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Elfa - Volume I

Autor(es): elfman

Sinopse
Aventuras espadas & calcinhas com um grupo de matadoras de monstros e caçadoras de tesouros que inclui uma
elfa, uma fada, uma coelhinha ninja e uma humana com a bunda gordinha.

Notas da história
* Escrito com o objetivo de sacanear todos os clichês de mangás, animes, rpgs e histórias de fantasia que
existem, nada se salva e todo elemento possível de se imaginar nesse tipo de história acaba aparecendo uma hora.

* A princípio pode não parecer, mas é uma história bastante complexa e com dezenas de personagens e elas
passam por algumas aventuras bastante pornográficas de vez em quando, então leia por sua conta e risco.

* Não leia a sério.

(Cap. 4) III - Nos Tempos de Crise

Notas do capítulo
Onde se faz confusão com poções mágicas e, quando nasce o dia, nossa elfa acorda-se em situação inusitada.

Parte III - Nos Tempos de Crise

“Onde se faz confusão com poções mágicas e, quando nasce o dia, nossa elfa acorda-se em situação
inusitada.”

“Vamos, abri este portão, pelas sagradas areolas dos peitos de Sene!” No fim do capítulo anterior ficou
dito que chegara minha tia aos portões da vila da Cerejeira Sagrada, pouco depois de cair a noite. E era lá que
estava ela agora berrando sem parar, com os pés doloridos do tanto de terreno percorrido desde a aldeia dos ogros
até ali, como afirmava ela própria: “Estou caminhando há muitas horas e quero descansar!”
“Não é permitida a entrada no vilarejo sem um convite do grão-duque, elfinha,” dizendo sempre coisas
similares a esta, os soldados do posto de vigia localizado ao lado dos portões já a haviam feito esperar por bom
tempo.

“Mas pela bunda avantajada da deusa, eu tenho um convite, já disse!”

Tochas iluminavam os muros, tanto em suas partes externas quanto nas internas, e uma brisa começava a
aliviar um pouco o calor que fizera-se sentir durante o dia. Acabava de entrar no posto a capitã Artemísia, seu
jantar havia sido interrompido por um mensageiro e ela se aproximava da pequena abertura retangular através da
qual um dos guardas observava a elfa.

“Muito bem, onde está a viajante?” Artemísia tomou o lugar do homem. Pela janelinha, viu que Pelluria
batia seu punho contra a madeira. “Elfa! Identifica-te!”

“Hm? Eu sou a Pelluria! Já me identifiquei mil vezes!”

“Já está entre nós a representante dos elfos, vinda da Cidade das Montanhas! És a enviada de qual
província?”

“Do Vale da Madeira, sou uma elfa da madeira como podes perceber!” Pelluria cruzou os braços, estava
impaciente.

“Tens um convite? Mostra-o, vamos.”

“Tá aqui.”

Ela passou a mão magra pela abertura e largou um pedaço de papel, não outro senão aquele que vimos no
primeiro capítulo desta história, o qual a capitã examinou por muito tempo nas proximidades de uma lamparina
que repousava ali numa mesa.

“Ei, posso entrar agora? Está ficando frio aqui.”

“Hm, o convite é autêntico.” Artemísia entregou-o para um dos guardas e voltou a aproximar o rosto da
abertura, examinou a elfa da cabeça aos pés. “Estás sozinha?”

“Claro, por quê?”

“Muito bem, deixai que entre. Mas com cuidado.”

Uma portinhola abriu-se no canto de um dos portões para Pelluria passar. Foi em seguida conduzida ao
posto de vigia, pequena câmara onde sentava-se um soldado atrás de uma mesa e outro ficava diante daquela
janelinha de observação já descrita. Tinha também escadas de madeira levando para um segundo andar de onde se
podia ver por sobre os muros.

“De modo que és a enviada do Vale da Madeira?” perguntou a capitã para minha tia, encarando-a com
desconfiança.

“Hum rum, sou a princesa Pelluria dos elfos da madeira!”

“E não tens uma comitiva? É estranho que tenhas vindo sozinha até aqui.”

“Ué, estranho por quê? Nós elfas da madeira somos diferentes de princesas humanas e de elfas da
montanha, não usamos comitivas nem vestidinhos de seda rosada e essas tranqueiras todas. Somos as melhores no
que fazemos e o que fazemos não é nada agradável!”

“Tens como provar que és a enviada do Vale da Madeira?” perguntou o soldado de trás da mesa.

“Bom, eu tenho o meu convite, né? Ah, e tenho a espada da minha família!” Pelluria tirou a lâmina da
cintura e mostrou o arranjo de jóias entalhado no cabo. “Olha, esta espada só pode ser empunhada pela legítima
princesa dos elfos da madeira!”
“Entendo. Bem, terás que deixar todas tuas armas aqui, pois armamentos não são permitidos no conclave,”
avisou a capitã.

“Ei, não posso me separar da minha espada! É muito valiosa, está na minha família há mais de trezentas
gerações.” Pelluria abraçou a arma. “Não posso correr o risco de perdê-la! E se a deixar, de que outra forma
poderei provar aos outros que sou a princesa dos elfos da madeira?”

“Entrega a espada, elfa. Ela será colocada no depósito de armas em conjunto com os pertences dos demais
visitantes e será devolvida quando deixares o vilarejo.”

Artemísia estendeu a mão.

“Mas esta espada é muito preciosa! Isso é mesmo necessário? Não podemos dar um jeito?”

“Fazemos deste modo para garantir a segurança de todos os enviados. Deixa ela aqui, receberás uma
garantia assinada pelo grão-duque de que a terás de volta.”

“Ai, tá bom. Lucille, minha querida, vai com a moça, logo a mamãe vai vir te buscar.” Relutante, Pelluria
beijou a ponta da espada e entregou-a para a capitã, recebendo em troca um pergaminho que guardou na cintura.
“Mas cuida bem da Luca, por favor.”

“Agora afasta tuas pernas, elfa!”

“Aaai?!” Pelluria sentiu uma das mãos da capitã se fechando em sua coxa direita. Saltou-lhe o coração.
“Que isso?”

“Precisas ser revistada.”

Pouco depois um dos guardas conduziu minha tia até a estalagem. Ficava próxima do centro do vilarejo,
logo atrás dela estava o templo e tínhamos a própria Cerejeira Sagrada separando as duas construções. Afastando-
se do templo em linhas diagonais, estavam as duas torres – aquela em que ficava a duquesinha e a em que estava
seu primo – de forma que teríamos os vértices de um triângulo se pudesse ser tudo observado do céu. As ruas
continuavam agitadas e iluminadas e naquela havia o maior número de pessoas.

Lá atrás, contudo, no posto de vigia, a capitã perguntou a um dos soldados sobre quantos enviados ainda
deveriam esperar. Ele respondeu que, contando-se com o convite da elfa, já haviam sido devolvidos todos os 32
distribuídos pelo grão-duque, portanto ninguém mais estava para chegar.

“Mm, mas estava faltando o convite da duquesinha,” lembrou-se a capitã. “Tens certeza de que foram bem
contados?”

“Sim, senhora. O da duquesa de Orqushire só pode estar entre eles, pois não há como falsificar um
convite. Todos trazem a marca secreta.”

“Bem, a serva da bundudinha deve ter encontrado o dela, então. De qualquer forma, ordena que seja esta
elfa mantida sob vigilância constante, pois é muito suspeito o fato de ter chegado sozinha e em tal horário.”

Na verdade a capitã recordava-se de que ouvira a auquesinha mencionar uma elfa durante o interrogatório
feito à tarde na sela daquele estrangeiro, por isso achou melhor agir desta forma, mesmo que apenas por
precaução. Decidiu retornar à torre, mas na entrada dela percebeu que não poderia ainda descansar, pois lá a
estava esperando uma mulher em coloridos trajes ciganos.

***

**

Quando entrou nos aposentos da duquesinha, a capitã Artemísia ouviu diálogo que a fez relutar em
aproximar-se dos quartos privados da nobre, diálogo este entrecortado por exagerados gemidos desse tipo:
“mmmmmmmmm”

“Minha senhora está gostando?”

“Tô, tá tão bom. Ai, faz um pouquinho mais rápido, Lourdes-Maria.”

“Assim?”

“Isso, com força! Ai, que vigor tens, menina!”

“Pronto, pronto, minha senhora querida, vamos fazer do jeitinho que a senhora gosta.”

“Oh, no meinho, aperta bem o meu... Hã?! Que barulho foi esse?” A duquesinha ergueu o rosto e apoiou-
se nos cotovelos para ver que a capitã entrava ali. E vinha batendo com os saltos das botas no chão para que sua
presença já ficasse anunciada antes dela chegar. “O que estás fazendo aqui?”

“Hurm. Desculpe atrapalhar, senhora.”

O local estava pouco iluminado, cortinas bloqueavam a pouca claridade vinda de fora e havia apenas dois
candelabros parcialmente acesos aos lados da cama na qual a nobre estava deitada de bruços, o colchão e os
lençóis afundados sob seu corpo, a cortina do dossel aberta. Ela vestia um corpete de seda aberto nas costas e
tinha só uma peça de pano, um saiote em forma de tira, solta sobre a lua cheia que era sua traseira desnuda (ou lua
crescente, realmente não sei que figura é a mais adequada para isto); trazia os cabelos e a pele úmidos de banho
recém tomado e os pés repousavam no colo e nas mãos da serva, a menina estava sentada na beirada da cama e
tratava-os como se fossem relíquias de frágil cerâmica.

“Espero que tenhas um bom motivo para interromper minha massagem nos pés,” disse a duquesinha,
devolvendo o rosto ao travesseiro, e também o peito, para os seios não aparecerem, que estavam para fora do
corpete como se tivessem escorrido de dentro dele e amantoavam-se entre seus braços.

“Está aqui fora uma herborista enviada pelo vosso pai, senhora,” falou a capitã.

“Uma herborista, é? Mas, sem querer soar chata, para que fim enviaria ele uma herborista até a mim?”

“Veio falar sobre seu primo, senhora.”

Mudou o ânimo da duquesinha e ela já saltava para fora da cama e ia atrás da capitã, os assentos muito
brancos sacudindo para todos os lados, quando a serva a deteve:

“Espera, senhora, deixa-me vestir-te apropriadamente!”

“Ih, é mesmo!” A duquesa cobriu com as mãos os cabelinhos dourados entre as pernas e avermelhou-se o
rosto dela. “Eu sempre me esqueço das coisas quando me fazes tua massagem, quase saio de bunda de fora.”

Depois dela devolver os seios para o corpete, a menina colocou um chambre muito elegante e um tanto
transparente na senhora, e também meias para que não sujasse os pézinhos, e acompanhou-a até a sala que havia
fora do quarto, onde estava a herborista. Esta usava um vestido folgado e colorido – panos verdes, brancos e
vermelhos – tinha os cabelos presos escondidos num lenço e dois brincos grandes e metálicos na forma de argolas.
Sua pele, pela tonalidade, dava sinais de estar acostumada ao sol.

