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INTRODUÇÃO
etc. Como não poderia deixar de ser, a Escola e a Educação Física, são
influenciadas ao mesmo tempo que influenciam, mesmo que minimamente, tais modificações.
lado aqueles que outrora, eram seus jogos preferidos: Bets/Taco. Mata
populares, que se identificam com as mudanças sociais citadas e suas influências nessa
manifestação cultural (jogos populares) e no surgimento
Refletindo sobre isso e buscando favorecer no papel atribuído à escola, surgiu a problemática
do estudo: Como ensinar os jogos populares
realidade?
A partir do problema exposto, elaborou-se então o seguinte objetivo: Analisar como deve ser
ensinado o conteúdo Jogos Populares nas
professor, junto com nossos estudantes, de buscarmos solucionar a problemática (mesmo que
inicialmente), analisando o ensino do conteúdo
Jogos Populares.
DESENVOLVIMENTO
Para alcançar o objetivo proposto inicialmente, organizou-se o caminho metodológico em três
etapas que integram e são constantemente
Esse percurso foi realizado ao longo de vinte e três aulas, ministradas para uma turma de
oitavo ano do ensino fundamental, em uma
2.1 – a) Planejamento/replanejamento
2.2 – b) Materialização
de aulas:
sala convencional, refletiram sobre os Jogos Populares como manifestação cultural. As aulas
foram ministradas expositivamente,
Pieter Brueghel the Elder (1526/1530–1569) [Public domain], via Wikimedia Commons
se organizaram em duplas para o estudo específico de alguns jogos. Nesse momento foram
elaboradas maquetes dos jogos para
• No quarto bloco, os estudantes preencheram uma folha de atividades para que pudesse ser
feita uma avaliação formal do processo em construção. Na folha havia quatro atividades, e,
dentre
um jogo popular: a pipa, cujo o processo de confecção foi ensinado, tanto pelo professor
quanto pelos próprios estudantes
isso, o professor utilizou um mapa conceitual para explicar a relação entre esses fenômenos,
exigindo que os estudantes, como
suas considerações.
2.3 – c) Avaliação/reestruturação
RESULTADOS
elaboração do conhecimento sobre Jogos Populares nas aulas de Educação Física, favoreceu na
elucidação da realidade estudantil, especificamente quando se apreendeu (discutindo,
vivenciando e recriando):
discussão sobre a Indústria Cultural, sem que antes os estudantes percebessem que os Jogos
Populares, possuem características, histórias e
brinquedo.
Nas aulas de Educação Física, uma das formas de elucidar a realidade é quando os estudantes
percebem que, atualmente, algumas manifestações culturais, deixam de ser produzidas pelo
próprio praticante, para
se tornar uma mercadoria. Nesse sentido, o processo mercantil, objetivando o lucro, separa a
atividade criativa daquele que anteriormente
era o próprio produtor, fazendo com que ele apenas passe a consumir
de compra e venda.
Verificou-se isso em alguns textos e mapas produzidos pelos estudantes, tais como no texto do
estudante x: “A indústria cultural, produz
e vende a bola com que jogo três cortes, a pipa que já comprei, a peteca
isso quando o número de aulas, para dar conta do objetivo proposto, foi
CONCLUSÕES
desses jogos vêm perdendo espaço para outras manifestações, principalmente aquelas ligadas
às tecnologias em avanço na sociedade contemporânea (vídeo games). Esse “elo perdido”
como anuncia Santos
(2009), tem a ver com a própria intervenção das crianças/jovens atualmente (saindo das ruas e
ficando nos quartos, comprando os jogos e
brinquedos ao invés de fabricá-los) e com a Indústria Cultural que tornou os Jogos Populares
meras mercadorias.
pipas, da amarelinha, tacos/bets, e de como aquilo fazia parte do cotidiano nas ruas?
