variação depende da intervenção de
novos fatores históricos com os quais um povo pode se
encontrar em contato, ou mesmo de uma lenta e
espontânea elaboração intelectual, moral e social, que
pode ser produzida nele. De modo que é muito, muito
arriscado supor que mudanças na constituição física da
raça possam entrar nela para alguma coisa.41.
Além disso, essa crença de que todas as civilizações
extra-arianas, a egípcia, a babilônica, a chinesa antiga e
a chinesa moderna, foram e são uniformemente imóveis
parece-nos precisamente o efeito de um erro óptico,
decorrente do fato de que as vemos de muito longe. É o
caso das montanhas, que, de longe, sob o céu claro e
transparente da Sicília, parecem belas paredes azuis,
que, perpendicular e uniformemente, fecham o
horizonte e que, de perto, vê-se então que são todos -
outra coisa: porque cada um inclui um pequeno mundo
especial de subidas, descidas, acidentes de todos os
tipos. Não podemos contar aqui, nem mesmo
sumariamente, os acontecimentos de Babilônia, de
Tebas, de Mênfis, mas o estudo dos monumentos
caldeus e egípcios nos informou de uma maneira que
não há dúvida sobre isso.
41 É difícil provar que os cérebros dos franceses
contemporâneos de Voltaire tinham uma forma diferente daquela
de seus pais, que haviam feito o massacre de São Bartolomeu e da
liga sagrada. Por outro lado, pode-se facilmente mostrar que, em
pouco mais de um século e meio, o estado econômico e político e
o ambiente intelectual da França haviam mudado profundamente.

68
houve vários progressos, tanto nas margens do Nilo
como nas do Eufrates e do Tigre42. E quanto à China, é
verdade que sua civilização durou milhares de anos
maravilhosamente e sem interrupção, mas isso não quer
dizer que tenha sido sempre a mesma: o que sabemos da
história chinesa é suficiente para nos assegurar que a
organização política e social do Império Celeste sofreu
mudanças muito fortes ao longo dos séculos43.
XV. - O Letourneau em seu livro intitulado
"Evolução da moralidade" deriva o progresso das
sociedades humanas de um processo orgânico, para o
qual boas ações, que seriam então ações úteis44, deixam
um rastro no cérebro e nos centros nervosos do
indivíduo que os faz, um rastro que, repetido várias
vezes, produz uma

42 Ver Lenormant, Maspero, Brugsch, etc.


43 Basta observar que a China também teve seu período feudal
e que, pelo menos até recentemente, era governada por uma
burocracia recrutada por meio de concursos. A religião e o regime
de propriedade também passaram por vicissitudes muito
diferentes. Veja R.EXTERMINAR, A travers la China. Paris, 1879,
Hachette; M.ETCHNIKOF, La civilização et les grandes fleures
histori-ques. Paris, 1889, Hachette; ELISE R.ÉCLUS, Nouvelle
gèographie universelle, vol. VII. Paris, 1882, Hachette.
44 Útil para quem? Para o indivíduo que os comete ou para a
sociedade? Infelizmente, as duas utilidades são muito separadas e
distintas e parece-nos que é preciso ... muito pouca prática no
mundo para sustentar que uma ação que é útil para a sociedade
geralmente é bem sucedida para o indivíduo que a faz e vice-
versa.

69
tendência para a continuação do mesmo ato, tendência
essa que é então transmitida aos descendentes. Pode-se
perguntar por que ações ruins ou inúteis não deixam o
mesmo rastro. Mas vamos ouvir o autor: ele escreve que
"assim como os corpos suscetíveis à fosforescência
lembram a luz, a célula nervosa lembra seus atos
íntimos, mas aderindo a maneiras infinitamente mais
tenazes e variadas. Todo ato que a célula presidiu.
nervoso , deixa uma espécie de resíduo funcional, que
no futuro facilitará sua repetição e às vezes a provocará.
Com efeito, essa repetição se tornará cada vez mais fácil
e também acabará ocorrendo de forma espontânea e
automática. A célula nervosa terá então adquirido uma
inclinação, um hábito, um instinto, uma necessidade"45.
E mais adiante: "As células nervosas são dispositivos de
impregnação por excelência; qualquer corrente de
atividade molecular nas travessias deixa mais ou menos
um rastro, que tende a reviver. , eles são transmitidos
hereditários e a cada um deles corresponde uma
tendência, uma inclinação, que se manifestará de vez em
quando e contribuirá para constituir o que se chama
caráter. a origem e evolução da moralidade ". E mais
adiante, sempre reiterando

45 euETOURNEAU, L'évolution de la morale. Paris, 1887. As


passagens mostradas estão na segunda lição, na qual o A. explica
a origem das inclinações morais (tendências), e no vigésimo.

70
o mesmo conceito, acrescenta: "Em suas características
essenciais, o ético é utilitário e progressivo. Portanto,
uma vez formadas, implantadas nos centros nervosos, as
inclinações morais ou imorais só se extinguem tão
lentamente quanto foram formadas. atavismo e então
vemos surgir os tipos morais da idade da pedra no seio
de uma sociedade relativamente civilizada, ou tipos
heróicos no meio de uma civilização mercantil”. Parece-
nos que essas passagens são suficientes para ter uma
ideia bastante precisa e consciente do conceito
fundamental do escritor. Eles também são suficientes
para fornecer uma concepção bastante clara dos
argumentos de toda a escola, que coloca as ciências
antropológicas na base da sociologia.
No entanto, as hipóteses, por mais belas e ousadas
que sejam, na ciência só têm valor quando são
confirmadas pela experiência, isto é, por demonstrações
baseadas em fatos: em todo caso, não queremos discutir
a autenticidade de todo aquele procedimento orgânico,
que , no livro de Letourneau, encontramos tão clara e
seguramente exposta. Mas os fatos são sempre os fatos,
eles têm o mesmo valor científico, sejam eles tomados
do estudo das células nervosas, da cor do cabelo e da
medição dos crânios das várias raças e da observação
das sociedades animais. , ou do estudo da história
humana. A única classificação em ordem de importância
que pode ser admitida entre eles é aquela entre fatos
bem estabelecidos, que, por exemplo, não foram
encontrados e

