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Gaetano Mosca
Elementos de ciencia politica
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Paolo Alberti, paoloalberti@iol.it
PUBLICAÇÃO:
Catia Righi, catia_righi@tin.it
3
Índice geral
PREFÁCIO................................................................................................8
PARTE UM.............................................................................................11
CAPÍTULO I.
O método na ciência política...................................................12
CAPÍTULO II.
A classe política..............................................................................85
CAPÍTULO III
Noções preliminares..................................................................114
CAPÍTULO IV.
Relações entre a classe política e o tipo social..........140
CAPÍTULO V.
Defesa legal....................................................................................163
CAPÍTULO VI.
Controvérsia...................................................................................211
CAPÍTULO VII.
Igrejas, partidos e seitas..........................................................248
CAPÍTULO VIII.
As revoluções................................................................................300
CAPÍTULO IX.
Os exércitos sedentários..........................................................333
CAPÍTULO X.
Conclusão.........................................................................................363
SEGUNDA PARTE........................................................................488
4
CAPÍTULO I.
Origens da doutrina da classe política
e causas que impedem a sua propagação......................489
CAPÍTULO II.
Descrição dos diferentes tipos
de organização política............................................................504
CAPÍTULO III..............................................................................536
CAPÍTULO IV.
Diferentes princípios e tendências afirmados na forma
formação e organização da classe política.
585
CAPÍTULO V.
Esclarecimentos e controvérsias........................................639
CAPÍTULO VI.
Conclusão........................................................................................691
ÍNDICE ALFABÉTICO DE AUTORES
MENCIONADO NO VOLUME.............................................736
ÍNDICE...................................................................................................746
5
Gaetano Mosca
PROFESSOR TÍTULO DE DIREITO CONSTITUCIONAL DA UNIVERSIDADE DE TURIM
SENADOR DO REINO
ELEMENTOS
DO
CIÊNCIA POLÍTICA
TURIM
FRATELLI BOCCA EDITORI
3 - Via Carlos Alberto - 3
1923
6
À DOCE E QUERIDA MEMÓRIA
DA MINHA FILHAGRAZIELADEDICO
7
PREFÁCIO
8
solução, acrescentando à primeira parte do trabalho
apenas as poucas notas marcadas com um asterisco,
também porque quis manter intacta a interpretação que
há muitos anos tinha dado a alguns problemas políticos
importantes, uma interpretação que acontecimentos
muito recentes confirmado hoje.
Mas, tanto na primeira como na segunda parte deste
trabalho, procurei manter-me fiel ao método que, desde
muito jovem, escrevia oA teoria dos governos, eu adotei
e depois sempre tentei praticar fazendo todas as
melhorias que eu era capaz. Há muitos anos estou
convencido de que o único sistema possível com o qual
o homem pode, até certo ponto, dominar suas paixões e
melhorar suas fortunas consiste no estudo da psicologia
humana individual e coletiva. Desde uma época muito
remota, a sabedoria helênica julgou que a maneira mais
eficaz de o homem elevar seu caráter e moderar os
efeitos de alguns de seus instintos consistia em conhecer
a si mesmo. É, portanto, explicável se eu acreditava e
acredito firmemente que tal método pode ser aplicado
com resultados iguais ao estudo da psicologia coletiva.
Com efeito, já lhe era aplicado há mais de vinte e dois
séculos, em
9
masculinidade. Acrescento que o exemplo da Economia
Política que, estudando os fenómenos económicos com
o mesmo sistema, certamente soube evidenciar algumas
das leis que os regulam, muito me encorajou a persistir
no caminho que há muito tempo vinha trilhando. .
Claro que não escondo as grandes dificuldades que o
uso do método que mencionei brevemente apresenta,
entre as quais a quantidade de conhecimento exato que
requer sobre tudo o que aconteceu e está acontecendo
nas sociedades que têm história ocupa um dos
primeiros lugares. ; nem me gabo de ter superado todos
eles. Portanto, só posso afirmar que fiz o meu melhor,
confiante de que, se a civilização humana for capaz de
vencer a tempestade que hoje a ameaça, meu modesto
trabalho poderá ser continuado e aperfeiçoado por
outros e que todos eles serão preencheu gradativamente
as grandes lacunas que apresenta hoje.
Por fim, direi que tentei comprimir todas aquelas
paixões e sentimentos que poderiam obscurecer a visão
objetiva dos fatos sobre os quais tive que basear minhas
conclusões. Reconheço que o pleno êxito desse esforço
exigiria que o homem deixasse de ser tal, mas creio ter
feito tudo o que, por boa fé e boa vontade, pôde ser
obtido nesse sentido. Perto do fim da minha carreira
científica, queria com firmeza expor, sem ódio, sem
raiva, sem entusiasmo, com a serenidade que só
10
idade avançada pode dar, tudo o que o estudo dos
acontecimentos e do caráter humano pôde me ensinar.
Turim, dezembro de 1922.
G.AETANOM.OSCA.
11
PARTE UM
12
Dilexi justitiam, quaesivi veritatem.
CAPÍTULO I.
O método na ciência política.
I. Origens e objetivos da ciência política. -II. Por que esta
denominação foi escolhida. -III. O método experimental e a
origem das ciências. - 4. Várias aplicações deste método na
ciência política. - V. Sistema que prioriza o meio físico no
estudo da ciência política. - VI. Da prevalência dos povos do
norte sobre os do meio-dia. - VII. Continua o mesmo tópico. -
VIII. Os vários tipos de organização política e a diversidade do
clima. - IX. Importância das diferentes configurações do solo.
- X. Sistema que faz depender os fenômenos políticos da
diversidade das raças humanas. - XI. Raças superiores e
inferiores. - XII. O gênero das raças. - XIII. O sistema
evolutivo e a luta pela existência. - XIV. Progresso político e
aperfeiçoamento físico das raças humanas. - XV. Resumo da
teoria evolucionista. - XVI. O método histórico baseado na
identidade fundamental das tendências e atitudes políticas das
grandes raças humanas. - XVII. Novos materiais disponíveis
para este método. - XVIII. Objeções feitas a ele. - XIX.
Condições sob as quais este método pode ser bem utilizado. -
XX. Continuação do mesmo tópico e conclusão.
13
I. - Durante muitos séculos surgiu na mente dos
pensadores a hipótese de que os fenômenos sociais que
se desenrolavam diante deles não eram meros acidentes,
nem a manifestação de uma vontade sobrenatural e
onipotente, mas antes o efeito de constantes tendências
psicológicas, que determinam a ação das massas
humanas. Desde Aristóteles tentamos descobrir as leis e
modalidades que regulam a ação dessas tendências e o
estudo, que teve esse objetivo, foi chamado de política.
Nos séculos XVI e XVII muitos escritores,
especialmente na Itália, envolveram-se na política 1. Mas
eles, a começar por Maquiavel, que é o mais famoso de
todos, não se preocuparam tanto em determinar essas
tendências constantes em todas as sociedades humanas,
que já mencionamos, mas em investigar as artes pelas
quais um homem ou uma classe de pessoas poderiam vir a
dispor do poder supremo, numa dada sociedade, e a
defender-se contra os esforços daqueles que os queriam
suplantar. São duas coisas que, embora tenham algum
ponto de contato entre si, também são substancialmente
diferentes2. Um exemplo, que acreditamos ser muito
apropriado, di-
15
direta ou indireta de seu trabalho a melhoria da
sociedade humana, e por isso ter examinado as leis que
regulam sua organização, podem ser considerados, pelo
menos por um lado, como estudiosos da ciência política.
De modo que talvez uma boa metade do conhecimento
humano, uma imensa soma de esforços intelectuais, que
o homem empregou na busca de seu passado, para
esquadrinhar seu futuro, para estudar sua própria
natureza moral e social, possa ser considerada
consagrada a eles. .
Entre as ciências políticas ou sociais, um ramo
atingiu tal maturidade científica que, devido à certeza e
abundância dos resultados adquiridos, todos os outros
são consideravelmente deixados para trás. Pretendemos
aludir à economia política.
De fato, no final do século XVIII, algumas mentes
poderosas isolaram os fenômenos relativos à produção e
distribuição de riqueza de outros fenômenos sociais e,
olhando-os isoladamente, conseguiram determinar
muitas das leis ou tendências psicológicas constantes
que eles obedecem. O isolamento dos fenômenos
econômicos dos demais ramos das ciências sociais, e
especialmente o uso generalizado de considerá-los como
independentes de outros fenômenos, que dizem respeito
à organização dos poderes políticos, se por um lado
explica o rápido progresso da Economia Política, por
outro por outro lado, talvez seja a principal causa pela
qual alguns postulados desta ciência ainda são objeto de
discussão. De modo que talvez, coordenando suas
observações com outras que
16
olhando para outros lados da psicologia humana, a
economia política será capaz de dar novos e decisivos
passos à frente3.
È É indiscutível, porém, que as tendências que
regulam a ordenação dos poderes políticos não podem
ser estudadas sem levar em conta os resultados que a
economia política, essa ciência irmã que atingiu sua
maturidade mais cedo, já alcançou. Nós o estudo das
tendências acima mencionadas, que é o tema de nosso
trabalho, chamamos de Ciência Política. E escolhemos
essa denominação porque foi a primeira utilizada na
história do conhecimento humano, porque ainda não
caiu em desuso.4, e também porque o novo nome de
Sociologia, que, depois de Augusto Comte, foi adotado
por muitos escritores, ainda não tem um significado
bem determinado e preciso e,
19
iludidos, e talvez muitos pensadores e escritores
contemporâneos também tenham ilusões, sobre a
capacidade absoluta que o referido sistema tem em
descobrir a verdade científica5. Na verdade, para que a
observação dos fatos e a experiência dêem bons
resultados, são necessárias as condições que acabamos
de mencionar; mal utilizados e quando o procedimento
científico está errado levam a descobertas falaciosas e
podem até dar um tom de seriedade ao verdadeiro
disparate. Basicamente, a astrologia e a alquimia, que já
mencionamos, foram fundadas em observações
verdadeiras ou supostas de fatos e experiências: mas o
método de observação, ou melhor, o ponto de vista que
todos os informavam e coordenavam, estava
profundamente errado. O famoso Martino Delrio
quando escreveu seu livro De disquisi-tione magicarum,
que se acredita ser baseado na observação dos fatos,
determinando as diferenças entre o feitiço amoroso, o
hostil e a pílula para dormir e revelando as artes e
costumes das bruxas e das feiticeiras, e pretendia
precisamente que sua experiência ajudasse a descobri-
los e a tomar precauções com eles. Os economistas
anteriores a Adam Smith acreditavam que os
economistas anteriores a Adam Smith também se
baseavam na observação de fatos, que a riqueza de uma
nação consistia apenas no dinheiro e na produção da
terra; E
5 Francesco Bacone, como sabemos, comparou o método
experimental, usado para o crime muito antes dele, a uma bússola
que permite, mesmo a uma mão inexperiente de desenho, traçar
círculos perfeitos, ou seja, obter resultados . científico exato (ver
MACAULAY, Essais politique et philosophiques, traduzido por
Guglielmo Guizot. Paris. Michel Lévy, 1872).
