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Elfa - Volume I

Autor(es): elfman

Sinopse
Aventuras espadas & calcinhas com um grupo de matadoras de monstros e caçadoras de tesouros que inclui uma
elfa, uma fada, uma coelhinha ninja e uma humana com a bunda gordinha.

Notas da história
* Escrito com o objetivo de sacanear todos os clichês de mangás, animes, rpgs e histórias de fantasia que
existem, nada se salva e todo elemento possível de se imaginar nesse tipo de história acaba aparecendo uma hora.

* A princípio pode não parecer, mas é uma história bastante complexa e com dezenas de personagens e elas
passam por algumas aventuras bastante pornográficas de vez em quando, então leia por sua conta e risco.

* Não leia a sério.

(Cap. 10) IX - Tempestade

Notas do capítulo
Após episódio de natureza obscena que podeis pular tranquilamente se não vos agradam aventuras pornográficas,
no qual mostra-se como passam o tempo juntas a duquesa e sua serva, a elfa Pelluria e a fadinha invadem a torre
da nobre e conta-se das coisas que lá elas descobrem; depois, em traiçoeiro ataque pela retaguarda, nossa elfa
causa um terrível agravo à Mychelle Alanturia e criaturas ainda mais terríveis atacam o vilarejo.

Parte IX - Tempestade

“Após episódio de natureza obscena que podeis pular tranquilamente se não vos agradam aventuras
pornográficas, no qual mostra-se como passam o tempo juntas a duquesa e sua serva, a elfa Pelluria e a fadinha
invadem a torre da nobre e conta-se das coisas que lá elas descobrem; depois, em traiçoeiro ataque pela
retaguarda, nossa elfa causa um terrível agravo à Mychelle Alanturia e criaturas ainda mais terríveis atacam o
vilarejo.”
A serva Lourdes-Maria, imóvel, olhava para as mechas encaracoladas jogadas sobre a testa da duquesinha,
e também para as que emolduravam as bochechas fofas dela. Lá em cima, prendendo a maioria daqueles cabelos
num montinho dourado, havia laço feito com fita alaranjada, uns poucos fios loiros e quase transparentes desciam
por cima dos olhos apertados da nobre. Uma das mãos dela escondia-se nas costas, onde segurava lençol que
cobria-lhe o ventre e as pernas, e o outro braço tinha solto ao lado do corpo; também soltos estavam seus seios,
esparramados cada qual para um lado do peito, e as plantas de seus pés apertavam-se contra as pedras ásperas do
chão.

Estava o quarto no mais absoluto silêncio, a cama desarrumada no centro tinha suas cortinas bem abertas e
as da janela encontravam-se na mesma condição, e manteve-se tudo em inércia por tempo que, para as duas
mulheres, custou muito a passar. A que rompeu a quietude foi a serva e com uma única palavra; chamou sua
senhora de tola.

“O quê?” foi tudo o que conseguiu nossa duquesinha expressar em resposta, num tom abafado.

A serva, reunindo coragem, pois deixara-lhe nervosa o atrevimento que ela própria acabara de cometer,
pediu à duquesinha que a escutasse com atenção. Daí, atrevendo-se mais ainda, perguntou o seguinte:

“Alguma vez amaldiçoei, se é que sou capaz de fazer tal coisa, um dos muitos homens com quem já
estiveste?”

Os lábios de carnes grossas da duquesinha moveram-se um pouco, deslizaram um por cima do outro, e ela
tentou e esperou e tentou de novo, mas não soube o que responder. Prosseguiu então a serva:

“Tu gostas do teu primo, apesar dele não nutrir por ti os mesmos sentimentos. Eu tenho ciúmes dele, é
verdade, mas bem sei que vê-lo ferido apenas iria te machucar. E eu prefiro morrer a te machucar.” Elevando sua
voz, Lourdes-Maria concluiu aquilo que falava com mais algumas palavras que desnortearam sua senhora:
“Porque eu te adoro.”

Reagiu a duquesinha chamando o nome da serva, mas não pôde dizer mais nada. Então a menina, que já
estava bem perto dela, aproximou a boca e beijou-lhe de forma muito delicada o queixo, isso ainda sem tirar do
rosto a expressão grave.

Neste ponto caiu o lençol, ficou dependurado entre a cômoda e a traseira da duquesinha, cujos assentos
repousavam apoiados no móvel. Vestia só um saiote, a nobre, dos que cobrem apenas na frente, e passou os dedos
pelo rosto diversas vezes. Quando ia afastá-los e ia tentar falar algo, detia-se e trazia-os de volta para esfregar os
olhos que se iam umedecendo. Foi a serva quem tirou-os dali, subiu uma de suas mãos pelo rosto da duquesa,
levou-a até o laço e o desmanchou, soltou os cabelos dela. Cada vez mais forte abraçou a senhora, até estar toda
acomodada no corpo dela, as peles das duas apegando-se por causa do suor.

Retribuiu o abraço, a duquesinha, e sentiu a palma da menina subindo por seu abdome e pelas costelas e
por um dos seios. Lourdes-Maria apertou-o entre os dedos, suavemente, e segurou-o todo. Levantou-o e beijou-o
também, no topo dele, onde havia a cicatriz.

Mychelle Alanturia recostou o queixo na testa da serva, inspirou de forma profunda sentindo o perfume do
corpo dela e disse “Foi estupidez duvidar de ti."

“Tens o direito de fazer o que quiseres comigo, pois sou a tua serva. Agora senta na cama, senhora minha,
descansa,” disse a menina e soltou a nobre depois de fazer-lhe breve carícia nos ombros. “Vou pegar tuas roupas e
conversaremos sobre o que te deixou perturbada.”

A duquesinha concordou e, enquanto a serva recolhia o lençol, afastou-se dali: tinha marcada na palidez de
suas nádegas, nas partes mais salientes delas, que eram as que ficavam nas proximidades das bases, uma linha
vermelha feita pelo tempo em que estiveram apertadas contra a cômoda. Com os passos da duquesinha, sacudia a
linha e também saltitava o sinalzinho preto e redondo na pele deste mesmo lugar, e depois de apreciar isso tudo
por uns instantes – algo que gostava de fazer, como podeis observar – foi a serva até um baú próximo da saída do
quarto e retirou-lhe do interior um dos vestidos de sua senhora, leve e sem mangas. Daí retornou à cama onde já
estava sentada a duquesa, apoiada nos cotovelos, com os cabelos todos jogados para trás dos ombros, o saiote
afogado entre suas coxas e o cordãozinho que prendia-o insinuando-se numa discreta prega na cintura na dela.

“Está tão quente, não é?” perguntou a serva. Acomodou o vestido na beirada da cama, entre as colunas de
cedro que seguravam as cortinas. E a temperatura era mesmo tão elevada e o ar tão quente e difícil de respirar que
dava-lhe vontade de passar o dia parada sob uma sombra qualquer e de tirar aquelas meias brancas que usava
debaixo do seu próprio vestido.

Ergueu-se uma das sobrancelhas da duquesinha. Olhava com certa crítica para a própria cintura e, com um
dedo, apertou a preguinha saliente sobre o cordão do saiote até fazê-la desaparecer. “Não bastasse a bunda, estou
começando a ficar pançudinha,” cochichou e soltou e a preguinha apareceu de novo. A serva riu baixinho e a
duquesa disse “Não dormi bem.”

“Outro sonho?” perguntou Lourdes Maria.

“É.”

“Queres me contar?”

“Não,” disse simplesmente a duquesinha e esticou as costas, que até então haviam estado curvadas.
Afastou-se um tanto da menina dando a impressão de que queria era ir para longe das perguntas dela.

A serva entendeu e calou-se. Mas chegou-se novamente à senhora, afastou-lhe uns cachos da frente dos
olhos, queria vê-los. E viu-os bem, pois voltaram-se para ela e a duquesinha perguntou:

“As vigias não te deixaram vir à noite?”

“Disseram, como da outra vez, que eu iria perturbar teu sono,” Lourdes respondeu.

“P***s,” sussurrou a duquesinha.

Ficaram quietas e a duquesinha foi tocar uma das coxas de Lourdes Maria sobre o vestido; a menina pôs
seus próprios dedos por cima, para segurar os da senhora ali.

“Sobre o que era teu sonho?” Lourdes perguntou então.

“Bobagens,” recusou-se de novo a duquesinha a falar sobre o assunto, de modo um tanto redundante, que
é o que me parece ser este capítulo todo até agora, ainda mais com este tom meio rosado e meio purpura que vem
sendo utilizado em todas frases. Imagino se foi minha tia quem realmente escreveu esta parte da história.

“Foram tais bobagens que te fizeram pensar aquela besteira sobre mim?” insistiu Lourdes Maria. “Dessa
maldição de teu primo eu nada sabia antes de teres me contado sobre ela.”

“Foi meu pai quem explicou-me tudo ontem ao entardecer. E não sei o que me deu, fiquei pensando tanto
em ti que confundiu-se tudo em meu interior. Mas alguma coisa ruim acontece neste vilarejo, escondida dos
olhares de todos, isso é certo. Meu primo havia sido amaldiçoado por alguém que colocou-lhe um objeto debaixo
da cama.”

A serva ergueu a mão da duquesinha, beijou-a e, querendo evitar esses assuntos desagradáveis, disse
sorrindo:

“Estou usando o presente que deu-me a minha senhora.”

“O presente?” Sorriram também os lábios da duquesa, ergueu-se o sinal no canto de cima deles. “Oh, a
calcinha, queres dizer?”

“Hum rum. Queres vê-la?” ofereceu a serva depois de apreciar o sorriso da senhora por mais um tempo,
porque era algo raro, principalmente quando mostrava-se de forma tão natural, e a duquesinha aceitou a oferta,
não sem chamar a serva de sem-vergonha.
Lourdes Maria levantou o vestido, levou-o até a cintura erguendo uma nádega de cada vez para passá-lo
sob as duas. Suas meias, também dadas pela nossa duquesa, herdadas da época em que era esta mais magra nas
coxas, iam até acima dos joelhos. A partir delas havia pele descoberta, bem branca (talvez tanto quanto a da
própria Mychelle Alanturia), e mais para cima, no lugar onde devia ficar, estava a peça bordada cobrindo toda a
intimidade da serva, e de forma mais graciosa que discreta.

“Olha como se prende direitinho em mim.” Tão logo disse isso, a serva levantou-se e pôs-se na frente da
senhora, já erguendo um dos lados do vestido para exibir-se mais. “Ficou perfeito.”

“Que bom, achei que ficaria pequena.” Nossa duquesa pôs a mão atrás duma coxa da serva. “Não está te
apertando o bumbum?” Fê-la subir até a traseira dela, onde fez um carinho ali onde o pano tinha o formato de um
triângulo bem liso e esticado que tapava todo o centro daquele bumbum pequenino. O tecido só se enrugava em
sua ponta inferior, porque esta mergulhava entre as nádegas naquela depressão onde elas acabavam e dali fazia a
volta para crescer de novo bem apegado à bolotinha que era o sexo de Lourdes, que era o ponto que os dedos de
Mychelle percorriam, sentindo-o muito quente.

“É tão macia e agradável,” a serva disse, “que às vezes é como se eu estivesse sentada sobre plumas.”
Então deu um gemidinho, que a duquesinha, um pouco corada, sorrindo num misto de satisfação com
constrangimento, o que também parecia sentir Lourdes Maria, teve a sensação de algo úmido atravessando o pano
sob seus dedos. Insinuou-os contra o íntimo da outra, onde havia reentrância natural. Ergueu então o outro braço
e, com as duas mãos, segurou toda a bunda delicada de Lourdes Maria e passou a acariciá-la. Suspirando
baixinho, a serva soltou o vestido, ele voltou a cobrir-lhe a frente e ficou suspenso atrás apenas sobre os punhos da
duquesa, que falou assim:

“É claro que é agradável de tocar e nem poderia ser diferente. Afinal o tecido assume a textura do que está
cobrindo.”

“Oh, mas sou tão magra, senhora,” respondeu Lourdes Maria, “que não posso ser agradável de tocar.”

“Quisera eu ter bundinha firme como esta,” disse nossa duquesa mais aprazendo que envergonhando a
serva, e firmando mais as palmas naquilo que pegava. Pôs os dedos para dentro dela e foi abaixando, devagar, a
calcinha. “Parece feita de dois pêssegos bem bonitos, daqueles que enchem a boca de água.”

“Oh,” foi tudo que a serva pôde responder.

“E não só a boca, se me perdoas a indelicadeza.”

Corou-se a menina e chegou mais perto, até suas pernas baterem nos joelhos da nobre. Estes se afastaram
cada qual para um lado e, puxando-lhe a cintura, a duquesinha fez com que a serva se aproximasse mais ainda.
Ergueu-lhe o vestido e aproximou o rosto desta parte que tinha descoberto.

“Preferias ser gorducha como a tua senhora, que de tanto comer mal entra nos vestidos, por acaso?”

“Minha senhora é bela e muito mais feminina do que eu.”

“Feminina?” disse a duquesa e beijou os cabelinhos dourados que se restringiam à área acima do sexo da
serva, que bem como a própria Mychelle Alanturia, ela tinha sem pêlos a pele ao redor daqueles lábios.

“Sim, teu corpo é macio e delicado, teus seios tão redondos e doces e tuas pernas são uma delícia,”
murmurou a serva, erguendo o rosto. “Para qual de nós olham os homens quando estamos juntas? Não para mim,
que mais pareço um menino de tão magra.”

“Um menino, é? Vamos ver,” disse a duquesinha e seus dedos, os polegares, desceram até os labiozinhos
do íntimo da serva e deslizaram sobre eles, que estavam bem úmidos, e os afastaram, abrindo-os como se fossem
os de uma boca. “Estás toda molhada,” disse ainda nossa duquesa, “chega a escorrer,” como se sob ela, no lençol,
já não houvesse se formado uma manchinha não menos úmida.

“Senhora,” chamou a serva e pôs uma mão sobre a cabeça da duquesinha, fechou-lhe os dedos nos
cabelos, puxou-a mais para perto.
Afastaram-se as coxas de Lourdes Maria e ela sussurrou “mm” e “sou o teu menino” enquanto o língua da
duquesinha explorava-lhe e acariciava-lhe o sexo, o nariz roçando sobre os pelinhos dourados. A mão da menina
se fechou com mais força, nossa duquesa sentiu os cabelos sendo repuxados e com certa paixão continou
beijando, por assim dizer, a outra nos lábios, e Lourdes se esticou e quase ficou nas pontas dos pés para entregar-
se mais. Em seguida soltou um gritinho, estremeceu e, ainda pegando nossa duquesa pelos cabelos, empurrou-lhe
o rosto para longe, mais gemendo que dizendo “Pára, pára, oh, é melhor pararmos,” de olhos fechados.

