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Elfa - Volume I

Autor(es): elfman

Sinopse
Aventuras espadas & calcinhas com um grupo de matadoras de monstros e caçadoras de tesouros que inclui uma
elfa, uma fada, uma coelhinha ninja e uma humana com a bunda gordinha.

Notas da história
* Escrito com o objetivo de sacanear todos os clichês de mangás, animes, rpgs e histórias de fantasia que
existem, nada se salva e todo elemento possível de se imaginar nesse tipo de história acaba aparecendo uma hora.

* A princípio pode não parecer, mas é uma história bastante complexa e com dezenas de personagens e elas
passam por algumas aventuras bastante pornográficas de vez em quando, então leia por sua conta e risco.

* Não leia a sério.

(Cap. 13) XII - Deixando Umas Coisas Para Trás

Notas do capítulo
Mychelle e Pelluria enfrentam os diabretes que eram o cardeal de Dravísios e Rouge tem uma chance de acertar
seu alvo; e também mostra-se para onde Altisidora levou Gustaff Olafson.

Parte XII - Deixando Umas Coisas Para Trás

“Mychelle e Pelluria enfrentam os diabretes que eram o cardeal de Dravísios e Rouge tem uma chance de
acertar seu alvo; e também mostra-se para onde Altisidora levou Gustaff Olafson.”

As costas da duquesinha se apoiaram na estátua de mármore atrás dela, a estátua em que Lourdes Maria se
tinha convertido; ela afastou o cabelo de cima do olho que ainda enxergava bem, o outro doía e pulsava e insistia
em se fechar. Uma mistura de frio e dor cobria o corpo dela e as pernas não paravam de tremer, e com raiva por
saber que não agüentaria muito tempo de pé, a duquesinha firmou-se na pedra com o que ainda tinha de força.

Ela viu um dos pequenos monstros saídos dos restos do cardeal saltar na direção de Pelluria com suas
garras esticadas e os muitos dentes de tubarão à mostra; um grito metálico e incômodo, do tipo de som que faz
com que se queira cobrir os ouvidos, acompanhou o vôo da criatura e se interrompeu quando o diabrete bateu-se
contra Lucille, a espada da elfa, e foi jogadado para um lado. O monstro caiu de pé e imediatamente pulou de
novo, e então a duquesinha notou que o outro voava em sua direção. Tentou correr e desviar-se dele e de suas
garras e dentes prontos para cortar o que vissem pela frente, mas no primeiro passo a duquesa caiu de bruços, sua
perna esquerda ferida parecia ter desaparecido. Ouviu o som do diabrete batendo na estátua de Lourdes Maria e
com o canto do olho viu-o cair no lodo e se reerguer. Rolou no lodo para virar o corpo para cima, com o que
sentiu um fisgão doloroso na traseira, procurou pelo florete e quando avistou–o jogado bem longe dali, desejando
estar lá ao lado da arma, ouviu de novo o grito metálico.

Mychelle pôs as mãos na frente do rosto para deter a criatura. Pegou o diabrete pelos braços finos, fileiras
de dentes se batiam na frente de nossa duquesa e as pernas da criatura sacudiam sem parar; as unhas de um dos
pés, que eram facas, arrancaram um pedaço do couro da bota que cobria a perna da duquesa e logo arrancariam a
carne dela.

A duquesinha sentou-se com grande esforço para afastar mais o monstro, sentiu uma explosão de dor na
nádega, e a criatura se debatia e a mão ferida da duquesa estava prestes a desistir e soltar, mal sentia os dedos. Daí
algo pulou de dentro da boca do diabrete, jogou para os lados sangue preto e espesso ou o que quer que a criatura
tivesse dentro de si, e assustada, com a garganta muito seca, a duquesinha percebeu que a ponta de metal de uma
flecha tinha perfurado a cabeça do diabrete. Ele parou de se mover e a duquesinha soltou-o e caiu de costas no
chão, exausta. Empurrou a criatura para o lado, para removê-la de cima de seu corpo. Fechou os olhos. O lodo
cobrindo a pedra, aquele chão já tinha sido o templo da Cerejeira Sagrada, era quente e acolhedor e ela só queria
ficar quieta e dormir até a dor passar.

De repente a duquesinha acordou – porque é bem possível que tivesse desmaiado – com a fada Alanis de
pé sobre o seu peito, a pequena balançando e cutucando o queixo dela com a ponta do pé. Pelluria estava ali na
frente, limpava a lâmina de Lucille com sua própria saia molhada.

“Vem, levanta,” Pelluria disse para a duquesa e ajudou-a depois de guardar a espada. Mas a duquesinha só
se sentou e apoiou de novo as costas em Lourdes Maria, mantendo erguida a nádega ferida; viu que o outro
diabrete também estava morto e que a camisa fina apegada ao corpo de Pelluria estava rasgada na altura das
costelas dela, mas o sangue ali estava seco e era o da própria duquesinha. A saia grande demais para ela cobria as
coxas da elfa feito uma sacola.

“Vamos sair daqui,” Pelluria disse, abaixada ao lado da duquesinha. “Eu quero encontrar a coelha e
recuperar minhas coisas que deixei com ela, quero ir embora desse lugar.”

“Eu vou esperar aqui,” a Duquesinha respondeu, parecendo cansada demais para se levantar. “Tu vais
embora do vilarejo?”

“O mais rápido que puder,” Pelluria disse e levantou-se de novo. “Vou embora da província.”

A duquesinha esperou um pouco e ergueu o braço devagar. Tapou um dos seios com a mão, o bico dele
estava gelado e duro, e a mão estava cheia de sangue. Ela disse:

“Fica aqui.”

“Tá bom, eu posso esperar até que as lâmias e os humanos cheguem.”

“Não,” a duquesinha murmurou. “Ajuda-me. Eu vou perseguir e matar os demônios que tiraram Lourdes e
o meu pai de mim, vou precisar de boas lutadoras.”

“Não há como persegui-los,” Pelluria disse, “eles sumiram. Nem sabemos de onde vêm.”