20
Don Ferrante, o tipo de cientista do século XVII pintado
tão eficazmente por Manzoni, baseava-se nos fatos e
experiências quase universalmente reconhecidos por
seus contemporâneos, quando com um raciocínio, nas
aparências e de forma perfeitamente lógica e positiva,
quis provar a impossibilidade de que existisse o
contágio da peste bubônica6.
21
maior complexidade dos fenômenos que a eles se
referem e, sobretudo, à quase impossibilidade, que
existia até algumas décadas atrás, de se ter uma
compreensão ampla e exata desses fatos, a partir do
estudo do qual se pode derivar a noção desses fatos leis
ou tendências constantes, que regulam o ordenamento
político das sociedades humanas.
Por mais incompletos ou incompletos que possamos
pensar neles, é nosso dever fazer um rápido exame dos
vários métodos ou sistemas de idéias com os quais
procedemos até agora ao estudo da ciência política.
Muitos deles foram e nada mais são do que uma
justificativa mais ou menos filosófica, teológica ou
racional de certos tipos de organização política, que
durante séculos desempenharam um papel importante, e
às vezes ainda desempenham, na história da
humanidade. Pois, como veremos mais adiante, uma das
tendências sociais mais constantes é justamente essa de
explicar a forma de governo existente por meio de uma
teoria racional ou de uma crença sobrenatural. Tivemos,
portanto, uma pretensa ciência política a serviço
daquelas sociedades nas quais as crenças sobrenaturais
ainda predominam nas almas humanas e nas quais,
portanto, a O exercício dos poderes políticos encontra
sua explicação na vontade de Deus ou dos Deuses, e
tivemos, e temos, outra ciência política que os mesmos
poderes legitimam ao querer fazer uma expressão livre e
espontânea do livre arbítrio dos pessoas, ou seja, da
maioria dos indivíduos que compõem uma determinada
sociedade. No entanto, devemos preferencialmente lidar
com dois desses sistemas.
22
métodos de observação política, que têm um caráter
mais objetivo e universal e tendem a encontrar as leis
pelas quais se explica a existência de todas as várias
formas de regime político existentes no mundo.
Esses dois métodos são: aquele que faz a
diferenciação política das várias sociedades depender da
variedade do meio físico e, sobretudo, do clima dos
países em que vivem, e o outro que a faz depender
principalmente das diferenças físicas, e nas
consequências psicológicas, que existem entre as
diferentes raças humanas. Uma faz prevalecer o critério
do ambiente físico nas ciências sociais, a outra o
etnológico ou somático. Ambos têm um papel muito
importante na história da ciência, e também na ciência
contemporânea, e um caráter aparentemente muito
positivo e experimental para que possamos prescindir de
examinar seu verdadeiro valor científico.
24
um povo deve diminuir continuamente com o
crescimento da civilização. O reino vegetal é, sem
dúvida, o mais sujeito às condições atmosféricas e
telúricas, porque as plantas, a menos que sejam criadas
em estufas, carecem quase absolutamente de meios de
reação e de defesa contra as influências externas. Os
animais já o são menos, porque para eles a defesa e a
reação não são completamente impossíveis. O homem,
mesmo selvagem, é ainda menos, porque seus meios de
defesa são sempre superiores aos dos animais, e muito
menos o homem de civilização avançada, que possui
recursos para ser relativamente afetado. muito pouco, e
esses recursos estão aumentando e se aperfeiçoando a
cada dia.
Dito isto, parece-nos um conceito óbvio e aceitável:
que as primeiras grandes civilizações nasceram nos
sítios onde a natureza apresentava mais facilidades ou
menos resistência; de modo que geralmente têm
prosperado em grandes vales com um clima bastante
quente e bem irrigado, que, com relativa facilidade,
permitem o cultivo de alguns cereais, cultura necessária
para o sustento de grandes massas humanas em espaços
relativamente pequenos.9.
9 O fato de a população ser bastante densa é condição quase
indispensável para o nascimento de uma civilização; na verdade,
não é possível onde vivem cem homens espalhados por mil
quilômetros quadrados. Agora, para que muitos homens vivam
em um espaço relativamente pequeno (pelo menos 10 ou 20 por
quilômetro quadrado), é necessário o cultivo de cereais. De fato
encontramos a civilização chinesa contemporânea ou posterior à
cultura do arroz, a
25
Esta indução é confirmada pela história, que nos
mostra as primeiras civilizações surgidas nos vales do
Nilo, do Eufrates, do Ganges e do Rio Amarelo, ou no
planalto de Anahuac, países que apresentam todas as
condições físicas que mencionamos. No entanto, uma
vez que o homem conseguiu, em um local
excepcionalmente favorável, organizar suas forças de
modo a dar-lhe natureza, ele pode mais tarde superá-lo
em outros lugares, onde é mais relutante. Atualmente,
exceto as regiões polares e talvez algumas regiões
equatoriais e outras que, por malária ou aridez
excessiva, apresentam condições desfavoráveis muito
especiais, todos os outros países são ou podem se tornar
suscetíveis a abrigar povos civilizados.
26
que todos os rios correm do sul para o norte, porque isso
acontece naqueles países que têm as colinas ao meio-dia
e o mar ao norte. A regra poderia ser revertida se
olharmos para o sul da Rússia, e no sul da América uma
terceira poderia ser encontrada: ou seja, que os rios
fluem de oeste para leste. A verdade é que os rios,
independentemente da latitude ou extensão, correm
sempre de cima para baixo, da montanha ou dos
planaltos para o mar ou lagos. E quase diríamos que,
considerando os bairros baixos como aqueles onde há
menos resistência, a lei que regula a expansão das várias
civilizações é semelhante. O movimento civilizador
procede indiferentemente de sul a norte e de norte a sul,
mas sempre de preferência à direção em que encontra
menos obstáculos naturais e sociais;
De fato, a civilização chinesa, nascida nas províncias
centrais do império, no norte foi detida pelos planaltos
estéreis e frios da Ásia central, enquanto no sul pôde se
estender não apenas às províncias meridionais da China
propriamente dita, mas também na Indochina. Mesmo a
civilização indiana, encontrando no norte a cadeia quase
insuperável do Himalaia, estendeu-se de norte a sul, do
norte da Índia ao Decão e depois também ao Ceilão e
Java. A civilização egípcia estendeu-se para o norte até
encontrar no norte da Síria a poderosa confederação dos
Khetas, ou seja, o choque de outra civilização; ele
poderia pelo contrário
27
expandir mais ao sul, subindo o Nilo de Mênfis a Tebas
e de Tebas a Meroe10. A civilização persa, herdeira das
muito antigas da Mesopotâmia. estendia-se de leste a
oeste, uma direção na qual encontrou menos obstáculos
naturais, até esbarrar na civilização grega. Por sua vez, a
civilização greco-romana, abrangendo toda a bacia
mediterrânea, limitada ao sul por desertos insuperáveis,
a leste pela civilização oriental, representada pelo
império parta e depois pelo persa, estendeu-se ao norte
até encontrar os pântanos e florestas, então muito
difíceis, do norte da Alemanha e da Escócia.
A civilização maometano, limitada ao sul pelo mar e
pelo deserto, também teve que avançar para o noroeste.
Na Idade Média, a civilização européia, espremida ao
sul pela civilização árabe, que se apossou de toda a
parte meridional da bacia mediterrânea, espalhou-se
para o norte, adquirindo a Escócia, o norte da
Alemanha, a Escandinávia e a Polônia. Hoje, a
civilização europeia estende-se em todas as direções,
onde quer que existam terras escassas de população e
facilmente colonizáveis ou nações de civilização
decaída à espera de quem as conquiste. E acrescentamos
que o centro, o lar principal de uma civilização também
se desloca, conforme se estende em uma direção ou na
outra.
10 Recordamos que agora parece provado que as dinastias
mais antigas floresceram em Tanis e Mênfis, que Tebas só
adquiriu importância após a invasão dos Pastores, que a Etiópia
foi encorajada pelos egípcios e que só muito tarde se tornou um
reino independente.
28
tro, obedecendo a lei que mencionamos. Os países que
estão na fronteira de um tipo de cultura humana não são
normalmente aqueles que se destacam nela. Quando a
civilização européia abrangeu toda a bacia do
Mediterrâneo, a Grécia propriamente dita e o sul da
Itália estavam no centro do mundo civilizado e eram os
países mais prósperos, mais cultos e mais ricos; quando
se tornaram a vanguarda mais avançada, diante do
mundo muçulmano, necessariamente decaíram11.
29
humano, que já é um julgamento bastante difícil
determinar se um único indivíduo é potencialmente
mais moral do que outro; e o mesmo julgamento torna-
se muito difícil quando se deseja fazê-lo em relação a
duas sociedades, a duas massas humanas compostas de
indivíduos muito numerosos. Os dados estatísticos sobre
este assunto não podem dizer tudo e muitas vezes nem
dizem o suficiente, e impressões pessoais, quase sempre
muito subjetivas12eles são ainda mais falaciosos do que
as estatísticas.
O vício, que é mais comumente atribuído aos sulistas,
é a luxúria, enquanto a embriaguez é mais geralmente
atribuída aos nortistas. Mas pode-se de fato observar
que os negros do Congo se embriagam mais
vergonhosamente que os camponeses russos e os
trabalhadores suecos e quanto à luxúria parece que os
hábitos e o tipo de organização social que cada povo por
uma série de circunstâncias históricas é criado, afeta
você mais do que o clima. São Vladimir, o czar
santificado que se tornou o santo padroeiro de todas as
Rússias, antes de se converter ao cristianismo manteve
mais mulheres em seus zoológicos do que o califa
Harun-al-Raschid e Ivan, o terrível pela crueldade,
poderiam ter.
12 Geralmente o tipo de moralidade a que estamos menos
acostumados impressiona mais e, portanto, os homens de outro
país facilmente se julgam piores do que os do nosso. Mas também
é comum o hábito de julgar mais imoral que os outros aquele país
em que mais cedo ou melhor se teve a oportunidade de conhecer
e apreciar os vícios e as fraquezas, que são típicos de todos os
homens.
30
Nero, Eliogabalo e os sultões mais ferozes do Oriente.
Hoje em dia, a prostituição de Londres, Paris e Viena
talvez tenha superado a da antiga Babilônia e Delhi. Na
Europa de hoje o máximo de crimes libidinais é
apresentado pela Alemanha, seguida em ordem
decrescente pela Bélgica, França, Áustria-Hungria; A
Itália ocupa um lugar próximo ao mínimo, que é
marcado pela Espanha13.
Muitos dos sociólogos criminalistas geralmente
admitem que os crimes de sangue, aqueles contra as
pessoas, prevalecem no Sul, enquanto atribuem ao
Norte um número maior de crimes contra o
patrimônio.14. Mas Tarde e Colajanni mostraram a
evidência de que as relações que se buscaram entre as
várias formas de delinquência e o clima devem antes ser
atribuídas às diferenças de condições sociais, às vezes
encontradas entre as várias regiões do mesmo estado 15.