Nem por isso, ao ser ensinado nas aulas de Educação Física sobre
essas questões mais amplas envolvendo elementos econômicos, políticos, sociais que afetam a
mudança das práticas em relações aos tipos de
e para os ambientes virtuais, pois elas são reais e fazem parte do acervo
cultural humano.
desse conhecimento (Jogos Populares) desde o inicio do ensino fundamental. Desse modo, a
primeira recomendação é que se estruture um
Ressalta-se que, durante esse ensino, ao longo dos anos do ensino fundamental, professores e
estudantes devem aprender inclusive a
construir os próprios jogos com materiais recicláveis, como se fazia antigamente. Quem não se
lembra das latas de óleos, pedaços de cabo de
vassouras, bolas de meias, pedaços de tijolos entre outros recursos que
qual alguns monitores (estudantes das séries finais do fundamental) administram esportes
durante o intervalo. Por isso, a ideia é fazer desse
para a turma como eram as suas brincadeiras, os nomes, materiais e espaços utilizados entre
outras reflexões que contribuíssem na integração
a pouco mencionada.
Finalizamos com uma afirmação que buscamos mostrar no trabalho “não existe ensinar sem
aprender e com isto o ato de ensinar exige
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho D’água,
1995.
2005.
SANTOS, Gisele F. L. Origem dos Jogos Populares: em busca do “elo perdido”. IV Congresso
Norte Paranaense de Educação Física Escolar (CONPEF).
1/1
Introdução
A prática no processo educacional, com certeza é uma das partes mais importantes da
Educação, enquanto processo. Mas também, não podemos dissociá-lo das etapas do processo
de planejamento, seleção de conteúdos e atividades e reflexão sobre as mesmas para uma
nova elaboração das mesmas etapas, como um ciclo.
Como consta nas Diretrizes Curriculares da Prefeitura Municipal de Curitiba (2006), devemos
ser conscientes das limitações e das possibilidades da educação escolar, ou seja, que a
educação escolar não é a única responsável ou solução para todos os problemas sociais, mas
que nela temos possibilidades de reflexão, reprodução e criação de ações. Para complementar
esta idéia entre as possibilidades, limites e expectativas incumbidas na escola, cito Vago (2006)
em que o autor manifestou as palavras do professor Marcus Aurélio Taborda de Oliveira, ditas
em um congresso. Ela consiste em promover um afastamento crítico de duas visões extremas
da educação na escola, consideradas pelo autor, a primeira seria o chamado “otimismo
pedagógico” onde a escola é incumbida da solução para todos os problemas e responsável por
tudo o que acontece decorrente disso, e a outra é a de que a escola não pode nada em frente
aos problemas que encontra, ou que, em outras palavras ela é estagnada, apenas agente
passivo na formação dos indivíduos e constituição da sociedade. (OLIVEIRA, apud VAGO, 2006:
1)
Posto isto, Tentar identificar as necessidades, bem como refletir sobre os aspectos ocorridos
durante a prática, pode ajudar na resolução e ou diminuição de alguns dos problemas
educacionais encontrados e pertinentes às aulas. Para que isto ocorra, necessitamos intervir de
forma consciente na escola e também refletir sobre os resultados desta intervenção, para novas
ações na escola, formando um processo contínuo. Como Libâneo (1994) expressa: “A
estruturação da aula é a organização, sequência e inter-relação dos momentos do processo de
ensino. Toda atividade humana implica um modo para atingir seu objetivo. O trabalho docente
é uma atividade intencional, planejada conscientemente visando atingir objetivos de
aprendizagem. Por isso precisa ser estruturado e ordenado” (LIBÂNEO, 1994: 96)
O trabalho descrito ocorreu durante a disciplina de Prática de Ensino do Curso de Graduação
em Educação Física, da Universidade Federal do Paraná. E consistiu em várias etapas, descritas
sucintamente neste trabalho. Em primeiro momento, esta etapa consistia na escolha da
instituição onde seriam feitas as intervenções, através do contato com as mesmas, e permissão
para desenvolver um trabalho, estabelecendo um acordo entre a equipe pedagógica da escola e
a universidade, já com uma base teórica para nortear as observações que seriam desenvolvidas
na etapa seguinte. Depois que foram feitas às observações das aulas, que propiciaram: Uma
aproximação da realidade escolar, um reconhecimento do contexto das aulas de Educação
Física na escola em questão, ambiente estrutural da escola, de possíveis problemas a serem
trabalhados, e também, dos próprios alunos e demais peculiaridades. Então foram elaborados
planejamentos e realizadas as intervenções, com base em uma problemática, concretizando os
mesmos, e por último, um retorno deste trabalho e produção deste artigo final.