71
ritos por eles mesmos, que fabricaram suas teorias sobre
eles, e dúvidas, mal apuradas, que foram influenciadas
pelos preconceitos do observador. Agora toda a história
demonstra amplamente como o progresso das
sociedades humanas não segue o curso que deveria
seguir se as teorias da escola antropológica estivessem
corretas: de modo que para aceitá-las elas devem sofrer
pelo menos uma modificação. Ou seja, deve-se admitir
que o homem civilizado ou homem capaz de
civilização, que certamente não apareceu ontem na face
do mundo, sofreu tantas e tão variadas impressões
morais em suas células nervosas que possibilitaram as
mais díspares tendências e hábitos. : tanto aqueles que
levam uma sociedade ao progresso intelectual, moral e
político, quanto os outros, que a levam à decadência e à
desintegração46.

XVI - Mas, assim reduzida, a teoria antropológica


não tem mais valor prático, não nos ensina nem pode
nos ensinar nada, que já não sabemos, e é melhor
46 Já havíamos escrito estas páginas quando lemos um artigo
de ALFREDF.OUILLÉE(La psychologie des peuples et l'anth-ropologie
na "Revue des Deux Mondes" de 25 de março de 1895). Nele a
tese que defendemos encontra-se quase apoiada e com alguns
argumentos análogos; o autor, por exemplo, escreve que "les
facteurs ethniques du caractère national ne sont ni les seules, ni
les plus importantes, uniformité de instrução, de l'éducation, des
croyances communes compensent, et au delà, les diversités des
familles ethniques " . Também Colajanni e Metchnikof, nas obras
citadas, combatem forte e brilhantemente aqueles que gostam de
exagerar a importância da raça como fator social.

72
tentar alcançar resultados científicos de outra forma, por
mais difícil que seja. A verdade é que, com base na
variedade de climas, nenhuma lei geral foi encontrada
em torno da organização das sociedades humanas e da
variedade de tipos que elas apresentam, portanto, não
foi encontrada nenhuma que se baseie na diversidade de
raças e que é impossível atribuir ao seu aperfeiçoamento
ou decadência orgânica o progresso ou a ruína das
nações.
Aqueles que viajaram muito normalmente chegam à
opinião de que os homens, sob as aparentes diferenças
de costumes e hábitos, basicamente se parecem muito
psicologicamente entre si; quem leu muito a história
adquire uma convicção semelhante em relação às várias
épocas da civilização humana: percorrendo os
documentos que nos informam como os homens de
outro tempo sentiram, pensaram, viveram, a conclusão a
que sempre se chega é idêntica: que eles eram muito
parecidos conosco47. Essa semelhança psicológica, o
fato de que as grandes raças, que formam os quatro
quintos da humanidade,

47 A semelhança psicológica é sempre maior entre os povos,


que atingiram um grau de civilização, senão igual, não muito
diferente, do que entre aqueles que estão mais próximos
cronologicamente e etnograficamente. Um italiano ou um alemão
moderno está mais próximo em seu modo de pensar de um grego
do tempo de Platoon e Aristóteles do que de seu ancestral da
Idade Média. Basta consultar a literatura dos diferentes períodos
para perceber que essa afirmação está correta . .

73
mostraram-se capazes de eventos muito variados de
progresso e declínio, leva-nos a levantar a hipótese, que
é também o resultado de todas as investigações
negativas que já fizemos, que como o homem ou pelo
menos as grandes raças humanas, eles têm uma
constante tendência a formar-se em sociedade, por isso
devem ter tendências psicológicas igualmente fortes e
constantes, que os empurram para um grau cada vez
maior de cultura e progresso social, tendências que, no
entanto, atuam com mais ou menos força, ou também
podem ser sufocadas , dependendo de acharem o
ambiente físico mais ou menos favorável, esse conjunto
de circunstâncias chamado de eventos fortuitos48e
também conforme sejam mais ou menos opostos pelo
meio social, isto é, por outras tendências psicológicas
igualmente gerais e constantes.49.

48 Para estarmos convencidos de que o que se chama acaso


fortuito, ou seja, uma série de circunstâncias que escapam à ação
e à previsão humanas, influi no destino dos povos, basta ter em
mente que até agora o destino de uma nação foi decidido pelo
resultado de uma batalha (por exemplo, em Plataea, em Zama, em
Xeres, em Poitiers, em Hastings), e no resultado das batalhas,
especialmente antes que a guerra fosse travada com critérios
científicos, o acaso desempenhou um papel importante .
49 Estas páginas foram escritas em 1894, não as negamos; mas
hoje um estudo mais cuidadoso nos levou a atribuir maior
importância ao coeficiente étnico. De fato, acreditamos que,
como demonstra muito bem Le Bon (Les Opinions et les Croyan-
ces, Paris, Flammarion, 1911, livro VI), o passado de um povo,
que de certa forma se identifica com a raça a que pertence,
determinam nele a formação de hábitos e tendências intelectuais

74
Basicamente é um processo orgânico, embora mais
complicado, semelhante ao que acontece em toda a
natureza animal e vegetal. Uma planta tem uma
tendência muito forte para se expandir e se multiplicar,
tendência que pode ser facilitada ou combatida pelo
ambiente físico, pelas condições de umidade e clima,
pelo acaso representado pelo vento e pelos pássaros, que
se propagam ou se dispersam as sementes, e de suas
próprias qualidades, ou seja, da maior ou menor
resistência, que ela opõe às doenças que a acometem.
Semelhante também é o procedimento que ocorre nesse
ramo da atividade social, que tem sido estudado de
preferência aos outros, ou seja, na produção de riqueza:
produção que tem uma tendência indefinida de
aumentar, que é mais ou menos prejudicada por
dificuldades. naturais,
O homem não cria ou destrói nenhuma das forças da
natureza, mas pode estudar seu jogo e tendência e
direcioná-lo para seu próprio benefício. É assim que
funciona na agricultura, na navegação, na mecânica; é
assim que nesses ramos de atividade a ciência moderna
tem conseguido resultados quase milagrosos. O método
certamente não pode ser diferente quando se trata das
ciências sociais; e na verdade é o mesmo que até agora
deu resultados discretos

morais e, sobretudo, morais, que, precisamente porque se


formaram ao longo de um longo percurso de gerações humanas,
às vezes precisam de muitos séculos para serem substancialmente
modificados.