É verdade que nos Estados Unidos da América, na
França e também na Itália observa-se constantemente
uma prevalência de crimes de sangue no sul, enquanto
no norte há um número relativamente maior de crimes
contra o patrimônio, mas como detectar Muito bem o
próprio Tarde, em todos esses países o comércio do sul
é mais desprovido de comunicações, mais distante dos
grandes centros industriais e dos lares do
13 C.OLAJANNI, Sociologia Criminal, vol. II, cap. VII, Catania,
editora Tropea, 1889.
14 Veja as obras de Maury, Lombroso, Ferri, Pu-
filha.
15 T.ARDE, La Criminalitè comparée, cap. 4.
31
a civilização atual dos distritos do norte; agora é natural
que a forma violenta de criminalidade prevaleça,
independentemente do clima, nos países mais
grosseiros, enquanto o crime astuto se torna mais
comum nos mais cultos. E tanto que esta é a melhor
explicação do fenômeno, que os departamentos
franceses onde a criminalidade violenta é maior estão, é
verdade, no sul da França, mas têm um clima
relativamente frio porque são montanhosos.16. Isso
também se observa na Itália, onde Basilicata, distrito
que deu uma das mais fortes contagens de crimes de
sangue, é um país montanhoso com um clima
relativamente frio, e os jugos dos Matese, Gargano e
Sila e aqueles onde existem alguns Municípios da
Sicília famosos por empreendimentos sanguinários e
bandidos17.
33
expressa-se no trabalho, nas armas, na ciência, para
sempre conquistar os sulistas fracos. Mas esta opinião é
ainda mais superficial e mais contrariada pelos fatos do
que aqueles que refutamos anteriormente. Com efeito,
as civilizações nascidas e desenvolvidas em climas
quentes ou muito temperados deixaram-nos
monumentos, que testemunham uma cultura avançada e
uma incalculável energia de trabalho, o que é mais
maravilhoso quando se lembra que não tinham aquelas
máquinas, que agora os as forças do homem se
multiplicam. A diligência de um povo mais do que do
clima parece depender de hábitos que são em grande
parte determinados por seus acontecimentos históricos.
Em geral os povos da civilização antiga têm hábitos
laboriosos, que há muito atingiram a fase agrícola e, no
entanto, gozam há muito de um regime político
tolerável, que garante aos trabalhadores pelo menos
parte do fruto de seus esforços. Pelo contrário, os povos
bárbaros e semi-bárbaros, ou que voltaram a uma
barbárie parcial, acostumados a viver em parte na guerra
e no roubo, fora da guerra e da caça costumam ser
preguiçosos e inertes. Como tal, de fato, Tácito descreve
os antigos alemães, tais são os Peles Vermelhas da
América do Norte agora e os Calmucchi são
extremamente preguiçosos, embora os primeiros
vivessem e os outros ainda vivam em países muito frios.
Pelo contrário, os chineses das províncias do sul são
muito trabalhadores e os felás egípcios sabem trabalhar
com grande tenacidade. E se a falta de grandes
indústrias na parte mais meridional da Europa que
assegura aos trabalhadores pelo menos uma parte do
fruto de seus próprios esforços. Pelo contrário, os povos
bárbaros e semi-bárbaros, ou que voltaram a uma
barbárie parcial, acostumados a viver em parte na guerra
e no roubo, fora da guerra e da caça costumam ser
preguiçosos e inertes. Como tal, de fato, Tácito descreve
os antigos alemães, tais são os Peles Vermelhas da
América do Norte agora e os Calmucchi são
extremamente preguiçosos, embora os primeiros
vivessem e os outros ainda vivam em países muito frios.
Pelo contrário, os chineses das províncias do sul são
muito trabalhadores e os felás egípcios sabem trabalhar
com grande tenacidade. E se a falta de grandes
indústrias na parte mais meridional da Europa que
assegura aos trabalhadores pelo menos uma parte do
fruto de seus próprios esforços. Pelo contrário, os povos
bárbaros e semi-bárbaros, ou que voltaram a uma
barbárie parcial, acostumados a viver em parte na guerra
e no roubo, fora da guerra e da caça costumam ser
preguiçosos e inertes. Como tal, de fato, Tácito descreve
os antigos alemães, tais são os Peles Vermelhas da
América do Norte agora e os Calmucchi são
extremamente preguiçosos, embora os primeiros
vivessem e os outros ainda vivam em países muito frios.
Pelo contrário, os chineses das províncias do sul são
muito trabalhadores e os felás egípcios sabem trabalhar
com grande tenacidade. E se a falta de grandes
indústrias na parte mais meridional da Europa ou caídos
em uma barba parcial, acostumados a viver em parte de
guerra e roubo, fora da guerra e da caça costumam ser
preguiçosos e inertes. Como tal, de fato, Tácito descreve
os antigos alemães, tais são os Peles Vermelhas da
América do Norte agora e os Calmucchi são
extremamente preguiçosos, embora os primeiros
vivessem e os outros ainda vivam em países muito frios.
Pelo contrário, os chineses das províncias do sul são
muito trabalhadores e os felás egípcios sabem trabalhar
com grande tenacidade. E se a falta de grandes
indústrias na parte mais meridional da Europa ou caídos
em uma barba parcial, acostumados a viver em parte de
guerra e roubo, fora da guerra e da caça costumam ser
preguiçosos e inertes. Como tal, de fato, Tácito descreve
os antigos alemães, tais são os Peles Vermelhas da
América do Norte agora e os Calmucchi são
extremamente preguiçosos, embora os primeiros
vivessem e os outros ainda vivam em países muito frios.
Pelo contrário, os chineses das províncias do sul são
muito trabalhadores e os felás egípcios sabem trabalhar
com grande tenacidade. E se a falta de grandes
indústrias na parte mais meridional da Europa Norte-
americanos e extremamente preguiçosos também são os
Calmucchi, embora os primeiros os tenham habitado e
os outros ainda vivam em países muito frios. Pelo
contrário, os chineses das províncias do sul são muito
trabalhadores e os felás egípcios sabem trabalhar com
grande tenacidade. E se a falta de grandes indústrias na
parte mais meridional da Europa Norte-americanos e
extremamente preguiçosos também são os Calmucchi,
embora os primeiros os tenham habitado e os outros
ainda vivam em países muito frios. Pelo contrário, os
chineses das províncias do sul são muito trabalhadores e
os felás egípcios sabem trabalhar com grande
tenacidade. E se a falta de grandes indústrias na parte
mais meridional da Europa
34
deu origem e alimenta o preconceito de que os seus
habitantes não são muito laboriosos, quem conhece bem
essas populações sabe muito bem que em geral esta
acusação não é bem merecida19.
Se admitirmos que a superioridade militar é um teste
de maior energia, é de fato difícil estabelecer se os
nortistas venceram e conquistaram os sulistas com mais
frequência do que foram derrotados e conquistados por
sua vez. Os egípcios eram egípcios do sul, que em seus
belos momentos viajavam vitoriosos pela Ásia até as
montanhas da Armênia, e esses guerreiros assírios
viviam em um país de clima muito temperado, cuja
crueldade se pode odiar, mas também se deve admirar o
indomável guerreiro energia. Os gregos eram do sul,
que souberam conquistar toda a Ásia ocidental e, com
armas, colônias, comércio, a superioridade de seu gênio,
helenizaram toda a parte oriental da bacia do
Mediterrâneo e grande parte da bacia do Mar Negro. .
Os romanos também eram,
35
aos receptáculos mais remotos de suas montanhas frias e
selvagens. Os italianos da Idade Média eram sulistas,
que fizeram prodígios de atividade militar, industrial e
comercial; e os sulistas eram os espanhóis do século
XV, aqueles famosos conquistadores, que em menos de
meio século exploraram, viajaram e conquistaram a
maior parte da América. Os sulistas eram, em
comparação com os ingleses, aqueles franco-
normandos, seguidores de Guilherme, o conquistador,
que em poucos anos conseguiram desapropriar quase
completamente os habitantes da parte sul da Grã-
Bretanha e que, com a espada nas costas, perdido - guit
os ângulos até a antiga muralha romana; e meridionais
em sentido absoluto aqueles árabes que, em menos de
um século, conseguiram impor sua conquista e, com a
conquista da língua,
37
nas planícies e não nas montanhas. De fato, vemos no
Oriente que os alpinistas circassianos, curdos e
albaneses atingiram muitas vezes individualmente uma
grande importância, seus bandos, que entraram a serviço
dos impérios vizinhos, muitas vezes se tornaram
influentes e temerosos20, mas a Albânia, a Circassia e o
Curdistão nunca, em tempos históricos, formaram o
núcleo de grandes impérios independentes, pelo
contrário, sempre foram atraídos para a órbita dos
grandes organismos políticos, que tocaram suas
fronteiras. Os suíços também foram de grande
importância como indivíduos e como corpos de
soldados mercenários, mas a Suíça, como nação, nunca
pesou significativamente no equilíbrio político da
Europa.
Na história, então, em geral, vê-se que, se os ousados
bandos de montanhistas muitas vezes devastaram em
vez de conquistar as planícies, mais frequentemente os
exércitos organizados das planícies conseguiram vencer
os esforços desconexos dos alpinistas e os domaram
firmemente. .-você. Foram os romanos que
conquistaram os samnitas, enquanto estes só às vezes
podiam vencer os romanos; e, na Grã-Bretanha, se os
bandos de highlanders escoceses às vezes avistavam e
devastavam o norte da Inglaterra, os lowlanders ingleses
conquistavam com mais frequência e conquistavam a
Escócia montanhosa e acabavam domando seus
humores desenfreados e assimilando-a completamente.
Nem do
20 Era o curdo Saladino, o albanês Mehemet Ali, primeiro
quedive do Egito. Os circassianos eram os famosos beis
mamelucos, que por muitos séculos dominaram o Egito.
38
o resto, pode-se admitir que os povos que vivem nas
planícies devem necessariamente ser destituídos ou
mesmo carentes de energia: basta refletir que os
holandeses, os Te-desks do norte, os russos e os
próprios ingleses são em sua maioria habitantes de um
país muito baixo para entender quão infundada seria tal
opinião.
39
Foi feita uma distinção entre raças superiores e
inferiores, atribuindo à civilização anterior, a
moralidade, a capacidade de formar-se em grandes
aglomerações políticas; Reservo para os outros o
destino duro, mas fatal, de desaparecer das altas raças
ou de ser conquistado e civilizado por elas. No mínimo,
admite-se que eles possam continuar a viver
permanecendo independentes, mas sem jamais alcançar
aquela cultura e aquela ordem social e política perfeita,
que são próprias apenas dos povos de linhagem
privilegiada.