Nossa nobre bateu com o cotovelo nas costas da serva.

“Ai. Esta nobre senhora é a jovem duquesinha Mychelle Alanturia de Orqushire, a sétima, filha do grão-
duque e barão regente da Província de Orqushire e Ducado de Loirs e dos arredores do Vale da Cerejeira
Sagrada!”

Elevou-se a mancha no canto dos lábios da duquesinha e a outra mulher apresentou-se com voz rouca:

“Eu sou Rouge, de Tora-Kura. Mestra herborista.”

“Então foi o papai quem te enviou?” perguntou a duquesinha.


“Encontrei o grão-duque no templo,” foi o que disse a herborista Rouge “e ele ordenou que me trouxessem
para que a senhora conduza-me ao encontro de seu primo, o qual dizem estar enfermo.”

“Oh, tu vieste curar meu primo, moça?”

“Tenho ervas úteis para os males do corpo e do espírito, mas antes de mais nada é preciso vê-lo.”

“Oh, sim, sim.”

A duquesinha levou a capitã para fora e falou com ela, mas esta não pretendia deixar que nossa duquesa
saísse naquele horário. Devido a insistência da nobre, Artemísia ofereceu-se para levar ela própria a herborista até
Dom Mastilhos, o que deixou a duquesinha profundamente irritada: não poderia suportar que a capitã fosse ver
seu primo, ainda mais sem que ela estivesse junto e naquele horário, submetendo-o a sabe-se lá que tipo de
tentação.

Então a duquesa retornou sozinha ao seu quarto, ficando a capitã na sala octogonal, e disse à herborista
que iria levá-la no dia seguinte:

“Amanhã cedo, logo após o ofício sagrado, vamos ver meu primo. Se puderes curá-lo, te recompensarei
com 1000 guinéis de ouro.”

“O estado dele é grave?” quis saber a outra.

“Às vezes está bem e às vezes tem dor, pelo que me disse.” De pernas cruzadas para que o chambre não a
deixasse exposta, o saiote escondido entre suas coxas e as meias aparecendo através do tecido, sentou-se a
duquesinha numa cadeira. E a serva no chão, ao seu lado. “Onde passarás a noite?”

“Na taverna, meus artefatos e ervas já estão lá.”

“Então lá iremos te encontrar pela manhã. Bom, sabes fazer poções mágicas?” perguntou a duquesinha à
herborista.

“Algumas das ervas que uso têm propriedades mágicas, é verdade, mas nem todas.”

“Mm. Lourdes-Maria, vai trazer um suco de manzanares pra moça.” A nobre bateu com a ponta do pé na
coxa da serva e esta foi fazer o que era mandado; depois a duquesa pediu que a mulher dos trajes coloridos
sentasse ao seu lado para que conversassem. “Sabes ler as mãos?”

“Não, senhora duquesinha, não conheço nenhum método de adivinhação.”

“Ah, é uma pena, há tanto que eu queria saber. Bem...” esperou um pouco antes de voltar a falar. “Sabe, eu
ouvi algumas vezes sobre certas ervas. Ervas especiais para... heh, eu não sei bem como dizer... ervas para
homens!”

“Para homens?” interessou-se a herborista.

“Bom, para homens ficarem... ficarem...”

A serva voltou, trouxe uma taça numa bandeja e entregou-a para a herborista. Em seguida foi para perto da
duquesinha e esta, levantando, colocou-lhe as mãos nos ombros e daí falou assim:

“Bom, é que a minha serva aqui tem uma amiga que casou-se há pouco e que quer ter filhos!”

“(Ui, tenho, senhora?) Ai!” Lourdes sentiu um beliscão nas costas.

“Mas o problema, tu vês,” continuou a duquesinha, “é que o marido dela não está conseguindo... hã, não
está conseguindo obter... Como eu digo? Rigidez?”

“Acho que entendo, senhora duquesinha,” disse a herborista, após beber um pouco do suco.
“Oh, não sei explicar ao certo, pois sou muito pura e casta, mas queria saber se tens algumas dessas ervas
a respeito das quais eu li. Dessas que podem aumentar a vontade dele de... de... mm, ter filhos,” a nobre dizia tudo
isso escondida atrás da serva.

“Eu entendo, senhora. Mas é preciso saber exatamente qual a natureza do problema. Ele não tem desejo ou
o possui mas não consegue... bem... rigidez?”

“Uma poção para aumentar o desejo pela esposa é exatamente do que precisamos neste caso!”

“Hm, uma poção afrodisíaca, a senhora quer dizer?”

“Sim, sim, sim, exato!” entusiasmou-se a duquesinha. “Por acaso tens algumas destas?”

“Estive recentemente em Tar-Antulhos, pois para desfrutar melhor de seu harém, o sultão daquele lugar
encomendou-me uma poção feita com begônias azulijas misturadas à semente da mandrágora comum depois desta
ter sido pulverizada de maneira natural por gotas do néctar de fadas, de forma que sobraram-me alguns poucos
destes ingredientes,” contou a herborista. “Esta mistura preparada na temperatura correta com suco de androlhas
envelhecido resulta na mais poderosa poção afrodisíaca existente, o famoso Elixir do Amor de Mordenkainen.”

“Oh! Já ouvi falar! Dizem que é capaz de encher até mesmo um eunuco de desejo!”

“Sim, o néctar de fadas é especialmente poderoso.”

“Podes fazer a poção, por favor?”

“Sim, ainda tenho ingredientes suficientes para umas quatro doses.”

“Quando ficará pronta?”

“Posso terminá-la em uma hora, pois os ingredientes que sobraram já estão parcialmente misturados. Mas
como sabe a senhora, é uma poção muito rara e difícil de obter.”

“Oh. Quanto custa?” perguntou a duquesinha, já entendendo o que queria a herborista.

“Posso me desfazer desses ingredientes por, digamos, 15 guinéis.”

“Dos de ouro?” disse nossa duquesa, esperando pagar no máximo 10.

“É lógico.”

“Se não funcionar eu te mando para forca por extorsão!”

“Não há como não funcionar, senhora duquesinha. Mas recomendo cuidado, o elixir é muito poderoso.”

“Serva! Paga a moça!”

“Hã? Tendes certeza, minha senhora?”

“Claro!” A duquesinha empurrou a menina e ela saiu da sala para logo voltar com algumas moedas.
“Então mais tarde irei à taverna, para pegar a mistura. Mas como fazemos para usá-la? A esposa deve passá-la no
corpo? Digo, na intimidade? Ou quem sabe deve-se aplicá-la no próprio... falo do marido, por assim dizer?”

“Não, ele deve bebê-la,” a herborista disse. “Mas é importante que sejam apenas algumas gotas, não mais
do que um gole. E o elixir não deve ser jamais misturado ao vinho, pois este potencializa a mistura e causa os
mais graves efeitos.”

“Uh, interessante,” sorriu de forma maliciosa a duquesinha enquanto a serva, mordendo a unha, tentava
imaginar o que ela pretendia com uma poção daquele tipo. “Que efeitos?”

“Vão desde pequenas perdas de memória ao desaparecimento total do pudor e também do medo, o que
pode colocar quem a bebeu em situação perigosa. Mordenkainen, autor da fórmula, provou desta mistura
enlouquecedora e foi morto por um leão.”

“Sério, é? Então Mordenkainen enfrentou os leões do deserto sob o efeito desta poção?”

“Sim, os livros omitem este fato, bem como o verdadeiro motivo do confronto.”

“Ele não estava tentando entrar na caverna dos leões para obter o cetro de Shomue-Al-Azziro, com o qual
obteve os conhecimentos necessários para escrever seu mais famoso e poderoso encantamento, a Disjunção de
Mordenkainen?” perguntou a duquesinha, referindo-se a uma antiga lenda que tenho certeza que vós todos
conheceis.

“Não, na verdade, sob efeito do elixir, ele estava tentando copular com o leão, pois a mistura com o álcool
faz com que a poção aumente o desejo sexual de forma exagerada. Uma criatura que dela bebeu tenta copular com
animais de raças diferentes ou até mesmo com animais do mesmo sexo e objetos inanimados. Não se deve
misturá-la ao vinho de maneira alguma! Se o fizeres, o marido da amiga de tua serva ira dispender seus esforços
em tentar violar tudo o que vir pela frente.”

“Ah, entendo.” Muito se agradava a duquesinha com tudo o que ouvia. “Com água pode?”

“Sim. Mas cuidado também com a dose. Um exagero na dose causa perdas seguidas de consciência
intercaladas por períodos de desejo exagerado. Por esses tantos motivos, tal poção não é recomendada para
qualquer um. Vou vendê-la apenas porque a senhora é uma nobre e certamente compreende os riscos de utilizá-
la.”

“Oh, podes deixar, vou ter cuidado! Vou ensinar a amiga da minha serva a usá-la direitinho!”

“Então ficamos assim combinadas: amanhã veremos vosso primo e para breve aprontarei vossa poção
afrod... digo, a poção afrodisíaca da amiga de vossa serva.” A mulher ergueu-se. “Agora devo retirar-me.”

Foram à sala octogonal seguidas pela serva; no local havia agora muitas vigias, uma para cada porta, uma
para cada janela e ainda outra na lareira. A herborista notou o quadro na parede, acima da lareira, e parou para
admirá-lo:

“Que bela pintura. Retrata a senhora duquesinha usando uma jóia muito bonita.”

“Oh, é a minha mãe, na verdade,” explicou a nobre.

“E poderei conhecer essa bondosa senhora? Quem sabe amanhã?”

“Ela... não está mais aqui.”

“Não...?” A herborista pareceu decepcionar-se mais do que devia. Talvez tivesse a intenção de vender
também seus produtos para a mãe de Mychelle Alanturia, quem sabe? “Que pena. É muito parecida com a
senhora.”

Então uma das servas acompanhou a herborista até as escadas e a duquesinha retornou para sua cama,
onde sentou-se ao lado de Lourdes-Maria. A menina pôs-lhe as mãos sobre os ombros e perguntou-lhe:

“Minha senhora quer que eu a dispa novamente? A massagem estava tão gostosinha, não estava, minha
senhora?”

“Não, mais tarde. Ainda hoje pretendo ir buscar minha poção mágica!”

“Mas não deixarão que saias da torre.”

“Oh, por Sene, é mesmo!” A duquesinha abaixou os olhos. “Fiquei empolgada e esqueci-me
completamente de que estou presa aqui.”

“Agora não inventes coisas como tentar fugir. Podes mandar uma das mensageiras em busca da poção.”
“Sim, farei isso. Ah...” Mychelle deitou o rosto sobre as coxas de Lourdes e esta passou a fazer-lhe carinho
nos cabelos. “Ou quem sabe não vai tu mesma?”

“Para que a minha senhora quer uma poção de... gulp... amor?”

“Ora, não podes adivinhar? Farei com que meu primo beba da mesma”

“Oh!”