Esta Escola em questão é uma C.E.I. (Centro de Educação Integrada) da regional do
Pilarzinho, e atende em sua maioria crianças das classes de baixa renda, com ensino de 1º ao
4º ano do Ensino Fundamental e classe especial. A classe em específico em que foram
ministradas as aulas foi a 4ª série do antigo ensino de oito anos. As aulas de Educação Física
eram geminadas e ocorriam nos dois últimos horários de segunda-feira.
Nestas observações que realizamos na primeira etapa, concluímos que a maior necessidade
a ser trabalhada naquele contexto, seria a problemática da Socialização nas aulas de Educação
Física, já que ocorriam muitos problemas de desavenças, discussões e xingamentos entre os
alunos nas aulas e principalmente, no desenvolvimento de atividades em grupo.
Dias (2008) nos traz a idéia da socialização no ambiente escolar e sua principal justificativa.
Para a autora, a escola como espaço de socialização da cultura, ocupa um lugar privilegiado
para este tipo de relações, pois compreende a formação inicial das pessoas, colaborando nas
suas posições perante o mundo. Além disso, que as crianças e adolescentes integrantes do
espaço escolar, interagem socialmente, e essa interação, ocorrida nesta fase, ajuda os alunos
na compreensão de si mesmos e seus outros sociais, construindo os alicerces para a vivência
efetiva da cidadania. Eu ainda acrescentaria nesta idéia de pensamento, uma vivência quase
que específica da nossa área, que são as relações das pessoas em seus grupos de amizade, nos
jogos e brincadeiras, que simulam a sociedade e a compreensão da vida em sociedade, com o
respeito às diferenças e ao próximo.
Para Borsa (2007) a escola exerce um importante papel na consolidação do processo de
socialização, permitindo, dentre outras coisas, a formação de parte da identidade, adquirem-se
hábitos de se comportar, aprender, valores morais e éticos que envolvem a sociedade.
Passada a fase de observações, tivemos mais um tempo para o embasamento teórico sobre
as questões observadas e realmente rebuscar na teoria formas de conceber a prática (práxis),
para elaborar o planejamento, organização e sistematização das intervenções, que viessem a
corresponder como meio para se trabalhar a problemática. Neste momento, deixamos
esclarecidos os objetivos a serem alcançados, os conteúdos à serem ministrados, a metodologia
escolhida para ser empregada e também a forma de avaliação do processo. Ou seja,
elaboramos um planejamento docente para a intervenção e é claro que este tinha que ser
coerente com o trabalho proposto, e igualmente o plano de cada aula articulado com o
planejamento, a fim de andarem no mesmo sentido.
Nesta fase, dividimos as intervenções em duas partes, cada uma com um “bloco” de quatro
intervenções, nas quais foram trabalhadas a mesma problemática, somente alternando o
conteúdo específico que seria empregado, por preferência minha, para alternar o conteúdo. O
planejamento docente é definido por LEAL (2009) como uma ação refletida, onde o professor
elabora continuadamente reflexões sobre a sua prática, e que tem sua peculiaridade perante
outros planejamentos, por lidar com indivíduos em processo de formação humana. Por isso,
enfatiza a necessidade do professor:
“Decidir, prever, selecionar, escolher, organizar, refazer, redimensionar, refletir sobre o
processo antes, durante e depois da ação concluída” [...] “Planejar, então, é a previsão sobre o
que irá acontecer, é um processo de reflexão sobre a prática docente, sobre seus objetivos,
sobre o que está acontecendo, sobre o que aconteceu.” (LEAL, 2009: 2)
O conteúdo estruturante escolhido para as intervenções foi o dos Jogos, na primeira parte
foram os jogos cooperativos especificamente e, após mais um período para analisar as
primeiras intervenções e repensar a próxima parte (bloco com quatro aulas), na segunda
sequência de intervenções foi selecionado o conteúdo dos jogos pré-desportivos, sem perder o
enfoque de trabalhar a socialização nas aulas. A escolha do conteúdo dos jogos como meio
para trabalhar a socialização e cooperação pode ser representada por Tonioli (2009) que ao
concluir seu artigo que fala dos jogos como meio de socialização de crianças, menciona
acreditar que as melhores atividades para a promoção de trabalhos em grupo na primeira
infância, não são as que estimulam a competição, mas sim a cooperação. Momento em que
estas atividades os permitem conhecer as capacidades, limites e potencialidades não só em
âmbito individual, mas do grupo inteiro, fato muito importante para o desenvolvimento social
da criança. Aqui a autora fala da educação na primeira infância, mas acredito que possamos
fazer uma transferência para todo o desenvolvimento da criança. Correia (2007) menciona que
existem várias tentativas de buscar propostas para trabalhar a cooperação e inclusão nas aulas
de Educação Física, mas que, um fato importante que não podemos esquecer é da forte
influência imposta pela competição, legado da ‘esportivização’ da Educação Física Escolar.
