castelo do marquês de Barradouro continuava abandonado. Todo o povo de Vila Real sabia que era mal-assombrado. Contavam-se muitas histórias sobre fantasmas e almas penadas do castelo. Por isso, quando o povo soube que algumas pessoas foram morar lá, ninguém conseguia acreditar.
- Devem ser loucos!
- Como poderão viver rodeados de fantasmas? - Não ficaria surpreso se alguém saísse de lá machucado.
Assim o povo no mercado e nas tavernas comentava.
No parque, enquanto brincavam com seus ioiôs, as crianças discutiam sobre as aparições do castelo.
- Quem se atreve a entrar lá? – gritou um menino
com a cara cheia de sardas. – Vocês, meninas, são todas umas medrosas. - Isso não é verdade; é que não acreditamos em fantasmas – contestou Catarina, a mais velha das três amigas, Isabel, Julieta e ela mesma. - Pois então desafio vocês a entrarem no castelo... Ah! E como prova, devem trazer de lá um candelabro.
Quem falava era Marcelo, um menino grandalhão,
mas muito bobo.
- Entraremos, mas só se você e seu amigo nos
acompanharem – insistiu Catarina.
E foi assim que as cinco crianças combinaram de se
encontrar mais tarde em frente à grade de ferro que dava acesso ao velho casarão.
- Teremos de esperar que os novos proprietários
saiam da casa, porque, se nos flagrarem lá dentro, chamarão os guardas – esclareceu Julieta, a mais inteligente e sensata das três.
Para não levantarem suspeitas, as crianças se
esconderam atrás de umas cercas. Dali, poderiam observar sem serem vistas.
Estava escuro e não parecia haver movimento nem
dentro nem fora do castelo. Porém, quando o sol se escondeu totalmente, as crianças ouviram o trote de uns cavalos. Era uma carruagem fúnebre coberta de tecido negro. Os cavalos relincharam. Um homem vestido com uma sobrecasaca de cavalariço desceu e abriu a grade para sair da mansão. Quando a carruagem desapareceu diante das crianças, elas olharam umas para as outras muito assustadas.
- Talvez vão fazer um funeral e por isso estão usando
a carruagem – disse o amigo de Marcelo. - Bem, seja lá o que for, temos que nos apressar se quisermos entrar antes que eles voltem – respondeu Julieta. – E temos que ter cuidado, pode ser que alguém esteja em casa!
As crianças rodearam a cerca do jardim e
encontraram uma pequena porta de madeira que ficava atrás da mansão. Por sorte, a fechadura estava quebrada e, assim, conseguiram entrar.
- Acho que é melhor voltarmos – propôs Isabel, a
mais assustada das três meninas; os demais, porém, nem sequer a ouviram.
Tinham descoberto uma janela entreaberta e por ali
entraram.
- Como está frio aqui!
Os móveis e os espelhos do cômodo estavam todos
cobertos com panos pretos. - Que lugar assustador! Está me dando frio na espinha – gemeu Beto.
Imediatamente sentiram um frio muito intenso que
percorreu seus corpos inteiros. De repente, eles viram algo como uma silhueta esfumaçada que se movia pelo quarto.
- Aaaaah!!! – gritaram todos.
- Vamos embora!
Tentaram sair pela janela, mas não conseguiam abrir
o vidro.
- Está trancada, a trava está totalmente enferrujada!
Correram apressados por um sombrio corredor.
Tentaram abrir várias portas, mas todas estavam trancadas à chave. Desceram empurrando um ao outro por uma escadaria de mármore branco e chegaram a um enorme salão. A porta de entrada, de madeira maciça, estava presa por enormes tábuas atravessadas.
Por mais que tentassem, não conseguiam movê-las
nem um milímetro. - Deve haver outra saída – gritou Julieta – Temos que nos acalmar e pensar. - Eu não quero pensar, quero voltar para a minha casa e a minha mãe – choramingou Marcelo. - Olhem, ali tem outro quarto!
Em um canto da sala, viram uma portinha de vidro
fosco. Não estava fechada, e eles entraram com cuidado e amedrontados. O quarto estava escuro, mas, pouco a pouco, foram se acostumando à penumbra. Em uma cama antiga com dossel, repousava uma jovem de uns 16 anos. Era muito bonita, tinha a pele branca como uma boneca de porcelana, longos cachos de cabelo ruivo e usava uma roupa antiga com rendas.
- Está morta? – sussurrou Isabel.
- Parece que respira...
Os garotos se aproximaram com cuidado e ficaram
em pé ao redor da cama. Viram que a menina tinha dois furos pretos de um lado do pescoço. De repente, a jovem abriu os olhos e sentou-se reta, como se fosse movida por molas. Todos deram um salto para trás. A garota olhou para eles e estendeu a mão; parecia pedir socorro.
- Não se preocupe, senhorita, vamos te ajudar a sair
daqui – disse Catarina – Esta casa é mal-assombrada.
Marcelo se esqueceu por um momento de seu medo
e se aproximou da menina. Ela suspirou e sorriu. Entre seus lábios surgiram dois grandes dentes caninos brancos. Seu sorriso era cruel e pelo canto da boca escorria um fio de sangue.
- É uma vampira, vamos fugir! – gritou Julieta.
Correram como o diabo foge da cruz, e subiram de
novo pela escadaria.
- Precisamos de umas cabeças de alho para nos
proteger – disse Tomás, que rangia os dentes. - Se aqui é um covil de vampiros, provavelmente não vai ter alho na despensa – disse Catarina. - Mas poderíamos nos esconder na capela; os vampiros não podem entrar num lugar sagrado. Minha avó já foi a empregada do castelo e me contou que as paredes da capela estão enfeitadas com desenhos de anjos – explicou Julieta. - E onde fica essa tal capela? – perguntaram todos de uma só vez. - Não sei, mas deve ser na cripta.
Nesse momento, apareceu de novo a silhueta
esfumaçada. Ficou flutuando a um canto. Os meninos se abraçaram tremendo. Depois de uns momentos arrepiantes, Julieta murmurou:
- Acho que ele não quer nos machucar. Você pode
nos ajudar – perguntou a silhueta.
Ela fez um gesto afirmativo.
- Queremos sair daqui!
O fantasma atravessou a porta, os meninos a abriram
e o seguiram. Ele os levou até o fundo do corredor e ficou voando diante do retrato de uma formosa dama. Catarina logo percebeu que poderia se tratar de uma passagem secreta. Então, moveram o quadro e, de repente, se abriu um vão na parede.
- Meninos, venham! Não vou fazer nenhum mal a
vocês. Quero ser sua amiga. Aquela voz era da vampira. - Rápido, entrem todos! – gritou Julieta.
Atravessaram o túnel e chegaram a uma ruazinha
que dava na pequena igreja do povoado.
- Estamos salvos!
As crianças voltaram para suas respectivas casas, e
agora estavam muito mais calmas. O que posso lhes assegurar é que nunca mais ficaram com vontade de entrar em casas mal-assombradas!