“Por quê?” perguntou-lhe a duquesinha, erguendo as costas, onde nalgum lugar estalou um osso.

“Oh...” Lourdes-Maria voltou-lhe as costas, deixou o vestido voltar a cobrir-lhe a bunda e, num
movimento rápido, abaixando-se e voltando a subir, ergueu a calcinha. “Precisamos ir ao templo!”

“Ao templo?” disse Mychelle Alanturia, passando o dorso duma mão na boca.

“Sim... o teu pai já está lá e ele... ele…”

“Gozaste, não foi, safada?” riu a duquesa. “Hahah, duas ou três passadinhas e te acabas.”

Lourdes Maria voltou-se para ela, tinha o rosto rosado, ergueu os ombros. Disse “Não aguento muito com
a língua. Ainda mais do modo como estava excitada.”

“E como achas que estou?” Nossa duquesa se ergueu também, pôs as mãos na cintura. “Chega a latejar,”
disse.

A serva veio para perto, pôs as mãos nos ombros dela. Pôs-se nas pontas dos pés e beijou-lhe os lábios,
bem rápido.

“Não vamos para o templo hoje, minha Lourdes, quero ficar aqui contigo,” cochichou a duquesa.

Daí a serva ergueu suas mãos, segurou o rosto de sua senhora para que não fugisse e beijou-a com
vontade. Experimentou os lábios grossos dela, afastou-os com os seus e com a língua, e também mordeu-os,
apertou-os e puxou-os até os gemidos da duquesinha estarem próximos de se tornar sinal de dor. Foi se juntando
cada vez mais à senhora, toda a atenção voltada a beijá-la, e devorava-lhe a boca com tanta voracidade, ou com
tanta paixão, que quando parou um pouco viu estar toda rosada e umedecida a área em volta dos lábios dela, e
notou que a pegava pelos cabelos de forma afoita. Estavam deitadas na cama de nossa duquesa.

“Precisamos mesmo ir ao templo, minha senhora,” disse Lourdes. “O teu pai está encerrando o conclave e
certamente nos quer lá.”

“Tu és sem-vergonha,” a duquesinha disse. “Por que me beijas tão gostoso e cada vez sufocas mais minha
vontade de sair deste quarto?”

“Mm, então vamos aproveitar só mais um pouquinho, tá bom?”

“Lourdes,” suspirou a duquesinha.

“Mmm?”

“Estás me deixando louca. Tá doendo, não posso mais aguentar...”

Agora ou muito me engano ou vejo a seguir o parágrafo mais horrendo de toda esta história. Senão
vejamos, contemplai:

Lambeu-a toda, a serva. Afastava-lhe os lábios, passava a língua em volta deles e dentro deles, a umedecia
com saliva, com a sua própria e também com a da duquesinha, que buscava no fundo da boca da senhora como se
fosse esta tinteiro e sua língua uma pena indo recolher a carga. E depois de escrever todas as páginas que queria
nos lábios da duquesa, e no queixo e no pescoço, e de sentir o sabor salgado de suor entre os poucos pêlos
brotando na axila dela, Lourdes Maria tomou-lhe os seios com todo o cuidado do mundo e uniu-os bem; o bico
eriçado de um deles e sua língua agora pareciam espadas em duelo cada vez mais veloz, batiam-se por todos
lados. Vencedora no final desse combate que perdurou por bom tempo, ela passou ao outro, venceu-o também e
acabou aprisionando aquele botão entre os dentes, e para castigá-lo pela derrota puxou-o um pouco com eles.

Depois de receber tal punição, não sem gemer de dor, pediu-lhe a duquesinha que parasse e a f******,
posto que já não podia mais aguentar de desejo e sentia-se prestes a explodir ou desmaiar ou algum exagero desse
tipo. Arrancou o vestido da serva, Lourdes Maria montou nas coxas da senhora e atendeu-a: a serva abaixou a
calcinha, levou-a a altura dos joelhos, onde ficou toda enrolada e deixou à mostra os cabelinhos sobre seu sexo do
mesmo modo como estavam os da duquesinha, pois o saiote tinha sido jogado para o lado, e encontraram-se e
reuniram-se bem aqueles montes loiros das duas, o da serva pouco mais volumoso, caso vos interesseis por tão
interessante detalhe, e elas se abraçaram tanto e acabaram tão juntas e emaranhadas que se não fossem as meias da
serva para diferenciá-las, não se poderia saber onde começavam as pernas duma e onde terminavam as da outra,
que até na cor eram semelhantes, como já foi dito (se bem que as da duquesa eram um tanto mais grossas), e ali
onde as pernas se encontravam, também se mesclavam os pêlos das duas. Os dois lados da bundinha de Lourdes
contraíam-se tão firme que o espaço no meio dela se transformava numa linha muito fina e reta, e depois dos
montes se manterem apertados naquela posição por alguns instantes, relaxavam e se abriam e desciam para tomar
novo impulso e repetir a estocada, que é como se pode chamar aquele movimento que ela executava com cada vez
mais força. Quase não falavam nada, mais se beijavam e abafavam uns gemidinhos, e mesmo não podendo estar
mais grudadas, empurravam-se uma contra a outra com força, principalmente lá embaixo e se apertavam e
tocavam por todos lugares, e as bundas das duas iam e vinham cada vez mais depressa, as nádegas sacudindo, as
duas mulheres cada vez mais ansiosas para se satisfazerem.

“Ai, o que é isso,” soprava sem fôlego a duquesinha no ouvido da serva, “vou morrer,” e Lourdes Maria,
segurando a senhora por uma das metades da traseira, puxava-a contra si como se fosse possível moverem-se mais
depressa ou grudarem-se mais. Como isso expunha aquela abertura pregueada e diminuta que escondia-se entre as
nádegas da duquesinha, um dos dedos da serva deteve-se justamente nela para massageá-la e, pressionando-a com
firmeza, acabou enfiando-se até quase a segunda articulação para o interior dela, e isso sem dificuldade, porque o
suor lubrificava os arredores dessa entrada e a duquesinha, sentindo que algo queria passar por ali, fez um
pouquinho de força para abrir caminho, e também porque na verdade não era tão diminuta assim aquela porta:
certamente já havia sido atravessada algumas vezes por coisas mais volumosas que o dedo de Lourdes. E tendo
enganchado a outra com o indicador ali por trás da maneira nada bonita como já foi dito, Lourdes usava a própria
mão para estimular o movimento da senhora: quase como quem dá tapas, aplicava-lhe uns puxões ali por trás com
muita vontade, ao que Mychelle Alanturia respondia com gemidinhos de “Sim! Sim!” e pedidos de “Não pára!”

Mas deixemos de lado as tolices sobre a anatomia daquela nobre e sobre o quanto eram ou não apertados
seus orifícios ou logo estareis pensando ser eu tão obcecada por ela quanto era a sua serva. Pulemos alguns
minutos até o ponto em que, depois duns gritinhos um tanto esganiçados, as duas estavam paradas, semimortas e
jogadas na cama, ainda abraçadas, a calcinha da serva ainda nos joelhos; de fato abaixo deles, quase nos
calcanhares. E neste ponto da história – se é que se pode chamar de história o que aconteceu até agora neste nada
instrutivo capítulo – sentiu a serva um apertão mais brusco ao redor daqueles dedos que tinha metido orifício
adentro na duquesinha, que tinha posto mais um junto com o indicador enquanto não estávamos vendo, e com um
puxão removeu-os dali, mas deixou-os repousando sobre este mesmo lugar, com o que ainda sentiu umas
contraçõezinhas debaixo deles, que o ponto abandonado pareceu levar alguns instantes para se acostumar com o
vazio e, antes de repousar, o orifício onde aquelas preguinhas de pele convergiam parecia lábios fazendo um
biquinho e dando empurrõezinhos, quase que beijando as pontas dos dedos de Lourdes. A debochada da serva
ainda deu duas ou três palmadas ali para ele sossegar.

Ficaram muito quietas, cansadas e abraçadas e de olhos fechados, não sei por quanto tempo, e também
relaxadas a ponto de quase pegarem no sono, mas quando abriu os seus olhos, a serva percebeu que nossa duquesa
olhava assustada para a porta. Lourdes voltou-se e viu estar uma das vigias no quarto: era Nagnólia, uma das que
naquela manhã guardavam a entrada dos aposentos.

Saltou o coração da serva e faltou-lhe o ar, louca de vergonha encolheu-se ao lado da senhora e escondeu
no peito dela a cabeça, o que deixou-a parecendo avestruz, pois um tanto montada numa coxa da duquesinha
daquele jeito, ficava com a bunda mais erguida que o resto de si. Por sua vez, a duquesinha apoiou-se nos
cotovelos e colocou uma das mãos sobre a cabeça de Lourdes Maria como se quisesse protegê-la ou ocultá-la, e
daí, num tom que demonstrava estar horrorizada, perguntou para a não menos chocada vigia:

“O que estás fazendo aqui?”


Depois de tentar se desculpar muitas vezes, Nagnólia conseguiu explicar de forma muito breve que tinham
mandado ela vir ver a duquesinha para perguntar sobre se queria sua refeição e para dar-lhe umas mensagens de
seu pai. Deixou correndo a sala com a face avermelhada. Também muito corada estava a serva quando a
duquesinha conseguiu fazer com que levantasse o rosto. E já tinha os olhos úmidos, pronta para derramar um
choro nervoso.

“Lourdes. Tu deixaste a porta aberta?”

“Eu... desculpa, eu sinto muito, senhora. Ai, que vergonha...”

A duquesinha acariciou a bochecha dela para que se aquietasse e falou:

“Bom, então quem sabe não vais até lá e trancas a porta para que não nos peguem nuas assim de novo?”

Ajeitando a calcinha, Lourdes levantou-se e fez o que foi mandado. Voltou cabisbaixa, sentou-se ao lado
de onde deitava-se a duquesinha e disse:

“Senhora, eu sou tão idiota, sinto tanto…”

A duquesinha tocou as costas de Lourdes e, ajoelhando-se na cama, abraçou-a por trás e meteu a ponta de
uma das orelhas dela entre os lábios.

“Também não é nada para se ficar desse jeito. Mas imagina se fosse meu pai ou meu primo quem tivesse
entrado.”

“Oh. Iriam ver que te f*** melhor que qualquer homem.”

“Hahah.” A duquesa soltou a serva e voltou a se deitar, dessa vez de costas para a outra. “Convencida.”

Um pouco depois, a serva disse “Achas que ela viu…? Quando estávamos…”

“Acho que não, mas não vi quando entrou.”

“E se ela contar para alguém, senhora?”

“Não ligo mais, se queres saber. Falem os outros o que quiserem, pouco me importo com a opinião de
soldadinhas.”

“Mas... e se contarem para o teu pai, minha senhora?” Estentendo um braço para trás, a serva pousou a
mão sobre a cintura da duquesa. “Não quero que ele nos separe.”

“Lourdes, em quem tu achas que ele vai acreditar?” A duquesinha pôs a mão sobre a da serva. “Mas por
via das dúvidas, da próxima vez, vê se tranca a porta. Eu deveria é te f**** o rabo com aquele falo artificil de
marfim para deixares de ser tonta!"

“Está escondido ali no armário! Queres que eu…?”

“De modo que a elfa não o roubou junto com minha jóia e as calcinhas?”

A serva se virou e abraçou a duquesa, recostando os seios nas costas dela. Deu-lhe beijinho no pescoço e
disse “Imagina se teu pai sabe o quanto imploras para eu meter mais forte quando te f*** com ele, sapequinha.”

“Oh, que grande desgraça. O que meu pai não sabe é que estou apaixonada por ti, cretina, e que por tua
culpa vou acabar não me casando com homem algum.”

A serva não soube o que responder. Daí a duquesinha deixou-a e virou-se de bruços. O quarto clareou um
pouco por uns instantes, como se lá fora tivessem saído nuvens de cima do sol; o calor continuava o mesmo,
porém, e talvez até estivesse mais intenso. “De verdade, senhora?” perguntou Lourdes Maria de repente, depois de
muito pensar. Apoiou-se num cotovelo, olhou para a nobre, as costas cheias de sinais, os cabelos encaracolados e
compridos jogados no travesseiro, os ombros largos, uma das nádegas bem saliente comprimindo a outra sobre a
qual estava deitada, que era dessas garotas mais rechonchudas nas nádegas que na cintura, a luz da janela a
iluminando quase toda. Pondo a mão sobre aquele assento da duquesa que estava mais erguido, a serva amontoou
um pouquinho do topo dele e deu ali um beijo. E depois uma mordida, e riu a nobre como se lhe estivessem
fazendo cócegas.

“Vamos,” disse a duquesa, voltando o rosto, “dá-me um banho e vamos ver o que meu pai queria e que
mensagem mandou através daquela vigia, que se formos desse jeito não há quem não sinta esse cheiro de x*****
em meus dedos.”

“Oh,” fez a serva e deu mais um tapa na bunda da duquesa, que a esta altura já estava até rosada, creio, do
tanto de palmadas que tinha recebido. “E nos meus,” disse ainda a serva, abaixando o rosto, “tenho o cheiro desse
teu c*zinho fedido.” E deu uma lambidinha entre as nádegas da outra, se podeis acreditar nisso.

Como não poderia deixar de ser, nossa duquesa deu um gritinho e chamou a outra de porca. A serva se
ergueu, fechou uma das cortinas da cama para que o sol não queimasse nossa duquesa, ainda mais depois de tudo
o que haviam suado, e foi preparar o banho delas.

Assim abandonada, a duquesinha fechou os olhos, virou para cima. Podia sentir o sol ainda, apesar das
cortinas. Mas de repente sentiu-o enfraquecer duma hora para outra, como num sonho. Lembrou-se daquele que
tinha tido e que quase conseguira esquecer: lembrou-se de estar deitada, nuvens passando e de sangue em seu
peito, na cicatriz.

Ergueu o braço, pôs a mão na testa, nos chifres pequeninos escondidos entre os cabelos. Nunca tinham
assustado a serva, nem quando eram meninas, como faziam com as outras crianças. Lourdes Maria era uma
menina boba que vivia querendo vê-los e que achava que por causa deles eu devia ter algum poder mágico,
Mychelle Alanturia pensava.