“Meu pai sabia. Eu vou achá-los. E vou matá-los. Darei uma boa recompensa se me ajudares.”
Pelluria esfregou a testa e respirou fundo e olhou para os lados como se procurasse por algum sinal de
movimento ou de vida entre as ruínas. Ou então estava só pensando no que dizer. Depois olhou de novo para a
duquesinha.

“Eu sei que estás com raiva agora,” falou, “e estás triste e sentindo dor. Mas mesmo que houvesse uma
maneira de descobrir de que inferno vieram essas criaturas, de que forma iríamos enfrentá-los? Precisarias de
grandes exércitos e não de uma boa lutadora. Hoje vi coisas que nunca tinha visto na minha vida e eu já estive em
diversas províncias do continente. Não é preciso grande inteligência para saber que tenho sorte por ainda estar
viva e posso dizer do fundo de meu coração que não pretendo passar por nada disso de novo.” Pelluria esperou um
pouco, voltando-se para a estátua mais adiante, o grão-duque. “Os nobres não são muito espertos,” disse em
seguida. “Se eu fosse a duquesa de uma província, ficaria quieta em meu castelo comendo as melhores comidas e
bebendo vinho e não iria atrás de pedras mágicas e de demônios.”

“Então talvez sejas mais sábia do que aparentas,” a duquesinha disse. Esfregou o lábio inchado com o
polegar.

“Nos encontramos de uma maneira estranha,” Pelluria falou. “Tu és muito corajosa e também és louca
como eu já fui há muitos anos, quando estava no exército da rainha. Lutas melhor do que soldados, apesar de seres
uma duquesa. Mas na verdade eu nem te conheço. Sinto muito pelo teu pai e pela tua..? Amante,” ela sacudiu os
ombros. “E por ter pego tua jóia e por ter... bom, te machucado.”

A duquesinha riu bem rápido. Pareceu ter rido, pelo menos, mas Pelluria não estava tão certa; talvez
tivesse sido um gemido, pela dor. “Meu c* já levou coisas maiores,” ela disse baixinho.

“Espero que tua raiva passe,” Pelluria disse “irás pensar melhor quando não estiveres mais tão ferida.
Vem, eu te levo daqui, os humanos vão cuidar de ti.”

“Me poupa,” a duquesinha disse depois de fazer um barulho com o nariz. Parou de olhar para Pelluria,
fechou os olhos. Talvez estivesse chorando. “Vai embora. Eu vou ficar bem.”

“Não vou te deixar sozinha desse jeito.”

“De que jeito? São só uns arranhões. Vai embora, elfa!”

Pelluria hesitou e a duquesinha disse:

“Vai. Se não pretendes me ajudar... Quero ficar sozinha.”

“Bom... Eu vou dizer que venham te buscar, então e... tá. Tá bom. Adeus.”

Pelluria saiu dali andando devagar, sem nunca olhar para trás.

A duquesinha sentia muita dor, Pelluria sabia, era algo que qualquer um podia ver, e ela tinha pena. Não
gostava da duquesa, de qualquer forma, mas tinha pena e também sentia culpa. Ainda carregava a verdadeira
esmeralda. Tentou pensar noutra coisa e pensou nas lâmias e nos humanos e em onde estariam eles.

A rainha Ellenora e Dom Mastilhos haviam se encontrado na floresta e ainda não tinham vindo ao vilarejo
porque primeiro precisaram acalmar os humanos e as lâmias: muitos deles, acostumados a brigar entre si e a
desconfiar uns dos outros, culpavam-se mutuamente pela invasão dos demônios de dravísios e alguns queriam
mais lutas e mortes.

No fim da rua principal, próxima dos destroços do portão do vilarejo, Pelluria notou a fada voando perto
de seu ombro. A floresta em frente estava cheia de névoa espessa ou fumaça, não dava para dizer com o cheiro de
coisas queimadas no vilarejo, e os muitos pedaços cinzentos do céu começavam a formar um único cinza claro.

“Por que a magia deles não nos afetou?” Alanis perguntou para minha tia. “Eu senti minhas asas pesadas e
mal pude me mover por uns instantes, mas apenas os soldados humanos e a amante da duquesa se transformaram
em estátuas.”
“Eu não sei,” Pelluria disse. Desgrudou a camisa do corpo, pois estava gelada, mas dessa forma sentiu
mais frio ainda, e a saia molhada roçava entre as coxas de maneira irritante. “Talvez exatamente por isso, por
serem humanos,” disse pouco depois.

“Mm. É verdade!” concordou Alanis. “A coelhinha também não foi transformada em pedra e nem a
duquesa, por ter sangue de lâmia, afinal a mãe dela era lâmia. Talvez a magia deles só funcione em humanos.
Aonde vais agora? Ainda tens a esmeralda que a rainha te deu, não é? A que entregaste ao demônio era a que
achamos na torre, eu espero.”

Pelluria respondeu apenas a primeira pergunta, disse que precisava encontrar Meloine ou Gustaff Olafson,
e a fada a seguiu.

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Os olhos de Mychelle se abriram e um deles voltou a se fechar. Ela olhou para o diabrete caído, para a
flecha na cabeça dele, saindo da boca, apontada para o céu. Levantou-se apoiada em Lourdes, tremendo, e levou
muito tempo para ficar de pé. Lembrou-se da ponta da flecha saindo do seu braço.

“Eu sei que estás aqui,” gritou, rouca. “Aparece,” falou bem alto, não podia mais gritar.

E então a herborista estava diante dela, uns passos para frente, ao lado do florete. Segurava seu arco, outra
flecha apontada para a duquesa, a corda esticada, e era como se tivesse estado ali o tempo todo.

A duquesinha olhou de novo para o braço, para a meia de Lourdes que o envolvia, o pano branco e macio
manchado com sangue. Lembrou-se das mãos de Lourdes segurando a meia bem esticada, das mãos de Lourdes
subindo pelas coxas e pela barriga e pelo peito e pelos seios, e do cheiro do suor dela, e da voz fina e doce e
carinhosa, e do peso bem leve do corpo dela.