“Desta forma ele não poderá me recusar. Esconderei o elixir num copo de vinho e farei com que tome
todo, de modo que se ocorrer como disse a herborista, e elas tendem a exagerar o efeito dessas poções, mas se o
efeito for ao menos metade do que ela disse, ele não terá outra escolha a não ser fo... Digo, a não ser fazer amor
comigo, e de maneira mais intensa do que jamais fez com a capitã Artemísia!”

“Realmente.”

“O quê?”

“És impossível. Por que farias isso?”

“Ah, não sejas ciumenta.”

“Não estou sendo, só não entendo para que…”

A duquesinha afastou a mão da serva de si e se ergueu.

“Agora para com isso e vai ver se está pronto o nosso jantar.”

***

**

Pelluria avançava por entre a multidão, o salão estava lotado; num de seus cantos um grupo de uns cinco
ou seis anões bebia reunido ao redor de uma bela e jovem humana de seios descobertos, diante da lareira a menina
movia-se numa dança rápida o suficiente para fazer esvoaçar os poucos panos presos em suas coxas, isso para não
dizer os próprios seios, que apesar de nada volumosos, muito sacudiam, fazendo girar umas tirinhas da pano cor
de rosa atadas de alguma forma a minusculas correntinhas nos bicos salientes deles; noutro lado, num mais
próximo às janelas, vários homens disputavam no jogo de pedras, alguns trajados como bárbaros e outros em
armaduras quase completas e de aparência nobre; alguns elfos das montanhas apoiavam-se nas portas abertas – e
como estava quente no interior da estalagem – para apreciar melhor os músicos tocando ali na rua; no centro, dois
gigantes dividiam um javali assado e bebiam diretamente de barris, estavam acompanhados na mesa por uma
mulher magra de pele cinzenta e olhos púrpura diante da qual repousava vasilha cheia de leite. No momento em
que Pelluria passou ali do lado, a mulher esta soltou o mais estridente grito e ergueu uma das mãos para mostrar
que das extremidades de seus dedos saíam longas garras enegrecidas. Nossa elfa assustou-se e recuou com um
salto, os gigantes interromperam o que estavam fazendo e voltaram-se para ela, fitavam-na cada qual com apenas
um olho solitário no centro da testa.

“Pisaste na minha cauda!” falou a mulher cinzenta com um estranho sotaque que a fazia esticar os sons
dos s; eu inclusive colocaria vários desses s aqui nas palavras dela, mas estou economizando pergaminho.

“Desculpa!”

Antes que algo pudesse acontecer, Pelluria passou rapidamente pelo meio de alguns dançarinos e logo
chegou ao balcão de madeira, no qual se apoiou. Atrás dele ficavam barris de bebida, algumas garrafas coloridas,
e em seu outro extremo, sentadas em banquinhos, estavam duas jovens em trajes que lembravam os usados pelos
vigias dos portões. Sentia-se o cheiro de carne e comida e tempero e logo o taberneiro veio para frente da elfa.
“Oi, eu sou a princesa dos elfos da madeira!” anunciou Pelluria. “Tenho o direito a um quarto para dormir
e vinho para beber!”

“Serão 5 guinéis de cobre pelo quarto e 3 naravídios pela bebida,” o taberneiro disse, já colocando uma
caneca diante dela.

“O quê?” espantou-se e quase caiu para trás a elfa. “Mas eu tenho um convite, sou a enviada do Vale da
Madeira!”

“E não têm todos os que estão aqui?”

“Sim, mas no convite, que me foi tomado lá na entrada por uma humana toda forçuda e musculosa que
pareceu ter certo prazer perverso em apalpar-me os assentos, estava escrito ‘comida e bebida de graça’!” gritou
Pelluria com toda força. “Por que deveria eu pagar? é só o que quero agora saber!”

“Ajudei a confeccionar este convite pessoalmente e posso afirmar que nele não estava escrito nada disso,”
respondeu calmamente o taberneiro.

“Mas estava em holazaico antigo, dizia ‘shtar o nkur na tar, ug ulan-a-dar’ e pelo que eu saiba ‘ug ulan-a-
dar’ significa ‘de graça’.”

“Estás louca, elfa? Se começo a distribuir comida e bebida de graça, logo vou a falência. Não sabes ler
holazaico? Estava escrito ‘ur ulan-à-dar’, que como todos bem sabem, significa ‘extrema qualidade’, ou seja,
comida e bebida de extrema qualidade.”

“Não é possível!” insistiu Pelluria com um dedo erguido. “Sei ler holazaico e estava escrito ‘ug ulan-a-
dar’!”

“Olha aqui, princesa elfinha, eu tenho uma cópia do texto do convite.” Ele tirou de baixo do balcão um
pergaminho, era como se estivesse ali especialmente para solucionar confusões desse tipo.

“Deixa eu ver isso aqui!” Pelluria aproximou o rosto. “Ur... ulan-à... mas, mas, o texto no meu convite
estava diferente! Tenho certeza!”

“Era exatamente o mesmo, elfinha, agora vais querer o vinho ou não?”

“Ai, não dava para fazer o vinho por 2 naravídios? Quer dizer, 3 naravídios é um pouco exorbitante para
uma caneca de vinho, não é?”

“Sinto muito, mas nós vivemos nos tempos de crise, tu sabes.”

“Ai, ai.” Pelluria pagou o taberneiro e passou a beber. “Tempos de crise, é?”

“Sim, são tempos difíceis. As colheitas não são mais como antigamente, nos tempos de meu avô colhia-se
2000 sacos de grãos por aqui, nos de meu pai passou-se a colher 1500 e agora não chegamos a metade disso, e
temos sempre que contar com as perdas causadas pelos ratos e outras pragas, e com os desaparecimentos causados
por lâmias assaltantes, que roubam nossas coisas e desaparecem nas profundezas da terra. A população do vilarejo,
contudo, aumentou. Este é o preço justo a cobrar-se por um vinho de tamanha qualidade.”

“Uhu, sei. Olha, eu conheço vinho de qualidade e esse aqui tá meio aguado.”

“E este ano,” prosseguiu o taberneiro, ignorando o comentário de Pelluria, “dizem os sacerdotes, ainda
passaremos por uma estiagem prolongada por não termos louvado a grande Cerejeira como deveríamos. É assim
que anda o mundo, está se encaminhando para o fim! Nestes tempos, este é o melhor vinho que se pode produzir.”

Pelluria olhou dentro da caneca e depois para o taberneiro e disse “Não estás exagerando um pouco para
justificar teus preços abusivos? O mundo está longe do fim.”

“Pelo contrário! Nascem cada vez mais pessoas, mas as terras são limitadas. Desta forma muitos, cada vez
mais, encaminham-se para a vilania, o roubo e a selvageria. Para que tenhas uma idéia, apenas hoje já ouvi
representantes de três caravanas queixando-se de terem sido assaltados por ogros não a muita distância daqui.”

“Ogros, é? Quem diria?” Pelluria lembrou-se de seus amigos do vilarejo dos ogros e, olhando ao redor,
espantou-se com o fato daquela estalagem estar hospedando tantas de suas vítimas. Vinham todos para o tal
encontro, concluiu.

E o taberneiro continuou com seu discurso:

“Logo não haverá mais cidade alguma, todos morrerão de fome! E os jovens já não têm respeito pela
tradição e pelo que é sagrado! Há poucos dias foram encontrados três rapazes participando de atos obscenos com
uma lâmia perto dos muros! Como podem os deuses se agradarem com esta situação?”

“Para algumas pessoas estamos sempre nos tempos de crise e a vida é difícil e triste,” Pelluria disse, já
cansada do que ouvia. “Passam os dias lembrando dos anos que se foram, onde dizem que tudo era melhor. Sabes
há quanto ouço isso? Os tempos passados não eram melhores que os atuais, lá também havia guerra e fome e
tristeza. Mas as pessoas lembram apenas das coisas boas, apagam de suas memórias aquilo de que não gostam, de
forma que para estes os tempos em que vivem são sempre os tempos de crise. Pois eu digo que vivemos na melhor
das épocas e que para mim há infinitas terras e belezas neste mundo. Inclusive para as lãmias, se uma delas tinha
três rapazes só para si do mesmo modo que aquela mulher-gato ali tem dois cíclopes enormes! Se isso não é
abundância e não exige redistribuição, na qual pretendo trabalhar em breve, não sei o que é, mas devias ter
vergonha de cobrar 3 naravídios por uma caneca de vinho tão pequena!”

O taberneiro começou a dar explicações sobre a idade do vinho e outras ninharias, mas neste momento
veio para perto dele um homem, o qual interrompeu-o abruptamente. Passaram os dois a falar e Pelluria imaginava
se poderia ser algum nobre. Provavelmente era, o lugar estava cheio deles, pensou a elfa, tinham vindo de tudo
quanto era província e este em especial não se parecia com nenhum dos que ela tinha assaltado. Começou a
prestar atenção no que dizia:

“...soube que uma herborista está aqui hospedada, preciso encontrá-la com urgência para tratar de
negócios.”

“Hm. Sim, é verdade, ela esteve aqui na companhia de um dos soldados,” disse o taberneiro, “porém logo
deixou a taverna para encontrar-se com o grão-duque em pessoa, se não estou enganado.” Em voz baixa,
acrescentou “Dizem que é uma das diáfanas.”

“E não sabes se ela retornou?” perguntou o outro.

“Não posso afirmar, mas ela pediu um quarto antes de partir e entreguei-lhe a chave do número 5, ali no
início do corredor daqui mesmo do primeiro andar. Podes ir até ali para averiguar se chegou.”

“Obrigado pela informação.”

Então Pelluria decidiu aproveitar a oportunidade para se apresentar. Afinal, estava ali para conhecer um
nobre, o primeiro passo para se garantir um bom casamento ou, no caso dele já ser casado, uma bela extorsão.

“Oi, eu sou a...” mas antes que pudesse completar a frase, uma menina meteu-se entre ela e o homem
fazendo com que ele não pudesse mais ver minha tia.

“Oooooiii, eu sou a Shavanah!” Era aquela que anteriormente dançava para o grupo de anões, ainda tinha
os seios descobertos, embora as tirinhas atadas aos bicos deles tivessem desaparecido, e enquanto falava, erguia-
os com os braços, balançava-os, roçava-os nas roupas do outro e fazia o máximo de esforço para que fossem
notados. Passou todo o tempo abraçando o homem e tocando-o como se suas mãos fossem cobras incapazes de
parar num único lugar. “Não vais me dizer o teu nome?”

“Hr... Eu sou Gustaff Olafson, o enviado de Tchuma-Enthofa.”

“Ui! Do feudodeTchumaEnthofa? Dizem que é um lugar tão excitante!” Ela forçava a voz, suas
palavras saíam como se tivessem sido mergulhadas em mel. “Olha, eu tenho uma idéia tão gostosinha, quem sabe
não queres me pagar um vinho?”
“Agora não posso, tenho que...”

“Bom, então que tal se nós cortarmos o vinho, aí tu me levas ali para trás e nós  delícia até
não podermos mais, hm?”

