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Resenha | The Last Of Us

Lançado exclusivamente para PlayStation 3 em 2013, The Last of Us marcou toda uma geração
de jogos de videogame, estabelecendo um novo patamar no ramo do entretenimento virtual
ao trazer uma experiência única que mistura sobrevivência, o desenvolvimento de
personagens icônicos e um jeito singular de apresentar uma praga que dizimou a civilização
moderna. O sucesso foi tamanho que a trama protagonizada por Joel e Ellie ganhou uma
continuação, tão aclamada quanto, em meados de 2020. The Last of Us não só se tornou um
clássico dentro dos videogames quanto parece que também conquistará o público com a
adaptação para série que estreou no domingo, 15, pela HBO.

O fungo devastador de The Last Of Us

Antes de mais nada, primeiro precisamos entender quem são e como agem os ‘monstros
zumbis’ de The Last Of Us. A Série televisiva começa, em 1968, apresentando um breve
discussão entre epidemiologistas sobre futuras pandemias que poderiam devastar a população
mundial.

É então que um dos entrevistados aponta que um desses surtos poderia ser ocasionado por
um simples fungo. Isso mesmo, nada de uma bactéria ou um vírus. Um Fungo que não busca
matar seu hospedeiro, mas sim controlá-lo.

Avançando mais um pouco no tempo, para o ano de 2003, um surto parece atingir a população
dos Estados Unidos. Com ele, pessoas infectadas passam a ter comportamentos agressivos e
até mesmo a atacarem outras saudáveis. Os infectados são irrefreáveis e pouco se sabe sobre
eles. Exceto que seus ataques são avassaladores.

Avançando duas décadas no tempo, a população mundial já sabe o que está enfrentando: a
Infecção Cerebral por Cordyceps (chamada por também por CBI); uma infecção fúngica que se
origina no cérebro e cresce, atingindo todo o sistema nervoso de um infectado, passando a
controlá-lo. A infecção ainda consegue atravessar o crânio do hospedeiro, mutilando sua
aparência.

Após matá-lo, o fungo ainda cria uma espécie de ‘cogumelo’ que brota em talos no corpo do
hospedeiro, espalhando esporos que conseguiriam mais infecções. A doença teria quatro
estágios de infeção, como mostrados por um panfleto do jogo de 2013.
Estágio 1: Nele os infectados são chamados de “runners” (ou ‘corredores’ em tradução livre),
sendo a espécie mais comum. Nessa fase, o fungo já atingiu o cérebro e começou a se
desenvolver, causando apenas poucas deformações faciais. Aqui, os hospedeiros já são
hiperagressivos.

Estágio 2: Os infectados são chamados de “stalkers” (‘perseguidores’), e são também um dos


mais perigosos, pois apresentam a velocidade e visão dos ‘corredores’, mas a agressividade e
força dos infectados no estágio três. A aparência deles também não difere muito de um
“runner”, exceto pelo aumento do crescimento de fungos ao redor da cabeça .

Estágio 3: O infectado se tornará um “Clicker” (‘estalador’), o que acontece após um ano de


infecção, quando o fungo cobre e deforma completamente o rosto de sua vítima, tornando-o
completamente cego. Aqui, o ‘clicker’ se localiza através de uma espécie de ‘sonar’ obtido por
um barulho característico, daí o nome ‘estalador’.

Estágio 4: São chamados de bloaters, sendo o mais raros entre eles, por levarem anos a fio
para se desenvolverem de tal modo. Aqui, os infectados são cobertos por espessos fungos,
criando uma espécie de armadura natural que suporta diversos tiros e ataques com armas
brancas.
Como já dito, a pandemia em The Last of Us acontece por conta de um fungo chamado
Cordyceps. O que poucos sabem, porém, é que ele existe no mundo real e inclusive serviu de
inspiração para Neil Druckmann, criador da trama, desenvolver seu mundo pós-apocalíptico.

Segundo aponta matéria do The Washington Post, os Cordyceps são estudados há anos pela
comunidade científica e, inclusive, são encontrados em suplementos alimentares. Assim como
a série mostra, o fungo parasita cresce e se desenvolve em um hospedeiro, mas na ‘vida real’
isso acontece apenas insetos.

Aliás, existem cerca de 600 variações deles, cada qual especializado em uma espécie de inseto
diferente, aponta o Memorial Sloan Kettering Cancer Center, dando enfase a uma variedade
que cresce nas lagartas das mariposas (inseto icônico dentro dos jogos de The Last of Us).

Os esporos de Cordyceps levam os insetos a comportamentos erráticos, aparentemente


assumindo o controle de suas mentes e funções motoras e, assim, provocando a comparação
com os zumbis.

No fim, os fungos acabam matando seu hospedeiro e fazendo crescer ‘brotos’ em seu cadáver
infectado, que pode levar semanas para se desenvolver por completo. Assim que termina,
esses ‘brotos’ liberam novos esporos de Cordyceps que infectaram outros insetos. E assim por
diante.

O fenômeno inspirado de Druckmann foi tema de um episódio do programa “Planet Earth” da


BBC.

Apesar dos Cordyceps existirem, eles só infectam insetos. Na verdade, aponta o The
Washington Post, o fungo até mesmo é usado em medicamentos e suplementos de saúde,
ajudando no revigor e resistência física, melhoramento da função renal e até no aumento do
sistema imunológico.

Obviamente que tudo isso deve ser usado com a recomendação de um profissional médico. O
Cordyceps é tão importante que vários estudos de câncer estão estudando-o como uma forma
de retardar o crescimento do tumor.

Como o fungo se espalha e sua Função

Na ‘vida real’, os fungos são transmitidos pelo ar, por meio de esporos que atingem outros
insetos. Em The Last of Uf, a coisa acontece da mesma forma, só que na ficção os infectados
também podem transmiti-lo através da mordida.

Apesar desse método ser comum em filmes e produções do gênero, ele também é
biologicamente correto. Embora as infecções fúngicas normalmente não são transmitidas
assim, alguns casos isso pode acontecer, como a esporotricose, contraída depois que um
espinho ou agulha de pinheiro empurra os esporos sob a pele de uma pessoa.

Um fato interessante é que os Cordyceps, em nossa realidade, consegue devastar colônias


inteiras de insetos. Mas isso não é necessariamente algo ruim. Afinal, eles são de suma
importância ecológica para impedir superpopulações dessas espécies, como explica artigo do
Guia dos Entusiastas da Ciência, da Universidade Federal do ABC.

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