Rouge estava imóvel, não se podia perceber nem se respirava.

“Estavas nos seguindo desde que deixamos a torre,” a duquesinha disse. “Então era atrás de mim que
vinhas. Podias ter atirado antes.”

“Eu o fiz.”

“Oh. Então tua mira é tão ruim assim?”

“Eu nunca erro. Queria que sentisses dor antes da tua vida acabar.”

“Eu senti bastante, desde que acertaste meu braço,” a duquesinha disse e voltou o rosto para o diabrete. “E
me salvaste desse demônio quando podias ter permitido que ele me rasgasse as entranhas. Suponho que prefiras
fazer isso pessoalmente.” Ela era um monte de trapos, a duquesinha. A saia toda rasgada era uns fiapos
pendurados entre as coxas e as pontas de cabelo escurecidas caíam sobre os topos dos seios que caíam sobre o
peito, cansados. “Posso perguntar por quê? Não pareces ter pressa.”

“Não era para ti,” Rouge disse calmamente. “Esta flecha era para a tua mãe. Eu vim matá-la.”

“Ela está morta,” a duquesinha respondeu. Esperou. Rouge disse então:

“Ela matou a minha mãe. Queria o meu pai. Levou-o para a floresta e o devorou. E então ela me viu e me
ergueu pelo pescoço, enfiou suas unhas em meu ventre e me arranhou. E eu era fraca demais para me defender e
ela me jogou no lago. Mas eu estava viva e andei para o sul. Fui capturada por proscritos e levada até o fim da
Cashimiria, onde fui comprada e fui escrava. Fugi e a senhora das Diáfanas cuidou de mim nas florestas, levou-
me a Trimaris e me fez uma delas. Cada homem que minhas flechas atingiram e cada uma das prostitutas de
Xexeres que mandei ao inferno foram um treinamento para o dia em que eu encontraria de novo a maldita.”
“Eu não sou a minha mãe,” Mychelle disse. Deitou o rosto no ombro de pedra de Lourdes, sua cabeça
estava muito pesada. “Ela matou muita gente, parece. Eu não. Nunca matei a mãe de ninguém e nunca devorei
homens. Matei alguns demônios, hoje. Não tantos quanto as coelhinhas que já deves ter flechado, não é,
herborista? Ou Diáfana, ou o que fores.”

“Rouge.”

E Rouge, ainda parada, mirava o peito descoberto da duquesinha. Só precisava abrir os dedos e soltar e a
ponta de metal ia atingir o fim da viagem que tinha iniciado em Trimaris, o fim pelo qual tanto ansiava: poderia
descansar no coração cheio de sangue quente da duquesa de Orqushire, onde já deveria estar desde que fora
forjada. Mas não era o coração de lady Amora.

“Então a flecha dela é a minha herança?” a duquesinha perguntou, tão calma quanto Rouge. Mas Rouge
não disse nada. “Tu foste responsável também pela maldição de meu primo?” a duquesa quis saber.

“Isso é obra dos monges. Eu salvei a vida dele.”

“Bom, agradeço por isso. Talvez eu deixe que me acertes. Talvez eu não possa impedir. Não sei se tenho
vontade. Meus braços doem e não consigo movê-los direito. Não posso te ver direito. Estou muito cansada e
minhas pernas estão fracas. Eles tiraram-me o meu pai. Tiraram minha Lourdes, meu amor. Eu só quero estar
junto dela agora...”

Rouge continuou apontando seu arco.

“Não,” a duquesinha disse. “Tu só vais ter uma chance. Atira. Vou deter tua flecha. Se errares...” Ela
soltou-se de Lourdes, ergueu o rosto e de alguma maneira começou a andar. “Se errares,” conseguiu dizer ainda,
“eu vou...”

E daí caiu, primeiro de joelhos, depois de bruços e por fim seu rosto bateu no chão.

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Os humanos e as lâmias montaram um grande acampamento na rua principal do vilarejo e também nos
arredores donde ficavam o templo e a estalagem, e dali até as torres deixaram diversos soldados, tanto dos vindos
de Loirs quanto guerreiras lâmias do Mundo Subterrâneo.

Pelluria falou com algumas mulheres-serpente fora dos muros do vilarejo e elas a levaram até o meio das
árvores, passaram por diversos demônios de armadura caídos e também por lâmias caídas e chegaram onde havia
uma grande entrada na grama: era quadrada, parecia que um bloco havia sido retirado do solo naquele ponto ou
desabado ali, e havia umas rampas de madeira por onde ela desceu com Alanis.

Encontrou numa caverna longa e apertada, com forma de corredor, diversas outras lâmias e humanos em
reentrancias no caminho, alguns feridos. Tochas iluminavam a passagem, bem como uns postes e pilares de
madeira ajudavam a sustentar o teto, lembravam vagamente uma mina que antes do Reino Subterrâneo era o mais
próximo de passagens desse tipo que minha tia já havia explorado. Uma menina chamou Pelluria e minha tia a
reconheceu. Era Shavanah, estava com a vigia Teresa, e elas perguntaram sobre Nagnólia quando souberam que
nossa elfa estivera na torre da duquesinha. Pelluria disse-lhes que não a tinha visto, não teve coragem de contar
que estava morta. Então as duas humanas atravessaram a caverna em direção à superfície e Pelluria prosseguiu por
onde as lâmias haviam dito que fosse se quisesse encontrar Altisidora.

Pelluria acabou se perdendo uma hora, na rede de túneis.