Ele pensou um pouco e disse, de modo que minha tia considerou relutante:

“Preciso mesmo ir, tenho um assunto para resolver.”

Daí desvencilhou-se da menina e passou rapidamente por Pelluria, de forma que ela mais uma vez não
pôde se apresentar:

“Oi, eu sou a... uh...”

“Mm, parece que ele não te notou, elfinha,” disse a outra, apoiada no balcão com os ombros jogados para
trás.

“Claro, estava ocupado demais olhando para os teus…”

Nossa elfa apontou com os olhos para o tórax da humana.

“Ei, não fiques irritada, preciso do dinheiro. Sabes quantas vezes tenho esta oportunidade? Raramente vêm
para cá pessoas de outros lugares, este vilarejo é muito quieto e pequeno e afastado de tudo que existe. E além
disso, o povo é muito religioso. Sem falar nos que são casados e têm mulheres para vigiá-los.”

“Sei, e estamos nos tempos de crise, não é? Mas não ficas envergonhada de andar por aí exibindo os...
bem...”

“Preciso expor o que estou vendendo, não é mesmo?” A mulher balançou os ombros, fez com que os seios
saltassem como se estivessem vivos. Devia ser algum tipo de habilidade especial, concluiu a elfa que não seria
capaz de fazer o mesmo com os dela. “E aquele anãozinho tarado não quis devolver meu véu.”

“Tu és uma... hã...?”

“Cortesã! Cortesã soa mais delicado. Sou a Shavanah.”

“Eu sou a Pelluria, a elfa da madeira.”

A menina acenou para alguém, Pelluria voltou-se para ver que para as duas humanas em trajes de soldado
no fim do balcão.

“Ei, aquela é a minha prima, vamos até ali!” Shavanah falou para minha tia.

Aproximaram-se das duas meninas e Shavanah apresentou-as, disse que trabalhavam no exército do grão-
duque e chamavam-se Teresa e Nagnólia, sendo esta ultima a sua prima. Elas ofereceram mais vinho à elfa e
também um prato de rãs cozidas e Pelluria aceitou. Depois foram todas sentar numa mesa.

“Ai!”

“Que foi, elfinha?”

“Nada, deu-me uma coceira esquisita de súbito,” Pelluria esfregou a saia, coçou sua parte de trás por cima
da roupa.

“Ei, saístes mais cedo hoje?” Shavanah perguntou para as outras. “Não havíeis ficado incubidas de vigiar
uma das torres?”

“Oh, fomos expulsas de lá e a capitã Artemísia ainda encheu-nos as bundas de chibatadas,” disse uma das
vigias, apontando para as próprias costas. “Está doendo até agora.”
“Aquela machona da capitã Artemísia curte essas coisas,” Shavanah falou. “Que foi que houve? O que
fizestes?”

“Foi tudo culpa daquela vadia, a duquesinha, para variar.”

“Hã? A duquesinha?” Pelluria lembrou-se da nobre e parou de coçar, que aquilo parecia só aumentar a
coceira.

“Tu a conheces, elfa?” perguntou Shavanah.

“Uma loira rechonchuda nos assentos? Oh, não, não pessoalmente, mas ouvi falar.”

“A sem-vergonha queria levar a todo custo um homem para dentro do quarto e não pudemos impedir,”
explicou uma das meninas. “A capitã havia proibido a entrada de homens na torre da duquesinha, sabeis como é, o
pai dela acredita que ainda é virgem e casta.”

“Kakakaka, aquela lá tem os lábios mais explorados do que os meus!” Shavanah fez um gesto obsceno e
riu por muito tempo. Estava um pouco embriagada. “Só o grão-guque finge não saber!”

“É verdade, naquela fofinha o umbigo é o único orifício que ainda mantém-se intocado, pois ouvi dizer
que certa feita até a entrada dos fundos estava sendo visitada por dois soldados no palácio do pai dela, no que
parece-me ter sido pega em flagrante por um grupo de servas enquanto revezavam-se os homens na investigação
do território!”

“Que, os dois ao mesmo tempo?” perguntou a outra garota.

“Dizem que gritava feito uma p****** enquanto metiam-lhe as espadas, um atrás e o outro na frente!”

“Ei, o que tens contra p******s?” quis saber Shavanah. “Bom, não que eu não fosse gritar também, que
horror, se decidissem por bem explorar-me os fundos desse jeito! E a duquesa até que não é feia para quem gosta
dessas loiras com bundinhas branquinhas cheias de celulite!” Resmungou ainda: “Maioria dos homens curte, na
verdade.”

“E uma fila de outros soldados esperava esses dois terminarem para terem sua vez com a duquesinha, pelo
que ouvi,” prosseguiu Nagnólia naquela difamação.

“Realmente?” peguntou minha tia. “De modo que aqui neste vilarejo todas mulheres, incluindo lâmias,
mulheres-gato e até a duquesinha tem disponíveis vários homens ao mesmo tempo para si? Onde vim parar?”

“Oh, não é nada disso,” disse Shavanah, “não vás ficando feliz desse jeito, garanto que elas estão
exagerando, no máximo devia ser algum soldado tolo pego em flagrante e que disse que estava comendo só o
bumbum da duquesa para não ser executado por tirar a virgindade dela, de modo que deve ter sido enviado para o
meio de Daforos ou algo assim.”

“Ou vai ver a duquesinha não queria engravidar,” disse Teresa, “por isso cedia esta via mais incomum e
infertil.”

“Agora pensei em algo terrível!” respondeu Shavanah. “E se ela for realmente virgem e por esse motivo
empresta apenas o furico?”

“Que absurdo,” disse Nagnólia. “Ninguém aguentaria coisa dessas! Mas independente de qual parte queria
que ele explorasse, não houve jeito de fazê-la mudar de idéia, acabou levando o homem para o quarto. Rezávamos
para que saísse logo, mas o pior aconteceu e o próprio grão-duque chegou para ver a filha!”

“Kakaka, ai, não acredito, ele finalmente pegou-a com o ferro em brasa nas mãos?”

“Não sabemos ao certo, quando lá chegamos ela estava diante do homem com as maçãs descobertas como
tu trazes as tuas agora.”
“Uh, mas a Duquesinha não tem maçãs, tem melões,” Shavanah cobriu os seios com as mãos. “E então? O
grão-duque a viu em tal situação?”

“E então ela acusou-o, o homem, disse que havia tentado violentá-la! E o grão-duque, sem dúvida,
acreditou, pois prendeu o infeliz. Aquele já podemos considerar morto.”

“E como ela fez para tirar o sorriso de satisfação dos lábios no momento em que o acusou?”

“Oh, não chegou a conseguir o que queria com ele. Agora está lá encerrada na torre, em estado de
desespero.”

“Esse não foi o primeiro a se dar mal por causa da duquesinha.”

“É verdade. E tu estás trabalhando, Shavanah?”

“Oh, sim, sim, estou apenas descansando um pouco, só hoje tive mais clientes do que normalmente tenho
numa semana inteira. Estou me sentindo como a duquesinha! Ui, melhor eu dar uma lavadinha antes de
continuar.” Voltou-se para Pelluria, que havia feito uma careta ao ouvir esta ultima frase. “Desculpa-me por ter te
atrapalhado no balcão, mas preciso mesmo proteger meus interesses.”

“Ahã, tudo bem. Ei, não olha agora, mas aquele orc tá olhando pra gente,” Pelluria apontou para trás por
sobre o ombro. “Não sei dizer se aquilo é uma ereção,” cochichou, “ou se é assim mesmo.”

“Vou até ali falar com ele, se não voltar já sabeis que estou ganhando dinheiro!”

Shavanah saiu saltitante e Pelluria acompanhou-a com o olhar, viu que ela apoiou-se no ombro do orc,
ficou na ponta dos pés para dizer-lhe algo e depois com ele retirou-se do salão.

“Ei, vistes aquilo?”

“O que, elfinha?”

“Ela saiu com o orc!”

“Hum rum.”

“Orcs e humanas são mais incompatíveis que fadas e centauros!”

“Relaxa, elfinha, minha prima é uma profissional.”

“É, provavelmente só vai dar-lhe uma chupadinha,” completou a outra vigia rindo.

“Mesmo assim…” disse Pelluria, mas parou de imaginar o que estava imaginando e roçou os dedos entre
os joelhos, pois a coceira incômoda ressurgia neles. “Então essa tal duquesinha é uma p****** de marca maior?”
perguntou.

“Inicialmente pensávamos que ela não fosse muito chegada, tu vês, pois carrega para cima e para baixo
aquela serva magricela que está sempre disposta a bajulações, muitas vezes dormindo as duas no mesmo quarto.”

“Como sabeis?” Pelluria recordou-se da menina que conduzia a carruagem da duquesinha.

“Ei, eu e a Nagnólia já fomos obrigadas a vigiar os aposentos dela dezenas de vezes lá no castelo de Loirs,
apesar de morarmos aqui no vilarejo.”

“É, um dia ouviamos umas risadinhas suspeitas e quando entrei no quarto para ver o que acontecia,
estavam abraçadinhas e a serva tinha a bunda de fora! A duquesinha ficou muito vermelha, foi algo muito estranho
e...”

E assim permaneceram as duas vigias falando sobre a duquesinha, contaram dela as coisas mais
escabrosas, muitas certamente exagero, de modo que depois disso tudo não se pode concluir se gostava ela de
homens ou de mulheres ou de um pouco de cada ou se de pôneis, se deixava pôr no bumbum e nem mesmo se era
virgem ou não, e enquanto ouvia, minha tia notava que aquela coceira nas suas coxas e joelhos e, o que é pior, na
traseira, aumentava cada vez mais. Já havia se tornado irritante e ela estava inquieta, sentava um pouco sobre cada
lado e às vezes roçava o dorso das pernas na cadeira ou erguia-se sutilmente para coçar.

Num momento avistou uma pequena comitiva que escoltava até o balcão um humano alto e extremamente
musculoso, quase um gigante. Como agradava-lhe a vista, perguntou para as outras “Quem é aquele fortão ali?”

“Ah, é o cimério, vimos quando chegou com vários soldados,” disse uma das vigias. “Parece que é rei de
uma Aquilônia ou alguma coisa assim em um outro continente.”

“Rei? Hmm, pensei que fosse um bárbaro. Pelas unhas de Sene, bem que eu queria conhecer um Ai!”
Pelluria calou-se e deu um salto, e isso de repente, sem que as outras esperassem.

“O que houve, elfa!?”

“Tem alguma coisa na minha bunda, tá me incomodando!”

“Heheh, parece algo que a duquesinha diria.”

“Dá-me coceira!” A elfa ergueu um pouco uma das coxas e disfarçadamente colocou a mão para dentro da
saia. “Que isso? Tem alguma coisa aqui!”

“?”

“Oh, era uma florzinha.” Largou uma flor vermelha e amassada sobre a mesa, as duas meninas afastaram
os braços assustadas. “Admirável não ter sido encontrada por aquela capitã que me revistou, nunca antes dela uma
mulher bolinou-me tanto!”