Rènan escreveu que a poesia da alma, fé, liberdade,
honestidade, sacrifício só apareceu no mundo com as
duas grandes raças, que em certo sentido formaram a
humanidade: isto é, a raça ariana.22. Para De Gobineau,
o ponto central da história é sempre onde vive o grupo
branco mais puro, mais inteligente e mais forte. O
Lapouge leva a mesma doutrina às suas consequências
mais extremas; segundo este autor não só a raça
verdadeiramente moral e superior em tudo é a ariana,
mas nesta mesma raça só se destacam os indivíduos que
o tipo ariano mantém puro e incontaminado; aqueles
que são altos, loiros e dolicocéfalos. Mesmo entre os
povos que passam por indo-germânicos esses indivíduos
nada mais seriam do que uma ínfima minoria espalhada
entre uma maioria de baixinhos, pardos e
braquicefálicos. Os verdadeiros arianos, portanto,
41
meio ambiente, sobreviveriam aos mais fracos e menos
aptos e proliferariam em preferência aos últimos,
comunicando aos filhos como inatas aquelas qualidades
pelas quais haviam conquistado e que para eles foram
adquiridas através de uma educação lenta. A mesma luta
ocorreria entre as próprias sociedades, pelas quais
aquelas mais solidamente constituídas, ou compostas
por indivíduos mais fortes, venceriam as outras menos
vantajosamente dotadas, que, caçadas nos locais menos
propícios ao desenvolvimento humano, estariam
condenadas a permanecer em um estado de
inferioridade perene.
Não é difícil encontrar uma diferença substancial
entre as duas doutrinas mencionadas, porque, mesmo
admitindo a teoria monogenista, ou seja, que todas as
raças humanas derivam de um único tronco, é certo que
seus caracteres diferenciais são muito antigos, e eles
tiveram que ser fixados em tempos muito remotos,
quando o homem não havia passado da fase da vida
selvagem e, portanto, estava mais apto a sentir a
influência dos agentes naturais com os quais estava em
contato.24. Portanto, segundo a teoria estritamente
etnológica, desde o início da época histórica as raças
elevadas já teriam essas características de superioridade,
que ainda conservam quase inalteradas; enquanto a
teoria prova
24 É certo que, desde uma época pré-histórica bastante remota,
a raça indígena americana tinha aquelas características físicas que
ainda a distinguem; em baixos-relevos egípcios muito antigos
(cerca de vinte séculos antes da Era Comum), as figuras dos
negros, os semitas, os egípcios indígenas têm aquelas
características físicas que ainda distinguem essas raças.
42
na verdade, o chamado evolucionista, implícita ou
explicitamente, admite que a luta pela existência teve
seus efeitos práticos mais recentemente e atribui a ela a
decadência ou prosperidade das várias nações e
civilizações durante o período histórico.
45
eles formam apenas uma fração muito pequena da
humanidade, uma fração que está diminuindo
rapidamente junto com a expansão da raça branca, atrás
da qual a raça amarela também vai em muitos lugares.
Para o espírito de justiça deve-se reconhecer que a
prosperidade dessas duas raças, naquelas mesmas terras
onde os aborígenes só podiam lutar para sobreviver, não
se deve apenas à superioridade orgânica que ostentam.
Já que os novos habitantes trazem consigo
conhecimentos e meios materiais, bens que extraem
desses torrões de subsistência abundantes, que
espontaneamente não teriam dado quase nada. O in-
digene australiano se contentou por séculos e séculos
em perseguir cangures, matar pássaros com o bomerang
ou, na pior das hipóteses, comer lagartos;
Muito mais difícil é a sentença sobre a inferioridade
da raça aborígene americana e da raça negra. Desde
tempos imemoriais eles estiveram na posse de distritos
vastos, nos quais poderosas civilizações poderiam ter se
desenvolvido. Na América, de fato, no México, no Peru,
em algum outro lugar havia ou existiram impérios
poderosos, dos quais, porém, não podemos determinar
com exatidão o grau de cultura, porque erraram ao
desmoronar diante do impacto de alguns cem adventu -
cortesãos espanhóis. Na África às vezes a raça negra é
46
politicamente organizado em vastos impérios, como era,
por exemplo. a de Uganda, mas ninguém atingiu
espontaneamente um grau de cultura que seja
comparável aos estados mais antigos fundados pela raça
branca ou amarela, aos impérios chinês, babilônico ou
egípcio antigo, em que a raça civilizadora não era a
Preto. Parece, portanto, que tanto para os indígenas
americanos quanto para os negros uma certa
inferioridade pode até ser estabelecida à primeira vista.
Mas quando as coisas vão para um lado, nem sempre
é legítimo afirmar que elas necessariamente e
inevitavelmente tiveram que seguir esse caminho. É
duvidoso que o homem tenha vivido durante o período
terciário, mas é um fato cientificamente comprovado
que sua antiguidade remonta ao início do período
quaternário e que, portanto, deve ser calculado não para
milhares de anos, mas para centenas e talvez - Milhares
de séculos. Ora, as raças, como já mencionamos,
tiveram que ser formadas em épocas muito remotas e,
sendo uma questão de períodos tão longos, sendo uma
raça que atingiu, trinta, quarenta, até cinqüenta séculos
antes, uma considerável perfeição de cultura , não é uma
prova infalível de superioridade orgânica. Das
circunstâncias externas, muitas vezes também fortuitas,
a descoberta e utilização de um metal, que é mais ou
menos fácil de acordo com os vários países, a se há ou
não uma planta ou animal abdominal-estável de fácil
acesso. eles podem acelerar ou retardar o
desenvolvimento de uma civilização, ou mudar suas
vicissitudes. É inegável que se os indígenas americanos
tivessem conhecido o uso de
47
ferro26, ou se os europeus tivessem descoberto a pólvora
dois séculos depois, não teriam destruído tão rápida e
completamente suas organizações políticas. Também
não devemos esquecer que quando uma raça atingiu
uma civilização madura encontra-se em contato com
outra em estado bárbaro, se por um lado lhe fornece
uma quantidade de ferramentas e conhecimentos úteis,
por outro os perturba profundamente, quando não
interrompe completamente seu desenvolvimento
espontâneo e original.
De fato, os brancos não apenas destruíram ou
escravizaram os indígenas americanos em quase todos
os lugares, mas durante séculos também brutalizaram e
empobreceram a raça negra com álcool e tráfico; de
modo que deve ser acordado que até agora a civilização
européia não só se opôs, mas quase impediu, todos os
esforços que Negri e Pelli Rosse poderiam ter feito
espontaneamente para progredir.
Reprovam-se vários ramos da raça indígena
americana, que se estende também aos polineses, bem
como aos australianos e outras raças humanas dos mais
pobres, por não conseguirem manter contato com o
homem branco e por desaparecerem rapidamente diante
do avanço disso. A verdade é que os brancos tiram os
meios de subsistência das raças de cor antes que possam
se acostumar a fazer uso dos novos meios de
sustentação da vida, que são introduzidos pelos próprios
brancos. Normalmente os campos de caça das tribos
selvagens são invadidos e os grandes
50
não do estudo e cair em apatia. De fato, não se pode
negar que em grande parte da América os homens de
cor são geralmente considerados seres inferiores, que
necessariamente devem estar vinculados às últimas
camadas sociais; ora, se nossas classes deserdadas
trazem em sua aparência a marca indelével de sua
inferioridade social, é certo que entre elas muito poucos
seriam os indivíduos que teriam energia para ascender a
uma condição social muito superior à de seu
nascimento.
Em todo caso, se é legítimo levantar alguma dúvida
sobre a atitude dos negros e indígenas americanos em
relação a uma civilização e ordem política superiores,
qualquer perplexidade desaparece em relação não
apenas aos arianos e semitas, mas a toda a chamada raça
mongol ou amarela e também àquela raça parda, que na
Índia vive agora misturada com a raça ariana e no sul da
China, na Indochina, talvez também no Japão tenha se
fundido com a amarela31. O complexo dessas raças
certamente forma mais de três quartos e talvez quatro
quintos de toda a humanidade.
Os chineses foram capazes de fundar uma civilização
muito original, que durou maravilhosamente e ainda
mais maravilhosamente soube se expandir. A filha em
grande parte da civilização chinesa é a do Japão e essa
51
da Indochina, e parece que o povo Somiri e Akkad, que
fundou a mais antiga civilização babilônica, pertencia à
raça turânica. A raça parda parece ter sido a autora da
muito antiga civilização Elam ou Susian, e uma
civilização indígena parece ter existido na Índia antes da
chegada dos arianos. O Egito deve sua civilização a uma
raça chamada sub-semita ou berbere, e Nínive, Sidon,
Jerusalém, Damasco, talvez também Sardes, pertenciam
aos semitas. Parece supérfluo mencionar a civilização
mais recente dos árabes maometanos.
52
grupo da humanidade, ou seja, que os traços faciais são
para cada indivíduo.
Mas essa diversidade de tipo seria certamente
consequência das diferenças físicas, da variedade da
raça, do sangue diferente que corre nas veias de cada
nação, se não encontrasse sua explicação em outro fato,
que é um dos o mais seguro e constante, que podem ser
verificados pela observação da natureza humana.
Tendemos a aludir à mímica, àquela grande força
psicológica pela qual cada indivíduo costuma adquirir
as ideias, crenças e sentimentos, que são mais comuns
no ambiente em que cresceu. Com raras e quase nunca
completas exceções, pensa-se, julga-se, acredita-se,
como pensa, julga e acredita a sociedade em que
vivemos; das coisas que observamos desse lado, que
geralmente é mais notado pelas pessoas ao nosso redor,
e desenvolvemos no
De fato, a unidade de um tipo moral e intelectual
encontra-se muito forte em uma coletividade de pessoas,
entre as quais não há comunidade especial de sangue e
raça. Por exemplo, o clero católico, que, disperso por
toda a parte, mantém sempre uma singular uniformidade
nas suas crenças, nos seus hábitos intelectuais e morais
e também nos seus costumes.
O fenômeno é observado de forma mais acentuada
nas diversas ordens religiosas; a maravilhosa
semelhança de um
53
Jesuíta italiano, com um jesuíta francês, alemão ou
inglês. Muita semelhança é encontrada também no tipo
militar comum a quase todos os grandes exércitos
europeus; e um tipo intelectual e moral bastante
constante também pode existir mesmo nos regimentos
individuais da milícia, nas escolas militares e mesmo
nos colégios leigos, onde quer que um ambiente
particular tenha sido capaz ou conhecido por constituir
uma espécie de forma psicológica, que molda à sua
maneira todos os indivíduos que nela são lançados.
Não investiguemos agora como os grandes círculos
nacionais, e melhor ainda, aquelas grandes correntes
psicológicas, que às vezes abrangem toda uma
civilização ou os seguidores de uma religião, se
formaram, viveram e muitas vezes até desapareceram do
cenário mundial. Iniciar este estudo equivaleria a
relembrar a história de toda a parte civil da humanidade:
podemos afirmar com segurança que as circunstâncias
históricas especiais de cada um dos grandes grupos da
humanidade formaram principalmente os ambientes
especiais, aos quais mencionamos, e novas
circunstâncias históricas esses ambientes lentamente
modificam ou até mesmo destroem. A parte que a
consanguinidade, a raça, tem na formação dos diversos
ambientes morais e intelectuais pode, pelo menos em
alguns casos, ser pequena e difícil de apreciar, mesmo
quando o coeficiente étnico parece à primeira vista
preponderante. Assim citamos o exemplo dos judeus,
que, dispersos entre outros povos, há séculos e séculos
54
seu tipo nacional é lindamente preservado. Mas deve-se
ter em mente que os descendentes de Israel sempre
viveram moralmente separados das populações entre as
quais viveram e, portanto, sempre estiveram em um
ambiente especial.32.