“Era só o que faltava,” a fadinha disse para ela, mas minha tia não prestou atenção em suas reclamações.
Irritada e um pouco assustada, passou por diversos outros corredores, até que chegou num com as paredes
cobertas por cortinas. Atravessou muitas outras cortinas e quando viu, estava diante da naga, o perfume de flores
incomadando-lhe as narinas irritadas pela fumaça no vilarejo.
A criatura com corpo de serpente gigante conduziu Pelluria até a sala do tesouro das lâmias, para chegar lá
passaram por numerosas vigias e caminhos dos mais bizarros. E lá ela deixou que minha tia pegasse roupas secas,
porque roupas e tecidos humanos – e não só humanos, mas élficos – estavam amontoados sobre uns barris e
caixotes, fazendo parte do tesouro e servindo apenas para a apreciação daquelas que não tinham pernas para
cobrir, quero crer. Ou é possível que vendessem essas coisas em algum lugar, pensando bem.

Pelluria teve dificuldade em encontrar algo para vestir. Ou os tecidos eram muito pesados e faziam
vestidos de luxo difíceis de carregar ou compunham trajes sumários demais, como um que era revestido por
argolinhas de ferro e que, numa peça única, fazia uma tanga tão pequena que deixaria aparecendo até os cabelos
do sexo dela – isso se ela não o tivesse depilado – ao mesmo tempo em que tinha unida a ela por um fiozinho uns
cálices de metal para cobrir os seios que só manteriam-se onde deviam ficar se quem os estivesse usando fosse a
coelha Meloine, de tão difíceis que pareciam de ser preenchidos. A naga disse que eram os trajes de uma guerreira
dos elfos sombrios capturada como espiã há poucos meses. Uma elfa sombria bastante grande e sem-vergonha,
provavelmente, podia-se deduzir.

Pelluria passou ainda por um vestido fino e transparente demais, por umas saias que serviriam bem se não
fossem de um tom de roxo que brilhava no escuro e por uma coleção de tiras de couro que podia ser uma forma de
amarrar alguém, mas nunca passaria por roupa, até que finalmente achou um vestido belo, não muito pesado e
também não muito comprido, mas que ia até seus joelhos. Ela tirou as roupas, secou-se diante de uma fogueira no
fundo da sala, pôs o vestido, que ficava apenas um pouco folgado no peito e era verde escuro, quase dourado, e
depois ainda pôs umas calças muito finas por baixo dele, umas feitas de lã branca, porque sentia frio nas pernas.

A naga disse para Pelluria onde Altisidora devia estar: ainda mais para baixo, num andar mais inferior do
Reino Subterrâneo, perto da sala da rainha. Assim, as lâmias deixaram que Pelluria entrasse mais uma vez nas
partes centrais de seu reino, onde os da superfície raramente iam.

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Mychelle sentia os seios e a barriga apertados, estava de bruços. Estava nua, o ar tocava frio nas costas e
na bunda, mas ela tinha as pernas cobertas de maneira confortável. Era um cobertor, ela estava na cama. Numa
cama, não na dela. Era dura, mas ela não se importava, só queria dormir, só precisava puxar o cobertor mais para
cima para ficar bem quentinha e dormir. A dor ainda latejava na nádega esquerda, mas distante, tinha medo de que
voltasse se fosse se mover.

Ouviu um som, estalos, era som de papeis sendo amassados. Daí mexeu o braço, mas a mão e o ombro
ardiam cada vez que os músculos tentavam se contrair. Ela segurou um gemidinho, abriu os olhos, viu os próprios
cabelos e a própria mão, aberta diante do rosto, solta na cama. Tinha um pano branco, umas faixas brancas
enroladas na mão, bem atadas. Mas não havia sangue. Etranho, estava limpa. Ela virou mais o rosto, deitada sobre
o colchão sem travesseiro. Outra faixa envolvia o braço mais acima, no lugar da flechada, não era mais a meia de
Lourdes Maria. Não sentia o cheiro de terra nem de sangue, nem as pedrinhas arranhando a pele nas pernas e na
traseira e nem a umidade do lodo, notou que estava toda limpa e seca. Bom, os cabelos ainda pareciam um tanto
grudados.

Ergueu a cabeça, que começou a doer fraquinho. Daí ouviu uma voz de mulher:

“É melhor ficar de bruços, não quero ter que costurar tua nádega de novo.”

Era Rouge, estava do outro lado, atrás de Mychelle. A duquesa tentou se levantar, mas sentiu um choque
na coxa, gemeu e se soltou de novo. Não era uma cama, percebeu, era uma mesa baixa com um colchão fino em
cima. Ela não sabia onde estava. Num lugar escuro.

Uma fogueira no chão de terra emitia o som de madeira queimando, eram os estalos que ela pensara serem
do amassar de papéis. Ao lado do fogo repousava um jarro que talvez tivesse água. Os olhos da duquesinha, agora
ela podia manter os dois abertos, embora soubesse que se deitasse na outra bochecha sentiria dor, passaram da
fogueira até a improvisada cama: havia cada vez mais panos jogados pelo caminho, cada vez mais vermelhos e
escurecidos por sangue, e a meia de Lourdes Maria e os restos da saia e da camisa que estivera vestindo estavam
atirados sobre eles. A trilha terminava nas botas de couro, uma delas esfarrapada. Costumava gostar das botas.

As paredes eram de pano esverdeado e o teto ela não conseguia ver, mais por não poder mover direito a
cabeça; estava numa barraca grande, os panos se moviam. Pouco acima da cabeça dela estava a bandeira de
Orqushire, do seu ponto de vista de cabeça para baixo. A mão da outra mulher surgiu, segurando um cálice de
madeira perto da boca da duquesa.

“Toma,” Mychelle ouviu. Tinha muitas perguntas e não sabia qual fazer primeiro. A vontade de fechar os
olhos e dormir era mais forte que toda curiosidade e era o que ela faria se não fosse o frio e a dor pulsando na
bunda e no braço e na cabeça. Tinha sido costurada? Quis ver a própria bunda, ver como tinha ficado. Melhor
esperar, não ia poder agora. Não sentia mais a flecha lá dentro. Nem quando contraía os assentos. Até que não
aumentava a dor quando os contraía, percebeu. E podia sentir a atadura na nádega, envolvendo a parte ferida da
bunda e um pouco da coxa, fazendo a volta na coxa.