75
na economia política. Mas não se deve esconder que nas
ciências sociais em geral as dificuldades a serem
superadas são imensamente maiores: já que não só a
maior complexidade das leis psicológicas, ou as
constantes tendências comuns às massas humanas, torna
mais difícil determinar sua ação, mas é indiscutível que
é mais fácil observar os fatos que acontecem ao nosso
redor, do que os fatos, que são nosso trabalho. O
homem pode estudar os fenômenos da física, química,
botânica com muito mais facilidade do que seus
próprios instintos e paixões.50. E também é preciso
confessar que a objetividade necessária para realizar
esse tipo de observação com bons resultados será
sempre privilégio de uma pequena fração de indivíduos
com aptidões especiais e uma educação intelectual
particular, e, dado que esses indivíduos podem alcançar
resultados científicos , é muito problemático que eles
consigam modificar a ação política das grandes
sociedades humanas com base neles.51.
50 Convém recordar os vários preconceitos que, segundo
Spencer, se opõem ao progresso das ciências sociais. Certamente
o estudante de ciência política deve considerar as nacionalidades,
religiões, partidos, doutrinas políticas objetivamente e apenas
como fenômenos do espírito humano. Mas o preceito é mais fácil
de dar do que de ser aplicado, e para sua aplicação é necessária
uma atitude especial do observador e, sobretudo, um estudo
muito longo da história humana, o que contribui muito para
desenvolver aquela objetividade de pontos de vista que
mencionamos. .
51 Não devemos esquecer o que acontece na economia
política. O livre comércio, por exemplo, é feito pelos aficionados
desapaixonados

76
XVII. - Qualquer que seja a eficácia prática da
ciência política no futuro, é indiscutível que o progresso
dessa disciplina é todo baseado no estudo dos fatos
sociais e que esses fatos só podem ser derivados da
história das várias nações. Em outras palavras, se a
ciência política deve ser fundada no estudo e observação
dos fatos políticos, é o antigo método histórico que deve
ser devolvido.
Várias objeções mais ou menos sérias surgem contra
esse método, às quais responderemos brevemente.
Diz-se, em primeiro lugar, que muitos autores,
começando com Aristóteles e continuando com
Maquiavel e Montesquieu até os dias de hoje, utilizam
esse método e que, apesar de muitas de suas
observações parciais serem universalmente
reconhecidas também -fundadas e como verdades
cientificamente adquiridas, mesmo um verdadeiro
sistema científico ainda não foi encontrado.
Mas do método histórico em particular podemos dizer
o que já dissemos sobre o método positivo em geral, que
para dar bons resultados deve ser bem aplicado. Agora,
para aplicá-lo corretamente, uma condição
indispensável é conhecer a história ampla e exatamente,
e isso não estava na possibilidade de Aristóteles,
Maquiavel ou Montesquieu, ou qualquer outro escritor,
que viveu apenas mais de meio século atrás. Grandes
sínteses só podem ser tentadas depois que se tem uma

esta ciência é unanimemente julgada vantajosa, e as nações mais


civilizadas voltam ao protecionismo mais feroz.

77
enorme acervo de fatos estudados e apurados com
critérios científicos; certamente mesmo nos séculos
passados não faltaram noções históricas, mas elas se
restringiram quase exclusivamente a períodos únicos:
até o início do século passado a civilização greco-
romana e a história das nações européias modernas eram
talvez conhecidas de alguma forma, mas sobre o
passado do resto do mundo só se conheciam tradições
muito vagas e incertas. E mesmo na parte restrita da
história, que mencionamos, as noções que se possuíam
não eram perfeitas; o senso crítico ainda não estava
desenvolvido, faltava a paciente pesquisa dos
documentos, aquela interpretação minuciosa e acurada
das inscrições, que não só especificava melhor as linhas
gerais da ação das grandes figuras históricas,
O conhecimento exato da geografia física, da
etnologia e da filologia comparada, que esclareceu as
origens e relações de consanguinidade das nações, a
pré-história, que destacou a antiguidade do gênero
humano e de algumas civilizações, a interpretação dos
caracteres hieroglíficos, cuneiformes e antigos alfabetos
indianos, que revelaram os mistérios de civilizações
orientais agora extintas, são conquistas do século XIX.
Da mesma forma neste século os mistérios que

78
eles exploraram a história da China, Japão e outras
nações do Extremo Oriente, e memórias de antigas
civilizações americanas foram parcialmente
descobertas, parcialmente estudadas com mais cuidado.
Finalmente, neste século se generalizou o uso de
estudos estatísticos comparativos, facilitando o
conhecimento das condições de povos muito distantes.
Indiscutivelmente, se o cientista social pudesse ter
adivinhado antes, agora ele só tem os meios para olhar
para isso em grande escala, as ferramentas e os
materiais para experimentar.
Aristóteles conhecia apenas imperfeitamente a
história das grandes monarquias asiáticas; seu
conhecimento provavelmente se limitava ao que
Heródoto e Xenofonte escreveram sobre isso e ao que
ele pôde saber dos seguidores de Alexandre, que pouco
entendiam dos países que conquistaram. De modo que
basicamente nenhum outro tipo político era familiar do
que o estado grego dos séculos IV e V a. a classificação
dos governos em monarquias, aristocracias e
democracias, que agora podiam ser julgadas
incompletas e superficiais, era então certamente o
melhor que a mente humana podia conceber.