De fato, os descendentes de famílias judias
convertidas ao cristianismo ou ao islamismo raramente
retêm a longo prazo, ou seja, por muitas gerações, os
caracteres de seus ancestrais, e o mesmo judeu não
convertido retém melhor seu tipo especial onde vive
mais isolado. . Um judeu da Pequena Rússia ou
Constantinopla é muito mais judeu do que um colega
religioso nascido e criado na Itália ou na França, países
onde os guetos não passam de uma memória. Os
chineses transportados para a América também
aprendem muitos aspectos da civilização branca,
embora moralmente não transformem seu tipo; mas eles
na Califórnia e em outros lugares sempre vivem entre si
em um ambiente chinês. Na Turquia europeia e asiática,
turcos, gregos, armênios, judeus e francos vivem juntos
nas mesmas cidades e não se fundem, nem mudam as
raças, porque eles, embora materialmente em contato,
eles estão moralmente divididos e cada um tem seu
próprio ambiente especial. E pôde-se até observar que a
maior tenacidade com que se preserva o tipo nacional
inglês, entre os de outras nações europeias, é
consequência da falta de sociabilidade.
32 Veja L.EROY-BEAULIEUPARAOTANLE, Les juifs et
l'antisemitisme. Na "Revue des Deux Mondes" de 1891, 92 e 93.
Segundo este autor, o judeu moderno é produto do isolamento em
que foi mantido durante tantos séculos pela Thora, pelo Talmude
e pelo Gueto.
55
que os ingleses, estabelecidos em país estrangeiro, têm
em relação aos nativos, o que os obriga a permanecerem
entre si em um embrião de ambiente britânico33.
O chamado gênio das raças não é, portanto, algo tão
fatal e necessário como alguns gostam de imaginar.
Mesmo supondo que as várias raças superiores, isto é,
capazes de criar sua própria e original civilização, sejam
organicamente diferentes umas das outras, não é a soma
de suas diferenças orgânicas que determinam exclusiva
ou mesmo principalmente a diversidade. que adotaram,
mas sim a diversidade de contatos sociais e
circunstâncias históricas, às quais não apenas todas as
raças, mas todas as nações e todos os organismos sociais
estão destinados a se submeter.
56
XIII. - A questão da raça estaria esgotada aqui se
fosse aceito por todos que as mudanças orgânicas e
psíquicas, pelas quais uma raça humana pode ser
modificada mesmo durante um longo período histórico,
por exemplo vinte ou trinta séculos, não são muito
apreciáveis e quase insignificante. Mas, longe de ser
uma crença tão amplamente aceita, agora prevalece uma
escola, baseada em diferentes postulados; pois, ao
aplicar as doutrinas de Darwin sobre a evolução das
espécies às ciências sociais, ele admite que todo grupo
humano pode, no decorrer de alguns séculos, atingir um
notável aperfeiçoamento orgânico, do qual dá origem a
um aperfeiçoamento político e social.
Agora, sem discutir ou negar as doutrinas de Darwin
sobre a transformação em espécie, e também admitir a
descendência do homem de um hipotético antropopítico,
uma coisa parece certa, indiscutível e perceptível à
primeira vista: que a famosa luta pela existência e a
seleção natural, que é uma conseqüência dele, como foi
descrito em plantas, animais e homens selvagens, não
existe nas sociedades humanas que chegaram a um
estágio muito medíocre de civilização. Ter desejado
encontrá-lo é um efeito natural da extraordinária fortuna
que a hipótese darwinista teve nas ciências naturais,
fortuna que deve ter tentado fortemente os espíritos
sistemáticos a estender sua aplicação. Este é também o
efeito de um mal-entendido, da confusão de dois fatos,
que, substancialmente diferentes,
57
quanta confusão é fácil explicar que ocorreu nas mentes
fortemente preconceituosas em favor do sistema
evolucionista. Para explicar em poucas palavras, a luta
pela existência foi trocada pela preeminência, o que é
realmente um fato constante, que ocorre em todas as
sociedades humanas, desde as mais civilizadas até as
que acabaram de sair do estado.
De fato, na luta entre as várias sociedades humanas, o
vencedor ordinariamente, aliás quase sempre, não
destrói o derrotado, mas o subjuga, assimila, impõe seu
próprio tipo de civilização. Hoje na Europa e na
América a guerra não tem outro resultado senão a
hegemonia política da nação, que é militarmente
superior, ou a anexação de alguma província; mas
também nos tempos antigos, quando a Grécia lutava
com a Pérsia e Roma com Cartago, o organismo político
às vezes era destruído, a existência nacional dos
vencidos, mas individualmente, mesmo na pior
hipótese, estes eram preferencialmente reduzidos à
servidão em vez de serem postos à a espada. Casos
como os de Sagunto e Numância, da captura de Tiro por
Alexandre o Grande e de Cartagine sempre foram
absolutamente excepcionais. Os assírios no antigo
Oriente, os mongóis na Idade Média foram os povos que
mais frequentemente praticaram o uso horrendo do
extermínio sistemático dos vencidos, mas eles também o
usaram como meio de alcançar a submissão de outros
pelo terror. , em vez de um fim; e na verdade não se
pode dizer que uma única população
58
foi de seus horríveis massacres que foram
materialmente destruídos34.
Se pensarmos então no trabalho interior que se realiza
no seio de cada sociedade, vemos imediatamente que
nela o caráter de luta pela preeminência e não pela
existência é ainda mais marcado. A competição entre os
indivíduos de cada núcleo social é alcançar altos
lugares, riquezas, comandar, conquistar os meios, que
dão a faculdade de dirigir muitas atividades e muitas
vontades humanas à vontade. Os vencidos, que são
naturalmente a maioria nesta luta, já não são, como seria
o caráter substancial da luta pela vida, nem devorados,
nem destruídos, nem quase impedidos de se reproduzir;
eles apenas desfrutam de menos satisfações materiais e,
acima de tudo, têm menos liberdade e independência.
Ao contrário, pode-se dizer que, em geral, nas
sociedades educadas, as classes mais baixas, por muito
tempo
34 Falando de populações totalmente destruídas pelos
vencedores, citamos o caso dos tasmanianos, australianos e peles-
vermelhas. Mas, na verdade, essas tribos selvagens, muito poucas
em número ou espalhadas por imensos territórios, pereceram e
perecem principalmente porque a cultura e a civilização invasora
reduzem a grande caça, que constituía seu principal meio de
subsistência. Em alguns locais, em que os peles-vermelhas
conseguiram se adaptar a uma agricultura grosseira, eles
escaparam da destruição. No México e no Peru, onde os
indígenas eram numerosos porque chegaram à fase agrícola,
apesar dos massacres dos conquistadores espanhóis, eles sempre
constituem a grande maioria da população. Mesmo na Argélia, a
conquista atrofiada e sangrenta, que os franceses fizeram,
59
já de serem lentamente eliminados pela chamada
seleção natural, são mais prolíficos que os superiores, e
é certo que, mesmo nessas classes, todos os indivíduos
acabam quase sempre por ter um pão e uma mulher;
embora o primeiro possa ser mais ou menos preto e
atarracado, o segundo mais ou menos gracioso e
desejável.
A poligamia das classes altas é o único argumento
que poderia ser citado em favor do princípio da seleção
natural aplicado às sociedades bárbaras e civilizadas.
Mas mesmo este argumento é muito fraco, porque a
poligamia humana nem sempre corresponde a uma
maior fecundidade e porque as sociedades humanas que
alcançaram menor progresso social são
preferencialmente polígamas; de modo que a seleção
natural teria se mostrado mais impotente onde tinha os
maiores meios de ação.
61
puderam ajudar todos aqueles que acabaram de passar
pela primeira juventude; quase ninguém se atreve a
expressar suas dúvidas sobre a existência de duendes e
bruxas, e trinta e sete anos se passaram desde o dia em
que, como bruxa, a esposa do marechal d'Ancre foi
queimada. Um século depois, Montesquieu já é velho,
Voltaire e Rousseau são adultos, a Enciclopédia, se não
publicada, já está amadurecida no mundo intelectual, a
revolução dos oitenta e nove em ideias, crenças,
costumes pode-se dizer quase consumada. E, sem
procurar outros exemplos distantes, vejamos os países
mais conhecidos da atual Europa, Inglaterra, Alemanha,
Itália, Espanha. Certamente a revolução intelectual e
moral, ocorrida no século passado nessas nações,35.
Por outro lado, mesmo exemplos de rápida
decadência de nações e civilizações inteiras não são
raros. Tentamos explicá-los atribuindo-os às invasões e
destruições do
62
bárbaros, mas esquecemos que, para um país civilizado
tornar-se presa dos bárbaros, deve ter caído em um
estado de grande esgotamento e grande desorganização,
que são conseqüência da dissolução moral e política;
pois, no caso contrário, uma civilização maior
pressupõe sempre uma população maior e cognições e
meios de ataque e defesa mais poderosos e eficazes. A
China foi conquistada duas vezes pelos mongóis ou
tártaros e a Índia várias vezes pelos turcos, tártaros,
afegãos, mas as civilizações chinesa e indiana na época
das invasões já haviam entrado em períodos de declínio.
E esse declínio espontâneo dos povos civilizados
pode, em alguns casos, ser verificado quase
matematicamente. Todos os orientalistas sabem que a
mais antiga de todas as antigas civilizações egípcias,
aquela que canalizou o Nilo, inventou a escrita
hieroglífica, construiu as grandes pirâmides,
desapareceu espontaneamente e desapareceu sem saber
até agora as razões. Houve guerras civis, isso é tudo o
que se sabe, e depois a escuridão e a bar-barie, das
quais, depois de mais de quatro séculos, surge
espontaneamente uma nova civilização.36.
36 euIMENSOescreve (Histoire ancienne de l'Orient, vol. II, cap.
II, Paris, 1881) que "até a data dos problemas e guerras civis em
que Nitocri (Nit-aqrit) pereceu um eclipse repentino e até então
inexplicável da civilização egípcia. do final da VI dinastia ao
início da XI Manetho conta 436 anos, durante os quais os
monumentos são absolutamente silenciosos. O Egito parece então
ter desaparecido do número de nações e quando a civilização
63
A Babilônia, que por muitos e muitos séculos foi um
foco de civilização, não foi destruída por seus
conquistadores, nem por Ciro, nem por Dario, nem por
Alexandre, decaiu e desapareceu do cenário mundial por
consumo lento, por decadência espontânea. Diz-se que o
império romano ocidental foi destruído pelos bárbaros,
mas quem conhece mal a história sabe que os bárbaros
só mataram um cadáver, sabe quão grande foi a
decadência na arte, na literatura, na riqueza, na
administração, em todos os ramos da civilização romana
de Marco Aurélio a Diocleciano; época em que os
bárbaros não faziam nada além de fluir temporariamente
algumas províncias, mas não se estabeleceram em
nenhuma parte do império, nem tiveram a oportunidade
de causar danos duradouros37. Sem ser perturbada por
nenhuma invasão ou elemento estrangeiro, a Espanha da
segunda metade do século XVII não era mais do que a
sombra daquele país que, um século antes, era a
Espanha de
64
Carlos V e que meio século antes teve Cervan-tes,
López de Vega e Quevedo38.