“Tu... costuraste a... minha... bunda?” ela perguntou com a boca seca.

“E a mão, havia um buraco nela pelo qual se podia enxergar do outro lado,” Rouge disse. Mychelle foi
olhar, mas o ferimento estava tapado, lembrou-se de já ter visto antes. A outra prosseguiu: “Mas costurei mais a
bunda do que a mão. Tens sorte, se tua nádega não fosse tão cheia ou se a flecha tivesse entrado um pouco mais
abaixo, talvez já não pudesses mais andar. Tive que abrir um pouco para tirar a flecha.”

“Ah, não.”

“Agora bebe.”

A duquesinha bebeu o vinho antes de conseguir perguntar o que era e sentiu dor no lábio de baixo. Mas
tinha sede, bebeu tudo. Um pouco escorreu, na verdade, pelo queixo.

“Vai te ajudar a agüentar a dor, apesar da pior parte ter passado,’’ Rouge falou. “Tu gritaste bastante
enquanto eu estava te costurando.”

“Gritei?” A duquesinha notou então outras vozes, vindas de longe, de várias distâncias e pontos diferentes:
outras pessoas falando em outro lugar, fora da barraca, talvez. “Achei que tinha morrido,” disse. “Mas daí notei
que estava respirando. Não lembrava de que era tão difícil respirar. Mas é bom, também.”

O cobertor se ergueu, Rouge tapou as costas da duquesinha. Com o peso dele, a nádega ardia bastante,
mais do que o braço e do que o resto todo, e doeu especialmente forte no momento em que o cobertor a atingiu,
mas a duquesa não teve força para gritar. Apertou um pouco os olhos.

“Tenta não mexer as coxas,’’ Rouge falou ainda.

A duquesa esperou e depois passou a língua pelos lábios e o corte doeu. Ia incomodar para comer.

“Droga,” falou baixo. “A minha bunda... Vai ficar uma cicatriz horrível? Era minha parte mais bonitinha.”

“Não ficou muito grande, o corte, e deixei bem fechado. De longe deve dar para confundir com a celulite.”

“Ai...”

“Pelo menos não foi preciso costurar teu rosto.” A duquesinha finalmente viu Rouge; estava sentada num
banco entre a cama e uma outra bandeira pendurada na parede da tenda. Rouge completou o que dizia: “Teria sido
pior.”

“É. Não poderia escondê-lo no vestido.”

Mychelle fechou os olhos, tornava-se um pouco incômodo ficar na mesma posição, comprimindo o peito e
o queixo e os joelhos. Mas ela não se importava muito. “Por que tu não me mataste?” disse.
“Sofreste bastante,” Rouge disse. “Perdeste muito. Será que já foi o suficiente?” perguntou mais para si
mesma. “Mesmo ferida, enfrentaste os demônios sem desistir e te colocaste sempre diante da tua serva para
protegê-la.”

“Eu a amo. Lourdes.”

“E no fim ainda tentaste me atacar. Não parece algo que a covarde Amora faria. Tu és como a tua mãe?”

“Não sei,” a duquesinha disse muito tempo depois. “Ela morreu quando eu era bem pequena. Sou parecida
com ela, com os retratos que já vi pintados dela. Sou mais gorducha, porém, pelo que lembro dela.”

“Tens os chifres mais curtos,” Rouge disse, “escondidos. E a jóia dela, a esmeralda?”

A duquesinha abriu os olhos. Sentiu vergonha, então, por Rouge ter visto seus chifres. Uma vergonha pior
do que se estivesse nua na frente de todo o castelo. Não respondeu. Quis levantar, procurar por Lourdes e pelo seu
pai, ver o que estava acontecendo no vilarejo. Rouge disse para ela onde estava: no acampamento perto dos
destroços do templo. As lâmias e os soldados de Orqushire estavam ali, o primo dela estava vivo. Mychelle bebeu
mais vinho e começou a chorar sem fazer barulho.

“Vou ficar por perto,” Rouge disse uma hora. “Para ver se és como ela.”

“Como quiseres,” respondeu a duquesinha. “Mas não terás outra chance de me matar.”

Rouge segurava a ponta de uma seta metálica entre seus dedos, apertava-a sem mostrá-la para a
Duquesinha. Então houve um barulho de panos se afastando e uma menina aproximou-se da cama com passos
muito leves.

“Irmã,” ela disse. Era Laetitia, uma capa de pele de coelho bem grossa estava pendurada em suas costas,
ela vestia uma saia rósea quase transparente; sua pele brilhava úmida perto do fogo, mas o peito era bem seco e
pálido e de costelas salientes. Os cabelos, numa cola, cobriam o seio esquerdo muito pequeno, mas deixavam o
biquinho dele aparecendo, e a capa cobria o outro todo. Ela deixou uns panos dobrados sobre a cama e o florete da
duquesinha ao lado dela. “Estás acordada,” falou, e tocou os cabelos da duquesa, passou-os com delicadeza por
entre as unhas.

“Onde está a rainha? Onde está o meu pai?”

“Aqui ao lado,” Laetitia respondeu, apontando para uma passagem nos panos da barraca; a duquesinha
olhou para os postes de madeira que os seguravam. “A rainha tentou trazer eles de volta da pedra, os homens.”
Laetitia sentou-se no colchão, ao lado da duquesinha. “Mas ela não pôde.”

Os dedos de Laetitia voltaram a acariciar sua irmã, a duquesa, tentando consolá-la. Mychelle falou “Quero
ir vê-la.”

“Não. Estás ferida. Ela virá, depois. Teu primo voltou do castelo e o vilarejo está seguro agora. Eu trouxe
roupas.”

Laetitia mostrou os panos que tinha deixado sobre o cobertor. A duquesinha pegou-os, havia um corselete
e meias. Voltou-se um pouco mais, a nádega ferida sempre para cima e, erguendo o cobertor, olhou para a prória
bunda, para a atadura indo em diagonal da cintura até a virilha, fazendo a volta nela. Disse “Será que podes
arrumar-me umas calcinhas, também? As minhas foram roubadas por ogros.”