79
melhor mentir e dar o último golpe do punhal: entende-
se que esse modelo atingiu seu espírito a ponto de fazê-
lo escrever o príncipe. O conhecimento quase exclusivo
que ele tinha da história romana, como se pôde aprender
em seu tempo, e das grandes monarquias modernas, que
se formaram pouco antes dele, explicam os Discursos
das Décadas, as Histórias e suas cartas. - Montesquieu
não poderia ter conhecido a história do Oriente muito
melhor do que Aristóteles, nem as gregas e romanas
muito mais profundamente do que Maquiavel, e os
principais entendimentos que ele tinha sobre as
instituições e a história da França, Inglaterra e
Alemanha, de preferência a os de outros países, eles dão
a explicação de sua teoria segundo a qual a liberdade
política só é possível em países frios.

XVIII. - Outra objeção é feita ao método histórico,


que se não mais fundamentado é certamente mais
especioso, e de tal forma que aos olhos de alguns pode
parecer muito sério e até insuperável. Baseia-se na falta
de confiabilidade dos materiais históricos. De fato,
costuma-se dizer que todos os esforços dos historiadores
muitas vezes falham em descobrir a verdade, que muitas
vezes é difícil averiguar com precisão como os eventos
que ocorreram durante o ano e em nossa cidade
realmente aconteceram, para que possa ser considerado
como impossível obter histórias dignas de fé quando se
trata de tempos e países distantes. Não deixamos de
apontar as contradições que existem entre as diferentes
80
paixões pelas quais eles são normalmente animados e
conclui-se que nenhuma dedução segura, nenhuma
ciência verdadeira pode ser extraída de fatos que são
sempre muito duvidosos e imperfeitamente conhecidos.
Para esses argumentos a resposta não é difícil. E,
antes de mais nada, observamos de passagem que os
fatos contemporâneos não apuram exatamente apenas
quando não temos o interesse nem os meios para
conhecer a verdade, ou quando há interesses opostos,
que se opõem a ela. Se esse obstáculo não existisse,
quem quisesse gastar tempo e um pouco de dinheiro
com ele poderia sempre, em meio às várias versões,
tagarelices e boatos, encontrar, por meio de uma
investigação, mais ou menos, como quase algo
realmente ocorrido. Ora, para os fatos históricos, quanto
mais antigos, mais silenciosos são os interesses, que
visam alterar sua noção exata, e deve-se supor que o
historiador tenha paciência e tempo suficientes para
apurar a verdade sobre eles.
De outra importância é uma segunda observação, que
agora faremos a esse respeito. Os fatos históricos sobre
os quais sempre reina a maior incerteza e sempre reinará
são anedóticos e biográficos que podem afetar a vaidade
ou a vantagem de um homem, de uma nação, de um
partido. É sobretudo nestes que a paixão do escritor
pode ser também a causa inconsciente dos erros; mas,
felizmente, esses tipos de fatos são de interesse
medíocre para o cientista político, que pouco se
importará se uma batalha foi vencida por

81
mérito de tal capitão ou por culpa de outro, ou se um
assassinato político era mais ou menos justificável. Ao
contrário, há outros fatos relativos ao tipo e organização
social dos vários povos e das várias épocas; e
justamente sobre estes, que são os que preferem nos
interessar, os historiadores, espontaneamente e sem se
posicionar, muitas vezes nos dizem a verdade e mais do
que os historiadores iluminam os documentos e
monumentos.
Por exemplo. provavelmente nunca saberemos
quando exatamente Ome-ro viveu, em que cidade
nasceu, quais foram os casos de sua vida, mas isso tem
certo interesse para o crítico e o estudioso que adoraria
conhecer os mais minuciosos detalhes sobre o pessoa do
autor da Ilíada e da Odisseia, e tem uma muito medíocre
para o político que estuda o mundo psicológico e social
descrito pelo grande poeta, um mundo que, embora
embelezado pela imaginação do poeta, deve ter existido
realmente na epo - um pouco antes de Homer. Ninguém
jamais saberá exatamente quais foram os erros e os
méritos de Temístocles, como os discursos de Péricles
foram pronunciados, qual era a perna da qual Agesilau
coxeava, a raça do cão de Alcibíades e a cor do cavalo
de Alexandre, o Grande. , mas está indiscutivelmente
provado que em

82
e os detalhes da estrutura administrativa econômica e
militar.
Provavelmente ninguém saberá nada exato sobre a
vida do rei egípcio Kufro da 4ª dinastia, apesar da
grande pirâmide, que ele construiu para um túmulo,
ninguém terá a biografia de Ramsés 2ª da 18ª dinastia,
apesar da fato do poema do Pentauro, que celebra suas
vitórias reais ou supostas; mas ninguém duvidará que,
trinta ou quarenta séculos antes da Era Comum, já havia
uma sociedade numerosa, organizada e civilizada no
Vale do Nilo, e que o espírito humano teve que fazer
esforços prodigiosos de paciência e originalidade para
escapar da barbárie. Ninguém pode duvidar que essa
sociedade, sempre mudando ao longo dos séculos, tinha
crenças religiosas, conhecimento científico e, às vezes,
uma organização administrativa e militar tão
maravilhosa,52.
È É legítimo duvidar que Tibério e Nero fossem tão
tristes como Tácito os descreveu, que a imobilidade de
Cláudio, a lascívia de Messalina, a paixão de Calígula
pelo cavalo fossem exageradas. Mas não podemos negar
a existência do Império Romano e a possibilidade nos
imperadores de cometer maldades e loucuras que, em
outros tempos e em outros tipos de organização política,
desconheciam.