Todos esses fatos podem ser muito mal explicados,
ou melhor, não podem ser explicados com a teoria da
evolução orgânica e superorgânica e da seleção natural.
Segundo ela, um povo mais civilizado deveria ser mais
expurgado e aprimorado da luta pela existência, e por
causa da herança deveria ter adquirido uma vantagem
sobre os outros, o que, na corrida das nações através dos
séculos, não fica claro por quê. então deve perder. Pelo
contrário, vemos uma nação, um grupo de povos, ora
avançando com ímpeto irresistível, ora em colapso e
miseravelmente atrasados. Pode-se notar um movimento
de progresso que, apesar das interrupções e lacunas,
empurra a humanidade cada vez mais longe, e a
civilização atual da raça ariana é de fato superior a todas
as anteriores,
65
conhecimento positivode todas as civilizações que a
precederam.
É claro que os alemães de Tácito não teriam chegado
em dezoito séculos para formar centros culturais como
Londres, Berlim, Nova York se tivessem que inventar a
escrita alfabética, os primeiros elementos da matemática
e todo aquele imenso tesouro do conhecimento. contato
com gregos e romanos. Nem a civilização helênica nem
a civilização romana teriam progredido tanto sem as
infiltrações das antigas civilizações orientais, às quais
deviam a noção do alfabeto e os primeiros rudimentos
das ciências exatas. Portanto, mais do que pelo caminho
da herança orgânica, a civilização humana progride pelo
caminho da herança científica; eles podem permanecer
estacionários, ou mesmo tornar-se bárbaros,39.
39 Recordamos, por exemplo, que os anglo-saxões modernos
não descendem já dos romanos e dos gregos, nem dos semitas da
Síria, entre os quais nasceu aquela religião que tão fortemente
fixou sua marca nos povos da Grã-Bretanha e suas colônias, não
dos árabes a quem devemos tanto do conhecimento físico e
matemático que os britânicos e os americanos modernos
aplicaram e fertilizaram tão maravilhosamente. Eles são
herdeiros, não do sangue, mas das elaborações científicas e
psicológicas dos povos Summentovati. Às vezes, um povo pode
valer-se do trabalho intelectual e moral de seus ancestrais,
ascendendo à civilização, que, depois de civilizada, recaiu na
barbárie.
66
Para dizer a verdade, os evolucionistas também
reconhecem o fato de que, antes da raça ariana e
especialmente do ramo germânico dela, outras raças
chegaram à civilização; mas deve-se acrescentar que
essas raças decaíram ou permaneceram estacionárias
porque envelheceram, ou, em outros termos, porque
esgotaram toda a soma de energia intelectual e moral de
que podiam dispor. De fato, essa ideia da velhice de
algumas raças nos parece o efeito de uma analogia
bastante aparente entre a vida do indivíduo e a da
comunidade; ao passo que, de acordo com os fatos que
vemos, como os membros desta última sempre se
reproduzem e cada nova geração tem todo o vigor da
juventude, uma sociedade inteira não pode envelhecer
como o indivíduo quando suas forças começam a
declinar.40. Nem, até onde sabemos, nenhuma diferença
orgânica jamais foi determinada entre os indivíduos de
uma sociedade em desenvolvimento e os de outra
sociedade decadente.
As sociedades decadentes envelhecem porque o tipo
de organização social muda; então, crenças religiosas,
costumes, preconceitos e tradições sobre as quais as
instituições políticas e sociais são fundadas envelhecem,
ou melhor, eles se dissolvem lentamente: mas todos
esses são elementos
Tal foi o caso dos antigos egípcios e dos italianos do
Renascimento; mas esse fato, se o considerarmos bem, fornece
outro argumento contra a teoria de que o progresso social
depende da herança orgânica.
40 Esta última observação que removemos de G EORGE, obra
citada, último capítulo.
67
mentes sociais cuja variação depende da intervenção de
novos fatores históricos com os quais um povo pode se
encontrar em contato, ou mesmo de uma lenta e
espontânea elaboração intelectual, moral e social, que
pode ser produzida nele. De modo que é muito, muito
arriscado supor que mudanças na constituição física da
raça possam entrar nela para alguma coisa.41.
Além disso, essa crença de que todas as civilizações
extra-arianas, a egípcia, a babilônica, a chinesa antiga e
a chinesa moderna, foram e são uniformemente imóveis
parece-nos precisamente o efeito de um erro óptico,
decorrente do fato de que as vemos de muito longe. É o
caso das montanhas, que, de longe, sob o céu claro e
transparente da Sicília, parecem belas paredes azuis,
que, perpendicular e uniformemente, fecham o
horizonte e que, de perto, vê-se então que são todos -
outra coisa: porque cada um inclui um pequeno mundo
especial de subidas, descidas, acidentes de todos os
tipos. Não podemos contar aqui, nem mesmo
sumariamente, os acontecimentos de Babilônia, de
Tebas, de Mênfis, mas o estudo dos monumentos
caldeus e egípcios nos informou de uma maneira que
não há dúvida sobre isso.
41 É difícil provar que os cérebros dos franceses
contemporâneos de Voltaire tinham uma forma diferente daquela
de seus pais, que haviam feito o massacre de São Bartolomeu e da
liga sagrada. Por outro lado, pode-se facilmente mostrar que, em
pouco mais de um século e meio, o estado econômico e político e
o ambiente intelectual da França haviam mudado profundamente.
68
houve vários progressos, tanto nas margens do Nilo
como nas do Eufrates e do Tigre42. E quanto à China, é
verdade que sua civilização durou milhares de anos
maravilhosamente e sem interrupção, mas isso não quer
dizer que tenha sido sempre a mesma: o que sabemos da
história chinesa é suficiente para nos assegurar que a
organização política e social do Império Celeste sofreu
mudanças muito fortes ao longo dos séculos43.
XV. - O Letourneau em seu livro intitulado
"Evolução da moralidade" deriva o progresso das
sociedades humanas de um processo orgânico, para o
qual boas ações, que seriam então ações úteis44, deixam
um rastro no cérebro e nos centros nervosos do
indivíduo que os faz, um rastro que, repetido várias
vezes, produz uma
69
tendência para a continuação do mesmo ato, tendência
essa que é então transmitida aos descendentes. Pode-se
perguntar por que ações ruins ou inúteis não deixam o
mesmo rastro. Mas vamos ouvir o autor: ele escreve que
"assim como os corpos suscetíveis à fosforescência
lembram a luz, a célula nervosa lembra seus atos
íntimos, mas aderindo a maneiras infinitamente mais
tenazes e variadas. Todo ato que a célula presidiu.
nervoso , deixa uma espécie de resíduo funcional, que
no futuro facilitará sua repetição e às vezes a provocará.
Com efeito, essa repetição se tornará cada vez mais fácil
e também acabará ocorrendo de forma espontânea e
automática. A célula nervosa terá então adquirido uma
inclinação, um hábito, um instinto, uma necessidade"45.
E mais adiante: "As células nervosas são dispositivos de
impregnação por excelência; qualquer corrente de
atividade molecular nas travessias deixa mais ou menos
um rastro, que tende a reviver. , eles são transmitidos
hereditários e a cada um deles corresponde uma
tendência, uma inclinação, que se manifestará de vez em
quando e contribuirá para constituir o que se chama
caráter. a origem e evolução da moralidade ". E mais
adiante, sempre reiterando
70
o mesmo conceito, acrescenta: "Em suas características
essenciais, o ético é utilitário e progressivo. Portanto,
uma vez formadas, implantadas nos centros nervosos, as
inclinações morais ou imorais só se extinguem tão
lentamente quanto foram formadas. atavismo e então
vemos surgir os tipos morais da idade da pedra no seio
de uma sociedade relativamente civilizada, ou tipos
heróicos no meio de uma civilização mercantil”. Parece-
nos que essas passagens são suficientes para ter uma
ideia bastante precisa e consciente do conceito
fundamental do escritor. Eles também são suficientes
para fornecer uma concepção bastante clara dos
argumentos de toda a escola, que coloca as ciências
antropológicas na base da sociologia.
No entanto, as hipóteses, por mais belas e ousadas
que sejam, na ciência só têm valor quando são
confirmadas pela experiência, isto é, por demonstrações
baseadas em fatos: em todo caso, não queremos discutir
a autenticidade de todo aquele procedimento orgânico,
que , no livro de Letourneau, encontramos tão clara e
seguramente exposta. Mas os fatos são sempre os fatos,
eles têm o mesmo valor científico, sejam eles tomados
do estudo das células nervosas, da cor do cabelo e da
medição dos crânios das várias raças e da observação
das sociedades animais. , ou do estudo da história
humana. A única classificação em ordem de importância
que pode ser admitida entre eles é aquela entre fatos
bem estabelecidos, que, por exemplo, não foram
encontrados e
71
ritos por eles mesmos, que fabricaram suas teorias sobre
eles, e dúvidas, mal apuradas, que foram influenciadas
pelos preconceitos do observador. Agora toda a história
demonstra amplamente como o progresso das
sociedades humanas não segue o curso que deveria
seguir se as teorias da escola antropológica estivessem
corretas: de modo que para aceitá-las elas devem sofrer
pelo menos uma modificação. Ou seja, deve-se admitir
que o homem civilizado ou homem capaz de
civilização, que certamente não apareceu ontem na face
do mundo, sofreu tantas e tão variadas impressões
morais em suas células nervosas que possibilitaram as
mais díspares tendências e hábitos. : tanto aqueles que
levam uma sociedade ao progresso intelectual, moral e
político, quanto os outros, que a levam à decadência e à
desintegração46.
72
tentar alcançar resultados científicos de outra forma, por
mais difícil que seja. A verdade é que, com base na
variedade de climas, nenhuma lei geral foi encontrada
em torno da organização das sociedades humanas e da
variedade de tipos que elas apresentam, portanto, não
foi encontrada nenhuma que se baseie na diversidade de
raças e que é impossível atribuir ao seu aperfeiçoamento
ou decadência orgânica o progresso ou a ruína das
nações.
Aqueles que viajaram muito normalmente chegam à
opinião de que os homens, sob as aparentes diferenças
de costumes e hábitos, basicamente se parecem muito
psicologicamente entre si; quem leu muito a história
adquire uma convicção semelhante em relação às várias
épocas da civilização humana: percorrendo os
documentos que nos informam como os homens de
outro tempo sentiram, pensaram, viveram, a conclusão a
que sempre se chega é idêntica: que eles eram muito
parecidos conosco47. Essa semelhança psicológica, o
fato de que as grandes raças, que formam os quatro
quintos da humanidade,
73
mostraram-se capazes de eventos muito variados de
progresso e declínio, leva-nos a levantar a hipótese, que
é também o resultado de todas as investigações
negativas que já fizemos, que como o homem ou pelo
menos as grandes raças humanas, eles têm uma
constante tendência a formar-se em sociedade, por isso
devem ter tendências psicológicas igualmente fortes e
constantes, que os empurram para um grau cada vez
maior de cultura e progresso social, tendências que, no
entanto, atuam com mais ou menos força, ou também
podem ser sufocadas , dependendo de acharem o
ambiente físico mais ou menos favorável, esse conjunto
de circunstâncias chamado de eventos fortuitos48e
também conforme sejam mais ou menos opostos pelo
meio social, isto é, por outras tendências psicológicas
igualmente gerais e constantes.49.