Sentando-se, a duquesa afastou a cortina e olhou para a janela.

“Quantas nuvens, o céu está cada vez mais cheio delas,” disse. “Talvez vá chover.” Mas a serva estava
longe, não pareceu ouvir. “Quero voltar para casa, estou cansada daqui. Não gosto deste lugar, dá-me sonhos ruins
que deixam-me o dia todo com essa sensação de mau agouro.”

Nisso a serva voltou ao quarto e disse “Acho é que não foste tão bem f***** quanto eu pensava que
havias sido, minha duquesa. Espera que logo vou tirar-te esses pensamentos! Nada que um pinto de marfim não
cure...”

“Ora, mas que p****** atrevida estás me saindo.”

Lourdes Maria esticou a calcinha sobre os assentos pequeninos e chamou nossa duquesa para a banheira e
assim é melhor deixarmos as duas sozinhas se não quisermos que mais cenas de sexo dignas dos maiores prêmios
literários.

***

*****

***

Na sala octogonal, a vigia Nagnólia falava com uma garota que recém havia chegado e que não estava
encarregada de estar lá na torre: era sua amiga Teresa. Interromperam o que conversavam quando viram a serva da
duquesinha se aproximando e é possível que falassem exatamente sobre o que faziam Lourdes e a duquesinha
deitadas nuas quando Nagnólia as vira há pouco tempo na cama de nossa nobre. Lourdes Maria mandou que
Nagnólia preparasse o almoço de sua senhora e retornou ao interior do quarto; Nagnólia por sua vez encarregou
outra serva de fazer isso, pois aquilo não era trabalho dela, e então voltou ao assunto que mantinha com Teresa e
voltou a chamar a duquesinha de safista e doutras coisas.

“A essa altura teu pai já saiu do templo, minha dama,” Lourdes disse, enquanto vestia Mychelle Alanturia,
as duas muito limpinhas e agradavelmente perfumadas depois de terem tomado banho. “Mas foi melhor não
termos ido até lá e não apenas pelo tempo agradável que aproveitamos juntas, mas porque a vigia disse-me que teu
pai veio até a torre e mandou que minha senhora não a deixasse.”

“Oh, papai não pretende então levar-me para o castelo hoje?”

Estavam na sala da banheira, que ainda estava cheia de água morna e sabão. Na parede diante dela havia,
também feitas na própria pedra da sala, três prateleiras fundas: a de cima continha uns panos e toalhas e frascos
com óleos e perfumes; na segunda repousava sozinho o florete da duquesinha, sua ponta para fora porque não
cabia todo ali; e na ultima estavam dois baús pequenos com umas esponjas.

“A vigia disse que não, senhora,” Lourdes falou; sentou-se numa mesa de mármore vazia que devia servir
para massagens, se não me engano, forrada por um pano ou cobertor peludinho, e no chão, jogada diante desta
mesa por falta de um lugar que pudesse acomodá-la bem, estava a espada de minha tia, e vê-la desse jeito lhe
partiria o coração: era uma preciosidade que a duquesinha havia tirado da cabeça e que provavelmente iria guardar
com o restante dos itens que não usava quando voltasse ao castelo. Estava um pouco escuro porque a luz vinda do
quarto agora era fraca, apesar de passar do meio-dia. “Eu estive lá no templo bem cedo, antes de teres acordado, e
teu pai estava lá, e o cardeal, mas ninguém falou comigo e muitas das caravanas estavam partindo, eles estavam
ocupados com os convidados.”

Mychelle Alanturia pôs as mãos sobre a própria traseira, a calcinha que a serva tinha posto nela era um
tanto apertada. “Se partirmos agora, teremos que viajar de noite,” disse.

Movimentando as pernas alternadamente, balançando os pés, Lourdes prosseguiu: “O vilarejo já está bem
vazio, vi pela janela, o conclave se encerrou. Com certeza até amanhã partiremos também, teu pai deve estar só
esperando a capitã Artemísia voltar.”

Os lábios e os olhos da duquesinha se apertaram. Cruzou os braços e veio para a frente da serva.

“A capitã já chegou. Tu não a viste?”

“Tens certeza, senhora?”

“Claro,” a duquesinha respondeu irritada. “Ontem de noite vi ela correndo para a torre do meu primo. Oh,
Sene, será que ainda está trancada lá, a vadia, sugando-lhe a cabeça do pinto?”

A serva tocou a testa da duquesinha com a ponta dum dedo. “Deixa que sugue o que quiser dele,” disse.
“No máximo amanhã estaremos indo para casa.”

A duquesinha sorriu, porque a serva sorria para ela e acariciava-lhe a bochecha e não deixava que se
enraivecesse; daí disse que Lourdes fosse ver se já estava pronto o almoço, que de fato estava. Ainda se
perguntando se a capitã havia retornado com a esmeralda e com aquela elfa que não era outra senão a minha tia,
seguiu Lourdes até a sala na entrada de seus aposentos, onde estava pronta a mesa e percebeu que, mesmo com as
velas acesas num comprido candelabro de prata, estava tudo ainda mais escuro ao redor delas. Podia ver também,
lá atrás, a cortina da janela do quarto indo e vindo, pois tinha começado a ventar.

“Vai chover,” Lourdes disse e, tão logo as duas sentaram, ouviram um trovão alto e demorado. Pouco
depois, outro trovão retumbou ainda mais forte.

A barreira de ar quente e estático que enchia todo o vilarejo foi se desfazendo com o passar do tempo e
logo já era vento forte e sonoro e o farfalhar das cortinas sucedia incessante. Depois de comerem, foram a duquesa
e a serva até a janela do quarto e a chuva começou; uns relâmpagos às vezes clareavam o céu que tinha ficado
cinzento como se estivesse prestes a anoitecer e uns raios às vezes dividiam partes dele. A chuva ficou mais forte e
elas viram, lá embaixo nas ruas, que as crianças que estavam brincando sob a água haviam sido chamadas de volta
para suas casas e logo tudo estava deserto como se fossem elas as duas únicas pessoas naquela terra.

O sol desaparecera atrás de nuvens pintadas com a cor de veias.

A serva soltou a duquesinha, pois estava abraçada nela, e arrastou um baú para baixo da janela para que
segurasse a cortina ali na frente; a água despencava em linhas retas do céu.
“Tinha que começar a chover de qualquer forma, não ia demorar muito,” disse a duquesinha, indo sentar-
se na cama. “Logo iremos embora desse lugar horrível.” E enquanto falava, a serva foi até a cômoda e acendeu
todas as velas; depois colocou-as num canto para que não se apagassem e deixou umas outras ao lado da cama,
perto donde a mobilia se encontrava com a parede. Mas mesmo assim umas velas da cômoda se apagaram, então
Lourdes arrastou o móvel para longe da janela e as acendeu de novo. Vendo que as chamas delas não mais
ameaçavam se extinguir, a duquesinha disse “Quer ficar comigo mais um pouco? Por Sene, fazia tempo que não
me fazias um carinho.”

A serva sorriu para a duquesinha, encostou-se na cômoda; abriu uma das gavetas dela e tirou de dentro um
estojo de madeira e abriu-o também. A duquesinha olhou para a sombra das pernas de Lourdes na parede, depois
para ela, e viu que segurava uma chibata de cabo fininho. “Tira meu couro, senhora, por favor!” disse ela e jogou
a chibata para nossa Mychelle Alanturia.

A duquesinha se ergueu, deixou o vestido cair e jogou a chibata de volta. “Tu primeiro,” disse. Voltou as
costas e apoiou-se na cama, já de bumbum empinado.

“Não, eu não poderia…”

“Deixa de c* doce,” riu a duquesinha.

A serva se aproximou, encostou o cabo da chibata entre as nádegas de Mychelle por sobre a calcinha, mais
ou menos ali onde devia ficar o ânus dela, e disse “Não posso, senhora, é errado.” E deu uma empurradinha das
mais desavergonhadas.

“Ui! Hahah, queres que eu implore, sua p***?” disse a duquesa e, abaixando a calcinha, expôs a traseira.

“Mmm. Tá bom.”

“OH!” exclamou, como podeis ver, nossa duquesa quando as tirinhas de couro atingiram-na por detrás.
“Ai…”

“Se bem que sacode tão bonitinho este rabo, que já começa a dar gosto acertá-lo só para vê-lo balançar.”

“Posso sacudi-lo para ti, o quanto quiseres.”

“Feito uma cachorrinha?”

“Eu sou a tua… Ei, trancaste a porta dessa vez, não foi?”

“Hum rum.”

Neste momento o vento lá fora tornou-se um uivo e as duas sentiram umas gotas de água vindo da janela e
se jogando contra elas. E eram gotas grossas, caía o mundo. A cortina soltou-se do baú e esvoaçou, parecia querer
soltar-se também lá de cima de onde se prendia, e todas velas da cômoda se apagaram.

“Vai para a cama, querida, e lá nós continuamos,” Lourdes Maria disse e deu um tapa no quadril da
senhora, daí foi até a janela para prender de novo a cortina. O céu estava manchado com pequenas ilhas de nuvens
cinzentas, mas quase todo ele era preto e nada se enxergava das ruas, pois a maioria das tochas dos portões estava
apagada; os vigias só acenderam as poucas que ficavam protegidas da água e do ar em reentrâncias feitas de
tijolos nos muros e estas eram só meia dúzia de pontinhos brilhando lá embaixo.

Algum tempo depois, uma meia hora ou pouco mais, quando a serva ia se levantar para buscar alguma
coisa para elas beberem, a duquesinha disse “Não,” jogou os braços para trás e segurou Lourdes Maria ali em
cima dela mesma, onde estava deitada. “Fica comigo aqui, meu amor. Vamos ficar juntas.” Tinha umas gotas de
sebo de vela nos seios, a serva, e uma das meias dela estava toda enrolada e enfiada feito um fiozinho entre as
nádegas de Mychelle, que tinham nelas mais umas casquinhas feitas de sebo de vela seco. “Para sempre,” a serva
sussurrou então e fechou os olhos. E cansada que estava, adormeceu montada nas costas da duquesa, uma perna
para cada lado dela. É possível que tenham despertado porque esfriou e, uma vez vestidas, tenham se entretido
com outras coisas menos safadas e passado o tempo de outros modos não descritos nestas páginas, e logo mais
teria anoitecido, caso não estivesse o céu já bem escuro.
Daí, de noite, o vento ficou mais forte, chegou a arrancar os galhos mais finos das árvores; o chão do
quarto da duquesinha diante da janela ficou cheio de água e minha tia chegou no vilarejo.

***

*****

***

No topo da Cerejeira Sagrada, no meio das diversas folhas e galhos, abria-se pequeno alçapão muito
escondido que era onde terminava aquela passagem secreta para o território das lâmias que só o grão-duque de
Orqushire e a rainha Ellenora do Reino Subterrâneo conheciam; e dentro do tronco da árvore, oco e de grande
diâmetro, havia até mesmo uns degraus de ferro por onde subiu minha tia Pelluria e, atrás dela, a coelha Meloine.

A chuva as recebeu antes de chegarem à metade da altura do tronco, pois se infiltrava pelas frestas do
alçapão, e quando saíram, as duas sentaram-se ocultas lá no topo, tudo balançando ao redor delas. Tinha-se
tornado tempestade, a chuva, e elas nada podiam ver: as torres da vila eram vultos apagados e cinzentos sobre o
céu negro e só se sabia que estavam ali porque de poucas de suas janelas vinha o brilho sufocado de lâmpadas. As
outras casas mais baixas, os muros e postos de vigia e até a taverna estavam escuros e fechados.

Porque estava ventando muito e tinham medo de cair dali, e também porque não havia ninguém nas ruas
que pudesse vê-las, levando nisso tempo considerável, as invasoras desceram até o solo que agora era só poças de
barro e esconderam-se atrás do tronco da cerejeira, perto das moitas que lá ficavam. Dentro de um dos bolsos de
minha tia estava a fadinha Alanis, amarrada ali por um dos pés, e gritava com medo de se afogar ali por causa da
chuva; mas o barulho da água e o dos trovões e o do vento não permitiam que Pelluria nem Meloine a ouvissem, e
as duas, abaixadas e encharcadas, tinham que falar alto para que se entendessem.

Pelluria havia deixado no chão a cimitarra que dera-lhe a rainha das lâmias e num braço tinha metido um
grande rolo de corda; no outro, no ombro, trazia atado um pano cobrindo o corte feito pela lâmina do guerreiro de
armadura que ela havia enfrentado na floresta, e que não era um corte fundo e já nem doía mais, apesar de ter
incomodado um pouco durante a subida pela escada. Ela dizia para Meloine o que pretendia fazer agora, mas a
coelha não estava interessada e uma hora gritou ou falou bem alto assim:

“Isso não foi muito justo, foi?”

“O quê?” perguntou-lhe Pelluria, cobrindo os cabelos com a capa.

“Sobre a jóia de Xexeres e o que disseste para que o ladrão tolo te acompanhasse até aqui,” Meloine
respondeu. “A capitã dos humanos ficou com a aguamarinha, tu sabes disso!”

“Sim e daí?”

Mal enxergavam uma à outra naquela escuridão, a água saltava ao redor delas, mas não estava muito frio
embora fosse bastante irritante ficar encharcadas.

“E daí que a humana foi conosco até a entrada do Mundo Subterrâneo,” falou a coelha, puxando um dos
cantos da capa da minha tia e apontando um dedo para ela. “E pelo que disseste, todos os soldados que nos
acompanhavam foram mortos! A capitã provavelmente também está morta!”

Pelluria tentou suspirar sem sucesso e disse “Ei, eu procurei pelo corpo dela entre os dos soldados antes de
regressar com as lâmias ao subterrâneo, coelhinha! Achas que sou burra? E o fiz em segredo, é claro, porque sabia
do valor da jóia! Não encontrei a humana e, aliás, nenhuma mulher entre os soldados mortos!”

Meloine gritou então várias coisas:

“Ela pode ter sido capturada! O corpo dela pode ter sido jogado em outro lugar ou queimado! Ela pode ter
fugido! Podes não tê-la visto! Mas por Xexeres, sua elfa traiçoeira, dizer que a jóia voltou ao vilarejo não foi
muito justo!”
“É possível que esteja aqui!”

“Mais fácil é que esteja com os tais soldados de Dravísios ou, o que seria menos mau, com a mulher se ela
tiver fugido para longe durante o ataque!”