“Aah, , não toques nisso, elfinha!” gritou Nagnólia.

“Ué? Por quê?”

“É uma maculóphyta vermelha!”

“O que?”

“Essas flores dão coceira e deixam cheia de bolinhas!”

“Mas tava na minha saia!” Apavorou-se Pelluria com a lembrança de onde repousara o traseiro logo após
o encontro com a fadinha. “Oh, não, eu caí sentada sobre um monte dessas florezinhas vermelhas hoje de tarde!”

“Gulp! Vais ficar com a bunda cheia de bolinhas!”

“Ai, não pode ser! Já posso sentí-las em minha pele!”

“A Shavanah uma vez pisou numa maculóphyta vermelha e no outro dia não podia nem ficar de pé! Havia
muitas onde tu caíste?”

“Muitas? Haviaumaplantaçãointeira! Ai, não quero ficar cheia de bolinhas! O que posso fazer!?”

Pelluria sentiu aquecerem-se seus assentos como se estivessem pegando fogo.

“Não sei, ué. Agora é tarde.”

“Ai, minha bunda!”

Nossa elfa levantou-se esfregando freneticamente as nádegas por sobre a saia.

“Ei, não faças escândalo, elfa, as pessoas estão olhando!”


“Já sei, eu ouvi o taberneiro dizendo que tem uma herborista aqui num quarto! Talvez ela possa me ajudar
com uma poção de cura! Onde era mesmo? No número 5?”

Pelluria pegou a florzinha com as pontas dos dedos e se afastou, logo as outras duas perderam-na de vista
no meio da multidão e voltaram a falar entre si e a beber e logo a esqueceram.

***

**

Nisso, lá estava Gustaff Olafson – aquele que vimos há pouco no balcão – no interior do quarto da
herborista, pois a mesma havia retornado do encontro com a duquesinha que pudemos testemunhar no início deste
capítulo e já se preparava para iniciar a mistura dos ingredientes da poção que a nobre encomendara.

Rouge tinha vários exemplares de diferentes folhas e ervas dispostos numa mesa atrás da qual estava
sentada e ouvia o que o homem tinha a dizer: pedia-lhe que fizesse uma poção sonífera. Quando ela perguntou
com que finalidade seria usada, ele respondeu que sofria de insônia e que pretendia comprar várias doses da
poção, mas que fosse poderosa. E precisava da mesma ainda naquela noite, insistia.

Não era pedido dos mais comuns, a herborista sabia que em local como aquele, em que encontravam-se as
mais variadas facções e cultos do continente, tal poção poderia ser usada como arma para, à traição, nocautear um
adversário político e fazê-lo perder uma reunião importante. Mas após pensar um pouco, decidiu que iria atendê-
lo, pois não tinha interesse algum no desenrolar do tal conclave.

“Vou preparar algumas doses da Mistura do Sono de Mordenkainen, os efeitos começam poucos minutos
após a ingestão da mesma e duram por várias horas,” disse ela. “Se for misturada com o vinho, porém, o sono será
ainda mais profundo e duradouro, podendo estender-se com tranqüilidade por toda noite, mas neste caso haverá
um aumento no volume de urina daquele que dela beber. Como vês, é uma poção inofensiva.”

“Sim, sim, é exatamente do que preciso,” ele respondeu satisfeito.

“Serão 5 guinéis de ouro. E posso terminá-la em breve, retorna em uma hora.”

Ele pagou o preço e, ao sair do quarto, encontrou-se com minha tia Pelluria; a elfa vinha andando
apressada e tinha ambas as mãos nas costas. Ou no traseiro, melhor dizendo, que estava louca para coçar.

“Oh, é a elfa que estava no balcão da taverna.”

“Heheh, lembraste de mim? Eu sou a Pelluria.” Não queria causar uma má impressão: apertava
disfarçadamente as bochechas do bumbum élfico, cada qual com uma mão, esforçava-se cada vez mais numa luta
contra o impulso de coçar. “HurmA princesa dos elfos da madeira!”

“Eu sou Gustaff Olafson, o enviado de Tchuma-Enthofa. Quem sabe não queres acompanhar-me? Agora
tenho tempo para um vinho.”

“Eu... Ai! Eu... quero...” Pelluria segurava uma mão com a outra, a musculatura das coxas tremia em
contrações rápidas que quase não podia mais suportar. “(Ai, não vou agüentar! Vai pensar que sou uma elfa
perebenta se eu começar a coçar a bunda na frente dele!) Gulp!”

“O que foi, Pelluria?” ele perguntou notando os espasmos nas pernas da elfa. “Não estás bem?”

Embaraçada, Pelluria deu um passo para trás e fingiu apoiar-se na parede, apenas para nela esfregar
disfarçadamente a traseira.

“(Uuui, não tá adiantando!) Ai, não é nada, é que eu lembrei que tenho um compromisso urgente ali!”

Minha tia avançou correndo e entrou no quarto da herborista, fechando a porta logo em seguida. Sem
entender o que havia acontecido, o enviado de Tchuma-Enthofa afastou-se pensando se não teria dito algo que não
devia. O que foi bom, pois assim não ouviu os gritos da elfa vindos lá de dentro:

“Ai, minha bunda, minha bunda!” E ela esfregava violentamente as unhas nas coxas e saltava pelo meio
da sala. “Tá cheia de bolinhas, posso sentir! Ai, não agüento mais, tá ardendo!”

“O que é isso, elfa?” assustava-se a herborista com o que via.

“Ai, a senhora é herborista, não é? Por favor, me cura, me cura! Eu caí sentada num pé de florezinhas
iguais a essa e agora tô que não posso mais de coceira no traseiro!”

Pelluria parou de se coçar apenas o suficiente para jogar a flor vermelha diante da outra.

“Oh, é uma Maculophyta urticans!” disse a herborista.

“Aaaaaaahhh!”

“Deixa-me ver.” A mulher levantou e se aproximou. “Vamos, mostra.”

“Mostrar? Ai, mostrar o que?”

“A... bom, o lugar onde estão as bolinhas.”

“Gulp!” A elfa parou de pular e ficou com as bochechas vermelhas. “Ai, eu... heheh, a bunda?”

“Vamos.”

“Ai, tá bom.” Virou-se e, de olhos fechados, ergueu vagarosamente a saia, sob a qual, evidentemente,
estava nua.

“Por Shagrath!” a herborista espantou-se ao ver em que condições se encontrava o bumbum de minha
pobre tia Pelluria.

“Ai, como é que tá?” perguntou a elfa sem coragem de conferir ela própria o estrago.

“Hm. Entraste em contato com uma quantidade considerável de Maculóphytas, não foi?”

“Como é que... Aah!” Pelluria deixou a saia voltar a cobrir-lhe o corpo. “Minha bunda tá mais vermelha
que pimenta! Me ajuda! Me ajuda! Tô cheia de bolinhas! O que eu faço?”

“Primeiro pára de coçar ou vais acabar ficando pior. E agora vamos lavar as tuas mãos para que não
espalhes o pólen de Maculóphyta para outras partes do teu corpo!”

A herborista trouxe uma bacia com água, a qual retirou de um pequeno caldeirão sobre uma fogareiro que
ela própria havia improvisado num dos cantos do quarto. Pelluria mergulhou ali as mãos e falou:

“Ai, mas tá coçando tanto! Não vou poder me segurar!”

“Vou preparar uma poção para neutralizar os efeitos da Maculóphyta, mas vai levar algum tempo, pois
preciso fervê-la por uma hora. Volta mais tarde.”

“Uma hora!?” Pelluria gritou. “Mas minha bunda élfica tá queimando! Por favor, dona herborista, eu não
vou agüentar!”

“Ah, sim, eu tenho uma erva para te aliviar temporariamente.”

A elfa pegou as folhas que a mulher tirou do interior de um pequeno baú; Rouge explicou-lhe o seguinte:

“Amassa algumas destas e coloca na água, depois passa nas bolinhas.”

Alguns momentos depois:


“Oooh! Que alívio!” suspirava Pelluria.

“Pronto, agora paga 6 guinéis pelas ervas medicinais e volta mais tarde, pois vou preparar a poção.”

“(Nf! Mercenária! Mas é melhor pagar, não quero ficar com a bunda cheia de bolinhas!) Tá bom, eu volto
depois, então.”

Logo que deixou o quarto, minha tia viu-se cercada por três homens em trajes de sacerdotes. E atrás deles
estava aquele humano musculoso o qual as vigias Nagnólia e Teresa afirmaram tratar-se de um rei.

“Aqui está ela!”

“Mm?” Assustou-se a elfa ao ouvir as palavras de um deles, não entendia o que estava acontecendo.

“Esta é a elfa guerreira que salvou-nos dos ogros!”

“Ooh! Eeeu? Hehehe.”

Pelluria havia perdido a conta, na verdade, de todos os que havia salvo dos ogros e também das
recompensas que lhe haviam dado. De qualquer forma ela não rejeitaria mais uma, que foi o que lhe ofereceram:

“Vamos chamar o irmão Geritros! Com certeza vai querer recompensá-la!”

Afastaram-se os homens e deixaram minha tia com o rei, que perguntou a ela “É verdade, elfinha?
Salvaste os monges de Mitra dum assalto esta tarde?”

“Eheh, bem, é... Sou poderosa, se é que me entendes!”

“Então acompanha-me até o meu quarto, vem beber comigo! Sou o rei da Aquilônia!”

“Oooh, não me diga! Verdade? Vamos, vamos, vou te mostrar a minha técnica com a espada selvagem!”
Pelluria colocou as mãos ao redor do braço do homem e saiu andando junto com ele; observava seus músculos e
pensava que agora as coisas começavam a acontecer da forma que ela queria.

***

**

Alguns momentos antes, numa sala do segundo andar do templo da Cerejeira Sagrada, o cardeal de
Dravísios estava reunido com o grão-duque. Espalhados diante deles encontravam-se alguns mapas e pergaminhos
rodeados por velas e itens e instrumentos de medição e cartografia. Um ou outro inseto voava ao redor das chamas
e de vez em quando um maior caía sobre a mesa fazendo um barulhinho.

“A busca começa a dar resultados, nosso caro grão-duque.” O cardeal terminava de beber o vinho de uma
larga taça dourada. “Os estudiosos puderam obter a provável localização de muitas das jóias.”

“Quanto tempo mais?” O grão-duque voltou-se para o interior da sala, pois estivera olhando através da
janela em direção à torre na qual sua filha se encontrava. “Já tens a pedra negra, não é verdade? E foram meus
soldados que a trouxeram de Daforos para ti.”

“Sim, sim, mas o ônix de Dravísios, que pertence à ordem por direito, é apenas a primeira de muitas
outras.” Movendo-se vagarosamente, o cardeal serviu-se de mais vinho.

“Disseste que cumpririas tua promessa se o conclave fosse realizado. A enviada da Turísia não está aqui
com a pérola?” perguntou o grão-duque.