74
Basicamente é um processo orgânico, embora mais
complicado, semelhante ao que acontece em toda a
natureza animal e vegetal. Uma planta tem uma
tendência muito forte para se expandir e se multiplicar,
tendência que pode ser facilitada ou combatida pelo
ambiente físico, pelas condições de umidade e clima,
pelo acaso representado pelo vento e pelos pássaros, que
se propagam ou se dispersam as sementes, e de suas
próprias qualidades, ou seja, da maior ou menor
resistência, que ela opõe às doenças que a acometem.
Semelhante também é o procedimento que ocorre nesse
ramo da atividade social, que tem sido estudado de
preferência aos outros, ou seja, na produção de riqueza:
produção que tem uma tendência indefinida de
aumentar, que é mais ou menos prejudicada por
dificuldades. naturais,
O homem não cria ou destrói nenhuma das forças da
natureza, mas pode estudar seu jogo e tendência e
direcioná-lo para seu próprio benefício. É assim que
funciona na agricultura, na navegação, na mecânica; é
assim que nesses ramos de atividade a ciência moderna
tem conseguido resultados quase milagrosos. O método
certamente não pode ser diferente quando se trata das
ciências sociais; e na verdade é o mesmo que até agora
deu resultados discretos
75
na economia política. Mas não se deve esconder que nas
ciências sociais em geral as dificuldades a serem
superadas são imensamente maiores: já que não só a
maior complexidade das leis psicológicas, ou as
constantes tendências comuns às massas humanas, torna
mais difícil determinar sua ação, mas é indiscutível que
é mais fácil observar os fatos que acontecem ao nosso
redor, do que os fatos, que são nosso trabalho. O
homem pode estudar os fenômenos da física, química,
botânica com muito mais facilidade do que seus
próprios instintos e paixões.50. E também é preciso
confessar que a objetividade necessária para realizar
esse tipo de observação com bons resultados será
sempre privilégio de uma pequena fração de indivíduos
com aptidões especiais e uma educação intelectual
particular, e, dado que esses indivíduos podem alcançar
resultados científicos , é muito problemático que eles
consigam modificar a ação política das grandes
sociedades humanas com base neles.51.
50 Convém recordar os vários preconceitos que, segundo
Spencer, se opõem ao progresso das ciências sociais. Certamente
o estudante de ciência política deve considerar as nacionalidades,
religiões, partidos, doutrinas políticas objetivamente e apenas
como fenômenos do espírito humano. Mas o preceito é mais fácil
de dar do que de ser aplicado, e para sua aplicação é necessária
uma atitude especial do observador e, sobretudo, um estudo
muito longo da história humana, o que contribui muito para
desenvolver aquela objetividade de pontos de vista que
mencionamos. .
51 Não devemos esquecer o que acontece na economia
política. O livre comércio, por exemplo, é feito pelos aficionados
desapaixonados
76
XVII. - Qualquer que seja a eficácia prática da
ciência política no futuro, é indiscutível que o progresso
dessa disciplina é todo baseado no estudo dos fatos
sociais e que esses fatos só podem ser derivados da
história das várias nações. Em outras palavras, se a
ciência política deve ser fundada no estudo e observação
dos fatos políticos, é o antigo método histórico que deve
ser devolvido.
Várias objeções mais ou menos sérias surgem contra
esse método, às quais responderemos brevemente.
Diz-se, em primeiro lugar, que muitos autores,
começando com Aristóteles e continuando com
Maquiavel e Montesquieu até os dias de hoje, utilizam
esse método e que, apesar de muitas de suas
observações parciais serem universalmente
reconhecidas também -fundadas e como verdades
cientificamente adquiridas, mesmo um verdadeiro
sistema científico ainda não foi encontrado.
Mas do método histórico em particular podemos dizer
o que já dissemos sobre o método positivo em geral, que
para dar bons resultados deve ser bem aplicado. Agora,
para aplicá-lo corretamente, uma condição
indispensável é conhecer a história ampla e exatamente,
e isso não estava na possibilidade de Aristóteles,
Maquiavel ou Montesquieu, ou qualquer outro escritor,
que viveu apenas mais de meio século atrás. Grandes
sínteses só podem ser tentadas depois que se tem uma
77
enorme acervo de fatos estudados e apurados com
critérios científicos; certamente mesmo nos séculos
passados não faltaram noções históricas, mas elas se
restringiram quase exclusivamente a períodos únicos:
até o início do século passado a civilização greco-
romana e a história das nações européias modernas eram
talvez conhecidas de alguma forma, mas sobre o
passado do resto do mundo só se conheciam tradições
muito vagas e incertas. E mesmo na parte restrita da
história, que mencionamos, as noções que se possuíam
não eram perfeitas; o senso crítico ainda não estava
desenvolvido, faltava a paciente pesquisa dos
documentos, aquela interpretação minuciosa e acurada
das inscrições, que não só especificava melhor as linhas
gerais da ação das grandes figuras históricas,
O conhecimento exato da geografia física, da
etnologia e da filologia comparada, que esclareceu as
origens e relações de consanguinidade das nações, a
pré-história, que destacou a antiguidade do gênero
humano e de algumas civilizações, a interpretação dos
caracteres hieroglíficos, cuneiformes e antigos alfabetos
indianos, que revelaram os mistérios de civilizações
orientais agora extintas, são conquistas do século XIX.
Da mesma forma neste século os mistérios que
78
eles exploraram a história da China, Japão e outras
nações do Extremo Oriente, e memórias de antigas
civilizações americanas foram parcialmente
descobertas, parcialmente estudadas com mais cuidado.
Finalmente, neste século se generalizou o uso de
estudos estatísticos comparativos, facilitando o
conhecimento das condições de povos muito distantes.
Indiscutivelmente, se o cientista social pudesse ter
adivinhado antes, agora ele só tem os meios para olhar
para isso em grande escala, as ferramentas e os
materiais para experimentar.
Aristóteles conhecia apenas imperfeitamente a
história das grandes monarquias asiáticas; seu
conhecimento provavelmente se limitava ao que
Heródoto e Xenofonte escreveram sobre isso e ao que
ele pôde saber dos seguidores de Alexandre, que pouco
entendiam dos países que conquistaram. De modo que
basicamente nenhum outro tipo político era familiar do
que o estado grego dos séculos IV e V a. a classificação
dos governos em monarquias, aristocracias e
democracias, que agora podiam ser julgadas
incompletas e superficiais, era então certamente o
melhor que a mente humana podia conceber.
79
melhor mentir e dar o último golpe do punhal: entende-
se que esse modelo atingiu seu espírito a ponto de fazê-
lo escrever o príncipe. O conhecimento quase exclusivo
que ele tinha da história romana, como se pôde aprender
em seu tempo, e das grandes monarquias modernas, que
se formaram pouco antes dele, explicam os Discursos
das Décadas, as Histórias e suas cartas. - Montesquieu
não poderia ter conhecido a história do Oriente muito
melhor do que Aristóteles, nem as gregas e romanas
muito mais profundamente do que Maquiavel, e os
principais entendimentos que ele tinha sobre as
instituições e a história da França, Inglaterra e
Alemanha, de preferência a os de outros países, eles dão
a explicação de sua teoria segundo a qual a liberdade
política só é possível em países frios.
81
mérito de tal capitão ou por culpa de outro, ou se um
assassinato político era mais ou menos justificável. Ao
contrário, há outros fatos relativos ao tipo e organização
social dos vários povos e das várias épocas; e
justamente sobre estes, que são os que preferem nos
interessar, os historiadores, espontaneamente e sem se
posicionar, muitas vezes nos dizem a verdade e mais do
que os historiadores iluminam os documentos e
monumentos.
Por exemplo. provavelmente nunca saberemos
quando exatamente Ome-ro viveu, em que cidade
nasceu, quais foram os casos de sua vida, mas isso tem
certo interesse para o crítico e o estudioso que adoraria
conhecer os mais minuciosos detalhes sobre o pessoa do
autor da Ilíada e da Odisseia, e tem uma muito medíocre
para o político que estuda o mundo psicológico e social
descrito pelo grande poeta, um mundo que, embora
embelezado pela imaginação do poeta, deve ter existido
realmente na epo - um pouco antes de Homer. Ninguém
jamais saberá exatamente quais foram os erros e os
méritos de Temístocles, como os discursos de Péricles
foram pronunciados, qual era a perna da qual Agesilau
coxeava, a raça do cão de Alcibíades e a cor do cavalo
de Alexandre, o Grande. , mas está indiscutivelmente
provado que em
82
e os detalhes da estrutura administrativa econômica e
militar.
Provavelmente ninguém saberá nada exato sobre a
vida do rei egípcio Kufro da 4ª dinastia, apesar da
grande pirâmide, que ele construiu para um túmulo,
ninguém terá a biografia de Ramsés 2ª da 18ª dinastia,
apesar da fato do poema do Pentauro, que celebra suas
vitórias reais ou supostas; mas ninguém duvidará que,
trinta ou quarenta séculos antes da Era Comum, já havia
uma sociedade numerosa, organizada e civilizada no
Vale do Nilo, e que o espírito humano teve que fazer
esforços prodigiosos de paciência e originalidade para
escapar da barbárie. Ninguém pode duvidar que essa
sociedade, sempre mudando ao longo dos séculos, tinha
crenças religiosas, conhecimento científico e, às vezes,
uma organização administrativa e militar tão
maravilhosa,52.
È É legítimo duvidar que Tibério e Nero fossem tão
tristes como Tácito os descreveu, que a imobilidade de
Cláudio, a lascívia de Messalina, a paixão de Calígula
pelo cavalo fossem exageradas. Mas não podemos negar
a existência do Império Romano e a possibilidade nos
imperadores de cometer maldades e loucuras que, em
outros tempos e em outros tipos de organização política,
desconheciam.
83
teria sido tolerado. Tampouco se pode duvidar que, nos
primeiros séculos da Era Comum, uma grande
civilização politicamente unida em um grande estado
abrangia toda a bacia mediterrânea: e já sabemos
bastante sobre esse estado, e conheceremos cada vez
melhor o direito. e a elaborada organização financeira,
administrativa e militar. Pode-se até supor que Sa-kia-
Muni é inteiramente um mito, que Jesus Cristo nunca
foi crucificado ou sequer existiu, mas ninguém jamais
negará a existência do Budismo e do Cristianismo com
os dogmas e preceitos morais que os constituem. sair;
ninguém jamais negará que essas duas religiões, por
terem se difundido tanto e durado tanto, devem
responder a sentimentos e necessidades psicológicas
muito difundidas nas massas humanas.
85
na crença de que uma dada forma de governo é
suficiente para regenerar a humanidade, que sua nação é
a primeira no universo, que sua religião é a única
verdadeira, ou que o progresso humano consiste na
destruição de todos quando se trata de questões práticas.
aplicação das teorias spencerianas, não se enquadra em
um ou vários dos pré-julgamentos listados. A verdadeira
salvaguarda contra este tipo de erros consiste em saber
elevar o próprio critério acima das crenças e opiniões
que são gerais na sua própria época ou naquele tipo
social ou nacional a que pertencemos; o que,
retornando-nos a um conceito já mencionado,
corresponde a ter estudado muitos fatos sociais, a
conhecer bem e muito a história, não de um período ou
de um povo, mas possivelmente da humanidade.