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Gustaff Olafson também acordou-se em uma cama, mas numa muito melhor e maior do que aquela em
que a duquesinha estava, e de colchão mais macio e com travesseiros. Estava coberto por um lençol e sentia cheiro
doce e úmido de flores ou frutas que fazia com que se lembrasse de um piquenique envolvendo no mínimo
pessego e ameixas. Tinha a sensação de um cobertor pesado sobre suas pernas.

A primeira imagem que viu foi Altisidora ao seu lado: ela estava apoiada num dos cotovelos, o outro braço
tinha esticado, a mão repousando em cima das coxas de serpente. Então ele viu que não era um cobertor que
estava sobre suas pernas, era a cauda dela, que atravessava a cama e descia pelo outro lado, afastava-se, fazia um
circulo sobre si mesma e voltava a subir. Era quente e macia, ou estava quente e macia, porque da outra vez que
tocara nela era bem úmida e gelada.

Altisidora sorriu para ele e suspirou. Um pano vermelho segurava os seios dela e os apertava, os dois
pareciam querer pular para fora dali ou, pela posição em que ela estava, escorrer.

Velas e archotes iluminavam a caverna, a luz brilhava refletida nos braceletes de Altisidora. E esta caverna
era mais aquecida do que aquele quarto dela da outra vez, talvez todo aquele fogo das luzes a deixasse assim por
ser ela também menor do que o quarto da lâmia. Além da cama, só tinha um biombo a uns cinco metros dali ou
pouco mais. Devia estar na frente da saída, porque nenhuma das outras paredes tinha passagens, e pintadas nas
suas quatro folhas com tinta vermelha e verde e dourada, estavam runas que não se podia entender e também a
figura duma criatura com o corpo de um animal que parecia um leão, mas com uma cabeça que lembrava a de
uma mulher de cabelos curtos: os olhos eram de serpente, o corpo estava de lado e ocupava as duas folhas centrais
e o rosto estava virado para a frente como se procurasse por algo. A cauda curva do fantástico animal tinha sua
ponta invadindo a quarta folha do biombo.

As velas ao redor ficavam em em entradas e saliências na pedra e havia também um pequeno lago
escondido ao lado da cama, quase atrás dela, que parecia até bem fundo.

“Mm,” Altisidora gemeu baixinho, sorrindo. “Fiquei preocupada.”

“Onde estou?” Gustaff Olafson perguntou apesar de ter reconhecido o Reino Subterrâneo, porque parecia
o mais certo a se perguntar.

“Em casa,” Altisidora disse. Sua cauda levantou um pouco e a lâmia se ergueu, daí ele sentiu frio nas
pernas, na parte que tinha se acostumado com o toque dela e ela apoiou-se nos braços e a cauda voltou a deitar-se
de lado sobre Gustaff Olafson, agora uma parte mais encorpada dela.

Altisidora arqueou as costas para trás, levou uma das mãos até elas. O pano vermelho puxou seus seios
para baixo e o sulco entre eles tornou-se mais profundo e comprido; mas ela não permitiu que ficasse à vista por
muito tempo, pois logo sentou-se de braços cruzados.

“Onde está a elfa?” Gustaff Olafson perguntou em seguida.

E então os olhos de Altisidora se apertaram. Ela voltou o rosto para ele e uma de suas bochechas se encheu
de ar, os lábios giraram na direção da outra.

“O que tens com essa elfa orelhuda, afinal?” ela perguntou e bateu forte com a ponta do dedo no peito
dele, mas tão forte que ele ainda pôde senti-lo ali por muito tempo depois do dedo ter se afastado.

“Hã? Nada...”

“Que nada se a primeira coisa que perguntas é a respeito dela?”

“Mas eu devia estar com ela, não é? Quer dizer, o que foi que aconteceu quando...”

“Eu sei é que o meu bracelete não está contigo!” Altisidora falou interrompendo Gustaff Olafson e
olhando para a frente. “Ela não te entregou meu belo bracelete, aquela ruiva oferecida cheia de sardas?” gritou
depois de esperar um pouco, o mais alto que pôde, encheu a caverna de eco.

“Que bracelete? Do que estás falando?” Ele foi se levantando, foi erguendo o lençol e neste ponto
percebeu que estava nu. “Hã?! Tu tiraste as minhas roupas?” perguntou.
Altisidora virou o rosto de novo para ele. “Claro,” falou então, bem rápido. “Eu precisava ver se estavas
ferido!” Voltou a sorrir como se seu ataque de ira não tivesse ocorrido.

“Não precisava me tirar toda a roupa, né?”

“Claro que precisava! Eu tinha que ver se não estavas ferido nas pernas.” Daí ela apontou para uma
saliência no lençol pouco acima de onde sua cauda repousava. “E no piupiu!’’

“AAAAH!”

“Não precisas ter vergonha, afinal vamos nos casar” Altisidora falou com naturalidade e foi pôr a mão ali
enquanto ele se virava e tentava se esconder. “E, como sabes, o piupiu do marido é um bem deveras importante
para uma boa esposa, portanto precisei verificar-lhe a integridade. Posso afirmar, aliviada, que está funcionando
direitinho: ficou duro enquanto dormias, inclusive,” ela anunciou então, com mais naturalidade ainda.

“Quer parar com isso? Não ficou nada!”

“Ficou sim, ele meio que entorta para a esquerda.” Ela levantou um dedo, apontou-o para frente e
começou a dobrá-lo. “Uma graça,” riu do próprio dedo.

“O que foi que aconteceu, afinal?” Gustaff Olafson perguntou, sentando na cama.

“Sei lá, vai ver estavas tendo um, como se diz? Um sonho pornográfico, né? Ou então...’’

“Não, sua burra, o que foi que aconteceu no vilarejo com a elfa?”