“Murrrp!Sim e aqui pudemos obter informações imprescindíveis. Mas agora duvidas de nossa palavra,
bondoso duque de Orqushire?” O cardeal percebeu o inseto redondo e preto e cascudo sobre o mapa, afastou-o
com a mão e ele rolou sobre a mesa e caiu fazendo um estalido no chão. “Tu a terás de volta. Nós a traremos de
volta até o fim do conclave, não é este o momento para que te arrependas de nossa aliança. O enviado de
Blanqueários deu-nos uma preocupação a mais com a notícia de que a jóia das devotas do deus Xexeres foi
roubada pela jovem princesa delas próprias. Porém, a localização das outras nestes mapas é certa, podemos sentir.
Nunca antes foi possível determinar a posição de tantas. O ônix está aqui, bem como a pedra da Turísia. O rubi –
quem diria que pertence a Tchuma-Enthofa? – não deixará o feudo sagrado e é lá que devemos buscar por ele. A
ametista, as fadas a possuem. Para encontrar a jóia de Xexeres devemos caçar a princesa errante. E quanto à elfa
sombria da qual alertou-nos Blanquearios, por que não esperar que colecione algumas outras para que dela
possamos tomar mais do que apenas o topázio?”

“Pois bem, que seja até o fim do conclave, então.”

“Em poucos dias, grão-duque. Em poucos dias.” O cardeal foi servir-se novamente e verificou que não
havia mais vinho. Contrariado, deixou a taça sobre a mesa. “Manda vigiar esta sala. Os mapas não podem ser
vistos por ninguém.”

“Bem o sei. Agora vou retornar para a torre, preciso ver minha filha querida.”

“Pela manhã estaremos no comando da cerimônia sagrada para darmos início oficial às atividades do
encontro; logo cumpriremos com o acordo. Mas presta atenção, nosso amigo: não seria melhor verificar a
esmeralda? Traga-a para cá, ficará mais segura no templo do que com a jovem duquesa de Orqushire, disso não há
dúvidas.”

“Terás a maldita pedra, eu já disse. Não ouses perturbar minha filha com isso.”

Saiu apressado o Grão-Duque.

O cardeal apenas sorriu e deixou as mãos repousarem sobre o ventre, os olhos ainda fixos nos mapas.

“Murrp!”

Cobriu a boca com o dorso da mão. Tinha um anel de ouro, grande e quadrado.

***

**

Ao entrar na sala octogonal da torre, os primeiros sons que o grão-duque ouviu foram os gritos da
duquesinha. Aproximou-se para ver o que acontecia e lá no centro encontrou-a e à Lourdes-Maria rodeadas por
algumas outras servas e pela capitã Artemísia, com a qual discutiam.

Logo foi informado do que ocorria: sua filha pretendia ir à taverna em busca de uma poção de ervas
medicinais que pedira à herborista e que alegava servir para enrijecer os músculos das pernas, o que era uma
forma mais discreta de dizer, pensava Artemísia, tratar-se de uma poção anti-celulite. O grão-duque ajudou a
convencê-la de que era tarde demais para sair e acrescentou que a capitã poderia buscar as tais ervas.

E assim partiu Artemísia, sentindo-se perturbada por mais uma vez estar na condição de mensageira da
duquesinha, que ainda berrou-lhe pelas costas:

“E vai logo, lacaia, amanhã quero que minha poção esteja aqui!”

Em seguida Lourdes-Maria levou sua senhora para o quarto, ajudou-a a tirar o chambre e o corpete e a
vestir-se com leve camisola que ia até seus joelhos; continuava de meias, também.

“Ei, Lourdes.”

“Mm?”

“Boa noite.”
A serve deu um beijo na bochecha da duquesa. Daí deu uma risadinha, ergueu a camisola até ficar a
mostra um pouquinho de uma das nádegas da duquesa, a pele acinzentada pela luz das luas, sentou-se na cama,
fez um montinho nessa mesma parte com os dedos e deu ali um beijo.

“Ei, que é isso!? Estás maluca?” disse a duquesinha, deixando a camisola voltar a cobrir-lhe a traseira.
Ficou um tanto rosada no rosto, é possível, embora fosse difícel ver naquela escuridão.

“Ora, achei que querias um beijinho.”

“Quero é saber onde estão minhas calcinhas. Me sinto esquisita assim sem elas.”

“Oh. Bom... Estavam no... no baú que os ogros...”

“Oh, não. Até aquela azul-marinho?”

Nossa duquesa se deitou, a serva ajeitou um cobertor também leve sobre seu corpo e, ajoelhando-se ao
lado da cama, deu-lhe carinhoso beijo no rosto.

“Boa noite, minha senhora querida.”

“Acho que precisamos comprar umas novas, então.”

“Calcinhas? Dorme bem.” Passava um dos dedos pela manchinha que havia acima daqueles lábios
salientes da duquesa. “Se precisares, me chama.”

“Tá bom.”

Apertou-os, fez com que formassem um biquinho, tocou com o indicador no meio deles, soltou-os,
ergueu-se e se retirou. Veio então o Grão-Duque.

“Papai…”

A duquesinha tinha os olhos tristes e as palavras relutantes, esforçava-se para não desistir do que ia contar.

“Sim?”

Ela tirou um braço de baixo do lençol, mordeu uma unha.

“Eu... preciso dizer-te algo. Sobre... sobre a jóia.”

E ele empalideceu.

***

**

“Kakaka, ai... ei! Ei, olha a mão boba! Mão boba!” Num quarto escuro, ajoelhada sobre uma cama e mais
bêbada do que sóbria, Pelluria afastava as mãos do cimério de sua saia. “Pára, pára, devagar! Preciso sair!”

“Mãe de Mitra! Onde vais agora, elfa?”

“Ai, eu preciso – kakakaka – eu preciso ir pegar uma poção ali no quarto da herborista!”

Pelluria apontou para fora e tentou equilibrar-se de pé.

“Vou ordenar que um dos soldados pegue-as para que não precises ir.”

“Ooh, farias isso por mim? Eeei!”


Ele ergueu a elfa do chão como se nada pesasse e com ela nos braços aproximou-se da porta, onde
mandou que um guarda fosse até a herborista. Depois deitou Pelluria sobre a cama.

“Uuuh, que braços grandes! Kekeke, acho que bebi demais! Conta-me novamente como foi que recebeste
o título de Amra, o leão!”

“Vamos, elfinha, já ouviste esta história. Vem até aqui.”

“Ui, não!” Pelluria sentiu sua saia subindo; como verdadeira dama que era, encostou a traseira na parede e
puxou-a novamente para baixo, pois não queria que a vissem vermelha e cheia de bolinhas como estava. “Assim
não, sou tímida! Hehehe! (Ih, se ele vir a minha bunda cheia de bolinhas vai pensar que sou uma elfa porca &
relaxada!)”

“Não fiques com vergonha, elfinha!”

“Hm, , tá bom, eu mostro! Mas antes preciso de mais um copo de vinho para tomar coragem!”

O primeiro a receber sua poção da herborista, o sonífero, foi o enviado de Tchuma-Enthofa, que em
seguida retornou aos seus aposentos. Depois foi o mensageiro buscar aquela que pertencia a minha tia Pelluria, a
medicinal. E quando ele deixava o quarto da herborista, já estava chegando lá a capitã Artemísia para pegar a da
duquesinha, sem ter idéia do verdadeiro fim que possuía a mistura, a qual sabemos ser um afrodisíaco dos mais
poderosos. As três poções estavam acomodadas em recipientes pequenos de couro, todos idênticos. E foi no
momento em que a capitã passava pelo corredor da estalagem, para dirigir-se a saída da mesma, que começou a
confusão.

Mas antes minha tia recebeu sua poção e bebeu um pouco dela:

“Nnn, tem gosto ruim! Hehehe!” Colocou as mãos na cintura e de repente deixou a saia cair e amontoar-se
ao redor dos pés. “h, que vergonha, minha saia escorregou! E esqueci que não uso calcinha!”

“Crom!”

“Que foi? Nunca viu uma  élfica depilada antes? É igualzinha às outras, aquela história de que fica na
horizontal é lenda!”

Então Pelluria notou um toque na capa que cobria suas costas e virou-se para ver que atrás de si havia uma
mulher recém chegada, sendo este em verdade o motivo da surpresa do homem. Espantado, ele disse:

“Zenobia! O que estás fazendo aqui?”

“Traindo-me com uma elfinha sardenta?” veio com raiva a voz de trás de Pelluria. Sentiu a capa sendo
puxada e ouviu também: “E ainda por cima com a bunda cheia de pereba!”

“Quem é essa?” disse Pelluria, fazendo alguns cálculos a respeito de sua situação. “Oh, não, ela é...”

A única coisa que minha tia pôde perceber em seguida foi estar sendo arremessada para fora. Chocou-se
com a capitã Artemísia, pois esta vinha saindo do quarto da herborista, e ambas caíram no corredor, a capitã
sentada e a elfa de quatro diante dela (por sorte com a capa cobrindo-lhe a traseira embolotada.) Logo depois veio
voando a caneca de madeira na qual Pelluria estivera bebendo e o frasco com a poção, acertou-a na cabeça e, antes
da porta bater, ela pôde ainda ouvir a voz da mulher do cimério gritando “E toma o teu vinho, p****** de orelha
pontuda!”

“Ai, minha cabeça!”

“Hm? A elfa da madeira!” A capitã apoiou-se numa das mãos e com a outra apontou para Pelluria. “Muito
bem, elfinha, o que estás fazendo? Não gostamos de arruaceiros por aqui!”

“Ei, não sou arruaceira! Como eu ia saber que ele era casado?” disse minha tia, voltando o rosto e
percebendo que a capa acabava de escorregar e que tinha sua traseira élfica não apenas nua e embolotada, mas
apontada para o rosto da capitã. Quase morreu de vergonha.
“Mas o que vem a ser isso!? Sai de cima de mim!” exigiu a outra. “E cobre essa x***** perebenta, por
Sene, estamos em local público!”

“Ai, que vergonha!” Pelluria recolheu a caneca e colocou-a entre as pernas para tapar o depilado íntimo.
Começou a procurar pela saia entre seus pertences que se haviam espalhado pelo chão, até que a porta do quarto
abriu-se de novo, brevemente, e veio a roupa voando lá de dentro. Vestiu-se apressadamente enquanto a capitã
recolhia a poção que julgava ser da duquesinha e guardava a mesma na cintura. Porém, a mistura afrodisíaca caíra
mais para trás e aquela era na verdade a poção medicinal da elfa.

“Estás embriagada!” constatou a capitã. “Trata de ficar longe de problemas, elfinha exibicionista, e cobre
esta bunda feiosa, pois se eu vê-la de novo, te mando para a prisão!”

“Tá bom, tá bom, mas eu não fiz nada,” Pelluria recolhia as moedas e os pergaminhos jogados por vários
cantos e ao mesmo tempo ajeitava a saia.