86
Agora não diremos que esses estudos são
completamente inúteis, pois é difícil encontrar qualquer
aplicação do espírito humano que permaneça
completamente infértil; mas certamente não nos
parecem os mais adequados para fornecer materiais
sólidos às ciências sociais em geral e à ciência política
em particular. E, antes de mais nada, observemos que as
relações dos viajantes são ordinariamente mais
subjetivas, mais incertas e contraditórias do que as
histórias dos historiadores e, sobretudo, menos sujeitas
ao controle de documentos e monumentos. Um
indivíduo, que está entre os homens de uma civilização
muito diferente daquela a que está acostumado,
geralmente os observa de preferência de certos pontos
de vista especiais e, portanto, pode cometer erros e
enganos facilmente. Heródoto, que foi o maior viajante
da antiguidade e observador,55.
55 Acreditamos que, para nos esclarecer sobre as verdadeiras
condições sociais de um determinado povo, um documento
autêntico como as leis de Manu, os fragmentos das Doze Tábuas
ou o Código Rotari vale mais do que os relatórios de vários
Viajantes. Admitimos, no entanto, que o relato do viajante possa
servir muito utilmente para ilustrar e comentar o documento.
Escusado será dizer que, sendo tribos selvagens, faltam os
documentos
87
Em segundo lugar, e parece-nos este argumento
decisivo, os factos sociais só podem ser reunidos nas
sociedades humanas, e por sociedade não se deve
entender uma aglomeração de algumas famílias, mas o
que se costuma chamar uma nação, um povo, um
Estado. As forças psicológicas sociais não podem se
desenvolver e ter sua aplicação apenas em grandes
organizações políticas, isto é, onde há numerosas
reuniões de homens moral e politicamente unidos. No
grupo primitivo, na tribo de cinquenta ou cem
indivíduos, o problema político quase não existe e,
portanto, não pode ser estudado.
Por exemplo, é muito fácil explicar a monarquia em
uma dessas tribos que mencionamos, em que o macho
mais forte e astuto se impõe facilmente aos poucos
companheiros; mas são necessários outros elementos
para poder justificar o estabelecimento desta instituição
numa sociedade de milhões de indivíduos, na qual não
se pode impor materialmente à totalidade dos outros e,
por mais habilidosos e enérgicos que sejam, facilmente
encontrarão centenas de indivíduos em a massa. , pelo
menos potencialmente, eles são tão habilidosos e
enérgicos quanto ele. Também é fácil entender como
algumas dezenas e até algumas centenas de indivíduos,
que vivem juntos, permanecendo moralmente, senão
materialmente, isolados do resto do mundo, apresentam
uma determinada singularidade de tipo moral e têm um
sentimento vivo da tribo e da família. Mas o
em absoluto.
88
compreender isso pouco nos ajuda a explicar por que
uma identidade moral, um sentimento nacional muito
vivo, existe em aglomerações humanas de dezenas e às
vezes, como no caso da Rússia e da China, de centenas
de milhões de pessoas, nas quais indivíduos quase
vivem sempre muito distantes uns dos outros, são em
sua grande maioria livres de qualquer relação pessoal
recíproca e, em seus diversos grupos, têm condições
materiais de vida muito diferentes.
Diz-se que o estudo de pequenas entidades políticas é
muito útil, porque nelas se encontram em embrião todos
aqueles órgãos sociais que depois se desenvolvem
gradualmente nas sociedades maiores e mais avançadas,
e acredita-se que seja muito mais fácil examinar seus
mecanismo quando tais órgãos são rudimentares, e não
quando se tornam complicados. Mas a comparação,
agora tão frequente, entre a organização das sociedades
humanas e as dos indivíduos do reino animal, nunca
acreditamos que tenha sido menos adequada e menos
apropriada como neste caso. Ela pode ser facilmente
revertida contra a tese em favor da qual foi invocada;
uma vez que não acreditamos que qualquer zoólogo
gostaria de tirar luz do estudo dos animais inferiores
para resolver as questões relativas à anatomia e
fisiologia dos vertebrados de sangue quente,
89
velo e pulmões no homem e outros animais superiores.
E agora resta apenas um tópico, mas é o mais
importante de todos, para provar a bondade do método
histórico que preferimos. Este argumento consiste na
aplicação bem sucedida do referido método; em
demonstrar com o exemplo prático que ela,
aproveitando todos os materiais históricos que a ciência
deste século nos colocou à disposição, pode dar
resultados verdadeiramente científicos. Tentaremos
fazer isso nos outros capítulos deste trabalho.
90
CAPÍTULO II.
A classe política.
I. Dominação de uma classe dominante em todas as sociedades. -
II. Importância política deste fato. -III. Prevalência de minorias
organizadas sobre maiorias. - 4. Forças políticas. Valor militar.
- V. Riqueza. - VI. Crenças religiosas e cultura científica. -
VII. Influência da herança na classe política. - VIII. Períodos
de estabilidade e renovação da classe política.
91
uma vez que tivemos que defini-lo56. Sabemos, de fato,
que em nosso país há uma minoria de pessoas influentes
encarregadas dos assuntos públicos, das quais a maioria
sofre, voluntária ou involuntariamente, a direção e que o
mesmo acontece nos países vizinhos, e não poderíamos
quase em A realidade imagina um mundo organizado de
forma diferente, em que todos igualmente e sem
qualquer hierarquia fossem submetidos a um ou a todos
os assuntos políticos igualmente governados. Se em
teoria raciocinamos de outra forma, isso é em parte
efeito de hábitos inveterados em nosso pensamento e em
parte devido à importância esmagadora que damos a
dois fatos políticos, cuja aparência é muito superior à
realidade.
A primeira delas consiste na fácil constatação de que
em todo organismo político há sempre uma pessoa que
è chefe da hierarquia de toda a classe política e dirige o
que se chama de leme do Estado. Essa pessoa nem
sempre é aquela que legalmente teria o poder supremo,
às vezes de fato, ao lado do rei ou do imperador
hereditário há um primeiro-ministro ou um mestre do
palácio que tem um poder efetivo maior que o do
soberano, ou , no lugar do presidente eleito, governa o
influente homem político que o elegeu. Às vezes,
devido a circunstâncias especiais, em vez de apenas
uma pessoa, há duas ou três que cumprem esse cargo de
administração suprema.
noventa e dois
O segundo fato também é fácil de perceber, pois
qualquer que seja o tipo de organização social,
facilmente se vê que a pressão do descontentamento da
massa dos governados, as paixões que a agitam, podem
exercer certo grau de influência. no discurso da classe
política.
Mas o homem que está à frente do Estado certamente
não poderia governar sem o apoio de uma grande classe,
que suas ordens impõem e respeitam, e se ele pode fazer
um ou vários sentir o peso de seu poder. pertencer a esta
classe, certamente não pode prejudicá-la como um todo
e destruí-la. Pois, sendo isso possível, ele teria que
reconstituir imediatamente outra, sem a qual sua ação
seria totalmente anulada. E, por outro lado, mesmo
supondo que o descontentamento das massas
conseguisse destronar a classe dominante, teria
necessariamente que encontrar, como melhor
demonstraremos mais adiante, dentro das próprias
massas outra minoria organizada, do que dentro do
escritório do governo. classe dominante cumprida.
94
democracias57. De Políbio a Montesquieu, muitos
autores aperfeiçoaram a classificação aristotélica
desenvolvendo-a na teoria dos governos mistos. Então,
a corrente democrática moderna, que começou com
Rousseau, baseou-se no conceito de que a maioria dos
cidadãos de um estado pode, de fato, participar da vida
política; e a doutrina da soberania popular, apesar de a
ciência moderna tornar cada vez mais manifesta a
coexistência em cada organismo político do princípio
democrático, do monarquista e do aristocrata 58, ainda se
impõe a muitas mentes. Não vamos compará-lo
diretamente aqui, pois cumprimos essa tarefa em todo o
complexo de nosso trabalho, e porque é muito difícil em
poucas páginas destruir em uma mente humana todo um
sistema de idéias que está enraizado nele; pois, como
Las Casas escreveu na vida de Cristo-fórum Colombo,
desaprender é em muitos casos mais difícil do que
aprender.
95
Para entender que uma única pessoa não pode comandar
uma massa sem que uma minoria a apoie, é bastante
difícil admitir como um fato constante e natural que as
minorias comandam as maiorias em vez delas. Mas este
é um dos pontos, como tantos em todas as outras
ciências, em que a primeira aparição das coisas é
contrária à sua realidade. De fato, a prevalência de uma
minoria organizada, que obedece a um único impulso,
sobre a maioria desorganizada é fatal. A força de
qualquer minoria é irresistível diante de cada indivíduo
da maioria, que está sozinho diante da totalidade da
minoria organizada; e ao mesmo tempo pode-se dizer
que esta se organiza precisamente porque é uma
minoria. Cem, que sempre atuam em concerto e
compreendendo-se, triunfarão sobre mil tomados um a
um e que não terão acordo entre eles; e ao mesmo
tempo será muito mais fácil para o primeiro agir em
conjunto e ter um entendimento, porque são cem e não
mil.
Deste fato se deduz facilmente a consequência de
que, quanto maior a comunidade política, menor a
proporção da minoria governante em relação à maioria
governada, e mais difícil é para esta se organizar para
reagir contra ela.
No entanto, além da enorme vantagem que advém da
organização, as minorias governantes são
ordinariamente constituídas de tal forma que os
indivíduos que as compõem
96
que apresentam, distinguem-se da massa dos
governados por certas qualidades, que lhes conferem
certa superioridade material e intelectual ou mesmo
moral, ou são herdeiros daqueles que as possuíam: em
outras palavras, devem ter algum requisito, verdadeiro
ou ap-parente, que é muito valorizado e muito afirmado
na sociedade em que vive.
98
nem especial o das armas. Eles estavam divididos em
várias comunidades rurais e eram naturalmente isentos
do trabalho agrícola, embora recebessem sua parte da
produção da terra, à qual, como os outros comunistas,
tinham direito. Nos primeiros tempos a sua posição não
era muito procurada e havia exemplos de aldeões, que
recusavam a isenção de trabalhos agrícolas para não
irem à luta; mas, gradualmente, à medida que essa
ordem de coisas se estabilizava, à medida que uma
classe se acostumava com o manuseio de armas e
sistemas militares, enquanto a outra se endurecia cada
vez mais no uso do arado e da pá, os guerreiros se
tornavam nobres e senhores e os camponeses , de
companheiros e irmãos, transformados em aldeões e
servos. Pouco a pouco os belos cavalheiros
multiplicaram suas necessidades a ponto de a parte, que
eles tomavam como membros da comunidade, ela se
expandia para incluir todo o produto da própria
comunidade, exceto o que era absolutamente necessário
para a subsistência dos lavradores; e quando tentaram
fugir, foram forçados a permanecer presos à terra,
assumindo assim a sua condição de verdadeira
servidão59.
100