“Se fugiu, a mulher pode ter voltado para cá,” Pelluria falou e esperou um pouco. “Ah, tudo bem, eu achei
que precisaria de ajuda aqui e não havia outro meio de convencer tua versão masculina a vir comigo.”

“Ei, mais respeito, elfa!” a coelha disse muito contrariada. “Ele não é minha versão masculina e o que
mais desejo é ver-me livre dessa maldição! Mas agora, por culpa de quem a jóia de Xexeres se foi?”

“Oh, não vamos começar de novo com isso, coelhinha! Não sejas histérica, eu te disse toda verdade e isso
porque confio mais em ti do que nele depois do que aquele pervertido e essa p****** de quinze centímetros me
fizeram no Reino Subterrâneo!” Pelluria deu um tapa no bolso onde estava a fada e a pequena se revirou lá dentro.
“Tentaram me arrancar a... bem, a...”

“A jóia da duquesinha?” Colocando os braços nas costas, Meloine apertou a própria cauda entre as mãos e
a água escorreu dela. Tinha as orelhas caídas. “Estás mesmo com a esmeralda?”

“Sim,” Pelluria disse.

“Cadê ela?”

“Está bem guardada. Olha, não vamos brigar agora, Meloine.” Pelluria voltou o rosto para a coelha.
“Passamos por muitas coisas juntas e nós duas já cometemos vários erros.” Claro que nunca tentei te agarrar como
fizeste comigo na estalagem, minha tia pensou em dizer também, mas estava com pressa e não queria mais
confusão com a outra. “Ajuda-me aqui e depois nós procuramos pela capitã humana e pela tua jóia, tá bom?”

Meloine ficou quieta por alguns instantes. Usava seus trajes completos agora, Pelluria pôde vê-los quando
ainda estavam nos túneis e reparou bem neles porque os estranhou: por cima de tudo havia uma malha preta,
cobria todo o corpo da mulher-coelho dos pés ao pescoço, e nos pés deixava os dedos de fora, prendendo-se entre
o maior deles e os outros; nas mãos também deixava os dedos de fora, mas cobria a palma e o dorso de cada uma
delas, e prendia-se no que parecia um anel ao redor das bases dos dedos médios. Jogado na parte de trás havia um
capuz com máscara para esconder a boca e o nariz.

Mas a malha daquela veste era muito fina, tinha a textura de meias comuns dessas que as nobres
costumam usar debaixo dos vestidos, e sendo assim ficava toda grudada no corpo da coelha, deixando bem à
mostra as formas dela: o redondo da barriga pequenina, os seios, que eram enormes e engraçados como são os de
todas mulheres-coelho, os ossos das cristas da bacia que ela tinha bem salientes e cada músculo das pernas e coxas
e nádegas, que ela tinha tudo isso musculoso, ou quase tudo, pois só nas nádegas havia um pouco de carne que
não era firme, nas bases, que sacudiam quando Meloine resolvia caminhar de forma mais apressada, embora ela
não fosse gostar de saber se nos pusessemos a discutir sobre isso.

No escuro e nas sombras talvez não se percebesse, mas durante o dia ou perto do fogo, como minha tia
notou noutra ocasião, poderia-se ver que sob a malha da coelha havia um reforço mais escuro indo das coxas para
baixo e havia outro nas costelas, que ia até a altura dos seios e parecia um espartilho metido debaixo daqueles
panos; mas este forro não reforçava onde minha tia achou que deveria reforçar, pois os seios de Meloine ficavam
soltos e os mamilos deles apareciam através da malha, pontudos e bolotudos, que nisto também eram incomuns as
coelhas, pois os tinham sempre muito duros e grandes e saltados. E pensando nessas bobagens minha tia deu-se
conta de que as mulheres-coelho deviam gostar de exibi-los, pois eram para elas motivo de orgulho e símbolos de
ela já nem se lembrava mais o que, porque já havia se esquecido das tolices que dissera-lhe Meloine quando
tinham estado as duas presas na armadilha das lâmias. Dois ultimos reforços cobriam os braços e antebraços da
coelha sob as malhas. Nas costas dela ficava a espada, que era aquela reta que Pelluria já havia visto no quarto da
estalagem; a bainha prendia-se de alguma forma ali atrás e ia acabar ao lado da cauda peluda de Meloine; já este
amontoado felpudo saía por um espacinho perto donde começavam a crescer as nádegas e ficava de fora das
malhas, e um sutil laço preto prendia-se em torno de sua base. Como descobriu nossa elfa mais tarde, a coelha
tinha deversas outras armas de arremesso e apetrechos similares escondidos naquelas roupas.

“Bem, o que pretendes fazer então?” perguntou Meloine para minha tia.
“A torre da lady celulite de Orqushire fica atrás do templo,” Pelluria disse e apontou para a construção
erguendo-se na frente delas. Sabia onde devia estar a duquesa porque as vigias Teresa e Nagnólia lhe haviam
contado da torre naquela ocasião em que tinham bebido juntas na taverna. Pelluria suspirou lembrando-se das
bolotas de maculóphyta que desde aquela noite lhe deram coceiras na bunda, finalmente tinha se livrado desse
incômodo por completo.

Meloine avançou um pouco e olhou para o topo do templo: de lá, talvez das janelas, mas não se podia ver
ao certo, emanava uma luz alaranjada; tinha passado despercebida antes ou havia começado há pouco.

“Mm. Vamos até a torre, então, para ver o que nos espera,” disse a coelha e foi o que ela e minha tia
fizeram.

Atravessaram a rua ao lado do templo, o som da chuva obscurecendo o dos passos delas, mesmo quando
tinham que desgrudar os pés do lodo, e puderam ver as torres o melhor que conseguiriam naquela noite. O vento
rugia alto de vez em quando e nesses momentos fazia a chuva girar um pouco antes de cair.

Aproximaram-se da torre que esperavam que fosse a da duquesinha, pois como sabeis havia duas dessas
construções, uma ao lado da outra; a única abertura no primeiro andar era um longo portão duplo de madeira que
estava fechado e à frente dele havia grades de ferro muito grossas e enferrujadas e pesadas, também fechadas. Só
podiam ser abertas por dentro, as portas, e só podia-se girar a manivela para erguer as grades também por dentro, e
de qualquer modo, mesmo lá de dentro, não se podia fazer nada disso com rapidez e nem em silêncio, e nem,
acredito, sozinhas, devido ao peso das grades. Talvez de dupla fosse possível, minha tia era excepcionalmente
forte nos braços, embora não aparentasse, mas pretendia agir com discrição, é claro.

A primeira janela da torre ficava pelo menos três metros acima do portão e outras raras sucediam-se além
desta em todos os lados da construção. O topo dela minha tia e a coelhinha não podiam enxergar donde estavam,
ainda mais naquela tempestade, mas se pudessem veriam sacadas de guarda, todas gradeadas, e dentro de cada
uma, pelo menos duas vigias do exército de Orqushire, que por algum motivo a torre da duquesinha não parecia
ter soldados do sexo masculino ou tinha muito poucos.

“Temos que dar um jeito de entrar aí,” Pelluria falou.

“Hum rum. Nada que eu não possa escalar,” Meloine disse olhando para cima, a água escorrendo pelos
cabelos e pelo rosto e orelhas dela. Pelluria não soube se falava sério. “Mas tudo isso por uma espada? Como
sabes que ela está aqui?”

As duas se aproximaram da parede da torre e Pelluria disse:

“Está com a duquesa, se é que ainda está aqui a bundona. Se estiver, certamente tem algum ouro e jóias
para pegarmos, pois parece o tipo de mulher que não fica longe dessas coisas. Mas há um modo de sabermos o
que há aí dentro e de termos certeza de que encontraremos o que procuramos.”

Pelluria retirou então a fadinha Alanis de seu bolso, puxando-a pela cordinha, e a pequenina acabou
dependurada de cabeça para baixo, debatendo-se angustiada e tentando voar. A elfa ajeitou-a sobre a palma de sua
mão e a fada, sentando-se ali, começou a berrar obscenidades para ela, mas logo controlou-se, pois viu que não
estava em boa situação, e sacudiu suas asas.

“Por favor, me solta, senhora elfa Pelluria,” ela pediu, puxando o fiozinho atado a um dos seus pés.
“Quase me afoguei aí dentro e com essa chuva mal consigo voar!”

Pelluria pensou um pouco e logo arrebentou a cordinha que prendia a fada. Fechou os dedos em volta do
corpo dela, apontou para a torre com a outra mão e falou para a pequena sobre onde se encontravam. Pediu que
entrasse na torre e visse o que havia dentro dela; também pediu que verificasse as janelas e se havia vigias perto
delas. Ou seja, mandou que a fadinha fosse buscar toda informação que pudesse.

“Tudo bem, acho que posso entrar pelas frestas sob o portão.” A fadinha pôs-se de pé na mão de minha tia;
usava seu vestido verde e também as botinas, os saltos afundavam como dois palitos na palma da elfa. “Mas então
me devolve meus equipamentos!”

Pelluria olhou para ela desconfiada e a fada continuou:


“Preciso entrar sem ser vista, minha varinha do sono pode ser útil.”

“Mm, não estás pensando em fugir, não é, fadinha?”

“Ei, eu já disse que mal posso voar nessa chuva. E pretendo que recuperes logo tua espada para podermos
ir até minha bondosa senhora Régala com a esmeralda.”

“Eu não devia, mas vou confiar em ti mais uma vez.”

“Acalma-te, elfa, minha senhora vai pagar tanto ouro pela esmeralda que certamente nunca mais
precisarás te procupar com nada.”

Pelluria teve algum trabalho para achar a minúscula bolsa da fada no interior do saco que continha seus
diários, precisou se ajoelhar e colocar a pequena no chão para procurar com as duas mãos. Quando a fada Alanis
pegou seus itens, prendeu minúscula bolsa ao seu cinto e tirou dela uma varinha muito fina, que levantou e
examinou sorrindo. Daí pediu para e elfa “Põe-me ali” e apontou para o portão. Pelluria levou-a em silêncio,
abaixou-se diante das grades e colocou a fadinha no chão.

A fresta sob o portão não tinha mais que dois dedos de altura e de dentro vinham luzes trêmulas. A
pequena teve que deitar-se toda e rastejar para passar por ali e, antes de sair do outro lado, cuidou o corredor que
lá havia para ver se não tinha vigias. De fato, quatro mulheres segurando lanças e vestindo malhas de metal e
elmos estavam de pé vigiando o corredor, com as costas para as paredes muito altas. Ficavam duas de cada lado, e
entre cada dupla, tapeçarias com o selo da província estavam penduradas. Diversos archotes se alinhavam até o
fim da passagem e pouco mais adiante estavam outras três mulheres, uma sentada num banquinho e outras duas
no chão, num único degrau de pedra, comendo alguma coisa que bem podia ser queijo; atrás delas ficava a roda de
madeira onde se prendiam as correntes das grades. Estas outras mulheres não tinham lanças, mas do mesmo modo
que as quatro mais próximas do portão, traziam espadas embainhadas na cintura. Pareciam todas entediadas,
talvez uma das que estavam encostadas estivesse dormindo de pé mesmo.

A fadinha continuou olhando para ver para onde estavam voltadas as atenções das guardiãs, e lá fora da
torre, debaixo da chuva, minha tia Pelluria notou que Meloine havia sumido de sua vista. Assustou-se um pouco e
os relâmpagos que cortaram o céu e antecederam um estrondo furioso transformaram o pouco em muito. Buscou
em todos lados, até que por fim, quando chegou atrás da torre, ouviu a voz da outra bem próxima de suas costas:

“Estou encharcada.”

A elfa voltou-se. Os braços de Meloine estavam cruzados; os cabelos, que já eram lisos, com a chuva
desciam retos até a metade do pescoço dela, suas pontas bem aparadas, e alguns escapavam pela frente das
orelhas. A mulher-coelho parecia irritada.

“Não há um lugar seco em que possamos ficar?” ela perguntou e Pelluria pensou que talvez Meloine
tivesse desaparecido daquela forma apenas para mostrar que podia, se quisesse, já ter ido embora.

“Não vejo nenhum,” Pelluria disse e sentou-se numa pedra grande e retangular, apoiou as costas na torre.
“Mas este parece o melhor lugar para esperarmos sem sermos achadas.”

A parte de trás da torre ficava perto do fundo do vilarejo, era separada do muro por duas únicas ruas que
eram bastante escuras, mesmo quando não chovia daquele jeito, pois, apesar da mansão do governador na primeira
rua, a segunda tinha só uns sobrados vazios e abandonados às trepadeiras. A mansão agora estava também sem luz
alguma.

“Só espero que a fadinha volte,” Meloine disse, e continuou de pé; não tinha o menor desejo de acabar
com lodo preso em sua cauda. “E que eu possa acreditar em ti.”

“Relaxa, dona coelhinha, eu já disse que vou te ajudar a procurar tua jóia. Iremos atrás dela mesmo que
para isso precisemos seguir os soldados de armadura de Dravísios.” Pelluria cobriu os ombros com a capa.
“Embora eu creia que tu não irias querer isso se tivesses visto tais monstruosidades.”

“Aquela jóia vale mais do que nossas vidas, elfa,” falou Meloine ainda irritada. “Por causa dela todas as
mulheres-coelho estão atrás de mim, por causa dela muitas pessoas morreram até hoje, e ela tem o poder de
reviver um deus!”

“Oh, não. Nada vale mais que nossas vidas,” Pelluria disse. Empurrou os cabelos para trás das orelhas
pontudas, seus brincos balançaram e brilharam sob os relâmpagos.

***

*****

***

Alanis, a fadinha, foi até um dos cantos do início do corredor, era o lugar mais escuro que havia e era onde
nenhuma das vigias reparava. Daí voou até o teto, bem acima das mulheres e archotes. E o mais grudada que
podia estar lá em cima, avançou batendo suas asas, passou por trás das tapeçarias e, no fim do corredor, cruzou
uma porta menor, de ferro, que estava aberta e devia manter-se sempre assim, pois suas dobradiças superiores
estavam cobertas por teias de aranha muito antigas e elaboradas.

A fada desviou-se das teias e viu adiante uma escadaria, e no início dela uma outra vigia armada, que
poderia também ver a fadinha se levantasse o rosto. Alanis não encontrou outra solução e decidiu arriscar-se:
seguiu rápido, empunhando sua varinha para o caso de ser descoberta; mas logo passou pela mulher, o capacete da
vigia não deixava que os topos de seus olhos percebessem movimentos perto do teto e, como sabeis, estava
escuro.