As Diretrizes Curriculares da Educação Física (2006) também manifestam ver o jogo como
um momento de lazer, de desenvolvimento de raciocínio lógico e socialização, como
propusemos neste planejamento. Interessante destacarmos que após o período de
planejamento das aulas, também fazíamos constatações de tudo o que acontecia durante a
aplicação dos mesmos, como pontos negativos, pontos positivos e resposta dos alunos, para
poder reelaborar uma prática cada vez melhor, sempre procurando aprender com os erros para
aí então planejar de novo.
Também foi procurado trabalhar a motivação e a diversificação nas atividades, buscando
estimular o interesse dos mesmos para os temas abordados na aula, trazendo atividades novas,
que chamassem a atenção e fossem voltadas para a realidade e cotidiano dos quais estão
inseridos, estabelecendo reflexões e considerações de forma dialogada. Ao final, foi realizado
um relato do processo em forma de desenho ou escrita pelos próprios alunos, para obter um
retorno das informações, em caráter de feedback para o professor, no qual, os alunos
expressaram as percepções que tiveram no transcorrer do processo e seu olhar sobre as
atividades realizadas, quais delas foram melhor recebidas, o que eles puderam compreender no
final das aulas, etc. Detalhe, que os valores morais e conteúdos articuladores, ou também
chamados de transversais eram abordados em todas as aulas, na medida em que, os temas
emergentes foram aparecendo.
As dificuldades encontradas, para além do que já havíamos constatado, que era a dificuldade
de relação em grupo entre os alunos, e que já estava sendo trabalhada, foi à desmotivação de
alguns alunos durante o decorrer das aulas, onde alguns começaram a não fazer as atividades,
depois a cada tempo que se passava mais alunos queriam ficar sem fazer. Visto isto, me
deparei com um novo problema a ser trabalhado, a motivação como um dos pontos principais
da aula, fatores que prejudicavam também a participação dos alunos eram a competitividade
excessiva de alguns integrantes do grupo e o sol e calor forte, que fazia com que alguns alunos
saíssem no meio da aula ou até mesmo nem participassem, salvo uns que queriam entrar na
aula, depois que acompanhando do lado de fora achavam que iam gostar da atividade.
Durante as práticas de aula, é comum que os professores se depararem com dificuldades e
até limitações no processo docente, como Bracht et. al. (2005) relata em sua pesquisa ação em
Educação Física, estabelecendo uma distinção dos limites que denomina macro e micro. No
primeiro o autor se refere a problemas governamentais, de relações públicas etc. Já no
segundo, são os problemas específicos da escola como instituição. Ou seja, compreendemos
com isso que no cotidiano escolar, no desenvolver da prática pedagógica, estão implícitos
limites e dificuldades de vários tipos, das quais necessitaremos contornar, não somente de
origem social e política (externos a escola), mas também no aspecto organizacional da escola,
na relação professor/alunos, problemas de estrutura, (exemplos internos). Neste trabalho, o
autor ressalta a importância de discutir as dificuldades encontradas em grupo, trazendo idéia da
formação continuada de professores, em busca de refazer, e de maneira pensada, as suas
práticas.
Também pude perceber que, mesmo com falta de estrutura, materiais é possível desenvolver
atividades diversas com as crianças, utilizando de criatividade e adaptação para regras,
materiais e etc.