“Ei! A elfa de novo?” Altisidora trouxe toda sua cauda para cima da cama, fez tudo sacudir e jogou-a para
o outro lado. “Por que só queres saber daquela elfa feia? Ela está viva, os invasores foram derrotados e isso é tudo
que interessa!”

“Mas ela recuperou a jóia de Xexeres? Tenho medo de que a tenha levado, afinal ela é uma ladra e preciso
da jóia para me livrar da maldição.”

“Ai, é mesmo!” A cauda tirou Altisidora da cama e ela começou a deslizar de um lado para o outro. “É
verdade! Não sei, eu te encontrei lá em cima e pensei que estivesses ferido, então fiquei preocupada e te trouxe
para cá. Nem pensei noutra coisa.”

“Precisamos achá-la! Onde estão as minhas roupas?”

Altisidora parou quieta e com uma das mãos na cintura, respondeu “Estão lá atrás do biombo, na entrada
do quarto.’’ E apontou para o extremo da caverna com o rosto ao mesmo tempo em que mexia de novo nas costas,
no pano vermelho apertando seu peito.

“Então busca para mim,” ele pediu.

“Eu não,” Altisidora falou. “Sou tua noiva, não sou tua escrava. Tá pensando o quê?”

Gustaff Olafson, contrariado, levantou-se com o lençol enrolado na cintura e foi atravessando a caverna.
Altisidora foi ao lado dele e quando já se aproximavam do biombo, ela segurou a ponta do lençol que arrastava no
chão com a cauda e como ele andava rápido e a cauda era pesada e forte, o lençol ficou para trás. No mesmo
instante ele voltou o rosto para ela e tapou suas intimidades com as mãos.

“Ei!”

“Hehe, desculpa, foi sem querer,” ela ria.

Ele andou logo para trás do biombo, sem recolher o lençol por medo de que Altisidora tentasse alguma
outra indiscrição, e daí notou que lá não havia roupas e nem nada além doutras velas e de uma passagem
conduzindo a uma caverna ou corredor mais escuro do que aquele lugar em que estava.

“Onde estão minhas roupas? Temos mais o que fazer!”


“Ai, é mesmo, que distraída! Esqueci que deixei-as sob a cama,” a lâmia cínica respondeu olhando para as
mãos dele.

E logo que ele se voltou, sentiu os dedos de Altisidora percorrendo sua traseira; beliscaram-lhe uma
nádega, o que fez com que ele pulasse e quase soltasse o que estava tapando para afastar a lâmia.

“O que estás fazendo?” gritou, grudando a traseira numa das folhas do biombo e tirando-a do alcance de
Altisidora.

“Hehe, gosto de bundinhas humanas, me desculpa, não resisti! Não estou acostumada com elas, tu sabes,
são tão engraçadas.”

“Pára com isso, chega de brincadeiras!”

“Ah, vamos, não sejas bobo. Deixa-me ver teu bumbum. Que fofo!”

“Devolve as minhas roupas, sua lâmia maluca!”

“Ora, para que ficar com vergonha? Eu já vi tudinho mesmo enquanto dormias.” Então ela passou a mão
pelas próprias costas e o pano vermelho soltou seus seios, deixou que se erguessem com um salto, nus. “Pronto, ó,
também tô pelada.” Daí ela segurou cada um deles com uma mão, acomodavam-se com perfeição dentro delas, e
levantou-os ainda mais, o que fez com que se esfregassem um no outro. “Não gostas? Garanto que são mais belos
e maiores do que os daquela ruivinha magricela!” Os mamilos pareciam as pontas duns dedos, aliás, do jeito como
eram ou estavam salientes. Altisidora encolheu um pouco a cauda e curvou as costas para ficar mais próxima de
Gustaff Olafson. “Vamos, podes pegar” ela disse.

Daí minha tia Pelluria chegou na caverna vinda pela passagem da qual eles estavam próximos e ficou
surpresa ao deparar-se com aquilo: Altisidora segurando os próprios seios e Gustaff Olafson com a mão no próprio
sabeis bem onde, e de bunda de fora ainda por cima.

Tão logo percebeu-a, Altisidora voltou-se para Pelluria e perguntou, já quase empurrando-a contra a
parede:

“Quem foi que te deixou entrar onde não foste convidada, elfa metida?”

“A naga, ué,” foi o que Pelluria respondeu; tinha dado-se conta, é claro, de que chegara em situação
inapropriada, mas agora era tarde e depois de tudo ela já não tinha paciência para voltar outra hora. “Eu estava te
procurando,” disse então para Gustaff Olafson, ignorando Altisidora, o que deixou a lâmia ainda mais irritada, a
ponto de ficar com o rosto vermelho de raiva.

“Pois fica sabendo que ele já tem dono, elfinha invejosa,” Altisidora gritou se metendo atrás de Gustaff
Olafson e fechando duma vez só as mãos na traseira dele, com força, uma em cada lado. No mesmo instante, sem
pensar, ele segurou os punhos da lâmia e afastou os dedos dela.

Sem querer, Pelluria ergueu uma das sobrancelhas e o olhar dela voltou-se para o que Gustaff Olafson
tinha entre as pernas, que – como direi isso? – bem, estava... levantado, acho que é a palavra adequada, talvez por
causa do toque de Altisidora ou talvez por ter ficado tanto tempo apertado entre as mãos dele próprio ou ainda,
quem sabe, pela visão dos seios da lâmia, que eram duas esferas perfeitamente redondas, e pelo que sei levantar
assim é o que tende a acontecer com os homens quando olham para tais formas, apesar de eu não entender muito
disso por não ser dotada de esferas tão sólidas como aquelas de Altisidora e menos ainda dessas outras coisas que
os homens têm. E na realidade não estava todo levantado, o, bem, o membro-de-homem dele, vamos chamar
assim. Por mais vergonhoso que isso possa parecer – e não posso dizer já ter lido outra história com passagens tão
vergonhosas quanto as que possui esta de minha tia – ele não estava, por assim dizer, de pé, e sim apontado para a
frente, a meio caminho entre o macio e o endurecido; era como um animalzinho recém desperto encarando minha
tia, seus olhos se abrindo para descobrir o que o tinha acordado, ou o seu único olho se abrindo, no caso, por Sene.
Acho melhor parar de tentar descrever o falo, digo o fato, isto já é mais do que suficiente para que todos possam
entender o que se passou, por certo.