Enquanto não havia nenhum desvio ou bifurcação a fada subiu e passou por muitas janelas gradeadas e
por algumas tochas. As escadas seguiam em círculos sucessivos, tinham a forma de grande espiral que mantinha-
se sempre junto da superfície da torre, por isso cada vez as janelas deixavam ver um dos lados do vilarejo. E pelas
aberturas do lado ocidental e também do lado sul sempre entrava mais forte a água, que era dessas direções que
vinha o vento, e nessas partes era mais comum encontrar as tochas apagadas.

Na verdade a fada chegou a passar por umas portas de madeira, mas ignorou-as porque estavam fechadas;
não quis tentar abri-las, não teria força para tanto mesmo que estivessem destrancadas, e além disso não pareciam
guardar nada importante. Passou também por um corredor onde uma vigia dormia encostada numa porta fechada,
e isso devia ser mais ou menos na metade da altura da torre. Alanis rastejou por baixo da porta, esta passagem foi
mais apertada que a da entrada, e depois disso vieram duas outras portas abertas, para a direita e para a esquerda; e
a frente, se não se entrasse em nenhuma das passagens laterais, havia mais uma escadaria igual à primeira, por
onde ela decidiu seguir. E por subiu por uns longos minutos.

A certa altura a luz das tochas adiante foi se tornando mais intensa, daí Alanis aproximou-se do chão e
voou devagar. Parou no fim da escadaria, terminava num largo corredor e a partir dali as coisas pareciam mudar
completamente: havia mais tochas e archotes acesos, e candelabros finos e mais tapeçarias e menos poeira e, no
chão do corredor, um belo tapete vermelho cheio de detalhes em dourado e prateado; por todos lugares da torre
que havia passado até agora a fadinha, havia no máximo um ou outro escudo velho pendurado na parede.

O corredor acabava em porta de aparência grandiosa, em cuja madeira estavam gravadas runas simples e
também o escudo de Orqushire. Havia muitas janelas nas duas paredes, a água da chuva escurecia um dos lados do
tapete, e a fadinha sentiu pena, porque era bonito e brilhante.

Espiando escondida atrás do ultimo degrau da escada, e cada degrau podia cobrir quase todo o corpo dela,
a fadinha viu a quantidade de vigias no corredor: duas diante das portas lá no fundo, bem longe, e à frente delas
muitas outras, pelo menos cinco; uma apoiada numa janela, com espada na cintura, e ao contrário das outras
usando saiote que lhe deixava de fora as pernas; três falando entre si no meio do corredor, apoiadas na parede; a
ultima sentada no chão, mexendo numa correntinha ou cordinha cor de bronze, e esta não usava elmo, mas tinha
presos os cabelos, que eram mais vermelhos que os de minha tia.

Era tão claro este corredor e seu teto tão mais baixo que o das outras partes que não havia jeito da fadinha
passar sem ser vista ou sem projetar alguma sombra. Pensou em desistir e voltar para tentar alguma outra porta, e
certamente faria isso, mas, vendo todas aquelas janelas, teve a idéia de avançar por fora da torre e reentrar mais
adiante, depois do corredor. Voou até a janela mais próxima atrás de si e segurou-se numa das grades. O vento era
forte, sacudia todo o vestido dela e às vezes quase a arrancava dali. Alanis teve medo de ser jogada longe e quis
desistir de novo; mas não desistiu, e não por medo da minha tia, mas por curiosidade para ver o que havia em
frente, pois pensava que apesar das circunstâncias, a elfa acabaria sendo mais útil a ela do que ela à elfa.

Alanis esperou até o momento em que julgou poder enfrentar o sopro do vento quando ele se acalmou um
pouco, daí segurou a respiração e saltou e voou com toda velocidade e força que tinha junto da parede externa da
torre, pelo meio da chuva. Teve que se agarrar numa das grades de uma outra janela depois do meio do corredor,
pois o vento retomou sua intensidade e o coração dela batia-se contra o peito. Ficou algum tempo escondida atrás
da barra de ferro da grade, donde podia ouvir as vigias conversando, mas não prestou atenção no que diziam.
Agora não pretendia voltar, mesmo tendo sido aquele vôo até ali pior do que esperava.

Avançou, depois, até a ultima janela do corredor, onde parou de novo, porque a janela que podia ver
depois disso estava longe demais para ser atingida num único vôo. Daí, enquanto descansava, viu uma sombra se
aproximar com passos leves das vigias da porta, as duas meio ocultas pouco a frente da janela.

Logo chegou ali uma menina que vestia uns poucos panos dum vestido azulado e quase transparente e
também muito folgado; era loira, bastante magra, os braços eram uns tracinhos brancos. A fada ouviu-a falar com
as outras, ouviu coisas sobre o jantar da duquesinha e as vigias abriram um dos lados da porta e neste ponto a
menina chegou bem perto da janela, tornou-se claro que ia atravessar aquela passagem recém aberta.

Alanis jogou-se em direção às costas da menina, estavam voltadas para a janela, e antes de cair no chão,
bateu as asas e enfiou-se dentro do vestido dela, acabava uns palmos debaixo dos joelhos. E precisou de muita
habilidade para subir por dentro dele sem encostar nas pernas da outra. Segurou-se no pano de trás, a menina
começou a andar e a fada sacudiu toda, foi jogada dum lado para o outro por entre aquelas coxas para ela enormes,
e às vezes se jogava de propósito para evitar bater contra as pernas que iam caminhando.

Através do tecido translucido do vestido, Alanis viu muitas outras pessoas, ou pernas de pessoas, e viu
vultos e fogo, e portas, e escutou muitos sons e esperou não ser vista. E bateu contra a menina uma hora, quando
ela parou repentinamente de andar; a fada tinha subido muito e suas costas se chocaram contra uma das coxas da
outra, onde começava a nádega. Daí uma mão veio por fora do pano azulado, coçou aquela coxa e a fada soltou-se
e despencou até a barra do vestido, segurou-se nela e suas pernas chegaram a escapar para fora. A menina girou o
corpo pensando, com o peso da fada ali embaixo, que tinha prendido o vestido nalgum lugar, mas em seguida
continuou sua caminhada e Alanis escalou tudo de novo.

Quando pararam os movimentos, a fada ouviu a menina falando o seguinte:

“Onde estás, meu amor?”

Alanis olhou para o chão de pedra, um dos pés da menina estava descoberto, o outro, e também a perna
toda, estava tapado por uma meia branca muito lisa.

De repente a menina se ajoelhou e Alanis caiu sentada no chão entre as pernas dela, exausta. Olhou para
cima, viu lá longe uma calcinha tão azul e translucida quanto o vestido, olhou rápido para todos lados, estava num
quarto iluminado por umas poucas velas, ouvia o barulho da chuva e sentia ainda o cheiro do suor da dona do
vestido, que debaixo dele era mais forte.

“Oh, aqui está a minha querida,” ouviu a voz da menina de novo e correu até os pés dela, jogados para
trás. Chegando entre eles, virou-se e viu a garota ajoelhada diante de uma cama, e da cintura para cima estava o
corpo dela metido sob as cortinas fechadas que tapavam todo aquele lado da mobília. As costas pareciam
arqueadas e duas outras pernas e coxas nuas e bem mais grossas saiam também das cortinas, uma para cada um
dos lados da menina: havia outra mulher lá.

“Ui, Lourdes, sapequinha,” a fada ouviu a outra mulher dizer isso e reconheceu a voz da duquesinha.
Estremeceu, havia chegado ao lugar certo.

“Teu jantar está pronto, minha menina linda,” falou a que estava ajoelhada, ao que seguiram-se uns
estalidos desagradáveis que bem podiam ser uns beijos, e a fada saiu voando, explorou as outras salas e viu que
mais ninguém estava lá. A porta da saída estava fechada, viu também.
Daí voltou com cuidado ao quarto, voando muito alto para não ficar onde pudesse a luz das velas projetar
sua sombra numa parede. Deu-se conta então que era algo muito estranho aquelas duas se chamando de coisas
como menina linda, sapequinha e meu amor, e percebeu o que faziam: a duquesinha ria sem parar, suas pernas
sacudindo aos lados da cintura da menina que era a sua serva, e falava “Ai, não faz assim, Lourdes! Hahaha, que
coisa!”

Curiosa, Alanis voou até o topo da cama e, pendurada lá em cima, meteu o rosto entre as cortinas acima
donde se prendiam e de onde podia espiar tudo: a duquesinha estava de bruços no colchão, usava uma camisa
branca e uma saia preta, mas a saia estava levantada e, jogada em suas costas, descobria-lhe a bunda bem
rechonchuda e branca. Lourdes Maria, a menina ajoelhada entre as coxas da duquesa, tinha as mãos apoiadas
nesta ultima parte, na bunda, e o que é pior, tinha o rosto todo afundado entre aquelas bochechonas dela.

“Era só o que faltava,” pensou a fada e nesse ponto a duquesinha gritou:

“Ui, pára! Sua porca, isso é muito esquisito!”

“Porca por que, se tens o c*zinho bem limpo?” Lourdes falou e ergueu um pouco o rosto. “Não lavei-o
direitinho quando te dei banho?”

“Ai, pára, pára, isso me dá uma coisa muito gozada, sua maluca!”

Foi se virando para cima a duquesinha, para impedir que a serva continuasse com aquilo que fazia e que
lhe provocava sensação muito melequenta, e a fada, estarrecida com o que via, só pensou em se esconder quando
os olhos da duquesa passaram pelo lugar onde ela estava. Daí jogou-se para o chão e perto dele fez uma curva
para entrar debaixo da cama.

“Ei!” a duquesinha gritou e sentou-se no colchão. “Tinha um bicho ali na cortina, Lourdes!”

“Hã?” A menina levantou-se e afastou os panos para procurar. “Que tipo de bicho, senhora?”

“Um inseto, eu acho,” a duquesinha falou e, antes de levantar, passou disfarçadamente o lençol por entre
as nádegas para secar o... bem, onde a serva tinha metido a língua, que não há modo elegante de chamar esse
lugar. Depois ajeitou a saia e afastou-se um pouco da cama, falando com receio: “Espero que não seja uma barata,
porque se for é daquelas grandonas que voam! Não vista a sombra dela passando?”

“Ai!” gritou a serva e também saiu de perto da cama.

“Que droga de lugar, esse! Lá no castelo meu quarto não tem bichos e não entra água! E o meu pai que
nem vem me ver?”

“Vamos jantar, minha senhora,” Lourdes Maria falou. Pegou a meia branca que estava solta sobre o
travesseiro e andou até a cômoda, onde apoiou um pé. “Depois mando uma das servas vir ver o que era.”

“Tá bom,” a duquesinha concordou e sorriu enquanto Lourdes vestia a perna. “Tua meia ainda tem o
cheirinho de nossas x******, sabia?”

Além de ter que ouvir essas coisas, a fada, escondida debaixo da cama, ainda viu a duquesa e a serva se
abraçando e beijando, e ouviu-as chamando uma à outra de nomes carinhosos, e estranhou tudo e não gostou de
nada, porque não estava acostumada a ver duas mulheres se tratando daquele jeito e nem se agradava com isso.
Mas antes de tudo culminar em mais um tapa entre os assentos de Mychelle Alanturia e as duas deixarem o
quarto, a duquesinha abriu um pequeno baú e do meio de outras correntes douradas tirou um colar de pérolas; pôs
o mesmo no pescoço de sua serva, e dessa parte, das jóias, a fada gostou. Não era maior que aquele colar que a
própria nobre usava na carruagem, mas...

Logo que ouviu a porta batendo, Alanis foi até a janela para ver se havia um modo de sair dali.

***

*****
***

Meloine estava apoiada numa das paredes da torre, de braços cruzados, os cabelos caídos sobre os olhos,
quando de repente uma coisa pesada e pequena – uma pedra, ela pensaria se tivesse tido tempo de pensar – passou
diante de seu rosto e acertou-a no topo dum seio. Machucou-o e dali, pela elasticidade do local, o pequeno objeto
foi arremessado para frente e caiu numa poça no chão.

Surpresa, a coelha gritou e, apertando os dedos contra a tetinha dolorida, foi ver o que era: do meio da
poça levantou-se devagarinho a fadinha, sacudiu as asas molhadas. “Estou viva,” disse ela. “Oh, pensei que era o
meu fim e que ia me quebrar toda!”

Meloine recolheu a fada, levantou-a com cuidado enquanto Pelluria se aproximava delas dizendo:

“O que já está aprontando esse bichinho malvado?”

“Nada, senhoras elfa e coelhinha,” a fada gritou encolhida nas palmas de Meloine, girando para todos os
lados. “Eu fui descer lá de cima, do quarto da duquesinha, e o vento me pegou! Está muito forte e me bateu mil
vezes contra a parede e achei que ia me arrebentar no chão, quando então vi essas bolotonas da dona coelhinha, e
nunca vi nada desse tamanho no peito de mulher nenhuma, por isso pensei que fossem macias e bati minhas asas e
consegui me desviar na direção delas, mas, por Sene, como são duras! Parecem duas bolas daquelas que prendem
nos pés dos prisioneiros para que não possam andar, cheguei a ver estrelas e está me doendo tudo, acho que
preferia até ter caído no chão, onde por fim despenquei também!”

“Ah, coitadinha,” Meloine acariciou as costas da fadinha com um dos dedos e depois cobriu-a com a mão
toda para que a chuva não a atingisse. “É que tenho os seios muito firmes.”

“Então a duquesinha está mesmo lá em cima?” Pelluria perguntou excitada. “Onde? Ela está com a minha
espada?” E perguntou muitas outras coisas.

“Ei, deixa a pobre fadinha se recuperar,” Meloine falou, afastando a pequena de minha tia e cuidando dela;
meteu uns dedos dentro da malha que vestia, pelo pescoço, e puxou do meio dos seios um paninho preto que
parecia ser um lenço. Deu-o à fada para que se enrolasse e secasse um pouco.

“Agora não falta mais nada,” Pelluria resmungou. Estava mal humorada e, àquela altura, já começava a
sentir frio. “Ganhou outro protetor.”

A fada contou à minha tia e à coelha tudo o que havia visto na torre, menos o que fazia a duquesinha com
a serva, porque a isso já bastava ter assistido. Não chegara a reparar na espada de Pelluria diante da mesa de
massagens, porque tinha visto tudo muito rápido, mas falou das jóias no baú e disse que o quarto estaria vazio
pelo menos por algum tempo, que tinham saído para jantar, e isso convenceu Pelluria de que ela deveria entrar lá
dentro.