Antes de sair da taverna, a capitã certificou-se de que ali ainda estava o soldado que deveria vigiar a elfa.
E minha tia já ia deixando o corredor quando notou ter esquecido sua poção. Voltou a se ajoelhar e foi encontrar o
cantil oculto nas sombras do fundo do local. Recolheu-o aliviada, sem dar-se conta de que havia sido trocado com
o da capitã; então percebeu que o fundo dele estava furado, devia ter se rompido na queda, e o líquido escorria de
seu interior. Aproveitou a caneca que tinha sido jogada contra sua cabeça e despejou o afrodisiaco dentro dela. Por
sorte não tomou-o, ou, já bêbada como estava, se ingerisse aquela formula tão potente, logo a veriamos subindo
pelas paredes e esta história, assim como aquelas élficas pregas dela, teriam certamente desfecho trágico.

Já agradecia a Sene por não haver ninguém além da capitã no corredor no momento em que fora
arremessada nele de bunda de fora, quando a porta atrás dela abriu-se para deixar passar um dos mesmos monges
que encontrara há pouco tempo, um daqueles do incidente dos ogros.

“Oh, aqui está a elfa! Havia sumido!” ele disse e agarrou-a pelo braço. “Não queres receber o
agradecimento dos irmãos superiores?”

“Ai, ai. Tá bom, vamos lá. (Que mais falta me acontecer?)”

“Devem estar ali no salão principal, vamos encontrá-los.”

Um pouco abatida, Pelluria resolveu acompanhar o monge. Mas antes que avançassem muito, um outro
grupo entrou pelo lado oposto do corredor.

“Ali está ele! Irmão Geritros! Irmão Geritros!” chamou com entusiasmo o que ia ao lado de Pelluria.

“Gulp! É aquele ali?”

Ao avistar o grupo, Pelluria notou que eram membros de outra carruagem, a qual ela também havia ‘salvo’
dos ogros. Certamente iriam desconfiar da coincidência. Ela imaginou a verdade sobre sua farsa sendo descoberta
e lembrou-se da ameaça da capitã de jogá-la na prisão; o vinho deixou a paranóia ainda mais intensa; olhou para o
lado e viu o monge sorridente, voltou-se para frente e os outros estavam cada vez mais próximos, restavam pouco
mais de dez passos para que se encontrassem. Então Pelluria colocou a mão numa das várias portas ao lado das
quais passava e empurrou-a, sentiu que se abria.

“Eu me esqueci que tenho uma coisa importante para fazer!” falou. “Volto mais tarde!”

Entrou rapidamente no quarto, fechando a porta e apoiando-se nela. Respirou fundo. Os monges não
pareciam querer vir atrás dela. Quando ergueu os olhos, viu que o enviado de Tchuma-Enthofa estava sentado
numa cama, ao lado de uma pequena mesa onde havia uma vela acesa e uma caneca de vinho. Ele acabava de
colocar o sonífero da herborista na caneca, estava sem camisa e mirava a elfa com surpresa.

“Hm, acho que entrei no quarto errado,” ela disse.

“Ah, nos encontramos de novo.”


“É. Mm, que é isso? Vinho? Heheh, podes me dar um pouco?” Pelluria aproximou-se dele. “Ai, eu tô
precisando. E trouxe minha própria caneca!”

Ergueu o copo parcialmente preenchido pelo afrodisíaco da duquesinha e deixou que ele a servisse.

“Posso sentar aqui um pouco?” Pelluria perguntou e sentou na cama sem esperar pela resposta. “Não és
casado, né?”

“Hm? Não, por quê?”

“Ah, nada.” Deixou a caneca sobre a mesa, ao lado da que ali já se encontrava e pronto, estava preparada
outra confusão. Apontou para o peito dele e aproximou dali os olhos. “Oh, o que é isso?”

“É uma tatuagem.”

“Hm, parece uma cenoura.”

“É o símbolo do deus Xexeres.”

“Oh, o símbolo de Xexeres é uma cenoura? Hihi, não repara não, acho que bebi demais. Mas mais um
pouquinho não fará diferença!” A elfa pegou a caneca com o sonífero e bebeu da mesma. “Hmm... ai, tu és um
nobre do feudo de Tchuma-Enthofa? Dizem que é um lugar um tanto quanto, mmm, como se diz?, excitante?”

“Sou apenas um viajante, mas a rainha Tchuma-Enthofa contratou-me para vir até aqui como seu
representante, pois temos interesses em comum neste conclave. E tu és a enviada dos elfos?”

“Oh, sim, sim, sou a princesa dos elfos da madeira e tal. Hehehe, mas no fundo sou só uma elfinha! Aan,
acho que bebi demais mesmo.” Pelluria pegou a outra caneca e entregou-a para ele. “Vamos, toma, antes que eu
beba este também. Tô com dor de cabeça. (De repente foi por causa daquele copo que me jogaram!) Tô até
trocando as pernas.”

Minha tia levantou-se e apoiou-se na parede.

“Estás bem, elfa?”

“Hmm, sei lá, tô meio com sono. Acho que vou embora agora, preciso dormir.” Abriu a porta e espiou o
lado de fora, averiguou estar o corredor novamente vazio, não havia mais sinal dos monges. “É, vô sim.”

“Tudo bem, nos veremos amanhã, então,” ele disse e bebeu parte do vinho com a poção afrodisíaca da
duquesinha. A elfa saiu, mas voltou logo em seguida com uma das mãos na testa.

“Ai, eu tô estranha, não sei o que me deu. Esse vinho parecia tão fraco, isso nunca me aconteceu antes.
Minha cabeça tá pesada, me ajuda a ir... mm...” Ela encostou-se na parede e seu corpo foi deslizando até o chão,
onde sentou-se. “Mmm... a ir pro... meu... zzzzzz... Ronc!”

Gustaff Olafson chegou mais perto, viu que minha tia dormia profundamente. Sacudiu-a pelos ombros
para tentar acordá-la e então virou-se, olhou para a caneca de vinho, pensou no que podia ter ocorrido e foi
examinar o conteúdo da mesma perto da chama da vela. Assegurou-se de que a elfa não podia ter tomado o
sonífero, pois conseguia ver a mistura de ervas e vinho no recipiente do qual estivera ele próprio bebendo (mas
tratava-se, é claro, nossos espertos leitores já sabem, do afrodisíaco da duquesinha Mychelle, pois a elfa tinha sim
tomado o sonífero). Tentou novamente acordar Pelluria sem obter sucesso, até que decidiu colocá-la na cama. No
momento em que ergueu-a, escutou o som de metal batendo no chão. Deixou-a roncando sobre o colchão e viu
que de sua saia havia caído um saco cheio de moedas, do qual apoderou-se com um sorriso. Levantou a saia de
minha tia e constatou que, além das coxas rosadas e com arranhões de coceira e do fato de não estar usando
calcinha e, de como já foi dito, não ter cabelinhos ali embaixo, tinha uma outra bolsinha com mais moedas e até
jóias, que ela havia roubado durante a tarde. Tomou-lhe mais esta.

Então sua própria cabeça começou a pesar.

“Oh, não! Agora não! Preciso beber o sonífero!”


Correu até a porta para trancá-la e esconder a chave num de seus bolsos, depois pôs-se a beber
apressadamente do caneco de madeira, sem suspeitar de que ingeria desta forma o elixir do amor de
Mordenkainen em uma dose incrivelmente superior à recomendada!

Obviamente, nossos preocupados leitores neste ponto vão temer pela segurança de minha desacordada tia,
adormecida por um sonífero e trancada com um homem que recém tomou a tal poção do amor. Não vos
desespereis, porém, que saiu-se ela dessa situação com sua depilada honra élfica intocada e logo direi como,
embora talvez tudo só fique claro no nosso próximo capítulo.

***

**

Algumas horas mais tarde, apoiada nas grades da janela de seu quarto, observando através delas com o
olhar desanimado de um prisioneiro, estava a duquesinha. A luz das luas invadia apenas aquele canto onde ela se
encontrava, esparramava-se por pequena parte da parede e também por sobre a pele pálida dela. Estava nua; os
seios caindo sobre as costelas – seus bicos redondos e salientes erguendo-se das ilhas perdidas no centro de cada
um deles – e seus lábios aveludados eram tudo o que emergia da escuridão profunda do aposento. A camisola e o
corpete estavam amontoados a seus pés.

Por trás dela veio a serva, tocou-lhe as costas por entre os cabelos longos e encaracolados e disse-lhe
baixinho:

“Minha senhora está sem as roupas?”

“Tive calor. Estou suada.”

As pontas dos dedos da menina passearam por sobre a espinha da duquesinha, foram descendo devagar até
que a palma magra afundou-se no início da reentrância entre os dois montinhos formados pelas nádegas ali abaixo
da cintura.

“É verdade, estás molhada.” Os dedos desceram mais penetrando entre aqueles montes tão fofos, sentindo
o ultimo dos ossinhos dela. “Mas desse jeito logo ficarás com frio. Por que estás de pé, querida?”

A serva também tinha o peito descoberto, vestia apenas uns véus amarrados à cintura, que eram seus trajes
de dormir. Tirou a mão de onde estava e pousou-a numa nádega da senhora, que era tão macia e que muito gostava
de tocar.

“Não pude dormir, estou inquieta,” falou a duquesinha. “Contei a verdade ao meu pai sobre a jóia.”

“Fizeste bem, agora não precisamos mais nos preocupar com isso. Não queres deitar? Já é tarde.”

“Não. Tive um sonho ruim, deixou-me a sensação de que ocorreu algo ou que vai acontecer. Fiquei
assustada.”

“Posso passar a noite aqui, se a minha senhora quiser.”

“Tá bom, não quero ficar sozinha.”

Apoiou-se toda na duquesinha, a serva, como que a abrançando, e respirando bem fundo, sentiu o perfume
de seus cabelos. Perto deles recostou o rosto, passou a olhar também pela janela.

“Gosto de ficar com a minha senhora.”

“Por que não vieste antes?”

“Eu tentei, mas a vigia não deixou, disse que iria atrapalhar teu sono. Se não fosse por teres me chamado,
eu não estaria aqui.”
“Ah. Vigias estúpidas. Também gosto de quando dormes no meu quarto, vou mandar que te deixem entrar
sempre que quiseres.”

A menina foi se erguendo, foi ficando na ponta dos pés por ser mais baixa que ela, e com a boca próxima
ao ouvido da senhora, cochichou-lhe “Vem deitar, por favor. Não é bom que pegues frio desse jeito.”

Andando devagar para não tropeçar, porque naquela escuridão seria algo bem possível, foi a duquesinha
até a cama e nela deitou de bruços. Trazendo a camisola, a serva sentou-se sobre as próprias pernas, ao lado da
cama, cobriu-lhe os pés com o lençol, depois tocou uma das pernas da nobre por sobre as meias e por fim chegou-
lhe os dedos de novo à nádega, tendo percorrido com leveza o caminho da coxa até ali.

“Mm, que estás fazendo, Lourdes?”

“Uma massagem.”

“Talvez faça eu me esquecer do sonho bobo.”