52 Por exemplo, houve momentos em que os cargos públicos


aparentemente vinham para exames e o exército recebia um
oficial educado e instruído em escolas militares especiais.

83
teria sido tolerado. Tampouco se pode duvidar que, nos
primeiros séculos da Era Comum, uma grande
civilização politicamente unida em um grande estado
abrangia toda a bacia mediterrânea: e já sabemos
bastante sobre esse estado, e conheceremos cada vez
melhor o direito. e a elaborada organização financeira,
administrativa e militar. Pode-se até supor que Sa-kia-
Muni é inteiramente um mito, que Jesus Cristo nunca
foi crucificado ou sequer existiu, mas ninguém jamais
negará a existência do Budismo e do Cristianismo com
os dogmas e preceitos morais que os constituem. sair;
ninguém jamais negará que essas duas religiões, por
terem se difundido tanto e durado tanto, devem
responder a sentimentos e necessidades psicológicas
muito difundidas nas massas humanas.

XIX. - Em conclusão, portanto, embora admitindo


que a anedota e o detalhe biográfico possam ter
influenciado a história das nações, parece inegável que
eles podem ajudar muito pouco na descoberta das
grandes leis psicológicas, que se manifestam na vida das
próprias nações. . . Ao contrário, essas leis revelam sua
ação nas instituições administrativas e jurídicas, nas
religiões, em todos os hábitos morais e políticos dos
vários povos, e é, portanto, nestas últimas ordens de
fatos que devemos concentrar nossa atenção.
E em torno desses fatos acreditamos ser difícil e
pouco útil estabelecer critérios precisos de preferência.
Na verdade, qualquer notícia, seja histórica ou
contemporânea,
84
que se refira às instituições de um povo politicamente
organizado, isto é, que esteja reunido em massas
bastante numerosas e que tenha atingido um certo grau
de qualquer tipo de civilização, pode ser muito
interessante. Se uma recomendação pode ser feita a este
respeito, é esta: que evitemos obter todas as observações
de um grupo de organismos políticos, que pertençam ao
mesmo período histórico ou apresentem o mesmo tipo
de civilização, ou ligeiramente diferente.53. Spencer,
como já mencionamos, em seus Primeiros Princípios de
Sociologia tentou alertar os cientistas sociais contra o
que ele chama de preconceitos; que consistem em certos
hábitos do espírito humano, para os quais o observador
vê os fatos sociais de um ponto de vista subjetivo
unilateral e estreito, o que necessariamente produz
resultados errôneos. Ou, para reparar esse
inconveniente, não basta avisar aos que nele possam
cair que o inconveniente existe, mas é preciso que seu
espírito esteja preparado de modo a evitá-lo. De fato, ter
a noção de preconceito político, de preconceito nacional
e de preconceito religioso ou anti-religioso não diminui
o fato de que uma pessoa que foi educada

53 Por exemplo, se tivermos em mente apenas a história dos


estados gregos do tempo de Péricles, podemos acreditar que a
história do mundo consiste apenas na luta da democracia com a
aristocracia (ou melhor, de duas oligarquias, uma mais restrito, o
outro maior) e do helenismo com os bárbaros. Se pensarmos
apenas na história da Europa de mil e quinhentos a mil e
seiscentos, pode-se concluir que todo o movimento da
humanidade se realiza na luta entre católicos e protestantes e
entre a civilização europeia e maometano.

85
na crença de que uma dada forma de governo é
suficiente para regenerar a humanidade, que sua nação é
a primeira no universo, que sua religião é a única
verdadeira, ou que o progresso humano consiste na
destruição de todos quando se trata de questões práticas.
aplicação das teorias spencerianas, não se enquadra em
um ou vários dos pré-julgamentos listados. A verdadeira
salvaguarda contra este tipo de erros consiste em saber
elevar o próprio critério acima das crenças e opiniões
que são gerais na sua própria época ou naquele tipo
social ou nacional a que pertencemos; o que,
retornando-nos a um conceito já mencionado,
corresponde a ter estudado muitos fatos sociais, a
conhecer bem e muito a história, não de um período ou
de um povo, mas possivelmente da humanidade.

XX. - Hoje, ou pelo menos até recentemente, tem


prevalecido nos estudos sociais a tendência de
considerar com especial cuidado os organismos
políticos mais simples e primitivos, isto é, os das tribos
selvagens; e todas as circunstâncias que se referem a
eles foram cuidadosamente anotadas e registradas54. As
relações dos viajantes, que viveram entre essas tribos,
adquiriram, portanto, uma importância particular e
enchem os livros modernos de Sociologia.
54 Alguns sociólogos, ao contrário, vão mais longe e analisam
cuidadosamente as sociedades animais, e nas colméias das
abelhas, nas formações, nos coelhos dos quadrúpedes e
quadrúpedes, eles traçam as primeiras origens desses sentimentos
sociais, que então se manifestam completamente nos grandes
organismos políticos humanos.

86
Agora não diremos que esses estudos são
completamente inúteis, pois é difícil encontrar qualquer
aplicação do espírito humano que permaneça
completamente infértil; mas certamente não nos
parecem os mais adequados para fornecer materiais
sólidos às ciências sociais em geral e à ciência política
em particular. E, antes de mais nada, observemos que as
relações dos viajantes são ordinariamente mais
subjetivas, mais incertas e contraditórias do que as
histórias dos historiadores e, sobretudo, menos sujeitas
ao controle de documentos e monumentos. Um
indivíduo, que está entre os homens de uma civilização
muito diferente daquela a que está acostumado,
geralmente os observa de preferência de certos pontos
de vista especiais e, portanto, pode cometer erros e
enganos facilmente. Heródoto, que foi o maior viajante
da antiguidade e observador,55.
55 Acreditamos que, para nos esclarecer sobre as verdadeiras
condições sociais de um determinado povo, um documento
autêntico como as leis de Manu, os fragmentos das Doze Tábuas
ou o Código Rotari vale mais do que os relatórios de vários
Viajantes. Admitimos, no entanto, que o relato do viajante possa
servir muito utilmente para ilustrar e comentar o documento.
Escusado será dizer que, sendo tribos selvagens, faltam os
documentos