“Eu posso escalar a torre,” Meloine falou, alcançando algum outro equipamento dentro de suas malhas.

“Mesmo que pudesses, não haveria como entrares pela janela,” a fada disse, “pois todas as janelas têm
grades.” Daí ela apontou para minha tia. “Mas talvez a elfa possa passar por elas se conseguir subir.”

“E por que eu não poderia?” Meloine perguntou.

A fada olhou para cima, para os seios de Meloine, que protegiam-na da chuva melhor do que a palma da
coelha, e por fim disse:

“Bom, porque a elfa é mais magrinha. No peito.”

“Oh.” Meloine entristeceu-se. “Bom, tu vais escalar a torre, Pelluria?”

“As paredes são muito lisas e este vento não ajuda,” a elfa disse. “Só poderia fazer isso se tivesse onde me
agarrar. Fora que a altura é considerável. Por outro lado, se eu for sozinha, posso pegar a melhor parte do tesour...
Hã, bem, vejamos.”

Desenrolou um pouco da corda que trazia e mostrou-a às outras; mandou que a fada pegasse a ponta dela e
a levasse voando ao topo da torre para lá prendê-la. Claro que Alanis recusou-se; disse que ventava muito e que
não conseguiria. Mas Pelluria insistiu e convenceu a fada lembrando-a de que lhe devia três desejos, disse que este
seria o primeiro deles.

Meloine tirou dalgum lugar de sua roupa um pequeno triângulo metálico similar a ponta de flecha, disse
que era uma arma de arremesso. A fadinha, segurando a ponta da corda já toda esticada – e era bastante longa –
montou nessa seta metálica. Meloine pegou a seta com fada e corda e tudo, mirou e, com o braço direito,
arremessou a arma e a fadinha, e foi tudo cortando o ar com grande velocidade, a seta apontando para o céu, a
corda subindo, e já a uma boa altura, quando o triângulo metálico estava parando e ia cair, a fada, que o mantinha
apertado entre as pernas, soltou-o e bateu as asas subindo ainda mais. Conseguiu dessa forma atingir a janela do
quarto da duquesinha e a ponta de metal voltou a cair nas mãos de Meloine.

A fada amarrou da melhor maneira que conseguiu a corda a uma das barras de ferro na janela. Olhando
para baixo não conseguia ver o fim daquele cabo e se pudesse teria notado que, apesar do bom tamanho, ele não
era o suficiente; a ponta inferior da corda estava pendurada e esvoaçante a pelo menos o dobro da altura de minha
tia.

***

*****

***

A duquesinha e sua serva que era mais do que serva estavam numa sala quase totalmente preenchida por
uma mesa retangular. Várias cadeiras pesadas estavam ao redor dessa mesa, mas a única ocupada, e pela
duquesinha, era a da cabeceira. A serva estava sentada sobre a própria mesa, na frente de sua senhora, e atrás dela,
também na mesa, estavam diversos candelabros e algumas cestas com frutas.

Elas não sentiam mais calor agora e a sala era confortável. As paredes laterais eram cobertas por tapeçarias
cor de uva, escondiam algumas portas, e lá no fundo havia uma lareira acesa. Atrás da duquesinha estava fechada
a saída que conduzia às escadas da torre.

“Que é?” perguntou a duquesa à serva, depois delas terem ficado em silêncio por uns minutos.

“Nada,” Lourdes Maria disse. “Estava só te olhando.”

“Mm.”

As duas esperavam que as cortesãs trouxessem o jantar da duquesinha, podiam sentir cheiro de carne
assada vindo de longe.

“Estava vendo os teus olhos,” Lourdes Maria falou em seguida e esticou a mão, tocou a bochecha da
duquesinha. “E os teus cabelos, e a tua boca.” Esfregou um dos dedos no lábio de baixo da duquesinha, que era o
maior. “Os teus olhos são lindos, a luz das velas faz com que brilhem bem verdes e preciosos.”

“Ah, qual é?”

A duquesinha virou um pouco o rosto para evitar o olhar da serva, pegou a taça que estava ao lado da
menina e bebeu um pequeno gole de vinho.

“Não há nada mais bonito no mundo,” Lourdes falou, com as mãos entre os joelhos. “É por causa deles
que sou apaixonada por ti.”

“Toma.” A duquesinha ofereceu a taça para a serva, Lourdes bebeu também, e depois voltou a tocar no
rosto da senhora. Daí a duquesinha deitou a cabeça no colo dela; fechou os olhos e a serva coçou-lhe a nuca por
muito tempo.

“Eu queria ir embora contigo,” a duquesinha disse uma hora.

“Nós vamos para casa logo, querida,” Lourdes respondeu olhando ao redor, pois era desconfiada e tinha
medo de que alguma outra serva escutasse por trás das portas ou tapeçarias. Mas as outras só vieram depois;
trouxeram o jantar e saíram, e Lourdes, agora de pé ao lado da senhora, acompanhou-as com os olhos.

E depois de comer, a Duquesinha disse para a serva:

“Se olhares de novo para a traseira de outras meninas, vou te bater tanto com a chibata que nunca mais
vais sentar, meu amor.”

***

*****

***

Pelluria subiu nas costas de Meloine e depois nos ombros dela, apoiada na parede da torre; alcançou a
corda esvoaçante quando o vento aproximou-a o suficiente e subiu por ela, estava firme.

Não foi uma subida curta e nem fácil ou rápida; minha tia apoiava os pés entre as pedras da torre, o vento
sacudia tudo e levava a saia dela para todos os lados, e com as mãos ardidas, sentindo um pouco de medo, ela deu-
se conta de que não sabia quando parar ou desistir. Havia deixado a maioria de suas coisas com a coelha: a capa,
os diários e até a cimitarra das lâmias; e quando chegou lá em cima e olhou para baixo estava toda molhada pela
chuva, e também agradecida por não poder enxergar muita coisa e ver a quanta distância estava do chão. Os
braços tremiam com o esforço.

Já a coelha Meloine decidira andar escondida pelo vilarejo para ver o que podia achar. “Vou usar a minha
técnica da invisibilidade,” foi o que tinha dito para minha tia. Haviam ficado as duas de se reencontrarem atrás da
torre caso a chuva estivesse acabando ou caso estivesse se aproximando o amanhecer.

Pelluria segurou-se em duas das barras ásperas da janela do quarto da duquesinha e meteu a cabeça entre
elas com um pouco de esforço. Depois teve que girar toda e deixar os ombros numa linha vertical para que
passassem por ali, pôs um braço de cada vez. As costelas passaram muito apertadas, as grades batendo em cada
uma delas, e o abdome foi mais fácil, porque ela era muito fina nessa parte.

Quando já estava com a metade do corpo dentro do quarto, escorada no baú que havia debaixo da janela e
com a cortina esvoaçando acima de si, Pelluria ficou presa. Apoiou-se na parede interna e empurrou e puxou, mas
não conseguiu mais ir para frente e nem para trás, porque as grades seguravam ela pela cintura, agarradas em volta
da saia.

“Ah, me prendi,” gemeu Pelluria para a fadinha, que voava diante dela. “Ajuda-me, não consigo sair
daqui!”

Alanis afastou a cortina e olhou para Pelluria se debatendo ali sem saber o que fazer; as pernas da elfa
sacudiam do lado de fora da janela, na chuva.

“Sua burra,” a fada gritou, pousando em cima da saia de Pelluria onde esta cobria-lhe a bunda, e segurou-
se numa das grades para não ser pega pelo vento. “Tu não devias ter entrado de frente e sim de lado!”

“Eu entrei de lado, mas quando chegou na cintura dei um mau jeito e me torci! Ajuda-me, não quero ficar
presa aqui, e se alguém entrar? Tá me doendo! Me puxa!”

“Vou puxar como?” a fadinha perguntou, chutando a traseira de Pelluria e às vezes pulando em cima dela,
e tudo isso não tinha a força nem de uma palmada, a elfa continuava presa entre as grades. “Não posso! E isso que
nem tens a bunda muito grande! Como foi ficar entalada aqui?”
“Ai, pára com isso,” pediu Pelluria, cansada do que fazia a fada. “Rápido, dá um jeito, preciso sair daqui!”

“Oh, já sei, a saia enrolou-se aqui dos lados,” Alanis disse e segurou-se toda na saia de Pelluria. “Vamos,
te puxa para dentro!” A pequena apoiou um dos pés numa das grades e começou a puxar para trás a saia com o que
tinha de força, enquanto minha tia, apoiando-se de novo no baú, tentava entrar no quarto. Os braços ainda tremiam
com o esforço da subida e, não sei se podeis imaginar isso, mas é algo bastante desesperador ficar presa com
metade do corpo para fora do ultimo andar de uma torre no meio da chuva.

E Pelluria fez tanta força que uma hora escapou de dentro da saia; o pano, com a fada pendurada nele,
desceu pelas coxas de Pelluria e foi até os joelhos dela, e tudo isso, com a pequena gritando, ficou do lado de fora
do quarto; dentro dele caiu a metade de cima da elfa, sua bunda pelada continuou dependurada na janela, apesar
de livre das grades. A saia, entre as coxas, ainda trancava no ferro.

Daí veio a pior parte: Pelluria, jogada daquele jeito, escutou uma porta se abrindo à distância e viu a luz
duma vela se aproximando. Olhou para a cama à frente, esticou o braço e puxou o lençol que ali estava, jogou-o
sobre si e tentou cobrir-se com ele para se esconder. Sentia o vento fazendo sacudir a saia entre seus joelhos,
querendo arrancá-la dali, e a água da chuva esfriava-lhe a intimidade, que o máximo que conseguiu tapar foi a
cabeça e as costas. Erguendo um pouco o lençol, viu uma menina na porta do quarto: era uma das vigias, pelo
uniforme que usava; aproximou-se e acendeu todas as velas sobre a cômoda bem ali perto donde Pelluria estava.

A saia desceu mais pelas pernas da minha tia, foi até os calcanhares dela, escapou por um dos pés e ficou
pendurada apenas na ponta do outro; e, pelo peso, Pelluria podia sentir que na ponta da saia estava dependurada a
fadinha. Com os dedos dos pés, segurando, a elfa tentava evitar que o vento jogasse longe a saia.

De repente, então, Pelluria sentiu o lençol que lhe cobria o corpo sendo puxado: a vigia ou serva tirou-o de
cima de minha tia e, sem olhar para ela, foi até a cama da duquesinha para estendê-lo sobre o colchão. E isso
deixou Pelluria suando frio, porque era só a vigia voltar um pouquinho o rosto que com certeza veria na janela
aquela bunda élfica nua apontando para o céu, a chuva se jogando sobre as duas curvas magras dela.

E não era tudo: no momento em que fora arrancado o lençol, o susto fez com que se abrissem os dedos dos
pés de Pelluria e a saia que seguravam saiu voando. Pobre fadinha, se foi, já pensava minha tia, quando sentiu a
dor de um puxão bem naquele brinco que tinha escondido em lugar secreto, aquele mesmo que já havia sido
puxado naquele capítulo da história que tratava do Reino Subterrâneo. Pelluria quase ergueu a cabeça e gritou de
dor, mas segurou-se, trincou os dentes e quando finalmente a vigia deixou o quarto, rastejou para dentro e, no
chão, encolheu-se e apertou as duas mãos entre contra o sexo e ficou bem quietinha, querendo chorar.

Com isso a fada Alanis soltou a argola onde se segurava e caiu deitada no chão do quarto, os cabelos
jogados para todos lados, o vestido amassado e revirado, uma poça de água se formando em sua volta. Outras se
formavam ao redor da bunda de minha tia e dos pés e das costas dela.

“Ai, minha xexequinha,” Pelluria gemia baixinho. “Começo a pensar que esse brinco foi a pior idéia que
já tive.”

“Também nunca vi um em local tão esdrúxulo,” disse a fadinha, já de pé, sacudindo as asas, “mas ele
salvou minha vida.”

O quarto estava claro por causa das velas. Pelluria, envergonhada, levantou-se com uma mão na frente e
outra atrás, e disse:

“Trata de conseguir alguma coisa para eu vestir, que por tua culpa estou pelada!”

“Bom, deve haver alguma roupa por aqui,” a fada respondeu, levantando vôo. Foi para dentro das cortinas
da cama da duquesinha, usou-as para secar o corpo e verificou sua varinha do sono, que ainda estava bem presa à
cintura.

Pelluria, ainda tapando a frente com uma das mãos e após esticar a parte de trás da camisa para que lhe
cobrisse pelo menos um pouco da traseira, puxou para perto de si o baú onde estivera apoiada. Abriu-o e o
primeiro que encontrou foi o cinto de castidade da duquesinha. Deixou essa peça de couro no chão.

“Eu que não vou usar isso, tá louca, tem até um cadeado! Depois se fico presa nessa coisa?”
Procurando dentro do baú, Pelluria surpreendeu-se: havia ali uma outra jóia verde igual à esmeralda da
duquesinha, repousava sobre uns papéis e ao lado duns outros objetos e livrinhos. Pelluria pegou a jóia, estava
pendurada numa correntinha prateada ao modo da original, e meteu-a no pescoço e também dentro da camisa. Era
pouco mais leve e, não fosse isso e o fato de saber onde a jóia original estava escondida, poderia jurar que era a
mesma pedra.

“Hehehe, um bom começo! Mais uma esmeralda para mim!”

“Eu não disse que havia jóias?” perguntou Alanis voando para perto de minha tia, que voltou a cobrir o
íntimo. Nenhuma delas sabia, mas aquela não passava da imitação de vidro que a duquesinha tinha mandado fazer
da esmeralda, como vimos lá no começo desta história. “Ali está o armário de roupas.” A pequena apontou para o
lado oposto do quarto.

Pelluria andou até o armário e encontrou diversos vestidos e saias, de todas cores e tecidos, mas todos
muito grandes para ela. Pegou uma saia esverdeada que parecia a menor das que lá estavam e vestiu-a apressada.
Ficava um pouco folgada e de vez em quando começava a escorregar por um dos lados da cintura, mas era melhor
que andar nua.

A fadinha estava dentro do baú revirando as coisas dele quando Pelluria voltou até ali; tirou de cima de um
livro um item que não reconhecia e perguntou à fada o que era aquele objeto, que tinha a mesma altura de Alanis e
era todo ele um cilindro brancacento; sua base era chata e circular e ao redor dela havia uma fileiras de diamantes
muito pequenos cravejados um ao lado do outro; o topo, ao contrário da base, não terminava de forma abrupta,
mas ia se arredondando e formava uma bolota bem saliente, pouco mais grossa que o resto, que por sua vez não
tinha nenhuma marca e era também liso.