E com a realização de uma atividade final, na qual os alunos deveriam desenhar ou escrever
palavras do que ficou para eles do conteúdo dos Jogos, eu pude perceber que, a maioria deles,
entendeu o propósito dos jogos como meio de socialização, ou os que não manifestaram essa
perspectiva, desenharam as atividades que mais gostaram com seus amigos jogando, fato
importante e que descrevo como uma boa resposta da turma frente ao trabalho desenvolvido
durante este ano de 2009.
No âmbito da participação nas aulas, poderíamos fazer pesquisas com os próprios alunos
sobre o motivo da desmotivação nas aulas, assim como, do que é motivante de modo geral
para eles, como alguns autores fizeram em pesquisas com o intuito de verificar a desmotivação
nas aulas de Educação Física (CHICATI, 2000; MARZINEK & NETO, 2007)
Considerações
Ao final deste trabalho, não procuro apresentar esta forma de planejamento mostrado como
resultados, pelo contrário, minha intenção principal é de apresentar que as situações ocorridas
durante as aulas e seu planejamento andam de mão dadas, uma da base para a outra, em um
processo contínuo e ao mesmo tempo singular, onde cada aula, cada turma é uma situação.
Portanto, não venho dispor de receitas prontas para encarar os problemas no planejamento e
nas atividades, mas de formas de se pensar, de sistematizar o planejamento para o trabalho de
uma problemática, No qual se possa observar, diagnosticar, planejar e estabelecer a prática de
forma consciente, tentando diminuir e contornar os problemas encontrados no caminho, assim
como, estimular a reflexão e a criação de novas práticas dentro da escola.
E por último, relatar que toda esta experiência permeada pela disciplina de Prática de ensino,
é de fundamental importância para a vida profissional, momento em que, em âmbito
acadêmico, podemos ter a noção de planejar, o que pensar quando planejamos e ainda das
dificuldades, limites e possibilidades deste trabalho, que para muitos pode ter sido a primeira
vez que estiveram de frente com esta situação, enquanto sujeitos do processo de ensino e
planejamento. E sem menos importância, agradecer a atenção e a disponibilidade da Escola
C.E.I. Professor Lauro Esmanhoto, sua equipe pedagógica (aqui destaco os professores de
Educação Física Paulo e Eduardo) que nos deram carta branca e liberdade para realizarmos este
trabalho, e a direção da escola, pelo apoio e abertura das portas na realização desta ponte
entre a Universidade e a Escola. Pela parte da Universidade, os professores Sérgio e Carmela,
pelas direções, conselhos e expectativas neste trabalho. Entendendo a universidade e a escola
como consciência da importância dos jogos, da socialização, noção das regras. A diferença
importante entre os jogos competitivos e cooperativos, do esporte para o jogo. Aqui incluo mais
uma vez uma citação do documento das Diretrizes Curriculares do Município de Curitiba (2006).
Por este ser o documento que norteia o processo de planejamento das escolas publicas da rede
municipal, caso da escola em que foi desenvolvido o trabalho. “Portanto, o papel do jogo no
contexto escolar vai além do simples ato de ensinar e aprender, o que importa é construir
conhecimentos e formar espaços de aprendizagem para professores e alunos, como uma troca
de informações e conhecimentos.
Referências
1/1
Introdução
Sendo a escola parte fundamental no desenvolvimento, tanto pessoal como social da criança,
esta “tem a função de promover a correção da marginalidade, na medida em que contribui para
a constituição de uma sociedade cujos membros, não importam as diferenças de quaisquer
tipos, se aceitem mutuamente e se respeitem na sua individualidade específica” (Lane, 2001,
citado por Bento & Metzner, n.d., p. 3). Na EF, a criança vive um processo constante de
socialização, adquirindo padrões de comportamentos e valores sociais, podendo contribuir com
essas questões por meio da cultura corporal de movimento (cf. Miranda, 2001). Para isso,
existem diversos fatores influenciadores que contribuem para o desenvolvimento integral da
criança, sendo estes, e na perspetiva de Bento & Metzner (n.d.) "ambiental, neurológico,
afetivo, cognitivo, nutricional. Esses fatores podem ainda ser desenvolvidos através de
atividades motoras desenvolvidas pela própria criança” (p.5).