87
Em segundo lugar, e parece-nos este argumento
decisivo, os factos sociais só podem ser reunidos nas
sociedades humanas, e por sociedade não se deve
entender uma aglomeração de algumas famílias, mas o
que se costuma chamar uma nação, um povo, um
Estado. As forças psicológicas sociais não podem se
desenvolver e ter sua aplicação apenas em grandes
organizações políticas, isto é, onde há numerosas
reuniões de homens moral e politicamente unidos. No
grupo primitivo, na tribo de cinquenta ou cem
indivíduos, o problema político quase não existe e,
portanto, não pode ser estudado.
Por exemplo, é muito fácil explicar a monarquia em
uma dessas tribos que mencionamos, em que o macho
mais forte e astuto se impõe facilmente aos poucos
companheiros; mas são necessários outros elementos
para poder justificar o estabelecimento desta instituição
numa sociedade de milhões de indivíduos, na qual não
se pode impor materialmente à totalidade dos outros e,
por mais habilidosos e enérgicos que sejam, facilmente
encontrarão centenas de indivíduos em a massa. , pelo
menos potencialmente, eles são tão habilidosos e
enérgicos quanto ele. Também é fácil entender como
algumas dezenas e até algumas centenas de indivíduos,
que vivem juntos, permanecendo moralmente, senão
materialmente, isolados do resto do mundo, apresentam
uma determinada singularidade de tipo moral e têm um
sentimento vivo da tribo e da família. Mas o

em absoluto.

88
compreender isso pouco nos ajuda a explicar por que
uma identidade moral, um sentimento nacional muito
vivo, existe em aglomerações humanas de dezenas e às
vezes, como no caso da Rússia e da China, de centenas
de milhões de pessoas, nas quais indivíduos quase
vivem sempre muito distantes uns dos outros, são em
sua grande maioria livres de qualquer relação pessoal
recíproca e, em seus diversos grupos, têm condições
materiais de vida muito diferentes.
Diz-se que o estudo de pequenas entidades políticas é
muito útil, porque nelas se encontram em embrião todos
aqueles órgãos sociais que depois se desenvolvem
gradualmente nas sociedades maiores e mais avançadas,
e acredita-se que seja muito mais fácil examinar seus
mecanismo quando tais órgãos são rudimentares, e não
quando se tornam complicados. Mas a comparação,
agora tão frequente, entre a organização das sociedades
humanas e as dos indivíduos do reino animal, nunca
acreditamos que tenha sido menos adequada e menos
apropriada como neste caso. Ela pode ser facilmente
revertida contra a tese em favor da qual foi invocada;
uma vez que não acreditamos que qualquer zoólogo
gostaria de tirar luz do estudo dos animais inferiores
para resolver as questões relativas à anatomia e
fisiologia dos vertebrados de sangue quente,

89
velo e pulmões no homem e outros animais superiores.
E agora resta apenas um tópico, mas é o mais
importante de todos, para provar a bondade do método
histórico que preferimos. Este argumento consiste na
aplicação bem sucedida do referido método; em
demonstrar com o exemplo prático que ela,
aproveitando todos os materiais históricos que a ciência
deste século nos colocou à disposição, pode dar
resultados verdadeiramente científicos. Tentaremos
fazer isso nos outros capítulos deste trabalho.

90
CAPÍTULO II.
A classe política.
I. Dominação de uma classe dominante em todas as sociedades. -
II. Importância política deste fato. -III. Prevalência de minorias
organizadas sobre maiorias. - 4. Forças políticas. Valor militar.
- V. Riqueza. - VI. Crenças religiosas e cultura científica. -
VII. Influência da herança na classe política. - VIII. Períodos
de estabilidade e renovação da classe política.

I - Entre as tendências e os fatos constantes, que se


encontram em todos os organismos políticos, há um
cuja evidência pode ser facilmente manifestada a todos:
em todas as sociedades, começando pelas mais
medíocres e que acabam de chegar aos primórdios da
civilização, até os mais cultos e mais fortes, existem
duas classes de pessoas: a dos governantes e a outra dos
governados. A primeira, sempre a menos numerosa,
cumpre todas as funções políticas, monopoliza o poder e
goza das vantagens que lhe estão associadas; enquanto a
segunda, mais numerosa, é dirigida e regulada pela
primeira de forma mais ou menos legal, ou seja, mais ou
menos arbitrária e violenta, e lhe fornece, ao menos
aparentemente, os meios materiais de subsistência e
aqueles que lhe proporcionam a vitalidade do corpo
político são necessárias.
Na prática da vida todos reconhecemos a existência
desta classe dominante ou classe política, como
qualquer outra

91
uma vez que tivemos que defini-lo56. Sabemos, de fato,
que em nosso país há uma minoria de pessoas influentes
encarregadas dos assuntos públicos, das quais a maioria
sofre, voluntária ou involuntariamente, a direção e que o
mesmo acontece nos países vizinhos, e não poderíamos
quase em A realidade imagina um mundo organizado de
forma diferente, em que todos igualmente e sem
qualquer hierarquia fossem submetidos a um ou a todos
os assuntos políticos igualmente governados. Se em
teoria raciocinamos de outra forma, isso é em parte
efeito de hábitos inveterados em nosso pensamento e em
parte devido à importância esmagadora que damos a
dois fatos políticos, cuja aparência é muito superior à
realidade.
A primeira delas consiste na fácil constatação de que
em todo organismo político há sempre uma pessoa que
è chefe da hierarquia de toda a classe política e dirige o
que se chama de leme do Estado. Essa pessoa nem
sempre é aquela que legalmente teria o poder supremo,
às vezes de fato, ao lado do rei ou do imperador
hereditário há um primeiro-ministro ou um mestre do
palácio que tem um poder efetivo maior que o do
soberano, ou , no lugar do presidente eleito, governa o
influente homem político que o elegeu. Às vezes,
devido a circunstâncias especiais, em vez de apenas
uma pessoa, há duas ou três que cumprem esse cargo de
administração suprema.