“Meio que parece um…” Pelluria interrompeu-se, olhando para aquilo.

“Ora, sua ignorante,” disse a fadinha. “Não viste onde ele estava? É um peso para papéis!”

E realmente no baú agora só restavam folhas de pergaminho e algumas penas para escrever e uns tinteiros.
Pelluria virou o objeto, o peso, e na base chata dele havia uma runa em baixo-relevo, no formato de um pequeno
losango, e bem no meio dela estava incrustada uma jóia circular e vermelha e delicada, um rubi.

“Não preciso dum peso para papéis, mas com tempo poderei arrancar essas jóias dele!” Pelluria falou
sorrindo e decidiu levar consigo o tal artefato. E teria que ficar em suas mãos, porque não tinha onde colocá-lo. “E
o que dizem esses documentos?”

Pelluria retirou algumas folhas do baú, todas preenchidas por letras pretas feitas numa caligrafia muito
delicada. A fadinha disse que não sabia ler, mas Pelluria, que sabia, começou a ler com facilidade, pois as letras
estavam no idioma do Continente e eram perfeitamente desenhadas:

“Pulsante, o mastro rijo de ébano do corsário, toda aquela virilidade pela qual ela há tanto ansiava, por
fim penetrou o aperto de sua virgindade, arrancando-lhe um resfolegante gemido, e a princesa Rosella, incapaz
de conter tanta potência dentro de si, ofereceu os... Oh! Mas isso é pornografia!” Pelluria devolveu as folhas ao
baú. “E das mais vagabundas! Ou muito me engano ou essas são as famigeradas aventuras eróticas da Princesa
Rosella!”

“Ei, continua,” pediu a fadinha. “Tava chegando na parte legal!”

“Quem diria, mm? A duquesinha gosta de literatura de baixa qualidade.”

Pelluria fechou o baú mal dando à fada tempo de sair de dentro dele.

Procurou nas gavetas da cômoda e noutros baús e não achou nada que fosse útil – bem, nada além duns
colares bem finos de ouro que meteu no pescoço, mas esperava ao menos encontrar algumas moedas – e daí foi
até a sala da banheira.

“Ali está!” disse ao avistar sua espada diante da mesa de mármore, e sorriu e já se imaginou longe do
vilarejo, sua vida de volta ao normal. Mas neste momento ouviu uma porta se abrindo e umas vozes e passos se
aproximando e teve que voltar correndo para o quarto. A fadinha foi junto empunhando sua varinha do sono,
escondeu-se com minha tia debaixo da cama.

Eram a Duquesinha e sua serva Lourdes Maria que vinham entrando no quarto.

***

*****

***

Depois que perdeu minha tia de vista, Meloine voltou até a árvore sagrada e escondeu-se atrás dela para
observar as o torres e o templo. Não passou muito tempo e ela viu três homens em armaduras completas saindo do
templo, lembraram-lhe do que Pelluria contara sobre os soldados de Dravísios. Seguiram deixando pegadas
pesadas pelo caminho e, atrás das torres, entraram numa casa que era das maiores do vilarejo, e que era, embora a
coelha não soubesse disso, a mansão do governador. Por muito tempo não houve mais movimento algum. Eis que
durante uma seqüência de relâmpagos, Meloine viu um vulto entrando num beco numa ruela ao lado da torre da
duquesinha. Foi até lá, entrou na ruela sombria e estreita sem poder distinguir quase nada na escuridão.

Veio então outro relâmpago e Meloine sentiu o coração gelar; enxergou diante de si, escondida perto da
parede, uma mulher toda coberta por vestido de panos longos. Mas o que assustou mesmo a coelha foi que a outra
segurava um arco e tinha uma flecha de ponta metálica apontada para sua testa, quase encostando nela.

Era a herborista Rouge e apesar de termos visto como montou suas flechas no capítulo anterior desta
história, não sei dizer de onde tirou o arco, porque isto não esclarece a minha tia em seus escritos. Talvez tivesse
pego no depósito de armas, já qua a vigia dormia quando lá ela estivera.

Olharam uma para a outra como se se conhecessem, Meloine e Rouge, porque os relâmpagos não paravam
e permitiam que se olhassem, e na verdade se conheciam. Rouge, que apesar de entender de ervas, era mais do que
simples herborista, falou:

“Senhorita Meloine Belastetas. Ou devo chamá-la de Mordebagos, que é o nome que usas desde que
fugiste da ilha de Xexeres?”

Meloine, imóvel, respondeu:

“O que dizes não é nenhum grande segredo, assassina. Vieste até aqui atrás de mim? Estamos a longa
distância da tua terra.”

Rouge esticou mais a corda do arco; Meloine, acostumando-se com a escuridão, pôde ver um sorriso no
rosto dela.

“Superestimas teu valor, senhorita Belastetas,” disse Rouge. “Para as Diáfanas ele é mais baixo do que
nunca agora que não fazes parte nem da escória de Xexeres. Encontrar-te aqui não é mais do que uma
coincidência. Mas é uma coincidência feliz, claro, pois é sempre bom serviço acabar com a vida duma das
malditas. E estarei fazendo um favor às perversas do arremedo de clã de coelhas da tua ilha, não é?

Meloine não disse nada, seus olhos se apertaram fixos nos de Rouge.

“E então, coelhinha?” Rouge falou. “Que tal entregar a jóia que roubaste das infames de Xexeres? Ou há
algum outro bom motivo para que eu não te mate agora mesmo?”

“Sim,” Meloine disse e esperou um pouco. “Há um muito bom entre as tuas pernas, linguaruda.”

Neste ponto Rouge sentiu um frio entre as coxas. Olhou para baixo devagar e viu a lâmina da espada de
Meloine saindo reta pelo meio das coxas da coelha; Rouge estremeceu, a ponta da espada estava enfiada dentro de
seu próprio vestido, o aço encostando em sua pele. Meloine segurava a espada atrás de si, com um braço nas
costas. Disse:
“Será que podes me matar antes que eu estique tua rachinha até o pescoço? Acho que sou rápida o
suficiente.”

Rouge sentiu a ponta da espada da coelha tocando o espaço entre suas nádegas, insinuando-se onde elas
terminavam. Meloine sentiu a ponta da seta da outra encostando em sua testa, quase se fincando ali.

Esperaram quietas, a água escorrendo pelos cabelos delas e pela flecha e pela espada. Rouge tinha raiva
por não ter visto Meloine pegar a espada, e Meloine por ter se deixado surpreender quando entrara no beco.

“Abaixa o arco, assassina,” Meloine disse.

“Abaixa a espada, coelha.”

Ficaram assim por muito tempo, uma cuidando até a respiração da outra, quando por fim notaram uns
movimentos na entrada da ruela. Com os cantos dos olhos elas viram passar lá fora uma grande quantidade de
soldados de armadura; marchavam em direção às torres, que donde estavam podiam ver bem, já que a herborista
não tinha escolhido aquele esconderijo por outro motivo a não ser vigiar a torre da duquesinha.

“Quem são eles?” Rouge perguntou. “O que está acontecendo aqui?”

Mas Meloine sabia tanto quanto ela a respeito dos de armadura. Eles pararam diante das torres, alinhados,
só uns poucos avançaram por entre elas.

“Essa flecha não era para ti, Belastetas,” Rouge falou, “mas para a duquesa de Orqushire. Abaixa a espada,
não posso perder tempo contigo.”

“Também não quero perder tempo contigo, assassina,” foi o que respondeu Meloine. “E pouco me importa
a duquesa. Proponho uma trégua enquanto estivermos no vilarejo.”

Uns soldados da vila se aproximaram dos de armadura, vindos dos portões duma das torres para ver o que
faziam ali, e Meloine e Rouge ouviram sons de luta.

“Tudo bem,” Rouge concordou. “Prometo que não vou te atacar aqui dentro. Agora abaixa a espada.”

“Primeiro o arco, traiçoeira.”

A chuva e o vento pareciam ter ficado ainda mais fortes, a água batia nas duas mulheres e os trovões
faziam o chão tremer. As armas foram desviadas lentamente e ao mesmo tempo, Rouge e Meloine muito
desconfiadas uma da outra. Notaram então os gritos, a confusão tinha se espalhado pelo vilarejo; os soldados de
Orqushire enfrentavam os homens de armadura pelas ruas, eram dizimados por eles, e os de armadura derrubavam
portas e paredes de casas e cortavam com as lâminas que traziam presas em seus braços qualquer um que lhes
aparecesse na frente, e fogo e água se espalhavam.

Quando Rouge percebeu, Meloine tinha sumido. Guardou então sua flecha, tocou o furo que havia sido
feito em seu vestido e ficou olhando enquanto os guerreiros de armadura destruíam o portão da torre da
duquesinha.

***

*****

***

Escondida debaixo da cama, Pelluria ouviu as risadas da duquesinha e da serva e imaginou que estivessem
bêbadas, e também o som dos passos, que claramente uma delas tinham botinas com saltos. As vozes se
aproximaram e as duas pararam na sala da banheira, e daí, de onde estava, metendo a cabeça entre os pés da cama,
Pelluria pôde vê-las: abraçavam uma à outra apoiadas na mesa de mármore e como amantes se beijavam, e faziam
isso sem parar e cada vez por mais tempo. Pelluria de repente chocou-se ainda mais, pois percebeu que a serva
magricela estava nua, usava apenas meias brancas e um colar de pérolas; seus trajes haviam sido deixados no
chão. E a duquesinha, cujos trajes deviam estar junto com o da outra, também de meias brancas, só que com umas
botinas por cima, com os saltos não tão altos quanto aqueles que nossa elfa a vira usar na primeira vez que
apareceu nesta história, só não estava pelada porque vestia uma calcinha cor de vinho, e já metia a boca num dos
seios da serva, chupava-o com tanta vontade que parecia querer devorar-lhe o bico. E o pior foi quando segurou os
seus próprios, em tudo maiores que os da serva, e passou a esfregá-los nos dela, os bicos dos de Mychelle
Alanturia roçando nos de Lourdes.

“Ai, que porqueira,” Pelluria cochichou. “As duas são sapatões!”

“Droga,” sussurrou a fadinha, porque não queria ver de novo nada do que tinha visto na sua estada anterior
na torre. Estava de pé ao lado do rosto de minha tia. “É melhor irmos embora,” falou, afastando um dos brincos de
Pelluria.

“Preciso pegar minha espada!”

“Sua elfa burra, onde achas que as duas sem-vergonha vão deitar depois que terminarem de se esfregar?”

Pelluria voltou-se para a sala da banheira e para lá lançou um olhar de desgosto. A serva estava apoiada na
mesa de mármore e a duquesinha, ajoelhada diante dela, segurava-lhe as nádegas; a duquesinha tinha todo o rosto
metido entre as coxas da menina e de vez em quando se podia ver sua língua passando por elas e pela parte mais
íntima que escondiam.

“Oh, não, elas tão se chupando!” dizia Pelluria.

E a serva gritava coisas como “Senhora, não, é errado! Eu que devia estar de joelhos diante da minha
senhora!” Mas mesmo assim sentava-se cada vez mais na mesa e afastava cada vez mais as pernas e gemia cada
vez mais. Uma hora a Duquesa deitou-se sobre ela e removeu a própria calcinha, que ficou esticada entre as
botinas, em seus calcanhares.

“Vamos embora, elfa,” chamou Alanis. “Ou estás gostando do que vês?”

“Eu, heim, tá louca?” respondeu Pelluria; e o que via eram os assentos fofinhos da duquesinha sacudindo
num sobe e desce que ia ficando sempre mais veloz, as mãos da serva os sovando e afofando. “Não curto briga de
aranha, mas não saio daqui sem a minha espada. Por que não usas a tal varinha do sono, fada? Apaga as duas
coladoras de feno, eu pego o que vim buscar e vamo-nos embora!”

“Eu posso usar,” zumbiu a fada, “mas só tenho uma carga, só poderei fazer dormir uma delas! Porém já
aviso que o efeito não dura mais que uns minutos!”

“Mm, tudo bem,” Pelluria falou. “Temos que nos aproximar delas, tu acertas uma e eu seguro a outra;
tenta pegar a bunduda, que é mais fortinha.”

“Certo,” a fada respondeu e apontou para o que Pelluria estava enjoada de ver; e agora não havia como
aquela traseira leitosa movimentar-se mais rápido do que já ia. “Aquele bundão é um alvo fácil para minha
varinha!”

“Precisamos agir em silêncio para não chamar a atenção de nenhum guarda ou não teremos chance,” disse
Pelluria e, rastejando, saiu de seu esconderijo. A fada voou e dependurou-se no ombro dela.

Pelluria andou nas pontas dos pés até as proximidades da passagem que levava para a sala com a banheira,
mas quando ia entrar, saltou de volta para o quarto, pois o traseiro de Mychelle parou de sacudir e a dona dele
ajoelhou-se na mesa, suspirando bem fundo.

“Aaah, não pára,” gemeu a serva, erguendo-se também. “Nada melhor que uma trepada bem relaxante
antes de dormir, não achas?”

A fada e Pelluria continuaram onde estavam, espiando ao lado da passagem, apoiadas na parede.
“És insaciável, não é, Lourdes?” sugeriu a duquesinha, já de pé. Minha tia amaldiçoou a própria sorte e
sentiu a botina da fadinha batendo em seu ombro. “Prosseguimos na cama que é mais gostoso e prometo que
gozas o quanto quiseres antes de dormirmos.”

“Oh, espera,” falou a serva, indo para trás da duquesa. Despiu a calcinha que ela ia erguendo e deixou no
chão junto com a saia e o próprio vestido, e abraçou sua senhora, beijou-lhe os ombros e os cabelos, e metendo os
braços sob os dela, acariciou-a no sexo e nos seios e noutros lugares e de tantas formas que fez minha tia parar de
olhar. “Deita aqui,” a serva disse em seguida. “Isso mesmo, minha senhora bela.”

“Mmm, Lourdes,” gemeu a Duquesinha com toda força e minha tia não quis nem imaginar o que a serva
estava fazendo com ela. E depois de alguns outros gemidos e obscenidades e agressões aos ouvidos da fada e de
Pelluria, a duquesinha perguntou assim, num tom malicioso:

“Sabes o que eu quero, Lourdes?”