Neste estudo em concreto, tornou-se importante atender à temática da transição entre a
educação pré-escolar e o 1.º ciclo do ensino básico (1º ceb). Como tal, centrámo-nos em
atividades que promovessem simultaneamente as duas temáticas, visto ser fundamental que a
criança, nesta fase do seu percurso escolar, estabeleça relações afetivas, sentindo-se apoiada e
integrada na comunidade educativa.
Assim sendo, para que haja socialização entre indivíduos e para uma boa adaptação ao
contexto do 1.º ceb, é necessário a promoção de atividades, nas quais esteja sempre presente
o trabalho sobre as atitudes e valores, tal como o respeito, a partilha, cooperação, e ainda, o
trabalho sobre opiniões discriminativas e preconceituosas. É indispensável uma exploração
sobre estes aspetos para a formação e inclusão social do educando, ou seja, para que o aluno
possa desenvolver as aprendizagens favoráveis à convivência na sociedade. Para isso, os
profissionais de educação devem intervir, planificando não só jogos como também atividades
em que as crianças realizem um gasto energético, com o intuito das crianças estarem bem
consigo próprias e com as outras e por isso, consequentemente, é desenvolvida a socialização
entre as crianças.
Deste modo, “na escola a criança aprende comportamentos e valores sociais diferentes dos
já aprendidos” (Miranda, 2001, citado por Bento & Metzner, n.d., p.2). Consideramos que é
função da escola proporcionar situações que possibilitem à criança compreender a sociedade
em que vive, permitindo-lhe uma boa integração e adaptação.
Os jogos estimulam a cooperação, permitem um maior e mais direto contacto entre as
crianças e, como consequência, estas facilmente são capazes de estabelecer relações afetivas,
desenvolver valores como o respeito mútuo, confiança e o trabalho em equipa. Estes,
naturalmente desenvolvem a socialização entre as crianças, pois os jogos são momentos em
que poderão desfrutar do brincar com os amigos. Relativamente à organização destas
atividades, na perspetiva de Condessa (2006), citado por Medeiros (2012), “devem ser
organizadas, permitindo uma alternância entre: a liberdade e o controlo; a participação de cada
criança individualmente ou em grupo; a estimulação e o reconhecimento de novas formas de
movimento e a repetição de exercício; as situações de experimentação motora e as de
aquisição e aperfeiçoamento de habilidades motoras” (p. 39). Para além disso, na organização
de uma sequencia didática de EF, deve-se ter em consideração “quem”, “onde”, “o quê” e
“como aprende”. Refletindo sobre “quem” aprende, naturalmente que o profissional de
educação estará a refletir sobre as crianças. Portanto, deverá atender às características e fases
de desenvolvimento, cognitivo, sócio afetivo e psicomotor das crianças, mais concretamente às
sequências de desenvolvimento do movimento. Relativamente ao “onde”, o professor ao
planificar uma atividade deste cariz, deve sempre refletir na escolha do ambiente físico e nos
materiais, pois estes são fundamentais ao desenvolvimento da atividade, permitindo um maior
ou menor envolvimento das crianças. No que respeita ao aspeto “o que” aprendem, este
carateriza-se pelas competências e/ou conhecimentos que irão ser explorados com as crianças,
as quais e/ou os quais, deverão ser adquiridos ou desenvolvidos no decorrer das atividades. Por
fim, no “como”, o professor deve refletir, essencialmente, sobre quais as estratégias mais
adequadas de ensino e quais as situações de aprendizagem que devem proporcionar às
crianças experiências ativas, significativas, diversificadas, integradas e socializadoras (Cf.
Condessa, 2009, citado por Pacheco, 2011).
Em síntese, a EF é fundamental ao desenvolvimento global e integral das crianças, pois
através do lúdico e da criatividade, o profissional de educação consegue, com maior facilidade,
estimular a implicação das crianças nas atividades, proporcionando um maior empenho nas
suas aprendizagens e, consequentemente são evidenciados bons níveis de bem-estar
emocional. Assim, as atividades desenvolvidas deverão basear-se, essencialmente em jogos,
tanto no interior como nos espaços exteriores, pois assim, permitirá às crianças desfrutar, com
prazer, de um ambiente propício à socialização.