Apesar de Gustaff Olafson ter ficado vermelho de vergonha por um longo tempo depois disso – e a essa
altura até minha tia estava com as bochechas rosadas – sua coisa, graças a Sene, não ficou descoberta por muito
tempo: as palmas de Altisidora taparam-na toda, uma mão no corpo e outra nas... nas saliências debaixo dele, e a
lâmia, como quem protege algo seu, disse assim:

“Ô, tira o olho gordo, elfa! Onde já se viu?”

“Eu não acredito,” Pelluria disse para si mesma, indignada.

“Heheh, nem é grande coisa, elfa,” ouviu-se a voz da fadinha e todos notaram a pequena segurando-se
numa prega do vestido de Pelluria. “Já vi bem maiores! Quero crer que não tens muita experiência se isso te
impressionou. Com mil trálegos, periga eu ser maior do que ele!”

“Grrr! É porque não está duro ainda, invejosas,” resmungou Altisidora.

“Não!” Pelluria falou perplexa. “Eu não acredito que depois de tudo que passei no vilarejo, ainda tenho
que agüentar essas bobagens e ver a piroca dos outros!” Daí ela apontou para Gustaff Olafson e ele tratou de
guardar com suas próprias mãos o que era seu, antes que as de Altisidora fizessem com que ele terminasse de...
bom, subir. “Eu vim aqui para pegar meu dinheiro e meus diários que deixei com a coelhinha naquela hora em que
fui escalar a torre,” Pelluria falou.

“Então as tuas coisas ainda estão com ela,” Gustaff Olafson respondeu. “Terás que esperar até que ela
volte e...”

“E o meu bracelete?” Altisidora interrompeu, saindo de trás dele e quase grudando seu rosto no de
Pelluria. “Por que não entregaste pra ele, elfa ciumenta?”

“Quer saber? Enchi o saco disso, podeis ficar com minhas coisas, vou embora dessa terra de malucos!”
Pelluria virou-se e começou a andar, ainda falando. “E se apontares essa pemba de novo para mim, corto ela fora
com a Lucille!”

Gustaff Olafson entrou no corredor atrás de Pelluria, pois queria saber da jóia de Xexeres e também da
esmeralda da duquesa, bem como de tudo que acontecera no vilarejo, mas a ponta da cauda de Altisidora enrolou-
se na cintura dele e puxou-o de volta. “Me solta,” protestou ele e ainda chamou a lâmia de alucinada.

Altisidora só o libertou dentro daquela sua caverna nupcial. E em seguida deu um tapa no rosto dele com
toda força, que ele não defendeu porque ainda estava segurando o próprio íntimo. E sim, agora ele estava de pé.

“Ai! Por que fizeste isso?”

“Feriste meus sentimentos!” ela disse, com um dedo tão erguido quanto o pin... mm. Desculpa, melhor
parar. “Estou muito magoada! Que idéia foi essa de mostrar o pau para a elfa?”

“Mas... mas...”

“Vai lá e põe a roupa!” ela falou, voltando-se para a cama. “Que pouca vergonha!”

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A névoa ainda pairava espessa na floresta e entre as barracas no acampamento armado sobre os destroços
das ruas do vilarejo da Cerejeira Sagrada. Pelluria pôde ver os vultos de soldados humanos e de lâmias diante dos
portões, mas mal podia enxergar os muros. O céu estava completamente branco e a fadinha voava e deixava um
rastro brilhante ao redor de si mesma.

Não estava mais tão frio, mas o ar era bem úmido e tornava o cabo de Lucille pegajoso. Pelluria acariciou-
o e disse para a espada:

“Parece que somos só nós duas de novo, querida.”


A isto, Alanis respondeu “Quando foi que ficamos íntimas?”

“Não estava falando contigo.”

Pelluria ia deixar Orqushire do mesmo modo que tinha chegado, levando apenas um vestido mais bonito
do que as roupas que trouxera. Se parasse um pouco para pensar nisso, certamente voltaria para recuperar suas
moedas e os preciosos diários, pois a raiva que a impulsionava passaria. Mas não parou, não queria reencontrar a
lâmia, Gustaff Olafson e principalmente Mychelle, a duquesinha.

“Não estás levando apenas um vestido, tola,” ela pensou de repente. “Esqueces da jóia?” E a fada seguiria
Pelluria aonde ela fosse, louca para descobrir onde tinha sido escondida a esmeralda.

Andaram pela estradinha enlameada, estava cheia de pegadas e tinha ainda uma ou outra armadura de
Dravísios sem vida, a grama em volta dela estava coberta de orvalho. Pelluria afastou-se não sabia dizer quanto do
vilarejo, só sabia que não era muito, e deixou a estrada, avançou por sobre a grama.

Quando parou um pouco para escolher uma direção, percebeu que não eram seus sapatos de pano que
provocavam o som de passos que a acompanhava já há algum tempo.

“Tem alguém aqui,” a fada zumbiu e foi pendurar-se na alça do vestido de minha tia. Vindo de longe, um
vulto encapuzado deixou a névoa e foi se aproximando.

Pelluria segurou o cabo da espada, o coração saltou e ela sentiu de novo o arrepio na nuca que tinha se
repetido tantas vezes diante dos demônios de Dravísios e das lâminas enferrujadas de suas armaduras.

“Saudações, elfa da madeira,” o homem disse antes de parar diante de Pelluria e remover seu manto. Era o
estranho da masmorra, o mesmo homem que a rainha Ellenora expulsara do Reino Subterrâneo. “Vejo que ainda
tens a jóia de Orqushire” ele falou, e Pelluria não foi capaz de desviar seu olhar. O arrepio ficou mais forte. Um
dragão, ela pensou com a voz da rainha.

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