56 Moscou, Teoria dos Governos e Governo Parlamentar, cap.


1º. Turim, 1884, Loescher.

noventa e dois
O segundo fato também é fácil de perceber, pois
qualquer que seja o tipo de organização social,
facilmente se vê que a pressão do descontentamento da
massa dos governados, as paixões que a agitam, podem
exercer certo grau de influência. no discurso da classe
política.
Mas o homem que está à frente do Estado certamente
não poderia governar sem o apoio de uma grande classe,
que suas ordens impõem e respeitam, e se ele pode fazer
um ou vários sentir o peso de seu poder. pertencer a esta
classe, certamente não pode prejudicá-la como um todo
e destruí-la. Pois, sendo isso possível, ele teria que
reconstituir imediatamente outra, sem a qual sua ação
seria totalmente anulada. E, por outro lado, mesmo
supondo que o descontentamento das massas
conseguisse destronar a classe dominante, teria
necessariamente que encontrar, como melhor
demonstraremos mais adiante, dentro das próprias
massas outra minoria organizada, do que dentro do
escritório do governo. classe dominante cumprida.

II. - O que constitui então a verdadeira superioridade


da classe política, como base para a pesquisa científica,
é a importância preponderante que suas diversas
constituições têm na determinação do tipo político e
também do grau de civilização dos diversos povos. De
fato, de acordo com essa maneira de classificar as
formas de governo, que ainda está em
93
Em voga, a Turquia e a Rússia eram monarquias
absolutas até poucos anos atrás, as monarquias
constitucionais da Inglaterra e da Itália e a França e os
Estados Unidos deveriam ser colocadas na categoria de
repúblicas. Essa classificação baseia-se no fato de que,
nos dois primeiros países, o chefe de Estado é
hereditário e foi nominalmente onipotente, no segundo,
apesar de ser hereditário, tem poderes e atribuições
limitados, nos últimos finalmente
è eletivo. Mas a classificação é obviamente superficial.
Como de imediato parece que há muito pouco em
comum no modo como a Rússia e a Turquia são e foram
politicamente corretos, muito diferente o grau de
civilização desses dois países e a ordenação de suas
classes políticas: e, seguindo o mesmo critério, acham o
regime da Itália monárquica muito mais análogo ao da
França republicana do que ao da Inglaterra igualmente
monárquica, e há diferenças muito importantes entre a
ordem política dos Estados Unidos e a da própria
França, embora ambos os países sejam considerados
repúblicas.
Como mencionamos um pouco mais adiante, longos
hábitos de pensamento se opuseram e se opuseram ao
progresso científico nesse ponto. A classificação que
mencionamos, que divide os governos em monarquias
absolutas, temperadas e republicanas, é obra de
Montesquieu que a substituiu pela clássica, que já havia
feito Aristóteles, que os dividiu em monarquias,
aristocracias e

94
democracias57. De Políbio a Montesquieu, muitos
autores aperfeiçoaram a classificação aristotélica
desenvolvendo-a na teoria dos governos mistos. Então,
a corrente democrática moderna, que começou com
Rousseau, baseou-se no conceito de que a maioria dos
cidadãos de um estado pode, de fato, participar da vida
política; e a doutrina da soberania popular, apesar de a
ciência moderna tornar cada vez mais manifesta a
coexistência em cada organismo político do princípio
democrático, do monarquista e do aristocrata 58, ainda se
impõe a muitas mentes. Não vamos compará-lo
diretamente aqui, pois cumprimos essa tarefa em todo o
complexo de nosso trabalho, e porque é muito difícil em
poucas páginas destruir em uma mente humana todo um
sistema de idéias que está enraizado nele; pois, como
Las Casas escreveu na vida de Cristo-fórum Colombo,
desaprender é em muitos casos mais difícil do que
aprender.

III. - De agora em diante, no entanto, acreditamos ser


útil responder a uma objeção, o que achamos que pode
ser feito muito facilmente ao nosso modo de ver. Se o

57 Sabe-se que o que Aristóteles chamava de democracia era


apenas uma aristocracia maior, e o próprio Aristóteles poderia ter
observado que, em todo estado grego, seja aristocrático ou
democrático, sempre havia uma ou muito poucas pessoas que
tinham uma influência preponderante.
58 Entre os autores que admitem essa coexistência basta
mencionar Spencer.

95
Para entender que uma única pessoa não pode comandar
uma massa sem que uma minoria a apoie, é bastante
difícil admitir como um fato constante e natural que as
minorias comandam as maiorias em vez delas. Mas este
é um dos pontos, como tantos em todas as outras
ciências, em que a primeira aparição das coisas é
contrária à sua realidade. De fato, a prevalência de uma
minoria organizada, que obedece a um único impulso,
sobre a maioria desorganizada é fatal. A força de
qualquer minoria é irresistível diante de cada indivíduo
da maioria, que está sozinho diante da totalidade da
minoria organizada; e ao mesmo tempo pode-se dizer
que esta se organiza precisamente porque é uma
minoria. Cem, que sempre atuam em concerto e
compreendendo-se, triunfarão sobre mil tomados um a
um e que não terão acordo entre eles; e ao mesmo
tempo será muito mais fácil para o primeiro agir em
conjunto e ter um entendimento, porque são cem e não
mil.
Deste fato se deduz facilmente a consequência de
que, quanto maior a comunidade política, menor a
proporção da minoria governante em relação à maioria
governada, e mais difícil é para esta se organizar para
reagir contra ela.
No entanto, além da enorme vantagem que advém da
organização, as minorias governantes são
ordinariamente constituídas de tal forma que os
indivíduos que as compõem

96
que apresentam, distinguem-se da massa dos
governados por certas qualidades, que lhes conferem
certa superioridade material e intelectual ou mesmo
moral, ou são herdeiros daqueles que as possuíam: em
outras palavras, devem ter algum requisito, verdadeiro
ou ap-parente, que é muito valorizado e muito afirmado
na sociedade em que vive.