Procedimentos metodológicos
O presente estudo é de natureza qualitativa, tendo surgido de uma proposta para a
realização de um projeto de investigação ação. Este foi composto por uma amostra de três
crianças, caraterizadas como menos sociáveis (crianças, “Tiago”, “Vasco” e “Inês”) e três
crianças caraterizadas como mais sociáveis (crianças “Diogo”, “Pedro” e “Eva”), com idades
compreendidas entre os seis e os sete anos. A estas crianças foram atribuídos nomes fictícios.
Esta seleção baseou-se nos seguintes critérios: i) maior ou menor interação com as crianças do
grupo; ii) bem-estar emocional e iii) implicação nas atividades. Estas crianças estão integradas
na escola E.B.1 de Esgueira, uma freguesia da cidade de Aveiro (Portugal). A amostra foi
definida, numa primeira fase, com base nas observações concretizadas no período de
integração das crianças ao novo contexto, e ainda na troca de opiniões com a docente titular de
turma, que aprovou e validou toda esta investigação. As avaliações decorreram ao longo de 6
sessões entre outubro e dezembro de 2014. Estas tiveram como principal objetivo a promoção
da socialização entre as crianças recém-chegadas ao novo contexto educativo. Pensámos que
seria pertinente estabelecer, previamente, a formação dos grupos, para que, as crianças
estabelecessem relações, não somente com as crianças com as quais já estabeleceram
afinidade, como também com as restantes. As sessões foram estruturadas da seguinte forma:
“Livra-me se puderes”
Consistiu no tradicional jogo da apanhada. As
crianças, após serem caçadas, tinham de abrir
27 de outubro
os membros inferiores para que os restantes
colegas as livrassem, rastejando por baixo das
crianças apanhadas.
“A estátua”
Concretizou-se a pares e a cada elemento foi
atribuído uma letra, de forma a identificarem
em qual momento teriam de representar a
10 de novembro
estátua ou a sua imitação. Esta atividade foi
acompanhada por uma música de fundo. Ao
parar a música, os pares tinham de assumir a
sua função.
“O semáforo”
As crianças, dispostas em roda e em pares,
tinham de dançar. Ao sinal da professora,
deveriam executar diferentes movimentos.
24 de novembro Quando surgisse o sinal vermelho, as crianças
continuavam a dançar com o seu par; ao sinal
verde, a música parava e elas continuavam a
dançar; ao sinal amarelo, as crianças
trocavam de par.
Recolha de dados
Para a recolha dos dados, recorremos, não só à observação direta como também através da
captação por vídeo-gravação das atividades. Devemos referir que o tempo de filmagem não foi
o mesmo em todas as gravações e por isso, consequentemente, alguns dos valores recolhidos
não foram totalmente exequíveis. Além disso, os dados de avaliação recolhidos basearam-se na
2ª e 6ª atividade.
Tratamento de dados
Tanto para a primeira como para a última avaliação, utilizámos à ficha de avaliação geral do
grupo (Ficha 1g), integrada no SAC (Sistema de Acompanhamento das Crianças). Para o seu
preenchimento, baseámo-nos nas indicações fornecidas por essa ficha, estabelecendo uma
ligação entre os níveis de bem-estar emocional e implicação com a socialização do grupo.
Assinalámos a vermelho as crianças que nos suscitavam preocupação, em termos de
socialização e bem-estar ou implicação (níveis baixos); a amarelo, as crianças que pareciam
funcionar em níveis médios, tendencionalmente baixos, ou as crianças que suscitavam dúvidas;
e a verde, as crianças que, claramente, pareciam usufruir bem da convivência com as
restantes.
Ainda para a análise e tratamento dos dados, optámos por organizá-los segundo alguns
critérios, previamente definidos e explicitados no resumo do artigo. No entanto, ao longo da
análise, destacaram-se apenas cinco critérios, designadamente: o número de vezes que sorri; o
número de participações/interações com as outras crianças; a autoconfiança e autoestima;
energia e persistência.
Os dados obtidos revelam que existiu uma evolução positiva no que respeita aos parâmetros
selecionados para avaliar os níveis de socialização entre as crianças, conforme os dados
apresentados no quadro 3.