“Pronto, pronto, agora relaxa,” disse a serva, apertando com firmeza e acariciando. “Minha senhora
querida não tem mais com o que se preocupar, está tudo resolvido. Queres me contar sobre o que sonhaste?”

“Sonhei com a elfa. E tu tinhas... oh, foi só um sonho, não quero falar sobre ele.”

A duquesinha virou-se para cima e disse:

“Pára, tocando-me desse jeito, tu me… Oh, pára.”

A serva subiu na cama e acomodou-se ao lado da duquesa sem responder; com o passar do tempo foi se
aproximando cada vez mais, até estar num canto do travesseiro dela. A duquesinha puxou o lençol mais para cima,
de forma que cobrisse as duas, depois acomodou a mão pequena da outra entre as dela.

“Sinto-me melhor agora que estás aqui,” falou a duquesinha. “Sabe, quando olhava pela janela parecia que
via algo nas nuvens, deu-me uma sensação ruim. Era como se algo espreitasse do lado de fora dos muros, na
floresta. Apertava-me o coração, deixou-me muito preocupada.”

“Não é nada, senhora, os sonhos nos deixam assim. E a minha dama teve um dia difícil.”

“É, estava angustiada. Ou vai ver é só uma tempestade que vem vindo. De qualquer forma, sinto-me mais
tranqüila agora, tu me fazes bem. Sempre fizeste, desde que éramos pequenas.”

“Vou estar sempre ao teu lado.”

“Serás sempre a minha serva?”

“Sim. Até a minha senhora casar.”

“E depois?”

“Depois vou ser a serva dos filhos da minha senhora.”

“Se bem que está difícil, papai não consegue arranjar-me um bom pretendente. Não que eu queira
realmente casar. Se eu tivesse um filho, irias tirar a virgindade dele para mim, quando fosse a hora?”

“Ei!”

“Boba, estou brincando. Por que ficas tão nervosa?”

“A capitã Artemísia seria mais adequada para este serviço!”

“E se o fizesse, perderias também a tua. Tu és virgem, ainda, não é, Lourdes-Maria?”

“A senhora quer dizer...?”


“Quero dizer que nenhum homem jamais te tocou, não foi?”

“A minha senhora sabe. Eu fico com vergonha.”

“De que?”

“Desses assuntos!”

“Mm, poderia fazer isso por ti, sabias?”

“Hã? O que?”

“Se quisesses, poderias escolher o homem que tivesses vontade de experimentar e eu o mandaria vir para
ti, tudo em segredo, é claro. O que achas?”

A menina esperou um pouco, depois perguntou:

“Até mesmo o teu primo, senhora?”

“Safada!” Com a cintura, a duquesinha deu um empurrão na serva. “Ele não iria querer, já sabes o motivo.
Mas se ele aceitasse, eu o dividiria contigo! Quem sabe com a poção? Se for tudo o que disse a herborista, poderia
com nós as duas...”

“Ai! Eu não falava sério, senhora!”

“Sei que só querias me provocar. Mas pensando bem, não é uma má idéia. Qual o problema, boba? Às
vezes parece que tens medo de homem.”

“Eu não tenho medo de... Oh. Eu apenas não gosto! É tão difícil de entender?”

“Se experimentares, quem sabe não passas a gostar também?”

“Por favor, muito me constrangem esses assuntos, senhora.”

“Não pretendes te casar algum dia, Lourdes-Maria?”

“Não posso!”

“E por que não?”

“Já sou casada!”

“Hã?”

“Com a minha senhora”

A serva apertou o corpo da duquesinha num abraço. A duquesa apenas arregalou os olhos sem poder dar
nenhuma resposta.

“Quero dizer... ser uma serva é como estar casada, devo obedecer e respeitar a minha senhora e fazer as
vontades dela, bem como devo dedicar todos meus pensamentos e ações para agradá-la. Não poderia ter outra
pessoa em minha vida ou não seria uma boa serva.”

“Sei bem o que queres dizer, na verdade. Não sou burra. Já falamos sobre isso, não é? Ei, não fiques tão
perto assim, estou com calor.”

“Oh, desculpa. É que gosto muito de dormir segurando teu corpo para não me sentir sozinha.”

“Não vou te deixar sozinha, Lourdes. Mas vamos dormir, então. Tu estás cansada, não é?”
Ficaram deitadas no escuro, por muito tempo, até o momento em que a serva encostou o queixo no ombro
da duquesinha e ali dormiu.

***

**

Pelluria se acordou com os raios de sol batendo em suas costas e ombros, aquecendo tudo por cima das
roupas, até o bumbum élfico, que graças a Sene tinha parado de coçar. Dava a sensação de que seria um lindo dia.
Havia dormido tranqüilamente, por muito tempo, não sabia bem onde estava e lembrava-se de pouca coisa, mas
era agradável estar numa cama. Foi recuperando as sensações, bem como os pensamentos, e sentiu que seu rosto
estava afundado entre duas almofadas muito grandes e macias e arredondadas. Esforçou-se para afastar a preguiça
e veio a memória de que havia entrado no quarto do enviado de Tchuma-Enthofa e bebera vinho, não sabia
exatamente o que acontecera depois.

Não tinha vontade de abrir os olhos, as almofadas eram confortáveis e estavam também aquecidas pelo
sol, o que as tornava de textura agradável. Pegou-as e amontoou-as para ajeitá-las sob o rosto, notou que tinham a
forma de duas grandes circunferências, cada uma com o tamanho aproximado de sua cabeça. Percorrendo uma
delas, seus dedos bateram numa saliência. Apertou-a, era uma pontinha dura, uma bolinha, um bico, e estava presa
bem no meio daquela esfera. Puxou esta saliência.

“Mmm–aai!”

Ouviu um gemido feminino bem próximo e, um pouco assustada, abriu os olhos. Foi levantando o
pescoço, veio uma dor de cabeça e Pelluria sentiu que o gosto do vinho ainda estava em seus lábios secos. E ela
estava deitada sobre o corpo de outra mulher, foi o primeiro que notou quando se acostumou com a claridade, sua
cintura estava entre as pernas dessa outra. Suas próprias pernas estavam entre as pernas dessa outra. E essas
pernas se fecharam e apertaram-lhe as coxas. Eram mais grossas que as suas.

“Tá bom, tá bom, é só o efeito do vinho dos tempos de crise!” Minha tia esfregou as pálpebras, chegou a
pensar que estivesse ainda dormindo, porque aquilo era impossível. “Vou abrir os olhos e... Mas por Sene, posso
senti-la sob meu corpo! O que está acontecendo aqui?”

Foi olhar de novo e viu que a outra estava nua e o que mais chamava a atenção eram os seios enormes
dela, de um tamanho que Pelluria nunca tinha visto igual: tinham ao menos o dobro dos da duquesinha e,
apontando para cima, com a outra deitada assim, chegavam a esconder o rosto da mulher.

Nunca vistes garota de seios semelhantes, garanto, e deveis pensar que era gorda por tê-los assim, mas ao
contrário, era bem magrinha, só não tanto quanto minha tia, e de aparência bem atlética, o que deixava-lhe o corpo
com proporções um tanto engraçadas, pois era em tudo normal, menos nisso. (Se bem que na cintura e na parte de
trás era um tanto mais cheia, também, embora minha tia não pudesse observar isto na ocasião.) E esses seios, além
de tão grandes, eram muito dos firmes e redondos e branquinhos, que aliás era bem branquela a moça, nisso
similar a nossa conhecida duquesa. Sobre o bico de um deles Pelluria tinha a mão, eram as almofadas, percebeu, e
ainda por cima estava durinho como ficam os de qualquer moça que passa frio, não que estivesse frio no quarto,
como já foi dito. Bom, se bolinassem um dos meus como Pelluria estivera bolinando aquele sem perceber, creio
que também ficaria nesse estado.

Envergonhada, soltou minha tia rapidamente aqueles peitos e tratou de sair de onde estava. Aí sucedeu o
mais estranho, que foi quando, pondo-se de pé, minha tia viu o rosto da que estava na cama: nos dois lados da
cabeça dela, do meio dos cabelos de uma cor que beirava o esverdeado, saíam grandes orelhas de coelho que
dobravam-se sobre si mesmas. A mulher tinha os olhos fechados, o nariz era redondo e, sob este, entre os lábios
encorpados mas não muito largos, estavam dois dentões salientes que, da mesma forma que as orelhas, lembravam
um coelho, e dos quais saía o som de uma respiração pesada.

“Mmmm” a mulher-coelho gemeu e trouxe para cima a mão que repousava sobre suas costelas, cobriu
com ela a ponta daquele seio que tinha sido beliscada e foi levantando-se devagar, apoiada sobre o outro braço.
Pelluria viu que os olhos dela se abriam, tinham um tom róseo e incomum. “Uma elfa? Acaso estavas me...?” A
garota-coelho olhou para os próprios seios e em seguida voltou a erguer o rosto. “Que ideia foi essa?”
Era cedo, passava-se pouco mais de duas horas do nascimento do sol e enquanto minha tia tentava
entender como havia parado ali, o grão-duque e um preocupado cardeal de Dravísios – este ultimo num dos raros
momentos em que suportava o próprio corpo obeso apenas com as pernas – contavam à capitã Artemísia sobre o
fato de terem sido roubados a esmeralda e o convite da duquesinha. Estavam os três na sacada de um dos andares
superiores do templo da Cerejeira Sagrada, de onde podia-se ver a árvore e onde em breve estariam os enviados e
os fiés para a realização da cerimônia religiosa de abertura do conclave.

“Uma elfa?” perguntava a capitã.

“Sim, minha filha disse-me que a ladra acompanhando a dupla de ogros apresentou-se como uma elfa da
madeira,” terminou de contar o grão-duque tudo aquilo que lhe havia dito a duquesinha na noite anterior.

“Então ela foi tola o suficiente para tentar infiltrar-se no conclave com o convite roubado,” exclamou a
capitã. “Esta elfa da madeira chegou ontem à noite e mandei que a vigiassem, por ser de aspecto suspeito!”

“O quê?” interveio o cardeal, seus dedos apertando os diversos anéis brilhantes que trazia acompanhando
o dourado nesta manhã. “Então ela está aqui no vilarejo? Deve ser uma espiã!”

“Sim, está na taverna!”

“Artemísia, reúne os guardas e prende essa elfa,” mandou o grão-duque. “Devemos aproveitar seu
descuido para recuperar a jóia! Vai imediatamente, mas atua de forma discreta para não alarmar os demais
enviados.”

“Oh, podeis deixar! Aquela elfa não vai me escapar!”

A capitã prendeu a espada na cintura.

***

**

Lede depressa o próximo capítulo desta aventura se quereis saber como minha tia Pelluria foi parar numa
cama com uma coelhinha pelada (já vos adianto que não é nada do que estais pensando, pois nossa elfa não
apresenta as tendências da serva da duquesinha) e se vai escapar ela dos soldados do vilarejo!

Todas as histórias são de responsabilidade de seus respectivos autores. Não nos responsabilizamos pelo
material postado.
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