4. - Nas sociedades primitivas, ainda na primeira fase


de sua constituição, a qualidade que mais facilmente
abre o acesso à classe política ou dominante,
è bravura militar. A guerra, que nas sociedades de
civilização avançada é um estado excepcional, pode ser
considerada quase normal naquelas que estão no início
de seu desenvolvimento, e então os indivíduos que nela
apresentam as melhores atitudes adquirem facilmente a
supremacia. os chefes. O fato é constante, mas as
modalidades que pode tomar, conforme os casos, são
bem diferentes.
Ordinariamente, a dominação de uma classe guerreira
sobre uma multidão pacífica costuma ser atribuída à
sobreposição de raças, à conquista que um povo
guerreiro faz de outro relativamente covarde. Às vezes,
de fato, a coisa acontece exatamente assim: e temos
exemplos disso na Índia após as invasões dos arianos,
no Império Romano após as dos povos germânicos e no
México após a conquista asteca; mas mais
frequentemente ainda, em certas condições sociais,
vemos a formação de uma classe guerreira e dominante
mesmo onde
97
não há absolutamente nenhum traço de conquista
estrangeira. Enquanto uma horda de fato vive
exclusivamente da caça, todos os seus indivíduos podem
facilmente se transformar em guerreiros e haverá
líderes, que naturalmente dominarão a tribo, mas não
haverá formação de uma classe guerreira. , que ao
mesmo tempo o tempo explora e protege outro
trabalhador no trabalho pacífico. Mas, ao sair da fase de
caça e entrar na fase agrícola e pastoril, então, junto
com o enorme aumento da população e a maior
estabilidade dos meios de influência social, pode surgir
uma divisão mais ou menos clara em duas classes: um
dedicado exclusivamente ao trabalho agrícola, o outro à
guerra. Se isso acontecer, é inevitável que o
A Polônia oferece um exemplo característico da
mudança gradual da classe guerreira em uma classe
absolutamente dominante. Originalmente os poloneses
tinham aquele arranjo de comuna rural que prevaleceu
entre todos os povos eslavos, nem havia distinção entre
eles entre guerreiros e fazendeiros, isto é, nobres e
camponeses. No entanto, depois de se estabelecer nas
grandes planícies onde correm o Vístula e o Niemen, a
agricultura começou a se desenvolver entre eles e, ao
mesmo tempo em que continuou a necessidade de fazer
guerra contra vizinhos belicosos, os chefes das tribos ou
woiewodi se cercaram de um certo número de
indivíduos selecionados, que

98
nem especial o das armas. Eles estavam divididos em
várias comunidades rurais e eram naturalmente isentos
do trabalho agrícola, embora recebessem sua parte da
produção da terra, à qual, como os outros comunistas,
tinham direito. Nos primeiros tempos a sua posição não
era muito procurada e havia exemplos de aldeões, que
recusavam a isenção de trabalhos agrícolas para não
irem à luta; mas, gradualmente, à medida que essa
ordem de coisas se estabilizava, à medida que uma
classe se acostumava com o manuseio de armas e
sistemas militares, enquanto a outra se endurecia cada
vez mais no uso do arado e da pá, os guerreiros se
tornavam nobres e senhores e os camponeses , de
companheiros e irmãos, transformados em aldeões e
servos. Pouco a pouco os belos cavalheiros
multiplicaram suas necessidades a ponto de a parte, que
eles tomavam como membros da comunidade, ela se
expandia para incluir todo o produto da própria
comunidade, exceto o que era absolutamente necessário
para a subsistência dos lavradores; e quando tentaram
fugir, foram forçados a permanecer presos à terra,
assumindo assim a sua condição de verdadeira
servidão59.

59 O rei Casimiro II, o Grande (1333) tentou em vão


apropriar-se desta arrogância dos guerreiros e, quando os aldeões
vieram queixar-se dos nobres, limitou-se a perguntar-lhes se não
tinham paus e pedras. Mais tarde, em 1587, a nobreza impôs que
todos os burgueses das cidades fossem obrigados a vender as suas
terras, para que a posse destas só pudesse pertencer a nobres, ao
mesmo tempo que pressionavam o Rei para iniciar em Roma a
burocracia precisava para conseguir isso
99
Temos uma evolução semelhante na Rússia. Ali os
guerreiros que compunham a droujina, ou seja, a
comitiva dos antigos kniaz ou príncipes descendentes de
Rürick, também obtinham uma parte da renda dos mir,
ou comunas rurais dos camponeses, para viver. Aos
poucos essa parte cresceu e como a terra abundava e as
armas faltavam e os camponeses aproveitavam para
emigrar, o czar Boris Godounof no final do século XVI
deu aos nobres o direito de reter à força os camponeses
em suas terras. , originando assim a servidão. Mas na
Rússia a força armada nunca foi constituída
exclusivamente pelos nobres: os moujiks ou
homenzinhos seguiram a guerra como membros
gregários dos drouji-na e depois, desde o século XVI,60.

a partir de então apenas os nobres poderiam ser admitidos nas


ordens sagradas na Polônia, querendo assim excluir os burgueses
e camponeses absolutamente dos cargos honoríficos e de
qualquer importância social. ParecerICKIEWICZ, Escravos, cap. IV,
pág. 376-80; Hi-stoire populaire de Pologne, cap. I e II. Paris,
1875, ed. Hetzel.
60 euEROY-BEAULIEUPARAOTANLE, L'Empire des tzars et les
Russes, vol. eu, pág. 338 e seguintes Paris, 1881-82, Hachette.

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