Quadro 3. Resultados dos parâmetros de socialização entre as crianças – avaliação inicial e final (SAC)
N.º
Nomes de N.º de
Autoconfian
Avaliaçõe das veze participações/interaç Energi Persistênci
ça e
s criança s ões com as outras a a
autoestima
s que crianças
sorri
Pedro 5 >5 5 5 5
No que respeita ao Tiago, durante a segunda atividade, apresentou no número de vezes que
sorriu, três a cinco vezes; no número de participações/interações com as outras crianças
evidenciou um número de vezes superior a cinco; em relação à autoconfiança e autoestima,
energia e persistência a criança demonstrou, respetivamente, os níveis três, dois, três. Na sexta
atividade, o Tiago apresentou uma evolução significativa, pois, relativamente ao número de
vezes que sorriu, este evidenciou um número superior a cinco; o número de
participações/interações com as outras crianças manteve-se superior a cinco; quanto à
autoconfiança e autoestima, energia e persistência, apresentou, respetivamente, nível quatro,
quatro, cinco.
A Inês, no decorrer da segunda atividade, sorriu de três a cinco vezes e participou/interagiu
com as restantes crianças mais do que cinco vezes. Na autoconfiança e autoestima e ainda na
energia, foi avaliada com o nível dois e na persistência com o nível três. Na sexta atividade,
demonstrou uma pequena evolução. A Inês sorriu e participou/interagiu mais do que cinco
vezes, os níveis de autoconfiança e autoestima aumentaram para cinco e os níveis de energia e
persistência para o nível quatro.
O Diogo e o Pedro mantiveram os valores expectáveis, ou seja, os níveis mais elevados.
Contudo, apesar destas crianças terem mantido os valores iniciais, não invalida a possibilidade
de uma evolução, pois, claramente evoluíram nas atividades. No entanto, devido ao
estabelecimento de uma escala de zero a cinco, as crianças não obtiveram um valor superior ao
definido, tornando a avaliação um pouco injusta.
Por último, a Eva que, apesar de ter demonstrado uma evolução, mais especificamente nos
parâmetros energia e persistência, manteve os mesmos valores quanto ao número de vezes
que sorriu, ao número de participações/interações com as outras crianças e, ainda, na
autoconfiança e autoestima.
Apesar da variação apresentada nos resultados obtidos, estes indicam uma evolução nas seis
crianças, isto é, tanto as crianças mais como as menos sociáveis demonstraram atitudes
favoráveis à socialização, cooperação e entreajuda nas atividades. Esta afirmação é sustentada
pela Organização Curricular e Programas (1998), conforme os artigos 7.º e 8.º da Lei de Bases
do Sistema Educativo, no qual é defendido que o professor deve:
Conclusões
No decorrer deste projeto de investigação ação, o nosso principal desafio, relacionou-se com
a estimulação da socialização entre as crianças recém-chegadas a um novo contexto, tendo
sempre presente uma harmoniosa adaptação ao 1º ceb.
De acordo com os dados obtidos, podemos concluir que na maioria dos casos a evolução foi
claramente evidente. Esta poderá estar relacionada com diferentes fatores, tais como:
Salientamos o caso da Inês, tornando-se importante refletir sobre os dados obtidos. Apesar
de ter demonstrado uma evolução no decurso das atividades, comparativamente ao Vasco e ao
Tiago, caraterizadas, também, como menos sociáveis, esta evolução não foi tão evidente. Não
obstante, no nosso parecer, esta criança precisa de um maior reforço, pois, será uma mais-valia
para o seu sucesso educativo a todos os níveis e ao longo do 1.º ceb.
Ainda refletindo sobre os dados obtidos, no que respeita à Eva, caraterizada como mais
sociável, estes surpreenderam-nos. Embora no decorrer das atividades a criança tenha
evidenciado bons níveis nos vários parâmetros, estes, nem sempre foram ao encontro das
nossas expectativas, comparativamente às restantes crianças, também consideradas como mais
sociáveis que, caso existissem níveis superiores de avaliação, estes, decerto, eram facilmente
alcançados.
Bibliografia