“Isso?” a serva perguntou e Pelluria fez uma careta ao ouvir o ruído melequento que veio depois da voz da
menina. E depois veio outro gemido da duquesinha. Tomando coragem, minha tia espiou pela porta; a duquesa
estava na mesa, de costas para o quarto. Ou melhor, de bunda para o quarto, porque estava de quatro, pode-se
dizer, curvada sobre a mesa. A serva, de pé, segurava ela pela cintura.

“Quero que vás até o quarto e pegues o falo de marfim, Lourdes,” a duquesinha disse. “Quero que me
penetres com ele, estou louca para tê-lo bem grosso em meu interior.”

“Falo de marfim!?” perguntaram-se ao mesmo tempo Alanis e Pelluria e pensaram na mesma coisa:
olharam para o artefato cilíndrico que minha tia tinha nas mãos, o tal ‘peso de papéis’.

“Aaaai, que nojo,” sussurrou Pelluria e jogou aquela coisa em cima da cama da duquesinha, esfregou os
dedos na camisa. Daí viu a sombra da serva se aproximando, encostou-se toda na parede e Lourdes Maria entrou
no quarto sem olhar para os lados: as poças d’água deixadas pela elfa diante da janela chamaram-lhe a atenção:

“Oh, está tudo encharcado de novo, minha senhora! Essas servas imprestáveis, nem para secar o chão...”

“Deixa, meu amor, vem logo que eu tenho outra coisa bem encharcada para penetrares,” vieram da outra
sala os gritos da duquesinha. “Acaba comigo!”

“Heheh, pode deixar! Ei, está aqui,” a serva disse, percebendo o cilindro fálico sobre a cama.

Pelluria aproximou-se por trás de Lourdes, meteu uma mão na boca da menina para que não pudesse gritar
e com a outra segurou-lhe um braço. A fadinha veio voando e enfiou toda sua varinha numa das nádegas de
Lourdes Maria. Os olhos da serva se arregalaram e ela se debateu um pouco, mas logo seu corpo amoleceu e ela
caiu nos braços de minha tia.

Pelluria arrastou-a, era muito leve, e deixou-a deitada na cama. Daí olhou para a porta, a bunda da
duquesinha ainda empinada e oferecida. Sorriu maldosa, pegou o falo de marfim e entrou na sala da banheira.

“Até que enfim, Lourdes,” a duquesinha disse quando ouviu os passos de Pelluria. Estava de olhos
fechados, tinha um braço sob o próprio corpo e seus dedos surgiam ali embaixo, afastaram os lábios cheios que ela
estava acariciando entre as virilhas e um fiozinho de líquido escorreu por entre eles. “Vamos, por favor, põe em
mim antes que eu morra de desejo.”

De pé, Pelluria colocou uma das mãos na bunda da duquesa, afundou-a numa das metades dela.

“Mmmm” suspirou a duquesinha e Pelluria afastou-lhe a nádega. Com isso abriram-se um pouco as
bordinhas rosadas do orifício que já estava exposto no meio daquela traseira e que era mais em formato de
estrelinha que de pontinho; e ficou bem aberto, porque suas bordas não eram tão apegadas assim uma à outra.

Pelluria, que não pretendia ver mais do que já estava vendo, se é que havia forma de ver algo mais,
encostou a ponta saliente e bolotuda do cilindro de marfim naquele buraquinho, praticamente encaixou-a ali.
“Safadinha,” a duquesinha disse rindo e Pelluria apoiou a palma da mão na base do toco de marfim. “Aí
não, estás no lugar errado! Eu quero é na...”

Mas duma vez só Pelluria empurrou e meteu de cabo a rabo todo o artefato ali mesmo, no traseiro da
duquesinha; o cilindro sumiu socado entre as nádegas dela e nem só a base com os diamantes ficou de fora.

Imediatamente a duquesinha ergueu as costas e não quero nem imaginar o que estava sentindo. “Aaai,
meu c*!” berrou ela com tanta agonia que Pelluria até sentiu remorso. “Estúpida! Pensas que não machuca? O que
deu em ti!? Queres rasgar-me o...”

Com os dentes cerrados, a duquesinha voltou-se e, quando enxergou Pelluria, seus olhos se arregalaram
atrás dos cabelos loiros. Tentou dizer alguma coisa, mas antes que conseguisse pronunciar uma palavra inteira já
estava metendo o pé no peito da elfa e chutando ela para longe.

Pelluria quase caiu, as costelas doloridas, que além de ter as coxas fortes a outra ainda estava de botas,
mas apoiu-se na parede, retomou o equilibrio e saiu correndo em direção à espada jogada ali perto da banheira. Ao
mesmo tempo a duquesinha rolou e jogou-se no chão e, pelo outro lado da mesa, correu em direção ao seu florete
na prateleira.

Mal Pelluria desembainhou Lucille, o florete da duquesinha chocou-se contra a lâmina dela com fúria
assustadora.

“O que estás fazendo aqui?” a duquesinha gritou. E se mexia e atacava tão rápido que minha tia
surpreendia-se com a velocidade dela; os seios sacudiam e os cabelos esvoaçavam e o florete voava zunindo e
cortando o ar e às vezes uns panos da camisa de Pelluria. “Onde está minha serva?! Se tiveres tocado num fio de
cabelo de Lourdes eu juro que…" e nisso o florete cortou foi uns fios de cabelo raivo, quse levando junto uma
orelha élfica.

“Não te preocupes,” Pelluria interrompeu a outra e começou a atacar também e daí foi a vez de Mychelle
se surpreender. “Tua namoradinha está bem!” Lucille despedaçou uma prateleira e frascos de perfume e esponjas
voaram. “Agora abaixa essa espada ou eu acabo contigo!”

“O quê?! Como ousas?”

Então elas não falaram mais.

A duquesinha sabia mesmo lutar, Pelluria descobriu em pouco tempo, e não como uma nobre que participa
de torneios por diversão, mas como um soldado que depende das armas para sobreviver. Teve que se mover como
nunca para escapar da fúria dela.

O florete derrubou mais frascos das prateleiras, Lucille arrancou pedaços de mármore da mesa, um salto
da duquesa acertou Pelluria numa da coxas, deixando um círculo roxo, e a espada de ponta fininha se enfiou na
parede a poucos dedos da elfa, e nisso Pelluria já estava dentro da banheira, a água ao redor de seus joelhos.

Pelluria levantou a espada para bloquear o cabo do florete da duquesinha que vinha descendo para lhe
partir a cabeça e não haveria como detê-lo se fosse uma arma mais pesada, pois vinha com muita força e raiva.
Quando ele bateu na lâmina dupla de Lucille, a saia que Pelluria vestia, e que já ameaçava cair há muito tempo,
despencou na água e se enredou nas pernas dela, deixando nossa elfa em desvantagem, que era melhor lutar
pelada como a duquesa do que com uma saia enrolada nas coxas.

O que salvou minha tia foi o fato da fadinha entrar gritando e voar ao redor da duquesa bem rápido,
assustando-a e a atrapalhando. Pelluria pôde saltar para fora da banheira e com uma das mãos arrastou a saia toda
molhada que já não vestia mais; jogou-a em direção ao rosto da duquesinha, mas Mychelle pegou o pano no ar e
jogou-o para o lado, foi bater na parede, e seguiu tentando acertar a fada, que acabou entrando no bolso da camisa
de Pelluria apara fugir do florete.

A duquesinha voltou-se para Pelluria, viu no bolso dela dois alvos: a fada e o coração da elfa. Mas Lucille
bloqueou isso tudo antes que a duquesinha pudesse atacar.

As duas mulheres estavam ofegantes.


Pelluria segurava sua espada longa e pesada com uma das mãos, trêmula, e a outra mantinha, pingando
água, na frente da pube. A duquesinha também segurava o florete só com uma mão, a esquerda, e fizera isso
durante todo o combate, porque era assim que lutava; seus dedos se escondiam atrás da empunhadura, pela qual
eram protegidos, e ela tinha o outro braço estentido ao lado do corpo nu, seus cabelos escorriam pelos ombros.

“Até que tu lutas bem,” a duquesinha falou, notando o modo como Pelluria antecipara seu ataque. “Para
uma camponesa.”

“Tu também não estás mal,” Pelluria respondeu. “Para alguém com um c****** de marfim enfiado no
ânus.”

Daí a duquesinha rosnou algo a respeito da mãe de nossa elfa e ficou vermelha e colocou a mão lá atrás,
donde voltou em seguida com aquele pênis de marfim; jogou-o na direção de Pelluria. Minha tia rebateu-o com a
espada, ele chocou-se na mesa e caiu rachado. E a duquesinha já ia saltar em cima de Pelluria, louca de raiva, mas
a serva Lourdes Maria impediu-a: entrou correndo e colocou-se na frente da duquesa com os braços estendidos
como se quisesse protegê-la.

“Lourdes! Não!” a duquesinha gritou e pela primeira vez naquela luta não havia raiva em sua voz; tinha se
assustado. “Vai para trás de mim!”

Pelluria não fez o que a duquesinha temia, não atacou a serva. Apenas agarrou a saia molhada que estava
pendurada ao seu lado na janela e saiu correndo. Abriu a porta do quarto e fugiu para a sala octogonal. Antes de
chegar à metade dela estava cercada por oito mulheres em trajes de soldado, todas segurando espadas curtas.
Várias outras vieram por passagens em ambos os lados da porta do quarto da duquesinha e vieram mais umas lá
do fundo.

Minha tia hesitou um pouco entre cobrir seu íntimo e segurar a espada com as duas mãos; mas não era
hora para ter vergonha, decidiu. Olhou para a vigia a sua frente e ela lhe pareceu familiar; logo reconheceu-a: era
Nagnólia, a mesma que havia bebido com ela na estalagem há poucos dias. E a vigia também a reconhecia,
Pelluria percebeu pelo olhar dela.

“Solta a espada,” Nagnólia mandou timidamente, sem querer atacar Pelluria. Daí olhou para as pernas dela
e notou que estava sem calças.

Minha tia aproveitou a distração e moveu Lucille bem rápido, bateu com ela na espada de Nagnólia e
derrubou a arma no chão; em seguida passou ao lado da vigia, desviou outra espada e correu em direção à lareira
para evitar o ataque das outras. Era o único lugar que parecia vazio e voltou para lá as costas.

Sentia o calor do fogo em suas coxas, para não dizer na traseira, e as outras vigias já vinham correndo,
doze contra uma, mas no meio do caminho se detiveram. Um chamado da duquesinha fez com que parassem; a
nobre, vestindo uma saia preta e mais nada acima da cintura, os cabelos sobre um dos seios, entrou na sala
octogonal ao lado de Lourdes Maria. Com a cintura e as coxas assim cobertas, parecia mais forte do que fofa; seus
ombros eram grandes e largos e era alta.

“Vigiai as saídas e não deixai que a elfa escape! Ela é minha!”

Foram as vigias em grupos para as portas.

Lourdes Maria tentou deter sua senhora, tomou-lhe a mão direita. Mas a duquesinha disse que ela ficasse
ali e que não queria que nada lhe acontecesse; daí o polegar da nobre fez um carinho na mão da serva e depois a
duquesinha soltou-a e foi se aproximando de Pelluria.

Levantaram as espadas, as duas.

“É o teu fim, elfa. Dessa vez estou preparada. Vou fazer o que devia ter feito naquela clareira.”

“Tá bom, gorducha. Vem.”

A fada saiu do bolso de Pelluria e voou até o teto para ficar longe de qualquer ponta de espada. O florete
da duquesinha desviou o primeiro golpe da espada de Pelluria com habilidade, fazendo a lâminha deslizar até a
empunhadura, e também o segundo e o terceiro, estava muito concentrada, e quando ela própria ia atacar, ouviu
um estrondo.

A porta atrás das vigias na entrada da sala octogonal voou longe, despedaçada, e sangue saltou no ar. Três
vigias caíram e um enorme homem de armadura enferrujada entrou empurrando outras soldadas. De repente uma
lâmina saiu do peito de uma delas, levantou a menina e arremessou-a por sobre as demais.

Logo já iam outras para perto para lutar e umas se aproximavam da duquesinha para protegê-la. Lourdes
Maria, chorando, foi para junto desta.

Intestinos e órgãos se espalharam pelo tapete e um braço caiu.

“Invasores! O vilarejo foi invadido!” ouviu-se gritos vindo do corredor atrás do guerreiro de armadura. Ele
era igual ao que Pelluria tinha enfrentado na floresta com as lâmias, e a duquesinha pensou, é claro, que a minha
tia estivesse do lado dele.

Mas Pelluria disse:

“É melhor pararmos de brigar ou não teremos chance contra esse demônio.”

“O que é isso?” a duquesa perguntou desconfiada e assustada, mas com mais raiva do que qualquer dessas
coisas.

O homem de armadura despedaçou outras das vigias que batiam suas espadas contra o metal que o
recobria e Pelluria e a duquesa e todas outras, restavam sete, voltaram-se estarrecidas para ele. A criatura avançou
até o centro da sala, as mulheres se afastaram andando para trás.

“É um soldado de Dravísios,” Pelluria disse. “Já enfrentei um deles, são monstros de armadura!”

“Soldados de Dravísios?” perguntou a duquesinha e Lourdes Maria finalmente alcançou-a por entre as
outras e segurou a mão que ela tinha livre. “Dos sacerdotes de Dravísios?”

“Sim! Havia vários desses na floresta, acho que vieram pela tua jóia!”

Na porta surgiu um outro guerreiro semelhante ao primeiro, mas com restos de roupas e do que fora uma
vigia envolvendo um de seus braços gigantescos.

“Oh, agora tamos f******.” Pelluria virou-se para onde estavam as coisas de armadura, viu ao redor deles
o amontoado de meninas mortas. Mesmo com o fogo da lareira tão próximo, sentiu um arrepio gelado subindo por
trás de suas pernas e depois pelas costas. Um dos pés cobertos por ferro do demônio esmagou a cabeça duma vigia
caída.

“Vem comigo, elfa,” a duquesinha falou e soltou a mão de Lourdes-Maria. “Quando nos encontramos pela
primeira vez disseste que essa espada era tua.”

“Eu voltei ao vilarejo por ela.”

“Prova que és digna dela. Depois, se sobrevivermos, acertamos nossas contas.”

...

E assim, no meio do ataque ao Vilarejo da Cerejeira Sagrada, termina este capítulo da história da elfa
Pelluria.
Todas as histórias são de responsabilidade de seus respectivos autores. Não nos responsabilizamos pelo
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